Moreira
1
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Há cerca de um ano eu escrevi um estudo sobre a relação das casas dos deuses nórdicos
do Grímnismál com o Zodíaco. Muito tempo se passou desde então.
Como eu havia dito na primeira parte desse estudo algumas estelas representariam
algum tipo de calendário (Estela de Bro Kyrka de Götland com espirais de 12, de 6 e 4
braços; Estela de Visby de Götland com espirais de 8 braços; Estela de Gro de Götland
com espirais de 12 braços). As estelas da Suécia além de belíssimas contêm padrões que
podem ter conexão solar e relação com as divindades nórdicas. Essas espirais têm clara
conexão com o girar do sol (da Sól) pelo céu, e não podem ser apenas ornamental. Na
ilha dinamarquesa de Bornholm foram encontrados vestígios de adoração solar, e
danificados discos de pedras solares datados de 5.500 anos.
Contudo há outras estelas que parecem confirmar essa ideia: a Estela de Hellvi com 3
braços em forma de espiral; a Estela de Garda I, Havor, Martebo, Sanda IV e Väskinde
com 6 braços em espiral; e a Estela Bro 24 com 9 braços em espiral. Há quem ignore
isso mesmo sabendo que os números 3, 6 e 9 são números bem conhecidos da religião
nórdica pré-cristã (3 representa o trio criador: Óðinn, Vili e Vé, as 3 Nornir, o trio
supremo: Óðinn, Þórr e Freyr adorado em Uppsala (Snorri confirma isso dizendo que
esses 3 decidem os assuntos divinos no Skáldskaparmál), as 3 fontes sagradas de
Hvergelmir, Mímisbrunnr e Urðarbrunnr nas 3 mais importantes raízes, Óðinn passou 3
desafios em Yggdrasill: fome, sede e foi perfurado por sua lança; Gullveig foi queimada
3 vezes, Óðinn apareceu sob 3 formas para Gangleri: Hárr, Jafnhárr e Þriði, Loki tem 3
filhos monstruosos, Rígr visitou 3 lares humanos gerando Jarl, Karl e Þrall, Nótt se
casou 3 vezes: com Naglfari, Annar e Dellingr gerando 3 filhos em cada relação: Auðr,
Jörð e Dagr, Þórr tem 3 tesouros: Járngreipr, Megingjörðr e Mjöllnir, Ymir teve 3 filhos
nascidos ao mesmo tempo pelas axilas e pés, houve 3 gerações antes do diluvio do
sangue de Ymir: Ymir, Þrúðgelmir e Bergelmir, Óðinn é da 3º geração: Búri, Borr e
Óðinn, haverá 3 invernos antes do Ragnarök, o Bergbúa Þáttr menciona 3 submundos,
Fenrir foi preso 3 vezes por Læding, Drómi e Gleipnir, Loki foi preso a 3 rochas; há 3
galos divinos: Gullinkambi, Fjalar e outro no mundo da morte, Freyr tem 3 criados:
Byggvir, Beyla e Skírnir, Búri surgiu inteiro em 3 dias, Þórr deu 3 goles no chifre que
foi oferecido por Útgarðr-Loki, Þórr bateu em Skrýmir 3 vezes com o martelo, Þórr foi
testado por Útgarðr-Loki 3 vezes: competição de bebida, lutar contra Elli e levantar
Jörmungandr na forma de gato, Þórr tem 3 filhos poderosos: Magni, Móði e Þrúðr, 3 são
os níveis cósmicos: o mundo divino, o mundo terrestre e o mundo da morte, faltava 3
dias para o construtor terminar o muro de Ásgarðr e ele queria 3 coisas como
pagamento: Freyja, o sol (a Sól) e a lua (o Máni), Fornjótr tem 3 filhos: Ægir ou Hlér,
Kári e Logi, Frigg tem 3 criadas: Fulla, Hlín e Gná, Freyr tem 3 tesouros: Skiðblaðnir,
Gullinbursti e sua espada, Freyja tem 3 tesouros: a forma de falcão, o carro puxado por
gatos e o colar Brínsingamen, Óðinn ficou 3 noites com Gunnlöð e ele esvaziou os 3
recipientes: Són, o Boðn e o Óðrerir, 3 foram os Vanir enviados a Ásgarðr como reféns:
2
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Njörðr e seus filhos Freyr e Freyja, segundo Saxo Þórr matou 3 gigantas filhas de
Geirröðr (Geruthus); 6 representa os 6 tesouros levados por Loki e Brokkr para os
deuses: o cabelo de Sif, a lança Gungnir, o navio Skiðblaðnir, o Martelo Mjöllnir, o anel
Draupnir e o javali Gullinbursti (cada um deles levou 3, ou seja, 3 + 3 = 6), cada estação
na Escandinávia tinha 6 meses (6 de Verão e 6 de Inverno), os 6 ingredientes da
corrente Gleipnir: o ruído do gato ao andar, a barba das mulheres, as raízes das
montanhas, a respiração dos peixes, o cuspe dos pássaros e a sensibilidade dos ursos,
Þrúðgelmir o filho de Ymir tinha 6 cabeças, Freyja é chamada por 6 nomes no
Nafnaþulur: Hörn, Þrungva, Sýr, Skjálf, Gefn e Mardöll, a Völuspá 30 menciona 6
Valkyrjur: Skuld, Skögul, Gunnr, Hildr, Göndul e Geirskögul, o poema Þrymlur
menciona 6 Gýgjur (“Gigantas”) na festa de casamento de Þrymr: Fála, Gríðr, Hlökk,
Syrpa, Gjálp e Greip; 9 é o tanto de dias que Óðinn ficou pendurado em Yggdrasill, há 9
mundos, há 9 céus uns por cima dos outros, Heimdallr tem 9 mães, Óðinn aprendeu 9
poderosas canções com o filho de Bolþörn, Ægir tem 9 filhas, Þórr é dito ser pai de 9
Nornir, Freyr esperou 9 noites para se casar com Gerðr, Hermóðr cavalgou durante 9
noites atrás de Baldr, Gróa ensinou 9 canções para Svipdagr, Menglöð tem 9
companheiras, Þórr dará 9 passos após matar Jörmungandr, a arma Lævateinn era
trancada com 9 fechaduras, a cada 9 anos os Suecos comemoravam em Uppsala por 9
dias, Baugi tinha 9 servos, Njörðr tem 9 filhas, Njörðr e Skaði ficaram cada um 9 noites
na residência um do outro, Þrívaldi tinha 9 cabeças, Mökkurkálfi tinha 9 milhas de
altura, Óðinn levou 9 noites para se revelar para Geirröðr, Helgi Hjörvarðsson viu 9
Valkyrjur, segundo o poema Þrymlur o Mjöllnir ficou 9 pés abaixo da terra e
Vafþrúðnir viajou para os Nove Mundos. A ligação entre os números 3, 6 e 9 é clara: 3
+ 3 = 6, 3 x 3 = 9.
