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O presente artigo tem como objetivo fornecer uma proposta de sequência de ensino sobre funções
afins inversas, apoiando-se nos princípios do Comportamento Operante, onde dado certo estímulo,
espera-se uma resposta, que é reforçada para a probabilidade dessa resposta acontecer ou não ...
Iniciar-se-á por um breve histórico do desenvolvimento das ideias behavioristas, dando ênfase à B.
F. Skinner, criador do behaviorismo radical e que esculpiu a frase “Não considere nenhuma prática
como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite a verdade eterna.
Experimente”, bem como sua ideia de Teoria de Aprendizagem. Em seguida será feito uma discussão
sobre Dificuldades de Aprendizagem (DAP), criando uma ponte entre o conteúdo matemático
envolvido na pesquisa e o pensamento de Skinner. Por fim, será mostrado a aplicação da teoria em
questão à sequência de ensino para a aprendizagem de funções afins inversas, trazendo uma
aplicação sobre Criptografia. Como a frase da música de Tom Jobim, encontrar a luz dos olhos seus
elicia respostas emocionais como o frio na barriga, que são reforçadas pelo olhar e pelo sorriso da
pessoa amada. Ensinar é arranjar contingências de reforçamento e reforçamento diferencial, onde
o aluno aprende pelos estímulos reforçadores dentre de uma contingência.
1.1 Histórico
Ivan Petrovich Pavlov (1849 - 1936), fisiologista nascido na Rússia Central, é comumente
associado ao início do Behaviorismo. A teoria de Darwin muito lhe influenciou, ao intentar seus
estudos na Ciência (FUZINATTO, 2004). Pesquisando sobre salivação de cães em seu laboratório,
percebeu que certos sinais propiciaram salivação e secreção estomacal, uma reação típica
aposteriorística da ingestão de alimento. Teorizou sobre os reflexos condicionados, comportamentos
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Mestrando do Núcleo de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (NPGECIMA/UFS). Graduado em
Licenciatura Plena em Matemática pela UFAL. E-mail: pontesmatematicaufal@hotmail.com
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Pós-Doutorado em Educação Matemática, Professor Titular da Área de Educação Matemática do Instituto Federal de
Sergipe, Docente e Orientador do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade
Federal de Sergipe. E-mail: laerte.fonseca@ifs.edu.br
ligados aos estímulos precedentes ao alimento, como por exemplo o sino tocado junto de um pedaço
de carne. Esse experimento ficou conhecido como Cão de Pavlov. Suas pesquisas sobre
condicionamento respondente foram influenciaram outros psicólogos dessa linha.
Dentre eles, Edward Lee Thorndike (1874 – 1849), psicólogo americano, foi de fundamental
importância para o behaviorismo. Ficou conhecido pela criação da vertente do Associacionismo,
onde promulgou a primeira teoria de aprendizagem na Psicologia. O termo referencia a concepção
de aprendizagem se dá por uma associação de ideias, das mais simples às mais complexas (WEITEN,
2010; PORTILHO 2009). Desse modo, para aprender algo, deve-se obedecer uma hierarquia de ideias
relacionadas. Sua Lei do Efeito é imprescindível para a psicologia behaviorista, onde um
comportamento tende a ser repetido se for reforçado e o contrário acontece se o comportamento
for punido.
Mas é atribuído à John Broadus Watson (1878 – 1958), também americano, a criação do
Behaviorismo Metodológico. Watson estudou sobre as postulações de Pavlov, desenvolvendo
pesquisas semelhantes no campo da fisiologia e comportamentos animais, mas introduziu os
estudos em comportamentos humanos (MOREIRA, 2011), como ficou famoso o seu experimento
com o bebê Albert. Em 1913 publicou um artigo, onde expunha suas ideais, contrárias as ideias de
Freud (FUZINATTO, 2004) pelo fato do movimento behaviorista surgir junto as implicações da gênese
da psicanálise do cognitivismo de Piaget e Vygotsky, sendo formulado como uma opção da análise
de fenômenos no sentido do comportamento (SKINNER, 1974; 2003). Desse modo os
behavioristas seguem uma linha epistemológica nos moldes do empirismo, mesmo Thorndike
falando de ideias, pois analisava os comportamentos em seus estudos.
