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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS

10º COLÓQUIO DO GRUPO DE ESTUDOS LITERÁRIOS CONTEMPORÂNEOS (GELC)


Para lembrar do Brasil de 2018, estudos literários, educação,
religiosidade, desigualdade e políticas

POR UM BRASIL COM MEMÓRIAS: DAS


LEITURAS E ESCRITAS DE JOÃO PARAGUAÇU

Danilo Cerqueira Almeida


SEC-BA, Gelc
João Paraguaçu
Figura 1- M. Paulo Filho.
• É um dos pseudônimos do jornalista,
escritor e político Manoel Paulo Telles
de Mattos Filho, conhecido como M.
Paulo Filho (1890/Cachoeira-BA –
1969/Rio de Janeiro-RJ);
• M. Paulo Filho foi professor catedrático
e procurador do Tribunal de Contas do
estado da Guanabara (atual Rio de
Janeiro);
Fonte - site da Associação Brasileira
de Imprensa (ABI).
M. Paulo Filho (1890-1969)
Figura 2 - M. Paulo Filho.
• Foi redator e diretor do jornal carioca
Correio da Manhã (1901-1974) por cerca
de 40 anos;
• Ocupou cadeiras na Academia Luso-
Brasileira de Letras (ALBL), Academia
Carioca de Letras (ACL) — da qual
também foi presidente, Academia
Brasileira de Arte (ABA) e candidatou-se
mais de uma vez para a Academia
Brasileira de Letras (ABL);
Fonte - site da Associação Brasileira
de Imprensa (ABI). • Um dos sócios-fundadores do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro
(IHRJ).
3
M. Paulo Filho (1890-1969)
Figura 3 - M. Paulo Filho.
• Presidiu a Associação Brasileira de
Imprensa (ABI) (1928-1929) e o
Sindicato dos Professores do Rio de
Janeiro ― Sinpro-Rio (1934);
• Filiado ao Partido Social Democrático
(PSD, extinto em 2003), foi Deputado na
Assembleia Nacional Constituinte (1934
e 1935).

Fonte - site da Associação Brasileira


de Imprensa (ABI).
M. Paulo Filho (1890-1969)
Figura 4 - M. Paulo Filho.
• Membro da Academia Carioca de Letras (ACL),
da Academia Luso-Brasileira de Letras (ALBL) e
da Academia Brasileira de Arte (ABA).
Candidatou-se mais de uma vez para a
Academia Brasileira de Letras (ABL);
• Presidiu a Associação Brasileira de Imprensa
(ABI) (1928-1929) e o Sindicato dos
Professores do Rio de Janeiro ― Sinpro-Rio
(1934);
• Sócio fundador do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio de Janeiro (IHRJ);
Fonte - site da Associação Brasileira
de Imprensa (ABI).
• Filiado ao Partido Social Democrático (PSD,
extinto em 2003), foi Deputado na Assembleia
Nacional Constituinte (1934 e 1935);
M. Paulo Filho (1890-1969)
Figura 5 - M. Paulo Filho.

Figura 6 - M. Paulo Filho.


Figura 7 - M. Paulo Filho.

Figura 9 - M. Paulo Filho.


Fonte: blog “Vapor de Cachoeira”.
Figura 8 - M. Paulo Filho.

Fonte: suplemento infográfico


Fonte: jornal Diário de Notícias.
Singra.

Fonte: jornal Correio da Manhã. Fonte: jornal Correio da Manhã.


M. Paulo Filho (1890-1969)
• Os livros publicados por M. Paulo Filho são, em linhas
gerais, a representação bibliográfica da experiência de vida
nas esferas histórica, literária, crítica e memorialista,
caracterizada principalmente pela reunião — com algumas
alterações — de textos publicados em periódicos,
principalmente d’O Imparcial (1918-1947) e do Correio da
Manhã (1901-1974).
Figura 10 - Fragmentos dos jornais O Imparcial e Correio da Manhã (27/01/1939).

Fonte – Biblioteca Pública do Estado da Bahia e Hemeroteca Digital Braslieira (Biblioteca nacional.
M. Paulo Filho (1890-1969)
• Os livros publicados por M. Paulo Filho são: Literatura e
História (1958); Ensaios e Estudos (1961); Memórias de João
Paraguassú (1964); Tempos Idos (1968) e As Máscaras (19--).
Figura 11 - Capa do livro Figura 12 - Capa do livro Literatura Figura 13 - Capa do livro Ensaios e Figura 14 - Capa do livro
Memórias de João Paraguassú. e História. estudos. Tempos idos.

