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SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

SUBSÍDIOS
PARA O
DEBATE
Brasil
2017
1
2
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

IV CONFERÊNCIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

O BRASIL NA DÉCADA DOS AFRODESCENDENTES:


RECONHECIMENTO, JUSTIÇA, DESENVOLVIMENTO E IGUALDADE DE DIREITOS

SUBSÍDIOS
PARA O
DEBATE

Brasília, 2017

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PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Michel Temer

MINISTRA DE ESTADO CHEFE DO


MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS
Luislinda Valois

SECRETÁRIO NACIONAL DE
POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL
Juvenal Araújo

Distribuição e Informações

Ministério dos Direitos Humanos


Secretaria Nacional de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR/MDH

Setor Comercial Sul - B, Quadra 9, Lote C, Edifício Parque Cidade Corporate,


Torre A, 10º andar, Brasília/ Distrito Federal – CEP 70308-200 Tel.: (61)
2027 3051 e 2027 3744

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SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS

Secretaria Nacional de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial

Conselho Nacional de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial

IV Conferência Nacional de
Promoção da Igualdade Racial - IV CONAPIR

O BRASIL NA DÉCADA DOS AFRODESCENDENTES: RECONHECIMENTO,


JUSTIÇA, DESENVOLVIMENTO E IGUALDADE DE DIREITOS

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EXPEDIENTE

Conteúdos e redação
Ana Karyna Sobral
Ana Lúcia Pereira
Daniel Garcia Dias
Edgard Aparecido de Moura
Eliseu de Oliveira Neto
Flávio Robin da Silva Correia
Gabriela Cruz da Silva
Ircílio Chissolucombe
Ismália Afonso
John Land Carth
Kátia Favilla
Luiz Carlos de Lima
Marcus Vinícius Barbosa Peixinho
Raquel Dias
Rogério Vilela B. de A. Franco
Silvia Nascimento Cardoso dos Santos Cerqueira

Revisão de texto
Dênis Rodrigues da Silva

Projeto gráfico e diagramação


Assessoria de Comunicação do Ministério dos Direitos Humanos

Coordenação editorial
Subcomissão de Metodologia, Temas, Subtemas e Relatoria

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SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

COMISSÃO ORGANIZADORA NACIONAL


Juvenal Araújo Junior
Secretário da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial do Ministério dos Direitos Humanos - SEPPIR/MDH
Sionei Ricardo Leão de Araújo
Coordenador-Geral do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial
- CNPIR/SEPPIR/MDH
Adeildo Araújo Leite
(Movimento Negro Unificado -MNU/CNPIR)
Ana Cristina Conceição dos Santos
(Rede Nacional de Negros e Negras Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais - RNLGBT/CNPIR)
Ângela Cristina dos Santos Guimarães
(União de Negros e Negras pela Igualdade -UNEGRO/CNPIR)
Anna M. Canavarro Benite
(Associação Brasileira de Pesquisadores Negros - ABPN/CNPIR)
Arilson Ventura
(Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
-CONAQ/CNPIR)
Byany Sanches Mourão
(Rede Amazônia Negra - RAN/CNPIR)
Carlos Alberto Ricardo Junior
(Secretaria Nacional de Cidadania - SNC/MDH/CNPIR)
Célio René Trindade Vieira
(Ministério do Esporte - ME/CNPIR)
Dandara Lucas Pinho
(CNPIR)
Dandara Tonantzin Silva Castro
(Coletivo Nacional de Juventude Negra - ENEGRECER/CNPIR)
Dara Sant’Anna Carvalho Ignácio
(União Nacional dos Estudante - UNE/CNPIR)

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Deuzília Pereira da Cruz
(Grupo de Mulheres Negras Dandaras no Cerrado - GMNDC/CNPIR)
Eduardo Gomor
(Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão - MPOG/CNPIR)
Edvaldo Pereira Brito
(CNPIR)
Ericka Siqueira Nogueira Filippeli
(Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres -SPM/SeGov/CNPIR)
Frei David Raimundo Santos
(Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes - EDUCAFRO/CNPIR)
Hélcio Eustáquio Rizzi
(Fundação Nacional do Índio - FUNAI/MJSP/CNPIR)
Henoc Pinto Neves
(Centro de Artesanatos Tikuna Içaense - CAITI/CNPIR)
Iêda Leal de Souza
(Central Única dos Trabalhadores - CUT/CNPIR)
Ircílio Chissolucombe
(Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - MCTIC/
CNPIR)
Jason Cirqueira dos Santos
(Ministério do Trabalho - MT/CNPIR)
João Mendes da Rocha Neto
(Secretaria de Governo - SeGov/CNPIR)
Jorge Adolfo Freire e Silva
(Ministério da Cultura - MinC/CNPIR)
José Carlos Calon
(Centro de Estudos e Discussões Romani - CEDRO/CNPIR)
Juliana Ferreira Simões
(Ministério do Meio Ambiente - MMA/CNPIR)
Kátia Favilla
(Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário - MDSA/CNPIR)

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SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

Katia Maria Barreto Souto


(Ministério da Saúde - MS/CNPIR)
Luana Carolina Corrêa Martins
(Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doenças Falciformes
- FENAFAL/CNPIR)
Luiz Carlos de Lima
(Ministério da Integração Nacional - MI/CNPIR)
Magda Fernandes
(Ministério da Justiça e Segurança Pública - MJSP/CNPIR)
Manoela Dutra Macedo
(Casa Civil - CC/CNPIR)
Marcelo Martiniano
(Ministério das Cidades - MCid/CNPIR)
Nathanael Souza e Silva
(Ministério das Relações Exteriores - MRE/CNPIR)
Nuno Coelho Alcântara Junior
(Agentes Pastorais Negros - APN/CNPIR)
Patrícia Tiomno Tolmasquim
(Confederação Israelita do Brasil - CONIB/CNPIR)
Raquel Dias
(Ministério da Educação - MEC/CNPIR)
Silvia Nascimento Cardoso dos Santos Cerqueira
(CNPIR)
Mãe Tuca D’Osoguiã (Edmar Barbosa Bonfim)
(Casa de Cultura Ilê Asé d’Osoguiã - CCIAO/CNPIR)
Ualid Hussein Ali Mohd Rabah
(Federação Árabe Palestina do Brasil - FEPAL/CNPIR)
Ubiraci Matildes de Jesus
(Fórum Nacional de Mulheres Negras - FNMN/CNPIR)
Vanderlei Lourenço Francisco
(Fundação Cultural Palmares - FCP/MinC/CNPIR)

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COORDENAÇÃO EXECUTIVA DA IV CONAPIR
Adeildo Araújo
(MNU/CNPIR)
Andréa Valentim Alves Ferreira
Coordenadora-Geral de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial/SEPPIR/MDH
Arilson Ventura
(CONAQ/CNPIR)
Byany Sanches Mourão
(RAN/CNPIR)
Dandara Tonantzin Silva Castro
(UNE/CNPIR)
Gabriela Cruz da Silva,
Coordenadora-Geral de Promoção da Igualdade Racial/SEPPIR/MDH
José Carlos Calon
(CEDRO/CNPIR)
Rogério Vilela B. de A. Franco
Coordenador de Articulação de Políticas de Ações Afirmativas/SEPPIR/MDH
Silvia Nascimento Cardoso dos Santos Cerqueira
(CNPIR)
Sionei Ricardo Leão de Araújo
Coordenador-Geral do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial/
SEPPIR/MDH
SUBCOMISSÃO DE METODOLOGIA, TEMAS, SUBTEMAS E RELATORIA
Andréa Valentim Alves Ferreira
Coordenadora-Geral de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial/SEPPIR/MDH
Ângela Cristina Santos Guimarães
(UNEGRO/CNPIR)

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SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

Ircílio Chissolumcombe
(MCTIC/CNPIR)
Kátia Favilla
(MDSA/CNPIR)
Patrícia Tiomno Tolmasquim
(CONIB/CNPIR)
Ualid Hussein Ali Mohd Rabah
(FEPAL/CNPIR)

SUBCOMISSÃO DE COMUNICAÇÃO
Dara Sant’Anna Carvalho Ignácio
(UNE/CNPIR)

Dênis Rodrigues da Silva


Analista Técnico de Políticas Sociais-Especialista/SEPPIR/MDH

Frei David Raimundo Santos


(EDUCAFRO/CNPIR)

Jimmyana Sousa Nunes da Rocha


Coordenadora de Políticas da Igualdade Racial/SEPPIR/MDH

Luiz Carlos de Lima


(MI/CNPIR)

Mãe Tuca D’Osoguiã


Edmar Barbosa Bonfim (CCIAO/CNPIR)

SUBCOMISSÃO DE ARTICULAÇÃO E DE MOBILIZAÇÃO


Ana Karyna Sobral
(MPOG/CNPIR)
Bruno Machado Teté
Diretor de Departamento de Igualdade Racial/SEPPIR/MDH
Eliane da Silva Souza
(FUNAI/MJSP/CNPIR)
Henoc Pinto Neves
(CAITI/CNPIR)

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Milton Santos Silva
(RNLGBT/CNPIR)
Nuno Coelho de Alcântara Junior
(APN/CNPIR)
Raquel Dias
(MEC/CNPIR)
Ubiraci Matildes de Jesus
(FNMN/CNPIR)

SUBCOMISSÃO DE LOGÍSTICA
Antônio Carlos Basílio da Silva
(Instituto Nacional de Tecnologia Social – INATES/CNPIR)
Célia Zenaide da Silva
(CFP/CNPIR)
Floraci Pereira dos Santos
Chefe de Divisão de Serviços Gerais/Secretaria Executiva/MDH
Hugo Nister Pessoa Teixeira
Assistente/SEPPIR/MDH
Luana Carolina Corrêa Martins
(FENAFAL/CNPIR)
Rogério Vilela B. de A. Franco
Coordenador de Articulação de Políticas de Ações Afirmativas/SEPPIR/MDH

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SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

SUMÁRIO
ORGANIZAÇÃO DA IV CONAPIR___________________________________________ 7

APRESENTAÇÃO_______________________________________________________ 14

DO RECONHECIMENTO DOS AFRODESCENDENTES___________________________ 16

Estratégias para reconhecimento e enfrentamento ao racismo.......................................18


Marco Legal para Educação Étnico-Racial: Garantias de Continuidade.......................18
Participação e Inclusão para o Reconhecimento.....................................................................20
Povos Ciganos............................................................................................................................................22

DA GARANTIA DE JUSTIÇA DOS AFRODESCENDENTES________________________ 23

Acesso à justiça e enfrentamento ao racismo............................................................................23


Algumas medidas propostas pela Década Internacional de Afrodescendentes.......23
Prevenção e punição de todas as violações de direitos humanos que afetem a
população afrodescendente.................................................................................................................24
Sistema prisional...................................................................................................................................... 26

DO DESENVOLVIMENTO DOS AFRODESCENDENTES___________________________ 27

Desenvolvimento e superação das desigualdades..................................................................27


Racismo Institucional e Saúde...........................................................................................................29
Política Nacional de Saúde Integral da População..................................................................31
Cultura............................................................................................................................................................32
Racismo e Cultura................................................................................................................................... 34

DISCRIMINAÇÃO MÚLTIPLA OU AGRAVADA DOS AFRODESCENDENTES____________ 36

Direitos Sexuais e reprodutivos e a violência obstétrica.....................................................36


