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INTENSIVO I

Flávio Tartuce
Direito Civil
Aula 12

ROTEIRO DE AULA

Teoria Geral das Obrigações (continuação)

3. Classificação da obrigação quanto à complexidade da prestação

3.2. Obrigação composta objetiva

b) Obrigação disjuntiva ou alternativa (CC, arts. 252 a 256). Continuação.

V – Inadimplemento das obrigações alternativas:

➢ Duas regras fundamentais:

• Sem culpa do devedor: resolução sem perdas e danos (CC, arts. 2531 e 2562).

✓ Se uma das prestações tornar-se impossível, restará a obrigação quanto à outra.


✓ Se as duas prestações tornarem-se impossíveis, a obrigação será reputada extinta.
• Com culpa do devedor: resolução com perdas e danos (CC, arts. 2543 e 2554). A quem cabe a escolha influencia
na resolução:

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CC, art. 253: “Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o
débito quanto à outra”.
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CC, art. 256: “Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação”.

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✓ Se a escolha não é do credor: o valor da última mais perdas e danos.
✓ Se a escolha é do credor: qualquer das prestações mais perdas e danos.

VI – Observações:

➢ Não confundir obrigação de dar coisa incerta com obrigação alternativa:

Obrigação de dar coisa incerta Obrigação alternativa


Obrigação simples. Obrigação composta (mais de uma prestação).
Dar. Dar, fazer ou não fazer.
Mesmo gênero. Gêneros distintos.

Em comum: nos dois casos há necessidade de uma escolha, que será feita pelo devedor - ☺.

➢ Não confundir também obrigação alternativa com a obrigação facultativa:

Obrigação de dar coisa incerta Obrigação facultativa


Composta (mais de uma prestação). Simples: uma prestação + faculdade (segunda opção do
Qualquer uma delas pode ser exigida. devedor).
A faculdade não pode ser exigida pelo credor.
Locução: “se o devedor quiser”.

4. Estudo das obrigações solidárias (CC, art. 264 a 285)

4.1. Regras gerais

I – As obrigações solidárias são relevantes quando há mais de um credor e/ou mais de um devedor (obrigações
compostas subjetivas).

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CC, art. 254: “Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a
escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso
determinar”.
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CC, art. 255: “Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o
credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor,
ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da
indenização por perdas e danos”.

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II – CC, art. 2645: há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor (solidariedade ativa) ou
mais de um devedor (solidariedade passiva) cada um com direito ou obrigado pela dívida toda.

Todos os credores ou devedores são tratados como se fossem um só (“in solidum”).

III – CC, art. 2656: solidariedade não se presume, decorre da lei (solidariedade legal) ou da vontade das partes
(solidariedade convencional).

Observação n. 1: a regra é aplicada à responsabilidade civil contratual. No âmbito da responsabilidade civil


extracontratual aplica-se o regime do artigo 942 do Código Civil7.

IV – Vejamos:

➢ Solidariedade ativa (entre credores):

• Legal – exemplo: locadores (Lei n. 8.245/91, art. 2º8).


• Convencional – exemplo: contrato bancário, celebrado com dois bancos credores solidários.

➢ Solidariedade passiva (entre devedores):

• Legal – exemplos: locatários (Lei n. 8.245/91, art. 2º) e comodatários (CC, art. 5859).
• Convencional – exemplo: fiador em relação ao devedor principal.

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CC, art. 264: “Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor,
cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda”.
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CC, art. 265: “A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes”.
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CC, art. 942: “Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano
causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932”.
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Lei n. 8.245/91, art. 2º: “Havendo mais de um locador ou mais de um locatário, entende - se que são solidários se o
contrário não se estipulou”.
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CC, art. 585: “Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente
responsáveis para com o comodante”.

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Observação n. 2: o fiador, em regra, não é devedor solidário, mas subsidiário. Muito cuidado com isso para as provas.
Ver os dispositivos abaixo:

• CC, art. 82710: o fiador tem o benefício de ordem ou de excussão: primeiro deve ser demandando o devedor
principal. Fiador é devedor subsidiário.
• CC, art. 82811: o fiador pode renunciar ao benefício de ordem ou assumir a condição de solidário, por força do
contrato (solidariedade convencional).

➢ Solidariedade mista ou recíproca (credores e devedores):

• Legal – exemplo: locatários e locadores (Lei n. 8.245/91, art. 2º).


• Convencional – exemplo: contrato bancário com vários bancos credores e dois devedores, todos solidários.

Observação n. 3: a solidariedade mista ou recíproca é uma criação doutrinária.

4.2. Regras quanto à solidariedade ativa (credores)

➢ 1ª regra: Na solidariedade ativa, cada um dos credores poderá exigir a prestação por inteiro. Enquanto alguns dos
credores não demandarem o devedor comum a qualquer um dos credores poderá o devedor pagar (CC, art. 268).

