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RITICA FEMINISTA a Osana Zolin IGENERO EA LITERATURA de 1960, com o desenvolvimento do pensamento feminista, a mulher vem se de estudo em diversas areas de conhecimento, como a Sociologia, a Psicanilise, a ‘Antropologia. Também no Ambito da Literatura ¢ da Critica Literéria, a mulher vem {0s femas abordados em encontros, simpésios ¢ congressos, bem como se constituindo fniimeros cursos, teses ¢ trabalhos de pesquisa. tal presenca no deve ser analisada como um fato que passa a despertar curiosidade {a esse momento de afirmagio. Na verdade, é uma presenga que ultrapassa 0 pontual para se conjugar a todo um processo hist6rico-literrio. Mais importantes do que geradas a partir do movimento feminista sio os efeitos provocados por ele em seus momentos. Um desses efeitos, e & que nos interessa neste capitulo, esté ligado a um instrumentos de que dispomos hoje para ler e interpretar 0 texto literdrio: a critica a sma origem em 1970, com a publicagao, nos Estados Unidos, da tese de doutorado fillet, intitulada Sexwal politics, essa vertente da critica literdria tem assumido o papel de ra da pritica académica patriarcal. A constatacio de que a experiéncia da mulher como critora € diferente da masculina implicou significativas mudangas no campo intelectual, pela quebra de paradigmas ¢ pela descoberta de novos horizontes de expectativas. filkimas décadas, muitas facgGes criticas defendem a necessidade de se considerar 0 objeto de relagio a0 contexto'em que est inserido; de alguma forma, tudo parece estar interligado, serefere & posicio social da mulher e sta presenga no universo litertio, essa visio deve muito jnismo, que pos a nut as circunstincias s6cio-hist6ricas entendidas como determinantes na aria, Do mesmo modo que fez perceber que o esterestipo ferninino negativo, largamente jo na literatura ¢ no cinema, constitui-se num considerdvel obsticulo na luta pelos direitos da dos acerca de textos literdrios candnicos mostram inquestiondveis correspondéncias {exo ¢ poder: as relacdes de poder entre casais espelham as relag6es de poder entre homem her na sociedade em geral; a esfera privada acaba sendo uma extensio da esfera publica sio construidas sobre os alicerces da politica, baseados nas relagoes de poder. Qours Se as relagSes entre os sexos se desenvolvem segundo uma orientagio politica e de pi a critica lteréria feminista € profundamente politica na medida em que trabalha no semtid na ordem social, Trata-se de um modo de ler a literatura confessadamente empenhado, desconstrugio do cariter discriminatorio das ideologias de género, construfdas, ao longo: cultura. Ler, portanto, um texto litersrio tomando como instrumentos os conceitos operat pela erftica feminista (veja quadro a seguir) implica investigar © modo pelo qual tal text pela diferenca de género, num processo de desnudamento que visa despertar 0 senso eri ‘mudangas de mentalidades, ou, por outro lado, divulgar posturas crfticas por parte dass relagio as convengSes sociais que, historicamente, tém aprisionado a mulher e tolhido seus Considerando as circunstincias sécio-hist6ricas como fatores determinantes maf literatura, uma sétie de criticos(as) feministas, principalmente na Franga e nos Estados promovido, desde a década de 1970, debates acerca do espaco relegado 4 mulher ma $0 como das consequéncias, ou dos reflexos daf advindos, para o mbito literério. © objetivo desses debates, se 0s contemplarmos de modo amplo, é a transformagio ‘bjuguda da mulher. Trata-se de tentar romper com os discursos sactalizadus pela wali ‘mulher ocupa, a sua revelia, um lugar secundério em relagio ao lugar ocupado pelo ho ‘marginalidade, pela submissio e pela resignagio. Tis discursos nio s6 interferem no ‘mas também acabam por finndamentar os cinones criticos e tesricos tradicionais € o saber sobre a literatura. Assim, a critica feminista trabalha no sentido de desconstruira opo mulher e as demais oposigdes associadas a esta, numa espécie de versio do pés-estruturals Termo empregado em dois sentidos distintos; a determinagio de eada contexto em qute esta inserido: na maior parte das vezes, o terme fei oposigio a masclino e faz referencia is convengies sociais, Sef 4 MM caracteristicas (atribuidas a mulher) definidas culeuralmente, portanto proceso de mudanga. Pode referir-se, todavia, simples e despojad femninino, ao dado puramente biolégico, sem nenhuma outra conotagi Feminino ‘rata-se de um termo que no é utilizado no sentido