Discriminação múltipla ou agravada dos afrodescendentes...................................................36
Direitos sexuais e reprodutivos .............................................................................................................37
Gravidez na adolescência....................................................................................................................37
Violência obstétrica.................................................................................................................................38
Religiões tradicionais de matriz africana.....................................................................................39
Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros - LGBT.....................41
Políticas de Promoção da Igualdade Racial................................................................................42

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS____________________________________________ 45

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APRESENTAÇÃO

E ntre os dias 27 e 30 de maio de


2018, acontecerá em Brasília a IV
Conferência Nacional de Promoção da
mecanismos para o enfrentamento ao
racismo e demais formas de intolerância,
assim como a promoção da igualdade
Igualdade Racial – IV CONAPIR. É um racial visando o desenvolvimento da
grande encontro de representantes da democracia com justiça social no Brasil.
sociedade civil e do governo para dialogar
sobre a luta para o enfrentamento do A IV CONAPIR tem por objetivos: I -
racismo no Brasil. As etapas subnacionais promover o respeito, a proteção e a
– que incluem as conferências livres, concretização de todos os direitos
municipais, regionais, estaduais e humanos e liberdades fundamentais
distrital – iniciaram-se em 2017, com o da população afrodescendente; II -
desafio de deflagrar um grande debate fortalecer as ações relacionadas ao
nacional sobre as políticas públicas para gozo de direitos e à igual participação
o combate à discriminação e à violência dos afrodescendentes em todos os
racial no Brasil. aspectos da sociedade brasileira; III
- promover o maior conhecimento e
Na I CONAPIR, ocorrida em 2005, o tema respeito em relação ao legado, cultura
“Estado e Sociedade - Promovendo a e contribuições diversificadas da
Igualdade Racial” possibilitou estabelecer população afrodescendente de povos e
as propostas em torno das quais se comunidades tradicionais, conforme a
organizam os doze eixos do Plano representação no Conselho Nacional de
Nacional de Promoção da Igualdade Promoção da Igualdade Racial-CNPIR e
Racial. Já em 2009, a II CONAPIR centrou- no Decreto 6040, de 07 de fevereiro de
se na avaliação dos “Avanços, Desafios 2007; e IV - fortalecer o cumprimento dos
e Perspectivas da Política Nacional de tratados e convenções internacionais dos
Promoção da Igualdade Racial”, num quais o Brasil é signatário relacionados
momento de expansão da criação de aos direitos dos afrodescendentes.
órgãos municipais e estaduais voltados
para esta temática. A IV CONAPIR terá como tema central “O
Brasil na década dos afrodescendentes:
Em 2013, na III CONAPIR, o tema reconhecimento, justiça, desenvolvimento
“Democracia e Desenvolvimento sem e igualdade de direitos” e as discussões
Racismo: por um Brasil afirmativo” tornou serão orientadas por quatro subtemas:
possível a discussão e a proposição de

14
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

e perspectivas das políticas


• I – “Do reconhecimento de promoção da igualdade no
dos afrodescendentes” – sobre Brasil, abordando os seguintes
estratégias para o reconhecimento pontos: a) gênero, o que incluirá
e o enfrentamento ao racismo, os direitos sexuais e reprodutivos
partindo das abordagens: a) direito e a violência obstétrica; b)
à igualdade de oportunidades e à religiões tradicionais de matriz
não discriminação; b) educação africana; e c) lésbicas, gays,
em igualdade e conscientização; bissexuais, travestis, transexuais
c) participação e inclusão; e transgêneros - LGBT.

• II – “Da garantia de justiça A IV CONAPIR tem como principal viés


aos afrodescendentes” – como se oportunizar e fortalecer o diálogo e a
procede o acesso à justiça e de cooperação entre órgãos e entidades
que forma poderá se dar quando governamentais e não governamentais
do enfrentamento ao racismo, de promoção da igualdade racial, onde
com as pautas de discussão: a) deverão ser apontados possíveis a justes
acesso à justiça; b) prevenção e nas políticas de igualdade ora em curso,
punição de todas as violações de e fortalecidas as relações das mesmas
direitos humanos que afetem a com as políticas sociais e econômicas
população afrodescendente; c) em vigor.
sistema prisional;
O presente documento traz contribuições
• III – “Do desenvolvimento para subsidiar delegadas e delegados
dos afrodescendentes” – quais nos debates e elaboração das resoluções
os meios para o desenvolvimento da IV Conferência Nacional de Promoção
com justiça social como forma da Igualdade Racial.
de superação das desigualdades
presente no Brasil, com os tópicos:
a) direito ao desenvolvimento e
medidas contra a pobreza; b)
educação; c) empreendedorismo,
emprego e renda; d) saúde; e)
moradia;

• IV – “Discriminação
múltipla ou a gravada dos
afrodescendentes” – avanços

15
mais pobres e marginalizados. Estudos
e pesquisas de órgãos nacionais e

DO RECONHECIMENTO DOS
internacionais demonstram que pessoas
afrodescendentes ainda têm acesso

AFRODESCENDENTES
limitado a educação de qualidade,
serviços de saúde, moradia e segurança.

Em muitos casos, a situação permanece


DÉCADA INTERNACIONAL DOS praticamente invisível, e pouco
reconhecimento e respeito são dados
AFRODESCENDENTES:
aos esforços das pessoas de ascendência
R E C ON H E C I ME N TO, JUSTIÇA E
africana para buscar compensação por
DESENVOLVIMENTO
sua condição atual. Todos eles são, com
frequência, vítimas de discriminação
perante a justiça, enfrentam alarmantes
Em setembro de 2015, os 193 Estados-
índices de violência e discriminação racial.
membros da Organização das Nações
Além disso, seu grau de participação
Unidas (ONU) chegaram a um acordo
política é baixo, tanto nas votações
sobre a ambiciosa agenda que inclui
quanto na ocupação de cargos políticos.
17 Objetivos de Desenvolvimento
Adicionalmente, os afrodescendentes
Sustentável que buscam, até 2030,
podem sofrer de múltiplas formas de
erradicar a extrema pobreza, promover
discriminação quando sua identidade
a prosperidade e o bem-estar das
racial se intersecciona com idade, sexo,
pessoas, e ao mesmo tempo proteger
idioma, religião, opinião política, classe
o meio ambiente. Em dezembro de 2013,
social, incapacidade, origem e outros.
esses mesmos 193 países aprovaram a
criação da Década Internacional dos
Para enfrentar a complexidade dessa
Afrodescendentes. O período iniciado
situação, a década dos afrodescendentes
em dezembro de 2014 e que se estende
traz como tema reconhecimento, justiça
até 2024 marca um esforço para
e desenvolvimento. Com base nesses três
reconhecer e modificar as condições de
conceitos, o documento também assinado
vida das aproximadamente 200 milhões
pelos 193 países – inclusive o Brasil – se
de pessoas afrodescendentes vivendo
desdobra em alguns compromissos: o
principalmente nas Américas.
direito à igualdade e à não discriminação;
a educação para a igualdade e ampliação
Seja como descendentes das vítimas do
da conscientização; o acesso à justiça; o
tráfico transatlântico para exploração do
direito ao desenvolvimento e medidas
trabalho escravo nos séculos passados
contra a pobreza; educação; emprego;
ou como migrantes mais recentemente,
moradia; saúde; e as ações contra a
essas pessoas formam alguns dos grupos
discriminação múltipla ou agravada.
16
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

As organizações internacionais e causado pelo colonialismo e lamentou-


regionais são chamadas para sensibilizar, se que seus efeitos e a persistência
disseminar e apoiar os países na suas práticas esteja entre os fatores
implementação plena e efetiva dos que contribuíram para a desigualdade
compromissos assumidos no âmbito econômica e social que perdura em
da Declaração e Programa de Ação de muitas partes do mundo.
Durban e da Convenção Internacional
sobre a Eliminação de Todas as Formas Reconheceu-se que a escravidão e o
de Discriminação Racial, recolhendo tráfico de escravos são um crime contra a
dados estatísticos, incorporando os humanidade, sempre deveriam ter sido –
direitos humanos nos programas especialmente o comércio transatlântico
de desenvolvimento, honrando e de escravos – e que estão entre as
preservando a memória histórica dos maiores fontes e manifestações de
afrodescendentes. racismo, discriminação racial, xenofobia
e intolerâncias relacionadas.
Em nível nacional, os Estados-membros
devem adotar medidas concretas O processo de Durban deu mais
e práticas por meio da efetiva visibilidade à população afrodescendente
implementação de quadros jurídicos, e contribuiu para o avanço significativo
políticas e programas de combate ao da promoção e proteção de seus direitos.
racismo, discriminação racial, xenofobia Contudo, apesar dos avanços, o racismo
e intolerância correlata enfrentados e a discriminação racial, tanto direta
por afrodescendentes, tendo em conta como indireta, continuam a manifestar-
a situação particular das mulheres, se na desigualdade de oportunidades.
meninas e jovens do sexo masculino.
Um esforço de desagregação de dados
A promoção e proteção dos direitos por raça/cor realizado pelo Programa das
humanos das pessoas afrodescendentes Nações Unidas para o Desenvolvimento
têm sido uma preocupação prioritária das (PNUD), em 2017, jogou luzes sobre a
Nações Unidas. A Declaração e Programa realidade da população negra brasileira.
de Ação de Durban, adotados em 2001 na Apesar dos avanços obtidos na qualidade
Conferência Mundial contra o Racismo, de vida neste século, homens e mulheres
Discriminação Racial, Xenofobia e Formas pretos e pardos ainda têm um Índice de
Conexas de Intolerância, identificaram Desenvolvimento Humano (IDH) menor
elementos fundamentais nas estratégias que a população branca e foi somente
internacionais, regionais e nacionais em 2010 que os negros alcançaram um
que precisam ser impl ementadas patamar que os brancos já possuíam
para o enfrentamento ao racismo que desde 2000.
afeta a população afrodescendente.
Reconheceu-se também o sofrimento
17
Quando os dados são observados e a plena participação de mulheres e
por estados, as maiores diferenças homens negros – que historicamente
porcentuais entre o IDH da população se organizaram ao longo dos séculos
branca e o IDH da população negra, em contra o racismo – será fundamental
2010, foram observadas no Rio Grande para que consigamos – coletivamente
do Sul (13,9%), Maranhão (13,9%) e Rio – cumprir os compromissos de construir
de Janeiro (13,4%) e, por outro lado, as uma sociedade mais justa em que todas
menores diferenças porcentuais foram as pessoas consigam se beneficiar do
registradas nos estados de Amapá (8,2%), desenvolvimento.
Rondônia (8,5%) e Sergipe (8,6%).