As runas têm intima ligação com números, pois cada uma tinha um valor numérico: f =
1, u = 2, T = 3, a = 4, r = 5, k = 6, e etc. Mas as runas ainda possuem algo muito mais
numérico, veja:
Figura1.
3
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Figura 2.
Assim temos:
Figura 3.
4
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Os números 1, 2 e 3 usados para essas contas representam os três Ættir. Para entender
melhor essas contas basta olhar nas figuras acima dos 3 Ættir. Então é possível que o
ponto onde Óðinn estivesse se sacrificando havia 8 direções (Eykt) onde ele previu a
jornada do sol (da Sól) durante esses dias. Dai surgiu o calendário, pois é dito que
Óðinn estabeleceu o dia e a noite. Sobre as 8 direções será explicado nas próximas
paginas. O simbolismo aqui é claro: o sol (a Sól) passa na direção dos oito pontos do
Eykt visto da terra e desce as profundezas após 24 horas, mas sempre retorna tal como o
sacrifício de Óðinn.
5
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
6
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Para os escandinavos o Eykt era usado do ponto de partida onde ficava a fazenda (casa)
representando o ponto onde se podia observar a jornada do sol (Sól) sobre os outros 8
pontos do céu (8 + 1 = 9).
Na imagem acima Syd significa “Sul”, Vest significa “Oeste”, Nord significa “Norte” e
Øst significa “Leste”. Vale lembrar que esses nomes dos 4 pontos cardeais equivalem
aos nomes dos Dvergar (“Anões”) que seguram os 4 pilares do céu: Suðri, Vestri,
Norðri e Austri. É interessante notar que podemos trocar a Fazenda (Gården) por
Miðgarðr que é o nosso mundo do meio, Syd por Múspellsheimr já que fica no sul, Øst
por Jötunheimr já que está situado no leste, Nord por Niflheimr, pois fica no norte e
Vest por Ásgarðr já que o Valhöll é situado no oeste segundo o poema Helgakviða
Hundingsbana II. Sendo assim os 8 mundos representam os 8 pontos do Eykt e a
Fazenda representa o planeta Terra ou Miðgarðr. Os escandinavos provavelmente
observaram na natureza que o sol (a Sól) passava pela nossa Terra e na direção dos
outros 8 mundos pelo céu. Se traçarmos linhas na figura acima do Eykt teremos uma
forma similar a da runa Hagall do Jovem Fuþark. O poema rúnico Norueguês associa
Hagall (hh) com a criação do mundo, no Antigo Fuþark essa runa representa o número 9
h) e foi 9 noites que Óðinn ficou pendurado na Yggdrasill para alcançar as runas. Se
(h
Óðinn estava na raiz perto de Mímir (Hávamál 138-142, Sigrdrífumál 13-18,
Gylfaginning 15) então ele estava num ponto onde ele via os outros oitos (8 + 1 = 9). Na
7
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
imagem acima substitua a Fazenda (Gården) por Óðinn e o sol pela direção de um dos 8
mundos e vocês entenderam o que eu digo.
Vale lembrar que os raios do sol (a Sól) possuem várias formas vistas da Terra. Mas
veremos a seguir algumas fotos com 8 e com 6 raios. Veja abaixo fotos do sol formando
8 raios:
http://www.psdgraphics.com/backgrounds/blue-sky-with-sun/
http://www.wisegeek.org/what-is-the-warmest-time-of-the-day.htm#
Outra coisa deve ser levada em consideração: o símbolo mágico conhecido como
“Vegvisir” (“Conhecer o Caminho”) pode ter conexões solares. No tardio Manuscrito
Huld é dito que aquele que portar esse sinal nunca se perdera do seu caminho na
tempestade ou mal tempo mesmo se ele não o conhecer (era usado tipo como uma
bússola apontando as direções). É possível que esse símbolo fosse conhecido desde a
era viking, contudo é apenas especulação. Veja abaixo o símbolo Vegvisir e note a sua
semelhança com a imagem acima do sol (da Sól) com 8 raios.
8
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Veja agora fotos do sol formando 6 raios. É interessante notar na foto abaixo que há 6
raios proeminente, porém dá para notar outros 6 raios mais fracos (6 + 6 = 12).
http://www.photos-public-domain.com/2011/11/19/bright-sun/
http://www.photos-public-domain.com/2011/03/02/sun-in-blue-sky/
9
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Os números de “pernas” que aparecem nessas rodas solares variam de três, seis, oito,
nove e doze (números associados aos deuses como foi mostrados antes neste mesmo
estudo e no anterior).
