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A BATALHA DE
GOGUE E MAGOGUE
UMA INTERPRETAÇÃO DE
EZEQUIEL 38 & 39
EBOOK - 1ª EDIÇÃO -
2015
Traduzido do original em inglês: “An Interpretation of Ezekiel 38
& 39”- Série de Artigos Pre-Trib Research Center
El Cajon, CA 92021 – EUA.
Tradução: Jamil Abdalla Filho Revisão: Sérgio Homeni, Ione
Haake, Célia Korzanowski Edição: Arthur Reinke
Capa e Layout: Roberto Reinke Passagens da Escritura segundo a
versão Almeida Revisada e Atualizada – (SBB), exceto quando
indicado em contrário: Nova Versão Internacional - NVI, Almeida
Corrigida e Revisada Fiel – ACF ou Almeida Revista e Corrigida –
ARC.
Todos os direitos reservados para os países de língua portuguesa.
Copyright 2015 Actual Edições
Ebook ISBN - 978-85-
7720-113-6
R. Erechim, 978 – B. Nonoai
90830-000 – PORTO ALEGRE – RS/Brasil Fones (51) 3241-5050 e
0300 789.5152
www.chamada.com.br - pedidos@chamada.com.br
ÍNDICE
Introdução
1. Real ou Apenas Imaginário?
2. Ezequiel 38.1-2
3. Ezequiel 38.2
4. Ezequiel 38.2 (cont. 1)
5. Ezequiel 38.2 (cont. 2)
6. Ezequiel 38.2-4
7. Ezequiel 38.4
8. Ezequiel 38.4 (cont.)
9. Ezequiel 38.5-6
10. Ezequiel 38.6
11. Ezequiel 38.7-8
12. Ezequiel 38.8
13. Ezequiel 38.8-9
14. Ezequiel 38.10-12
15. Ezequiel 38.12-13
16. Ezequiel 38.13-16
17. Ezequiel 38.17-19
18. Ezequiel 38.20-23
19. Ezequiel 39.1-3
20. Ezequiel 39.4-6
21. Ezequiel 39.7-10
22. Ezequiel 39.11-13
23. Ezequiel 39.17-20
24. Vários Pontos de Vista
25. Vários Pontos de Vista – (continuação 1)
26. Vários Pontos de Vista – (continuação 2)
27. Vários Pontos de Vista – (continuação 3)
28. Armagedom?
29. No Fim do Milênio?
30. Ezequiel 38 e 39 - Resumindo
INTRODUÇÃO
VÁRIOS PONTOS DE
VISTA SOBRE A ÉPOCA
EM QUE ISSO SE
CUMPRIRÁ O
ESPECIALISTA EM
PROFECIA BÍBLICA,
MARK HITCHCOCK,
COMENTA O SEGUINTE:
“DE LONGE, A QUESTÃO
MAIS POLÊMICA QUE SE
LEVANTA EM EZEQUIEL
38–39 É A DA OCASIÃO
OU ÉPOCA QUE SE DARÁ
ESSA INVASÃO. É
MUITO DIFÍCIL
PRECISAR O MOMENTO
ESPECÍFICO DA
INVASÃO”.[9]
Não há dúvida de que esse é o maior obstáculo
a vencermos na busca do entendimento dessa
passagem. Na verdade, as diferentes concepções são
denominadas de acordo com o ponto de vista de
alguém acerca da época em que esses
acontecimentos se cumprirão.
Entre os que crêem que a invasão liderada por
Gogue é histórica, há aqueles que acreditam que ela
já se cumpriu. O intérprete preterista Gary DeMar,
por exemplo, declara que “a batalha mencionada em
Ezequiel 38 e 39 é nitidamente um fato
antigo...”[10] Em que momento da história DeMar
acredita que ocorreu essa batalha? Para surpresa
geral, DeMar e apenas alguns comentaristas
persistem na concepção de que os capítulos 38 e 39
de Ezequiel se cumpriram nos acontecimentos
registrados no capítulo 9 do livro de Ester,
aproximadamente em 473 a.C., durante os dias da
rainha Ester da Pérsia.[11] Os outros pontos de vista
que interpretam essa invasão como um
acontecimento histórico situam sua ocorrência num
momento ainda futuro em relação aos nossos dias.
Tim LaHaye e Jerry Jenkins, em seu best-seller
intitulado Left Behind[12] (“Deixados Para Trás”),
situa essa invasão de Israel imediatamente antes do
Arrebatamento da Igreja. O ponto forte dessa
concepção é o de que ela propicia um
esclarecimento para a queima das armas de guerra
por sete anos, conforme menciona o texto de
Ezequiel 39.9. Entretanto, Tim LaHaye me disse
pessoalmente que, apesar de retratar uma
interpretação pré-arrebatamento do texto de
Ezequiel 38 e 39 em seu romance Best-seller, ele
tende a situar esse texto depois do Arrebatamento,
mas antes da tribulação.
O próximo ponto de vista, o qual vem a ser o
que defendo na atualidade, é o de que os
acontecimentos descritos em Ezequiel 38 e 39 se
cumprirão após o Arrebatamento, mas antes da
tribulação. Eles ocorrerão no intervalo de dias,
semanas, meses ou anos entre o Arrebatamento e o
começo da tribulação de sete anos.[13] Essa
concepção proporciona uma harmonização
explicativa para os sete anos mencionados em
Ezequiel 39.9. Sempre tenho considerado que um
dos pontos fortes dessa concepção é a maneira pela
qual ela pode preparar o palco para o cenário bíblico
da tribulação. Se a tribulação fosse prontamente
precedida por uma fracassada invasão regional da
terra de Israel, ou seja, uma invasão empreendida
pela Rússia e seus aliados islâmicos, isso eliminaria
grande parte da atual influência russa e islâmica no
mundo atual, o que permitiria o surgimento de uma
orientação mundial centrada na Europa. Dessa
forma, a tribulação chegaria ao seu fim com um
ataque de todas as nações do mundo contra Israel
em Armagedom. Isso também poderia preparar o
terreno para a reconstrução do templo judeu em
consequência de uma humilhação islâmica.
Talvez a concepção mais amplamente
defendida e divulgada dentro da literatura
dispensacionalista seja a de que essa invasão
ocorrerá por volta da metade do período de sete
anos da tribulação. Essa posição geralmente
identifica a profecia de Ezequiel 38 e 39 como uma
invasão empreendida pelo rei do norte, a qual é
mencionada em Daniel 11.40. Outro importante
argumento baseia-se na afirmação de que “...e todos
eles habitarão seguramente” (Ez 38.8), um
resultado da falsa paz promovida pelo Anticristo na
primeira metade do período da tribulação. Essa
concepção tem muitos aspectos a seu favor.
Um expressivo número de catedráticos da
Bíblia acredita que o acontecimento envolvendo
Gogue e Magogue seja sinônimo daquilo a que o
livro de Apocalipse faz alusão como a Campanha do
Armagedom (Ap 16.16).[14] Uma vez que o
Armagedom será uma enorme invasão do território
de Israel pouco antes da Segunda Vinda de Cristo e
a invasão de Israel, descrita em Ezequiel 38 e 39,
está prevista para o “fim dos anos” (Ez 38.8) e
“nos últimos dias” (Ez 38.16), só pode se tratar do
mesmo acontecimento. Um ponto de vista parecido,
mas com ligeiras diferenças, é o de que a invasão
ocorrerá depois da Segunda Vinda, no intervalo
entre a tribulação e o inicio do Milênio. O principal
argumento em favor dessa concepção é o de que
Israel estaria habitando em segurança (Ez 38.8).
O último dos principais pontos de vista é o de
que a batalha, mencionada em Ezequiel 38 e 39,
acontecerá no final do Milênio. O fundamento dessa
concepção é relevante porque o texto de Apocalipse
20.7-9 faz referência a um conflito no fim do
Milênio, quando Satanás será solto. O versículo 8
afirma: “e [Satanás] sairá a seduzir as nações que
há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue,
a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é
como a areia do mar”. A força desse ponto de vista
é óbvia, pois Gogue e Magogue são especificamente
mencionados no texto.
Em nosso próximo capítulo, iniciarei um estudo
sistemático do texto de Ezequiel 38 e 39, enquanto
analisamos o assunto que nos ajudará a entender o
que o Senhor queria dizer nesta impressionante
profecia. Maranata!
NOTAS
1
Ralph H. ALEXANDER, “A Fresh Look at Ezekiel 38 and 39”,
publicado no Journal of The Evangelical Theological
Society, vol. 17 (edição de verão, 1974), p. 157.
2
Simon J. KISTEMAKER, “Revelation”, in: New Testament
Commentary, , Grand Rapids: Baker, 2001, p. 43.
3
D. Brent SANDY, Plowshares & Pruning Hooks: Rethinking
the Language of Biblical Prophecy and Apocalyptic,
Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2002.
4
Sandy, Plowshares, p. 197.
5
Sandy, Plowshares, p. 203.
6
Sandy, Plowshares, p. 206.
7
Sandy, Plowshares, p. 250, nota de rodapé 14.
8
Jon Mark RUTHVEN, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 30.
9
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006, p.
178.
10
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?”, publicado no periódico Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de dezembro de 2006, p. 5.
11
Gary DEMAR, End Times Fiction: A Biblical Consideration of
the Left Behind Theology, Nashville: Thomas Nelson, 2001,
p. 12-15.
12
Tim LAHAYE e Jerry JENKINS, Left Behind: A Novel of the
Earth’s Last Days, Wheaton, IL: Tyndale, 1995, p. 9-15.
13
Arnold FRUCHTENBAUM defende este ponto de vista em seu
livro The Footsteps of the Messiah: A Study of the
Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Ministries,
2003 p. 106-125.
14
Esse ponto de vista é defendido por Dave HUNT no livro How
Close Are We?, Eugene, OR: Harvest House,1992.
2. EZEQUIEL 38.1-
2
“FILHO DO HOMEM...”
Ao longo de todo o seu livro, Ezequiel é
denominado de “filho do homem”. A expressão
“filho do homem” é usada 93 vezes no livro de
Ezequiel em referência ao próprio profeta e sua
primeira menção ocorre em Ezequiel 2.1. Por que
Ezequiel é chamado por Deus de “filho do homem”
tantas vezes nas ocasiões em que estava para receber
alguma revelação da parte do Senhor? Parece que o
termo “filho do homem” ressalta sua humanidade
em relação a Deus. Em outras palavras, Deus é o
Revelador enquanto Ezequiel, na condição de ser
humano, é o receptor da mensagem divina que deve
transmitir aos outros seres humanos. Dessa forma,
Ezequiel nos transmite a infalível profecia desses
dois capítulos, a qual certamente há de se cumprir.
“...VOLVE O ROSTO
CONTRA GOGUE...”
Ezequiel é orientado a voltar seu rosto “contra”
Gogue. O dicionário léxico de hebraico Brown,
Driver & Briggs (BDB) explica que a palavra
hebraica traduzida por “contra” é uma preposição
que indica “movimento para certa direção ou direção
em determinado sentido (seja no plano físico ou
mental)”.[2] O BDB acrescenta ainda que se esse
“movimento para certa direção ou direção em
determinado sentido” for “de caráter hostil dentro do
contexto em que se encontra”, assume uma
conotação negativa e pode ser traduzido pelo termo
“contra”. Ezequiel recebe a ordem de mover o seu
rosto em direção à nação de Gogue, porque o
Senhor é contra ele. Mais adiante na frase, é dito a
Ezequiel: “profetiza contra ele”, ou seja, contra
Gogue. O sentido desse texto é o de que Deus incita
o ataque de Gogue a Israel, todavia o Senhor se
opõe a Gogue e seus aliados. Mas apenas me diga:
Afinal, quem é Gogue? A identidade de Gogue tem
sido um assunto tremendamente debatido.
O nome próprio hebraico Gog (i.e., Gogue)
ocorre 12 vezes no Antigo Testamento Hebraico.[3]
Com exceção de uma, todas as suas ocorrências se
dão nos capítulos 38 e 39 do livro de Ezequiel (Ez
38.2,3,14,16,18; 39.1 (duas vezes), 39.11 (três
vezes) e 15). A única ocorrência fora do livro de
Ezequiel é a de 1Crônicas 5.4, que diz: “O filho de
Joel: Semaías, de quem foi filho Gogue, de quem
foi filho Simei”. Exceto por demonstrar que
realmente se trata de um nome próprio, a referência
bíblica de 1Crônicas não contribui em nada para a
nossa análise desses capítulos de Ezequiel e não tem
nenhuma relação com o Gogue mencionado na
profecia de Ezequiel. A despeito de quem seja
Gogue, o contexto de Ezequiel revela que parece ser
uma pessoa, um líder e um governante contra quem
Ezequiel devia profetizar por ordem de Deus. Em
virtude do uso frequente de “Gogue” nessa
passagem, Mark Hitchcock declara: “concluímos,
portanto, que Gogue é a pessoa ou a nação mais
importante dessa coalizão”.[4]
Essa passagem afirma que Gogue é da “...terra
de Magogue...” Alguns dizem que Gogue é uma
referência ao Anticristo. Porém, Charles Feinberg
está correto ao declarar: “Quanto a isso não há o
menor indício na Bíblia, nem nos escritos extra-
bíblicos”.[5] Alguns sugeriram que Gogue é um
nome “arbitrariamente derivado do nome do país,
Magogue, mas isso não procede, porque o termo
Gogue ocorre em 1Crônicas 5.4”.[6] “O nome
Gogue significa “elevado, supremo, uma elevação
ou uma montanha alta”[7] As únicas referências ao
termo Gogue no livro de Ezequiel ocorrem nessa
passagem profética em estudo e, fora da Bíblia,
praticamente não existe nenhuma informação sobre
Gogue no registro histórico. Entretanto, as
Escrituras declaram que, ao liderar a invasão da terra
de Israel, Gogue virá do “...extremo norte...” (Ez
38.6 – ACF). Louis Bauman cita o que L. Sale-
Harrison escreveu em seu livreto The Coming Great
Northern Confederacy (i.e., “A Futura
Confederação Poderosa do Norte”): “É interessante
observar que a própria palavra Cáucaso quer dizer
‘Fortaleza de Gogue’. Os termos ‘Gogue’ e
‘Chasan’ (i.e., fortaleza) são as duas palavras
orientais das quais deriva o termo Cáucaso”.[8]
Portanto, não parece irrelevante fazer-se referência a
Gogue dentro dos limites territoriais da Rússia, pois
é provável que Gogue proceda dessa região No
entanto, quem seria Gogue, então? Bauman afirma:
“Sem dúvida a Rússia fornecerá o homem – não o
Anticristo – que encabeçará aquela que é conhecida
pela maioria dos estudiosos da Bíblia como ‘a
grande confederação de nações do nordeste’ e a
liderará até o seu trágico destino nos montes da terra
de Israel”.[9] Hitchcock acredita que “a razão pela
qual Gogue foi destacado onze vezes por Deus
nesses capítulos se deve ao fato de que Gogue é o
general que comandará essa coalizão de nações na
sua portentosa campanha militar contra Israel”.[10]
Hall Lindsey declara: “Gogue é o nome simbólico
do chefe da nação e Magogue é a sua terra. Ele
também é o príncipe de povos antigos denominados
Rôs, Meseque e Tubal”.[11] Arnold Fruchtenbaum
nos diz: “A identidade de Gogue só poderá ser
revelada com precisão na época daquela invasão,
porque ‘Gogue’ não é um nome próprio, mas trata-
se de um título que designa o governante de
Magogue, assim como os termos ‘Faraó’, ‘Kaiser’ e
‘Czar’ foram títulos que designavam governantes,
não nomes próprios”.[12]
A TERRA DE MAGOGUE O
TEXTO BÍBLICO AFIRMA
QUE GOGUE, O
COMANDANTE DA
INVASÃO À TERRA DE
ISRAEL, É “DA TERRA
DE MAGOGUE”. O NOME
PRÓPRIO MAGOGUE
OCORRE QUATRO VEZES
NO TEXTO HEBRAICO DO
ANTIGO TESTAMENTO.
[13] O TERMO MAGOGUE
É USADO DUAS VEZES
NESSA PASSAGEM QUE É
OBJETO DE NOSSA
ANÁLISE (EZ 38.2;
39.6) E OCORRE DUAS
VEZES NAS
GENEALOGIAS (GN 10.2
1CR 1.5). O TEXTO DE
GÊNESIS 10.2
DECLARA: “OS FILHOS DE
JAFÉ SÃO: GOMER,
MAGOGUE, MADAI, JAVÃ,
TUBAL, MESEQUE E
TIRAS”. A PASSAGEM DE
1 CRÔNICAS 1.5 É
BASICAMENTE UMA
REPETIÇÃO DA
INFORMAÇÃO
GENEALÓGICA
PROVENIENTE DE
GÊNESIS 10.2. O FATO
DE MAGOGUE OCORRER
NA TABELA DAS NAÇÕES
(CF. GÊNESIS 10)[14]
PROPORCIONA A BASE
PARA SE MAPEAR O
DESLOCAMENTO DE UM
DOS MAIS ANTIGOS
DESCENDENTES PÓS-
DILUVIANOS DE NOÉ.
Parece que Ezequiel usa os nomes dos povos
originalmente mencionados na tabela das nações,
relacionando esses povos ao lugar em que viviam no
sexto século a.C., época esta em que a profecia de
Ezequiel foi enunciada. Dessa forma, se
conseguirmos desvendar onde esses povos se
localizavam no sexto século a.C., seremos capazes
de desvendar quem seriam seus atuais descendentes.
Creio que conseguiremos cumprir esse objetivo, a
fim de sabermos quem estará envolvido nessa
batalha, caso esta ocorra em nossos dias.
É honesto de nossa parte dizer que muitos
estudiosos da Bíblia e especialistas nas profecias
identificariam os descendentes de Magogue com o
antigo povo que conhecemos pelo nome de Citas.
Chuck Missler comenta que uma vasta coletânea de
historiadores antigos “identificou Magogue com os
Citas que habitavam o sul da Rússia no século 7
a.C.”.[15] Entre esses antigos historiadores estão:
Hesíodo, Josefo, Philo e Heródoto.[16] Josefo viveu
no primeiro século d.C. e declarou: “Magogue deu
origem aos “Magogueanos”, assim chamados por
causa dele, mas denominados de Citas pelos
gregos”.[17] Bauman nos diz que, depois do
Dilúvio, Magogue e seus descendentes devem ter
emigrado para o norte e que “os Magoguitas se
desdobraram em duas raças distintas; uma Jafeíta ou
européia e outra Turaniana ou asiática”.[18]
Quem eram os Citas? Edwin Yamauchi
menciona que os Citas se dividiram em dois grupos;
um mais estrito e outro mais amplo. “No sentido
estrito, os Citas eram as tribos que viveram na região
denominada por Heródoto de Citia (i.e., aquele
território situado ao norte do mar Negro)”, comenta
Yamauchi. “No sentido mais amplo, o termo ‘Citas’
pode se referir a algumas das muitas outras tribos
que habitavam nas vastas estepes da Rússia,
estendendo-se da Ucrânia no oeste até a região da
Sibéria no leste”.[19]
NOTAS
1
Ralph ALEXANDER, Ezekiel, Chicago: Moody Press, 1976, p.
118.
2
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
Baseado na pesquisa feita pelo programa de computador
Accordance, versão 6.4.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 16.
5
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 220.
6
FEINBERG, Ezekiel, p. 220.
7
HITCHCOCK, After The Empire, p. 17.
8
Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell, 1942, p. 23.
9
BAUMAN, Russian Events, p. 26.
10
HITCHCOCK, After The Empire, p. 17.
11
Hal LINDSEY, The Late Great Planet Earth, Grand Rapids:
Zondervan Publishing House, 1970, p. 63.
12
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 106.
13
Baseado na pesquisa feita pelo programa de computador
Accordance, versão 6.4.
14
A tabela das nações é um termo usado para descrever o
registro dos descendentes de Noé e de seus três filhos:
Sem, Cam e Jafé. Todo ser humano que se encontra no
planeta Terra descende de Noé e de seus três filhos. Se
conseguíssemos traçar nossa genealogia, a ponto de
retroceder ao máximo no registro, constataríamos que
todos nós descendemos de Noé através de Sem, ou de
Cam, ou de Jafé.
15
Chuck MISSLER, The Magog Invasion, Palos Verdes, CA:
Western Front, 1995, p. 29.
16
MISSLER, Magog Invasion, p. 29-31.
17
Flavius JOSEPHUS, Antiquities of the Jews, vol. 1, vi, i, citado
por HITCHCOCK na obra After The Empire, p. 19.
18
BAUMAN, Russian Events, p. 23.
19
Edwin M. YAMAUCHI, Foes from the Northern Frontier, Grand
Rapids: Baker, 1982, p. 62.
3. EZEQUIEL 38.2
NOTAS
1
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 23.
2
Gary DEMAR, Last Days Madness: Obsession of the
Modern Church, Powder Springs, GA: American Vision,
1999, p. 363.
3
DEMAR, Last Days Madness, p. 363. Citação extraída da
obra de Edwin M. YAMAUCHI intitulada Foes from the
Northern Frontier: Invading Hordes from the Russian
Steppes, Grand Rapids: Baker Book House, 1982, p. 20.
4
DEMAR, Last Days Madness, p. 365.
5
C. Marvin PATE e J. Daniel HAYS, Iraq-Babylon of the End
Times?, Grand Rapids: Baker Books, 2003, p. 69.
6
PATE e Hays, Iraq, p. 136.
7
Francis BROWN, S. R. DRIVER, and C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
8
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 6.4.
9
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
159. Wilhelm GESENIUS, Gesenius’ Hebrew-Chaldee
Lexicon to the Old Testament, reimpressão, Grand Rapids:
Eerdmans Publishing Company, 1949, p. 752.
10
GESENIUS, Lexicon, p. 752.
11
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy (Part One)”, publicado no periódico Michigan
Theological Journal 3:1, edição de primavera, 1992, p. 62-
63.
12
As antigas traduções gregas elaboradas por Símaco e
Teodócio também traduziram o termo hebraico ro’sh,
mencionado em Ezequiel 38–39, por um nome próprio.
BILLINGTON, “The Rosh People in History and Prophecy (Part
One)”, p. 59.
13
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy (Part Two)”, publicado no periódico, Michigan
Theological Journal 3:1, edição de primavera, 1992, p. 54-
61.
14
James D. PRICE, “Rosh: An Ancient Land Known to Ezekiel”,
publicado no periódico Grace Theological Journal 6:1,
1985, p. 88.
15
PRICE, “Rosh: An Ancient Land”, p. 88.
16
BILLINGTON, “The Rosh People in History and Prophecy (Part
One)”, p. 60.
4. EZEQUIEL 38.2
(CONT. 1) “FILHO
DO HOMEM, VOLVE O
ROSTO CONTRA
GOGUE, DA TERRA DE
MAGOGUE, PRÍNCIPE
DE RÔS, DE MESEQUE
E TUBAL; PROFETIZA
CONTRA ELE”.
