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INTERESSE NACIONAL E PECULIAR INTERESSE LOCAL: COMO DISTINGUL-LOS? ‘MANUELA LOURENGO PIRES TORQUATO. ANOTACOES SOBRE 0 CONCEITO DE DIREITO E CONOMICO MARIA DO CARMO RODRIGUES ANDRADE PACHECO. © PAPEL DA JUSTICA ELEITORAL NA CONSOLIDACAO DA DEMOCRACIA - ELEICOES NO CEARA: 1994-96. MARTONIO MONT'ALVERNE BARRETO LIMA EVOLUGAO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS NO ESTADO MODERNO PAULO ANTONIO DE MENEZES ALBUQUERQUE, AETICA ESPINOSANA NAS CIENCIAS HUMANAS PRECILIANA BARRETO DE MORAIS © DIREITO A ANTECIPACAO DE TUTELA APLICADO AO DIREITO PROCESSUAL TRABALHISTA RAIMUNDO AMADEU ROCHA FILHO 107 uy m5 Pensar: A.C. Dieta UnitorForalaza/y. SIN® 6/P 5:22/FEV2001 NIETZSCHE, MORAL E POLITICA MODERNA ALEXANDRE ANTONIO BRUNO DA SILVA Professor do Curso de Direite da UNIFOR ‘Mestre em Informatica - PUCRJ Mestrando em Direito - UFC RESUMO Dificilmente algum flésofo, em qualquer tempo, foi tao audaz e capaz de criticar de tal forma as bases do pensamento humano de sua época. De sua visao critica, da sua filosofia a golpes de martelo, quase nada esca- pou. Por ele foram feitas pesadas crticas relativas & moral crsta, @ edu- cago massiticada, ao liberalismo, ao socialismo, 20 nacionalismo @ a0 regime democratico, Neste trabalho apresentaremos, rasumiciamente, a filosofia moral do ‘Nietzsche e seus principais posicionamentos a cerca da politica e do Estado modemo, ABSTRACT Dificultly some philosopher, in any time, was so audacious and capable of eriticizing in such @ way the bases of the human thought nationalism and the democratic regime. Jn this work we will present, concisely, the moral philosophy of Nietzsche and its main positions about the politics and modern State 1. A Filosofia Moral de ‘Opensamento nietzscheano Assim, elucidar em que — Aprimeira representando obemea Nietzsche de uma poténciacriadoraerecriadora consisteo bem eomal,queis valores Segunda o mal, travaram ao longo incomparavel. Nietzsche @ uma s40 bons e maus, é condigéo da histéria humana uma lua funda- Em uma suas principais obras, espécie de tdnico revigorante, em necesséria para a fundamentagao e mental e, ainda hoje, determinam o Nietzsche define 2s principais bases sua flesofia faz questao de falar de justiticagao das agdes morais no _essencial desta historia de seu pensamentoflosético. Pela coisas belas e duras. Nao a toa mundo. © que pretendemos aqui é Esta genealogia colocara linguagem utlizada pelo autore pela que ele assevera que na “Escola esclarecer a posigao filoséica de Guestees admirdvels quant ae propria complexidade dos conceitos Bélica da Vida ~ O que nao me faz Nietesche dante detal problematica, So tacos do bom cdemare tais idéias ao longo do tempo morterme torna mals orte’.' Aquele Grande parte da obra ilosotica os modos de fundamentagao © mereceram uma série de que consegue superar a dureza de nietzscheana é relativa as questes —_legitimagao das agdes morais. interpretagdes distintas. Geralmente sues palavras, a dureza da vida, torna- morais. A posigao de Nietzsche 6 Relativamente a toda tradigao ao se interpretaralgo complexo, como se mais forte para executar sua fundamentalmente de critica aos moderna-cristé a genealogia aobra de Nietzsche, cerlamente,na —_prdpria obra. valores dominantes modemo-cristéos. transforma “o bom em mau e o mau interpretagao, fica muito mais do ‘A feltura da-aiia obra 6 im Quer dizer, para Nietzsche, aquilO om’ bom’. Esta monumental Pensamento daquele que interpretou gt mulo.a razdo e ao coragao, Seu que € ou fel considerado "bom" do transvaloragao dos valores causa do que © desejével. Por vezes 0 gstioiteraioé sollsieade etorente, ponto de vista modemno e cristéo é espanto, pensamento original acaba sendo Enirotanto, certas ideias deste outoi,na verdade, “mau” Nistzséhe joge par tera of afastado. Procuraremos