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Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 1

Organizadoras

Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro


Sandra Medina Benini

BACIAS HIDROGRÁFICAS
fundamentos e aplicações

1ª Edição

ANAP
Tupã/SP
2018
2

EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, São Paulo. CEP 17.605-310.
Contato: (14) 99808-5947 e 99102-2522
www.editoraanap.org.br
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Editoração e Diagramação da Obra - Sandra Medina Benini


Revisão Ortográfica - Smirna Cavalheiro

Ficha Catalográfica

AM512b Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações / Juliana Heloisa


Pinê Américo-Pinheiro; Sandra Medina Benini (orgs). 1 ed. – Tupã:
ANAP, 2018.

220 p; il.; 14.8 x 21cm

ISBN 978-85-68242-82-7

1. Meio Ambiente 2. Bacia Hidrográfica 3. Água


I. Título.

CDD: 900
CDU: 913/49

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Geografia
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 3

CONSELHO DE EDITORIAL

Prof. Dr. Adeir Archanjo da Mota - UFGD


Profa. Dra. Alba Regina Azevedo Arana - UNOESTE
Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva
Prof. Dr. Alexandre França Tetto - UFPR
Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa - UFVJM
Prof. Dr. Alfredo Zenen Dominguez González - UNEMAT
Profa. Dra. Alina Gonçalves Santiago - UFSC
Profa. Dra. Aline Werneck Barbosa de Carvalho - UFV
Prof. Dr. Alyson Bueno Francisco - CEETEPS
Profa. Dra. Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão - UFPA
Profa. Dra. Ana Lúcia de Jesus Almeida - UNESP
Profa. Dra. Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa - IFAC
Profa. Dra. Ana Paula Branco do Nascimento – UNINOVE
Profa. Dra. Ana Paula Fracalanza – USP
Profa. Dra. Ana Paula Novais Pires
Profa. Dra. Ana Paula Santos de Melo Fiori - IFAL
Prof. Dr. André de Souza Silva - UNISINOS
Profa. Dra. Andrea Aparecida Zacharias – UNESP
Profa. Dra. Andrea Holz Pfutzenreuter - UFSC
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira - UFAM
Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos - UPE
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Profa. Dra. Beatriz Ribeiro Soares - UFU
Profa. Dra. Carla Rodrigues Santos - Faculdade FASIPE
Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada
Profa. Dra. Carmem Silvia Maluf - Uniube
Profa. Dra. Célia Regina Moretti Meirelles - UPM
Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti - FCT/UNESP
Prof. Dr. Cledimar Rogério Lourenzi - UFSC
Profa. Dra. Cristiane Miranda Martins - IFTO
Profa. Dra. Daniela de Souza Onça - FAED/UESC
Prof. Dr. Darllan Collins da Cunha e Silva - UNESP
Profa. Dra. Denise Antonucci - UPM
Profa. Dra. Diana da Cruz Fagundes Bueno - UNITAU
Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro - Unieuro - Brasília / Ministério das Cidades
Prof. Dr. Eduardo Salinas Chávez - Universidade de La Habana, PPGG, UFGD-MS
Prof. Dr. Edvaldo Cesar Moretti - UFGD
Profa. Dra. Eliana Corrêa Aguirre de Mattos - UNICAMP
Profa. Dra. Eloisa Carvalho de Araujo - UFF
Profa. Dra. Eneida de Almeida - USJT
Prof. Dr. Erich Kellner - UFSCar
Prof. Dr. Eros Salinas Chàvez - UFMS /Aquidauana Post doctorado
Profa. Dra. Fátima Aparecida da SIlva Iocca - UNEMAT
Prof. Dr. Felippe Pessoa de Melo - Centro Universitário AGES
Prof. Dr. Fernanda Silva Graciani - UFGD
Prof. Dr. Fernando Sérgio Okimoto - UNESP
Profa. Dra. Flávia Akemi Ikuta - UMS
4

Profa. Dra. Flávia Maria de Moura Santos - UFMT


Profa. Dra. Flávia Rebelo Mochel - UFMA
Prof. Dr. Flavio Rodrigues do Nascimento - UFC
Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior - UESPI
Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula - UFJF
Prof. Dr. Frederico Canuto - UFMG
Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai - UFSCar
Prof. Dr. Gabriel Luis Bonora Vidrih Ferreira - UEMS
Profa. Dra. Gelze Serrat de Souza Campos Rodrigues - UFU
Prof. Dr. Generoso De Angelis Neto - UEM
Prof. Dr. Geraldino Carneiro de Araújo - UFMS
Profa. Dra. Gianna Melo Barbirato - UFAL
Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza - UFU
Profa. Dra. Isabel Crisitna Moroz Caccia Gouveia - FCT/UNESP
Profa. Dra. Jakeline Aparecida Semechechem - UENP
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto - UEA
Prof. Dr. João Carlos Nucci - UFPR
Prof. Dr. João Paulo Peres Bezerra - UFFS
Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria - FAAC/UNESP
Prof. Dr. José Aparecido dos Santos - FAI
Prof. Dr. José Manuel Mateo Rodriguez – Universidade de Havana – Cuba
Prof. Dr. José Queiroz de Miranda Neto – UFPA
Prof. Dr. José Seguinot - Universidad de Puerto Rico
Prof. Dr. Josep Muntañola Thornberg - UPC -Barcelona, Espanha
Prof. Dr. Josinês Barbosa Rabelo - UFPE
Profa. Dra. Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia - UFPB
Profa. Dra. Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro - UNIVBRASIL
Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia - UFPR
Profa. Dra. Karin Schwabe Meneguetti - UEM
Prof. Dr. Leandro Gaffo - UFSB
Profa. Dra. Leda Correia Pedro Miyazaki - UFU
Profa. Dra. Leonice Seolin Dias - ANAP
Profa. Dra. Lidia Maria de Almeida Plicas - IBILCE/UNESP
Profa. Dra. Lisiane Ilha Librelotto - UFS
Profa. Dra. Luciana Ferreira Leal - FACCAT
Profa. Dra. Luciana Márcia Gonçalves - UFSCar
Prof. Dr. Marcelo Campos - FCE/UNESP
Prof. Dr. Marcelo Real Prado - UTFPR
Profa. Dra. Marcia Eliane Silva Carvalho - UFS
Profa. Dra. Márcia Eliane Silva Carvalho - UFS
Prof. Dr. Márcio Rogério Pontes - EQUOIA Engenharia Ambiental LTDA
Profa. Dra. Margareth de Castro Afeche Pimenta - UFSC
Profa. Dra. Maria Ângela Dias - UFRJ
Profa. Dra. Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci - IAU
Profa. Dra. Maria Augusta Justi Pisani - UPM
Profa. Dra. María Gloria Fabregat Rodríguez - UNESP
Profa. Dra. Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profa. Dra. Maria José Neto - UFMS
Profa. Dra. Maristela Gonçalves Giassi - UNESC
Profa. Dra. Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira - UFMT
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Profa. Dra. Martha Priscila Bezerra Pereira - UFCG


Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira - UNINOVE
Prof. Dr. Miguel Ernesto González Castañeda - Universidad de Guadalajara - México
Profa. Dra. Natacha Cíntia Regina Aleixo - UEA
Profa. Dra. Natália Cristina Alves
Prof. Dr. Natalino Perovano Filho - UESB
Prof. Dr. Nilton Ricoy Torres - FAU/USP
Profa. Dra. Olivia de Campos Maia Pereira - EESC - USP
Profa. Dra. Onilda Gomes Bezerra - UFPE
Prof. Dr. Oscar Buitrago - Universidad Del Valle - Cali, Colombia
Prof. Dr. Paulo Alves de Melo – UFPA
Prof. Dr. Paulo Augusto Romera e Silva – DAEE - SP
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha - FCT/UNESP
Prof. Dr. Paulo Cesar Vieira Archanjo
Profa. Dra. Priscila Varges da Silva - UFMS
Profa. Dra. Regina Célia de Castro Fereira - UEMA
Prof. Dr. Renan Antônio da Silva - UNESP - IBRC
Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino - UNICAMP
Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara - UFSCar
Profa. Dra. Risete Maria Queiroz Leao Braga - UFPA
Prof. Dr. Rodrigo Barchi - UNISO
Prof. Dr. Rodrigo Cezar Criado - TOLEDO Prudente Centro Universitário
Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos - UFSC
Prof. Dr. Rodrigo José Pisani - UNIFAL-MG
Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho - UFGD
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araujo - UFMA
Profa. Dra. Roselene Maria Schneider - UFMT
Prof. Dr. Salvador Carpi Junior - UNICAMP
Profa. Dra. Sandra Mara Alves da Silva Neves - UNEMAT
Prof. Dr. Sérgio Augusto Mello da Silva - FEIS/UNESP
Prof. Dr. Sergio Luis de Carvalho - FEIS/UNESP
Profa. Dra. Sílvia Carla da Silva André - UFSCar
Profa. Dra. Silvia Mikami G. Pina - Unicamp
Profa. Dra. Simone Valaski - UFPR
Profa. Dra. Sueli Angelo Furlan - USP
Profa. Dra. Tânia Paula da Silva - UNEMAT
Profa. Dra. Vera Lucia Freitas Marinho – UEMS
Prof. Dr. Vilmar Alves Pereira - FURG
Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto - FCAE/UNESP
Prof. Dr. Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior - UFCG
Profa. Dra. Yanayne Benetti Barbosa
6

ORGANIZADORAS DA OBRA

Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro


Possui Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - UNESP (2007), Mestrado em Engenharia Civil com ênfase em Recursos Hídricos e
Tecnologias Ambientais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
(2010), Especialização em Gerenciamento Ambiental pela Universidade de São Paulo – USP
(2012), Doutorado em Biologia Aquática pelo Centro de Aquicultura da UNESP (2015) e Pós-
doutorado pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP (2017).
Atualmente é pesquisadora e professora titular permanente do Mestrado em Ciências
Ambientais da Universidade Brasil (UNIVBRASIL). Atua também como docente permanente no
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” – UNESP do Campus de Ilha Solteira. Tem experiência na área de gestão de
recursos hídricos, bacias hidrográficas, qualidade de água e ecotoxicologia. Participa dos grupos
de pesquisa “Ciências Ambientais e Saúde” e “Sustentabilidade Integrada dos Municípios” do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vinculados à
Universidade Brasil.

Sandra Medina Benini


Professora e Pesquisadora do UNIVAG - Centro Universitário de Várzea Grande-MT. Possui
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Marília (1995), Bacharelado em
Direito pela Faculdade de Direito da Alta Paulista (2005), Licenciatura em Geografia pelo Centro
Universitário Claretiano de Batatais (2014), Especialização em Administração Ambiental pela
Faculdade de Ciências Contábeis e Administração de Tupã (2005), Especialização em Engenharia
de Segurança do Trabalho (2008), Mestrado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (2009), Doutorado em Geografia na Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (2015), Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pelo PPGAU/FAU Mackenzie
(2016) e Pós-doutorado em Arquitetura e Urbanismo (PNPD/Capes) pela FAAC/UNESP - Campus
de Bauru-SP (2017). Tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional,
Planejamento Ambiental e Direito Urbanístico, atuando principalmente nos seguintes temas:
políticas públicas, política urbana, gerenciamento de cidades e gestão ambiental.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 7

SUMÁRIO

Prefácio ........................................................................................... 11
Antonio Cezar Leal

Capítulo 1 ......................................................................................... 15

MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA E DEGRADAÇÃO


AMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
José Augusto de Lollo; Monique de Paula Neves; Leticia Tondato
Arantes; César Gustavo da Rocha Lima; Reinaldo Lorandi

Capítulo 2 ........................................................................................ 41

SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA APLICADO NA


DISCRIMINAÇÃO MORFOMÉTRICA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
Sérgio Campos; Marcelo Campos; Thyellenn Lopes de Souza;
Mateus de Campos Leme; Letícia Duron Cury

Capítulo 3 ......................................................................................... 57
GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO MANEJO DE BACIAS
HIDROGRÁFICAS: O CASO DA BACIA DO RIO LAVAPÉS EM
BOTUCATU (SP)
Ronaldo Alberto Pollo, César de Oliveira Ferreira Silva, Mikael
Timóteo Rodrigues, Lincoln Gehring Cardoso, Bruno Timóteo
Rodrigues

Capítulo 4 ......................................................................................... 73

FRAGILIDADE AMBIENTAL DE UMA BACIA VISANDO O


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Sérgio Campos, Marcelo Campos, Thyellenn Lopes de Souza,
Mateus de Campos Leme, Letícia Duron Cury
8

Capítulo 5 ......................................................................................... 87

MONITORAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS E PARÂMETROS DE


QUALIDADE DE ÁGUA EM BACIAIS HIDROGRÁFICAS
Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro; Lucíola Guimarães Ribeiro

Capítulo 6 ......................................................................................... 109

ANÁLISE DE PARÂMETRO DE QUALIDADE DAS ÁGUAS NA UGRHI


20, BACIA DO RIO AGUAPEÍ – OESTE DE SÃO PAULO
Amanda Rodrigues Correa; Paulo Cesar Rocha

Capítulo 7 ....................................................................................... 123

UTILIZAÇÃO DA ESTATÍSTICA PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE


DA ÁGUA EM BACIA HIDROGRÁFICA
Fernanda Luisa Ramalho, João Batista Pereira Cabral, Assunção
Andrade de Barcelos

Capítulo 8 ........................................................................................ 143

PROPOSTA METODOLÓGICA DE AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO DOS


RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS
Luiz Sergio Vanzela, Evandro Roberto Tagliaferro, Cleber Fernando
Menegasso Mansano, Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro

Capítulo 9 ......................................................................................... 155

CONECTIVIDADE HIDRODINÂMICA DO RIO XINGU E A PLANÍCIE


DE INUNDAÇÃO NO CONTEXTO DA USINA HIDRELÉTRICA DE
BELO MONTE, ALTAMIRA – PARÁ
Rita Denize de Oliveira, Paulo Cesar Rocha, Cristina do Socorro
Fernandes Senna
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 9

Capítulo 10 ....................................................................................... 179

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS:


INQUIETAÇÕES PRESENTES NO DIÁLOGO ENTRE O QUADRO
LEGAL INSTITUÍDO E A CIDADE
Eloisa Carvalho de Araujo, Maria Eduarda Guida Frazão Leite,
Rainer Holzer

Capítulo 11 ....................................................................................... 199

OS MEIOS MORFODINAMICOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS: O


CASO DO CÓRREGO DO CARMO NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA -
MG
Leda Correia Pedro Miyazaki ; Maria Cristina Moreira Penna
10
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 11

Prefácio

Nesses tempos em que nosso planeta Terra é estudado, analisado e


investigado em múltiplas formas, visões e perspectivas, seja mirando os
lugares, as paisagens e os horizontes ou vislumbrando-o com outros olhos
desde o espaço, torna-se fundamental conhecer com mais detalhes, com
proximidade, sua geografia e os caminhos criados pelo seu principal
elemento, a água, em um ciclo incessante, movimentando-se, renovando-se
e redistribuindo-se espacial e temporalmente pelas superfícies, formando
redes fluviais em bacias hidrográficas.
Consideradas um recorte da superfície terrestre adequado para o
olhar investigativo de pesquisadores e para atuação dos gestores das águas,
tendo em vista seus divisores de água e seus fluxos hídricos, paulatinamente
as bacias hidrográficas vêm sendo redefinidas como unidades hidrográficas,
bacias ambientais, unidades ambientais, bacias sociais, dentre outras
denominações que buscam expressá-las, valorizando-as como unidades que
possuem características naturais, sociais, econômicas, políticas, culturais,
dentre outras, que as particularizam e permitem sua análise integrada,
planejamento e gestão, ora com traços comuns, ora com diferenciações
importantes e específicas com áreas contíguas, cada vez mais
interconectadas, em diferentes escalas, com outros recortes
administrativos, legais, etc.
Seus divisores tornam-se flexíveis, de difícil identificação e
delimitação, tendo em vista as interconexões que ocorrem pelas redes de
abastecimento de água, transposições de água de rios, loteamentos que
mudam o relevo para adaptá-lo às construções, cortes e aterros para
rodovias e ferrovias, ações conservacionistas do solo e diferentes e
dinâmicos usos e coberturas da terra, que interceptam e (re)direcionam os
fluxos da água, com os impactos positivos e negativos decorrentes, e
redefinem as bacias hidrográficas.
Nessa perspectiva, estudar as bacias hidrográficas exige constante
debate sobre fundamentos e aplicações, como nos propiciam as professoras
Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro e Sandra Medina Benini, neste livro
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações, no qual reúnem
12

contribuições de pesquisadores de diferentes áreas, com estudos aplicados


em várias bacias hidrográficas e temáticas correlatas.
A produção do livro é da Editora ANAP – Associação Amigos da
Natureza da Alta Paulista, que tem desenvolvido um trabalho valioso e
profícuo de coleta, análise, organização e publicação de livros com
conhecimentos sistematizados nas instituições de ensino superior,
especialmente junto a programas de pós-graduação, e em Organizações Não
Governamentais, dentre outros, contribuindo para a valorização dos
pesquisadores e ambientalistas, para a ampla divulgação dos conhecimentos
e para seu acesso pelo público interessado.
A primeira edição do livro é composta por 11 capítulos. De forma
geral, os temas dos capítulos podem ser agrupados em pelo menos três
módulos, embora os temas se perpassem e permitam outros agrupamentos,
de acordo com as perspectivas de cada leitor.
No primeiro módulo temático, com estudos aplicados em bacias
hidrográficas de diferentes escalas e localização no país, pode-se agrupar o
Capítulo 1 – Mudanças de Uso e Cobertura da Terra e Degradação
Ambiental em Bacias Hidrográficas, de José Augusto de Lollo, Monique de
Paula Neves, Leticia Tondato Arantes, César Gustavo da Rocha Lima e
Reinaldo Lorandi; o Capítulo 2 – Sistema de Informação Geográfica Aplicado
na Discriminação Morfométrica de Bacias Hidrográficas, de Sérgio Campos,
Marcelo Campos, Thyellenn Lopes de Souza, Mateus de Campos Leme e
Letícia Duron Cury; o Capítulo 3 – Geotecnologias aplicadas ao manejo de
bacias hidrográficas: o caso da Bacia do Rio Lavapés em Botucatu, SP, de
Ronaldo Alberto Pollo, César de Oliveira Ferreira Silva, Mikael Timóteo
Rodrigues, Lincoln Gehring Cardoso e Bruno Timóteo Rodrigues; o Capítulo 4
– Fragilidade Ambiental de uma Bacia Visando o Desenvolvimento
Sustentável, de Sérgio Campos, Marcelo Campos, Thyellenn Lopes de Souza,
Mateus de Campos Leme e Letícia Duron Cury; e o Capítulo 11 – Os Meios
Morfodinamicos em Bacias Hidrográficas: o Caso do Córrego do Carmo no
Município de Ituiutaba – MG, de Leda Correia Pedro Miyazaki e Maria
Cristina Moreira Penna.
Nesses capítulos são apresentados fundamentos teóricos,
metodológicos, conceituais e legais para estudos aplicados em bacias
hidrográficas utilizando-se as geotecnologias para a caracterização
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 13

fisiográfica e análise das relações entre componentes naturais, identificação


da vulnerabilidade à erosão e fragilidade ambiental, das mudanças no uso e
cobertura da terra, dos desmatamentos e da degradação ambiental, suas
causas, impactos e consequências. São estudos que subsidiam o
planejamento ambiental e a gestão das bacias hidrográficas, notadamente
na elaboração de diagnósticos e prognósticos, (re) construindo-se cenários,
e na definição de ações para gestão, manejo, zoneamento e conservação
das bacias hidrográficas, especialmente de áreas protegidas pela legislação
ambiental, e na prevenção de eventos extremos, visando à sustentabilidade
ambiental das bacias hidrográficas.
No segundo módulo temático, podem-se agrupar o Capítulo 5 –
Monitoramento de Recursos Hídricos e Parâmetros de Qualidade de Água
em Bacias Hidrográficas, de Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro e Lucíola
Guimarães Ribeiro; o Capítulo 6 – Análise de Parâmetro de Qualidade das
Águas na UGRHI 20, Bacia do Rio Aguapeí – Oeste de São Paulo, de Amanda
Rodrigues Correa e Paulo Cesar Rocha; o Capítulo 7 – Utilização da
Estatística para Avaliação da Qualidade da Água em Bacia Hidrográfica, de
Fernanda Luisa Ramalho, João Batista Pereira Cabral e Assunção Andrade de
Barcelos; e o Capítulo 8 – Proposta Metodológica de Avaliação da Situação
dos Recursos Hídricos Superficiais nas Bacias Hidrográficas, de Luiz Sergio
Vanzela, Evandro Roberto Tagliaferro, Cleber Fernando Menegasso
Mansano e Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro.
Nesses estudos, os autores abordam a importância da identificação e
monitoramento da disponibilidade hídrica nas bacias hidrográficas,
expondo-se fundamentos, conceitos, metodologias e técnicas para
conhecimento das vazões e da qualidade das águas, com aplicação em
temas e áreas específicas. São estudos imprescindíveis para a gestão das
águas e à tomada de decisões em órgãos gestores e em colegiados,
especialmente para a efetiva aplicação dos instrumentos de gestão previstos
na legislação, tais como o plano de recursos hídricos em bacias
hidrográficas, a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos, o
enquadramento de corpos hídricos em classes de uso e a cobrança pelo uso
dos recursos hídricos, dentre outros, para que se obtenham os resultados
pretendidos na gestão das águas.
14

No terceiro módulo temático, podem-se agrupar o Capítulo 9 –


Conectividade Hidrodinâmica do Rio Xingu e a Planície de Inundação no
Contexto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, Altamira – Pará, de Rita
Denize de Oliveira, Paulo Cesar Rocha e Cristina do Socorro Fernandes
Senna; e o Capítulo 10 – Recuperação Ambiental de Bacias Hidrográficas:
Inquietações Presentes no Diálogo entre o Quadro Legal Instituído e a
Cidade, de Eloisa Carvalho de Araújo, Maria Eduarda Guida Frazão Leite e
Rainer Holzer.
Nesses capítulos, os autores analisam os impactos socioambientais
gerados por grandes empreendimentos humanos relacionados às águas,
como represas para geração de energia ou abastecimento público e a
urbanização, com modificações em formas e fluxos naturais, múltiplas
interfaces com as águas na produção das cidades e no saneamento básico,
ressaltando-se marcos legais e sua aplicação na recuperação e proteção dos
corpos hídricos, com benefícios para a qualidade ambiental.
O conjunto de abordagens sobre as bacias hidrográficas expresso no
livro evidencia que essas se tornam fundamentais para estudos que visam a
compreender (e alterar) as relações entre a Sociedade e a Natureza,
evitando-se os riscos decorrentes da degradação ambiental e da
insegurança hídrica. Nesse contexto, as bacias hidrográficas constituem-se
em espaços hídricos agregadores de temas para pesquisadores e
profissionais ligados à gestão das águas e à gestão ambiental, possibilitando
novos estudos, leituras, movimentos, aproximações e intervenções para a
união de povos, saberes e construção coletiva e democrática de pactos para
a sustentabilidade hídrica e ambiental.
Boa leitura!