O IDH é ca lculado l evando em ESTRATÉGIAS


consideração expectativa de vida ao
nascer, a escolaridade da população
PARA RECONHECIMENTO
adulta, o fluxo escolar da população E ENFRENTAMENTO
jovem e a renda per capita das
populações. Essa análise também nos AO RACISMO
oferece novos instrumentos para olhar
os problemas que temos de enfrentar. A
violência urbana que atinge com mais MARCO LEGAL PARA
força os homens jovens e a violência
EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL:
doméstica no Brasil também tem cor. É
GARANTIAS DE CONTINUIDADE
na vida das mulheres negras que esse
problema avança.
O que garante que as políticas
educacionais de enfrentamento ao
O Brasil desde o início deste século
racismo podem ter efetiva continuidade,
tem se dedicado a elaborar e melhorar
independentemente de conjunturas
os diagnósticos sobre seus diferentes
transitórias? A resposta para tal
grupos populacionais. O país acumulou
indagação encontra-se entranhada no
conhecimento sobre o que é necessário
percurso histórico da construção da
e como fazer. A consciência da
própria política, ou seja, seu arcabouço
complexidade do racismo também está
legal de caráter internacional. Observe-
dada.
se que a temática dos direitos humanos,
dos direitos civis, é uma pauta que
Esse é um período de importantes
interessa ao desenvolvimento do Brasil,
compromissos internacionais. Tanto no
mas principalmente interessa a uma
âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento
agenda internacional amparada por
Sustentável como no da Década
tratados, convenções e instituições
Internacional dos Afrodescendentes, há
internacionais fortes, monitorada pela
muito a ser feito. A contribuição direta
18
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

Organização das Nações Unidas em da educação dos afro-brasileiros nem


seus diversos setores da atuação. Assim, avanços para a justiça aos negros em
passamos a fazer uma revisão histórica geral, senão depois de sua segunda
do marco legal de forma a fazer perceber metade, com a Lei Afonso Arinos de
que a temática étnico-racial permanece 1951, onde a discriminação racial passou
em pauta efetiva nos trabalhos do a caracterizar-se como contravenção
Ministério da Educação, bem como nas penal. Esse início de construção de um
pastas dos demais governos de estados marco legal se respaldou, segundo ela,
e munícipios do país. na atuante elaboração acadêmica dos
eminentes Abdias do Nascimento, Clóvis
A Educação para as relações étnico- Moura e Lélia Gonzales, entre outros(as),
raciais como proposta de trabalho contrapondo-se aos textos nefastos dos
institucional, figurando nos documentos que defendiam a pseudo democracia
do Conselho Nacional de Educação e racial.
do Ministério da Educação, foi uma das
principais conquistas advindas das lutas A partir dali, Cavalleiro relaciona as
históricas da população negra brasileira. intervenções do Movimento Negro
Chegar à escola já foi uma conquista Organizado como a Convenção nº 111 da
que exigiu muito esforço e militância OIT (1958); o Pacto Internacional sobre
aguerrida para demonstrar o quão graves Direitos Civis e Políticos (1966); o Pacto
e injustos são as políticas públicas que Internacional sobre Direitos Econômicos,
desconsideravam as necessidades da Sociais e Culturais (1966); e, a Convenção
população negra, em geral mais carente Internacional sobre a Eliminação de
e destituída de direitos gerais, como é Todas as Formas de Discriminação Racial
perceptível nos textos constitucionais (1968), que serviram como subsídio para
anteriores à Constituição Federal de 1988. a preparação da Constituição Federal
de 1988. A Carta Magna, no seu artigo
A Conferência Mundial contra o Racismo, 5º, inciso XLII, dos Direitos e Garantias
Discriminação Racial, Xenofobia e Fundamentais, e no seu artigo 68 do
Intolerância Correlata, realizada no ano Ato das Disposições Constitucionais
de 2001 em Durban, na África do Sul, foi Transitórias, passou a considerar como
certamente um divisor de águas no que condenável toda a prática de racismo
diz respeito a alavancar no Brasil ações e determinou como sendo direito
mais efetivas que garantissem alguma inalienável as manifestações culturais,
implementação real de educação para sem preconceitos de origem, raça, cor,
enfrentamento do racismo. Na introdução sexo ou idade. Graças ao caminhar deste
do livro “Orientações e Ações para a conjunto de textos legais foi possível a
Educação das Relações Étnico-Raciais”, Lei Caó (Lei nº 7.716/89) e a Lei Federal
Eliane Cavalleiro lembra que o século nº 10.639/2003, que altera a Lei de
passado não teve efeito para melhoria Diretrizes e Bases da Educação Nacional-
19
LDB no sentido de incluir no currículo Compreendendo isso, no que precisamos
da Educação Básica o ensino de História avançar? Talvez o primeiro aspecto
e Cultura Afro-brasileira e Africana e, é construir uma rede de avaliação
posteriormente, a Lei nº 11.645/2008, continuada para que sistemas, sociedade
que incluiu na redação da LDB o ensino e governo possam acompanhar com
de história e cultura afro-brasileira e maior facilidade as boas práticas
indígena. de aplicação deste arcabouço legal;
maximizar e aumentar as experiências
A força do marco legal que incide que já estejam em andamento; garantir
positivamente sobre a educação brasileira que a educação para as relações étnico-
em defesa de um ensino que combate raciais estejam realmente presentes
racismos, preconceitos e intolerâncias em todas as modalidades e níveis da
correlatas, tem se perpetuado. Ainda que educação, incluindo a rede particular,
existam adversidades no cenário político de educação técnico-profissionalizante
brasileiro, esta força se manifestou nas e as escolas militares.
ações do Conselho Nacional de Educação-
CNE, como na construção do Parecer Então, o desafio para mais uma década
nº 03/2004 e na Resolução nº 01/2004, dos afrodescendentes é o cumprimento
que instituíram as Diretrizes Curriculares integral de tudo que está expresso no
Nacionais-DCNs para Educação das conjunto do marco legal desenvolvido
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de principalmente durante estas duas
História e Cultura Afro-brasileira e Africana; décadas do século XXI.
no Plano Nacional de Implementação
das DCNs da Educação Étnico-Raciais, PARTICIPAÇÃO E INCLUSÃO
lançado em 2009; na Lei nº 12.288/2010,
que instituiu o Estatuto da Igualdade
PARA O RECONHECIMENTO
Racial; na Resolução CNE nº 8, de 20 de
Para contribuir com a efetiva participação
novembro de 2012, que definiu as Diretrizes
e inclusão, e garantir o Reconhecimento
Curriculares Nacionais para a Educação
conforme as diretrizes elencadas na
Escolar Quilombola na Educação Básica; e,
Década Internacional de Afrodescendentes,
na Lei nº 12.711/2012, sancionada em agosto
os países devem adotar medidas que
daquele ano, garantindo a reserva de 50%
possibilitem a participação plena, igual e
das matrículas por curso e turno nas 59
efetiva da população negra na vida pública
universidades federais e 38 institutos
e política sem discriminação, de acordo
federais de educação, ciência e tecnologia
com o direito internacional dos direitos
a alunos oriundos integralmente do ensino
humanos.
médio público, em cursos regulares ou da
educação de jovens e adultos.
O Direito Internacional dos Direitos
Humanos surgiu a partir do Pós-guerra

20
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

como resposta às atrocidades cometidas compromisso com a diversidade do nosso


durante o nazismo. Neste contexto, os povo. As ações em prol da população
direitos humanos reconstruíram-se como negra necessitam modificar a realidade,
paradigma e referencial ético a orientar e para isso é necessário fortalecer e
a ordem internacional contemporânea. articular os mecanismos e as instâncias
Os valores elencados nesta conjuntura democráticas de diálogo e atuação
adotaram a primazia da pessoa humana, conjunta entre governo e sociedade civil,
por meio do Sistema Nacional de Direitos a exemplo dos Conselhos de Direitos. A
Humanos, com o objetivo de proporcionar população negra ao longo desses anos
a maior efetividade possível na tutela e vem demonstrado sua rica expressão
promoção de direitos fundamentais. A na participação e complementa os
sistemática internacional, como garantia avanços através da participação dos
de proteção, instituiu mecanismos atores da sociedade civil. Os movimentos
de responsabilização e control e sociais mostram que a vontade de
internacional, que são acionados quando participação dos afrodescendentes não
o Estado se mostra falho ou omisso se contenta apenas com o processo de
na tarefa de implementar direitos e realização das conferências, mas anseia
liberdades fundamentais, conforme institucionalizar-se e permanecer atuante
descrito nos acordos internacionais. de forma transversal e descentralizada
O aparato internacional de proteção e para efetivação das políticas públicas. O
as obrigações internacionais, quando movimento negro promoveu importantes
absorvidas pelo Estado, reafirmam conquistas através de mecanismos
o seu compromisso e a aceitação participativos e essa efetiva participação
do monitoramento internacional, no resultou em importantes conquistas para
que se refere ao respeito aos direitos população negra. Podemos citar aqui
fundamentais em seu território. algumas dessas grandes conquistas,
como a criação da SEPPIR, a criação do
A Constituição brasil eira de 1988, Estatuto da Igualdade Racial, a instituição
ressalta e reafirma o marco jurídico da da Política Nacional de Saúde Integral
institucionalização dos direitos humanos da População Negra, de 2009, a Lei nº
e da transição democrática no país, 10.639/2003, que tornou obrigatório o
demarca uma conquista e consagra ensino da história e cultura afro brasileira,
o primado do respeito aos direitos as Leis de Cotas 12.711/2012, que reserva
humanos como paradigma propugnado 50% das vagas nas universidades
para a ordem internacional. federais, e a 12.990/2014, que reserva
20% das vagas em concursos públicos
Ao falarmos em participação, vimos que em âmbito federal, e o Programa Brasil
existe uma imensa dificuldade da gestão Quilombola, entre outras conquistas
pública para garantir a participação importantes.
popular e, principalmente, reafirmar o
21
Para continuarmos os avanços, o contra a ação dos órgãos de governo
Estado deve superar alguns entraves que têm desempenhado um papel
ainda existentes no que concerne ao importante em defesa da população
respeito à opinião pública e a garantia negra. Os dados revelam que as cotas são
da participação. Vale destacar que o um grande instrumento de inclusão dos
Racismo Institucional coloca-se como negros e negras nos espaços de ensino
a maior barreira a ser superada quando e no mercado de trabalho. Importante
tratamos de participação e inclusão também ressaltar que a inclusão não
dos afrodescendentes nos espaços de termina com o ingresso, é necessário
decisão e participação. desenvolver estratégias de acesso e
permanência nos espaços conquistados.
Nos dias de hoje, é difícil acreditar que
as pessoas ainda são excluídas do meio Outro destaque importante, é a
social em razão de suas características reflexão que temos de fazer diante
físicas, como a cor da pele. da crise no cenário político. Podemos
ressaltar a importância de inserir as
Quando falamos em inclusão, entendemos ações afirmativas em uma eventual
que ela está ligada a todas as pessoas reforma política. Também é emergente
que não têm as mesmas oportunidades a nossa reflexão sobre a questão de
dentro de uma sociedade. Os excluídos que “ negro não vota em negro”. Esta
socialmente também são os que reflexão cabe à superação do estigma
não possuem condições financeiras de que somente o homem branco possui
dentro dos padrões impostos pela representatividade quando se fala de
sociedade, sendo a população negra competência, capacidade e inteligência.
a população mais pobre do país. Além Precisamos eleger os(as) nossos(as)
das desvantagens socioeconômicas, a representantes para que nossos direitos
opressão de gênero e raça produz a e nossas conquistas tenham garantia.
violência simbólica. Por isso, reafirmamos
a importância das ações afirmativas
para a garantia do acesso aos direitos POVOS CIGANOS
e inclusão social dos afrodescendentes.
Pensar as ações afirmativas como Quanto aos Povos Ciganos, que
mecanismos de justiça social é promover chegaram ao Brasil a partir do século XVI
uma inclusão que assegura a presença como vítimas da perseguição na Europa,
de grupos historicamente excluídos nos até hoje são objeto de preconceito e
espaços de representatividade e poder. discriminação, apesar de constituírem
uma população de centenas de milhares
Cabe destacar que a elite branca de pessoas que vêm participando da
brasileira ainda resiste aos avanços, construção e do crescimento do país
realizando campanhas difamatórias desde a época colonial.
22
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

