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4.

SISTEMAS DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS


4.1. Considerações de âmbito geral

Este capítulo diz respeito, fundamentalmente, à drenagem de águas residuais em meio


urbano, excluindo a contribuição pluvial, tratada no âmbito do capítulo 5. Essas águas
residuais incluem em regra, também, os efluentes de actividades comerciais e de
pequena indústria inseridas no tecido urbano.

No âmbito deste capítulo tratam-se de aspectos como: tipos de sistemas de drenagem,


vantagens e inconvenientes; componentes de sistemas, critérios de projecto para o
traçado em planta e perfil longitudinal de colectores; verificação hidráulica dos
escoamentos; órgãos gerais ou comuns dos sistemas: colectores, câmaras de visita e
ramais de ligação e soluções não convencionais ou não tradicionais de drenagem. No
capítulo 8 desenvolvem-se os aspectos ligados a transformações bioquímicas que tem
lugar na massa líquida, em sistemas de águas residuais e os principais efeitos
decorrentes dessas transformações. Não são tratados e desenvolvidos os aspectos de
dimensionamento estrutural dos colectores.

O sub-capítulo 4.4 foi adaptado de Matos et al. (2002) e Gonçalves e Monteiro (2002).

4.2. Tipos de sistemas de drenagem urbanos: vantagens e inconvenientes


As redes de drenagem de águas residuais são convencionalmente constituídas por redes
de colectores, podendo drenar essencialmente águas residuais domésticas, industriais e
pluviais. As águas residuais domésticas provêm de instalações sanitárias, cozinhas e
zonas de lavagem de roupas e caracterizam-se por conterem quantidades apreciáveis de
matéria orgânica, serem facilmente biodegradáveis e manterem relativa constância das
suas características no tempo. As águas residuais industriais derivam da actividade
industrial e caracterizam-se pela diversidade dos compostos físicos e químicos que
contêm, dependentes do tipo de processamento industrial e ainda por apresentarem, em
geral, grande variabilidade das suas características no tempo. As águas residuais
pluviais, ou simplesmente águas pluviais, resultam da precipitação atmosférica caída
directamente no local ou em bacias limítrofes contribuintes e apresentam geralmente
menores quantidades de matéria poluente, particularmente de origem orgânica.
Consideram-se equiparadas a águas pluviais as águas provenientes de regas de jardins e
espaços verdes, de lavagem de arruamentos, passeios, pátios e parques de
estacionamento, normalmente recolhidas por sarjetas, sumidouros e ralos.

Conforme a natureza da qualidade das águas residuais que transportam, os sistemas de


drenagem de águas residuais podem ser classificados, de acordo com o Decreto
Regulamentar 23/95 de 23 de Agosto, como:

a) separativos, constituídos por duas redes de colectores distintas, uma destinada ás


águas residuais domésticas e industriais e outra à drenagem das águas pluviais ou
similares;

b) unitários, constituídos por uma única rede de colectores onde são admitidas
conjuntamente as águas residuais domésticas, industriais e pluviais;

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c) mistos, constituídos pela conjugação dos dois tipos anteriores, em que parte da
rede de colectores funciona como sistema unitário e a restante como sistema
separativo e;

d) separativos parciais ou pseudo-separativos, em que se admite, em condições


excepcionais, a ligação de águas pluviais, por exemplo, de pátios interiores, aos
colectores de águas residuais domésticas.

No Quadro 4.1 apresentam-se, por tipo de sistema, a classificação, as condições de


escoamento e os respectivos objectivos principais.

O Quadro 4.2 diz respeito às principais vantagens e inconvenientes de cada tipo de


sistema.
Quadro 4.1 – Classificação de sistemas de águas residuais.
TIPO DE CONDIÇÕES DE PRINCIPAIS OBJECTIVOS
SISTEMA ESCOAMENTO
Separativos Com escoamento São o tipo de colectores mais usual para o transporte de
Domésticos com superfície livre águas residuais, comerciais e industriais. Vulgarmente
transportam, também, águas de infiltração e águas
pluviais ou de lavagem, decorrentes de ligações
erróneas.
As condutas sob pressão, por bombagem, são usadas
quando se torna técnica e economicamente inviável ou
Sob pressão
desfavorável o recurso a soluções gravíticas de
escoamento com superfície livre. No caso dos sistemas
simplificados (também designados por sistemas de
esgotos decantados ou sistemas de colectores de
pequeno diâmetro) é aceitável o transporte gravítico
sob pressão.
Este tipo de sistema é pouco frequente, sendo o
transporte bifásico (ar e água) resultado da criação de
Sob vácuo condições de sub-pressão nas condutas. É utilizado, em
regra, para o transporte de águas residuais domésticas,
excluindo contribuições pluviais e de infiltração, e para
populações servidas de pequena dimensão.

Separativos Com escoamento Neste caso, são transportadas as águas de precipitação


Pluviais com superfície livre dos pavimentos, cobertura de edifícios e áreas
(excepcionalmente impermeabilizadas em meio urbano. Não é permitida a
sob pressão) ligação de águas residuais domésticas e o escoamento
só excepcionalmente se processa sob pressão.

Unitários Com escoamento Neste caso, a totalidade das águas residuais, incluindo
com superfície livre águas pluviais, é transportada pelo sistema. Nos
(excepcionalmente Estados Unidos da América, em Portugal e em muitos
sob pressão) países da Europa, é rara, actualmente, a construção de
“raiz” de colectores unitários.

Pseudo- Com escoamento Neste caso, e excepcionalmente, admite-se a ligação de


Separativos com superfície livre águas pluviais aos colectores domésticos devido ao
facto dessas águas não apresentam condições de
afluência gravítica a colectores pluviais. É um tipo de
sistema cuja construção de “raiz” não é frequente em
novas urbanizações e empreendimentos.

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Quadro 4.2 – Principais vantagens e inconvenientes dos sistemas separativos convencionais,
não convencionais e unitários.
TIPO DE VANTAGENS INCONVENIENTES
SISTEMA
O facto de se trasportarem
Sistemas Custos elevados de primeiro
efluentes de natureza distinta
convencionais, investimento, associados à necessidade
por diferentes colectores,
separativos de dispor de dois tipos de tubagens ou
permite que sejam sujeitos a
domésticos e pluviais colectores.
diferentes condições de
tratamento e de destino final. Necessidade de construção cuidadosa, em
termos de ligações de ramais prediais.
Sistemas Economia de primeiro Descarga de excedentes poluídos em
convencionais investimento, decorrente da tempo de chuva, com eventuais impactes
unitários construção de um único tipo negativos no Ambiente.
de colector que transporta a
totalidade da água de meio
urbano.
Simplicidade de projecto, no Acréscimo de encargos de energia e de
que respeita a ligação de exploração em instalações elevatórias e
ramais e colectores de tratamento, devido ao excedente de
contribuição pluvial em tempo de chuva.
Esses sistemas podem
Sistemas não Acréscimo em encargos de exploração e,
conduzir, nomeadamente em
convencionais: de conservação, em relação ao sistema
zonas planas ou com
colector gravítico de gravítico convencional.
elevados níveis freáticos, a
pequeno diâmetro ou
economias significativas de
sob vácuo
primeiro investimento.
No caso dos sistemas sob No caso do sistema sob vácuo, requere-se
vácuo, redução do risco da um grau de conhecimento e de
ocorrência de condições de especialização superior, para a
septicidade e controlo da exploração.
infiltração.

4.3. Componentes dos sistemas

Os sistemas de águas residuais, sejam separativos ou unitários, dispõem de um conjunto


de componentes principais que incluem, em regra, além das tubagens e ligações no
interior da habitação ou edificação (designadamente ramais de descarga, tubos de
queda, algerozes e caleiras, colunas de ventilação, sifões e ralos), ramais de ligação à
rede de drenagem pública, colectores e câmaras de visita, câmaras de corrente de varrer,
sarjetas e sumidouros. Além destes órgãos ou componentes comuns existem, por vezes,
instalações complementares nos sistemas, designadamente descarregadores, instalações
elevatórias, sifões invertidos e bacias de retenção. Excepcionalmente, recorrem-se a
túneis e pontes-canal. Os principais componentes de sistemas são identificados no
Quadro 4.3. No Quadro 4.3 apresentam-se, também, os principais objectivos ou
finalidades desses componentes no sistema.

Os ramais de ligação têm como objectivo assegurar o transporte das águas residuais
prediais, desde as câmaras de ramal de ligação até à rede de colectores. A inserção dos
ramais de ligação na rede pode fazer-se nas câmaras de visita ou, directa ou
indirectamente, nos colectores. A inserção directa dos ramais de ligação nos colectores é
admissível para diâmetros de colectores superiores a 500 mm e deve fazer-se a um nível

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superior a dois terços da altura daquele. A inserção dos ramais nos colectores pode
fazer-se por meio de forquilha simples, com um ângulo de incidência adequado, ou por
meio de “fé”, desde que a superfície livre do escoamento no colector se situe a cota
inferior à cota da superfície de escoamento no ramal.

Quadro 4.3 – Principais componentes de sistemas de águas residuais e respectiva finalidade.


COMPONENTE TIPO FINALIDADE
Transporte de águas pluviais e de águas de lavagem ou de
Redes interiores dos Comum
“excreta” para o exterior da edificação.
edifícios
Ramais de ligação Comum Promover a ligação ou descarga de águas residuais
(domésticas, comerciais, industriais e pluviais) para a rede
de drenagem.
Rede de drenagem Comum Destina-se à recolha das águas residuais do aglomerado ou
conjunto de aglomerados – apresenta serviço de percurso.
Emissários e Comum Destina-se ao transporte das águas residuais recolhidas
interceptores pelas redes de drenagem, que têm serviço de percurso, para
o local de tratamento ou de destino final. No caso de
descarga no oceano, designam-se por emissários
submarinos.
Sistemas elevatórios Complementar Destina-se ao transporte das águas residuais em situação
em que a drenagem gravítica não é considerada
tecnicamente e economicamente a solução adequada.
Descarregadores Complementar Órgãos dos sistemas, em regra ligados a colectores de
recurso e que entram em operação, por exemplo para fazer
face à ocorrência de avarias ou necessidade de colocar fora
de serviço componentes que se dispõem a jusante, ou para
fazer face à afluência excessiva de águas residuais.
Sifões invertidos Complementar Órgãos que incluem um ou mais trechos com escoamento
sob pressão gravítica, a que se recorre quando o
escoamento com superfície livre não é tecnicamente e
economicamente exequível.
Bacias de retenção Complementar Órgãos por vezes usados em sistemas pluviais, e mais
raramente em sistemas unitários, e que se destinam
principalmente, e em regra, a reduzir os caudais de ponta
de cheia à custa de efeitos de retenção e amortecimento.
Túneis Complementar Por vezes, quando as condições topográficas e geológicas o
e excepcional justifiquem economicamente, pode recorrer-se a construção
de colectores em túnel (sem recurso à abertura de valas a
céu aberto).
As redes de drenagem dispõem, em regra de colectores assentes com escavação em
vala, e diversos elementos acessórios, como câmaras de visita, câmaras de corrente de
varrer, sarjetas e sumidouros. A rede de drenagem é constituída por um conjunto de
trechos rectos de colectores separados por câmaras de visita, em regra com serviço de
percurso. Os emissários recolhem o afluente das redes a local de tratamento ou destino
final. Por vezes, os sistemas regionais de saneamento incluem interceptores que
recolhem as águas residuais dos emissários, conforme se apresenta esquematicamente
na Figura 4.1. Na Figura 4.1 apresenta-se, a título exemplificativo, o sistema de águas
residuais da Costa do Estoril, incluindo diversos emissários, um interceptor geral e
diversas instalações elevatórias.

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Figura 4.1 – Representação esquemática do sistema de saneamento da Costa do Estoril.

4.4. Colectores, câmaras de visita e ramais de ligação


4.4.1. Considerações introdutórias

Os colectores constituem os órgãos mais comuns de sistemas de drenagem de águas


residuais.

Os materiais considerados em regra preferencialmente elegíveis para a drenagem de


águas residuais são o PVC, o PEAD e o ferro fundido dúctil. A escolha destes materiais
decorre de vários factores técnicos e económicos, numa conjuntura de mercado que é
muito dinâmica, pelo que, para cada situação de projecto e mesmo na fase de
adjudicação da obra, deve ser efectuada uma avaliação das características e
comportamentos expectáveis, em função do meio em que vão ser instalados e condições
de operação a que vão ser submetidos, tendo como factores de ponderação, entre outros,
os seguintes:

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• custo;
• propriedades mecânicas, designadamente a resistência à pressão interior, a rigidez
diametral e a resistência à flexão;
• propriedades hidráulicas (rugosidade interior e número de juntas), propriedades
físicas (massa volúmica, condutibilidade eléctrica) e propriedades químicas
(resistência à corrosão);
• disponibilidade do mercado e de pessoal especializado na montagem;
• experiência e uniformização de materiais utilizados em cada sistema (facilitando a
exploração, manutenção e gestão de “stocks” de cada entidade).
4.4.1.2. Materiais disponíveis. Vantagens e inconvenientes

Verifica-se a existência de uma vasta gama de oferta de materiais, fabricados em


território nacional, ou importados, que cobrem um leque alargado de possibilidades de
escolha. É possível recorrer não só aos materiais tradicionais como a alguns novos
materiais que surgiram recentemente no mercado, bem como à tecnologia mais actual
relativamente a juntas de tubagens, como são os sistemas de encaixe por pressão,
mecânicos e de soldadura por electrofusão.

