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ALBERT CLAYTON GAULDEN

Sinais de Deus

COMO COMPREENDER A LINGUAGEM DIVINA

Tradução de

Mário Correia

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Nota do Autor:

Uso, ao longo de toda a obra, o pronome masculino Ele para me referir a Deus.
Poderá, no entanto, escolher para si o que melhor se adequar à maneira como O
entende.

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Para Leonora Hornblow, Joann Davis e Scott Carney

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Índice

Nota prévia 08

Introdução 09

I PARTE

Escutar a voz

1.0 que vê? O que ouve? O que sente? 13

2. Blanche e os anjos 14

3. Quando tudo se desmorona 22

4. Aumentar o volume 25

5. O perdão é o caminho para a liberdade 29

6. Do outro lado do espelho 34

7. Começar 41

II PARTE

Decifrar a nova linguagem

8. Definir a nova linguagem 47

9. Aprender a falar a nova linguagem 61

10. A linguagem da coincidência 70

11.A linguagem da sincronicidade 76

12. A linguagem dos sinais e dos prodígios 82

13. A linguagem de Deus-por-interposta-pessoa 86

14. A linguagem dos sonhos 91

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15. Confirmar o que ouvimos 100

16. Perguntas que vale a pena fazer 104

17. O que significa rezar 112

18. Seja feita a Tua vontade 117

III PARTE

Melhorar a recepção da nova linguagem

19. Agora é a sua vez de aquietar a mente e meditar. 125

20. Deflacionar o ego 136

21. A sua família como espelho 147

22. Recordar quem realmente é 157

23. Praticar o perdão 166

IV PARTE

O poder e a promessa da nova linguagem

24. Você, o diapasão 179

25. Mude-se a si mesmo e mude o mundo 185

26. O dealbar da era dos milagres 195

27. Deixar passar o poder 199

V PARTE

Perguntas e respostas a respeito da nova linguagem

28. Explorar a nova linguagem 202

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VI PARTE

Recursos

A respeito do Sedona Intensive 209

Já experimentou a nova linguagem? 211

Bibliografia 212

Agradecimentos 215

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Nota prévia

OS CASOS e exemplos tratados neste livro baseiam-se em pessoas e


acontecimentos reais. As histórias retratadas foram alteradas com o objectivo de
proteger a identidade das pessoas envolvidas. Algumas são apresentadas sob uma
forma compósita e reflectem a experiência de mais de um indivíduo.

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Introdução

HÁ MUITOS ANOS, depois de uma longa série de lutas pessoais e desgostos


horríveis, comecei a sentir a presença de Deus na minha vida, e a minha vida
melhorou substancialmente. Acredito que Deus quer que cada um de nós tenha uma
ligação pessoal com Ele, para poder beneficiar directamente da sua orientação e do
seu amor. Durante os últimos dezasseis anos, como fundador e director do Sedona
Intensive, tenho-me dedicado a ajudar outros a alcançar este objectivo. Agora, com
este livro, ofereço-lhe a si os meus pensamentos e ideias.

A peça central do meu actual trabalho é um conceito a que chamo nova


linguagem. A nova linguagem é a língua materna de Deus, o modo como Deus nos
fala de uma maneira não verbal através de coincidências, sincronicidades, murmúrios
de anjos, impressões, telepatia, sinais e prodígios e outras manifestações. Deus tem
vindo a falar-nos nesta linguagem simbólica desde os tempos de Abraão e Moisés,
mas na marcha do progresso e na ascensão da ciência, da tecnologia e da religião
institucional perdemos a nossa noção do profundo mistério da intervenção divina.

No trabalho que faço com os clientes que me procuram no maravilhoso


cenário de Red Rocks, tenho tentado ressuscitar a nova linguagem. O meu palpite é
que ela é o modo de lidarmos com a dissonância que sentimos quando procuramos a

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verdadeira espiritualidade. Embora a religião instituída tenha sem qualquer discussão
o seu lugar, noto entre os meus clientes uma ânsia de reclamar o poder pessoal e
afastar os intermediários que se têm erguido entre nós e Deus como guardas da nossa
espiritualidade. O meu lema é: «Deixem o poder passar dos poucos para os muitos.»
A chave para ter acesso directo a Deus é aperfeiçoar as nossas capacidades de
comunicação. Se rezar é falar com Ele, a nova linguagem é a maneira que Deus tem
de nos responder.

A nova linguagem não é de modo algum tudo o que ensino no meu programa-
individualizado-de-crescimento-pessoal em Sedona. Concentro-me em ajudar as
pessoas a desembaraçarem-se da estática das emoções negativas e infâncias difíceis
que nos impede de ouvir a voz de Deus. Espero pegar-lhe na mão e guiá-lo através
do processo de limpeza que uso no meu trabalho através dos exercícios, histórias e
instruções práticas que lhe ofereço nestas páginas. Esta limpeza ajuda-nos a melhorar
a nossa recepção da nova linguagem, libertando-nos do passado e centrando-nos no
presente com uma consciência acrescida.

Neste livro, que é mais do que manual de exercícios e instruções, tentei


oferecer-lhe o que resultou tão bem para mim e para centenas de outros homens e
mulheres cujas vidas foram transformadas no Sedona Intensive. James Redfield
estimulou a imaginação de milhões de leitores em todo o mundo com o seu best-
seller A Profecia Celestina, que escreveu depois de ter passado por Sedona. O que o
levou a escrever um tal livro? Vou dizer-lho, e muito mais.

Enquanto luta por libertar das limitações que impôs a si mesmo e abraçar
aquilo que Deus tinha em mente para a sua vida, tenha presente que Ele está sempre
à sua volta com sinais de encorajamento quando se perde no seu caminho, O que
para mim é mais tranquilizador é o facto de não haver calendários nem relógios para
chegar à iluminação. A lâmpada acende-se quando estamos prontos para ver aquilo
que Deus está a tentar mostrar-nos e para ouvir a Sua voz falar-nos na nova
linguagem.

10
(…) que faz prodígios e maravilhas no Céu e na Terra (...)

Daniel 6:27

“aqui estou eu e os meus filhos que o Senhor me deu para servirem de sinal e
de portento (...)»

Isaías 8:18

“Deixem o poder passar dos poucos para os muitos. »

Albert Clayton Caulden

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I PARTE

Escutar a Voz

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CAPÍTULO 1

O que vê? O que ouve?

O que sente?

QUANDO SUSAN recebeu a notícia de que tinha sido admitida em Harvard


e também na Brown University, pediu ao pai que a ajudasse a escolher.

— Ambas as escolas são excelentes — respondeu ele —, mas acho que devias
dormir sobre o assunto.

Mal o pai acabara de pronunciar estas palavras, a campainha da porta tocou.


Era um moço de entregas que se dizia perdido e pedia indicações. Vestia um
camisolão no qual estava escrita, em grandes letras escarlates, a palavra «Harvard».

David agitava-se na cama. As coisas não lhe corriam muito bem no trabalho,
e com uma reunião com um cliente importante no dia seguinte, estava a ter
dificuldade em adormecer. A olhar para o tecto às quatro da madrugada, sentiu um
súbito e compulsivo desejo de ligar o rádio. Obedecendo ao impulso, premiu o botão
e ouviu a voz de Mar!ey repetir na canção: «Vai correr tudo bem, vai correr tudo
bem.” Acalmado pelo ritmo, conseguiu finalmente adormecer.

Conduzindo a alta velocidade sob uma chuva torrencial, Michael estava


perdido numa estrada que não conhecia. Vinha do consultório do médico, aonde fora
buscar os resultados dos exames, e as notícias não eram boas. «Por favor, Deus,
ajuda-me», repetia uma e outra vez para si mesmo. “Se há mais alguma coisa que eu
possa fazer, por favor, mostra-me o caminho.» O uivo estridente da sereia que acabou
por lhe penetrar os pensamentos pertencia a um carro da Polícia que o mandava
encostar à berma. Apesar do feixe de luz que a lanterna do agente projectava,

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Michael conseguiu ver o cartaz um pouco apartado da estrada, e que dizia: “Os
Milagres Acontecem. Não Desespere.”

Trata-se de coincidências? De sinais? De mensagens? Em minha opinião, de


todas estas coisas. Acredito que Deus estava a falar a Susan, a David e a Michael na
nova linguagem; ou seja, na Sua língua materna, a que utiliza para nos falar desde os
tempos bíblicos.

Desde Moisés e da sarça-ardente que Deus usa uma linguagem de sinais para
entrar em contacto connosco. Na história que a Bíblia nos conta em Êxodo, Moisés
apascentava o seu rebanho no deserto quando chegou ao monte Horeb. Ora, em
minha opinião, Moisés devia ser um fulano muito esperto, porque quando Deus lhe
mostrou um arbusto a arder no meio do deserto, percebeu logo — soube que Deus
estava a falar-lhe e queria que o ajudasse a libertar os Israelitas.

Quando Noé, a família e os animais desembarcaram da arca, ao cabo de


quarenta dias e quarenta noites de chuva, Deus enviou um arco-íris como sinal da
Aliança estabelecida entre Ele e as almas que iam repovoar a Terra. Noé
compreendeu. Mais tarde, Abraão viu um carneiro quando se preparava para
sacrificar o seu filho Isaac e soube que Deus tinha outros planos.

Depois dos tempos bíblicos, começaram a surgir por todo o mundo as


religiões organizadas. Acredito que isto pode ter acontecido quando a ligação directa
entre Deus e a humanidade foi cortada. À medida que as primitivas religiões se
enraizavam, o poder começou a concentrar-se nas mãos de uns poucos. Estabeleceu-

-se uma hierarquia, com sacerdotes, rabis, videntes e outros que agiam como
intermediários entre Deus e os homens. Os que controlavam o poder e outros
autoproclamados intermediários gostavam muito claramente de dizer ao resto das
pessoas o que pensar e o que fazer. Foi criada uma quantidade enorme de regras e
dogmas feitos pelo homem, e em menos de um fósforo as pessoas estavam de joelhos
a rezar as orações «certas» à hora “certa» — como se Deus fosse um obsessivo-
compulsivo agarrado a um horário rígido. O Deus que fizera o homem à Sua divina
imagem deve ter rido a bom rir ao ver o homem refazê-lo a Ele segundo moldes

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humanos. Terá Deus deixado de falar porque o homem não estava a ouvir? É difícil
saber, mas parece ter havido uma supressão da linguagem. A Igreja e o Estado foram
praticamente uma e a mesma coisa durante milhares de anos, e as pessoas, temendo
pela própria vida, limitavam-se a papaguear a posição do governo ou instituição
religiosa que estivesse de momento no poder.

O tempo passou e o mundo ocidental mergulhou na Idade das Trevas. Durante


este período de 1000, ninguém excepto Joana d’Arc falou de ter tido notícias de
Deus, e não se pode dizer que a sorte dela tenha sido invejável. Enquanto Joana era
amarrada ao poste e queimada, a maior parte das pessoas andava ocupada a combater
em guerras santas que significavam morte e destruição para milhões de outras.

Com a chegada do Iluminismo, no século XVII, o destaque passou para a


mente racional, dando lugar à ascensão da ciência. É inegável que a ciência trouxe
progressos enormes aos cuidados de saúde e à vida no local de trabalho — devemos
muito às invenções e à tecnologia. No entanto, a maior parte dos cientistas é
completamente inútil em se tratando das necessidades espirituais da sociedade, talvez
porque não podem testá-las, medi-las ou dissecá-las. Para eles, a verdade tem de ser
pesada e tabelada. Ao lançarem a revolução tecnológica, os cientistas puseram a
máquina em primeiro lugar. Substituíram o ritmo da alma pelo ritmo da máquina.

Qualquer pessoa que tenha visto o grande filme de Charlie Chaplin Tempos
Modernos sabe exactamente do que é que estou a falar. Um homem na linha de
montagem torna-se escravo do relógio.

Depois da linha de montagem, do tapete rolante e da bomba atómica veio a


repescagem, nos anos de 1970, da afirmação do filósofo prussiano do século XIX
Frederick Nietzsche: «Deus está morto.» Que pode muito bem ter reacendido no
resto de nós o espírito de luta e o desejo de descobrir a verdadeira espiritualidade.

A nossa alma pedia aos gritos a recuperação.

E, de facto, estamos a recuperar. A mudança está a acontecer neste preciso


instante. Desde meados do século XX, quando se iniciou o movimento do potencial
humano, começámos a tentar descobrir o caminho de regresso a Deus. Alimentada

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por uma ânsia profunda e insatisfeita, a consciência de que o poder deve passar dos
poucos para os muitos tem vindo a crescer. Muitos de nós queremos mais controlo
sobre o nosso destino espiritual, sem que isso signifique que não gostemos de
participar na espiritualidade e no culto da comunidade. A um nível muito intuitivo,
queremos ter a nossa conversa privada com Deus, uma ligação mais directa, como
Moisés tinha. Acicatados por Freud e por Jung, que aprofundaram o nosso
autoconhecimento, descobrimos que se conseguirmos dominar o ego, podemos
tornar-nos o melhor de nós mesmos, o nosso eu espiritual, e entrar num diálogo
constante com um Deus maravilhoso que lá está para nos ajudar e guiar.

Com a Sua incrível noção do tempo, Deus sabe que a mudança está a ocorrer
e tem consciência da janela de oportunidade que se abriu com o novo milénio.
Sempre disposto a acolher-nos de volta, tem toda uma panóplia de técnicas que usa
para chamar a nossa atenção. Usa as chamadas coincidências e sincronicidades —
interacções não planeadas entre duas ou mais pessoas — e as Suas mensagens
chegam até nós em momentos importantes através de livros e cartazes, de poemas ou
da rádio. Deus encontra-nos onde quer que estejamos e é definitivamente
multimédia. Alguns poderão dizer que isto não passa de loucura, o produto da minha
desvairada imaginação, que estou a tomar os meus desejos por realidades. Mas eu
digo-lhe que ignorar o que estou a dizer é perder uma extraordinária ligação com
Deus que pode trazer-lhe orientação, força e paz de espírito.

Dor e sofrimento

Os seres humanos são as almas que optaram por vir à Terra para aprender e
crescer adoptando um corpo físico. A Terra é uma escola com exigências muito
estritas para as almas que fazem a viagem. Em primeiro lugar, cada alma tem um
plano de aprendizagem, e a dor e o sofrimento são os professores. Ninguém neste
mundo escapa ao desgosto. A dor parece ser a marca de contraste da condição
humana. Mas se pararmos para pensar um pouco, pode ser na realidade uma bênção

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disfarçada. A dor testa as nossas aptidões. Por vezes, aproxima-se sem ser vista e
ataca-nos quando menos esperamos. Seremos modelos de optimismo como Michael
J. Fox, que intitulou a sua autobiografia a respeito de viver com a doença de
Parkinson Um Homem de Sorte? Ou vamos permitir que a adversidade nos esmague?
Podemos escolher.

A dor oferece-nos uma oportunidade de descobrir as nossas forças, ajuda-nos


a crescer, a compreender que somos seres espirituais dotados de grandes poderes. Se
formos um pouco que sejamos parecidos com uma das minhas personagens
preferidas, a Dorothy, do Feiticeiro de Oz, a dor ajuda-nos a perceber que não há
lugar como a nossa própria casa. Através do sofrimento, estendemos as mãos em
busca de auxílio e tentamos regressar à fonte.

Energia divina

Mrs. Schuler, que ensinava catequese quando eu era um rapazinho a crescer


na baptista Birmingham, tinha ideias muito definidas a respeito de Deus. Transmitia-
nos uma imagem de Deus como um velho de comprida barba branca sentado num
trono de ouro e tendo nas mãos o Livro do Juízo. Os que vêem Deus desta maneira
têm o meu respeito, mas a minha visão mudou radicalmente nas seis décadas que
levo de vida. Hoje vejo Deus como um vórtice de energia — pura, poderosa, e a
fonte de toda a vida, incluindo a nossa. Ser de Deus faz de cada um de nós um
pedaço indestrutível de energia divina — uma alma, se quiser.

Na escola da Terra, onde a dor é professora, a energia é a força unificadora. A


energia é não só a base de toda a matéria sólida mas também a substância de que são
feitos todos os nossos pensamentos e emoções. Por isso é tão importante dar atenção
ao que pensamos e sentimos, ser construtivo nos nossos pensamentos e emoções, não
permitir que os rancores e as más intenções fiquem a pairar por cima de nós. Os
pequenos impulsos energéticos que irradiam do nosso coração e da nossa mente

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podem transportar uma carga positiva ou negativa. Essa carga influencia tanto o
campo de Forças que nos rodeia como o universo em geral.

Einstein disse que vivemos num universo de energia, e é claro que vivemos.

A matéria é energia que se tornou mais lenta, e quantidades maciças de


energia são libertadas quando as mais diminutas partículas de matéria são divididas.
Cada ser humano é um sistema de energia divinamente carregado, uma parte do
desígnio cósmico de Deus. Quando partilha com outra pessoa o que lhe vai no
coração, há um intercâmbio de energia no momento em que as emoções passam de
um para o outro. Quando faz amor, também isso é um intercâmbio de energia, uma
interpenetração de campos de força. A energia está igualmente envolvida em algumas
das transacções mais negras da vida. Quando uma pessoa manipula outra, rouba-lhe
energia. Talvez conheça um vampiro de energia — alguém que o suga até deixá-lo
seco sempre que se encontram ou falam. A energia está realmente na base de um
grande número de actividades, porque é esse o desígnio de Deus e nós somos a Sua
obra de arte.

A nova linguagem, a linguagem de Deus, é também um sistema de energia —


um sistema divino — que pode ser útil ao encorajar-nos, ao Fazer-nos sentirmo-nos
ligados, e ao encaminhar-nos na direcção certa. A nossa tarefa é entrar no fluxo de
energia. No momento em que iniciamos a nossa viagem de descoberta sobre como
fazê-lo, deixo-lhe uma palavra secreta que ofereço a todos os que precisam de ajuda
peça. Lembra-se do que está escrito na Bíblia: “Pedi e ser-vos-á dado»? Pois bem,
quando não tiver a certeza de estar a avançar na direcção certa, peça ajuda. Peça
muitas vezes e de coração aberto. Ao longo de cada dia, entre em contacto com Deus
e veja o que ouviu ou viu ou aprendeu. Torne-se sensível à nova linguagem e à
orientação que ela oferece. Como qualquer outra competência, a nossa sensibilidade
à orientação de Deus desenvolve-se lentamente e com a prática. É a viagem que
vamos fazer neste livro. Limpar, escutar, praticar e afinar as nossas competências.

Agora, para que tudo fique bem esclarecido, tenho uma confissão a fazer.
Nem sempre conheci esta linguagem nem como usá-la para ouvir Deus — para ir
aonde Ele me conduzia, fazer o que Ele me dizia ser certo. Levei muito tempo a

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chegar até aqui. E ainda cometo muitos erros. Era o filho pródigo e andava perdido.
Tive de aprender muito. Um homem sábio disse certa vez que ensinamos aquilo que
precisamos de aprender. Comecemos, pois, pela minha história, a história de como
consegui limpar o espírito e finalmente ouvir Deus na língua que hoje falo.

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CAPÍTULO 2

Blanche e os anjos

BLANCHE PASSAVA A FERRO para a minha família todas as quartas-


feiras. Nos anos 40, os pobres não tinham automóvel, de modo que ela ia de eléctrico
desde o gueto até ao nosso apartamento em Elyton Village, um bairro de habitação
social financiado pelo governo em Birmingham, Alabama. Naqueles tempos, a minha
Família usava os transportes públicos pela mesma razão que Blanche — éramos
pobres e não tínhamos alternativa.

Viver em Elyton Village era duro para mim, um rapazinho sensível que uma
palavra mais dura ou uma brincadeira mais rude fazia chorar. A selva de cimento e
asfalto, cheia de Famílias que tentavam enfrentar a vida do pós Depressão, assustava-
me. Tendo nascido com uma deformação nos pés. não era do tipo atlético, pelo que o
centro social que tanto atraía os meus irmãos e irmãs, interessados nas actividades
desportivas, não tinha qualquer encanto para mim. Preferia ficar em casa, sobretudo
quando Blanche lá estava a lavar, a passar a ferro e a pôr a sua alma a nu.

— Estou muito agradecida à tua mamã por este emprego, menino — disse-me
um dia, com um sorriso que exprimia quanto apreciava a oportunidade de ir a nossa
casa passar algum tempo comigo.— És um belo homenzinho.

Ao crescer, recordava vividamente os verões com Blanche. Todas as quartas-


feiras, a partir de meados de Junho, quando acabavam as aulas, até ao princípio de
Setembro, quando recomeçavam, ia pôr-me à. janela do quarto da minha mãe à
espera de ver Blanche subir a rua com o seu vestido estampado, sempre com um saco
de compras e uma sombrinha na mão, fizesse chuva ou sol. Usava os cabelos
grisalhos apanhados num carrapito que lhe coroava o rosto onde se espelhava um ar
de digna seriedade. Caminhava sempre muito direita.

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— Mr. Albert — chamava, ao parar diante da porta. Tendo-a visto chegar, já
eu ia a correr para recebê-la, pronto para o nosso ritual do costume. Para começar,
Blanche passava a ferro e cantava espirituais, enquanto eu lia os meus livros. Então,
depois de eu ter arrumado a roupa engomada, abraçando cada peça aquecida pelo
ferro como se fosse uma parte dela, ficava na esperança de um pouco de conversa
antes da despedida. Plantava os cotovelos na ponta da tábua de engomar e contava-
lhe o que ia acontecendo na minha vida — as mais das vezes problemas que
advinham do facto de me sentir só.

— Que se passa comigo? — perguntava.— Não sou como os outros miúdos.


Não me dou com eles.

Blanche ouvia-me, e então dizia de sua justiça.

— Não se passa nada contigo, docinho. És como aquela ninhada de cachorros


que tive a semana passada. Quatro eram castanhos, como os cabelos da tua mamã, e
um era malhado. Era diferente, e era dele que eu gostava mais. Não me perguntes
porquê, era assim, e pronto.

Anos mais tarde, depois de eu me ter debatido com uma noção do certo e do
errado toldada pelo alcoolismo, ouvia a voz de Blanche e agarrava-me à pequena
jangada de palavras que me chegavam nos muitos sermões dela.

— Não há neste mundo nada que Deus não consiga resolver. Mas Ele está
sempre muito ocupado. Mesmo muito ocupado. Por isso tem anjos que andam de um
lado para o outro e falam dentro da nossa cabeça. São eles que resolvem os
problemas, Mr. Albert. Resolvem os problemas.

— Como é que sabes que são os anjos a falar contigo, Blanche?

— Sabes quando tens um formigueiro? Um formigueiro dos pés à cabeça?


São os anjos a falar contigo.

Blanche morreu nos anos 70. Na altura, eu vivia na Califórnia e não pude ir a
casa para assistir ao funeral. Tinha feito várias escolhas erradas na minha vida e
metido por maus caminhos. Mas as palavras dela continuavam a ecoar-me na cabeça.

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CAPÍTULO 3

Quando tudo se desmorona

NUNCA HEI-DE ESQUECER a primeira vez que provei álcool.

Foi em 1957. Tinha deixado a universidade, numa tentativa de pôr algum


dinheiro no banco, e estava a trabalhar como paquete numa Firma de advogados de
Birmingham. Encarregado de entregar documentação legal, atravessei a Baixa a
caminho do Tutwiler Hotel, numa escaldante tarde de Verão, levando comigo um
pacote marcado com a indicação de «urgente».

— Querido — ronronou a cliente depois de ter aberto a porta da opulenta


suite. — Entra, entra. Nesse pequeno envelope que aí trazes vem a chave da minha
cela.

Apesar de temporariamente cego pela luz que entrava a rodos pelas amplas
janelas de sacada, não pude deixar de notar que a loura deslavada que estava à minha
frente era uma mulher exótica, de grossos lábios cor de rubi. Usava um roupão de
quarto gritantemente vermelho e uma quantidade enorme de jóias de ouro. Enfiou-
me um copo de martini na mão.

- Tchim-tchim — disse, fazendo chocar o seu próprio copo contra o meu.

Nunca, até àquele momento, os meus lábios tinham tocado álcool. Cresci
como cristão baptista no Sul profundo, nos anos 40 e 50, fazendo uma vida de recato
e estudo da Bíblia. Saí de lá aos vinte e um anos, cheio de santimónia e seriedade.
Depois de a minha amada Blanche se ter reformado, voltara-me para um novo amigo
chamado Jesus. Renunciara ao álcool em nome d’Ele. Tinha jurado nunca tocar numa
bebida, e cumprira a minha palavra.

E agora ali estava eu, a lamber as últimas gotas do fruto proibido e a pedir
mais. Durante os vinte anos seguintes, nunca mais parei. Mas sempre que estendia a

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mão para a garrafa, ouvia uma voz ecoar-me na cabeça: «Devias ter vergonha. Nunca
hás-de chegar a coisa nenhuma. Quando é que vais ganhar juízo e voar a direito?»

Era a voz da minha mãe. Divorciara-se do meu pai quando eu tinha nove
anos. Embora goste de pensar que o fez porque ele tratava mal os filhos, suspeito que
teve as suas próprias razões para pôr fim ao casamento. A vida em nossa casa era
dura, com pouco dinheiro e muitas bocas para alimentar. A Mãe trabalhava todos os
dias como secretária e a vida tornara-a azeda, com muito pouca emoção para me
dispensar a mim e aos meus irmãos e irmãs. Não me lembro de a ter ouvido uma
única vez dizer que nos amava, ou que estava orgulhosa de qualquer coisa que
tivéssemos feito. Desde quando consigo recordar, cada um de nós era uma ilha,
isolada e faminta de um pouco de encorajamento.

Eu procurava refúgio nos finais felizes das sessões duplas dos cinemas e
voava mais alto do que um papagaio a ouvir música tocada na igreja ou na rádio. O
coro de um gospel-padrão, tipo Nearer My God to Thee, entusiasmava-me do mesmo
modo que um êxito popular como Earth Angel. Também a arte me animava. Quando
a nossa classe na escola primária visitava o museu, pouco me faltava para ir enfiar o
nariz nos grandes e vistosos quadros em exibição.

Olhando para trás, julgo que a minha sensibilidade estava a levar-me para
uma vida de fuga ao real que estava a ganhar forma no meu espírito e na qual eu
jogava jogos de faz-de-conta, Quando era criança, por exemplo, comecei a atribuir
designações de género às cores e aos números, decidindo que o vermelho era
masculino e o amarelo feminino, enquanto o quatro e o cinco eram rapazes e o três
rapariga. Acreditei no Pai Natal muito mais tempo do que os outros miúdos e tinha a
esperança de que um anjo-da-guarda me salvaria dos horrores da vida real. Horrores
que incluíam o comportamento do meu pai, a pobreza da minha família e,
especialmente, os meus pés deformados.

O período de 1957 a 1979 é para mim como um borrão. Sempre a mudar de


Birmingham para Nova Iorque, de Atlanta para Mobile, de Mobile para a Califórnia,
nunca me sentia ligado ao que quer que fosse. E nunca conservei um emprego
durante muito tempo.

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Trabalhei em publicidade, vendi casas e pronto-a-vestir para senhoras. Em
1979, não tinha um cêntimo, estava desempregado, vivia num minúsculo
apartamento em Long Beach, Califórnia, e conduzia um monte de sucata a cair aos
pedaços. No sossego do meu espírito, voltava por vezes aos dias idílicos que passava
na igreja a decorar as Escrituras. Um versículo ecoava-me com Frequência na
cabeça. «Que te pede o Senhor, senão que pratiques a justiça, que ames a
misericórdia e que andes solícito com o serviço do teu Deus?»

«Quem era Deus, ao fim e ao cabo?», perguntava a mim mesmo. Mal sabia,
na altura, que só quando batesse no fundo e estivesse pronto para confrontar o meu
alcoolismo, alguns meses mais tarde, começaria a ouvir essa voz.

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CAPÍTULO 4

Aumentar o volume

BEBI A MINHA ÚLTIMA gota de álcool a 17 de Fevereiro de 1980.

Ao fim de mais de vinte anos de um comportamento destrutivo, a minha


epifania ocorreu quando fui preso por conduzir alcoolizado. Quando aquelas luzes
azuis rotativas me fizeram sinal para encostar, soube que a brincadeira tinha acabado.
Não era a primeira vez que me via atirado para uma cela por conduzir embriagado,
mas, fosse pelo que fosse, alguma coisa dentro de mim me disse que seria a última.

Sentado no carro-patrulha, a percorrer as ruas esconsas de Long Beach às


tantas da madrugada, ouvi uma voz dizer na minha cabeça: «Acabou-se.” Ora bem,
não sou do género de ouvir vozes, e sempre encarei a magia da espiritualidade New
Age com uma salutar dose de cepticismo. Mesmo assim, soube que algo de especial
estava a acontecer. Não foi apenas o pensamento que me sobressaltou, foi também a
serenidade que o acompanhou e que desceu sobre mim. Sentado dentro de um carro
da Polícia, a passar pela experiência mais perturbadora que alguma vez tivera, senti
uma tremenda calma. Sim, acabou-se, disse para mim mesmo. Sentia-o. Uma semana
mais tarde, inscrevi-me num programa de reabilitação alcoólica.

Passar de bêbedo a abstinente foi um longo processo alimentado por vagas de


intuição. Para mim, começava todas as manhãs quando me deixava ficar estendido na
cama a tentar receber mais inspiração, que era como chamava à voz que tinha ouvido
depois de ter sido preso. Mais real do que qualquer coisa que tivesse experimentado
na catequese, a voz recordava-me aquilo que Blanche descrevera — o murmúrio dos
anjos. Estava ansioso por voltar a ter aquela sensação. Por isso, comecei a dedicar
algum tempo, todas as manhãs, a escutar, para o caso de Deus ter qualquer coisa a
dizer. Observando a minha vida em retrospectiva, apercebi-me de que falara muitas

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vezes com Deus. Rezar era isso mesmo. Mas nunca fizera uma pausa, por um
segundo sequer, para Lhe dar oportunidade de responder.

Ao princípio, muito pouco aconteceu. Ficava calado e fazia o possível por


aquietar a mente, tentando apreciar a qualidade meditativa da experiência. Por vezes,
os lábios tremiam-me, ou ficava com pele de galinha quando julgava ter ouvido
qualquer coisa. Mas era cauteloso. A última coisa que queria era iludir-me a mim
mesmo.

Então, um dia, com toda a certeza, voltei a ouvir a voz na minha cabeça, e a
mensagem era clara e forte:

«O inimigo é o ego.»

O ego? Não estava a perceber. O ego de quem? E o que é o ego, ao fim e ao


cabo? No meu entendimento da palavra, o ego era a maneira como eu interagia com
o mundo de modo a satisfazer os meus desejos. Por vezes, o meu ego servia-me bem.
Ajudava-me a fazer o meu percurso no mundo de uma forma justa e conscienciosa.
Mas, durante a maior parte da minha vida adulta andara completamente
descontrolado. E sempre que isso acontecia, eu metia-me em sarilhos. Grandes
sarilhos.

Pouco depois de ouvir estas palavras, comecei a fazer um inventário. Queria


saber como, exactamente, o meu ego passara os limites. Um dia, fiz até uma lista dos
meus pecados. Aqui fica:

Os pontos negativos de Albert

1. Chamava às outras pessoas hipócritas ao mesmo tempo que ignorava os


seus próprios defeitos.

2. Copiava nos exames.

3. Roubava o que os pais não lhe podiam dar.

4. Pensava que era melhor do que os outros.

5. Condenava os outros sem investigação.

26
6. Mentia mesmo quando a verdade seria suficiente.

7. Bebia em excesso, comia em excesso e acumulava dívidas no cartão de


crédito.

Ali estavam eles. Os meus sete pecados mortais. Quando olhei para a lista,
precisei de um minuto para recuperar a respiração. Quem era aquele sujeito
horroroso, podre até ao âmago, com muito pouco que o redimisse? Quem era aquele
homem que causava tanta estática que nem sequer era capaz de ouvir o seu próprio
pensamento?

Sempre fui um grande admirador de Joseph Campbell, psicólogo transpessoal


e autor que, segundo a Joseph Campbell Foundation, Fora muito influenciado pelos
estudos psicológicos de Freud e Jung, pela arte de Picasso e de Henri Matisse e pelos
romances de Henry James e de Thomas Mann. Ao pensar em ego, recordei a maneira
como Joseph Campbell abordara o tema na sua versão mitológica da criação da
Terra. Em The Power of Myth, Campbell descreve a rebelião de Lúcifer e dos seus
apaniguados, como abandonaram o Céu e se instalaram na Terra que Deus destinara
àqueles excluídos. Para permanecerem na Ordem de Lúcifer, os anjos caídos juravam
nunca mais pronunciar o nome de Deus. Campbell afirmava que todos nós somos
anjos caídos, separados de Deus por egos sem lei, e que a nossa redenção só pode vir
de falarmos directamente com Deus e aprendermos a fazer escolhas melhores.

Olhando para trás, tive de admitir que, apesar de todo o meu treino religioso
convencional, nunca me sentira verdadeiramente ligado a Deus. Bem pelo contrário.
Sentia-me muitas vezes sozinho e com medo, no tempo em que era um rapazinho. Se
quiser ser honesto para comigo mesmo, terei de admitir que o medo era a principal
emoção que me impelia. Muito como o boneco de Edgar Bergen, Charlie McCarthy,
fazia o que o meu ego me levava a fazer movido por uma qualquer ideia errónea de
que isso me proporcionaria paz e controlo. Na ausência de verdadeira espiritualidade,
o meu ego apoderara-se de mim, ajudando a criar uma vida de ilusão e mentira tecida
à volta de vícios, O verdadeiro eu, o filho de Deus, fora empurrado para o fundo da
cena.

27
Tudo isto constituía para mim um interessante paradoxo. Um ego saudável é
importante não só para sobreviver, mas também para progredir no mundo, mas pode
sabotar. Compreendia que tinha de refrear o meu ego, mas como? E então percebi;
como dois garotos que participam amarrados pelos tornozelos numa corrida, eu e o
meu ego tínhamos de colaborar, de trabalhar juntos para encontrar um equilíbrio.

Quando este pensamento me atravessou o espírito, lembrei-me de um


versículo que tinha aprendido na igreja, em criança:

«Desde o mais profundo clamei a ti, Senhor. Senhor, ouve a minha voz;
estejam os teus ouvidos atentos à voz da minha súplica.» Gritaria e escutaria. E o que
ouvisse havia de guiar-me.

28
CAPÍTULO 5

O perdão é o caminho

para a liberdade

EM TODA A MINHA VIDA me disseram que Deus me amava. Agora


dedicado a tornar-me melhor, senti que era verdadeiramente assim. Deus parecia
desafiar-me a reconciliar-me com ele através de uma linguagem que eu nunca antes
falara ou compreendera. Todos os dias, como que por magia, dei por mim a ser
guiado por mensagens e instruções transmitidas por pessoas e por coincidências, por
sincronicidades e intuições. Se obedecia a um impulso e ligava o rádio, as palavras
do locutor pareciam-me especialmente dirigidas. Em diversas ocasiões, encontrei o
caminho para livros cujos autores falavam directamente das minhas preocupações.

Foi o caso de Emmet Fox um espiritualista e metafísico popular nos anos 30,
autor de dez livros que venderam mais de dez milhões de exemplares. Fox tinha
muitas coisas iluminantes a dizer, mas uma ideia em particular fez soar em mim uma
corda sensível. Como Fox dizia: «Recusar perdoar-se a si mesmo é orgulho
espiritual. “E por esse pecado caiu o anjo.”»

No seu livro The Power of Constructive Thinking, Fox exalta o pai-nosso


como sendo talvez a oração mais importante de toda a cristandade, por causa da sua
ligação ao perdão. «O pai-nosso concede uma amnistia geral a todos os que
ofenderam Deus», afirma. «O perdão das ofensas é o vestíbulo do paraíso. Temos de
livrar-nos de todos os ressentimentos e condenações contra terceiros e, não menos
importante, da autocondenação e do remorso.»

Isto pareceu-me uma peça crucial do quebra-cabeças que estava a tentar


resolver, uma peça que me oferecia uma saída do meu passado egocêntrico. Fox
sugeria que a incapacidade de perdoar permite que os ressentimentos se acumulem, o
que nos mantém atascados em culpa e ligados àqueles que vemos como nossos

29
inimigos. Fox via estas ligações como grilhetas que nos prendem àqueles que
odiamos. Enquanto não perdoarmos e os libertarmos a eles e a nós próprios, outras
pessoas com as mesmas características odiosas continuarão a entrar na nossa vida até
que enfrentemos as lições que precisamos de aprender. O caminho para a liberdade é
perdoar aos outros e a nós mesmos.

O pai-nosso

Pai-nosso, que estais nos céus, santificado seja o Vosso nome.

Venha a nós o Vosso reino. Seja feita a Vossa vontade

assim na Terra como no Céu.

O pão-nosso de cada dia nos dai hoje.

E perdoai-nos as nossas ofensas, como nós perdoamos

a quem nos tem ofendido.

Amen.

Porque se perdoares aos homens as suas ofensas,

o teu Pai celeste perdoar-te-á as tuas.

Mas se não perdoares aos homens as suas ofensas,

também o teu Pai não te perdoará.

Ler a oração abriu-me verdadeiramente os olhos. Devido à minha longa


história de bebida, tinha ofendido muitas pessoas cujo perdão não procurara. E
guardava ressentimentos contra outras. Se a falta de perdão é a estática, temos de
limpá-la para falar com Deus e ouvir as respostas d’Ele, e eu tinha trabalho a fazer.

Precisava de reconciliar-me comigo mesmo.

30
Tendo trazido à superfície os pontos negativos de Albert, resolvi tentar amar-
me e abraçar o meu ego em vez de rotulá-lo de mau e tentar destruí-lo. Fi-lo numa
carta de perdão que dirigi a mim mesmo. Dizia o seguinte:

Caro Albert

Escrevo-te esta carta de reparação para nos libertar a ambos da


autocomiseração e de sermos vítimas. Não direi «Lamento”, ou «Peço desculpa»,
pela parte que me cabe nos ressentimentos entre familiares e amigos. Quase todos
n6s usámos toda a nossa vida estas expressões vazias de significado para fugirmos à
verdadeira absolvição. Para obter o teu perdão, vou mudar.

Nunca permiti que te aceitasses a ti mesmo. Nasceste com os pés tortos e


pouca estatura e eu disse: «Deus devia ter-te feito um espécime perfeito de homem.»
Lembra-te de como gostavas da história bíblica a respeito de Jesus convidar Zaqueu
a descer da árvore para que pudessem comer juntos? Zaqueu tinha trepado à árvore
porque era baixo e queria ver Jesus. Jesus amava Zaqueu independentemente da sua
estatura, mas eu não te deixei identificares-te com este amor.

Nasceste no seio de uma família sem recursos e eu fiz-te acreditar que tinhas
sido trocado à nascença, como o príncipe e o pobre. «Não precisas de dar-te com os
Gaulden», murmurava-te. Tornei-te supersensível a cada palavra e a cada olhar de
todos os que te conheciam. «Deves dividir e conquistar amigos», dizia-te eu. Daí o
teu comportamento passivo-agressivo, que fazia as pessoas ficarem furiosas contigo.

Copiavas nos exames mesmo quando sabias as respostas, porque eu te fiz


duvidar de ti mesmo. Roubaste coisas de que não precisavas e não querias, porque eu
te incitei a fazê-lo. Gelados e doces, e finalmente demasiada bebida, foram as minhas
armas para manter-te preso à minha maldade. Espalhei medo e raiva, juntamente com
ressentimento contra aqueles que te tiraram aquilo que tu julgavas teu ou não te
davam aquilo que querias.

Com o que nunca contei foi que um dia ficasses suficientemente calado para
ouvir Deus quando Ele falou contigo.

31
Peço-te que me perdoes e gostaria que nós os dois formássemos uma aliança;
Como almas gémeas, abracemos os princípios que precisamos de abraçar para
sermos preciosos filhos de Deus.

Amo-te e honro-te,

O teu ego-eu

O meu grande desafio seguinte era pedir perdão à pessoa que via como tendo
sido a minha verdadeira inimiga: a minha mãe. Escrevi-lhe esta carta, em 1980:

Querida Mãe

Bem sabe que desde muito novo me tenho debatido com os meus sentimentos
a seu respeito. Achava que era dura e sempre quis que me amasse, e penso que nunca
me amou. Durante toda a minha infância, sempre quis, mais do que qualquer outra
coisa, que se alegrasse pelo que eu era e pelo que conseguia. Nunca senti que isso
acontecesse, até que a minha percepção de todas essas coisas mudou.

Mãe, por favor perdoe-me por ficar furioso consigo por não aparecer quando
eu estava a soletrar «pato», ou a ler um poema num concurso, ou entrava numa peça
ou aparecia no Quadro de Honra Nacional. Alguém me Fez notar que era uma mãe
sozinha a trabalhar cinco dias e meio por semana para alimentar seis filhos. Fazia o
que tinha de fazer. E eu via-a como uma mártir quando devia tê-la visto como uma
mãe extremosa.

Acusei-a de ter vergonha de mim quando na verdade era eu que não me


aceitava a mim mesmo. Culpá-la a si dos meus pés tortos e pequena estatura quase
me destruiu. Quando a rotulava de farisaicamente virtuosa, estava a descrever a
minha pior falha de carácter. Eu é que era o bêbedo, não a Mãe. Avalizou
empréstimos meus e eu nunca os paguei porque estava a querer vingar-me de si.

Agora sei que a circunstância que Deus criou para mim foi a minha
oportunidade de ser bem sucedido com a Sua constante orientação. Mas deixei-os, a
Deus e a si, na minha esteira.

32
Peço-lhe que me perdoe o mal que lhe fiz. A minha reparação será tratar a
minha vida como se pertencesse a Deus, e não a mim. Quando vir uma oportunidade
de fazer bem a alguém, fá-lo-ei. Em seu nome.

Tenho uma fotografia sua em cima da minha secretária. Quando olho para ela,
murmuro: «Amo-a, Mãe.»

Por Favor, perdoe-me,

Albert

Depois de escrever à minha mãe, Fiz uma lista de todas as outras pessoas a
quem tinha ofendido. A lista incluía amigos, membros da família, gente com quem
tive negócios e conhecidos. Alguns tinham morrido e outros não sabia como
contactá-los. Mas escrevi a todos os que pude.