panflettio g entre nés, mas tal como € utilizado em lingua inglesa: como eat Fominista rio pejorativa, relativa a0 ferninismo entendido como moviment ampliagio dos direitos civis e politicos da mulher, no apenas em tf também em termos da pritica social ‘Categoria tomada pela critica feminista de empréstimo’ gramitica. Originats consiste no emprego de desinéncias diferenciadas que visa designar diferentes ou coisas sexuadas. A critica feminist, todavia, fez com que o outras tintas: toma-o como uma relagio entre os atributos cultura tf dos sexos e 4 dimensio biolégica dos seres humanos. Tiata-s, portant, ‘que implica diferenga sexual e cultural. O sujito € consticuddo no ‘sexo a que pertenice e, principalmente, em razio de e6digos linguisticns & cculturais que o matizam, estabelecidos de acordo com as hierarquias socials. Género ‘Termo utilizado no sentido empregado por Jacques Derrida, sou efi Logocentrismo a ico, num contexto marcado pelo empenho em at a mistificagio implicita no discurso filoséfico ocidental Falocentrismo ‘Termo utilizado para designar uma espécie de organizacio familiar otiginiria dos povos antigos, na qual toda instituicio social concentrava-se na figura de um chefe, 0 patriarca, cuja autoridade era preponderante e incontestivel, Esse conceito tem permeado a maioria das discussoes, travadas no contexto do pensamento feminista, que envolvem a questio da opressio da mulher 20 longo de sua histéria. Termo que provém da obra de Jacques Derrida, utilizado pelos teéricos da literatura em uma espécie de critica das oposigdes hierirquicas que estruturam o pensamento docidental, tais como: modelo x imitagio; dominador x dominado; forte x fracos presenga x auséncia; corpo x mente; homem x mulher. Trta-se de se apoiar na convicgio de que ‘oposigSes como e558 no sio absolutamente naturais, nem inevitiveis, mas construgies idcolégicas que podem ser desconstruidas, isto 6, submetidas aestrutura ¢ funcionamento diferentes. [A dialétca da identidade/alteridade foi originalmente claborada pela filosofia (de Descartes 4 Sartre), sendo que a “identidade foi concebida como um niicleo ¢ a alteridade como ‘uma ‘exterioridade’, um ‘estranho, urna ‘negativa’ do si-mesmo, orbitando ao seu redor” (WADDINGTON, 199%, p.337). Trazendo-a para o mundo das relagbes de poder na sociedade patriarcal,o nacleo coube a0 homem, *senhor da razio, da le, da religio e proprictino das Fiqueras” (WADDINGTON, 1996, p.337); periferia, 3 mulher, expropriada dessesatributos. [Apart desse contexto da exterioridade, da estranhe7a e da negatividade, foi atribuida wma alteridade 2 mulher, mas alteridade entendida como sinénimo de condicio objetal ¢ de identidade em falta, e nio uina alteridade auténtica, intersubjetiva, Esta permaneceu por ser conquistada, O desnudamento da alteridade da literatura de autoria feminina constitui-se na base da abordagem femninista na literatura, Isso implica dizer que a andlise das obras escritas por mulheres € realizada visando promover o desnudamento da alteridade do discurso feminino, de acordo com o principio da diferenga, ou seja, como um discurso “outro” em relagio a0 "mesmo", ‘Categorias utlizadas para caracterizar 2s tintas do comportamento ferninino em face dos parimetros estabelecidos pela sociedade patriarca: a malher-ajeto € marca pea insubordinagio tos referidos paradigms, por seu poder de decisio, dominagio e imposigo; enquanto a mulher- bj define-se pela submissio, pela resignacioe pela falta de voz. As oposiq&es binsrias subversicy ‘ceitagio, inconformismoyresignacio, atividade/passividade, transcendéncivimanéncia, entre outras,referein-se, respectivamente, a essas designagSes eas complementam. Quadro 1. Conceitos operatérios da critica feminista, claro entender o que vem a ser critica literdria feminista, e como cla funciona, quando mento de algumas nocées prévias acerca do feminismo entendido como o movimento que Ihe deu origem, Em razio disso, passemos, de inicio, a uma espécie de mapeamento, ‘ipido, do contexto em que se desenvolveu essa faccio da critica literéria, como origens, , reivindicagdes etc. para, posteriormente, de posse dessas informagées, determo-nos fe em sia essénicia, DA MULHER NO SECULO XIX te6ricos(as), apoiados(as) na premissa de que se podem localizar na hist6ria intimeras formas entendidas como fientes de respostas para a “questio da mulher”, defendem a tese de que ‘Twosas Bowstcs / Locia Osawa Zou (oncanizanonts) — 219

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