EVIDÊNCIAS
HISTÓRICAS E
GEOGRÁFICAS QUE
IDENTIFICAM RÔS COM
A RÚSSIA CLYDE
BILLINGTON ESCREVEU
UMA SÉRIE DE TRÊS
ENSAIOS ACADÊMICOS
PARA UM JORNAL
TEOLÓGICO NOS QUAIS
APRESENTA VASTA
EVIDÊNCIA HISTÓRICA,
GEOGRÁFICA E
TOPONÍMICA[6] DE QUE
O NOME RÔS [DO HEB.
RO’SH] NÃO SOMENTE
DEVE SER, MAS
REALMENTE É
IDENTIFICADO COMO O
POVO RUSSO DA
ATUALIDADE.[7] NA
APRESENTAÇÃO DE SUA
PESQUISA ELE
INTERAGE COM OS
MELHORES COMENTÁRIOS
E COM AS MAIS
DESTACADAS
AUTORIDADES DE
NOSSOS DIAS.
BILLINGTON COMENTA:
“TAMBÉM FICA CLARO
QUE JERÔNIMO, AO
DECIDIR PELA
TRADUÇÃO DE RO’SH
COMO UM ADJETIVO EM
VEZ DE UM NOME
PRÓPRIO, BASEOU SUA
DECISÃO NUM
ARGUMENTO
AGRAMATICAL, A
SABER, QUE UM POVO
DENOMINADO RO’SH NÃO
É REFERIDO NA
BÍBLIA, NEM NOS
ESCRITOS DE JOSEFO”.
[8] CONTUDO, HÁ
CONSIDERÁVEL
EVIDÊNCIA HISTÓRICA
EM FAVOR DO FATO DE
QUE UM LUGAR
DENOMINADO RO’SH ERA
BEM CONHECIDO NO
MUNDO ANTIGO. AINDA
QUE ESSA PALAVRA
OCORRA NUMA
VARIEDADE DE
LÍNGUAS, NAS QUAIS
PODEM OCORRER
DIVERSAS FORMAS DE
GRAFIA, É BASTANTE
EVIDENTE QUE O TERMO
SE REFERE AO MESMO
POVO EM QUESTÃO.
Na realidade, é muito provável que o nome Rôs
derive do nome Tiras, mencionado na tabela das
nações, conforme consta em Gênesis 10.2.
Billington ressalta a tendência acádia de suprimir ou
alterar o som da letra “t” no início de um nome,
especialmente se a sonoridade da letra “t” inicial for
seguida pelo som da letra “r”. Se a letra “t” no início
do nome Tiras for suprimida, restará o termo “Ras”.
[9] É coerente que Ras ou Rôs seja relacionado em
Gênesis 10, uma vez que todas as outras nações
referidas em Ezequiel 38.1-6 já tinham sido alistadas
naquele texto. Isso significa que é errônea a alegação
feita por Jerônimo de que ro’sh não ocorre na Bíblia
nem nos escritos do historiador Josefo. Se Tiras e
seus descendentes são aparentemente o mesmo povo
que, mais tarde, veio a ser denominado de Rôs,
pode-se dizer, então, que Rôs é aludido tanto na
tabela das nações quanto nos escritos de Josefo.
Rôs (ou Ras) é identificado nas inscrições
egípcias como um lugar que já existia em 2600 a.C.
Há uma inscrição egípcia posterior, datada
aproximadamente de 1500 a.C., que se refere a uma
terra chamada Reshu localizada ao norte do Egito.
[10] O nome geográfico Ro’sh (ou seus equivalentes
nos respectivos idiomas) é encontrado pelo menos
vinte vezes em outros documentos da antiguidade.
Ocorre três vezes na Septuaginta (cuja sigla é LXX),
dez vezes nas inscrições do rei Sargão, uma vez no
cilindro de Assurbanipal, dez vezes nos anais de
Senaqueribe e cinco vezes nas inscrições das
tabuinhas ugaríticas.[11] Billington rastreia o povo
de Rôs, desde os seus registros históricos mais
remotos até os dias do profeta Ezequiel, já que tal
povo é mencionado várias vezes durante esse
período histórico.[12]
É evidente que Rôs ou Tiras era um lugar bem
conhecido nos dias de Ezequiel. No século VI a.C.,
época em que Ezequiel escreveu sua profecia, vários
agrupamentos do povo de Rôs viviam numa região
situada ao norte do mar Negro. Ao nos
aproximarmos do século VIII a.C., Billington cita
uma série de referências históricas para demonstrar
que “há evidência sólida de que um dos
agrupamentos do povo de Rôs estava relacionado
com as montanhas do Cáucaso”.[13] Acerca desse
mesmo período de tempo, Billington acrescenta:
“Até existe um documento cuneiforme da época do
reinado do rei assírio Sargão II (o qual governou
entre 722-705 a.C.) que, na verdade, especifica os
nomes de todos os três povos [i.e., Rôs, Meseque,
Tubal] mencionados por Ezequiel nos capítulos 38 e
39”.[14] Billington conclui essa seção de sua
pesquisa histórica da seguinte maneira: Portanto, nos
registros assírios dos séculos IX – VII a.C. há
evidências históricas irrefutáveis em favor da
existência de um povo denominado Rôs/Rashu.
Essas mesmas fontes assírias também mencionam
Meseque e Tubal, nomes estes que aparecem junto
com o nome de Rôs em Ezequiel 38–39. É obvio
que os Assírios tinham conhecimento do povo de
Rôs, assim como Ezequiel os conhecia. Deve-se
salientar que Ezequiel escreveu o Livro de Ezequiel
apenas cerca de 100 anos após a escrita dos textos
assírios que ainda existem e mencionam os povos de
Rôs, Meseque e Tubal.[15]
QUEM É MESEQUE?
Agora, volto-me para tarefa bem mais fácil de
identificar a quem o termo “Meseque” se refere. O
nome “Meseque” ocorre 10 vezes no Antigo
Testamento Hebraico,[13] o que inclui sua primeira
ocorrência na Tabela das Nações (Gn 10.2). Em
Gênesis 10, Meseque é alistado como um dos filhos
de Jafé. A linhagem genealógica de Gênesis 10 se
repete por duas vezes no livro de Crônicas (1Cr
1.5,17). Além das referências feitas no Salmo 120.5
e em Isaías 66.19, as outras ocorrências do nome
Meseque se encontram em Ezequiel (Ez 27.13;
32.26; 38.2,3; 39.1). Todas as referências feitas nos
capítulos 38 e 39 de Ezequiel agrupam “Rôs,
Meseque e Tubal”, tal como acontece no texto de
Isaías 66.19, todavia numa ordem diferente. Mark
Hitchcock diz o seguinte:
Tudo o que se sabe no Antigo Testamento sobre
Meseque é que ele e seus parceiros, Javã e Tubal,
negociavam com a antiga cidade de Tiro, exportando
escravos e utensílios de bronze em troca das
mercadorias de Tiro. É só isso que a Bíblia menciona
sobre o Meseque da antiguidade. No entanto, a
história antiga tem muito a nos dizer sobre o povo do
Meseque da antiguidade e sua localização.[14]
QUEM É TUBAL?
O nome “Tubal” ocorre 8 vezes na Bíblia
Hebraica[20] (Gn 10.2; 1Cr 1.5; Is 66.19; Ez 27.13;
32.26; 38.2,3; 39.1). Na tabela das nações (Gn
10.2), Tubal é identificado como o quinto filho de
Jafé e irmão de Meseque. Como já foi mencionado
por Ross, todas as vezes que a Bíblia faz referência
a Tubal, o nome deste é relacionado junto com o de
Meseque, tal como se verifica em Ezequiel 28.
Alguns mestres da profecia bíblica têm
ensinado que Tubal é a origem da atual cidade de
Tobolsk na Rússia. Esse ponto de vista se tornou
popular por influência da Bíblia de Scofield e de
vários outros catedráticos. Entretanto, como se deu
no caso de Meseque, tal concepção se desenvolveu a
partir da semelhança fonética entre Tubal e Tobolsk,
carecendo, portanto, de um sólido embasamento
histórico. O registro histórico, à semelhança do que
ocorreu com Meseque, indica que Tubal e seus
descendentes imigraram para a região situada a
sudeste do mar Negro onde hoje se localiza a
Turquia. É evidente que os povos de Meseque e
Tubal formaram a base populacional do país que na
atualidade chamamos de Turquia.
Nos dias atuais, a Turquia é considerada um
país secularizado e laico. Contudo, a história da
Turquia revela um país que durante muito tempo foi
dominado pelo islamismo e que, por centenas de
anos, encabeçou o Império Muçulmano. A Turquia
está apenas a um passo de voltar à sua herança
política islâmica, o que proporcionaria aquele
ingrediente que faltava para se aliar com os outros
países muçulmanos que um dia invadirão Israel.
Maranata!
NOTAS
1
Clyde E. BILLINGTON, Jr., “The Rosh People in History and
Prophecy”, Parte 3, Michigan Theological Journal 4:1,
Edição de Primavera, 1993, p. 42-44.
2
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 44.
3
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 48.
4
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 50.
5
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 51.
6
Edwin M. YAMAUCHI, Foes from the Northern Frontier, Grand
Rapids, MI: Baker, 1982, p. 20.
7
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 52.
8
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 53.
9
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 53.
10
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 52-53.
11
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 57.
12
BILLINGTON, Op. cit., Parte 3, p. 62.
13
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computação Accordance, versão 6.9.2.
14
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 56.
15
Harry RIMMER, The Coming War and the Rise of Russia,
Grand Rapids: Eerdmans, 1940, p. 55-56.
16
Hal LINDSEY, The Late Great Planet Earth, Grand Rapids:
Zondervan, 1970.
17
RIMMER, The Coming War, p. 55-56.
18
Allen P. ROSS, “The Table of Nations in Genesis”,
dissertação apresentada para obtenção do título de ThD,
Dallas Theological Seminary, 1976, p. 204-05.
19
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil,
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006, p.
184.
20
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computação Accordance, versão 6.9.2.
6. EZEQUIEL 38.2-
4
A MONTAGEM DO PALCO
NA RÚSSIA E NO IRÃ
DE QUE MODO ALGUNS
ASPECTOS DOS
PRIMEIROS VERSÍCULOS
DE EZEQUIEL 38
MONTAM ATUALMENTE O
PALCO PARA O FUTURO
CUMPRIMENTO DESSA
PROFECIA? ENQUANTO
ALGUNS PAÍSES
ALIADOS DE GOGUE
APARECEM DE VEZ EM
QUANDO NOS
NOTICIÁRIOS, A
RÚSSIA E O IRÃ NO
PRESENTE MOMENTO TÊM
FEITO “BASTANTE
BARULHO” E CHAMADO A
ATENÇÃO NO CENÁRIO
GEOPOLÍTICO. ALÉM DO
MAIS, PARA AQUELES
QUE NÃO ESTÃO
ATENTOS AO QUE
ACONTECE NA TURQUIA,
DEVE-SE DIZER QUE O
PARLAMENTO TURCO
ESTÁ NA IMINÊNCIA DE
SER CONTROLADO PELA
ALA MUÇULMANA
RADICAL. SE OS
MUÇULMANOS RADICAIS
CONSEGUIREM SEU
INTENTO, FARÃO COM
QUE A TURQUIA
RETORNE AO DOMÍNIO
ISLÂMICO, O QUE
SIGNIFICA DIZER
ADEUS À DEMOCRACIA.
Mart Zuckerman, editor do U. S. News &
World Report, declarou: “Numa entrevista
concedida há vários anos, o presidente russo
Vladimir Putin criticou a decisão dos Estados
Unidos de entrarem em guerra contra o Iraque e me
disse o seguinte: ‘a verdadeira ameaça é o Irã’. Ele
estava certo, porém a Rússia passou a fazer parte do
problema, não da solução”.[8] Não é nenhum
segredo que a Rússia tem desempenhado o papel de
capacitar o Irã, a ponto de este chegar ao topo do
ranking de países traiçoeiros que ameaçam provocar
uma enorme desestabilização da presente ordem
mundial. “E a Rússia tornou essa ameaça ainda mais
real, pois vendeu as instalações da usina nuclear de
Bushehr ao Irã e assinou contratos para vender mais
equipamentos a fim de angariar recursos que
financiem sua própria indústria nuclear. É como um
diplomata americano declarou: ‘Esse negócio com o
Irã é um tremendo anzol preso no queixo da
Rússia’”.[9] O senhor poderia repetir esta última
afirmação? O diplomata americano reiterou: “Esse
negócio com o Irã é um tremendo anzol preso no
queixo da Rússia”. É exatamente isso! O diplomata
americano utilizou a frase proveniente da profecia
bíblica para descrever o papel que a Rússia
atualmente tem assumido na sua relação com o Irã.
Alguns que desprezam nossa perspectiva da
profecia bíblica já disseram que, em face da queda
do Império Soviético (i.e., a antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas), uma invasão
liderada pela Rússia parece muito pouco provável do
ponto de vista geopolítico. Contudo, é preciso
sempre ressaltar o fato de que essa profecia faz
menção a um ataque contra Israel liderado pela
Rússia, não pela União Soviética. Desde a queda do
Império Soviético, os russos continuam a manter
relações amistosas com a maioria dos países
islâmicos, principalmente com aquelas nações do
Oriente Médio. Do ponto de vista geopolítico, não
seria nenhuma surpresa ver a Rússia se unir aos
países islâmicos, como o Irã, num ataque-surpresa
contra Israel.
Por mais de quinze anos tenho conjecturado se
o “anzol” que Deus usará no queixo de Gogue (para
levar uma Rússia relutante a descer num ataque
contra a terra de Israel) não poderia ser esta situação
hipotética que descrevi para o Hal Lindsey em 1991,
durante uma entrevista em rede nacional de
televisão,[10] no dia em que a primeira Guerra do
Golfo terminou: “Eu posso ver os muçulmanos se
dirigirem aos russos a fim de lhes dizer que os
Estados Unidos da América abriram um precedente
para que uma potência estrangeira invada o Oriente
Médio com o objetivo de corrigir um erro percebido
(os Estados Unidos já fizeram isso de novo em anos
recentes, quando invadiram o Iraque e o
Afeganistão)”. Com base nisso, a Rússia também
deveria ajudar seus amigos muçulmanos, liderando-
os numa invasão avassaladora de Israel, a fim de
resolver o conflito no Oriente Médio em favor dos
países islâmicos. Seria esse o “anzol” no queixo de
Gogue? Só o tempo poderá dizer. Entretanto, algo
está acontecendo no Oriente Médio e parece que as
impressões digitais da Rússia se encontram por toda
parte. O que se sabe pela predição bíblica é que tal
coalizão e invasão ocorrerão somente “... no fim dos
anos” (Ez 38.8).
NOTAS 1 G. JOHANNES BOTTERWECK, HELMER RINGGREN, E
HEINZ-JOSEF FABRY, ORGANIZADORES, THEOLOGICAL
DICTIONARY OF THE OLD TESTAMENT [TDOT], VOL.
XIV, GRAND RAPIDS: EERDMANS, 2004, P. 464.
2
BOTTERWECK, RINGGREN, e FABRY, TDOT, vol. XIV, p. 472.
3
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
161.
4
KEIL, Ezekiel, Daniel, p. 161.
5
Willem A. VANGEMEREN, org. geral, New International
Dictionary of Old Testament Theology & Exegesis, 5 vols.,
Grand Rapids: Zondervan, 1997, vol. 2, p. 44.
6
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 104.
7
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982), 2003, p. 109.
8
Mortimer B. ZUCKERMAN, “Moscow’s Mad Gamble,”, publicado
no U. S. News & World Report, edição eletrônica, 30 de
janeiro de 2006, p. 1.
9
ZUCKERMAN, “Moscow’s Mad Gamble”, p. 1.
10
No programa de entrevistas “The Praise the Lord”, exibido
pela rede de TV Trinity Broadcasting Network.
7. EZEQUIEL 38.4
“...E TE LEVAREI A
TI...”
À medida que continuamos a olhar mais
atentamente para o texto de Ezequiel 38.4,
percebemos que o Senhor, depois de por anzóis no
queixo de Gogue, há de levá-lo para fora de seu
território. O verbo hebraico traduzido por “...eu
[Deus] te levarei a ti [Gogue]” conjuga-se num
tempo cuja ação é causativa, numa implicação de
que Deus usará o anzol no queixo de Gogue para
desentocá-lo de seu lugar.[2] É preciso reiterar que
Gogue não instigaria tudo isso, se Deus não
interviesse, tirando-o de seu território para levá-lo à
sua destruição final.
O PODERIO BÉLICO DE
GOGUE QUANDO GOGUE
ATACAR ISRAEL, VIRÁ
COM TODO O SEU
“...EXÉRCITO, CAVALOS
E CAVALEIROS...”. A
PALAVRA HEBRAICA
TRADUZIDA POR
“EXÉRCITO” (DO HEB.,
HAYIL) SIGNIFICA
BASICAMENTE “FORÇA
OU PODER”[3],
DEPENDENDO DO QUE É
MENCIONADO NO
CONTEXTO. É O
PRINCIPAL TERMO
HEBRAICO USADO PARA
DESIGNAR “EXÉRCITO”
NO ANTIGO
TESTAMENTO, MAS
TAMBÉM POSSUI O
SENTIDO ABSTRATO DE
“FORÇA”, “RIQUEZA”,
OU, EM TERMOS MAIS
CONCRETOS, “TROPAS
MILITARES”,[4] JÁ
QUE É PRECISO MUITO
DINHEIRO PARA
SUSTENTAR UM
EXÉRCITO PODEROSO NO
CAMPO DE COMBATE. EM
EZEQUIEL 38.15, ESSA
PALAVRA É USADA
NOVAMENTE PARA
DESCREVER GOGUE E
SEUS ALIADOS, DESTA
VEZ ASSOCIADA COM O
ADJETIVO “PODEROSO”.
EM OUTRAS PALAVRAS,
O TERMO HEBRAICO
HAYIL TRANSMITE A
IDÉIA DE PODERIO
MILITAR E SEU CAMPO
SEMÂNTICO NÃO SE
LIMITA AO CONCEITO
DE EXÉRCITO DA
ANTIGUIDADE. UMA VEZ
QUE O TERMO
“TODO(S)” É
EMPREGADO PARA
QUALIFICAR A PALAVRA
“EXÉRCITO”, A
IMPLICAÇÃO É A DE
QUE, NÃO APENAS UMA
PARTE, MAS O
EXÉRCITO INTEIRO
VIRÁ PARA INVADIR
ISRAEL.
A próxima descrição literal é a de que esse
exército invasor contará com “cavalos e cavaleiros”.
O significado de “cavalos” é óbvio, ao passo que
“cavaleiros”, nesse contexto, seriam aqueles
soldados que montam cavalos para fins militares. No
Antigo Testamento, os cavaleiros sempre se
diferenciam daqueles soldados que conduzem bigas
[i.e., carros de guerra atrelados a cavalos]. Charles
Feinberg chega a esta conclusão: “A menção de
cavalos e cavaleiros não pode ser interpretada de
modo restritivo para dar a entender que esse exército
se constituiria total ou essencialmente de cavalaria”.
[5] A afirmação de Feinberg se fundamenta no fato
de que o texto anteriormente menciona “...todo o
teu exército...”, o que incluiria todos os elementos
do poderio bélico daquele que parte para o ataque.
Se este for o caso, é possível que a cavalaria tenha
sido destacada e especificamente mencionada por
ser a força ofensiva mais potente de um invasor nos
dias de Ezequiel. Além disso, cavalos denotam um
meio de transporte, enquanto cavaleiros denotam os
próprios militares.
A última parte do versículo 4 relata o modo
pelo qual os militares estão paramentados: “...todos
vestidos bizarramente, congregação grande, com
escudo e rodela, manejando todos a espada”. Essa
é uma referência aos cavaleiros, os quais na sua
totalidade estão “vestidos bizarramente”. A palavra
hebraica, traduzida nessa versão de Almeida Revista
e Corrigida pelo termo “bizarramente” (do heb.,
miklol), é um vocábulo interessante que ocorre
somente aqui neste texto e em Ezequiel 23.12. Seu
significado é definido de forma variada, como, por
exemplo: “magnificamente”, “com primor” ou “com
todo tipo de armadura”. “Existe pouco consenso
quanto à correta tradução desse termo”, já que ele é
usado apenas duas vezes. “Em ambas as
ocorrências, esse termo é utilizado num contexto
que retrata a esplêndida aparência dos militares.
Uma tradução mais literal poderia ser esta: ‘trajados
por completo’ ou ‘totalmente equipados’”.[6] Ou
seja, esses invasores contarão com o melhor
equipamento bélico disponível naqueles dias; eles
não estarão mal armados para o seu intento. Além
de estarem bem equipados, eles virão em grande
número para o ataque a Israel.
O texto diz que esse imponente exército possui
“pavês e escudo” (ARA) para se proteger. A palavra
hebraica traduzida por “pavês” (do heb., tsinnah) se
refere a “um escudo grande que protege o corpo
inteiro”[7], enquanto o termo traduzido por
“escudo” (do heb., magen) diz respeito a um
“escudo menor ou broquel que o guerreiro maneja
para se defender”.[8] Esses equipamentos bélicos
exemplificam a excelente condição de armamento
que os invasores de Israel terão à sua disposição.
Keil assinala: “Além das armas defensivas, a saber, o
escudo maior e o escudo menor, eles empunharão
espadas na qualidade de armas ofensivas”.[9] A
palavra hebraica herev, traduzida por “espada”,
“pode designar dois armamentos: 1) a adaga de dois
gumes (i.e., fios) ou espada curta (Jz 3.16,21); e 2)
a espada curva de um único fio ou espada longa”.
[10] Uma vez que esses soldados estarão montados
em cavalos, faria mais sentido supor que a espada
descrita nesse texto seja a espada longa, a qual já
tem sido historicamente o armamento predileto da
cavalaria. A espada curta não seria uma arma muito
eficaz ao ser manejada de cima de um cavalo. “O
versículo demonstra que Javé (do heb., YHWH)
está trazendo Gogue totalmente armado”.[11]
Quanto maior o oponente maior a chance de que
Israel reconheça que está encalacrado numa situação
humanamente impossível. Uma situação impossível
requer uma intervenção divina. Assim, Deus será
muito mais glorificado quando destruir por completo
os invasores de Israel.
E QUANTO AOS
ARMAMENTOS?
Os críticos da nossa concepção futurista de
interpretação dessa passagem apontam para o fato
de que o texto afirma que os invasores serão
cavaleiros nas suas montarias, os quais usam, como
armamento, espadas e lanças, “indicadores de uma
batalha antiga da era pré-industrial”,[12] insiste o
preterista Gary DeMar. Sem lidar com outros
detalhes desse texto, DeMar afirma que essa
profecia já se cumpriu e fundamenta seu argumento
apenas nos tipos de arma mencionados na passagem.