1
Prof. Dr. Antonio Cezar Leal

1
Possui graduação em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1989),
mestrado em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (1995), especialização em Ensino de Geociências (1996), doutorado em
Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e pós-doutorado pela Universidade
Estadual de Campinas (2013). Atualmente é docente na Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” do campus de Presidente Prudente.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 15

Capítulo 1

MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DA TERRA E DEGRADAÇÃO


AMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
2
José Augusto de Lollo
3
Monique de Paula Neves
4
Letícia Tondato Arantes
5
César Gustavo da Rocha Lima
6
Reinaldo Lorandi

1 INTRODUÇÃO

Alterações no uso e cobertura da terra indicam discussões relevantes


em função do elevado número de mudanças ocasionadas nas bacias
hidrográficas por processos naturais e induzidos pelo homem (BELWARD;
SKOIEN, 2015). A expressão cobertura da terra representa atributos da
superfície e do subsolo (solo, relevo, águas superficiais e subterrâneas e
estruturas humanas), enquanto “uso da terra” diz respeito aos fins para os
quais a terra é utilizada pela população humana local (LAMBIN et al., 2000).
Condições não adequadas às condições naturais de uso e cobertura
da terra, associadas à falta de conservação e proteção dos recursos naturais,
desencadeiam inúmeros problemas de degradação ambiental. A visão
utilitarista do meio natural historicamente adotada pelas sociedades
humanas tem sido a principal responsável pelo uso dos componentes
ambientais como recursos dos quais se poderia lançar mão sem se
preocupar com o resultado da intervenção. A busca por alternativas para

2
Professor titular, Departamento de Engenharia Civil (UNESP), campus de Ilha Solteira. E-mail:
jose.lollo@unesp.br
3
Mestre em Geotecnia, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana (UFSCar). E-mail:
moniquenevesambiental@yahoo.com.br
4
Engenheira agrimensora e cartógrafa, Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil
(UNESP), campus de Ilha Solteira. E-mail: letondato@gmail.com
5
Professor assistente doutor, Departamento de Engenharia Civil (UNESP), campus de Ilha
Solteira. E-mail: cesarlima@dec.feis.unesp.br
6
Professor sênior, Departamento de Engenharia Civil (UFSCar). E-mail: lorandir@gmail.com
16

gerenciar as mudanças decorrentes do uso e cobertura da terra de forma


mais eficiente vem gerando discussões de novas formas de gerenciamento
dos recursos naturais (TAELMAN et al., 2016).
De acordo com Cunha e Guerra (2003), a degradação ambiental em
bacias hidrográficas não pode ser avaliada somente sob o ponto de vista
físico, devendo ser consideradas as relações existentes entre a degradação
natural e as atividades da sociedade.
Nesse sentido, vários estudos tratando da relação entre a dinâmica
de uso e cobertura na bacia hidrográfica e degradação ambiental são
realizados, constituindo um dos principais recursos para subsidiar as ações
do poder público acerca do planejamento e gestão, com intuito de amenizar
os impactos das degradações ambientais em bacias hidrográficas
decorrentes do uso dos recursos naturais.
O artigo 1º, no inciso V, da Lei Federal 9.433/1997 (BRASIL, 1997),
dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), estabelece as
bacias hidrográficas como unidades físico-territoriais para o planejamento
ambiental. Desta forma, o diagnóstico deve considerar aspectos ambientais,
políticos, culturais e socioeconômicos de cada região hidrográfica,
valorizando assim as singularidades e estratégias de gestão na bacia (BRASIL,
1997).
A bacia hidrográfica (BH) tem sido amplamente utilizada como
unidade fundamental para análises ambientais, especialmente por permitir
a possibilidade de integração de componentes pertencentes a ela como:
geologia, geomorfologia, cobertura vegetal, clima e corpos d’água e, dessa
forma, compreender a paisagem como um todo (SANTOS, 2004; CRUZ,
2009), uma vez que grande parte dos danos ambientais na superfície
terrestre está situada nas bacias hidrográficas (ARAÚJO, 2005).
Assim, pode-se considerar que toda parcela de terreno se integra a
uma bacia hidrográfica (SANTOS, 2004), o que torna a bacia uma unidade
espacial de fácil reconhecimento e caracterização. Para Fernandes e Silva
(1994), a bacia é, portanto, um receptor das interferências naturais e
antrópicas em sua área (vegetação, clima, topografia, uso e ocupação, entre
outros). O que torna possível tratá-la como sistema fechado para análise e
considerar que as relações dos eventos se dão de forma “homogênea”.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 17

Para Tucci (1997) e Silveira (2001), a bacia hidrográfica constitui área


de captação natural das precipitações e, em função de suas vertentes,
desenvolve uma rede de drenagem constituída por cursos que confluem até
resultar um leito com ponto de saída (exutório).
As mudanças naturais e artificiais na cobertura vegetal de bacias
hidrográficas influenciam no seu comportamento hidrológico, resultando
em vários impactos ao ambiente e na disponibilidade de recursos hídricos
(TUCCI, 1997).
Mudanças na cobertura do solo e nas práticas de manejo da terra
têm sido consideradas os principais fatores que influenciam no sistema
hidrológico, gerando mudança no escoamento superficial, podendo afetar
as taxas de erosão e carga de sedimentos em uma bacia hidrográfica, assim
como a alteração da qualidade das águas superficiais (GIRMAY et al., 2009;
SHEN et al., 2010; ABDELWAHABET et al., 2014).
Segundo Miguel et al. (2012), a bacia hidrográfica é uma unidade
importante para a compreensão das mudanças no uso e ocupação do solo,
possibilitando traçar estratégias de conservação e planejamento ambiental.
Nessa visão, o conhecimento da distribuição e dos tipos de uso e ocupação
da terra podem ser indicador importante dos impactos sobre a bacia
hidrográfica.
Diversos estudos sobre a dinâmica do uso e cobertura da terra em
bacias hidrográficas têm sido realizados, os quais auxiliam na compreensão
de como as mudanças no uso da terra influenciam no meio ambiente
(MENESES et al., 2015).
A detecção das mudanças de uso e cobertura da terra permite
relacionar os impactos ambientais daí decorrentes e obter indicadores-
chave para análises ambientais a partir da mensuração espaço-temporal
dessas alterações (MEYER; TURNER, 1996).
De acordo com Chang (2008), muitos pesquisadores utilizam modelos
estatísticos em conjunto com Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e
dados de imagens de Sensoriamento Remoto (SR), para identificar como as
características da paisagem da bacia hidrográfica são associadas às variações
espaciais e temporais do meio.
Com o advento das imagens de satélite de alta resolução espacial e o
desenvolvimento de ferramentas mais elaboradas de análise em Sistemas
18

de Informação Geográfica, o monitoramento das mudanças de uso e


ocupação da terra se tornou mais consistente, portanto realizado com maior
frequência. O Sensoriamento Remoto tem sido amplamente aplicado na
atualização dos mapas de uso/cobertura da terra, tornando-se uma das mais
importantes aplicações do Sensoriamento Remoto (LO; CHOI, 2004).
O uso conjunto de Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informação
Geográfica proveem as ferramentas para a análise temporal e quantificação
das mudanças de uso e cobertura da terra, com baixo custo e melhor
precisão (RAWAT, 2015).
O uso de dados de Sensoriamento Remoto apresenta certas
vantagens no monitoramento e detecção da dinâmica da cobertura da terra,
pois possibilita o mapeamento de uma grande extensão territorial,
registrando dessa forma diferentes classes de uso e cobertura da terra com
alta resolução temporal e ampla disponibilidade, resultando na obtenção de
resultados mais precisos para a identificação dos elementos presentes na
imagem (VAEZA et al., 2010; HU et al., 2016).
Com o mapeamento do uso e cobertura da terra é possível monitorar
as mudanças, auxiliando na obtenção de informações da realidade
ambiental de determinada região e na avaliação ambiental para a busca de
soluções de problemas (TORRES, 2011; ROUNSEVELL et al., 2006).
Tal monitoramento pode ser efetivado por modelos computacionais
especializados. São considerados nos modelos os processos ambientais,
sociais, institucionais e econômicos, envolvendo uma série de variáveis que
possibilitam o estabelecimento de medidas para o planejamento o uso do
solo (EASTMAN, 2012; MAS et al., 2014).
Nesse contexto, nota-se a importância do uso de dados e
ferramentas adequadas para analisar e prever impactos das mudanças do
uso e ocupação da terra em bacia hidrográfica. Isso porque a mesma
propicia um conjunto de indicadores que permite a quantificação das
mudanças que ocorrem dentro da área de análise; logo, obter subsídios para
posteriores iniciativas para realizar o gerenciamento, manejo e conservação
da bacia hidrográfica.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 19

2 MUDANÇAS DE USO E COBERTURA E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

O processo de degradação ambiental está relacionado com diversas


atividades antrópicas que provocam efeitos negativos ou adversos no
ambiente, comprometendo o equilíbrio deste como um todo (BITAR, 1997).
Esses efeitos, por sua vez, resultam em perdas sociais, ambientais e
econômicas, e podem ainda trazer riscos à saúde e à segurança das pessoas.
Entre as atividades antrópicas responsáveis pela degradação
ambiental, podem-se citar a agricultura, pecuária, mineração, obras civis,
urbanização, muitas vezes decorrentes de um processo de ocupação
desordenado. Considerando a interação entre os diversos componentes do
meio, deve-se considerar que as mudanças do uso do solo podem ocorrer
em diferentes escalas, incorrendo em consequências como: alteração do
regime hídrico; das propriedades físico-químicas; redução da biodiversidade;
entre outras (ZUQUETTE et al., 2013).
Assim sendo, a avaliação das mudanças no uso e cobertura é uma
importante ferramenta em estudos ambientais, pois possibilita a avaliação
da degradação do solo e da sua influência nos processos hidrológicos,
geomorfológicos, pedológicos, climáticos e florestais. Vários estudos foram
desenvolvidos ao longo dos anos a fim de compreender as causas da
degradação e auxiliar na implantação de políticas de planejamento
ambiental nas bacias hidrográficas.
Tayyebi et al. (2015) avaliaram a influência das mudanças na
qualidade dos recursos hídricos de uma bacia em Ohio (EUA). Os autores
analisaram a permanência das classes do uso do solo no período de 1930 a
1990, bem como as modificações futuras, entre 2000 e 2050. Para o período
considerado, observou-se uma permanência das classes agrícola, floresta e
urbana, e para os cenários futuros transição entre as classes de floresta para
área urbana e de agricultura para área urbana. Nesse contexto, notou-se
que a maior ameaça à qualidade dos recursos hídricos são as áreas agrícolas
devido ao uso abundante de agrotóxicos; e quanto à disponibilidade, a
urbanização intensa pode ser a principal responsável pelos déficits hídricos.
Sendo assim, na bacia hidrográfica estudada, os limites do uso da água
tendem a exceder os padrões atuais, tornando-se críticos, demandando
20

esforços de conservação e gestão para reduzir os níveis de poluentes e


permitir a recuperação dos ecossistemas degradados.
Além da avaliação da qualidade da água, pode-se também avaliar os
efeitos da mudança do uso do solo nos processos hidrológicos. Wijesekara
et al. (2012) desenvolveram pesquisa em uma bacia hidrográfica no sul do
Canadá, aplicando um modelo de simulação (CA Model) e um modelo
hidrológico (MIKE-SHE) abrangendo o período 1985-2001, e simulações
futuras para 2031. Verificou-se uma tendência de aumento de 65% das
áreas urbanas; 20% em áreas de pastagem; e redução em torno de 34% das
áreas de floresta (decídua e perene). Correlacionando tais resultados com
um modelo hidrológico, constatou-se que essas modificações implicariam
no aumento do fluxo superficial (Overland Flow) em 7,0%, e redução na
capacidade de infiltração de 2,3%, podendo comprometer a recarga
subterrânea e favorecer inundações com o aumento do escoamento
superficial.
Noutro trabalho, Leh et al. (2011) avaliaram a influência das
mudanças do uso do solo na ocorrência de processos erosivos para um
período de 20 anos (1986-2006), em uma bacia hidrográfica de 321 km² no
noroeste de Arkansas (EUA). Observou-se que em 1986, 36% da área total
eram afetados pela ocorrência de erosão, em 2006 o valor foi de 39%, e
para 2030 foi previsto aumento de 14%. Os autores constataram que os
maiores valores ocorreram em áreas de terra árida (Barren Land), sem
cobertura vegetal, gerando forte deposição no rio West Fork. As previsões
futuras indicaram aumento das áreas de risco de erosão em decorrência do
crescimento da urbanização.
Considerando ainda processos geodinâmicos, Mendoza et al. (2011)
analisaram as mudanças do uso na bacia hidrográfica Lake Cuitzeo (Cinto
Vulcânico – TMVM, México), usando imagens de satélite e ortofotos
(período 1975-2000). Foi observado que maiores taxas de desmatamento e
urbanização ocorreram no período de 1986-1996, fruto das pressões
humanas derivadas pela migração de famílias em função do terremoto que
aconteceu na Cidade do México em 1985. A região sofreu ainda impactos
devido ao aumento da emigração nos EUA.
Os trabalhos citados ilustram como as mudanças no uso e cobertura
do solo podem promover alterações ambientais variadas, no regime hídrico,
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 21

na qualidade dos recursos hídricos, e em processos geodinâmicos, além de


poder auxiliar na compreensão de problemas urbanos e sociais.
Para avaliar esses processos dinâmicos, diversas ferramentas foram
desenvolvidas, podendo-se citar o CLUE-S (Conversion of Land Use and Its
Effects at Small), DINAMICA EGO, CA-MARKOV e LCM (Land Change
Modeler), que são modelos baseados em abordagem indutiva, e que se
diferenciam em relação aos algoritmos de calibração; tipo de simulação;
métodos de avaliação de desempenho, e flexibilidade às demandas do
usuário (MAS et al., 2014).
O LCM, desenvolvido pela Clark Labs (EASTMAN, 2012), avalia os
efeitos das mudanças de uso e cobertura do solo por ferramentas que
permitem: analisar mudanças, modelar o potencial de transição, prever
mudanças, e avaliar as alterações sobre a biodiversidade (VÁCLAVÍK;
ROGAN, 2009; EASTMAN, 2009).
Entre os trabalhos existentes na bibliografia atual que utilizaram o
LCM, podem-se citar Senisterra e Gaspari (2014) na Argentina, considerando
um intervalo de 25 anos (1986-2011), e as classes de uso: agrícola; pecuária;
pecuária/agrícola (bovinos em pastos cultivados); agrícola/pecuária
(agrícolas com intercalações de pousio); e vegetação florestal, identificando
ganhos nas classes agrícola e agropecuária, decorrentes da conversão das
áreas de pastagem naturais e uso misto, mudanças essas que podem
comprometer a qualidade da água, além de aumentar o risco de erosão.
Além de avaliar as mudanças do uso, Castillo et al. (2014) aplicaram o
LCM para avaliar os impactos decorrentes da mudança do uso do solo em
uma bacia hidrográfica no litoral do Texas (EUA), considerando os anos de
1990 e 2010, com previsões para 2030, considerando as classes: urbana,
agrícola, pastagem, floresta, árida, e zonas úmidas. As principais mudanças
observadas decorreram da expansão da área urbana com possível aumento
de 70% para 2030, mudanças essas que podem gerar impactos significativos
nos ecossistemas e estuários costeiros.
Ainda no âmbito das previsões, no trabalho de Wilson e Weng (2011)
foram previstas mudanças entre 2010 e 2030, e seus efeitos na qualidade da
água, na bacia hidrográfica do rio Des Plaines, Illinois (EUA). Foram utilizadas
imagens de satélite e os softwares Idrisi e SWAT (Soil and Water Assessment
Tool) para estimar as concentrações de sólidos totais e fósforo. Nos mapas
22

para 2020 foi previsto um aumento das áreas residenciais e redução das
áreas agrícolas e zonas úmidas. Para os cenários de 2030, verificou-se uma
trajetória similar ao período anterior, com redução mais expressiva das
áreas industriais e terrenos vazios, sendo constatado que, com relação à
qualidade da água em cenários futuros, as variações dependem não só do
uso do solo, mas também das mudanças climáticas. Os resultados
mostraram que o crescimento urbano pode auxiliar na redução dos sólidos
totais dissolvidos, e o crescimento de áreas industriais tende a favorecer o
aumento das concentrações de fósforo.
No Brasil, Piroli et al. (2017) avaliaram as modificações do uso do solo
na microbacia do córrego Monjolinho, localizada no município de Ourinhos
(SP). As análises de mudanças de cobertura (ganhos e perdas) e persistência
foram realizadas aplicando o módulo LCM. Em 1972 havia um predomínio
das classes de expansão urbana e ruas não pavimentadas, em 2014, em
decorrência do crescimento urbano, predominavam as áreas construídas e
ruas pavimentadas. As alterações modificaram a dinâmica do balanço
hídrico local, reduzindo as taxas de infiltração, tanto da água da chuva como
do escoamento superficial, ocasionando a ocorrência de inundações.
Com o intuito de avaliar a influência do uso do solo nos processos
geodinâmicos, Marteli (2015) aplicou o LCM na microbacia hidrográfica do
Córrego Caçula, Ilha Solteira (SP), considerando os anos 1975, 1994 e 2014.
No período 1975-1994 ocorreram reduções nas áreas agrícolas (47,18%) e
de vegetação densa (81,25%). Para o período de 1994 a 2014, o ganho mais
expressivo foi nas áreas urbanas. Segundo a autora, as mudanças do uso do
solo ao longo dos anos comprometeram as áreas críticas na bacia, como as
áreas de planície sem cobertura vegetal. Nessas áreas observou-se que a
impermeabilização excessiva pode potencializar a ocorrência de enchentes e
inundações. No entanto, nas áreas de campo compostas por pastagem a
remoção da cobertura vegetal densa pode favorecer o surgimento de
processos erosivos.
Por fim, destaca-se o trabalho de Leda et al. (2014), realizado na
subbacia do ribeirão da Prata (Lençóis Paulista, SP) para os anos de 1984 e
2014. As perdas no período foram nas classes de pastagem, silvicultura e
corpos d’água, e em contrapartida os ganhos nas áreas de cultivo de cana-
de-açúcar, área urbana e nas áreas de vegetação nativa. Foi possível
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 23

verificar que o acréscimo de vegetação nativa está relacionado com a


implantação da Lei 12.651/2012, que exige a recomposição das Áreas de
Preservação Permanente (APPs) ao longo dos cursos d’água e nascente.
A aplicação do LCM é extremamente vasta e possibilita a análise da
mudança do uso do solo, em bacias hidrográficas, com diferentes níveis de
complexidade. Além disso, os resultados obtidos podem ser correlacionados
com a avaliação dos recursos hídricos, de processos geodinâmicos, da
expansão urbana, entre outros. Nesse contexto, conclui-se que o LCM é uma
importante ferramenta de análise espacial, pois auxilia no diagnóstico do
uso em uma escala temporal e favorece a implantação dos projetos de
gestão e ordenamento territorial. Dessa forma, com os resultados obtidos
podem ser desenvolvidas propostas para que o uso do solo nas bacias
hidrográficas aconteça de maneira condizente com as características do
meio, favorecendo o equilíbrio ambiental.

3 APLICAÇÃO: O CASO DA BACIA DO RIO CLARO

O uso intensivo dos recursos naturais pelo homem e as pressões


ambientais decorrentes, o conhecimento das condições de uso e cobertura
da terra e sua dinâmica se tornaram essenciais para o adequado
planejamento territorial. Apesar da existência de instrumentos legais que
visam a disciplinar o uso dos recursos naturais e criar mecanismos de gestão
e gerenciamento para evitar ou reduzir impactos, tais medidas só podem ser
eficazes com o conhecimento adequado das condições ambientais locais.
Assim, estudos que conjuguem os condicionantes naturais e as
mudanças nos padrões de uso e cobertura da terra constituem a alternativa
adequada para identificar processos com vistas a propor intervenções.
Na bacia hidrográfica do rio Claro (SP) a dinâmica da ocupação
humana tem se revelado o principal gatilho da degradação ambiental, em
particular processos erosivos. Com tal visão, foi desenvolvido estudo na área
da bacia hidrográfica do rio Claro, com a caracterização das mudanças de
uso e cobertura desenvolvidas com o módulo Land Change Modeler (LCM)
no SIG Idrisi Selva (EASTMAN, 2012).
A bacia hidrográfica do rio Claro está localizada na Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos 09 do Estado de São Paulo (bacia do rio
24

Mogi Guaçu). Em termos de relevo, situa-se na unidade morfoestrutural da


bacia sedimentar do Paraná (ROSS; MOROZ, 1997), com relevo
predominantemente denudacional, composto de colinas amplas e baixas,
com topos tabulares. A cobertura vegetal original era floresta latifoliada
tropical, que foi quase totalmente removida em função dos usos
agropastoris.
As classes pedológicas mais comuns são latossolos vermelho-
amarelos, nitossolos e argissolos (ROSSI, 2017). O clima local é do tipo
tropical úmido-seco, com quatro a cinco meses de seca, e chuvas
concentradas entre os meses de outubro e abril (MENDONÇA; DANNI-
OLIVEIRA, 2007).
Segundo São Paulo-IG (1981), as unidades geológicas que ocorrem na
bacia pertencem às formações sedimentares da bacia do Paraná (Santa Rita
do Passa-Quatro, Pirassununga, Botucatu, Pirambóia, Corumbataí, depósitos
sedimentares quaternários) e rochas intrusivas básicas.
Para a classificação do uso e cobertura na bacia foram usadas
imagens dos satélites Landsat 5, sensor Thematic Mapper (TM), e Landsat 8,
sensor Operational Land Imager (OLI), dos anos 1994, 2004 e 2014. As
composições utilizadas foram R5G4B3, para as imagens Landsat 5, e R6G5B4
para as imagens do Landsat 8, com composição falsa cor.
As imagens sintéticas, resultado das composições de bandas do
Satélite Landsat, foram organizadas segundo classificação supervisionada,
considerando as classes de uso e cobertura: área urbana, café, cana-de-
açúcar, eucalipto, lagoas, laranja, mata, mata ciliar, pastagem, solo exposto.
A subdivisão do primeiro nível de classificação (cobertura agrícola ou mata,
por exemplo) em subníveis (café, cana) considerou a necessidade de tratar
de forma diferenciada as relações de culturas específicas com o processo de
degradação do solo, segundo a proposta original de USGS (1976).
A partir da classificação de uso e cobertura do solo nas imagens foi
possível utilizar o LCM para a modelagem de mudanças, contendo os mapas
de transição entre classes de uso e cobertura, assim como perdas, ganhos e
persistências das classes, a fim de avaliar as alterações que ocorreram ao
longo desses vinte anos. O resultado das classificações é apresentado nas
Figuras 1 a 3.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 25

Figura 1 – Classificação de uso e cobertura da terra em 1994

Figura 2 – Classificação de uso e cobertura da terra em 2004


26

Figura 3 – Classificação de uso e cobertura da terra em 2014

Entre 1994 e 2004 observa-se um crescimento da área de plantio de


cana-de-açúcar (de 8 para 18% da área da bacia); redução de área na classe
mata (combinando mata ciliar e outras unidades de mata), de 33% da área
para 28%; e ligeira redução nas áreas com solo exposto (38 para 33,8%) e de
pastagem (19 para 17%).
Apesar de representar pequena parcela da área total da bacia em
2004 (2,5% da área) o crescimento percentual da área urbana foi de 250%.
As demais classes de uso identificadas (laranja, café e lagoas) representam
pequenas áreas na bacia ou tiveram mudanças muito pouco expressivas. A
Figura 4a ilustra as mudanças entre as classes no período 1994-2004,
representadas na forma de ganho e perdas e a Figura 4b os percentuais das
classes que foram substituídas pelo cultivo de cana-de-açúcar na bacia.

Figura 4 – Ganhos e perdas de uso no período 1994-2004 (a); mudanças


mais significativas de para cana-de-açúcar no período (b)

(a) (b)
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 27

Outra forma de representação da dinâmica das classes de uso e


cobertura obtida do LCM é o mapa de mudanças (Figura 5). Dentre as
mudanças representadas, as mais notáveis são a substituição de áreas de
mata e mata ciliar por pastagens; e de mudanças de áreas das classes mata
e mata ciliar, pastagens, e solo exposto para cana-de-açúcar.
Dentre as mudanças observadas no período 1994-2004, aquelas
relativas à supressão de vegetação arbórea (mata e mata ciliar) e a
substituição desses usos por pastagens e cultivo de cana-de-açúcar são as
que merecem maior destaque. Em geral, a pecuária extensiva praticada em
áreas de pastagem no Brasil induz a processos erosivos e provoca
comprometimento da qualidade dos recursos hídricos superficiais, seja
diretamente pelo acesso do gado aos corpos hídricos, ou de forma indireta,
com o carreamento de sedimentos para os corpos d’água.
O crescimento da área de cultivo de cana-de-açúcar pode produzir
efeitos diversos em função das técnicas de cultivo e práticas
conservacionistas adotadas. Nos levantamentos de campo, foi possível
observar que essas ações podem ser variadas, mas que, em geral, as áreas
de cultivo de cana-de-açúcar na bacia do rio Claro não incorporam muitas
práticas conservacionistas, o que pode agravar os processos erosivos e a
degradação dos recursos hídricos.
Como os solos predominantes na bacia apresentam textura arenosa e
baixa compacidade, o desencadeamento de processos erosivos
influenciados pelo uso e cobertura da terra é notável mesmo em áreas de
baixas declividades, como indicam os registros dos processos erosivos (IPT,
2012).
28

Figura 5 – Mapa de mudanças nas classes de uso e cobertura no período 1994-2004

No período 2004-2014 as mudanças mais notáveis ocorreram entre


as classes de uso e cobertura da terra (Figuras 2 e 3), podendo ser assim
sumarizadas: (1) houve grande expansão das áreas ocupadas por cana-de-
açúcar (de 18 para 34% da área); (2) observa-se crescimento de 14,3% nas
áreas de mata e mata ciliar (cuja soma cresce de 28% para 32% da área da
bacia); (3) há forte redução no percentual de áreas de pastagem (de 17%
para 4% da bacia); (4) significativa redução nas áreas de solo exposto (de
33,8 para 13% da bacia); e forte expansão (100%) da área urbana. As Figuras
6a (mudanças entre as classes no período 2004-2014) e 6b (percentuais das
classes que foram substituídas por cana) ilustram as principais mudanças.