Tendo por base as disponibilidades do mercado actual em Portugal, a listagem dos


materiais considerados como potencialmente utilizáveis em redes de colectores, é a
seguinte:

TUBAGENS OU ACESSÓRIOS DE MATERIAIS CIMENTÍCIOS:


• fibrocimento;
• betão (simples, armado, armado com alma de aço, pré-esforçado com alma de
aço ou pré-esforçado sem alma de aço).
TUBAGENS OU ACESSÓRIOS DE MATERIAIS CERÂMICOS:
• grés vitrificado.

TUBAGENS OU ACESSÓRIOS DE MATERIAIS PLÁSTICOS:


• polietileno de média, PEMD, ou alta densidade, PEAD (maciço, alveolado ou
corrugado);
• policloreto de vinilo, PVC (maciço ou corrugado);
• poliéster reforçado com fibra de vidro, PRV (parede estruturada);
• polipropileno, PP (corrugado).
TUBAGENS OU ACESSÓRIOS DE MATERIAIS METÁLICOS:
• ferro fundido dúctil;
• aço não ligado.
Nas suas soluções correntes, as tubagens de fibrocimento ou de betão, não são
revestidas, nem interiormente nem exteriormente. As tubagens de materiais cimentícios
e as de ferro fundido dúctil revestidos a betão podem ser especificadas com resistência
química interna melhorada, por utilização adicional de materiais de melhores
características, que protegem, ou substituem, a camada de betão em contacto com a
massa líquida. Por encomenda, as tubagens de fibrocimento e betão podem ser

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fornecidas com os seguintes revestimentos interiores: revestimento epoxídico e
revestimento espesso de PVC (espessura superior a 2 mm).

Para a protecção exterior, as tubagens de fibrocimento e de betão podem ser fornecidos


com os seguintes revestimentos protectores: revestimento exterior de base betuminosa e
epoxídica; protecção exterior, aplicada em fábrica, com manga de polietileno e aumento
de espessura da camada de betão de revestimento exterior.

As tubagens de grés vitrificado, pelas suas qualidades de fabrico, não necessitam de


protecções adicionais. O problema, verificado no passado, de falta de qualidade deste
material no mercado nacional fez com que o seu emprego em obras de saneamento fosse
caindo em desuso. Em países como a Alemanha, por exemplo, o grés vitrificado é um
dos materiais por excelência mais utilizado nas redes de saneamento. É importante
referir que desde que o fabrico deste tipo de tubagem obedeça a um processo certificado
ou em reconhecimento de qualidade, o produto final consegue ser tanto ou mais
adequado, do ponto de vista técnico, que outros materiais para o transporte de águas
residuais. O sistema de junta, que era igualmente um ponto fraco, foi significativamente
melhorado com a adopção de materiais elastoméricos capazes de garantir níveis de
estanquidade idênticos aos garantidos com outros tipos de tubagens. No passado, era
usualmente utilizada argamassa de cimento que, atacada pela corrosão e associado ao
grande número de juntas, dava origem a elevados caudais de infiltração. Como
curiosidade, acrescenta-se que a primeira norma EN que uniformizou os critérios de
qualidade mínimos para tubagens com a égide da CEN (Comissão Europeia de
Normalização) foi a EN 295 de 1991, intitulada “Tubagens e elementos complementares
em grés e respectivo sistema de junta, destinados à realização de redes de saneamento”.

As tubagens e acessórios de ferro fundido dúctil para saneamento podem ser fornecidas
com os seguintes revestimentos interiores: cimento aluminoso centrifugado para
efluentes com pH de 4 a 12 (revestimento corrente) e poliuretano para efluentes
agressivos com pH de 1 a 13. Estas tubagens e acessórios apresentam diferentes
soluções para protecção exterior da corrosão, nomeadamente as seguintes:

• zinco com camada de acabamento de tinta epóxi normalmente vermelha


(protecção corrente);
• pintura de epóxi-zinco e pintura betuminosa normalmente cor vermelho
acastanhado;
• poliuretano, PUX, ou polietileno, PE (em casos de solos agressivos);
• espuma de poliuretano coberta de tela de PEAD (em caso de protecção contra
gelo e atravessamentos aéreos).
As tubagens de materiais plásticos não são, em regra, revestidas.

No que se refere às tubagens de aço não ligado, podem apresentar diferentes soluções
para a protecção da corrosão, apenas por separação dos métodos de fabrico da tubagem.
Assim, o revestimento interno é normalmente constituído por argamassa de cimento
aluminoso centrifugado para diâmetros até 700 mm, sendo para diâmetros superiores
constituído por um barramento de resina epoxídica. O revestimento exterior é
normalmente de polipropileno ou polietileno em camada tripla.

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Quadro 4.4 - Principais vantagens e inconvenientes de diversos tipos de tubagens para águas
residuais (adaptado de Gonçalves e Monteiro, 2002).
Tipo de tubagem Principais vantagens Principais inconvenientes
Fibrocimento - baixo coeficiente de rugosidade - fragilidade ao choque e esforços de flexão
(boas características hidráulicas) - sensibilidade a águas e terrenos agressivos
- peso reduzido - não existem acessórios de fibrocimento
- baixa condutividade térmica - necessidade de revestimento interior e exterior
- resistência à corrosão electroquímica - condicionalismos de instalação decorrentes da
- flexibilidade das juntas presença de amianto no material de composição
- preços competitivos - ataque pelo ácido sulfídrico
Betão simples - experiência de utilização - fragilidade ao choque
ou armado - vasta gama de resistências mecânicas - sensibilidade a águas e terrenos agressivos
- preços competitivos - reduzida flexibilidade das juntas e garantia
reduzida de estanquicidade hidráulica
- ataque pelo ácido sulfídrico
Betão armado - existência de acessórios - pouca flexibilidade das juntas
ou pré-esforçado - possibilidade de elevada resitência - elevado peso
- flexibilidade de adaptação aos traçados - vulnerabilidade ao ataque de gás sulfídrico e
- facilidade de ligação a tubagens de outros materiais outros ácidos
- procedimentos de reabilitação bem estabelecidos - dificuldade de garantia de estanquicidade
- competitividade económica para grandes diâmetros
Grés vitrificado - elevada resitência a ataques químicos e abrasão - elevado peso relativo
- boa resistência mecânica e flexibilidade das juntas - fragilidade
- baixo coeficiente de rugosidade e longevidade - custo pouco competitivo
- acessórios disponíveis em grés - alguns fabricantes não apresentam produtos
de qualidade
Polietileno - leveza e resistência, em regra, a produtos químicos - ataque por detergentes, solventes e
- flexibilidade hidrocarbonetos
- boa resistência ao choque e a vibrações - degradação por radiação solar e calor
(tubos azuis)
- difícil detecção de fugas
PVC - leveza - sensibilidade ao choque e entalhes
- boa resistência, em regra, a produtos químicos - risco de ovalização
- completa gama de acessórios - sensibilidade à luz (UV) e ao calor
- preços competitivos
Poliester reforçado - boa resitência a corrosão química e electrolítica - vulnerabilidade a choques
com fibra de vidro - pezo reduzido - vulnerabilidade à corrosão sob tensão
(PRFV) - facilidade de fabrico - exigência de boa compactaçãp das
- uniões flexíveis terras envolventes
- baixo coeficiente de rugosidade
Ferro fundido dúctil - boa resistência mecânica - peso elevado
- resitência a elevadas pressões internas - corrosão por ácido sulfúrico (o que exige
- impermeável aos gases e óleos protecção) e outros ácidos
- possibilidade de utilização de juntas travadas - custo relativamente elevado
(evitando ancoragens)
- simplicidade do equipamento de instalação
- disponibilidade de acessórios
Aço não ligado - elevada resitência mecânica - exigência de protecção, interna e externa,
- impermeabilidade a gases e óleos para controlo da corrosão
- possibilidade de utilização de juntas flexíveis - exigência de pessoal qualificado
- possibilidade de utilização de juntas travadas - custo elevado
(evitando ancoragens)
- simplicidade do equipamento de instalação

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4.4.1.3. Condições de assentamento e valas tipo

Para a instalação de tubagens enterradas, sempre que a natureza do terreno e os meios


de escavação o permitam, as paredes da vala devem ser aproximadamente verticais, por
razões de economia, repartindo-se o peso das terras e das cargas móveis, conforme se
representa esquematicamente no pormenor 1 da Figura 4.2. Caso não haja possibilidade
de executar a vala com as paredes verticais, recomenda-se uma secção de acordo com o
pormenor 2 da Figura, tendo em conta que a geratriz superior do tubo deverá ainda estar
contida no interior da secção rectangular com paredes verticais.

Figura.4.2 – Representação esquemática de execução de valas-tipo.

A largura da vala, B, depende dos meios mecânicos utilizados, da profundidade da


mesma e do diâmetro da tubagem. A largura recomendada, é a constante na EN 1610.

Na Figura 4.3 apresenta-se uma vala tipo com o vocabulário de simbologia


uniformizado.

1. superfície;
2. fundo da caixa do arruamento, se
houver;
3. parede da vala;
4. camada de recobrimento;
5. camada de protecção superior;
6. camada de protecção lateral;
7. camada de assentamento superior
(suporte);
8. camada de assentamento inferior;
9. fundo de escavação;
10. recobrimento;
11. leito de assentamento;
12. camada de assentamento total;
13. profundidade da vala.

Figura 4.3- Representação esquemática de vala tipo (adaptado da EN 1610).

Poderá ser especificada a altura b, definida por b = k.DE, em que k é um factor que
representa a relação entre DE, o diâmetro exterior e o ângulo de assentamento. Nos
desenhos das valas tipo, k.DE deverá mesmo substituir o ângulo de assentamento, uma
vez que, em obra, se simplifica o processo de construção e inspecção se em vez de um
ângulo se medir uma altura. O ângulo de assentamento não é o ângulo de reacção de

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apoio utilizado no cálculo estrutural. Os valores que assumem os parâmetros a, b e c são
referidos ainda neste sub-capítulo.

Requisitos de instalação de tubagem em vala

Para execução da vala, deverá escavar-se até à linha da soleira acrescentada da camada
de assentamento inferior, a, que deverá ter uma espessura mínima de 100 mm, sempre
que o terreno seja uniforme e facilmente escavável, ou de 150 mm, em terrenos
rochosos ou muito duros.

Deve limpar-se o fundo da vala de pedras e objectos com arestas antes de se executar o
leito de assentamento, que deverá ser em terra seleccionada ou areia com uma
compactação não inferior a 95 % do Proctor Normal. O valor de b será o especificado
no projecto, relacionando-se com o ângulo de assentamento. Por exemplo, para b atingir
a altura definida para um ângulo de assentamento de 120º, deverá especificar-se k = ¼.

A dimensão máxima recomendada das partículas em solos para aplicação na camada de


assentamento é d ≤ 2 mm.

Em casos excepcionais de qualidade do terreno existente próxima do solo do leito de


assentamento, o tubo pode ser instalado directamente sem camada de assentamento
inferior, desde que o terreno original garanta um total suporte da tubagem ao longo do
seu desenvolvimento. Contudo, estas condições só serão possíveis de verificar em obra,
não devendo o projecto contemplar estes casos, a menos que hajam sondagens e/ou
conhecimento do local que permitam efectuar tais considerações.

No caso de tubagens flexíveis, o leito de assentamento não deverá ser rígido. O leito de
assentamento em coxim que é comum nas tubagens rígidas, no caso de tubagens
plásticas dá origem a tensões elevadas nas paredes das tubagens, pela diferença de
rigidez dos materiais que confinam o tubo. Nos materiais plásticos, o tipo de material
que envolve o tubo deve ser tão homogéneo quanto possível. Neste âmbito, a utilização
do betão no leito de assentamento é possível, desde que a camada de assentamento seja
integralmente em betão.

Depois da tubagem montada e ensaiada, colocam-se camadas de aterro em areia, outro


material granular fino ou solos escolhidos entre os produtos de escavação e isentos de
torrões, pedras, paus, tábuas, raízes e de outros corpos duros, realizando assim a camada
de protecção da tubagem até à cota tal que o valor c atinja 30 centímetros acima do
extradorso da tubagem. O aterro deve ser executado por camadas horizontais com 20 a
30 centímetros de espessura, que devem ser sucessivamente regadas e batidas até se
atingir 95 % do ensaio Proctor Normal. É imprescindível que este valor seja atingido
para o caso de tubagens plásticas. No caso de tubagens rígidas, esta compactação poderá
ficar pelos 90 % do ensaio Proctor Normal.

A dimensão máxima recomendada das partículas em solos para aplicação na camada de


protecção é de 20 mm. A consolidação das diversas camadas de aterro para a protecção
(até 30 cm acima da geratriz), deve fazer-se por meio de maços manuais, convindo que
sejam em forma de cunha, quando destinados ao aperto lateral de terras nas
proximidades da conduta, e em especial na sua semi-secção inferior. Nesta camada de
protecção, não se deverá utilizar equipamento mecânico na compactação. Quando não
for suficiente a humidade própria do terreno, nem a água existente no subsolo, regar-se-

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á cada uma das camadas de aterro na medida que, pela prática, se reconheça ser a mais
conveniente para obter a melhor compactação. Esta prática só é permissível em solos
não coesivos. O número de pancadas dos maços será, em cada caso, o recomendado
pela experiência como necessário para obtenção de uma densidade relativa nunca
inferior aos 95 % do ensaio Proctor Normal, em caso de dúvida por parte do
Empreiteiro, a Fiscalização poderá fixar e alterar, para cada zona de aterro, em função
da natureza dos solos e do grau de consolidação a atingir, o peso do aparelho de
compressão e o número, a ordem e o sentido das passagens necessárias.

