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Justiça. Força.

É justo que o que é justo seja seguido. É necessário que o que é mais forte
seja seguido.
A justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica.
A justiça sem força é contradita, porque há sempre maus; a força sem a justiça
é acusada. É
preciso, pois, reunir a justiça e a força; e, dessa forma, fazer com que o que é
justo seja forte, e o que é
forte seja justo.
A justiça é sujeita a disputas: a força é muito reconhecível, e sem disputa.
Assim, não se pode
dar a força à justiça, porque a força contradisse a justiça e disse que ela era
injusta, dizendo que ela é
que era justa; e, assim, não podendo fazer com que o que é justo fosse forte,
fez-se com que o que é
forte fosse justo.
XV
As únicas regras universais são as leis do país nas coisas ordinárias; e a
pluralidade nas outras.
De onde vem isso? da força que existe nelas.
Eis porque os reis, que têm a força fora, não seguem a pluralidade dos seus
ministros.
Sem dúvida, a igualdade dos bens é justa; mas, não podendo fazer que seja
força obedecer à
justiça, fez-se que seja justo obedecer à força; não podendo fortificar a justiça,
justificou-se a força,
afim de que o justo e o forte existissem juntos, e que a paz existisse, que é o
soberano bem.
XVI
Eles são constrangidos a dizer: Não agia de boa fé; não deveríamos, etc.
Como gosto de ver
essa soberba razão humilhada e suplicante! Com efeito, não é essa a
linguagem de um homem a quem
se disputa o seu direito e que o defende com as armas e a força na mão. Ele
não se diverte em dizer que
não se age de boa fé; mas, pune essa má fé pela força.
XVII
Quando se trata de julgar se se deve fazer a guerra e matar tantos homens,
condenar tantos
espanhóis à morte, é um homem só que decide, ainda interessado: deveria ser
um terço indiferente.
XVIII
Esses discursos são falsos e tirânicos: Sou belo, logo devem temer-me; sou
forte, portanto
devem amar-me. Sou... A tirania consiste em querer ter por uma via o que só
se pode ter por uma outra.
Dão-se diferentes deveres aos diferentes méritos: dever de amor à graça;
dever de modo da força; dever
de crença na ciência. Tais deveres devem ser cumpridos; é injusto recusá-los,
e injusto reclamar outros.
E é também ser falso e tirânico dizer: Ele não é forte, logo não o estimarei; não
é hábil, logo não o
temerei. A tirania consiste no desejo de dominação universal e fora de sua
ordem.

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