Na estela de Hellvi podemos ver três pernas dentro do maior círculo solar superior e
isso pode indicar os três níveis cósmicos por onde o sol (a Sól) percorre: céu, terra e o
submundo (ligado ao mundo dos mortos). Ou talvez os três maiores deuses dessa época:
Þórr, Óðinn e Týr. Existem dois círculos menores, porém um deles está fragmentado
(mas poderia ser quatro pernas indicando os dois solstícios e os dois equinócios). O
outro círculo menor possui uma forma semelhante à runa Hagall do Jovem Fuþark. As
suas sete pontas podem sugerir os sete dias da semana. A datação dessa estela
corresponde à data da correspondência feita pelos germânicos com os dias da semana
traduzida dos romanos feita ao redor do século 4. O número três aparece representado
simbolicamente na estela de Smiss, Götland, onde vemos uma possível Völva
segurando serpentes e animais aparecem sobre ela: um lobo (ou serpente?), uma águia e
um javali. O lobo é o animal associado com Óðinn (ele tem dois lobos e é inimigo de
Fenrir) e Týr (que ficou maneta depois de colocar a mão na boca do lobo Fenrir e
enfrentaria Garmr no Ragnarökr). A serpente é associada à Þórr (ele matou a colossal
Jörmungandr) e Óðinn (ele se transformou em serpente para entrar numa montanha para
obter o hidromel dos poetas). A águia aparece representada num pingente do martelo de
Þórr de Kabara na Suécia e esse mesmo deus havia matado o Jötunn Þjazi que havia
tomado à forma de águia quando perseguia Loki (mas esse animal também era
associado com Óðinn que tomou essa forma quando recuperou o hidromel dos poetas).
O javali era o animal de Freyr (que tinha o javali de ouro Gullinbursti) e Freyja (que
tinha o javali Hildisvín). Nerthuz, a Mãe dos Deuses, segundo Tácito, tinha o javali
10
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
como seu símbolo. O javali Sæhrímnir ficava no salão de Óðinn onde servia de alimento
aos Einherjar.
Algumas inscrições votivas romanas que se pensa ser associada com matronas
germânicas às vezes aparece sendo representadas como três (matronas Amfratninae,
Aufaniae, Alaferviae).
Uma pedra rúnica de Sanda Kyrka da Suécia (G 181) mostra o que se acredita ser o trio
Óðinn (com a lança), Þórr (com algo que se parece com um martelo ou clava) e Freyr
(com algo que se parece com uma foice de cortar a colheita ou chifre). A Triquetra que
simboliza o número três também pode ser visto na imagem. Veja figura abaixo:
11
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
solar vemos duas figuras que parecem ser lobos e eles podem ser a representação dos
lobos que perseguem a Sól (sol) e Máni (lua) ou então os cavalos que puxam o astro. O
Grímnismál conta que Óðinn possui dois lobos e um deles guarda a porta oeste do
Valhöll. O número seis aqui pode representar que as duas estações escandinava era
dividido por seis meses (Verão e Inverno). Os animais na representação pode confirmar
a descrição das Eddas onde os lobos perseguem os astros solar e lunar enquanto os
veados ficam na Yggdrasill mordendo suas raízes. O veado simboliza o verão (animal
associado à Freyr) e o lobo o inverno. Veja figura abaixo:
12
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Nela podemos ver o círculo solar de seis pernas que podem simbolizar uma estação de
seis meses por onde a Sól atravessa. Se os dois animais abaixo do círculo solar
representar cavalos então eles estão puxando o astro, mas se representarem lobos então
eles são os que perseguem o sol e a lua.
Há outra estela encontrada em Hellvi em Götland, Suécia, onde aparece outro círculo
solar com seis pernas e dois cavalos, possivelmente representando os corcéis de Sól.
A estela de Sanda eu expliquei em meu outro estudo (a 1º parte), mas ainda sim a
representação desse monumento lembra os oito períodos do tempo do dia (Eykt, ou seja,
“Octeto” ou “Oitavo”). O número oito aparece três vezes nessa estela (no maior círculo
13
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
e nos dois menores). O número oito simboliza fim de ciclo (o anel Draupnir se copia
nove vezes a cada nove noites, as runas eram divididas em três famílias de oito). O
número oito ainda aparece simbolizado pelas oito esferas representadas acima do barco.
Veja figura abaixo:
14
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Na Estela de Sanda ainda podemos ver uma forma que parece ser um dragão bem
abaixo da árvore e pode ser uma representação de Níðhöggr. As oito pernas do maior
círculo solar pode ser a representação do Eykt (“Octeto” ou “Oitavo”). Na Estela de
Sanda ainda pode ser vista uma representação que pode ser os Nove Mundos no Eykt
(segundo círculo da primeira imagem). Veja figura abaixo:
Nela podemos ver o círculo do centro sendo circulado por oito círculos e isso nos faz
pensar nos Nove Mundos com Miðgarðr ao centro. Comparando com a segunda figura
do Eykt podemos ver notáveis semelhanças. A Fazenda (Farm) na figura poderia
simbolizar Miðgarðr, a Terra, e as outras direções seriam os oito mundos (isso foi dito
acima).
Outra estela de Martebo que também é datado de 400-600 contém uma suástica
simbolizando o sol (a Sól) e oito espirais. É possível que represente a jornada da Sól
pelos oito pontos do Eykt.