Burrhus Frederic Skinner (1904 – 1990) nasceu em Susquehanna, Pensilvânia, Noroeste dos
EUA. Foi o criador do Behaviorismo Radical, que tinha como pressupostos iniciais a ideia de que nós
seres humanos somos filogenéticos (heranças genéticas da espécie), ontogenéticos (a história que
cada um constrói) e culturais (as implicações do ambiente). Skinner também introduziu o conceito
de Condicionamento Operante, que seria uma crítica ao Condicionamento Respondente do
Behaviorismo Metodológico preconizado por Watson (NUNES e SILVEIRA, 2009).
Esse tipo de condicionamento envolve as questões supracitadas como fatores determinantes
do comportamento. Diferente de uma ação reflexiva que envolve o esquema Estímulo-Resposta, seu
Comportamento Operante envolve o sistema Estímulo-Resposta-Reforço/Punição (MOREIRA, 2007).
Nesse contexto, os comportamentos são eliciados por algum reforço operante, aumentando a
probabilidade de ele acontecer, ou, no caso da punição, desaparecer. Um exemplo desse tipo de
esquema seria:
Uma pessoa inscreve-se no curso de informática. Já nos primeiros dias de aula, o
aluno começa a sentir grande satisfação por estar na turma, pois além de considerar
as aulas prazerosas, percebe no curso um meio de satisfação profissional […].
Podemos dizer que estar no curso lhe traz a satisfação, o prazer, o que faz com que
ele queira continuar. (NUNES e SILVEIRA 2009, p. 34).
Bastante influenciado por Thorndike, usou o princípio evolutivo, usando animais infra-
humanos em seus experimentos, como por exemplo ratos e pombos. A famosa Caixa de Skinner
continha uma situação onde um rato era privado de comida, onde explorava o espaço e ao apertar
uma alavanca, recebia comida. Então sua fome (estímulo) gerava um comportamento de apertar a
alavanca (resposta), reforçada pelo alimento (NUNES E SILVEIRA, 2009; FUZINATTO, 2004).
Para Skinner, os processos mentais eram também comportamentos (HÜBNER e MOREIRA,
2015). Porém, mesmo sendo alvo de críticas oriundas dos cognitivistas e humanistas, o behaviorismo
fecundou sobre o pensamento e temáticas adjacentes à psicologia como por exemplo a educação.
Skinner morreu em 1990. Um dia antes ainda estava produzindo sobre comportamento e linguagem,
onde nos seus últimos dias dedicou seus esforços intelectuais (COUTO, 2012; VARGAS, 1990).
Skinner foi um dos mais ferrenhos críticos do cognitivismo, considerado por ele “o criacionismo” da
psicologia, além de sua aversão à psicanalise.
Esse sistema consistia em vários tópicos sobre como a aprendizagem deve ser encarada na
sala de aula. A Máquina de Ensinar (FUZINATTO, 2004; RODRIGUES, 2014) é um dos principais
pilares de sua teoria da aprendizagem. Desenvolve a ideia de que os alunos devem seguir um
cronograma aditivo de aprendizagem, onde as máquinas de ensinar (que não ensinam sozinhas)
deixam o aluno sempre ativo e alerta (RODRIGUES, 2014). O professor auxilia o aluno, mediando o
conhecimento entre este e a máquina. Essa instrução programada enfatiza o tempo individual de
cada aluno, levando para o professor a responsabilidade de formas de instrução tácitas, como a
discussão de ideias (RODRIGUES, 2004). Esse modelo, aparece como uma ramificação do
Behaviorismo Radical, a saber:
Figura 1 – Mapa Mental sobre o Behaviorismo Radical
O conceito de função como nós conhecemos é algo recente, datado do século XVII (PONTE,
1990; DORNELAS, 2015). Contudo os Babilônicos já possuíam um sistema de tábuas onde já
trabalhavam com problemas envolvendo variáveis ou relações entre números (ALVAREGA, BARBOSA
e FERRERA, 2014), sendo usados formalmente depois das ideias de Descartes (1596 – 1650) , Fermat
(1601 – 1665) e Leibniz (1646 – 1716) sobre a geometria analítica e o cálculo diferencial (DORNELAS,
2015). Os alunos predispõem essa dificuldade, no momento da generalização dessas relações
numéricas.