Este acto de humildade — pedir a outros que me perdoassem as minhas


ofensas — foi, de tudo o que fiz, o que mais me sarou. Senti que era um elixir que
me libertava para começar a minha vida. Ajudou-me a ver claramente o próximo
passo no meu caminho.

33
CAPÍTULO 6

Do outro lado do espelho

TINHA-ME ESFORÇADO por perdoar-me a mim mesmo e tinha procurado


o perdão daqueles contra os quais prevaricara. O último passo na minha verdadeira
emancipação foi ver o valor do que me acontecera quando criança. Como a Alice, de
Alice no País das Maravilhas, depois de ter passado para o outro lado do espelho,
descobri toda uma nova realidade quando olhei de mais perto para os meus pais —
quem eles eram e de que maneiras me influenciaram. As minhas qualidades como
pessoa eram claramente uma combinação dos aspectos positivos e negativos da
minha mãe e do meu pai. Era imperativo examinar as duas pessoas que me criaram.

Comecei pelo meu pai.

Defeitos do meu pai Boas qualidades do meu pai

1. Alcoólico 1. Sentido de humor

2. Abusava Fisicamente 2. Alta energia

da minha mãe

3. Abusava 3. Inspirava-me

emocionalmente de mim

4. Financeiramente 4. Bom amigo

irresponsável

5. Passivo-agressivo 5. Ajudava os outros

6. Preguiçoso 6. Fundou a

Little Boy’s Baseball

34
7. Narcisista

8. Mentiroso

9. Batoteiro

10. Abandonou seis filhos

Depois, passei para a minha mãe.

Defeitos da minha mãe Boas qualidades da minha mãe

1. Farisaicamente virtuosa 1. Não faltava com nada

aos filhos

2. Excessivamente crítica 2. Bom exemplo mora!

3. Gostava de julgar 3. Disciplinadora

os outros

4. Demasiado analítica 4. Inteligente

5. Nunca mostrava amor 5. Bonita

6. Não me protegia 6. Independente

de abusos

Ao olhar para a lista, reparei que eram muitas as características positivas e


negativas que partilhava com os meus pais.

Do meu pai, tinha herdado:

Defeitos do meu pai Boas qualidades do meu, pai

1. Alcoólico 1. Sentido de humor

35
2. Financeiramente 2. Alta energia

irresponsável

3. Passivo-agressivo 3. Bom amigo

4. Mentiroso 4. Ajudava os outros

5. Batoteiro

E da minha mãe:

Defeitos da minha mãe Boas qualidades da minha rude

1. Farisaicamente virtuosa 1. Bom exemplo moral

2. Excessivamente crítica 2. Inteligente

3. Gostava de julgar 3. Independente

os outros

4. Demasiado analítica

A história do meu pai

O meu pai vinha de uma família irlandesa pobre da Carolina do Norte. Como
gerações de homens que o tinham precedido na linha familiar, bebia demasiado e
gastava mais do que tinha. As suas extravagâncias eram lendárias. Apesar de a minha
mãe ter dificuldade em vestir e alimentar os filhos, o meu pai chegava a casa com
brinquedos caros para a minha irmã Mary e para o meu irmão Bill — esquecendo-me
por completo a mim e ao meu irmão Hank — ou, muitas vezes um vestido ou brincos
de ouro para a mãe.

36
Todos os defeitos dele me contagiaram. Bebia. Tinha-me casado e divorciado
sem saber muito bem porquê. Muitas vezes comprava prendas caras ou ia de férias
para lugares exóticos em vez de pagar a prestação da casa.

Como o meu pai, era um mentiroso. Lembro-me de, quando tinha sete ou oito
anos, ter rabiscado o livro da minha irmã mais velha, O meu pai fez-nos alinhar, a
mim e aos meus irmãos, para sermos interrogados, e eu menti descaradamente
quando ele me perguntou quem tinha escrito no livro. Uma vez que nenhum de nós
confessava, castigou-nos a todos. Quando se preparava para me dar umas correadas,
murmurou-me ao ouvido: «Sei que não foste tu, de modo que vou bater com pouca
força.»

Foi ele que me ensinou o meu lema: «Ri, e o mundo ri contigo; chora, e
choras sozinho.» Mesmo nos piores dias, era capaz de encontrar qualquer coisa para
festejar — se estava para aí virado. Se não estava, um Sol brilhante e um céu azul
podiam tornar-se negros quando o seu lado escuro vinha ao de cima. Batia nos filhos
e na mulher.

Chegava frequentemente a casa tardíssimo — uma atitude característica do


passivo-agressivo. Ou então dizia à minha mãe que comia aquilo que ela tivesse, e
depois queixava-se porque queria outra coisa qualquer. O seu narcisismo exigia que
fosse sempre o centro das atenções quando estava em casa. Tudo girava à volta dele,
mesmo quando aparecia em casa depois de ter estado ausente durante dias com uma
amante. Explicava a ausência com uma mentira, dizendo que estivera a fazer turnos
seguidos na Tennessee Coal and Iron, onde trabalhava, e voltava a instalar-se como
se nada fosse.

Eu não o via desde 1965. Por volta da altura em que estava a tentar defini-lo
para poder libertar-me, os meus irmãos disseram-me que não estava bem. Cegara e
sofria de uma deficiência cardíaca congestiva. Precisei de alguma coragem, mas
escrevi-lhe. Na minha carta, dizia-lhe que tinha saudades dele e que estava triste por
o desprezo e o silêncio me terem impedido de conhecê-lo melhor.

37
Telefonou-me uma semana mais tarde, para me dizer que me amava. Disse
que se sentia feliz por eu ter feito qualquer coisa na vida. «Estou muito contente por
não seres um desportista como eu e os teus irmãos. Quando nasceste com os pés
tortos, uma parte de mim alegrou-se ao pensar que talvez viesses a ser professor ou
escritor — que afectasses verdadeiramente a vida das pessoas. Os desportos entretêm
por uma noite; um livro pode tocar o mundo durante anos e anos.

Quando desligámos, passei horas a reavaliar a vida dele e a minha, porque a


imagem que guardara durante todos aqueles anos era a de um mulherengo bêbedo e
egoísta. Estava a tentar arranjar espaço para o homem em que se tornara, o homem
que, segundo me disse, deixara de beber e estava casado com a mesma mulher havia
muitos anos. A crosta que protegia o meu coração contra a dor de nunca ter tido um
verdadeiro relacionamento com o meu pai começou a amolecer, e pude fazer as pazes
com ele. Deixei-o entrar, quando no passado o expulsara dos meus pensamentos e do
meu coração.

A minha irmã Margie telefonou-me às cinco horas da madrugada seguinte


para me dizer que o meu pai tinha morrido.

A história da minha mãe

Uma vez que o meu pai já saíra de casa quando eu tinha nove anos, eram as
facetas negativas da minha mãe que se me tornavam mais patentes. Queixava-se de
tudo e de nada e era capaz de julgar e criticar uma pessoa até nos cansarmos de ouvi-
la. O meu quarto nunca estava suficientemente arrumado; eu nunca lavava a loiça
como devia ser ou partia demasiados pratos enquanto os secava. A minha mãe nunca
me felicitava pelas boas notas nem pelas distinções que eu conseguia. Achava que
era desnecessário elogiar essas coisas. Eu e os meus irmãos costumávamos dizer, na
brincadeira, que tínhamos de encher a nossa mãe de café forte, senão ficava
resmungona todo o dia. Como conseguia o café alterar a atitude dela? Não fazia a

38
mínima ideia, mas o certo era que ficava toda alegre e bem disposta depois de um par
de chávenas.

A incapacidade da minha mãe de nos abraçar e dar carinhos foi uma coisa que
me espantou, até que me apercebi de que eu próprio mantinha a maior parte das
pessoas à distância. A despeito de um intenso trabalho interior, a intimidade continua
a não ser fácil para mim. Disfarço-o com um exterior amistoso e afável, mas é tão
pouca a minha confiança nos relacionamentos que começo a planear-lhes o fim ainda
antes de terem verdadeira mente começado.

Aprendi com a minha mãe a fazer-me amigo do miúdo mais popular da turma
e ser aceite por interposta pessoa. Desde o jardim-de-infância até ao liceu, sempre
soube insinuar-me nas boas graças dos professores. Era tão carente que tinha de ser o
número um para quem quer que fosse o meu mentor nesse período. A universidade
foi um duro despertar, porque deixei de conseguir encantar ou bajular os meus
professores. Era classificado de acordo com o que fazia. Por isso deixei a
universidade antes de acabar o curso.

O ponto de viragem no meu relacionamento com a minha mãe aconteceu logo


a seguir à morte do meu pai. Apesar de ter tentado aproximar-me dela depois de ter
deixado de beber, a intimidade era difícil para qualquer de nós. Mas ambos
continuámos a tentar encontrarmo-nos a meio caminho. Certo dia, quando estávamos
a almoçar, ela disse-me uma coisa que dissipou uma vida inteira de ressentimentos:

- Albert, sabias que a minha mãe morreu quando eu tinha seis anos?

Explicou-me então que o pai a deixara ao cuidado dos irmãos e irmãs mais
velhos, pois tinha de trabalhar todos os dias como mecânico. A medida que me
contava a sua infância, tornou-se-me evidente que fizera o melhor que pudera como
mãe, quando nunca tivera verdadeiramente uma.

Nesse dia ficámos no restaurante mais tempo do que era habitual, porque
ambos sabíamos que precisávamos de conhecer-nos melhor um ao outro. Rimos até
às lágrimas, e trocámos histórias a respeito da nossa mania de julgar e criticar, e
acabámos por ver que éramos espelhos um do outro.

39
Quando acabámos, eu disse-lhe:

— Mãe, foi verdadeiramente a minha melhor professora.

Ver claramente as lições

Examinar os meus pais não se limitou a revelar-me os defeitos deles,


mostrou-me também os que tinha de vencer em mim mesmo. Os dons naturais que
Deus nos deu podem vir à superfície quando enfrentamos os nossos medos e
inseguranças. Tirar a máscara e deixar de fingir pode abrir a porta a um êxito sem
limites. Identificarmo-nos com os problemas e dificuldades dos outros humaniza os
nossos relacionamentos. Querer controlar tudo e todos repele as pessoas e fá-las
fugir. Quanto mais confio em Deus e me volto para Ele, menos tento dirigir.

Deus, como pai e mãe, começou a sarar o que antigamente me dividia dentro
de mim mesmo. À medida que praticava ouvir o que Ele tinha para me dizer e ia
aonde Ele me conduzia, sentia a minha vida tornar-se cada vez melhor.

40
CAPÍTULO 7

Começar

POUCO DEPOIS DE TER clarificado o meu passado com os meus pais,


tornou-se muito evidente que estava a mudar de uma forma fundamental. Não é
exagero dizer que me senti como se tivesse renascido. Deus estava a usar uma
linguagem de sinais, símbolos e sincronicidades para me ajudar a refazer a minha
vida, e eu fazia o trabalho de campo. As impressões, intuições e palpites eram
frequentes. Senti que estava a ser conduzido para uma vida com um objectivo mais
elevado. No entanto, uma pergunta candente continuava sem resposta: que mais devo
fazer e que mais tenho de continuar a fazer para cumprir esse objectivo mais
elevado?

Uma técnica simples que usei foi escrever todas as noites esta pergunta num
pedaço de papel e adormecer com ele debaixo da almofada. Por vezes, recebia em
sonhos mensagens que resolviam uma parte do quebra-cabeças. Com o tempo,
cheguei à seguinte lista:

1. Permanecer sintonizado com Deus através da oração e da meditação

2. Procurar o perdão daqueles a quem tinha feito mal

3. Mudar de recreio e de companheiros de brincadeira

4. Reparar os meus deslizes financeiros

5. Ter e exprimir pensamentos positivos

6. Tentar ser útil aos outros

7. Mais importante: prestar atenção aos sinais de Deus

41
Depois de ter trabalhado durante algum tempo com os meus sonhos, comecei
a ver os sinais de direcção que Deus me enviava e a agir de acordo com eles. Antes
de deixar de beber, estivera num grupo local de oradores motivacionais com um
homem que passara a assistir às mesmas reuniões de reabilitação diárias a que eu ia.
Um dia, esse homem perguntou-me se eu seria capaz de aplicar alguns dos princípios
da sobriedade e falar a um grupo de vendedores durante a convenção anual da
empresa que chefiava. Soube visceralmente que aquela era mais umas das
oportunidades que Deus me oferecia, e aceitei a proposta. O tema era «Mudar para
Tornar a Vida Melhor».

Perante mais de 200 homens e mulheres, falei sem o apoio de quaisquer


notas. O que disse ao grupo foi que não mudaria nada do que me acontecera — nem
a quase bancarrota, nem a detenção por conduzir em estado de embriaguez ou a
perda do crédito bancário, e nem sequer todas as reparações que tive de fazer pelo
mal que causei a tantas pessoas. Foi bom falar com o coração nas mãos em vez de
tentar manipular a assistência. O homem que me contratou para falar disse-me mais
tarde que tinha sido refrescante ouvir alguém dirigir-se a uma multidão sem ter um
ego egocentrista a servir de juiz.

— Mudar uma coisa significaria que tudo o mais deixaria de ser como foi —
disse eu. — Sou muito mais feliz hoje do que era há um ano, ou até do que alguma
vez me lembro de ter sido. Libertei-me de viver uma vida de ambição cega. Tento
viver com honestidade e propósito, ao contrário da procura do êxito a qualquer preço
que em tempos me encurralou num beco sem saída. Hoje, quando vos encontro na
rua, não escondo a cara. Quando recebo uma carta de um banco ou de um advogado,
abro-a como abriria a carta de um amigo. Se compro alguma coisa, pago-a a tempo.
O motor que me impele é diferente do que antes me impelia.

Um senhor de trinta e poucos anos procurou-me depois da reunião e


perguntou-me se tinha tido alguma espécie de experiência religiosa. Respondi-lhe
que preferia pensar no que me acontecera em termos de ter ficado calado o tempo
suficiente para ouvir a voz de Deus e ver a mão d’Ele em acção naquilo que agora
considerava ser a nova linguagem.

42
— Como é que faz? — perguntou-me.

Fomos tomar café e eu contei-lhe o que me tinha acontecido. Prometeu dizer-


me o que lhe acontecesse a ele depois do período de estar-calado. Embora na altura
isso nem sequer me tivesse passado pela cabeça, acabava oficiosamente de
aconselhar o meu primeiro estudante.

Ensinar aos outros a nova linguagem

A minha vida conheceu outra grande mudança em 1981, quando uma mulher
de meia-idade me pediu que a aconselhasse. Ouvira-me falar em encontros de
reabilitação e disse-me que eu tinha qualquer coisa que ela queria.

— O quê, exactamente? — perguntei.

— Honestidade — respondeu.— É muito franco a respeito de ter cometido


muitos erros, a que chama pedras-de-toque. Estou pronta para um terapeuta
imperfeito.

Decidi dar um salto no escuro e trabalhar com ela. Começou por falar comigo
uma vez por semana, e pouco depois as duas filhas juntaram-se ao grupo. Seguiram-
se as amigas. De boca em boca, o meu trabalho de terapeuta estava a arrancar. Tinha
obtido credenciais através de uma associação de terapias alternativas, e a minha base
de clientes aumentou à medida que as pessoas falavam a outras do resultado do nosso
trabalho.

Por volta do meu segundo ano de abstinência, quando estava ainda a viver na
Califórnia, uma série de acontecimentos como que desencadeou uma reacção em
cadeia na minha vida. Uma das minhas novas clientes tinha uma irmã que era
produtora e apresentadora de um programa matinal em Seattle. A produtora pediu-me
que viajasse até lá para fazer uma peça sobre aconselhamento para aperfeiçoamento
pessoal. O dono de uma livraria de Phoenix, que estava em Seattle de visita, viu-me
no programa e convidou-me para fazer uma Workshop no Arizona. Numa viagem de
um dia a Sedona, uma pequena comunidade cerca de 160 quilómetros a norte de
Phoenix, um dia antes de regressar à Califórnia, tive uma sensação mística. Sentia-
me impelido a mudar-me para lá. Quando voltei a Long Beach, vi um grande pedaço

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de papel preso à minha porta. Examinando-o melhor, descobri que era uma ordem de
despejo. Tinha-me esquecido de renovar o arrendamento dentro do prazo prescrito.
Vi nisto um sinal de que Deus me queria em Sedona.

A minha vida, que fora um caos durante tanto tempo, entrou rapidamente nos
eixos. Em 1986, nasceu o Sedona lntensive, com um psicólogo licenciado,
massagistas terapêuticos, quiropráticos, um técnico de respiração transformacional e
outros especialistas, além de mim. Graças a palpites e a roteiros intuitivos
encontrados ao longo do caminho, o objectivo da minha vida começava a revelar-se.
Deus estava a pegar num homem cheio de falhas e a deixá-lo partilhar com outros a
sua viagem de cura.

Dois homens que afectaram a minha vida nesta altura destacam-se


claramente. O primeiro foi Joseph Campbell, autor de The Power of Myth, cuja obra
foi instrumental para levar-me a procurar o «mistério central da minha experiência».
Campbell escreveu que «se não sabe o que significam os sinais que encontra pelo
caminho, vai ter de decifrá-los sozinho». Falava de fechar a porta às distracções que
nos desviam da magia da auto-criação.

A segunda grande influência foi Paulo Coelho, o autor brasileiro de O


Alquimista que foi publicado em mais de quarenta línguas e vendeu mais de vinte e
três milhões de exemplares em todo o mundo. O Alquimista é uma alegoria a respeito
de um jovem pastor espanhol chamado Santiago que segue o seu sonho de um
tesouro até às pirâmides do Egipto. É-lhe dito que «quando queres uma coisa, o
universo inteiro conspira para ajudar-te a consegui-la».

O que para mim fez «clique», no livro de Coelho, foram as palavras do rei
que diz a Santiago que «há no mundo uma linguagem que todos compreendem, mas
que esqueceram; uma linguagem sem palavras (...) e sobre presságios». Mais adiante,
o jovem pastor afirma andar à procura dessa linguagem universal.

A experiência de Santiago tinha sido a minha própria demanda. Mergulhara


numa forte corrente que me levava a aconselhar os outros. Nesta viagem, os palpites,

44
as intuições e os sinais tinham sido os meus guias. Muito claramente, faziam parte de
uma linguagem divina que o tempo e as diversões me tinham feito esquecer

— uma linguagem capaz de me reconectar e de guiar-me a mim e a outros.


Queria ajudar outras pessoas a despertarem para esta linguagem universal, capaz de
conduzir-nos a todos à identidade e ao renascimento,

«Quando desejas verdadeiramente uma coisa, é porque esse desejo teve a sua
origem na alma do universo», escreve Coelho. «É a tua missão na Terra.»

Soubera esta verdade e sentira-a. Sob muitos aspectos, a minha vida fora
paralela à do pastor. Tinha percorrido o mundo atrás da minha lenda pessoa! e tivera
muitos presságios. Tinham sido sinais de Deus a levar-me até onde estava. Havia
uma corrente, um fluxo, e eu estava a ser arrastado por ela. Deus murmurava-me ao
ouvido, e eu estava a aprender a ouvir a Sua língua materna. Chamei-lhe a nova
linguagem, apesar de ser primordial, tão antiga como o tempo e a humanidade. E
comecei a ressuscitá-la para os outros.

45
II PARTE

Decifrar a nova linguagem

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CAPÍTULO 8

Definir a nova linguagem

QUANDO COMECEI A ESCUTAR e a estar atento aos sinais de Deus, tive


grandes dificuldades. Para mim, era terra incógnita, e não sabia o que era suposto
escutar ou estar atento a. Como podia eu confiar no que via ou ouvia se nunca tivera
qualquer experiência das muitas maneiras de que Deus podia estar a servir-se para
falar comigo? O discernimento era importante, porque não queria fazer confusão
entre a vontade de Deus e os meus próprios desejos. Uma coisa que fiz foi continuar
a rezar e a meditar. Pensei que se queria trilhar o caminho que Deus tinha traçado
para mim ouvi-Lo quando me falasse, o melhor seria usar as ferramentas que Ele me
tinha dado. Quando comecei a apurar a minha capacidade de reconhecer a diferença
entre a vontade de Deus e a minha própria vontade, percebi que seria útil definir os
fenómenos que estava a experimentar.

Vou, no glossário da nova linguagem que apresento a seguir, descrever em


grandes linhas o que descobri a respeito da nova linguagem, como é falada e ouvida.
Tentei ser o mais completo possível, incluindo nele todos os métodos que Deus usa
para nos guiar e orientar.

Glossário da nova linguagem

Actos da natureza

Nos tempos bíblicos, Deus falava muitas vezes através de actos da natureza.
Um arco-íris foi o sinal da Aliança, ou promessa, de Deus a Noé. Uma sarça-ardente
foi a manifestação visível do próprio Deus a Moisés. E uma rajada de vento serviu no
Génesis de sinal da força criativa. Quando o sofredor Job pediu a Deus que lhe

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explicasse a razão de todas as suas provações, Deus respondeu-lhe «do seio da
tempestade», que era, nos tempos antigos, um sinal frequente de teofanias, ou
aparições divinas. Deus continua hoje a falar-nos através de ocorrências naturais de
todos os tipos. A chuva, as trovoadas, as nuvens, o fogo e os arco-íris, todos eles
podem ser portadores de mensagens divinas.

Exemplo: Certa vez, saí de uma exposição de arte juntamente com o artista
representado e ambos vimos um arco-íris por cima da galeria. Sem hesitar, o artista
disse:

— É sinal de que vou vender todos os meus quadros.

E vendeu.

Exemplo: Um cliente meu chamado Howell tem o hábito de dar longos


passeios quando enfrenta um problema. Enquanto as soluções lhe desfilam pela
cabeça, frequentemente uma repentina rajada de vento atira-o ao chão, mesmo em
noites de relativa calma. Para ele, o vento é a confirmação de que está no caminho
certo, Os acontecimentos provaram que esta teoria está correcta.

Avisos

Um alerta ou um conselho súbitos que se manifestam sob a forma de um


sentimento visceral, uma intuição ou um obstáculo físico são avisos. Um aviso pode
também surgir como palavras murmuradas ao nosso ouvido ou uma sensação na
nossa cabeça que sentimos claramente como uma ideia que não partiu de nós.

Exemplo: O meu amigo Will era suposto seguir no avião que partia às seis
horas do aeroporto de Dallas-Fort Worth. Sentiu um fortíssimo impulso de só ir no
avião das sete e meia, e alterou os seus planos em consequência, apesar de correr o
risco de perder uma reunião. O avião das seis esmagou-se no solo logo após a
descolagem.

Exemplo: Mary estava a tentar fazer reservas num hotel para visitar Perugia,
em Itália, em Setembro de 1997. De cada vez que tentava ligar para a agência de

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viagens, o telefone ficava mudo. Ao cabo de um par de dias sem conseguir
estabelecer contacto, Mary teve uma forte sensação de que não devia fazer a viagem.
Poderia ver a Basílica de São Francisco de Assis na Primavera seguinte. No dia em
que devia ter chegado, houve um sismo que provocou sérios estragos na basílica e no
convento.

Clique

Um clique é um som que representa duas peças que devem estar juntas ou
presas uma à outra, como o fechar de um cinto de segurança, ou uma chave a rodar
na fechadura. Quando duas pessoas têm muito em comum, diz-se que fazem clique.
É como se a divina Providência juntasse as pessoas com um objectivo e elas
encontrassem um uníssono magnético.

Exemplo: Quando Sally entrou num vasto centro de convenções onde


decorria uma demonstração de tecnologia informática, sentiu-se atraída para uma
expositora em especial e entabulou conversa com ela. Dois meses mais tarde, eram
sócias num negócio.

Coincidências

Quando os acontecimentos parecem ter uma ligação sem que haja um plano
ou desígnio aparentes, falamos de coincidência. É uma das manifestações de Deus a
operar em planos invisíveis mais facilmente reconhecíveis. Cada indivíduo é um
campo de forças energético e as mensagens de altura-de-encontrar são enviadas
através das linhas de rede do nosso sistema nervoso.

Exemplo: Santiago, um estudante do Sedona Intensive, chegara recentemente


a Miami, vindo da Colômbia e precisava de um lugar onde viver. Sílvia queria alugar
um dos quartos de sua casa, depois de o marido ter morrido. Santiago e Sílvia
sentaram-se lado a lado ao balcão de um restaurante e começaram a conversar. Nesse
dia, Santiago alugou um quarto em casa de Sílvia.

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Conhecimento Interior

Quando não temos quaisquer factos que nos apoiem mas alguma coisa cá
dentro nos diz que aquilo que sabemos é verdade, estamos a confiar no nosso
conhecimento interior. Embora deva sempre usar o frio raciocínio para evitar fazer
escolhas infelizes, deve também ser sempre fiel a si mesmo e ao seu conhecimento
interior.

Exemplo: Quando eu era garoto, toda a gente dizia a Miss Towies que era
uma tolice defender o meu colega de turma Bill, mas ela manteve-se firme. Sabia que
Bill era bom rapaz e que se podia fazer qualquer coisa dele.

— Isso é lixo das rulotes. Olhe para aquelas tatuagens — dizia um dos
professores.

— Nunca há-de valer nada. — acrescentava outro.

Entre uma coisa e outra, Miss Towies continuou a ensinar Bill; castigava-o
quando era preciso e elogiava-o generosamente quando ele merecia. Dez anos mais
tarde, Bill graduou-se em primeiro lugar na sua classe de Princeton e fez qualquer
coisa da sua vida, tudo por que uma professora tinha acreditado nele.

Deus-por-interposta-pessoa

O princípio de que Deus nos fala através de outras pessoas é a base do


significado de Deus-por-interposta-pessoa. Deus usa as pessoas da nossa vida para
chamar a nossa atenção e fazer-nos chegar a sua mensagem de orientação.

Exemplo: O meu amigo Mike estava preocupado com o problema de onde


iria a filha passar o seu ano fora da universidade. Num almoço de negócios com seis
outros homens que nunca tinha visto, um deles referiu que a mulher aconselhava
estudantes naquela situação. Mike, que nem sequer sabia que tais conselheiros
existiam, ficou com o contacto da senhora e falou com a filha.

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Devaneio

Um devaneio é uma visão, geralmente de algo que desejamos, criada pela


nossa imaginação. Combinados com a meditação, os devaneios podem proporcionar-
nos uma perspectiva do que Deus deseja para a nossa vida.

Exemplo: De fato e gravata, sentado à sua secretária no escritório, Art


devaneava a respeito de trabalhar de calção de banho nas praias de Maui. Estes
devaneios levaram à meditação a respeito de viver e trabalhar no Havai. Pouco
depois, foi transferido para a filial da empresa em Kapalua.

Efeito de eco

É o uso que Deus faz da repetição de acontecimentos, ideias ou pessoas para


estabelecer um ponto. Deus está a sublinhar o que não pode ser ignorado. O efeito de
eco é a experiência de ouvir a mesma coisa ou ver a mesma pessoa ou objecto ou
mensagem várias vezes num curto espaço de tempo.

Exemplo: Uma cliente minha chamada Sasha não conseguia decidir-se entre
uma oferta de emprego em Dallas e outra em São Francisco. Todas as manhãs, nas
suas orações e meditações, pedia ajuda para escolher a melhor de duas opções
igualmente atraentes. No dia em que tinha de decidir, pegou numa revista que
publicava um artigo a respeito da vida em São Francisco. Pouco depois, ao passar
diante de uma loja, viu na montra uma televisão ligada que transmitia um jogo de
basebol em que participavam os San Francisco Giants. Interessante, pensou, e, ao
ligar o rádio, ouviu Tony Bennett a cantar «I Left My Heart in San Francisco”. Sasha
deu ouvidos aos ecos que estava a receber e aceitou o emprego em São Francisco.

Epifania

Uma epifania é uma manifestação ou percepção repentinas da natureza


essencial ou do significado de qualquer coisa. É uma compreensão intuitiva da
realidade através de qualquer coisa habitualmente simples mas impressionante.

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Exemplo: Warren escreveu-me a dizer que tinha problemas tão graves no
negócio que resolvera deixar a família e as dificuldades financeiras para trás das
costas. Enquanto fazia as malas para se ir embora, estava a ver uma mulher na
televisão. «Pode não acreditar em si, mas Deus acredita», disse ela. Impressionado
por estas palavras de encorajamento Warren telefonou ao pastor da sua igreja a pedir
ajuda. Ficou com a família e pouco depois os negócios deram uma volta para melhor.

Intuição

A intuição é o poder ou a faculdade de chegar directamente ao conhecimento


ou à cognição sem a ajuda do pensamento racional ou da informação factual. Pode
também ser referida como percepção rápida.

Exemplo: Duas amigas, Giselle e Harriet, encontram-se para o seu habitual


almoço das terças-feiras.

- Não imaginas o que me aconteceu! — diz Giselle.

— Foste promovida — responde Harriett.

— Quem te disse? — espanta-se Giselle.

— Ninguém. Intuição feminina, acho.

Murmúrios de anjos

Um anjo é um ser espiritual superior ao homem que serve de mensageiro de


Deus. Um murmúrio é uma frase suavemente sussurrada. Um murmúrio de anjo é a
maneira que Deus tem de entrar em contacto connosco através de uma voz muito
suave que nos fala ao ouvido quando precisamos de ajuda ou conselho urgente ou
especial.

Exemplo: Jonathan, que é também um cliente meu, dirigia-se no seu carro a


uma reunião fora da cidade quando ouviu distintamente uma voz murmurar: «Vai
para casa. » A voz repetiu a ordem três vezes no espaço de poucos minutos. Jonathan

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voltou para trás e, quando chegou a casa, descobriu que a mulher estava doente e
precisava de ser levada para o hospital.

Palpite

Um palpite é uma forte sensação instintiva respeitante a um acontecimento ou


a um resultado futuros.

Exemplo: Ethel teve o palpite de que o seu vizinho Hans se preparava para
vender os dois hectares de terreno que separavam as casas de ambos. Fez-lhe sinal do
seu pátio e perguntou-lhe se queria vender.

— Ë curioso perguntar-me isso hoje — respondeu ele — porque o meu


advogado acaba de telefonar-me a dizer que chegou a altura de vender.

Premonição

A previsão de um acontecimento sem raciocínio ciente é uma premonição. É


uma notícia ou aviso.

Exemplo: Ao terminar a minha sessão de aconselhamento com uma cliente,


tive a premonição de que ela era suicida. As palavras saíram-me da boca antes que
tivesse tempo de pensar:

— Alexis, tem uma arma na sua bolsa?

Alexis tinha uma arma na bolsa. Sentou-se e contou-me como estava


desesperada por causa do fracasso do seu casamento e disse que tencionava pôr
termo à vida. Enquanto falávamos, consegui convencê-la a entregar-me a arma.

Prenúncio

Quando um acontecimento anuncia outro e nos prepara para uma ocorrência


culminante, estamos perante um prenúncio.

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Exemplo: Muriel, uma cliente de há muitos anos que vive em Chicago, estava
convencida de ter visto a irmã, Margaret, três vezes no mesmo dia. Pouco tempo
depois, Margaret, que morava que Des Moines, fez uma visita inesperada à irmã,
levando-lhe notícias que iriam afectar o seu futuro financeiro.

Presságio

Um presságio é uma ocorrência ou um fenómeno que se julga augurar um


acontecimento futuro.

Exemplo: Ken andava a pensar montar o seu próprio negócio, mas o receio
impedia-o de avançar. No entanto, sempre que se punha a ponderar os prós e os
contras de uma tal aventura, uma ave azul ia pousar num ramo do velho carvalho que
havia no quintal, Ken não deu importância ao aparecimento das aves, considerando-o
simples coincidência sem qualquer significado, até ao dia em que estava sentado no
escritório do seu advogado a discutir o assunto. Nesse instante, ouviu um som
estranho na janela — era uma ave azul. Ken foi em frente, criou a sua própria
empresa e teve muito êxito.

Exemplo: Trent ia ser entrevistado para o cargo de director de uma grande


companhia de telecomunicações. Quando parou o carro junto ao passeio em frente do
edifício onde a empresa tinha a sua sede, um grande melro mergulhou na direcção
dele, como que para atacá-lo, O presidente da empresa, todo vestido de preto,
recebeu-o de cenho franzido, fazendo lembrar a Trent a ave que tentara atacá-lo.
Trent decidiu não aceitar o lugar. Três semanas mais tarde, a empresa declarou
falência.

Prodígios

É Deus a usar o espantoso e o espectacular para chamar a nossa atenção para


a Sua omnipotência. Afirmam a majestade da criatividade e o poder infinito de Deus.
São a parte da linguagem que não pode ser estritamente definida por estar aberta a
uma tão grande variedade de manifestações.

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Exemplo: Estava tenso por pensar que os planos que tinha feito para a reunião
do Sedona Intensive eram impossíveis. Como poderia eu conseguir que 200
graduados do programa voltassem a Sedona no mesmo dia para um encontro? Não
havia hipótese, pensei. Então, a minha atenção foi atraída pelo cenário da região de
Red Rock: esporões rochosos vermelho-ferrugem e escarpadas montanhas velhas de
milhares de anos. Ri-me. «Eu não posso fazer nada”, pensei, «mas Deus pode. Acho
que hei-de aprender a deixá-Lo agir.» A reunião aconteceu e foi um êxito enorme.

Exemplo: O director da Summer Playhouse no Hollywood Bowi acordou um


sábado de manhã com o meteorologista a prever 80% de probabilidades de chuva.
Receou que a última representação da sua peça, completamente esgotada, estivesse
comprometida. Nessa noite, relampejou e choveu à volta do Hollywood Bowi, mas
as chuvadas não atingiram as pessoas que assistiam ao espectáculo.

Reacção visceral

Uma reacção visceral é uma resposta intuitiva a uma pessoa ou a uma


situação e envolve o desencadear de emoções básicas. É uma resposta imediata,
impensada.

Exemplo: Laurette, irmã de uma cliente minha, estava à espera do elevador


no edifício de escritórios onde trabalhava. Quando a porta se abriu, qualquer coisa
lhe disse que não entrasse.

— Esqueci-me de uma coisa no gabinete — disse, e afastou -se.

Mais tarde, soube que uma mulher tinha sido violada num dos elevadores. A
sua reacção visceral tinha-a possivelmente salvo de um ataque.

Exemplo: Mal entrou no seu quarto de hotel em Atlanta, o marido de uma


amiga minha sentiu o inexplicável impulso de voltar ao corredor para ver onde ficava
a saída de emergência. Nessa noite, foi acordado pelo alarme de incêndio. A cozinha
pegara fogo, mas ele conseguiu encontrar rapidamente o caminho para a segurança.

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Sensação

Quando um mentor do espírito parece estar a dar-nos novas ideias ou a alterar


a nossa maneira de pensar mas não há qualquer som audível, Deus pode estar a falar
connosco através de uma sensação. Estes pensamentos são diferentes daqueles que
reconhecemos como fazendo parte da nossa linha habitual de consciência. Uma
sensação pode levar-nos a dizer: «De onde terá vindo esta ideia?» As sensações são
as ideias que estão na nossa cabeça mas que não são nossas.

Exemplo. O meu cliente Stephen estava tão irritado com o irmão que só lhe
apetecia pegar no telefone e descompô-lo. Mas decidiu descansar um pouco na rede
estendida entre duas árvores no quintal das traseiras antes de fazer o telefonema.
Naquela zona difusa entre a vigília e o sono, Stephen teve pensamentos muito fortes
que começaram a afastá-lo da confrontação. Teve uma imagem mental de como o
irmão estava a passar por tempos difíceis com os problemas do filho na escola e a
perda de clientes devido à crise económica. Quando se levantou da rede, a bocejar,
pareceu-lhe ouvir estas palavras dentro da cabeça: «Ama o Bill, não lhe ralhes.»

Exemplo: A minha amiga Cindy tinha preenchido, em Abril, um formulário


para comprar um seguro de saúde alargado para o marido, Bill. A 29 de Outubro
desse mesmo ano, um pensamento insistente incitou-a a enviar finalmente o
formulário com o cheque para o pagamento do primeiro prémio. E assim fez.

A 4 de Novembro, Bill sofreu um grave ataque cardíaco. Foram salvos da


ruína financeira porque Cindy obedecera a uma sensação que não a largava.

Serendipismo

O serendipismo é a faculdade de fazer descobertas felizes por puro acaso.


Cunhada pelo autor britânico Horace Waipole numa carta que escreveu em 1754, a
palavra deriva de um conto fantástico persa, Os Três Príncipes de Serendip. “Quando
Suas Altezas viajavam, estavam sempre a encontrar, por acidente e discernimento,
coisas que não procuravam.»

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Exemplo: O meu cliente Vance viajava muito pela Ásia Oriental, não só por
prazer mas também em busca de tesouros para o seu negócio de importação-
exportação. Não tinha qualquer método na sua busca, preferindo passear ao acaso por
pequenas ruas secundárias. Jura que encontra as melhores peças acidentalmente.

Exemplo: Li, no Phoenix Republica, a história de uma mulher chamada Aleda


que estava muito triste por que o seu gato acabava de morrer de velho. Abatida pelo
desgosto, entrara numa igreja em busca de consolação. Quando se levantou para sair,
ouviu o miado de um gato. Seguindo o som, encontrou uma gata persa com três
gatinhos escondidos atrás de um vão de escada. O padre disse-lhe que podia ficar
com a gata e as crias.

Sinais

Deus faz-nos chegar as suas mensagens através de cartazes, postais, cartões-


de-visita, cabeça dos jornais e palavras escritas no céu. A nossa atenção pode ser
captada pelo aparecimento inesperado mas oportuno de um animal, um objecto ou
um acontecimento. A experiência de receber um sinal é por vezes dramática, e pode
transmitir um conselho ou um encorajamento.

Exemplo: A vida da minha cliente Marilyn estava um autêntico desastre. Não


preenchera as declarações de impostos, tinha saldo negativo no banco e a casa na
mais completa desordem. Certa manhã, a campainha da porta tocou. Era um
distribuidor que tinha na mão um pacote rotulado com «Detergente multiúsos». O
endereço era o da casa ao lado, mas Marilyn não se deixou enganar: a mensagem era
para ela.

Exemplo: O chefe de Terri disse-lhe que a empresa estava a reduzir pessoal e


que era provável que viesse a ser despedida. No mesmo dia, o corretor telefonou-lhe
com más notícias a respeito dos investimentos que tinha feito. Sentindo-se em baixo,
pegou no New York Times e dirigiu-se à sua pastelaria preferida para beber um café
com leite. Ao folhear o jornal, um cabeçalho chamou-lhe a atenção: NEM TUDO
ESTA PERDIDO. Terri sentiu uma ponta de esperança.

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Sincronicidade

Usa-se o conceito de sincronicidade, discutido pelo psicólogo suíço Carl


Jung, para descrever uma coincidência significativa. Uma sincronicidade é uma
coincidência que envolve sempre um elemento crucial de tempo. Uma interacção
entre duas pessoas ou acontecimentos paralelos sem combinação ou planeamento é a
sincronicidade em acção. As experiências sincrónicas tendem a ser profundamente
pessoais — quando uma pessoa vê no seu próprio espírito uma ligação entre os seus
pensamentos e acontecimentos objectivos no mundo exterior.

Exemplo: Esta história foi-me contada por dois velhos amigos meus. Duas
amigas, Kate e Samantha, dão de caras uma com a outra em plena Via Veneto, em
Roma, onde estavam ambas de férias. Decidem continuar o passeio juntas e pouco
depois descobrem inesperadamente um orfanato próximo da Cidade do Vaticano. De
regresso aos Estados Unidos, as duas amigas mantêm-se em contacto com as crianças
do orfanato e com as pessoas que cuidam delas. Cinco anos mais tarde, Kate e
Samantha contribuem para um fundo destinado a ajudar mães solteiras italianas a
estudar, arranjar emprego e criarem os filhos em vez de os entregarem para adopção.

Soar a verdade

Um facto soa a verdade quando ouvimos alguém falar de um assunto do qual


não tínhamos qualquer conhecimento prévio mas uma certa ressonância e uma
ligação coração-cabeça nos diz que o que estamos a ouvir é verdade. A base desta
determinação é a inteligência inata e divina.

Exemplo: Quando Marcus ouviu a sua amiga Maria falar dos benefícios de
passar um fim-de-semana de cura nos Berkshire, soube que a dor dela tinha passado.
O que Maria dizia soava a verdade.

Sonhos

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Um sonho é uma série de pensamentos, imagens ou emoções que ocorre
durante o sono — uma criação visionária da imaginação. Deus fala-nos com
frequência nos nossos sonhos. Como forma de premonição, um sonho pode prever o
futuro ou proporcionar-nos uma caixa de ressonância pictorial de problemas que
vamos encontrar em breve.

Exemplo: Alexander, um amigo meu, não conseguia decidir aonde ir passar


férias. Estava a pensar em várias possibilidades quando adormeceu. Teve um sonho
muito vivido a respeito de águas azuis e casas ofuscantemente brancas no alto de
uma montanha. No dia seguinte, folheava o jornal quando viu Míkonos — a jóia das
ilhas gregas — numa fotografia que era exacta mente igual à imagem que vira em
sonhos. Marcou a viagem e teve umas férias maravilhosas.

Telepatia

A telepatia é a comunicação mente-a-mente através de meios extra-sensoriais.


É como se linhas telefónicas invisíveis transportassem mensagens entre duas ou mais
pessoas. Embora o fenómeno espante a maior parte de nós, a sua exactidão tem sido
cientificamente documentada. Quando uma pessoa tem uma experiência de telepatia,
diz-se que tem PES, percepção extra-sensorial.

Exemplo: Estava a escrever uma carta a um amigo e acabava de escrever,


«Caro David», quando o telefone tocou. Era David, a dizer-me que o meu nome lhe
tinha surgido repentinamente na cabeça.

Exemplo: Um amigo contou-me esta história a respeito do cunhado. Dexter


foi a um supermercado fazer compras, armado com uma lista feita pela mulher,
Charlotte. Ao passar pela secção de detergentes, ocorreu-lhe comprar lixívia. Quando
arrumava as compras do marido, Charlotte exclamou:

— Dexter, não posso crer que compraste lixívia. Mal saíste, lembrei-me de
que me tinha esquecido de a pôr na lista. Deves ter PES.

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Visão

Uma visão é uma experiência mística de ver como que através dos olhos de
um ser sobrenatural. A visão propriamente dita é regra geral uma aparição miraculosa
que transmite uma revelação.