15
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
A Grænlendinga Saga menciona que os homens sabiam discernir os pontos do Eykt por
onde a Sól atravessa: “O sol (Sól) passava nos pontos do Eykt e na “marca do dia” no
período dos dias mais curtos”.
Na estela de Bro encontrada na Suécia podemos ver o círculo solar com nove pernas
talvez representando os Nove Mundos. O nove é um número muito importante para os
escandinavos assim como o três. O interessante dessa representação é que podemos
identificar o número nove (as pernas) e o oito (círculos) atrás das espirais; e 9 x 8 é
igual a 72. Adam de Bremen contou 72 vitimas penduradas no templo de Uppsala; e a
precessão de equinócios traça um par de cones aproximadamente há 25.920 anos que
equivalem a 1º grau a cada 72 anos.
16
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Nessa estela de Bro Kyrka podemos ver outros dois círculos menores de seis pernas e
outro de sete pernas. O de seis pernas tem a suástica no centro e pode simbolizar que o
sol (a Sól) atravessa cada estação, Verão e Inverno, a cada seis meses ou talvez
simbolizar os dois solstícios e os dois equinócios. O de sete pernas pode indicar os sete
dias da semana.
Existe outra estela de Bro com doze pernas, porém está fragmentada. O simbolismo
dessa estela pode ser a mesma da anterior.
17
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
18
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Detalhe dos guerreiros. O escudo de um deles parece ter uma suástica desenhada.
O rúnatal do Hávamál é associado às 16 runas porque nessa época era usada essa
numeração, pois os escandinavos já havia trocado o Antigo Fuþark de 24 runas pelo
Jovem Fuþark de 16 runas. O poema rúnico Islandês associa a décima primeira runa s
(Sól) ao escudo (“Sól é o escudo das nuvens; e um raio brilhante; e destruidor do gelo”).
Aqui podemos notar que a Sól derrete o gelo e isso faz dela a inimiga dos Hrimþursar
(“Gigantes de Gelo”).
19
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Guerreiros e Valkyrjur associados à suástica e ao sol (a Sól) em artefatos escandinavos e pedras rúnicas.
1) A Valkyrja foi encontrado em Suffolk, Inglaterra. 2) Guerreiro a cavalo e Valkyrja encontrado em
Tissø, Dinamarca. 3) Guerreiro a cavalo servido por uma Valkyrja, Stenkyrka, Suécia. 4) Valkyrja com
escudo, Dinamarca. 5) Guerreiro a cavalo servido por Valkyrja, Tängelgårda, Suécia.
É fácil de compreender isso, pois os guerreiros imaginavam que fazendo isso estariam
invocando o poder divino celeste e solar para lhes garantir a vitória. As criaturas
sobrenaturais temem a luz solar: Trolls e Dvergar (“Anões”). O poema Helgakviða
Hundingsbana I estrofe 15 associa as Valkyrjur com raios e luz. Óðinn é associado à
suástica (nos Bracteates) e Þórr também. A suástica nada mais é do que a fusão de duas
runas s (*Sowilo/Sól). Veja abaixo:
Figura 4.
A espada de Sæbø, embora muito contestada o seu significado, possui uma suástica em
sua lâmina provavelmente chamando a vitória, boa sorte e sucesso na batalha. Veja
abaixo:
20
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Espada de Sæbø.
(https://en.wikipedia.org/wiki/S%C3%A6b%C3%B8_sword#/media/File:Thurmuth_Rune_Sword_Inscri
ption.jpg)
A espiral ao que parece já era associado ao sol (a Sól) desde a idade do bronze nórdico
que começou a cerca de 1800/1700 a.c.. Veja imagem abaixo:
21
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
A união de duas espirais, uma colocada sobre a outra, como na imagem de Uppland na
pagina anterior, gera uma suástica (ao que tudo indica a espiral era associado ao sol e ao
poder celeste e talvez com a vitória), veja abaixo:
22
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
E = Leste, S = Sul, O = Oeste e N = Norte. Programa Stellarium acessado 29/01/2017. Eu usei a data do
ano (874 d.C.) da colonização da Islândia no Landnámabók.
E = Leste, S = Sul, O = Oeste e N = Norte. Programa Stellarium acessado 29/01/2017. Roda Solar vista
da Islândia como se fosse no ano 874 d.C. (data do Landnámabók).
23
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Vejo muitos dizerem (e acreditar) que as Nornir regem o destino dos deuses e por isso
acontecerá o Ragnarökr. Tudo isso por causa da morte de Baldr contado nas duas Eddas
onde ele é um deus, mas ignoram a Gesta Danorum onde Baldr é um semideus e sua
morte não traz nenhum fim (morte) dos outros deuses e as genealogias dos reis Anglo-
saxões onde Bældæg/Baldag (Baldr) é filho de Woden (Óðinn) e semideus/herói. Para
isso temos algumas hipóteses:
O nome Anglo-Saxão de Baldr: Bældæg ou Baldag, nos mostra sua conexão com o dia
e a luz (dæg/dag = dia) e talvez indique que ele seja um deus do dia, por isso morria e
renascia como o tempo do dia (morre ao entardecer e renasce de dia), por isso ele tinha
24
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
que morrer, senão não haveria noite. A palavra Áss, ou seja, “Deus” (plural Æsir ou
“Deuses”) tem conexão com luz e brilho, pois são formados por deus a e sol s, alguns
deuses dessa raça são descritos como brilhantes tais como: Heimdallr, Dellingr e Dagr.