Acima da protecção, a camada de recobrimento deverá fazer-se com produtos da


escavação da própria vala, desde que sejam isentos dos detritos orgânicos e corpos de
maiores dimensões, que sejam prejudiciais à sua estabilidade e boa consolidação,
especialmente se tal aterro vier a constituir base de pavimento rodoviário ou mesmo de
bermas e passeios. A dimensão máxima recomendada das partículas em solos para
aplicação na camada de recobrimento é de 200 mm.

Nas camadas superiores, onde a compactação puder fazer-se por meios mecânicos, com
pratos ou cilindros vibradores de dimensões apropriadas, serão permitidas espessuras
até 40 ou 50 centímetros, antes de batidas.

Os aterros de valas que venham a ficar sujeitos à passagem de tráfego rodoviário


deverão receber uma camada de desgaste provisório, com 10 a 15 centímetros de
espessura, em saibro ou em solos estabilizados mecanicamente, e ser submetidos ao
trânsito antes de pavimentados definitivamente, a fim de reduzir ao mínimo a
eventualidade de futuras cedências, ressaltos ou ondulações, nos revestimentos
definitivos das faixas de rodagem. Deve evitar-se o enchimento de valas com materiais
gelados.

Em caso de risco de inundação da vala deve proceder-se, durante o processo de


montagem, à fixação da tubagem ao leito da mesma mediante pontos de aterro
distribuídos, para evitar a flutuação das tubagens e manter o seu traçado. Nestas
situações, o uso de geotêxteis pode ser aconselhado.

A profundidade mínima da vala é função do diâmetro e das condições particulares da


obra. Em princípio, o recobrimento mínimo deve ser de 1 metro. Contudo, deverá ser
verificado se para as condições de instalação previstas, existe necessidade de protecções
adicionais, especialmente no caso de existirem cargas rolantes, e sempre que não se
incluam precauções no projecto (designadamente protecção em betão e lajetas), devem-
se ter em conta as especificações constantes na norma EN 1295. O estudo das
protecções à tubagem será efectuado em projecto, consoante o material preconizado.
Em casos excepcionais, como por exemplo no caso de atravessamentos de linhas de
água, a profundidade poderá ser inferior a 1 metro.

Para o cálculo da resistência dos colectores, os coeficientes e factores de segurança


deverão ser devidamente ponderados, tendo em conta os casos mencionados e os
métodos apresentados, ou outros referidos nas normas.

Quando esteja prevista, na mesma via, a existência de diversos tipos de tubagens,


considera-se boa regra admitir que o extradorso da tubagem de águas residuais
domésticas seja implantado abaixo da soleira da tubagem de águas pluviais, para
garantia de ligação dos ramais domiciliários.

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A largura das valas para assentamento das tubagens deverá apresentar, no mínimo,
Dext + 0,5 m, para colectores com Dext < 500 mm, e de Dext + 0,7 m, para colectores
de diâmetro superior. A esta largura deve adicionar-se 0,20 m (para valas entre 3,0 e 4,0
m) e 0,30 m (para valas entre 4,0 e 5,0 m). Atendendo a que a um acréscimo da largura
da vala, na zona de instalação do colector corresponde uma redução da capacidade
resistente, torna-se importante que as sobrelarguras só tenham lugar acima da camada
de protecção da tubagem.

No caso de elevados níveis freáticos e solos coesivos, tipo argilas e siltes, pode ser
equacionada a aplicação de geotêxteis.

No caso de ligação de tubagens a câmaras de visita deverá garantir-se perfeita


estanquidade, nomeadamente quando se prevejam elevados níveis freáticos. Nessas
situações, devem ser especificados dispositivos especiais, tipo passa-muros.

Tratando-se de colectores com escoamento em superfície livre, as forças dinâmicas e


estáticas do escoamento são reduzidas, não se tornando necessário, em regra, a
construção de maciços de amarração, o que não acontece no caso de condutas sob
pressão, em particular condutas elevatórias.

Em Portugal, e na actual condição do mercado, é corrente, para as condições usuais de


instalação em vala (redes ou emissários), a adopção de tubagens de PVC corrugado para
escoamento com superfície livre, pelo menos para diâmetros até 500 mm e no caso de
níveis freáticos não elevados. No caso de condutas sob pressão pode ser utilizado, em
regra, o PVC maciço para pequenos diâmetros, com resistência adequada às várias
pressões previstas.

As razões principais destas escolhas decorrem dos baixos custos deste tipo de tubagens,
resistência mecânica razoável, resistência à corrosão por ácido sulfídrico/sulfúrico e
facilidade de instalação. Em casos especiais, designadamente elevados níveis freáticos
ou no caso de instalações no interior de edifícios (fora de vala), travessias e outras obras
particulares, frequentemente considerada a utilização de ferro fundido, eventualmente
revestido interior e exteriormente. Em emissários principais e de diâmetros elevados
(D ≥ 500 mm) é frequentemente equacionada a instalação de tubagens de PEAD e betão
armado ou pré-esforçado (estes últimos casos, para a situação invulgar de grandes
diâmetros dos colectores).

4.4.2. Câmaras de visita


4.4.2.1. Considerações introdutórias

As câmaras de visita são dispositivos acessórios das redes de drenagem de águas


residuais e tem como finalidade facilitar o acesso aos colectores para efeitos de
manutenção, de inspecção e de eventual reabilitação, em condições de segurança e de
eficiência. As câmaras de visita são, na situação mais frequente de colectores de redes
de drenagem de diâmetro até 600 mm, constituídas por elementos de betão pré-
fabricado. Embora de utilização menos vulgar existem também câmaras de visita de
betão armado executadas “in situ”, de fibrocimento, de grés vidrado e de material
plástico (PVC, PEAD e PRV). As câmaras de visita de betão, de fibrocimento e de grés
vidrado estão cobertas por normas ou projectos de normas europeias.

42
As câmaras de visita circulares são compostas por anéis e cone excêntrico pré-
fabricados obedecendo, respectivamente, às normas NP 881 e NP 882. Estas câmaras de
visita apresentam, em regra, corpo em anéis de betão pré-fabricados de diâmetro 1,00 m
para alturas até 2,50 m e de 1,25 m de diâmetro para alturas superiores.

Deve considerar-se a execução de câmaras em betão armado, para diâmetros superiores


ou iguais a DN 700, devendo apresentar-se no projecto cálculo justificativo e
pormenores de betão armado, devendo-se prever reforços estruturais junto das aberturas
nas paredes para a entrada de tubagens e na laje para inserção da tampa de acesso. As
dimensões para câmaras rectangulares deverão ser de acordo com a NP EN 476, no
mínimo com 750 x 1200 mm. Devem também prever-se câmaras de betão armado no
caso de colectores domésticos implantados em leitos de ribeira ou linhas de água. O
sub-capítulo 4.4.2.4 reporta-se a câmaras de visita de dimensão excepcional.

Em alternativa à construção de câmaras in situ, poder-se-á equacionar a execução de


câmaras no mesmo material das tubagens, como sejam as câmaras em PEAD e PRV.

As câmaras de visita podem ser de planta rectangular com cobertura plana ou de planta
circular com cobertura plana ou tronco-cónica assimétrica. A adopção de outras formas
geométricas poderá aceitar-se em casos excepcionais devidamente justificados.

As câmaras de visita podem ainda ser centradas ou descentradas relativamente ao


alinhamento do colector. Este último tipo deverá ser especialmente utilizado em
situações de maior risco potencial, para o pessoal de manutenção e inspecção.

4.4.2.2. Dimensões mínimas, constituição e materiais utilizados

Dimensões mínimas

As dimensões mínimas das câmaras de visita e de inspecção estão definidas na NP EN


476, consoante sejam para acesso de pessoas ou não. Deste modo, as câmaras de visita
devem ter as seguintes dimensões mínimas (NP EN 476:2000):

• no caso de planta circular, o diâmetro nominal interno (DN/DI) deve ser igual ou
superior a 1000 mm;
• no caso de planta rectangular, as dimensões nominais internas devem ser de 750 ×
1200 mm ou superior;
• no caso de planta elíptica, as dimensões nominais internas devem ser de 900 ×
1100 mm ou superior.
A relação entre a largura e a profundidade das câmaras de visita deve ter sempre em
consideração a operacionalidade e a segurança do pessoal da exploração.

A Figura 4.4 reporta-se à apresentação de coberturas de câmaras de visita. Na Figura 4.5


apresentam-se, esquematicamente, as características de dimensão das câmaras de visita
correntes.

Constituição e materiais utilizados

As câmaras de visita são constituídas por soleira, corpo, cobertura, dispositivo de fecho
e dispositivos de acesso.

43
Soleira

A soleira de uma câmara de visita é, em geral, constituída por uma laje de betão,
simples ou armado, conforme as condições locais o aconselhem, funcionando como
fundação do corpo. A sua espessura deve ser, na zona mais profunda das caleiras, não
inferior a 100 mm.

Tendo em vista minimizar a retenção de sólidos as superfícies da soleira devem ter uma
inclinação mínima de 10 % (preferencialmente da ordem dos 20 %) no sentido das
caleiras, devendo ser as linhas de crista ligeiramente boleadas.

As mudanças de direcção, diâmetro e inclinação de colectores devem fazer-se por meio


de caleiras semicirculares construídas na soleira das câmaras de visita, com altura igual
a dois terços do maior diâmetro, por forma a garantir a continuidade do escoamento em
condições adequadas.

No caso de colectores separativos pluviais ou colectores unitários, de diâmetros


superiores a 200 mm e queda superior a 1 m na câmara de visita, a soleira deve ser
localmente protegida, por exemplo, com cantaria. Quando na câmara de visita existir
um desnível ou queda entre o colector de montante e o de jusante, e caso este desnível
seja superior a 0,50 m, deve utilizar-se um troço de queda guiada, construído
exteriormente à câmara de visita propriamente dita.

Para quedas inferiores a 0,50 m, o desnível deve ser vencido recorrendo a queda suave
em betão. Na Figura 4.6, em Anexo, representa-se esquematicamente uma câmara de
visita tipo com queda suave. Na Figura 4.7, representa-se esquematicamente uma
câmara de visita tipo com queda guiada.

Corpo

O corpo das câmaras de visita é, nas situações mais correntes, construído com anéis pré-
fabricados de betão. O corpo pode também ser feito de betão simples ou armado,
moldado no local, de alvenaria hidráulica de pedra, de tijolo ou de blocos maciços de
cimento. Neste caso, a parte compreendida entre a soleira e a geratriz superior do
colector, situada a cota mais elevada, deve ser de betão moldado no local ou de
alvenaria hidráulica, com eventual intercalação de anéis pré-fabricados.

No que respeita a espessura das paredes do corpo os valores mínimos a adoptar devem
ser os seguintes: alvenaria de pedra: 200 mm; betão moldado no local: 120 mm;
alvenaria de tijolo: ½ vez; elementos de betão pré-fabricado: 100 mm.

No caso da profundidade das câmaras de visita exceder 5 m, devem ser construídos, por
razões de segurança, patamares em gradil espaçados no máximo de 5 m, com aberturas
de passagem desencontradas.

44
Figura 4 4 – Representação de coberturas das câmaras de visita.

45
Figura 4 5 – Características dimensionais das câmaras de visita (adaptado de NP EN 476:2000).

Figura 4 6 – Representação de câmaras de visita com queda suave (H-H1≤ 0,50m).

46
Figura 4 7 – Representação de câmaras de visita com queda guiada.

Cobertura

As coberturas das câmaras de visita são planas ou tronco-cónicas assimétricas. Têm o


diâmetro interior da base igual ao do corpo da câmara e, na parte superior, uma gola
cilíndrica, para assentamento do aro do dispositivo de fecho.

47
Dispositivos de fecho

O dispositivo de fecho é a parte superior da cobertura da câmara de visita sendo


constituído por aro e tampa. Os dispositivos de fecho dividem-se, de acordo com a NP
EN 124:1995, nas seguintes classes: A15, B125, C250, D400, E600 e F900. A selecção
da classe de dispositivo de fecho a adoptar, da responsabilidade do projectista, depende
do local de instalação. Podem sistematizar-se os seguintes seis grupos (cinco aplicáveis
directamente a dispositivos de fecho) de locais de instalação:

• Grupo 1 (classe mínima A 15) – zonas utilizadas exclusivamente por peões e


ciclistas;
• Grupo 2 (classe mínima B 125) – passeios, zonas para peões e zonas comparáveis,
parques de estacionamento e silos de estacionamento para viaturas ligeiras;
• Grupo 3 (classe mínima C 250) – aplicável apenas a dispositivos de entrada
(sarjetas e sumidouros);
• Grupo 4 (classe mínima D 400) – vias de circulação (incluindo ruas para peões),
bermas estabilizadas e parques de estacionamento para todo o tipo de veículos;
• Grupo 5 (classe mínima E 600) – zonas sujeitas a cargas elevadas, por exemplo
docas e pistas de aviação;
• Grupo 6 (classe mínima F 900) – zonas sujeitas a cargas particularmente elevadas,
por exemplo pistas de aviação.
Os dispositivos de fecho são fabricados com um dos seguintes materiais: ferro fundido
de grafite lamelar; ferro fundido de grafite esferoidal; aço vazado; aço laminado;
combinação de um dos três primeiros materiais referidos com betão; ou, ainda, betão
armado. O mais material correntemente utilizado é o ferro fundido.