Figura 6 – Ganhos e perdas no período 2004-2014 (a); mudanças mais


significativas de para cana-de-açúcar no período (b)

(a) (b)
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 29

A Figura 7 ilustra a dinâmica das classes de uso e cobertura no


período 2004-2014, sendo que é notável o crescimento da área de cultivo de
cana-de-açúcar em substituição as classes de uso solo exposto, pastagem,
mata e mata ciliar.
Dentre as mudanças representadas, as mais significativas são a
substituição de áreas de solo exposto por cana-de-açúcar e outros cultivos,
em particular eucalipto e café; e mudanças de áreas de cana-de-açúcar para
mata ciliar; e de áreas de pastagem para cana-de-açúcar e para mata.
Naturalmente, a redução de áreas de solo exposto, e sua substituição
por usos agrícolas, pode ser extremamente positivo, especialmente se os
usos agrícolas forem desenvolvidos com adoção de técnicas de cultivo e
práticas conservacionistas adequadas.

Figura 7 – Mapa de mudanças nas classes de uso e cobertura no período 2004-2014

No entanto, trabalhos de campo na bacia não permitiram identificar


outras técnicas e práticas de proteção do solo, além do preparo do solo em
curvas de nível para cultivo nas áreas de cana-de-açúcar. Como vantagem,
merece destaque que na época dos trabalhos de campo não se observava
fertirrigação na cultura de cana (ação que pode ocasionar degradação se
não bem desenvolvida).
A redução de áreas de pastagem em favor dos cultivos agrícolas e de
mata também pode representar algo positivo para a redução do processo de
30

degradação. Como em outras áreas de cultivo de cana, a recomposição de


mata e mata ciliar para atender a instrumentos legais pode representar uma
tendência de melhoria nas condições ambientais das bacias hidrográficas.
Por fim, o recente aparecimento de áreas de cultivo de eucalipto
merece especial atenção no futuro, pois em função da declividade de áreas
exploradas e de práticas agrícolas, tal cobertura pode favorecer ou reduzir a
degradação ambiental.

4 APLICAÇÃO: O CASO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DO MEIO

A Bacia Hidrográfica do Córrego do Meio (BHCM) está localizada no


município de São Pedro, situado no interior do Estado de São Paulo, entre as
coordenadas UTM 194000/199000m E, e 7507000/7491000m N, na Zona 23
Sul. A BHCM possui uma área de 48,06 km², na qual 5 km² correspondem a
uma porção da área urbana, e ordem de ramificação 5, segundo a
classificação de Strahler (1957). O ribeirão do Meio que drena a bacia de
estudo nasce na serra de São Pedro e percorre toda a área com uma
extensão de 41 km, até sua foz, no rio Piracicaba.
O município de São Pedro possui uma área territorial de 611,28 km²;
população estimada de 34.898 habitantes; PIB per capita de 17.688,94 reais
e IDHM (2010) 0,755. O turismo é a principal atividade econômica da região,
com destaque para os atrativos naturais, culturais e históricos. Em relação à
pecuária, destaca-se a criação de galinhas e bovinos, e quanto à produção
agrícola, predomina o cultivo de cana-de-açúcar (IBGE, 2018). A
geomorfologia da BHCM compreende três unidades geomorfológicas: serra
de São Pedro; cuestas basálticas (escarpa de serra) e depressão periférica
(IPT, 1981). Na área ocorrem rochas sedimentares das formações Itaqueri,
Pirambóia e Botucatu e rochas ígneas da formação serra Geral (PEJON,
1992).
Os solos presentes na bacia, de acordo com Oliveira e Prado (1989)
são latossolo roxo distrófico, latossolo vermelho escuro, latossolo vermelho
amarelo, argissolos, neossolo quartzoarênico, litossolos e gleissolos.
As características naturais (geologia e relevo) somadas às atividades
antrópicas propiciam o desencadeamento de processos erosivos lineares
acelerados, como ravinas e voçorocas. Dessa maneira, a degradação
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 31

ambiental na BHCM compromete não só as áreas rurais, mas também a área


urbana, ocasionando perdas ambientais, sociais e econômicas.
Para avaliar as mudanças do uso e cobertura da terra na BHCM foram
utilizadas imagens de satélite Landsat 5 (composição R4G3B2) e 8
(composição R5G4B3), dos anos de 1997, 2007 e 2017, com resolução
espacial de 30 metros.
O processamento das imagens foi realizado a partir da classificação
supervisionada no software TerrSet (Clark Labs), considerando as seguintes
classes de uso e ocupação: área urbana, pastagem, cana-de-açúcar,
eucalipto, mata e lago. Nas Figuras 8a, 8b e 8c são apresentados os
resultados da classificação do uso e cobertura do solo em 1997, 2007 e
2017.
Nos períodos de 1997 a 2007 pode-se observar uma ligeira redução
da área de pastagem (de 46,55 para 43,38% da área da bacia); redução nas
áreas de plantio de eucalipto (8,96 para 2,10%); na classe mata de 24,03%
da área para 19,53%; um crescimento expressivo da área de plantio de cana-
de-açúcar (de 9,46% para 23,26%); em 2007 houve ainda um acréscimo
(10,77% para 11,28%) da área urbana. Por fim, a classe lago com pouca
representação.
Além da classificação do uso e cobertura, também foi realizada a
modelagem das mudanças ao longo dos vinte anos na BHCM. A Figura 9a
ilustra as mudanças entre as classes no período 1997-2007, representadas
na forma de ganho e perdas e na Figura 9b podem ser observados os
percentuais das classes que foram substituídas pelo cultivo de cana-de-
açúcar na bacia.
32

Figura 8(a) – Classificações de uso e cobertura do solo na bacia do córrego do Meio em 1997
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 33

Figura 8 (b) – Classificações de uso e cobertura do solo na bacia do córrego do Meio em 2007
34

Figura 8 (c) – Classificações de uso e cobertura do solo na bacia do córrego do Meio em 2017
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 35

Figura 9 – Ganhos e perdas no período de 1997 a 2007 (a),


mudanças significativas para cana (b)

Gains and losses between 1997 and 2007 Contributions to Net Change in Cana-de-açúcar
Área urbana Área urbana
Pastagem Pastagem
Cana-de-açúcar Cana-de-açúcar
Eucalipto Eucalipto
Mata Mata
Lago Lago

-9,00 -6,00 -3,00 0,00 3,00 6,00 9,00 0,00 0,40 0,80 1,20 1,60 2,00 2,40 2,80 3,20 3,60

(a) (b)

Para o período 2007-2017 as mudanças mais notáveis entre as


classes do uso e cobertura do solo (Figuras 1b e 1c) podem ser assim
sintetizadas: expansão das áreas ocupadas por eucalipto (de 2,10% para
10,12% da área); observa-se uma redução no crescimento de 19,53% nas
áreas de mata para 14,42% da área da bacia; redução no percentual de
áreas de pastagem (de 43,38 para 40,55% da área); diminuição das áreas de
cana-de-açúcar de 23,26 para 21,95%; em 2017 houve um acréscimo (11,28
para 12,78%) da área urbana. Por fim, a classe lago apresentou mudanças
pouco expressivas.
A Figura 10a ilustra as mudanças entre as classes no período 2007-
2017 e na Figura 10b podem ser observados os percentuais das classes que
foram substituídas pelo cultivo de eucalipto na bacia.
Outra maneira de representar as alterações ocorridas entre as classes
de uso e cobertura do solo é a partir dos mapas de mudança do uso do solo
obtidos pelo LCM, que estão representados nas Figuras 11a e 11b relativas
aos mapas dos períodos de 1997-2007 e 2007-2017, respectivamente.

Figura 10 – Ganhos e perdas, período 2007-2017 (a);


Mudanças significativas para eucalipto (b)

(a) (b)
36

Figura 11 – Mudanças de uso entre 1997 e 2007 (a), Mudanças do uso entre 2007 a 2017 (b)

(a) (b)

Dentre as mudanças ocorridas no período 1997-2007, as mais


evidentes são a substituição da pastagem, eucalipto e mata para o cultivo de
cana-de-açúcar; e de áreas de matas para pastagem.
A pastagem destinada à pecuária na BHCM acabou sendo alterada
para o cultivo de cultura anual, como é o caso da cana-de-açúcar. De modo
geral, essa cultura exige o uso de agrotóxicos e fertilizantes, portanto,
requer especial atenção com relação à qualidade dos recursos hídricos na
bacia quando não adotadas práticas e medidas voltadas para a conservação
do solo resultantes da conversão.
O aumento dessa cultura sobre áreas ocupadas por pastagem
extensiva pode apresentar também aspectos positivos no processo de
redução de degradação ambiental, sendo considerada uma atividade
agrícola altamente conservadora, quando utilizadas as práticas de
conservação do solo e de aptidão agrícola.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 37

A pastagem causa alguns efeitos no meio ambiente, como a


degradação da paisagem, empobrecimento do solo, e contribui ainda para a
ocorrência de processos erosivos. Em relação à erosão no solo, a BHCM
apresenta processos com diferentes características morfométricas, e nas
áreas agrícolas ocorrem com maior frequência nas áreas de pastagem,
devido principalmente à ausência da cobertura do solo. Tais processos
podem gerar perdas significativas de solo, afetando o abastecimento de
mananciais e interferindo na qualidade dos recursos naturais.
A supressão das áreas de mata em favor de pastagem pode resultar
um aumento no processo de degradação ambiental na bacia, visto que sua
retirada pode provocar alterações nas propriedades do solo e no regime do
escoamento superficial, favorecendo a ocorrência de processos erosivos e
compactação do solo, comprometendo a qualidade dos recursos hídricos
(LEITE et al., 2011).
Dentre as mudanças apresentadas para o período de 2007-2017,
nota-se a substituição de áreas de pastagem, das áreas de plantio de cana-
de-açúcar e mata para a cultura de eucalipto; e áreas de cultivo de cana-de-
açúcar para pastagem.
As observações em imagens de satélite mostraram que os processos
erosivos nas áreas de cultivo de eucalipto tendem a ser mais intensos
quando não aplicado um plano de manejo adequado em todas as etapas do
plantio e durante a colheita. Além disso, a substituição da mata pelos
eucaliptos provoca impactos físicos e químicos, contribuindo para a
degradação dos solos e cursos d´água.
A redução da área de cultivo de cana-de-açúcar e sua substituição
por pastagem apresentam alguns aspectos negativos, uma vez que essas
áreas de pastagens extensivas normalmente apresentam solos compactos
pelo pisoteio contínuo dos animais e baixa infiltração da água, resultando
uma área mais suscetível à degradação por processos erosivos.
É importante destacar que ao longo do período analisado (1997 a
2017) houve crescimento linear das áreas urbanas, que, por sua vez,
caracterizam-se por áreas de chácaras. Nesses locais observa-se a ausência
de obras de drenagem, principalmente nas estradas sem pavimentação, o
que contribui fortemente para a abertura de canais preferenciais e,
consequentemente, a ocorrência de erosão acelerada. Esses processos,
38

especialmente quando ocorrem em áreas de solos arenosos, resulta a


deposição de sedimentos nos corpos d’água, podendo comprometer a
qualidade dos recursos hídricos e danos ambientais associados.
Por fim, pode-se dizer que a BHCM está exposta a fontes potenciais
de contaminação advindas das atividades agrícolas, por possuir diferentes
usos do solo e estar em constante mudança de culturas. Desse modo, é de
suma importância a realização de estudos em bacias hidrográficas em
diferentes datas, de forma a permitir comparação e quantificação das
mudanças sob diferentes cenários ambientais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado


de São Paulo (FAPESP - Processo 2013/03699-5) e informam que "o presente
trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001".

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Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 41

Capítulo 2

SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA APLICADO NA


DISCRIMINAÇÃO MORFOMÉTRICA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
7
Sérgio Campos
8
Marcelo Campos
9
Thyellenn Lopes de Souza
10
Mateus de Campos Leme
11
Letícia Duron Cury

1 INTRODUÇÃO

Diversas pesquisas vêm mostrando que o uso inadequado dos


recursos naturais vem provocando impactos pela ação antrópica (QUEIRÓZ,
2008), sendo a caracterização física de uma bacia hidrográfica essencial para
a elaboração de futuros projetos agroambientais, pois os resultados
permitirão melhor compreensão do escoamento superficial.
A morfometria das bacias é de suma importância, pois atuam no ciclo
hidrológico, influenciando diretamente os aspectos relativos à infiltração, à
evapotranspiração e ao escoamento superficial e subsuperficial (RODRIGUES
et al., 2008).
O conhecimento das características físicas da bacia permite a
determinação do escoamento superficial numa região, possibilitando assim
medidas preventivas no controle de enchentes, identificando se esta é
suscetível a esse evento (FONTES et al., 2008).

7
Professor titular (UNESP), Botucatu. Responsável pela coordenação da pesquisa. E-mail:
seca@fca.unesp.br
8
Professor doutor (UNESP), Tupã. E-mail: marcelocampos@tupa.unesp.br
9
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Energia na Agricultura (UNESP),
Botucatu. E-mail: thyellenn@hotmail.com
10
Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Energia na Agricultura (UNESP),
Botucatu. E-mail: mateus@hotmail.com
11
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Energia na Agricultura (UNESP),
Botucatu. E-mail: le.cury@hotmail.com
42

A morfometria é fundamental no diagnóstico de suscetibilidade à


degradação ambiental, determinação de zonas ripárias, planejamento e
manejo de bacias (MOREIRA; RODRIGUES, 2010), pois o monitoramento
contínuo dos recursos hídricos é essencial para a avaliação dos fenômenos
hidrológicos, envolvendo secas e inundações.
A política agrícola adequada necessita de embasamento técnico e
científico, com informações confiáveis e atualizadas do uso das terras, cujo
objetivo é racionalizar e viabilizar os planejamentos agrícolas regionais em
função da grande extensão territorial do nosso país.
Os dados georreferenciados obtidos por sensoriamento remoto e a
multiplicação de mapas temáticos permitem obter tais planejamentos com
muita rapidez em face do exame de um grande conjunto de variáveis
consideradas nos planejamentos de manejo do solo.
O sistema de informação geográfica (SIG) utiliza uma base de dados
georreferenciados com informação espacial, aspectos sociais, econômicos e
políticos, permitindo uma divisão temática que integra um SIG, a qual atua
em uma série de operações espaciais (TEIXEIRA et al., 1992).
Assim, a avalição do comprimento da rede de drenagem em função
da área de bacias permite associar os valores dos problemas com enchentes
e erosões do solo (TORRES et al., 2007).
O presente capítulo teve como objetivo a caracterização
morfométrica da bacia do córrego do Veado, Brotas (SP), de acordo com o
Sistema de Informações Geográficas Idrisi Selva, visando ao planejamento e
ao manejo integrado dos recursos hídricos da bacia.

2 BACIAS HIDROGRÁFICAS

O manejo de bacias hidrográficas em áreas com regime de


exploração apresenta grande dificuldade para o planejador conciliar a
conservação dos recursos naturais com a exploração econômica
desenfreada, principalmente quando os proprietários desconhecem os
aspectos da conservação da água, solo e recursos naturais, uma vez que o
tamanho da propriedade dificulta medidas de conservação ou inviabiliza na
questão de sobrevivência (BARROSO, 1987).
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 43

A correção do meio ambiente deteriorado é necessária no


gerenciamento das unidades de planejamento: naturais e políticas para a
recuperação das bacias hidrográficas que têm mostrado grande eficiência
em pesquisas de campo (ROCHA, 1991).
Para Fabrin (1995), o monitoramento florestal de bacias hidrográficas
através de bases digitais foi satisfatório com a utilização de SIG e imagens do
Landsat 5 TM na digitalização das curvas de nível, criação de base de dados
digitais e quantificação de áreas.
O ciclo de vida das árvores depende do equilíbrio dos ecossistemas,
pois as florestas têm importância fundamental na manutenção deste:
abastecer os lençóis freáticos, amenizar os efeitos erosivos sobre o solo, no
refúgio de animais silvestres, etc.
A cobertura vegetal é muito importante na conservação do solo, pois
permite o controle da erosão hídrica e eólica, porque o escoamento está
diretamente ligado à cobertura vegetal e a declividade do terreno, ou seja,
apresenta fortes implicações no processo erosivo dos solos (CASSOL, 1996),
assim, no combate no processo erosivo do solo é recomendável mantê-lo
coberto por vegetação para diminuir a velocidade do escoamento com a
utilização do plantio das culturas em curvas de nível.
O relevo influencia nas forças climáticas, variando as condições para
atividade orgânica, exposição da fauna e flora do solo direto à luz do sol e
misturando o solo mineral e material orgânico por ação de animais, bem
como influencia na a exposição do solo ao vento, a precipitação, a neve, o
gelo, nas condições para drenagem natural.

3 MORFOMETRIA DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA

As mudanças ambientais prejudicam a qualidade de vida das pessoas,


sendo necessário estudar os processos ambientais, sociais e culturais para
melhor planejamento e manejo das áreas (NARDIN, 2005).
A bacia hidrográfica, por ser considerada uma unidade ideal no
planejamento dos recursos naturais do meio ambiente, permite melhor
aproveitamento hídrico e econômico-social na sustentabilidade ambiental
para a produtividade e qualidade de vida dos seus usuários (TUNDISI, J. G. et
al., 2008).
44

A análise física, socioeconômica e ambiental das bacias hidrográficas


é aconselhável para a recuperação dos problemas ambientais, para a
produção, conservação, manejo e estudo detalhados envolvendo a água, o
solo, a vegetação, os animais, a biodiversidade e a produção florestal
sustentável (RODRIGUES, 2003).
A morfometria de uma bacia hidrográfica e a caracterização da zona
ripária são ferramentas importantíssimas no diagnóstico da suscetibilidade à
degradação ambiental, pois possibilita, por meio de representações gráficas,
a determinação de áreas a partir de parâmetros quantitativos (RODRIGUES,
2000), bem como as análises morfométricas relacionadas com o relevo, que
permitem obter resultados da formação geomorfológica ao longo do tempo
e espaço (NARDINI, 2005).
Esta seção permitiu o estudo da caracterização do relevo em relação
à morfometria e as condições de conservação da bacia do ribeirão do
Veado.

4 SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS - SIGs

Os SIGs vêm sendo utilizados nas mais diversas aplicações ambientais


que envolvem integração e análise de dados espaciais em diferentes escalas,
pois são muito eficazes na solução de problemas com a topologia de um
mapa e diversas projeções cartográficas (MATTIKALLI et al., 1995).
Calijuri et al. (1994) ao estudarem a determinação dos princípios de
funcionamento do sistema, implantaram um SIG na bacia hidrográfica do
ribeirão e represa do Loa, entre os municípios de Brotas e Itirapina(SP), o
qual permitiu melhor planejamento, manejo, conservação e exploração dos
recursos naturais da bacia.
Para Simões (1996), a avaliação de áreas de preservação permanente
com SIG-IDRISI mostrou que as técnicas de geoprocessamento foram
eficientes na determinação e análise destas, permitindo a sua atualização e
monitoramento, mostrando também a necessidade da elaboração de
projetos de recuperação dessas áreas no município de Botucatu.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 45

5 SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA – IDRISI SELVA

O Sistema de Informações Geográficas IDRISI foi desenvolvido pela


Clark University, Massashussets. De acordo com Teixeira et al. (1992), a
estrutura dos dados espaciais geométricos pode ser subdividida em raster e
vetorial, onde a estrutura vetorial considera um espaço geográfico contínuo
e a raster divide o espaço em elementos discretos, obtidos pela sua partição
em uma malha com linhas verticais e horizontais espaçadas regularmente,
formando células (pixels).
Corseuil (1996), utilizando o IDRISI para modelagem numérica de um
mapa temático de florestas, visando à visualização tridimensional de
camadas de informações, em cores e georreferenciadas, obteve resultados
significativos, mostrando que o método para o planejamento florestal é
viável.
Segundo Crósta (1996), o sistema de informações geográficas IDRISI
utilizado na delimitação, quantificação e caracterização das áreas de
preservação permanente permitiu a obtenção de informações de áreas
usadas indevidamente, ou seja, inadequadamente nessas áreas.

6 DESENVOLVIMENTO

A bacia do córrego do Veado localiza-se na porção norte do


município de Brotas-SP, entre as coordenadas UTM 791200 a 798450 de
longitude W Gr. e 7524450 a 7530400 de latitude S, apresentando uma área
de 2565 ha.
O clima predominante do município, segundo Koppen, é do tipo Cwa
– Clima subtropical úmido com invernos secos e verões quentes, na qual a
temperatura do mês mais frio é inferior a 18 °C e a do mês mais quente é
maior que 22 °C.
Na caracterização morfométrica da área foi utilizada a carta
topográfica de Brotas (IBGE, 1974), em escala 1:50.000, com curvas de nível
de 20 em 20 metros, para extração da rede de drenag em e da
planialtimetria (Figura 1).
46

O software Idrisi Selva foi utilizado para vetorização das curvas de


nível, divisor de águas, rede de drenagem, bem como para elaboração da
morfometria, hierarquia da rede de drenagem (STRAHLER, 1952).
A delimitação da área da bacia permitiu obter os parâmetros
dimensionais da rede de drenagem, que permitem eliminar a subjetividade
na sua caracterização (OLIVEIRA; FERREIRA, 2001). A determinação desses
parâmetros permitiu o cálculo do maior comprimento (C), do comprimento
do curso principal (CP), do comprimento total da rede (CR), do perímetro (P)
e da área (A), as quais foram determinados pelo software Sistema de
Informações Geográficas Idrisi Selva utilizado para manipulação, tratamento
e análise dos dados gerados para a bacia (curvas de nível e rede de
drenagem).

Figura 1 - Planialtimetria e hidrografia da bacia do Córrego do Veado - Brotas (SP)

Fonte: Strahler (1952).

A hierarquização da rede de drenagem foi obtida conforme proposta


de Horton (1945) e modificada por Strahler (1957), onde parâmetro ordem
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 47

dos canais é o grau de ramificações e/ou bifurcações presentes em uma


bacia hidrográfica.
Os parâmetros da composição e padrão de drenagem analisados
foram: a densidade de drenagem (Dd), a extensão do percurso superficial
(Eps), a extensão média do escoamento superficial (I), a textura da
topografia (Tt), o coeficiente de manutenção (Cm), a rugosidade topográfica
(Rt) e o índice de forma (K), conforme Christofoletti (1969) e fator de forma
(Kf) foi determinado conforme metodologia preconizada por Almeida
(2007).

Densidade hidrográfica (Dh)

A densidade hidrográfica, relação existente entre o número de rios e


a área da bacia hidrográfica (CHRISTOFOLETTI, 1969), foi determinada
conforme Equação 1:

-1
Dh = N . A ......................................... Eq. 1
Onde:
-2
Dh - Densidade hidrográfica em km
N - Número total de rios
2
A - Área da bacia hidrográfica em km

Declividade média

A declividade média de uma bacia, associada à cobertura vegetal,


tipo de solo e tipo de uso da terra (ROCHA; SILVA, 2001), foi obtida a partir
da Equação 2 e classificada quanto a forma de relevo por Lepsch et al.
(2001), conforme Quadro 1:

H = (D . L) 100/A ..................................... Eq. 2


onde:
H - Declividade média em %
D - Distância entre as curvas de nível em m
L - Comprimento total das curvas de nível em m
2
A - Área da microbacia em m
48

Quadro 1 - Classes de declividade e relevo


Classes de Declividade (%) Forma de Relevo
0-3 Plano
3-6 Suave ondulado
6-2 Ondulado
12-20 Forte ondulado
20-40 Montanhoso
 40 Escarpado
Fonte: Lepsch et al. (2001).

Coeficiente de rugosidade (CR)

O coeficiente de rugosidade visa a determinar o uso potencial das


terras rurais, dependendo das características com agricultura, pecuária,
silvicultura por reflorestamento ou preservação permanente na definição
das classes de uso da terra em A (menor valor de CR) – terras apropriadas à
agricultura; B – terras apropriadas à pecuária; C – terras apropriadas à
pecuária e reflorestamento e D (maior valor de CR) – terras apropriadas
para florestas e reflorestamento (ROCHA; SILVA, 2001). As terras A, B, C e D
foram definidas através do cálculo da amplitude, diferença entre o maior e o
menor valor de CR encontrada para as bacias e o intervalo de domínio que é
a amplitude dividida por 4 (ROCHA; SILVA, 2001).

