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Professor: Mauro Gomes Rodbard Horário da Aula: Quinta-feira 7:30

Polarização da Luz
A. F.Assad, L. Scottini, L. L. Zaia
Universidade Federal do Paraná
Centro Politécnico – Jd. das Américas – 81531-990 – Curitiba – PR - Brasil
e-mail: laurazaia@hotmail.com

Resumo. As aplicações do fenômeno da polarização da luz variam das mais simples como os
óculos solares até a alta tecnologia dos televisores LCD. O presente trabalho analisa a Lei de
Malus, que trata da intensidade da luz polarizada por uma lente polaróide em função do ângulo
entre os dois polarizadores que a luz proveniente de uma fonte atravessa. Os dados foram
comparados aos ideais e garantiram a efetividade da Lei. Em seguida, foi realizada a polarização
por reflexão, que permitiu medir o ângulo de Brewster e consequentemente a obtenção do índice
de refração para a lente utilizada no procedimento, que, de fato, correspondeu ao acrílico,
conforme esperado.

Palavras chave: polarização, Lei de Brewster, Lei de Malus.

Introdução O fenômeno de polarização da luz se dá quando


forçamos a vibração do campo elétrico apenas em
uma determinada direção (figura 1). Isto ocorre
A luz polarizada possui aplicações nas mais
quando a luz natural atravessa um polaróide,
diversas áreas. Na química, a polarização da luz
gerando a luz plano-polarizada. Este fato foi
pode diferenciar compostos que apresentam
desvendado por Christian Huygens, físico,
isomeria óptica segundo a direção obtida para a luz
matemático e astrônomo holandês [4], que
polarizada. O fenômeno também é muito difundido
posteriormente publicou a teoria ondulatória da luz,
em dispositivos fotográficos e em óculos solares.
no ano de 1678.
Os televisores LCD e as calculadoras também
aplicam essa tecnologia, por meio de cristais
líquidos que controlam a passagem da luz em cada
pixel[1]. Além disso, as antenas de recepção a rádio
são polarizadas para determinar a direção da
transmissão[2]. Uma utilização ainda mais atual é na
imagem 3-D. Na frente das lentes dos projetores
são colocados filtros polarizadores da luz projetada.
Os filtros são posicionados de maneira que a
polarização da desta luz tenha orientação defasada
de 90°. O observador, por sua vez, porta óculos
também com lentes polarizadoras, com orientações
coincidentes com os filtros dos projetores. Sendo
assim, cada olho enxerga apenas a imagem
projetada por um dos projetores, produzindo o
efeito 3D[3].
As ondas eletromagnéticas são constituídas de Fig. 1: Esquema da luz não-polarizada e
campos elétricos e magnéticos que vibram polarizada.
perpendicularmente um ao outro. O espectro
eletromagnético tem comprimento de onda Para verificar se a luz é polarizada, pode-se
variando entre 106, o que corresponde às ondas de girar um filtro polarizador (polaróide) em frente à
rádio, até 10-14, para os raios gama. O fragmento luz e perceber a variação de sua intensidade. Em
que sensibiliza o olho humano tem comprimento de uma fonte natural, podemos utilizar um primeiro