Fonte - arquivo pessoal. Fonte – Arquivo pessoal Fonte – Arquivo pessoal Fonte - arquivo pessoal.
Memórias de João Paraguassú (1964)
Figura 15 – Capa do livro Memórias de
Conversei com muita gente. Apertei a mão João Paraguassú

de muitas figuras — nacionais e


estrangeiras — das de maior ou menor
importância. Recolhi impressões. Fixei
individualidades. Guardei apontamentos. E
são alguns destes, recompostos fielmente
na medida do possível, que se vão ler
adiante. [...] Seja como forem, nem intriga,
nem perfídia, nem calúnia. [...] . Apenas,
uma tal ou qual malícia de sorriso amável
que me pareceu necessária para dar a estas
reminiscências um certo sabor literário. Fonte: arquivo pessoal.

Creio que o tempero é inofensivo. (PAULO


FILHO, 1964, p. 7).
Uma crônica de João Paraguaçu
RUI NA ACADEMIA
Na Academia, como contei anteriormente, a eleição de Alcides
Maya teve caráter desusado. Sabia-se que Rui também iria votar. O
fato de o grande cidadão comparecer e participar dos escrutínios
era assunto de curiosidade, pois raramente aparecia no cenáculo.
Sucessor de Machado de Assis na presidência da casa, por este
incumbido de falar à beira do túmulo de velho ironista de Brás-
Cubas e de saudar Anatole France quando o perigoso romancista-
pensador esteve no Rio, sem embargo de tudo isso Rui andava em
constantes divergências com os colegas da imortalidade. Era
natural. A maioria dos acadêmicos mergulhara na política
partidária. Frequentava muito mais o morro da Graça do que o
palacete da rua de São Clemente.
Rui foi à Academia para apoiar, nas urnas, o nome de Almachio
Diniz, contra Alcides Maya, na vaga deixada por Aluísio de Azevedo.
Pinheiro Machado decidira sustentar o novelista gaúcho, menos por
interesse do que pela vaidade de derrotar o chefe civilista dentro
da própria Academia.
O escritor Carlos Pontes, a propósito desse pleito agitado,
dizia-me que Verissimo, ao contrário do que eu pensava, não
sufragara nem Almachio nem Alcides. E isto porque já havia
abandonado o cenáculo desde o dia em que ali se preferiu Lauro
Muller a Ramiz Galvão. Alberto Torres e Virgilio Varzea não
chegaram a concorrer à cadeira do autor de Casa de pensão. Se
concorressem, Verissimo teria escolhido um dos dois.
Eu tomei nota da informação de Pontes. Evidentemente,
tínhamos uma contradição. Almachio censurava o procedimento de
Verissimo. Verifiquei, porém, que o crítico não fora à sessão
secreta. Mas podia ter mandado seu voto, que, pelo regimento,
devia ser guardado com o maior sigilo. Indaguei na secretaria.
Coelho Netto, um dos padrinhos da candidatura de Alcides,
garantiu-me que Verissimo permaneceu indiferente. Não votara,
nem fora à Academia.
Almachio conjecturava. Estaria ele fantasiando para desabafar?
Revendo meus apontamentos, não julgo os homens. Lembro-
os como os conheci. Dou depoimentos pessoais. Uns de ciência
própria, outro por ouvir narrar. Talvez sejam úteis aos futuros
cronistas que venham a tratar dessas coisas. O que me preocupa é
a verdade, que, em história, infelizmente, foi e será sempre a
grande pilhéria a que de vez em quando aludia o marechal Pires
Ferreira...
João Paraguassú
PRINCIPAIS TEMAS DE JOÃO PARAGUAÇU
Rui Barbosa e a ABL, respectivamente figura e espaço de
prestígios histórico, político e intelectual no Brasil, aparecem
periodicamente elevadas em uma rede de referências que
oferecem ao leitor uma visão social e cultural do país.
Figura 16 - Rui Barbosa. Figura 17 - Emblema da ABL.