Talvez por isso os Æsir tentassem protege-lo, mas as Nornir que trazem a vida e o fim
dela então decretaram sua morte, pois senão seria um dia eterno (sem noite, e ainda
Nornir são relacionadas à noite e com a lua no Helgakviða Hundingsbana I estrofes 2 e
3). Os Jötnar (“Gigantes”) ao qual família Loki faz parte adoram a escuridão (o gigante
construtor dos muros de Ásgarðr queria a Sól (o sol), Máni (a lua), e Freyja (a
fertilidade) como pagamento para mergulhar o universo em escuridão e esterilidade, os
lobos Sköll e Hati perseguem os astros solar e lunar com essa mesma intenção) e ele é o
que traz a morte de Baldr usando Höðr.
Primeiro devemos entender o papel das Nornir para então tentar descobrir o real
significado disso. Todos sabem que as Nornir trazem o nascimento e regem os destinos
dos homens e isso é atestado em várias fontes.
“Nenhum homem pode resistir às palavras de Urðr”. “Urðar orði viðr engi maðr”
(Fjölsvinnsmál 47).
“O destino não pode ser vencido”. “Mun-at sköpom vinna” (Grípisspá 53).
“Filho de reis as Nornir moldaram o destino”. “Skjöldunga niðr fyr Sköpum Norna”
(Fáfnismál 44).
“Ele [também] não podia escapar de seu destino”. “Mátti hann ok eigi við sköpum
vinna” (Völsunga Saga 30).
“Mas ninguém pode resistir ao seu destino”. “En engi má við sköpum vinna” (Völsunga
Saga 30).
“E não podia escapar de seu destino”. “Mátti ok eigi við sköpum vinna” (Völsunga Saga
33).
“Mas ninguém pode resistir ao seu destino”. “En engi má við sköpum vinna” (Völsunga
Saga 36).
“Isso é naturalmente verdade, dizer que ninguém pode combater contra o destino”. “Þat
er þó satt at segja, at eigi má við sköpunum sporna” (Vatnsdæla Saga 15).
“A multidão de príncipes não pode resistir ao destino”. “Eigi má við örlög bægjask
Jófra sveit” (Óláfr Hvítaskáld 2, 6, 3).
25
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
“Nenhum homem vive até a noite quando as Nornir têm decretado”. “kveld lifir maðr
ekki eftir kvið Norna” (Hamðismál).
Em alguns trechos citados podemos perceber que o destino se aplica aos homens e
heróis. Mas noutras fontes elas estão associadas ao infortúnio dos Dvergar (“Anões”):
Fáfnir e Andvari.
Há outras passagens muito curiosas nas fontes sobre os deuses e as estrelas e uma se
refere à Starkáðr por Saxo na Gesta Danorum livro 6: Starkáðr disse: “Eu serei levado
às estrelas num fim tranquilo/leni morte fruar placidoque sub astra levandus?”
26
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Tácito nos Anais livro 13 55 menciona que o rei da tribo germânica dos Ampsivários,
Boiocalus, havia dito que o céu era dos deuses como a terra é para os homens (lugar
para habitação), e ele olhando para o sol invocou os outros corpos celestes
(Chamavorum quondam ea arva, mox Tubantum et post Usiporum fuisse. sicuti caelum
deis, ita terras generi mortalium datas; quaeque vacuae, eas publicas esse. solum inde
suspiciens et cetera sidera vocans quasi coram interrogabat, vellentne contueri inane
solum: potius mare superfundere[nt] adversus terrarum ereptores).
Alguns decretos eclesiásticos proibiam a adoração do sol, da lua, das estrelas e mesmo
sinais astrais e eclipses porque eram práticas pagãs (Decretum: canon Episcopi de
Burcardo, bispo de Worms).
Esses exemplos mostram que os povos germânicos acreditavam que os astros tinham
poder sobre eles e seus destinos. A moradia dos deuses é descrita como sendo no céu
por Boiocalus, o rei dos Ampsivários; ainda Starkáðr associa sua morte à jornada para
as estrelas. Seria essas citações uma evidência de que os povos germânicos acreditavam
que os deuses regiam o destino de suas moradas celestes que talvez correspondessem às
constelações?
Snorri Sturluson ainda contou no Gylfaginning que acima do céu (himinn) de Miðgarðr
fica Andlangr que é um céu que fica no sul, e Víðbláinn fica acima dele. Ele ainda citou
9 céus no Nafnaþulur: Vindbláinn (“Vento Negro”) que é o céu mais baixo, isso é
chamado de Heiðþyrnir (“Espinho Brilhante”), e também de Hreggmímir (“Mímir da
Tempestade”); Andlangr (“Amplamente Extenso”) é o 2º céu; Víðbláinn (“Amplamente
Azul/Negro”) é o 3º céu; Víðfeðmir (“Amplo Abraçador”) é o 4º céu; Hrjóðr
(“Cobertura”); Hlýrnir (“Firmamento”) é o 6º céu; Gimir (“Ardente” ou “Cheio de
Joias”); Vetmímir (“Inverno de Mímir”) é o 8º céu; e Skatyrnir (“Rico em Umidade”)
que é o 9º céu, que fica fora de todos os mundos. Não há como ter certeza se essa
“hierarquia” celestial dos 9 céus de Snorri é a ordem a seguir ou se é apenas uma
27
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
numeração não específica, pois a ordem muda no Þulur. Ainda no Þulur são citados
outros nomes para céu: Heimr (aqui essa palavra significa um “Local do Céu”, exemplo
Uppheimr que é como os Jötnar chamam o céu), Hreggmímir, Himinn (palavra usada
pelos homens para designar o “Céu” de Miðgarðr), Skatyrnir, Víðbláinn, Andlangr,
Vetmímir, Gimir, Vindbláinn, Víðfeðmir, Hrjóðr, Hlýrnir, Leiptrhrjóðr (aqui
provavelmente é um erro do copista que misturou Leiptr com Hrjóðr, mas são duas
coisas diferentes) e Heiðornir (ou Heiðþornir ou Heiðþyrnir).