Exemplo: Nina e o seu amigo Scott estavam de pé junto à janela do


apartamento dela no último andar de um prédio em Nova Iorque. Era cerca de um
quarto para as nove de uma manhã de Setembro. Quando olharam na direcção da
Baixa, para o World Trade Center, viram um avião embater numa das torres.
Momentos depois, viram um vórtice ofuscante e logo a seguir uma escada em espiral
dourada que envolvia o edifício e por onde subiam espíritos.

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CAPÍTULO 9

Aprender a falar a nova linguagem

AGORA QUE JÁ DEFINIMOS a nova linguagem, a sua textura e


componentes, quero mostrar-lhe como reconhecê-la e usá-la na vida de todos os dias.
Para o fazer, tem de desenvolver a arte da apreciação que lhe permite saber o que
ouve quando escuta e o que vê quando olha. Se não desenvolver esta capacidade,
poderá acabar como o homem na clássica história da inundação.

Sentado no telhado da casa, com as águas a subirem à sua volta, o homem


rezava: «Por favor, Deus, ajuda-me.» Pouco depois, apareceu um barco para o salvar,
mas o homem recusou entrar nele. Passado mais algum tempo, um helicóptero fez
descer uma escada de corda, mas o homem não quis subi-la. Quando morreu afogado
e foi para o céu, dirigiu-se a São Pedro e protestou: «Pedi ajuda a Deus e Ele não fez
nada!» «Deus enviou-te um barco e um helicóptero», respondeu-lhe São Pedro.
«Porque os recusaste?»

Temos de saber quando Deus aparece. Mas que forma assumirá a Sua ajuda?
Um barco? Um helicóptero? Consideremos alguns sítios onde podemos ver a nova
linguagem a funcionar.

Nos tempos primitivos, quando não havia meios de comunicação de massas


nem tecnologia, Deus agia sobretudo através de actos da natureza, visitações de
anjos, sonhos e vozes. O mundo antigo era um lugar mais sossegado, com menos
distracções. E talvez Deus tivesse mais facilidade em fazer-nos chegar a sua
mensagem. Hoje, no nosso ambiente multimédia, é natural que nos encontre onde
está a nossa atenção.

Jornais e revistas

Os jornais estão cheios de mensagens vindas directamente da boca de Deus.


Quando abro um jornal, passo os olhos pelas notícias e as mensagens saltam-me à

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vista. Há pessoas que lêem com muito cuidado todas as secções, e aparentemente
encontram aquilo de que necessitam. Mas quer leiamos depressa ou devagar um
jornal ou uma revista, as instruções de Deus estão espalhadas por todas as páginas.

Recentemente, li na USA Today uma história a respeito de uma falha de


electricidade na Califórnia. Havia uma foto de um grupo de manifestantes
empunhando cartazes onde se lia: DEVOLVAM O PODER AO POVO. O trocadilho
político era evidente, e até bem achado: tratava-se de um jogo de palavras entre
«poder» e «energia» neste caso eléctrica. Mas se os «apagões» constituem um sério
problema na Califórnia, naquela manhã Deus estava a solucionar-me uma dificuldade
de âmbito profissional relacionado com o conflito em que andava envolvido com um
membro menos cooperante do pessoal. «Será que devo delegar mais do que tenho
feito?», perguntei a mim mesmo depois de ver a fotografia. A notícia fez-me parar
para pensar — e deu-me uma pista para a solução. Descubro com muita frequência
que um artigo ou um anúncio podem abordar a questão que me preocupa no
momento em que estou a ler o jornal. Mantenho o espírito aberto porque sei que este
é um dos meios que Deus usa para falar connosco.

Como é que sei que aquelas mensagens são para mim? E como é que sei se as
sugestões resultam, se forem para mim? O processo começa com aquilo que me atrai
a atenção. Tem a ver com desenvolver um sentimento de saber, que evolui à custa de
um processo de tentativa e erro. Demora tempo a cultivar os julgamentos de Deus,
mas quanto mais escuto e aprendo a distinguir, mais os meus instintos se revelam
correctos. E acredito que a verdade tem uma vibração especial que qualquer de nós
pode aprender a sentir. A verdade, no nosso mundo ultra-racional, tornou-se uma
mera acumulação de factos e informação. Somos inundados por notícias vinte e
quatro horas por dia. Mas no fim, o que é que sabemos? Deus é capaz de cortar a
direito através desse monte de informação com uma simples e profunda
demonstração de sabedoria. Quanto mais colaboramos com Ele, melhor aprendemos
a funcionar em equipa. É mais ou menos como os jogadores de pares, no ténis, que
sabem instintivamente onde é que o outro vai colocar-se. A minha capacidade de
receber mensagens correctas que me ajudam em todas as áreas da vida tem

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melhorado com a prática. E, no mínimo, ganho uma sensação de paz e de calma
porque acredito que Deus está sempre presente e que a vida é sagrada.

Cinema, televisão e teatro

Chegam-nos mensagens poderosas também até dos filmes, da televisão e das


peças de teatro. Para descodificar essas mensagens, tudo o que tem de fazer é tomar
nota do que lhe prende a atenção. Deus fala ao nosso coração. Persiga os seus
sentimentos como um caçador de prémios perseguiria a sua presa. Os símbolos
podem ajudá-lo a decifrar significados importantes.

Um dia, estava a ver o filme The Matrix, que parecia ser uma fita cheia de
truques de alta tecnologia a respeito de um programa de computador que
enlouquecera. Com certeza não havia ali mensagens para mim. No entanto, a
personagem principal estava envolvida numa missão que consistia em descobrir o
verdadeiro objectivo da sua vida, e dei por mim a deixar-me envolver nesta demanda,
até porque acabava de falar com um amigo a respeito do objectivo da minha vida.
Através da exibição do filme, senti que Deus me pedia que visse se estava a cumprir
o objectivo para o qual Ele me tinha criado. Haveria mais alguma coisa que eu
pudesse fazer? Senti que Deus estava claramente a conversar comigo, e queria com
muita força manter-me sintonizado com as Suas orientações.

Numa outra ocasião, estava a rir com Niles e Frasier Crane da série de
televisão Frasier, quando uma das peripécias do enredo me prendeu a atenção. O Dr.
Frasier Craner pensava que estava a cantar meia dúzia de compassos de uma ópera
para um amigo, ao telefone, quando na realidade tinha sido enganado e estava a
cantar ao vivo no seu próprio programa de rádio. Quando Frasier se queixa da
armadilha, os amigos dizem-lhe que leve aquilo para a brincadeira. Como a
personagem de Frasier, eu estava a levar-me a mim mesmo demasiado a sério, e
aquela mensagem foi muito eloquente para mim. Com o riso, senti como se me
tivessem tirado um peso dos ombros.

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Anúncios

Allison estava preocupadíssima com um dilema de investimento quando abriu


o jornal e viu o anúncio de um sistema gota-a-gota que regava as plantas com um
temporizador. Dizia: «Você Não Faz Nada». Alice não tinha plantas em casa, mas
sentiu que Deus estava a dizer-lhe que não mexesse na sua carteira de títulos.

Tenho recebido ajudas igualmente fortes através de anúncios. Certa vez,


andava preocupado com o pagamento de um empréstimo considerável quando ouvi
uma mulher dizer na televisão: «Se quer que o seu jardim cresça, o melhor é começar
a plantar já hoje as sementes de Mrs. Adams.» O anúncio sugeria um plano de
prestações que liquidaria o empréstimo de uma forma ordenada. Segui o conselho e
deixei de me preocupar.

Rádio

Muitos clientes meus falam de terem ouvido mensagens de Deus através da


rádio. Sue disse-me que estava sem saber o que fazer a respeito da infidelidade do
marido quando a cantora country Tammy Wynette lhe dissera «Fica ao Lado do Teu
Homem.» Sentira que valia a pena tentar e tinha acabado por refazer o seu
casamento. Muitas vezes, quando me assaltam as dúvidas a respeito do Sedona
Intensive, a rádio toca o «May Way», de Frank Sinatra, e dá-me coragem para dirigir
o projecto da maneira que me parece mais adequada.

Escrever

Quando comecei a escutar e a estar atento à nova linguagem, descobri que era
útil manter uma espécie de diário. Pode fazer o mesmo. Talvez escreva nele todas as
noites, ou todas as manhãs, ou ao longo do dia. Para ajudar a mostrar-lhe como e
onde vai ouvir Deus através das pessoas, vou abrir-lhe o meu diário.

Primeiro dia, diário da nova linguagem

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27 de Julho de 2001

7.00 — Parti cheio de pressa para Bell Rock, para o meu passeio matinal,
quando vi um letreiro que dizia: SILÊNCIO, POR FAVOR. GRUPO DE
MEDITAÇÃO MAIS ADIANTE. Vi nisto uma exortação a sentar-me e meditar, e
assim fiz.

8.00 — Tomei o pequeno-almoço e li o jornal. O primeiro cabeçalho que vi


dizia: ABRANDAMENTO DE ENERGIA. Decidi comer mais devagar e poupar a
minha energia durante o dia de hoje. Tenho andado a sentir-me excessivamente
cansado.

9.00 — Perguntava a mim mesmo se devia ou não mandar lavar o carro.


Vindo não sei de onde, o pensamento «Vai chover» passou-me pela cabeça. Comecei
a trabalhar. Uma hora mais tarde, chovia a cântaros. Sorri por causa do aviso que
tinha tido.

10.00 — A minha impressora encravou. Precisava de imprimir e enviar várias


cartas à minha secretária. No espaço de três horas, telefonemas de clientes tinham
tornado obsoletas duas das cartas. Soube que a impressora não tinha funcionado
porque as cartas não deviam ter sido enviadas.

15.00 — Por nenhuma razão especial, pus-me a conversar com uma amiga a
respeito de mitologia e de Joseph Campbell, e ela disse-me que tinha visto num
catálogo qualquer coisa sobre o livro dele ser reeditado. Fiz uma pausa para ouvir as
notícias e o rádio estava sintonizado para a PBS. Bill Moyers falava com Joseph
Campbell a propósito de The Power of Myth. Bingo! Há dias que eu andava à
procura de um tema para uma próxima conferência. Sentei-me e escrevi um texto
sobre a linguagem como mito.

19.00 — Eu e Sagan fomos jantar ao Dahl & DiLuca’s Ristorante Italiano.


Uma jovem chamada Carrie chegou-se à nossa mesa e apresentou-se como filha de
um bom amigo meu. Disse que estava a passar férias em Sedona e que gostaria de
arranjar emprego como ama de crianças. Dois minutos antes de Carrie se nos dirigir,

65
Sagan tinha-me dito que precisava de alguém que lhe tomasse conta do filho durante
o mês de Agosto. Conversaram as duas e Sagan contratou-a.

Em relação a este primeiro dia, indiquei a nova linguagem que encontrei e a


mensagem que ela continha para mim. Para o segundo dia, vou deixá-lo adivinhar o
que os acontecimentos tinham para me dizer.

Segundo dia, diário da nova linguagem

28 de Julho de 2001

7.30 — Acordei, fui ver o e-mail e tinha uma mensagem: «Tem peso a mais?»
Saí para ir tomar o pequeno-almoço e o gerente do restaurante perguntou-me o nome
das termas para onde vou todos os anos.

— Pritikin Longevity Center — respondi.

— Esteve lá recentemente?

— Não, Porque pergunta?

— Costumava sempre ir em Agosto ou em Setembro.

O meu sócio, Scott, apareceu para tomar o pequeno-almoço. Entregou-me o


correio. Recebi uma carta do Pritikin a oferecer-me 20% de desconto se marcasse
uma semana em Agosto.

- Reserva-me duas semanas a partir de 15 de Agosto — pedi a Scott

9.00 — Tentei escrever, mas dei por mim a olhar para uma página em branco.
Passados vinte minutos, fui para o jardim estender-me à sombra das árvores e
meditar. Numa questão de minutos, tive uma ideia para usar a Internet para pesquisar
o meu tema, Os mesmos três livros estavam listados na bibliografia de todos os três
sites. Olhei para o lado esquerdo, onde tinha aqueles três livros em cima da
secretária. Fechei os olhos por uns segundos. Depois abri cada um dos livros em
determinadas páginas. As páginas que abri em cada livro relacionavam-se

66
directamente com o que eu estava a escrever. Durante as três horas seguintes,
trabalhei sem interrupções.

13.00 — Um amigo telefonou-me a perguntar se eu que ria ir a Flagstaff


ouvir um concerto ao ar livre. Fazia-me bem uma pausa, disse para mim mesmo.
Tinha passado a manhã a escrever. Antes de responder, olhei para o que acabava de
escrever. «Não, não quero.» As palavras soaram-me a verdade e declinei o convite.
Nessa noite, o meu amigo telefonou-me e contou-me que tinha embatido num alce,
na 1-17, e passara um par de horas nas urgências do hospital.

16.00 Fui ver a minha caixa de correio privada e tinha duas cartas. Uma era
uma proposta de uma empresa de cartões de crédito e a outra uma nota de um cliente
com um cheque de dois mil dólares. Dizia que me devia aquele dinheiro há mais de
dez anos pelo trabalho que eu fizera quando ele precisava de ajuda mas não podia
pagar.

19.00 — Decidi abrir uma lata de sopa e deitar-me cedo. Liguei a televisão e
apanhei o início do clássico do cinema Do Céu Caiu uma Estrela.

A história de Arthur

Ao longo dos anos, tenho visto e ouvido milhares de exemplos de como a


nova linguagem funciona na vida dos meus clientes. Arthur Roberts, que vivia em
Los Angeles, recebeu uma série notável de cartões de Deus que lhe permitiram ter
êxito no seu negócio de compra e venda de propriedades.

Arthur estivera doente durante vários meses. No primeiro dia em que pôde ir
a casa, encontrou um amigo chamado Fred que não via há anos. No decorrer da
conversa, Fred sugeriu a Arthur que frequentasse um curso de compra e venda de
propriedades. E se Arthur quisesse trabalhar para ele, Fred pagava-lhe o curso e
obtinha-lhe a necessária licença. Arthur aceitou a proposta porque, antes de encontrar
Fred naquele dia, o cartão-de-visita do amigo tinha caído de dentro de um livro que
estava a ler.

67
No dia em que recebeu a sua licença de mediador, um amigo passou por casa
de Arthur e pediu-lhe que fosse dar uma vista de olhos a uma propriedade que ficava
a cerca de cento e sessenta quilómetros da cidade e que ia entrar no mercado. Apesar
de parecer que a propriedade ficava demasiado longe para que pudesse mostrá-la a
quaisquer eventuais interessados, Arthur decidiu ir vê-la. No instante em que parou o
carro, a dona da propriedade, uma mulher chamada Elise Brown, perguntou-lhe se
era mediador. Sim, desde há três horas, respondeu ele.

— Tenho o pressentimento de que vai vender esta propriedade — disse Mrs.


Brown.

Tratava-se de uma magnífica mansão com quinze hectares de terreno que só


poderia interessar a um tipo de cliente muito especial. Ficava a uma hora de carro do
aeroporto mais próximo e a três milhas da estrada principal, por um caminho de
terra. Arthur ouviu as palavras de Mrs. Brown ecoarem-lhe na cabeça: «Vai vender
esta propriedade».

Nessa noite Arthur decidiu experimentar um novo restaurante. Soubera dele


por uma revista, e dois amigos tinham-lhe dito que era de não perder. Sentou-se ao
lado de um casal que falava a respeito de procurar uma casa. O marido insistia no
tamanho e na necessidade de ficar afastada. Ela queria que a estrada de acesso não
fosse pavimentada, para desencorajar o tráfego. Arthur não conseguiu resistir.

Quando se apresentou, descobriu que o senhor também se chamava Arthur,


Arthur Clayton. A esposa de Mr. Clayton, Sasha, crescera perto da propriedade que
Arthur Roberts vira naquele mesmo dia. Quando começou a descrever a casa, Sasha
deixou escapar uma exclamação de espanto.

— Essa casa era uma escola particular dos jesuítas que frequentei quando era
rapariga. Costumava dizer às minhas amigas que adoraria lá viver se alguma vez
fosse posta à venda.

Os dois Arthurs trocaram cartões-de-visita.

— Veja — disse Mr. Clayton os últimos quatro algarismos dos nossos


números de telefone são iguais. E esse seu sotaque, de onde é?

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— Da Geórgia — respondeu Arthur.

— Eu nasci na Geórgia — disse Mr. Clayton.

Bem cedo no dia seguinte, foram os três ver a propriedade, que os Clayton
compraram imediatamente.

A nova linguagem falou a Arthur de cinco maneiras diferentes num espaço de


tempo relativamente curto:

1. O cartão-de-visita caído do livro — um sinal

2. O comentário de Mrs. Brown — Deus-por-interposta-pessoa

3. A escolha do restaurante — efeito de eco

4. Encontrar os Clayton — sincronicidade

5. O facto de Sasha Clayton ter conhecido a casa quando era uma escola —
coincidência

Como exercício para ajudá-lo a saber quando Deus está a falar consigo, faça o
seu próprio diário da nova linguagem durante alguns dias. Então, sublinhe as várias
maneiras como Deus está a ajudá-lo a tomar decisões, seja mais cauteloso e escute
quando outras pessoas estiverem a falar consigo.

69
CAPÍTULO 10

A linguagem da coincidência

COINCIDÊNCIA: uma sequência de acontecimentos ou experiências que


parecem, ao mesmo tempo, acidentais e planeados, pré-arranjados ou estreitamente
relacionados.

«Numa ou noutra ocasião, já nos aconteceu a todos. O tal número que está
constantemente a aparecer aonde quer que vamos. Quartos de hotel, terminais em
aeroportos, moradas — é impossível ignorar a sua insistente presença. Ou estamos
no nosso carro, a cantarolar distraidamente uma canção. Ligamos o rádio. Um súbito
arrepio desce-nos pela espinha. A mesma canção brota agora das colunas», escreve
Peter A. Jordan no seu livro The Mistery of Chance. E então pergunta:
«Coincidência? Ou não?»

A resposta é sim. Concordo com Jordan quando ele afirma que as


coincidências estão «embebidas numa força superior, transcendental, uma “cola”
cósmica que junta acontecimentos aleatórios num padrão significativo e coerente».

Talvez a ciência moderna prefira chamar a estas ocorrências uma expressão


do acaso — superstições que emergem da nossa imaginação. Mas muitos daqueles
que, como nós, usam o discernimento para distinguir a acção divina do simples tomar
os próprios desejos por realidades chamam-lhes mensagens de Deus.

O que para mim é mais intrigante na citação de Jordan é o facto de eu próprio


ter escrito algo muito parecido antes de encontrar o livro dele, mas gostei mais da
maneira como expõe a ideia. Coincidentalmente, estávamos ambos no mesmo
comprimento de onda. O comprimento de onda da coincidência é uma frequência
importante na nova linguagem, uma das maneiras de Deus falar connosco.

Em O Homem e os Seus Símbolos, Carl Jung escreve que as coincidências


«são arquétipos que se tornam portas que dão acessos a experiências significativas».

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As coincidências, segundo Jung, concordam com a noção de que vivemos
num mundo unido e interdependente e cujos acontecimentos emanam de uma única
fonte.

O livro The Roots af Coincidence, do historiador Arthur Koestler, relaciona a


coincidência com «o esquema universal das coisas».

Ocorrem coincidências nos aspectos mais rotineiros das nossas vidas


quotidianas. Veja-se o caso da minha cliente Debbie. Debbie conduzia pela auto-
estrada, no Sul da Califórnia, enquanto conversava com a sua melhor amiga, Meg.

— Como é que faço o Edward compreender o que quero dizer-lhe? —


perguntava Debbie a Meg.

Nesse preciso instante, um carro cuja chapa de matrícula incluía a palavra


«BDEBBIE», ultrapassou-as e colocou-se à frente da carrinha delas.

— Olha — disse Meg.— Que inscrição curiosa.

Mais tarde, Debbie conversou com o namorado e as coisas resultaram bem


entre eles porque ela falou do coração — foi ela mesma .(1) Ë possível que nunca
tivesse descoberto o que devia dizer a Edward se Deus não tivesse intervindo para
ajudá-la.

Centenas de clientes contam-me as mesmas histórias: enquanto passam os


olhos pelos últimos títulos numa livraria, um livro de que não andavam à procura cai
literalmente da prateleira. Compram-no, e acaba por transformar-lhes a vida. Ou
foram atraídos para uma loja quando andavam a fazer compras e encontraram
alguém importante, ou ouviram qualquer coisa que os esclareceu, descobriram
qualquer coisa de que andavam à procura. Gosto de pensar que isto é Deus a
contactar-nos com uma certa noção de drama para captar a nossa atenção.

Uma pessoa não pode passar a vida à espera de que as coincidências lhe
digam o que fazer, mas quando elas acontecem são inegáveis recados de Deus.

(1) BDEBBII - lê-se «Be Debbie» que significa «Sê Debbie».

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Sublinham, põem em itálico, destacam mensagens fortes que de outro modo
poderíamos ignorar. As coincidências são acontecimentos que nos tiram deste mundo
vulgar e onde nada se passa em que vivemos e muitas vezes nos atiram para onde
tudo acontece.

Claro que, para que assim seja, temos de estar atentos e saber dar valor à
coincidência. E nem todos o fazem. Conheço pessoas que são inundadas de
coincidências mas que preferem não as ver ou nada fazer em relação a elas, Aqueles
de nós que vivem com os olhos bem abertos têm mais probabilidades de escutar o
que estas mensagens nos dizem.

Quando eu vivia em Mobile, em 1970, sabia que o meu tempo para ali estar
era limitado, mas não sabia para onde ir a seguir. Foi então que vi, vários dias
seguidos, um carro que tinha no vidro um autocolante que dizia: «Califórnia ou
morte».

Se aquela pessoa quer ir para a Califórnia, perguntei a mim mesmo, porque é


que continua em Mobile?

A espreita de ver o carro e perguntando a mim mesmo o que fazer com a


minha vida, liguei o rádio e ouvi «California Here I Come». Foi esta experiência que
me fez decidir. Uma semana mais tarde, deixei o meu emprego numa agência de
publicidade e parti para Los Angeles.

Talvez pense que é coisa de bêbedos, andar sempre de um lado para o outro,
mas eu acredito que Deus entra em contacto connosco, mesmo quando nós não
queremos que o faça. Acredito que aquele autocolante e aquela canção foram
maneiras de me dizer que fosse para o Oeste, porque a Califórnia foi o lugar onde
aprendi muito a respeito de mim mesmo e onde comecei a afastar-me dos meus maus
hábitos.

72
Histórias de Clientes

Acredito que Deus usa coincidências para nos orientar no nosso caminho.
Muitos exemplos de clientes meus confirmam isto mesmo.

Chip inscrevera-se para fazer o exame de serviço público em Cobrado


Springs, com o objectivo de entrar para a escola de Polícia. Quando chegou ao local
do exame, verificou que se tinha enganado na data — as provas só decorreriam no
mês seguinte. Por coincidência, o teste para admissão na escola de Bombeiros fora
transferido para aquele dia. Chip decidiu fazer as provas para ver se tinha as
qualidades exigidas. E obteve uma pontuação elevada. Hoje, viaja por todo o país a
apagar fogos florestais. Chip tinha uma coisa em mente, mas Deus decidira algo
diferente.

Michelle veio para o Sedona Intensive para libertar-se do medo de ter outro
filho. Tivera gémeos, e uma das crianças morrera durante o parto. Resolvidos os
medos de Michelle, ela e o marido, Stephen, decidiram ter outro filho. À medida que
a data se aproximava, começaram a pensar no nome a dar à criança. Certa noite,
quando estava a ver na PBS A Rainha Isabel de Espanha, Stephen perguntou à
mulher:

— Que achas do nome Isabella para a menina?

Nesse preciso instante, Michelle abria uma caixa que tinha a palavra Isabella»
escrita na tampa. Hoje, Michelle e Stephen têm uma bonita e saudável filha chamada
Isabella.

Courtney, de vinte e um anos, e a mãe, Francie, estavam no carro a caminho


do centro comercial quando Courtney começou a perguntar à mãe aonde poderia
dirigir-se para ajudar jovens a combater o álcool e as drogas. Minutos depois, um
anúncio na rádio pedia voluntários que quisessem aprender a trabalhar no serviço de
atendimento telefónico da CONTACT, uma organização sem fins lucrativos cujo
objectivo é ajudar jovens com problemas de dependência. Courtney telefonou e
inscreveu-se.

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E agora uma coincidência que levou uma das minhas clientes ao casamento.
Tinha combinado um almoço com Joanna em Dallas, quando estive na cidade para
ver alguns clientes. Joanna, que enviuvara havia pouco mais de um ano, esteve a
falar comigo antes de irmos almoçar. Quando nos dirigíamos ao carro dela,
perguntou-me:

— Importa-se de ir ao Babby Routh’s? É um restaurante novo, perto daqui.


Mandaram-me um cupão que dá direito a um almoço grátis para dois.

E mostrou-me o cartão, impresso a rosa e azul.

— Vamos experimentar — concordei.

Enquanto esperávamos mesa, um senhor atrás de nós tinha na mão um cupão


igual ao de Joanna. Em conversa connosco, comentou que o restaurante devia ter
inundado a cidade com aqueles convites, e logo a seguir disse-nos que a pessoa com
quem combinara almoçar cancelara o encontro à última hora.

O gerente do restaurante, que ouvira o comentário, disse:

— Muito pelo contrário. Enviámos apenas dois convites, escolhidos da base


de dados da nossa empresa de cartões de crédito platina.

— Que coincidência — espantou-se Joanna.

— Talvez os deuses estejam a conspirar. Uma vez que estou sozinho, porque
não almoçamos os três juntos, se não se importarem? — propôs o senhor.

Deixei-os cerca das duas, porque tinha um outro compromisso. Quando voltei
a Dallas, foram os dois consultar-me, porque se tinham apaixonado à primeira vista e
iam casar dentro de semanas.

Manter uma salutar dose de cepticismo

No seu livro Comprehending Coincidences: Synchronicity and Personal


Transformation, Craig S. Dell diz que «a investigação da coincidência é uma escolha
natural na procura das ligações escondidas entre as forças que nos agitam, porque a

74
natureza tantas vezes dramática das coincidências não só nos prende a atenção como
também destaca a possibilidade de a vida ter um significado mais profundo. A minha
abordagem tem sido postular significados possíveis para as coincidências com que se
deparam os meus associados e em seguida verificar se as circunstâncias presentes ou
os desenvolvimentos futuros confirmam a interpretação. Com o tempo, isto permite
validar ou refutar empiricamente a existência de um significado».

O que julgo que Mr. Bell está a dizer é que não se deve atribuir a mesma
gravidade a todas as coincidências. Por vezes, um livro pode cair da prateleira, e nós
devemos muito simplesmente voltar a pô-lo no seu lugar. Alguém pode estar a
marcar o seu número no mesmo instante em que tenta ligar para essa pessoa, mas
pode acontecer que nada de especial resulte dessa conversa. Eu diria que há mais
coincidências fascinantes do que tremendas. Uma vez por outra, todos conheceremos
essas ocorrências inexplicáveis e carregadas de consequências para nós, O facto de
nem todos os acontecimentos da nossa vida serem de molde a transformá-la não
significa que devamos ignorar qualquer deles por medo de deixar passar os que são.

Está a perguntar a si mesmo quando é que vai aparecer uma coincidência que
lhe resolva um mistério ou o leve a uma oportunidade de emprego ou talvez a
encontrar uma alma gémea? Mantenha os olhos bem abertos e os ouvidos atentos,
porque a próxima coincidência significativa pode ser o sinal de que Deus está a
chamá-lo para uma oportunidade de ouro, Acredite na coincidência, mas conserve
uma perspectiva saudável.

75
CAPÍTULO 11

A linguagem da sincronicidade

SINCRONICIDADE: uma coincidência que envolve um elemento de tempo


crucial: uma interacção significativa entre duas pessoas ou acontecimentos paralelos
sem combinação ou um planeamento que pareça relacionado.

Têm-me perguntado muitas vezes se coincidência e sincronicidade são a


mesma coisa. A resposta estrita é não, mas os conceitos estão relacionados. Tanto a
coincidência como a sincronicidade têm que ver com sequências de acontecimentos
que parecem ser simultaneamente acidentais e planeados. Ambas são caracterizadas
pela emergência aparentemente casual de factos que mostram uma estranha relação
entre pessoas, lugares, coisas e ideias que anteriormente pareciam desconexos. Mas
uma sincronicidade envolve sempre um elemento crucial de tempo. O tempo é a
característica-chave. Portanto, embora todas as sincronicidades sejam coincidências,
nem todas as coincidências são sincronicidades.

No seu livro Sincronicidade: Um Princípio de Ligação Acausal, Jung dedica


centenas de páginas quase impenetráveis a explicar aquilo a que eu prefiro chamar
simplesmente Deus em acção. O Supremo Criador junta as pessoas das maneiras
mais fascinantes mas imprevisíveis. Há um princípio divino de magnetismo que nos
atrai uns para os outros de modos que a mente finita não consegue explicar. Por
muito inteligentes que os cientistas e engenheiros possam parecer, qual deles seria
capaz de seguir as linhas telefónicas que Deus usa para juntar pessoas, lugares e
coisas de modo a provocar uma interacção propositada? Como se diz na peça
Hamlet, de Shakespeare: «Há mais coisas no Céu e na Terra, Horário, do que as que
sonhas na tua filosofia.»

Vaneta e Kelly

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Vaneta não conseguia desembaraçar-se daquele desejo de ir a Singapura.
Embora pouco soubesse a respeito do povo e da cultura do país, sempre que via
fotografias dos seus jardins botânicos ou do Raffles Hotel, dava-lhe uma vontade
enorme de fazer as malas e apanhar o primeiro avião para o Oriente. Um dia, o chefe
chamou-a ao seu gabinete em Atlanta e disse-lhe que o director do departamento
internacional queria que ela chefiasse um grupo cuja missão seria apresentar em
Singapura as mais recentes tecnologias da empresa. Quando ouviu isto, Vaneta
deixou-se cair numa cadeira.

— Que se passa? Não quer aceitar a missão? perguntou-lhe o chefe.

— Claro que quero. Só fiquei espantada por eles quererem que eu vá.

Dias depois, de malas feitas e já no aeroporto, Vaneta soube que o seu voo
fora cancelado e que lhe tinham marcado a viagem para um pouco mais tarde, com
escala na África do Sul. Transferida para a classe Business Elite, sentar-se-ia ao lado
de um passageiro chamado Kelly. Kelly estava a ser considerado para o cargo de
director-geral de uma grande empresa de seguros de saúde sedeada em Atlanta, mas
decidira ir trabalhar com as crianças e adultos que morriam de sida na África do Sul.

Está talvez a pensar que isto parece uma cena tirada de um filme em que o
rapaz conhece a rapariga, os dois apaixonam-se à primeira vista e vivem felizes para
sempre. O cenário do costume, certo? Nada poderia estar mais longe da verdade.
Kelly achou o perfume de Vaneta ofensivo, e ela achou o aspecto dele mais adequado
à terceira classe. Vaneta e Kelly eram definitivamente opostos que não se atraíam.
Ele voltou-se para a janela e dormiu durante todo o voo.

Dois anos mais tarde, Kelly continuava na África do Sul a trabalhar na área
das doenças sexualmente transmissíveis. Foi então que Vaneta chegou à Cidade do
Cabo para uma conferência sobre comunicações. Encontraram-se os dois no átrio do
hotel. Desta vez, não houve conflitos por causa de fragrâncias ou maneiras de vestir
porque o tempo mudara-os a ambos. Jantaram juntos e conversaram até à meia-noite
a respeito da desilusão que Singapura fora para ela.

Porque terei sentido um desejo tão forte de ir lá? perguntou Vaneta.

77
— Talvez tenha ido a Singapura para me encontrar no avião — respondeu
Kelly.

- Mas nós detestámo-nos à primeira vista — objectou ela.

— Mudou alguma coisa desde essa altura?

— Imenso.

Depois deste jantar, Vaneta e Kelly mantiveram-se em contacto através de


cartas, telefonemas e uma ou outra visita. À medida que iam vencendo as camadas de
preconceito e criticismo que inicialmente os tinham separado, mudaram ainda mais:
escutaram o coração. Acabaram por casar e regressar aos Estados Unidos para chefiar
um programa de combate à pobreza em Appalachia.

Como é possível duas pessoas conhecerem-se e «não perceberem» no instante


em que põem os olhos uma na outra? E, de qualquer modo, porque haveria Deus de
pregar uma partida tão cruel a duas pobres almas?

Boas perguntas. Era preciso que Vaneta e Kelly se conhecessem quando se


conheceram, mas ambos tinham ainda muito que crescer. Deus não estava a pregar
partidas a ninguém. Estava a preparar o terreno. Pergunte a ex-colegas do liceu ou da
universidade quantos voltaram a encontrar uma antiga namorada vinte ou trinta anos
mais tarde, quando estavam ambos mais capazes de compreenderem-se um ao outro.

Sei muitas mais histórias a respeito de amores reacendidos em reuniões de ex-


alunos ou em encontros de acaso. O que está destinado a ser, será. Nem todas as
sincronicidades se apresentam de uma forma assim tão certinha. Todas as
experiências da vida têm a ver com crescer e mudar e enfrentar dentro de nós o que
tem de ser enfrentado. De tempos a tempos, as circunstâncias são tais que duas
pessoas se conhecem e fazem clique no mesmo instante, mas raramente sem algumas
zonas de sombra que exigem trabalho. É certo que Deus escreve direito por linhas
tortas — mas escreve.

Anne e William

78
Os futuros pais de Anne estavam de viagem para ir assistir a um funeral
quando a mãe, grávida de seis meses, entrou em trabalho de parto. Devido a um
engano no berçário do hospital, a recém-nascida Anne e o também recém-nascido
William foram trocados. O erro foi rapidamente descoberto e desfeito e, depois de
alguns dias passados na enfermaria da maternidade, Anne seguiu para Indiana com os
pais. Quanto a William, os pais levaram-no para casa, numa povoação próxima. As
duas crianças cresceram a centenas de quilómetros de distância e não voltaram a ver-
se — até que a sorte voltou a juntá-las já adultas.

Anne casou com um cirurgião chamado Harold, que trabalhava num pequeno
hospital. Também William casou. Ele e a mulher estavam de visita à cidade onde
Anne vivia quando um carro atropelou o filho de ambos, Adam, de seis anos,
causando-lhe um traumatismo craniano. Adam foi levado de urgência para o hospital,
onde o marido de Anne realizou uma complicada cirurgia que lhe salvou a vida.
Enquanto conversavam na cafetaria depois da operação, Anne e William descobriram
a ligação que existia entre os dois.

— A minha mãe costumava perguntar, sempre que eu ia lá a casa visitá-la:


«Que terá sido feito do William?» — contou Anne.

E a minha dizia que podia ter criado uma menina ruiva chamada Anne se o
hospital não tivesse descoberto o engano — respondeu William.

Neste caso, Deus falou por acções, não por palavras, Só graças à insondável
natureza da sincronicidade foi possível que William e a sua família encontrassem o
marido de Anne, que acabava de especializar-se numa técnica revolucionária
perfeitamente adequada ao caso de Adam.

— Sou, de momento, o único médico do país capaz de fazer o que fiz ao


Adam — disse Harold à mulher de William.

Quais são as probabilidades de duas pessoas se reencontrarem da maneira que


Anne e William se reencontraram? E quais eram as probabilidades de Anne estar
casada com o único médico qualificado para fazer a operação de que Adam
precisava? Talvez ainda menores. Mas Deus não quer saber de probabilidades.

79
Confirma todos os dias os seus poderes mágicos através de sincronicidades
extraordinárias.

Roseanne e Rick

Roseanne e Rick conheceram-se num encontro improvisado. Ela trabalhava


para uma de cosméticos e viajava por todo o mundo, ele numa companhia de seguros
baseada em Londres. Ela vivia em Nova Iorque e ele em Minneapolis, mas foram
apresentados em Munique, na Alemanha. Tendo sido casada e divorciada antes dos
trinta, Roseanne não estava à procura de uma relação duradoura, mas apenas de um
pouco de ternura e carinho. Dez minutos depois de terem começado a jantar com o
casal que combinara o encontro, Rick estava a mostrar fotografias da casa que
acabava de comprar quando Roseanne deixou escapar uma exclamação de espanto.

— Meu Deus, o número da sua porta é 333? — perguntou, apontando para o


número que se via na porta da casa.

— É — respondeu Rick. — Algum problema?

— Três-três-três é também o número da minha porta — explicou Roseanne.

Apesar de Roseanne estar decidida a não se envolver seriamente, os dois


casaram seis meses mais tarde e resolveram manter as duas casas com o número 333,
uma vez que continuavam a ter de viajar muito nos respectivos empregos. Roseanne
sentia claramente que experimentara uma sincronicidade e um sinal e abrira o
espírito à felicidade.

Nada está para lá do possível

Não havia absolutamente razão alguma para que acontecessem


sincronicidades a Vaneta, Kelly, Anne, William, Roseanne e Rick, mas aconteceram,
e tratou-se em todos os casos de Deus a falar na Sua linguagem única e divina.
Vaneta e Kelly começaram por parecer incompatíveis, mas acabaram por viver as
suas vidas juntos. Anne e William foram reunidos pela cura miraculosa do filho de

80
William pelo marido de Anne, Harold, e Roseanne e Rick descobriram a sua ligação
através de números.

Quando começamos a montar as partes da nova linguagem e as vemos em


acção, nada fica para lá do possível. Porque, como David Linnig diz na sua crítica ao
livro de Robert Hopcke There Are No Accidents: Synchronicity and the Stories of our
Lives: « Implícita no conceito de sincronicidade de Jung está a crença na “unicidade”
e interdependência do universo.» Jung lançou a primeira pedra da ideia de que
estamos todos interligados. Eu acrescento a noção de que a sincronicidade é a
maneira de Deus voltar a juntar muitos de nós. A expressão «falamos a mesma
língua» faz nascer a ideia de que Deus tem planos que excedem a nossa compreensão
e de que expressa essas ideias na nova linguagem. A sincronicidade é uma das
técnicas do seu grande plano de reunião.

Hopcke tinha algumas boas sugestões para todos os que procuram


sincronicidades nas suas vidas:

1. Esperar o inesperado.

2. Estarmos abertos ao significado do que não queríamos que acontecesse.

3. Teimar e ver o que acontece.

4. Andar sem rumo pelo mundo e estar disposto a escutar o que a vida nos
oferecer.

5. Ser determinado e ao mesmo tempo estar disposto a abrir mão.

Não é importante conhecer as razões por que tudo acontece no espantoso


mundo da sincronicidade. Quando lhe acontecer uma sincronicidade, limite-se a
sentir a maravilha. Não se deixe embotar. Acompanhe o fluxo da energia da
sincronicidade e esteja preparado para abraçar aquilo que só Deus pode levar à sua
vida: a majestade e a mágica da nossa interligação.

81
CAPÍTULO 12

A linguagem dos sinais

e dos prodígios

SINAIS: Deus faz-nos chegar as suas mensagens através de cartazes, postais,


cartões-de-visita, cabeçalhos dos jornais e palavras escritas no Céu. Pode captar a
nossa atenção através do aparecimento inesperado mas oportuno de um animal, um
objecto um ou acontecimento. A experiência de receber um sinal é por vezes
dramática, e pode transmitir um conselho ou um encorajamento.

PRODÍGIOS: Deus usa o espantoso e o espectacular para chamar a atenção


para a Sua omnipotência. O maravilhoso está aberto a uma grande variedade de
manifestações.

Jane tinha decidido mudar-se da sua pequena casa de praia na Florida para
Los Angeles. Ao examinar a casa para possível venda, o inspector municipal
descobriu sérios danos causados por térmitas.

— Eu sabia que ia ter de pagar as obras — disse Jane —, mas fiquei aliviada.
Era a maneira de Deus me dizer: «Esta casa está condenada. É tempo de mudar.»

000

Gail estava indecisa a respeito de assistir ou não a um retiro espiritual no


Arizona. Enquanto rezava a pedir um sinal, descobriu que o lenço do pai, que
estivera firmemente atado à cabeceira da cama desde que ele morrera, se encontrava
caído na almofada.

82
— Senti que o meu pai estava a incitar-me a ir — diria Gail mais tarde. Foi, e
considerou a experiência a melhor coisa que jamais fizera em toda a sua vida

Antes de morrer vitimado pela sida, o filho de Bob e de Glória disse aos pais
que estaria sempre com eles. No quarto onde ele morreu havia amuletos índios e
talismãs com muitas penas. Dias depois da morte do filho, Bob e Gloria começaram
a encontrar penas no passeio, em casa, em lugares distantes para onde viajavam, e até
quando falavam no grupo de apoio a que pertenciam.

— Bem, gente, o meu filho está aqui — dizia Bob, enquanto uma pena
tombava lentamente no chão à frente dele.

São sinais? São prodígios? Absolutamente. Acredito que cada uma destas
histórias é um exemplo de Deus a revelar-se às pessoas vulgares que têm problemas
que precisam de resolver ou anseiam simplesmente por um pouco de conforto, Os
dois primeiros incidentes são sinais, o terceiro é um prodígio de Deus a falar
connosco.

Porque foi que Jane e Gail não se limitaram a pedir a outra pessoa uma
opinião a respeito dos seus problemas? A resposta é simples. Podiam tê-lo feito.. mas
nenhuma delas se sentiu inclinada a fazê-lo. Jane pensou que talvez os amigos não
quisessem que se fosse embora e aduzissem argumentos a favor de ficar. Gail sabia
que se perguntasse ao marido, ele lhe diria que era perfeita tal como estava e não
precisava de participar num retiro espiritual. Os sinais que Jane e Gail receberam
vieram da mais pura das fontes: Deus.

Um prodígio tem a mesma majestade. Se Robert e Gloria não estavam num


galinheiro ou a sacudir uma almofada — e não estavam — as penas tinham de vir de
qualquer lado. Acreditavam que vinham do filho, transformado em anjo. Podem
prová-lo? Não. As penas fazem-nos sentir que o filho está feliz e capaz de estar com
eles? Sim. Disseram-me que não têm a mínima dúvida de que o filho tira as penas
das suas asas de anjo. Quereria Deus que fosse de outro modo?

83
Rita e o Dr. Garcia

Rita, que vivia na Cidade do México, fazia parte de uma comissão


encarregada de seleccionar estudantes elegíveis para receber bolsas de estudo. Uma
das cláusulas da renovação da assistência financeira era a manutenção de boas notas.
Rita apoiou um estudante que fez todo o curso de Medicina com uma bolsa de estudo
da Morris Foundation, apesar de as notas dele nem sempre terem estado de acordo
com os padrões exigidos.

