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LIÇÃO 1

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO DA 13ª LIÇÃO DO 4º TRIMESTRE DE


2018 – DOMINGO, 30 DE DEZEMBRO DE 2018

A HUMILDADE E O AMOR DESINTERRESADO

Texto áureo

“Portanto, qualquer que a si


mesmo se exaltar será
humilhado, e aquele que a si
mesmo se humilhar será
exaltado.” (Lc 14.11)
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE – Lucas 14.7-14.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Distinto e caro Amigo Leitor, nesta Lição aprenderemos que a “humildade


precede a honra”.

Destarte, nesta 13ª lição – a última deste ano –, estudaremos a Parábola dos
Primeiros Lugares e dos Convidados; Sublinhado as grandes lições que dela provém
e a inversão da lógica humana; e, distinguindo a recompensa da humildade e do
altruísmo.

Portanto, amado amigo leitor - boa leitura e bons estudos!

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I – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DOS PRIMEIROS LUGARES E DOS
CONVIDADOS

1. O dia, a ocasião e o local.

Cabe aqui deixar registrado, que o capítulo quatorze de Lucas inicia com a
entrada de Jesus na casa de um dos principais dos fariseus, para comer pão com
ele e evidentemente com os seus familiares, em um dia de sábado, e justamente
neste dia, estava ali um homem enfermo, isto é, hidrópico1; ocasião em que Jesus,
sem hesitação, cura-o.

Pois bem, este é o último dos cinco milagres em que Jesus usa de
misericórdia em um dia de sábado, registrados nos Evangelhos Sinópticos (no
Evangelho de Lucas todos estão registrados, inclusive este tratado aqui: 4.31; 4.38;
6.6; 13.14; 14.1-14). O evangelista João, acrescenta mais dois (5.10; 9.14).

Mas justamente no dia de sábado?

Sim, justamente neste dia. A título de conhecimento, este vocábulo não se


oriunda na nossa língua materna – o Português, mas toma-o emprestado de forma
transliterada do hebraico, isto é, a representação da palavra original neste idioma,
por letras do nosso idioma, como soe acontecer com outros vocábulos bíblicos.

Quando traduzido para o português, sábado [shabbath em hebraico; sabbaton


e sabbata, respectivamente sábado e sábados em grego] traz em seu bojo o sentido
primeiro ou primário da palavra, a saber, cessação e os posteriores matizes de
interrupção ou pausa e descanso ou ainda repouso. (Js 5.12; Is 12.11; Jr 7.34; Gn 2.
2, 3). Etimologicamente, ainda, o vocábulo Shabbath, tem uma intrínseca relação
com o termo acádico Shabbattu ou Shappattu do ritual religioso babilônico, que
também implicava em cessação, pausa, etc.

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O termo pode ser usado como sinônimo de edema. Historicamente, hidropisia, como doença,
designava a causa principal dos edemas generalizados. No caso em questão, consiste no acúmulo
de líquido e inchaço no corpo todo ou numa de suas partes, como, por exemplo, no ventre
(barriga d’água).

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Destarte, os Israelitas (judeus) com a máxima rigidez observavam – sob a ordem
divina (Gn 2) – a interrupção de todas as atividades neste dia (Ex 35.2; Lv 23.30,
incluindo destacadamente:

 As transações comerciais (Am 8.5);

 As viagens e o tratado de negócios (Ne 10.31; 13. 15,16);

 O carregar peso (Jr 17.21);

 O transporte de qualquer objeto de casa, ou introduzi-lo em Jerusalém (Jr 17.


21, 22), de modo que Neemias determinou que se fechassem as portas da
Capital de Judá para impedir a entrada de mercadores aos sábados (Ne 13.
19-22);

 O aparato do palácio real cuja guarda era reduzida pela metade (2 Rs 11. 5-9)

 A aradura da terra e a colheita dos seus frutos e cereais (Ex 34.21);

 O recolher lenha (Ne 15. 32-36);

 O acender fogo2 (Ex 35.3);

 O cozer alimentos (Ex 16.23).

Com o passar dos tempos, a tradição se mesclou às prescrições sabáticas ao


ponto de se envolverem em uma casuística crescente e desmedida. A casuística da
legislação rabínica levou o Talmud a dedicar dois tratados inteiros: o Shabbaoth e o
Erubim às suas minudíssimas e ridículas prescrições concernentes ao sábado.