O poema Alvíssmál menciona 6 céus conhecidos e chamados por 6 raças: 1º) Himinn
(“Céu”) para os homens, 2º) Hlýrnir (“Firmamento”) para os deuses, 3º) Vindófnir
(“Tecelão dos Ventos”) para o Vanir, 4º) Uppheimr (“Mundo Superior”) para os Jötnar,
5º) Fagraræfr (“Teto Formoso”) para os Álfar e 6º) Drjúpansal (“Salão das Chuvas”)
para o Hel.
Cada mundo tem seu próprio céu e as casas dos deuses parecem ligadas a eles:
Þrymheimr fica em Jötunheimr e Ýdalir parece ficar em Álfheimr. Desse modo as 12
casas dos deuses abrange regiões do céu que ficam nesses 9 mundos.
Assim é muito possível que os 9 céus, que fica uns por cima dos outros, represente os
céus dos 9 mundos e os 12 céus as 12 partes do céu/zodíaco, onde ficava as casas dos
deuses. E como mencionei antes: 12 multiplicado por 9 da 108. 108 representam 1.080
que é a metade de 2.160 que é uma era zodiacal. O Valhöll possui 540 portas e o
Bilskírnir tem 540 quartos que somados dão 1.080. Agora 1.080 multiplicado por 12 são
igual a 12.960 que é a metade de 25.920 que é o ciclo total da precessão de equinócios.
Agora 12 (regiões do céu) x 9 (céus) x 6 (denominações de céu no Alvíssmál) = 648 que
representa 6.480 que equivale a 3 eras zodiacais de 2.160 anos.
28
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
29
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
O teônimo Tysnes em Sunnhordaland na Noruega (e único desse deus nesse país) nos
da evidência de que as divindades nórdicas eram associadas ao céu, aos solstícios e aos
equinócios. Tysnes significa “Promontório de Týr”. Nesse local havia uma especial
relação com o sol nos quatro pontos da mudança do ano: os dois equinócios e os dois
solstícios. Logo que o sol se ponha atrás das montanhas em cada noite do equinócio ou
30
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Não podemos deixar de lembrar que em várias religiões antigas os deuses regem os
meses do ano e/ou casas zodiacais: para os gregos e romanos cada mês é regido por um
dos 12 grandes deuses Olímpicos, para os hindus os 12 Adityas regem o sol e os meses
(o número varia entre 7, 8 e 12), para os egípcios as 12 constelações eram associadas
aos deuses (no templo de Dendera) e para os babilônicos cada deus regia um mês do
calendário. É uma ideia existente na mente do povo da antiguidade mesmo estando
longe uns dos outros, ou pela troca de cultura e conhecimentos, ou pela observação da
natureza.
Se olharmos o céu noturno da Islândia numa noite sem nuvens notaremos que as
estrelas giram no céu em forma de espiral por estarem num dos polos. Essa pode ter
31
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
sido a origem das espirais representadas na arte escandinava, embora seja apenas uma
suposição minha.
1 2 3 4
Figura ao centro usa capacete cônico semelhante aos encontrados na Alemanha e França, Tossene,
Suécia.
32
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Na imagem abaixo podemos ver personagens usando chapéus cônicos (semelhante aos encontrados na
Alemanha e França) ao lado da roda solar e um machado, Tossene, Suécia.
A roda solar representada ao lado dos homens com os chapéus cônicos acima parece
confirmar a associação desses objetos com o calendário, o sol (a Sól) e ao uso religioso.
Vale lembrar que o uso do calendário e mesmo sua criação era essencial para o plantio,
colheita, marcação do tempo e festivais religiosos. O machado é associado ao antigo
deus do céu e do trovão da Idade do Bronze. Na tumba real de Kivik, que se encontra na
Suécia e também datada da Idade do Bronze, há uma representação onde podemos ver o
machado e a roda solar lado a lado.
Homens com chapéus cônicos semelhantes aos encontrados na Alemanha e França dançando. Bohuslän,
Suécia.
http://www.megalithic.co.uk/modules.php?op=modload&name=a312&file=index&do=showpic&pid=15
754
33
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Figura ao centro usa um capacete similar aos encontrados na Alemanha e França. Gothenburg, Tanum,
Suécia.
O estudo detalhado do Chapéu de Berlim (Foto 2 da pagina 32) nos mostra um possível
calendário lunissolar (calendário baseado nos movimentos da lua e do sol, que era
necessário um 13º mês a certos anos para acerta-lo). O antigo calendário Islandês tinha
12 meses, mas era necessário adicionar dias para acerta-lo.
A ilustração retrata a representação solar à esquerda e a lunar à direita. Os campos vermelhos ou azuis nas
zonas 5, 7, 16 e 17 são zonas intercalares. https://en.wikipedia.org/wiki/File:Berliner_Goldhut-
Kalenderfunktion1.JPG
34
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Na ilustração podemos ver o que se acredita ser a representação solar no lado esquerdo
e o lunar no lado direito. Cada anel ou símbolo representaria um dia. Há faixas
ornamentais que incorporam diferentes números de anéis e também símbolos especiais e
zonas intercalares, que teriam de ser adicionadas ou subtraídas dos períodos em questão.
Não foi até o momento decifrado todo o significado do Chapéu de Berlim, mas são
possíveis algumas suposições. Em princípio, começando com a zona Zi, uma soma é
conseguida adicionando um número contíguo relevante de seções vizinhas: Zi .. Zi + n.