“As armas são antigas, porque a batalha ocorreu na
antigüidade”.[13] Mas, em que ocasião do passado
tal profecia se cumpriu? DeMar, aparentando um
semblante sério, persiste em dizer que ela se
cumpriu nos dias de Ester.[14]
John Walvoord admite o seguinte: “Do ponto
de vista bélico moderno, é evidente que são
armamentos antiquados. Isso, certamente, gera um
problema”.[15] Entretanto, sem abandonar os
princípios da interpretação literal, Walvoord sustenta
que há uma solução para esse problema. Ele alista
estas três sugestões propostas: A primeira é a de que
Ezequiel faz uso de uma linguagem que lhe era
familiar – as armas que eram comumente utilizadas
na sua época – com o intuito de prever armamentos
modernos. O que ele está dizendo é que quando
esse exército vier, mostrar-se-á totalmente equipado
com armas de guerra. Tal interpretação também tem
problemas. O texto nos diz que eles [i.e., os
habitantes de Israel] usariam as hastes de madeira
das lanças, os arcos e flechas, como combustível
para acender o fogo. Se essas armas são símbolos,
seria difícil acender fogo de verdade com algo
simbólico [...]
Uma segunda solução sugere que essa batalha seria
precedida por um acordo de desarmamento entre as
nações. Se esse for o caso, seria necessário recorrer
secretamente às armas primitivas de fácil fabricação
para que um ataque-surpresa fosse concretizado. Tal
concepção permitiria que esse texto fosse interpretado
de modo literal.
Uma terceira solução se baseia na premissa de que o
atual uso de mísseis de guerra chegará a tal ponto de
desenvolvimento naqueles dias, que os mísseis
rastrearão e se dirigirão contra qualquer quantidade
considerável de metal. Sob tais circunstâncias, seria
necessário abandonar o uso de armas de metal,
substituindo-as por armas de madeira, tal como está
indicado no texto pelas armas primitivas. Qualquer que
seja a explicação, a interpretação mais plausível é a de
que a passagem se refira a armas reais, colocadas em
uso com urgência por causa das circunstâncias
peculiares daquele momento.[16]
1
NOTAS RANDALL PRICE, COMENTÁRIOS NÃO
PUBLICADOS SOBRE AS PROFECIAS DE EZEQUIEL,
2007, P. 42.
2
Francis BROWN, S. R. DRIVER e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
G. Johannes BOTTERWECK e Helmer RINGGREN, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. IV, Grand
Rapids: Eerdmans, 1980, p. 349.
4
BOTTERWECK e RINGGREN, TDOT, vol. IV, p. 353.
5
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 220-21.
6
R. Laird HARRIS, Gleason L. ARCHER, Jr., e Bruce K. W ALTKE,
orgs. , Theological Wordbook of the Old Testament, 2
vols., Chicago: Moody Press, 1980, vol. 1, p. 442.
7
BROWN, DRIVER, e BRIGGS, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
8
BROWN, DRIVER, e BRIGGS, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
9
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido por James Martin, reimpressão,
Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1982, p.
162.
10
G. Johannes BOTTERWECK e Helmer Ringgren, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. V, Grand
Rapids: Eerdmans, 1986, p. 155.
11
John W. W EVERS, The New Century Bible Commentary:
Ezekiel, Grand Rapids: Eerdmans, 1969, p. 202.
12
Gary DEMAR, Last Days Madness: Obsession of the
Modern Church, Powder Springs, GA: American Vision, p.
367.
13
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?” Publicado na revista Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de Dezembro de 2006, p. 6.
14
DEMAR, Last Days Madness, p. 368-69; veja também, Gary
DEMAR, End Times Fiction: A Biblical Consideration of the
Left Behind Theology, Nashville: Thomas Nelson, 2001, p.
12-15.
15
John F. W ALVOORD, The Nations in Prophecy, Grand Rapids:
Zondervan, 1967, p. 115.
16
W ALVOORD, The Nations, p. 115-16.
8. EZEQUIEL 38.4
(CONT.) “FAR-TE-EI
QUE TE VOLVAS,
POREI ANZÓIS NO TEU
QUEIXO E TE LEVAREI
A TI E TODO O TEU
EXÉRCITO, CAVALOS E
CAVALEIROS, TODOS
VESTIDOS DE
ARMAMENTO
COMPLETO, GRANDE
MULTIDÃO, COM
PAVÊS E ESCUDO,
EMPUNHANDO TODOS
A ESPADA”.
A INTERPRETAÇÃO
LITERAL BERNARD
RAMM, QUE NÃO SERIA
MUITO SIMPÁTICO À
NOSSA CONCEPÇÃO DE
INTERPRETAÇÃO DA
PROFECIA BÍBLICA,
CITA WEBSTER PARA
DEFINIR O QUE VEM A
SER LITERAL NOS
SEGUINTES TERMOS: “É
A CONSTRUÇÃO E
IMPLICAÇÃO NATURAIS
OU HABITUAIS DE UM
ESCRITO OU
EXPRESSÃO; AQUILO
QUE SEGUE O SENTIDO
COMUM E EVIDENTE DAS
PALAVRAS; O QUE NÃO
É ALEGÓRICO OU
METAFÓRICO”.[5]
CHARLES RYRIE
ELABORA UMA AMPLA
DEFINIÇÃO DO QUE VEM
A SER INTERPRETAÇÃO
LITERAL, ENUNCIANDO-
A DA SEGUINTE FORMA:
ISSO, ÀS VEZES, É
CHAMADO DE PRINCÍPIO
HISTÓRICO-
GRAMATICAL DE
INTERPRETAÇÃO, JÁ
QUE O SIGNIFICADO DE
CADA PALAVRA É
DETERMINADO POR
CONSIDERAÇÕES
GRAMATICAIS E
HISTÓRICAS. ESSE
PRINCÍPIO TAMBÉM
PODE SER DENOMINADO
DE INTERPRETAÇÃO
NORMAL, VISTO QUE O
SIGNIFICADO LITERAL
DAS PALAVRAS É O
ACESSO NORMAL PARA
SUA COMPREENSÃO EM
TODAS AS LÍNGUAS.
TAMBÉM PODE SER
CHAMADO DE
INTERPRETAÇÃO CLARA
E SIMPLES PARA QUE
NINGUÉM TENHA DE
ACEITAR A NOÇÃO
EQUIVOCADA DE QUE O
PRINCÍPIO DE
INTERPRETAÇÃO
LITERAL DESCONSIDERA
AS FIGURAS DE
LINGUAGEM. TODOS OS
SÍMBOLOS, FIGURAS DE
LINGUAGEM E TIPOS
SÃO INTERPRETADOS DE
FORMA CLARA NESSE
MÉTODO E ELES, DE
MODO NENHUM, SÃO
ANTAGÔNICOS À
INTERPRETAÇÃO
LITERAL. AFINAL DE
CONTAS, A PRÓPRIA
EXISTÊNCIA DE
QUALQUER SENTIDO
NUMA FIGURA DE
LINGUAGEM DEPENDE DA
REALIDADE DO
SIGNIFICADO LITERAL
DOS TERMOS
RELACIONADOS. AS
FIGURAS MUITAS VEZES
TORNAM O SENTIDO
MAIS CLARO, GRAÇAS
AO SIGNIFICADO
LITERAL, NORMAL,
SIMPLES E CLARO QUE
ELAS TRANSMITEM AO
LEITOR.[6]
O comentarista E. R. Craven assinala: O
literalista (assim chamado) não é aquele que nega o
fato de que a linguagem figurada e os símbolos são
usados em profecia. Também não é aquele que nega
a realidade de que grandiosas verdades espirituais
estão demonstradas nos textos proféticos; ele
simplesmente mantém a postura de que as profecias
devem ser interpretadas de modo normal (i.e., de
acordo com as leis de linguagem aprendidas) como
qualquer outra declaração é interpretada, ou seja,
aquilo que é nitidamente figurativo sendo
considerado como tal”.[7]
David Cooper apresenta uma definição clássica
do princípio hermenêutico de interpretação literal na
sua “Regra Áurea de Interpretação”, que diz:
“Quando o sentido claro de um texto das Escrituras
se enquadra dentro do bom senso, não procure
outro sentido; portanto, interprete cada palavra em
seu sentido simples, comum, habitual e literal, a
menos que os fatos do contexto imediato, estudados
à luz de passagens correlatas e de verdades
fundamentalmente óbvias, indiquem nitidamente o
contrário”.[8] Em outras palavras, precisa haver
uma base literária no texto de qualquer declaração
para que uma palavra ou frase não seja interpretada
literalmente. Deixa-se o uso da interpretação literal
somente quando se pode demonstrar que uma figura
de linguagem ou uma metáfora faz mais sentido em
determinado contexto do que o sentido simples,
claro e literal. Em suma, o dito de Cooper afirma
que uma palavra ou frase deve ser interpretada
literalmente, a não ser que haja uma razão no texto
para interpretá-la como uma figura de linguagem ou
uma metáfora. Mathew Waymeyer fornece uma
regra prática muito útil ao declarar: “Para que seja
considerada simbólica, a linguagem em questão
precisa apresentar: 1) algum grau de absurdez,
quando interpretada literalmente; e, 2) algum grau
de clareza, quando interpretada simbolicamente”.[9]
O SIGNIFICADO
LITERAL SE OS TERMOS
“EXÉRCITO”, “CAVALOS
E CAVALEIROS”,
“PAVÊS E ESCUDO” E
“ESPADA”,
ENCONTRADOS NESSE
TEXTO, NÃO PARECEM
FIGURAS DE
LINGUAGEM, NEM
SÍMBOLOS, A
COERÊNCIA
INTERPRETATIVA EXIGE
QUE TAL BATALHA SEJA
LUTADA COM ESSAS
ARMAS. ESSES
ARMAMENTOS DE GUERRA
NÃO PODEM SER
INTERPRETADOS COMO
SÍMILES DE
ARMAMENTOS MODERNOS
PORQUE NÃO HÁ
INDICADORES TEXTUAIS
DO TIPO “COMO” OU
“SEMELHANTE A”. NÃO
PARECE HAVER NENHUMA
FIGURA DE LINGUAGEM
QUE DE VEZ EM QUANDO
OCORRA SEM O USO DE
“COMO” OU
“SEMELHANTE A”. POR
EXEMPLO, JESUS
DECLAROU: “EU SOU A
PORTA”, “EU SOU O PÃO
DA VIDA”, ETC. EMBORA
ESSAS EXPRESSÕES EM
SI E POR SI MESMAS
NÃO SEJAM FIGURAS DE
LINGUAGEM, FICA
CLARO, NOS SEUS
RESPECTIVOS
CONTEXTOS, QUE JESUS
AS USAVA
METAFORICAMENTE.
CONTUDO, NÃO HÁ NADA
NO CONTEXTO DE
EZEQUIEL 38 QUE
APONTE PARA O FATO
DE O PROFETA
EZEQUIEL PREVER
ARMAMENTOS MODERNOS,
AINDA QUE USE UMA
TERMINOLOGIA
CONHECIDA DE SUA
ÉPOCA.
Durante a elaboração desta série sobre Ezequiel
38 e 39, enquanto refletia de forma mais crítica
sobre a interpretação literal e sua relação com essa
passagem, passei a discordar da afirmação que eu e
Mark Hitchcock fizemos, quando dissemos o
seguinte: “Ezequiel se expressou numa linguagem
que as pessoas do seu tempo podiam entender. Se
ele tivesse falado de aviões de caça MIG-29, de
mísseis disparados a laser, de tanques de guerra e de
fuzis de assalto, esse texto não faria o menor sentido
até a chegada do século vinte”.[10] Sou forçado a
concordar com DeMar quando diz: “É preciso
forçar demais a leitura e interpretação da Bíblia para
fazer com que o texto de Ezequiel 38 e 39 se
encaixe dentro das realidades militares atuais que
incluem aviões a jato, mísseis, explosivos e
armamentos atômicos”.[11] Apesar de crer que
DeMar esteja certo nessa afirmação, isso não
significa que sua conclusão esteja correta. Ele
declara: “As armas são antigas porque a batalha
ocorreu na antigüidade”.[12] De fato esses
armamentos eram usados na antigüidade, mas alguns
deles são usados até hoje. Além disso, DeMar
ignora muitos fatos textuais ou não interpreta
literalmente aquelas expressões cronológicas como
“depois de muitos dias” (Ez 38.8), sobretudo, “no
fim dos anos” (Ez 38.8) e “nos últimos dias” (Ez
38.16), expressões estas que consideraremos mais
adiante em nossa análise.
Creio que o intérprete futurista Paul Lee Tan
colocou muito bem a questão nos seguintes termos:
Algumas profecias, quando descrevem batalhas
escatológicas, predizem que os armamentos
utilizados nesses combates serão arcos e flechas,
bigas e cavalos, além de lanças e escudos. Seria o
caso de interpretá-las literalmente? Se formos
rigorosamente fiéis ao cenário próprio do estilo
profético, temos de considerar que essas armas são
as mesmas a serem usadas no contexto escatológico.
Elas não podem ser equiparadas aos dispositivos
bélicos modernos que são muito diferentes, a
exemplo da bomba-H ou dos aviões a jato
supersônicos. O interessante é que os equipamentos
bélicos referidos na profecia, apesar de existirem há
séculos, não se tornaram obsoletos. O cavalo, por
exemplo, ainda é usado como arma de guerra em
certos tipos de terreno.[13]
Sem ter a pretensão de ser dogmático nessa
questão, creio que a concepção que mais faz sentido
é a que ouvi do pastor Charles Clough,[14] numa
aula gravada em fita cassete por volta do fim da
década de 1960 ou no início da década de 1970. Na
época, Clough era um meteorologista capacitado e
experiente que sustentava a concepção de que os
acontecimentos do período da Tribulação poderiam
danificar os modernos sistemas de armamento a
ponto de torná-los inoperantes. Mais tarde, Clough
trabalhou por quase 25 anos como meteorologista
do exército dos Estados Unidos, onde pesquisou o
impacto das condições atmosféricas sobre os
sistemas de armamento. Ele ainda defende aquela
mesma concepção até hoje. Price explica o seguinte:
Entretanto, se as condições ou o local do combate
impedirem o uso de uma tecnologia bélica mais
avançada, não há nenhuma razão pela qual essas
armas rudimentares não possam ser usadas numa
batalha futura. Os combates que são travados em
certos terrenos acidentados do Oriente Médio, a
exemplo da região montanhosa do Afeganistão (cf.,
Ez 39.2-4), têm obrigado exércitos da atualidade a
usarem cavalos; outrossim, arcos e flechas
continuam a ser utilizados em vários campos de
combate. Além disso, se a batalha ocorrerá no
período da Tribulação, as condições preditas para
esse momento da história, tais como atividade
sísmica, chuvas de meteoro, aumento dos efeitos
solares, entre outras catástrofes cósmicas e terrestres
(Mateus 24.7; Apocalipse 6.12-14; 8.7-12; 16.8-
9,18-21), poderiam causar tantos transtornos
ambientais que a tecnologia atual (dependente da
orientação por satélite, de sistemas
computadorizados e de estabilidade meteorológica)
falharia por completo. Em tais condições, a maioria
de nossas armas modernas seria inútil e armas mais
rudimentares teriam de substituí-las. De qualquer
forma, não há nenhuma razão para relegar esse texto
ao passado, com base num suposto anacronismo de
linguagem.[15]
NOTAS 1 WILLIAM L. HULL, ISRAEL: KEY TO
PROPHECY, GRAND RAPIDS: ZONDERVAN, 1957, P.
35-36 (A ÊNFASE É DO AUTOR ORIGINAL).
2
Randall PRICE, Comentários não publicados das profecias de
Ezequiel, 2007, p. 42.
3
Gary DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion: Future or
Fulfilled?”, publicado na revista Biblical Worldview
Magazine, vol. 22, edição de Dezembro de 2006, p. 4.
4
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion,”, p. 6 (a ênfase em
itálico é do autor original).
5
Bernard RAMM, Protestant Biblical Interpretation, 3ª Ed,
Grand Rapids: Baker, 1970, p. 119.
6
Charles C. RYRIE, Dispensationalism, Chicago: Moody,
(1965), 1995, p. 80-81 (a ênfase em itálico é do autor
original).
7
E. R. CRAVEN e J. P. LANGE, orgs. Commentary on the Holy
Scriptures: Revelation, Nova York: Scribner, 1872, p. 98 (a
ênfase em itálico é do autor original).
8
David L. COOPER, The World ‘s Greatest Library Graphically
Illustrated, Los Angeles: Biblical Research Society, (1942),
1970, p. 11.
9
Matthew W AYMEYER, Revelation 20 and the Millennial
Debate, The Woodlands, TX: Kress Christian Publications,
2004, p. 50 (a ênfase em itálico é do autor original).
10
Mark HITCHCOCK and Thomas ICE, The Truth Behind Left
Behind: A Biblical View of the End Times, Sisters, OR:
Multnomah Press, 2004, p. 47.
11
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion”, p. 4.
12
DEMAR, “Ezekiel’s Magog Invasion”, p. 6.
13
Paul Lee TAN, The Interpretation of Prophecy, Winona
Lake, IN: Assurance Publishers, 1974, p. 223.
14
Naquela época, Charles A. CLOUGH era pastor da Lubbock
Bible Church na cidade de Lubbock, Texas, EUA.
15
PRICE, Comentários não publicados de Ezequiel, p. 42.
9. EZEQUIEL 38.5-
6
IRÃ E RÚSSIA
QUALQUER PESSOA QUE
VEM ACOMPANHANDO O
NOTICIÁRIO DESSES
ÚLTIMOS ANOS ESTÁ
CIENTE DA RELAÇÃO
AMISTOSA E CORDIAL
QUE A RÚSSIA E O IRÃ
TÊM MANTIDO. A
RÚSSIA SE TORNOU A
FORNECEDORA DE
MUITOS DOS ELEMENTOS
QUE O IRÃ PRECISA
PARA DESENVOLVER SUA
BOMBA NUCLEAR. É
EVIDENTE QUE O IRÃ
ALMEJA CONTROLAR
TODO O ORIENTE MÉDIO
PARA QUE POSSA
PROPAGAR SUA
CONCEPÇÃO ISLÂMICA E
CONSIGA ALCANÇAR SEU
OBJETIVO DE UNIFICAR
O MUNDO MUÇULMANO
SOB O GOVERNO DE UMA
ÚNICA AUTORIDADE, UM
LÍDER IRANIANO. EM
VÁRIAS OCASIÕES,
TODOS PUDERAM OUVIR
O EX-PRESIDENTE
IRANIANO, MAHMOUD
AHMADINEJAD,
DECLARAR SEU DESEJO
DE FAZER ISRAEL
SUMIR DO MAPA. NOS
ÚLTIMOS QUINZE ANOS,
TODOS OS GOVERNOS
ISRAELENSES
AFIRMARAM
REITERADAMENTE QUE O
IRÃ É A MAIOR AMEAÇA
A ISRAEL. HOJE EM
DIA, MUITOS SE
PERGUNTAM SOBRE A
POSSIBILIDADE DE
ISRAEL SER FORÇADO A
AGIR
PREVENTIVAMENTE,
TALVEZ COM A
COOPERAÇÃO DOS
ESTADOS UNIDOS, PARA
ELIMINAR O POTENCIAL
NUCLEAR DO IRÃ ANTES
QUE ESSE PROJETO
CHEGUE AO SEU
OBJETIVO CONCRETO DE
PRODUZIR ARMAS
NUCLEARES. A
RESPOSTA CERTA A
ESSA INDAGAÇÃO AINDA
PERMANECE
DESCONHECIDA E É
POUCO PROVÁVEL QUE
ALGUM DOS NOVOS
PRESIDENTES QUEIRA
SE ENVOLVER NUMA
EMPREITADA DESSAS.
Há uma grande probabilidade de que o Irã seja
o aliado-chave da Rússia, quando esta comandar o
ataque de invasão a Israel nos últimos dias. Talvez o
Irã se aproveite dessa nova postura belicosa que o
presidente russo Vladimir Putin demonstra para com
os países do Ocidente, especialmente em relação ao
Estados Unidos. Independente do modo pelo qual
esses acontecimentos se desdobrem no futuro, uma
coisa é certa: os russos e o Irã desenvolvem no
presente momento aquele tipo de relação que pode
facilmente culminar na iniciativa de invadir Israel, tal
como o profeta Ezequiel predisse.[2]
ETIÓPIA A VERSÃO DA
BÍBLIA QUE COSTUMO
USAR NA LÍNGUA
INGLESA, THE NEW
AMERICAN STANDARD
BIBLE, TRADUZ O TERMO
HEBRAICO CUSH POR
ETIÓPIA. MUITAS
TRADUÇÕES DA BÍBLIA
EM INGLÊS APENAS
TRANSLITERARAM O
VOCÁBULO ORIGINAL
PELO TERMO “CUSH”
[N. DO T.: A EXEMPLO
DA ANTIGA TRADUÇÃO
BRASILEIRA QUE
TRANSLITEROU A
PALAVRA ORIGINAL
PELO TERMO “CUS”]. O
VOCÁBULO CUSH OCORRE
29 VEZES NA BÍBLIA
HEBRAICA.[3] O TEXTO
DE GÊNESIS 2.13
MENCIONA UM
TERRITÓRIO
ANTEDILUVIANO QUE SE
DENOMINAVA CUXE. AS
TRÊS OCORRÊNCIAS
DESSE TERMO NA
TABELA DAS NAÇÕES
[CF., GN 10] SE
REFEREM A CUXE QUE
ERA DESCENDENTE DE
CAM. A MAIORIA DAS
OUTRAS OCORRÊNCIAS
SE ENCONTRA NOS
LIVROS DE ISAÍAS E
EZEQUIEL (13 VEZES),
REFERINDO-SE À MESMA
REGIÃO MENCIONADA NO
TEXTO DE EZEQUIEL
28.5. UM DICIONÁRIO
LÉXICO DE HEBRAICO
AFIRMA QUE O TERMO
CUSH DIZ RESPEITO ÀS
“TERRAS DO NILO, AO
SUL DO EGITO,
IMPLICANDO A NÚBIA E
O NORTE DO SUDÃO, O
PAÍS QUE É BANHADO
PELO SUL DO MAR
VERMELHO”.[4]
Outro dicionário declara que Cush “se refere à
região imediatamente ao sul e a leste do Egito,
incluindo a atual Núbia, o Sudão e a Etiópia dos
escritores clássicos”.[5] Dessa forma, a Bíblia
localiza claramente o território de Cuxe ao sul do
Egito, onde se encontra a atual nação do Sudão.
Hoje em dia, o Sudão é um dos países
muçulmanos mais militantes do mundo. Hitchcock
comenta: “A atual nação do Sudão é um dos únicos
três países islâmicos no mundo inteiro que mantêm
um governo muçulmano militante”.[6] Eu fiquei
surpreso ao saber que “o Sudão é o país de maior
extensão territorial do continente africano e que
possui uma população de 26 milhões de habitantes”.