Vários anos mais tarde, Rita consultou o seu ginecologista para fazer um teste
de gravidez, mas o resultado foi negativo. O médico estava convencido de que ela
tinha um tumor. Passados meses, Rita foi hospitalizada para se fazer a remoção
cirúrgica do tumor. O médico encarregado da operação descobriu que ela estava de
facto grávida de uma criança perfeitamente saudável, e fez o parto.

Depois da cesariana, Rita olhou para o médico que a assistira e viu o nome
Jesus Garcia escrito no bolso da bata branca.

É o mesmo Juan Garcia que fez o liceu e o curso de Medicina com uma bolsa
da Morris Foundation? — perguntou.

— Sim, sou — respondeu o Dr. Garcia.

— Deus o abençoe, Jesus Garcia. Se eu lhe tivesse retirado a bolsa de estudo,


hoje não teria um filho.

Muitas vezes, a nova linguagem começa a falar connosco muito antes de


sabermos o que Deus está a querer dizer-nos. Rita não fazia ideia da razão que a
levara a continuar a apoiar aquele estudante, apesar de as notas dele nem sempre
corresponderem ao exigido. Mal sabia que aquele jovem havia um dia de salvar a
vida do seu filho.

Este tipo de coisas acontece a milhões de pessoas todos os dias, em todo o


mundo. Neste preciso momento, talvez um agricultor na Rússia esteja a receber um
sinal a anunciar uma colheita melhor ou um sherpa do Tibete esteja a ser atraído para
o cume de uma montanha pela sua majestade. Podemos ver e ouvir o que Deus tem
em mente para nós se nos abrirmos à Sua linguagem. Não há hierarquias nem sistema

84
de castas quando se trata de saber quem pode ouvir Deus. Torna-se-nos acessível
sempre que decidimos que preferimos a palavra d’Ele à nossa ou à de alguém tão
falível como nós.

Nada é demasiado pequeno ou demasiado insignificante para merecer a


atenção de Deus. Uma escuteira chamada Índia, que mora na minha rua, afirma que
Deus lhe envia o sinal de chuva para ela saber quando vender os seus biscoitos.
Aprendi com Índia e hoje confio montes dos meus problemas a Deus — mesmo os
mais triviais.

Muitos de nós encontram mais facilmente Deus quando enfrentam os grandes


desafios da vida. Se quer ver os membros de uma comunidade ajudarem-se uns aos
outros de uma forma quase divina e abnegadamente inspirada, apareça depois de um
tremor de terra. Quando um sismo atingiu Northbridge, em 1993, a cooperação entre
vizinhos e desconhecidos que viviam no mesmo quarteirão foi espantosa. As
inundações que assolaram o Midwest, em 1998, afogaram tudo menos a humanidade
das pessoas para com as pessoas. Se uma família tinha dificuldades, era como se o
quarteirão inteiro estivesse em risco. Esta solicitude e preocupação que uma pessoa
sente por outra é um dos prodígios de Deus. Ele vem em nosso auxílio através da
generosidade daqueles que nos rodeiam.

Uma das maneiras mais directas de ter um possível êxito em receber um sinal
ou um prodígio é a oração. Sente-se e guarde silêncio. Faça um pedido simples a
Deus e aguarde a resposta. Se não receber imediatamente um sinal, insista. Da
próxima vez que o telefone tocar, pode ser a sua resposta. Da próxima vez que
encontrar um desconhecido ou desconhecida, ele ou ela podem ser um sinal de
confirmação que lhe é dirigido a si. E quando vislumbrar um dos deslumbrantes
prodígios de Deus, compreenda o seu significado.

85
CAPÍTULO 13

A linguagem de

Deus-por-interposta-pessoa

DEUS-POR-INTERPOSTA-PESSOA: o princípio de que Deus nos fala


através de outras pessoas é a base do significado de Deus-por-interposta-pessoa.
Deus usa as pessoas da nossa vida para chamar a nossa atenção e fazer-nos chegar a
sua mensagem de orientação.

Agora que já vimos como a nova linguagem funciona através de


coincidências, sincronicidades e sinais e prodígios, vejamos como Deus usa as
pessoas que nos rodeiam para fazer chegar até nós a Sua mensagem de orientação.
Deus-por-interposta-pessoa, como chamo a esta ocorrência, foi a experiência mais
comum da nova linguagem referida por respondentes a um inquérito que enviei, em
2001, a mais de seis mil pessoas em todo o mundo. Quando ler as histórias que me
enviaram, vai ficar tão espantado como eu fiquei ao verificar como amigos e
desconhecidos tantas vezes transmitem instruções úteis e oportunas em resposta às
nossas orações.

Devo ir ou ficar?

Marlene mudou-se para o Havai na esperança de encontrar um objectivo para


a sua vida, mas, ao cabo de dois anos, sentiu que chegara a um impasse. Por mais que
se esforçasse, não conseguia sentir-se em casa entre os demandadores espirituais que
afirmavam ter encontrado lá a bem-aventurança.

«Devo ir ou ficar?», perguntou Marlene um dia a si mesma, sentada à porta


do centro de aconselhamento enquanto esperava a sua vez. Do outro lado da rua onde

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se situava o centro, cavava-se uma funda ravina. Ali sentada, viu uma mulher prestes
a cair na ravina. Levantou-se de um salto e puxou-a para terreno seguro.

— Graças a Deus, estava mesmo onde era suposto estar — disse a mulher,
visivelmente abalada.

Compreendendo a resposta literal, Marlene entendeu também a mensagem


mais profunda. Aquela mulher, sem o saber, respondera à mais urgente das suas
perguntas. A orientação que transmitia revelou-se a melhor.

O emprego de sonho

De férias na Costa Rica, Elaine recebeu uma proposta de emprego como


gerente de um hotel. Fazer a mudança significaria deixar os amigos, vender tudo o
que tinha e recomeçar tudo num país do terceiro mundo, a mais de oito mil
quilómetros de casa. No entanto, a beleza da terra e o ritmo descansado da vida na
Costa Rica, tentavam-na. Estava farta de trabalhar como enfermeira e faminta de
novas aventuras. Todos os dias, enquanto passeava, Elaine rezava: «Deus, que devo
fazer em relação a esta oferta de emprego?”

Um dia, reparou em dois jovens que caminhavam na sua direcção. Quando se


cruzaram, ouviu um deles dizer-lhe:

— Corre o risco.

Espantada por ouvir um desconhecido referir-se tão claramente à sua dúvida,


ficou de pé atrás. Examinando bem a situação, reconheceu na afirmação a resposta de
Deus à sua prece. Aceitou o emprego, mudou-se com a família e teve uma
experiência verdadeiramente compensadora.

Faz aquilo de que gostas,

e o dinheiro vem por acréscimo

Roger gostava de fazer mobílias, não de vender medicamentos. Quando tinha


tempo, fazia umas mesas, um armário, algumas cadeiras, que conseguia
imediatamente vender. No entanto, transformar este seu hobby numa carreira era

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coisa complicada — Roger era casado e tinha dois filhos, e a mulher esperava um
novo bebé. Sempre que falava com o pastor da igreja a respeito das suas aspirações
pessoais, era-lhe lembrado que tinha uma família para sustentar.

De regresso a casa depois de uma viagem de negócios, Roger sentou-se no


avião ao lado de um homem chamado Eddie, que fabricava mobiliário na Carolina do
Norte.

— Adorava desenhar mobílias — disse Roger.

— E o que é que o impede? — perguntou Eddie.

Roger explicou os obstáculos da sua situação familiar.

— Faça aquilo de que gosta, e o dinheiro vem por acréscimo — disse Eddie.

Conversaram durante mais alguns minutos — trocaram cartões-de-visita — e


Roger prometeu mandar a Eddie fotografias de algumas das suas peças.

Passaram várias semanas, até que um dia Roger recebeu um telefonema de


Eddie.

— Recebi as suas fotografias. Tem talento, meu amigo, muito talento! —


disse-lhe Eddie. — Gostaria de desenhar para a Renaissance Interiors?

— Céus, Eddie, eu disse-lhe no avião, tenho montes de despesas mensais.

— Faça aquilo de que gosta, e o dinheiro vem por acréscimo — repetiu


Eddie. — Tenho um lugar de desenhador em aberto e estou a oferecer-lho. É um
risco para ambos, mas tenho uma casa vazia e estou a incluí-la na oferta.

Nessa noite, Roger e a mulher jantaram num restaurante chinês. Discutiram o


que fazer a respeito daquela oportunidade de emprego.

— Até agora Deus sempre nos mostrou o caminho — disse a mulher de


Roger. Porque não conseguimos ouvi-lo a respeito disto?

Ao abrir o seu bolinho-da-sorte, Roger fez um sorriso mais rasgado que o do


gato de Cheshire e mostrou o papel à mulher. Dizia: «Faz aquilo de que gostas, e o
dinheiro vem por acréscimo.»

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Roger é hoje sócio de Eddie na Renaissance Interiors.

Nunca digas nunca

Conheço o Pete há muito tempo. Acreditei nele quando me disse que nunca
mais voltaria a ter uma relação séria. Pete, que se divorciara da primeira mulher ao
fim de trinta anos de casamento, comprara um barco, começara a jogar golfe e aos
domingos dormia até tão tarde quanto queria. Parecia estar a gostar da vida de
solteiro. Um dia, uns amigos de fora que estavam de visita — Bill, Barbara e Betty
— convidaram-no para jogar golfe. Entre tacadas, as duas mulheres conversavam
sem parar a respeito do noivado de Betty.

— E pensar que jurei nunca mais voltar a casar — disse Betty.

— Nunca digas nunca — sentenciou Barbara.

Incomodado por esta tagarelice, Pete intrometeu-se:

— Podemos jogar golfe, pelo amor de Deus?

Nessa noite, ao jantar, Betty ignorou a irritação de Pete e deu-lhe o cartão de


uma amiga que enviuvara quatro anos antes.

— Telefona-lhe. Mora aqui perto. Julgo que estão bem um para o outro.

Pete telefonou, e agora há mais de um ano que os dois saem juntos.

Não excluir os animais!

Uma vez que o cão é considerado o melhor amigo do homem — e quem


melhor poderia fazer o papel de intermediário de confiança —, não resisto a contar-
lhe esta história.

Bolívia era uma escritora freelance especializada em histórias com interesse


humano. Mas esgotara-se-lhe a inspiração, e não sabia para onde voltar-se para
conseguir uma boa ideia. Um dia, chegou a casa e encontrou uma mala de carteiro e
o respectivo conteúdo espalhados pelo chão da cozinha, enquanto Benz, a sua cadela

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labrador, mordia animadamente uma revista. Bolivia tirou a Spiritual Winds da boca
de Benz, sentou-se no chão e pôs-se a lê-a. Na segunda página, um anúncio dizia:
ESCRITORES FREELANCE, PRECISA-SE. Há dois anos que escreve para lá.

Conversar com Molly

Mary Lee decidiu que não queria continuar a viver em Dallas.

— É demasiado quente no Verão, demasiado fria no Inverno, e há demasiada


gabarolice texana durante o ano inteiro. Acho que vou mudar-me para San Diego,
onde faz bom tempo todo o ano e as pessoas são simples e sossegadas — disse à sua
amiga Molly.

— Mary Lee, já vivi em San Diego e posso dizer-te que o tempo não é
sempre perfeito e que as pessoas que lá vivem são iguais às daqui. Terão essas tuas
cócegas nos pés qualquer coisa a ver com o facto de fazeres quarenta para o mês que
vem?

Mary Lee ficou muito calada, e acabou por murmurar:

— Talvez.

— Bem, querida, uma coisa posso eu dizer-te. Se não gostas de Dallas não
vais gostar de San Diego.

Mary Lee ficou em DalIas, e hoje adora comprar e vender vestidos


maravilhosos a senhoras texanas.

Mantenha os olhos abertos e os ouvidos atentos às provas de que Deus está a


trabalhar a seu favor. Especialmente num momento de indecisão, quando alguém
inesperadamente ou sem o saber lhe trespassa a consciência com um conselho que
soa a verdade, reconheça que Deus lhe está a falar por interposta pessoa. Para quem
sabe distingui-los, os milagres acontecem. Não hesite em consultar um amigo ou um
conselheiro em quem confie. Uma segunda opinião pode contribuir muito para
reforçar a sua decisão de caminhar para a vida dos seus sonhos.

90
CAPÍTULO 14

A linguagem dos sonhos

SONHOS: Um sonho é uma série de pensamentos, imagens ou emoções que


ocorre durante o sono — uma criação visionária da imaginação. Deus fala-nos muitas
vezes através destes filmes da mente. Servem de ecrã a poderosas mensagens.

Quando eu era um rapazinho na aula de catequese de Mrs Schuler, as histórias


da Bíblia que mais me Fascinavam eram as que tinham a ver com sonhos. Sentia-me
particularmente cativado pelo sonho de Jacob a respeito da escada-para-o-céu,
contado no Génesis, em que Deus promete ao jovem hebreu «a terra em que
dormes». Mais adiante no Génesis, quando o faraó do Egipto sonha que sete vacas
magras comerão sete vacas gordas, o rei prepara-se para uma época de fome
exortado por José, um intérprete de sonhos. «Deus mostrou ao faraó o que está para
fazer», diz José, aconselhando a que se ponha alimentos de lado durante a época de
fartura.

Deus fala-nos nos sonhos de muitas maneiras

Deus promete e Deus revela, tudo na linguagem dos sonhos. Isto era verdade
no Antigo Testamento e foi verdade em todo o mundo antigo. «Em Israel, no
judaísmo e no mundo grego e no Próximo Oriente em geral, os sonhos eram
frequentemente vistos como veículos de revelação divina, sobretudo os de sacerdotes
e de reis», nota o Oxford Companion to the Bible. Eliú, na história de Job, confirma
que os sonhos transmitem mensagens de Deus, ainda que os homens as não
compreendam:

Disputas contra ele porque não respondeu a todas as tuas palavras? Deus fala
uma vez, e não repete segunda vez a mesma coisa. Em sonhos, em visão nocturna,
quando o sono cai sobre os homens e estão a dormir no seu leito, então abre os
ouvidos dos homens e admoestando-os lhes adverte o que devem fazer, para apartar o

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homem daquilo que faz e para o livrar da soberba, salvando a sua alma da corrupção
e a sua vida de cair sob a espada.

Se, no mundo antigo, os sonhos eram tidos por importantes veículos de


epifania e profecia no divino sistema de mensagens de Deus, a nossa visão moderna
mudou. Desde o início do século XX, muitos psicólogos e cientistas têm vindo a
minorizar o valor místico dos sonhos, levando-os para o domínio do laboratório e da
academia. Por exemplo, os psicólogos olham para os sonhos como padrões
demonstrados de ondas cerebrais e movimentos oculares durante o sono.

Hoje, porém, o mundo volta-se novamente para a nova linguagem, que define
os sonhos como fazendo parte da língua materna de Deus, o modo não verbal que
sempre usou para nos falar. Por vezes as Suas orientações chegam-nos através de
sonhos que são premonições — ajudam-nos a conhecer o Futuro e a prepararmo-nos
para ele. Por vezes, os nossos sonhos são epifânicos — e revelam as respostas a
problemas importantes. Outras vezes ainda, os nossos sonhos são presságios que nos
alertam para um problema futuro. E, em certos casos, ouvimos murmúrios de anjos
nos nossos sonhos. Seguem-se vários exemplos de cada um destes tipos de sonhos.

Sonhos com premonições

Exemplo: Jane sonhou que estava a entrar num grande estádio. Muitos dos
seus colegas de trabalho caminhavam à frente dela, apesar do facto de todos os que
se encontravam no interior estarem com convulsões e a vomitar.

— Eu não queria ir — disse Jane.— Sabia que havia ali qualquer coisa de
errado. Por isso, tapei a cabeça e fugi.

Semanas mais tarde, houve uma fusão inesperada e muitos dos trabalhadores
da empresa perderam o emprego. Baseada no seu sonho, Jane sabia que estaria a
salvo e encontrou rapidamente um novo trabalho,

Exemplo: Mary Lou sonhou que estava com medo de entrar na maternidade
do hospital porque a enfermeira de serviço lhe disse que nenhuma das crianças

92
conseguia andar. Mary Lou estava grávida do seu terceiro filho. Quando contou este
sonho à irmã, disse-lhe:

Receio que se passe qualquer coisa com o meu bebé.

Quando Quentin nasceu, tinha um defeito nos pés. Graças ao seu sonho, Mary
Lou estava mais bem preparada para lidar com a deficiência do filho.

Exemplo: Benson sonhou que estava tão escuro lá fora que não conseguia
descobrir o caminho. Passou pela montra iluminada de uma loja e viu o seu próprio
reflexo. Por cima dele havia uma grande e brilhante estrela que parecia pousar-lhe na
cabeça como uma coroa.

— Não sei o que se está a passar na minha vida, mas tenho o pressentimento
de que vai acontecer qualquer coisa boa.

Dois meses mais tarde, Benson conseguiu o papel principal numa peça e
ganhou um prémio.

Sonhos com epifanias

Exemplo: Durante um período difícil da minha vida, sonhei que estava num
comboio a viajar pelo que me pareceu ser a Inglaterra ou a Escócia. No sonho,
perguntava repetidamente a mim mesmo: «Aonde é que vou? Quando é que saio do
comboio?» Um homem que passeava de um lado para o outro pelo meio da
carruagem disse-me: «Fique no comboio.» Eu andava a considerar a possibilidade de
mudar-me de Sedona para Nova Iorque. O sonho indicou-me que devia continuar em
Sedona.

Exemplo: Baxter teve um sonho no qual se viu a si mesmo num grande jantar
de Acção de Graças de uma família. Toda a gente ria e conversava. Baxter viu três
crianças andrajosas a espreitar pela janela com olhares esfomeados. Levantou-se da
mesa com um prato de comida. Abriu a janela e deu a comida às crianças. «Há mais
seis em casa, senhor», disse a menina. Baxter acordou: ficou tão impressionado pelo

93
sonho que resolveu criar uma obra de caridade para dar de comer aos necessitados da
sua cidade.

Exemplo: Nora sonhou que tinha visto a falecida mãe, Lila, a falar a respeito
dela com um grupo de senhoras. «A Nora nunca teve tempo para mim. A minha filha
é muito egoísta.» Nora acordou e registou o sonho. Convencida de que precisava de
trabalhar com pessoas da terceira idade, telefonou para o serviço de voluntariado do
hospital e inscreveu-se.

Sonhos com presságios

Exemplo: Thad sonhou que um carteirista tentava roubar-lhe a carteira.


Reagiu rapidamente, afugentando o ladrão. Ao afastar-se do local do acidente, contou
o dinheiro que tinha na carteira e verificou que o carteirista levara alguns dólares.
«Graças a Deus, ainda tenho a maior parte do meu dinheiro», disse Thad. Dias mais
tarde, recordou-se daquele sonho quando lhe fizeram uma proposta de investimento
que não lhe soou bem. Declinou investir numa determinada empresa que pouco
depois abriu falência.

Exemplo: Mort sonhou que estava a abrir furos em busca de água num terreno
que acabava de comprar, mas sem qualquer resultado. Começou então a cavar perto
de um bando de aves empoleiradas nos ramos de um pequeno grupo de árvores. Mort
tomou as aves do sonho como um presságio.

— Reparei num grupo de cotos de árvore no limite da minha propriedade.


Comecei a cavar e encontrei água.

Exemplo. Mildred sonhou que estava a conduzir o seu velho Ford sob uma
forte chuvada. A luz da pressão do óleo do painel de instrumentos começou a piscar e
o motor a deitar fumo. O carro empanou numa estrada solitária. Quando acordou,
Mildred viu o sonho como um presságio e resolveu fazer um check-up. Foi ao
médico e descobriu que era hipertensa.

— Há muito tempo que não era examinada. Foi uma sorte ter ido consultar o
Dr. Ford.

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Murmúrios de anjos em sonhos

Exemplo: Uma cliente minha chamada Melanie sonhou que ouvia


distintamente uma voz murmurar: «Melanie, desiste.» Havia já algum tempo que
Melanie hesitava entre tentar salvar o seu casamento ou pôr-lhe cobro. Telefonou ao
advogado para dar início ao processo de divórcio.

Exemplo: Martha precisava de encontrar uns papéis para o seu contabilista.


Por mais que procurasse, acabava sempre de mãos a abanar. Certa noite, sonhou que
ela e o defunto marido estavam a limpar caixas e a deitar fora o lixo. Sentada numa
cadeira, reclinou a cabeça para trás, e uma voz murmurou: «Green.» Quando
acordou, foi à garagem e, num canto, por baixo de uma lona, estava um arquivo que
tinha escrito a lápis, numa etiqueta, o nome Green. Abriu a última gaveta e encontrou
os papéis que procurava.

Exemplo: Zack estava muito abalado por ter perdido o emprego e o


casamento ao mesmo tempo. Incapaz de comer ou de dormir, aprendeu a meditar.
Pouco a pouco, conseguiu voltar a fazer uma boa noite de sono. Enquanto dormia,
sonhou que estava em França, a fazer esqui com uns amigos. E apesar de ser um
esquiador razoável, caía constantemente. Estendido na neve, ouviu uma voz dizer:
«Paz».

— Quando acordei, aquela voz pareceu acalmar-me e deixei de preocupar-me


a respeito de arranjar emprego.

Pouco depois, encontrou trabalho como consultor.

Saber o que os nossos sonhos significam envolve compreender uma


linguagem que é simbólica. Como Robert H. Hopcke escreve em A Guided Tour of
the Collected Works of C.G. Jung, «Os sonhos não falam na linguagem verbal e
lógica da vida desperta. Encontram a sua voz numa linguagem muito diferente, a
linguagem do simbolismo. Para compreender os sonhos é, portanto, preciso saber
falar esta linguagem; a linguagem do inconsciente, com a sua riqueza de símbolos e
de imagens arquétipas.»

95
Está talvez a perguntar a si mesmo como lidar com símbolos se não sabe o
que significam. É bem possível que o faraó tenha feito a mesma pergunta antes de
chamar José para este lhe explicar por que razão as vacas magras do seu sonho
estavam a comer as gordas. Nos tempos antigos, quando a civilização era uma coisa
recente e a humanidade estava ainda a procurar o seu equilíbrio místico, intuitivos
como José mostraram que tesouro um sonho pode ser. O jeito de José para a nova
linguagem não só salvou o reino como lhe conseguiu um lugar brilhante na história
do Antigo Testamento.

Mais recentemente, o psicólogo suíço Jung conquistou o seu próprio lugar na


História ao identificar os símbolos arquétipos na paisagem do inconsciente. Enquanto
ajudava a lançar as bases da interpretação dos sonhos, Jung compreendeu que eles
têm uma «individualidade simbólica que ninguém, senão o próprio sonhador, pode
interpretar correctamente», segundo Hopcke. «Assim, Jung dava uma importância
primordial às associações do sonhador aos símbolos e imagens.»

Um livro que achei particularmente esclarecedor sobre o tema do papel


central do sonhador no trabalho do sonho foi Jungian Psychology Unplugged: My
Life as an Elephant, de Daryl Sharp, diplomado pelo Jungian Institute de Zurique.
Tomando posição contra os especialistas dos sonhos, Sharp declara que «receitas
rotineiras e definições como as que se encontram nos dicionários” dos sonhos não
têm qualquer espécie de valor». Sugere que o aparecimento num sonho de uma
árvore, ou de um tapete, ou de uma cobra, ou de uma maçã, tem um significado
único e dependente de quem sonha. O que faz clique para o sonhador é o que está
certo.

Concordo inteiramente com as ideias de Hopcke e de Sharp. Embora seja


possível aprender muito com os analistas de sonhos e nos livros, cada um de nós tem
de determinar por si mesmo o que os nossos sonhos nos estão a dizer. Os sonhos
falam, em última análise, ao nosso conhecimento interior. É o que o sonho está a
dizer ao sonhador — que pode ter a experiência de visão e de revelação — que
verdadeiramente importa. Ainda que possamos contar os nossos sonhos a terceiros
para colher os seus pensamentos e reacções, somos sempre os últimos responsáveis

96
por decidir que mensagem estamos a receber. Para que o poder possa passar dos
poucos para os muitos, é preciso que assumamos o controlo do conteúdo divino da
nossa vida onírica. Não abdiquemos do nosso poder. Se o fizermos, corremos o risco
de perder a oportunidade de restabelecer a nossa tantas vezes enfraquecida relação
com o Criador. A minha convicção é que a profunda calma do sono permite aos anjos
de Deus reparar as linhas telepáticas através das quais ele envia as Suas divinas
mensagens. Talvez um dia os cientistas consigam provar que o sono é uma actividade
espiritual durante a qual somos divinamente afinados.

Descobrir o significado do seu sonho

As técnicas que nos permitem recordar os nossos sonhos podem ser muito
valiosas. Gosto de algumas das sugestões publicadas pelo Lucidity Institute, de Palo
Alto, Califórnia, que estuda os sonhos e as vantagens de recordá-los. Isto é o que o
instituto o aconselha a fazer antes de adormecer.

1. Relaxe completamente — use a sua fita de relaxação preferida ou uma


música calma.

2. Estabeleça a intenção de recordar o que vai sonhar. Deixe formar-se um


pensamento do género: «Vou lembrar-me do meu sonho.»

3. Planeie acordar suave e tranquilamente. O ideal é acordar sem o


despertador ou sem alguém a sacudir-nos.

4. Tenha sempre um papel e um lápis na mesa-de-cabeceira, para poder tomar


nota dos seus sonhos. No entanto, um gravador com um dispositivo de activação por
voz é a ferramenta ideal. Terá menos tendência para censurar os seus sonhos e as
suas reacções se os descrever verbalmente.

O ponto quatro levanta a questão de manter um diário dos sonhos. Registar os


seus sonhos no papel para poder revê-los e procurar temas e símbolos recorrentes
pode ajudá-lo a intuir o que Deus está a tentar dizer-lhe. Faça as suas próprias
perguntas sobre tudo o que conseguir recordar dos seus sonhos e registe os seus
pensamentos e sentimentos ao correr da pena. Não faça julgamentos a respeito do

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que está a pôr no papel. Deixe correr. Trate os seus sonhos se fossem uma língua que
estivesse a aprender a falar. Familiarize-se com o Glossário da Nova Linguagem
(Capítulo 8) e esteja atento aos métodos de Deus que encontrar nos seus sonhos.
Quando qualquer coisa lhe soar a verdade, sublinhe-a, O seu conhecimento interior
está a ser estimulado.

É natural discutir os nossos sonhos com amigos e entes queridos, cujas


opiniões podem ser benéficas se mantidas na devida perspectiva. Tenho, no entanto,
algumas sugestões sobre a melhor maneira de o fazer:

Se está a ouvir comentários a respeito de um sonho seu feitos por outra


pessoa, nunca esqueça que é, em última análise, o único perito na sua vida onírica.
Não existe autoridade maior. Se está a tentar interpretar os sonhos de outra pessoa,
lembre-se sempre de anteceder os seus comentários com as palavras «Se esse sonho
fosse meu», antes de prosseguir.

É muito libertador pensar que não precisamos de uma licenciatura em sonhos


e símbolos e respectivo significado para compreender os nossos sonhos, que
podemos usar um pouco da nossa intuição e telepatia para ouvir o que Deus nos diz.
Se conseguir deixar de pensar que todos os outros sabem mais do que você, talvez
consiga começar a ouvir-se a si mesmo e a confiar no seu conhecimento interior.

Devaneios

É muito comum todos nós termos devaneios, aquilo a que geralmente


chamamos «sonhar acordado». Quando criança, adorava ficar a olhar pela janela e
devanear, embora muitas vezes isso me merecesse censuras. «Concentra-te no que
estás a fazer», diziam-me os meus professores. A sociedade da altura tinha pouca
tolerância para com a ideia de deixar a mente divagar sem objectivo, e nos nossos
dias essa tolerância não é muito maior.

É tempo de desenvolver um novo respeito pelo devaneio — seguir os nossos


devaneios até onde eles nos levarem. O devaneio é uma ponte que pode conduzir-nos
a um estado meditativo. Pode até ser considerado uma forma de meditação.

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Os devaneios podem igualmente manifestar as nossas esperanças mais
profundas. Uma vez que, por definição, o devaneio é uma criação visionária da
imaginação permite-nos libertarmo-nos dos constrangimentos da realidade — vermo-
nos a nós mesmos em situações com as quais até então só tínhamos sonhado. Por
exemplo, qual de nós nunca teve um devaneio a respeito de ganhar a lotaria, ou viver
numa casa de sonho, ou apaixonar-se? Ao criarmos, nos nossos devaneios, cenários
em que estes desejos se manifestam, talvez consigamos descobrir uma maneira de
torná-los realidade. Por exemplo, Elaine, uma graduada do Sedona Intensive,
sonhava acordada a respeito de deixar o emprego e regressar à universidade para ser
arquitecta. Duas semanas mais tarde, respondeu a um anúncio em que um arquitecto
pedia uma assistente. Duas semanas mais tarde, o patrão ofereceu-se para lhe pagar
um curso nocturno e tornar-se arquitecta.

Na sua obra-prima O Alquimista, Paulo Coelho aborda o tema, exortando o


sonhador a confiar em si mesmo.

«Vieste para poderes aprender a respeito dos teus sonhos», diz a cigana ao
jovem pastor da história. «E os sonhos são a linguagem de Deus. Quando ele fala na
nossa língua, consigo interpretar o que está a dizer. Mas se fala na linguagem da
alma, só tu o podes compreender. »

O jovem pastor segue o seu sonho até às pirâmides do Egipto. Embora


esperasse encontrar lá ouro, volta de mãos vazias. Quando pergunta por que razão
teve de ir às pirâmides por coisa nenhuma, a resposta do vento é: «Se eu te tivesse
dito, não terias ido às pirâmides. Não são magníficas?»

Os seus sonhos podem levá-lo a uma aventura cujo propósito não é


facilmente revelado. No fim, cabe-lhe a si escolher se vai ou não escutar a voz de
Deus e fazer a viagem.

99
CAPÍTULO 15

Confirmar o que ouvimos

NA SUA DEMANDA para escutar as mensagens da nova linguagem, é muito


importante manter afinadas as faculdades de um raciocínio lógico. Para que não fique
com a impressão errada de todos os exemplos que lhe dei ao longo deste livro, deixe-
me garantir-lhe que não é minha intenção convencê-lo de que todos os filmes, todos
os artigos de jornal e todas as conversas ouvidas de passagem contêm uma
mensagem de Deus. Na realidade, a maior parte das coisas que nos chegam aos olhos
e aos ouvidos através da cultura popular não vem definitivamente dos lábios de
Deus.

Como, então, saber que mensagens nos são destinadas? Aqueles que não têm
experiência de saber o que ouvem quando escutam e o que vêem quando olham têm
de rodear-se de todas as cautelas. Escute com uma dose de salutar cepticismo para
distinguir entre as mensagens de Deus e a psicoverborreia. Analise cada situação e
então interrogue-se. Pergunte: «A premissa é válida?». «Tenho uma clara sensação de
sim ou não quando me interrogo sobre esta pessoa, ou coisa, ou ideia?»

Para chegar ao discernimento, para ver e ouvir com equilíbrio e integridade,


sugiro que:

1. Reze diariamente. Isto permite-lhe permanecer na graça de Deus.

2. Medite diariamente. Isto ajuda-o a acalmar a mente e a obter clareza e


receptividade.

3. Interrogue-se frequentemente. Isto permite-lhe ser o seu próprio ponto de


referência.

4. Desenvolva o conhecimento interior. Por exemplo, controle a sua


capacidade de distinguir se uma pessoa ou uma situação são boas para si. Isto ajuda-o
a seguir em frente com paz de espírito.

100
5. Mantenha os pés na Terra. Para o ajudar a consegui-lo, faça um esforço
consciente para limitar o comportamento compulsivo. Isto impedi-lo-á de tornar-se
um carneiro que segue o rebanho quando este salta borda fora.

Quando me mudei para Sedona, em 1983, o movimento New Age estava a


arrancar. Todos os dias, alguém queria que eu me juntasse a um grupo de meditação.
Gosto de meditar sozinho.

Havia na altura, em Sedona, um grupo de demandadores espirituais que,


sempre vestidos de branco, se autodenominavam «os chegados», um eufemismo para
as novas almas que lhes tinham ocupado os corpos depois de as antigas os terem
abandonado, geralmente durante uma doença ou uma depressão. A ideia de alguém
poder mudar de alma como quem muda de carro pareceu-me louca. E fiquei furioso
quando soube que as pessoas de idade eram consideradas demasiado velhas para
trocar de alma, mas não para contribuírem financeiramente para a causa. Muitos
idosos deram dinheiro a estes charlatães, até que a Polícia interveio.

Quero deixar bem claro, agora e sempre, que o importante é aquilo em que
acredita, guiado por sólidos princípios morais. Se todas as suas escolhas concordam
com as ideias de outras pessoas, óptimo. Se não, não se deixe levar ou coagir a
aceitar ou abraçar qualquer coisa que sinta não estar bem para si. Mantenha-se firme.

O que é bom para mim pode não ser bom para si. Não quero convencê-lo de
coisa nenhuma, O meu objectivo e a minha missão é deixar que o poder passe dos
poucos para os muitos. Quero que as pessoas recuperem o poder que lhes pertence.
Tenho uma enorme fé nas pessoas — por vezes mais do que elas próprias têm em si
mesmas. Com tempo para aprender com os erros e para ouvir aquilo que o seu
conhecimento interior lhe diz, passará a escolher melhor e a saber quando ouvir e
quando ignorar pessoas e respectivas ideias. Saiba aquilo que sabe ser verdade para
si através da experiência.

101
As três bandeiras vermelhas

Quando tento praticar o discernimento, as três bandeiras vermelhas a que


estou sempre atento são o ego, o dinheiro e o poder. Três influências potencialmente
corruptoras que me fazem olhar para dentro de mim e consultar os meus sentimentos.

Antes de agir, pergunto:

«Estas pessoas estão a fazer o que fazem para se auto-promoverem?» Tento


ver e ouvir independentemente de modas e correntes deixar que os conceitos e as
ideias passem o teste do tempo.

Aqui fica um exemplo: hoje peguei na edição dominical de The New York
Times Magazine e li dois artigos. Na primeira peça, a jornalista Diane McWhorter
escrevia a respeito do recente julgamento, em Birmingham, de um ex-membro do Ku
Klux Klan considerado culpado da morte de quatro meninas negras na explosão de
uma bomba na igreja baptista da l6th Street, em 1963. Elyton Village, onde cresci,
ficava apenas a dez quarteirões da igreja. A história tocou-me fundo. Senti que Deus
estava a recordar-me que, apesar de eu tentar ser absolutamente cego à cor da pele,
há ainda muitas pessoas que fazem discriminação com base na raça, no credo ou na
cor. «Pratica a tolerância e prega a unidade», era o que Deus estava a dizer-me.

O segundo artigo que li intitulava-se «Uma Chamada do Além». Tratava-se


de um perfil do físico John Edwards, que afirma falar com os mortos. A história dizia
que o canal de Ficção Científica ia lançar Edward com um talk-show próprio,
Crossing Over. Ora bem, não sei se este John Edward fala ou não verdadeiramente
com os mortos. Não o conheço nem nunca o vi em acção, mas o jornalista que o
observara a trabalhar em directo na televisão com público em estúdio informava que
mais de metade das mensagens que transmitia eram inexactas, O programa decidira
eliminar os «falhanços» da versão transmitida. Isto fez-me desconfiar. Os produtores
não querem que eu veja que ele é falível? Por que não? Se soubéssemos que umas
vezes falha e outras acerta, isso torná-lo-ia mais humano.

102
Interroguei-me para ver o que achava. Decidi que quer Edward seja ou não
genuíno, acredito que a vida é eterna e que cada um de nós pode desenvolver o seu
potencial para comunicar.

Deixo-lhe uma lista de perguntas que o ajudarão a escolher melhor no seu


dia-a-dia e a beneficiar da nova linguagem.

1. Interrogou-se a si próprio?

2. Detectou ego, dinheiro ou poder como motivações das mensagens?

3. Qual foi a sua reacção visceral à mensagem?

4. Sentiu-se mais em paz depois de receber a mensagem?

5. A mensagem soou-lhe a verdade?

Não esqueça, homem prevenido vale por dois: abra o espírito àquilo que
ouve, mas exerça prudência e discernimento. Dê tanta atenção às suas reacções
viscerais como dá ao que o seu cérebro lhe diz. Embora Deus esteja sempre presente,
há no nosso mundo muita desinformação que pode deitar imediatamente para o lixo.

103
CAPÍTULO 16

Perguntas que vale a pena fazer

COMPREENDER A DINÂMICA da nova linguagem pode torná-lo mais


consciente daquilo que Deus está a tentar dizer-lhe a respeito da paisagem em
constante mudança à sua volta e do modo como se relaciona com ela. Pode
proporcionar-lhe orientação em todas as coisas, grandes e pequenas mas também lhe
exige que faça a si mesmo uma simples pergunta que está subjacente à maior parte da
sua experiência: qual é o seu objectivo na vida?

Deus tem um plano para cada um de nós - incluindo-o a si. Peço-lhe que
sonde mais fundo o objectivo da sua vida. As seguintes perguntas são uma tentativa
de ajudá-lo a ver o que está no seu espírito e no seu Coração.

O que faria se pudesse não fazer nada?

O que é que o impede?

O seu sonho implica mais instrução?

O que gostaria de fazer é possível?

O que gostaria de fazer prejudicaria terceiros?

Está disposto a fazer sacrifícios para viver o seu sonho?

Se está satisfeito com a sua vida, que mais pode fazer? Existe uma fórmula
secreta para chegar à felicidade?

O que faria se pudesse não fazer nada?

Quando eu era um garotinho, a minha professora do terceiro ano, Mrs Cooper


disse-me uma coisa que nunca esqueci: «Albert, Deus não fez mais ninguém
exactamente igual a ti. Somos todos diferentes. E ninguém pode realizar tão bem

104
como tu o plano que Deus tem para ti.» Não sei se na altura acreditei em Mrs
Cooper, mas agora acredito. Poucos de nós acabamos por ser presidentes dos Estados
Unidos ou estrelas do rock. Nem sequer sei se muitos de nós estaríamos à altura do
desafio, ou até se quereríamos estar. A alma única que você é — com todo o seu
potencial de realização — é a dádiva de Deus para si. Tornar-se aquilo que Ele o
criou para ser — o que quer ou quem quer que isso seja

— é a sua maneira de retribuir a Deus.

Quero que escreva num papel o que deseja exactamente fazer na vida. Pode
ser idoso, ou de meia-idade, ou jovem. Nunca é demasiado tarde nem demasiado
cedo para pedir a Deus aquilo que o nosso coração deseja. Quero que guarde esse
papel debaixo da almofada e durma sobre a pergunta até receber uma resposta. Deus
responder-lhe-á. Ele é o seu Criador, mas também o seu treinador e encorajador.

Quando comecei a deixar a bebida, dormi com o que tinha escrito debaixo da
almofada durante mais de um ano. O meu papel dizia o seguinte: «Quero servir.
Deus, dá-me a sabedoria e a graça de conduzir seguindo. Torna-me capaz de
aprender com aqueles que me procuram em busca de orientação, como eu sou levado
pela abertura deles a descobrir o caminho que lhes traçaste.»

O resultado foi que Deus fez arrancar a minha vida como conselheiro
espiritual daqueles que precisaram da minha ajuda. Eu não sabia exactamente o que
queria fazer, mas Deus sabia. E porque eu o desejava, o Seu plano foi-me revelado
através de outros.

O que o impede?

O medo sempre foi o grande obstáculo ao crescimento espiritual, e cada um


de nós é responsável pelas suas próprias barreiras. Dizia-se, nos grupos de
reabilitação, que o medo é uma prova falsa que aparenta ser verdadeira. A definição
parece-me excelente. Quando consegui afastar as barreiras e entrei na magia e no
milagre de ir aonde Deus me conduzia, a fé levou-me a todos os lugares onde o medo
antes me impedira de entrar.

105
Como foi que ultrapassei os meus medos e, mais importante ainda, como
poderá ultrapassar os seus? Talvez lhe pareça estranho, mas vai precisar de uma
caixa. Pode ser uma caixa de sapatos, ou uma caixa de chapéus — qualquer
recipiente de cartão com não mais de vinte e cinco a trinta centímetros de
comprimento. Corte na tampa uma fenda com quinze centímetros de comprimento,
por onde possa introduzir pequenos pedaços de papel. Forre a caixa e a tampa com
papel de embrulho e marque-a com as palavras «Caixa de Deus».

Escreva um medo num pequeno pedaço de papel, dobre-o e ponha o papel na


caixa. Não seja forreta com os seus medos. Meta-os todos na caixa. E deixe-os lá
ficar. A partir de agora, deixaram de ser um problema seu; é com Deus. Se pedir a
Deus que o ajude a livrar-se deles, acredito que Ele assim fará. Pode despejar a caixa
uma vez por ano. Leia os papéis um a um, pois vai rir-se das coisas que em tempos
lhe faziam medo.

O seu sonho exige mais instrução?

Se é secretária mas gostaria de ser educadora infantil, pergunte a quem sabe o


que fazer para conseguir que isso aconteça. Se precisa de terminar o seu curso
universitário, investigue onde pode fazê-lo, inscreva-se e descubra quando começam
as aulas. Há bolsas, subsídios e empréstimos que podem tornar o seu sonho mais
simples e mais fácil de realizar.

Se passou vinte anos como contabilista mas o seu sonho era criar cavalos no
Texas, persiga-o com método e organização. Pode ser que precise de aprender os
cordelinhos com um rancheiro, mas poderá fazer seja o que for desde que seja aquilo
que Deus quer que faça.

A sua necessidade de mais instrução pode demorar uns poucos dias, não
quatro anos de licenciatura. Há seminários que ocupam um fim-de-semana, ou uma
semana, e que o ensinam a melhorar a sua vida pessoal e profissional. Por exemplo,
aqui em Sedona, um psicoterapeuta especializado em finanças conduz seminários
sobre como criar uma base económica mais agradável, aumentando a sua auto-
estima. Muitos especialistas propõem sessões de trabalho de dois dias, em que

106
ensinam a tornar mais eficaz o relacionamento com a família e com os colegas de
trabalho. E o aspecto mais fascinante destas sessões é que muitos dos instrutores
colocam Deus no centro do processo.