Para alcançar o valor lunar ou solar equivalente, a partir desta soma inicial deve ser
subtraída a soma dos símbolos da(s) zona(s) intercalar(es) dentro da área contada.
Através deste sistema, os Chapéus Dourados podem ser usados para calcular um
sistema de calendário lunissolar, isto é, uma leitura direta em datas lunares ou solares,
bem como a conversão entre elas.
A tabela pode ser usada da mesma forma que os Chapéus de Ouro originais. Para
determinar o número de dias em um período de tempo específico (campos amarelos), os
valores dos campos coloridos acima são adicionados, atingindo uma soma
intermediária. Se algumas das zonas intercalares vermelhas estiverem incluídas, sua
soma deve ser subtraída. Isto permite o cálculo de 12, 24, 36, 48, 54 e 57 meses
sinódicos no sistema lunar e de 12, 18, 24, 36, 48, 54 e 57 meses de sol (isto é,
duodécimos de um ano tropical). Exemplo:
35
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
também possui conexão solar e ligação com os solstícios. Posteriormente essa rota era
usada pelos vikings. Em 1.684 o pesquisador do antiquário sueco Johan Hadorph contou
que este local era usado, em antigos dias, para sacrifícios aos deuses. A 5 km de
Rösaring ficam os locais (teônimos) chamados Härnevi e Ullevi que representa
respectivamente os santuários/templos (vé em Nórdico Antigo) dos deuses Härn (Hörn
= Freyja) e Ullr.
36
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
sinais de sacrifício de animais. O altar de pedra desse templo era circular de cerca de 15
metros de diâmetro e quase 1 metro de altura. O centro da construção a poucos metros
era retangular, com uma planta de 5,3 x 4,5 metros, e foi criado com 12 vigas, cada um
delas tendo uma base firme de pedra. E tendo traços de 4 vigas que poderia ser
evidência de um alto assento ou altar para divindades. Podemos ver semelhanças dessa
descrição do templo na Eyrbyggja Saga (Þórólfr desmontou o pilar do assento com a
imagem de Þórr de seu lar e foi para Islândia onde ele demarcou o local com fogo). As
12 vigas poderia também simbolizar 12 deuses ou os 12 meses do ano.
Numa das ilhas da Dinamarca, Copenhagen, foi descoberto uma fortaleza em forma de
anel, ou seja, circular conhecida como Trelleborg ou Borgring de 1.000 anos (datado do
século 10 D.C.). Essa estrutura tem 144 metros de diâmetro e foi descoberta com a
ajuda de equipamentos a laser que mapeiam o solo e o que está abaixo dele, criando um
modelo em 3D da região. Contudo, eu devo dizer que nem todas as Trelleborgs
escandinavas encontradas possuem essas mesmas medidas. Porém, as da Dinamarca
possuem quatro entradas uma em cada ponto cardeal (Norte, Sul, Leste e Oeste).
Esses exemplos citados acima mostra que os antigos escandinavos usavam números
sagrados na geometria para construção. O mais interessante desses exemplos é que
alguns deles são pré-cristãos, ou seja, totalmente pagãos.
Vale lembrar que os números 6, 12, 18, 24, 48, 54, 72, 144, 216, 432, 540, 864 e
10.368 foram explicados nas paginas 3, 4, 5, 6 e 17 desse mesmo estudo.
Como nós podemos notar através desse estudo, é muito possível que os antigos
escandinavos conheciam um calendário pré-cristão e tinham conhecimento astronômico
(e Zodíaco próprio) avançado. Não pode ser apenas coincidência os mesmos números se
repetirem ocultamente nos três Ættir rúnicos, no poema Grímnismál, nos Chapéus de
Ouro, nas estelas e runestones (exemplos: 3, 6, 9, 12, 24, 48, 54 (ou 540), 108 (ou
1.080), 216 (ou 2.160), 432 (ou 432.000) e etc.). Isso pode ser a evidência de um padrão
37
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
sobre como esse antigo povo enxergava e entendia os céus e passava esse conhecimento
oralmente e ocasionalmente deixando pistas gravadas aqui e ali.
No Þulur os 9 céus dos 9 mundos são mencionados (como já foi dito antes: Vindbláinn
ou Heiðþyrnir ou Hreggmímir é o 1º, Andlangr o 2º, Víðbláinn o 3º, Víðfeðmir o 4º,
Hrjóðr o 5º, Hlýrnir o 6º, Gimir o 7º, Vetmímir o 8º e Skattyrnir o 9º), no Alvíssmál são
6 denominações de céu de 6 raças (Himinn, Hlýrnir, Vindófni, Uppheimr, Fagraræfr e
Drjúpansal) e 12 céus são mencionados novamente no Þulur (Hlýrnir, Heiðþornir,
Hreggmímir, Andlangr, Ljósfari, Drífandi, Skatyrnir, Víðfeðmir, Vetmímir, Leiptr,
Hrjóðr, Viðbláinn). Embora haja discrepância, há explicação para isso: 6 céus aparece
no Alvíssmál porque apenas 6 raças aparecem citadas na estrofe em questão até porque
a literatura Eddica menciona 9 mundos; como há nove mundos então há 9 céus uns por
cima dos outros; e os 12 céus mencionados por último podem ser regiões celestes dos 9
mundos ou o local onde ficam alojados. Isso parece ser confirmado porque num dos
Þulur Hreggmímir também é chamado de Vindbláinn (não confundir com Víðbláinn) e
Heiðþyrnir como sendo apenas um; e noutro Hreggmímir e Heiðþyrnir são separados,
então é provável que ambos sejam relacionados e estejam no mesmo setor celeste.