DA GARANTIA DE JUSTIÇA
Praticamente não existem dados oficiais
sobre a presença dos Povos Ciganos e de
sua distribuição pelo território nacional, o
que indica o grau de invisibilidade que o DOS AFRODESCENDENTES
Estado brasileiro tem conferido às etnias
ciganas. É urgente que seja realizado um ACESSO À JUSTIÇA E
censo demográfico indicando quantos ENFRENTAMENTO AO RACISMO
são e onde estão os ciganos e suas
comunidades. A LG UMAS ME DI DAS P RO P O STAS
PELA DÉCADA INTERNACIONAL DE
O Racismo Institucional atinge de AFRODESCENDENTES
maneira cruel os Povos Ciganos, com
crianças fora das escolas; alto grau de 1. Introduzir medidas para garantir a
analfabetismo entre jovens e adultos; igualdade perante a lei, especialmen-
dificuldades de acesso à assistência te no desfrute do direito à igualdade
social – inclusive de idosos(as) –; pessoas de tratamento perante os tribunais e
ainda sem Registro Civil de Nascimento outros órgãos de administração da
e todas as dificuldades advindas daí, Justiça;
como a burocracia para sepultamentos;
resistência dos governos municipais 2. Eliminar estereótipos institucionaliza-
para permissão de permanência de dos relacionados à população afro-
comunidades itinerantes, entre outros. descendente e aplicar sanções apro-
priadas contra autoridades policiais
Os Povos Ciganos têm direito a escola, que agem com base na filtragem
saúde, moradia e segurança como racial;
seres humanos e cidadãos e cidadãs
brasileiros(as) que são! Seus direitos 3. Assegurar que a população afrodes-
básicos e fundamentais precisam ser cendente tenha acesso pleno e efetivo
garantidos, como a inviolabilidade de a proteção e recursos perante os tri-
seus lares, e as comunidades ciganas bunais nacionais competentes e outras
devem ter acesso a serviços e à instituições estatais contra quaisquer
promoção social, respeitadas a sua atos de discriminação racial e o di-
tra jetória e costumes, assim outros povos reito de buscar reparação adequada
e comunidades tradicionais. ou satisfação perante esses tribunais
por qualquer prejuízo sofrido em razão
dessa discriminação;

4. Adotar medidas efetivas e apropria-


das, incluindo medidas legais quando
23
necessário, para combater todas as
formas de racismo, especialmente a 8. Reconhecer e lamentar profundamen-
disseminação de ideias baseadas em te o indescritível sofrimento e males
superioridade racial ou ódio, incitação infligidos a milhões de homens, mu-
ao ódio racial, violência ou incitação lheres e crianças como um resultado
à violência racial, como também ativi- da escravidão, do tráfico de escravos,
dades de propaganda racista e par- do comércio transatlântico de escra-
ticipação em organizações racistas. vos, do colonialismo, do apartheid, do
Os países também são incentivados a genocídio e de tragédias passadas,
garantir que essas motivações sejam observando que alguns países tomem
consideradas como um fator agravante a iniciativa de desculpar-se e pagar
da pena para efeitos de sentença; reparações, quando apropriado, pelas
violações graves e massivas cometi-
5. Facilitar o acesso à justiça para pesso- das. E invocar aqueles que ainda não
as afrodescendentes vítimas de racis- demonstraram remorso ou desculpa-
mo, fornecendo as informações legais ram-se para que encontrem alguma
necessárias sobre os seus direitos e maneira de contribuir para a restau-
assistência jurídica; ração da dignidade das vítimas.

6. Prevenir e punir todas as violações a


direitos humanos que afetam a po- PREVENÇÃO E PUNIÇÃO DE
pulação afrodescendente, incluindo TODAS AS VIOLAÇÕES DE
violência, atos de tortura, tratamento
DIREITOS HUMANOS QUE
desumano ou degradante, incluindo
aqueles cometidos por autoridades AFETEM A POPULAÇÃO
públicas; AFRODESCENDENTE

7. Assegurar que as pessoas afrodes- A Ouvidoria Nacional de Direitos


cendentes, como qualquer outra pes- Humanos recebeu 137.516 denúncias de
soa, possam desfrutar de todas as violações de direitos humanos em 2015,
garantias do devido processo legal e uma média de 376 registros por dia. O
igualdade perante a lei, conforme con- balanço do Disque 100 ou Disque Direitos
sagrado nos instrumentos internacio- Humanos revela quem são as principais
nais de direitos humanos relevantes, e, vítimas de violações de direitos no país.
especificamente, o direito à presunção No que se refere ao recorte por raça/
de inocência, o direito à assistência cor dessas denúncias, verifica-se que
jurídica e a um intérprete, o direito a as maiores vítimas são pessoas negras.
um tribunal imparcial e independente, O perfil das denúncias de violações de
garantias da justiça e todos os direitos direitos das crianças e adolescentes é
que assistem os presos; de 57,5% de meninas e meninos pretos
24
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

e pardos; das denúncias relacionadas


às pessoas com deficiência, 56% dos A grave situação da segurança pública,
informados são pretos e pardos. A incluindo a violência generalizada e os
tendência se repete nas denúncias de abusos policiais afetam majoritariamente
violações dos direitos da população a população afrodescendente.
LGBT, em situação de rua e pessoas em
restrição de liberdade. A única exceção é É necessário assegurar que as
em relação ao grupo das pessoas idosas, investigações de todos os atos de racismo
onde 52% das denúncias são de pessoas e discriminação racial, particularmente
idosas brancas. aquel es cometidos por oficiais da
execução da lei, sejam realizados de
Com relação ao Disque 100, as denúncias maneira imparcial, oportuna e exaustiva,
relativas ao grupo Igualdade Racial que os responsáveis sejam levados à
cresceram 5.811% no ano de 2015 em justiça de acordo com a lei e que vítimas
relação ao ano de 2014. recebam satisfação imediata e justa por
qualquer dano.
A repressão à livre circulação da
população negra, especialmente dos Outras medidas importantes:
homens negros, tem sido uma prática
usual no Brasil e objeto de reiteradas 9. Adotar programas de treinamento
denúncias pelo movimento negro. Nas policial com ênfase no uso da força
operações policiais, as revistas e pedidos de acordo com o critério da propor-
de documentos de identificação, em cionalidade;
primeiro lugar para os homens negros
- com a exigência de carteira de trabalho 10. Enfrentar o aumento, nos anos recen-
assinada - podem ser relatadas de norte tes, de atos de incitação ao ódio que
a sul do país. visam e afetam gravemente a popu-
lação afrodescendente e as religiões
É preciso estar vivo para desfrutar de matriz africana, seja envol vendo
de direitos. É preciso ser livre para o uso de meios de comunicação im-
usufruir a democracia. É preciso não ser pressos, audiovisuais ou eletrônicos,
discriminado para ampliar habilidades ou quaisquer outros meios;
e conhecimento como seres humanos.
No caso brasil eiro, a violação de 11. Encorajar os governos a incluírem em
direitos, expressa nas manifestações seus relatórios do mecanismo de revi-
cotidianas e generalizadas de racismo são periódica universal do Conselho de
e de discriminação racial, é a base da Direitos Humanos, informações sobre
violência letal a que a população negra medidas de prevenção e combate ao
é submetida. racismo;

25
Os jovens representam 54,8% da
população carcerária brasil eira.
12. Estimular os governos a desenvolverem Considerando-se os dados do InfoPen -
programas culturais e educacionais Levantamento Nacional de Informações
que visam combater o racismo, dis- Penitenciárias sobre a população no
criminação racial, xenofobia e intole- período de 2005 a 2012 e as estimativas
rância correlata e melhorar o enten- para a população brasileira acima de
dimento mútuo entre diversas culturas 18 anos no mesmo período, é possível
e civilizações; observar que o encarceramento de
negros aumentou mais do que o
13. Realizar campanhas efetivas de mídia encarceramento de brancos.
para melhorar a prevenção, combate
e erradicação de todas as manifesta- Em 2012, para cada grupo de 100
ções de racismo, xenofobia e intole- mil habitantes brancos acima de 18
rância correlata. anos havia 191 brancos encarcerados,
enquanto para cada grupo de 100 mil
SISTEMA PRISIONAL habitantes negros acima de 18 anos
havia 292 negros encarcerados, ou seja,
O perfil socioeconômico das pessoas proporcionalmente o encarceramento
privadas de liberdade é majoritariamente de negros foi significativamente maior
composto por pessoas negras e pardas, do que o de brancos.
jovens, oriundas de espaços populares,
com baixa escolaridade e pertencentes Algumas medidas importantes a serem
às camadas mais pobres da população. tomadas:

Em 2005 havia 92.052 negros presos e • Assegurar que as pessoas privadas de


62.569 brancos, ou seja, considerando- liberdade em regime de prisão pre-
se a parcela da população carcerária ventiva e temporária sejam submeti-
para a qual havia informação sobre cor das sem demora a julgamento e que
disponível, 58,4% era negra. Já em 2012, sejam adotadas medidas para corrigir
havia 292.242 negros presos e 175.536 a excessiva e inadequada adoção de
brancos, ou seja, 60,8% da população prisões cautelares;
prisional era negra.
• Propor aos estabelecimentos prisio-
Constata-se assim que quanto mais nais, critérios objetivos, em harmonia
cresce a população prisional no país, mais com a legislação, para categorizar as
cresce o número de negros encarcerados. pessoas privadas de liberdade - por
O crescimento do encarceramento exemplo, com base na reincidência
é mais impulsionado pela prisão de ou na natureza da infração cometida
pessoas negras do que brancas. (crimes hediondos, violentos e não vio-
26
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

lentos) -, assim como a sua separação


dentro dos espaços de privação de li-
berdade, como em diferentes galerias, DO DESENVOLVIMENTO
DOS AFRODESCENDENTES
alas, celas, dormitórios ou quartos;

• Criar ou disponibilizar mecanismos


de denúncias de violações de direitos DESENVOLVIMENTO
dentro das unidades de privação de E SUPERAÇÃO DAS
liberdade, assegurando-se as garan-
tias do devido processo e o direito à DESIGUALDADES
defesa;
Conforme o Relatório das Desigualdades
• Promover a participação dos agentes de Raça, Gênero e Classe, publicado pelo
públicos responsáveis pela privação Grupo de Estudos Multidisciplinares da
de liberdade em formações e capa- Ação Afirmativa da UERJ, entre os anos
citações adequadas, tendo em vista de 2011 e 2015, 35% dos pretos e 34% dos
normas nacionais e internacionais; pardos1 recebiam entre 1/2 salário e um
salário mínimo e apenas 2% dos pretos
• Garantir o melhor tratamento de saú- e 2% dos pardos recebiam acima de
de possível às pessoas privadas de cinco salários mínimos, quando 7% dos
liberdade; brancos recebiam mais de cinco salários
mínimos. Cabe ressaltar que dados do
• Garantir a salubridade do esp aço IBGE destacam que, somados pretos e
físico das unidades de privação de pardos, 54% da população brasileira
liberdade; é negra, 45% branca e 1% indígena
ou amarela. “Apesar do aumento dos
• Oferecer acompanhamento e assis- rendimentos nos últimos 4 anos ter
tência jurídica das medidas impos- ocorrido para todos os grupos da
tas às pessoas privadas de liberdade, população, os brancos permanecem em
pelos órgãos do sistema de justiça, posição de franca vantagem em relação
particularmente a Defensoria Pública aos pretos e pardos, com rendimento
e Varas responsáveis pela execução em torno de 80% superior ao de pretos
das medidas privativas de liberdade; e pardos ao longo de todo o período.
É importante notar que a despeito
• Fortalecer os órgãos de controle ex- de ter havido crescimento de renda
terno e interno do sistema de justiça, para todos os grupos, a desigualdade
como ouvidorias e corregedorias. entre eles permaneceu praticamente
inalterada.” (LEÃO, CANDIDO, CAMPOS,
FERES JÚNIOR, 2017, pág. 8).
1 Conforme critérios de raça e cor do IBGE.