O que gostaria de fazer é possível?

«Oh o homem devia alcançar mais do que aquilo a que pode deitar a mão, ou
então para que serve o Céu?» Estas encorajadoras palavras de Robert Browning
acodem-me ao espírito quando considero esta questão. Romper através das paredes
que nos limitam em muitas áreas de acção é possível, mas não queira fixar a si
mesmo objectivos inatingíveis que podem deixá-lo frustrado. Digo por vezes que
gostaria de ser avançado dos Dallas Cowboys, mas tenho sessenta e quatro anos e o
treinador corria comigo à gargalhada. Uma boa amiga minha gostaria de dançar com
o American Ballet Theatre. Com quarenta e sete anos, o corpo já não lhe permitirá
esse prazer. O que quero dizer é que há coisas que estão fora do nosso alcance. A
idade é apenas um factor. Mas se quer fazer qualquer coisa que seja criativa ou que
sirva os outros, então não há limites.

Pode pintar ou escrever como passatempo? Absolutamente. Poderá ganhar a


vida a fazer qualquer dessas coisas? Para responder a esta pergunta, teria de pedir a
um profissional que lhe avaliasse o talento antes de dar o salto. Por exemplo, passar
de empregado por conta de outrem para patrão de si mesmo pode ser arriscado mas
valer a pena, se avaliar bem o que pretende fazer, chegar à conclusão de que pode
sair-se bem nessa área e decidir onde quer iniciar o seu negócio. Em suma, se fizer os
trabalhos de casa. Sente-se, analise a sua situação financeira e chegue à conclusão
racional.

Todos os bons planos são bem pensados e meticulosamente executados. Eva,


uma amiga minha de Sedona, concorreu, aos cinquenta e três anos, a um lugar de
professora na China. O processo tem-se arrastado, mas a agência governamental que
tomou conta do assunto garante-lhe que tem lugar numa das províncias. Seja o que
for que lhe digam, Eva não vai voar até à China na esperança de ter emprego quando

107
lá chegar. Tem um passaporte válido e um visto, e tomou todas as vacinas, mas vai
esperar em casa até que lhe confirmem o lugar.

O que gostaria de fazer prejudicaria terceiros?

Se é solteiro e o seu sonho é largar o emprego, vender a casa e ir para o outro


lado do mundo cultivar vegetais orgânicos, nada o impede. Mas se é casado, atascado
em contas e com uma hipoteca por pagar, é natural que queira liquidar as suas
dívidas e depois falar com a família para ver se os sonhos deles coincidem com os
seus. Quando não temos mais ninguém a considerar senão nós mesmos: somos livres
e podemos ir para onde bem entendermos. Mas uma família deve tomar uma decisão
deste tipo em conjunto, com uma noção colectiva de responsabilidade e sacrifício.

Por exemplo, de vez em quando há pais dispostos a desenraizarem-se e


mudarem-se da outra ponta do país para Nova Iorque, para que a filha possa estudar
na Juilliard, ou para Colorado Springs, para que o filho possa treinar ginástica com
um treinador olímpico. Ser capaz de ver quem Deus chama, e para o quê, é a
recompensa de aprender a escutar quando se ouve.

Está disposto a fazer sacrifícios

para viver o seu sonho?

Todas as recomendações para ir aonde Deus nos leva têm um elemento de


risco. Para poder ultrapassar as dúvidas e os medos, tem de acreditar que Deus tem
um plano para a sua vida e estar disposto a fazer a sua parte para lá chegar.

Sair daquilo que pode parecer um beco sem saída exige que saiba que
sacrifícios pode ter de fazer. Voltar à escola depois de ter tido um emprego bem pago
na publicidade exigirá um novo orçamento e desistir de uma grande quantidade de
extras. Pode ter de habituar-se a comida de refeitório depois de ter tomado gosto
pelos bons restaurantes: O seu guarda-roupa pode ter de durar até que consiga a tal
licenciatura, e as férias podem passar a consistir de piqueniques no parque local em

108
vez das praias de Maui. Fazer aquilo que sempre quis fazer por falta de fé e de meios
vale bem os sacrifícios que lhe vão ser exigidos. É possível que esteja à beira de
descobrir que as melhores coisas da vida são de borla.

Se está satisfeito com a sua vida,

que mais pode fazer?

Nem toda a gente quer ou precisa de fazer mudanças drásticas. Se está


satisfeito, talvez as coisas que são importantes na sua vida estejam a funcionar bem.
Muitos dos que procuram uma vida espiritual descobrem que as coisas começam a
encaixar nos respectivos lugares de uma forma ordenada. Aceitam a vida e a boa
sorte com naturalidade. Se é uma destas pessoas, alegre-se. Estar satisfeito com o
quinhão que lhe coube - casa, carreira, casamento e outros relacionamentos —
significa que encontrou mais cedo o desejo de Deus. Deus está constantemente a
lembrar-me: «Não me interessa onde trabalhas nem onde vives. Interessa-me como
trabalhas e como vives.»

Aprender a falar a nova linguagem não tem a ver com ficar à espera de uma
chamada, tem a ver com receber sugestões diárias que tornam a nossa vida melhor.
Alguém me disse certa vez que muitos de nós conseguem escalar montanhas,
atravessar torrentes, abrir caminho através de uma avalancha de dívidas, recuperar de
uma doença crítica e ultrapassar uma quantidade de situações impossíveis. Mas se
alguém nos lança um olhar mau, se atravessa à nossa frente no trânsito ou mina a
nossa autoconfiança com uma palavra impensada, vamo-nos abaixo. Faz sentido
esperar de Deus dicas para evitar disparates de todos os géneros. A nova linguagem
tem a ver com desenvolver uma consciência mais profundo de todas as coisas.

109
Existe uma fórmula secreta

para chegar à felicidade?

Quando ouço perguntas como esta, lembro-me do explorador Ponce de León


a procurar a fonte da juventude ou da moderna medicina a procurar a cura do cancro.

No primeiro caso, tratava-se de pura loucura, e no segundo pode tratar-se


apenas de estar a procurar nos lugares errados. Será possível que a solução para
encontrar a felicidade tenha nascido connosco? Será possível que a juventude eterna
seja um estado de espírito? Terá Deus enterrado dentro de nós antídotos para o que
nos aflige — na esperança de que partamos à procura do que está perdido?

Encontraremos as respostas a estas perguntas silenciando os barulhos que nos


impedem de ouvir a nova linguagem.

Cada um chega ao seu próprio despertar a seu próprio tempo. Aprendi isto há
anos, quando estava numa reunião de reabilitação alcoólica com vários outros recém-
chegados. O orador era um tenente da Marinha que, achava eu, encarava o
alcoolismo com demasiada leviandade. Ria enquanto falava — era capaz de
encontrar humor em tudo. Sendo do género mais sério, pensei que o tenente estava a
ser pateta. «Este homem parece não perceber quanto esta doença é terrível», disse
para mim mesmo.

Quando acabou de falar, dirigi-me a ele e disse-lhe exactamente o que


pensava da sua exposição.

- Albert Einstein todos os dias atava os atacadores dos sapatos de uma


maneira diferente. Vou fazer-lhe uma sugestão, meu caro. Da próxima vez que me
encontrar, faça-me rir.

Foi o melhor conselho que me deram durante o período de reabilitação. Não


levar os outros nem a mim mesmo demasiado a sério contribuiu mais para a minha
cura do que qualquer outra coisa.

Se quer saber onde mora a felicidade, reconheça que é dentro de si. Se quer
saber como nadar nas suas águas curadoras, remova o negativo da sua vida. Da

110
próxima vez que se sentir frustrado ao procurar uma mensagem em todos os lugares
que lhe sugeri, veja o humor que há em tudo e dê uma boa gargalhada.

111
CAPÍTULO 17

O que significa rezar

SONDRA CRESCEU em Los Angeles, onde frequentava a Sacred Heart


Catholic Church e onde completou o secundário na Saint Xavier High School.
Rezava a ave-maria todos os dias, decorou centenas de orações e era uma seguidora
ferrenha da liturgia e das regras do catecismo. No entanto, quando o filho de três
anos caiu na piscina e quase se afogou, Sondra embalou-o nos braços e gritou:
«Deus, por favor, ajuda-me. Por favor, salva o Jason.» E enquanto rezava embalava o
filho para trás e para a frente, batendo-lhe nas costas. Minutos depois, Jason
começou a tossir, cuspindo a água e gritando: «Mamã! Mamã!»

Leigh estava desempregado havia três meses. Em busca de respostas para o


seu dilema, costumava dar longos passeios pelos bosques, deixando o espírito
divagar num fluxo aleatório de consciência. «Num canal da minha cabeça» explicou
certa vez, «ouvia-me a mim mesmo perguntar, “que posso eu fazer?” As minhas
preocupações vinham à superfície e eu lembrava de que a economia estava má e o
desemprego era elevado. Num outro canal, recebia por vezes mensagens do género:

“Vai acabar tudo bem. Tem fé. Segue em frente.” Este encorajamento levou-
me a enviar os curricula vitae que tinha em cima da secretária.

Embora usando abordagens diferentes, Sondra e Leigh estavam ambos a


rezar. Sondra falou a Deus com palavras suas a respeito das suas necessidades, em
vez de seguir o ritual preestabelecido para chamar a atenção divina. Leigh tinha
aprendido a sintonizar-se com as conversas que decorriam dentro da sua cabeça,
confiando saber distinguir entre as mensagens de Deus e as ideias espontâneas
nascidas do seu próprio espírito e da nossa cultura baseada no medo.

No nosso mundo moderno, a definição de oração depende de a quem se


pergunta. Segundo o America Heritage Dictionary of the Englísh Language, a oração

112
é «uma petição reverente feita a Deus». O médico Larry Dossey, ex-director de
serviços do Humana Medical City Dallas, escreve no seu livro Healing Words: The
Power of Prayer and The Practice of Medicine que «as duas formas mais comuns de
oração são a petição, em que o orante pede qualquer coisa para si mesmo, e a
intercessão, em que pede qualquer coisa para terceiros». Dossey distingue ainda «as
orações de confissão que envolvem arrependimento pelo mal feito e o pedido de
perdão; de lamentação, em que o orante clama a sua dor e pede vindicação; de
adoração, em que honra e venera; de invocação, em que pede a presença do Todo-
Poderoso, e de graças, em que agradece».

A teóloga Ann Ulanov e o professor Barry Ulanov afirmam no seu livro


Primary Speech: A Psychology of Prayer que a oração é a mais importante e
fundamental das linguagens humanas. «A oração começa sem palavras e muitas
vezes termina sem palavras. A oração funciona por vezes através de sinais e
símbolos, espreita quando deve, salta quando pode, tem vários tipos de lógica à sua
disposição.»

Se é um pouco como eu, saber que há mais do que uma maneira de rezar há-
de parecer-lhe uma coisa boa. As orações decoradas dão-me por vezes uma sensação
mais de obrigação do que de sinceridade. Os meus melhores momentos com Deus
são quando rezo na linguagem mais directa que conheço. Além disso, quando me
abeiro de Deus com a inocência de uma criança, a minha disponibilidade para ouvir é
maior.

Para lá das definições de oração que vêm nos dicionários, ou até das de Larry
Dossey ou de Ann e Barry Ulanov, acabei por aceitar uma outra muito mais
abrangente. Convido-o a considerar que pensar e rezar são uma e a mesma coisa —
impulsos de energia que formam linhas de força através das quais as nossas intenções
são transportadas até Deus e ao universo. Manter o silêncio durante a meditação pode
aquietar-me a mente e estabelecer uma hora para rezar pode reforçar o meu hábito de
tentar falar com Deus de uma maneira deliberada, mas, na sua acepção mais lata,
rezar não tem princípio nem fim. Sempre que estou a pensar, estou também a rezar.

113
Na medida em que transmitem as minhas emoções, desejos e intenções, os
meus pensamentos são orações.

A oração não é apenas uma forma clássica de súplica. Em muitas religiões


ocidentais, Deus é considerado uma força exterior a que endereçamos as nossas
preces, em relação às quais pode, ou não, fazer qualquer coisa. Acho que este
conceito de Deus e da oração rebaixa a natureza humana. Oração é tudo o que
pensamos. Os nossos pensamentos, sentimentos, aspirações, sonhos e intenções —
involuntários ou intencionais — pertencem à categoria da oração.

Comparei a oração a energia a correr por linhas de força, acredito que cada
um de nós existe numa espécie de campo de forças eléctrico criado pelos nossos
pensamentos. Se os nossos pensamentos emanam de egos inchados, narcisismo,
impulsos e emoções negativos, geramos estática e interferência que pode bloquear a
recepção da voz de Deus. Para manter em boas condições as linhas de comunicação
telepática com Deus, precisamos de ter pensamentos positivos e construtivos. No
capítulo 6, falámos de eliminar a estática que se acumulou durante a nossa infância.
À medida que avançamos, a oração pode ser a melhor maneira de nos mantermos
alinhados com quem realmente somos e com aquilo que Deus nos criou para fazer.

Quando se começa a rezar e a meditar, é benéfico dispor de algumas orações


familiares e destinar um certo tempo todos os dias a treinar o acto de aquietar a
mente. As rotinas regulares são úteis para os principiantes. Mas praticar o
pensamento e a oração é muito parecido com tirar as rodinhas da bicicleta quando já
sabemos andar. Quanto mais tempo rezamos, mais depressa podemos afastar-nos do
regime de instrução e fazer aquilo que funciona melhor para nós. A minha
experiência com clientes diz-me que cada vez mais pessoas querem usar o seu
próprio método e sentem a necessidade de se libertarem da rigidez da igreja, templo
ou mesquita da sua infância.

Encorajar a oração como cada pensamento

Segue-se uma lista dos diversos tipos de oração, para o ajudar a começar:

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1. Há orações de petição: pedimos qualquer coisa para nós mesmos. Jolene
rezava por um emprego que lhe permitisse alimentar os filhos e a si mesma. Havia
quem considerasse as suas orações egoístas, mas ela sabia que devia pedir à
verdadeira fonte de todas as coisas: Deus.

2. Há orações de intercessão: pedimos qualquer coisa para terceiros. O


Conselho Mundial das Igrejas rezava pela paz na Terra e pela tolerância religiosa.
Onde o homem fora incapaz de estabelecer a paz, Deus podia juntar as nações —
podia intervir a favor da humanidade.

3. Há orações de confissão: Mark rezava porque magoara fisicamente os


filhos e fora infiel à mulher. A sua admissão numa oração de confissão permitiu-lhe
procurar conselho e modificar o seu comportamento.

4. Há orações de lamentação. Simon lamentava os seus actos impensados de


maldade. Quanto mais rezava, menos cruel era o seu comportamento para com os
outros. A sua oração de lamentação era uma forma de recordar que Deus podia
suavizar-lhe o coração, abri-lo à mudança.

5. Há orações de adoração. Ansel orava a pedir capacidade de aprofundar o


seu amor por Deus. Quanto mais sentia o êxtase do relacionamento, mais forte era a
sua resolução de fazer a vontade de Deus.

6. Há orações de invocação. Allyson rezava diariamente: «Deus, concede-me


serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para mudar as
que posso e sabedoria para reconhecer a diferença.» Invocava a paz de Deus para a
sua vida.

7. Há oraçôes de graças. A prece diária de John à mesa do jantar era: «Deus,


abençoa esta comida para alimento dos nossos corpos e os nossos corpos para
aqueles que servem. Estamos-te gratos por tudo o que ofereces. Ámen.»

Desde o tempo em que a oração e a meditação se tornaram para mim um


hábito diário, acabei por compreender que a oração é um comentário constante
dirigido a Deus e aos meus semelhantes, e inclui todas as coisas que me preocupam.

115
O diálogo é muitas vezes silencioso e decorre dentro da minha cabeça.
Noutras ocasiões, falo em voz alta. Não importa. Deus consegue ouvir-me tão bem
no ribombar do silêncio como quando me pronuncio em alta voz no meio de um
grupo. Do que me libertei foi da necessidade de impressioná-lo com técnicas de
invocação. Concordo com o homem que disse que a mais poderosa oração jamais
dita foi «Deus. ajuda-me!»

À medida que se for apercebendo mais claramente de que toda a consciência


é oração, observe com atenção todos os pensamentos que lhe passam pela cabeça.

Em que consiste o seu processo mental? É cheio de optimismo, alegria e


expectativas positivas, ou os seus pensamentos reflectem pessimismo, preocupação,
medo, inveja e ressentimento? Deseja intimamente mal ou procura vingança contra
terceiros? Se sim, então acredito que reza para que aconteça mal a alguém. Os
pensamentos de vingança são orações mal intencionadas. São impulsos de energia
que nos cercam de estática — pior, podem causar danos.

Há homens sábios para os quais a única oração verdadeiramente atendida é


«faça-se a tua vontade, não a minha.» Uma tal oração reconhece que Deus sabe
melhor do que ninguém como reconciliar tudo. De todos os modos, salvaguarde
sempre o seu processo mental. Evite os pensamentos negativos, maldosos, e
mantenha o seu fluxo mental o mais em cima possível. Não se esqueça de pedir ajuda
a Deus.

É o impulso da oração e o seu contínuo nas nossas vidas quotidianas que nos
purga do egoísmo e da indisponibilidade para ouvir quando Deus nos fala. Continue
a cuidar de si com orações enquanto procura a orientação de Deus na sua vida.

116
CAPÍTULO 18

Seja feita a Tua vontade

QUANDO, AOS DEZOITO ANOS o filho caiu em coma em consequência de


um acidente de viação, Jocelyn organizou várias vigílias de oração por toda a cidade.
O locutor de uma rádio local soube do caso, e os pedidos a Deus pela recuperação do
rapaz dispararam por aí acima. Até as crianças participaram, lavando carros para
juntar o dinheiro necessário para fazer face às despesas médicas. Todos aqueles a
quem a tragédia comovia pareciam estar a juntar-se para pedir a Deus que deixasse
Gary viver. Mas, ao cabo de três semanas de luta heróica, Gary morreu.

Quando a minha mãe, com oitenta anos, jazia às portas da morte na unidade
de cuidados intensivos do Saint Vincent’s Hospital, sentei-me ao lado dela, peguei-
lhe na mão, beijei-lhe a face e acariciei-lhe os cabelos brancos de neve. Apesar de ela
ter tido uma trombose e não conseguir falar, falei-lhe eu dos inúmeros incidentes
cheios de humor que tinham pontuado os nossos anos juntos e até cantei algumas das
suas canções preferidas. Nos meus momentos privados, pedi a Deus, com grande
fervor, que lhe poupasse a vida, que nos deixasse partilhar mais algum tempo. Mas às
três da madrugada de um sábado de Março, senti que o espírito dela abandonava o
corpo.

O desejo de conservar os nossos entes queridos o mais tempo possível é


universal. Toda a gente tem uma história de uma vida ceifada demasiado cedo. Mas,
muitas vezes, a morte é o caminho menos doloroso que uma doença pode tomar. Se a
minha mãe tivesse vivido, era pouco provável, disseram os médicos, que voltasse a
recuperar a consciência. Conhecendo-a e ao seu inabalável sentido da dignidade,
sabia que uma vida assim não seria o que ela teria escolhido.

É da natureza humana rezar para que alguém vença uma doença ou sobreviva
a um acidente. Todos nós queremos ouvir essas palavras mágicas, «está tudo bem»

117
ou «vai viver». Quem quer enfrentar os piores cenários que a vida tem para oferecer?
Quem quer deixar tudo nas mãos de Deus se é possível alterar o resultado com uma
avalancha de orações? Gary tinha apenas dezoito anos. Uma vida inteira à sua frente.
Ser indiferente ao desfecho do acidente de Gary — quer ele vivesse ou morresse —
era impensável e contra natura para a família e amigos. Quando a minha mãe morreu,
a morte dela foi mais fácil de aceitar porque já tinha oitenta anos. Mas mesmo assim
rezei para que vivesse.

Religiosidade

Ao discutir a oração no seu livro Healing Words, Larry Dossey diz que certas
pessoas «vivem com um sentido profundamente interiorizado do sagrado a que se
poderia chamar religiosidade, a sensação de estar simplesmente sintonizado ou
alinhado com algo mais elevado». Religiosidade é «aceitar sem ser passivo, estar
grato sem desistir. É estar mais disposto a vive no mistério, a tolerar a ambiguidade e
o desconhecido. Honra a justeza de tudo o que acontece, inclusive o cancro». Acha
Dossey que muitos de nós tentamos «dizer a Deus o que fazer» nas nossas preces de
intercessão, como nas ocasiões em que Lhe pedimos que deixe Gary viver, ou que
conceda à minha mãe um pouco mais de tempo.

Na minha vida como orante, comecei gradualmente a usar as palavras «seja


feita a Tua vontade». É a minha maneira de dizer a Deus que Ele sabe melhor do que
eu o que fazer. Não estou a sugerir que não reze à sua maneira, ou que não peça um
resultado específico, se é esse o caminho que sente como mais natural. Tudo na vida
é um processo, não uma fórmula. Nem estou a dizer que deve rezar em vez de tomar
medidas razoáveis que possam remediar a sua situação, especialmente em casos
médicos. Recorde que Larry Dossey fala de «aceitar sem ser passivo [o itálico é
meu]». Concordo. Não advogo uma dependência fatalista exclusivamente das
orações.

Apesar de rezarmos e procurarmos a orientação divina, as medidas que


tomamos ou as que declinamos são uma escolha que nos cabe. Cada um de nós

118
governa a sua própria vida. Governar é escolher, O livre arbítrio tem como corolário
a obrigação da responsabilidade pessoal. Haverá inegavelmente alturas em que
seremos chamados a exercer o direito à vontade para resolver uma emergência ou
uma crise. Podemos pedir a Deus que nos oriente nessas situações, mas a
responsabilidade de escolher entre agir e não agir é nossa e só nossa.

Por exemplo, li recentemente a história de um homem da Califórnia que


estava em coma havia mais de dez anos, incapaz de ver, de ouvir, de falar ou de
alimentar-se — estava em coma profundo, sem esperanças de voltar a viver sem
cuidados permanentes, vinte e quatro horas por dia. A mulher optou por mandar
desligar os apoios de vida, e um juiz sancionou esta decisão. A mulher não esperou
que ele morresse de morte natural; em vez disso, preferiu libertá-lo das grilhetas de
uma morte em vida. Em casos como este, usar o nosso livre arbítrio parece-me
apropriado.

Viver a vida nas condições que a vida impõe

Há alturas em que rezar por um desfecho específico — e obtê-lo - pode


revelar-se mais difícil a longo prazo. Voltemos por um instante a Gary.

Acha que se os familiares e amigos de Gary soubessem que se ele


sobrevivesse ficaria em coma permanente talvez tivessem rezado: «Faça-se a Tua
vontade, e não e minha»? Rezar pela vontade de Deus também nos prepara para rezar
a pedir ajuda para suportar o que se seguir.

Anda hoje por aí o conceito erróneo de que a doença e os acidentes implicam


insuficiências espirituais. Segundo esta maneira de pensar, uma pessoa adoece
porque de algum modo não era completa, ou suficientemente apta, ou
suficientemente boa. Nada poderia estar mais longe da verdade. Assentemos desde
já, portanto, em que se alguém morre, não é por estar a ser punido. Talvez viver
tivesse sido uma punção. Ou talvez o sacrifício da sua vida sirva um propósito mais
elevado.

119
Por exemplo, Ângela era uma menina de três anos que desapareceu sem
deixar rasto do seu quintal em Miami. Apesar de os pais terem tentado tudo —
incluindo a oração — para encontrar a filha, a criança não foi descoberta ao cabo de
três anos de buscas. Apesar de todos terem rezado pelo seu regresso são e salva, estas
orações não foram atendidas. Como lidou a mãe de Ângela com tamanho desgosto?
Iniciou um programa destinado a consciencializar ainda mais as mães das minorias e
as pessoas encarregadas de cuidar de crianças da importância de saber a todo o
momento onde elas estão, e criou uma linha de emergência para ajudar a procurar
crianças desaparecidas. É possível que, graças ao desaparecimento de Ângela,
tenham sido salvas as vidas de milhares de outras crianças.

Outro exemplo é John Walsh, produtor e apresentador do programa America’s


Most Wanted, da Fox TV. Walsh era pai de um menino de seis anos que foi raptado e
assassinado. O modo que Walsh encontrou para lidar com a perda do filho foi criar
um programa de televisão em que mostra as fotografias e as histórias de criminosos
procurados pela Polícia. Em entrevistas, fala sempre de quanto sente a falta do filho,
mas que venceu o desgosto ajudando outros pais cujos filhos desapareceram ou
foram mortos a ver os assassinos serem levados perante a justiça.

Muitas pessoas descobriram os poderes curativos de servir os outros face à


tragédia e à morte. Não é apenas uma maneira de enfrentar, é também uma
oportunidade de fazer com que algo de positivo resulte de circunstâncias trágicas.
Não estou a sugerir que haja qualquer coisa para compensar a morte de um filho ou
seja de quem for, mas a dor e o sofrimento abrem muitas vezes a porta a uma nova
vida e a tremendas possibilidades. Criar uma organização ou um veículo para ajudar
outras pessoas em situações iguais pode ser um poderoso antídoto contra a dor, o
desgosto e a perda.

Ninguém sabe porque é que as coisas acontecem como acontecem. Não há


homem sábio ou profeta capaz de compreender qual é o desígnio de Deus numa
qualquer crise, mas, passado algum tempo, alguém como John Walsh encontra uma
maneira de fazer com que o conjunto da sociedade beneficie da sua tragédia pessoal.

120
Ser capaz de viver a vida nas condições que a vida impõe pode ajudar-nos a
encontrar nos registos mais profundos da nossa alma aceitação face aos
acontecimentos mais terríveis da nossa existência. Tentar perceber porque foi que
uma coisa aconteceu ou rezar a Deus para que nos dê aquilo que queremos pode
bloquear o plano infinito do Criador. Por muito duro que seja, há grandes vantagens
em deixar que as coisas sejam reveladas. Já discutimos a impotência no capítulo 3 e
o ego confrontado no capítulo 4. Se nos confiamos verdadeiramente à vontade de
Deus, temos de aceitar o que Ele nos dá e o que Ele nos tira quando não temos
controlo sobre a situação. Acredito firmemente que Ele nunca nos impõe mais do que
aquilo que conseguimos aguentar.

Enquanto escrevia este capítulo, telefonou-me um amigo, chamado Bob, ex-


padre católico de Las Vegas que casou há dez anos com uma mulher chamada Sarah.
Disse-me que Sarah tinha o que parecia ser um cancro do cólon em fase terminal e
lhe fora retirada uma parte do fígado. O oncologista disse a Bob que não restavam à
mulher mais do que algumas semanas de vida. Mas Deus tinha outros planos.
Rezando constantemente, os amigos invocaram o mais alto poder para curar Sarah,
se fosse essa a vontade de Deus. Contou-me Bob que, numa questão de dias, Sarah
começou por sentir um calor e então, de repente, a dor desaparecia. Estava não só em
remissão, como convencida de que fora curada pelo poder da oração.

Nem todas as orações de petição têm a ver com questões de vida ou de morte.
Por vezes, as pessoas rezam a pedir coisas tão simples como uma nova casa, ou
segurança no emprego. Agnes pedia que o irmão, Jack, não fosse despedido em
consequência do «emagrecimento» da empresa onde trabalhava. As suas orações não
inverteram a maré a favor de Jack, que foi despedido sem indemnização. E ele,
vergou a espinha e armou-se em vítima? Culpou Deus pelas orações goradas de
Agnes? A resposta a ambas as perguntas é não. Arregaçou as mangas e criou a sua
própria empresa. Aconteceu isto há sete anos. Hoje, é um homem rico que faz aquilo
de que gosta. Agnes rezou a pedir uma coisa específica para o irmão, mas Deus tinha
em mente algo diferente.

121
Se confiar as suas preocupações a Deus e rezar para que Ele lhe oriente os
passos, acredito que a sua vida correrá exactamente como Deus a planeou. Procure o
desfecho sem convidar Deus a participar no processo, e talvez lamente o dia em que
quis fazer o papel d’Ele.

Actualmente, começo e acabo todas as minhas orações com «seja feita a Tua
vontade, não a minha». E, aconteça o que acontecer, sei que pedi que fosse feita a
vontade de Deus em todos os meus assuntos, faça eu o que fizer ou tome as decisões
que tomar.

Vamos rever como podemos tirar o maior partido possível das nossas orações
de petição em tempo de doença ou de morte.

1. Quando a tragédia nos atinge, pedir ajuda a Deus para suportar o fardo da
dor ou da perda.

2. Se possível, pôr de lado as expectativas e os desfechos quando pedimos


ajuda a Deus; rezar simplesmente para que nos seja concedida sabedoria e orientação
e que a vontade de Deus seja feita.

3. Procurar o lado bom de todas as coisas, especialmente em casos de tragédia


e morte.

4. Pedir a Deus que faça o que é melhor e não o que nós ou os outros
desejamos, sempre que possível.

5. Pedir que o milagre só aconteça se for essa a vontade de Deus.

122
III PARTE

Melhorar a recepção da nova linguagem

NA I PARTE, contei-lhe a história da minha transformação. Na II Parte,


defini e explorei a nova linguagem. Agora é a sua vez. Nesta III Parte, proponho-lhe
exercícios e ferramentas para ajudá-lo a eliminar a interferência e a estática que o
impedem de ser a pessoa que estava destinado a ser. Este processo, que serve de base
ao Sedona Intensive, tem cinco estádios:

Primeiro estádio: meditação — aquietar a mente

1. Técnicas e exercícios

Segundo estádio: deflacionar o ego

1. Expor dependências e comportamentos compulsivos

2. Conselhos e exercícios

Terceiro estádio: expor os padrões familiares

1. Explicar o secretismo, o favoritismo, o narcisismo, a rejeição e a


manipulação por parte dos adultos, incluindo a violência física, o abuso sexual e o
abandono

2. Conselhos e exercícios

Quarto estádio: recordar quem realmente é

1. Tornar-se autêntico

2. Lidar com as projecções parentais

3. Curar o eu defendido

4. Reclamar partes perdidas e enterradas de si mesmo

123
Quinto estádio: praticar o perdão

1. Lidar com a ira e a raiva

2. Identificar e transformar as emoções negras

3. Compreender o poder do agora

4. Escrever cartas de perdão

124
CAPÍTULO 19

Agora é a sua vez

de aquietar a mente e meditar

MUITAS PESSOAS não têm uma compreensão muito clara do que é


exactamente meditar. Posto de uma maneira muito simples meditar é focar a mente
de modo a aumentar a nossa capacidade de reflectir ou ponderar sobre qualquer
coisa. Para o fazer com eficácia, é antes de mais nada preciso aprender a aquietar a
mente.

Preparação para a meditação

Primeira fase

A maior parte das pessoas precisa de aprender técnicas para aquietar a mente.
Em vez de forçar-se a meditar sem qualquer preparação, sugiro que se sente
tranquilamente no escuro uns poucos minutos todos os dias durante uma semana,
para acalmar. Sente-se direito numa cadeira, com os pés apoiados no chão. Se
preferir, aumente o efeito usando uma venda para tapar a luz. Outra maneira de criar
uma atmosfera pré-meditativa é ouvir música suave.

A primeira vez que tentar aquietar a mente, é possível que se sinta agitado e
que o seu espírito se ponha a divagar. Não se pressione. Não há calendário para o
êxito. Certas pessoas demoram mais tempo do que outras a relaxar. A mente está
habituada a agitação e distracções; o budismo zen refere-se a este tipo de actividade
mental frenética como mente de macaco.

Há duas abordagens que sugiro aos principiantes que estão a tentar aquietar a
mente. Pode imaginar uma luz branca ou, se preferir, ver uma vela branca a arder. Se

125
optar pela imaginação, visione uma luz branca. Pode ser a chama de uma vela ou
uma luz informe e sem cor. Se queimar uma vela, fixe os olhos na chama até sentir as
pálpebras começarem a fechar-se. Este exercício ajuda-o a aquietar a mente e a focar-
se numa coisa. Impede que pensamentos aleatórios lhe invadam o espírito e o façam
divagar.

Se começar a sentir-se inquieto, interrompa o exercício. Anote, no entanto,


qualquer progresso que tenha feito enquanto esteve sentado no escuro. Sentiu-se
mais relaxado? Houve alguma mudança assinalável no seu nível de tensão? Se sim,
teve um bom começo na sua preparação para a meditação.

Se possível, faça este exercício à mesma hora todos os dias. Quantas mais
vezes se sentar em silêncio no escuro, mais depressa a sua mente parará de tagarelar
e permitirá que o processo funcione.

Ao princípio, se quiser, não faça mais nada senão ficar sentado a ouvir música
e a ver a vela arder. Saberá quando passar à segunda fase da aprendizagem da
meditação.

Uma sugestão para ajudar a medir a mudança dos níveis de relaxação é


manter um registo do tempo que é capaz de ficar sentado em silêncio, da hora a que
faz o exercício e das músicas que escolhe bem como de quais foram os seus
pensamentos durante o processo. Inclua no seu diário uma observação sobre como se
sentia no fim de cada sessão. Por exemplo, talvez note que é capaz de lidar com
conversas difíceis com mais calma. O aspecto reflexivo de aquietar a mente ajuda-
nos a pensar antes de falar quando queremos comunicar com terceiros.

Alguns estudantes permanecem nesta primeira fase durante meses. Não se


impaciente. Está a aprender e a viagem pode ser longa, mas será compensadora.

Aqui fica uma revisão dos principais pontos da primeira fase da preparação
para a meditação.

1. Escolha um local escuro e silencioso.

2. Use uma venda para tapar a luz (opcional).

126
3. Sente-se direito numa cadeira com os pés apoiados no chão.

4. Ouça uma música suave.

5. Imagine uma luz branca ou olhe fixamente para a chama de uma vela.

6. Se começar a sentir-se inquieto, interrompa o exercício.

7. Mantenha um registo do tempo passado a praticar e de como se sente.

8. Tente fazer o exercício à mesma hora todos os dias.

Segunda fase

A segunda fase da preparação para a meditação é a respiração abdominal.


Com os exercícios que se seguem vai desenvolver um ritmo para a sua respiração,
assim como uma maior consciência da própria respiração. Antes de começar, vista
roupas largas e tire o cinto ou qualquer outra coisa que lhe aperte a cintura. Não
queremos nada que impeça a respiração. Descalce também os sapatos.

Numa sala obscurecida, sente-se direito numa cadeira, com os pés apoiados
no chão. Feche os olhos. Sente-se o mais direito possível.

Inspire profundamente pelo nariz.., retenha o ar... expire lentamente pela


boca. Respire como normalmente faz durante alguns segundos. Então.., inspire
profundamente pelo nariz.., retenha o ar um pouco mais de tempo... expire pela boca.
A cada expiração, repare no movimento do peito e aperceba-se do seu padrão
respiratório.

Inspire lentamente pelo nariz.., aguente... deixe o ar sair suavemente.


Inspire.., expire pela boca, As suas pálpebras vão começar a tornar-se pesadas, o
queixo a descair. Continue a respirar. Desligue... relaxe.

Respirar profundamente a partir do plexo solar aumenta o fluxo positivo de


energia através de todo o corpo. A respiração superficial inibe este processo. Para
controlar a profundidade da sua respiração, pouse suavemente uma mão no abdómen
e sinta-o expandir-se e contrair-se.

127
Fazer exercícios respiratórios será um passo de gigante no caminho da
meditação. Persistência e rotina conduzirão a um maior êxito à medida que continuar
a aprender. Pratique à mesma hora todos os dias, e não se esqueça de manter um
diário.

Lembre-se de interromper os exercícios respiratórios se começar a sentir-se


agitado. Não queremos que se esforce nem que se obrigue a respirar para lá dos seus
limites. Forçar só servirá para levá-lo a desistir do processo.

Alguns principiantes adormecem. Para evitar isto, planeie as suas sessões


para uma altura em que esteja bem repousado. Seja persistente na criação de bons
hábitos respiratórios.

Aqui fica uma revisão dos principais pontos da segunda fase da preparação
para a meditação.

1. Escolha um local escuro e silencioso.

2. Sente-se direito numa cadeira, com os pés apoiados no chão.

3. Use roupas soltas.

4. Descalce os sapatos.

5. Certifique-se de que está relaxado antes de iniciar o exercício respiratório.

6. Estabeleça um ritmo respiratório calmo e fluido.

7. Pouse suavemente uma mão no abdómen e sinta-o expandir-se e contrair-


se.

8. Se sentir que está a dormitar, acorde e interrompa o exercício.

9. Faça os seus exercícios diariamente e à mesma hora.

10. Mantenha um registo das suas observações e progressos.

128
Meditação

Depois de uma prática consistente dos dois exercícios preparatórios, estará


finalmente pronto para a meditação. Prepare-se aquietando a sua mente num local
obscurecido e silencioso e praticando a respiração abdominal. Quando sentir que a
sua mente está calma e que está pronto para entrar no estado meditativo, use o
seguinte pequeno exercício de meditação para aclimatar-se ao processo. Talvez
queira gravar as palavras e reproduzi-las depois num walkman. Ou talvez prefira
dizer as suas próprias palavras silenciosamente, na cabeça. O objectivo das palavras,
sejam gravadas ou ditas silenciosamente, é ajudar a mente a isolar-se de todas as
distracções e centrar-se num pensamento.

Vou revelar-lhe a minha meditação curta preferida, mas poderá usar a que
melhor se adeqúe à sua tradição espiritual. Pode ser um simples «Deus, ouve a minha
prece». Em seguida, poderá recitar um poema de que goste muito, ou uma passagem
que o tenha inspirado. Recorde que o objectivo do exercício é ajudá-lo a aquietar a
mente, contemplar uma única ideia, e eventualmente ouvir Deus quando Ele lhe falar.
O exercício pode durar não mais de três minutos.

Meditação curativa carta

Rogamos à Infinita Inteligência de Deus que ponha a Luz Branca da


Protecção à nossa volta. Consente que só o Mais Alto e o Melhor cheguem até nós.
Porque pedimos em Nome do Pai-Nosso que estais nos Céus; santificado seja o
Vosso nome. Venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na Terra
como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, e perdoai-nos as nossas ofensas
como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Não nos deixeis cair em tentação
mas livrai-nos do mal. Porque Vosso é o reino e o poder e a glória para sempre.
Amen.

129
Continue sentado de olhos fechados quando decidir terminar a meditação. Se
estiver a usar uma fita gravada, fique sentado até a meditação chegar ao fim.
Mantenha a mente limpa.

Vou agora fazer-te sair da meditação. Deves sentir-te relaxado e repousado.


Quando contar até três, abrirás os olhos e sentir-te-ás bem desperto e alerta. Um.
Dois. Três. Bem desperto. Volta para junto de nós.

O grande valor da meditação é o efeito residual que nos acompanha ao longo


do dia de trabalho. A meditação é um exercício de limpeza que nos permite funcionar
melhor em todas as áreas da nossa vida. Lembre-se, o importante não é a quantidade
de tempo que passa a meditar; o que conta é o nível de relaxação e a qualidade da
meditação.

Quando se sentir à vontade com a meditação de três minutos, poderá passar


para os dez minutos. Tendo em conta o aumento do tempo, sugiro que grave três
vezes seguidas as palavras acima e as reproduza num walkman enquanto está sentado
em silêncio, ou então use uma fita de meditação preexistente. Cuidado: nunca use
fitas de meditação enquanto conduz. Ouça-as apenas no conforto da sua casa ou do
seu escritório.

Segue-se uma meditação que escrevi e que tenho vindo a usar no Sedona
Intensive desde há muitos anos. Se gostar, grave-a e utilize-a. Continue a fazer a sua
respiração abdominal.

Meditação curativa não confessional de dez minutos

Os teus dedos dos pés estão relaxados e curados. Os teus tornozelos estão
relaxados e curados. Sentes-te tão relaxado e tão curado. Os teus joelhos estão
relaxados e curados. As tuas coxas estão relaxadas e curadas. As tuas nádegas estão

130
relaxadas e curadas. Da cintura para baixo, sentes-te tão relaxado e tão curado.
Desligado. Está neste momento.

Os teus órgãos internos estão relaxados e curados. O teu esterno está


relaxado e curado. A tua coluna está relaxada e curada. Sentes-te tão relaxado, Um
pouco sonolento. Não vais adormecer... apenas desligar todos os sons exteriores. O
teu coração está relaxado e curado. As tuas costas estão relaxadas e curadas. Os
teus braços e as tuas mãos estão relaxados e curados. Do pescoço para baixo,
sentes-te tão relaxado, tão curado, e o teu corpo começa a formigar... a ficar leve.. a
desligar

A tua garganta está relaxada e curada. A tua boca está relaxada e curada.

Os teus ouvidos estão relaxados e curados, os teus olhos estão relaxados e


curados. Todo o teu corpo está a sentir-se tão relaxado, tão curado. O teu corpo
sente-se leve e uma sensação de formigueiro percorre-o todo. Largar. Relaxar.

Uma poderosa luz branca entra pelo alto da tua cabeça, inundando a
cavidade do teu rosto, descendo-te pelo peito até à cintura, até às ancas. Descendo
pelas pernas, a luz branca jorra do dedo do teu pé direito e um poderoso cordão de
luz brilhante começa a envolver todo o teu corpo.

De fora para dentro, de dentro para fora, o teu corpo está tão relaxado, tão
curado, e nada pode fazer-te mal. Estás dentro de um poderoso casulo de protecção.
Relaxa.

O teu corpo começa a flutua como se fosses um gigantesco balão. Uma


ligeira brisa começa a levantar-te, a fazer-te passar através do tecto; flutuas e
derivas cada vez mais alto no céu. Olhando para baixo, vês as casas e as árvores e
os carros e as pessoas ficarem cada vez mais pequenas. Vês como são
inconsequentes todas aquelas pessoas, lugares e coisas que tanto te preocupavam?

Desliga de tudo e de toda a gente. Subindo e flutuando cada vez mais alto no
universo de Deus, livre e seguro e curado.

131
Em breve escolherás uma nuvem e afundar-te-ás nela, como se estivesses
sentado numa cadeira ou num sofá. Ah... tão macio e relaxado. Relata. Continua a
respirar.

Desliga.

Pouco depois começa a chover suavemente. O borrifo lava as escórias do


parto da tua cura, deitando-te limpo e centrado.

