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Poder Judiciário do Estado de Sergipe

Central Plantonista 1º Grau - Aracaju

Nº Processo 201952100001 - Número Único: 0000005-83.2019.8.25.0034


Autor: ARIVALDO DE REZENDE
Réu: IVONI LIMA DE ANDRADE

Movimento: Julgamento >> Sem Resolução de Mérito >> Extinção >> ausência das condições da ação

ARIVALDO DE REZENDE ajuizou ação de reintegração de posse com pedido de tutela de


urgência movida em face deIVONI LIMA DE ANDRADE.

Aduz o autor, em síntese, ser presidente interino da Câmara de Vereadores de Itabaiana e que
a requerida, também vereadora, teria invadido as dependências da sede do Poder Legislativo e
realizado o rompimento de obstáculo (arrombamento da porta do gabinete do autor), tendo ali
se instalado e se autoproclamado presidente, esbulhando, desta forma, a posse do requerente.

Diante da necessidade de cessação do ato supostamente ilegal, pugna, liminarmente, pela


concessão da reintegração da posse e, ao fim, a procedência do pedido em todos os seus
termos.

Instruem a inicial os documentos avistáveis nas páginas 10/32.

Em petição de fls. 46/54 a requerida traz aos autos síntese dos fatos, aduz a inadequação da
via eleita, bem como não se tratar de matéria de plantão. Alega que o ato de nomeação do
autor como presidente interino do legislativo municipal ocorreu em ofensa à decisão judicial.
Por fim, requer o indeferimento dos pedidos e condenação por litigância de má-fé.

Após ter vista dos autos, o Ministério Público, por meio do Promotor de Justiça Plantonista,
pugnou pela não intervenção, cf. consta no parecer de fls. 123/ 124 dos autos materializados.

Em petição de fl. 126 a requerida informa que, por meio de ato administrativo, “após
orientação da assessoria jurídica efetiva da câmara de vereadores de
Itabaiana/SE, anulou o ato de nomeação (...) praticado pelo
ex-presidente José Teles de Mendonça, que empossou ARIVALDO DE REZENDE
”.

Assinado eletronicamente por SAMUEL RIGUEIRA DE CASTRO COUTINHO, Juiz(a) de Central Plantonista 1º Grau - Aracaju,
em 03/01/2019 às 19:32:16, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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É o que importa relatar.

Decido.

Trata-se de pedido de reintegração de posse em que figuram nos dois polos da demanda
vereadores municipais, tendo como objeto o gabinete da presidência da Câmara de Vereadores
de Itabaiana/SE.

Inicialmente, antes de adentrar na análise dos pressupostos da medida liminar pleiteada,


cumpre examinar as preliminares levantadas pela requerida, quais sejam, a competência do
juízo plantonista em apreciar a matéria e a inadequação da via eleita.

Com relação ao primeiro ponto, destaca-se que o Conselho Nacional de Justiça, por meio da
Resolução nº 71 de 31 de março de 2009, visando à promoção da objetividade e clareza aos
jurisdicionados e advogados que venham a se utilizar dos serviços judiciários em regime de
Plantão Judicial, promoveu a padronização das matérias e hipóteses que poderão ser
apreciadas em sede de Plantão Judiciário. Neste sentido, convêm colacionar o art. 1º da
Resolução nº 71 do CNJ, que assim verbera:

Art. 1º. O Plantão Judiciário, em primeiro e segundo graus de jurisdição,


conforme a previsão regimental dos respectivos tribunais ou juízos
destina-se exclusivamente ao exame das seguintes matérias:

a) pedidos de habeas-corpus e mandados de segurança em que figurar como


coator autoridade submetida à competência jurisdicional do magistrado
plantonista;

b) medida liminar em dissídio coletivo de greve;

c) comunicações de prisão em flagrante e à apreciação dos pedidos de


concessão de liberdade provisória;

d) em caso de justificada urgência, de representação da autoridade policial


ou do Ministério Público visando à decretação de prisão preventiva ou
temporária;

e) pedidos de busca e apreensão de pessoas, bens ou valores, desde que


objetivamente comprovada a urgência;

f) medida cautelar, de natureza cível ou criminal, que não possa ser


realizado no horário normal de expedienteou de caso em que da demora possa
resultar risco de grave prejuízo ou de difícil reparação.