É interessante observar que o Irã e o Sudão se
tornaram aliados muito próximos nos últimos vinte
anos. Esses dois países celebraram acordos
comerciais, fizeram alianças militares e o Irã ainda
coordena bases de treinamento terrorista no
território sudanês.[7] O Sudão foi o país que
protegeu e abrigou Osama Bin Laden no período de
1991 a 1996, antes que ele fosse para o Afeganistão.
[8] Se tomarmos por base esse alinhamento de
nações que vemos nos dias atuais, não seria surpresa
nenhuma conjecturar que o Sudão será um aliado
que vem do sul para invadir a terra de Israel nos
últimos dias, junto com a Rússia, o Irã e outros
povos.
BETH-TOGARMAH OU
“CASA DE TOGARMA”
Beth-Togarmah é a transliteração inglesa de
duas palavras do texto original hebraico. Beth é o
termo hebraico normalmente utilizado para designar
“casa” ou “lugar de” e ocorre mais de duas mil vezes
na Bíblia Hebraica.[1] Togarmah é um substantivo
que ocorre 4 vezes na Bíblia Hebraica.[2] O nome
Togarma é usado por duas vezes no registro
genealógico para se referir a um dos filhos de
Gômer (Gn 10.3; 1Cr 1.6). As duas outras
ocorrências desse termo se encontram em Ezequiel
(Ez 27.14; 38.6). O prefixo hebraico Beth só é
usado nessas duas ocorrências em Ezequiel para
formar o termo composto que se traduz por “casa de
Togarma”. O texto de Ezequiel 27.14 se refere ao
comércio desenvolvido por esse povo quando diz:
“Os da casa de Togarma, em troca das tuas
mercadorias, davam cavalos, ginetes e mulos”. Na
verdade, “Heródoto a menciona [i.e., Togarma] pela
fama de seus cavalos e mulas”.[3]
Mark Hitchcock comenta o seguinte: “A
maioria dos estudiosos da Bíblia e da história antiga
relaciona a Togarma bíblica com a antiga cidade
Hitita de Tegarma, um importante centro urbano
situado no leste da Capadócia (atual Turquia)”.[4]
Jon Mark Ruthven concorda, ao declarar:
“Indivíduos da ‘casa de Togarma’ podem ter feito
parte dos dois grandes movimentos migratórios
jafetitas em direção ao extremo norte, ocorridos
respectivamente no segundo e primeiro milênios
a.C., e podem ter sido incorporados à matriz
populacional das atuais Rússia e Turquia”.[5]
Hitchcock traça o movimento migratório de
Togarma da seguinte forma: Togarma era o nome
tanto de um distrito quanto de uma cidade localizada
na fronteira de Tubal, a leste da Capadócia.
Togarma ficou conhecida na história por diferentes
designativos, tais como: Tegarma, Tagarma e
Takarama. Os antigos assírios se referiram a essa
cidade pelo nome de Til-garimmu. Um dos mapas
da The Cambridge Ancient History situa Til-
garimmu na fronteira nordeste de Tubal, a saber, na
região nordeste da atual Turquia. Gesenius, o
erudito em língua hebraica, identificou Togarma
como uma nação do norte, onde cavalos e mulas são
abundantes, localizada na antiga Armênia. O antigo
território da Armênia situa-se atualmente dentro dos
limites territoriais da Turquia.[6]
Hitchcock conclui: “Contudo, ainda que os
eruditos demonstrem uma leve divergência quanto à
localização exata da antiga Togarma, eles sempre a
identificam como uma cidade ou um distrito que se
situava dentro do território nacional da Turquia dos
dias atuais”.[7]
É interessante observar que não há nenhuma
nação árabe entre as nações que se aliarão à Rússia
para invadir Israel. Entretanto, todos esses aliados da
Rússia são países islâmicos ou muçulmanos. O Irã
não é uma nação árabe; pelo contrário, os iranianos
são persas.
“...DO LADO DO
NORTE...”
A passagem bíblica afirma que “a casa de
Togarma” vem “...do lado do norte...”. Essa frase se
compõe de duas palavras no original hebraico. A
palavra traduzida por “norte” significa exatamente
isso, ao passo que a palavra traduzida pela expressão
“do lado do” comunica a idéia de “extremo”, “região
longínqua” ou parte mais distante de qualquer
referencial mencionado no contexto.[8] A
associação dessas duas palavras na mesma frase
ocorre por cinco vezes na Bíblia Hebraica (Sl 48.3;
Is 14.13; Ez 38.6,15; 39.2). Sua ocorrência em
Isaías se encontra numa das cinco afirmações
futuras de Satanás na ocasião de sua rebelião contra
Deus “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu;
acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e
no monte da congregação me assentarei, nas
extremidades do Norte”. O salmista declara o
seguinte sobre Jerusalém: “Seu santo monte, belo e
sobranceiro, é a alegria de toda a terra; o monte
Sião, para os lados do Norte, a cidade do grande
Rei”. O monte Sião ficava no limite norte da antiga
Jerusalém. Os outros três usos dessa associação de
palavras se encontram nos capítulos 38 e 39 de
Ezequiel. As outras duas ocorrências em Ezequiel
38 e 39 se referem a Gogue nos seguintes termos:
“Virás, pois, do teu lugar, dos lados do Norte, tu e
muitos povos contigo, montados todos a cavalo,
grande multidão e poderoso exército” (Ez 38.15);
“Far-te-ei que te volvas e te conduzirei, far-te-ei
subir dos lados do Norte e te trarei aos montes de
Israel” (Ez 39.2). Por isso, o texto menciona que a
“casa de Togarma” (i.e., Beth-Togarmah) vem das
partes remotas do norte, assim como Gogue, que é a
Rússia dos dias atuais, também virá dessa região.
Hitchcock levanta a seguinte questão: “Se a Rússia é
o ponto geográfico mais distante ao norte de Israel,
será que essa afirmação significa que Togarma
procederá da extinta União Soviética?”. Ele mesmo
responde à sua indagação: “A resposta a essa
pergunta é não. Forçar uma localização geográfica
para Togarma que seja totalmente incoerente com o
testemunho claro da história antiga seria uma grave
distorção das evidências. Além do mais, a Turquia
da atualidade se encaixa nitidamente na descrição
que o texto faz porque se localiza no extremo norte
da Terra Prometida”.[9]
FALANDO FRANCAMENTE
AGORA QUE TERMINAMOS
A ANÁLISE DA RELAÇÃO
DE POVOS QUE SE
UNIRÃO À RÚSSIA NO
ATAQUE QUE ESTA
COMANDARÁ CONTRA
ISRAEL, PERCEBEMOS
QUE QUATRO DOS NOMES
RELACIONADOS NESSE
TEXTO DE EZEQUIEL
SÃO ANCESTRAIS
DAQUELAS ETNIAS QUE
ATUALMENTE
CONSTITUEM A
POPULAÇÃO DA
TURQUIA. TODOS OS
QUATRO, MESEQUE,
TUBAL, GÔMER E A
CASA DE TOGARMA, SÃO
FORTES INDICADORES
DE QUE A TURQUIA
SERÁ UM DOS PAÍSES-
MEMBROS DESSA
COALIZÃO DIABÓLICA.
MAS, DIANTE DO
ALINHAMENTO DAS
NAÇÕES NOS DIAS
ATUAIS, SERIA
POSSÍVEL O
ENVOLVIMENTO DA
TURQUIA NESSA
ALIANÇA?
Hoje em dia, a Turquia não se encontra
alinhada com a Rússia e com o Irã por ter se tornado
tecnicamente um Estado secular com uma herança
muçulmana após o colapso do império Turco-
Otomano no final da Primeira Guerra Mundial. Já
faz tempo que a Turquia se tornou membro da
OTAN [i.e., Organização do Tratado do Atlântico
Norte] e tem expressado o desejo de se identificar
não com a Ásia, mas com a Europa, muito
provavelmente por razões econômicas. A Turquia é
um país cuja menor parte do território se encontra
na Europa e a maior parte está situada na Ásia.
Além disso, a Turquia já solicitou oficialmente o
ingresso como país-membro da União Européia,
onde qualquer pessoa que esteja num dos seus
países-membros pode se deslocar livremente para
outra localidade que se encontre dentro limites
geográficos da União Européia. Os demais países-
membros estão preocupados porque temem que, se
for admitida como membro da União Européia, a
Turquia possa se tornar um canal através do qual os
muçulmanos se deslocariam para inundar o restante
da Europa com a sua presença. Embora a Turquia
continue no processo de cumprir requisitos para
ingressar na União Européia, é praticamente certo
que no fim tal ingresso seja rejeitado. A partir do
momento que forem rejeitados pela União Européia,
os turcos vão buscar alinhamento com a Rússia,
bem como com seus países-irmãos islâmicos.
Nos últimos anos contemplou-se a emergência
de uma maioria islâmica no Parlamento da Turquia e
o seu atual primeiro-ministro é muçulmano. A
dissolução da antiga União Soviética envolveu a
independência destas cinco repúblicas islâmicas:
Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão,
Turcomenistão e Tajiquistão. Hitchcock salienta que
“a Turquia tem sido atraída por essas ex-repúblicas
soviéticas e tem se aproximado delas por razões
econômicas, além de manter fortes laços lingüísticos
e étnicos com tais países. Todos esses países falam
variações do idioma turco, com exceção do
Tajiquistão, onde a língua se assemelha ao farsi
iraniano”.[13] A Turquia se considera o
desenvolvedor econômico dos vastos recursos
naturais que se encontram nesses cinco novos
países, tais como: ouro, prata, urânio, petróleo,
carvão e gás natural. Depois de ser desprezada pela
Europa, a Turquia terá motivos de sobra para entrar
numa aliança com a Rússia e com suas nações-irmãs
muçulmanas, o que deixará o palco preparado para
o cumprimento dessa profecia. Maranata!
NOTAS 1 DE ACORDO COM UMA PESQUISA REALIZADA
ATRAVÉS DO PROGRAMA DE COMPUTADOR
ACCORDANCE, VERSÃO 7.3, ESSE TERMO OCORRE
2.047 VEZES.
2
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
3
S. Fisch, Ezekiel: Hebrew Text & English translation with an
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p. 182.
4
Mark Hitchcock, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 63.
5
Jon Mark Ruthven, The Prophecy That Is Shaping History:
New Research on Ezekiel’s Vision of the End, Fairfax, VA:
Xulon Press, 2003, p. 102.
6
Hitchcock, After The Empire, p. 63-64.
7
Hitchcock, After The Empire, p. 64.
8
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
9
Hitchcock, After The Empire, p. 64-65.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
11
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
12
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 161.
13
Hitchcock, After The Empire, p. 66.
11. EZEQUIEL
38.7-8
“DEPOIS DE MUITOS
DIAS”
Quando Ezequiel inicia o versículo 8 e diz:
“Depois de muitos dias, serás visitado...”, fica
evidente que a soberania de Deus continua a ser o
tema de maior destaque dessa profecia. Em última
análise, toda essa operação é idéia de Deus e,
conforme Ele mesmo declarou no versículo 4:
“...porei anzóis no teu queixo e te levarei a ti e todo
o teu exército...”, eles serão levados a investir contra
Israel. Agora Ezequiel afirma que Deus está
convocando Gogue e sua coalizão para um ataque a
Israel de modo que se cumpra o propósito do
Senhor. “O coração do homem traça o seu
caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”
(Provérbios 16.9). A exata expressão hebraica,
traduzida pela frase “depois de muitos dias”, só
ocorre mais uma vez no Antigo Testamento, em
Josué 23.1: “E sucedeu que, muitos dias depois que
o Senhor dera repouso a Israel de todos os seus
inimigos em redor, e sendo Josué já velho e entrado
em dias” (ACF e ARC). Uma vez que o contexto
governa o tempo proposto numa frase adverbial
temporal, fica claro que os “muitos dias”
mencionados no contexto do livro de Josué se
referem a alguns anos, porque todos esses “muitos
dias” se passaram durante o tempo de vida de
Josué. Uma frase hebraica semelhante é usada por
quatro vezes no Antigo Testamento (1Rs 18.1; Ec
11.1; Is 24.22; Jr 13.6); três dessas quatro
ocorrências se assemelham à que é usada em Josué
23.1, porém a que ocorre em Isaías 24.22 se
encontra dentro de um contexto escatológico, nestes
termos: “Naquele dia, o Senhor castigará, no céu,
as hostes celestes, e os reis da terra, na terra.
Serão ajuntados como presos em masmorra, e
encerrados num cárcere, e castigados depois de
muitos dias. A lua se envergonhará, e o sol se
confundirá quando o Senhor dos Exércitos reinar
no monte Sião e em Jerusalém; perante os seus
anciãos haverá glória” (Isaías 24.21-23). C. F.
Keil, ao escrever no século dezenove, afirmou: “A
primeira cláusula traz uma lembrança tão forte de
Isaías 24.22 que a ação nessa passagem dificilmente
poderia ser confundida; de modo que Ezequiel usa
essas palavras no mesmo sentido que Isaías usou”.
[3] O contexto faz nítida referência a um
acontecimento futuro que, até agora, não ocorreu. A
expressão “depois de muitos dias”, que se encontra
no versículo 22, é uma provável referência ao
período de mil anos revelado em Apocalipse 20.2-7.
A duração do tempo, indicada na frase “depois
de muitos dias”, é determinada por fatores presentes
no contexto, os quais claramente apontam para um
período mais longo que o tempo de vida de um ser
humano. Em breve, quando eu fizer uma análise das
outras expressões que indicam tempo nesse
contexto, verificaremos que “o texto é enfático ao
demonstrar que essa invasão e suas consequências
foram previstas muito tempo antes”.[4] Keil
comenta: “a expressão ‘depois de muitos dias’, isto
é, após um longo tempo [...] significa apenas o
decurso de um período prolongado; [...] trata-se do
fim dos dias, do último tempo, não do futuro em
geral, mas do futuro final, daquele período
messiânico em que se concretizará o Reino de
Deus”.[5] Feinberg declara o seguinte: “O
referencial de tempo indicava que o ataque do
inimigo não ocorreria por um longo período de
tempo. Os acontecimentos aqui preditos não deviam
ser esperados para o período da vida de Ezequiel,
nem para os dias de seus contemporâneos”.[6]
ISSO SE CUMPRIU NA
ÉPOCA DE ESTER?
O intérprete preterista Gary DeMar propôs
uma interpretação muito esquisita quanto à época
em que a invasão comandada por Gogue teria
ocorrido. Ele argumenta que a batalha descrita em
Ezequiel 38–39 já se cumpriu em 473 a.C., nos dias
da rainha Ester da Pérsia, por ocasião dos
acontecimentos descritos no capítulo 9 do livro de
Ester.[1]
DeMar alega que os paralelos entre a batalha
mencionada em Ezequiel 38–39 e a batalha
mencionada no livro de Ester são “inequívocos”.[2]
Há um monte de problemas nessa concepção e o
menor deles não se encontra nas sete frases de
Ezequiel 38.8. Na comparação da profecia de
Ezequiel com o relato de Ester, certas similaridades
escassas não determinam tal relação de
cumprimento; pelo contrário, o grande número de
diferenças evidencia que a concepção de DeMar é
impossível. Ao que parece, o único motivo para que
DeMar defenda um ponto de vista como esse, é seu
desejo obsessivo de evitar qualquer profecia de
cumprimento futuro referente à nação de Israel. Tal
obsessão cega seus olhos para o claro significado
desse texto.
Abaixo relaciono algumas incoerências mais
evidentes e problemáticas desse ponto de vista:
Ezequiel 38–39: Ester 9:
– A terra de Israel é invadida (38.16) – Os judeus são atacados nas cidades de
por uma coalizão de vários exércitos. todo o império Persa (127 províncias; Et
Os inimigos tombam nos montes de 9.30) por supostas gangues de pessoas
Israel (39.4). Gogue, o líder dessa inimigas, não exércitos, e se defendem
invasão, é enterrado em Israel (39.11). (9.2). Os inimigos são mortos em todo o
Império Persa.
– Durante um período de sete meses, – Não há necessidade de limpar a terra,
os judeus sepultarão os corpos dos porque os cadáveres não se encontram
inimigos invasores para limpar a terra em Israel.
de Israel (39.12).
– Os invasores são destruídos por um – Os agressores são mortos pelo próprio
terremoto arrasador na terra de Israel, povo judeu, auxiliados por governantes
por lutas internas, por pragas, bem locais das províncias (9.3-5).
como por fogo que cai do céu (38.19-
22). Deus destrói os inimigos de Israel
de modo sobrenatural.
– Os invasores vêm do extremo oeste, – O território do Império Persa não
como a antiga Pute (atual Líbia; Ez incluía essas regiões. Sua extensão
38.5) e do extremo norte, como territorial no extremo oeste chegava até
Magogue, a terra dos citas. Cuxe (atual Sudão; Et 8.9) e no extremo
norte chegava até a região situada abaixo
do mar Negro e do mar Cáspio.
– Deus envia fogo sobre Magogue e – Não há nada que se assemelhe a isso
nos que habitam nas ilhas (39.6). em Ester 9.
“TIRADO DE ENTRE OS
POVOS”
A sexta frase descritiva do versículo 8 declara:
“este povo foi tirado de entre os povos...”. O termo
hebraico vav disjuntivo no início da construção
dessa frase mantém uma relação de contraste com a
frase anterior: “...ao povo que se congregou dentre
muitos povos sobre os montes de Israel, que
sempre estavam desolados...”. No hebraico o
sujeito é feminino e só pode se referir à terra.[1] O
sentido é o seguinte: O povo da terra de Israel (ou
seja, os judeus). Esse sentido apóia a posição
fortemente polêmica de que, na concepção divina, o
povo a quem pertence a terra de Israel é o povo
judeu.
O verbo hebraico yatsa’ é usado mais de mil
vezes no Antigo Testamento e significa “sair de”
(“vir para fora”) ou “ir adiante” (“avançar para
algum lugar”).[2] Neste caso, porém, o verbo se
encontra no tronco verbal hebraico do Hofal, que
implica uma qualidade de ação causativa na voz
passiva e significa que o povo judeu “foi trazido” ou
“foi tirado” de entre as nações, não por si mesmo,
mas por alguém que o trouxe. Quem seria esse
“alguém”? Chega-se à conclusão de que Deus é o
agente da passiva e, portanto, é Aquele que faria
com que os judeus fossem trazidos de volta à terra
de Israel. Nesse texto, a locução verbal “...foi
tirada...” dá apoio à concepção latente de que Deus
controla soberanamente todas as nações – tanto
Israel quanto os gentios. Os gentios são destacados,
no início do versículo 8, como aqueles que, ao
serem “visitados”, receberiam uma convocação para
invadir a terra de Israel. Os judeus, por sua vez, são
destacados nessa frase descritiva, como objeto do
cuidado de Deus, pois é Ele quem, de fato, os traz
de volta à sua Terra Prometida.
No texto hebraico, essa frase descritiva é
formada apenas por três palavras e literalmente
expressa o seguinte: “mas é tirada de entre os
povos”.[3] Ao fazer-se uma leitura disso no seu
contexto, como sempre se deve fazer na leitura de
qualquer texto, percebe-se que a expressão “é
tirada”, da frase literal acima, faz referência à terra
e mantém relação com a segunda parte da frase
anterior, que diz: “...os montes de Israel, que
sempre estavam desolados...”. Nesse caso, de que
maneira a terra de Israel pode ser tirada de entre os
povos ou nações e ser trazida de volta? Isso só faz
sentido se a referência for ao povo que é trazido de
volta à terra, razão pelo que a maioria dos tradutores
da Bíblia acrescenta o termo “povo”, num esforço
de tornar mais claro o sentido do texto original
hebraico.
“E TODOS ELES
HABITARÃO
SEGURAMENTE”
A última frase descritiva declara: “...e todos
eles habitarão seguramente”. No texto original, tal
frase também é formada apenas por três palavras
hebraicas e conclui essa longa sentença. O verbo
hebraico yashav é usado por mais de mil vezes no
Antigo Testamento e, em geral, significa “assentar”,
“permanecer”, “habitar ou morar”.[4] Por isso que
em muitas traduções da Bíblia em inglês se usa o
verbo “viver” (do inglês: to live), para diferenciar
aquilo que alguém faz quando permanece por um
período de tempo em determinado lugar ou território
daquilo que alguém faz quando está apenas
visitando.
A próxima palavra hebraica é o substantivo
betah, traduzido pelo advérbio “seguramente”. Tem
havido muita discussão sobre o exato significado
dessa palavra no contexto em que se encontra. Os
dicionários léxicos da língua hebraica informam que
esse vocábulo, em geral, significa “segurança” ou
“convicção”, e explicam que seu campo semântico
se assemelha ao da palavra “confiança”.[5] No texto
hebraico, esse termo freqüentemente é usado no
“caso construto” com o verbo “habitar”, a exemplo
deste texto de Ezequiel, e ocorre 160 vezes em toda
a Bíblia Hebraica.[6] É usado nos livros de Levítico
e Deuteronômio como uma promessa feita pelo
Senhor de que, se o povo judeu obedecer à Lei de
Deus, Ele fará com que a nação de Israel habite em
segurança na sua terra (Lv 25.18,19; 26.5; Dt
12.10). Esse termo é usado em todos os livros
históricos e proféticos do Antigo Testamento como
um referencial que serve para aferir se Israel está ou
não habitando em segurança na terra. Na realidade,
essa frase é usada em Jeremias 49.31, num contexto
de invasão semelhante ao de Ezequiel 38, onde se lê:
“Levantai-vos, ó babilônios, subi contra uma nação
que habita em paz e confiada, diz o Senhor; que
não tem portas, nem ferrolhos; eles habitam a sós”.
É o mesmo sentido no qual o termo foi usado em
Ezequiel 38.8. “Entretanto, esse sentido geral muitas
vezes apresenta uma amplitude semântica negativa
[...] para indicar uma falsa segurança”.[7] O
contexto apóia a conotação de falsa segurança nesta
ocorrência do termo, em face da iminente invasão.
Por outro lado, é possível que o termo não seja
usado no sentido ilusório de falsa segurança, porque
Deus vai livrar miraculosamente a nação de Israel.
Alguns intérpretes tentaram igualar a noção de
habitar seguramente com habitar pacificamente.