Se súbito, a chuva pára e um arco-íris rasga os céus. E uma voz ribombante


diz: «Sem chuva, não pode haver arco-íris. Sem stress e confusão, não haveria razão
para nos voltarmos para Deus em busca de cura. Deus é a tua fonte e Deus tem um
plano para a tua vida. Escuta todos os dias. A voz d’Ele falar-te-á e conduzir-te-á
aonde Ele quer que vás.»

Deixe-se ficar sentado em silêncio durante cerca de cinco minutos.

Rogamos à Infinita Inteligência que mantenha a Luz Branca da Protecção à


nossa volta. Consente que só o Mais Alto e o Melhor cheguem até nós. Porque
pedimos isto em nome da verdade, do amor e da beleza, pela paz, pelo equilíbrio e
da harmonia. Amen.

É agora tempo de regressar da meditação. Rogamos a Infinita Inteligência


que mantenha a Luz Branca da Protecção à nossa volta, que continue a eliminar
todas as vibrações negativas e consinta que só o mais alto chegue até nós. Porque
pedimos em nome da verdade, do amor e da beleza, pela paz, pelo equilíbrio e pela
harmonia.

Conta silenciosamente um, dois, três. Abre os olhos. Bem desperto. Volta
para junto de nós.

132
Não se levante imediatamente após a meditação. Esteve num estado alterado.
Permita que o seu corpo e a sua mente regressem lentamente à consciência desperta.
Permaneça sentado durante mais cinco minutos.

A meditação pode restaurá-lo emocional, mental e fisicamente. A sua reacção


ao que as pessoas dizem, ao que experimenta e às piores circunstâncias da sua vida
muda para melhor.

O objectivo último da meditação diária é restabelecer a sua ligação com Deus,


permitir-lhe ouvir a Sua voz e seguir as Suas orientações. Ao cabo de um ano de
meditação, notei uma enorme diferença no meu relacionamento com Deus. As
minhas orações de petição mudaram de uma forma drástica. As minhas preces
começaram a tornar-se mais uma conversa pessoal com Deus, e a meditação passou a
ser ouvir o que Ele queria que eu fizesse da minha vida. Não tinha expectativas na
minha comunicação com Deus. Rezava para que posse feita a Sua vontade em todos
os aspectos da minha vida. Muito em breve, passei a aceitar tudo o que me acontecia
como uma expressão da vontade de Deus. Era na verdade viver a vida nas condições
que a vida impõe, algo completamente novo para mim.

Apesar de aconselhar os meus clientes a dizerem simplesmente «seja feita a


Tua vontade, não a minha», alguns rezam por coisas que parecem mundanas. Tenho
uma cliente que reza para que o seu jardim floresça todas as primaveras, para poder
abençoar as vidas dos que se detêm para cheirar o perfume das rosas. Não a censuro.
Esta oração aproxima-a de Deus, O método que usa resulta para ela.

Quando era criança, rezava: «Agora que me deito para dormir, peço a Deus
para a minha alma guardar. E se morrer antes de acordar, peço a Deus para a minha
alma levar. Deus abençoe a Mamã e o Papá e os manos e manas e todas as pessoas do
mundo que têm fome. Boa noite, Deus. Albert.»

Seja qual for a oração que rezemos sem egoísmo e com sinceridade, acredito
que Deus a ouve. Como se diz no Antigo Testamento: «O homem vê o que está
patente, mas o Senhor olha para o coração.»

133
Pontos-chave da meditação

1. Sente-se num local obscurecido e silencioso, vestindo roupas largas.


Descalce os sapatos.

2. Pratique a respiração abdominal antes de meditar.

3. Se gravar a meditação, nunca ouça a gravação enquanto conduz.

4. Inicie a prática da meditação durante três minutos, até que meditar se torne
para si fácil e natural. Passe gradualmente de três para dez minutos.

5. Adapte as técnicas e orações à sua conveniência.

6. Deixe-se ficar sentado e em silêncio durante cinco minutos depois de ter


terminado a meditação.

7. Para aumentar ao máximo os benefícios da meditação, pratique-a


diariamente e sempre à mesma hora.

Meditar com outras pessoas

Quando conseguir relaxar e meditar imune a distracções, talvez opte por fazê-
lo com amigos ou familiares. Ao princípio, porém, é preferível meditar sozinho.

A meditação em grupo permite eliminar os bloqueios à comunicação. Antes


de entrar em meditação, um moderador pode escolher um tópico. É tradição, no
Sedona Intensive, os clientes regressarem a casa e organizarem sessões de meditação
em família, tal como as famílias têm uma altura preestabelecida para discutir horários
e problemas.

Os Dalton são uma família de sete, com filhos dos cinco aos dezassete anos,
O pai e a mãe decidiram iniciar as discussões familiares permanecendo sentados em
silêncio durante cinco minutos. Pouco depois, um dos filhos, aluno do segundo ano
do terceiro ciclo, sugeriu que tocassem música. Em seguida, acrescentaram ao
esquema uma sessão de meditação guiada. Passados dois anos, os Dalton têm menos

134
confusão e discussões nas reuniões de família, porque começam por eliminar a
estática.

135
CAPÍTULO 20

Deflacionar o ego

BEN É UM ADVOGADO de trinta e dois anos, licenciado com distinção por


Harvard, casado e pai de dois filhos. Treina a equipa de futebol dos filhos, é
presidente da Associação de Pais e Professores local e foi eleito cidadão do ano na
pequena cidade do Midwest onde vive. É um cidadão-modelo — excepto quando
bate na mulher. O que faz quando passa por súbitas e negras mudanças de humor.

Olívia, de vinte e sete anos, é uma mulher extremamente atraente. No entanto,


raramente lava os cabelos e veste sempre roupas sujas. Apesar de ser uma pintora
dotada, nunca deixa ninguém ver os seus trabalhos. Quando lhe perguntam porquê,
responde:

— Ninguém acreditaria que uma coisa tão feia como eu seja capaz de pintar
belas aguarelas.

Sam é descrito pelos professores como «quase perfeito». Mas os pais,


divorciados, não são da mesma opinião.

— Come demasiado e é uma cabeça de vento – queixa-se a mãe.— E por


vezes crava as unhas na pele até fazer sangue, quando abraça alguém ao despedir-se.

Estamos perante exemplos clássicos de esquizofrenia?

Serão Ben e o jovem Sam vítimas do síndrome de Jeckyl e Hyde? Como pode
Olívia ser tão talentosa e tão doente ao mesmo tempo?

Ben, Olivia e Sam são meus clientes. Quando começámos a trabalhar juntos,
todos estavam sob o domínio hipnótico dessa parte deles que não tem consciência,
nega Deus e causa perturbações patológicas na vida de pessoas, em tudo o resto
completamente normais. Todos manifestavam características de controlo e
manipulação pelo ego. Apraz-me muito dizer que Ben, Olivia e Sam melhoraram a

136
partir do momento em que compreenderam que os seus egos podiam, como um
diabrete, arranjar problemas e até arruinar-lhes a vida.

O que é o ego?

O ego não é uma entidade demoníaca que tenha de ser destruída ou evitada
mas um aspecto valioso de nós mesmos que precisa de ser reeducado. Sem
consciência e sem limitações, o ego é a parte de nós que medeia entre o mundo e os
nossos apetites humanos naturais por alimento, amor, auto-estima, satisfação sexual,
estimulação intelectual e companhia. Os problemas surgem porque o ego, ainda que
com uma missão meritória, não tem a noção das proporções. Revela tendência para
dizer coisas do género: «Queres um biscoito? Que tal uma caixa inteira? Porquê ficar
por um copo de vinho quando podes beber todo o que conseguires engolir?» Sem o
travão da nossa natureza superior, falta ao ego a força espiritual e moral para
acrescentar equilíbrio e proporção à nossa vida, Só por isso, o ego não se
reconhecerá como parte de um todo mais vasto, que exige justiça, partilha, equilíbrio,
harmonia e comunidade.

A ideia de que o ego é a nossa parte sinistra tem sido realçada por muitas
religiões, que fazem da auto-aniquilação o objectivo do crescimento e do
desabrochar espiritual. A auto-aniquilação pode resultar para aqueles que pretendem
viver as suas vidas isolados das realidades quotidianas, nos recônditos de ashrams ou
mosteiros, mas para o resto de nós, nada poderia ser menos prático. Estamos a tentar
viver no mundo material sem deixarmos de ser entidades espirituais.

Como consegui-lo?

A resposta é com um ego que esteja em proporção com uma consciência


saudável. As primeiras técnicas que sugiro para o pôr em equilíbrio com o seu ego
são visualização e diálogo. Ajudam-no a chegar a essa parte de si que se lhe ocultou
durante a maior parte da sua ida. Enquanto você viveu no mundo e foi

137
responsabilizado pelas suas acções, o seu ego manteve-se escondido. Apesar de ter
estado na origem de tudo o que você fez, nunca foi responsabilizado porque, para
toda a gente menos para si, é silencioso e invisível.

Encorajo os meus clientes a conceptualizarem o ego não apenas como um eu


sombra, mas como um eu gémeo. São os pensamentos e as acções suas e do seu ego
que criam todas as suas qualidades negativas e positivas.

Exercício de visualização e diálogo

Comece por fechar os olhos. Imagine-se a abrir os braços como faria para
receber um amigo. Agora abrace o seu ego, o diabrete que anda a causar tantos
problemas na sua vida. Pode ver o seu ego como todos os seus defeitos e apetites
descontrolados juntos na mesma embalagem. Depois do abraço, afaste-se um pouco e
convide-o a sentar-se. Fale com ele, como se fosse uma pessoa real. Diga-lhe que não
está a querer eximir-se de culpas pelas suas dificuldades e que precisa que ele analise
consigo as suas falhas de carácter.

A conversa poderá ser qualquer coisa neste género:

Você: «Estamos metidos numa bela alhada, tu e eu. O que é que se passa?»

Ego: «Não me deram o que eu queria. Queria fazer o que queria quando
queria. Sem controlos. Sem limites. Encorajo-te a comer e a beber e a comprar o que
queres, ir aonde queres e não teres de pagar nada. Até te ensinei como tratar os outros
de modo que eles saibam quem é que manda. Qual é o problema? »

Você: «O problema é óbvio. Todos precisamos de viver em equilíbrio com a


nossa sanidade mental, para podermos ouvir a voz de Deus quando Ele nos fala. Não
estás a mencionar como eu fico cheio de medo por causa de ti, para não falar das
centenas de coisas vergonhosas que fizemos juntos. Mudar de casa a meio da noite
para fugir aos credores ou estar sempre a ter de arranjar novos amigos por que
afastámos os antigos.»

138
Ego: «Não estavas feliz com aquilo que tinhas, pois não?

Você: «Primeiro, vamos ter de acreditar que é possível mudar. Nenhuma


situação é desesperada a menos que adoptemos uma perspectiva pessimista ou
decidamos tornar-nos a eterna vítima. Segundo, Deus ajudar-nos-á, se lho pedirmos.
O universo é bom e Ele é a nossa fonte. Temos andado a enganar-nos a nós mesmos
toda a nossa vida. Agora chegou a altura de recuperar o nosso espírito.»

Ego: «E se eu não gostar de viver da maneira que estás a sugerir?»

Você: «Deus compensar-te-á.»

Ego: «Ele? Como é que sei que Ele me aceita de volta?»

Você: «Ego, se Ele me aceitou a mim, há-de aceitar-te a ti.»

Ego: Tenho medo de que só pronunciar o nome d’Ele baste para me matar. »

Você: «Eu ajudo-te. Comecemos por soletrá-lo. Vamos lá, juntos...»

Você e o Ego: «D-E-U-S. Deus.»

Este diálogo tem todas as características de uma conversa saudável com o


ego. Em primeiro lugar, é amigável. Não chegamos a parte nenhuma espancando-nos
a nós mesmos, O processo de transformação começa com auto-aceitação. Em
segundo, é eficaz. Há quem acredite que demora uma eternidade a voltar às boas
graças de Deus. E no entanto, é espantosa a velocidade a que as coisas começam a
dar a volta quando sentimos que nós e o nosso ego estamos alinhados no mesmo
propósito. Os meus clientes têm testemunhado este facto. Um deles comentava,
recentemente: «Não fazia ideia de que alguém com o meu passado pudesse sentir-se
tão livre a partir do momento em que deixei de culpar-me e mudei de
comportamento.»

Finalmente, este diálogo-exemplo entre o eu e o ego é transformativo.


Quando chega a um verdadeiro entendimento com o ego, a maior parte das pessoas
experimenta uma vitória. Chegar a um entendimento honesto com o seu eu é o
primeiro passo na experiência espiritual, tal como a lagarta tem de rastejar para

139
dentro de um casulo antes de tornar-se borboleta. Quando confronta o seu ego, pode
ter uma vida mais feliz e mais livre.

Ben, Olivia e Sam

Felizmente, Ben, Olivia e Sam foram capazes de ultrapassar os mecanismos


de defesa dos respectivos egos. Ao cabo de dois anos de intensa terapia individual
que incluiu hipnose regressiva — conciliar-se com o facto de ter sido fisicamente
maltratado pela madrasta quando era criança — Ben conseguiu refazer o seu
casamento com a ajuda de um conselheiro matrimonial. A peça de terapia que
provocou a maior mudança foi quando Ben compreendeu que também a madrasta
fora maltratada e lhe fazia a ele o que lhe fora feito a ela. Não só alterou a sua
maneira de pensar como sarou as feridas identificando as suas falhas de carácter com
as dela. Ben aprendeu a comunicar com a mulher e com os filhos e a reservar um
tempo de pausa para si mesmo.

A auto-estima de Olívia veio ao de cima através de sessões regulares de


meditação guiada centrada na auto-cura. Optou por aceitar o passado e não permitir
que ele paralisasse a sua capacidade de encontrar felicidade na vida Um dia, durante
a meditação, recordou a mãe a esmagá-la com críticas. «Estás a perder o teu tempo,
menina. Nunca serás uma pintora.» Olívia arranjou coragem para dizer à mãe que
não estava certo tratar alguém como a tinha tratado a ela. Quando descobriu o seu
valor, começou a cuidar do aspecto e a pintar todos os dias.

Sam precisava de um pai-substituto para aprender a dar valor a si mesmo.


Sem a orientação de um modelo masculino, era incapaz de sentir-se bem consigo
próprio ou de dar-se com outras crianças — sentia-se diferente e marginalizado.
Depois de aderir ao programa «Big Brother» e ser acompanhado por um homem de
vinte e cinco anos, desenvolveu pouco a pouco a confiança de que precisava para
enfrentar a causa da sua fúria desde a primeira infância: o pai abandonara-o, e isso
fazia com que se sentisse indigno e inferior aos seus pares. Passou a ser capaz de

140
expressar-se porque havia um homem adulto disposto a ouvi-lo e a dar-lhe sugestões
sobre como ver-se a si mesmo digno de ser amado.

Todos os três — Ben, Olívia e Sam — tiveram de confrontar o demónio que


os perseguia e transformar os respectivos egos em anjos prontos a ajudá-los.

Qualidades negativas e positivas

Agora que está a conversar com o seu ego, a chegar a uma parte de si que
andava há muito afastada ou escondida, quais são as qualidades negativas de que vai
falar? Lembre-se, o processo de confrontar o seu ego exige uma franqueza brutal.
Convido-o a compilar uma lista de queixas da vasta gama de compulsões e
dependências que arrolo a seguir. Porque quero que tenha uma imagem equilibrada
de si mesmo, faça também uma lista das qualidades positivas, usando os exemplos.

Pegue numa folha de papel e faça um retrato de quem é.

Qualidades negativas

Medroso Alcoólico Paranóico

Mentiroso Egoísta Egocêntrico

Gastador Pródigo Esbanjador

Viciado sexual Manipulador Glutão

Ganancioso Ciumento Controlador

Impaciente Narcisista Invejoso

Mexeriqueiro Passivo Preguiçoso

Desconfiado Irascível Ordinário

Fisicamente violento Odioso Mordaz

Viciado no trabalho Vingativo Severo

141
Crítico Perfeccionista Rancoroso

Vaidoso Arrogante Desonesto

Batoteiro Pomposo Hipócrita

Afectado Orgulhoso Culpado

Depressivo Lascivo Falso

Cobiçoso Indolente Interesseiro

Auto destrutivo Possessivo Extravagante

Qualidades positivas

Fiel Aquiescente Conciliador

Digno de confiança Leal Simpático

Honesto Amigável Positivo

Frugal Decente Humilde

Moderado Trabalhador Pacificador

Cooperante Calmo Aberto

Generoso Amável Gosta de dar

Flexível Equilibrado Afável

Confiante Bondoso Alegre

Paciente Gosta de partilhar Consolador

Modesto Fiável Responsável

Sensível Compassivo Compreensivo

Quando acabar de fazer o seu auto-retrato ser vindo-se destas listas, deixe-se
ficar sentado em silêncio durante alguns minutos. A seguir, imagine todos os seus
defeitos a serem largados como balões cor-de-rosa. Com os olhos da imaginação,

142
veja as qualidades positivas como trevos-de-quatro-folhas num relvado e apanhe-os
um a um. Repita o exercício uma vez por semana e, com o tempo, verificará os
resultados positivos desta visualização. Esta técnica é uma forma subtil de auto-
hipnose ou auto-sugestão.

Procure a ajuda de que precisa

Neste processo de desmascarar e travar amizade com o seu ego, procure a


ajuda de um bom amigo ou conselheiro, se não quiser fazê-lo sozinho. E, claro, fale
com as pessoas que o conhecem e gostam de si. Não está sozinho. Os recursos para
lidar com seja o que for que está a impedi-lo de viver a vida que Deus destinou para
si são ilimitados.

Um diálogo com um amigo poderia ser qualquer coisa neste género:

Você: «Sou demasiado severo para os outros. O que é que se passa comigo?»

Amigo: «Nada. Absolutamente nada. Exiges demasiado de ti próprio.»

Você: «Que queres dizer com isso?»

Amigo: «As expectativas demasiado elevadas levam-nos a todos a ter


comportamentos viciantes. Ser duro e crítico são os meios que o teu ego usa para te
acicatar.»

Você: «Que posso fazer para desembaraçar-me deste defeito? Está a dar
comigo em doido.»

Amigo: «Faz o que eu faço. Escreve um diário. Despeja tudo isso no papel e
tira-o da cabeça. Fala com o teu ego... que é o culpado. Argumenta com ele. Trata-o
como um amigo com quem tivesses tido uma zanga. Tal como estamos os dois a ter
esta conversa, diz ao teu ego que estás a fazer o melhor que podes com o que te resta,
que queres viver e deixar viver, que queres aceitar que tanto tu como os outros fazem
aquilo que podem. E conta ao teu ego uma ou duas piadas. Todos nós precisamos de
aprender a rir de nós mesmos.»

143
Quando falar com amigos a respeito do seu ego e das suas insuficiências,
refira-se ao ego como sendo um amigo muito chegado sem o qual a sua vida não
estaria completa. Dois peregrinos — você e o seu ego — que devem seguir de mãos
dadas o trilho marcado por Deus.

Mantenha um diário

Enquanto você e o seu ego estiverem a ouvir o que Deus lhes diz, estarão a
viver sob um selo de cooperação. Mas, e depois? Como é que lida com a vida depois
de ter feito as pazes com o seu ego? Como é que se certifica de que não volta a
resvalar para um pensamento egocêntrico?

A primeira coisa que talvez queira fazer é manter um diário. Se usou um


quando estava a aprender a meditar, continue a usá-lo para acompanhar a deflação do
seu ego. Escrever os seus pensamentos dá-lhe uma nova perspectiva, e talvez fique
surpreendido com o que vai descobrir com este simples exercício.

Aqui tem alguns exemplos que clientes meus me autorizaram a partilhar


consigo:

16 de Abril de 1993

Não fiz a minha meditação, esta manhã, e paguei por isso com um dia muito
desequilibrado. Ninguém parecia disposto a dar-me aquilo que eu achava que
merecia — ou talvez a velha atitude do «coitadinho de mim» tenha voltado a
aparecer. Vou pedir a Deus que me ajude a conseguir um melhor discernimento.

4 de Julho de 1993

Tenho de lembrar-me de que não posso fazer num dia o trabalho de uma
semana. Ficar no escritório até às dez da noite é loucura. Amanhã, vou rever a minha
carga de trabalho com o meu supervisor.

144
23 de Novembro de 1993

Vou a casa para o Dia de Acção de Graças, o que significa estar com a minha
irmã, que passa o tempo a espicaçar-me por ainda ser solteiro. É capaz de tentar
dizer-me que o meu problema de peso é a razão por que ainda não casei. Para poder
manter a calma, vou falar com ela antes de a família se reunir e dizer-lhe o que penso
das suas críticas. É possível que continue a fazer comentários desagradáveis, mas ao
menos ter-lhe-ei dito a minha verdade. Meditei, escrevi o meu diário e deitei-me a
horas decentes.

Livros

Além da manutenção de um diário, recomendo montes de livros aos meus


clientes. Um dos meus preferidos é It’s Not What You’re Eating, It’s What’s Eating
You. De Janet Greeson. Ms Greeson é considerada uma guru das dietas, mas o livro
dela trata de muito mais do que problemas alimentares. É também a respeito de
mudar a percepção que temos de nós próprios. Sugere que comer demasiado ou
muito pouco é um problema. O livro ajuda-nos a encontrar a origem das nossas
perturbações, para podermos chegar ao equilíbrio.

Outro dos meus favoritos é o livro de M. Scott Peck, People of the Lie, que
propõe sugestões sobre como lidar com a mentira, a manipulação, o narcisismo e a
transferência de defeitos dos pais para os filhos.

Oração

Finalmente, a Oração da Serenidade tem ajudado milhões de pessoas a


agarrarem-se à esperança até poderem deixar Deus curar os males que as afligiam:

145
Deus, concede-me serenidade para aceitar as coisas
que não posso modificar, coragem para mudar as que posso, e
sabedoria para reconhecer a diferença.

Pontos-chave para deflacionar o ego

1. Trate o ego com amor e auto-aceitação.

2. Fale com o seu ego através de visualização criativa.

3. Identifique as suas qualidades negativas e positivas.

4. Insista na auto-sugestão até o seu ego cooperar.

5. Converse com amigos de confiança ou procure ajuda profissional.

6. Mantenha um diário dos seus progressos.

Hoje e todos os dias

Todos os dias, ao acordar, cumprimente o seu ego:

«Amigo, como estás? Precisas de resolver qualquer questão que tenha ficado
em suspenso?»

Diga-lhe quanto precisa da cooperação dele não só para viver aquele dia mas
também para ser feliz. Têm de viver a vida juntos.

Siga as directrizes que lhe dei, A coisa mais importante a recordar, como o
índio hopi sugere, é que «morremos todas as noites e renascemos todas as manhãs».

O mesmo se aplica a si e à sua sombra, o seu ego. Tem de reafirmar-se e de


reconectar todos os dias, pelo resto da sua vida.

146
CAPÍTULO 21

A sua família como espelho

NÃO IMPORTA quem sejamos ou o que tenhamos feito da nossa vida. Quase
todas as nossas características, boas ou más, têm a ver com a família no meio da qual
crescemos. Na essência, tornamo-nos o que experimentamos através dos anciãos da
nossa tribo.

Claro que a genética determina algumas dos nossos traços caractereológicos,


mas muito do que fazemos é o resultado da educação, que engloba tudo o que
absorvemos das pessoas que nos criaram.

Agora que integrámos o nosso ego, precisamos de lançar uma vista de olhos à
cultura da nossa família. Há uma premissa, com frequência referida nos círculos da
psicologia, segundo a qual se quisermos saber o que está certo ou errado com
alguém, a solução é conseguir ser convidado para um jantar de família. Tanto as boas
como as más características acabarão por cair como maçãs da proverbial árvore
genealógica. Uma vez que saibamos o que está na árvore podemos alterar o que
cultivamos e os frutos que apanhamos.

Examinemos mais de perto a sua árvore genealógica. Temos de começar por


descobrir onde estão plantadas as boas e as más sementes. Não há melhor maneira de
distinguir o podre do maduro na sua família do que fazer um inventário honesto e
sem medos. Não é só de coisas más que andamos à procura, precisamos também de
saber o que vale a pena conservar no nosso sistema familiar.

Passar a família em revista

Como é a sua família? Eram dados a segredos? Os pais mostravam


favoritismos? Algum dos seus pais era narcisista? Cresceu a sentir-se rejeitado, ou
manipulado, ou abandonado? Ou eram ambos os seus pais amoráveis e carinhosos? É

147
importante examinar estes atributos do comportamento familiar para ficarmos a saber
quem você é — um adulto equilibrado ou uma alma danificada. Ao passar em revista
as principais culturas familiares listadas abaixo, vá tomando notas. Por exemplo
quando ler a respeito da cultura do segredo familiar, escreva sobre os seus próprios
segredos de família. Se uma tia solteira se suicidou depois de um aborto, não relegue
o caso para o armário dos esqueletos. Fale a respeito do assunto com outros membros
da família e descubra que emoções estiveram em jogo — a família sentiu-se culpada
ou envergonhada? E porquê? No trabalho com os meus clientes, cheguei à conclusão
de que aqueles que escrevem a respeito de tudo sem censura se tornam mais livres,
mais depressa.

Culturas familiares negativas

1. Se a sua família era dada a segredos...

O segredo enterra padrões destrutivos de desconfiança no mais fundo do


subconsciente. Como uma teia de aranha, o secretismo envolve de tal maneira
aqueles que guardam segredos que eles nunca mais conseguem libertar-se das
implicações da informação escondida. Por exemplo, se um pai confessa a um filho
que tem uma amante, o segredo torna-se com muita frequência o caldo de cultura de
onde vai nascer a infidelidade do filho, quando casar. Recue no tempo e tente
recordar quaisquer segredos de família que possam afectar a sua capacidade de ser
aberto e franco.

2. Se na sua família havia favoritismos...

O favoritismo no círculo familiar rebaixa os que não são considerados


especiais. produzindo com frequência um sentimento de inferioridade, O favoritismo
leva quase sempre o negligenciado a procurar a aprovação de terceiros em vez da
auto-aprovação. E também os favorecidos têm problemas. Em Silentty Seduced:
When Parents Make Their Children Partners: Urderstanding Covert Incest, o Dr.
Kenneth M. Adams sugere que uma rapariga tratada como a menina do papá será

148
incapaz de dar valor ao marido ou de estabelecer com ele uma forte relação de
confiança. Adams considera a sedução psicológica, encoberta, da filha pelo pai como
a causa original da incapacidade dela de amar o marido. Escreve Adams: «Muitas
vezes, aconselho estas filhas a divorciarem-se dos pais, não dos maridos.»

Era o preferido de um dos seus pais, ou o favorito era um dos seus irmãos ou
irmãs? Apanhe essa emoção antes que ela lhe roube mais alegria.

3. Se havia narcisismo na sua família...

À primeira vista, o narcisismo parece ser um defeito de carácter que tem a ver
com a necessidade de ser o centro das atenções, mas mais exactamente descreve
alguém que vive num mundo cuidadosamente construído que é um substituto da
pessoa que precisa de ser examinada e curada. Por exemplo, um pai narcisista pode
encorajar os filhos a parecerem bem por fora sem no entanto fomentar boas
características interiores. M. Scott Peck acredita que os narcisistas são pessoas
constitucionalmente incapazes de serem honestas consigo mesmas ou com quem
quer que seja. Não conseguem aceitar qualquer tipo de culpa e estão constantemente
à procura de um bode-expiatório. Os narcisistas estão absorvidos em si mesmos e
detestam-se a si mesmos. Identifica-se com esta característica? Algum dos seus pais
era narcisista? Esclareça consigo mesmo o que este traço de carácter o fez sentir.

4. Se havia rejeição na sua família...

Uma criança rejeitada não foi abraçada com suficiente amor e ternura. A
rejeição afecta o futuro da criança mais do que qualquer outra coisa, porque a deixa a
sentir-se imerecedora de afecto e de êxito. A primeira vítima parece ser a capacidade
de ser bem sucedido num relacionamento ou numa carreira, embora a rejeição possa
também penetrar até ao cerne da autovalia do indivíduo, com resultados
devastadores. Os pais e outros adultos que vivem num mundo materialista tendem a
rejeitar as crianças com base em critérios de inteligência, popularidade, aspecto e
competências sociais, ou falta delas. Se acaso se sentiu rejeitado quando criança,

149
enfrente esses sentimentos. Pode sempre conversar a respeito deles com um amigo de
confiança, um conselheiro ou um sacerdote.

A história de Barry

Barry cresceu no seio de uma família em que todos falavam ao mesmo tempo.

A mãe estava sempre a tentar servir de árbitro, em vez de servir de mãe:


«Sarah, vem acabar o pequeno-almoço. Sam, deixa de implicar com a tua irmã. E
não te esqueças de que tens dentista às quatro horas. Barry, vem para casa logo a
seguir à escola, preciso que apares a relva. »

O pai chegava a casa já de noite, extremamente cansado e com muito pouco


que dizer excepto para fazer exigências. «Não quero ouvir uma palavra de nenhum
de vocês. Tive um dia difícil. Calem-se e deixem-me em paz. Já lhes dei tudo o que
podia dar. »

— Lá em casa, o meu pai tinha verdadeiramente a última palavra .— contou


Barry. — Era à maneira dele, ou rua. As coisas eram tão más que pensei em ir-me
embora e nunca mais voltar.

A solução dos pais de Barry era dar aos filhos tudo o que o dinheiro podia
comprar — mas não disciplina, afecto e tempo para comunicar. Barry não sabia
muito bem se vivia na Grand Central Station ou em casa — havia sempre tanto
barulho que nem sequer conseguia ouvir-se pensar. A única coisa que sabia sem
margem para dúvidas era que cada um dos membros da sua ruidosa família estava a
ir para o seu lado.

Um dia, Barry, com dezassete anos, teve uma ideia brilhante. Se ninguém
conseguia ouvir ninguém por que estavam todos demasiado ocupados a falar, ia
escrever uma carta a cada membro da família. Aqui fica um exemplo do que
escreveu:

150
Querido Pai

Eu sei que o seu trabalho é difícil e que está cansado quando chega a casa.
Andamos sempre todos muito ocupados e não temos tempo para ninguém, mas
estamos a tornar tudo pior não comunicando uns com os outros. Eu estou a tentar
acabar o liceu com notas que me permitam ser admitido numa boa universidade com
uma bolsa de estudos. Penso que sou suficientemente inteligente, mas aquilo de que
preciso é de um pai com quem possa falar a respeito do que está a acontecer comigo.
Gostaria de ajuda em questões como a que universidade concorrer, que curso
escolher, como lidar com raparigas, quando abrir a minha própria conta num banco e
um monte de outras coisas que sabe melhor do que eu. Além disso, tenho sempre esta
sensação de que o Pai e a Mãe não querem saber dos filhos. Não há regras, não temos
horas para chegar a casa e parece que esperam que os professores, os catequistas e o
pastor sejam a nossa consciência.

Portanto, proponho o seguinte: todos os domingos de manhã, às dez horas,


sentamo-nos juntos como uma família e falamos do que se está a passar nas nossas
vidas. A única regra é que fala só uma pessoa de cada vez. Falamos não só do que se
passa mas também do que sentimos a respeito de todos os assuntos da família.
Espero que o Pai e a Mãe estejam dispostos a mudar de opinião a respeito de serem
mais como verdadeiros pais para nós.

Beijos,

Barry

Não aconteceu da noite para o dia, mas Barry conseguiu as suas reuniões e os
membros da família começaram a aprender a ouvirem-se uns aos outros. A Família
de Barry não só aprendeu a partilhar os seus sentimentos, como os pais
reexaminaram o que tinham de mudar para se tornarem melhores pais.

151
5. Se havia manipulação na sua família...

Se um pai tenta impor a sua vontade a um filho, com pouca ou nenhuma


consideração pelos seus desejos, a raiva reprimida do filho pode mais tarde vir a
causar problemas. A manipulação pode também provocar danos irreparáveis, fazendo
com que a criança cresça incapaz de tomar decisões. Muitos clientes meus falam-me
da dificuldade que têm em decidir as coisas mais triviais por causa de um pai ou de
uma mãe manipuladores. A manipulação origina com frequência paralisia emocional.
Foi manipulado quando era criança? Como é que está agora a lidar com o facto?

6. Se houve abuso sexual na sua família...

O abuso sexual é um dos mais nocivos de todos os padrões familiares. Uma


criança precisa de amor e de um ambiente seguro para aprender a estabelecer
relacionamentos sólidos de natureza platónica e romântica. O abuso sexual
desencadeia nela um ciclo patológico no qual pode eventualmente tornar-se
perpetradora. Rouba-lhe, além disso, a confiança nos contactos com terceiros e
planta a semente do ódio-próprio e dificulta a criação de laços. Foi sexualmente
abusado quando era criança? Quem foi o perpetrador? Discutiu o assunto com
alguém? A raiva recalcada pode levar à depressão. Há muitos conselheiros
especializados capazes de ajudá-lo a lidar com esses sentimentos.

7. Se houve abandono na sua família...

O abandono desencadeia um sentimento de medo e de ódio em relação ao


mundo exterior. Uma criança sujeita a um ambiente onde sente que não há ninguém
para amá-la, guiá-la e ensiná-la criará o seu próprio mundo isolado, O abandono gera
a mentalidade do órfão. Sentiu-se abandonado quando era criança? Como foi que
compensou? Sabe agora que não está sozinho?

152
Culturas familiares positivas

Olhar para os aspectos destrutivos do sistema familiar é apenas metade da


equação. É igualmente importante olhar para os traços e padrões positivos. São eles
os legados mais preciosos de uma família.

1. Se a sua família era carinhosa...

Se os seus pais o amavam e apoiavam emocionalmente, a sua vida de adulto


assenta numa base firme. O carinho é uma das qualidades mais importantes que se
pode encontrar num meio familiar. Foi acarinhado quando criança? Os seus pais
demonstravam-lhe, e aos seus irmãos, amor e ternura?

2. Se a sua família usava uma disciplina razoável...

As crianças a quem são ensinadas regras e uma disciplina razoável têm mais
probabilidades de tornar-se adultos bem adaptados social e emocionalmente.

Ser educado sem limitações cria o caos na vida da criança. Os pais ausentes
geram riscos muito maiores de consumo de álcool e de droga entre as crianças. Uma
actividade parental dedicada e activa não significa o recurso à violência física e sim o
uso de regras sensatas. A sua família tinha regras a respeitar e objectivos que devia
tentar atingir? Como reagia à disciplina?

3. Se a sua família era rica em envolvimento parental...

O facto de os pais fazerem parte da vida da criança fá-la sentir que eles se
interessam. Sempre que o horário de trabalho de um dos pais o impeça de envolver-
se nas actividades que são importantes para a criança, deve-se explicar a esta última a
razão por que o pai não está presente e, quando possível, um outro adulto deverá
substituí-lo. No seu livro Man Enough: Fathers, Sons and the Search for

153
Masculinity, o Dr. Frank S. Pittman aborda a importância da participação do pai na
vida do filho especialmente quando o rapaz chega à puberdade e à adolescência. Ê
um livro que pode ajudar o leitor a repensar o que masculinidade significa para ele.
Os seus pais envolviam-se activamente na sua vida? Sentia que eles faziam tudo o
que podiam para apoiá-lo a si e às suas actividades?

4. Se na sua família eram bons comunicadores...

A falta de compreensão entre pais e filhos acontece muitas vezes porque a


família não se senta para discutir os seus problemas. Uma altura preestabelecida para
reuniões familiares aumenta a possibilidade de quaisquer mal-entendidos
encontrarem soluções pacíficas. Se um pai fala directamente com um filho ou uma
filha numa reunião de família, estabelece-se um diálogo sem filtragem. Desanuviar a
atmosfera pelo menos uma vez por semana mantém a família na mesma frequência.
A sua família discutia as coisas abertamente? Sentia que era ouvido e ouvia?

5. Se a sua família tinha um núcleo espiritual...

Na minha experiência, as famílias em que existe uma filosofia espiritual


parecem ter menos problemas insolúveis. Adoptar uma política de porta aberta
permite às crianças escolherem o seu próprio caminho espiritual ou religioso quando
crescem, e cria aceitação e confiança entre pais e filhos. Tinha uma vida religiosa ou
espiritual activa quando estava a crescer? Sentia que teria a liberdade de escolher o
seu próprio caminho nesta área quando chegasse à idade adulta?

6. Se a sua família era aberta e franca...

Quando a criança cresce a sentir que não há segredos de família para lhe
minar o sentimento de confiança é mais capaz de enfrentar o mundo com abertura e
integridade. O esclarecimento absoluto de todas as questões assegura águas mais
calmas e um carácter mais forte à medida que a criança amadurece. A franqueza era

154
um problema na sua família? Confiava nos seus pais? E você, era digno de
confiança?

Reconhecer o seu papel na família

Depois de compreender as qualidades que descrevem o seu sistema familiar,


pode assumir o seu papel no que correu mal e no que correu bem. Faça uma lista de
todos os membros da família, começando por si.

1. Você

2. Mãe

3. Pai

4. irmãos

5. Avós

6. Outros membros importantes da família (tias, tios)

Agora, vem a parte mais difícil, Aceita a responsabilidade de ter feito mal a
alguém da sua família? O mal pode ser mental, emocional ou financeiro. Difamação
(boatos), desonestidade numa relação (casos extraconjugais ou infidelidade a um
amante) ou sermos menos amoráveis por palavras ou por acções para com os nossos
pais, irmãos, cônjuges ou filhos. Este exercício revela muito a respeito dos seus
mecanismos emocionais e psicológicos.

Vê-se a si mesmo em alguns dos exemplos seguintes?

1. A minha irmã era a preferida do meu pai por isso eu estava sempre a tentar
deitá-la abaixo.

2. O meu pai obrigava-me a comer coisas de que eu não gostava, por isso
canalizei a raiva que esta imposição me causava para o meu relacionamento com o
meu irmão mais novo.

155
3. A minha mãe tinha segredos, por isso aprendi a esconder a verdade
completa ao meu marido.

4. Ninguém na minha família ouvia o que os outros diziam, por isso eu, a
minha mulher e os meus filhos falamos todos ao mesmo tempo.

5. Fui uma criança negligenciada, por isso tenho dificuldade em fazer amigos
por medo de que eles me deixem.

6. A minha filha tem, como eu, tendência para tergiversar em todas as áreas
da vida, por isso dou por mim a ser indevidamente severo.

Depois de identificar os seus comportamentos nocivos, pode rezar pelas


pessoas a quem fez mal. E não se esqueça de pedir a Deus a força e a sabedoria para
ser condescendente para consigo mesmo durante este destemido inventário.

Gostaria de dar a última palavra neste capítulo a Caroline Myss, cujo livro
Why People Don’t Heal and How They Can aborda a linguagem da «feridologia»,
uma palavra que inventou para descrever as pessoas cuja vida inteira está amarrada
ao que lhes aconteceu na infância. Myss conta a história de uma mulher que fala
interminavelmente a respeito de ter sido vítima de incesto sempre que alguém lhe faz
uma simples pergunta. Quando o terapeuta que estava a trabalhar com ela lhe
perguntou há quanto tempo tinha aquilo acontecido, ela respondeu: «Trinta anos.
Lembro-me como se fosse ontem.» Myss afirma que quando não saramos o passado,
nunca conseguimos viver no presente.

Não esqueça, se passar a vida inteira a lamber as suas feridas, isso é fazer de
vítima. Tem de esforçar-se ao máximo por tornar a sua vida o melhor possível,
aceitar as coisas que não pode modificar e seguir em frente. A vida não deve ser um
desenterrar perpétuo de esqueletos do passado e sim uma expressão da alegria de
existir.

156
CAPITULO 22

Recordar quem realmente é

«Sê honesto para contigo próprio, e daí seguir-se-á, tão seguramente


como a noite se segue ao dia, que não poderás ser falso para com os outros.»
SHAKESPEARE

É COMO SE, a partir do momento em que vimos ao mundo, alguém estivesse


constantemente a dizer-nos quem somos, o que fazer e o que se espera de nós.

Muitos pais começam a escolher a universidade do filho ou da filha ainda eles


mal acabaram de nascer. Do berço à universidade e por vezes ainda mais além,
muitas vezes a nossa vida não nos pertence.

Muitos pais esperam que os filhos sigam as mesmas carreiras profissionais


que eles, e se o pai estabelece o seu controlo e domínio suficientemente cedo, o filho
não terá a mínima hipótese de desembaraçar-se das muletas paternas.

E as mães conseguem ser ainda mais dominadoras com as filhas. «Querida,


vê se consegues entrar para o meu clube, na universidade.» «Com quem é que andas
a namorar? É com um dos Wilson de Montecito?» «As raparigas decentes não fazem
essas coisas, por isso podes tirar daí a ideia.» No Sul, chamamos às meninas decentes
flores de magnólia, por serem tão doces e bonitas. Há quem diga que a magnólia
pode ser perfeitamente mortífera se aprender bem todos os truques da Mamã.

A história de Jarrod

Jarrod era um conhecido cirurgião que exercia a sua actividade em Paim


Springs, Florida. Frequentara todas as escolas certas, pertencia a todos os clubes
certos e casara com a sua bonita namorada de infância. Tinha dois filhos, que

157
adorava, e vivia numa bela mansão junto ao mar. Fazia uma vida à Riley? Sim. Era
feliz? Absolutamente não.

Ao discutir o seu descontentamento com um conselheiro, descobriu que fizera


tudo o que o pai esperava dele: frequentara os colégios que o pai escolhera, entrara
para os clubes do pai e casara com a rapariga de quem o pai gostava. E o pai de
Jarrod, também ele cirurgião, tinha-o empurrado desde a infância até à Faculdade de
Medicina.

— E o que era que queria fazer na vida? — perguntou o conselheiro a Jarrod.

— Sempre quis viver nas colinas da Virgínia, não junto à praia na Florida.
Quero criar cavalos e ter uma pousada. A cirurgia não é a minha paixão. Talvez
gostasse de ensinar numa pequena escola particular local. São estas as coisas que
sempre quis toda a minha vida.

Jarrod não estava só a não viver a sua paixão, estava a viver a ideia que o pai
tinha do que a vida dele devia ser. Demorou três anos, mas Jarrod mudou-se para a
Virgínia depois de o pai ter morrido inesperadamente. Mas porque haveria de ter de
esperar três anos para poder fazer e ser o que queria?

