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05/09/2018 As provas da existência de Deus

Credo Apostólico

As provas da existência de Deus


A primeira seção do Catecismo: "Eu creio – nós cremos", é dividida em
três capítulos, que podem ser resumidos em crença-revelação-fé. Crença
é o esforço humano e infrutífero para se chegar a Deus. Fé é a adesão ao
Deus que se revelou. Nesse sentido, somente os cristãos têm fé, todas as
outras religiões possuem crença, porque são religiões fundadas no
esforço humano de buscar a Deus e não no Deus que se revelou, pois a
Revelação, no sentido estrito da palavra só existe no cristianismo, quando
Deus se fez carne por meio de seu lho, Jesus Cristo.

Por estar fora do seu centro, dizemos que o homem é um ser excêntrico. Em seu coração existe
um desejo, uma insatisfação que nada consegue suprir ou apaziguar. A respeito desse "vazio",
Santo Agostinho nos diz:

Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande é o vosso poder, e a
vossa sabedoria não tem medida. E o homem, pequena parcela de vossa criação,
pretende louvar-vos, precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal,
traz em si o testemunho de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de
tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o
incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos
fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós.
(Santo Agostinho, Confissões, I, 1,1)

A cosmovisão de Santo Agostinho era completamente diferente da atual. Na época, acreditava-


se que tudo o que existia no mundo era formado por quatro elementos essenciais: terra, ar, fogo
e água, e que cada elemento, por sua vez, possuía o seu lugar exato. Tais elementos atrairiam
seus correspondentes em tudo que há. Por exemplo, quando uma folha de papel era queimada,
a parte que cabia ao fogo era consumida, a fumaça subia e se misturava com o seu
correspondente (ar) e as cinzas caíam ao chão, atraídas pelo seu elemento: terra. Para eles, cada
coisa possui o seu peso, de acordo com o seu elemento.

Contudo, o homem não se ajusta a essa definição, uma vez que sua alma é feita de espírito e
possui, segundo Agostinho, um outro elemento, a chamada quinta essência. Sendo assim, para

onde a alma humana pende? O próprio Santo Agostinho responde a esta crucial pergunta
dizendo que o coração (alma) do homem não descansa enquanto não repousar em Deus,
conforme citado acima.

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05/09/2018 As provas da existência de Deus

Ora, uma rápida observação em si mesmo é mais que suficiente para confirmar as belas
palavras do Bispo de Hipona: nada é capaz de preencher o coração do homem. É por isso que,
embora a visão de mundo de Santo Agostinho tenha sido ultrapassada pelos avanços da
ciência, sua antropologia deve ser mantida, posto que verdadeira, ou seja, o homem é um ser
inquieto, que somente será pleno quando descansar em Deus. Nesse sentido, nos ensina o
Catecismo:

O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por
Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a Si, e somente em Deus o
homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. (CIC 27)

Diante disso, o homem deveria buscar unir-se a Deus, porém, nem sempre isso acontece,
embora ele seja, por definição, um ser religioso. O Catecismo continua ensinando:

Mas esta união íntima e vital com Deus pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada
explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta
contra o mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, o mau exemplo dos
crentes, as correntes de pensamento hostis à religião, e finalmente essa atitude do
homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge diante de seu
chamado. (CIC 29)

O homem pende para Deus, mas, ao mesmo tempo, existe algo que o impede de chegar até Ele.
A lista se encontra na citação acima. Mas, se existem situações que podem afastar o homem de
Deus, existem outras que permitem a ele aproximar-se de seu Criador:

Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que


procura a Deus descobre certas "vias" para aceder ao conhecimento de Deus.
Chamamo-las também de "provas da existência de Deus", não no sentido das provas
que as ciências naturais buscam, mas no sentido de "argumentos convergentes e
convincentes" que permitem chegar a verdadeiras certezas. (CIC 31)

Partindo da Criação, as vias para conhecer a Deus são o mundo material e a pessoa humana.
Baseado nas cinco vias de Santo Tomás de Aquino tem-se a definição do mundo material: "a
partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode-se

conhecer a Deus como origem e fim do universo" (CIC 31). Desta forma, é possível utilizar o
raciocínio humano para se chegar ao conhecimento de Deus. Olhando para a Criação, para as
criaturas percebem-se sinais claros da existência de Deus.

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05/09/2018 As provas da existência de Deus

A segunda via de acesso a Deus é o homem, que percebe a sua própria alma espiritual, sua alma
não pode ter origem senão em Deus (CIC 33). O homem seria um animal defeituoso se Deus não
existisse, uma vez que para cada desejo do animal existe uma correspondência real, palatável.
O homem, porém, tem em seu íntimo – retomando a ideia de Santo Agostinho – o desejo de
algo que não está à sua disposição. Esse desejo não encontra correspondência no mundo real,
pois o que ele anseia é pelo próprio Deus: o coração do homem permanecerá inquieto até que
repouse n´Ele.

O homem busca um sentido para a própria vida. Por definição, esse sentido deve estar fora dele
mesmo, pois não existe a possibilidade de o sentido da coisa estar dentro dessa mesma coisa. O
sentido deve estar além da coisa.

Portanto, se existe um sentido para esta vida, deve haver uma além-vida. Só pode estar em
Deus, no céu. A busca por esse sentido e, ao mesmo tempo, o fato de que nada nessa vida
preenche o vazio existente no coração de todos os homens é sinal também da existência de
Deus.

O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos nem seu princípio primeiro
nem seu fim último, mas que participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim.
Assim, por estas vias, o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma
realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, e que todos chamam Deus.
(CIC 34)

O homem foi feito para Deus, porém, não terá que encontrar o caminho até Ele sozinho. Deus
mesmo quis ajudar o homem a encontrá-Lo e manifestou-Se. O homem, por sua vez, deve
responder com a fé, o que será visto com mais profundidade no decorrer das próximas aulas.

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