Eles dizem que essa passagem descreve uma
situação na qual Israel se encontra em paz com
todos os seus vizinhos e nenhum destes representa
uma ameaça para os judeus. Não se pode confirmar
essa noção pelo significado da palavra hebraica
betah, nem pelo contexto dessa passagem. Arnold
Fruchtenbaum comenta o seguinte: “Em nenhum
lugar desse texto há qualquer alusão de que Israel
estaria vivendo em paz. Pelo contrário, a descrição é
de que Israel estaria simplesmente habitando em
segurança, o que significa ‘confiança’, a despeito de
quanto dure um estado de guerra ou de paz. Nas
várias descrições que essa passagem apresenta sobre
Israel, pode-se comprovar que todas são verídicas na
realidade do Estado de Israel atual”.[8]
A última palavra hebraica dessa frase foi
traduzida pela expressão “...todos eles...”. A quem
se refere essa expressão? Só pode se referir a todos
aqueles que estiverem vivendo em segurança na
terra de Israel. Todos os que voltaram para os
montes de Israel habitam seguros. Charles Feinberg
conclui: “Por fim eles são retratados como
indivíduos que habitam em segurança; todos eles
vistos assim, sem medo de uma invasão ou de uma
deportação”.[9] Isso prepara o palco para os
comentários do próximo versículo, onde Deus
novamente se dirige a Gogue e a seu exército
invasor.
MÁS INTENÇÕES A
EXPRESSÃO “O SENHOR
DEUS” É UM
DESIGNATIVO QUE
DENOTA “O SOBERANO
SENHOR DAS NAÇÕES”.
[1] A EXPRESSÃO
“NAQUELE DIA” É UMA
REFERÊNCIA AO TRECHO
ANTERIOR QUE
MENCIONA O FATO DE
ISRAEL ESTAR
NOVAMENTE
ESTABELECIDO NA SUA
TERRA, ALÉM DE FAZER
ALUSÃO AO MOMENTO EM
QUE A INVASÃO
OCORRERÁ. É NAQUELE
DIA QUE “...TERÁS
IMAGINAÇÕES NO TEU
CORAÇÃO...”. O TERMO
HEBRAICO TRADUZIDO
POR “IMAGINAÇÕES” É
DAVAR, UM
SUBSTANTIVO MUITO
USADO QUE,
DEPENDENDO DO
CONTEXTO, SE TRADUZ
EM GERAL POR
“PALAVRA”,
“DISCURSO” OU
“COISA”.[2] NESSE
CONTEXTO EM QUESTÃO,
O VOCÁBULO QUE
MELHOR TRADUZ ESSA
PALAVRA HEBRAICA
“NÃO SERIA O TERMO
‘PALAVRAS’, MAS,
SIM, ‘COISAS’ QUE
VÊM À MENTE DELE. OS
VERSÍCULOS 11 E 12
NOS DIZEM QUE COISAS
SERIAM ESSAS”.[3] A
LÍNGUA HEBRAICA NÃO
POSSUI UMA PALAVRA
QUE DESIGNE “MENTE”,
APESAR DE SER ESTE O
TERMO USADO NA
TRADUÇÃO INGLESA
[I.E., THE NEW
AMERICAN STANDARD
BIBLE; O TERMO INGLÊS
“MIND”] DA QUAL FAÇO
CITAÇÕES EM TODOS OS
CAPÍTULOS DESSA
SÉRIE DE ESTUDOS.
ESSE É SEGURAMENTE O
SENTIDO DA PALAVRA
HEBRAICA LEVAV, QUE
FOI TRADUZIDA POR
“MENTE” [N. DO T.:
INCLUSIVE EM ALGUMAS
TRADUÇÕES DA BÍBLIA
EM PORTUGUÊS] E QUE
SIGNIFICA
BASICAMENTE “HOMEM
INTERIOR” OU
“CORAÇÃO”.[4] DESSE
MODO, A ATIVIDADE
INTERNA DE PENSAR
FOI ATRIBUÍDA AO
“CORAÇÃO”. NO
CONTEXTO DESSA
PASSAGEM, O TEXTO
FAZ ALUSÃO A COISAS
QUE SE PASSARÃO NO
HOMEM INTERIOR, AS
QUAIS SERIAM
“PENSAMENTOS”.
O versículo 10 se conclui com a frase “...e
conceberás mau desígnio”. No texto original tal
frase se compõe de três palavras hebraicas.
“Conceberás” é o verbo hebraico hashav que
significa “tecer” e, quando diz respeito ao coração
ou à mente, comunica a idéia de elaborar, maquinar
ou conceber um plano.[5] O substantivo procede
exatamente da mesma raiz do verbo. Nesse caso,
uma tradução literal expressaria a idéia de “conceber
pensamentos”. Contudo, se a terceira palavra dessa
frase é um adjetivo que significa “mau”,[6] não resta
mais dúvida de que o sentido desse texto se refere a
um plano maligno concebido contra o povo
escolhido de Deus, Israel. Portanto, esse versículo
parece nos dizer que, embora a idéia geral de atacar
Israel seja um desdobramento do plano soberano de
Deus (Ez 38.4), os detalhes são concebidos e
desenvolvidos na mente de Rôs e de seus comparsas
invasores. Em virtude de se caracterizar como uma
conspiração ou plano humano, Rôs e seus aliados
agressores são responsabilizados.
A REVELAÇÃO DO PLANO
A TRAMA MALIGNA É
DESVENDADA NO
VERSÍCULO 11. OS
PENSAMENTOS
PERVERSOS DE RÔS
ANUNCIAM: “SUBIREI
CONTRA A TERRA DAS
ALDEIAS SEM MUROS...”.
O VERSÍCULO 11
RELATA A PERCEPÇÃO
DE RÔS ACERCA DO
REAGRUPAMENTO DE
ISRAEL NAQUELE
MOMENTO DA HISTÓRIA.
NÃO HÁ NENHUMA RAZÃO
PARA SE PENSAR QUE A
DESCRIÇÃO FEITA POR
RÔS É INCORRETA. O
VERBO ORIGINAL
TRADUZIDO POR
“SUBIR” É UM TERMO
MUITO COMUM NO
HEBRAICO E QUER
DIZER “ASCENDER,
SUBIR”. É COMUMENTE
USADO EM REFERÊNCIA
A ALGUÉM QUE SE
DIRIGE À TERRA DE
ISRAEL OU À
JERUSALÉM ORIUNDO DO
EXTERIOR. NÃO EXISTE
NENHUMA NUANCE
MILITAR NO CAMPO
SEMÂNTICO DESSE
VOCÁBULO.[7] NESSE
TEXTO, A TERRA DE
ISRAEL É DESCRITA
DESTAS QUATRO
SEGUINTES MANEIRAS:
1) “...TERRA DAS
ALDEIAS SEM MUROS...”;
2) “...OS QUE ESTÃO EM
REPOUSO...”; 3) “...QUE
VIVEM SEGUROS...”; E,
4) “...QUE HABITAM,
TODOS, SEM MUROS E
NÃO TÊM FERROLHOS
NEM PORTAS...”.
A primeira caracterização de Israel como uma
terra de aldeias sem muros implica que eles não
construirão muralhas de proteção ao redor de suas
aldeias como nos tempos antigos. Randall Price
comenta o seguinte: “Só a Cidade Antiga de
Jerusalém tem um muro e a parte moderna da
cidade permanece fora desse muro desde o fim do
século dezenove”.[8] Isso provavelmente significa
que a nação de Israel ficará sem proteção contra
invasores, já que, nos tempos antigos, essa era a
finalidade de se construir muralhas. O rabino Fisch
declara: “Israel não terá feito nenhum preparativo no
sentido de construir muros ao redor das cidades para
se precaver contra algum ataque”.[9]
A segunda frase descreve um povo que está em
repouso. O particípio hebraico shaqat retrata um
povo que está “quieto, calmo, tranqüilo e
descansando”.[10] Esse verbo foi usado com
freqüência nos livros de Josué e Juízes para salientar
a tranqüilidade e o descanso resultantes das vitórias
militares de Israel sobre os cananeus, à medida que
os hebreus conquistavam a terra sob a liderança de
Josué.[11] Tal termo diz respeito a serenar ou
descansar de conflitos militares. O terceiro termo
hebraico é betah que ocorre no versículo 8. Já
verificamos anteriormente que essa palavra se refere
a Israel vivendo em segurança, o que implica
confiança.[12]
A quarta caracterização retrata todos eles
vivendo sem muros, sem ferrolhos e sem portas. Já
vimos antes que viver literalmente sem muros
implica que nenhuma de suas cidades ou vilas terá
aquilo que os antigos construíam para conter um
exército invasor. Essa imagem é reforçada pela
informação de que eles não terão ferrolhos, nem
portas, obviamente porque suas cidades não terão
muros. Ferrolhos e portas eram dispositivos de
defesa muito importantes localizados nas muralhas
das cidades da antiguidade.
O que isso significa em relação à invasão? Em
primeiro lugar, essa passagem apresenta a situação
da perspectiva de Gogue, o qual pensa que Israel
não se encontra devidamente protegido e, por isso,
está vulnerável a um ataque-surpresa. Em segundo
lugar, Price salienta que “a segurança de Israel se
baseia no poderio de suas forças armadas, as quais
são consideradas dentre as melhores do mundo e já
têm defendido o país contra adversidades
avassaladoras em várias invasões ocorridas no
passado”.[13] Em terceiro lugar, tais condições
nunca se concretizaram na história de Israel em
momento algum do passado, de modo que só pode
se referir a um tempo ainda futuro, como já
verificamos pela análise das expressões “depois de
muitos dias” e “no fim dos anos” (Ez 38.8). Keil
assevera: “Esta descrição do modo de vida de Israel
também aponta para tempos posteriores que vão
muito além da época do exílio na Babilônia”.[14]
EM BUSCA DE DINHEIRO
NO VERSÍCULO 12,
DEUS REVELA DUAS
RAZÕES QUE EXPLICAM
A MOTIVAÇÃO DE GOGUE
AO INVADIR ISRAEL NO
FUTURO. TAIS RAZÕES
SÃO INDICADAS POR
ESTAS DUAS ORAÇÕES
ADVERBIAIS DE
FINALIDADE: A
PRIMEIRA É: “...A FIM
DE TOMARES O
DESPOJO...”; A SEGUNDA
É: “...ARREBATARES A
PRESA...”. EM AMBOS OS
CASOS O TEXTO
HEBRAICO UTILIZA A
MESMA PALAVRA POR
DUAS VEZES, A SABER,
UM VERBO NO MODO
INFINITIVO SEGUIDO
POR UM SUBSTANTIVO
CONSTRUTO AO VERBO,
A FIM DE EXPOR O
MOTIVO DE GOGUE PARA
ESSA INVASÃO.
A primeira frase: “...a fim de tomares o
despojo...”, procede da palavra-raiz hebraica shalal
e significa “reunir-se ou ajuntar-se com a finalidade
de roubar ou saquear”.[15] Portanto, uma vez que o
verbo e o substantivo originam-se da mesma raiz
hebraica, seu significado seria algo como “despojar
o despojo”. No entanto, essa construção gramatical
não soa bem em outras línguas. A construção
pleonástica hebraica seria traduzida com mais
propriedade pela expressão “apreender o despojo”,
mesmo que na tradução se perca a noção de que
ambas as palavras originais procedem da mesma raiz
hebraica.
A segunda frase pleonástica hebraica, traduzida
por “...arrebatares a presa...”, procede da raiz
hebraica bazaz e significa “saquear, pilhar, despojar,
roubar”.[16] Dessa forma, o sentido em hebraico
seria: “espoliando o espólio”. O termo original
comunica a idéia de dividir o espólio ou despojo
apreendido num ataque ou conquista militar. Assim,
o motivo claro para essa invasão é de obter riqueza e
bens materiais. Charles Feinberg assinala o seguinte:
“O inimigo, ávido pela riqueza de Israel, embarcará
numa campanha de dominação militar que visa o
lucro”.[17]
O restante do versículo 12 reforça as duas
declarações de abertura referentes à motivação de
Gogue para invadir Israel. Uma terceira oração
adverbial de finalidade afirma: “...para tornares a
tua mão contra os lugares desertos que se acham
presentemente habitados, e contra o povo que foi
congregado dentre as nações, o qual adquiriu gado
e bens...” (Tradução Brasileira). A noção de
“alguém tornar a sua mão contra” projeta a imagem
de uma pessoa que dá uma virada de 180 graus,
mudando da direção em que estava para empreender
um ataque na outra direção. Isso é descrito no
versículo 10, à medida que Gogue elabora um plano
maligno, porém deve ser visto como um instrumento
humano que faz parte de todo aquele processo
originalmente iniciado pelo próprio Deus (Ez 38.2-
4). A imagem retratada na última parte do versículo
12 piora a situação dos maus pensamentos de
Gogue, por fazer alusão ao retorno de Israel à sua
terra, a qual, durante a ausência dos judeus, ficara
desolada e desértica, mas, com o regresso deles, se
torna uma terra produtora de riqueza, a tal ponto de
Gogue e seus aliados invasores quererem invadi-la
para tomar essa riqueza para si. Israel já sobreviveu
mais de 2 mil anos de dispersão entre as nações e
Deus tem trazido os judeus de volta à sua terra, na
qual eles se tornam altamente produtivos e
prósperos, para que Gogue e seus aliados sejam
instigados a atacá-los com o intuito de roubar as
riquezas recém-adquiridas de Israel. Maranata!
NOTAS 1 MERRILL F. UNGER, UNGER’S
COMMENTARY ON THE OLD TESTAMENT,
CHATTANOOGA, TN: AMG PUBLISHERS, (1981)
2002, P. 1578.
2
Francis Brown, S. R. Driver, e C. A. Briggs, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
3
C. F. Keil, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin;
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 164.
4
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
5
Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
6
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
7
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
8
Randall Price, Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel, 2007, p. 40.
9
S. Fisch, Ezekiel:Hebrew Text & English Translation With An
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p.255.
10
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
11
Ver: Josué 11.23; 14.15; Juízes 3.11,30; 5.31; 8.28.
12
Ver, Thomas Ice, “Ezekiel 38 and 39, Part XIII,” no periódico
Pre-Trib Perspectives, edição de Fevereiro de 2008, p. 6-
7.
13
Price, Comentários Não Publicados de Ezequiel, p. 40-41.
14
Keil, Ezekiel, p. 165.
15
Koehler e Baumgartner, Hebrew Lexicon, versão eletrônica.
16
Brown, Driver, e Briggs, Hebrew Lexicon, edição eletrônica.
17
Charles Lee Feinberg, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 222.
15. EZEQUIEL
38.12-13
ISRAEL: O CENTRO DO
MUNDO NA TRADUÇÃO
QUE COSTUMO USAR DA
BÍBLIA EM INGLÊS, A
THE NEW AMERICAN
STANDARD BIBLE, A
PALAVRA HEBRAICA
TRADUZIDA POR
“MUNDO” É, NA
REALIDADE, O TERMO
GERALMENTE USADO
PARA DESIGNAR
“TERRA”. O TERMO
HÁ’ARETZ OCORRE MAIS
DE 2.500 VEZES NO
ANTIGO TESTAMENTO
HEBRAICO[3] E É
USADO EM CINCO
SENTIDOS BÁSICOS: 1)
SOLO, TERRA; 2) UMA
DETERMINADA ÁREA DE
TERRA; 3) UM
TERRITÓRIO OU PAÍS;
4) TODO O PLANETA
TERRA; 5) AS
PROFUNDEZAS DA TERRA
OU MUNDO
SUBTERRÂNEO.[4]
NESSE CONTEXTO DE
EZEQUIEL TRATA-SE DE
UMA CLARA REFERÊNCIA
À TERRA INTEIRA. É
IMPORTANTE SALIENTAR
QUE O TEXTO ORIGINAL
UTILIZA A PALAVRA
“TERRA” EM VEZ DE
“MUNDO”, JÁ QUE A
PALAVRA “MUNDO” PODE
DENOTAR A DIMENSÃO
POPULACIONAL, NÃO A
DIMENSÃO GEOGRÁFICA
TERRITORIAL. ESSE
TEXTO ENFATIZA O
FATO DE ESTAR
SITUADO NO CENTRO DE
TODA A EXTENSÃO
TERRITORIAL DA TERRA
– O UMBIGO
GEOGRÁFICO. O
VOCÁBULO HEBRAICO
TRADUZIDO POR “MEIO”
OU “CENTRO”
SIGNIFICA
LITERALMENTE “O
UMBIGO”,[5] TAL
“COMO O UMBIGO SE
SITUA NO CENTRO DO
CORPO HUMANO”.[6]
Por que a localização de Israel é mencionada
nesse trecho da passagem? Concordo com esta
opinião do rabino Fisch: “Isso é mencionado para
enfatizar a malignidade do plano de Gogue. Este
habita no extremo norte, a uma grande distância da
terra de Israel, de modo que o povo judeu não
poderia ter nenhum projeto agressivo contra ele”.[7]
C. F. Keil faz eco dessa concepção do rabino Fisch,
descrevendo-a como um dos dois motivos pelos
quais Gogue e seus aliados intentam a invasão: Essa
expressão figurada precisa ser explicada a partir do
texto de Ezequiel 5.5: “...Esta é Jerusalém; pu-la
no meio das nações e terras que estão ao redor
dela”. O umbigo não é o tipo de figura de
linguagem que denote as montanhas, mas significa o
território situado no meio da Terra. Portanto, trata-
se da terra mais gloriosa e mais ricamente
abençoada; por conseguinte, os que lá habitam
ocupam a posição mais exaltada entre as nações.
Nesse caso, o desejo cobiçoso de se apoderar dos
bens do povo de Deus e a inveja de sua posição
exaltada no centro do mundo são os motivos que
impelem Gogue a ingressar na sua empreitada
predatória contra o povo que vive em profunda paz.
[8]
A crença de que Israel possui um status especial
e se encontra numa exclusiva localização global,
elucida esta famosa declaração rabínica, resultante
dessas duas passagens do livro de Ezequiel: Assim
como o umbigo se encontra no centro do corpo
humano, assim também a terra de Israel é o umbigo
do mundo [...] situada no centro do mundo, de
modo que Jerusalém se situa no centro da terra de
Israel; o Santuário se situa no centro de Jerusalém; o
Santo dos Santos se situa no centro do Santuário; a
Arca da Aliança se situa no centro do Santo dos
Santos; e a pedra fundamental diante do Santo dos
Santos, porque a partir dela o mundo foi fundado.
[9]
Muitos comentaristas que já analisaram esse
texto enfatizam que, do ponto de vista humano, o
lucro econômico é o único motivo da invasão
empreendida por Gogue. Entretanto, essa última
frase do versículo 12 deixa claro que eles também
invadirão aquela terra por inveja do status especial
que Deus conferiu a Israel e, por conseguinte, de
sua exclusiva localização geográfica.
O OBJETIVO DOS
INVASORES UMA VEZ
QUE A MAIOR PARTE DO
LINGUAJAR DOS
INVASORES SE
EXPRESSA NO
VERSÍCULO 12, NÃO
RESTA NENHUMA DÚVIDA
DE QUE, EM TERMOS
HUMANOS, O OBJETIVO
DOS INVASORES É O DE
ROUBAR A RIQUEZA DE
ISRAEL. AO LONGO DOS
ANOS, MUITOS
COMENTARISTAS DA
BÍBLIA TÊM
ESPECULADO SOBRE
AQUILO QUE PERTENCE
A ISRAEL E QUE SERIA
OBJETO DO DESEJO DOS
INVASORES. ALGUNS
DELES JÁ ALEGARAM
QUE SERIA A RIQUEZA
MINERAL DO MAR
MORTO, O
RESERVATÓRIO MAIS
RICO EM SAIS
MINERAIS DO MUNDO.
CONTUDO, ARNOLD
FRUCHTENBAUM,
RESSALVA O SEGUINTE:
“A RÚSSIA TAMBÉM
PODERIA OBTER OS
RECURSOS MINERAIS DO
MAR MORTO SE
INVADISSE A
JORDÂNIA”.[1]
QUAISQUER QUE SEJAM
OS FATORES
ESPECÍFICOS, UMA
COISA É CERTA: A
DESCRIÇÃO CUMULATIVA
DOS VERSÍCULOS 12 E
13 DEIXA CLARO QUE
ISRAEL TEM RIQUEZA E
QUE ELES INVADIRÃO O
TERRITÓRIO DE ISRAEL
PARA SE APODERAREM
DESSA RIQUEZA.
Não há dúvida nenhuma de que Israel é, de
longe, o país mais rico daquela região. Hoje em dia,
o Estado de Israel demonstra ser uma economia
produtiva que cresce através de pesquisa e
desenvolvimento na área de tecnologia. Além disso,
em termos agrícolas, Israel é provavelmente o país
mais produtivo do mundo per capita. Já faz longo
tempo que Israel mantém a hegemonia na
comercialização de diamantes e é o líder mundial na
produção de produtos farmacêuticos genéricos. A
Wikipedia declara que “Israel é considerado um dos
países mais avançados do sudoeste da Ásia no que
se refere ao desenvolvimento econômico e industrial
[...] No ranking mundial das nações que mais
possuem empresas startup [N. do T.: Uma empresa
com custos de manutenção muito baixos, mas que
consegue crescer rapidamente e gerar lucros cada
vez maiores], Israel classifica-se em segundo lugar
(só perde para os Estados Unidos), além do fato de
ser o país, situado fora da América do Norte, que
conta com o maior número de empresas
participantes da NASDAQ”.[2] Independente dos
atrativos específicos que instiguem tal invasão, esse
texto bíblico deixa claro que Israel será invadido
com o propósito de roubarem suas riquezas.
PROFECIA CONTRA
GOGUE UMA NOVA SEÇÃO
COMEÇA COM OS
VERSÍCULOS 14-16.
DEUS UTILIZOU A
EXPRESSÃO “FILHO DO
HOMEM” POR 93 VEZES
NESTE LIVRO PARA SE
REFERIR AO PROFETA
EZEQUIEL.[3] SEGUNDO
C. F. KEIL, ESSA
EXPRESSÃO “DENOTA O
HOMEM PELA
PERSPECTIVA DE SUA
CONDIÇÃO NATURAL
[...] IMPLICA A
FRAQUEZA E
FRAGILIDADE DO HOMEM
EM CONTRASTE COM
DEUS”.[4] O RESTANTE
DESSE VERSÍCULO É
UMA REPETIÇÃO DE
FRASES QUE JÁ
ANALISAMOS, COM
EXCEÇÃO DE UMA QUE
DIZ: “...NÃO O SABERÁS
TU?” ESSA FRASE É A
TRADUÇÃO DE APENAS
DUAS PALAVRAS
HEBRAICAS. O
VOCÁBULO ORIGINAL
TRADUZIDO POR “NÃO”
OCORRE NO COMEÇO
DESTA FRASE: “ACASO,
NAQUELE DIA, QUANDO O
MEU POVO DE ISRAEL...”.
APESAR DO TERMO
ORIGINAL TRADUZIDO
POR “NÃO” OCORRER NO
MEIO DESSA PASSAGEM,
ESTÁ RELACIONADO
GRAMATICALMENTE COM
A OUTRA PALAVRA
ORIGINAL, OU SEJA, O
VERBO HEBRAICO
“SABER”, E EXERCE A
FUNÇÃO DE NEGÁ-LO.