Densidade de drenagem (Dd)

A densidade de drenagem e o comprimento total dos rios pela área


da bacia foram obtidos a partir da Equação 3 (SILVA et al., 2004) e
classificados em três classes de interpretação conforme Quadro 2, segundo
Cristofoletti (1969):

-1
Dd= l . A .............................................. Eq. 3

Onde:
2
Dd - Densidade de drenagem em km/km
L - Comprimento total dos rios ou canais em km
2
A - Área da bacia em km
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 49

Quadro 2 - Classes de interpretação para os valores da densidade de drenagem


Classes de valores (km2) Densidade de drenagem
< 7,5 Baixa
7,5 a 10,0 Média
 10,0 Alta
Fonte: Christofoletti (1969).

Índice de circularidade (IC)

O índice de circularidade, que é a relação entre o perímetro e a área


de uma bacia, foi determinado pela Equação 4:

2
TC=12,57 P .......................................................... Eq. 4
Onde:
K - Índice de circularidade;
P - Perímetro da bacia em km
2
A - Área da bacia em km

Coeficiente de Compacidade (Kc)

O coeficiente de compacidade é a relação entre o perímetro da bacia


e o perímetro de uma circunferência de um círculo de área à bacia (VILLELA;
MATTOS, 1975) que varia com o formato da bacia, varia com o tamanho
irregular da bacia, sendo maior nas bacias menos sujeitas a enchentes. Este
é determinado através da Equação 5:

1/2
Kc = 0,28 (P : A ) ................................................ Eq. 5

Onde:
Kc - Coeficiente de compacidade
P - Perímetro em metros
2
A - Área de drenagem em m
50

Índice de circularidade

O índice de circularidade, quanto mais próximo da unidade 1,0, mais


se aproxima do formato circular, diminuindo à medida que se transforma
em um formato mais alongado (CARDOSO et al., 2006). Esse índice foi
determinado através da Equação 6:

2
IC= 12,57 (A / P ) ................................... Eq. 6
Onde:
IC - Índice de circularidade
2
A - Área de drenagem em m
P - Perímetro em m

Fator de forma (Ff)

O coeficiente de compacidade e o índice de circularidade comparam


a bacia a um círculo e o fator de forma a um retângulo, porém, a forma da
bacia e a configuração do sistema de drenagem dependem da estrutura
geológica do terreno, sendo muito importantes porque quanto mais baixo
for o fator de forma menos sujeita a bacia será a enchentes (VILLELA;
MATTOS, 1975). Este fator foi determinado pela seguinte Equação 7:

2
F = A/L ................................................... Eq. 7

Onde:
F - Fator de forma
2
A - A área de drenagem em m
L - O comprimento do eixo da bacia em m

Razão de Relevo

A razão de relevo, relação entre a diferença de altitude dos pontos


extremos da bacia e seu comprimento (SCHUMM, 1956), demonstra que
quanto maiores os valores mais acidentado será o relevo na região e maior
será a declividade geral da bacia, portanto maior será a velocidade de
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 51

escoamento da água em relação ao maior comprimento do canal


(CARVALHO, 1981).

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos resultados para a bacia do córrego do Veado (Tabela 1)


mostra que a área é de 25,65 ha, o perímetro de 20 km e o fluxo de água na
direção E-W apresenta um comprimento de 7 km. O comprimento total da
rede de drenagem (35 km) mostra que a bacia apresenta poucos canais de
drenagem.
O fator de forma, importante na determinação do tempo de
concentração da água após uma precipitação, mostrou que esta apresenta
um fator de forma de 0,52 para o córrego do Veado, indicando que a bacia
tem o formato mais ovalado.

Tabela 1 - Características morfométricas da bacia Córrego do Veado, Brotas-SP


Características Físicas Unidades Resultados
Parâmetros dimensionais da bacia
Área (A) km² 25,65
Perímetro (P) km 20
Comprimento do rio principal km 7
Comprimento da rede de drenagem total (Cr) km 35
Comprimento das curvas de nível (Cn) km 122,1
Comprimento vetorial km 6,65,9
Características do Relevo
Coeficiente de compacidade (Kc) ----------- 1,11
Fator de forma (Ff) ----------- 0,52
Índice de circularidade (Ic) ----------- 0,87
Declividade média (D) % 9,52
Altitude média (Hm) m 705
Maior altitude (MA) m 842
Menor altitude (mA) m 568
Coeficiente de rugosidade (CR) ----------- 12,28
Padrões de drenagem da bacia
Ordem da bacia (W) --------- 3ª
Densidade de drenagem (Dd) km/km² 1,36
Coeficiente de manutenção (Cm) m/m² 3735,3
Extensão do percurso superficial (EPS) m 0,34
Gradiente de canais (Gc) % 12,02
Índice de sinuosidade (Is) --------- 1,06
Frequência de rios (Fr) --------- 0,77
52

A forma e o relevo atuam na taxa e o regime de produção de água na


taxa de sedimentação.
O coeficiente de compacidade de 1,11 e o fator de forma baixo 0,52
permitiram constatar que a bacia é pouco suscetível a enchentes. Portanto,
os parâmetros mostram que a bacia não possui formato circular, tendendo
para a forma alongada, elíptica (SANTOS, 2001), mostrando que esta
apresenta menor risco a enchentes sazonais, o que foi confirmado pelo
índice de circularidade de 0,87, que permitiu constatar a bacia não possui
formato próximo ao circular, isto é, apresenta forma alongada.
Os baixos valores de Dd, Fr e Razão, associados à presença de rochas
permeáveis (TONELLO et al., 2006), facilitam a infiltração da água no solo
com a diminuição do escoamento superficial, do risco de erosão e
degradação ambiental, pois quanto mais elevados forem esses valores mais
intenso é o processo de erosão do solo (RODRIGUES et al., 2008).
2
A densidade de drenagem de 1,36 km/km classificá-la como baixa,
2
pois os valores são menores que 7,5 km/km (CHRISTOFOLETTI, 1969),
enquanto esse índice é considerado pobre, indicando que a bacia apresenta
baixa drenagem.
A sinuosidade, fator controlador da velocidade de escoamento da
água, demonstra que o rio segue exatamente a linha do talvegue, devido ao
baixo grau de sinuosidade (SILVA et al., 2009).
O valor médio da extensão do percurso superficial (0,34) e o do
coeficiente de manutenção (735,3) permitiram constatar a presença de
solos permeáveis na bacia.
A declividade média na bacia do córrego do Veado, Brotas (SP), da
ordem de 9,52, permitiu classificá-la (CHIARINI; DONZELLI, 1973) como
relevo ondulado, impróprio para o cultivo de culturas anuais, mas indicado
para o uso de pastagens associado à rotação com culturas anuais, que
podem ser exploradas com culturas permanentes porque dão certa
proteção ao solo, uma vez que são terras sujeitas à erosão e a prática da
conservação do solo é imprescindível (LEPSCH et al., 2001).
As atividades agrícolas em áreas impróprias e de forma inadequada
deve ser considerada uma prática de risco, pois se as práticas
conservacionistas não forem utilizadas as bacias certamente sofrerão com
perdas de solos por erosão.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 53

A declividade alta tem relação direta com os processos erosivos


devido à maior velocidade de escoamento superficial e menor infiltração das
águas no solo, pois propicia modificação na regulagem do sistema
hidrológico e produção de água na bacia.
O coeficiente de rugosidade de 12,28 permitiu classificar a bacia para
vocação com uso de reflorestamento (Classe C), uma vez que os altos
valores do coeficiente de rugosidade mostram que essas têm probabilidade
de sofrer os efeitos da erosão, sendo necessário medidas preventivas, com a
implementação de áreas cobertas pela vegetação.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As técnicas de sensoriamento remoto em conjunto com o emprego


de produtos orbitais do Landsat mostraram ser eficientes na determinação
do uso do solo, integração de dados georreferenciados na elaboração de um
banco de dados que é fundamental no planejamento de uso do solo numa
bacia e no atendimento à legislação ambiental.
A morfometria da bacia permitiu concluir que as variáveis
morfométricas serão importantíssimas nos futuros planejamentos e gestões
ambientais regionais.
A bacia apresenta altos riscos de suscetibilidade à erosão e
degradação ambiental, sendo fundamental o aumento da cobertura vegetal
e das zonas ripárias para conservação dos serviços ambientais.
O fator de forma e a densidade de drenagem, classificados como
baixos, permitem constatar que o substrato tem permeabilidade alta com
maior infiltração e menor escoamento da água.
O Sistema de Informações Geográficas Idrisi Selva foi uma excelente
ferramenta na confecção dos mapas temáticos, monitoramento e gestão
dos recursos hídricos da bacia.
O coeficiente de rugosidade permitiu classificar a bacia para vocação
com uso por Pecuária/Reflorestamento (Classe C), pois os altos valores
mostram que essas têm maiores chances de sofrer os efeitos da erosão,
necessitando de medidas para prevenção e proteção com cobertura vegetal.
54

REFERÊNCIAS

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56
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 57

Capítulo 3

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO MANEJO DE BACIAS


HIDROGRÁFICAS: O CASO DA BACIA DO
RIO LAVAPÉS EM BOTUCATU (SP)
12
Ronaldo Alberto Pollo
13
César de Oliveira Ferreira Silva
14
Mikael Timóteo Rodrigues
15
Lincoln Gehring Cardoso
16
Bruno Timóteo Rodrigues

1 INTRODUÇÃO

O gerenciamento de recursos hídricos foi regulamentado pela


legislação brasileira com o objetivo de disciplinar e melhorar continuamente
o manejo dos mesmos, projetando e prevenindo conflitos para diminuir
custos, bem como danos em termos qualitativos e quantitativos aos
recursos hídricos.
Uma das primeiras legislações a inserir o gerenciamento de recursos
hídricos como participante da gestão pública foi a Política Estadual de
Recursos Hídricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos
Hídricos do Estado de São Paulo, com base na Lei Estadual 7.663, embasada
fundamentalmente no reconhecimento do valor econômico da água,
buscando “a descentralização do poder para quem administra os recursos
naturais”.
A União implementou a Política Nacional de Recursos Hídricos no ano
de 1997 pela Lei 9.433, visando a consolidar um avanço na valoração da

12
Doutor em Agronomia, Departamento de Engenharia Rural/FCA/UNESP/Botucatu-SP. E-mail:
ra.pollo@unesp.br
13
Mestrando em Irrigação e Drenagem, FCA/UNESP/Botucatu-SP. E-mail:
cesaroliveira.f.silva@gmail.com
14
Pós-doutorando em Agronomia, FCA/UNESP/Botucatu-SP. E-mail: mikaelgeo@gmail.com
15
Prof. Titular, Departamento de Engenharia Rural/FCA/UNESP/Botucatu-SP. E-mail: lincoln-
gehring.cardoso@unesp.br
16
Doutorando em Agronomia/FCA/UNESP/Botucatu-SP. E-mail: brunogta21@gmail.com
58

água, observado em seu artigo 1º, incisos I e II: “A água é um bem de


domínio público e dotado de valor econômico”. Estabeleceu diferentes
ferramentas de gestão que, desde que efetivamente implementadas pelos
usuários dos recursos hídricos e órgãos gestores, permitem a
compatibilização dos diferentes interesses no uso e ocupação dos solos das
bacias hidrográficas (TUCCI, 2002).
A criação da Agência Nacional de Águas (ANA) em 2000, que detém
participação na execução da Política Nacional dos Recursos Hídricos, foi mais
um passo para maior participação popular, acadêmica e técnica ao
gerenciamento de recursos hídricos por meio dos Conselhos Nacional e
Estadual de Recursos Hídricos.
Nesse contexto, postas as disposições jurídicas que servem de base
às ações de intervenção e manutenção da qualidade ambiental dos recursos
hídricos, cabe analisar a interface entre as definições legais e o
conhecimento científico e tecnológico disponível aos estudos ambientais em
nível de bacia hidrográfica.
Assim, o presente capítulo buscou identificar as potencialidades do
uso de ferramentas de geoprocessamento como gerador de subsídios para
tomada de decisão de manejo de bacias hidrográficas. Nesse texto serão
apresentadas as variáveis primordiais ao entendimento da dinâmica
ambiental de uma bacia hidrográfica e suas respectivas estratégias de
estudo com uso de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) tomando como
estudo de caso a bacia hidrográfica do rio Lavapés, no município de
Botucatu-SP.

2 MANEJO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2015), ciclo


hidrológico é a contínua interação das águas continentais com a atmosfera,
interação originada de forças gravitacionais e térmicas (do Sol), que
provocam, de forma cíclica, a evaporação das águas dos oceanos e dos
continentes e posterior precipitação de acordo com as condições
atmosféricas. Segundo Lima e Freire (1976), o ciclo hidrológico envolve os
processos físicos da evapotranspiração, chuva, infiltração, percolação,
escoamento superficial, subsuperficial e de base, além da vazão, que
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 59

representam os diferentes caminhos pelos quais a água circula nas três fases
do sistema Terra: hidrosfera, litosfera e atmosfera.
A água na superfície terrestre interage com o solo por fenômenos
como infiltração e escoamento superficial, que são os mais significativos em
nível de bacia hidrográfica (outros fenômenos de menor intensidade podem
ser identificados como o escoamento subsuperficial e a ascensão capilar),
sendo a infiltração o fenômeno ambientalmente mais benéfico (SANTANA,
2003), já que promove a recarga dos aquíferos, e o escoamento superficial o
fenômeno ambientalmente mais oneroso, já que provoca a ocorrência de
efeitos nocivos à paisagem e à bacia hidrográfica, como deslizamentos de
encostas e erosão.
Bacias hidrográficas são consideradas regiões separadas entre si pela
sua topografia (divisores de águas), cujas áreas funcionam como receptores
naturais das águas da chuva, ou seja, onde ocorre pelas suas características
geográficas e topográficas, a captação de água (drenagem) para um rio
principal e seus afluentes (GOLDENFUM, 2001). É composta basicamente de
um conjunto de superfícies, chamadas vertentes, e de uma rede de
drenagem formada por cursos d’água confluentes, resultando em um leito
único no exutório (SILVEIRA, 2001), comumente é considerada como uma
determinada “área de terreno que drena água, partículas de solo e material
dissolvido para um ponto de saída comum, situado ao longo de um rio,
riacho ou ribeirão” (DUNNE; LEOPOLD, 1978).
Os parâmetros morfológicos mais comuns em estudos de bacias
hidrográficas são o uso e tipo de solo, área, forma, declividade da bacia,
elevação, declividade do curso d’água, ramificação dos cursos d’água
(ordem de afluente), tipo de rede de drenagem e densidade de drenagem,
dentre outras fórmulas empíricas que a caracterizam (CHRISTOFOLETTI,
1980).
A bacia hidrográfica, considerada a unidade de estudos hidrológicos,
segundo a Lei Federal 9.433/1997 (BRASIL, 1997), ainda abarca uma enorme
quantidade de variáveis (algumas possivelmente desconhecidas ou de difícil
mensuração) que geram grande complexidade e incerteza em sua
caracterização e manejo, sendo primordial estudar seus principais
componentes e identificar suas correlações e interações. Assim, a análise e
planejamento territorial para fins de avaliação de disponibilidade hídrica e
60

conservação devem tomar como unidade espacial de estudo a bacia


hidrográfica.

3 INTERAÇÃO ÁGUA-SOLO-ROCHA-ATMOSFERA

O solo é formado a partir da rocha-matriz, ou rocha-mãe, material


rochoso de origem magmática ou metamórfica, através da ação de agentes
de intemperismo, como elementos climáticos (chuva, gelo, vento,
temperatura, etc.), que, com o tempo e a ação conjunta de organismos
(fungos, liquens, insetos, minhocas, plantas seres biológicos) realizam
transformações nas rochas, diminuindo o seu tamanho e fragmentando-as,
tornando-as um material desagregado, compondo a parte mineral do solo,
que se mistura com a matéria orgânica. Essa mistura faz com que o material
que veio do desgaste das rochas forneça nutrientes para as raízes das
plantas (LEMOS; SANTOS, 1996).
Em síntese, o solo é formado pela mistura da sua parte mineral com a
matéria orgânica, água e o ar (que ocupam os espaços vazios, ou interstícios
do solo), interagindo com os agentes intempéricos, que transformam os
materiais.
O solo possui uma variação de camadas que são chamadas de
horizontes, que são uma organização estratificada do solo, com colorações
diferentes. Normalmente, o primeiro horizonte é mais escuro que os outros,
já que contém matéria orgânica e cobertura vegetal, porém, dependendo do
tipo e das condições climáticas, pode estar seco e claro devido à carência da
matéria orgânica, tornando-o um solo deficiente. Os horizontes também
apresentam variações de permeabilidade, impactando na infiltração e,
consequentemente, na recarga de aquífero.
A poluição do solo (contaminação deste através de substâncias
capazes de provocar alterações significativas em sua estrutura natural)
ocorre devido à desordem na exploração do meio ambiente, ação antrópica,
depositando no solo elementos químicos estranhos, prejudiciais às formas
de vida microbiológica (CAMARGO et al., 2009).
O acúmulo de resíduos sólidos e de produtos químicos como
fertilizantes, pesticidas e herbicidas, e gases poluentes que se agrupam no
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 61

solo, formando uma camada escura e grossa de poluentes, são as principais


causas da poluição do solo (CAMARGO et al., 2009).
Estudos pedológicos são essenciais para o planejamento
ambientalmente adequado do solo em todas as áreas, como geomorfologia,
ecologia, agronomia, entre outros. Avaliam desde a formação do solo, a
partir do intemperismo da rocha até os seus componentes desde a
superfície à rocha mãe, é uma ciência muito precisa e que só tem a ajudar
para a preservação do planeta, pois sabe descrever as necessidades e
cuidados que são necessários para o solo.
Cunha (1995) considera que mudanças significativas em
componentes das bacias hidrográficas, como desmatamento da zona ripária
(mata ciliar), assoreamento de margens, deposição de resíduos sólidos,
aumento de área impermeável e de escoamento superficial podem
ocasionar impactos à jusante da bacia, bem como nos fluxos energéticos de
sólidos e substâncias dissolvidas, que, dependendo da escala e intensidade,
podem modificar a dinâmica geomorfológica da bacia bem como seu
funcionamento como produtora de água.
Define-se impacto ambiental como a projeção de “mudança em um
parâmetro ambiental, num determinado período e numa determinada área,
que resulta de uma dada atividade, comparada com a situação que ocorreria
se essa atividade não tivesse sido iniciada” (WATHERN, 1998). Assim,
diagnosticar, quantificar e, sempre que possível, predizer um impacto
ambiental em componentes ambientais de uma bacia hidrográfica é um
passo necessário na busca da sustentabilidade.

4 USO DE GEOPROCESSAMENTO PARA IDENTIFICAÇÃO DE COMPONENTES


AMBIENTAIS

A identificação, a avaliação e o gerenciamento de componentes


ambientais ganharam novas possibilidades com o avanço das ferramentas
computacionais que facilitaram a manipulação e extração de informações.
Com as análises dos dados geográficos sistematizados e integrados a um SIG
foi possível maior entendimento, auxiliando no planejamento,
gerenciamento e tomada de decisão.
62

Nesse contexto, pode-se definir sistema de informação geográfica


(SIG) como um sistema computacional que permite a integração e
manipulação de informações, com o objetivo de compor um banco de dados
para melhor compreensão da área de estudo.
Geoprocessamento representa um conjunto de tecnologias
computacionais que opera sobre registros cartográficos georreferenciados,
capazes de realizar análises complexas, permitindo o desenvolvimento
constante de informações ambientais com novas aplicações em
Sensoriamento Remoto (SR), Sistema de Informação Geográfica (SIG) e o
Sistema de Posicionamento Global (GPS), promovendo a geração de
produtos cartográficos, desde curvas de nível a mapeamentos de uso e
ocupação da terra.
Em geral, os produtos resultantes da integração de dados de diversas
fontes analisadas por um SIG podem representar espacialmente fenômenos
climáticos, humanos, sociais e econômicos. E essas representações
mapeadas por um SIG trazem melhor conhecimento de dada região,
possibilitando a geração de subsídios para futuras decisões (SILVA;
MEDEIROS, 2017).
Um dos principais desafios é avaliar o caráter espacial de variáveis
agroambientais para planejamento e ordenamento do uso da terra para fins
de conservação e manutenção sustentável de culturas. Ferramentas
disponíveis a esses fins são a geoestatística e a modelagem espacial, ambas
integradas ao geoprocessamento.
A geoestatística surgiu na África do Sul, quando Krige (1951), um
engenheiro de minas, analisando valores de concentrações de ouro,
verificou que sua variância tinha características espaciais, ou seja, havia uma
relação entre as concentrações de ouro e as distâncias entre amostras.
Dessa maneira surgiu o conceito da geoestatística como variáveis
regionalizadas, que considera a dependência espacial de um parâmetro e
suas coordenadas geográficas. Matheron (1965) formalizou esse resultado
de Krige e desenvolveu a geoestatística, sendo um de seus principais
métodos, a krigagem, uma homenagem ao pioneiro.
Geoestatística não se limita apenas a obter um modelo de
dependência espacial de uma variável, mas também pretende estimar
valores de pontos em locais não coletados, ou seja, interpolar
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 63

espacialmente. Através de tratamento matemático, os métodos


geoestatísticos buscam realizar essa interpolação por meio da minimização
do resíduo entre valores estimados e reais através de uma série de
condições derivadas dessa dependência espacial. Por exemplo, um dos
métodos mais conhecidos, a krigagem, consiste em ponderar valores
situados na vizinhança de um fenômeno espacialmente regionalizado,
obedecendo a critérios de não tendenciosidade, baseando-se no método de
interpolação desses dados mediante sua posição geográfica.
Com a geoestatística é possível analisar e organizar os dados
amostrados espacialmente a partir da semelhança entre pontos próximos
georreferenciados, possibilitando a aplicação de modelos espaciais para
analisar parâmetros do solo, vegetação, água, geologia e agricultura.
A modelagem espacial aplica equações e modelos computacionais
para predizer fenômenos físicos, químicos ou biológicos de acordo com sua
dependência espacial e eventos que geram impacto para o meio ambiente e
para os seres humanos, buscando diagnosticar tendência que permita o
gerenciamento do meio ambiente de maneira sustentável.
Inúmeras são as aplicações dessas ferramentas e as ações vinculadas
ao monitoramento, planejamento, manejo e gestão na caracterização de
espaços geográficos urbanos e rurais terão melhor resultado se trabalhadas
com auxílio de um SIG. Em uma bacia podem-se extrair, como exemplo, as
seguintes aplicações de manejo:
a) mapeamento espaço-temporal da cobertura e uso da terra;
b) zoneamentos diversos (ambiental, socioeconômico, entre
outros);
c) monitoramento de áreas de proteção ambiental e de risco;
d) identificação da rede de drenagem;
e) estudos de modelagens hidrológicas.

Vale ressaltar, em relação à questão dos riscos ambientais, a


questão da segurança hídrica como parâmetro em gerenciamento de
recursos hídricos e recursos naturais. A segurança hídrica, de acordo com
Melo e Johnsson (2017), é a garantia de disponibilidade de água para os
usos múltiplos que supra as demandas da sociedade e de sua proteção
contra impactos negativos advindos de eventos hidrológicos extremos. É
64

essencial para a preservação ambiental, manutenção da biodiversidade e


bem-estar humano, tornando-se assim uma ferramenta primordial ao
desenvolvimento sustentável.