O diâmetro de passagem dos dispositivos de fecho circulares deve ser de 600 mm,
podendo ser superior quando assim for conveniente. Apenas em situação de dispositivos
de fecho de substituição se admitem diâmetros inferiores (550 mm). No caso de
dispositivos de fecho de forma quadrada ou rectangular, a dimensão mínima deve ser
igualmente de 600 mm.

A superfície exterior da tampa de ferro fundido deve apresentar uma configuração


estriada, que garanta condições de aderência dos rodados dos veículos. Deve ser
assegurada uma boa drenagem afim de evitar a acumulação de água.

A profundidade de encaixe mínima, a folga, o apoio, o levantamento e assentamento das


tampas e outras características dos dispositivos de fecho devem obedecer ao
estabelecido na norma portuguesa NP EN 124:1995.

Por fim, refere-se que as tampas das câmaras de visita de colectores domésticos
implantados em leitos de ribeira ou linhas de água deverão ser estanques, anti-refluxo
até 1 bar, solidarizadas e seladas ao betão armado através de parafusos ou
chumbadouros.

Dispositivos de acesso

O uso de degraus metálicos cravados nas paredes das câmaras de visita, para acesso ao
seu interior, é prática tradicional. Estes devem ser constituídos por varão de aço macio

48
ou de ferro fundido (lamelar ou esferoidal), devendo assegurar-se a protecção contra a
corrosão, ao longo da vida útil da obra.

A disposição e formato dos degraus pode permitir que estes sirvam para os dois pés ou
para apenas um pé só de cada vez. Em qualquer dos casos, a inserção dos degraus deve
ser tal que assegure uma distância mínima à parede, em projecção vertical, de 120 mm.
O espaçamento vertical entre degraus deve situar-se entre 250 mm e 350 mm.

Na situação de degraus para os dois pés estes devem estar alinhados segundo um eixo
vertical. Na situação de degraus para um pé os eixos verticais das duas fiadas de degraus
devem estar afastados de 300 mm (± 10 mm).

A NP 883 estabelece regras relativas aos degraus de acesso. Contudo, recomenda-se que
o acesso, principalmente em redes de águas residuais domésticas, seja efectuado através
de escadas em material plástico e não através de degraus metálicos, que com o tempo se
deterioram, podendo não oferecer garantias de segurança a médio prazo.

4.4.2.3. Acabamentos

O interior das câmaras de visita deve ser por princípio rebocado, numa espessura não
inferior a 20 mm, com argamassa de cimento e areia ao traço 1:3. No caso de o corpo
ser constituído por anéis pré-fabricados pode dispensar-se o seu reboco, se a superfície
se apresentar perfeitamente lisa e sem defeitos. É indispensável garantir o perfeito
fechamento das juntas com a aplicação de cordel de mastique entre anéis do corpo, e
entre o anel superior deste e o cone da cobertura. Os cantos e arestas interiores devem
apresentar-se arredondados.

Em situações em que os níveis freáticos na zona de implantação se situam, permanente


ou temporariamente, acima da cota de soleira, deverão ser tomadas precauções especiais
para a garantia da estanquidade.

Ainda em situações de potencial vulnerabilidade à formação de sulfídrico o acabamento


deverá incluir a protecção interior da câmara de visita.

Um aspecto relevante, do ponto de desempenho hidráulico, é a estanquidade do sistema,


incluindo os colectores e as câmaras de visita. Do ponto de vista das câmaras de visita
este aspecto é tanto mais relevante quanto os níveis freáticos se encontram, de forma
contínua ou sazonal, acima da soleira.

É pois da maior importância garantir uma adequada construção/instalação destes


dispositivos, assegurando um perfeito fechamento das juntas, na própria câmara e nas
ligações entre câmara e colectores. Enunciam-se seguidamente procedimentos ou
medidas práticas, a adoptar individualmente ou em conjunto, em função da situação
concreta em análise:

• Execução da soleira e do corpo da câmara de visita, até cerca de 25 mm acima da


coroa superior do colector afluente mais alto, em betão armado B25 BD2.1 com
“slamps” baixos caso se consiga com uma vibração elevada, ou com “slamps”
mais altos quando existe falta de capacidade de vibração elevada por parte do
construtor. A parte restante do corpo e cobertura poderá ser executada
respectivamente com anéis e cones pré-fabricados, devendo a sua implantação ser

49
feita com argamassas ricas em cimento e com cordão mastique incorporado
(Videira e Guedes, 1998).

• Utilização de ligadores na junção tubagem/betão da câmara de visita, inseridos na


cofragem antes da betonagem. Estes ligadores têm a capacidade de
impermeabilizar a junta tubagem / câmara de visita e permitir ainda possíveis
assentamentos diferenciais, sem aparecimento de fendilhação, estando disponíveis
no mercado vários tipos função do tipo de tubagem de ligação à câmara de visita
(Videira e Guedes, 1998).

• Opção por câmaras de visita em materiais que permitem comprovadamente


assegurar melhores condições de estanquidade do que o betão ao longo da vida
útil da câmara de visita (caso das câmaras de polietileno de alta densidade e
plástico reforçado com fibra de vidro).

Em casos em que se prevejam condições favoráveis à formação de gás sulfídrico (ou


ácido sulfúrico diluído, correspondendo à oxidação anaeróbia do gás sulfídrico) torna-se
necessário proteger a superfície interior da câmara de visita com pintura adequada. Uma
protecção eficaz pode incluir os seguintes procedimentos para aplicação de resinas
epoxy (Videira e Guedes, 1998):

• preparação prévia das paredes interiores com limpeza por hidropressão (a 200 bar)
por forma ao estado final da superfície não incluir “leitadas”, vazios ou grãos de
baixa aderência;

• eliminação da humidade das paredes, de modo a que a humidade relativa ambiente


(H.R.) seja inferior a 80 %, devendo mesmo assim verificar-se que a humidade da
superfície é igual ou inferior a 5 %, valores estes a obter através de eventual
ventilação e extracção mecânica do ar;

• aplicação de uma primeira camada de resina epoxy (do tipo “toptar” da Bettor ou
equivalente), desde que a percentagem de sólidos em peso seja igual ou superior a
90 %, com diluição de 5 a 8 % em xileno/toleno e com espessura de 200 microns;

• aplicação de uma segunda camada pura do mesmo material, com espessura de 200
microns, a executar quando a primeira camada estiver já seca. A aplicação deverá
ser obrigatoriamente por pulverização (pistola airless) com retoques a pincel plano
ou rolo de pelo de algodão fino. As zonas de infiltração deverão ser tapadas com
“kanasec” da Bettor ou produto equivalente, compatível com o esquema das
pinturas.

4.4.2.4- Câmaras de visita de dimensão excepcional

Para colectores de dimensão superior a 600 a 800 mm utiliza-se, em geral, uma câmara
de visita de maiores dimensões, compatível com o diâmetro dos colectores
(DIRECÇÃO GERAL DOS RECURSOS NATURAIS, 1991).

Esta câmara deverá ser, em princípio, de planta circular ou rectangular, com uma
dimensão mínima igual ao diâmetro do colector acrescida de 250 mm para cada lado,
para as faces das paredes atravessadas pelos colectores. No caso de câmaras de visita
onde se dá a convergência ou a saída de vários colectores, os valores definidos devem
ser ajustados para que as inserções se façam em boas condições. Preferencialmente, a

50
câmara de visita rectangular deve ter uma altura que permita a um homem proceder às
operações de limpeza com os pés assentes numa plataforma, a qual é em geral
construída no topo do colector de jusante. O acesso a esta câmara pode ser feito através
de uma “chaminé” constituída por anéis circulares pré-fabricados.

Se os colectores apresentam um diâmetro superior a 1500 mm, a câmara de visita pode


ser apenas uma câmara de acesso ao colector, já que este é, na prática, visitável,
executada com anéis pré-fabricados, apoiada nele próprio. Neste caso, é indispensável
que o colector seja reforçado na zona de inserção, por forma a constituir uma adequada
fundação para suportar as cargas transmitidas pela veículos.

Na Figura 4.7, representa-se esquematicamente uma câmara de visita de dimensão


excepcional.

4.4.2.5- Câmaras de visita pré-fabricadas em material plástico

PEAD

Existem soluções interessantes para câmaras de visita em PEAD de parede aligeirada,


efectuadas por encomenda. Em zonas ambientalmente sensíveis, podem ser de
considerar soluções integradas em que a rede de saneamento é composta por apenas um
tipo de material. São conhecidos os problemas de entrada de água nos emissários
instalados no leito menor de linhas de água ou de fugas de água residual para linhas de
água, devido à falta de estanquidade na interface tubagem-câmara, ou nas juntas dos
anéis das câmaras. As câmaras de visita soldadas ao próprio tubo tornam todo o sistema
estanque, devendo equacionar-se esta solução em obras de grande dimensão e em casos
especiais, como de grande sensibilidade ambiental, ou de drenagem de águas residuais
com características particularmente agressivas.

Normalmente, a solução construtiva das câmaras de visita em PEAD de parede


aligeirada é possível para diâmetros nominais desde 800 a 2000 mm. A base da câmara
é constituída por uma soleira tipo meia cana em tubagem de diâmetro igual ao da maior
ligação, sendo possível efectuar todos os desvios angulares nesta soleira para se
efectuarem as mudanças de direcção. O acabamento é em placa de PEAD, ligando a
meia cana à parede da câmara. O fundo é também em placa de PEAD, assentando
directamente em terreno regularizado e bem compactado. O fundo pode ainda levar um
compartimento adicional para ser cheio a betão, podendo-se em alternativa proceder a
ancoragens, eliminando o risco de flutuação em zonas de nível freático elevado. É
recomendável que as câmaras sejam especificadas com troços de tubo de 0,5 m já
soldadas, facilitando as ligações, quer a tubagem seja em PEAD ou não, sendo possível
adaptar qualquer tipo de tubo flexível ou rígido, e de junta. A câmara pode ser provida
de degraus em aço revestido a polipropileno, com afastamento de 30 cm, alinhados ou
em posição alternada. Os topos podem ser fechados com cones em PEAD ou laje em
betão armado que transmita parte das cargas para o terreno.

Existem outras soluções pré-fabricadas de câmaras noutros tipos de PEAD, que não
sendo fabricadas segundo os requisitos e especificidades de cada obra, tornam-se pouco
flexíveis e geralmente mal adaptadas a projecto.

51
Figura 4 8 – Representação de câmaras de visita de dimensão excepcional.

52
PVC (policloreto de vinilo)

Disponibilizam-se também soluções técnicas com interesse para câmaras de visita pré-
fabricadas deste material, em que, à semelhança com o que acontece com o PEAD,
apenas é necessário definir o diâmetro interno e as profundidades de entrada e saídas
das tubagens. Garante-se, assim, uma instalação estanque e inteiramente compatível no
que respeita a ligações entre os diversos elementos da rede.

PRFV (poliéster reforçado com fibra de vidro)

Este material pode ser especificado nos casos em que se pretendam soluções
absolutamente estanques. A especificação deverá referir que a tubagem irá funcionar à
compressão axial, isto é, instalado na vertical, pelo que o processo de fabrico e a
disposição das fibras de vidro terão de ser diferentes das que caracterizam as tubagens
assente em vala. A especificação deste tipo de câmaras de visita constitui uma solução
relativamente onerosa, comparativamente com as tradicionais câmaras em anéis,
justificando-se apenas em aplicações especiais, tais como em obras de grande dimensão
de emissários no interior de ribeiras e com zonas de grande sensibilidade à
contaminação.

4.4.2.6- Câmaras de corrente de varrer

As câmaras de corrente de varrer são dispositivos cuja finalidade, como já referido, é


permitir a limpeza dos colectores, quando não é possível assegurar condições de auto-
limpeza. Esta ocorrência deverá estar confinada, tanto quanto possível, a alguns trechos
de cabeceira ou trechos de montante de redes unitárias ou de redes separativas
domésticas, onde as condições de auto-limpeza poderão ser, na prática, difíceis de
garantir.

Quanto ao funcionamento há essencialmente dois tipos de câmaras de corrente de


varrer: as manuais e as automáticas. As manuais correspondem a uma câmara de visita
normal, dotada de comporta ou comportas manobradas manualmente, o que permite
isolar a câmara de visita do colector a que ela está ligado e proceder ao enchimento
daquela. As automáticas distinguem-se das manuais por disporem de um sifão no fundo,
o que permite proceder à descarga automática da água acumulada na câmara com uma
determinada frequência, a partir de uma alimentação contínua e regulável de água.

Por razões sanitárias associadas essencialmente a problemas de saúde pública


resultantes de riscos de contaminação é recomendável, no caso da necessidade de
utilização de câmaras de corrente de varrer, que elas sejam manuais e não automáticas.

O recurso a câmaras de corrente de varrer deve estar confinado a situações pontuais, de


troços de cabeceira de colectores principais ou secundários onde por condicionalismos
diversos, topográficos, de diâmetro mínimo, de ocupação urbana dispersa, ou por razões
de economia da obra, não seja possível garantir, pelo menos uma vez por dia, condições
de auto-limpeza.

A tendência deverá ser claramente no sentido de eliminar estes dispositivos recorrendo,


em alternativa, à lavagem directa por agulheta com frequência adequada.

53
4.4.2.7- Critérios de implantação de câmaras de visita

No que se refere à localização das câmaras de visita, e de acordo com a legislação


nacional, é obrigatória a sua implantação nas seguintes situações:

• no início dos trechos de cabeceira;

• na confluência de colectores;

• nas secções de mudança de direcção, de alteração de inclinação e de alteração de


diâmetro dos colectores;

• nos alinhamentos rectos, com afastamento máximo de 60 m, caso o colector não


seja visitável (diâmetro até 1600 mm), ou com afastamento máximo de 100 m, no
caso de colectores visitáveis.