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CC, art. 827: “O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide, que sejam
primeiro executados os bens do devedor.
Parágrafo único. O fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere este artigo, deve nomear bens do devedor,
sitos no mesmo município, livres e desembargados, quantos bastem para solver o débito”.
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CC, art. 828: “Não aproveita este benefício ao fiador:
I - se ele o renunciou expressamente;
II - se se obrigou como principal pagador, ou devedor solidário;
III - se o devedor for insolvente, ou falido”.

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Observação n. 4:

• Antes da demanda, o devedor pode pagar para quem quiser e como quiser.
• Na solidariedade ativa existem duas relações:

✓ Relação externa: credores e devedor (una ou não fracionável).


✓ Relação interna: entre credores (fracionável).

➢ 2ª regra: O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago (CC, art.
269).

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➢ 3ª regra: Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros cada um destes tem direito de exigir e receber a
quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível (CC, art. 270).

➢ 4ª regra: Convertendo-se a prestação em perdas e danos subsiste, para todos os efeitos a solidariedade (CC, art.
271).

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➢ 5ª regra: Explica a Relação interna (entre credores) (CC, art. 272). O credor que tiver remetido (perdoado) a dívida
ou recebido o pagamento responderá aos outros pelas partes que lhes caibam.

➢ 6ª regra: A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis contra os outros
(CC, art. 273).

Observação n. 5: exceções pessoais são defesas existentes somente contra determinadas pessoas. Exemplos: alegação
de incapacidade ou de vícios do consentimento.

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➢ 7ª regra: O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais. O julgamento favorável
aproveita-lhes, sem prejuízo da exceção pessoal que o devedor tenha em relação a qualquer um deles (CC, art. 274,
alterado pelo Novo CPC).

4.3. Regras quanto à solidariedade passiva (CC, arts. 275 a 285) (devedores)

➢ 1ª regra: O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida
comum. Se o pagamento tiver sido parcial todos os demais devores continuam obrigados solidariamente pelo resto
da dívida. Não implica em renúncia à solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos
devedores (CC, art. 275).

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Observação n. 6: na solidariedade passiva existem duas relações:

• Relação externa: credor e devedores (una).


• Relação interna: entre devedores (fracionável).

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Enunciado n. 348 – IV Jornada de Direito Civil: “O pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade, a
qual deve derivar dos termos expressos da quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do recebimento da
prestação pelo credor”.

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➢ 2ª regra: Renúncia à solidariedade (exoneração da solidariedade): permanece a solidariedade dos demais (CC, art.
282):.

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Observação n. 7: não confundir a renúncia à solidariedade com a remissão (perdão). Nesta, o beneficiado fica
totalmente liberado (CC, art. 388 e Enunciado n. 350 – IV Jornada de Direito Civil):

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Enunciado n. 349 – IV Jornada de Direito Civil: “Com a renúncia à solidariedade quanto a apenas um dos devedores
solidários, o credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida, permanecendo a solidariedade quanto aos
demais devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia”.

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Ver da redação do art. 388 do Código Civil: “A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte
a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode
cobrar o débito sem dedução da parte remitida”.

Enunciado 350 da IV Jornada de Direito Civil: “A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão, em que o
devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio da quota do eventual
codevedor insolvente, nos termos do art. 284”.

➢ 3ª regra: Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros cada um destes será obrigado a pagar a quota
que corresponder ao seu quinhão hereditário (até os limites da herança). Duas exceções constam do art. 279 do
Código Civil, que traz essa regra:

• Se a obrigação for indivisível, poderá ser exigida por inteiro.


• Os herdeiros reunidos devem ser considerados um só devedor em relação aos demais devedores.

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➢ 4ª regra: O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida aproveitam aos outros
devedores até a quantia paga ou perdoada (CC, art. 277).

➢ 5ª regra: Impossibilitando-se a prestação, por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo
de pagar o equivalente à prestação., mas pelas perdas e danos só responde o culpado (CC, art. 279).

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➢ 6ª regra: O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns (exemplos:
pagamento e prescrição). Não poderá, entretanto, opor as exceções pessoais de outros devedores (CC, art. 281).

➢ 7ª regra: Oo devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito de exigir dos demais as suas quotas, havendo
presunção relativa de divisão igualitária (CC, art. 283) (relação interna). Porém, se a dívida solidária interessar
exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda a dívida para com aquele que pagar (CC, art. 285).

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5. Estudo das obrigações divisíveis e indivisíveis (CC, arts. 257 a 263)

Estas obrigações somente interessam se houver mais de um credor e/ou mais de um devedor (obrigações compostas
subjetivas: ponto em comum com as obrigações solidárias).

5.1. Obrigações divisíveis

I – São aquelas que podem ser exigidas ou cumpridas de forma fracionada.

Exemplo: entrega de 120 sacas de café.

II – CC, art. 257: “concursu partes fiunt”: presunção relativa de divisão da obrigação, de forma igual e distinta, de acordo
com o número de credores ou devedores.

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CONTINUA NA PRÓXIMA AULA O ESTUDO DAS OBRIGAÇÕES INDIVISÍVEIS....

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