mestraruma — pensador saltam aos olhos e surge Sua perspectiva consiste, de principios morais mais importantes interpretagao relativamenteimparcial 9 espanto, a admiragao. Merecem mado, colocar em questéo amoral, do pensamento moderno, De ta fora dos principais conceitos. Se no ymmaior astudo fu seja, 0 valor absoluto da moral Que, a primeira tareta proparatora leibereraiy eyed noe batecodag Neste ponto do trabalho toremos ©, de outro, fazer uma critica das para a interpretacao da critica 5 fa preocupagao de apresentar 0 valoragses morais tradicionais, geneal6gica nietescheana consiste , persamento de Nietzsche quanto ao Pode-se extrairumduplosentide em um trabalho de esclarecimento 1-1 A Moral em Nietzsche fundamento inovador de sua filosofia desta critica moral. O primeiroaponta _e auto-reconhecimento dos principios moral para uma citica total da moral, quer morais modernas, como finitos © Inicialmente, vamos apresentar aqui um assunto de consideravel Segundo Nietzsche, o mundo importdncia: a filosofia moral de humano é um mundo de agées, As Nietzsche. E tanto maior a agéesmoraisconstituem grande parte importancia de um assunto maiora —_dasagdeshumanas no mundo. Estas responsabilidade daqueles que, sobre _agGes morais so determinadas por cle, se debrugam, Aqueles que uma representagdes de valor relativas a vez |é se defrontaram coma devida uma tabua de valores do bem ¢ do atengao sobre o pensamento de mal. As representagdes de valor Nietzsche percebem a temeridade quanto ao bem ¢ ao mal de cada que consiste a tatefa de esclarecé- aco determinam, pois, em sentido seres humanos. Esta idéia esta Joe, em especial, suas reflexdes fundamental, as agSes humanas no presente é na tradig&o udaico-crist sobre as questdes de ordem moral. mundo. A genealogia da moral “todos sao iguais diante de Deus" e nietzscheana indica a existéncia em grande parte dos ratados polticos fundamental de duas morais:amo- _e éticas medemnos: ‘odos sao iguais WMETZSCHE, rndch W, Crapino oe cls, Heme Er, So Pau, SP pd. 10. raldo senhore a moral do escravo. _diante da lai e do Estado" dizer, amoralé vistacomo ruimem —faliveis. si mesma, na medida em que ela representaria uma simples coergao 0 individuo auténomo. A moral aqui 6 “um instrumento do instinto de rebanho". O segundo, quando comega em sua obra o trabalho de distingaio genealdgica, aponta para afirmagao de uma certa moral, a moral aristocratica, em oposigao & moral escrava, Para realizar-se um verdadeiro trabalho de interpretagao da critica moral nietzscheana, é preciso conhecer o contexto a partir do qual parte ecu ponsamento, Neste sentido, parece vital reconhecer 0 principio fundamental da época moderna: a idéia de igualdade natural entre os Pensar: F.C. Dreito Union Fortaleza/, NY 6 FEV 2001 6 Pensar RC. Dirsko UniovForalezal. GIN? Or. 6.22/F=! Este principio, no seu prolongamento, propde uma compreensao do valor ¢ do bem humanos na qual as hierarquias € as relagoes entre senhor e escravo, no teriam mais sentido, pois tais, relagdes seriam ou um desvio da bondade natural dos homens ou a pré-histéria da humanidade, Nao faz nenhum sentido para ‘a moral moderna igualitarista, um pensamento que propde 0 estabelecimento de hierarquias & ivisdo hierérquica da sociedade entre dominados e dominadores. Atualmente, as formas de pensamento mais sofisticadas pretendem que as leis de Estado, as normas de conduta tenham como base este principio de igualdade. O principio da igualdade, ¢ talvez um dos mais ditundidos principios atuais. Esta presente na maioria dos Estados de Direito. Figura, inclusive, no modo de pensar e valorar. Faz parte, acreditamos, até do nao consciente. E um preconceito moral de primeira order. 