Os afastamentos máximos referidos anteriormente podem ser aumentados em função


dos meios de limpeza, no caso de colectores não visitáveis, e em situações excepcionais
devidamente justificadas, no segundo caso.

Para além dos critérios anteriormente referidos, salientam-se ainda os seguintes critérios
de posicionamento de câmaras de visita, em perfil longitudinal, destinados a assegurar a
continuidade do escoamento, sem regolfos para montante:

• a inserção de um ou mais colectores noutro deve ser feita no sentido do


escoamento, de forma a assegurar a tangência da veia líquida secundária à veia
líquida principal;

• no caso de alterações de diâmetro, deve ser garantida concordância da geratriz


superior interior dos colectores.

4.4.3. Ramais de Ligação

O objectivo dos ramais de ligação é a ligação das redes prediais às redes gerais de
drenagem

Os ramais de águas residuais apresentam, em geral, diâmetros compreendidos entre 100


e 150 mm, devendo ser implantados com inclinações da ordem dos 2%. Normalmente, o
mau funcionamento dos ramais domiciliários de ligação resulta da penetração de raízes
no seu interior ou do arrastamento de gorduras.

O material e o tipo de juntas a adoptar devem ser, sempre que possível, análogos aos do
colector da rede geral, procedendo-se de forma a minimizar a possibilidade da
penetração de raízes. No caso de colectores de sistemas de drenagem de água residual
comunitária, importa minimizar os caudais de infiltração de águas subterrâneas. De
facto, deve ser dada particular atenção à execução de ramais de ligação aos colectores
da rede geral, nomeadamente ao coxim do ramal, à compactação do material envolvente
e às técnicas de ligação, já que os ramais executados de forma deficiente são
responsáveis por uma parte significativa do caudal de infiltração. Na Figura 4.8
apresenta-se, esquematicamente, a ligação de um ramal a colector profundo. A Figura
4.9 diz respeito a ligação de ramal predial a colector de média e grande dimensão.

54
Figura 4 8 – Representação esquemática de ligação de ramais de ligação a colectores profundos.

Figura 4 9 – Representação esquemática de ligações a colectores de média e grande dimensão.

55
Constitui prática adequada na execução de redes de drenagem de água residual, a
colocação de tês e/ou forquilhas, não apenas para as ligações à rede no inicio de
exploração da obra, mas também nas secções onde se preveja a ligação de futuros
ramais domiciliários. No entanto, neste último, os tês e as forquilhas devem ser
convenientemente tamponados, até que entrem em serviço. A Figura 4.10 diz respeito a
ramais de ligação-tipo a colectores pouco enterrados.

Se as forquilhas e os tês não forem instalados durante a execução do colector geral da


rede de drenagem, então será necessário, "à posteriori", furar o colector e proceder à
inserção do ramal de ligação domiciliário. Este tipo de procedimento conduz, com
frequência, a soluções construtivas de menor qualidade, principalmente quando
resultam de técnicas que obrigam a partir o colector da rede geral; nestes casos, muito
dificilmente se evita que o ramal de ligação entre no colector, passando a constituir um
obstáculo e uma perda de carga adicional ao escoamento.

A melhor solução, nestes casos, se o colector for de pequeno diâmetro, é a substituição


do troço do colector da rede geral por um outro em que já esteja inserido um tê ou uma
forquilha. Se se tratar de um colector de diâmetro apreciável pode ser adoptada, por
exemplo, a solução indicada na Figura 4.10.

Figura 4 10 – Representação esquemática de ramais de ligação a colectores pouco enterrados.

56
4.5. Aspectos da concepção dos sistemas. Traçado em planta e perfil longitudinal
de colectores.

4.5.1. Aspectos gerais

De acordo com o Artigo 119º do Decreto-lei nº 53/95, na concepção de sistemas de


drenagem pública de águas residuais em novas áreas de urbanização deve, em princípio,
ser adoptado o sistema separativo. Em sistemas novos, é obrigatória a concepção
conjunta do sistema de drenagem de águas residuais domésticas e industriais e do
sistema de drenagem de águas pluviais, independentemente de eventuais faseamentos
diferidos de execução das obras.

No caso de aglomerado urbanos que incluam colectores unitários antigos, a


remodelação para redes separativas pode ser técnica ou economicamente difícil ou
inviável. Nestes casos, a interligação das redes unitárias com redes ou emissários
“separativos”, a jusante, é efectuada através de descarregadores em regra dispondo de
tubos curtos de ligação ou válvulas de vortex, para controlo de caudal.

No caso do estabelecimento de redes de drenagem de aglomerados, as soluções de


traçado são em grande parte condicionadas pelas condições topográficas locais e pelas
necessidades de atendimento e garantia de serviço de percurso aos diversos locais. A
vantagem de se dispor de um destino final comum para os efluentes do aglomerado, e
de um único emissário final conduz, muitas vezes, a necessidade de se recorrer a
sistemas elevatórios.

No caso de sistemas regionais de saneamento que servem diversas povoações ou


aglomerados, as redes locais descarregam muitas vezes em emissários que por sua vez
lançam os efluentes em interceptores finais que transportam a massa líquida para o local
de tratamento. O traçado dos emissários e interceptores é condicionado pelo local
seleccionado para o destino final das águas residuais, tendo em conta princípios gerais
como garantia de distância aos núcleos urbanos, afastamento do local de rejeição de
zonas balneares e de utilização recreativa e escolha de meios receptores com condições
favoráveis de diluição e dispersão dos efluentes.

Enquanto as redes de colectores se desenvolvem, em regra, ao longo dos arruamentos


dos aglomerados, é comum os emissários gravíticos serem implantados ao longo de
linhas de vale, relativamente próximo de linhas de água.

De acordo com o ponto 2 do Artigo 114º do Decreto-Regulamentar nº 23/95, em


pequenos aglomerados populacionais, onde as soluções convencionais de engenharia se
tornem economicamente inviáveis, pode adoptar-se, em alternativa, sistemas
simplificados de drenagem pública, tais como fossas sépticas seguidas de sistemas de
infiltração ou redes de pequeno diâmetro com tanques interceptores de lamas. O sub-
-capítulo 4.7 deste livro reporta-se, designadamente, a diversos tipos de soluções de
drenagem não convencionais.

Por sua vez, as principais etapas ou fases que se colocam no desenvolvimento de um


projecto de uma rede de drenagem de águas residuais após a definição do traçado em
planta, são as seguintes:

57
1- determinação, os maior rigor possível, dos caudais de águas residuais nos diversos
trechos da rede;

2- dimensionamento hidráulico-sanitário dos colectores, em termos de diâmetro e


declive, e de todos os outros componentes do sistema, para que se escoem os
caudais de projecto, nas condições regulamentares;

3- apresentação de peças escritas e desenhadas que permitam a execução das obras e


que possibilitem a sua posterior exploração adequada.

No caso de se disporem de várias soluções alternativas, devem conduzir-se os estudos


por forma a possibilitar a respectiva comparação, em termos técnicos, económicos e
ambientais.

4.5.2. Traçado em planta

O traçado em planta de colectores em arruamentos urbanos deve fazer-se, em regra, no


eixo da via pública. Em vias de circulação largas e em novas urbanizações com
arruamentos de grande largura e amplos espaços livres e passeios, os colectores podem
ser implantados fora das faixas de rodagem mas respeitando a distância mínima de 1 m
em relação aos limites das propriedades. Sempre que se revele mais económico, pode
implantar-se um sistema duplo, com um colector de cada lado da via pública. Em casos
de impossibilidade de evitar a construção de edificações sobre colectores, a construção
deve ser executada por forma a garantir o bom funcionamento dos colectores e a torná-
los estanques e acessíveis em toda a extensão do atravessamento.

Para o desenvolvimento do projecto de uma rede de drenagem de águas residuais,


devem ter-se em atenção, em particular os seguintes aspectos principais:

1- dispor de cartografia adequada: levantamento topográfico pelo menos à escala


1/2000 da zona já urbanizada e de eventual zona de futura expansão, onde figure
toda a informação adequada (designadamente linhas de água e cadastro de infra-
estuturas);

2- o traçado dos colectores é feito em função da topografia da zona (o escoamento


deve ser gravítico), tendo em atenção a natureza do terreno e a interferência com
outros serviços existentes (nomeadamente de água, luz e telefones);

3- depois do primeiro traçado em gabinete, devem efectuar-se deslocações ao local,


para recolher informações mais detalhadas referentes à opção de traçado a tomar,
designadamente,

a) melhor localização dos ramais de ligação (em termos de fachada versus


rectaguarda);

b) natureza do terreno (por exemplo areia, terra ou rocha branda ou rocha dura);

c) tipo de acabamento dos pavimentos;

d) modo de atravessamento de linhas de água;

e) traçado do emissário ou emissários;

58
f) níveis freáticos (que podem originar problemas para a execução da obra e
condicionar o cálculo dos caudais de infiltração);

g) se estiverem previstos sistemas elevatórios, deve analisar-se se existe energia


eléctrica e estudar a localização do colector de recurso;

h) mesmo que o projecto não inclua o estudo da estação de tratamento, deve analisar-
se a sua possível localização.

4.5.3. Traçado em perfil longitudinal

A profundidade de assentamento dos colectores não deve ser inferior a 1 m, medida


entre o seu extradorso e o pavimento da via pública, podendo este valor ser aumentado
em função de exigências do trânsito, da inserção dos ramais de ligação ou da instalação
de outras infra-estruturas. Em condições excepcionais, pode aceitar-se uma
profundidade inferior à mínima desde que os colectores sejam convenientemente
protegidos para resistir a sobrecargas.

Do ponto de vista técnico-económico, assumem também relevo os seguintes aspectos a


observar no traçado em perfil longitudinal de colectores:

1- sempre que possível devem ser adoptados declives iguais dos do terreno;

2- devem ser respeitadas, sempre que possível, declives mínimos e máximos,


respectivamente de 0,003 m/m e 0,15 m/m;

3- o alinhamento dos colectores em perfil longitudinal deve ser efectuado em troços


de geratrizes interiores superiores, caso não se verifiquem quedas;

4- em redes separativas domésticas deve verificar-se progressão crescente dos


diâmetros de montante para jusante da rede. Nas redes unitárias e separativas
pluviais, pode aceitar-se a redução da secção para jusante, desde que não seja
reduzida a capacidade hidráulica de transporte;

5- o diâmetro mínimo regulamentar dos colectores é de 200 mm.

4.6. Critérios de projecto e verificação hidráulico-sanitária.

4.6.1. Aspectos introdutórios

Em sistemas de drenagem de águas residuais domésticas e industriais, os caudais de


cálculo ou de projecto correspondem, geralmente, aos caudais de início de exploração e
de ano de horizonte de projecto da obra. Os valores dos caudais de cálculo são obtidos
multiplicando os caudais médios anuais pelo factor de ponta instantâneo, a que se
adiciona o caudal de infiltração, conforme se apresenta no capítulo 3 deste livro.

4.6.2. Critérios de projecto e dimensionamento hidráulico-sanitário

Para o dimensionamento hidráulico-sanitário de sistemas separativos domésticos ou


industriais devem ser adoptados, de acordo com a legislação (Decreto-Regulamentar nº
23/95), os seguintes princípios:

59
a) A velocidade máxima de escoamento para o caudal de ponta no horizonte de
projecto não deve exceder 3 m/s;

b) A velocidade de escoamento para o caudal de ponta no início de exploração não


deve ser inferior a 0,6 m/s;

c) Sendo inviável o limite referido na alínea b), como sucede nos colectores de
cabeceira, devem estabelecer-se declives que assegurem estes valores limites para
o caudal de secção cheia;

d) Nos colectores domésticos, a altura da lâmina líquida não deve exceder 0,5 da
altura total para diâmetros iguais ou inferiores a 500 mm e 0,75 para diâmetros
superiores a este valor;

e) A inclinação dos colectores não deve ser, em geral, inferior a 0,3% nem superior a
15%;

f) Admitem-se inclinações de colectores inferiores a 0,3%, desde que seja garantido


o rigor do nivelamento, a estabilidade do assentamento e a tensão de arrastamento;

g) Quando houver necessidade de intercalar colectores com inclinações superiores a


15%, devem prever-se dispositivos especiais de ancoragem.

4.6.3. Verificação hidráulico-sanitária

A verificação dos critérios hidráulicos e sanitários do escoamento, em termos de alturas


e velocidades, pode ser efectuada, em regra, recorrendo a métodos analíticos ou a
métodos gráficos, admitindo o escoamento em regime permanente e uniforme. No caso
de colectores de dimensão significativa, ou no caso de colectores pluviais ou unitários
em que o regime é manifestamente variável, pode ser aconselhável a análise hidráulica
do sistema recorrendo a modelos de cálculo mais complexos (que consideram o regime
permanente não uniforme ou o regime variável).

Para uma secção circular de diâmetro D, verificam-se as seguintes expressões:

A = (θ - sem θ) D2/8 (4.1)


P = D θ/2 (4.2)
H = D/2 (1 – cós (θ /2/ ) (4.3)

sendo θ, expresso em radianos, o ângulo ao centro que caracteriza geometricamente o


escoamento, A a secção de escoamento e P o perímetro molhado.

A condição do escoamento em regime uniforme pode ser obtida, por processo


interactivos, a partir da expressão (4.4), apresentada em Quintela (1981).