KEIL EXPLICA COM
PRECISÃO NOS
SEGUINTES TERMOS:
“TU SABERÁS, OU
PERCEBERÁS, QUE
ISRAEL HABITA
SEGURO, LIVRE DE
QUALQUER EXPECTATIVA
DE UMA INVASÃO
HOSTIL”.[5] O RABINO
FISCH FAZ ECO ÀS
PALAVRAS DE KEIL E
DIZ: “A SITUAÇÃO DE
PAZ E CONFIANÇA DE
ISRAEL O DEIXOU
DESPREVENIDO, DE
MODO QUE TU O
ESCOLHERÁS PARA SER
TUA VÍTIMA”.[6]
CHARLES FEINBERG
CONSIDERA A “SUPOSTA
SEGURANÇA” DE ISRAEL
E AFIRMA: “NÃO HÁ A
MENOR DÚVIDA DE QUE
SE TRATA DE UMA
PERGUNTA RETÓRICA. O
SENHOR DEMONSTROU
PLENO CONHECIMENTO
DO FATO DE QUE GOGUE
ESTARÁ CIENTE DA
SITUAÇÃO POLÍTICA DE
ISRAEL, PARA TER A
CERTEZA DE QUE DEVE
ATACAR”.[7]
O Senhor continua a se dirigir a Gogue e
declara: “Virás, pois, do teu lugar...”. Onde é o
lugar de Gogue? Como está registrado no versículo
6, Gogue é oriundo “...do extremo norte...” (cfe.,
Nova Versão Internacional – NVI). Já analisamos
essa frase quando explicamos o versículo 6 e a
expressão hebraica é a mesma tanto naquele
versículo quanto neste, exceto pelo fato de que a
preposição hebraica de origem, traduzida por “do”,
ocorre apenas no versículo 15, ao passo que no
versículo 6 ela está implícita. Essa mesma expressão
ainda aparece no texto de Ezequiel 39.2. Assim, o
texto por três vezes destaca o fato de que Gogue
virá das partes mais remotas do norte. Jon Ruthven
assinala: “É impressionante que uma tribo do povo
‘meschera’, cujo território incluía a área da atual
cidade de Moscou, capital do tradicional povo
‘Rus’, situa-se precisamente ao norte de Israel”.[8]
Se alguém traçar uma linha reta vertical partindo de
Jerusalém em direção ao Polo Norte, passará muito
perto de Moscou. Na realidade, o único país que se
localiza no extremo norte, a partir do referencial
geográfico de Israel, é a Rússia. A região sul da
Rússia começa ao norte do mar Negro, de modo
que a Rússia é o único país cujo território inteiro
está situado ao norte do mar Negro. Já que não
temos muitas opções, “é uma chance em uma”, fica
evidente que Gogue é a Rússia, fato esse que
confirma a outra informação obtida até o presente
momento na análise de Ezequiel 38.
O restante do versículo 15 menciona o fato de
que Gogue virá com um exército enorme que
engloba muitos povos aliados a ele. Eu já analisei
esses termos em versículos anteriores dessa mesma
passagem.
MAS, QUAL É A
PERGUNTA?
É como se Deus estivesse provocando Gogue
com essa pergunta, a qual revela a absoluta
confiança de Deus no resultado desse encontro.
Nessa seção do texto profético (Ez 38.17-23), Deus
responde às perguntas: “O quê?” e “Como?”. A
primeira pergunta, “O quê?”, é respondida nos
versículos 17 e 18, ao passo que a segunda
pergunta, “Como?”, é respondida nos versículos 19
a 23. A pergunta que confronta Gogue é a seguinte:
“Não és tu aquele de quem eu disse nos dias
antigos, por intermédio dos meus servos, os
profetas de Israel, os quais, então, profetizaram,
durante anos, que te faria vir contra eles?”. A
construção gramatical hebraica leva o leitor a esperar
por uma resposta afirmativa.[2] Mas, então, onde se
encontram as outras profecias do Antigo Testamento
às quais o Senhor se refere nesse texto? Randall
Price responde a essa indagação nos seguintes
termos: A declaração introdutória desta derrota (cf.
versículo 17) parece implicar que já havia alguma
predição anterior sobre a invasão liderada por
Gogue nos escritos de outros profetas. Entretanto, a
ambiguidade desta expressão “não és tu aquele...”
(apesar de estar subentendido, desde o versículo 16,
que esse texto se refere a Gogue), proferida por
Deus no passado remoto, revela que a referência
está em aberto para outros “Gogues” típicos, cujas
ações contra Israel incitaram uma poderosa
demonstração de força da parte de Deus. O exército
de Gogue se constituirá de tropas multinacionais e
algumas das nações nele representadas são alvo de
profecias específicas pronunciadas contra elas pelos
antigos profetas de Israel, a exemplo de:
Cuxe/Etiópia (Isaías 18.1-7) e Arábia (Isaías 21.13-
17). Contudo, não há nenhuma necessidade de
qualquer referência direta feita a Gogue por algum
dos antigos profetas de Israel, porque todos os
invasores de outrora foram tipos que apontam para
Gogue e seus aliados como seu antítipo.[3]
No versículo 18, o Senhor continua Sua
resposta à pergunta “O quê?”, referente à invasão da
terra de Israel por Gogue, ao asseverar: “...a minha
indignação subirá às minhas narinas...” [conforme
a Tradução Brasileira]. O Senhor utiliza três
palavras hebraicas para descrever Sua reação a essa
invasão da terra de Israel. Pela ordem em que elas
ocorrem no texto hebraico, verificamos que a
primeira palavra é ‘alah, um verbo hebraico de uso
comum que ocorre mais de 1.200 vezes no Antigo
Testamento Hebraico[4] e significa “ascender,
escalar, exaltar, elevar”,[5] mas nesse contexto se
traduz por “subirá”.
A segunda palavra é o substantivo hebraico
hema’, que significa “calor, peçonha ou veneno (de
animais), fúria, ira, raiva”[6], todavia nessa
passagem é traduzido por “indignação”. Esse
vocábulo ocorre 120 vezes na Bíblia Hebraica e a
maioria das suas ocorrências diz respeito à ira
humana ou divina (110 vezes).[7] O uso de hema’
em referência à ira humana ocorre apenas 25 vezes,
ao passo que esse termo hebraico é usado por 85
vezes para se referir à ira divina e a maioria das
ocorrências se encontra no livro de Ezequiel (31
vezes).[8] Assim, verificamos que ira justa do
Senhor se acumula e é liberada na história como Sua
indignação divina.
A terceira e última palavra hebraica utilizada
pelo Senhor nessa frase é o substantivo ‘af, que
significa “nariz, face, narina, ira”,[9] o qual ocorre
155 vezes no Antigo Testamento Hebraico[10] e se
traduz nessa frase pela expressão “minhas
narinas”. Os substantivos hebraicos ocorrem não
apenas no singular ou no plural, mas também podem
se apresentar na forma dual. “Quando o termo se
refere ao nariz, a forma singular é usada; todavia,
quando ocorre na forma dual, diz respeito à face ou
às narinas”.[11] Aqui nesse contexto, a indignação
do Senhor se expressa pela forma dual, numa
ênfase, portanto, às narinas, as quais se tornam
muito evidentes em alguns animais quando ficam
nervosos e começam a resfolgar pelas narinas,
bufando de raiva. Então, os termos hema’ e ‘af são
classificados juntos em referência a Deus aqui nessa
frase, de forma que a expressão denota o tipo mais
forte da ira de Deus, aquele tipo de indignação que
leva à ação. Keil descreve tal ocorrência como uma
“expressão de antropopatismo, a saber, ‘minha ira
sobe até o meu nariz’ [...] A explosão de ira se
mostra na respiração intensa, quando o homem
encolerizado inspira e expira pelo nariz”.[12] A
nítida mensagem desse texto é a de que Deus
chegou ao limite de Sua paciência e, a partir daquele
momento, Seus atos de indignação jorrarão contra
Gogue e seus aliados.
TREMOR, ESTRONDO E
DESLIZAMENTO A ORDEM
NATURAL E AMBIENTAL
DO MAR, DA TERRA E
DOS CÉUS SERÁ
GRANDEMENTE
TRANSTORNADA PELA
DEMONSTRAÇÃO DE
PODER DO SENHOR NO
TERRITÓRIO DE
ISRAEL. ESSE TEXTO
CARACTERIZA A REAÇÃO
HUMANA AO QUE DEUS
EXIBIRÁ
PORTENTOSAMENTE NA
TERRA DE ISRAEL,
DESTA MANEIRA: “...E
TODOS OS HOMENS QUE
ESTÃO SOBRE A FACE DA
TERRA TREMERÃO DIANTE
DA MINHA PRESENÇA...”.
CHARLES FEINBERG
ASSINALA: “A
SEQÜÊNCIA SERÁ, EM
PRIMEIRO LUGAR, O
TERREMOTO; DEPOIS
VÊM: A ANARQUIA NAS
TROPAS INVASORAS, A
PESTE E OS DESASTRES
NATURAIS. O VIOLENTO
ABALO SÍSMICO,
PROVOCADO POR DEUS
NA TERRA, AFETARÁ
TODAS AS DIMENSÕES
DA NATUREZA, TANTO A
NATUREZA ANIMADA
QUANTO A INANIMADA”.
[1] GOGUE, ARMADO
ATÉ OS DENTES,
ATACARÁ ISRAEL, MAS
DEUS, COM UMA
“SIMPLES” SACUDIDA
DO SOLO, FARÁ COM
QUE AS TROPAS
INVASORAS SEJAM
TOTALMENTE
EXTERMINADAS. ESSA
PASSAGEM BÍBLICA
DEIXA CLARO QUE A
EXCELÊNCIA DAS
FORÇAS ARMADAS DE
ISRAEL E DE SEUS
MODERNOS ARMAMENTOS
(INCLUSIVE ARMAS
NUCLEARES) NÃO TEM
NENHUMA RELAÇÃO COM
A DESTRUIÇÃO DE
GOGUE E SEUS
ALIADOS.
As últimas três frases do versículo 20
descrevem com mais detalhes o “terremoto na terra
de Israel”. Em conseqüência desse abalo sísmico,
“...os montes serão deitados abaixo, os precipícios
se desfarão, e todos os muros desabarão por
terra”. O texto já tinha feito alusão ao fato de que a
invasão empreendida por Gogue acontecerá
“...sobre os montes de Israel...” (v. 8). Se um
exército inimigo quiser ultrapassar a barreira natural
das montanhas de Israel para entrar no território
israelense precisa, primeiramente, encontrar uma
passagem ou um atalho. Nas guerras que o atual
Estado de Israel teve de enfrentar desde sua
fundação, essa tem sido uma pedra de tropeço para
o exército sírio e de outros países árabes, quando
tentaram atacar o território israelense. Eles têm
enfrentado grande dificuldade de atravessar aquelas
montanhas. Entretanto, nessa invasão predita, Deus,
não as forças de defesa de Israel (em inglês: Israel
Defense Forces – IDF), é Quem destruirá por
completo o inimigo, a partir do momento em que o
terremoto do Senhor literalmente puxar o tapete de
debaixo dos pés daqueles invasores. Não há dúvida
de que isso vai eliminar uma grande parcela das
tropas invasoras.
“FOGO AMIGO”
No contexto das guerras atuais, quando alguém
mata acidentalmente outro soldado do mesmo
exército, tal fato é chamado de “fogo amigo”. Eu li
recentemente que nos campos de combate da
atualidade o percentual de mortes por “fogo amigo”
é de 20 por cento, em virtude do grande poder de
fogo dos exércitos modernos. O versículo 21 deixa
absolutamente claro que a única matança que os
invasores da terra de Israel farão sob o comando de
Gogue será o massacre de seus próprios
companheiros de armas. O Senhor Deus afirma:
“Chamarei contra Gogue a espada em todos os
meus montes [...] a espada de cada um se voltará
contra o seu próximo”. Ao que parece, diante da
confusão gerada no terremoto ordenado pelo Senhor
e do terrível abalo das montanhas de Israel, os
exércitos de Gogue vão amargar uma assombrosa
quantidade de “fogo amigo” naquele momento em
que o Senhor os conturbar, levando-os a se voltarem
um contra o outro.
Imagine o terrível constrangimento e a
humilhação que o povo de Gogue vai amargar na
sua própria terra, quando descobrir que as forças de
defesa de Israel nem precisaram entrar em combate,
porque grande parte dos soldados de Gogue e de
seus aliados se matou mutuamente. Após uma
análise mais aprofundada, os aliados de Gogue vão
constatar que lutaram, na verdade, contra o Deus de
Israel e, por isso, não tiveram a mínima chance! No
entanto, esse não é o único meio que Deus utilizará
para derrotar os invasores.
O SEGUNDO VERSÍCULO,
IGUAL AO PRIMEIRO
EZEQUIEL, QUE É
CHAMADO DE “FILHO DO
HOMEM” NO VERSÍCULO
UM, RECEBE ESTA
ORDEM: “...PROFETIZA
AINDA CONTRA GOGUE E
DIZE: ASSIM DIZ O
SENHOR DEUS: EIS QUE
EU SOU CONTRA TI, Ó
GOGUE, PRÍNCIPE DE RÔS,
DE MESEQUE E TUBAL”.
ESSE TEXTO É UMA
REPETIÇÃO IDÊNTICA
DAQUILO QUE ESTÁ
REGISTRADO EM
EZEQUIEL 38.3, SOBRE
O QUE JÁ FIZ
COMENTÁRIOS NAQUELA
RESPECTIVA SEÇÃO DE
NOSSA ANÁLISE. POR
QUE FOI REPETIDO?
CREIO QUE O CONTEÚDO
DO VERSÍCULO 1 É
EXATAMENTE O MESMO
QUE SE ENCONTRA NO
CAPÍTULO 38, PARA
MOSTRAR QUE É UMA
PROFECIA REFERENTE
ÀS MESMAS ENTIDADES
E ACONTECIMENTOS JÁ
PREDITOS NA SEÇÃO
ANTERIOR. É POR ESSA
RAZÃO QUE O SENHOR,
APÓS ESTABELECER A
LIGAÇÃO DISSO COM O
CAPÍTULO ANTERIOR EM
EZEQUIEL 39.1, PASSA
A ACRESCENTAR MAIS
INFORMAÇÕES SOBRE
ESSE ACONTECIMENTO
NO TEXTO DE EZEQUIEL
39.3-6.
O versículo 2 declara: “Far-te-ei que te volvas
e te conduzirei, far-te-ei subir dos lados do Norte e
te trarei aos montes de Israel”. Esse versículo
parece ser a síntese do que está escrito em Ezequiel
38.4,6,8 e 15, sobre o que já fiz comentários em
seção anterior de nossa análise. C. F. Keil faz esta
observação: “Então, os elementos essenciais do
capítulo 38.4-15 são resumidos brevemente no
versículo 2”.[8] Charles Feinberg afirma: “A
declaração sobre fazer com que Gogue se “volva”
(v.2) traz consigo a idéia de compulsão”.[9]
Entretanto, a frase “...e te conduzirei...” não ocorre
no capítulo anterior. Na realidade, o texto de
Ezequiel 39.2 é a única referência na qual esse
verbo é usado em todo o Antigo Testamento
Hebraico.[10] O termo transmite a idéia básica de
“caminhar ao lado de”,[11] como alguém que
caminha ao lado de um animal, a exemplo de um
cão, conduzindo-o pela coleira. Esse verbo está
conjugado no tempo hebraico Piel que determina
uma ação intensiva na voz ativa. Assim, a imagem
que esse texto retrata é a do Senhor conduzindo
Gogue e seus aliados até os montes de Israel, como
se conduz um animal pela coleira. A passagem não
deixa a menor dúvida de que a suprema causa
motivadora dessa invasão, a despeito da ação
humana, é a vontade soberana de Deus.
O DESARMAMENTO DE
GOGUE O VERSÍCULO
TRÊS ASSEVERA:
“TIRAREI O TEU ARCO DA
TUA MÃO ESQUERDA E
FAREI CAIR AS TUAS
FLECHAS DA TUA MÃO
DIREITA”. AMBAS AS
FRASES SÃO
EXPRESSÕES
IDIOMÁTICAS
HEBRAICAS QUE
RETRATAM A AÇÃO DO
SENHOR, NÃO DE
ISRAEL, AO DESARMAR
GOGUE, ARRANCANDO
DAS MÃOS DELE O
ARCO, QUE É UMA
ALUSÃO ÀS ARMAS OU
AOS SISTEMAS DE
ARMAMENTO DE GOGUE
(SEJAM ELES QUAIS
FOREM). O SENHOR
TAMBÉM VAI TIRAR A
MUNIÇÃO USADA POR
GOGUE DURANTE ESSA
FUTURA INVASÃO, TAL
COMO AFIRMA: “...E
FAREI CAIR AS TUAS
FLECHAS DA TUA MÃO
DIREITA”. EM TERMOS
SIMPLES E CLAROS, O
SENHOR DESARMARÁ
GOGUE PARA DEFENDER
A NAÇÃO DE ISRAEL.
KEIL EXPLICA: “NA
TERRA DE ISRAEL, O
SENHOR VAI GOLPEAR
AS ARMAS DE GOGUE
PARA ARRANCÁ-LAS DE
SUAS MÃOS, I.E.,
TORNANDO-O INCAPAZ
DE COMBATER [...]
ENTREGANDO GOGUE E
TODO O SEU EXÉRCITO
POR PRESA DESTINADA
À MORTE”.[12]
Assim, o capítulo 39 começa com uma breve
visão panorâmica e um resumo de muitas coisas que
já tinham sido reveladas no capítulo anterior. O
Senhor assegura Sua intensa vigilância sobre essa
futura batalha na qual Ele protegerá Seu povo. Além
disso, podemos testemunhar a postura atual de
alguns dos atores que vão desempenhar seu papel
nessa terrível invasão, tais como a Rússia e o Irã que
já têm manifestado a sua beligerância.
Maranata!
NOTAS 1 GEORGE FRIEDMAN, “THE RUSSO-GEORGIAN
WAR AND THE BALANCE OF POWER”, PUBLICADO NO
STRATFOR GEOPOLITICAL INTELLIGENCE REPORT,
EDIÇÃO DE 12 DE AGOSTO DE 2008, ATRAVÉS DO
SITE: WWW.STRATFOR.COM.
2
“Russia’s Bear bomber returns”, edição eletrônica da BBC
News, veiculada no dia 10 de setembro de 2007, através
do site: www.news.bbc.co.uk/2/hi/europe/6984320.stm.
3
“Putin eyes renewed Russian ties with Cuba”, edição
eletrônica da CNN, veiculada no dia 4 de agosto de 2008,
através do site:
http://www.cnn.com/2008/WORLD/europe/08/04/russia.cuba.ap/
4
Gary NORTH, “The Unannounced Reason Behind American
Fundamentalism’s [& Virtually All Evangelicalism] Support for
the State of Israel”, publicado em 19 de Julho de 2000,
através do site: www.tks.org/GaryNorth.htm.
5
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982), 2003, p. 6.
6
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 6. Fruchtenbaum classifica as
seguintes passagens bíblicas como exemplos da Lei de
Recorrência: Gênesis 1 e 2; Isaías 30 e 31; Ezequiel 38 e
39; Apocalipse 17 e 18.
7
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 6.
8
C. F. KEIL, “Ezekiel, Daniel”, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin,
reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 171.
9
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 228.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
11
Ludwig KOEHLER e Walter BAUMGARTNER, The Hebrew and
Aramaic Lexicon of the Old Testament, versão eletrônica,
Leiden, Holanda: Koninklijke Brill, 2000.
12
KEIL, Ezekiel, p. 171.
20. EZEQUIEL
39.4-6
O TÚMULO DE GOGUE
NOSSA FAMÍLIA MOROU
POR CINCO ANOS NA
CIDADE DE
FREDERICKSBURG,
VIRGÍNIA, EUA, EM
MEADOS DA DÉCADA DE
1990. À MEDIDA QUE A
PESSOA SE
FAMILIARIZA COM ESSA
CIDADE, UMA DAS
PRIMEIRAS COISAS QUE
SE NOTA É UM MORRO,
ONDE CERCA DE 10 MIL
SOLDADOS DA UNIÃO
FORAM ENTERRADOS,
QUE LÁ SE ENCONTRA
COMO UM MEMORIAL EM
HONRA AOS ESFORÇOS
DESSES SOLDADOS NA
BATALHA DE
FREDERICKSBURG,
DURANTE A GUERRA
CIVIL NORTE-
AMERICANA. NO COMEÇO
EU ME PERGUNTAVA POR
QUE OS SOLDADOS
CONFEDERADOS DO
NORTE FORAM
ENTERRADOS NO SUL.
POR FIM, ENTENDI A
RAZÃO PELA QUAL
AQUELES SOLDADOS
FORAM SEPULTADOS
NUMA LOCALIDADE DO
SUL DOS ESTADOS
UNIDOS. A
CARNIFICINA NA
REFERIDA BATALHA FOI
TÃO DESMEDIDA QUE,
EM SÃ CONSCIÊNCIA,
NÃO HAVIA MEIOS DE
TRASLADAR OS RESTOS
MORTAIS PARA SEUS
RESPECTIVOS LARES
NOS ESTADOS DO
NORTE. UM DESTINO
SEMELHANTE AGUARDA
OS SOLDADOS QUE
INVADIREM ISRAEL
DURANTE A FUTURA
INVASÃO LIDERADA POR
GOGUE.
Assim como aqueles soldados invasores,
oriundos dos estados do norte dos EUA foram
sepultados exatamente onde tombaram, na Batalha
de Fredericksburg, assim também acontecerá a
Gogue e suas hordas, conforme está escrito:
“Naquele dia, darei ali a Gogue um lugar de
sepultura em Israel...“ (Ezequiel 39.11a). Lembre-
se do contexto de todo esse episódio que envolve
Gogue e Magogue. Em primeiro lugar, é o Senhor
que põe anzol no queixo de Gogue e de seus aliados
a fim de trazê-los à terra de Israel (Ez 38.12). Da
perspectiva humana, Gogue é motivado pela
ambição de tomar o despojo de Israel (Ez 38.12),
mas o propósito divino nessa invasão é o de
glorificar a Deus e santificar o Nome do Senhor (Ez
38.23). Portanto, o propósito de Deus se cumprirá,
ao passo que a intenção de Gogue será frustrada e
os invasores serão despojados para a glória de Deus.
Assim como o local de sepultamento em
Fredericksburg é um memorial em honra aos
soldados da União mortos naquela batalha, assim
também o túmulo de Gogue, dentro do território de
Israel, será um testemunho daquilo que Deus
poderosamente efetuou.
O texto menciona que a localização desse
memorial será “...o vale dos Viajantes, ao oriente do
mar...”. “A quantidade de cadáveres será tão grande
que somente um vale profundo comportaria os
restos mortais deles”.[1] Em que lugar de Israel se
situa esse vale? Segundo Fruchtenbaum, “o lugar
desse sepultamento será num dos vales situados a
leste do mar Mediterrâneo, o que indicaria um local
no vale do Jordão, ao norte do Mar Morto, lugar
esse que será devidamente renomeado no futuro”.