5 A BACIA DO RIO LAVAPÉS E SEUS COMPONENTES AMBIENTAIS

A bacia hidrográfica do rio Lavapés possui uma área de 11.154,58


hectares e situa-se no município de Botucatu-SP, entre as coordenadas
geográficas 48°20’ a 48°22’ de longitude Oeste do meridiano de Greenwich
e 22°42’ a 22°56’ de latitude Sul da linha do Equador e deságua no rio Tietê,
antes da barragem da usina hidrelétrica de Barra Bonita.
A bacia hidrográfica pertence à Unidade de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (UGRHI) 10 (Comitê de Bacias Hidrográficas
Sorocaba/Médio Tietê). Tem sua classificação climática de Koeppen tipo
Cwa com temperatura média anual de 20,7 °C e precipitação média anual de
1.358,6 mm, ocorrendo uma precipitação média no mês mais chuvoso e
mais seco, respectivamente, de 223,4 mm e 37,8 mm, com altitude de 840
metros (CEPAGRI, 2018). Segundo Rossi (2017), os solos ocorrentes na bacia
hidrográfica são: argissolos; latossolos; neossolos e nitossolos e uma porção
desta está inserida na área do Sistema Aquífero Guarani no Estado de São
Paulo, segundo Cetesb (2018), onde também se encontra inserida a área de
estudo.
A Figura 1 expõe os mapas de altitude, declividade, rede de
drenagem e solos com a área urbana da bacia hidrográfica do rio Lavapés-
SP.
Diversos trabalhos foram e têm sido elaborados na bacia hidrográfica
do rio Lavapés, em razão da sua importância local, apresentam potenciais
recursos hidrológicos e florestais, que podem ser utilizados para uma análise
conjunta aos mapas da Figura 1. Resultados análogos de declividade são
apresentados, utilizando interpolação e geoestatística, em Orsi (2004).
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 65

Figura 1 – Mapas de altitude, declividade, rede de drenagem, solos e ocupação urbana da bacia
do rio Lavapés em Botucatu, Estado de São Paulo (SP)

Fonte: Rossi (2017) e SMA (2018).


66

É visível o predomínio de altas declividades (maiores que 45 graus),


que denotam a vulnerabilidade da bacia quanto à erosão pluvial e eólica,
fatores agravados pela falta de planejamento territorial, como visto pelo uso
da terra, determinado por meio de técnicas de geoprocessamento por
Campos et al. (2004), Campos (1997) e Rodrigues (2015), que, juntos,
abrangem o período de 1996 a 2010, no qual foi diagnosticado o avanço da
pastagem e culturas sobre áreas de grande declividade. Simões (1996) e
Santos et al. (2015) encontram um cenário ainda mais crítico com conflitos
de uso da terra em áreas de preservação permanente (APP), mostrando a
alta fragilidade ambiental da bacia devido ao uso irregular da terra.
Leopoldo (1989) e Valente et al. (1997) verificaram irregularidades quanto
às cargas de poluição rural e urbana recebidas pela rede de drenagem da
bacia, assim como Conte (1992) diagnosticou a presença de espécies
químicas dissolvidas, como magnésio, em alta quantidade, indicando maior
dureza da água na bacia.
De acordo com Oliveira (2013), a bacia tem formato alongado com
baixa tendência à inundação, baixo escoamento superficial e boa infiltração.
Cabe destacar os apontamentos feitos por Santos (2017) quanto ao
uso da terra ao redor de nascentes, que majoritariamente estão em área
antropizada (tanto urbana como rural), que, em seu estudo, realizou a
modelagem hidrológica da bacia em suas diferentes formações geológicas
(Formação Adamantina, Serra Geral e Piramboia/Botucatu) e solos, como os
apresentados na Figura 1, encontrando a possibilidade de altos picos de
chuva na bacia, sendo necessário, então, aliar planejamento e controle de
uso da terra em áreas vulneráveis (como APPs e áreas de grande
declividade) para não provocar maior fragilidade ambiental.
Com base na avaliação em nível de bacia, um estudo pontual foi
realizado para diagnosticar a qualidade ambiental do entorno de uma
nascente, sua represa e curso d’água inseridos na bacia hidrográfica do rio
Lavapés dentro do município de Botucatu, SP, indicados na Figura 2. Foram
utilizadas imagens do Google Earth Pro dos anos de 2006, 2011, 2014, 2016
e 2017, para avaliar por meio de análise temporal de imagens de satélite a
evolução do uso da terra e manejo nesse ponto de estudo.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 67

Figura 2 – Localização e imagens da nascente com erosão causada após plantio de cana-de-
açúcar na bacia do rio Lavapés em Botucatu, Estado de São Paulo (SP)

Fonte: Google Earth Pro (2018).

Em 2006, Figura 2, houve predomínio de pastagem com práticas


mecânicas de conservação de solo e média densidade vegetativa com
espécies arbóreas espalhadas no entorno da nascente, que possui em sua
2
extensão uma represa com 2.082 m de lâmina de água protegida por uma
expressiva vegetação ciliar. A declividade varia, segundo Santos (2013), de 3
68

a 8% nas proximidades de seu divisor, variando de 8 a 40% ao redor da sua


nascente e curso d’água, caracterizando um relevo suave ondulado à forte
ondulado.
O predomínio da cobertura vegetal original nesta área era
predominantemente cerrado até a década de 1970, quando começou o
processo de desmatamento para implantação das pastagens, que, segundo
Campos et al. (1998) afirmaram, entre o período de 1962 a 1989 houve uma
redução da ordem de 93% da vegetação de cerrado na região.
Observa-se no ano de 2011 (Figura 2) a supressão total dos
indivíduos florestais espalhados pela área e o preparo do solo para a
implantação da cultura de cana-de-açúcar, que não apresentou erosão até
2014, sendo toda área agrícola coberta por cana com a presença de
carreadores e estradas rurais, porém, mantendo-se vegetação ciliar no
entorno da nascente, represa e córrego.
Ainda na Figura 2, no ano de 2016, observa-se uma intervenção
mecânica de amenização do rompimento entre curvas de nível próximo à
nascente, que provavelmente ocorreu no ano de 2015 (pois não há imagem
disponível deste ano), com severas alterações ambientais no solo,
evidenciando danos à nascente, vegetação ciliar, represa e canal de
drenagem, causados pelo assoreamento e depósito de sedimentos advindos
da área erodida próxima à cabeceira.
Mesmo com a intervenção no sentido de realocação das curvas de
nível, no ano seguinte, pela imagem de 11/05/2017 (Figura 2), observa-se a
ocorrência de uma erosão do tipo voçoroca de grande extensão,
degradando e dificultando ainda mais a recuperação da área e o retorno dos
serviços ambientais proporcionados no passado por ela.
Em imagem de 24/07/2017 (Figura 2) novamente realizou-se uma
tentativa de prática mecânica de conservação do solo próxima a nascente,
alocando distâncias menores entre curvas de nível dentro do processo de
recuperação da área agricultável.
Dentre as várias ocorrências na área de estudo, o uso do solo com
pastagem desde 1970 até 2011, ou seja, por mais de 40 anos, manteve o
equilíbrio do ambiente com muitos indivíduos florestais espalhados pela
região, com manejo e conservação do solo, que garantiram a manutenção
dos ambientes naturais como matas ciliares e corpos d’água.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 69

Entretanto, no período entre 2011 e 2017, ou seja, em seis anos, com


a implantação da cultura canavieira, foram causados maiores impactos,
comparados ao período anterior, nos ambientes naturais, muitos deles
irreversíveis, comprometendo os serviços ambientais da bacia em
decorrência da erosão hídrica, da falta de planejamento e o manejo de
práticas inadequadas de conservação do solo.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas últimas décadas foi crescente a utilização dos recursos naturais,


assim como o surgimento de problemas ligados ao meio ambiente frente à
expansão das atividades humanas no meio agrícola.
Diante disto, tecnologias de manejo ambiental devem ser aplicadas
para assegura, diante das particularidades de cada paisagem, menor
impacto ao ambiente, direcionando estudos científicos sobre o
ordenamento territorial, monitoramento sobre a produção de água e a
recuperação da biodiversidade como alternativas para assegurar mudanças
nas diversas formas de conciliação entre produção agrícola e a proteção
ambiental.
Por se tratar de uma área de afloramento do Sistema Aquífero
Guarani no Estado de São Paulo, estratégias de uso com menores impactos
e proteção ambiental destas águas se fazem continuamente necessárias
através dos órgãos estaduais de fiscalização e gestores dos recursos hídricos
superficiais e subterrâneos, na busca pela preservação dos recursos naturais
e por um desenvolvimento sustentável para estas áreas.

REFERÊNCIAS

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o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do
art. 21 da Constituição Federal e altera o art. 1° da Lei 8.001, de 12 de março de 1990, que
modificou a Lei n°7.990 de 28 de dezembro de 1989. Brasília: DOU, 1997.
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Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 71

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72
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 73

Capítulo 4

FRAGILIDADE AMBIENTAL DE UMA BACIA, VISANDO O


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
17
Sérgio Campos
18
Marcelo Campos
19
Thyellenn Lopes de Souza
20
Mateus de Campos Leme
21
Letícia Duron Cury

1 INTRODUÇÃO

As mudanças ambientais ocorrem devido ao desenvolvimento


industrial, crescimento populacional e ao desmatamento das florestas, para
o uso e exploração do solo inadequadamente, sem proteção de diversos
impactos ambientais e capacidade produtiva.
A bacia como unidade de planejamento ambiental, características de
um sistema natural delimitado, de regiões altas, onde se encontram
nascentes dos rios, córregos, áreas de encostas e de baixadas e problemas
com a água, a solução está diretamente relacionada ao manejo e
manutenção (SANTOS, 2004).
A utilização da geotecnologia permite a análise ambiental de forma a
entender as alterações do comportamento espacial, bem como vem
permitindo o estudo ambiental e como um todo (PIRES et al., 2012).
As imagens de satélite vêm sendo usadas na identificação dos
fenômenos naturais, ação humana e análises das áreas com vegetação, tipos
de solo e recursos hídricos com grande vantagem, por de custo baixo e fácil

17
Professor titular (UNESP), Botucatu. E-mail: seca@fca.unesp.br
18
Professor doutor (UNESP), Tupã. E-mail: marcelocampos@tupa.unesp.br
19
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Energia na Agricultura (UNESP),
Botucatu. E-mail: thyellenn@hotmail.com
20
Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Energia na Agricultura (UNESP),
Botucatu. E-mail: mateus@hotmail.com
21
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Energia na Agricultura (UNESP),
Botucatu. E-mail: le.cury@hotmail.com
74

obtenção, fornecendo informações para solução de problemas ambientais


(SANTOS et al., 1993).
A bacia hidrográfica é composta por áreas drenadas por um rio e seus
afluentes, em regiões mais altas do relevo, onde as águas fluviais escoam
superficialmente ou infiltram-se no solo para formação de nascentes e do
lençol freático (BARRELA, 2001).
O estudo dessas bacias vem se intensificando cada vez mais com o
advento do geoprocessamento, em que o conjunto de conceitos, métodos e
técnicas permite, através de uma base de dados georreferenciados por
computação eletrônica e técnicas de mapeamento, a obtenção de mapas
temáticos que servirão de ferramentas para o gestor tomar decisões
(XAVIER-DA-SILVA, 1994).
Assim, o mapa de fragilidade ambiental, ferramenta utilizada pelos
órgãos públicos na elaboração do planejamento ambiental, permite avaliar
as potencialidades do ambiente em relação às suas características naturais.
Desta forma, este capítulo tem por objetivo identificar e analisar a
fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do Ribeirão Lavapés – Botucatu
(SP), por meio do uso de geotecnologias, visando ao desenvolvimento
sustentável da bacia (ROSS, 1994).

2 FRAGILIDADE AMBIENTAL

A fragilidade ambiental é o grau de suscetibilidade de dano aos


ambientes com risco, ocasionados em condições naturais e ações
antrópicas, provocadas pelo inadequado uso e ocupação da terra (BATISTA;
SILVA, 2013).
A análise da fragilidade ambiental e sua síntese, de acordo com
documento cartográfico, é um instrumento importante para o planejamento
ambiental com desenvolvimento sustentado, tecnológico, econômico e
social (ROSS, 1994).
As avaliações da fragilidade ambiental são baseadas em fatores
intrínsecos do solo, do potencial de erosão das chuvas, da declividade e da
cobertura vegetal. Esse conhecimento dos níveis de fragilidade numa bacia
hidrográfica possibilita compreender a adequação do uso da terra (SPÖRL,
2001).
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 75

A análise multicriterial em ambiente SIG permite a elaboração de


mapa de fragilidade ambiental, através do cruzamento de planos de
informações integrados com a utilização de pesos de importância, obtidos
para tomada de decisão, utilizadas nos Processo Hierárquico Analítico (AHP)
e a Combinação Linear Ponderada (CLP) (EASTMAN, 2012).
A sobreposição de mapas para determinação do uso adequado da
terra, de acordo com a análise de multicritérios e o SIG permitem obter
respostas para tomada de decisão do usuário (EASTMAN, 2012).

3 GEOTECNOLOGIAS E GEOPROCESSAMENTO

As geotecnologias, conjunto de tecnologias baseado na coleta,


processamento, análise e informações geográficas, possuem premissas de
processamento digital de imagens de satélites, elaboração de bancos de
dados georreferenciados, quantificação de fenômenos da natureza, permite
uma visão abrangente do ambiente (GUERRA; MARÇAL, 2006).
As geotecnologias são ferramentas integradas, processos e entidades
disponíveis para o desenvolvendo de metodologias de aplicação no
diagnóstico e prognóstico dos riscos e potencialidades ambientais para o
desenvolvimento social das sociedades.
Câmara (1996) definiu o geoprocessamento como um ambiente
tecnológico e abrangente, sendo o conjunto de técnicas relacionadas com
coleta, armazenamento e tratamento de definições espaciais e
georreferenciadas que podem ser utilizadas em sistemas específicos a cada
aplicação que, de alguma forma, utiliza-se do espaço físico geográfico.
Para Pereira e Silva (2001), o geoprocessamento é um conjunto de
tecnologias, métodos e processos para o processamento digital de dados e
informações geográficas (Figura 1).
76

Figura 1 – Conjunto de ferramentas do geoprocessamento

Fonte: Brasil (2007).

4 DESENVOLVIMENTO

Esta pesquisa foi desenvolvida na bacia do ribeirão Lavapés (Figura


2), município de Botucatu (SP), por ser uma área muito importante e
representativa do município onde a paisagem sofreu uma nítida
o
transformação. A área situa-se entre as coordenadas geográficas: 22 42' a
o o o
22 56' de latitude S e 48 20' a 48 22' de longitude W Gr., abrangendo
10.281,89 ha.

Figura 2 – Localização da bacia do rio Lavapés, Botucatu (SP)


Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 77

O clima predominante do município, segundo o sistema Köppen, é do


tipo Cfa – clima temperado chuvoso e a direção do vento predominante é a
sudeste (SE).
o
A temperatura média anual regional (MARTINS, 1989) é de 20,2 C,
o
sendo as temperaturas médias dos meses mais quentes de 23,2 C e de 16,9
o
C nos meses mais frios.
A precipitação média anual é de 1.447 mm, sendo a precipitação
média nos meses mais chuvoso de 223,4 mm e 37,8 mm nos mais secos.
As classes de solos ocorrentes na bacia hidrográfica do rio Lavapés
foram: argissolo vermelho-amarelo distrófico (PVAd1), latossolo vermelho-
amarelo distrófico (LVAd), nitossolo vermelho distroférrico (NVdf), gleissolo
háplico (GXbd), neossolo litólico eutrófico (RLe), latossolo vermelho
distroférrico (LVdf), latossolo vermelho distrófico (LVd) (PIROLI, 2000).
A vegetação predominante é do tipo floresta estacional
semidecidual, na área da frente da cuesta; cerradão no reverso da cuesta e
na depressão periférica é do tipo mata ciliar, ao longo da rede de drenagem
(JORGE, 2000).
No georreferenciamento da bacia foi utilizado o menu
Reformat/Resample do SIG-IDRISI, no qual os pontos de controle foram
obtidos de cartas topográficas de Botucatu (IBGE, 1973) para determinação
das coordenadas de cada ponto para elaboração do arquivo de e
correspondência.
Como base cartográfica para elaboração do mapa de uso do solo foi
utilizada a imagem de satélite de 2011, bandas 3,4 e 5 do Sensor TM do
LANDSAT 5, da órbita 220, ponto 56, quadrante A, passagem de 2011, bem
como o Sistema de Informações Geográficas – SIG Idisi Selva para análise
dos objetos de estudo.
Para vetorização do limite e da rede de drenagem da bacia do rio
Lavapés – Botucatu (SP) foi utilizado o software CartaLinx.
Depois desta etapa, a imagem foi georreferenciada de acordo com o
menu Reformat/Resample no IDRISI, e posteriormente exportada para o
IDRISI através do menu Database Query, módulo Analysis, para
determinação das áreas e porcentagens de usos.
Para a obtenção do mapa de uso e ocupação do solo da imagem de
satélite de 2011, inicialmente foi elaborada uma composição colorida com a
78

combinação das bandas 3, 4 e 5, obtida a partir da imagem de satélite digital


do LANDSAT – 5, da órbita 220, ponto 76, quadrante A, passagem de 2011,
escala 1:50000 (Figura 3).

Figura 3 – Composição RGB – 543 da imagem de satélite Landsat 5

Esta composição foi utilizada porque permite boa interpretação


visual dos objetos-alvo, permitindo a análise e identificação dos elementos
padrão de uso da terra, em função das cores das bandas do sensor TM,
como a tonalidade de rosa para área urbana, área desmatada e solo
exposto; tonalidades de verde para reflorestamento adulto e área de
mata/capoeira); azul para corpos d’água e materiais em suspensão, rios,
lagoas, represas e oceano e cor preta para água limpa e área queimada
(FLORENZANO, 2011).
Após o georreferenciamento a imagem foi recortada de acordo com
o módulo Reformat/window extraindo-se somente a área da bacia, que foi
exportada para o software CartaLinx.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 79

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os solos de textura arenosa (Figura 4 e Tabela 1), RQotípico, RLe,


NVdf e PVAd1 abrangendo 4650,02 ha (45,31%), com estruturas frágeis e
suscetíveis à erosão, possuem baixa fertilidade natural e a possibilidade de
ocorrer erosão aumenta com a diminuição de sua cobertura vegetal.

Figura 4 – Classes de solo da bacia do rio Lavapés, Botucatu (SP)

Fonte: Piroli (2002).

O solo hidromórfico (GXbd) cobre 1.731,34 ha (16,87%) da


microbacia, presente em baixadas e no entorno de cursos d’água, áreas
encharcadas, que apresentam baixa fertilidade.
80

Tabela 1 – Unidades de solo (PIROLI, 2000) e fragilidade ambiental da


bacia do rio Lavapés, Botucatu (SP)
Área Fragilidade
Unidades de solo Sigla Pesos
ha % ambiental
Argissolo vermelho-amarelo
PVAd1 366,47 3,57 Muito baixa 1
distrófico
Latossolo vermelho-amarelo
LVAd1 35,51 0,34 Baixa 2
distrófico
Nitossolo vermelho
NVdf 2.745,61 26,75 Baixa 2
distroférrico
Gleissolo háplico TB GXbd 1.731,34 16,87 Alta 5
Neossolo litólico eutroférrico RLe 542,36 5,29 Baixa 2
Latossolo vermelho
LVdf 2.326,13 22,67 Baixa 2
distroférrico
Latossolo vermelho distrófico LVd 1.520,41 14,81 Baixa 2
Neossolo litólico eutrófico RLe 542,46 5,29 Baixa 4
Neosssolo quartzarênico
RQotípico 995,48 9,70 Muito baixa 5
distrófico

Os solos de textura média (LVAd1, LVd e LVdf) abrangem a maior


parte da área com 3.881,85 ha (37,82%).
As classes de declive de 0 a 6% com 3.931,92 ha (Figura 5 e Tabela 2),
relevo plano a suavemente ondulado, ocuparam mais de 38% da área. Essas
áreas compostas com relevo plano a ondulado (CHIARINI; DONZELI, 1973) e
por Lepsch et al. (2001) são consideradas próprias para o plantio de culturas
anuais com a utilização de práticas simples de conservação do solo,
podendo assim controlar o processo erosivo do solo com um simples plantio
em nível da cultura.
As áreas com declividade (6 a 12 %) com 4.289,36 ha (41,89%), relevo
ondulado, em que as mais significativas são indicadas para o plantio de
culturas anuais com o uso de práticas complexas de conservação do solo
(LEPSCH et al., 2001).
O relevo forte ondulado (12 a 20%), próprio para cultivo com culturas
permanentes, exigem menor mobilização do solo, o que propicia menores
riscos de erosão como o cultivo com culturas permanentes como café, cana-
de-açúcar, pastagens, etc.), conforme Lepsch et al. (2001), as quais
predominam em 12,81% (1.315,29 ha).
O relevo acidentado (CHIARINI; DONZELI, 1973), com declividade de
20 a 40%, próprio para o desenvolvimento com pecuária e silvicultura,
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 81

destina-se à preservação ambiental, evitando assim a erosão do solo


(LEPSCH et al., 2001).

Figura 5 – Classes de declividade da bacia do rio Lavapés, Botucatu (SP)

Tabela 2 – Classes de declividade e fragilidade ambiental da bacia do rio Lavapés, Botucatu (SP)

Classes de Área Fragilidade


Relevo Pesos
Declive em % ha % Ambiental
0–3 Plano 688,76 6,71 Muito baixa 1
3–6 Suavemente ondulado 3.243,16 31,60 Muito baixa 1
6 – 12 Ondulado 4.299,36 41,89 Baixa 2
12 – 20 Forte ondulado 1.315,29 12,81 Média 3
20-40 Acidentado 622,58 6,07 Alta 4
40 Montanhoso 94,06 0,92 Muito alta 5

O uso e ocupação do solo na bacia (Figura 6 e Tabela 3) têm ocorrido


principalmente com a cultura da cana-de-açúcar, que abrange 2.948,65 ha
(28,73%), mostrando a vocação da área para agricultura.
82

Figura 6 – Classes de uso e ocupação do solo da bacia do Rio Lavapés – Botucatu (SP)

Tabela 3 – Classes de uso e ocupação do solo e fragilidade ambiental da bacia do


rio Lavapés – Botucatu (SP)

Área Fragilidade
Usos Pesos
ha % ambiental
Cana-de-açúcar 2.948,65 28,73 Média 3
Vegetação natural 215,76 2,10 Muito alta 5
Represa 18,11 0,18 Muito alta 5
Reflorestamento 9,85 0,10 Média 3
Mata ciliar 1.696,24 16,53 Muito alta 5
Área urbana 2.816,92 27,45 Muito alta 5
Pastagem 1.396,08 13,60 Baixa 2
Cerrado 105,08 1,02 Muito alta 5
Pedreira 14,23 0,14 Muito alta 5
Agroindústria 7,34 0,07 Muito alta 5
Outras culturas 9,99 1025,85 Alta 4
ETE Sabesp 0,09 9,10 Muito alta 5
Total 10.263,21 100
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 83

A vegetação natural e as matas ciliares abrangem a área da bacia com


1.912,00 ha (18,63%), sendo a terceira em ordem de ocorrência, bem como
as pastagens com 1.396,08 ha (13,60%).
A área urbana, segunda classe mais significativa na bacia vem
totalizando 1.396,08 ha (27,45%).
A fragilidade ambiental média e alta (Figura 7 e Tabela 4) com uma
área de 6.735,34 ha (66,23%) vem ocorrendo em grande parte da bacia, que
é composta por relevo suavemente forte ondulado a ondulado e por solos
nitossolo vermelho distroférrico e latossolo vermelho, os quais possuem
fragilidade alta e média de acordo com suas características físicas; uso do
solo pela classe área urbana e a cultura da cana-de-açúcar possui fragilidade
média.
A classe 'Muito Alta' apresentou uma área total de 1.700,24 ha
(16,72%), porque apresenta declividade mais acentuada e relevo
montanhoso que possui classe alta; solo RQotípico e RLe com fragilidade
alta e uso do solo por pastagem classificado com fragilidade alta.
84

Figura 7 – Fragilidade ambiental da bacia do rio Lavapés – Botucatu (SP)


Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 85

Tabela 4 – Fragilidade ambiental da bacia do Rio Lavapés – Botucatu (SP)


Classes de fragilidade Área (ha) % do total
Muito alta 1.700,24 16,72
Alta 3.283,53 32,29
Média 3.451,81 33,94
Baixa 1.709,15 16,80
Muito baixa 23,06 0,22
Total 10.167,79 100

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise multicriterial utilizada na avaliação da fragilidade ambiental


da bacia do rio Lavapés – Botucatu (SP) permitiu classificá-la como
fragilidade alta a média, merecendo maior atuação, pois, se mal planejada,
tenderá à degradação através de erosões do solo.
A técnica de sensoriamento remoto possibilitou uma análise
integrada dos elementos da bacia, que apresentou resultado satisfatório.
A bacia é predominantemente composta por nitossolo vermelho
distroférrico e latossolo vermelho distroférrico (49,42%), com declividade
variando de 3 a 12 (73,49%) e uso da terra pelas classes cana-de-açúcar e
área urbana (56,18%), mostrando a grande vocação para agricultura.
As classes de fragilidade ambiental 'Alta' e 'Média' merecem maior
atenção, pois representam quase 2/3 da área, mostrando que mal planejada
e sem precauções, tendem a ser facilmente degradadas.
A análise da fragilidade, importante instrumento de planejamento
ambiental uma vez que permite identificar os pontos frágeis, fornece
subsídios para a elaboração de planos de manejo em áreas naturais e
unidades de conservação.