Fonte - site da Academia Fonte - site da Academia


Brasileira de Letras (ABL). Brasileira de Letras (ABL).
RUI BARBOSA POR JOÃO PARAGUAÇU

“Rui e o príncipe dos poetas” “Rui no Senado” “Rui e o piano”


“Rui e Anatole France” “Benjamin no Provisório” “Rui e as creanças
“O grande trabalhador” “Berlios em casa de Rui” [crianças]”
“O jubileu de Rui” “Damnação de Fausto” “Gounod em casa de
“Alcindo e Rui” “Rui e Pinheiro” Rui”
“Rui e De Martens” “Gênio da Província” “Rui e Azeredo”
“Rui e Assis Brasil” “Arte de dizer” “Rui e a Academia”
“Rui e Seabra” “Rui, conspirador?” “Rui na Academia”
“Rui Glorificado” “Rui e o positivismo” “Veríssimo”
“Rui e Hermes” “Dicionário de Caxinauás”
“O pae [pai] da constituição” “Rui e os Caxinauás”
“Rui no Provisório” “Rui no Colégio Abilio”
“Arinos no Senado”
A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
POR JOÃO PARAGUAÇU

“Couto na Academia” “Entre a Academia e a política”


“Emílio na Academia” “Graça Aranha e a Academia”
“Oliveira Lima” “O modernismo na Academia”
“Romancista do nordeste” “Dom Sylverio na Academia”
“Machado de Assis e a Academia” “Livros didáticos”
“O procurador da Academia” “O jubileu de Rui”
“Santos Dumont na Academia” “Rui e Anatole France”
“Crê ou morre” “Rui e a Academia”
“Croisset na Academia” “Rui na Academia”
“O emblema da Academia” “Veríssimo”
“Seabra e a Academia”
“Nos bastidores da Academia”
Literatura – Narrativa – Crônica –
Cultura – Memória
Figura 18 - capa do Livro Ciência da
Literatura Empírica: uma alternativa
(OLINTO,1989).
[...] Uma ciência da literatura concebida
[...] como teoria da ação [...] tematiza
então o texto literário como [...] as
diversas dimensões do sistema literatura,
ou seja, a produção, mediação, recepção
e a elaboração pós-recepcional de textos
literários [...] em sistemas históricos
definidos por determinados processos de
socialização, necessidades cognitivas e
afetivas, intenções e motivações gerais e,
ainda, por condicionamentos políticos,
Fonte: site do sebo “Estante Virtual”. sociais, econômicos e culturais[...].
(OLINTO, 1989, p. 27, grifo meu).
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Ciência da Literatura Empírica (CLE/CEL)
Figura 19 - Heidrun Krieger Olinto, organizadora e tradutora do
livro Ciência da Literatura Empírica: uma alternativa.
Sociedade entende-se [...]
como sistema de sistemas de
ações sociais tais como,
política, economia, educação,
etc. [...] e é estruturada a
partir da relação de seus
sistemas parciais [...].
(SCHMIDT tradução OLINTO,
1989, p. 44, grifo nosso).

Fonte; Site do X Encontro de Ciência Empírica em Letras (UFRJ),


realizado em 2009.
Literatura – Narrativa – Crônica –
Cultura – Memória
• Narrativa: “Somos feitos de narrativas, [...] atravessados por
elas, numa rede de fios entrecruzados feitos de histórias
familiares, socioculturais, históricas, e ainda do que foi
possível ouvir, do que lemos, do que fantasiamos, do passado
vivido e rememorado em nossas narrativas cotidianas [...]”
(HERRERA, 2008, p. 275-276).
• Crônica: “[...] a crônica oscila entre a matéria jornalística, que
faz do cotidiano sua fonte de vida, e a matéria literária, que
transcende o dia-a-dia pela universalização de suas
virtualidades latentes.” (GOTTARDI, 2007, p. 15).

19
Literatura – Narrativa – Crônica –
Cultura – Memória
• Memória: “A categoria da memória é inerente a qualquer ato
de escrita. Todavia, ela ganha um tratamento peculiar na
narrativa literária. [...] está presente o estabelecimento de
uma nova relação viva com o passado, no sentido do resgate
libertador e do aproveitamento da riqueza das experiências
humanas do passado.”(HERRERA, 2008, p. 285).
• Cultura: [...] Como sistemas entrelaçados de signos
interpretáveis [...] a cultura não é um poder, algo ao qual
podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos
sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos;
ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser
descritos de forma inteligível — isto é, descritos com
densidade. (GEERTZ, 2008, p. 10).