1.2 Vontade de poder Para que realmente se entenda © pensamento de Nietzsche, bem como suas razdes, é preciso que se considere 0 contexto de suas idéias. As valoragdes morais nietzscheanas devem ser "HEBER SUFFRIN, Pie, © Zar" 60 6 Pensar: RC. Dirsto 1, Jorge Zaha Edo, lo Joe, pg, 75. cconsideradas em um outro contexto. Talnovo contexto o das relagdes imenentes a "vontade de poder (Wile zur Macht) ‘Avontade de poder ou vontade de soténcia nao pertence ao espago do ter, mas ao do ser; querer a poténcia é querer-se a si mesmo maior, ela S6 pode tornar-se o querer de uma possessao indiretamente, se acontecer que essa possessao atorne maior? Trata-se aqui, de uma forma de fundamentagao e valoragao distintas. da modemidade e do idealismo. A modernidade pretende, essencialmen- te, pressupor a auséncia desta vontade de 20der, logo, auséncia de relagdes, entre senhores e escravos. Busca extinguira existéncia de hierarquia social, Para Nietzsche, a presenga da vontade de poder em todo aconte- cer, é 0 “ponto de vista capital do mélodo histérico" e genealégico. No interior deste contexto de sentido, amoralboa, a moral do senhor, ser independente, conquistadora, dominadora, que quer doar-se, ao passo que a moral ma, a moral do ‘escravo, é dependente, reativa, fra- a, uiilitaria. E, pois, neste contexto que, os maus (os escravos) devem ser instrumentos dos bons (os senhores). Uma vez esclarecide 0 contexts de sentido do ‘empreendimento geneaiégico, impoe- se ainda, um outro esclarecimento, Trata-se de uma inverséo metodalégica relativamente a tradigzio filosdfica. Esta tradigao, em grande parte, pretendeu subordinara ética a0 primado da politica, Na antiguidade, tanto em Piatao como em Aristételes, as agdes dos individuos estavam logicamente subordinadas as relagdes politicas. A elicidade do Estado era maior € mais bela que a felcidade do indwviduo. Em um contexto de producdo e apropriagao pela guerra, os individuos © sua perspectiva ética, deveriam subordinar-se ao bem comum. Na modemidade, apesarjé de uma certa autonomia do individu frente ao Estado, tanto as doutrinas, do socialismo, bem como do libera- lismo, subordinam suas respectivas éticas ainda, aquele que poderiamos chamar de ser genérico, Aplica-se a idéia universal do humano, o indi- vviduo médio. Amodemidade tem como base, além daquele principio de igual- dade, j4 mencionado, um outro, 0 da universalidade. Igualdade e uni- versalidade balizam o pensamento. Na perspectiva nietzscheana, este primado de universalidade nao um pressuposto metodolégico, ao contrario, 6 exatamente a agao do individuo “de excegao" e da minoria que se coloca o horizonte de sua elaboragao ética. No pensamento de Nietzsche 0 Estado, a poltica, ahistériae mesmo Pe RC. Dro UnitorFonaleza. GIN? IP. 5-2 2 humanidade, em um certo nivel, So questées de ordom secundaria © que realmente importa ¢ 2 construgao da cultura ¢ de um tipo superior deindividuo,0 genio, c herd, as minorias de exc09a0, 0 super” hhomem. 1.3 Transvaloragao dos Valores A valoragao moral de Nietzsche, como ja sé observou anteriormen- te, se constituird a partirde uma critica @ transvaloragao dos valores ociden- tais, moderno-cristaos dominantes. Esta transvaloragao crtica dos valores sera, aqui, apresentada a partir de cinco premissas categdricas de fundamentacao ética as quais de- verao permitir uma compreensao introdutéria global da flosofia moral nietzscheana. 1.3.1 Alma e Corpo Em primeiro lugar, existe em Nietzsche uma severa erica a tradioao que comega Sécrates-Platéo, passa por todo 0 cristianismo até a modernidade cartesiana, a qual pretende que a alma e a razao sejam primeiras relativamente aos instintos a0 corpo. Nesta tradigéo 0 corpo e os instintos seriam incapazes de determinar valores morais bons, a0 contrario, corpo, _instintos, sensualidade, so mesmo coisas “ruins’, “ciabélicas’,principios de todo mal. A alma ea razao seriam, elas, os elementos distintos do humano, -Ev.2001 °

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