( ( ))
θ nti = sen θ n + 6,063 Q / k i
0, 6
D −1,6 θ n0, 4 (4.4)

Este tipo de resolução deve limitar-se ao domínio de θ em que existe uma única
solução, ou seja, para θ < 4,53 rad ou h/D < 0,82.

60
Deve então comparar-se os valores de altura relativa do escoamento, h/D, e a velocidade
correspondente ao caudal de ponta, para o ano de início de exploração e para o ano de
horizonte de projecto, com os limites decorrentes dos critérios apresentados no sub-
capítulo 4.6.2.

No caso do método gráfico, deve calcular-se o caudal a secção cheia (Qf) e a velocidade
a secção cheia (Vf) e, com base na relação entre o caudal de projecto e o caudal de
secção cheia (Q/Qf), determinar, recorrendo à Figura 4.11, as relações h/D ou y/D e
V/Vf.

Uma vez determinados estes valores, torna-se possível verificar, por comparação com
os limites regulamentares, o cumprimento ou não das condições de altura de
escoamento e das condições de auto-limpeza e de velocidade máxima.

Figura 4.11 – Elementos hidráulicos de colectores de secção circular.

61
4.7. Soluções não convencionais de drenagem.

4.7.1. Aspectos gerais

Consideram-se soluções não convencionais de drenagem, os sistemas simplificados (ou


sistemas de colectores gravíticos de pequeno diâmetro ou de esgotos decantados), os
sistemas sob vácuo e, mais recentemente, os sistemas a ar comprimido (do tipo
tecnologia “eco-turbo”). Todas estas soluções não convencionais podem revelar-se
apropriadas para servir aglomerados de pequena dimensão, em regra, com populações
inferiores a 5000 habitantes, especialmente no caso das condições topográficas,
geológicas e de ocupação urbana dispersa tornarem a solução gravítica convencional
especialmente dispendiosa, em termos de custo por habitante.

Considera-se sistemas simplificados, sistemas constituídos por colectores gravíticos, em


regra de diâmetro inferior a 200 mm (geralmente 150 mm) e com menores exigências,
em termos de critérios de localização de câmaras de visita em planta e perfil. Nesse tipo
de sistema, comum na América do Sul, designadamente no Brasil, grande parte das
câmaras de visita são substituídas por óculos de limpeza.

Os sistemas de colectores gravíticos de pequeno diâmetro (SCGPD), também


designados por “esgotos decantados”, incluem trechos gravíticos com escoamento com
superfície ou sob pressão, que transportam o efluente previamente sujeito a operação de
decantação em fossas ou câmaras interceptoras construídas para o efeito. As exigências
de construção de câmaras de visita em sistemas de colectores gravíticos de pequeno
diâmetro também são menores do que as correspondentes aos sistemas convencionais.

Os sistemas sob vácuo incluem uma estação de vácuo, além de condutas e câmaras com
válvulas de interface. O escoamento, nessas condições, é intermitente e bifásico. Os
sistemas a ar comprimido incluem, em regra, trechos ascendentes e trechos
descendentes, válvulas de controlo, compressores e reservatórios de ar comprimido que
operam a intervalos regulares, ”empurrando” o escoamento e criando, ciclicamente, o
estabelecimento de condições adequadas de auto-limpeza.

As principais vantagens e inconvenientes dos diversos tipos de sistemas referidos são


apresentadas no Quadro 4.5.

Nos sub-capítulos 4.7.2, 4.7.3, 4.7.4 e 4.7.5 deste livro, procede-se à descrição e à
caracterização mais detalhada, respectivamente dos sistemas simplificados, sistemas de
colectores gravíticos de pequeno diâmetro, sistemas sob vácuo e sistemas a ar
comprimido.

4.7.2. Sistemas simplificados

Os sistemas simplificados, tal como são considerados neste documento, são sistemas
gravíticos constituídos por colectores de pequeno diâmetro, câmaras de visita e óculos
de limpeza.

São sistemas cujo investimento inicial é inferior ao dos sistemas convencionais, visto
que o diâmetro dos colectores pode ser inferior a 200 mm e o espaçamento médio entre
câmaras de visita, para as mesmas condições de traçado, é superior.

62
Quadro 4.5- Principais vantagens e inconvenientes dos diversos tipos de sistemas não
convencionais.
TIPOS PRINCIPAIS VANTAGENS INCONVENIENTES
CARACTERÍSTICAS

Sistemas Colectores gravíticos, Menores investimentos iniciais Riscos superiores de


simplificados em regra de pequeno do que as soluções obstrução e entupimento de
diâmetro, ø 150 mm, e convencionais colectores.
com câmaras de visita
e óculos de limpeza.

Sistemas de Colectores de pequeno Menores investimentos iniciais Necessidade de limpeza


esgotos diâmetro (diâmetro que as soluções convencionais, periódica das fossas. Risco
decantados mínimo de 75 mm), a sobretudo se já existirem as de ligações directas nas
jusante de fossas ou fossas ou câmaras interceptoras. habitações ao sistema, sem
tanques interceptores. Dispensa de tratamento primário o efluente ser decantado.
nas instalações de tratamento a
jusante

Sistema Necessidade de Menores investimentos iniciais Requisitos especiais, em


sob vácuo instalação sob vácuo, que a solução convencional. termos de operação e
tubagens, câmaras e Ausência de riscos de ocorrência manutenção dos sistemas.
válvulas de interface. de septicidade.

Sistema a ar Necessidade de Em regra, menores Não existe experiência na


comprimido existência de investimentos do que na solução utilização deste tipo de
reservatório de ar convencional, no que respeita a sistema em portugal.
comprimido, tubagens e movimento de terras.
compressor e válvulas.

O sistema simplificado, de acordo com Mara (1996), não transporta efluente decantado
e não requer a existência de tanques interceptores a montante das redes. Em regra, este
tipo de sistemas, vulgarizado em países como o Brasil, pode ser recomendável para
povoações rurais com povoamento disperso, em que não existam fossas sépticas ou em
que estas infra-estruturas se comportem de forma deficiente.

Em Mara (1996), são apresentados os seguintes procedimentos e critérios para a


concepção e dimensionamento de sistemas simplificados:

- tensão de arrastamento menor ou igual a 1N/n2;

- altura relativa do escoamento inferior a 0,6 (h/D ≤ 0,6);

de que resulta,

i min = 5,18 x 10-3 Q-6/13 (4.1)

sendo,

imin - inclinação mínima (m/m);

Q- caudal de ponta (l/s)

63
e

N= 10,89 x 10-3 Q-13/6 (4.2)

sendo,

N- número de habitações servidas, admitindo 5 habitantes por aglomerado.

D- diâmetro de tubagem (mm)

Para a dedução da expressão (4.2) Mara (1996) admite, um factor de ponta de 1,8,
coeficiente de afluência de 0,85 e capitação de água de 100 l/(hab.dia).

No Quadro 4.6 apresenta-se, de acordo com as premissas anteriormente referidas, o


máximo número de habitações servidas por colectores com diâmetro entre 100 e 300
mm.

Quadro 4.6 – Máximo número de habitações a servir (N), por colector

Diâmetro (mm) Max. hab. servidas

100 234

150 565

200 1053

250 1708

300 2536

4.7.3. Sistemas de colectores gravíticos de pequeno diâmetro

4.7.3.1- Aspectos gerais

Os sistemas de colectores gravíticos de pequeno diâmetro (SCGPD) foram inicialmente


construídos, na década de 60, na Zâmbia, Nigéria e Austrália. Actualmente, este tipo de
sistemas tem significativa aplicação nomeadamente na Austrália e nos Estados Unidos
da América.

Os sistemas de colectores gravíticos de pequeno diâmetro assumem remoção prévia dos


sólidos sedimentáveis da massa líquida, por intermédio da instalação de tanques
interceptores a montante da rede de drenagem. Os materiais sólidos depositados no
tanque devem ser removidos periodicamente, sendo a periodicidade dependente das
dimensões do tanque interceptor e das características da água residual.
Consequentemente é uma solução intermédia entre a solução convencional de drenagem
e a solução clássica de fossas sépticas.

64
Devido à decantação dos sólidos sedimentáveis, o sistema de colectores a jusante dos
tanques interceptores não necessita de ser dimensionado para garantir exigentes
condições de auto-limpeza, nem de obedecer ao critério altura de escoamento inferior a
meia secção do colector. Desta forma, os SCGPD podem apresentar tubagens com
diâmetros de 100, 75 ou até mesmo de 50 mm, implantados a baixa profundidade. Nesta
perspectiva, os colectores podem ser projectados sem a inclinação mínima estipulada
pelo Decreto Regulamentar nº23/95 para o sistema convencional, podendo mesmo
incluir troços descendentes e ascendentes. A remoção de parte substancial dos sólidos
suspensos no tanque interceptor pode conduzir à eliminação das etapas de tratamento
preliminar e primário, efectuadas nas estações de tratamento a jusante do sistema de
drenagem.

Uma das componentes essenciais dos sistemas convencionais que é praticamente


eliminada nos SCGPD é a câmara de visita, substituída por óculos de limpeza, os quais
são mais simples e menos onerosos. Esta situação tem ainda a vantagem de reduzir os
riscos de infiltração das águas pluviais e a afluência de areias e outros materiais sólidos
ao sistema.

As diversas componentes dos SCGPD encontram-se esquematicamente apresentadas na


Figura 4.12.

Os SCGPD são constituídos, conforme ilustrado na Figura 4.13, pelos seguintes


componentes principais:

- ramal domiciliário;
- tanque interceptor (fossa séptica);
- colector secundário;
- colector principal.

Figura 4.12 – Sistema de colectores gravíticos de pequeno diâmetro – tipo adaptada de Dias (2000)

65
4.7.3.2- Componentes dos sistemas

Ramal domiciliário

Esta componente do SCGPD tem como função a ligação entre a rede predial e o tanque
interceptor respectivo. O colector, usualmente em PVC, apresenta diâmetros típicos de
75, 110, 140 ou 160 mm e é instalado em vala com uma inclinação descendente,
normalmente superior a 1%, conforme EPA (1991).

Tanque interceptor

As principais funções deste órgão são as seguintes:

- remoção de sólidos suspensos sedimentáveis, presentes na massa líquida;


- armazenamento e digestão anaeróbia das lamas e escumas geradas;
- amortecimento do escoamento.
Estes dispositivos podem ser pré-fabricados (geralmente construídos em betão, fibra de
vidro, polietileno de alta densidade ou metal) ou construídos no local. Para o seu
dimensionamento em termos de capacidade e disposição dos seus acessórios, pode
seguir-se a metodologia desenvolvida em Morais (1977). Os tempos de retenção usuais
para o seu dimensionamento são superiores a 12 a 24 horas, com uma periodicidade de
remoção dos sólidos sedimentáveis de 1 a 10 anos, conforme EPA (1991).

Os tanques interceptores localizam-se frequentemente em propriedade privada, podendo


servir, ou não, mais do que uma habitação. Torna-se essencial garantir o acesso a estes
locais, por forma a possibilitar a remoção dos sólidos acumulados.

A capacidade dimensionada para o tanque interceptor deve incluir o volume necessário


para armazenar as lamas, as escumas, para a decantação dos materiais sólidos e para o
amortecimento dos caudais de ponta afluentes, o qual pode ascender a 60%, conforme
EPA (1991).

É possível a inclusão nos SCGPD das fossas sépticas já existentes nos locais,
convertendo-as em tanques interceptores. Deve, no entanto, garantir-se a estanqueidade
das mesmas, por forma a evitar infiltrações indesejadas de outras águas ao sistema.

Podem incluir-se nos SCGPD, sempre que não se verifique um amortecimento


suficiente, câmaras de amortecimento independentes, a jusante das fossas sépticas. A
estrutura do amortecimento referida deve possuir uma capacidade correspondente ao
caudal total diário, conforme referido em WEF (1986). O amortecimento, ao diminuir a
razão entre o caudal de ponta e o caudal médio, possibilita o aumento do número de
habitantes servidos pelos SCGPD, e uma maior constância, no tempo, dos caudais de
saída que permitem a observância da condição de auto-limpeza.

Colector secundário

A função desta componente é a de estabelecer a ligação entre o tanque interceptor e o


colector principal. Um dos principais objectivos deste trabalho é o estudo da atenuação
do caudal de ponta no tanque interceptor, a qual é particularmente relevante no âmbito
do dimensionamento dos colectores a jusante. O PVC constitui o material mais

66
frequentemente utilizado, sendo os diâmetros típicos utilizados de 75 e 110 mm, os
quais não devem ser superiores ao diâmetro do colector principal. No que concerne à
implantação destes colectores, tem-se que, de acordo com EPA (1991), não é
estritamente necessário que os mesmos sejam continuamente descendentes em perfil e
rectilíneos em planta.

Colector principal

O colector principal tem como objectivo a drenagem da água residual proveniente dos
diversos colectores secundários até à estação elevatória ou à estação de tratamento, tal
como sucede nos sistemas convencionais. O material constituinte é normalmente o
PVC, ou, em alternativa, o polietileno de baixa densidade (PEAD). O diâmetro é
estabelecido por razões hidráulicas, com base no caudal de projecto, o qual depende do
número de habitações servidas pelo SCGPD, com valores mínimos de 75 ou 100 mm,
embora seja possível a utilização de colectores com 50 mm de diâmetro (EPA, 1991).