27
Para Amartya Sen o desenvolvimento não comunidades quilombolas e dos povos
deve ser medido somente pelo aumento indígenas encontram-se na área rural do
da industrialização, avanços tecnológicos, país (Caderno de Resultados População
aumento do PIB, da renda média per Negra, BSM, 2015).
capita, mas sim deve incluir indicadores
de melhoria da vida dos indivíduos, com 10,3 milhões de famílias que estão
o fortalecimento de suas liberdades. O inseridas no Cadastro Único dos
acesso à saúde, educação, a garantia Programas Sociais são chefiadas por
dos direitos civis, o direito ao território, negras/os, destas, 67% são beneficiárias
devem ser incluídos nas políticas de do Programa Bolsa Família e 88% são
desenvolvimento. “O que as pessoas chefiadas por mulheres negras. Do total
conseguem realizar é influenciado por de famílias beneficiárias do Bolsa Família,
oportunidades econômicas, liberdades 75% são de famílias de negras e negros.
políticas, poderes sociais e por condições
habilitadoras, como boa saúde, educação “O racismo e seus refl exos na
básica e incentivo e aperfeiçoamento de dis tribuição dos recursos são
iniciativas” (SEN, 2010, pág. 18). e l e m en to s es tr u t ur an tes d a
desigualdade social no Brasil. O
A ONU, no documento sobre a Década peso de seus efeitos é reafirmado
Internacional de Afrodescendentes, por meio da evidenciação estatística
destaca a importância da participação de sua magnitude. A persistência
de negras e negros nos processos da diferenciação racial no acesso
decisórios e na distribuição igualitária a serviços públicos, na aquisição
dos benefícios resultantes deste de cap acidades e n a posição
desenvolvimento. social desvela as consequências da
atuação sistemática de mecanismos
Segundo o Caderno de Resultados de produção e reprodução das
População Negra, analisando a superação desigualdades em vários campos da
da pobreza de junho de 2011 a abril de vida social.” (SILVA, 2013, pág. 14).
2015, apesar da redução da pobreza
multidimensional entre pretos, pardos A agenda mundial dos Objetivos de
e indígenas de 12,26% em 2002 para Desenvolvimento Sustentável-ODS é
1,7% em 2013, há ainda uma grande composta por 17 objetivos e 169 metas.
diferença quando observada em relação Os ODS 1. Erradicação da Pobreza e o 10.
aos brancos, que possuíam em 2013 taxa Redução das Desigualdades apresentam
de 0,5%. Esta diferença é ainda mais diversas metas, como:
acentuada quando analisado o meio
rural, sendo de 4,9% para pretos, pardos a) “1.5 Até 2030, construir a
e indígenas e de 0,4% para os brancos. resiliência dos pobres e daqueles em
Importante destacar que a maioria das situação de vulnerabilidade, e reduzir
28
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

a exposição e vulnerabilidade destes


a eventos extremos relacionados com RACISMO
o clima e outros choques e desastres INSTITUCIONAL E SAÚDE
econômicos, sociais e ambientais;
A história da população negra no Brasil é
1.a Garantir um a mobilização marcada por desigualdade e resistência.
significativa de recursos a partir de Sua chegada ao Brasil inicia-se no século
uma variedade de fontes, inclusive por XVI, por meio do tráfico transatlântico
meio do reforço da cooperação para de negras e negros escravizados,
o desenvolvimento, para proporcionar provenientes de vários lugares do
meios adequados e previsíveis para continente africano, para trabalharem
que os países em desenvol vimento, nos engenhos e lavouras de cana-de-
em p ar ticul ar os p aíses m enos açúcar no período colonial. Além de
desenvol vidos (LCDs), implementem serem submetidas a trabalhos forçados,
programas e políticas para acabar estas pessoas eram destituídas de seus
com a pobreza em todas as suas laços e vínculos familiares, sendo-lhes
dimensões impostas outras formas de vida. Este
processo não ocorreu sem resistência,
1.b Criar marcos políticos sólidos, os quilombos constituíram umas das
em níveis n acion al, region al e principais estratégias de organização
internacional, com base em estratégias e oposição ao sistema escravocrata.
de desenvolvimento a favor dos pobres
e sensíveis a gênero, p ara apoiar A abolição oficial da escravatura ocorreu
investimentos acelerados nas ações somente em 1888, durante o Brasil Império,
de erradicação da pobreza.” tendo a população negra no Brasil vivido
por mais de três séculos sob o regime
b) “10.1 Até 2030, progressivamente de escravidão. Apesar da abolição e do
alcançar e sustentar o crescimento da posterior reconhecimento das graves
renda dos 40% da população mais pobre violações decorrentes da escravização,
a uma taxa maior que a média nacional”; a população negra continua em grande
medida excluída socialmente do acesso
c) “10.2 Até 2030, empoderar e a vários bens. A falta de políticas no
promover a inclusão social, econômica período pós-abolição que incluíssem
e política de todos, independentemente esta população nos processos produtivos
da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, e sociais, assim como o imaginário sobre
origem, religião, condição econômica sua inferioridade, contribuiu para a
ou outra” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES continuidade da sua marginalização
UNIDAS, 2015). na sociedade brasileira. Ainda hoje, são
frequentes as discriminações raciais,
associando negras e negros a estereótipos
29
negativos, de subalternidade, que A construção de equidade racial em
reforçam sua marginalização social, saúde para a população negra é um
econômica, política e cultural. compromisso firmado pelo Ministério
da Saúde na portaria 992/2009, que
Vale mencionar que são recentes as instituiu a Política Nacional de Saúde
políticas de promoção da igualdade Integral para a População Negra, cuja
ra c i a l p ro m ov i d a s pe l o E s ta d o marca é:
brasileiro. O racismo é um fenômeno
cuja dinâmica é atualizada ao longo do “reconhecimento do racismo,
tempo nas estruturas da sociedade. Os das desigualdades étnico-raciais
significados que ele reproduz incidem e do racismo institucional como
sobre o tratamento dado aos grupos determinantes sociais e condições
raciais, influenciando os acessos e as de saúde, com vistas à promoção
oportunidades. Desta forma, o racismo da equidade em saúde”, conforme
cria e/ou potencializa as vulnerabilidades, divulgação no Portal da Saúde
impondo barreiras de acesso a direitos (http://portalsaude.saude.gov.br).
ou negligenciando necessidades.
O racismo secularmente praticado con-
O Racismo Institucional está diretamente tra a população negra afeta a garantia de
ligado à forma como a sociedade acesso aos serviços públicos de saúde e
está estruturada e com a falta de é fator estruturante na desumanização
reconhecimento da cidadania plena da da atenção prestada a este contingente
população negra, resultando na redução populacional.
do acesso integral a bens e serviços
de qualidade, menor participação A saúde e o adoecimento estão relaciona-
e negligência das necessidades dos a uma série de fatores socioeconômi-
específicas, potencializando agravos à cos e culturais que afetam a integridade
saúde. física e psicológica, individual e coletiva.
As condições históricas de inserção so-
As práticas discriminatórias oriundas cial, somadas às condições de moradia,
do racismo são eventos que emergem renda, saúde, localização geográfica e
em vários âmbitos: nas relações autoconceito positivo ou negativo são
interpessoais, na família, na distribuição elementos que determinam o acesso a
geográfica dos espaços urbanos, na bens e serviços também de saúde.
formação de círculos sociais e mesmo
nas instituições, dificultando e muitas Os séculos de escravização da população
vezes impedindo o acesso a um serviço negra influenciaram negativamente na
de saúde de qualidade. inserção dessa população na sociedade
brasileira, contribuindo para um desigual

30
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

e desfavorável acesso a direitos e oportu-


Vale ressaltar que a agregação de pre-
nidades, inclusive de saúde. Estas carac-
tos e pardos no grupo “negros” justifica-
terísticas se refletem no quadro epide-
-se pelo fato de que do ponto de vista
miológico dessa população, evidenciando
estatístico as populações pretas e par-
iniquidades e vulnerabilidades no acesso
das têm características muito similares,
às condições promotoras de saúde.
quando comparadas à população branca,
em indicadores socioeconômicos; além
Segundo o Censo 2010, em 10 anos a
disso, as discriminações, potenciais ou
estrutura da população mudou em ter-
efetivas, sofridas por pardos e pretos são
mos de cor ou raça, com destaque para
de ordem racial (OSÓRIO, 2003).
uma maior proporção das pessoas que
se autodeclaram como pretas e pardas,
de 44,7% da população em 2000 para POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE
50,7% em 2010. Destaca-se uma maior INTEGRAL DA POPULAÇÃO
concentração de pretos e pardos no Nor-
te e no Nordeste; e, no Sudeste e Sul Instituída pela Portaria nº 992 de 13 de
uma maioria de pessoas da cor branca, maio de 2009, a Política Nacional de Saú-
o que acompanha os padrões históricos de Integral da População Negra- PNSIPN
de ocupação do país (IBGE). visa garantir a equidade e a efetivação
do direito à saúde de negras e negros.
Seguindo a tendência de aumento de au- Tendo como marca o reconhecimento
todeclarações de pessoas negras (pretas do racismo, das desigualdades étnico-
e pardas), a Pesquisa Nacional por Amos- -raciais e do racismo institucional como
tras de Domicílios 2013 mostrou que 53,1% determinantes sociais das condições de
da população brasileira se autodeclarou saúde, com vistas à promoção da equi-
negra (45% parda e 8,1% preta), enquanto dade em saúde, a Portaria nº 992 esta-
46,1% branca e 0,8% amarela e indígena. belece objetivos, diretrizes, estratégias e
responsabilidades da gestão em muitas
O Estatuto da Igualdade Racial (Lei esferas.
12.288/2010) define população negra
como “o conjunto de pessoas que se au- Entre suas diretrizes e objetivos, inclui ações
todeclaram pretas e pardas, conforme o de cuidado, atenção, promoção à saúde e
quesito cor ou raça usado pela Fundação prevenção de doenças, bem como de ges-
Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- tão participativa, participação popular e
tística IBGE”. As categorias de raça/cor controle social, produção de conhecimento,
utilizadas pelo Instituto Brasileiro de Ge- formação e educação permanente para
ografia e Estatística (IBGE) são: branca, trabalhadoras e trabalhadores da saúde,
preta, parda, amarela e indígena. visando à promoção da equidade em saú-
de da população negra.