onda variando entre 3.107 e 7.107, e é o que filtro para polarizá-la e um segundo, chamado
chamamos comumente de luz. A vibração dos polarizador analisador, que irá permitir a
campos é perpendicular à direção de propagação, e, verificação da intensidade da luz conforme o
por isto, a luz é dita transversal. ângulo entre os polaróides (figura 2).
completar uma volta, ao mesmo tempo em que
eram observadas as alterações percebidas na
intensidade de luz. Dessa forma, podia-se verificar
se a luz proveniente da fonte era plan-polarizada ou
não. Após, o polarizador A foi posicionado na
indicação 0° para cima, assim temos que a luz que
atravessa A é polarizada verticalmente. Em seguida,
foi colocado o polarizador B, na mesma posição de
Fig. 2: Esquema da posição dos polarizadores 0° para cima, perto ao A. Assim, pode-se visualizar
para análise da luz. a luz proveniente da fonte quando atravessando os
dois polarizadores. Após, o polarizador B foi
A relação entre a intensidade e o ângulo é dada gradualmente girado enquanto era analisada
pela Lei de Malus, publicada em 1809 por Etienne intensidade de luz em função do ângulo de B em
Malus, engenheiro militar e capitão do exército de relação a A, mantendo este último fixo.
Napoleão: Posteriormente, foi colocado um suporte para fibra
óptica após o polarizador B e essa fibra foi
conectada a um fotômetro, o qual foi ajustado em
Sendo:
zero para a situação de luminosidade mínima do
I(θ) – Intensidade da luz, em lux;
ambiente. Finalmente, foram medidas as
I0 – Intensidade máxima da luz, que ocorre
intensidades da luz para cada situação, sem
quando o segundo polarizador está em 0° em
polarizador, com um polarizador, com os dois
relação ao primeiro polarizador;
polarizadores e variando o ângulo do polarizador B.
O mesmo procedimento foi realizado variando o
Outra forma de polarizar a luz, que não
ângulo do polarizador A, mantendo B fixo. Este
utilizando um polaróide, é por meio da reflexão.
procedimento é mostrado na figura 3 abaixo.
Quando incidimos um feixe de luz em uma lente
cilíndrica, a luz refletida será polarizada.
Entretanto, ela será apenas parcialmente polarizada
para ângulos quaisquer. Temos luz totalmente
polarizada somente para um ângulo de incidência
na lente, o qual é dito Ângulo de Brewster. Fig. 3: Montagem experimental para o estudo da
Por meio deste ângulo, podemos obter o índice Lei de Malus.
de refração do material da lente utilizada. Temos
que a Lei de Refração é dada por: Polarização por Reflexão – Ângulo de Brewster:
Em um banco óptico foi colocada uma fonte de
luz. Em sua frente foi posicionado um suporte com
dois acessórios: um de fenda múltipla e o outro de
Sabendo que o Ângulo de Brewster é aquele fenda única. Em seguida, foi colocado um disco
para o qual o ângulo dos raios refletido e refratado graduado em frente ao suporte, como ilustra a
são perpendiculares e considerando o ar como um figura 4. O disco foi posicionado de forma que a luz
dos meios, obtemos: passasse apenas pelo seu centro, sobre a reta
NORMAL.