Para isso, Ponte (1990) amálgama seus estudos sobre abstração demasiada utilizada nas
terminologias, sem a referida averiguação sobre a significância. Em seus estudos, Markovits, Eylon
e Bruckheimer (1995) concluem que muitos alunos não compreendem o conceito de domínio e
contradomínio, o que lhes acarretam futuros problemas na hora de usar esses conceitos em outras
ocasiões. O problema também se estende a processos sobre interpretações gráficas, passando a
linguagem formal para essa.
Nesse sentido, Dornelas (2015, p. 14) relaciona os problemas com aprendizagem de funções
ao fato dos alunos terem problemas com exercícios que envolvem muitos passos. Esse algoritmo de
verificação sobre um número ser imagem de uma função, que segue três passos (avaliar se esse
número pertence ao contradomínio, calcular a pré imagem e testar se esta pré-imagem pertence ao
domínio) enfatizam que esses conceitos devem ser entendidos de forma clara para os alunos, do
mesmo modo mostrando que se não acontece, gera dificuldades no momento do verificar.
Skinner comenta em seus escritos acerca de alguns obstáculos que podem atrapalhar o
processo de aprendizagem de acordo seu Sistema Individualizado e sobre Condicionamento
Operante. Skinner (1969; 2003) discute os principais motivos das dificuldades de aprendizagem na
escola. Segundo esse autor o grande problema do ensino é o controle aversivo. Para ele “Embora
algumas escolas ainda usem punição física, em geral houve mudanças para medidas não corporais
como ridículo, repreensão, sarcasmo, crítica, lição de casa adicional, trabalho forçado, e retirada de
privilégios (FUZINATTO, 2004). A punição está no centro de sua crítica sobre a aprendizagem, não
levando ao reforço naturalizado.
Desse modo, a punição prejudica a aprendizagem do aluno, pois não cria contingências de
reforço, que para Skinner é onde consiste em mudança do comportamento e, por consequência, a
aprendizagem. Para FUZINATTO (2004), o professor toma nesse sentido a autoridade da sala,
fazendo com que o aluno fuja. Falta de atenção, agressão, atraso na chegada à aula, devaneios são,
no sentido behaviorista radical, é uma forma de contornar a falta de reforçadores positivos (Idem,
Ibidem). O psicólogo behaviorista enfatiza que o professor não deve usar controle aversivo. Mas as
técnicas de punição e desse tipo de controle ocorrem por conta do não entendimento deste sobre
esses conceitos.
A importância de desenvolver uma sequência didática estruturada pode ser notada na fala
de Skinner, quando discorre sobre A Máquina de escrever. Rodrigues (2014) enfatiza que o sucesso
de tais máquinas depende, naturalmente, do material utilizado.
Esse material deve ser sequencial, pois o ensino programado de Skinner leva o aluno a
estudar sem a intervenção direta do professor (RODRIGUES, 2004). Além disso esse material é
apresentado em pequenas partes e prioriza a velocidade individual de cada aluno (FUZINATTO,
2004). Essa priorização é concernente ao fato da ontologia que Skinner considera no ser humano.
Nesse mesmo vetor, Skinner considera que o material deve ser dividido em partes tão
pequenas quanto puderem ser (FUZINATTO, 2004, SKINNER, 2003). Assim, as contingências podem
ser percebidas pelos alunos por um controle de estímulos, que consequentemente irão controlar as
respostas e serão eliciadas por novos reforços positivos. Com isso temos as contingências de
reforçamento, crucial para a sala de aula.