É fundamental garantir a disponibilidade de desníveis gravíticos no sistema, por forma a


evitar o recurso à bombagem do efluente transportado pelos colectores secundários.
Embora estes colectores possam ser implantados a uma profundidade reduzida, esta
depende da cota de saída dos tanques interceptores. Por este motivo, é por vezes
necessário, dados os constrangimentos topográficos, recorrer à bombagem. Para estas
tubagens existe a possibilidade do traçado em planta apresentar alguma flexibilidade, ou
seja, não têm que ser obrigatoriamente rectilíneas, podendo existir alinhamentos curvos
que permitam contornar pequenos obstáculos existentes no subsolo.

O escoamento nos colectores pode ocorrer em superfície livre ou sob pressão, situando-
se, neste caso, os troços sob a linha de energia. Para garantir o escoamento é pertinente
realizar uma avaliação hidráulica, de modo a evitar o retorno das águas residuais
(regolfos de elevação) para o interior dos tanques interceptores.

Instalações elevatórias

Quando não é possível a afluência gravítica da água residual proveniente do tanque


interceptor, ao colector principal, devido ao facto da cota de saída do mesmo se situar
abaixo ou muito próximo da linha de energia dinâmica de escoamento, tem de recorrer-
se ao uso de instalações elevatórias. As instalações típicas de bombagem do efluente
utilizadas nos SCGPD são do tipo ‘STEP’ (em terminologia anglo-saxónica, septic tank
and effluent pump), e encontram-se imediatamente a jusante do tanque interceptor (que
promove a decantação da água residual), numa estrutura independente que potencia o
amortecimento e armazenamento adicional, conforme se pode observar na Figura 4.14.
O grupo elevatório do tipo ‘STEP’ pode, em alternativa, ser instalado no interior do
tanque interceptor.

67
Figura 4.13 - Grupo elevatório tipo ‘STEP’- representação esquemática, adaptada de Dias (2000)

Este tipo de instalações elevatórias pode transportar o efluente de vários tanques


interceptores, situação que se verifica quando a totalidade da cota de saída dos mesmos
se situa abaixo da linha de energia dinâmica do colector principal.

Órgãos e acessórios

Este tipo de componentes facilita o acesso ao SCGPD e permite o seu adequado


funcionamento, podendo ser constituído por órgãos e acessórios diversos, tais como
óculos de limpeza, câmaras de visita, válvulas de seccionamento, válvulas de retenção e
dispositivos de ventilação ou de controlo de odores. Os dois primeiros destinam-se a
facilitar o acesso a secções críticas, para efeitos de inspecção e manutenção (Dias,
2000). As câmaras de visita, maioritariamente substituídas por óculos de limpeza, são
instaladas apenas quando tal se revela estritamente necessário, designadamente em
zonas em que se prevê a necessidade de proceder a frequentes operações de limpeza e
nos principais cruzamentos dos colectores principais. Nos SCGPD é frequente a
utilização de óculos de limpeza, designadamente nas seguintes situações:

- cabeceiras das redes;


- cruzamentos de colectores;
- variações de diâmetro, de direcção ou inclinações dos colectores;
- em alinhamentos rectos, a distâncias da ordem de 120 a 300 metros – EPA (1991)
ou 250 a 300 m (WEF, 1986).
Uma das principais vantagens dos óculos de limpeza comparativamente às câmaras de
visita é o facto de não contribuírem para a afluência aos SCGPD quer de caudais de
infiltração, quer de elementos sólidos (EPA, 1991), para além de serem equipamentos
menos dispendiosos.

Na Figura 4.14 é apresentado um óculo de limpeza e uma junção simples sem óculo.

Os dispositivos de ventilação e controlo de odores asseguram o bom funcionamento do


sistema quando o escoamento de dá sob pressão, garantindo-se, desta forma, a
existência de corrente de ar nos colectores.

68
A válvulas de retenção impedem o retorno do efluente às habitações. O refluxo ocorre
quando a cota de saída de um tanque interceptor se situa sob a linha de energia
dinâmica, devido ao escoamento de um caudal particularmente elevado.

As válvulas de seccionamento permitem o isolamento de partes dos SCGPD, sendo


preferencialmente instaladas em secções estratégicas do mesmo, nomeadamente nos
cruzamentos dos colectores principais, por forma a permitirem o isolamento de partes
do sistema, nomeadamente em situações de avaria ou no decorrer de operações normais
de limpeza e manutenção do sistema.

Figura 4.14 - Um óculo de limpeza típico (direita) e uma junção simples sem óculo de limpeza (esquerda)

Um dos aspectos a merecer especial atenção nos SCGPD é a possível ocorrência de


condições sépticas no interior do sistema, com a consequente formação e libertação para
a atmosfera de gás sulfídrico. Para agravar o problema, são também libertados outros
gases, devido aos processos de digestão anaeróbia das lamas nos tanques interceptores,
nomeadamente metano e dióxido de carbono, tornando-se necessário a adopção de
medidas que mitiguem as consequências da libertação dos gases referidos (problemas de
odores e corrosão).

4.7.3.3- Critérios gerais de dimensionamento

Na bibliografia da especialidade, verifica-se certa heterogeneidade dos valores dos


critérios utilizados para o dimensionamento dos SCGPD. Esses valores são, em regra,
mais conservativos (na Austrália), e menos conservativos nos Estados Unidos da
América, conforme se apresenta no Quadro 4.4.

Em Portugal, a legislação admite que, para o sistema convencional, os critérios da


profundidade e inclinações mínimas podem, em circunstâncias especiais, não ser
atingidos. Por outro lado, o Decreto Regulamentar 23/95 de 23 de Agosto refere
explicitamente no seu artigo 114º, que “ Em pequenos aglomerados populacionais, onde
as soluções convencionais de engenharia se tornem economicamente inviáveis, pode
adoptar-se, em alternativa, sistemas simplificados de drenagem pública, tais como
fossas sépticas seguidas de sistemas de infiltração ou redes de pequeno diâmetro com
tanques interceptores de lamas.”.

69
Quadro 4.7 – Critérios usuais de dimensionamento dos SCGPD

(Austrália) (EUA)
Grandeza Unidade Convencional SCGPD SCGPD
Profundidade mínima à coroa m 1 0.50-0.75 0.60 (típico 0.75)
Inclinação mínima % 0.30 0,4 -
Inclinação máxima % 15 - -
-1/3
Coeficiente Manning m s 0.012 0.011 0.013
Dist. entre óculos de limpeza m - 120 120-300
Diâmetro mínimo mm 200 100 50 (típico-100)
Velocidade crítica m/s 0.6 0.45 0.3-.45
Factor de ponta - 5 3 1a4
Caudal de infiltração L/s Qmédio - -

Em Dias e Matos (1999), efectuou-se uma análise das condições de auto-limpeza em


SCGPD e, tendo por base a fórmula da velocidade crítica de Shields, concluiu-se que
em SCGPD com tanques interceptores a funcionar de forma apropriada, a velocidade
crítica de auto-limpeza deverá ser da ordem de 0,15 m/s.

4.7.3.4- Considerações finais

Os sistemas de colectores gravíticos de pequeno diâmetro constituem uma alternativa


tecnicamente elegível e, frequentemente, uma solução apropriada para o saneamento de
pequenos aglomerados.

Este tipo de soluções torna-se especialmente vantajoso, do ponto de vista económico,


quando as fossas sépticas dos aglomerados a sanear se apresentam em condições
apropriadas, e se exijam investimentos mínimos para reabilitar as mesmas, do ponto de
vista do funcionamento como tanques interceptores.

Em alguns casos, os sistemas de pequeno diâmetro continuam a ser os mais


competitivos economicamente, quando comparados com os sistemas tradicionais,
mesmo quando se prevêem investimentos na construção de novos tanques e se devam
colocar fora de serviço as fossas sépticas existentes.

Para o dimensionamento do SCGPD, constituem parâmetros relevantes os caudais de


projecto e a satisfação da condição de auto-limpeza. Por outro lado, para o cálculo dos
caudais de projecto assume relevância o efeito do amortecimento dos tanques
interceptores, de que resultam factores de ponta instantâneos globais na rede
possivelmente bastante inferiores aos que resultariam se não se verificassem esses
efeitos de amortecimento.

70
4.7.4. Sistemas sob vácuo

4.7.4.1- Aspectos gerais

Nos sistemas sob vácuo o transporte das águas residuais faz-se à custa do diferencial de
pressão, que se estabelece entre o exterior e o interior do sistema, onde se encontra
instalada pressão negativa relativa. O sistema prevê a fluência gravítica das águas
residuais até um poço domiciliário, capaz de receber o efluente de uma ou mais
habitações, num máximo de quatro. Este poço encontra-se munido de uma válvula de
interface vácuo/gravidade, normalmente fechada em cada ponto da entrada, por forma a
“selar” as condutas e manter a condição de vácuo. A válvula de interface é instalada na
câmara de válvula, que constitui a zona superior do poço domiciliário. Este inclui ainda,
na zona inferior, a câmara de recolha de água residual, onde esta se acumula até um
nível pré-determinado. Quando este é atingido, a válvula abre e o conteúdo é aspirado,
devido ao diferencial de pressão existente no sistema, conseguido até à custa das
bombas de vácuo instaladas a jusante. O efluente é assim transportado até à estação de
vácuo, de onde segue para a estação de tratamento ou para a rejeição final.

Dado que o escoamento no sistema de drenagem se processa por acção do vácuo, e não
da gravidade, o perfil longitudinal das condutas não tem que ser continuamente
descendente, como nos sistemas convencionais – podem existir trechos ascendentes ou
descendentes, desde que sejam respeitados os condicionalismos hidráulicos do sistema
(Cole, 1998).

Os sistemas de drenagem de águas residuais sob vácuo, para além de serem


tecnicamente interessantes podem, em determinadas circunstâncias, ser igualmente
atractivos em termos de investimentos. Os factores que favorecem a implementação de
recolha e transporte de águas residuais por vácuo são os seguintes (Johnson, 1997):

- solo arenoso ou com nível freático elevado;

- terreno plano ou com perfil ondulado;

- grandes condicionalismos construtivos (devido a limitações de espaço ou


existência de outras infra-estruturas no sub-solo);

- desenvolvimento urbano em zonas rurais.

Estes sistemas apresentam ainda as seguintes vantagens (Johnson, 1997):

- redução do diâmetro dos colectores utilizados em relação aos sistemas


convencionais (os diâmetros mais comuns são 75, 100, 150, 200 e 250 mm);

- inexistência de câmaras de inspecção e de visita;

- quando se verifica a existência de infra-estruturas enterradas desconhecidas à data


do projecto, e surgidas na execução da obra, podem ser facilmente contornadas,
sem grandes alterações ao projecto.

As vantagens do sistema sob vácuo podem dizer ainda respeito a outros aspectos
complementares designadamente (Johnson, 1997):

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- inexistência de infiltrações nos sistemas sob vácuo, dada a tecnologia utilizada;

- ausência de fugas de águas residuais, passíveis de se infiltrarem nos solos e


poluírem o meio ambiente;

- diminuição muito considerável, ou mesmo eliminação de problemas de


septicidade, dado o emulsionamento de ar (oxigénio) nos sistema;

- necessidade de uma única fonte de energia (na estação de vácuo).

Devido às vantagens que lhe estão associadas e ao interesse suscitado em termos


tecnológicos, este tipo de soluções tem sido objecto de divulgação e aplicação,
particularmente nos últimos 20 anos. O sistema proposto e comercializado pela
“AIRVAC”, por exemplo, encontra-se espalhado por quinze países e por uma grande
parte dos Estados Unidos (Johnson, 1997). Os sistemas construídos têm capacidades
bastantes diversas, sendo o maior construído até ao momento o da rede de Englewood,
na Florida, Estados Unidos da América, que apresenta 8500 ligações (Cole, 1998).

4.7.4.2- Componentes do sistema

Aspectos gerais

Os sistemas de drenagem de águas residuais sob vácuo apresentam, tipicamente, uma


configuração do tipo da ilustrada na Figura 4.15.

Podem distinguir-se tês componentes principais tipo: dispositivos de interface, rede de


tubagens e estação sob vácuo.

Dispositivos de Interface

Os dispositivos de interface num sistema sob vácuo incluem a válvula de vácuo ou


válvula de interface vácuo/gravidade, a câmara de válvula, a câmara de recolha de águas
residuais e a tomada de água.

A válvula de vácuo possui, em regra, uma secção de saída de 75 mm de diâmetro e


estabelece a interface entre o sistema sob vácuo a jusante, e o sistema gravítico, a
montante, que transporta as águas residuais provenientes das habitações. Garante, assim,
a separação entre o vácuo nas tubagens de transporte e a pressão atmosférica instalada
na rede predial. Esta válvula é accionada pneumaticamente, não necessitando por isso
de qualquer fonte de energia exterior. Quando a válvula se encontra fechada, isola o
sistema a jusante, mantendo o nível de vácuo proporcionado pelas bombas de vácuo.
Quando a válvula abre permite, por diferença de pressão, o escoamento da água residual
acumulada na câmara de recolha.

72
Figura 4.15 – Representação esquemática do traçado de um sistema sob vácuo (adaptada de EPA, 1991).

A câmara de válvula e a câmara de recolha de águas residuais estão normalmente


associadas, constituindo o poço domiciliário, como se ilustra na Figura 4.16.

Figura 4.16 – Representação esquemática de uma câmaras de válvula e de recolha de águas


residuais (adaptada de EPA, 1991).

Na zona superior, que constitui a câmara de válvula propriamente dita, é instalada a


válvula de vácuo. Na zona inferior é feita a recolha das águas residuais afluentes e o
armazenamento. As câmaras de válvula e de recolha são isoladas uma da outra,
constituindo, no caso geral, um único bloco pré-fabricado em fibra de vidro.