[2] Charles Dyer acrescenta o seguinte: O vale no
qual o exército de Gogue será sepultado fica na
parte leste (i.e., “ao oriente do”) do Mar Morto,
dentro do território da atual Jordânia. A frase “...o
vale dos Viajantes, ao oriente do mar...”, poderia
ser traduzida como um nome próprio. É possível
que seja uma referência aos “montes de Abarim”,
situados a leste do mar Morto, os quais Israel
atravessou na sua jornada para a Terra Prometida
(cf. Nm 33.48). Se for esse o caso, o enterro de
Gogue será no vale de Abarim, do outro lado da
parte israelense do Mar Morto, na terra de Moabe.
Contudo, o sepultamento será em Israel pelo fato
de que Israel teve o domínio desse território durante
alguns períodos de sua história (cf. 2Sm 8.2; Sl
60.8).[3]
Depois dessa batalha e do sepultamento, o
texto afirma: “Ele bloqueará o caminho dos
viajantes...” (NVI). Isso significa que o acesso será
obstruído por uma enorme quantidade de corpos
dos soldados mortos, a ponto de impedir o caminho,
dificultando a passagem dos viajantes por aquele
local espantoso.[4] Randall Price comenta: “A
matança será tão grande que os cadáveres do
exército de Gogue entulharão um vale inteiro,
bloqueando a passagem dos viajantes por aquela
localidade”.[5] A localização desse lugar de
sepultamento indica que o provável trajeto dos
invasores começa a partir do norte; segue em
direção ao sul até o vale do Jordão; eles chegam à
margem norte do mar Morto com o intuito de se
deslocarem na direção oeste até Jerusalém. O
Senhor vai destroçar os invasores quando
começarem a se mover para o oeste em direção da
Sua cidade, Jerusalém.
Em Ez 39.11b está escrito: “...e ali sepultarão
a Gogue e a toda a sua multidão, e lhe chamarão o
vale da multidão de Gogue [do heb. Hamon-
Gogue]” (ARC). Essa multidão de invasores
chegará a seu fim num vale, onde provavelmente as
equipes de sepultamento apenas cobrirão os corpos
com terra, formando um cemitério pelo enterro em
massa. O termo hebraico hamon significa
“multidão” ou “aglomeração”.[6] Assim, “uma nova
cidade será edificada com vista para o cemitério”,[7]
que se chamará pelo nome “multidão de Gogue”
para celebrar esse tremendo acontecimento na
história.
SETE MESES DE
SEPULTAMENTO
“DURANTE SETE MESES,
ESTARÁ A CASA DE ISRAEL
A SEPULTÁ-LOS, PARA
LIMPAR A TERRA” (EZ
39.12). A EXPRESSÃO
“CASA DE ISRAEL” SE
REFERE AO POVO JUDEU
QUE JÁ VOLTOU À SUA
TERRA NATAL (EZ
38.8) E ATUALMENTE
VIVE NA TERRA
PROMETIDA. O POVO
JUDEU TERÁ DE
ENTERRAR OS
CADÁVERES “...PARA
LIMPAR A TERRA”. QUAIS
SÃO OS REQUISITOS
JUDAICOS PARA QUE
TAL LIMPEZA SEJA
REALIZADA? PRICE
APONTA OS SEGUINTES
PROCEDIMENTOS
ADOTADOS ATUALMENTE
EM ISRAEL QUE TÊM
RELAÇÃO COM ESSE
TEXTO: COM BASE
NESSE VERSÍCULO, OS
RABINOS
ESTABELECERAM, POR
INFERÊNCIA, A
DECISÃO JUDICIAL (NO
HEB. HALACHÁ) DE QUE
TODAS AS SEPULTURAS
DEVEM SER MARCADAS.
NO ESTADO DE ISRAEL
DOS TEMPOS MODERNOS,
UM GRUPO NÃO-
GOVERNAMENTAL DE
JUDEUS ORTODOXOS,
CONHECIDO PELO
ACRÔNIMO HEBRAICO
ZACA (QUE SIGNIFICA:
“IDENTIFICAÇÃO DAS
VÍTIMAS DE
DESASTRES”), É
DESIGNADO PARA
REMOVER
CUIDADOSAMENTE TODOS
OS RESTOS MORTAIS
HUMANOS APÓS UM
ATENTADO SUICIDA À
BOMBA, A FIM DE
RESTAURAR A ORDEM E
EVITAR A IMPUREZA
CERIMONIAL NA TERRA
DE ISRAEL. SEGUNDO A
LEI JUDAICA (I.E.
HALACHÁ), OS MORTOS
DEVEM SER ENTERRADOS
IMEDIATAMENTE PORQUE
OS CADÁVERES (OU
MESMO ALGUNS POUCOS
OSSOS) SÃO FONTE DE
CONTAMINAÇÃO RITUAL
PARA A TERRA (CF. NM
19.11-22; DT 21.1-
9). A PASSAGEM DE
EZEQUIEL 36.17-21 JÁ
ESTABELECERA A
RELAÇÃO ENTRE PUREZA
CERIMONIAL E
SANTIDADE DIVINA, DE
MODO QUE O TEXTO
AQUI NESTE TRECHO
MENCIONA POR TRÊS
VEZES A NECESSIDADE
DE “LIMPAR A TERRA”
(VERSÍCULOS 12, 14 E
16).[8]
O texto afirma que esse processo de
sepultamento durará sete meses. Por que vai
demorar tanto tempo para que essa tarefa seja
concluída? Em primeiro lugar, porque o número
imenso de invasores mortos simplesmente fará com
que a própria tarefa de sepultamento seja
assustadoramente morosa. Em segundo lugar, sem
dúvida nenhuma Fruchtenbaum está correto quando
declara: “Uma vez que os exércitos serão destruídos
nos montes de Israel, muitos corpos cairão nas
fendas escarpadas, o que dificultará sua localização.
Isso exigirá que o governo autorize o uso de
equipamentos especiais durante sete meses, a fim de
que esses corpos sejam localizados e sepultados
naquele específico vale”.[9]
COMEMORAÇÃO DO
SEPULTAMENTO “SIM,
TODO O POVO DA TERRA
OS SEPULTARÁ...” (EZ
39.13A). ESSA
DECLARAÇÃO DÁ
SUSTENTAÇÃO AO FATO
DE QUE O MASSACRE
SOFRIDO PELAS TROPAS
INVASORAS SERÁ TÃO
DEVASTADOR QUE TODO
O POVO DA TERRA DE
ISRAEL VAI TER DE SE
MOBILIZAR PARA
ENTERRAR OS CORPOS.
AO QUE PARECE, A
POPULAÇÃO GERAL DE
ISRAEL PRECISARÁ
DEIXAR SEUS EMPREGOS
NORMAIS PARA
REALIZAR ESSA TAREFA
(VEJA: EZ 39.14-16).
TALVEZ A POPULAÇÃO
EM GERAL TENHA DE SE
ENVOLVER NA LIMPEZA
INICIAL ATÉ QUE
ESPECIALISTAS
ASSUMAM A TAREFA E
CONCLUAM TODO O
TRABALHO.[10] O FATO
DE QUE ESSA LIMPEZA
SERÁ TRABALHOSA E
DEMORADA PODE
EXPLICAR A RAZÃO
PELA QUAL UMA CIDADE
SURGIRÁ NAQUELA
LOCALIDADE, COM
VISTA PARA O VALE.
NOS ESTADOS UNIDOS,
QUANDO SE DESCOBRE
PETRÓLEO EM
DETERMINADO LUGAR OU
QUANDO ACONTECE UMA
“CORRIDA DO OURO”,
CIDADES SURGEM
SUBITAMENTE NAS
PROXIMIDADES DO
LOCAL DE INTERESSE.
POR SEMELHANTE MODO,
PODE SER QUE O
SURGIMENTO SÚBITO DA
CIDADE QUE SE
CHAMARÁ HAMONÁ
(I.E., “FORÇAS” OU
“MULTIDÕES”) SEJA
MOTIVADO PELA
NECESSIDADE DE SE
CONSTRUIR UM
ACAMPAMENTO DE BASE
PARA AS PESSOAS QUE
TRABALHAREM NESSE
SEPULTAMENTO.
Esse projeto de sepultamento envolvendo todo
o povo de Israel, segundo diz o texto, “...ser-lhes-á
memorável o dia em que eu for glorificado, diz o
Senhor Deus” (Ez 39.13). A expressão hebraica
traduzida por “ser-lhes-á memorável” se encontra
no caso construto relacionando “para eles” com
“memorável”. O vocábulo traduzido por
“memorável” é um termo hebraico comum[11] que,
em geral, se traduz pela palavra “nome”. Todavia,
nesse contexto, o sentido desse termo traz
nitidamente a noção de “tornar célebre um nome”
ou “tornar-se famoso”.[12] Essa é a razão pela qual
o termo “memorável” é uma excelente tradução da
palavra hebraica Shem (i.e., “nome”) nesse contexto.
Assim, depois desse processo de enterro, a
comemoração do sepultamento, feita pelo povo de
Israel, se tornará célebre naquele dia. Mais do que
isso, o texto diz que é por causa da fama e do
renome de Seu povo que o Senhor Deus será
glorificado através desses acontecimentos. Por que,
do ponto de vista de Deus, isso será visto como um
episódio glorioso e honroso para o Senhor? Será
visto como algo glorioso porque, através desse
acontecimento, Deus provará para Israel e para
todas as nações do mundo que Ele, o Senhor Deus
de Israel, é capaz de manter as promessas que fez ao
povo de Sua Aliança, Israel. Maranata!
O CARDÁPIO O SENHOR
ESPECIFICA O
CARDÁPIO QUE SERÁ
OFERECIDO AOS
ANIMAIS CARNICEIROS
E AVES QUE
PARTICIPARÃO DESSE
BANQUETE. ENTRE AS
OPÇÕES DESCRITAS
PELO SENHOR ESTÃO “A
CARNE DOS PODEROSOS”
E O “SANGUE DOS
PRÍNCIPES DA TERRA”
(EZ 39.18). O TERMO
HEBRAICO TRADUZIDO
POR “PODEROSOS” É A
FORMA PLURAL DA
PALAVRA HEBRAICA QUE
SE TRADUZ POR
“FORTE” E SIGNIFICA:
“HOMEM PODEROSO,
HOMEM FORTE OU HOMEM
VALENTE; I.E.,
AQUELE QUE, ALÉM DE
FORTE, TEM PODER
POLÍTICO OU PODERIO
MILITAR”.[5]
PORTANTO, O TEXTO
FAZ REFERÊNCIA A
TROPAS MILITARES DE
ELITE, COMO OS
SOLDADOS DE NOSSAS
FORÇAS ESPECIAIS DE
COMBATE. O OUTRO
TERMO HEBRAICO QUE
DENOTA UM LÍDER
HUMANO SIGNIFICA
LITERALMENTE “LÍDER,
GOVERNANTE, CHEFE,
PRÍNCIPE, I.E.,
AQUELE QUE GOVERNA
OU REGE UM GRUPO,
SEJA ELE ESCOLHIDO
POR SUA CAPACIDADE,
SEJA POR LINHAGEM
SANGUÍNEA”.[6] EM
OUTRAS PALAVRAS, NÃO
APENAS OS MILITARES
DE ELITE SERÃO
ANIQUILADOS, MAS
TAMBÉM SEUS
GOVERNANTES. O TEXTO
HEBRAICO PODERIA
APENAS TER
MENCIONADO OS
PRÍNCIPES, O QUE
BASTARIA PARA QUE
ENTENDÊSSEMOS QUE É
UMA REFERÊNCIA AOS
PRÍNCIPES DA TERRA.
ENTRETANTO, A
EXPRESSÃO “DA TERRA”
FOI REGISTRADA
PROVAVELMENTE PARA
INDICAR QUE OS
MELHORES DA TERRA
FORAM DESTRUÍDOS
PELO GOVERNANTE DO
CÉU E DA TERRA, A
SABER, O PRÓPRIO
SENHOR.
Ao descrever a matança de Seus inimigos, o
Senhor faz uso da terminologia de um banquete
sacrificial e equipara a carnificina humana com os
animais que freqüentemente eram oferecidos em
sacrifício durante os cultos de Israel no Templo. Só
que dessa vez, a verdadeira oferta sacrificada são os
inimigos de Israel, os quais serão servidos aos
animais do campo e aos pássaros. “Era normal que
as pessoas matassem e comessem os animais
sacrificados. Aqui, todavia, os homens dos exércitos
de Gogue serão mortos e oferecidos em sacrifício;
eles é que serão comidos pelos animais”.[7] “Os
animais mencionados estão numa relação figurada
com as diferentes categorias de homens mortos”.[8]
“Para dar o devido destaque a essa concepção, as
aves de rapina e animais predadores são convocados
por Deus a se reunirem para a refeição que lhes foi
preparada”. A cena aqui retratada de uma refeição
sacrificial se baseia em Isaías 34.6 e Jeremias 46.10.
Em harmonia com essa imagem, os inimigos
abatidos são descritos como animais engordados
para o sacrifício, carneiros, cordeiros, bodes e
novilhos; sobre isso, Grotius salientou corretamente
que “essas espécies de animais, geralmente utilizadas
nos sacrifícios, devem ser interpretadas como
diferentes estirpes de homens, a saber, governantes,
generais e soldados, como o Dicionário Caldeu
também menciona”.[9]
Esta frase: “...todos engordados em Basã” se
refere primeiramente a um “animal cevado”, ou seja,
um mamífero relativamente jovem (em geral, da
espécie bovina), selecionado para consumo dentre
os animais desmamados.[10] Em segundo lugar,
Basã diz respeito ao “território fértil limitado pelo rio
Jaboque ao sul, pelo mar da Galiléia a oeste, e por
uma linha imaginária que se dirige para o leste desde
o monte Hermom ao norte até a cordilheira do
Haurã, a leste”.[11] Como ressalta Charles Feinberg:
“Basã era um território famoso pela excelência de
suas pastagens e pelo gado bem nutrido”.[12] Hoje
em dia, se você viaja até as colinas de Golã, em
Israel, vai constatar que é a principal região onde o
gado pasta nos campos e onde a pecuária mais se
desenvolve.
O versículo 19 também revela aspectos
irônicos. Gogue e seus comparsas atacam Israel com
o propósito de saquear e levar o despojo da terra,
mas, ao invés disso, eles é que são derrotados e
despojados. Nesse caso, Gogue e seus exércitos
proporcionarão a gordura e o sangue com os quais
os animais e as aves ficarão enfastiados e
embriagados. Para tanto, é preciso haver um excesso
de comida e de bebida. Pois é exatamente isso que
vai acontecer nessa ocasião da derrota de Gogue nos
montes de Israel.
O versículo 20 afirma: “À minha mesa, vós vos
fartareis...”. Feinberg comenta o seguinte: “O
banquete sacrificial, mencionado no versículo 19, é
referido no versículo 20 como ‘minha mesa’ porque
é o Senhor que oferece o banquete. É uma imagem
que comunica muito bem a idéia de grande
carnificina, de juízo merecido e de condenação
irrevogável”.[13] Dessa maneira, aquilo que foi dito
simbolicamente no versículo 18, a saber: “Comereis
a carne dos poderosos e bebereis o sangue dos
príncipes da terra, dos carneiros, dos cordeiros,
dos bodes e dos novilhos...”, o versículo 20
reafirma literalmente: “À minha mesa, vós vos
fartareis de cavalos e de cavaleiros, de valentes e
de todos os homens de guerra...”. Mais uma vez
fica evidente que o foco dessa passagem se
concentra no fato de que nosso Soberano Senhor é
Aquele que tem o controle da história, bem como é
Aquele que superintende todo esse acontecimento,
ainda que Gogue e seus aliados tenham seus motivos
para tal invasão. O texto afirma que essa mensagem
na íntegra é uma declaração do “...Senhor Deus”, o
Rei que governa tanto o céu como a terra.
CONCLUSÃO APESAR DO
CAPÍTULO 39 DE
EZEQUIEL AINDA TER
NOVE VERSÍCULOS ATÉ
O SEU FIM, A
PROFECIA DA BATALHA
DE GOGUE E MAGOGUE
TERMINA NO VERSÍCULO
20. O DR. PRICE
EXPLICA O SEGUINTE:
AS ALUSÕES À GUERRA
DE GOGUE ENCERRAM-SE
NO VERSÍCULO 22, DE
MODO QUE O FOCO DA
PASSAGEM SE VOLTA
EXCLUSIVAMENTE PARA
O LIVRAMENTO QUE
DEUS EFETUOU EM
FAVOR DE SEU POVO NO
PASSADO E PARA A
DEVOÇÃO DOS
ISRAELITAS AO SENHOR
QUANDO ELES
FUTURAMENTE FOREM
RESTAURADOS. OS
VERSÍCULOS 21 E 22
SÃO VERSOS DE
TRANSIÇÃO QUE
REITERAM O PROPÓSITO
DIVINO PARA A
DERROTA DE GOGUE, A
SABER, FORNECER
INFORMAÇÃO
REVELADORA SOBRE
DEUS PARA AS NAÇÕES
(V.21) E PARA ISRAEL
(V.22).[14]
Durante as próximas etapas de nossa análise,
este autor usará as informações reunidas nas etapas
anteriores para aplicá-las ao mundo contemporâneo
ou ao mundo futuro, nas diversas possibilidades que
fluem indutivamente do texto. Algumas questões
que precisam ser levantadas são as seguintes:
Quando, onde, por que e o que deve acontecer
para que essa profecia se cumpra futuramente na
história. Maranata!
NOTAS 1 RANDALL PRICE, “EZEKIEL”, PUBLICADO NA
OBRA ORGANIZADA POR TIM LAHAYE E ED HINDSON,
THE POPULAR BIBLE PROPHECY COMMENTARY,
EUGENE, OR: HARVEST HOUSE PUBLISHERS, 2007,
P. 194.
2
PRICE, “Ezekiel”, p. 194.
3
Carl Friedrich KEIL e Franz DELITZSCH, Commentary on the
Old Testament, Peabody, MA: Hendrickson, 2002, vol. 9, p.
338.
4
Rabbi Dr. S. FISCH, Ezekiel: Hebrew Text & English
Translation With An Introduction and Commentary,
Londres: The Soncino Press, 1950, p. 262.
5
James SWANSON, Dictionary of Biblical Languages With
Semantic Domains: Hebrew (Old Testament), edição
eletrônica, Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc.,
1997, DBLH 1475, #1.
6
SWANSON, Dictionary of Biblical Languages, DBLH 5954, #1.
7
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e DALLAS THEOLOGICAL
SEMINARY, The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983–1985, vol. 1, p. 1302.
8
Charles Lee FEINBERG, The Prophecy of Ezekiel, Chicago:
Moody Press, 1969, p. 231.
9
KEIL e DELITZSCH, Commentary, vol. 9, p. 339.
10
Swanson, Dictionary of Biblical Languages, DBLH 5309.
11
Robert Laird HARRIS, Gleason Leonard ARCHER e Bruce K.
W ALTKE, Theological Wordbook of the Old Testament,
edição eletrônica, Chicago: Moody Press, 1980–1999, p.
137.
12
FEINBERG, Ezekiel, p. 231.
13
FEINBERG, Ezekiel, p. 231.
14
PRICE, “Ezekiel”, p. 194.
24. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA
CUMPRIU-SE NO
PASSADO?
Após analisar os dois pontos de vista que
defendem um cumprimento no passado, tenho de
confessar que, dentre as sete concepções
apresentadas, a concepção menos provável é a que
DeMar defende, quando alega que a invasão
liderada por Gogue se cumpriu nos dias da rainha
Ester. DeMar afirma que as predições de Ezequiel
38–39 se cumpriram “literalmente” naqueles
acontecimentos descritos no capítulo 9 do livro de
Ester, durante os dias da rainha Ester da Pérsia, em
cerca de 470 a.C. DeMar declara que as
semelhanças entre a batalha descrita em Ezequiel
38–39 e os fatos relatados no livro de Ester são
“inconfundíveis”.[8] Porém DeMar, na sua
interpretação literal, não leva em conta uma série de
diferenças claras entre os textos de Ezequiel 38–39 e
Ester 9. Uma simples leitura dessas duas passagens
bíblicas comprova que esses textos não podem estar
descrevendo o mesmo acontecimento.
Abaixo relaciono algumas das incoerências
mais evidentes e problemáticas do ponto de vista de
DeMar, numa análise comparativa que demonstra
sua impossibilidade:
Ezequiel 38–39 Ester 9
A terra de Israel é invadida (38.16) por Os judeus são atacados nas cidades
uma coalizão de vários exércitos. Os de todo o império Persa (127
inimigos tombam nos montes de Israel províncias; Et 9.30) por supostas
(39.4). Gogue, o líder dessa invasão, é gangues de pessoas inimigas, não
enterrado em Israel (39.11). exércitos, e se defendem (9.2). Os
inimigos são mortos em todo o império
Persa.
Durante um período de sete meses, os Não há necessidade de limpar a
judeus sepultarão os corpos dos inimigos terra, porque os cadáveres não se
invasores para limpar a terra de Israel encontram em Israel.
(39.12).
Os invasores são destruídos por um Os agressores são mortos pelo
terremoto arrasador na terra de Israel, por próprio povo Judeu, auxiliados por
lutas internas (aliados que lutam entre si), governantes locais das províncias (9.3-
por pragas, bem como por fogo e enxofre 5).
que caem do céu (38.19-22). Deus destrói
os inimigos de Israel sobrenaturalmente.
Os invasores vêm do extremo oeste, O território do império Persa não
como a antiga Pute (atual Líbia; Ez 38.5) e incluía essas regiões. Sua extensão
do extremo norte, como Magogue, a terra territorial no extremo oeste chegava
dos Citas. até Cuxe (atual Sudão; Et 8.9) e no
extremo norte chegava até a região
situada abaixo do mar Negro e do mar
Cáspio.
Deus mete fogo em Magogue e nos que Não há nada que se assemelhe a isso
habitam nas ilhas (39.6). em Ester 9.
CONCLUSÃO
A cena de uma invasão maciça da terra de
Israel no fim dos tempos, pelos povos mencionados
no texto de Ezequiel, nunca foi vista na história,
apesar das alegações em contrário. Desde a época da
profecia de Ezequiel, nenhum episódio da história
remota de Israel até os dias atuais sequer chega perto
de uma correlação ou encaixe com aqueles detalhes
registrados em Ezequiel 38 – 39 (muito menos o que
consta em Ester 9). Por isso, partindo-se do
pressuposto óbvio de que uma profecia deve se
cumprir literalmente, essa profecia referente à
invasão liderada por Gogue deve aguardar um
cumprimento que, mesmo da perspectiva de nossos
dias, ainda se dará no futuro. Assim, o texto
profético de Ezequiel 38–39 retrata uma futura
invasão de Israel no fim dos tempos, imposta pela
Rússia e seus aliados, como o Irã e outros povos
citados (todos esses, na atualidade, são nações
islâmicas que menosprezam e odeiam Israel).