31
A Política Nacional de Saúde Integral da também a redução das iniquidades de
População Negra expressa o compromisso raça/cor, gênero, identidade de gênero,
de governo com a diminuição das desigual- orientação sexual, geracionais e de classe.
dades sociais que acometem a população
negra, sendo o racismo uma de suas ex- As estratégias do III Plano Operativo es-
pressões mais fortes. Reafirma também tão estruturadas em 05 eixos: Acesso da
as responsabilidades de cada esfera de População Negra às Redes de Atenção à
gestão do SUS na implementação de suas Saúde; Promoção e Vigilância em Saú-
ações e na articulação com outros setores de; Educação Permanente em Saúde e
do governo e da sociedade civil, em es- Produção do Conhecimento em Saúde
pecial com os movimentos sociais negros. da População Negra; Fortalecimento da
Participação e do Controle Social e Mo-
A construção da Política Nacional de Saú- nitoramento e Avaliação das Ações de
de Integral da População Negra conta Saúde para a População Negra.
com princípios e diretrizes, além da pre-
visão de acompanhamento e avaliação O Plano inclui também povos e comuni-
subsidiados pelo Comitê Técnico de Saú- dades tradicionais ao estimular o pre-
de da População Negra, tanto em nível enchimento pelas equipes de Atenção
nacional, quanto em instâncias estaduais Básica do campo “é membro de povo ou
e municipais. O estabelecimento deste comunidade tradicional?”, que consta na
Plano é um dos padrões de uma gestão ficha de cadastro do sistema E-SUS/AB.
descentralizada e participativa, proposta A coleta desta informação é importante
pelo Ministério da Saúde, para garan- para tomada de decisões, pela gestão do
tir a promoção de equidade em saúde SUS, voltadas a atenção à saúde dessas
com participação social para além de populações. Além disso, reconhece que as
Conferências Nacionais de Saúde e do comunidades tradicionais de matriz afri-
Conselho Nacional de Saúde cana e toda cultura derivada da presença
negra no Brasil são espaços de produção
Com o objetivo de estabelecer estraté- de saúde e de reafirmação de cidadania.
gias de aplicação da Política de Saúde
da População Negra, o III Plano Operativo CULTURA
da Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra – publicado em abril de O Brasil é famoso mundialmente pela
2017 – visa garantir o acesso da popula- miscigenação de seu povo, fato louvado
ção negra às ações e serviços de saúde de forma clara pela sua cultura popular.
de forma oportuna e humanizada, con- Infelizmente não lembramos o custo des-
tribuindo para a melhoria das condições sa miscigenação, que na verdade teve a
de saúde desta população. O Plano visa cultura indígena apagada, a cultura negra

32
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

ignorada para a valorização da cultura “Uma das possíveis origens, segun-


eurocêntrica. Historicamente houve a es- do Nei Lopes, seria a etnia quioco, na
colha de determinada cultura como boa qual samba significa cabriolar, brincar,
cultura e a desvalorização as demais, fato divertir-se como cabrito. Há quem dia
que persiste até hoje. Num discurso raso, que vem do banto semba, com o signi-
vemos que a música tida como “erudita” ficado de umbigo ou coração. Parecia
é a música clássica europeia, enquanto aplicar-se a danças nupciais de Ango-
o funk, um exemplo contemporâneo de la caracterizadas pela umbigada, em
música de periferia e portanto ligada ao uma espécie de ritual de fertilidade.
povo negro, sofre o preconceito que o Na Bahia surge a modalidade samba
samba já sofreu em outras épocas. de roda, em que homens tocam e só
as mulheres dançam, uma de cada vez.
A cultura é a forma de um povo se per- Há outras versões, menos rígidas, em
petuar. Muito além da arte, cultura é a que um casal ocupa o centro da roda.”
resistência de um povo. Os ciganos por (ALVITO, 2013. Pág. 80).
exemplo, hoje não tem um país ou conti-
nente, mas além da questão sanguínea, Congada como o nome sugere, vem da
se perpetuam através da cultura, das mú- coroação dos antigos reis africanos do
sicas, costumes, crenças etc. Quando a Congo. São cantos e danças junto a vio-
política de estado de um país, elege uma lões, violas, reco-recos, atabaques, sanfo-
cultura como melhor ou principal, está nas e cavaquinho; o Jongo acreditamos
fazendo um claro Racismo Institucional vir de Angola, e significa divertimento. É
contra as demais populações. uma expressão cultural vocal acompa-
nhada por instrumentos musicais e dança.
Se na música, o samba é tido como prin- Para alguns é tido como um “tipo de sam-
cipal música negra e conseguiu sair do ba”, outros dizem que é a própria origem
gueto para o gosto popular, a Congada, do samba e pode ser chamado Caxambu,
o Jongo, o Maracatu e outros são muito Dança do Jongo, Bambelô, dentre outros.
menos conhecidos. O samba originou-se O Maracatu é uma música brasileira com
dos antigos batuques trazidos pelos afri- origem em Pernambuco e tem relação
canos que vieram como escravos para o com o candomblé. O ritmo é marcado por
Brasil. Esses batuques estavam geralmen- instrumentos de percussão e a dança se
te associados a elementos religiosos que desenvolve num cortejo com rei, rainha
instituíam entre a população negra uma e sua corte.
espécie de comunicação ritual através
da música e da dança, da percussão e A Capoeira é uma luta que tomou forma
dos movimentos do corpo. de dança para tornar possível o apren-
dizado e treino nos engenhos sem le-

33
vantar suspeitas dos capatazes. Durante
décadas a capoeira foi proibida no Brasil. RACISMO E CULTURA
A liberação da prática aconteceu apenas
na década de 1930, quando uma variação Estudar as relações entre o racismo e a
(mais para o esporte do que manifestação cultura é levantar a questão da sua ação
cultural) foi apresentada ao então presi- recíproca. Se entendermos cultura como
dente Getúlio Vargas pelo Mestre Bimba, “conjunto dos comportamentos motores
que adorou e a chamou de “único esporte e mentais nascido do encontro do ho-
verdadeiramente nacional”. Atualmente a mem com a natureza e com o seu seme-
Capoeira é Patrimônio Cultural Brasileiro, lhante”, devemos dizer que o racismo é
recebendo em 2014 o título de Patrimônio um elemento cultural. Através do humor,
Cultural Imaterial da Humanidade. histórias e chistes, o ódio, a xenofobia e
o preconceito passam a permear sim a
A África é o continente com maior diversi- cultura de um povo. Segundo a Escala de
dade cultural de todo o mundo. As religi- Preconceito de Allport (ALLPORT, 1954)
ões de matriz africana foram duramente temos as seguintes categorias:
atacadas pelos católicos brasileiros, então
pouco da cultura de origem se manteve. ANTILOCUÇÃO - É um grupo ma joritário
Da miscigenação dessas religiões surgi- fazendo humor abertamente sobre um
ram novas crenças, que chamamos de grupo minoritário. A fala se dá em termos
Candomblé (que teve origem no nordeste de estereótipos e imagens negativas. Ela,
brasileiro) e a Umbanda (com origem no além de criar um ambiente preconceitu-
Rio de Janeiro). Na religião podemos ver oso, agressivo e hostil, ainda estabelece
com clareza a força do racismo, perene o cenário para erupções mais sérias de
até os dias de hoje, onde terreiros são in- preconceito. Depois de anos, o Brasil tem
vadidos, destruídos. A hegemonia cultural conseguido enfrentar seu humor racista,
mostra seu lado mais cruel ao associar machista e homofóbico, mas com forte
o Exu (um orixá das religiões africanas) reação de humoristas e da população
como sinônimo do demônio (símbolo do que deseja seguir fazendo piada sobre
mal na religião cristã). populações estigmatizadas. Uma par-
cela de humoristas mais enga jados tem
Os negros e negras serviram a casa gran- levantado a bandeira de que humor se
de por séculos. Talvez isso explique que faz com os poderosos, isto é, não se faz
foi na alimentação é onde houve o me- piada com minorias, mas sim como forma
nor apagamento da cultura negra. São de protesto.
famosos os pratos vatapá, acara jé, caru-
ru, mungunzá, sarapatel, baba de moça, ESQUIVA - O contato com as pessoas do
cocada, bala de coco, atualmente reco- grupo minoritário passa a ser ativamente
nhecidos como comida do Brasil. evitado pelos membros do grupo ma jo-
34
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

ritário. Pode não se pretender fazer mal negra se encontra, mas também dessa
diretamente, mas o mal é feito através do perpetuação do racismo na cultura e da
isolamento. Isso pode ser visto em favelas, escalada de intolerância e ódio.
guetos. Muitas vezes essa esquiva busca
justificativa no medo da criminalidade, O que existe de mais cruel no racismo
sem uma reflexão sobre porque os ne- cultural é sua capacidade de renovação
gros, ciganos, ou mesmo LGBTs estão na e refinamento.
situação de marginalidade. Vira um efeito
de auto alimentação do racismo com um Com o embate promovido pelos movi-
medo simbólico. mentos sociais e a com evolução da ci-
ência, o racismo vulgar e simplista que
DISCRIMINAÇÃO - É a negação propria- achava no biológico a base material da
mente dita de oportunidades e serviços doutrina (forma comparada de crânios,
ao grupo discriminado, acrescentando quantidade e configuração dos sulcos do
preconceito à ação. A população negra encéfalo, características das camadas
sofre isso claramente no Brasil, em rela- celulares do córtex, dimensões das vérte-
ção a empregos, salários, saúde, educa- bras, aspecto microscópico da epiderme
ção, moradia etc. Um bom exemplo pode etc.) foi sendo substituído por argumen-
ser conferido no artigo Grávidas negras tação mais fina e portanto mais difícil de
e pardas recebem menos anestesia no combater.
parto, disponível no endereço eletrônico
https://www.geledes.org.br/gravidas-par- O racismo declarado, pautado na melani-
das-e-negras-recebem-menos-anestesia- na, tende a ficar mais sutil. O ódio que se
-no-parto/. pretende racional, individual, determina-
do, genotípico e fenotípico, transforma-se
ATAQUE FÍSICO - O grupo ma joritário em racismo cultural. O objeto do racismo
vandaliza as coisas do grupo minoritário, já não é o “conceito de raça”, mas uma
queimam propriedades e desempenham certa forma de existir. Os “valores oci-
ataques violentos contra indivíduos e gru- dentais” reúnem-se singularmente ao já
pos. Danos físicos são perpetrados contra célebre apelo à luta da “cruz contra o
os membros do grupo minoritário. crescente”. Então surge uma ode contra a
cultura islâmica como se essa fosse uma
EXTERMÍNIO - Quando o grupo ma jo- única. Faz-se o embate contra as culturas
ritário busca a exterminação do grupo de periferia, sem mencionar que são as
minoritário. Segundo o Índice de Vulne- vinculadas à população negra. Cria-se
rabilidade Juvenil à Violência e Desigual- uma ideia cultural coletiva de desejo de
dade Racial 2014, no Brasil, o jovem negro paz e ordem, de combate ao crime, quan-
tem 2,5 vezes mais chance de ser morto. do o que está por traz é o extermínios das
Logicamente esse dado vem da condi- populações marginais, para desta forma
ção de marginalidade que a população exterminar quem está na periferia.
35
É impossível subjugar homens e mulhe- DISCRIMINAÇÃO MÚLTIPLA
res sem inferiorizá-los(as). O racismo é a
explicação emocional e afetiva, algumas
OU AGRAVADA DOS
vezes intelectual, da inferiorização, per-
mitindo a prática desta e negando sua
AFRODESCENDENTES
própria situação de opressor. Se enten-
dermos que cultura é uma série de refe- DIREITOS SEXUAIS E
rências, pensamentos e reflexões de um REPRODUTIVOS E A
povo, veremos que ela pode armazenar VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
o ódio, a intolerância. Porém é também
através dela, seja via políticas públicas ou DISCRIMINAÇÃO MÚLTIPLA
movimento social organizado, que o ódio OU AGRAVADA DOS
pode ser enfrentado, debatido e vencido. AFRODESCENDENTES: GÊNERO
As ações culturais, que são afirmativas e
empoderadoras são a ferramenta para O enfrentamento da discriminação
se mudar a visão de um povo sobre si. experimentada por indivíduos e grupos
requer ferramentas adequadas às
É fundamental que as políticas públicas diversas situações em que se apresenta.
para a população negra fujam dos es- Nesse sentido, cabe ao Estado adotar
tereótipos da banalização para mostrar e implementar políticas e programas
o seu lado de cultura sublime, de força, que forneçam proteção efetiva para
de resistência à agressão e opressão, e as pessoas afrodescendentes que
assim trazer empoderamento, autoestima enfrentem formas de discriminação
e orgulho para a população negra. múltipla, agravada ou interseccional.
Na década de 80, o movimento de
mulheres negras conferiu maior
visibilidade às questões específicas
de saúde da mulher negra, sobretudo
aquelas relacionadas à saúde sexual
e reprodutiva. O racismo e o sexismo
imprimem marcas segregadoras
diferenciadas, que implicam restrições
específicas dos direitos desse segmento,
vitimando-o, portanto, com um duplo
preconceito.