38
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Brilhante” e folclórica de
isso associa o Ketill Runske
espinho aos Óðinn é
líquidos que associado ao
sai de chifres touro.]
tais como o
chifre de
Mímir, ou
talvez o Són,
Boðn e
Óðrerir, ainda
a runa U
significa chuva
e é associado
ao cifre de
Auroque]
v Annar Mánuðr, Hreggmímir Þrymheimr Tz [Gigante e
Eggtíð, Stekktíð ou [o nome Templo?,
Skerpla significa Jötunheimr talvez uma
“Tempestade alusão aos
de Mímir” olhos de Þjazi
indicando o ou talvez a
local da fonte fonte de
da sabedoria] Mímir já que
Algiz é
associado ao
pântano]
b Þriði Manuðr ou Andlangr Breiðablik as [Deus e
Sólmánuðr [“Amplamente Sól, mês de
Extenso”] verão, talvez
represente
Baldr na pira,
as estrelas da
constelação de
Câncer
lembram a
proa de um
barco viking,
e o navio de
Baldr é o
“Proa
Encurvada”:
Hringhorni]
39
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
que é o
caminho para
a morada dos
deuses, ou
mesmo
Heimdallr
como
guardião do
caminho]
m Tvímánuðr ou Drífandi Fólkvangr kb [Fogo e
Kornskurðarmánuðr [“Borrifador” [Sessrúmnir] Bétula, talvez
ou simbolize
“Condutor”] morte e vida
que são
características
de Freyja já
que essa deusa
ajuda no parto
e escolhe os
mortos]
X Sétti Mánuðr ou Skatyrnir Glitnir ge [Dádiva e
Haustmánuðr [significa Cavaleiro em
“Rico em seu cavalo,
Umidade” ou talvez
“Topo do represente
Céu” e fica Forseti como
fora de todos doador da paz
os mundos] e justiça]
C Gormánuðr Víðfeðmir Nóatún wm [Alegria e
[“Amplo Homem,
Abraçador” ou talvez seja
“Amplamente uma alusão ao
Profundo”] sacrifício
Frøblót
realizado por
Haddingr por
ter matado
uma criatura
divina]
V Ýlir ou Frermánuðr Vetmímir Víði hl [Granizo e
[significa Fluxo, talvez
“Inverno de represente o
Mímir” e plano
simboliza onde galáctico, na
corre a fonte poesia dos
de Mímir que escaldos o
separa os céus, granizo é
interessante associado a
que se flechas]
separarmos os
40
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
12 sinais em 6
por 6 em
coluna
começando
com Áries,
Vetmímir
corresponderá
a Hreggmímir]
B Jólmánuðr, Leiptr Þrúðheimr nN
Hrútmánuðr ou [significa [Bilskírnir] [Necessidade
Mörsugur “Relâmpago” e Ing, talvez
e é também represente a
um dos rios falta de
que correm no fertilidade no
Hel saídos do Inverno
Hvergelmir, durante esse
ainda é dito no tempo no
Grímnismál norte, ou
que Þórr nada talvez
por rios simbolize
imensos escravos e
quando vai até reis, ou uma
Yggdrasill] referência a
Þórr como
deus herói nas
horas de
necessidades]
N Þorri Hrjóðr [“Céu” Ýdalir id [Gelo e
ou Álfheimr Dia, talvez
“Cobertura”] represente os
dias de gelo
no norte]
M Gói ou Góa Víðbláinn Valaskjálf jo [Ano e
[“Amplamente Herança,
Azul/Negro”] talvez
represente o
tempo final do
inverno e fim
de ano, ou
seria duas
focas brigando
pelo colar de
Freyja?]
Sinal [12 Céus] Casa Divina Sinal [12 Céus] Casa Divina
x [Hlýrnir] Sökkvabekkr X [Skatyrnir] Glitnir
c [Heiðþornir] Glaðsheimr C [Víðfeðmir] Nóatún
41
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
É muito possível que o calendário nórdico começasse no Verão (em Áries, lembrando
que para os escandinavos havia apenas 6 meses de Verão e 6 de Inverno) já que segundo
a cosmovisão pagã o primeiro mundo a existir é o do fogo e calor: Múspellsheimr;
depois o mundo de gelo e frio: Niflheimr. Assim é possível que eles seguissem essa
visão no calendário.
42
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Fontes Consultadas:
The Annals, por Tácito trad. Alfred John Church and William Jackson Brodribb
http://mcadams.posc.mu.edu/txt/ah/tacitus/
[Gesta Danorum] Saxo Grammaticus: History of the Danes, por Saxo Grammaticus
trad. Peter Fisher comentário de Hilda R. Ellis Davidson
Heimskringla: or, The Lives of the Norse Kings, por Snorri Sturluson trad. Samuel
Laing e revisão por Jacqueline Simpson and Peter Foote
The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses, Second Edition, por
George Hart
43
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Skáldskaparmál http://heimskringla.no/wiki/Sk%C3%A1ldskaparm%C3%A1l
Contradictory Cosmology in Old Norse Myth and Religion - but still a system?, por
Eldar Heide http://ojs.novus.no/index.php/MOM/article/view/226/224
44
As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco (Complemento) por Marcio A. Moreira
Esse estudo foi feito por Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði). Tentei manter-
me fiel em preservar os nomes originais contidos nas fontes. ® 2017
E-mail: asatruar42@hotmail.com
Proibido fazer cópia parcial ou total sem a autorização do autor. Estudo sem fins
lucrativos, pois a venda disso é proibida.
45