3.2 Condições e restrições metodológicas para aplicação do modelo em tela
Baseada nos trabalhos de Silva e Silva (2012), a sequência foi desenvolvida durante as
intervenções do PIBID UFAL Campus Arapiraca, construída no ensino de função inversa com o uso
da Criptografia. Para tal, pode-se introduzir sobre o tema, trazendo um histórico sobre a mesma,
falando por exemplo do uso em guerras ou em mensagens em e-mails.
Temos um resumo sobre a sequência, onde tem especificamente o que cada participante
deve seguir:
Elaborada por Silva e Fonseca (2017) como contribuição científica da disciplina Teorias da
Aprendizagem do PPGECIMA (UFS) e do grupo de pesquisa NeuroMATH (IFS).
Fonte: Autores (2017)
Os materiais são de baixo custo e reutilizáveis. O Alfabeto Numérico poder ser confeccionado
em cartolina para sala ou distribuído para cada equipe (fica a critério da turma e do professor, do
mesmo modo com a recompensa como reforço positivo).
Quadro 2 - Alfanumérico
Considerações finais
Os conceitos desenvolvidos por B. F. Skinner em sua teoria behaviorista radical foram dominantes
até meados dos anos 1950. Infelizmente, a sua teoria de aprendizagem do Modelo Individualizado
e da Máquina de Escrever foram marginalizados após a ascensão das teorias cognitivistas e, por fim,
as novas tendências neurocognitvas que avaliam a aprendizagem da perspectiva da mudança do
cérebro. Entretanto, essas sempre têm como produto final a análise do comportamento. O objetivo
desse artigo foi mostrar uma sequência de ensino, partindo das ideias centrais do Behaviorismo
Radical, da Análise do Comportamento e das teorias de aprendizagem de Skinner. Volta-se às
questões propostas na seção 3.1 e respondendo-as podemos concluir que o reforço positivo nas
contingências de reforçamento é de extrema importância para que o aluno aprenda
sequencialmente um conteúdo matemático, onde o subsequente depende do anterior. Viu-se
também que o modelo pode ser aplicado nessa sequência, na questão da recompensa, que é um
tipo de reforço positivo (SKINNER 2003). Desse modo, o professor interessado em dinamizar sua
prática dentro da sala de aula pode utilizar essa sequência de ensino baseada na Teoria de
Aprendizagem de base Behaviorista Radical de Skinner.
Referências
HÜBNER, M. M. C., MOREIRA, M. B. (org.). Temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do
comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
MARKOVITS, Z.; EYLON, B. S.; BRUCKHEIMER, M. Dificuldades dos alunos com o conceito de função.
IN: COXFORD, A. F.; SHULTE, A. P. As ideias da álgebra, São Paulo: Atual, 1995.
PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Trad. Ana Maria Netto
Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
PIRES, H. S., FRESCA, N., SANTOS, S. Reflexão Crítica sobre as teorias e os métodos de
aprendizagem comportamentalistas. Psicologia da Aprendizagem (Disciplina). Universidade de
Évora, 2010
PORTILHO, E. Como se aprende? Estratégias, estilo e metacognição. Rio de janeiro: WAK, 2009.
RODRIGUES, J.P. O modelo didático do ensino programado, segundo B.F. Skinner, 2014.
Disponível em:<http://pgl.gal/o-modelo-didatico-do-ensino-programado-segundo-b-f-skinner/>.
Acesso em: 05 jul. 2017
SKINNER, B.F. Ciência e comportamento humano. Trad. João Carlos Todorov, Rodolfo Azzi. 11ª ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SILVA, C. M., SILVA, L. P. Um estudo da Criptografia e suas aplicações em Matemática. In: Encontro
Paraibano de Educação Matemática, 7, 2012. Anais…João Pessoa: Realize, 2013.
VARGAS, J. S. The last few days. Journal of Applied Behavior Analysis, nº 23, vol. 4, 1990.