A perspectiva de gênero deve integrar


a concepção e o monitoramento

36
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

de políticas públicas, l evando em à autodeterminação e livre escolha


consideração as necessidades específicas da maternidade e paternidade; ao
e as realidades de mulheres e meninas casamento, à filiação, à constituição
afrodescendentes, incluindo na área da de uma família; à proteção social à
saúde sexual e reprodutiva e os direitos maternidade, paternidade e à família,
reprodutivos, de acordo com o Programa inclusive no trabalho.
de Ação da Conferência Internacional
sobre População e Desenvolvimento, Os Direitos Sexuais e Reprodutivos têm
a Plataforma de Ação de Pequim e como fontes as leis e implementação de
os documentos resultantes de suas políticas públicas de saúde, educação,
conferências de avaliação, além de trabalho, segurança pública que visem
garantir o acesso adequado aos cuidados atender as especificidades de meninas
de saúde materna. jovens e mulheres.

DIREITOS SEXUAIS E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA


REPRODUTIVOS
Um dos eixos que perpassa a questão
dos direitos sexuais e reprodutivos é a
Os Direitos Reprodutivos são constituídos
gravidez na adolescência, que ainda é
por princípios e normas de direitos
mais recorrente em jovens negras de
humanos que garantem o exercício
baixa escolaridade e renda, e moradoras
individual, livre e responsável, da
de periferias.
sexualidade e reprodução humana. É,
portanto, o direito subjetivo de toda
Dados do Painel de Indicadores do Sistema
pessoa decidir sobre o número de filhos
Único de Saúde-SUS 2016 apontam que
e os intervalos entre seus nascimentos,
o percentual de mães adolescentes de
e ter acesso aos meios necessários
15 a 19 anos diminuiu entre os anos de
para o exercício livre de sua autonomia
2000 a 2012 em todas as categorias de
reprodutiva, sem sofrer discriminação,
cor/raça. Entretanto, o percentual de
coerção, violência ou restrição de
partos em jovens negras foi superior
qualquer natureza.
à proporção de jovens brancas. Esses
dados evidenciam que fatores como
A natureza dos Direitos Reprodutivos
a educação precária, a desigualdade
envolve direitos relativos: à vida e
de renda e a dificuldade de acesso às
à sobrevivência; à saúde sexual e
políticas públicas influenciam na tomada
reprodutiva, inclusive, aos benefícios
de decisão das jovens negras, que se
ao progresso científico; à liberdade e
veem impossibilitadas de planejar sua
à segurança; à não-discriminação e o
reprodução e exercitar sua sexualidade
respeito às escolhas; à informação e
com liberdade e autonomia.
à educação para tomada de decisão;

37
Somente em 1993 acontece o Seminário
Neste contexto, propõe-se como
Nacion al de Políticas e Direi tos
questões ativadoras do debate:
Reproduti vos das Mulheres Negras,
1. Que ações intersetoriais podem ser um importante evento brasileiro que
viabilizadas para garantir a efetividade abordou as especificidades da violência
dos direitos sexuais e reprodutivos das contra as mulheres negras.
mulheres negras?
A violência obstétrica no Brasil tem maior
2. Como viabilizar o pleno acesso de incidência com mulheres em situação de
jovens e adolescentes negras, entre 10 a vulnerabilidade social. Logo, as principais
19 anos, às políticas de educação, saúde, vítimas são as mulheres pobres e negras.
assistência social, emprego e renda, de Dados da Comissão Interamericana de
forma a reduzir o percentual de gravidez
Direitos Humanos apontam que pelo
indesejada nesta etapa da vida?
menos seis de cada dez mortes maternas
3. Quais leis, normas e políticas públicas são de mulheres negras.
são discriminatórias e devem ser revistas
ou reformadas? Mulheres pretas e pardas representaram
65,9% da parcela submetida a algum tipo
de violência obstétrica em 2014, segundo
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA estudo publicado nos Cadernos de Saú-
de Pública da Fundação Oswaldo Cruz.
A violência obstétrica consiste na
apropriação do corpo e processos
Neste contexto, propõe-se como
reprodutivos das mulheres pelos
questões ativadoras do debate:
profissionais de saúde, por meio do
tratamento desumanizado, abuso 1. Como implementar políticas públicas
da medicalização e patologização na área de saúde e direitos humanos
dos processos naturais, causando que propiciem às mulheres negras, em
perda da autonomia e capacidade de especial as das camadas mais vulneráveis,
decidir livremente sobre seus corpos e a identificação da violência obstétrica?
sexualidade. Tal conceito foi publicado
em uma cartilha lançada em 2014 pela 2. Como criar canais de denúncia?
Defensoria Pública do Estado de São
Paulo, baseando-se nas leis da Venezuela 3. É necessário formar uma rede de
e da Argentina, nas quais a violência proteção para as mulheres vítimas desse
tipo de violência?
obstétrica é tipificada como um crime
cometido contra as mulheres (Defensoria 4. Como conscientizar os profissionais de
Pública do Estado de São Paulo, 2014). saúde, que entendem que determinadas
práticas são legítimas e afetas aos
procedimentos legais?

38
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

RELIGIÕES TRADICIONAIS DE positivando e legitimando nossas práticas


e cultos como são.
MATRIZ AFRICANA As comunidades tradicionais têm a terra
como bem coletivo, espaço de manifestação
A população Afrodescendente no Brasil vive da vida, da existência e carregam todos os
um tempo desafiador. Além da luta pela valores da cultura, da ancestralidade e da
sobrevivência, a superação do racismo, do história (NOGUEIRA, 2013). As contribuições
atraso social, econômico e político, muitos dos povos tradicionais, e em especial dos
de nós temos que encarar o desrespeito povos das religiões de matriz africana, vão
e a intolerância em relação a suas formas além do pilar de monitoria espiritual. As
mais diversas de expressar a fé. Sabemos casas de axé ou terreiros desenvolvem ações
que as religiões de matrizes africanas, sociais e promovem a cultura e práticas de
são frequentemente alvo de preconceito a juda mútua, atividades que impactam
e seus frequentadores e adeptos sofrem diretamente sobre sua circunvizinhança,
cotidianamente com agressões e ataques preservam e lutam pela manutenção
físicos e simbólicos contra seus símbolos e da biodiversidade em seus locais de
casas institucionais de culto, popularmente estabelecimento.
conhecidas como casa de santo/axé, roça
ou terreiros (WALMYR, 2016). A busca pelo reconhecimento e igualdade
também é uma prática cotidiana. A influência
A liberdade de crença é garantida no e supremacia de outras religiões tentam
pensamento jurídico através da Constituição suprimir e acabar com práticas comuns
Federal do Brasil (1988), a qual dita no seu e costumeiras às nossas religiões. Rituais
Art.5, Inc. VI, que “é inviolável a liberdade de e manifestações de fé podem acontecer
consciência e de crença, sendo assegurado livremente em outras religiões: benção, cura,
o livre exercício dos cultos religiosos e milagres, transmutações e até a sacralização
garantida, na forma da lei, a proteção aos de animais, porém, no que cabe às práticas
locais de culto e a suas liturgias”. das religiões de matriz africana, usualmente
são ligadas a rituais profanos e demonizados.
Apesar de todas as lutas já impetradas e
consumadas com o destino de fazer valer “Os oficios de uma missa, por exemplo,
os direitos dos povos negros, de algumas comportam uma série de atos simbólicos
vitórias e de outras tantas lutas que se ou operações mágicas como bênçãos, a
estendem e se arrastam para uma decisão transubstanciação da hóstia em corpo
final, sem respostas imediatas e plausíveis, de Cristo, entre outras, tanto quanto
os povos de Religiões de Matriz Africana um ritual do candomblé ou umbanda”
ainda buscam reconhecimento e respeito (NASCIMENTO, 2010).
para sua liberdade de culto e crença.
Devemos combater a intol erância
O Brasil é um país laico, porém essa laicidade
religiosa buscando nosso espaço em
deve ser estendida e entendida para todos.
O direito constitucional deve ser garantido locais públicos, políticos e sociais,
a todos(as) por meio de ações efetivas e abrindo as portas de nossas casas para
rápidas, para que tenhamos um instrumento essa desmistificação e desassociação
39
“No candomblé não se pode comer
de nossas práticas a rituais demoníacos.
em uma festividade de Orixá um bicho
Exercer nosso direito, assim como em
que não tenha sido morto da maneira
outras crenças, de realizar bênçãos e
tradicional. No matadouro industrial,
rituais internos sem a violação de nosso
por exemplo, não há respeito na
espaço sagrado.
mor te de animais. É impossível
manter as práticas do candomblé
Precisamos exercer o direito de andar
sem a sacralização dos animais. Se
livremente pelas ruas usando nossas
me proibirem de usar folhas, bem
vestimentas brancas e nossos adornos,
como o sangue do animal, acabou.”
que nos identificam como adeptos
Leandro Encarnação da Mata, Baba
do culto aos Orixás, Inkises, Voduns,
Egbé da Casa de Oxumarê
Encantados e entidades de uma forma
geral, a exemplo de outras religiões que
Muitos afrodescendentes sofrem discri-
estampam seus santos e deuses sem
minações múltiplas decorrentes de sua
sofrerem ameaças à integridade física
cor, sexo, idade, religião, raça e gênero.
e moral de seus integrantes.
Desta forma, a união de todas as forças
no sentido de amenizar esses impactos e
Os acontecimentos atuais como
erradicar o preconceito e a intolerância
agressões físicas a pessoas identificadas
deve fomentar o trabalho dos órgãos de
como pertencentes às religiões de
Políticas de Igualdade Racial já existentes
matriz africana, mortes de babalorixás
nas esferas de governos e devemos ba-
e ialorixás, invasão de nossos espaços
talhar pela criação de um número maior
sagrados, interrupção de cultos, queima
para ampliamos as áreas de atuação.
e apedrejamento de nossos terreiros e
casas não são mais que um pano de fundo
A oficialização das religiões de matriz
onde se explicita a intolerância religiosa,
africana também é uma luta que se en-
tendo em vista que essas religiões são
contra sem soluções práticas e eficazes:
oriundas de escravos negros.
a obrigatoriedade da inclusão da iden-
tificação dessas religiões em questioná-
A nossa Constituição é clara, há liber-
rios e cadastros oficiais, a facilitação de
dade de culto no país. Felizmente, em
processos e leis que indiquem de ma-
1889, quando proclamaram a República,
neira prática e eficaz o reconhecimento
afastaram a religião do Estado. O Estado
e formalização das casas e, de fato, as
é laico e não se mete em religião. Então
tornem de direito.
cada um que professe a sua fé, cada
um que se beneficie e ore a Deus ao
É necessário o fortalecimento das nações
seu modo.
e vertentes dentro das religiões de matriz
africana, contemplando seus rituais e
instrumentos, assim como também suas
40
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