De fato, codificaram-se trinta e nove (39) tarefas vetadas para esse dia, tais
quais: acender e apagar uma lâmpada; cozer um ovo; atar ou desatar um nó numa
corda; dar dois pontos com uma agulha; escrever duas letras; esfregar as mãos;
saltar; remover um objeto de um lugar para outro; limitação do número de passos
“caminho de um sábado”; dever-se-ia levar em conta a urgência da visita a um

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Alguns estudiosos na questão veem a proibição de acender fogo aos sábados ao fato da tribo dos
quenitas – os forjadores de ferro (Gn 4.22) – deixar de acender as suas forjas em cada sete dias em
honra do seu deus Saturno, patrono do sábado.

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enfermo; proibia-se a cura que requeria o movimento de membros como no caso da
luxação de um pé, etc.

Nos tempos de Jesus, os judeus se mantinham rígidos na execução do


preceito sabático, como se depreende de alguns textos das Escrituras Sagradas do
Novo Testamento: Proibiam-se, por exemplo, andar pouco além de um quilômetro
(At 1.12); colher espigas (Mt 12.2); transportar uma cama (Jo 5.10), e curar os
enfermos (Mc 3.2; Lc 13. 14).

Portanto, todo esse rigorismo concernente ao sábado objetivava a


preservação do elemento cerimonial, cúltico, desse preceito da guarda do sábado.
Foi justamente nesse dia que Jesus curou aquele hidrópico e em seguida profere a
parábola estudada nesta lição.

2. A parábola.

O versículo sete diz: “Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros


lugares, propôs-lhes esta parábola”. Nesse jantar nosso Senhor proferiu três
parábolas. As duas primeiras (14:7-11, 12-14) foram evocadas pelo comportamento
dos convidados e o anfitrião; a terceira (vs. 15-24) foi a resposta dada a um
comentário feito. Escolhiam-se os primeiros lugares (A palavra se refere à
localização do assento, e não ao salão), pois, a posição social era coisa importante
na sociedade daquele tempo, e cada convidado queria ocupar o mais alto lugar de
honra que conseguisse pegar.

No que diz respeito ao último lugar, quando um convidado descobria que o


melhor lugar estava reservado para outra pessoa, e os lugares intermediários já
estavam também ocupados, infelizmente só lhe restariam os últimos lugares ainda
vagos, coisa que naquela época era detestável.

Caso o anfitrião encontrasse um convidado de honra em um lugar inferior, ele


o convidaria a tomar o lugar que lhe foi reservado à cabeceira da mesa (v.10).

Cristo usou a situação imediata para ilustrar um princípio espiritual geral


(v.11). Plummer diz: “A humildade é o passaporte para a promoção no reino de
Deus”.
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3. Os grandes ensinamentos da parábola.

Vejamos alguns ensinamentos desta parábola.

1º. Jesus tinha uma palavra para o anfitrião e não só para os convidados. Não
convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos
ricos. O reino de Deus não é uma sociedade fechada dos ricos, nem um clube
exclusivo de amigos. (v.12)

2º. Nosso Senhor repreendeu a prática egoísta de só entreter aqueles que podem
retribuir um favor. Na parábola, o anfitrião deveria atentar ao fato de que a sua
riqueza proporcionasse uma oportunidade de ajudar os indigentes e desamparados
(v.13). Porventura, hoje o princípio não deve ser o mesmo?

3º. A linguagem que foi usada no versículo 14 sustenta a ideia de uma dupla
ressurreição, a dos justos e a dos não justificados (Jo. 5:29; I Co 15.23; Fl 3.11; I Ts
4.16; Hb 11.35; Ap 20.5, 6), separadas por um intervalo de tempo, em que aos
justos está reservado o melhor.

II – AS GRANDE LIÇÕES DA PARÁBOLA E A INVERSÃO DA LÓGICA HUMANA

O autor e comentarista da Lição nos apresentou duas grandes lições desta


parábola. Vejamos.

1. A primeira grande lição da parábola.

A Humildade como marca de um verdadeiro seguidor de Cristo (v.11). Em


Provérbios 16.18, encontramos justamente o contrário do que é ser humilde: “A
soberba precede a destruição, e a altivez do espírito precede a queda”.

Os orgulhosos não atentam diligentemente às suas debilidades e não se


preocupam em enxergar antecipadamente as suas imperfeições ou pedras de
tropeços. Pensam que estão acima das debilidades das pessoas comuns.