REFERÊNCIAS

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R.; LEITÃO FILHO, H. F. (Org.). Matas ciliares: conservação e recuperação. São Paulo:
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BATISTA, J. P. G.; da SILVA, F. M. Avaliação da fragilidade ambiental na microbacia do riacho
Cajazeiras no semiárido Potiguar. Boletim Goiano de Geografia, v. 33, n. 1, 53-72, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistemas de Informações
geográficas e análise espacial na saúde pública. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 148 p.
86

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em Saúde).
CHIARINI, J. V.; DONZELI, P. L. Levantamento por fotointerpretação das classes de capacidade
de uso das terras do Estado de São Paulo. Bol. Inst. Agron., Campinas, n. 3, p. 1-20, 1973.
CÂMARA, G. Anatomia de Sistemas de Informação Geográfica. Campinas: Instituto de
Computação/UNICAMP, 1996.
EASTMAN, J. R. Decision suport: decision strategy analysis. In: EASTMAN, J. R. Idrisi Selva
Manual. Worcester: Clark Labs, 2012. p. 222-237.
FLORENZANO, T. G. Iniciação em sensoriamento remoto. 3. ed. São Paulo: Oficina de Texto,
2011. 47p
GUERRA, A. J. T.; MARÇAL, M. S. Geomorfologia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2006. 192 p.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Carta topográfica de Botucatu.
Serviço gráfico do IBGE, 1969. Escala 1:50.000.
LEPSCH, J. F. et al. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras
no sistema de capacidade de uso. Soc.Bras.Cien.do Solo, Campinas, 2001. 175 p.
MARTINS, D. Clima da região de Botucatu. In: ENCONTRO DE ESTUDOS SOBRE A
AGROPECUÁRIA NA REGIÃO DE BOTUCATU, 1, 1989, Botucatu. Anais... Botucatu, UNESP,
1989, p. 8-19.
PEREIRA, G. C.; SILVA, B. C. N. Geoprocessamento e urbanismo. In: GERARDI, L. H. O.; MENDES,
I. A. (Org.). Teoria, técnica, espaço e atividades. Temas de geografia contemporânea. Rio
Claro: UNESP; AGTEO, 2001. p. 97-137.
PIRES, E. V. R.; SILVA, R. A.; IZIPPATO, F. J. et al. Geoprocessamento aplicado a análise do uso e
ocupação da terra para fins de planejamento ambiental na bacia hidrográfica do córrego
Prata – Três Lagoas (MS). Revista Geonorte, Edição Especial, v. 2, n. 4, p. 1528-1538, 2012.
ROCHA, C. H. B. Geoprocessamento: tecnologia transdisciplinar. Juiz de Fora: Ed. do Autor,
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ROSS, J. L. S. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. Revista do
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SANTOS, R. F. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 2004. 184
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alternativos nas altas bacias do Rio Jaguari-Mirim, Ribeirão do Quartel e Ribeirão da Prata.
159 fls. Dissertação (mestrado) – Geografia Física, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2001.
SPÖRL, C. Metodologia para elaboração de modelos de fragilidade ambiental utilizando redes
neurais-MS. 2007. 185 fls. Tese (doutorado) – Geografia Física, Universidade de São Paulo,
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XAVIER-DA-SILVA, J. Introdução. In: XAVIER-DA-SILVA, J.; ZAIDAN, R. T. Geoprocessamento e
análise ambiental: aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 87

Capítulo 5

MONITORAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS E PARÂMETROS DE


QUALIDADE DE ÁGUA EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
22
Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro
23
Lucíola Guimarães Ribeiro

1 INTRODUÇÃO

O crescimento populacional, o modelo de desenvolvimento


socioeconômico e as necessidades em atender às distintas atividades
humanas, trazem como consequência um cenário preocupante em relação à
deterioração dos recursos naturais, principalmente no que tange aos
aspectos qualitativos e quantitativos dos recursos hídricos (COSTA;
TEIXEIRA, 2010).
As atividades humanas podem alterar a qualidade das águas
superficiais por meio de fontes de poluição pontual e difusa nas bacias
hidrográficas. As fontes pontuais são caracterizadas por lançamentos
individualizados, como, por exemplo, descarga de esgotos ou efluentes
industriais. No caso das fontes difusas, não são identificados lançamentos
em pontos específicos, como, por exemplo, aporte de nutrientes
provenientes da drenagem urbana.
De acordo com Braga et al. (2005), a poluição das águas é
caracterizada por todas as alterações indesejáveis que ocorrem em suas
características físicas, químicas ou biológicas que possam acarretar efeitos
adversos à vida aquática ou às atividades dos seres humanos.
A poluição das águas tem um grande preço, seja pela
indisponibilidade de água de boa qualidade ou pelo efeito na redução da

22
Doutora em Aquicultura na área de Biologia Aquática, professora titular, pós-graduação em
Ciências Ambientais, Universidade Brasil. E-mail: americo.ju@gmail.com
23
Mestre em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos, Departamento de Água e Energia
Elétrica do Estado de São Paulo. E-mail: luciola.eng@gmail.com
88

qualidade de vida das pessoas. Por isso, compreender como ocorre a


degradação do sistema hídrico é o primeiro passo (TERCINI, 2014).
O controle da qualidade da água assim como, o monitoramento
qualitativo e quantitativo desse recurso permite identificar as atividades
humanas que apresentam potenciais degradantes aos corpos d´água,
servindo como ferramenta fundamental para a gestão dos recursos hídricos
(BARRETO et al., 2014). Além disso, o monitoramento possibilita estabelecer
os usos prováveis de água e auxilia no enquadramento dos corpos d’água.
Os órgãos ambientais responsáveis por regulamentar o uso da água
instituíram o Índice de Qualidade da Água (IQA) como referência para o
diagnóstico e monitoramento, além de determinar as distintas condições de
sua utilização como na alimentação, no abastecimento doméstico e
industrial, na irrigação, na limpeza pública, na infraestrutura energética, na
pesca e no lazer.
O índice de qualidade da água é uma ferramenta pertinente, pois
sintetiza as informações sobre diversos parâmetros físicos, químicos e
microbiológicos, buscando informar a população e orientar as ações de
gestão da qualidade das águas (ANA, 2005).
As informações do índice de qualidade das águas são
constantemente utilizadas nos Planos Estaduais de Recursos Hídricos e nos
Planos de Bacias Hidrográficas, em que nessas análises pode ocorrer a
ausência de muitas informações. Por esse motivo, tanto os órgãos gestores
como os Comitês de Bacias Hidrográficas têm que olhar de forma mais
criteriosa para esse índice.
Nesse contexto, é necessário avaliar os parâmetros de qualidade de
água de forma individualizada e abordar os fatores relevantes que
interferem nas propriedades da água e que causam sérios danos aos
recursos hídricos. É essencial também que o Comitê de Bacia Hidrográfica
tenha um olhar mais criterioso para com os ecossistemas aquáticos, pois
esses sofrem grandes interferências com a degradação da qualidade das
águas.
A água é utilizada para atender a diversos usos, porém, quando esses
usos são realizados de forma inadequada, podem ocasionar sua
deterioração. Por isso, analisar a qualidade da água é importante para que
se possa preservar e garantir a utilização desse recurso e seus múltiplos
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 89

usos. Sendo assim, surgiu a necessidade de se criar medidas para garantir a


proteção e o uso sustentável dos recursos hídricos. Em 1997 foi estabelecida
a Lei Federal 9.433, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos
(BRASIL, 1997), a qual traz como seus instrumentos os Planos de Recursos
Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a
cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compensação a municípios; e o
Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
A Lei Estadual 7.663/1991 estabelece normas de orientação à Política
Estadual de Recursos Hídricos, assim como ao Sistema Integrado de
Gerenciamento de Recursos Hídricos no âmbito do Estado de São Paulo. Seu
objetivo é garantir que a água possua qualidade e possa ser consumida, de
acordo com os padrões de qualidade determinados como aceitáveis por
seus usuários no Estado de São Paulo. Entre alguns princípios que atendem
a Política Estadual de Recursos Hídricos, estão inseridos o gerenciamento
descentralizado, participativo, integrado, e a adoção da bacia hidrográfica
como unidade físico-territorial de planejamento e gerenciamento (SÃO
PAULO, 1991).
Nesse contexto, o presente capítulo apresenta os principais aspectos
relacionados ao monitoramento dos recursos hídricos no Estado de São
Paulo, enquadramento dos corpos hídricos e os parâmetros de qualidade de
água utilizados para monitoramentos em bacias hidrográficas.

2 MONITORAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS

A influência de fenômenos naturais e interferências humanas em


função do uso e ocupação do solo modificam a qualidade dos recursos
hídricos por meio da geração de efluentes domésticos, industriais ou da
introdução de compostos na água pelo uso inadequado de defensivos
agrícolas no solo (VON SPERLING, 1996). O acompanhamento sistemático
dos corpos d’águas por meio do monitoramento é imprescindível, pois
assegura informações sobre a qualidade e quantidade de água necessária
para verificar a adequação nos diversos usos (ZEH et al., 2015).
O monitoramento dos recursos hídricos fornece informações a
respeito das características físicas, químicas e biológicas da água por meio
90

de amostragens estatísticas, e compreende a coleta de dados e de amostras


de água em locais específicos (georreferenciados), que são efetuadas em
intervalos regulares de tempo, no qual possibilita fornecer subsídios que
possam ser usados na definição das condições presentes de qualidade da
água (ANA, 2017).
A rede de monitoramento é determinada de acordo com o tipo de
informação que se deseja extrair e pode variar desde a detecção de
desconformidade em relação aos padrões de qualidade do corpo d’água, até
a definição das tendências temporais da qualidade dos recursos hídricos
(CAPANEMA, 2015).
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) é o órgão
responsável por avaliar a qualidade das águas superficiais por meio de duas
redes de monitoramento: a de águas doces, que teve início em 1974, e a de
águas salinas e salobras, iniciada em 2010. O monitoramento da qualidade
das águas superficiais em corpos d'água doce é realizado por três redes de
amostragem manual e uma rede automática, conforme apresentado no
Quadro 1 (CETESB, 2016). Esse monitoramento é realizado de forma
integrada com a Agência Nacional de Águas (ANA).
A realização contínua de um monitoramento permite acompanhar,
analisar, mensurar e determinar a qualidade das águas, de modo a garantir
um padrão aceitável para seu uso, bem como determinar medidas de
controle e gerenciamento dos recursos disponíveis; sendo assim, esse
aspecto se torna importante devido à intensidade dos usos da bacia
hidrográfica (SOUZA; GASTALDINI; ARAÚJO, 2015).
Para que se tenha um efetivo gerenciamento dos recursos hídricos é
necessária uma constante e simultânea avaliação da quantidade e qualidade
das águas, com o intuito de apresentar o real estado dos recursos hídricos,
seu potencial e os possíveis problemas agravados devido à contaminação e
poluição das águas (TUNDISI; MATSURA-TUNDISI, 2011).
A CETESB definiu 60 variáveis de qualidade da água (físicas, químicas,
hidrobiológicas, microbiológicas e ecotoxicológicas) consideradas mais
representativas (Quadro 2), em que cerca de 70% dessas variáveis são
determinadas na rede básica de monitoramento (CETESB, 2016).
A rede de monitoramento tem como objetivos: subsidiar a realização
do diagnóstico da qualidade das águas superficiais do Estado; avaliar a
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 91

evolução temporal da qualidade das águas superficiais; identificar áreas


prioritárias para o controle da poluição das águas; auxiliar no diagnóstico e
controle da qualidade das águas doces usadas para o abastecimento
público; dar subsídio para a execução dos Planos de Bacia e Relatórios de
Situação dos Recursos Hídricos e ajudar na implementação da Lei
11.445/2007 relativa à Política Nacional de Saneamento Básico (CETESB,
2016).

Quadro 1 – Informações sobre as redes de monitoramento integradas CETESB/ANA de água


doce no Estado de São Paulo
Frequência
Tipo de Início da N° de Variáveis
Objetivo da
monitoramento Operação pontos avaliadas
avaliação
Fornecer um
diagnóstico
geral dos Físicas,
Rede básica recursos 1974 425 Bimestral químicas e
hídricos no biológicas
Estado de São
Paulo
Complementar
Físicas,
Rede de o diagnóstico
2002 32 Anual químicas e
sedimento da coluna
biológicas
d´água
Informar as
condições da
Balneabilidade água para
Semanal/
de rios e recreação de 1994 30 Biológicas
Mensal
reservatórios contato
primário/banho
à população
Controlar
fontes
poluidoras
domésticas e
industriais, bem
Monitoramento Físicas e
como controle 1998 14 Horária
automático químicas
da qualidade da
água destinada
ao
abastecimento
público
Fonte: CETESB (2016).
92

Quadro 2 – Variáveis de qualidade da água da rede básica de monitoramento integrado da


CETESB/ANA de água doce no Estado de São Paulo
Tipo de
parâmetro Principais variáveis* Variáveis adicionais**
monitorado
Condutividade elétrica, sólidos
dissolvidos totais, sólido total, Cor verdadeira, nível da água,
Físicos
temperatura da água, salinidade, transparência, vazão
temperatura do ar e turbidez
Alumínio dissolvido, alumínio Alcalinidade total, arsênio total,
total, bário total, cádmio total, bifenilas policloradas, boro total,
carbono orgânico total, chumbo carbono orgânico dissolvido,
total, cloreto total, cromo total, compostos orgânicos voláteis,
demanda bioquímica de oxigênio compostos orgânicos
(DBO 5,20), ferro dissolvido, ferro semivoláteis, demanda química
total, fósforo total, manganês de oxigênio, dureza, fenóis totais,
Químicos total, mercúrio total, níquel total, fluoreto total, herbicidas b,
nitrogênio amoniacal, nitrogênio hidrocarbonetos policíclicos
Kjeldahl, nitrogênio-nitrato, aromáticos, microcistinas, óleos
nitrogênio-nitrito, oxigênio e graxas, pesticidas
dissolvido, pH, potássio, sódio, organocloradas, pesticidas
substâncias tenso ativas reagidas organofosforadas, potencial de
com azul de metileno e zinco formação de trialometanos,
total saxitoxina
Comunidades fitoplanctônica e
Hidrobiológicos Clorofila-a e feofitina a
zooplanctônica
Microbiológicos Escherichia coli Giardia e Cryptosporidium
Ensaio de toxicidade aguda com a
Ensaio de toxicidade crônica com bactéria luminescente – Vibrio
Ecotoxicológicos o microcrustáceo Ceriodaphnia fischeri (Sistema Microtox®),
dubia Ensaio de Mutação Reversa
(Teste de Ames)
Bioanalíticos Atividade Estrogênica por BLYES
* Principais variáveis – monitoradas em mais de 70% dos pontos da rede.
** Variáveis adicionais – monitoradas em menos de 70% dos pontos da rede.
Fonte: CETESB (2016).

O monitoramento dos recursos hídricos visa a realizar a mensuração


ou avaliação de parâmetros de qualidade e quantidade de água, podendo
ser contínua ou periódica, sendo empregado com a finalidade de conduzir o
progresso das condições da qualidade e quantidade da água ao longo do
tempo (CAPANEMA, 2015). Além disso, o monitoramento permite identificar
locais com menores índices de contaminação, e, consequentemente,
fornecer indicações adequadas sobre o que pode ser conservado e qual o
valor dessa conservação (TUNDISI, 2009).
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 93

3 QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS

Avaliar e mensurar de forma precisa e eficiente a qualidade da água é


essencial para definir os usos múltiplos dos recursos hídricos e o
desenvolvimento sustentável em bacias hidrográficas, pois a intensa
interação dos seres humanos com o meio natural altera constantemente o
meio ambiente e provoca impactos nos mananciais.

O termo qualidade da água não se restringe a determinação de certo


grau de pureza da água, mas de suas características desejáveis para
diferentes usos. Inclui as características físicas, químicas e biológicas
da água, que podem ser alteradas por poluentes de diversas origens.
As alterações no sistema hídrico geram prejuízos econômicos para a
região, redução da captura de peixes, aumento nos custos com a
saúde da população e dos custos para obtenção e tratamento da
água (SILVA, 2015, p. 265-266).

Segundo Martins et al. (2017), deve-se conhecer a qualidade das


águas em todos os corpos hídricos, pois essas informações são capazes de
ajudar a estabelecer mecanismos estratégicos que proporcionem a
conservação, a recuperação e o uso racional dos recursos hídricos,
diminuindo os conflitos e orientando as atividades econômicas.
Para o desenvolvimento das atividades econômicas, industriais,
agropecuárias e o abastecimento humano, a água doce é um componente
fundamental e apresenta características de qualidades bem variadas
(REBOUÇAS; BRAGA; TUNDISI, 2006). A qualidade da água é definida por
suas características físicas, químicas e biológicas e também pela forma como
é utilizada.
A água para consumo humano pode ser obtida por meio de
mananciais superficiais ou subterrâneos. Para o consumo, a água está
sujeita a várias restrições específicas de qualidade, que são estabelecidas
pelos padrões de potabilidade desse recurso (REBOUÇAS; BRAGA; TUNDISI,
2006).
Portanto, avaliar a qualidade da água e os fatores que interferem na
sua deterioração é necessário para se obter uma gestão e planejamento
adequados de uma determinada região.
94

4 ENQUADRAMENTO DOS CORPOS HÍDRICOS

A qualidade da água pode ser avaliada por meio de parâmetros


físicos como temperatura, turbidez e sólidos totais; parâmetros químicos
como o potencial hidrogeniônico (pH), nitrogênio, fósforo, oxigênio
dissolvido e demanda bioquímica de oxigênio; e pelos parâmetros
microbiológicos como as bactérias do grupo coliformes. Os valores limítrofes
para cada parâmetro de qualidade de água variam de acordo com a classe
dos corpos hídricos.
A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)
357, de 17 de março de 2005, estabelece uma classificação para os corpos
d´água e determina diretrizes ambientais para o seu enquadramento, assim
como os limites para cada parâmetro de qualidade de água superficial. Essa
legislação é complementada e alterada pela Resolução Conama 430, de 13
de maio de 2011, que define as condições e padrões de lançamento de
efluentes.
As águas doces são enquadradas em 5 classes segundo a qualidade
requerida para seus usos preponderantes: I – classe especial, II – classe 1, III
– classe 2, IV – classe 3, e V – classe 4 (CONAMA, 2005). Para as águas doces
da classe especial, as condições naturais dos corpos hídricos devem ser
mantidas, enquanto para as demais classes a Resolução Conama 357/2005
estabelece limites máximos para os parâmetros físico, químico e
microbiológico da água. No Quadro 3 são apresentadas as classes de
qualidade de água doce e seus respectivos usos relevantes ainda de acordo
com a mesma Resolução.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 95

Quadro 3 – Classes de qualidade de águas doces e seus respectivos usos preponderantes


Classificação Usos preponderantes
a) abastecimento humano com desinfecção;
Classe b) preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e,
especial c) preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de
proteção integral.
a) abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;
b) proteção das comunidades aquáticas;
c) recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e
mergulho;
Classe 1
d) irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se
desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película; e,
e) proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas.
a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
b) proteção das comunidades aquáticas;
c) recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e
Classe 2 mergulho;
d) irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de
esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e
e) aquicultura e atividade de pesca.
a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou
avançado;
b) irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
Classe 3
c) pesca amadora;
d) recreação de contato secundário; e
e) dessedentação de animais.
a) navegação; e
Classe 4
b) harmonia paisagística.
Fonte: Resolução Conama 357 (2005).

5 PARÂMETROS DE QUALIDADE DE ÁGUAS SUPERFICIAIS

5.1 SÓLIDOS TOTAIS

O sólido é definido como um estado da matéria distinguido pela


rigidez, por uma forma própria e pela existência de um equilíbrio com o
líquido proveniente da sua fusão. Assim, toda substância que possua essas
características e que estejam presentes nas águas naturais e residuárias
mesmo após processos como a secagem e a calcinação podem ser
denominadas como sólidos (SABESP, 1999).
Os sólidos em suspensão são partículas passíveis de retenção por
processos de filtração, estão distribuídos em sedimentáveis e não
sedimentáveis. Sólidos dissolvidos são constituídos por partículas de
96

-
diâmetro inferior a 10 ³ μm que se mantém em solução após a filtração,
sendo distribuídos de forma voláteis ou fixos (BRASIL, 2006; BRASIL, 2014).
O aporte de sólidos nos ambientes aquáticos pode ocorrer de forma
natural, por meio dos processos erosivos, organismos e detritos orgânicos,
ou de forma antropogênica, por meio de lançamento de resíduos sólidos e
esgotos nos corpos hídricos.
As informações obtidas por meio dos sólidos totais auxiliam no
acompanhamento da eficiência dos sistemas de tratamento para águas
naturais e residuais. No caso da água potável, a ocorrência dos sólidos
implica na sua qualidade, pois uma quantidade excessiva de qualquer tipo
de sólido (totais, em suspensão e dissolvidos), influencia negativamente na
cor, turbidez e nos parâmetros microbiológicos. Os sólidos também
intervêm na entrada de luz fazendo com que ocorra a diminuição da
fotossíntese no corpo hídrico (CETESB, 2016).
Os sólidos presentes nos recursos hídricos também podem causar
prejuízos à biota aquática, pois, dependendo da sua concentração, quando
sedimentam no leito dos rios comprometem a desova de peixes. Além disso,
bactérias e resíduos orgânicos podem ficar retidos nos sólidos no fundo dos
rios promovendo a decomposição anaeróbia. Elevados teores de sais
minerais, principalmente sulfatos e cloretos, estão associados à tendência
de corrosão em sistemas de distribuição de água, além de conferir sabor às
águas (BRAGA et al., 2005; CETESB, 2016).
De acordo com a Resolução Conama 357/2005, o limite para sólidos
-1
dissolvidos totais é de 500 mg.L para corpos d´água de classes 1, 2 e 3. Para
a classe 4 não há limite estabelecido na legislação.

5.2 TEMPERATURA DA ÁGUA

A temperatura da água dos corpos hídricos pode ser de origem


natural por meio da transferência de calor por intermédio da radiação,
condução e convecção (atmosfera e solo) ou de origem antropogênica por
meio de águas de torres de resfriamento e despejos industriais. Esse
parâmetro pode influenciar nas propriedades da água, como, por exemplo,
na densidade, viscosidade, oxigênio dissolvido e interferindo na vida
aquática.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 97

A temperatura da água permite caracterizar os corpos d’água, pois


modifica a taxa de reações químicas e biológicas, a taxa de transferência de
gases, altera a solubilidade de gases, varia a massa específica
(estratificação), influencia na velocidade das reações químicas e nas
atividades metabólicas e indica a intensidade de calor, sendo que sua
unidade de medida é dada em graus Celsius (°C) (VON SPERLING, 1996;
BRASIL, 2014).
A latitude, a altitude, as estações do ano, o período do dia, vazão e a
profundidade também alteram a temperatura da água (BRAGA et al., 2005;
BRASIL, 2014; CETESB, 2016). Quando ocorre a elevação da temperatura da
água, tem-se como consequência o aumento das taxas de reações químicas
e biológicas, com a transferência de gases e a diminuição da sua
solubilidade. Assim, o aumento da temperatura pode ocasionar a impactos
negativos nos ecossistemas naturais.
A temperatura exerce uma função essencial no meio aquático,
condicionando os efeitos de uma série de variáveis físico-químicas.
Geralmente, conforme a temperatura da água aumenta, de 0 a 30 °C, a
viscosidade, a tensão superficial, a compressibilidade, o calor específico, a
constante de ionização e o calor latente de vaporização diminuem,
enquanto a condutividade térmica e a pressão de vapor aumentam (CETESB,
2016).
Os organismos aquáticos exibem limites de tolerância térmica
superior e inferior, temperaturas ótimas para crescimento, temperatura
preferida em gradientes térmicos e limitações de temperatura para
migração, desova e incubação do ovo (CETESB, 2016). A Resolução Conama
357/2005 não determina um limite de temperatura para corpos d´água.