Identificar as forças controladoras

Sermos nós próprios — em vez de realizarmos as esperanças, desejos e


sonhos dos nossos pais, professores, pastores e amigos — começa por identificarmos
onde começou o controlo que é exercido sobre nós. Examine a seguinte lista e veja se
reconhece alguns dos exemplos de manipulação e imposição da parte de pai, figuras
de autoridade e amigos:

1. Os meus pais nunca me perguntaram que escola queria frequentar.

2. O meu pai obrigou-me a jogar futebol e râguebi porque gostava dessas


modalidades.

158
3. A minha professora disse-me que eu devia ensinar, como ela.

4. Na escola, os meus amigos diziam quem estava In e quem estava out.

5. O meu pastor disse-me que devia casar com alguém que pertencesse à
minha religião.

6. O meu pai não me deixou ter lições de dança; dizia que isso era para
maricas.

7. Os meus pais mandavam-me para o mesmo campo de férias para onde eles
costumavam ir.

8. A minha mãe dizia que eu devia usar certas roupas porque eram as
melhores para mim.

9. O meu pai disse-me que seguisse Direito.

10. Os meus pais obrigavam-me a ir à igreja todos os domingos.

11. O meu pai desencorajava-me de ir à ópera. «Não é coisa para homens»,


dizia.

12. Os meus pais diziam-me: «Nesta família só se vota nos republicanos!»

Se estes exemplos o fizeram compreender que aqueles que nos são mais
queridos são também os maiores obstáculos à nossa auto-realização, não desespere.

Nunca é demasiado tarde para corrigir um erro. Por exemplo, se a sua mãe o
convenceu a aceitar um emprego que não lhe agrada, pense em mudar. A mudança
não tem forçosamente de ser abrupta ou dramática. Pode ir devagar se quiser. Volte à
escola. Recicle-se. Ou arranque sozinho. Tem uma ideia formidável para um
negócio? Torne-se empresário. Faça o que fizer, não culpe a sua mãe pela escolha
que fez. Assuma a responsabilidade de modificar aquilo que pode.

Volte àquele ponto da sua vida onde virou à esquerda quando teria preferido
virar à direita. Foi quando não seguiu o curso de que verdadeiramente gostava?
Casou-se antes de ter tempo de realizar o seu sonho de ser ………. preencha você o

159
espaço em branco. Nunca é demasiado tarde para nos tornarmos quem ou aquilo que
íamos ser quando crescêssemos. Só exige sacrifício e risco.

Sabia que sacrifício e risco são um desafio sagrado? É verdade. Se decidir


que pode viver o seu sonho acordando do seu pesadelo, estará a aproveitar uma
oportunidade divina de tornar-se quem realmente é.

A cultura como força controladora

Os pais, outros familiares e os amigos não são os únicos culpados a quem


consentimos que controlem as nossas vidas, ainda que, como modelos, sejam
responsáveis pelas panelas de pressão em que nos enfiam. Vejamos como a cultura
popular tem vindo a afirmar o seu poder sobre as nossas escolhas.

Empurradas por publicitários que influenciam o que vestimos, o que e onde


comemos, como e em quê gastamos o nosso dinheiro, as nossas escolhas pessoais
perdem-se no meio de uma avalancha de persuasões encobertas ou declaradas. Há
uma sociologia popular que fala de mentalidade de rebanho. Reconhecemos este tipo
de mentalidade na atitude clássica de «não ficar atrás dos Jones». E, nesta
mentalidade, há muito pouco espaço para a escolha pessoal.

A pressão da publicidade torna muito mais difícil sair do rebanho e fazer o


que sentimos ser o melhor para nós. Por exemplo, um actor desempenha um papel
num filme que é constantemente discutido e publicitado. Respondemos à pressão e
vamos ver o filme. E apaixonamo-nos pela vida perfeita da personagem. Queremos
ser aquela pessoa a quem tudo corre bem. E os produtos subsidiários do filme — os
jeans de marca e os óculos escuros — dizem-nos que podemos ser, se os
comprarmos. Não admira que não consigamos deixar a personagem para trás quando
o filme acaba e saímos da sala! Quando começamos a parecer-nos com ele a vestir e
agir como um actor de cinema, chegou a altura de darmos uma boa olhadela aos
nossos valores.

160
Para chegar ao cerne daquilo que somos, temos de nos afastar do torvelinho
da loucura dos media e da cultura pop. Se quer de verdade ser feliz, impõe-se limpar
a casa e deitar fora o que não presta. Costumo pedir aos meus clientes que me digam
numa só frase aquilo que desejam. Aqui ficam algumas respostas:

1. Quero voltar a minha vida para Deus.

2. Quero ter uma alimentação saudável e repousar muito.

3. Quero uma felicidade que não se baseie no dinheiro.

4. Quero viajar, não amassar uma fortuna.

5. Quero dar prioridade à aprendizagem e à descoberta.

6. Quero viver sem me preocupar com roupas nem com carros caros.

7. Quero escrever e pintar.

8. Quero visitar um país diferente todos os anos.

9. Quero fazer qualquer coisa para ajudar os outros.

10. Quero rir mais e preocupar-me menos.

Muitas pessoas me dizem que pensavam que um carro novo, ou uma casa
nova, roupas caras ou umas férias exóticas as satisfariam. Poucas semanas depois de
terem todas essas coisas, voltam a sentir-se vazias. A auto-satisfação passa-se cá
dentro. Pode gozar a vida, mas a paz que procura está no seu mundo interior —
raramente fora de si mesmo.

As forças controladoras da Igreja e do Estado

Na nossa cultura, todos nós delegamos uma quantidade excessiva de poder na


Igreja e no Estado. Eu digo que é tempo de termos a nossa fé e votarmos de acordo
com a nossa consciência; de vivermos a nossa verdade. Demasiado do que pensamos

161
e do que fazemos depende de quem tem mais força ou grita mais alto ou invoca mais
culpa ou tenta falar em nome de Deus. Afaste-se de qualquer plataforma que
pretenda votar por si ou que pretenda interpretar aquilo que Deus quer que faça.
Essas escolhas são suas. Faça-as.

Como conseguir uma perspectiva própria

no meio de tanto barulho

Um fim-de-semana de silêncio pode ajudá-lo e encorajá-lo a romper com as


influências da família, dos amigos, da cultura, da Igreja e do Estado. Não precisa de
ir para um mosteiro nem para um centro de retiro, embora isso facilitasse o processo.
Fique simplesmente sozinho e em silêncio. Depois, faça uma lista de como gostaria
de ver a sua vida a partir de agora.

Numa folha de papel, escreva duas colunas. Chame à primeira «o que me


disseram para fazer», e à segunda «o que eu disse a mim próprio para fazer». É uma
boa maneira de avaliar que vida está a viver: a sua, ou a dos seus pais, figuras de
autoridade, cônjuge ou amigos? Por exemplo:

Disseram-me... Disse a mim próprio...

Que escolas frequentar Com quem devia casar

Que curso escolher Quando iniciar uma família

Que emprego aceitar Que religião seguir

Qual era a melhor cidade Em quem votar

Que seguros fazer O que aprecio num amigo

Este exercício ajudá-lo-á também a descobrir quais são as suas posições e o


que conta mais para si. Para reforçar as suas posições e começar a fazer uma vida
transformada, sugiro que siga estes postulados:

162
1. Estou disposto a sacrificar os luxos para poder viver a minha paixão em
vez de fazer um trabalho que não me dá prazer.

2. Estou disposto a viver e deixar viver respeitando as crenças religiosas dos


outros, mas não quero que me digam em que e como acreditar.

3. Estou disposto a fazer todos os anos uma avaliação daquilo que desejo para
a minha vida por oposição àquilo que estou a aceitar, e tomar as medidas necessárias
para fazer mudanças positivas.

4. Estou disposto a ver o que posso fazer pelos outros em vez de viver uma
vida egoísta.

5. Estou disposto a aperfeiçoar-me de modo a poder ser considerado digno de


confiança, ético e tolerante, em vez de egocêntrico e materialista.

6. Estou disposto a voltar todos os dias à minha vida e à minha vontade para
Deus.

Quando estabelece novas regras de jogo e as segue, descobre o seu autêntico


eu e vive uma vida que trabalhou diligentemente para criar. Desembaraçar-se do
antigo eu — que não é, por definição, o seu verdadeiro eu e sim a criação de uma
outra pessoa — permite-lhe viver a vida com uma alegria ilimitada e paz de espírito.

Pode ter esta vida mais rica se viver de acordo com as suas próprias regras.

Começar de novo pode ser arriscado e constituir um enorme desafio. Ouse


viver com autenticidade e sabendo quem é e o que quer criar na sua vida. Leia e
descubra mundos que existiam apenas nas enciclopédias e exigiam leitura. Faça
férias que lhe alarguem os horizontes. Dê valor ao que nada vale para tantas pessoas
mas que não tem preço para si.

163
A história de Dorothy

Se havia coisa que Dorothy estava decidida a fazer quando saísse da


universidade era viajar e conhecer lugares a respeito dos quais só tinha lido. Munida
de uma robusta herança deixada pelos avós, iniciou nas ilhas gregas a primeira etapa
de uma viagem à volta do mundo.

Na Grécia, apaixonou-se por um homem chamado Nicholas e, pouco depois,


casou com ele. Nick queria mudar-se para os Estados Unidos, de modo que Dorothy
desistiu do seu sonho de viajar. Assentou e começou a criar uma família.

Quando o último dos seus três filhos saiu de casa para ir para a universidade,
Dorothy acabava de completar quarenta e cinco anos. Os investimentos que fizera
tinham dado excelentes resultados, e ela decidiu que queria retomar, onde
interrompera, o seu sonho de dar a volta ao mundo. Havia, no entanto, um obstáculo
a vencer. Nicholas tinha uma empresa e não podia deixar tudo e acompanhá-la numas
férias de um ano. Que fazer? Desistir da viagem porque o marido não podia ir? Num
momento de calma, descobriu a solução.

— Nicholas, ainda tens algumas propriedades em Santorini. Que tal se


construíssemos lá uma casa e vivêssemos seis meses do ano aqui nos Estados Unidos
e os outros seis na Grécia?

— Mas, Dorothy, tenho uma empresa para gerir.

— Vende-a.

— Vendo-a? E quem vai querer comprá-la? E se não nos derem aquilo que ela
vale?

Que importa? Temos dinheiro suficiente para uma vida inteira… nem que
cheguemos ambos aos cem. Vamos!

Ao cabo de uma série de discussões, para grande espanto de Dorothy,


Nicholas concordou.

164
Construíram, pois, uma casa na Grécia, e passaram a viver lá seis meses do
ano, e os outros seis nos Estados Unidos. Nicholas montou uma empresa de
importação-exportação e Dorothy tornou-se guia de turismo e começou a viajar por
todo o mundo.

— Não temos um grupo de amigos muito íntimo, e os filhos terão de viajar


até bem longe se quiserem que tomemos conta dos netos, mas estou a viver a vida
com que sempre sonhei — disse Dorothy a um dos seus clientes.

Dorothy estava a ser egoísta? No fim, Nicholas chegou à conclusão de que


não. A vida envolve compromissos. Durante muitos anos, Dorothy tinha vivido a
vida do marido. E, pelo preço de pedir — de ousar pedir —, conseguiu finalmente a
vida que queria com a bênção do marido.

165
CAPÍTULO 23

Praticar o perdão

ANDY CRESCEU no seio de uma típica família de classe média. Era


sossegado e estudioso e uma companhia agradável. Tinha boas notas, era activo nas
associações estudantis e fazia parte do grupo de teatro da escola. Quando alguém se
zangava com ele, encolhia-se. Quando uma professora o acusou falsamente de ter
copiado, negou debilmente com a cabeça e afastou-se. E quando o pai mostrava a sua
preferência pelo irmão mais novo, Andy parecia não se importar.

Quando saiu da universidade, Andy conseguiu um excelente emprego num


instituto de pesquisa médica, em Boston. Parecia correr tudo às mil maravilhas até
que um colega foi promovido a um lugar que Andy ambicionava. Apesar de não ter
dito palavra, Andy começou a dar parte de doente. Os colegas de trabalho notaram
que estava a engordar a olhos vistos. Depois de ter sido repetidamente avisado a
respeito do seu absentismo, Andy foi despedido.

E voltou a ser despedido de cinco outros empregos em menos de dez anos.


Era incapaz de manter uma relação, porque tinha birras terríveis e soluçava
incontrolavelmente quando as coisas não lhe corriam de feição. Continuou a ganhar
peso e começou a beber e a fumar.

Um terapeuta trabalhou com ele durante meses antes de conseguir arrancar-


lhe uma explicação. Andy começou finalmente a falar de todos os agravos que
guardava no peito e que remontavam à sua infância.

— Na escola, os miúdos estavam sempre a troçar de mim porque eu nunca


acertava na bola nos jogos de baseball; Miss Sidelman, a minha professora de
Álgebra do décimo ano, acusou-me falsamente de ter copiado num exame; achava
que o meu pai gostava muito mais do meu irmão, Eric, do que de mim. Como é que

166
havia de me sentir? Sempre tive a sensação de que, se morresse, ninguém se
importaria.

Andy continuou a trabalhar com o terapeuta até desenterrar todos os


esqueletos que fora acumulando ao longo dos anos. Curou-se porque não só
conseguiu enfrentar a raiva que trazia escondida, como também desmantelar os seus
ressentimentos. A palavra ressentir significa literalmente sentir uma coisa uma e
outra vez. Andy estava trancado no seu mundo interior, odiando em silêncio os seus
atormentadores, um dos quais era o próprio pai.

No centro do sorvedouro de Andy estava um medo tão paralisante que o


retinha na cama — o medo foi razão de ele ter sido despedido por não comparecer a
trabalho. E a razão que o incapacitava de dissipar este medo era o facto de ter sido
tantas vezes ridicularizado ao longo da vida que não queria admitir que tinha medo.

O terapeuta chegou à conclusão de que Andy sofria de acessos de pânico


provocados pelo hábito de esconder os seus sentimentos sob um pilha de medo.

Há uma relação capaz de alterar o sentimento de ofensa e dar-nos a coragem


de dar os passos necessários para dissipar as causas da nossa raiva e dos nossos
ressentimentos: essa relação é com Deus. A raiva e o ressentimento mantêm a maior
parte de nós no meio de uma nuvem escura que bloqueia a de Deus. Não
conseguimos ouvi-lo porque estamos agarrados a qualquer coisa que alguém disse ou
fez. Essa qualquer coisa pode ser uma ninharia, mas, para nós, assume proporções de
ofensa mortal. A raiva alimenta-se de si mesma.

O ressentimento cria chaga. Não conseguimos esquecer o mal que achamos


que nos fizeram. O ponto fraco da raiva é o medo do que pode acontecer se
confrontarmos a pessoa que acreditamos ter-nos ofendido, O medo leva-nos a atacar
o inimigo na nossa cabeça, no nosso coração e na nossa mente, mesmo quando na
realidade, recusamos enfrentar o problema.

Quando tomamos consciência de como estamos furiosos com alguém e de


como detestamos essa pessoa, precisamos de descobrir uma maneira de libertar a
pressão acumulada, ou corremos o risco de estourar.

167
Escrever cartas de raiva

No capítulo 21 fizemos uma lista das pessoas que tínhamos ofendido e


falámos das que nos ofenderam a nós,

Quero que, para purgar os seus sentimentos, escreva cartas de fúria e raiva às
pessoas que lhe fizeram mal. É vital despejar todos os ressentimentos que acumulou
contra essas pessoas. Mesmo que qualquer coisa tenha acontecido apenas ontem, use
este método. Não vai enviar as cartas, pelo que não há necessidade de autocensurar-
se; são apenas um exercício para libertar a raiva recalcada.

Aqui tem a carta que Andy escreveu à professora:

Cara Miss Sideknan

Apesar de terem passado vinte anos desde que saí da sua classe, continuo
enclausurado numa prisão de raiva reprimida, porque me acusou falsamente de ter
copiado. O que acha que o incidente fez à minha auto-estima? Como foi que afectou
a minha vida? Teria de conhecer a minha história e falar com o meu terapeuta para
ficar a saber o que tem sido a minha vida,

Odiei-a tanto que tive muitas vezes vontade de entrar na sua aula e bater-lhe.
Imagina como pode ser traumatizante para um rapaz de dezasseis anos a professora
envergonhá-lo diante de toda a turma? Eu não era culpado. A senhora disse que tinha
ar de culpado. Bem, Miss Sidelman, nasci com ar de culpado, mas não era, e não sou.

Pode ser que esta carta não a faça mudar um bocadinho que seja, mas
garanto-lhe que me sinto muito melhor depois de ter exprimido o que sentia a
respeito do que me fez.

Atentamente

Andy Sikes

168
Escrever cartas de perdão a terceiros

Depois de ter escrito cartas de fúria e raiva, é tempo de escrever cartas de


perdão às pessoas que lhe fizeram mal. Através do perdão, a sua fúria e a sua raiva
dissipar-se-ão. Todos os meus clientes estão de acordo em que o perdão é a melhor
maneira de limpar ofensas e restabelecer relacionamentos.

Cara Miss Sidelman

Fiz parte da sua turma de Matemática em 1967 e quis escrever-lhe para lhe
pedir que perdoe o meu comportamento. Apesar de gostar de pensar que era um
aluno perfeito, tenho, se quiser ser honesto comigo mesmo, de admitir que não era.

Estou a passar por um período de introspecção e, por causa de certas coisas


que vieram ao de cima durante o processo, precisei de escrever-lhe esta carta.

Miss Sidelman, se fiz qualquer coisa que tornasse mais difícil o seu papel de
professora, quero reparar o meu erro. Não posso alterar o que fiz, mas posso
humilhar-me e pedir-lhe perdão. Além disso, como uma oportunidade para merecer
esse perdão, inscrevi-me para trabalhar com um jovem no programa Big Brother.
Talvez a minha ajuda possa ser decisiva para um adolescente que está a enfrentar
algo semelhante àquilo por que eu próprio passei.

Atentamente

Andy Sikes

Pedir perdão para si próprio

Depois de ter despejado a sua alma de antigos ressentimentos contra quem lhe
fez mal e de lhes ter escrito cartas de perdão, o passo seguinte é pedir perdão àqueles
a quem ofendeu.

169
Não devemos, numa primeira fase, enviar as cartas àqueles que vitimámos.
Elas são um exercício através do qual procuramos sarar relacionamentos deteriorados
que nos impedem de seguir em frente nas nossas vidas. Talvez mais tarde, quando o
efeito da carta tiver modificado o autor, ele consiga decidir-se a pedir perdão
pessoalmente, ou a enviar uma carta revista.

Aconselho sempre os escritores de cartas a ficar em silêncio antes de


iniciarem o processo de perdão. Medite. Escute aquela vozinha que o conduz da
prisão das emoções negativas à libertação das grilhetas, sua e dos outros. Aceitar a
culpa que lhe cabe num relacionamento estragado ou num comportamento incorrecto
restabelecerá a sua ligação com Deus melhor do que qualquer outra medida que
possa tomar.

Aconselho muito vivamente o arrependido a não escrever «lamento», ou


«peço desculpa», porque são palavras sem significado que todos nós dizemos
constantemente ao longo da vida. Oferecer reparação significa mudar realmente para
tornar as coisas melhores entre duas ou mais pessoas.

Segue-se uma carta de perdão escrita por um homem chamado Adam. A vida
de Adam meteu pelos mesmos caminhos ínvios que a do pai: é um alcoólico que já se
divorciou duas vezes. Esta carta a pedir perdão foi o bilhete emocional de Adam para
a liberdade espiritual:

Querido Pai

Estou em Sedona, no Arizona, a seguir um poderoso programa de cura.


Depois de uma semana a enfrentar anos de ressentimentos, fúria e raiva, pediram-me
que escrevesse uma carta de perdão a alguém que tivesse magoado na vida. O Pai foi
a primeira pessoa em que pensei. Precisava de escrever-lhe esta carta.

O grande truque de uma carta de perdão é que tenho de pedir o seu perdão em
vez de esperar que me peça o meu. Ao princípio, isto foi muito difícil, até que
comecei a perceber o que é o perdão: perdoar a parte de mim que o Pai é, que o Pai
representa.

170
Quando o Pai e a Mãe se divorciaram, por volta dos meus nove anos, pensei
que tinha feito qualquer coisa de mal. Quando o dinheiro se acabou e a Mãe teve de
arranjar dois empregos para nos dar de comer, pensei que a culpa era minha. Quando
soubemos que tinha perdido o seu emprego de há mais de vinte e cinco anos,
perguntei a mim mesmo o que poderia ter feito para o evitar. Porque havia eu de
assumir a responsabilidade por todas essas coisas quando obviamente a culpa não era
minha? Descobri, através de um inventário honesto, que sou egoísta e egocêntrico. O
facto de eu assumir a responsabilidade por todas aquelas coisas tinha muito a ver
com o facto de pensar que devia ter sido capaz de fazer com que tudo fosse melhor,
quando, na realidade, o caso era com Deus e não comigo.

Temos de escrever a respeito da nossa família, o que envolve dar informações


sobre o Pai e sobre a Mãe. Quando comecei a reconstruir a sua infância, descobri,
através de conversas com a Avó que tinha tido de passar por situações muito difíceis.
Disse-me a Avó que o Pai nasceu durante a Depressão e que teve de deixar de estudar
para ajudar financeiramente a família. Disse-me também que nessa altura não havia
empréstimos para estudantes e que o Avô se reformou cedo, com meia pensão. Havia
pouco dinheiro e o Pai precisou de sete anos para acabar o curso. Era muito bom
aluno, especialmente nos debates. E trabalhou sessenta horas por semana durante
mais de quatro anos. Não sabia nada disto. Conhecê-lo melhor talvez me ajude a
aceitá-lo como antigamente o condenava.

Provavelmente, sabe que já fui duas vezes casado e que tenho uma filha de
um casamento e um filho do outro. Tinha jurado que nunca me divorciaria, e no
entanto fi-lo… duas vezes! Tal pai, tal filho?

Pai, provavelmente nunca o nomearei para Pai Modelo e tive muitos anos
para lamentar a sua ausência da minha vida, mas esta carta é a respeito de emendar o
meu comportamento. Nunca tentei saber como ia, nem nunca lhe mandei um cartão
no Dia do Pai, nem lhe telefonei no dia dos seus anos, nem tentei vê-lo no Natal ou
em qualquer outra festa. Nunca tentei pôr-me no seu lugar e não faço ideia de que
tipo de casamento o Pai e a Mãe tinham. Mas sei que estou a escolher fazer as pazes
e começar a ter uma relação consigo pedindo-lhe que me perdoe.

171
Se alguma vez disse ou fiz ou deixei de dizer ou fazer qualquer coisa que o
afastou do amor e da luz de Deus, peço-lhe que me perdoe. Pelo meu lado, vou pedir
a Deus que abençoe a sua vida e lhe dê tudo que o pediria para mim mesmo. A partir
deste dia até à minha morte hei-de amá-lo e apoiá-lo sempre e só lhe falarei com as
palavras de um filho que o ama. Vou encorajar os meus filhos a conhecerem-no. Eu e
o meu irmão Bill queremos convidá-lo para ir pescar connosco para o Minnesota,
este Verão. Sim, Pai, ainda nos lembramos de como as coisas eram antes de o Pai e a
Mãe se terem separado; nós os três a tentar apanhar uma perca de cinco quilos ou a
contar a maior mentira deste mundo a respeito da que conseguiu fugir.

É o meu Pai e eu hei-de amá-lo sempre. Por favor, perdoe-me.

Beijos

Adam

Certas cartas são mais difíceis de escrever devido à natureza do que


aconteceu entre duas pessoas. Mas o perdão foi a única maneira que descobri para
libertar das grilhetas destrutivas e negativas que amarram uma pessoa a outra.
Perdoar não é aprovar o comportamento do outro nem tentar tornar-se mais íntimo do
suposto perpetrador. É sair do papel de vítima e retomar o nosso poder. É libertarmo-
nos do passado de modo a podermos verdadeiramente aproveitar o presente.

Laura tinha sido raptada, violada e roubada quando percorria a pé as selvas da


América Central acompanhada pelo namorado, Jackson, que foi igualmente
espancado e sexualmente molestado. Deixados por mortos, Laura e Jackson
deambularam sem rumo durante três dias antes de serem encontrados. Quando
regressaram a casa, Jackson obrigou Laura a segredo a respeito das violações
sexuais, porque o acontecera o envergonhava terrivelmente.

Laura escreveu-lhe uma carta de perdão. Não esqueça que, antes de escrever
essa carta, já tinha descarregado, com a ajuda dos nossos terapeutas, toda a raiva
acumulada que sentira contra ele.

172
Caro Jackson

Apesar de terem passado quinze anos desde que fomos raptados e assaltados,
o que nos aconteceu há tantos anos continuava a ser uma chaga dentro de mim. Num
retiro de cura que estou a fazer, tenho estado a enfrentar a vergonha escondida, e este
incidente precisava de ser desenterrado e sanado.

Já descarreguei a minha raiva contra ti. A tua atitude relativamente ao que


aconteceu foi repreensível; haveria até quem lhe chamasse imperdoável. Mas se não
encarar o meu papel em tudo isto, um dia terei sessenta anos e continuarei
emocionalmente paralisada pela violação e pela brutalidade e pela tua atitude face a
tudo isso.

Jackson, a tua família via-te como o filho de cabelos louros destinado a


grandes coisas. Na tua mente de vinte e dois anos, contar à tua mãe, ao teu pai e às
tuas irmãs o que tinha acontecido ter-te-ia marcado com o ferrete de «menos
homem». A nossa cultura é tão polarizada e defensiva no que respeita à sexualidade
que talvez tivesse de facto havido um estigma. Nunca encarei nada disto como uma
coisa que tu não conseguisses fazer por causa daquilo que os outros pudessem
pensar. Queria gritar do alto dos telhados que tinha sido violada e deixada por morta.

Tu querias tomar um banho e esquecer o assunto. E foi o que fizemos.

Vejo agora que fizeste o melhor que podias dadas as circunstâncias e a época.
Ficaste tão devastado e magoado como eu. Durante mais de quinze anos, lambi as
minhas feridas como se tu me tivesses castigado por ter sido violada. Sou a única
pessoa que pode magoar-me a mim mesma continuando a alimentar esta guerra
contra ti.

Hoje, vejo o que nos aconteceu de uma maneira diferente. De uma forma
estranha e inexplicável, sei que criámos os dois este fiasco e que só nós podemos
sará-lo. Atravessei o umbral da vontade para procurar perdão e parar de consentir que
a violação me mantivesse presa naquela selva, a sangrar, a morrer e amaldiçoar-te a ti
e àqueles adolescentes.

173
Por favor, perdoa-me por ter querido obrigar-te a ver-nos como pobres
vítimas indefesas. Acabei por perceber que passar as noites nos bares a beber não era
a coisa mais inteligente que podíamos ter feito. O que fizeste, está feito. Tivemos três
bons anos como amigos e amantes e vou deixar que essas recordações sejam as que
perdurem. Não estava em teu poder levantar a tampa da minha sepultura de dor e
curar-me. Só eu posso fazê-lo, e estou a fazê-lo.

Obrigada por teres entrado na minha vida e obrigado pela minha oportunidade
de olhar para dentro de mim, onde vivem Deus e o verdadeiro perdão.

Beijos

Laura

Praticar o perdão

Quando olhamos para o modo como Laura conseguiu resolver a dor que lhe
provocou o abandono e a negação de Jackson, reparamos que ela refere várias vezes
como ficou traumatizada pela violação e explica que não conseguia libertar-se do
doloroso sentimento de vergonha. A carta de perdão foi apenas um primeiro passo no
processo de limpeza do ressentimento que tinha em relação a Jackson por ele a ter
convencido a esconder que fora violada. Faltava uma peça no processo de perdão.

Laura repetia constantemente: «Tenho uma coisa atravessada na garganta.»

A nuvem negra desapareceu quando começou a fazer trabalho de respiração


transformacional com uma terapeuta especializada aqui em Sedona. O trabalho de
respiração transformacional foi a técnica que permitiu a Laura libertar o trauma
emocional acumulado no seu corpo e na sua memória celular através da respiração
profunda, levando ar fresco às áreas que o retinham. O corpo de Laura — como os de
todos nós — funciona de uma maneira muito semelhante à do subconsciente, na
medida em que ela estava a reter inconscientemente o stress e o trauma desde o
horrível episódio de violação.

174
Quando o namorado a obrigou a calar-se, Laura armazenou os sentimentos e a
dor do que tinha acontecido, e, sem tratamento, estes sentimentos tóxicos
armazenados afectaram negativamente o relacionamento dela com o marido, os
filhos, os amigos e todas as pessoas com quem vivia no dia-a-dia. Quando conseguiu
resolver as emoções destrutivas, conseguiu também encontrar a paz e começar a
perdoar-se a si mesma e a Jackson.

Numa sessão de respiração transformacional, o paciente deita-se,


completamente vestido, em cima de uma marquesa, com uma música suave a tocar
em fundo. A terapeuta descobre, por intuição, os pontos onde a respiração está retida
e, gentilmente, guia o paciente, levando-o a abrir a respiração de modo a libertar as
emoções estagnadas. Durante o processo, a terapeuta interroga o paciente de modo a
aceder a estas recordações traumáticas.

- Teve um episódio traumático com um homem da sua família quando tinha


cinco anos?

- Tem alguma recordação de se ter zangado muito com um irmão ou uma irmã
quando era adolescente?

- Consegue rever na sua mente como se sentiu naquele dia na América


Central, quando foi violada?

As respostas a estas perguntas são reveladas por uma alteração dramática do


ritmo da respiração, bem como por lágrimas, soluços e gritos de raiva. Mas é neste
extravasar emocional que o trauma se liberta.

O trabalho de respiração transformacional pratica-se hoje em todo o país.

Manter a respiração Limpa e viver em perdão

Sugiro-lhe a seguir várias técnicas para permanecer limpo de traumas e


emoções negativas armazenadas e viver em perdão:

175
1. Use a respiração como uma forma de meditação. Controle a respiração.
Faça este exercício durante, pelo menos, vinte minutos, três vezes por semana
durante um mês.

2. Ouça música suave.

3. Recorra a massagens frequentes.

4. Frequente aulas de distensão, faça tratamentos de reflexologia e trabalhe


com um técnico cranial-sacral.

5. Pratique ioga.

6. Desenvolva um forte equilíbrio corpo-mente.

7. Mantenha um diário dos seus pensamentos.

8. Assista a sessões de aconselhamento de desgosto, Se necessário.

9. Liberte-se de ressentimentos contra os que lhe fizeram mal.

10. Peça perdão àqueles a quem fez mal.

11. Examine diariamente as suas acções e, se procedeu mal, peça


imediatamente perdão.

Um final feliz

A carta de perdão a Jackson foi o início do processo de cura de Laura. O


trabalho de respiração transformacional limpou as emoções armazenadas e o trauma
associado à violação. Laura seguiu as terapias pós-tratamento que lhe sugerimos para
se manter livre de stress e que a ajudaram a viver numa atitude de perdão de si
mesma e dos outros.

Seis meses mais tarde, inscreveu-se na universidade, com quarenta e cinco


anos, para fazer as cadeiras que lhe faltavam para obter a licenciatura. A
comunicação com a família e os amigos tornou-se mais directa e fácil. Laura tem
planos para abrir um centro de retiro de desenvolvimento espiritual para família na

176
sua propriedade de 500 hectares no deserto. Hoje, sabe que a cura acontece quando
aprendemos a perdoar e ser perdoados.

177
IV PARTE

O poder e a promessa da nova Linguagem

178
CAPÍTULO 24

Você, o diapasão

TENHO UMA CONFISSÃO a fazer. Nunca fui grande aluno a Ciências.


Miss Walker ensinou-me, no décimo ano, porque é que um íman atrai metais e como
é que a electricidade passa de um condutor para outro, mas a verdade é que nunca
consegui melhor do que um B- nesta disciplina. Também nunca tive grandes notas a
Química, mas foi por esta altura que compreendi que se pode acreditar numa coisa
sem saber exactamente como é que ela funciona. Em vez de aprender as
complexidades da Química, aprendi a tornar-me uma pessoa de fé poderosa.

Muitas das verdades da vida têm de ser aceites com base na fé. A natureza da
experiência humana é assim mesmo. Quando os autores da Declaração de
Independência escreveram «Temos estas verdades como evidentes em si mesmas»,
estavam a reconhecer que sabiam o que realmente importa na vida: a liberdade e a
procura da felicidade. A prova não dá substância à verdade. A verdade tem um valor
absoluto que não depende de padrões de verificação.

A natureza do pensamento

O pensamento é a componente mais crítica da nova linguagem. Quando


estamos quietos e calados, Deus deposita as suas formas de pensamento, ou
impressões de pensamento. Nas nossas mentes como fontes de inspiração ou de
instrução. São estes os pensamentos que nos espantam. Dizemos: «De onde veio esta
ideia?» Trata-se de pensamentos que claramente não são nossos. Quando estava
sentado no banco traseiro de um carro da Polícia, depois de ter sido preso por

179
conduzir embriagado, a voz na minha cabeça que disse «acabou-se», era uma
impressão de pensamento vinda de Deus. Além das formas de pensamento divinas, as
nossas mentes humanas, claro, geram também pensamento. Emanando de cada um
de nós como vibrações de um diapasão, os pensamentos são impulsos de energia que
transmitem para o universo a nossa alegria e o nosso medo, os nossos julgamentos e
as nossas críticas, a nossa coragem e o nosso desânimo, a nossa fúria, as nossas
dúvidas, o nosso amor, as nossas crenças, a nossa condenação. Estes pensamentos
emocionais são forças poderosas capazes de modelar acontecimentos e desfechos tal
como uma voz muito aguda é capaz de partir um copo. São dinâmicos e influentes —
afectam o mundo inteiro. Embora o pensamento individual possa não ter um efeito
determinante, pode funcionar como um forte factor contributivo. Se temos
pensamentos destrutivos, podemos criar o caos. Se emitimos pensamentos positivos
de paz, também essa possibilidade se manifesta.

A natureza criativa do pensamento impõe uma escolha. Vamos ter


pensamentos poderosamente positivos ou destruidoramente negativos? Controlar o
nosso estado de espírito, eis a questão. Podemos limpar os nossos pensamentos e
alterar o que emitimos para o universo, recalibrar, por assim dizer, o diapasão
humano. Ou podemos despejar a nossa hostilidade no mundo e potencialmente
semear a devastação.

Emmet Fox era um grande defensor do pensamento positivo. Deixou-nos as


suas opiniões sobre o universo vibracional em que vivemos, no livro Make Your Life
Worthwhile. «Já viu com toda a certeza um diapasão a vibrar, produzindo uma
determinada nota», escreveu Fox. «Pare a vibração com um dedo e a nota cessa.» O
que Fox parece estar a sugerir é que podemos parar o pensamento negativo e alterar
as mensagens que enviamos antes que elas contaminem. O som agudo da nota muito
alta pode não chegar ao vidro que tem o poder de estilhaçar.

Faz sentido tentar aumentar a vibração positiva dos nossos pensamentos, mas
é mais fácil de dizer do que de fazer. Tendo seguido os mesmos hábitos mentais e a
mesma dieta mental durante uma vida inteira, muitos de nós estão predispostos para
um estilo de pensar que pode ser o resultado reflexo do ambiente em que cresceram.

180
Muitos de nós são pessimistas por educação; dados a pensamentos sombrios e
lúgubres. Outros são optimistas; esperam o melhor e procuram sempre o lado bom de
todas as coisas, encontrando instintivamente o positivo em qualquer situação e
lidando construtivamente com os problemas.

Um exercício útil para descobrir a nossa forma de pensar é escutar-nos a nós


mesmos. Ouvir as nossas conversas interiores revela muito a respeito de quem
somos. Pode descobrir que a preocupação, o receio, o medo, a inveja, a calúnia e o
pessimismo tingem geralmente a maior parte dos seus pensamentos. Curiosamente,
muitas destas emoções estão ligadas a viver no passado ou no futuro. Ou, pelo
contrário, talvez descubra que é quase sempre feliz, alegre, esperançoso, tolerante,
amável, compassivo e generoso.

Em conjugação com observar o seu estilo de pensar, outra maneira de obter


autoconhecimento é observar aquilo a que poderíamos chamar a zona temporal do
pensamento para ver se tem tendência para existir no passado, no presente ou no
futuro. Reserve todos os dias alguns momentos para se observar a si mesmo a pensar.
Controle os seus pensamentos durante esse período e anote onde estava centrada a
sua atenção Está a recordar e a reviver qualquer coisa que aconteceu no passado?
Está a antecipar alguma coisa que vai acontecer no Futuro? Ou está a dar atenção ao
que acontece aqui e agora?

No seu livro The Power of Now, Eckhart Tolle sugere que a maior parte das
pessoas que experimentam este exercício fica surpreendida ao descobrir quanto do
seu «tempo-mente» se situa no futuro ou no passado. Tolle acredita que o «modo de
ligação temporal da nossa consciência está profundamente embebido na psique
humana» e que ocorrerá um período de grande transformação quando a consciência
de massas começar a centrar-se no aqui e agora. Sugere também que o sofrimento
mental e a ansiedade têm largamente a ver com viver no passado e no futuro. Exorta-
nos a quebrar «os padrões mentais que dominam a vida humana desde há milénios»,
esforçando-nos por manter as nossas mentes orientadas para o presente onde
devemos ter como objectivo ser construtivos.

181
Para a maior parte das pessoas, é uma tarefa muito difícil. Quase todos nós
fomos ensinados a ver o pensamento como actividade casual e não sujeita a controlo,
por oposição a uma actividade consciente. Excepto em meditação, poucos são os que
têm o hábito de observar propriamente em funcionamento ou permanecer no
momento presente. Além disso, permanecer no presente exige disciplina, como bem
sabe quem já o tentou. Aprende-se muito observando para onde vai a nossa mente
quando divaga e que mensagens transmite. Podemos até descobrir como somos
negativos e que os nossos pensamentos podem ser prejudiciais para nós próprios e
para os outros. Se assim for, é nosso dever assumir o compromisso de nada ver de
mau, nada ouvir de mau e nada dizer de mau, e, especialmente, nada pensar de mau.
Isto é imperativo, se quisermos ver melhoras.

O mundo em que hoje vivemos é um lugar complicado. Mais ligado pelas


viagens, pela tecnologia e pela comunicação, está cheio de conquistas científicas e
humanitárias que venceram algumas doenças e prolongaram a vida. Infelizmente, é
também um lugar perigoso. A proliferação nuclear deu a muitas nações a capacidade
de destruir a comunidade mundial, e o terrorismo ameaça a segurança das pessoas
amantes da paz. Mau grado a prosperidade material, damos muitas vezes por nós a
perguntar se, como indivíduos, podemos fazer qualquer coisa a respeito destas
temíveis realidades.

Podemos. Em primeiro lugar, podemos ancorar os nossos pensamentos na


oração em vez de os deixarmos atolarem-se na escuridão sem esperança. Em
segundo, podemos ter o nosso próprio papel numa solução que nasce da compaixão,
do amor e do perdão, em vez de sucumbirmos ao que outros pensam ou sentem
quando lideram com agressão. Em terceiro, podemos aprender a refrear o nosso ego.
O ego é um factor importante no modo como pensamos e no tipo de sinais que
emitimos. Uma vez que o ego prospera no medo, devemos tentar limpar das nossas
mentes os elementos negativos que o medo cria.

Fontes de paz e de inspiração

182
Há muitas maneiras de procurar fontes de paz e de inspiração. Uma é através
da música, que pode ser calmante e cheia de alma. Ponha a tocar baixinho música
sinfónica enquanto está em casa a relaxar. No seu livro The Mozart Effect: Tapping
the Power of Music to Heal the Body, Strengthen the Mind and Unlock the Creative
Spirit, Don Campbell diz que «a música clássica desperta e estimula o cérebro, além
de melhorar a audição e estimular a imaginação e a visualização».

Outra fonte de paz pode ser uma mantra. Uma mantra é uma frase ou uma
expressão que, recitada durante tempo suficiente, traz esse pensamento para a
realidade consciente. Por exemplo, pode criar uma frase e recitá-la como fonte de
conforto: «Neste dia, procurarei o maior bem para mim mesmo e para os outros. Far-
se-á a vontade de Deus.»

É uma das minhas preferidas. Esta mantra recorda-me que Deus tem um
desígnio para a minha vida e a de toda a gente, e eu lembro a mim mesmo que não
devo atrapalhar Deus no seu trabalho e sim deixá-lo guiar-me até onde quer que eu
vá. Estas palavras recordam-me que devo estar grato, mostrar compaixão e viver na
verdade, na ordem e com uma noção de propósito na minha vida.

Como auxílio para ajudá-lo a manifestar bons pensamentos com resultados


poderosos, aqui lhe deixo uma lista de palavras que poderá usar na sua mantra diária.

Paz Alegria Felicidade Verdade

Amor Beleza Equilíbrio Harmonia

Tolerância Beatitude Compaixão Bondade

Compreensão Perdão Inspiração Apaziguamento

Tranquilidade Clareza Fé Caridade

Criatividade Aceitação Gentileza Alma

Os bons pensamentos são contagiosos

183
O meu amigo Alan contou-me que estava num jantar quando a conversa
derivou para o tema das condições desfavoráveis do mercado bolsista. Alguém
sugeriu que o país estava à beira de deslizar para uma depressão e que os jornais só
falavam de desastres e desgraças. Alan decidiu demarcar-se. Dirigiu-se ao grupo,
dizendo que enquanto tivesse saúde e o amor da família e dos amigos, nada
conseguiria afectá-lo negativamente. Pouco depois, todos os que o tinham ouvido
começaram a manifestar esperança e optimismo. Com uma voz, uma poderosa
afirmação positiva, o estado de espírito geral tinha mudado.

Todos nós emitimos vibrações positivas ou negativas, muitas vezes sem


termos consciência de que o fazemos. E se fizéssemos um esforço para sermos
conscientemente positivos, para transmitirmos imagens do maior bem para nós
próprios e para os outros? E se fizéssemos uma tentativa deliberada de alinhar os
nossos pensamentos com o optimismo espiritual de Deus, recusando deixarmo-nos
enredar num medo egoísta? Os nossos pensamentos falam mais alto do que as nossas
palavras. Para mudar o que criamos, temos de mudar a maneira como pensamos.
Temos de dar atenção à nossa mente.

Gosto de imaginar o processo de dar atenção à nossa mente como aprender a


linguagem da tolerância e da compaixão. Se nos tornarmos mais tolerantes e
mostrarmos mais compaixão, falaremos a nova linguagem e transmitiremos
poderosas mensagens de mudança. Foi o nosso pensamento que fez do mundo aquilo
que hoje é: temos agora de elevar a vibração da forma de pensamento para ajudar a
modificá-lo.