manifestações, com a finalidade de des- A sociedade brasileira, estruturalmente


mitificar e popularizar nossas práticas. racis ta, machis ta e baseada no
A Década do Afrodescendente, institucio- patriarcalismo, faz com que a lgbtfobia
nalizada pela Organização das Nações vá além da violência no espaço público
Unidas, e a IV Conferência Nacional de e adentre o âmbito familiar. A construção
Promoção da Igualdade Racial, organiza- de políticas de proteção, segurança e
da pelo CNPIR, são instrumentos públicos emancipação social e econômica desta
para que possamos amenizar e sanar o população negra LGBT é atribuição do
crescente número e incidências de atos Estado e da sociedade civil, em esforço
de intolerância religiosa. conjunto e complementar.

A criação de órgãos específicos de polícia Nos últimos 14 anos, a SEPPIR tem


especializada em crimes de intolerância implementado a política de promoção
religiosa, crimes de ódio e preconceito, da igualdade racial de forma transversal
assim como de órgãos e conselhos e intersetorial no âmbito da pactuação
de igualdade racial, em municípios e federativa e em relação à estrutura
estados, com sua adesão ao Sistema da administração federal. Junto a um
Nacional de Promoção da Igualdade conjunto de ministérios, a SEPPIR, por
Racial-SINAPIR, são instrumentos que meio de seu Departamento de Políticas
vem fortificar a nossa luta. de Ações Afirmativas, é responsável pelas
ações voltadas ao público LGBT negro.
LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, Neste mesmo sentido, após realização
TRAVESTIS, TRANSEXUAIS E da III Conferência Nacional LGBT,
TRANSGÊNEROS - LGBT realizada no primeiro semestre de 2016,
onde foram aprovadas deliberações que
Apesar de constituírem a maioria articulam a promoção da cidadania
da população brasileira, as pessoas LGBT em interface com a promoção da
negras continuam representadas de igualdade racial, a SEPPIR vislumbrou
maneira estereotipada, distorcida e possibilidades de articulação com
criminalizada, ao mesmo tempo em que parceiros para alcançar os objetivos das
sua participação ativa em nossa cultura proposições. Desta forma, na construção
e história é ignorada em muitos espaços. de ações e atividades já previstas na
Quando se cruza a situação supracitada Política Nacional de Saúde Integral da
da população negra com a discriminação População Negra, na aplicação da Lei
sofrida pela população LGBT, percebe-se nº 10.639/2003, no apoio às campanhas
que existe um duplo grau de preconceito sobre racismo, no Plano Juventude Viva
sobre a população negra LGBT; onde se e no sistema de proteção de direitos
potencializam estereótipos negativos e (centros de referências, Disque 100 e
violência simbólica e física. delegacias especializadas), a SEPPIR

41
garantirá a diversidade de orientação outras diretrizes pertinentes e de suma
sexual e identidade de gênero. Para importância, destacamos a inclusão da
tanto, a chamada pública de projetos diversidade populacional nos processos
de fomento ao SINAPIR lançada no de formulação, implementação de outras
primeiro semestre de 2017, contou políticas e programas voltados para
com uma linha de apoio a projetos que grupos específicos no Sistema Único
contivessem a interface racial com a de Saúde-SUS, envolvendo orientação
população LGBT. E no Plano Juventude sexual, identidade de gênero, ciclos de
Viva, que atualmente está em fase de vida, raça-etnia e território.
reestruturação com apoio do Fundo de
População das Nações Unidas-UNFPA, Por fim, cabe assinalar que é fundamen-
a abordagem da violência oriunda da tal para o sucesso das ações governa-
discriminação de orientação sexual e de mentais de promoção da igualdade ra-
gênero aparecerá de forma mais clara e cial e superação do racismo considerar
com metas a serem alcançadas. suas interseções com a temática de gê-
nero e orientação sexual. Nos processos
A parceria com o UNFPA tem, dentre seus sociais de discriminação, as clivagens
objetivos principais, o de desenvolver de raça, gênero e população LGBT se
ações de Enfrentamento ao Racismo entrecruzam recorrentemente e formam
Institucional – com consultoria espe- dimensões estruturantes da realidade
cializada no âmbito do Plano Juventude brasileira. O enfrentamento dessas dis-
Viva – desenvolvidas nos estados e mi- criminações precisa contemplar estraté-
nistérios prioritários. A referida consul- gias que abordem de maneira conjunta
toria também visa a realização de ações essas clivagens.
formativas para líderes jovens negros e
negras, com vistas à formação de uma POLÍTICAS DE PROMOÇÃO
rede de juventude negra e enfrentamen-
to ao racismo, com fundamental recorte
DA IGUALDADE RACIAL
na diversidade da população LGBT.
Nas últimas décadas, o Brasil vem am-
pliando o debate no que se concerne à
A Política Nacional de Saúde Integral
questão racial, presente no processo de
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
redemocratização do país pós período
e Transexuais tem sua marca no
de Ditadura Civil-Militar, onde a Consti-
reconhecimento de que a discriminação
tuinte de 1988 trouxe importante auxílio
por orientação sexual e por identidade
na discussão do tema.
de gênero incide na determinação
social da saúde, no processo de
O discurso da democracia racial, que
sofrimento e adoecimento decorrente
esteve presente em parte do início do
do preconceito e do estigma social a que
séc. XX, deu espaço para que o país, a
está exposta a população LGBT. Dentre
42
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

partir da segunda metade do séc. XX e contra Racismo, Discriminação Racial,


agora no século XXI, pudesse acompa- Xenofobia e Intolerância Correlata, ocor-
nhar a expansão das discussões sobre rida em 2001, que resultou na Declaração
a desigualdade racial e as problemáti- de Durban, contém diversas iniciativas
cas resultantes desta desigualdade, que que objetivam reparar e diminuir as
como descreve LIMA (2008, pág. 33): desigualdades e discriminações raciais
“Essa problematização envolve relações tão presentes na sociedade Brasileira.
cotidianas, embates e ações práticas.” Destaca-se que o Brasil foi signatário.

A Constituição Federal de 1988, em seu Estruturando o debate em torno do ra-


Art. 5º, reconhece o racismo como cri- cismo e do combate às desigualdades
me inafiançável e imprescritível, e no raciais, a discriminação racial e as diver-
Art. 68 do Ato das Disposições Constitu- sas faces da intolerância religiosa, por
cionais Transitórias-ADCT, reconhece a meio da Medida Provisória nº 111, de 21
propriedade definitiva das propriedades de março de 2003, foi criada a Secreta-
quilombolas, além de reconhecer o patri- ria Especial de Promoção da Igualdade
mônio e a diversidade cultural do povo Racial-SEPPIR, tendo por finalidades:
negro nos Art. 215 e 216, o que deu força
para a ampliação da discussão sobre a • Formulação, coordenação e arti-
realidade racial no Brasil. culação de políticas e diretrizes
para a promoção da igualdade
A criação da primeira instituição do racial;
Governo Federal para promoção da
Igualdade Racial, a Fundação Cultural • Formulação, coordenação e ava-
Palmares, em 22 de agosto de 1988, re- liação das políticas públicas afir-
presentou um avanço nas políticas para mativas de promoção da igual-
a população negra. Ela está voltada à dade e da proteção dos direitos
promoção, preservação e implementa- de indivíduos e grupos étnicos,
ção da arte e da cultura afro-brasileira com ênfase na população negra,
por meio de três vieses: a) comprome- afetados por discriminação racial
timento, b) cidadania e c) diversidade, e demais formas de intolerância;
apontando para uma política cultural que
atue de maneira igualitária e inclusiva, • Articulação, promoção e acompa-
valorizando as manifestações do povo nhamento da execução dos pro-
negro como patrimônio nacional. gramas de cooperação com orga-
nismos nacionais e internacionais,
Progressos nas políticas públicas para públicos e privados, voltados à
a população negra merecem destaque, implementação da promoção da
tais como as Leis Caó (7.716/1989) e Paim igualdade racial;
(9.459/2007). A III Conferência Mundial
43
• Coordenação e acompanhamen- As atividades da SEPPIR têm como refe-
to das políticas transversais derência a Lei nº 12.288/2010, o Estatuto da
governo para a promoção da Igualdade Racial, que norteou a elabo-
igualdade racial; ração do Plano Plurianual-PPA 2012-2015.
O resultado foi a criação do programa
• Planejamento, coordenação da 2034 – Enfrentamento ao Racismo e Pro-
execução e avaliação do Progra- moção da Igualdade Racial.
ma Nacional de Ações Afirmati-
vas; Políticas de Promoção da Igualdade
Racial estavam presentes em outros 25
• Acompanhamento da implemen- programas daquele PPA, assim como no
tação de legislação de ação afir- PPA 2015-2019, onde totaliza 121 metas,
mativa e definição de ações pú- 87 iniciativas e 19 ações orçamentárias,
blicas que visem o cumprimento propondo desta forma a política racial
de acordos, convenções e outros de maneira transversalizada em várias
instrumentos congêneres assina- áreas do Governo Federal.
dos pelo Brasil, nos aspectos re-
lativos à promoção da igualdade
e combate à discriminação racial
ou étnica.

44
SUBSÍDIOS PARA O DEBATE

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
ALLPORT, G. The Nature of Prejudice. Cambridge: Addison-Wesley, 1954.
ALVITO, Marcos. Samba. In: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 9, nº
97. Outubro, 2013. Pág. 80.

AQUINO, Mirian de Albuquerque. Políticas de informação para inclusão de negros


afrodescendentes a partir de uma nova compreensão da diversidade cultural. In:
Revista Inclusão Social, Brasília, DF, v. 3, n. 2, p.26-37, jan/jun, 2010.

SDH/MMIRDH. Balanço Anual da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos 2015.


Secretaria de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da igualdade Igualdade
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