20
MEMÓRIA
Figura 20- Capa do livro
Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos [...] a memória permite a relação do corpo
presente com o passado e, ao mesmo
tempo, interfere no processo atual das
representações. Pela memória, o passado
não só vem à tona das águas presentes,
misturando-se com as percepções
imediatas, como também empurra,
desloca estas últimas, ocupando o espaço
todo da consciência. A memória aparece
como força subjetiva ao mesmo tempo
profunda e ativa, latente e penetrante,
Fonte - arquivo pessoal. oculta e invasora. (BOSI, 1994, p. 47, grifo
do autor).
• A memória reorganiza, através de
embates temporais e conceituais de
Figura 21- Capa do livro
realidades, uma consciência nova sobre Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos

o momento vivido;
• A memória “ocupa todo o espaço da
consciência”, na medida em que se
torna um mecanismo subjetivo inerente
à própria experiência de uma pessoa ―
que, ao contrário do que se poderia
deduzir a partir de seu agente, não é
individualizada;
• Nesses processos, passado e presente
se entrecruzam numa memória Fonte - arquivo pessoal.
acessada — conscientemente ou não —
para uma atividade: fala, escrita,
planejamento, caminhada etc.
A partir da socialização e veiculação das memórias em suportes
específicos, como um texto publicado em jornal, acrescenta-se ao
já seletivo aspecto da fala e da rememoração o conciso trabalho de
escrita. Essa atualização das lembranças proporciona uma
reorganização da memória cultural e social com apresentação e
desenvolvimento de novas relações de expressão (humor),
informando, mais uma vez, sobre o passado rememoradopor
mediação do presente.
Figura 21- Fragmentos dos jornais O Imparcial e Correio da Manhã.

Figura 22- Capa do livro


Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos

Fonte - arquivo pessoal. Fonte – Biblioteca Pública do Estado da Bahia e Hemeroteca Digital Brasileira (Biblioteca Nacional)
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre as publicações de João Paraguaçu n’O Imparcial,


encontram-se como espaços temáticos principais o ambiente
acadêmico, o jornalístico e o político. Entretanto, elas veiculam
igualmente outras dimensões nos escritos: sociológica,
econômica, artística etc. Essas dimensões, espaços
representativos ou (sub)sistemas, segundo a CLE, estão contidas
e inter-relacionadas no enredo e nas ambientações das crônicas
e artigos. Suas relações com a história são diretas, mas sugerem,
a partir da publicação e posterior leitura, a reflexão e a crítica
sobre esses mesmos assuntos. A memória — um dos recursos
criativos do autor — atua, assim, no espaço narrativo aliando
Literatura e História.
Referências
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Disponível em:
<http://www.academia.org.br>. Acesso em: 25 abr. 2012.
ACADEMIA CARIOCA DE LETRAS. Disponível em:
<http://www.academiacariocadeletras.org.br> Acesso em: 21 abr. 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA. Manuel Paulo Filho (1928-1929).
Disponível em: <http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=206#>.
Acesso em: Acesso em 21 abr. 2012.
FUNDAÇÃO Casa de Rui Barbosa. Disponível em:
<http://www.casaruibarbosa.gov.br/>. Acesso em: 2 set. 2012.
GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: Por uma Teoria Interpretativa da
Cultura. In: A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008, p. 3-21.
GOTTARDI, Ana Maria. Ambigüidade e diversidade da crônica. In: ______. A
crônica na mídia impressa. São Paulo: Arte & Ciência, 2007, p. 11-27.
Disponível em: www.unimar.br/publicacoes/ftp/miolo_cronica.pdf. Acesso
em: 20 abr. 2012.
Referências
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. V. 3.0. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2009.
MANOEL Paulo Filho, um talentoso e brilhante jornalista cachoeirano. Vapor
de cachoeira, 2011. Disponível em: <
http://vapordecachoeira.blogspot.com.br/2011/06/manoel-paulo-filho-um-
talentoso-e.html>. Acesso em: 17 jul. 2012.
OLINTO, Heidrun Krieger (Org.). Ciência da Literatura Empírica: uma
alternativa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
PINHO, Adeítalo Manoel. Uma história da literatura de jornal: O Imparcial da
Bahia. Porto Alegre, 2008. 404 f. (vol.1). Tese (Doutorado em Letras e
Linguística). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008.
Disponível em:
<http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1416>. Acesso
em: 03 fev. 2011.
Referências
PINHO, Adeítalo Manoel. Uma história da literatura de jornal: O Imparcial da
Bahia. Porto Alegre, 2008. 689 f. (vol.2). Tese (Doutorado em Letras e
Linguística). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008.
Disponível em: <
http://tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1417>. Acesso em:
03 fev. 2011.

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