Deste modo enganam-se facilmente. Os orgulhosos raramente percebem que


a altivez é seu problema, embora todos à sua volta estejam cientes desde fato. Não
são assim, os humildes de espírito (ARA), pois os tais herdarão os céus. (Mt 5.3).

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2. A segunda grande lição da parábola.

Devemos convidar e acolher os menos favorecidos (v.13). Isso faz-nos


lembrar do texto de Mt 25. 34-46.

A verdadeira prova de nossa cristandade é a maneira como agimos com os


outros. Tratar todas as pessoas que encontramos como se fossem o próprio Jesus
não é uma tarefa das mais fácies. O que fazemos aos outros demonstra o que
realmente pensamos a respeito das palavras do Mestre por excelência para nós.

Alimentemos os famintos, demos aos indigentes um lugar para se abrigar.


Cuidemos dos enfermos, visitemos os aprisionados, etc. Será que de fato os nossos
atos são suficientes para diferenciarmos dos fingidos e incrédulos?

3. A lógica do Reino é diferente da humana.

Este tema nos leva a Mt 20. 25-28.

Quem dentre nós não quer ser considerado, e ter privilégios, e prestígio?
Todos nós queremos. Não há erro algum em pensar assim, porém nunca em
detrimento ao próximo e só para alimentar o nosso egocentrismo. Até porque Jesus
nos ensinou que a pessoa mais importante no Reino de Deus é aquela que serve a
todos.

Nesse texto supracitado, Jesus descreveu a liderança sob uma nova


perspectiva. É o que os modernos psicólogos e entendidos no assunto chamam de
liderança-servidora3. Jesus já a praticava. Ao invés de utilizarmos as pessoas, nós é
que devemos servi-las.

A missão de Jesus era servir os outros e dar sua vida por eles. O verdadeiro
líder/cristão tem o coração de um servo. Esses líderes consideram o trabalho dos
outros e entendem que não estão acima de qualquer função. Se perceberes que
alguma coisa deve ser feita, não espere ser mandado. Tome a iniciativa e trabalhe
como um servo fiel.

3
Veja a obra de James C. Hunter: Como se Tornar um Líder Servidor – os princípios de liderança
de O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro, Sextante, 2006.

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III – A RECOMPENSA DA HUMILDADE E DO ALTRUÍSMO

1. Humildade e Altruísmo.

Mas o que significam estas palavras, afinal?

A palavra humildade vem do latim humilitas, de “Humus”, Humo, Terra e “ie”,


“ilde”, ir, marchar, caminhar com os pés. Logo: aquele que tem os pés no chão.
Era usada na antiguidade para definir os trabalhadores do campo, daí a palavra
humilde: trabalhadores do campo (que trabalham descalços [com os pés no chão]).

Posteriormente, passou a ser vista como a virtude que consiste em conhecer


as suas próprias limitações e fraquezas e agir de acordo com essa consciência.
Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras
pessoas, nem mostrar ser superior a elas. Portanto, ser humilde não significa ser
fedorento, maltrapilho, malcheiroso, rasgado, não! Humildade é um estado de
espírito.

Já a palavra altruísmo4 tem a sua origem no latim “alter”, que por sua vez
deriva de “alterum”, costumeiramente abreviado para “altrum” que, em tradução livre
para o português, significa “o outro”, ou seja, “amor para com os outros (próximos)”.

Altruísta, portanto, é aquele que pensa nas outras pessoas ou que pensa
mais nos outros que em si, solidário, caridoso, contrário de egoísta. Uma atitude
altruísta pode ser interpretada como caridade se bem relacionada com os interesses
do próximo.

Agir de forma altruísta é dar-se ou beneficiar alguém; uma pessoa altruísta é


aquela que se dedica aos outros. Portanto diz-se que o verdadeiro amor é altruísta,
e de fato é, quando analisado à luz das Sagradas Escrituras (1 Co 13).

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Altruísmo palavra percebida muitas vezes como sinônimo de solidariedade, a palavra altruísmo foi
criada em 1830 pelo filósofo francês Augusto Comte para caracterizar o conjunto das disposições
humanas (individuais e coletivas) que inclinam os seres humanos a dedicarem-se aos outros. Esse
conceito opõe-se, portanto, ao egoísmo, que são as inclinações específica e exclusivamente
individuais (pessoais ou coletivas).

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2. Amor, a palavra chave do altruísmo. (Rm 12.9a).

“O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem”, eis o texto
supracitado.