Esta é a Lei de Brewster, deduzida em 1812.


A primeira parte do experimento realizado irá
verificar a Lei de Malus através da análise dos
resultados em comparação aos dados ideais Fig. 4: Montagem experimental do segundo
esperados. Após, será medido o ângulo de Brewster, experimento.
por meio do qual será possível obter o índice de
refração do acrílico. Então, foi posicionada uma lente cilíndrica
sobre o disco graduado com a face plana voltada
Procedimento Experimental para a reta NORMAL. Então, foram observados os
Polarização por Absorção – Lei de Malus: raios refletido e refratado, quando a luz incidia sob
O experimento foi realizado da seguinte forma: lente. Após, o disco foi girado até que os raios
sobre um banco óptico foi colocado uma fonte de refletido e refratado formassem um ângulo de 90°
luz. A mesma foi ligada e foi observada a entre si, conforme demonstrado na figura 5. Em
intensidade da luz. Após isso, foi posicionado o seguida, posicionou-se um polarizador no centro do
polarizador denominado A, próximo à fonte. Então, raio refletido e pode-se observar se o filamento de
este polarizador foi rotacionado lentamente até luz era parcialmente ou totalmente polarizado. O
ângulo de incidência para o qual a luz era
totalmente plano-polarizada foi medido. Por fim,
foi variado o ângulo de incidência e observou-se a Tabela 1: Ângulo do polarizador B com A fixo em
imagem do filamento. Com o polarizador verificou- 0° e intensidade medida pelo fotômetro.
se a existência ou não de luz plano-polarizada Ângulo ( ° ) Intensidade (lux)
quando o raio refletido não formava ângulo de 90°
0 0,39
com o refratado.
10 0,38
20 0,36
30 0,31
40 0,24
50 0,16
60 0,1
70 0,06
80 0,02
90 0
Fig. 5: Raios refletido e refratado. 100 0,02
110 0,04
Resultados e Discussão 120 0,1
130 0,16
Polarização por Absorção - Lei de Malus:
Primeiramente observou-se que a luz emitida 140 0,22
pela fonte não era plano polarizada, pois ao colocar 150 0,28
um único polarizador e variar seu ângulo de 160 0,34
incidência observou-se que a intensidade da luz 170 0,38
permaneceu constante, o que justifica que o campo
180 0,39
elétrico da luz emitida pela fonte não estava
vibrando em uma única direção.
Contudo, ao colocar o polarizador A o campo A tabela 2 a seguir relaciona os dados quando B
elétrico da luz foi decomposto em duas direções. foi mantido fixo e variou-se o ângulo de A.
Observou-se então que a intensidade da luz se
reduziu à metade. Isso se deve ao fato de que o
polarizador deixa passar apenas os raios que Tabela 2: Ângulo do polarizador A com B fixo em
possuem a componente do campo elétrico paralela à 0° e intensidade medida pelo fotômetro.
fenda. A intensidade da luz medida no fotômetro Ângulo ( ° ) Intensidade (lux)
com esse polarizador foi de 0,39 lux. 0 0,39
Ao inserir o polarizador B verificou-se que, ao 30 0,3
manter o A fixo e rotacionar B, a intensidade da luz
medida no fotômetro diminuía de acordo com a 60 0,08
diferença entre os ângulos ao se aproximar de 90°. 90 0
Isso é explicado porque conforme a posição relativa 120 0,09
entre os polarizadores tem-se que a luz é filtrada 150 0,28
pelo polarizador B. Os dados coletados são
180 0,39
demonstrados na tabela 1.
Quando o polarizador B foi colocado a 0° e
180°, isto é, o plano polarizado do A está paralelo Para comparar os resultados experimentais com
com B, a intensidade medida foi de 0,39 lux, ou a Lei de Malus, foram calculados o módulo do
seja, é a mesma intensidade do polarizador A cosseno do ângulo, o cosseno ao quadrado e
sozinho, a qual é considerada a intensidade cosseno a quarta, já que sabe-se experimentalmente
máxima. que a intensidade é função do ângulo entre os
Quando o ângulo entre os polarizadores é de 90° polarizadores, mas não se tem certeza da relação
ou de 270°, ou seja, os planos estão matemática entre eles. Assim, foram plotados os
perpendiculares, a intensidade medida é a mínima, gráficos da intensidade relativa pelos cossenos dos
já que o polarizador A polariza verticalmente e o B ângulos nas três potências descritas. A intensidade
horizontalmente para esta situação. Esse dado está relativa é a intensidade medida pelo fotômetro
de acordo com o previsto pela Lei de Malus, uma dividida pela máxima, de forma a isolar o cosseno
vez que para uma intensidade medida igual a 0 lux, na função. Para um dos casos, tem-se:
temos o ângulo igual a 90º ou 270°.
figura 8, que mostra os resultados para a função
cosseno elevada à quarta potência.
Assim, tem-se que a melhor aproximação para a
relação é a função cosseno ao quadrado, que
A figura 6 relaciona a intensidade relativa ao apresentou resultados do tratamento de dados mais
módulo do cosseno do ângulo, a figura 7 ao cosseno próximos dos esperados.
ao quadrado e a figura 8 relaciona ao cosseno a Para melhor analisar os resultados
quarta. experimentais, estes foram relacionados com dados
teóricos através do cálculo do desvio relativo ao
quadrado para cada curva:

Com os desvios calculados foi plotado um


gráfico relacionado-os com o ângulo, figura 9.

Fig. 6: Gráfico que compara a curva


experimental (I/Imáx) com a teórica (|cos|).

Fig. 9: Gráfico comparativo entre os desvios


relativos ao quadrado de cada curva teórica com a
intensidade relativa para rotação de B.