5.3 TURBIDEZ

O parâmetro de turbidez é definido como o grau de atenuação de


intensidade que um feixe de luz sofre ao atravessar a água. Alterações na
turbidez da água são associadas à presença de sólidos em suspensão, tais
como partículas inorgânicas de areia, silte, argila e detritos orgânicos, como
algas e bactérias (BRASIL, 2006; PORTO, 2012; CETESB, 2016). Esses sólidos
98

em suspensão podem desequilibrar o ecossistema aquático, pois servem


para abrigo de microrganismos patógenos.
Existem vários fatores que podem alterar a turbidez na água, como o
lançamento de esgoto doméstico ou industrial, atividades de mineração,
solo exposto que pode ser mobilizado e transportado rumo ao corpo d'água,
erosão das margens dos rios em estações chuvosas, que é intensificada pelo
uso e ocupação inadequado do solo (VON SPERLING, 2005; CETESB, 2016).
Elevados valores de turbidez diminuem a fotossíntese da vegetação
enraizada submersa e das algas, devido à redução da penetração da luz
solar, prejudicando a oxigenação do meio, isso pode afetar o
desenvolvimento das plantas ocasionando a baixa produtividade de peixes,
ou seja, a turbidez pode influenciar nas comunidades biológicas aquáticas
(IGAM, 2008).
De acordo com a Resolução Conama 357/2005, o limite aceitável de
turbidez é de 40 UNT para cursos d´água de classe 1 e 100 UNT para classe 2
e 3. Para classe 4, não há limite determinado para esse parâmetro.

5.4 DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO

A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) da água é definida como a


quantidade de oxigênio essencial para oxidar a matéria orgânica por
decomposição microbiana aeróbia para uma forma inorgânica estável (VON
SPERLING, 2005). A DBO é um parâmetro de qualidade de água importante e
muito utilizado para mensurar a eficiência de estações de tratamento de
esgoto sanitário e efluentes industriais, representando a quantidade de
oxigênio consumida em um período de tempo de 5 dias a uma temperatura
de incubação de 20 °C.
Os lançamentos de despejos de origem predominantemente orgânica
ocasionam o aumento da DBO num corpo hídrico, pois a presença de um
alto teor de matéria orgânica pode induzir ao completo esgotamento do
oxigênio na água, provocando o desaparecimento de formas de vida
aquática, ou seja, interfere no equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, além
de propiciar sabores e odores desagradáveis e causar prejuízos aos filtros de
areia utilizados nas estações de tratamento de água (CETESB, 2016). A
concentração de DBO nos ambientes aquáticos de água doce varia de
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 99

acordo com a classe de uso definida na Resolução Conama 357/2005


(Quadro 4).

Quadro 4 – Concentração da demanda bioquímica de oxigênio permitida para águas


doces, de acordo com as classes de usos estabelecidas na
Resolução Conama 357/2005
Classificação Concentração da demanda bioquímica de oxigênio (DBO)
Classe especial As condições naturais dos corpos hídricos devem ser mantidas
Classe 1 Até 3,0 mg.L-1
Classe 2 Até 5,0 mg.L-1
Classe 3 Até 10,0 mg.L-1
Classe 4 Valor não determinado na resolução
Fonte: Resolução Conama 357 (2005).

5.5 FÓSFORO TOTAL

O fósforo é um nutriente fundamental para os processos biológicos


em ecossistemas aquáticos. Esse nutriente atua no crescimento e
desenvolvimento do fitoplâncton e das macrófitas aquáticas, no entanto,
em elevadas concentrações na água propicia o crescimento exacerbado dos
organismos fotossintetizantes provocando a eutrofização dos corpos d´água.

O fósforo pode se apresentar nas águas sob três formas diferentes.


Os fosfatos orgânicos são a forma em que o fósforo compõe
moléculas orgânicas, como a de um detergente, por exemplo. Os
ortofosfatos são representados pelos radicais, que se combinam com
cátions formando sais inorgânicos nas águas e os polifosfatos, ou
fosfatos condensados, polímeros de ortofosfatos. Esta terceira forma
não é muito importante nos estudos de controle de qualidade das
águas, porque sofre hidrólise, convertendo-se rapidamente em
ortofosfatos nas águas naturais. (CETESB, 2017, p. 18).

Naturalmente, o fósforo é inserido em pequenas quantidades nos


corpos hídricos por meio da decomposição de vegetais e plantas. Porém, as
principais fontes de fósforo nos ambientes aquáticos são os esgotos
domésticos que contêm detergentes à base de fosfato, a matéria orgânica
de origem fecal, os efluentes industriais e a água proveniente da drenagem
de áreas urbanas e agrícolas.
100

Outra fonte significativa vem da prática de aquicultura. Os sistemas


de cultivo de peixes podem causar a inserção de fósforo no meio aquático
por meio das rações e, consequentemente, da excreção dos animais (WOLFF
BUENO et al., 2008). A concentração de fósforo total nos ambientes
aquáticos de água doce varia de acordo com a classe de uso estabelecido na
Resolução Conama 357/2005 (Quadro 5).

Quadro 5 – Concentração de fósforo total permitida para águas doces, de acordo com as
classes de usos estabelecidas na Resolução Conama 357/2005
Concentração de fósforo
Ambiente intermediário (tempo de
Classificação residência: 2 a 40 dias) e
Ambiente lêntico
tributários diretos de ambiente
lêntico
Classe especial As condições naturais dos corpos hídricos devem ser mantidas
Classe 1 0,020 mg.L-1 0,025 mg. L-1
Classe 2 0,030 mg.L-1 0,050 mg.L-1
-1
Classe 3 0,050 mg.L 0,075 mg.L-1
Classe 4 Valor não determinado na resolução
Fonte: Resolução Conama 357 (2005).

5.6 NITROGÊNIO TOTAL

O nitrogênio é um elemento importante nos ambientes aquáticos,


pois participa da composição das proteínas, da clorofila, dos ácidos
nucleicos, enzimas, hormônios e outros compostos biológicos essenciais
para os seres vivos. As fontes desse nutriente nos corpos hídricos são
variadas, podendo ser provenientes da decomposição de matéria orgânica,
esgoto doméstico ou industrial, detergentes, excretas de animais,
fertilizantes, defensivos agrícolas e intemperismo do solo.
Nos corpos hídricos, o nitrogênio pode estar nas formas: molecular
- -
(N2), amônia (NH3), nitrito (NO2 ) e nitrato (NO3 ). Elevadas concentrações de
amônia nos ambientes aquáticos são prejudiciais aos peixes, por ser uma
forma tóxica para esses seres vivos. No caso de águas utilizadas para
consumo humano, deve-se ter cuidado com a presença de nitrato que é
responsável por causar a meta-hemoglobina.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 101

A maior quantidade de nitrogênio dissolvido na água está na sua


forma orgânica devido à importância do processo biológico para que o
nitrogênio se origine nos rios. Em águas poluídas, a forma e a concentração
de nitrogênio variam. Em rios com pouca oxigenação, resultante de excesso
de matéria orgânica, a amônia pode alcançar até 80% do nitrogênio
inorgânico dissolvido (DELLAGIUSTÍNA, 2000).
O nitrogênio é essencial para que haja o crescimento de algas.
Quando em excesso, pode acarretar um desenvolvimento expressivo desses
organismos, e esse fenômeno é conhecido como eutrofização (CETESB,
2016). O nitrogênio nos processos bioquímicos de conversão da amônia a
nitrito e desse a nitrato, implica no consumo de oxigênio dissolvido do meio
e esse processo pode afetar a vida aquática (VON SPERLING, 2005).
A concentração de nitrogênio amoniacal total nos ambientes
aquáticos de água doce varia de acordo com a classe de uso estabelecida na
Resolução Conama 357/2005. De acordo com essa resolução, o limite
aceitável de nitrogênio amoniacal total para cursos d´água de classe 1 e 2 é
-1
de 3,7 mg.L em água com pH menor ou igual a 7,5, conforme o valor de pH
aumenta há maior restrição para a concentração de nitrogênio amoniacal
total. Para cursos d´água de classe 3, em pH menor ou igual a 7,5 é aceitável
-1
concentrações de até 13,3 mg.L . No caso de água doces classificadas como
4, não há um valor estabelecido para esse parâmetro.

5.7 OXIGÊNIO DISSOLVIDO

A concentração de oxigênio dissolvido (OD) nos corpos hídricos é


essencial para garantir a presença de vida e equilíbrio dos ecossistemas
aquáticos. A concentração desse parâmetro de qualidade de água pode ser
-1
expressa em miligramas por litro (mg L ) ou porcentagem de saturação. O
aporte de oxigênio dissolvido na água ocorre por meio do processo de
fotossíntese realizado pelo fitoplâncton e por difusão desse gás a partir da
atmosfera devido à diferença de pressão.
Em águas limpas, a concentração de oxigênio dissolvido é geralmente
-1
mais elevada, com valores superiores a 5 mg L , exceto se houver condições
naturais que causem baixos valores deste parâmetro. As águas que recebem
esgotos domésticos ou industriais apresentam menores concentrações de
102

oxigênio dissolvido, devido ao consumo desse gás no processo de


decomposição da matéria orgânica pelos microrganismos (ANA, 2017).
Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias utilizam o
oxigênio nos seus processos respiratórios, podendo ocasionar a redução do
oxigênio dissolvido no meio e se esse gás for totalmente consumido, ele
pode gerar condições anaeróbias e produzir maus odores no curso d’água
(VON SPERLING, 2005).
As águas ricas em nutrientes (eutrofizadas) têm a capacidade de
-1
apresentar concentrações de oxigênio superiores a 10 mg L , isso acontece
especialmente em lagos e represas onde o excessivo crescimento das algas
faz com que durante o dia, devido a fotossíntese, os valores de oxigênio
fiquem mais elevados, porém, durante a noite não ocorre a fotossíntese, e a
respiração dos organismos faz com que as concentrações de oxigênio
diminuam bastante, podendo causar a mortandade de peixes (ANA, 2017).
O oxigênio dissolvido é um parâmetro de importante na
composição dos Índices de Qualidade de Águas (IQAs) no Estado de São
Paulo, sendo que a sua concentração tem a maior ponderação na
determinação do IQA (CETESB, 2016). A concentração de OD permitida para
os corpos hídricos de água doce depende da classe de uso estabelecida na
Resolução Conama 357/2005 (Quadro 6).

Quadro 6 – Concentração de oxigênio dissolvido permitida para águas doces, de acordo com as
classes de usos estabelecidas na Resolução Conama 357/2005
Classificação Concentração oxigênio dissolvido (OD)
Classe especial As condições naturais dos corpos hídricos devem ser mantidas
Classe 1 Não inferior a 6 mg L-1
Classe 2 Não inferior a 5 mg L-1
Classe 3 Não inferior a 4 mg L-1
Classe 4 Superior a 2 mg L-1
Fonte: Resolução Conama 357 (2005).

5.8 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO

O potencial hidrogeniônico refere-se à concentração de íons de


+
hidrogênio H no meio líquido e varia de 0 a 14. O pH igual a 7,0 indica
neutralidade do meio, valores acima de 7,0 refletem condições alcalinas da
água e valores abaixo de 7,0 correspondem a meios ácidos. As atividades
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 103

antrópicas, principalmente lançamento de efluentes domésticos e


industriais, interferem nos valores de pH dos corpos d´água.
Esse parâmetro de qualidade de água tem influência no equilíbrio
químico que ocorre nas etapas de tratamento de água e no controle da
operação de estação de tratamento de esgotos. O pH é um parâmetro muito
significativo nos estudos no campo do saneamento ambiental (CETESB,
2016).
O pH influencia nos ecossistemas aquáticos naturais devido aos seus
efeitos na fisiologia de várias espécies (ESTEVES, 1998). Além disso, também
tem o efeito indireto onde determinadas condições de pH, contribuírem
para a precipitação de elementos químicos tóxicos como metais pesados;
outras condições podem exercer efeitos sobre as solubilidades de nutrientes
(CETESB, 2016). Independente da classe de uso do manancial de água doce,
o valor de pH deve estar entre 6,0 e 9,0 (CONAMA, 2005).

5.9 COLIFORMES TERMOTOLERANTES

Os coliformes termotolerantes são definidos como bactérias gram-


negativas, em forma de bacilos, oxidase-negativas, distinguidas pela
atividade da enzima β-galactosidase. Essas bactérias podem crescer em
ambiente contendo agentes tensoativos e fermentar a lactose nas
temperaturas de 44 a 45 °C, com produção de ácido, gás e aldeído
(CONAMA, 2005).
Esse grupo de bactérias é encontrado naturalmente no intestino dos
seres humanos e animais, e são indicadores de poluição por esgoto
doméstico sendo a Escherichia coli (E. coli) uma das bactérias eliminadas em
grande quantidade nas fezes de seres humanos e de animais
homeotérmicos, e que nos indica uma poluição exclusivamente fecal
(CETESB, 2008; SILVA; ARAÚJO, 2017). A E. coli também pode ocorrer em
solos, plantas ou outras matrizes ambientais que não tenham sido
contaminados por material fecal.
De acordo com a densidade dos microrganismos indicadores, pode-se
pressupor uma relação dos microrganismos patógenos transmitidos pelo
uso ou ingestão da água e analisar o grau de poluição do corpo hídrico.
Várias doenças estão correlacionadas com a veiculação hídrica, tais como:
104

amebíase, giardíase, gastroenterite, febres tifoide e paratifoide, hepatite


infecciosa, disenteria bacilar e a cólera (WHO, 1996), além dessas doenças, a
água está ligada à propagação de verminoses como: esquistossomose,
ascaridíase, teníase, oxiuríase e ancilostomíase (WHO, 1996).
Para Libânio, Chernicharo e Nascimento et al. (2005), a maioria das
doenças de veiculação hídrica são ocasionadas em decorrência da ingestão
de microrganismos patogênicos, sendo esses especialmente de origem
entérica, tanto de animais quanto de humanos.
Assim como os demais parâmetros de qualidade de água, os valores
permitidos para coliformes termotolerantes em corpos hídricos de água
doce varia de acordo com a classe de uso estabelecida na Resolução
Conama 357/2005. Segundo essa resolução, o parâmetro de coliformes
termotolerantes pode ser substituído pela concentração da bactéria E. coli
segundo os limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente.
O limite permitido para coliformes termotolerantes em águas doces
conforme a classe de uso é apresentado no Quadro 7. Ressalta-se que o
limite previsto para esse parâmetro biológico não poderá ser excedido em
pelo menos seis amostras coletadas durante o período de um ano, com
frequência bimestral (CONAMA, 2005).

Quadro 7 – Limite permitido de coliformes termotolerantes para águas doces para cada 100 mL
de amostra, de acordo com as classes de usos estabelecidas na Resolução Conama 357/2005
Classificação Limite permitido para coliformes termotolerantes por 100 mL de água
Classe especial As condições naturais dos corpos hídricos devem ser mantidas
Classe 1 200 coliformes
Classe 2 1000 coliformes
Classe 3 25000 coliformes
Classe 4 Não há limite estabelecido para essa classe
Fonte: Resolução Conama 357 (2005).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O monitoramento da qualidade da água em bacias hidrográficas é


essencial para ações de planejamento do uso e ocupação do solo, assim
como para tomada de decisões em relação aos usos múltiplos das águas
superficiais. Além disso, alterações na qualidade da água podem
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 105

comprometer a biota aquática, a saúde humana e a disponibilidade desse


recurso natural com qualidade adequada para as futuras gerações.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – projeto
CAPES/ANA AUXPE N° 2717/2015, Programa de Mestrado Profissional em
Rede Nacional em Gestão e Regulação dos Recursos Hídricos – ProfÁgua.

REFERÊNCIAS

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Brasil. Brasília, DF, 2005. 179 p.
AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS – ANA. Rede nacional: redes de monitoramento. [S. l.], 2017.
Disponível em: <http://portalpnqa.ana.gov.br/rede-nacional-rede-monitoramento.aspx>.
Acesso em: 3 jan. 2018.
BARRETO, L. V. et al. Relação entre vazão e qualidade da água em uma seção de rio. Revista
Ambiente & Água – An Interdisciplinary Journal of Applied Science, Taubaté, v. 9, n. 1, p.
118-129, 2014.
BRAGA, B. et al. Introdução a engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável.
2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 336 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle da qualidade da
água para técnicos que trabalham em ETAS. Brasília, DF: FUNASA, 2014. 112 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância e controle da
qualidade da água para consumo humano. Brasília, DF, 2006. 212 p. (Série B, Textos
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BRASIL. Portaria 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de
controle e de vigilância da qualidade da água para o consumo humano e seu padrão de
potabilidade. Brasília, DF, 2011. Disponível em:
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BRASIL. Lei 9433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria
o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do
art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990,
que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília: DOU, 2005. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=370>. Acesso em: 10
maio 2018.
CAPANEMA, G. A. Diagnóstico da qualidade da água da micro-bacia do córrego da Aldeia em
Fernandópolis-SP. 2015.100 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de
Engenharia do Câmpus de Ilha Solteira – UNESP, Ilha Solteira, 2015.
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO – CETESB. Relatório qualidade das águas
superficiais no estado de São Paulo: parte 1: águas doces 2015. São Paulo, 2016.
106

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO – CETESB. Relatório Técnico:


Monitoramento de Escherichia coli e coliformes termotolerantes em pontos da rede de
avaliação da qualidade de águas interiores do Estado de São Paulo. São Paulo, 2008. 22 p.
CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução do Conselho Nacional de
Meio Ambiente CONAMA 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos
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108
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 109

Capítulo 6

ANÁLISE DE PARÂMETRO DE QUALIDADE DAS ÁGUAS NA UGRHI 20,


BACIA DO RIO AGUAPEÍ – OESTE DE SÃO PAULO
24
Amanda Rodrigues Correa
25
Paulo Cesar Rocha

1 INTRODUÇÃO

A água é um elemento fundamental para a vida, responsável por


manter o equilíbrio do meio ambiente e indispensável para as atividades
humanas (SETTI et al., 2001). Entretanto, as diferentes intervenções
antrópicas no meio ambiente acabam por prejudicar o equilíbrio da
natureza, comprometendo a disponibilidade deste recurso para as futuras
gerações (SANTOS; LEAL, 2014). A importância do manejo sustentável da
água para o bem-estar das populações e para o desenvolvimento é o
fomentador que subsidia as ações voltadas à gestão dos recursos hídricos
(LOPES; TEIXEIRA, 2012).
A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/1997) (BRASIL,
1997) estabelece as bases legais para a gestão dos recursos hídricos no
Brasil, determina como diretriz de ações a gestão integrada e como unidade
territorial de planejamento a bacia hidrográfica, estabelecendo como
instrumentos de gestão: o enquadramento dos corpos d’água em classes
segundo os usos preponderantes, a cobrança pelo uso da água, a outorga do
direito de uso, o sistema de informações sobre recursos hídricos e a
compensação aos municípios (PORTO; PORTO, 2008).
Como previsto na Lei 9.433/1997, o enquadramento dos corpos
d’água tem por objetivo certificar às águas qualidade conciliável com os usos
mais exigentes a que foram destinadas e diminuir os custos de combate à
poluição das águas através de ações preventivas permanentes.

24
Mestranda do PPGG-Mestrado Profissional, FCT/UNESP; PEA. E-mail:
amanda.rodrigues.c.bio@gmail.com
25
Professor assistente, doutor, PPGG-Mestrado Profissional – FCT/UNESP. PQ CNPq E-mail:
pcrochag@gmail.com
110

De acordo com Leal (2000), o instrumento de enquadramento deve


resultar de um processo de planejamento da bacia hidrográfica que torne
compatível a oferta com as demandas dos recursos hídricos e ambientais,
sendo assim, as classes dos corpos d’água e qualidade das águas estão
diretamente ligadas aos usos da água e do solo na bacia hidrográfica, em
que para ser atingida a classe pretendida será necessário um conjunto de
ações voltadas para a gestão dos recursos hídricos e ambientais; sendo o
instrumento de enquadramento então um referencial de qualidade a ser
alcançado a curto, médio e longo prazo.
A Resolução Conama 357/2005 (CONAMA, 2005) instituiu
parâmetros e variáveis a serem adotados nos processos de análise da
qualidade e enquadramento dos corpos d’água em todo o território
brasileiro, e desde a sua implantação esta resolução vem sendo tomada
como referência para diversas pesquisas acadêmicas (CUNHA et al., 2013).
O monitoramento da qualidade da água é uma ação de extrema
importância não somente para fins de abastecimento público, mas também
para subsidiar as ações voltadas à conservação da natureza. Nesse sentido
não há um padrão ou um único indicador de qualidade de água que seja
aplicável a qualquer sistema hídrico. No entanto, a combinação de
parâmetros em índices vem sendo uma ferramenta amplamente utilizada
nos estudos de qualidade de água (TOLEDO; NICOLELLA, 2002). Na avaliação
da qualidade das águas é considerada uma amostra, em que seus
componentes avaliados são classificados em parâmetros físicos, químicos ou
microbiológicos (BELONDI, 2003).
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB),
utiliza desde 1975 o Índice de Qualidade das Águas (IQA) como ferramenta
de gerenciamento ambiental, e em 2002 incorporou às suas análises índices
mais específicos que refletem a qualidade da água destinada a seus
múltiplos usos como o Índice de Qualidade de Águas Brutas para
Abastecimento Público (IAP), Índice de Preservação de Vida Aquática (IVA), e
Índice de Balneabilidade (IB) (CETESB, 2011).
As mudanças nas características físicas e químicas da água são
influenciadas por vários fatores como geologia, declividade, clima, cobertura
vegetal, tipos de solos, assim como pelo tipo de uso e cobertura da terra na
bacia hidrográfica, as interações desses atributos condicionam a quantidade
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 111

de sedimentos e os gradientes dos compostos químicos que são carreados


nos corpos d’água conferindo as características de sua qualidade
(GONÇALVES, 2011).
O objetivo do presente capítulo é apresentar uma análise dos
parâmetros de qualidade das águas em pontos de monitoramento na UGHRI
– 20, salientando as desconformidades encontradas em relação aos padrões
e às variáveis de qualidade das águas estabelecidas pela Resolução Conama
357/2005. A análise abrangeu os anos de 2003, 2007, 2011 e 2015 com a
finalidade de identificar as mudanças ocorridas na qualidade das águas,
relacionando com os aspectos legais, naturais e de uso da terra da bacia
hidrográfica.

2 APLICAÇÃO DO CASO

Para este estudo foram utilizados os dados de qualidade das águas


obtidos nos relatórios anuais de qualidade das águas superficiais publicado
pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São
Paulo (CETESB), órgão responsável pelo monitoramento da qualidade das
águas no Estado de São Paulo. Na rede básica de monitoramento são
utilizadas cerca de 60 variáveis para caracterização da qualidade da água,
sendo classificadas com os parâmetros físicos, químicos, hidrobiológicos,
microbiológicos e ecotoxicológicos, considerados representativos, porém
para este estudo foram analisados somente os parâmetros físico-químicos.
Para auxiliar na visualização e interpretação dos resultados foram
elaboradas tabelas com os dados selecionados referentes aos anos
analisados. Os dados extraídos se referem a todas as amostragens feitas
durante os anos estudados, no ano de 2003 as amostragens tiveram uma
periodicidade semestral, totalizando duas por ano, para os anos de 2007,
2011 e 2015 as amostragens tiveram periodicidade bimestral, onde
totalizaram seis amostragens durante os anos estudados.
112

Área de estudo

A Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI-20) está


localizada no oeste do Estado de São Paulo, abrangendo a bacia hidrográfica
do rio Aguapeí, esta, juntamente com a bacia hidrográfica do rio do Peixe,
integram o comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. De
acordo com a Divisão Hidrográfica Estadual em vigência, existem 32
municípios com sede no território da UGRHI-20, possuindo uma área
territorial de 9.562,5 km² e uma área de drenagem de 13.196 km², tendo
como principais rios e reservatórios compondo sua rede hidrográfica o rio
Aguapeí, rio Tibiriçá, rio Iacri, córrego Afonso XIII e ribeirão das Marrecas
(CBH-AP, 2013). A UGRHI-20 limita-se ao norte com a bacia do rio Tietê, a
oeste com o rio Paraná, a leste com a serra dos Agudos e ao sul encontra-se
com a bacia do rio do Peixe (CBH-AP, 2008).
De acordo com o Relatório da Situação das Bacias Hidrográficas do
Aguapeí e Peixe (2014), na UGRHI-20 a cidade de Marília sedia o maior polo
industrial dentre as outras cidades inseridas na UGRHI, os setores de
serviços e comércio impulsionam a economia regional nas áreas urbanas;
nas áreas rurais se destacam nas atividades de agricultura e pecuária as
lavouras de café, cana-de-açúcar e milho, além das atividades de extração
mineral de areia em afluentes do rio Aguapeí e extração de argila em
municípios na margem do rio Paraná. A vegetação natural remanescente
ocupa aproximadamente 6,5% da área da UGRHI expressada pela floresta
estacional semidecidual e formação arbóreo-arbustiva em região de várzea.
Foram analisadas as variáveis de qualidade das águas de três pontos
de monitoramento localizados na UGRHI-20, sendo eles: CASC 02050,
enquadrado com classe 2 e localizado no reservatório Cascata, no alto curso
do rio Tibiriçá, onde cabe salientar que neste ponto há captação de água
para o abastecimento público da cidade de Marília/SP; o ponto de
monitoramento AGUA 02100 está localizado no médio curso do rio Aguapeí,
enquadrado também com classe 2, e o ponto AGUA 02800 localizado no
baixo curso do rio Aguapeí, enquadrado com classe 2, salientando também
que este ponto está inserido em uma Unidade de Conservação de Proteção
Integral. A Figura 1 apresenta a distribuição espacial dos pontos na UGRHI-
20.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 113

Figura 1 – Pontos de monitoramento da qualidade da água na UGRHI-20

Fonte: Cetesb (2013), acessado em março de 2018.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta etapa destacam-se apenas as variáveis de qualidade das águas


que não estão em conformidade com a Resolução Conama 357/2005. Para
isso, foram elaborados quadros demonstrativos considerando apenas as
inconformidades. A Tabela 1 representa os valores recomendados pela
Resolução para as variáveis que apresentaram inconformidades neste
estudo e a Tabela 2 representa os valores das variáveis em
desconformidade.