Como bem escreveu William Barclay:

“O amor deve ser completamente sincero. Não deve haver no amor cristão
hipocrisia, simulação ou motivos ocultos. Existe o amor de despensa que
dá afeto com um olho posto no ganho que pode proporcionar. Existe o
amor egoísta cujo objetivo é obter muito mais do que dá. O amor cristão é
um amor liberto do eu. É o vôo puro do coração para com outros”.

A maioria de nós aprendeu a ser cortês com os outros, a falar gentilmente,


evitar ofender os sentimentos alheios e parecer interessado no bem-estar do outro.
Podemos até ser muito habilidosos e fingir compaixão, ao ouvir as necessidades
alheias, ou indignação, quando sabemos de alguma injustiça.

Mas Deus nos conclama um amor sincero [“sem sera”] e real que vai muito
além da hipocrisia e de um comportamento polido. O amor sincero exige
concentração e esforço. Significa ajudar os outros a tornarem-se pessoas melhores.
Isso exige nosso tempo, dinheiro, e envolvimento pessoal.

Ninguém tem a capacidade de expressar amor a uma comunidade inteira;


mas o corpo de Cristo pode fazê-lo à sua cidade. De fato, podemos demonstrar o
amor de Cristo à nossa comunidade.

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3. A recompensa (Mt 10. 40-42).

William Barclay nos diz que:

“Os judeus acreditavam que receber o enviado ou mensageiro de uma


pessoa era como receber a essa mesma pessoa. Render honras a um
embaixador era o mesmo que render honras ao rei que o tinha enviado.
Receber com amor o mensageiro de um amigo, era como receber o amigo
em pessoa. Assumia-se esta atitude especialmente com respeito aos
sábios e os homens que tinham sido instrutores na verdade de Deus. Os
rabinos diziam: "Quem oferece sua hospitalidade ao sábio é como se
levasse a Deus a oferenda de seus primeiros frutos." "Quem recebe o
estudioso é como se recebesse a Deus." Se um homem de Deus é
verdadeiramente um homem de Deus, recebê-lo é como receber ao Deus
que o enviou”.

A intensidade de nosso amor a Deus pode ser avaliada pela maneira como
tratamos nossos semelhantes. Entre os exemplos de atitudes que revelam amor e
serviço desinteressado, Jesus citou o ato de dar um copo de água fresca a uma
criança sedenta, pois geralmente ela não poderá retribuir o favor.

Deus observa todas as nossas boas ações que praticamos ou deixamos de


praticar, como Ele fosse o próprio beneficiário. Portanto, “façamos o bem, sem olhar
a quem” – já diz o adágio popular, na certeza que teremos uma bela recompensa lá
nos céus. Isso faz lembrar-me de uma bela história contada por H. L. Gee:

“Havia um moço de um povo de campanha que depois de muitas lutas


conseguiu chegar a ser pastor da igreja. Um amigo dele, que era sapateiro
em seu próprio povo, tinha-o ajudado para que pudesse seguir seus
estudos. No dia que o jovem pregador foi ordenado, o sapateiro, que como
muitos dos membros de seu ofício era um homem capaz de profundas
reflexões, disse-lhe: “Sempre foi meu desejo ser um ministro do evangelho,
mas as circunstâncias de minha vida o fizeram impossível. Mas você obteve
o que para mim foi um caminho fechado. E quero que me prometa uma
coisa: Quero que sempre me permita remendar de graça os seus sapatos.
Quando você subir ao púlpito levará postos os sapatos que eu remendei, e
então eu sentirei que você está pregando o evangelho que eu sempre quis
pregar... em meus sapatos.”

Indubitavelmente, o sapateiro estava servindo a Deus tanto quanto o


pregador, e a recompensa dos dois será, algum dia, a mesma.

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CONCLUSÃO

Logo, como bem escreveu o comentarista da Lição: “Em vez de buscar


prestígio, procure um lugar onde você possa servir”.

Portanto, jubilemos ao Senhor Jesus com este lindo coro – extraído do hino
de número 35 – da nossa Harpa Cristã, tendo consciência de que “devemos
expressar os frutos da humildade e do amor desinteressado.”

Quem pode o seu amor contar?


Quem pode o seu amor contar?
O grande amor do salvador,
Quem poderá contar?

[Jairo Vinicius da Silva Rocha. Professor. Teólogo. Tradutor. Bacharel em


Biblioteconomia – Presbítero, Superintendente e Professor da E.B.D da Assembleia
de Deus no Pinheiro.]
Maceió, 29 de dezembro de 2018.

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