184
CAPÍTULO 25

Mude-se a si mesmo e mude o mundo

QUANDO DEUS OLHA para o nosso mundo, pergunto a mim mesmo o que
vê. Verá a Sua criação com olhos felizes, ou um mundo a precisar de mudança? Verá
um mundo de justiça, de harmonia e de amor, ou um mundo onde não existe
compaixão?

Se acha que o nosso mundo precisa de melhorar, julgo que está no


comprimento de onda de Deus. A vozinha que exorta muitos de nós a procurar justiça
e moralidade, a alimentar os famintos e vestir os nus, é a voz de Deus a incitar-nos a
construir um mundo onde haja mais amor.

Como construir esse mundo mais bondoso e amável? Como modificar o duro
paradigma da pobreza de modo a que cada um de nós se veja como o protector do
seu irmão? Tolstoi, o romancista russo do século XIX que escreveu Guerra e Paz,
observava: «Toda a gente pensa em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em
mudar-se a si mesmo.» Confrontados com os problemas da humanidade, achamos
mais fácil criticar o muito que está mal do que ser um modelo do que seria melhor.
Mas pense nisso. Tratando-se do que podemos controlar, é muito mais fácil alterar o
nosso próprio comportamento. Cada um de nós é um ponto de partida de mudança.

A linguagem da mudança

Há três frases que englobam a linguagem da mudança:

1. Mudar de ideia é alterar uma emoção ou um sentimento que anteriormente


se tinha a respeito de qualquer coisa ou de alguém.

2. Mudar de tom é alterar a nossa abordagem ou atitude.

185
3. Mudar de opinião é alterar uma decisão anteriormente tomada.

Vou dar-lhe um exemplo de como a linguagem funciona.

Aconteceu há dias, quando me encontrava à beira de entrar num confrontação


verbal com o meu amigo Scott. Não me agradava a maneira como ele estava a
comportar-se numa questão bastante trivial, e queria que mudasse de atitude. Quando
me preparava para descarregar a minha ira, a tal vozinha na minha cabeça disse-me
que antes disso fosse até à pastelaria beber um café. Enquanto esperava, peguei num
panfleto e li: «Não diga uma palavra. Pense antes de falar.»

Fiquei de boca aberta ao ver aquelas palavras.

Será preciso dizer-lhe que nunca cheguei a confrontar Scott com a minha
agressão? Enquanto engolia a minha ira destrutiva, sabia que a vozinha na minha
cabeça era Deus a chamar-me e o panfleto era Deus a falar-me. Deus a lembrar-me
de que se mudasse de ideia, poderia mudar de tom. E então, mudando de opinião,
podia afectar o desfecho do caso sem agressão nem hostilidade.

Procuro muitas vezes inspirações divinas que me ajudem a modificar o meu


comportamento. A chave é estar sempre alerta aos sinais e prodígios, coincidências e
outros sinais que Deus me envia para me mostrar o papel que posso desempenhar na
situação. Através da nova linguagem, Deus está sempre a falar connosco, e nós
devemos ouvir o que Ele diz. O processo começa quando nos dedicamos a conseguir
a autoperfeição, mas num espírito de humildade, nunca nos esquecendo de pedir
inspiração a Deus.

O Deus que me fala não é irrazoável. Não me pede que limpe sozinho todos
os rios e ribeiros e instaure a paz na Terra para toda a humanidade. Só me pede o que
está ao meu alcance. Embora eu possa observar os problemas globais que afligem e
até paralisam o mundo, Deus sabe que sou apenas uma pessoa. Mas, como uma
pessoa, posso agir na minha vida e na minha esfera de influência e fazer uma grande
diferença. Deus lembra-me que não polua o meu próprio quintal nem crie mau
ambiente na minha comunidade ou entre aqueles com quem lido. Sei que quer que
não deixe sujo o lugar onde estive a acampar, e ouço-o claramente dizer-me: «Se

186
queres paz, faz a paz.» A paz na Terra começa pela maneira como trato os meus
amigos. Como posso eu esperar que haja paz no Médio Oriente se não fizer um
esforço para manter a paz com alguém que respeito e aprecio?

O que por vezes se atravessa no caminho das mensagens de Deus é o nosso


egoísmo e um ego que temos de enfrentar diariamente. Se não começo o meu dia de
joelhos em oração, se não medito ou devaneio para me situar num espaço mais
centrado, se não registo por escrito as coisas que me perturbam, o meu ego assume o
controlo. Basta-lhe a mais pequena das provocações para se lançar nesse inútil
discurso do «ele disse, ela disse», para inchar o peito e afirmar ter razão em tudo e
mais alguma coisa. Para o meu ego é melhor ter razão do que ser feliz. Consegue
enfurecer-me de tal maneira que por vezes perco as estribeiras. Mas se me proteger
com as ferramentas da auto-reflexão e da quietude, consigo atravessar o dia com paz
no coração, sabendo que fiz todos os possíveis por encontrar o melhor da minha
natureza, mesmo quando falho.

E você, qual é a sua experiência? O seu ego mantém-no mais em conflito do


que em paz? Que pode fazer para limpar os ressentimentos e as más atitudes que tem
vindo a manifestar? Como é que pode tornar-se um combatente mais pacífico pela
mudança positiva, para ajudar a criar o novo mundo de amor e bondade que está à
espera de nascer?

Curar as nossas atitudes

Embora mudança tenha obviamente a ver com transformação, precisamos de


saber como e onde começar. Para guiar o meu próprio comportamento, fiz
recentemente um rol de problemas e atitudes comuns que a meu ver prejudicam o
mundo e precisam de ser curados. Nomear essas atitudes ajudou-me a compreender
que passos posso dar na minha vida pessoal para procurar remediá-las. À frente de
cada atitude difícil da lista, escrevi o meu remédio. Se conseguir modificar o meu

187
comportamento nestes pontos escuros da minha própria vida, posso passar a fazer
parte da solução em vez de fazer parte do problema.

Problema: aversão

É uma hostilidade ou animosidade preconceituosa.

Solução: cordialidade

Cordialidade é uma exibição de boa vontade, de afabilidade.

Problema: condenação

Condenar é o acto de declarar uma pessoa ou uma coisa repreensível, errada


ou má.

Solução: empatia

Empatia é a capacidade de compreender os sentimentos ou as ideias dos


outros.

Problema: culpar

Culpar é encontrar defeito em alguém ou alguma coisa e considerar


responsável essa pessoa ou coisa.

Solução: louvar

Louvar é uma expressão de aprovação, de elogio ou de admiração.

Problema: desconsideração

Desconsideração é tratar outra pessoa como indigna de consideração e fazê-lo


sem sentir culpa ou remorso.

Solução: consideração

188
Consideração é interesse sincero pelos outros.

Problema: desdém

Desdém é um sentimento de desprezo ou escárnio pelo que consideramos


inferior

Solução: dignificar

Dignificar é elevar a posição de uma pessoa ou ferir dignidade ou honra a


alguém.

Problema: dogmatismo

Dogmatismo é uma visão ou uma perspectiva arrogantes e injustificadas


baseadas em premissas insuficientemente examinadas.

Solução: benevolência

Benevolência é uma inclinação para não ser severo ou estrito, mas, pelo
contrário, misericordioso e generoso.

Problema: envergonhar

Envergonhar é obrigar uma pessoa a agir fazendo-a sentir-se culpada.

Solução: afirmar

Afirmar é defender e apoiar as acções de alguém.

Problema: fanatismo

Fanatismo é ser obstinada ou intolerantemente devotado a opiniões ou


conceitos específicos.

Solução: tolerância

189
Tolerância é a capacidade ou a prática de reconhecer e respeitar as crenças ou
os costumes dos outros.

Problema: injustiça

Injustiça é a violação dos direitos dos outros.

Solução: justiça

Justiça é defender o que é justo e correcto.

Problema: intolerância

Intolerância é a qualidade de indisponibilidade para conferir igual direito de


expressão, sobretudo em questões religiosas.

Solução: tolerância

Tolerância é a qualidade de disponibilidade para conferir igual direito de


expressão, sobretudo em questões religiosas.

Problema: ira

Ira é uma forte sensação de desagrado e de antagonismo.

Solução: temperança

Temperança é moderação ou contenção no comportamento ou na expressão.

Problema: julgar

Julgar é fazer julgamentos, especialmente morais ou pessoais.

Solução: não julgar

Não julgar é não fazer julgamentos, especialmente morais ou pessoais.

190
Problema: raiva

Raiva é uma fúria violenta e incontrolada.

Solução: calma

Calma é a qualidade de ser sereno, livre de comoções ou agitações.

Problema: tacanhez

Tacanhez é ter falta de tolerância, amplitude de visão ou simpatia.

Solução: abertura de espírito

Abertura de espírito é ter tolerância, amplitude de visão ou simpatia.

Problema: vingança

Vingança é um acto de retaliação para tirar desforço.

Solução: resistência passiva

Resistência passiva é resistência por métodos não violentos a um governo,


uma pessoa ou uma ideologia.

Problema: violência

Vidência é o exercício da força física com o objectivo de violar, magoar ou


dominar outra pessoa.

Solução: paz

Paz é o estado de não ser perturbado por lutas, tumultos ou desavenças. É a


ausência de hostilidade.

Examine lenta e atentamente esta lista de atitudes. Quais se lhe aplicam? Por
um minuto que seja, consegue ver-se a mudar do problema para a solução, de uma

191
atitude negativa para uma atitude positiva? Faça seu objectivo eliminar as atitudes
negativas que o impedem de fazer parte de um mundo poderosamente positivo.

Por exemplo, resolva não desconsiderar os outros. Não permita que a


intolerância e o fanatismo lhe roubem a oportunidade de juntar-se a outras pessoas
para construir uma comunidade melhor. Não consinta que a ira e a violência enviem
mensagens de ódio. Crie um mundo de compaixão sendo compassivo. Crie um
mundo de bondade sendo bom. Crie um mundo de paz e justiça vendo como é
semelhante àqueles que considera seus inimigos.

Sete passos para a mudança

Aqui tem uma lista de sete simples passos para mudar que resultaram com os
meus clientes e comigo. A minha esperança é que resultem também consigo.

1. Reze a pedir a vontade de mudar. Peça a Deus que o ajude a mudar. Reze
pelos seus inimigos, locais e globais. Lembre-se de que o desfecho pertence a Deus.

2. Quando estiver a ter dificuldades, olhe bem para dentro de si e veja que
papel desempenhou na criação da situação. Sempre que possível, encontre-se cara a
cara para resolver a desavença com a pessoa com quem estiver em disputa.

3. Faça uma lista dos seus medos. Alguns são intuitivos, reacções viscerais
que nos avisam para estarmos vigilantes. Mas muitos medos, fobias e receios são
engendrados por histeria de massas e devem ser vistos como fantasmas de
insegurança, não como verdadeiras preocupações.

192
4. Faça uma lista dos seus preconceitos. Conheça melhor as causas das suas
parcialidades.

5. Aprenda mais a respeito das pessoas, lugares e coisas que são diferentes.
Veja como a ignorância distorce a razão.

6. Procure inspiração em livros e músicas que elevem o espírito, de modo a


encorajar o processo de mudança.

7.Perdoe e faça-se perdoar.

Mary Margaret aprende uma lição

A minha amiga Mary Margaret era directora da comissão administrativa da


Associação Sinfónica da pequena cidade onde vivia. O presidente da Associação
sugeriu que Allaya, uma recém-chegada à comunidade vinda do Paquistão,
partilhasse esse cargo com ela. Mary Margaret insurgiu-se. «Sou cristã e a minha
família vive há três gerações nesta cidade. Ninguém sabe nada a respeito dessa
mulher,» Mary Margaret estava não só a ser mesquinha, estava também a ser má.

Um dia, na igreja, o ministro fez um sermão sobre a tolerância. Disse que as


causas que nos levam a excluir os outros são o medo e a ignorância a respeito
daqueles cuja cor de pele é diferente da nossa ou rezam a um outro Deus. Quando
encerrou o sermão com a frase «ama o teu próximo como a ti mesmo», Margaret
tinha aberto o espírito e o coração e estava disposta a mudar de atitude para com
Allaya.

«Deus, por favor, envia-me um sinal de reconciliação», pediu.

193
No dia seguinte, Deus apontou o caminho a Mary. Quando foi buscar os
filhos à escola, viu-os na companhia de Allaya e dos dela. Sem hesitar, convidou-os
para irem a sua casa no sábado, fazer um piquenique. No piquenique, Allaya
retribuiu convidando-a para almoçar na semana seguinte.

Antes que as duas se encontrassem para almoçar, cada uma delas investigou a
religião e a cultura da outra recorrendo a livros, filmes e conversas com pessoas
versadas nessas questões. Mary Margaret ficou a saber muito sobre o que era ser
paquistanesa e muçulmana, e como devia ter sido duro mudar-se para a América,
sendo as condições mundiais aquilo que eram. Allaya leu a respeito dos
episcopalianos e da Nova Inglaterra e, falando com Margaret, soube das dificuldades
financeiras que ela tivera de enfrentar ao crescer numa zona rural do Kentucky.

Mary Margaret acolheu Allaya como co-directora e organizou um chá para


apresentá-la às amigas.

Mary Margaret tinha começado por reagir por medo e ignorância. Estava
dominada pelo receio global que inspiravam as pessoas oriundas do Médio Oriente e
pela ignorância daquilo que julgava serem as crenças dos muçulmanos. Em poucos
minutos, num almoço com Allaya, os seus medos dissiparam-se e ficou a saber o que
era ser muçulmana. Ambas se riram do modo como o medo e a estupidez quase as
tinham privado de uma amizade.

— Mary Margaret, eu tinha tanto medo de ti como tu de mim. Precisava de


ser educada a respeito das crenças cristãs. Tivemos ambas uma lição de tolerância.
Perdoas-me ter-te julgado mal? — pediu Allaya.

— Já perdoei — respondeu Mary Margaret.— e tu, perdoas-me a mim?

As duas mulheres abraçaram-se. Não só resolveram as suas diferenças como


encontraram uma na outra muito de que gostar.

Hoje, são amigas íntimas, e as duas famílias viajam muitas vezes juntas. Dois
dos seus filhos são colegas de quarto na universidade.

Mude-se a si mesmo e mude o mundo.

194
CAPÍTULO 26

O dealbar da era dos milagres

COMO SERIA O MUNDO se todos nós estivéssemos em contacto consciente


com a fonte divina? Se estivéssemos todos tão calados e limpos que a vozinha dentro
de cada um de nós conseguisse fazer-se ouvir? Se os sinais de Deus, os murmúrios de
anjos, as sincronicidades e as coincidências chegassem até nós tão rapidamente que
conseguíssemos não só ouvir a vontade de Deus para as nossas vidas mas também
compreendê-la e concretizá-la? Se todos afinássemos os nossos diapasões para emitir
compaixão e tolerância, e procurando, como diz a Bíblia, «fazer bem não só diante
de Deus mas também de todos os homens»? Se uma massa crítica de pessoas
começasse a trabalhar com a nova linguagem, acredito que assistiríamos ao início de
uma extraordinária nova era em que não haveria limites.

Nesta nova era de milagres, testemunharíamos talvez grandes mudanças à


medida que mais de nós entrassem na Frequência de Deus. A canalização do amor e
das energias curativas de Deus através de nós para os outros poderia resultar em
curas espontâneas. A comunicação mente-a-mente poderia tornar-se uma maneira
corrente de falarmos com outras pessoas cujo comprimento de onda conhecêssemos.

Talvez a mentira desaparecesse quando as nossas antenas se tornassem


capazes de detectar e desarmar as vibrações ameaçadoras do embuste e da falsidade.

Admito que sou um optimista, mas o potencial para um novo mundo cheio de
milagres é uma visão de que não abdico. Acreditando no ilimitado poder de Deus
para trabalhar dentro e através de cada um de nós, vejo um universo na crista da onda
da grandeza depois de séculos de adversidade. Prenhes da nova linguagem. somos
todos capazes de ajudar a nascer um mundo construído com base numa ética de
respeito e generosidade, de dignidade e justiça. A escolha é nossa.

195
Ver a nova linguagem como um poderoso catalisador de mudança espiritual
exige reconhecer o nosso papel na transição. Falámos da necessidade de escutar o
som da inspiração divina, de procurar a orientação de Deus e segui-la o melhor que
pudermos, e de ter pensamentos puros. São estes os passos simples que podem dar
início a uma longa e compensadora viagem.

No entanto, para que a alvorada da idade dos milagres aconteça, é preciso que
o Sol se ponha sobre um conjunto de padrões que até agora nos iludiram. A nossa
natureza humana tem de encontrar a elevação moral que permita aos eus espirituais
florescer. A ganância tem de dar lugar à generosidade de espírito, O descanso pelos
sofrimentos dos outros tem de ser substituído pela compaixão e pela compreensão.

Os muros que dividem culturas, nações, raças e classes sociais têm de cair —
como caiu o Muro de Berlim — deixando emergir uma consciência nova e
melhorada.

Como e se a idade dos milagres se vai manifestar depende do que fizermos


nas nossas vidas individuais. Se praticarmos o amor e a tolerância em casa e no
nosso bairro — no trabalho e no descanso — a nossa mensagem poderá irradiar e
inspirar aqueles que vivem do outro lado do mundo. Se assumirmos a
responsabilidade pelas mensagens que estamos a emitir, se deixarmos que o coração
guie a cabeça e se provirmos às necessidades dos outros como provemos às nossas,
acredito que as possibilidades são infinitas. Podemos acabar com a fome no mundo.

Os biliões gastos na defesa podem ser usados para alimentar os nossos irmãos
e irmãs que morrem de inanição. Os sem-abrigo podem tornar-se uma coisa do
passado. E os medos do mundo podem desaparecer.

As ilusões do ego fizeram cessar os milagres do quotidiano. Parte do prelúdio


do dealbar da idade dos milagres envolve pôr de lado o egocentrismo e o egoísmo,
banir o narcisismo e o medo nascido da insegurança e da necessidade de um controlo
excessivo. Se trabalharmos nisto, acredito que Deus ajudará a reunir os Seus filhos
— os pródigos que esqueceram a linguagem e esqueceram que Deus é o Pai amante
de todos. O verdadeiro significado desta nova era de milagres que há-de nascer é o

196
reconhecimento de que somos divinos e fazemos parte de uma consciência —
falamos a mesma linguagem sem palavras, uma linguagem que brota do coração para
nos unir a todos. Nós, como Seus Filhos, devemos estar prontos para viver em paz e
harmonia. E devemos desejar que esta era de milagres desponte.

Vale a pena considerar as primeiras palavras da Declaração de Independência


quando determinarmos as nossas futuras relações em casa e no estrangeiro. Embora
este documento assinale a nossa separação formal da tirania de Inglaterra e do seu
rei, o sentimento pronuncia um compromisso de liberdade para todos.

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um povo


dissolver os laços políticos que o ligaram a outro e assumir entre os poderes da Terra
o lugar separado e igual a que as Leis da Natureza e do Deus da Natureza lhe dão
direito, o respeito decente pelas opiniões da humanidade exige que esse povo declare
as razões que o levaram à separação.

Temos estas verdades por evidentes em si mesmas, que todos os homens são
criados iguais, que são dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, e que
entre esses direitos se contam a Vida, a Liberdade e a procura da Felicidade.

Realizar a visão proposta pelos autores da Declaração de Independência vai


exigir dedicação. E vai exigir oração. Para minha própria inspiração pessoal, nunca
passo muito tempo sem ler ou recitar a Oração da Paz, atribuída a São Francisco de
Assis mas escrita por um anónimo durante a I Guerra Mundial. A Oração da Paz
ajuda-me a agarrar-me à visão do plano divino de Deus. Talvez também lhe seja útil
a si, agora que procuramos herdar uma era de milagres.

Senhor faz de mim um instrumento da Tua Paz.

Onde há ódio, deixa-me semear amor;

Onde há ofensa, perdão;

Onde há dúvida, fé;

Onde há desespero, esperança;

197
Onde há escuridão, luz;

Onde há tristeza, alegria.

Ò Divino Mestre, permite

Que eu procure mais

Consolar do que ser consolado;

Compreender do que ser compreendido;

Amar do que ser amado;

Porque é dando que recebemos;

É perdoando que somos perdoados;

É morrendo que despertamos para a vida eterna.

O novo milénio de milagres é nosso se o pedirmos. Para realizar o seu


potencial, todos terão de estar dispostos a fazer a sua parte, principiando por uma
disponibilidade para abrir-se ao poder e à promessa da nova linguagem. Sente que
está pronto para eliminar a sua estática? Está preparado para abraçar o seu ego?
Encontra em si a vontade para se mudar a si mesmo? Então faz parte das
maravilhosas criações que estão para acontecer.

198
CAPÍTULO 27

Deixar passar o poder

ENQUANTO VIVEMOS na esperança de uma era de milagres no nosso


volátil mundo, cada um de nós tem uma decisão a tomar. Durante demasiado tempo,
a nossa vida espiritual tem sido governada por um punhado de homens de poder
ciosos do seu papel de mediadores na nossa relação com Deus, que nos dizem em
que acreditar, como e quando rezar, e o que dizem os nossos livros sagrados. Ao
longo dos milénios, estes autonomeados intermediários usaram o guarda-chuva da
religião organizada para usurpar o direito das pessoas a governarem-se a si mesmas e
a acreditarem no que lhes parecer ser certo. Em vez de nos encorajarem a ouvir o que
Deus tem para nos dizer, as autoridades eclesiásticas suprimiram a nossa ligação
directa para Deus com palavras duras. À medida que os séculos passavam, a nossa
adesão às sanções dos corpos religiosos não só modelou aquilo em que acreditamos
como também nos tomou menos responsáveis pelas nossas acções perante nós
próprios. Atrever-me-ia a dizer que a raiva que alguns hoje sentem contra os crentes
de outras religiões mais não é do que uma transferência da raiva que trazem
reprimida contra as hierarquias religiosas que lhes roubaram o poder de acreditar no
que escolherem acreditar?

Há, pois, uma decisão a tomar. Chegou o momento de se tomar a sua própria
autoridade? Chegou a altura de ser responsável por si mesmo, e avançar sem
mediadores? E chegou a altura de procurar a orientação de Deus na sua vida — de
viver a sua vida com a esperança universal de que outros possam fazer o mesmo? Só
você pode decidir.

Espero que os exercícios e a informação que encontrou neste livro o tenham


ajudado a encontrar respostas para estas perguntas. Espero que o que aqui ficou a
saber a respeito do maravilhoso sistema de mensagens de Deus feito de
coincidências, sincronicidades, sinais e prodígios, murmúrios de anjos, presságios,

199
epifanias e outras maneiras telepáticas de comunicar o tenha ajudado. Acredito que
todos nós temos um acesso imediato a Deus através da nova linguagem, a Sua língua
materna. Acredito que você pode ouvir as mensagens e as instruções de Deus, se
souber escutar.

No nosso universo em permanente mudança, estamos constantemente a


escolher entre novas ideias, novas ondas de pensamento e de conceitos, para ver o
que nos serve. Se ficou minimamente intrigado com o que aqui leu, pratique a nova
linguagem no seu mundo do dia a dia para resolver os mistérios que a vida lhe
apresenta.

E todos os dias ao acordar, e todas as noites ao adormecer, recorde a mantra


que pode levá-lo a lugares que só Deus poderia sonhar para si: deixar passar o poder
dos poucos para os muitos.

200
V PARTE

Perguntas e respostas a respeito da nova linguagem

201
CAPÍTULO 28

Explorar a nova linguagem

Preciso de me limpar para compreender a nova linguagem?

Não, mas ajuda. Quase todos os adultos carregam consigo alguma bagagem
emocional. As nossas emoções mais não são do que energia que pode ser leve e
translúcida, como o amor e a alegria, ou pesada e densa, como o medo e a ira.
Limpar os ressentimentos passados e os padrões emocionais autodestrutivos remove
a energia pesada que pode estorvar a nossa capacidade de conversar em privado com
Deus. É mais ou menos como eliminar a estática num rádio. A nossa recepção das
mensagens intuicionais que chegam na nova linguagem diminui quando estamos
zangados, perturbados, preocupados ou deprimidos. Nessas alturas, os nossos
campos de energia são demasiado densos e não recebem tão bem os sinais de Deus.

Quanto tempo demora a compreender a nova linguagem?

Alguns dos meus clientes apanham-na logo. Para esses, é apenas uma questão
de dar nome a uma experiência que vêm a ter desde há muito. E os nomes são
importantes, como quase todos sabemos. Quando lemos um romance e descobrimos
simbolismos ou vamos ao cinema e assistimos a um prenúncio, compreendemos mais
facilmente o fenómeno porque o conceito foi identificado. É aquilo a que C. S. Lewis
chamava o poder da nomeação. O mesmo se aplica à linguagem corporal, à
programação neurolinguística e à nova linguagem. Durante muito tempo, penso eu,
muitas pessoas tiveram experiências com a língua materna de Deus, mas não sabiam
como chamar-lhe. Agora que lhe foi dado um nome, tornou-se mais fácil de
compreender.

Para aqueles que são mais lentos a ouvir e usar a nova linguagem, o meu
conselho é fazerem os exercícios que recomendo neste livro, porque com a prática da

202
oração, da meditação e a manutenção de um diário, acabarão por reconhecer e falar a
nova linguagem.

Quanto tempo vou demorar a tornar-me fluente na nova linguagem?

Não muito, se for empenhado. Alguns dos meus clientes dizem que a partir do
momento em que conhecem a mecânica da nova linguagem, lhe apanham
rapidamente o ritmo — regra geral no espaço de um mês. Começam a ver a
interligação que une acontecimentos, pessoas e sinais. Além disso, deixam de ignorar
orientações importantes, como anteriormente talvez tivessem feito.

Como saberei distinguir a diferença entre os desvarios da minha imaginação


e a nova linguagem?

Excelente pergunta, e que me fazem com muita frequência. Certas pessoas


têm tendência para ver o que lá não está, para se iludirem a si mesmas, confundindo
coisas vulgares com conselhos ou orientações divinos. Baseado na minha experiência
e naquilo que os meus clientes me dizem, cheguei à conclusão de que a prática é a
chave que lhe permitirá destrinçar entre os seus desejos e a verdadeira presença de
mão de Deus na sua vida. Os resultados não surgem imediatamente. Além disso,
quando se aprende uma nova língua, é natural hesitar e falar aos solavancos, ao
princípio — no género conversa de bebé. Mas há-de obter verdadeiros resultados que
se tornarão cada vez mais claros com o tempo e a prática. E prometo-lhe que vai ficar
estupefacto quando os experimentar.

203
Tem uma definição simples para a nova linguagem?

Tenho. É, muito simplesmente, a maneira que Deus tem de falar connosco. A


nova linguagem é a língua materna de Deus, a maneira como nos tem falado desde os
tempos bíblicos. Desde Moisés e da sarça-ardente que Deus usa a linguagem dos
sinais para nos contactar. Ora, Moisés devia ser um sujeito muito esperto, porque
quando Deus lhe mostrou um arbusto a arder no meio do deserto, percebeu logo —
foi direito ao alto da montanha para ir buscar os Mandamentos. Já lá vão mais de três
mil e duzentos anos e nós ainda estamos a coçar a cabeça!

Como é isso?

Depois dos tempos bíblicos, começaram a surgir por todo o mundo as


religiões organizadas e houve uma luta pelo Poder. Já reparou como certas pessoas
gostam de mandar nos outros? Bem, quando apareceram as religiões organizadas, o
poder concentrou-se numas poucas mãos. Os que mandavam gostavam obviamente
de dizer aos outros o que pensar e o que fazer. Foi criada uma infinidade de regras e
dogmas feitos pelo homem, e não tardou muito que as pessoas estivessem de joelhos
a recitar as orações «certas» à hora «certa» — como se Deus fosse um ego obsessivo-
compulsivo agarrado a um horário rígido. O Deus que fizera o homem à sua divina
imagem deve ter-se fartado de rir ao ver o homem refazê-lo a Ele segundo moldes
humanos.

Continuamos ligados à fonte enquanto estamos na Terra?

Absolutamente, e a energia é o fio que liga todas as coisas umas às outras. É a


força unificadora, a substância de que são feitos os nossos pensamentos e emoções.
Por isso é tão importante prestar atenção ao que pensamos e sentimos, sermos

204
construtivos nos nossos pensamentos e emoções e não deixar que os agravos e as
más intenções fiquem a pairar por cima de nós. Os pequenos impulsos energéticos
que irradiam dos nossos corações e das nossas mentes transportam cargas positivas
ou negativas. Essas cargas influenciam tanto o campo de força à nossa volta como o
universo em geral.

Toda esta conversa a respeito de energia coloca-o no campo de Einstein. É aí


que está?

Sim. A vida é energia. Quando uma pessoa é atraída por outra, isso é a energia
a funcionar, criando uma atracção. Quando uma pessoa tem carisma, também isso é
energia. O riso é energia positiva a derramar-se pelo universo.

Tenho de fazer aqui uma pausa para explicar que a energia só é positiva se
emana do nosso eu mais elevado. A energia alimentada por um ego transviado pode
ser muito perigosa. Hitler, por exemplo, usou o seu enorme carisma com efeitos
catastróficos ao hipnotizar uma nação incapaz de discriminar.

Como aprendemos a discriminar?

É uma pergunta muito importante que tem uma resposta muito simples:
pedindo. Lembra-se daquela frase da Bíblia «Pedi e ser-vos-á dado»? Pois bem,
quando não tiver a certeza de estar com as pessoas certas ou a encaminhar-se na
direcção correcta, peça ajuda. Peça muitas vezes e de coração aberto. Ao longo de
cada dia, contacte com Deus e tome nota do que ouve, vê ou aprende. Sensibilize-se
para a nova linguagem.

205
Que quer isso dizer: sensibilizar-me?

Tornar-se mais confiante e consciente. Como qualquer outra capacidade, a sua


sensibilidade à orientação de Deus desenvolver-se-á lentamente e com a prática —
eliminando a estática, escutando e praticando; estamos a afinar as nossas
capacidades.

Fomos então verdadeiramente criados à imagem de Deus?

Total e completamente, um verdadeiro pedaço do velho bloco de energia.


Algumas das implicações mais importantes da teoria da energia situam-se nas áreas
dos cuidados de saúde e da Medicina. Desde que a ciência começou a ver o corpo
como algo mais do que carne e sangue, foram dados grandes passos através de
abordagens alternativas à medicina, especialmente aquelas que aprofundam mais a
questão da energia. Hoje, usa-se a acupunctura para influenciar os meridianos
eléctricos do corpo. Utiliza-se ímans para alterar a polaridade no tratamento de dores
de coluna e de fracturas ósseas. E não esqueçamos as curas espirituais. Através dos
pontos de energia localizados nas mãos e do poder do pensamento, o curador liga-se
à fonte de energia divina para ajudar o paciente a recarregar a sua própria energia.
Todas estas técnicas de cura são excitantes e capazes de produzir resultados
extraordinários.

Tem-se falado muito, nestes últimos anos, a respeito de as pessoas viverem no


mundo dos espíritos depois da morte física. Esta ideia enquadra-se com toda essa
conversa sobre energia?

Perfeitamente. Quando o corpo morre, a alma continua a viver para sempre.


Isto porque a alma é feita de energia, e a energia pode ser transformada, mas nunca

206
destruída. Uma vez libertada do seu invólucro físico, a alma pode partir para o
mundo dos espíritos, isenta das regras e regulações de tempo e de espaço que regem
a vida na Terra. Mas o que veste a pobre alma? Para a ocasião, o corpo etéreo é a
indumentária correcta. O nosso corpo etéreo é uma cópia exacta do nosso corpo
físico. Quando uma pessoa na Terra diz que viu alguém que passou para o mundo dos
espíritos e que esse alguém parecia mais perfeito do que quando vivia, isso deve-se
ao facto de aparecer com o seu corpo etéreo. O corpo etéreo é mais luminescente e
vibra numa frequência de energia mais elevada do que o nosso corpo físico, que é
mais denso.

Acha que as pessoas no mundo dos espíritos estão de algum modo envolvidas
na nova linguagem?

Penso. Acredito que os nossos entes queridos servem por vezes de


mensageiros de Deus. Mudam coisas de um lado para o outro nas nossas casas e
murmuram-nos ao ouvido. Penso que as nossas formas de pensamento de amor as
atraem para nós e que nos oferecem a ajuda que podem na nossa vida do dia a da.

E os anjos?

Acredito neles. Deus tem montes de ajudantes para fazer o Seu trabalho. Os
anjos são mensageiros da fonte.

No começo do século, falava-se muito a respeito de fluxo de consciência. A


língua materna de Deus tem alguma coisa a ver com isso?

207
Exactamente. Percebeu bem. A língua materna de Deus, a nova linguagem,
faz parte do fluxo divino de consciência. Os pensamentos da cabeça de Deus
rodeiam-nos por todos os lados. Nadamos neles. Sabendo disto, podemos ir com a
maré em vez de sermos arrastados por correntes contrárias.

E as crianças, também elas podem aprender a nova linguagem?

Sim. Está cientificamente provado que as crianças aprendem uma língua


estrangeira mais depressa do que os adultos, O mesmo se aplica à aprendizagem da
nova linguagem. Muitas vezes, os pais desencorajam os amigos imaginários dos
filhos. É importante não envergonhar as crianças por terem uma imaginação muito
vivida ou pela capacidade de se sintonizarem com as suas próprias intuições ou as
dos amigos. Um factor que ajuda imenso os jovens a serem capazes de ouvir e falar a
nova linguagem é estarem rodeados de adultos que apreciam o facto e o demonstram.

208
VI PARTE

Recursos

A respeito do Sedona Intensive

Integrado em Sedona, Arizona, há mais de dezoito anos, o Sedona Intensive


de Albert Clayton Gaulden foi fundado na crença de que Deus quer que todos nós
tenhamos a nossa ligação pessoal com Ele, para podermos beneficiar da Sua
orientação directa e do Seu amor. Gaulden vê em cada pessoa um canal de
comunicação, e as suas equipas de apoio ajudam os indivíduos a eliminar a estática
das emoções e das infâncias difíceis que impedem a voz de Deus de chegar até eles.

O Sedona Intensive não é um centro de tratamento, mas antes um programa


de crescimento pessoal que ajuda os clientes a enfrentar as compulsões e as
dependências autodestrutivas. O intensivo lida com o alcoolismo e a co-dependência,
com problemas comuns como a ansiedade e a depressão, bem como o divórcio e a
morte, ensinando aqueles que passam pelo processo a falar a nova linguagem e a
libertarem-se daquilo que os perturba.

O cliente identifica padrões na sua história familiar que são emocional e


psicologicamente prejudiciais - como o secretismo, o narcisismo, a rejeição, o abuso
sexual e físico, o abandono — fazendo por escrito e discutindo um inventário
pormenorizado da sua vida, meditando e mantendo um diário. É aconselhado por um
psicólogo espiritual, são-lhe administradas massagens, assiste a reuniões, tem lições
de ioga e recebe ajustamentos quiropráticos. Revê questões essenciais com a ajuda de
um técnico de respiração transformacional e descontrai num jacuzzi, banho de vapor
ou sauna depois de relaxantes passeios pelas montanhas de Sedona. O Sedona
Intensive resgata os preciosos filhos de Deus que eram mantidos como reféns pelos

209
seus próprios egos. Através do processo de limpeza — que inclui oração e meditação
— o cliente recupera o seu poder e torna-se responsável pelas suas acções.

Os livros usados no programa são Clearing for the Millennium, de Albert


Clayton Gaulden; The Invisible Partners: How the Male and Female in Each of Us
Affects Our Retationships, de John A. Sanford; My Ego, My Higher Power and I: A
Transformational Journey from Ego to Higher Self, de Jerry Hirschfield; When
Things Fall Apart: Heart Advice for Difficult Times, de Pema Chodron; Silently
Seduced: When Parents Make Their Children Partners: Understanding Covert
Incest, de Dr. Kenneth M. Adams; Why People Don’t Heal and How They Can e
Spiritual Madness: The Necessity of Meeting God in Darkness, de Caroline Myss:

How lo Know God: The Yoga Aphorisms of Patanjali, de Swami


Prabhavananda e Christopher Isherwood; Answers in lhe Heart: Daily Meditations,
da Hazelden Meditation Series; Words to Live By: Inspirations to Live By, de Eknath
Easwarm, e The Twelve Steps for Everyone... Who Really Wants Thenz, de Hazelden.

Para mais informações, contacte:

Web site www.SedonaIntensive.com

Info@snaIntensive.com

210
Já experimentou

a nova linguagem?

Se já teve uma experiência com a nova linguagem e quer partilhá-la, por


favor, escreva-me:

Albert C!ayton Gaulden

The Sedona Intensive

P.O. Box 2309

Sedona, Arizona 86339-2309

stories@SedonaIntensive.com.

Procure a sua história no meu Sedona Intensive web site:


www.SedonaIntensive.com.

211
Bibliografia

Adams, Kenneth M.. Silently Seduced: When Parents Make Their Children Partners:
Understanding Covert Incest, Florida, Heath Comunications, Inc., 1991

Barks, Coleman e Michael Green, The Illuminated Prayer: The Five-Times Prayer of
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212
Fox, Emmet, The Sermon on the Mount: The Key to Success in Life, São Francisco,
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Michigan, Westminster John Knox Press, 1988,

Weaver, Warren, Lady Luck: The Theory of Probability, Nova Iorque, Dover, 1982.

214
Agradecimentos

TIVE A FELICIDADE de conhecer muitas pessoas que contribuíram para a


minha vida e para o meu trabalho. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para
agradecer-lhes a ajuda. Este livro não poderia ter sido escrito se eu não tivesse visto e
ouvido a nova linguagem nas vidas dos que me rodeavam. Estarei eternamente em
dívida para com Joann Davis, por me ter ajudado a descobrir a Nova Linguagem,
Leonora Hornblow, por me ajudar a refiná-la, e Scott Carney, por me ajudar a vivê-
la.

Quero, em primeiro lugar, agradecer à minha mãe e ao meu pai, aos meus
irmãos e irmãs, Mary, Louise, Bill, Henry, Margie e Jennie, por me terem ensinado
lições que eu não queria aprender.

Quero expressar o meu agradecimento e a minha devoção ao meu mestre


Swami Swahananda, por me ter ensinado a confiar no que Deus me dizia e a saber
como ir até onde; Ele me guiava. Um milhão de obrigados a Larry Kirshbaum, por
ter publicado o meu primeiro livro e por continuar a ser um anjo na minha vida.

Quero agradecer a Stephen Coslik, que me encontrou através da linguagem da


coincidência e apoiou o meu trabalho com os seus empregados. E à mulher dele,
Michelle, e aos filhos Avery e a minha afilhada Isabella, pela alegria que trouxeram à
minha vida.

São devidos os mais altos elogios a Steve Kaufman, por ter mantido o meu
computador a trabalhar enquanto escrevia este livro, e a Steve Hansen, por ter
concebido o fascículo de apresentação.

Ficarei eternamente grato e David Arthur Bell, por ter lido o manuscrito e
pelas úteis sugestões que me fez, e à mulher, Gail, e filhos Ashley e Andrew, pelo seu
amor e apoio.

215
Os meus agradecimentos vão também para Joseph de Nucci, por ter
compreendido a mensagem de Sinais de Deus e deixar-me partilhá-la em Miraval,
Life in Balance Spa.

Quero agradecer aos líderes da Unity Church Jane e Barry Barthalow,


Lawrence Palmer, Rebekah Dunlap e à Rev. Dra Barbara King, por divulgarem a
nova linguagem.

Quero agradecer a Darrel Harris, por ter sido um professor paciente e um


grande amigo desde há mais de trinta anos.

Estou grato a Gay F. Wray, que conheci através da linguagem e que tem sido
um amigo maravilhoso há mais de dezassete anos.

Estou obrigado a Cindy Nelson e Bill Mullen por me ensinarem a amar; a


Cathy e Paul Friedman, por me ensinarem a rir; a Gloria e Bob Decker, por me
ensinarem a desligar; a Kathy G. Mezrano, por me ensinar a ser outra vez criança; a
Carol Marcus, por me ensinar a confortar; a Salie Merril-Redfield, por me ensinar a
acalmar; a Stephanie e John Hogge, por me ensinarem a partilhar; a Diane Ladd e
Robert Hunter, por me ensinarem a brincar; a Joe Braswell, por me ensinar a sentir; a
Sagan Lewis, por me ensinar a perdoar; a Kate e John Noonan, por me ensinarem a
ser amigo; às monjas do Sarada Convent, por me ensinarem a servir, e a Colin Tap,
por me mostrar a coragem de mudar as coisas que posso mudar.

Quero agradecer às luzes espirituais que prepararam o caminho para este livro
— e nenhuma foi mais brilhante nem mais corajosa do que Shirley MacLaine. Quero
agradecer a Paulo Coelho, Larzy Dossey, Eckhart Tolle, James Redfield e muitos
outros por terem sido portadores do facho da verdade e nos terem oferecido pedras-
de-toque para o crescimento da alma.

Estou grato a Ken Davis pela sua generosa ajuda com as referências históricas
e bíblicas. Do que eu não me lembrava, lembrava-se ele.

Estou em dívida para com a directora da Atria Books, Judith Curr, pela sua
visão ao publicar este livro; para com Brenda Copeland, pela sua ajuda e rapidez de
resposta; para com a dedicada equipa de marketing: Seale Balienger. Shannon

216
McKenna e Cathy Gruhn, e sobretudo para com Tracy Behar, por ter tornado a
mensagem deste livro mais forte, mais clara e mais audível. Todos os escritores
deviam ter a sorte de trabalhar com um editor tão dotado como ele.

Agradeço a todos os que me enviaram histórias que ajudaram a corroborar a


maneira como Deus fala com todos nós.

Estou grato a Rich, Jean, Sabena, Scot e Amy, Gabrielle, Marc e Jan, Keith e
Pamela, Mike, Lois e outros especialistas por ajudarem a tornar o Sedona Intensive o
que hoje é.

Ao meu grupo de apoio das manhãs de sábado, os meus sentidos


agradecimentos por todo o amor que me têm dado ao longo dos anos.

Mas acima de tudo, os graduados do Sedona Intensive. Este é o vosso livro,


porque me ajudaram a manter-me suficientemente limpo de estática para poder
escrevê-lo.

217

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