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Estética Filosófica II
Docente: Eugénia Vilela
Aluna: Carla Lopes 100712012
1
Kant, Immanuel, A crítica da Faculdade do Juízo, trad. de António Marques, p.137
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Estética Filosófica II
Docente: Eugénia Vilela
Aluna: Carla Lopes 100712012
“Não ... não tenho mulher.
Ao mesmo tempo, imita com a mão o gesto de
masturbar-se.
- Não ... mulher não ... Tenho a mão ... só a mão ...
e mais nada, nada, só a toalha ... ou os lençóis ...
Os olhos dele não páram de mexer, brancos, deslavados
e sem expressão.”2
Nesta citação que evidencio, o árabe cego diz que não tem mulher, talvez porque
a mulher não seja só a mulher, o árabe tem a mão, e só a mão, não tem mais nada, só a
toalha ou os lençóis, enquanto os seus olhos, pelos quais deveria ver divindade nas
mulheres, observá-las nuas, estão em reboliço, brancos, deslavados e sem expressão.
Aqui poderia invocar a ideia de morte, mas da morte que só Giacometti, pela mão de
Genet nos faz chegar e entrar (e sair), os olhos estão mortos, mas são o que são, fazem
um movimento contínuo, estão mortos e vivem, e a mão? A mão vê, como em
Giacometti, sem esforço, ao contrário do artista que tenta que os olhos não o confundam
com as aparências. O árabe, certamente não faz escultura, se o fizesse, Genet ter-nos-ia
dito, mas percebe esse mundo dos mortos para quem Giacometti ousa legar as suas
esculturas.
Giacometti deixa que lhe cortem o cabelo, afinal ele ainda está no mundo dos
vivos, é aparência e é o que é; então Annette, não podendo limpar o pó a nenhuma
escultura, não podendo arrumar o estúdio, corta-lhe o cabelo, torna-o a aparente e deixa
que as madeixas do seu cabelo caiam sobre o chão; talvez um dia essas apanhem um
pouco de pó, talvez se transformem em deusas, nuas e evidenciadas, quem sabe um dia,
não possam habitar uma das suas esculturas, porque o espaço circula, e também a luz…
2
Genet, Jean, O estúdio de Alberto Giacometti, trad. Paulo Costa, p. 59
3
Genet, Jean, O estúdio de Alberto Giacometti, trad. Paulo Costa, p. 23