Tabela 1 – Valores de referência para as variáveis analisadas


Unidade Padrão Conama
Variáveis
357/2005
Alumínio dissolvido mg/L < 0,1
Fósforo total mg/L < 0,03
Fenóis totais mg/L < 0,003
Ferro dissolvido mg/L < 0,3
Mercúrio mg/L < 0,0002
Manganês mg/L < 0,1
Oxigênio dissolvido mg/L >5
DBO (5,20) mg/L <5
Turbidez UNT < 100
Fonte: Adaptado de Resolução Conama 357/2005, acessado em março de 2018 e organizado
pelos autores.
114

Tabela 2 – Pontos de monitoramento e suas respectivas variáveis em desconformidade

Fonte: CETESB (2003, 2007, 2011, 2015), acessado em março de 2018.


Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 115

Análise dos parâmetros

Alumínio dissolvido

No ponto CASC 02050 o alumínio dissolvido teve uma diminuição


progressiva nas concentrações, em que a partir de 2007 a variável não mais
apresentou desconformidade em relação ao período analisado, registrando
a maior concentração em maio de 2003, de 0,95 mg/L, e a menor
concentração, 0,19 mg/L, em fevereiro de 2007.
No ponto AGUA 02100 o alumínio dissolvido se manteve alterado em
quase todas as amostragens, variando de 0,11 mg/L em dezembro de 2011 a
4,23 mg/L em fevereiro de 2003.
No ponto AGUA 02800 o alumínio dissolvido registrou concentrações
desconformes entre 0,108 mg/L a 8,9 mg/L, sendo o maior valor registrado
em fevereiro de 2003 e o menor valor em agosto de 2015.
O aporte de alumínio na natureza ocorre naturalmente através da
ação do intemperismo de rochas e minerais; entretanto, pela ação antrópica
o alumínio pode ser introduzido no ambiente pela emissão de gases,
efluentes entre outras formas (TARPANI, 2012).

Fósforo total

No ponto CASC 02050, o fósforo total apresentou a maior


concentração, de 0,18 mg/L, em junho de 2007, e a menor concentração, de
0,031 mg/L, em dezembro de 2015.
No ponto AGUA 02100 o fósforo total se manteve alterado nas
amostragens de 2003 e 2007, porém para as amostragens de 2011 e 2015
não houve registro de desconformidade, sua variação esteve entre 0,046
mg/L em abril de 2003, e 0,15 mg/L em junho e dezembro de 2007.
No ponto AGUA 02800 o fósforo total teve uma variação
desconforme entre 0,044 mg/L a 0,179 mg/L, destacando que a partir de
2011 não apresentou mais valores desconformes; sendo o menor valor
registrado em fevereiro de 2005 e o maior valor em dezembro de 2005.
A presença de fósforo em águas naturais ocorre principalmente
devido às descargas de esgotos sanitários, sendo a matéria orgânica fecal e
116

os detergentes de uso doméstico as principais fontes, efluentes de


indústrias como de fertilizantes, pesticidas e químicas em geral, além dos
frigoríficos e laticínios e também as águas drenadas das áreas agrícolas e
urbanas acarretam o aumento do fósforo em águas naturais (CETESB, 2016).

Oxigênio dissolvido

No ponto CASC 02500 o oxigênio dissolvido apresentou eventual


desconformidade, ocorrendo apenas uma vez no período analisado, sendo o
valor de 3,2 mg/L em outubro de 2007.
No ponto AGUA 02100 o oxigênio dissolvido apresentou
desconformidade principalmente nos meses de dezembro e fevereiro dos
anos amostrados, registrando sua menor concentração, de ˂ 0,5 mg/L, em
abril de 2015 e sua maior concentração, de 4,9 mg/L, em dezembro de 2015.
No ponto AGUA 02800 o oxigênio dissolvido apresentou somente
uma eventual desconformidade registrada em fevereiro de 2011.
O oxigênio dissolvido na água é um dos gases mais importantes que
regem a dinâmica dos ecossistemas aquáticos sendo as principais fontes
desse gás na água provenientes da atmosfera e da fotossíntese (ESTEVES,
1998).
Silva e Hermes (2004 apud GONÇALVES, 2011) acrescentam ainda
que a disponibilidade do oxigênio dissolvido na água detém do balanço
entre a quantidade consumida pelos organismos aquáticos e a quantidade
produzida na água pelos organismos aquáticos e fotossintetizantes,
considerando tal variável como uma das principais utilizadas que
caracterizam a poluição das águas.

Fenóis totais

No ponto CASC 02050 a variação na concentração dos fenóis totais


oscilou entre 0,004 a 0,007 mg/L, sendo a menor registrada em agosto de
2011 e a maior em fevereiro de 2011.
A presença de fenóis e derivados na água está associada a descarga
de efluentes industriais como as indústrias de processamento de borracha,
adesivos, colas, resinas e siderúrgicas (CETESB, 2016).
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 117

Ferro dissolvido

No ponto CASC 02050 o ferro dissolvido apresentou


desconformidade nos anos de 2011 e 2015, registrando menor
concentração, de 0,33 mg/L, em dezembro de 2011 e maior concentração,
de 0,43 mg/L, em agosto de 2015.
No ponto AGUA 02100 o ferro dissolvido começou a apresentar
desconformidade a partir das amostragens de 2007, registrando 0,38 mg/L
em agosto de 2011 e 1,05 mg/L em dezembro de 2007.
No ponto AGUA 02800 o ferro dissolvido em relação aos anos
analisados começou a apresentar desconformidade somente a partir de
fevereiro de 2007, oscilando entre 0,31 mg/L em junho de 2007 e 1,73 mg/L
em fevereiro de 2007.
O aumento da concentração de ferro em águas superficiais decorre
na estação chuvosa devido ao carreamento de solos pelos processos
erosivos das margens, há também importante contribuição de efluentes de
indústrias metalúrgicas (CETESB, 2016).

Mercúrio

No ponto CASC 02050 o mercúrio teve eventual desconformidade


registrando 0,0003 mg/L em agosto de 2011.
No meio aquático as fontes antropogênicas de mercúrio se originam
principalmente das atividades das indústrias cloro-álcali de células de
mercúrio, resíduos de processos de mineração e fundição, efluentes de
tratamento de esgoto, indústria de tintas, entre outros (CETESB, 2015).

Manganês

No ponto CASC 02050 o manganês aparece desconforme somente


em 2015, quando é registrada a menor concentração, de 0,118 mg/L, em
fevereiro e maior concentração, de 0,26 mg/L, em dezembro.
No ponto AGUA 02100 o manganês apresentou desconformidade
para os anos 2003 e 2007, já para 2011 e meados de 2015 não apresentou
118

alteração fora do padrão, voltando a estar desconforme em dezembro de


2015, registrando 0,11 mg/L.
No ponto AGUA 02800 o manganês registrou sua menor
concentração, de 0,111 mg/L, em dezembro de 2015, e a maior, de 0,19
mg/L, em fevereiro de 2007.
O manganês ocorre naturalmente nas águas subterrâneas e
superficiais, porém, as atividades antrópicas ocasionam o aumento de sua
concentração nas águas, a utilização do manganês e seus compostos está
atrelada principalmente às indústrias de aço, baterias, ligas metálicas,
vidros, fertilizantes entre outros (CETESB, 2016).

Demanda bioquímica de oxigênio

No ponto CASC 02050 a DBO apresentou menor valor de 6 mg/L em


fevereiro, abril, outubro e dezembro de 2007 e dezembro de 2011, sendo a
maior de 13 mg/L registrada em junho de 2007.
No ponto AGUA 02100 a DBO apresentou somente uma eventual
alteração registrada em abril de 2015.
A DBO (demanda bioquímica de oxigênio) é um indicador do
consumo do oxigênio dissolvido pelos microrganismos decorrente de seus
processos metabólicos para a estabilização da matéria orgânica (VON
SPERLING, 1996). Silva e Araújo (2017) ressaltam que a variável DBO possui
uma forte tendência sazonal, ocasionada pela precipitação pluvial que
influencia o aumento da entrada de sólidos e matéria orgânica na água,
aumentando a demanda bioquímica do oxigênio.

Turbidez

No ponto AGUA 02100 a turbidez esteve alterada exclusivamente no


mês de dezembro dos anos de 2003, 2007 e 2015 variando de 141 UNT a
267 UNT.
No ponto AGUA 02800 a turbidez registrou desconformidade em três
amostragens dos períodos analisados, sendo o valor maior de 112 UNT em
outubro de 2011 e 135 UNT em dezembro de 2003.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 119

De acordo com Von Sperling (1996), a turbidez é caracterizada pelo


nível de interferência da passagem de luz através da água, ocasionada pelos
sólidos em suspensão, ocorrendo de forma natural através das partículas de
rocha, argila, silte, algas e outros microrganismos. A erosão das margens dos
canais fluviais acentuada pela má conservação do solo é um dos exemplos
que justificam o aumento da turbidez na água, o despejo de efluentes
domésticos e industriais também ocasionam elevações nos níveis de
turbidez (CETESB, 2016). Os níveis de turbidez se mostram particularmente
elevados em regiões com solos com tendência à erosão, no qual a
precipitação faz o carreamento dessas partículas, onde as águas da maioria
dos rios brasileiros se mostram naturalmente turvas por conta da ocorrência
de fortes chuvas (VON SPERLING, 1998).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados analisados o estudo permitiu verificar que, sob a


perspectiva espacial, as variáveis em inconformidade foram
predominantemente as mesmas nos três pontos analisados, que apenas no
ponto CASC 02050 difere as variáveis fenóis totais, mercúrio e turbidez,
sendo este ponto um reservatório onde há captação de água para
abastecimento, e as ações de monitoramento e gestão deveriam ter mais
atenção visto que muitas variáveis apresentaram inconformidades.
Em relação ao tipo de parâmetro, as variáveis de ordem química
tiveram predominância nos padrões de inconformidade em todos os pontos
analisados, a variável física turbidez aparece em desconformidade somente
no médio e baixo curso do canal fluvial.
As variáveis alumínio dissolvido, fósforo total, ferro dissolvido e
manganês foram as variáveis que mais se destacaram, aparecendo em
desconformidade em todos os pontos e recorrente em todos os anos
analisados. Pela ação antrópica, esses minerais provêm de efluentes e águas
residuárias, pois na natureza esses minerais decorrem da dissolução das
rochas pelo intemperismo, e o aumento da concentração desses minerais na
água remete a um estágio de degradação da bacia tendo em vista o
processo de ocupação, onde grande parte da mata nativa foi convertida em
120

terras para outros usos não mais exercendo sua função nas dinâmicas
naturais, sendo uma delas a retenção de sedimentos.
Sendo a água um recurso essencial que pode se converter em um
recurso não utilizável decorrente da degradação que vem sofrendo, deve-se
prevenir esta situação, controlando o lançamento de efluentes, e
promovendo a conservação da bacia.
Em suma, o monitoramento da qualidade da água é uma
ferramenta essencial para o planejamento e a gestão do ambiente, pois só
assim é possível conhecer as características e entender as transformações
do ambiente, visando à garantia que as legislações vigentes sejam
cumpridas certificando os usos múltiplos da água conforme estabelecidos
em lei.

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Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 121

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122
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 123

Capítulo 7

UTILIZAÇÃO DA ESTATÍSTICA PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE


ÁGUA EM BACIA HIDROGRÁFICA

26
Fernanda Luisa Ramalho
27
João Batista Pereira Cabral
28
Assunção Andrade de Barcelos

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Lei 8.171/91, as bacias hidrográficas constituem-se em


unidades básicas de planejamento do uso, da conservação e recuperação
dos recursos naturais (BRASIL, 1991). Para Tucci (1993), a bacia hidrográfica
é uma captação natural da água da precipitação que faz convergir os
elementos para uma única área de saída, exutório, ou seja, a seção de um
rio a define.
A bacia hidrográfica pode sofrer mudanças ou alterações no
comportamento hidrológico tanto em função de aspectos físicos como
geomorfológicos, pedológicos, geológicos, climáticos e vegetação, não
deixando de considerar as ações antrópicas. Devido à complexidade em
analisar os sistemas lóticos, tais características são fundamentais para o
ciclo hidrológico da bacia, influenciando na produção de sólidos em
suspensão, na infiltração, na evaporação, na quantidade de água produzida,
no escoamento superficial, entre outros (BRAGA, 2012; ROCHA et al., 2014).
Consequentemente, essas alterações podem vir a refletir na qualidade das
águas que, nesse sentido, torna-se necessário o uso de indicadores de

26
Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Goiás. E-mail:
ramalho_luisa@hotmail.com
27
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Jataí. E-
mail: jbcabral2000@yahoo.com.br
28
Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Jataí. E-mail: assuncaoa-
barcelos@hotmail.com
124

qualidade de água (parâmetros físicos, químicos e biológicos) de maneira a


correlacionar as alterações ocorridas na bacia (RIBEIRO et al., 2016).
Para Toledo e Nicolella (2002), cada sistema lótico possui
características próprias, o que torna difícil estabelecer uma única variável
como indicador-padrão para qualquer sistema hídrico. Nesse sentido, a
busca em trabalhos de campo é a obtenção de índices de qualidade de água
que reflitam resumida e objetivamente as alterações, com ênfase para as
intervenções humanas, como o uso agrícola, urbano e industrial
(COUILLARD; LEFEBVRE, 1985). É importante lembrar que os índices e
indicadores ambientais surgiram como resultado da crescente preocupação
social com os aspectos ambientais do desenvolvimento, processo que
requer um número elevado de informações em graus de complexidade cada
vez maiores (CETESB, 2015).
Ribeiro et al. (2016) ressalvam que informações sobre a qualidade
das águas no país ainda são insuficientes ou inexistentes em várias bacias.
Apenas nove unidades da Federação possuem sistemas de monitoramento
da qualidade da água considerados ótimos ou muito bons, cinco possuem
sistemas bons, e treze apresentam sistemas fracos ou incipientes (ANA
2015).
Desde meados da década de 1960, optou-se por utilizar indicadores
que auxiliam na agregação ponderada de parâmetros selecionados, pois são
muitas as variáveis de análises. Assim, um dos métodos utilizados na
formulação de índices de qualidade de água se baseia na técnica
multivariada da análise fatorial, segundo Ribeiro et al. (2016), que
representa uma forma exploratória de conhecer o comportamento dos
dados a partir de uma dimensão reduzida do espaço original dos parâmetros
(MOURA, 2010; MULHOLLAND et al., 2010; HAIR et al., 2009).
O cenário de tendências do Estado de Goiás envolvendo ambiente,
dinâmica demográfica, saúde, economia e investimentos apontam para a
necessidade de um direcionamento voltado a ações que consolidem o
desenvolvimento sustentável na região.
Diante dessas suposições o objetivo deste capítulo é avaliar a águas
do Córrego Matriz em Cachoeira-Alta/GO em quatro períodos distintos, a
fim de identificar por meio da correlação de Pearson, quais parâmetros
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 125

físicos, químicos e biológicos devem ser levados em consideração no estudo


da qualidade das águas.

2 APLICAÇÃO: ESTUDO DE CASO DA BACIA

A qualidade da água reflete nas condições ambientais da bacia


hidrográfica, sendo assim, conhecer as características de qualidade da água
amplia o conhecimento ecológico do ecossistema e possibilita detectar
alterações provenientes da atividade humana.
Para Souza e Gastaldini (2014), a utilização da correlação de Pearson
(r) melhor caracteriza a qualidade da água, pois a correlação das variáveis dá
confiabilidade aos resultados.
Devido à grande quantidade de variáveis que compõem os
parâmetros de qualidade da água, a interpretação desses resultados torna-
se difícil e dispendiosa. Deste modo, os métodos de análise multivariada de
dados têm sido cada vez mais utilizados em estudos ambientais devido à sua
fácil aplicação e por reduzirem o número de dados em subgrupos menores
correlacionados entre si, como destaca Menezes, et al. (2014). Com isso,
podemos citar alguns trabalhos que utilizam esses tipos de análise (MOURA,
et al., 2013; MENEZES et al., 2014; SOUZA; GASTALDINI, 2014; ROCHA;
CABRAL; BRAGA, 2014; RAMALHO, 2015; BARCELOS, 2015).
Esse método usualmente conhecido para medir a correlação entre
duas variáveis é também conhecido como Coeficiente de Correlação do
Momento Produto. Este foi o primeiro método de correlação, estudado por
Francis Galton e seu aluno Karl Pearson, em 1897 (LIRA, 2004).
O coeficiente de correlação linear de Pearson (r) é uma medida
estatística que mede o grau de associação entre duas variáveis, sendo sua
variação entre -1 e 1. Quanto mais próximo dos extremos do intervalo de
variação, mais correlacionadas estão as variáveis em questão (TRIOLA,
1999). Para Lira (2004), diferentes formas de correlação podem existir entre
as variáveis. O caso mais simples e mais conhecido é a correlação simples,
envolvendo duas variáveis, X e Y.
126

3 METODOLOGIA

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A região centro-oeste do Estado de Goiás, em especial os


municípios de Caçu e Cachoeira-Alta, tiveram sua economia baseada em
atividades agrícolas e pecuárias e, nas últimas décadas, a produção de cana-
de-açúcar e a implantação de empreendimentos hidráulicos como usinas
hidrelétricas (UHE) ou pequenas usinas hidrelétricas (PCH) nos rios vêm
alterando o uso da terra na região. Embora essas atividades permitam um
avanço socioeconômico da região, existe uma grande chance de a qualidade
da água dos rios ser deteriorada e inviabilizar o seu uso.
Dentre os diversos córregos da região, o córrego Matriz, cuja bacia
possui uma área de 69,42 km² (ROCHA, 2012; BRAGA, 2012; CORDEIRO,
2013; NASCIMENTO, 2014) é considerado o principal afluente da UHE Barra
dos Coqueiros, que transporta sedimentos e nutrientes para o reservatório.
A bacia do córrego Matriz encontra-se localizado no município de
Cachoeira Alta/GO, na região sul do Estado do Goiás (Figura 1).

Figura 1 – Localização da bacia do córrego Matriz, em Cachoeira Alta (GO)

Fonte: Alves (2015).


Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 127

O município de Cachoeira Alta possui área territorial de 1.654,554


km² e população de 10.553 habitantes e faz fronteira com os municípios de
Caçu, Rio Verde, Aparecida do Rio Doce, Quirinópolis, distando,
aproximadamente, 344 km/h da capital Goiânia. Faz parte da bacia
hidrográfica do Rio Claro. Suas águas superficiais são formadas pela UHE-
Barra dos Coqueiros, com uma área aproximada de 531 km² e uma área
inundada de 25,48 km² (BRAGA, 2012).

3.2 ANÁLISE DA ÁGUA

Foram definidos quatro pontos de amostragem no curso d’água, de


modo a abranger os diferentes modelos de uso da terra. A distância entre os
pontos de amostragem foi estabelecida conforme a escala cartográfica e
com auxílio do Google Earth, junto com a plotagem das coordenadas
geográficas obtidas pelo equipamento de localização terrestre via satélite
(Global Position System – GPS) levando em consideração aos pontos de
amostragem. As amostras de água foram coletadas em quatro campanhas,
em períodos distintos, entre meses de junho de 2015 a março de 2016.
Sendo que a primeira campanha de coleta foi realizada em 14 de junho de
2015. A segunda campanha aconteceu em 12 de setembro de 2015. A
terceira campanha ocorreu em 5 dezembro de 2015. Por fim, a quarta
campanha foi realizada em 5 de março de 2016.
As amostras de água foram obtidas na camada mais superficial do
corpo d'água (epilímnio), onde tende a ocorrer as maiores temperaturas, o
que, junto com o aporte de nutrientes, aumenta a produtividade de
organismos nas camadas superficiais (ESTEVES, 1998; CABRAL et al., 2013).
Os parâmetros avaliados foram: oxigênio dissolvido (OD), coliformes
termotolerantes (CT), potencial hidrogeniônico (pH), demanda bioquímica
de oxigênio (DBO), nitrogênio total (NT), fósforo total (PT), temperatura (T),
turbidez (Turb.) e resíduos totais (RT).
Os parâmetros de OD, pH e T foram obtidos in situ, utilizando-se a
sonda multiparâmetro OAKTON PCD 650. Já os parâmetros de PT, DBO, NT,
Turb, RT e CT foram analisados em laboratório. Os métodos de análises para
cada um dos parâmetros seguiram os procedimentos descritos na APHA
(1995), como descritos no Quadro 1.
128

Quadro 1 – Metodologias empregadas nas análises da água da bacia do córrego Matriz/GO


Parâmetros Método Equipamentos

Multiparâmetro, marca OAKTON, modelo


pH Sonda
PCD 650 Waterproof Portable Meter Kit
Fotocolorímetro at-100 PB série E005901 da
PT Vanadomolíbdico
marca Alfakit Ltda.
Fotocolorímetro at-100 PB série E005901 da
NT NTD
marca Alfakit Ltda.
Multiparâmetro, marca Oakton, modelo
OD Sonda
PCD 650 Waterproof Portable Meter Kit
Multiparâmetro, marca Oakton, modelo
T Sonda
PCD 650 Waterproof Portable Meter Kit
Turbidimeter, modelo HI 83414, marca
Turb. Turbidímetro
Hanna
Estufa, bomba a vácuo e balança
RT Gravimétrico
gravimétrica
Frascos de DBO, bombinhas de aquário e
DBO Incubação
incubadora de DBO
CT Membrana filtrante Estufa, bomba a vácuo

As amostras coletadas foram armazenadas em garrafas de


polietileno e conservadas em temperatura de 4 °C. Para as análises de RT e
Turb, as amostras foram coletadas em garrafas de 500 ml. As análises de PT
e NT em garrafas de 600 ml, conservadas em ácido sulfúrico (H 2SO4). Para as
análises de DBO, as águas foram armazenadas em garrafas de polietileno,
revestidas com papel alumínio. Nas análises de coliformes termotolerantes,
a água é conservada em recipiente de polietileno autoclavável atóxico,
contendo 50 ml, revestido de papel alumínio. Depois de coletadas e
armazenadas, realizou-se análise no laboratório.

3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para avaliar o grau de relacionamento entre duas variáveis e


identificar com precisão quanto uma variável interferiu no resultado da
outra, foram gerados diagramas de dispersão de Pearson, conforme descrito
em Callegari-Jacques (2008). Para avaliar a significância do coeficiente de
correlação, utilizou-se o teste de hipótese de Student.
Bacias hidrográficas: fundamentos e aplicações - 129

O valor crítico da distribuição de t de Student dos quatros pontos


amostrais adotados foi avaliado segundo o nível de significância de 90%
unilateral, em que gl foi de 3, correspondendo ao valor de (1,638).
Uma vez determinada a existência de correlação (r), as mesmas
foram classificadas qualitativamente, de acordo com a Quadro 2.

Quadro 2 – Avaliação qualitativa do grau de correlação entre as variáveis analisadas


R Correlação
0 Nula
0 – 0,3 Fraca
0,3 – 0,6 Regular
0,6 – 0,9 Forte
0,9 – 1 Muito Forte
1 Plena ou Perfeita
Fonte: Callegari-Jacques (2008).

Com esses métodos estatísticos, é possível selecio