Pela figura 9 é possível confirmar que a curva


que possui o menor desvio é a do cosseno ao
quadrado, uma vez que este é muito próximo de
zero. Já as outras curvas são próximas entre si, no
Fig. 7: Gráfico que compara a curva entanto diferem do desvio nulo ideal. Assim,
experimental (I/Imáx) com a teórica (cos²). comprova-se que a Lei de Malus é uma função de
cosseno ao quadrado do ângulo, e que esta é a
melhor aproximação para a relação entre as
grandezas estudadas.
Para a segunda parte do experimento, em que B
é fixado e o ângulo de A é variado, o tratamento dos
resultados foi análogo. Assim, o gráfico plotado é
mostrado na figura 10.

Fig. 8: Gráfico que compara a curva


experimental (I/Imáx) com a teórica (cos4).

Analisando a figura 6 percebeu-se um grande


desvio entre as duas curvas. Isso denota que a
relação não é bem descrita pela função cosseno
neste expoente. O mesmo foi concluído para a
Fig. 10: Gráfico que compara todas as curvas
experimentais com a teórica. O índice de refração do acrílico encontrado
experimentalmente foi de (1,48 ± 0,05). O índice de
Foi feito o gráfico entre o desvio relativo ao refração da literatura foi de 1,49 [4] assim foi
quadrado e os ângulos para análise das curvas, calculado o erro relativo desconsiderando a
figura 11, nele observa-se o mesmo resultado que precisão a partir índice do teórico. O erro
discutido anteriormente. encontrado pelos cálculos é muito pequeno
podendo comprovar que o material do cilindro era
realmente o acrílico.

Conclusão
Fig. 11: Gráfico comparativo entre os desvios A Lei de Malus afirma que a intensidade da luz
relativos ao quadrado de cada curva teórica com a relativa está diretamente ligada ao cosseno ao
intensidade relativa para rotação de A. quadrado do ângulo de inclinação de um dos
polarizadores em relação ao outro, que permanece
Polarização por reflexão – Ângulo de Brewster: fixo. Os dados experimentais obtidos confirmaram
Nesse experimento pôde-se observar que uma tal teoria. Nos cálculos desenvolvidos, foram
lente cilíndrica funciona como um polarizador, propostas outras possíveis relações entre a
porém isso só é verdadeiro quando o ângulo de intensidade relativa e o ângulo. Entretanto, tais
reflexão faz 90° com o ângulo de refração. O alternativas se mostraram inviáveis. A proposição
ângulo entre o raio incidente e o refletido que de Malus apresentou um erro muito próximo de
indica o momento da polarização é quando o raio zero e por isso, concluímos que é a melhor
refletido desaparecia ao passar pelo polarizador. O aproximação para a matematização dos dados
ângulo medido no laboratório foi de 56° e como a experimentais. Já a segunda parte do experimento,
precisão do disco graduado era de 1° temos o permitiu concluir que o Ângulo de Brewster é, de
ângulo de Brewster com a precisão igual a: fato, o ângulo de incidência para o qual o raio
refratado e o refletido formam 90° entre si. Isso é
Ângulo de Brewster: (56±1)° confirmado, pois, relacionando o ângulo de
Brewster com a Lei da Refração, obteve-se um
Pela Lei de Brewster encontrou-se o índice de valor para índice de refração do acrílico muito
refração do acrílico que a lente era feita. próximo daquele descrito na literatura. E que, para
este ângulo, tem-se um raio totalmente plano-
polarizado, já que um polaróide na posição de 90°
não permitiu passagem de luz proveniente do raio
refletido. Outros ângulos forneceram apenas feixes
semi-polarizados.

Referências
[1] C. E. Laburú, A. M. Simõe, A. A. Urbano,
“Mexendo com Polaróides e Mostradores de
Cristais Líquidos (O Ensino da Física
Contemporânea, tendo como pano de fundo a
Física do Cotidiano)” Caderno Catarinense de
Ensino de Física 15 (1998) 192-205.
[2] C. T. Shigekiyo, K. Yamamoto, L. F. Fuke,
“Os alicerces da Física” pp. 100-150, São Paulo,
1998. Editora Saraiva.
[3] P. Temba “Fundamentos da
fotogrametria” pp. 230-278, Belo Horizonte,
2009. Editora UFMG.
[4] D. Halliday, R. Resnick, J. Walker,
“Fundamentos de Física” ed. 7, v. 2, Rio de
Janeiro, 2006. Editora LTC.

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