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Movimento: Julgamento >> Sem Resolução de Mérito >> Extinção >> ausência das condições da ação
Aduz o autor, em síntese, ser presidente interino da Câmara de Vereadores de Itabaiana e que
a requerida, também vereadora, teria invadido as dependências da sede do Poder Legislativo e
realizado o rompimento de obstáculo (arrombamento da porta do gabinete do autor), tendo ali
se instalado e se autoproclamado presidente, esbulhando, desta forma, a posse do requerente.
Em petição de fls. 46/54 a requerida traz aos autos síntese dos fatos, aduz a inadequação da
via eleita, bem como não se tratar de matéria de plantão. Alega que o ato de nomeação do
autor como presidente interino do legislativo municipal ocorreu em ofensa à decisão judicial.
Por fim, requer o indeferimento dos pedidos e condenação por litigância de má-fé.
Após ter vista dos autos, o Ministério Público, por meio do Promotor de Justiça Plantonista,
pugnou pela não intervenção, cf. consta no parecer de fls. 123/ 124 dos autos materializados.
Em petição de fl. 126 a requerida informa que, por meio de ato administrativo, “após
orientação da assessoria jurídica efetiva da câmara de vereadores de
Itabaiana/SE, anulou o ato de nomeação (...) praticado pelo
ex-presidente José Teles de Mendonça, que empossou ARIVALDO DE REZENDE
”.
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em 03/01/2019 às 19:32:16, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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É o que importa relatar.
Decido.
Trata-se de pedido de reintegração de posse em que figuram nos dois polos da demanda
vereadores municipais, tendo como objeto o gabinete da presidência da Câmara de Vereadores
de Itabaiana/SE.
Com relação ao primeiro ponto, destaca-se que o Conselho Nacional de Justiça, por meio da
Resolução nº 71 de 31 de março de 2009, visando à promoção da objetividade e clareza aos
jurisdicionados e advogados que venham a se utilizar dos serviços judiciários em regime de
Plantão Judicial, promoveu a padronização das matérias e hipóteses que poderão ser
apreciadas em sede de Plantão Judiciário. Neste sentido, convêm colacionar o art. 1º da
Resolução nº 71 do CNJ, que assim verbera:
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g) medidas urgentes, cíveis ou criminais, da competência dos Juizados
Especiais a que se referem as Leis nº 9.099, de 26 de setembro de 1995e
10.259, de 12 de julho de 2001, limitadas as hipóteses acima enumeradas.
(destaquei)
O Código de Processo Civil, em seu artigo 17, determina que “para postular em juízo é
necessário ter interesse e legitimidade”.
“Por adequação se entende que o pedidoformulado pelo autor deve ser apto a
resolver o conflito de interesseapresentado na petição inicial. Sendo a
lide consubstanciada numa resistência à pretensão de obtenção de um bem da
vida, cabe ao autor requerer uma prestação jurisdicional que seja apta a
afastar essa resistência, com isso liberando seu caminho para a obtenção do
bem da vida pretendido. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito
Processual Civil. 10ª ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 133) (destaquei)
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Necessário, pois, lançar os olhos no conflito de interesse subjacente e a tutela jurisdicional
pretendida.
É possível extrair dos autos que toda a causa de pedir tem origem em eleição para a mesa
diretora da Câmara Municipal de Itabaiana realizada no dia 23/10/2017, cujo mandato teria
início no dia 01/01/2019 (biênio 2019/2020).
Tal ato foi impugnado judicialmente por meio de mandado de segurança (201752101494),
julgado procedente pelo juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Itabaiana. Interposta apelação
(autuada sob o número 201800723379) a matéria ainda pende de julgamento. Tendo em vista
o recebimento da irresignação apenas no efeito devolutivo, restou ajuizado cumprimento
provisório de sentença (201852101618). Nestes autos fora deferida realização de novas
eleições. Ato seguinte, foi interposto agravo de instrumento (201800736153), em que houve
manifestação judicial, cujo dispositivo restou assim redigido:
As demandas possessórias têm previsão nos arts. 554 e ss. do CPC. Especificamente, o art.
560 do diploma processual dispõe que“O possuidor tem direito a ser mantido na posse em
caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho”.
Trata-se de procedimento especial que possui campo de cognição específico, mais restrito do
que o procedimento comum, consoante se observa da lição do já citado processualista Daniel
Assumpção:
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Como bem asseverado pela melhor doutrina, a característica da ação
possessória é a tutela de um possuidor contra um fato que ofenda a sua posse
, de forma que são excluídasdo âmbito das ações possessórias as demandas em
que se alegue a existência de relação jurídicaque dê ao autor direito à posse
, tais como a imissão de posse e a ação de nunciação de obra nova'. (op.
cit. p. 924) (destaquei)
Em suma, deve ser discutido quem tem a “melhor posse” sobre determinado bem.
O Código Civil de 2002, ao tratar da posse, adotou parcialmente a teoria objetiva de Ihering,
conforme se infere do art. 1.196, in verbis: considera-se possuidor todo aquele que
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade”. Assim, basta o exercício de um dos atributos do domínio para que a pessoa
seja considerada possuidora.
Urge destacar, uma vez mais, que o objeto de disputa é o gabinete da presidência da Câmara
de Vereadores. Incontroverso que possui natureza de bem público de uso especial, destinado a
fins públicos, em decorrência da vontade do poder público.
Ante a afetação do bem, o regime jurídico aplicável é o de direito público, não se aplicando os
institutos regidos pelo direito privado. A propriedade pública do bem traduz-se em patrimônio
indisponível. Nesses termos, a doutrina atribui as características da inalienabilidade e, como
decorrência desta, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade e a impossibilidade de oneração.
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(…)
Patente queo bem da vida pretendido não é o acesso ao gabinete da presidência, mas sim a
própria presidência da Casa Legislativa. Assim o verdadeiro objeto buscado é a chancela
judicial de quem seria de direito o Presidente da Câmara Municipal.
Cristalino que o reduzido âmbito reduzido das matérias veiculadas nas demandas possessórias
impedem a apreciação da controvérsia em sua total profundidade, assim como não é o meio
hábil a resolver a celeuma instaurada.
Desse modo, consoante explicitado, a via eleita não é adequada para solucionar o conflito.
Portanto, não há interesse processual (de agir) do autor.
P.R.I.
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19:32:16, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.
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