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g) medidas urgentes, cíveis ou criminais, da competência dos Juizados
Especiais a que se referem as Leis nº 9.099, de 26 de setembro de 1995e
10.259, de 12 de julho de 2001, limitadas as hipóteses acima enumeradas.
(destaquei)

O artigo 7º da Resolução nº 27/2015, que regulamenta o Plantão Judiciário no Estado de


Sergipe, corrobora o assinalado acima.

O gabinete em questão é parte integrante da sede do Poder Legislativo municipal, sendo


destinado à operação e funcionamento da Casa. Cediço que as atividades legislativas
essenciais não podem ser objeto de interrupção, razão pela qual considero que a pretensão se
enquadra na alínea “f” do dispositivo acima transcrito.

Assim,passo ao exame do interesse processual, sob o prisma da adequação.

O Código de Processo Civil, em seu artigo 17, determina que “para postular em juízo é
necessário ter interesse e legitimidade”.

A doutrina debate acerca do alcance e elementos componentes do instituto do interesse de


agir. Parcela adota classificação dúplice (necessidade/utilidade; necessidade/adequação) ou
tríplice (necessidade/utilidade/adequação). Fato é que faz-se necessário perquirir acerca do
meio processual utilizado, consoante se extrai do escólio de Dinamarco, senão vejamos:

O que caracteriza o interesse processual ou interesse de agir é, em


síntese, o “binômio necessidade-adequação; 'necessidade concreta da
atividade jurisdicional e adequação de provimento e procedimento desejados
(DINAMARCO, Cândido Rangel, Execução Civil, 7.ª ed., São Paulo: Malheiros
Editores, 2000, 406).

No mesmo sentido, especificando o aspecto da via escolhida para viabilizar a pretensão, D


aniel Assumpção, assim ensina:

“Por adequação se entende que o pedidoformulado pelo autor deve ser apto a
resolver o conflito de interesseapresentado na petição inicial. Sendo a
lide consubstanciada numa resistência à pretensão de obtenção de um bem da
vida, cabe ao autor requerer uma prestação jurisdicional que seja apta a
afastar essa resistência, com isso liberando seu caminho para a obtenção do
bem da vida pretendido. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito
Processual Civil. 10ª ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 133) (destaquei)

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Necessário, pois, lançar os olhos no conflito de interesse subjacente e a tutela jurisdicional
pretendida.

É possível extrair dos autos que toda a causa de pedir tem origem em eleição para a mesa
diretora da Câmara Municipal de Itabaiana realizada no dia 23/10/2017, cujo mandato teria
início no dia 01/01/2019 (biênio 2019/2020).

Tal ato foi impugnado judicialmente por meio de mandado de segurança (201752101494),
julgado procedente pelo juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Itabaiana. Interposta apelação
(autuada sob o número 201800723379) a matéria ainda pende de julgamento. Tendo em vista
o recebimento da irresignação apenas no efeito devolutivo, restou ajuizado cumprimento
provisório de sentença (201852101618). Nestes autos fora deferida realização de novas
eleições. Ato seguinte, foi interposto agravo de instrumento (201800736153), em que houve
manifestação judicial, cujo dispositivo restou assim redigido:

Forte nestes motivos, defiro o efeito suspensivo pleiteado, a fim de


suspender o despacho impugnado, em razão da sua irreversibilidade.

Depreende-se da narrativa fática que oponto controvertido reside no alcance da parcialmente


transcrita decisão. Segundo o autor, o efeito suspensivo concedido encontra-se adstrito ao
cumprimento de sentença. De acordo com a requerida, a suspensão alcança a decisão
proferida em sede de mandado de segurança.

Imperiosa, portanto, a verificação se a Reintegração de Posse é adequada para dirimir a


controvérsia e entregar o bem da vida almejado.