É necessário prever a existência de uma tomada de ar no sistema. Esta deve estar


localizada no ramal de ligação da rede predial à câmara de recolha. A admissão do ar

73
faz-se, em regra, por uma tubagem de 100 mm de diâmetro que deve ser colocada, por
razões de ordem estética, junto a uma das paredes exteriores do edifício.

Rede de Tubagens

A rede de colectores é constituída por tubagens de PVC de diâmetros 75, 100, 150, 200
e 250 mm, assentes a uma profundidade mínima de 0,90m, que estabelecem a ligação
entre os poços domiciliários e a estação de vácuo.

Os sistemas sob vácuo permitem, dentro dos limites de natureza hidráulica que lhe são
próprios, a existência de troços ascendentes, como se ilustra na Figura 4.17.

Figura 4.17 – Sistema sob vácuo - Exemplo de traçado em perfil (adaptada de EPA, 1991).

Os colectores principais apresentam, no caso geral, uma inclinação idêntica à do


terreno, possuindo características de traçado particulares, quer se trate de troços
descendentes, ascendentes ou aproximadamente horizontais, conforme se ilustra na
Figura 4.18. O transporte no sentido descendente processa-se sem condicionalismos
especiais, em colectores de declive igual ao do terreno, com um mínimo de 0,2%. Os
perfis ascendentes e de nível apresentam uma configuração do tipo “dente de serra”,
progredindo por uma sucessão de degraus de elevação. Estes degraus são conseguidos à
custa de troços curtos de tubagem inclinada a 45º, e devem apresentar uma inclinação
mínima de 0,2%. Estas diversas configurações de traçado são apresentadas
esquematicamente na Figura 4.18.

74
Figura 4.18 – Sistema sob vácuo - Perfis tipo de traçado de colectores (adaptada de EPA, 1991).

Os ramais domiciliários, que estabelecem a ligação entre as redes prediais e os poços


domiciliários, devem apresentar um diâmetro de 100 mm e um perfil descendente, de
declive constante não inferior a 0,2% (EPA, 1991).

O traçado em planta das condutas principais deve procurar minimizar a altura a ser
vencida pelo sistema, bem como a extensão dos colectores, e equilibrar os caudais
transportados em cada um dos colectores principais.

Os critérios de traçado e dimensionamento de sistemas sob vácuo que se apresentam nos


Quadros 4.8 e 4.9, foram estabelecidos com base em experiência desenvolvida pela
AIRVAC.

75
Quadro 4.8 – Critérios de traçado de colectores principais (adaptado de EPA, 1991)

Distância mínima entre degraus (m) 6,1 m


Extensão mínima do troço de inclinação 0,2% que
Precede uma série de degraus de elevação (m) 15,0 m
Distância mínima entre o ponto alto do degrau e o
colector afluente (m) 1,8 m
Declive mínimo (%) 0,2

Quadro 4.9 – Número máximo de habitações servidas (adaptado de EPA, 1991)


Diâmetro do Colector principal (mm) Número máximo de habitações servidas
100 70
150 260
200 570
250 1050

Devem prever-se, em regra, válvulas de seccionamento, com válvula reguladora de


pressão, instaladas imediatamente a montante da ligação dos colectores secundários aos
colectores principais. Estas válvulas têm como função permitir, no caso de se verificar
alguma avaria ou necessidade de reparação das condutas do sistema, o isolamento de
partes da rede, sem que seja necessário colocar toda a rede fora de serviço (EPA, 1991).

Adicionalmente, podem também ser instalados óculos de limpeza na extremidade de


cada colector, por forma a facilitar o acesso e permitir eventuais operações de
manutenção no sistema (EPA, 1991).

Estação de vácuo

A estação de vácuo, que deve ser localizada num ponto central relativamente a todo o
sistema, promove a recolha das águas residuais, conduzindo-as posteriormente, e no
caso geral, para uma estação de tratamento de águas residuais ou para o sistema geral de
águas residuais da zona. A estação de vácuo inclui diversos órgãos, designadamente as
seguintes: bombas de vácuo, bombas de águas residuais, reservatórios de vácuo e um
grupo gerador de emergência (EPA, 1991).

As bombas de vácuo têm como função a instalação de condições de sub-pressão


adequadas ao transporte da água residual. De acordo com a experiência existente, a
condição de vácuo no sistema deve manter-se entre 5,5 e 6,8 m H2O (EPA, 1991). Em
cada estação de vácuo deverão ser instaladas pelo menos duas bombas de vácuo, sendo
uma de reserva.

As bombas dos grupos electrobomba de águas residuais são necessárias para transportar
o efluente armazenado no reservatório de água residual para a estação de tratamento.
Deverão ser previstos sempre equipamentos de reserva no sistema. O arranque e a
paragem dos grupos é controlada a partir de níveis pré-fixados no reservatório, e podem
ser conhecidos recorrendo a sondas (EPA, 1991).

76
A água residual é armazenada no poço ou reservatório, até que seja atingido um nível
pré-determinado e “arranque” o grupo electrobomba. Os reservatórios devem ser
estanques e com capacidade para suportar os níveis de vácuo habituais no sistema. A
entrada de água residual no reservatório dá-se por forma a que na zona superior tenha
lugar a transferência de vácuo, proporcionado pelas bombas de vácuo, para a rede de
drenagem propriamente dita (EPA, 1991).

O reservatório de vácuo localiza-se entre as bombas de vácuo e o reservatório de água


residual. Este reservatório tem como funções operar como reservatório de emergência e
promover a sequência de arranque das bombas de vácuo (EPA, 1991).

4.7.4.3- Aspectos de dimensionamento hidráulico

Os sistemas de drenagem de águas residuais sob vácuo apresentam um escoamento


bifásico, constituído por uma fase gasosa a uma fase líquida. com relações ar/massa
líquida tipicamente de 1:1 a 4:1,. Podendo, no entanto, essa relação atingir valores mais
elevados.

O funcionamento global do sistema processa-se da seguinte forma (EPA, 1991):

- quando se acumula um volume pré-determinado de água residual na câmara de


recolha, a válvula de vácuo abre-se, iniciando o ciclo de operação;

- a água residual aflui ao interior do sistema devido ao diferencial de pressão


existente entre a conduta sob vácuo e a atmosfera;

- o escoamento ar/água residual desenvolve-se ao longo do sistema, sujeito ás forças


gravíticas e às forças atrito; pode suceder que, por acção dessas forças, o
escoamento deixe de ter capacidade para prosseguir para jusante. Nesta situação,
dá-se a separação das fases líquida e gasosa. A massa líquida repousa nos pontos
baixos do traçado; o arranque para um novo ciclo de movimento ocorre quando a
válvula de vácuo é accionada a montante, dando lugar à admissão de massa
líquida mobilizando a energia disponível pela diferença de pressão entre a
atmosfera e a estação de vácuo.

As condutas do sistema sob vácuo, bem como os principais componentes da estação de


vácuo, são dimensionadas, em regra, para um caudal de ponta que corresponde ao
máximo caudal que se espera que aflua ao sistema.

A definição de um sistema de drenagem de águas residuais sob vácuo compreende,


numa primeira fase, o estabelecimento do traçado em planta, de acordo com os critérios
de concepção e traçado e, numa segunda fase, o dimensionamento hidráulico do
sistema. O dimensionamento hidráulico compreende a determinação dos caudais de
dimensionamento e a verificação hidráulica propriamente dita. Para este feito é
necessário ter em linha de conta que os sistemas de drenagem de águas residuais sob
vácuo são dimensionados para níveis de vácuo entre 5,5 e 6,8 m H2O, níveis estes que
deverão ser garantidos junto às bombas de vácuo (EPA, 1991). Da energia total
disponível, 1,5 m H2O são geralmente reservados à perda de carga associada à operação
das válvulas. Assim, tornam-se apenas disponíveis 4m H2O para o escoamento da água
residual no sistema. Nestas condições, a perda de carga total, entendida como a soma da

77
perda de carga contínua com as perdas de carga localizadas ao longo da rede, não
poderá exceder 4 m H2O.

As perdas de carga contínuas em sistemas sob vácuo são devidas ao atrito do


escoamento bifásico, e podem ser determinadas afectando a perda de carga
correspondente a um escoamento fictício monofásico da massa líquida, em secção
cheia, por um factor que tenha em conta as características do escoamento real, bifásico
(WEF, 1986 e EPA, 1991).

As perdas de carga localizadas estão relacionadas com a configuração dos colectores em


planta e perfil e resultam, designadamente da implantação de degraus de elevação
previstos nas configurações típicas de troços ascendentes ou de nível.

O procedimento de avaliação das condições de funcionamento do sistema, face à


energia disponível consiste em, para uma determinada solução, calcular as perdas de
carga existentes. Se as perdas de carga calculadas forem inferiores à energia disponível
para o transporte, então o dimensionamento de base é aceitável. Caso contrário. será
necessário proceder ao redimensionamento do sistema a e à análise, do ponto de vista
do funcionamento hidráulico, desta nova solução.

4.7.4.4- Considerações finais

Em relação aos sistemas convencionais, as principais vantagens dos sistemas de vácuo


são as seguintes:

- redução de diâmetro;

- redução da profundidade média de assentamento e de movimento de terras;

- ausência de problemas de septicidade.

Do ponto de vista da operação, assume especial relevância o facto das equipas técnicas
disporem de pessoal habilitado para a exploração r manutenção das válvulas de interface
a dos grupos sob vácuo.

As soluções sob vácuo podem ser especialmente interessantes quando os aglomerados já


dispõem de fossas sépticas individuais, em condições de serem adaptadas a poços
domiciliários a integrar no sistema.

4.7.5. Sistemas a ar comprimido

Os sistemas a ar comprimido são muito recentes e, que se saiba, ainda não tiveram
aplicação em Portugal.

Os principais componentes de um sistema a ar comprimido são os seguintes:

a)- válvula automática instalada entre o colector e a câmara de interface;


b)- reservatório de ar comprimido e compressor; o reservatório de ar comprimido
encontra-se ligado a câmara de interface por um Té, onde se encontra disposta
uma válvula
c)- acessórios.

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Em operação normal, o reservatório de ar comprimido não se encontra em comunicação
com a câmara de interface, que se mantém “cheia” de água residual. Nessa situação, o
sistema funciona como um sifão invertido. Ciclicamente, em regra uma a duas vezes por
semana, o sistema a ar comprimido entra em operação. Nessas circunstâncias, isola-se a
câmara de interface, por meio da válvula automática, do trecho do colector a montante e
estabelece-se a comunicação entre o reservatório de ar comprimido e a câmara de
interface.

A pressão a que se encontra o ar comprimido origina o rápido movimento da massa


líquida para jusante, e o estabelecimento de condições de auto-limpeza e de
arrastamento de depósitos previamente sedimentados.

Após alguns minutos de operação, o efeito de “corrente de varrer” (em terminologia


anglo-saxónica “flushing”) termina, e a válvula automática abre, restabelecendo-se a
condição normal de operação.

Na Figura 4.19 apresenta-se, esquematicamente, o traçado, num terreno de perfil


ondulado, de um sistema convencional gravítico e de um sistema a ar comprimido.

a)

b)

c)
Figura 4.19 – Representação esquemática de terreno com perfil ondulado (a), sistema convencional
gravítico (b) e sistema a ar comprimido (c).

79
A Figura 4.20 diz respeito ao funcionamento da câmara de interface. Na situação
apresentada em a), a câmara encontra-se em operação normal e o colector funciona
como sifão invertido. Na situação b) a válvula isola a câmara (do colector de montante)
e o sistema de ar comprimido entra em operação, provocando uma “corrente de varrer”
que assegura, ciclicamente, condições de auto-limpeza no sistema.

a) funcionamento em b) funcionamento em
condição normal condição excepcional

Figura 4.20 – Representação esquemática do funcionamento da câmara de interface de um sistema a ar


comprimido.

Na Figura 4.21 apresenta-se, esquematicamente, um exemplo do traçado deste tipo de


sistema, em Wiesmath, na Áustria.

Figura 4.21 – Representação fotográfica esquemática do traçado do sistema em Wiesmath, Austria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO 4

Decreto-Regulamentar Nº 23/95 – Regulamento Geral dos Sistemas Públicos e Prediais


de Drenagem de Águas Residuais. Diário da República, I Série B, nº 1984, 1995.

Dias, S. – Sistemas Alternativas de Baixo Custo para Drenagem de Águas Residuais.


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Dias e Matos – “Unconventional sewerage systems: aspects of hydraulic design and
water quality”, in Proceedings of the Conference on Civil and Environmental
Engineering - New Frontiers and Challenges, Bangkok (Thailand), November
1999.

Morais, A. Q. – Depuração dos Esgotos Domésticos dos Pequenos Aglomerados


Populacionais e Habitações Isoladas. Lisboa, Ministério das Obras Públicas,
1977.

Cole, J. H.: Torchia. S. F.. Defying Gravity. Civil Engineering, Feb., 1998, 67-69.

Environmental Protection Agency – Alternative Wastewater Collection Systems –


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Gonçalves, L.; Monteiro, A. – Requisitos e Especificações Técnicas para a Elaboração


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Tubagens, AdP, Lisboa, 2002.

Johnson, Al. AIRVAC, The Viable Alternative. Proceedings do 23ºSeminário Anual


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Matos, R.; Matos, J. – Requisitos e Especificações Técnicas para a Elaboração de


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Water Environment Federation. :Alternative Sewer Systems - Manual of Practice No.


FD-12. Water Pollution Control, Alternative Sewer Systems. Alexandria, 1986.

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