As demandas possessórias têm previsão nos arts. 554 e ss. do CPC. Especificamente, o art.
560 do diploma processual dispõe que“O possuidor tem direito a ser mantido na posse em
caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho”.

Trata-se de procedimento especial que possui campo de cognição específico, mais restrito do
que o procedimento comum, consoante se observa da lição do já citado processualista Daniel
Assumpção:

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Como bem asseverado pela melhor doutrina, a característica da ação
possessória é a tutela de um possuidor contra um fato que ofenda a sua posse
, de forma que são excluídasdo âmbito das ações possessórias as demandas em
que se alegue a existência de relação jurídicaque dê ao autor direito à posse
, tais como a imissão de posse e a ação de nunciação de obra nova'. (op.
cit. p. 924) (destaquei)

Em suma, deve ser discutido quem tem a “melhor posse” sobre determinado bem.

O Código Civil de 2002, ao tratar da posse, adotou parcialmente a teoria objetiva de Ihering,
conforme se infere do art. 1.196, in verbis: considera-se possuidor todo aquele que
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade”. Assim, basta o exercício de um dos atributos do domínio para que a pessoa
seja considerada possuidora.

Destarte, imprescindível verificar a natureza da coisa pretendida.

Urge destacar, uma vez mais, que o objeto de disputa é o gabinete da presidência da Câmara
de Vereadores. Incontroverso que possui natureza de bem público de uso especial, destinado a
fins públicos, em decorrência da vontade do poder público.

Ante a afetação do bem, o regime jurídico aplicável é o de direito público, não se aplicando os
institutos regidos pelo direito privado. A propriedade pública do bem traduz-se em patrimônio
indisponível. Nesses termos, a doutrina atribui as características da inalienabilidade e, como
decorrência desta, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade e a impossibilidade de oneração.

Partindo-se dessa premissa, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sedimentou


entendimento pela impossibilidade da discussão da posse quando o bem for público, senão
vejamos:

EMBARGOS DE TERCEIRO - MANDADO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - OCUPAÇÃO


IRREGULAR DE ÁREA PÚBLICA - INEXISTÊNCIA DE POSSE - DIREITO DE RETENÇÃO NÃO
CONFIGURADO.

1. Posse é o direito reconhecido a quem se comporta como proprietário.


Posse e propriedade, portanto, são institutos que caminham juntos,não
havendo de ser reconhecer a posse a quem, por proibição legal, não possa
ser proprietário ou não possa gozar de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade.

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(REsp 556.721/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em


15/09/2005, DJ 03/10/2005, p. 172)

Registra-se que não se desconhece precedente do STJ encartado no Resp 1.296.964.Ocorre


que, ao se realizar distinguish,observa-se que no presente caso o bem público é de uso
especial (e não dominical), bem como os litigantes são membros do parlamento municipal – e
contendem como tal – não se confundindo com particulares.

Patente queo bem da vida pretendido não é o acesso ao gabinete da presidência, mas sim a
própria presidência da Casa Legislativa. Assim o verdadeiro objeto buscado é a chancela
judicial de quem seria de direito o Presidente da Câmara Municipal.

Para conceder a prestação jurisdicional almejada seria necessário apreciar a legalidade e


(in)validade do ato de nomeação do requerente como “presidente interino”, que não foi
impugnado judicialmente.

Cristalino que o reduzido âmbito reduzido das matérias veiculadas nas demandas possessórias
impedem a apreciação da controvérsia em sua total profundidade, assim como não é o meio
hábil a resolver a celeuma instaurada.

Desse modo, consoante explicitado, a via eleita não é adequada para solucionar o conflito.
Portanto, não há interesse processual (de agir) do autor.

Ante o exposto, INDEFIRO A PETIÇÃO INICIAL e, via de consequência, extingo o


processo, sem resolução de mérito, nos termos dos arts. 330, III; 354 e; 485, I e VI, todos do
Código de Processo Civil.

Custas pelo autor.

P.R.I.

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COUTINHO, Juiz(a) de Central Plantonista 1º Grau - Aracaju, em 03/01/2019, às
19:32:16, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.

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preenchimento do número de consulta pública 2019000000791-34.

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