Maranata!
NOTAS
1
Veja: Gary DEMAR, End Times Fiction: A Biblical
Consideration of the Left Behind Theology, Nashville:
Thomas Nelson, 2001, p. 12-15; veja também: DEMAR, Last
Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder
Springs, GA: American Vision, 1999, p. 368-69. DeMar
segue a mesma linha de pensamento do seu colega
preterista James Jordan, na obra que este escreveu
intitulada: Esther: In the Midst of Covenant History,
Niceville, FL: Biblical Horizons, 1995.
2
Jay ROGERS, “Does the Bible predict a Russian invasion of
Israel?”, artigo publicado em abril de 1997 no site da
Internet:
http://www.forerunner.com/predvestnik/X0058_Russia_Israel.html
acessado em 12 de março de 2009.
3
Veja: Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the
Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events,
edição revisada; Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 117-
125. Veja, também, como Tim LAHAYE e Jerry JENKINS
retrataram esses acontecimentos em sua obra Left Behind:
A Novel of the Earth’s Last Days, Wheaton, IL: Tyndale,
1995.
4
Veja: Mark HITCHCOCK, Iran – The Coming Crisis: Radical
Islam, Oil, and The Nuclear Threat, Sisters, OR:
Multnomah, 2006, p. 177-89.
5
Veja: Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell, Company, 1942,
p. 174-75.
6
Veja: Arno C. GAEBELEIN, The Prophet Ezekiel, Nova York:
Our Hope, 1918, p. 252-55.
7
Veja: Ralph ALEXANDER, Ezekiel, Chicago: Moody Press,
1976, p. 127-29.
8
DEMAR, End Times Fiction, p. 13.
9
Horst SEEBASS, Theological Dictionary of the Old Testament,
organizado por G. Johannes BOTTERWECK e Helmer
RINGGREN, traduzido para o inglês por John T. Willis; Grand
Rapids: William B. Eerdmans, 1977, vol. 1, p. 211-12.
25. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 1) O
SEGUNDO PONTO DE
VISTA PRETERISTA,
OU SEJA, A
CONCEPÇÃO DE QUE
AS PREDIÇÕES
REGISTRADAS NO
TEXTO DE EZEQUIEL
38–39 SE
CUMPRIRAM NO
PASSADO, DEFENDE
A PERSPECTIVA DE
QUE ESSA PROFECIA
“SE CUMPRIU NO
SÉCULO II A.C.,
QUANDO OS SÍRIOS
INVADIRAM A
PALESTINA E FORAM
DERROTADOS POR
JUDAS MACABEU”.
[1] UM INTÉRPRETE
PRETERISTA
AFIRMOU QUE ESSA
É A CONCEPÇÃO
MAIS AMPLAMENTE
DIFUNDIDA E
DEFENDIDA PELA
MAIORIA DOS
PRETERISTAS,
PORÉM, AO
PESQUISAR EM
MINHA BIBLIOTECA
PESSOAL E NOS
SITES PRETERISTAS
DE MAIOR
EXPRESSÃO, NÃO
ENCONTREI
PRATICAMENTE
NENHUM PRETERISTA
QUE TENHA ESCRITO
ALGO SOBRE O
SIGNIFICADO DESSA
PROFECIA. COMO
SEMPRE, MUITOS
PRETERISTAS
ARGUMENTAVAM QUE
TAL PROFECIA NÃO
SIGNIFICA AQUILO
QUE OS
INTÉRPRETES
FUTURISTAS DIZEM
QUE ELA
SIGNIFICA, MAS
ESSES PRETERISTAS
RARAMENTE TÊM
TEMPO PARA NOS
EXPLICAR COM
DETALHES O QUE
ELES CRÊEM QUE
ESSA PASSAGEM
BÍBLICA
SIGNIFICA. É
MUITO DIFÍCIL
ACHAR UM
COMENTÁRIO
BÍBLICO
SEQÜENCIAL,
ESCRITO POR UM
INTÉRPRETE
PRETERISTA, QUE
COMENTE PALAVRA
POR PALAVRA DAS
ESCRITURAS
SEGUNDO A
PERSPECTIVA
PRETERISTA. NESSE
CASO, COMENTAREI
EM LINHAS GERAIS
OS PONTOS DE
VISTA QUE ELES
ADVOGAM.
UM CUMPRIMENTO
PROFÉTICO NO SÉCULO
II A.C.
Max King, um preterista convicto, fez o
seguinte comentário sobre a identidade de Gogue e
Magogue: “Ezequiel faz uso desses nomes para se
referir ao poder dos Selêucidas, especialmente
quando atingiu o seu apogeu nos dias de Antíoco
Epifânio”.[2] Em seguida, Max King acrescentou
uma nota de rodapé citando o amilenista que não é
preterista, William Hendrikson,[3] para apoiar sua
afirmação. Dessa forma, sem fornecer muitos
detalhes, os que advogam essa concepção acreditam
que “a opressão imposta ao povo de Deus por
‘Gogue e Magogue’ é uma referência, feita no livro
de Ezequiel, à terrível perseguição imposta por
Antíoco Epifânio, governante da Síria”.[4] Diferente
daquela concepção de Gary DeMar que analisamos
na seção anterior, esse último ponto de vista admite,
pelo menos, que os invasores realmente sobrevirão à
terra de Israel, como se observa na profecia de
Ezequiel. O intérprete preterista Vic Reasoner
declara o seguinte: “O contexto de Ezequiel estava
descrevendo a insurreição dos Macabeus no Século
II antes de Cristo”.[5]
Embora seja verdade que Antíoco Epifânio,
governante da Síria, invadiu Israel no Século II a.C.,
pouquíssimas semelhanças existem entre essa
invasão e aquela que foi predita nessa passagem de
Ezequiel. Para começar, a invasão inicial de Israel
empreendida por Antíoco foi bem sucedida de modo
que ele conseguiu oprimir o povo judeu. Só depois
de um período de vida sob o domínio opressor da
Síria que a revolta dos Macabeus teve início e, por
fim, foi vitoriosa. Na descrição da invasão de Gogue
à terra de Israel, o texto de Ezequiel não indica em
nenhum momento que os invasores obteriam algum
êxito na sua tentativa, muito menos que
conseguiriam estabelecer um período de ocupação
da terra de Israel. Na profecia de Ezequiel, o Senhor
destroça os exércitos invasores no momento em que
eles invadem Israel. A principal característica da
Revolta dos Macabeus foi a nítida participação do
elemento humano como instrumento para derrotar
os Selêucidas que ocupavam a terra de Israel, ao
passo que, na profecia de Ezequiel, Deus não utiliza
seres humanos para derrotar Gogue e seus exércitos;
em vez disso, Ele próprio os derrota através de atos
miraculosos (Ez 38.21-22).
A revolta dos Macabeus não ocorreu depois de
um reagrupamento internacional dos judeus na sua
terra, vindos de todas as partes do mundo, como é o
que vai acontecer no episódio da invasão de Israel
liderada por Gogue. Além disso, se orgulho
nacionalista judaico estava em alta durante a revolta
dos Macabeus, tal orgulho nacionalista não fará
parte do avivamento espiritual que sucederá ao povo
Judeu, em consequência do livramento que o
Senhor lhes concederá na ocasião do ataque de
Gogue (Ez 38.23). Quando foi que Deus meteu
fogo “...em Magogue e nos que habitam seguros
nas terras do mar...”, de modo que Magogue e as
nações chegassem a reconhecer o que Deus afirma
de Si mesmo: “...eu sou o Senhor” (Ez 39.6)? Em
que ocasião os Judeus da época dos Macabeus
queimaram, por sete anos, as armas de guerra ou
enterraram, por sete meses, os cadáveres dos
invasores (Ez 39.9-16)? Essas coisas todas não
aconteceram, de fato, no Século II a.C., nem em
época alguma, o que nos leva a concluir que ainda
estão por se cumprir no futuro. O exército invasor,
predito em Ezequiel, virá “...dos últimos confins do
norte...” (Ez 38.15; TB – Tradução Brasileira), não
do norte próximo, onde a Síria se localiza. Ezequiel
afirma que essa invasão acontecerá “...no fim dos
anos...” (Ez 38.8) e “...nos últimos dias...” (Ez
38.16). Se o ponto de vista que defende um
cumprimento profético no período dos Macabeus
estivesse correto, isso teria ocorrido a cerca de 2.200
anos atrás, na metade da história humana, não no
fim desta, muito menos nos últimos dias.
É curioso que a ampla maioria dos Judeus
Ortodoxos da atualidade está convencida de que a
campanha militar de Gogue e Magogue é um
acontecimento que ainda ocorrerá no futuro. Se essa
profecia realmente tivesse se cumprido no Século II
a.C., os rabinos judeus, desde aquela época até os
dias de hoje, teriam reconhecido tal cumprimento
profético. Em vez disso, os detalhes dessa famosa
batalha não se cumpriram em momento nenhum do
passado, mas aguardam seu cumprimento literal no
futuro.
A CONCEPÇÃO PRÉ-
TRIBULACIONISTA À
MEDIDA QUE MUDO A
DIREÇÃO DE NOSSA
ANÁLISE, DEIXANDO OS
PONTOS DE VISTA QUE
PROPÕEM UM
CUMPRIMENTO DESSE
TEXTO DE EZEQUIEL NO
PASSADO PARA AQUELES
PONTOS DE VISTA QUE
DEFENDEM A IDÉIA DE
QUE ESSA INVASÃO
LIDERADA POR GOGUE
SE CUMPRIRÁ NO
FUTURO, A PRIMEIRA
CONCEPÇÃO COM A QUAL
NOS DEPARAMOS PROPÕE
QUE ESSE
ACONTECIMENTO
OCORRERÁ ANTES DO
PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO. A
MAIORIA DOS QUE
ADVOGAM ESSE PONTO
DE VISTA ACREDITA
QUE A REFERIDA
INVASÃO SE CUMPRIRÁ
DEPOIS DO
ARREBATAMENTO DA
IGREJA, MAS ANTES DO
INÍCIO DA
TRIBULAÇÃO, DURANTE
O INTERVALO DE TEMPO
QUE PODE SER DE
DIAS, SEMANAS,
MESES, OU ATÉ MESMO,
DE ALGUNS ANOS. NO
ENTANTO, ALGUNS QUE
TAMBÉM ADVOGAM O
PONTO DE VISTA DE UM
CUMPRIMENTO AINDA
FUTURO, ADMITEM A
POSSIBILIDADE DE QUE
ESSE ACONTECIMENTO
PROFÉTICO SE CUMPRA
ANTES MESMO DO
ARREBATAMENTO.
Creio que este último ponto de vista é o que faz
mais sentido, apesar de admitir a existência de
alguns problemas nessa concepção para os quais
ainda não encontro respostas satisfatórias. Na
realidade, um dos aspectos que geram mais dúvida
nessa concepção é o que se refere ao momento
exato desse acontecimento no cronograma profético
de Deus. Não estou totalmente satisfeito com
nenhum dos possíveis pontos de vista acerca do
momento em que essa batalha se cumprirá na
história. Contudo, até esta etapa de minhas
pesquisas, encontro-me firmemente posicionado no
campo do cumprimento pré-tribulacionista dessa
profecia referente a Gogue, embora eu ainda não
tenha a resposta para algumas perguntas que se
levantam.
Se fizéssemos um levantamento dos pontos de
vista que 25 anos atrás eram defendidos pelos
intérpretes futuristas sobre o momento em que se
cumprirá a profecia de Ezequiel 38 e 39, a
concepção nitidamente predominante seria a de que
esse episódio profético se cumprirá
aproximadamente na metade do período da
Tribulação. Naquela época, proeminentes
especialistas em profecia bíblica, tais como, Hal
Lindsey, John Walvoord, J. Dwight Pentecost e
Charles Ryrie, defendiam claramente esse ponto de
vista. Porém, na atualidade, eu diria que o ponto de
vista mais amplamente aceito pelos especialistas em
profecia bíblica é aquele que defende um
cumprimento pré-tribulacionista dessa profecia
referente a Gogue e Magogue. Entre os que
advogam essa concepção se incluem: Chuck Smith,
Chuck Missler, Arnold Fruchtenbaum, Randall
Price, Tim LaHaye e Joel Rosenberg. A seguir,
menciono alguns dos argumentos que alicerçam essa
concepção.
Em primeiro lugar, Fruchtenbaum descreve a
concepção pré-tribulacionista de interpretação desse
texto de Ezequiel nos seguintes termos: [...] a
invasão russa ocorrerá antes que a Tribulação de
fato comece. A partir do texto de Ezequiel 38.1–
39.16, tal ponto de vista chega a certas conclusões.
Em primeiro lugar, que Israel seria estabelecido
antes da Tribulação e estaria habitando em
segurança. Em segundo lugar, que a aliança
liderada pela Rússia invadiria Israel durante esse
momento de segurança que antecede à Tribulação.
Em terceiro lugar, que essa aliança seria destruída
dentro do território de Israel, antes da Tribulação.[6]
Essa concepção dá ênfase ao fato de que, na
ocasião dessa invasão, o povo de Israel já terá sido
trazido de volta e reagrupado na sua terra,
retornando das nações para onde foi espalhado pelo
poder da espada (Ez 38.8,12). Isso significa que, na
época da invasão liderada por Gogue, os Judeus
terão acabado de retornar à terra de Israel, após
terem sido enviados para o exílio entre as nações
pela força da espada, que seriam as invasões
romanas ocorridas nos anos 70 d.C. e 135 d.C.
respectivamente. Essa é a atual situação do Estado
de Israel da modernidade. Fruchtenbaum declara:
Depois de 1.900 anos, 46 invasões e da Guerra da
Independência, aquela terra voltou a ser judaica e
está livre da dominação estrangeira. Os Judeus que
hoje vivem em Israel vieram de aproximadamente
80 a 90 países diferentes. Os lugares que estavam
continuamente abandonados e desertos, agora são
habitados (Ez 38.8,12). Hoje em dia, os israelenses
estão reconstruindo seus lugares antigos,
transformando-os em modernas cidades e
metrópoles.[7]
Talvez o argumento mais forte em favor desse
ponto de vista refira-se ao fato de que, se esse
acontecimento for pré-tribulacionista (isto é, se
ocorrer antes do período da Tribulação vindoura),
haverá tempo suficiente para enterrar os mortos
durante sete meses (Ez 39.12) e para queimar os
armamentos de guerra durante sete anos (Ez 39.9).
Fruchtenbaum, mais uma vez, explica: Situar essa
invasão no começo do período da Tribulação não
causa nenhum problema na relação com os sete
meses preditos na profecia, mas gera problemas na
relação com os sete anos também preditos. Isso
implicaria um momento no qual Israel estará em
fuga e não terá tempo de concluir a queima das
armas [...] o ponto de vista que defende um
cumprimento antes do período da Tribulação é a
única concepção que não entra em conflito nem
com os sete meses, nem com os sete anos preditos.
Segundo esse ponto de vista, os Judeus
continuariam a habitar na sua Terra após essa
invasão e permaneceriam lá até a metade do período
da Tribulação. Assim, os sete meses de
sepultamento não se constituem num conflito. Os
sete anos também não entram em conflito com essa
interpretação, pois eles começariam antes da
Tribulação e, se necessário, poderiam se estender até
a metade desse período. Segundo esse ponto de
vista, tal invasão deve ocorrer, no mínimo, três anos
e meio (ou mais tempo) antes do início da
Tribulação.[8]
Randall Price, um dos defensores da concepção
pré-tribulacionista de interpretação desse texto,
mostra uma nuance um pouco diferente sobre
aquele período de sete anos da queima das armas de
guerra, quando afirma: Se os “sete anos” durante os
quais Israel queimará as armas das nações
derrotadas forem os “sete anos” do período da
Tribulação (Daniel 9.27; Apocalipse 11.2), esse fato,
junto com a realidade do cemitério de Gogue e da
multidão de mortos (Ezequiel 39.11-16), servirá de
testemunho, durante toda a Tribulação, da promessa
do juízo universal das nações, bem como da
completa restauração de Israel pela evidência da
intervenção divina na ocasião do Segundo Advento
de Cristo.[9]
NOTAS 1 JAY ROGERS, “DOES THE BIBLE PREDICT A
RUSSIAN INVASION OF ISRAEL?”, ARTIGO
PUBLICADO EM ABRIL DE 1997 NO SITE DA
INTERNET:
HTTP://WWW.FORERUNNER.COM/PREDVESTNIK/X0058_RUSSIA_
ACESSADO EM 12 DE MARÇO DE 2009.
2
Max R. KING, The Cross and The Parousia of Christ: The
Two Dimensions Of One Age-Changing Eschaton,
Warren, OH: The Parkman Road Church of Christ, 1987, p.
235.
3
William HENDRIKSON, More than Conquerors: An
Interpretation of the Book of Revelation, Grand Rapids:
Baker Book House, 1982, p. 193-95. Por sua vez,
Hendrikson declara que sua interpretação é a mesma que
consta na obra de E. W. HENGSTENBERG, The Revelation of
St. John, 2 vols., 1851.
4
HENDRIKSON, More than Conquerors, p. 193.
5
Vic REASONER, A Fundamental Wesleyan Commentary on
Revelation, Evansville, IN: Fundamental Wesleyan
Publishers, 2005, p. 482.
6
Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the Messiah: A
Study of the Sequence of Prophetic Events, edição
revisada, Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 121.
7
FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 121.
8
(Grifo do autor original), FRUCHTENBAUM, Footsteps, p. 122-23.
9
Randall PRICE, “Ezekiel”, publicado na obra organizada por
Tim LaHaye e Ed Hindson, The Popular Bible Prophecy
Commentary, Eugene, OR: Harvest House Publishers,
2007, p. 192.
26. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 2) O
ARGUMENTO EM
FAVOR DA
INTERPRETAÇÃO DE
QUE A INVASÃO
LIDERADA POR
GOGUE E MAGOGUE
OCORRERÁ DEPOIS
DO ARREBATAMENTO,
MAS ANTES DO
PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO,
BASEIA-SE NA
INFORMAÇÃO
FORNECIDA PELO
PRÓPRIO TEXTO DE
QUE ESSA INVASÃO
ACONTECERÁ
“DEPOIS DE MUITOS
DIAS” E “NO FIM
DOS ANOS” (EZ
38.8), BEM COMO
“NOS ÚLTIMOS DIAS”
(EZ 38.16). TAIS
EXPRESSÕES SÃO
INDICADORES
CRONOLÓGICOS QUE
SITUAM ESSES
ACONTECIMENTOS
QUASE NO FIM DA
HISTÓRIA, POR
SEREM FRASES QUE
SE REFEREM
EXCLUSIVAMENTE AO
PERÍODO DA
HISTÓRIA MUNDIAL.
EM TODO O ANTIGO
TESTAMENTO, A
EXPRESSÃO “NO FIM
DOS ANOS” (OU,
“NOS ÚLTIMOS
ANOS”) OCORRE
SOMENTE NESSA
PASSAGEM, PORÉM,
SE A EXPRESSÃO
“NOS ÚLTIMOS DIAS”
É USADA NO
VERSÍCULO 16 PARA
DESCREVER O MESMO
ACONTECIMENTO,
CONCLUI-SE COM
SEGURANÇA QUE A
FRASE “NOS
ÚLTIMOS DIAS”,
USADA COM MAIS
FREQUÊNCIA, É
SINÔNIMA DA
EXPRESSÃO “NO FIM
DOS ANOS”. TAL
CONCLUSÃO SE
BASEIA NO FATO DE
QUE AS EXPRESSÕES
“DEPOIS DE MUITOS
DIAS” E “NO FIM
DOS ANOS” SÃO
USADAS
SEQUENCIALMENTE
JUNTAS NO
VERSÍCULO 8.
CHARLES FEINBERG
AFIRMA: “O
REFERENCIAL DE
TEMPO FOI
NITIDAMENTE
DECLARADO NA
EXPRESSÃO ‘NO FIM
DOS ANOS’ QUE É
EQUIVALENTE À
EXPRESSÃO ‘NOS
ÚLTIMOS DIAS’ DO
VERSÍCULO 16”.[1]
ALGUMAS OBJEÇÕES
ALGUNS TÊM LEVANTADO
OBJEÇÕES QUANTO À
CRONOLOGIA
APRESENTADA NESSE
PONTO DE VISTA, POR
SE BASEAREM EM
CERTAS AFIRMAÇÕES
ENCONTRADAS EM
EZEQUIEL 38.11. ESSE
TEXTO DESCREVE A
TERRA DE ISRAEL, NA
OCASIÃO DESSA
INVASÃO, DE QUATRO
MANEIRAS, A SABER:
1) “...A TERRA DAS
ALDEIAS SEM MUROS...”;
2) “...OS QUE ESTÃO EM
REPOUSO...”; 3) “...QUE
VIVEM SEGUROS...”;
“...QUE HABITAM, TODOS,
SEM MUROS E NÃO TÊM
FERROLHOS NEM
PORTAS...”.
A primeira caracterização de Israel como uma
terra de aldeias sem muros implica que eles não
construirão muralhas de proteção ao redor de suas
aldeias, como se fazia nos tempos antigos.
Entretanto, alguns alegam que Israel construiu
recentemente o muro de separação para se manter
afastado da população árabe. Nesse caso, isso
implicaria que a situação de Israel na atualidade não
condiz com esse aspecto requerido no texto. Price
faz a seguinte observação: “Só a área da cidade
denominada de Jerusalém Antiga possui um muro e
a cidade moderna está situada fora dos limites desse
muro desde o final dos idos de 1800”.[5] Talvez isso
signifique que a nação de Israel estará desprotegida
quanto a uma invasão, já que esse era o propósito de
se construir muralhas nos tempos antigos. O rabino
Fisch declara: “Israel não terá tomado nenhuma
medida preventiva contra ataques, mediante a
construção de muros ao redor de suas cidades”.[6]
Nos dias atuais, é evidente que nenhuma muralha da
antiguidade teria a mínima condição de proteger
qualquer cidade contra a invasão de um exército
moderno. Em vez disso, o texto quer dizer que Israel
não estará preocupado com sua defesa e será
surpreendido por esse ataque. Isso, porém, não
descarta o que ocorre em Israel nos dias atuais. A
maior parte desse muro de separação que
recentemente foi construído é, na realidade, uma
cerca projetada para separar judeus de árabes. Tal
muro não ofereceria real proteção, caso um exército
moderno resolvesse invadir.
A segunda frase caracteriza a população de
Israel como pessoas que estão em repouso. O
particípio hebraico saqat descreve um povo que está
“tranquilo, em descanso e sereno”.[7] Esse verbo foi
usado com frequência nos livros de Josué e de
Juízes para destacar a tranquilidade ou o descanso
resultante das vitórias militares de Israel sobre os
Cananeus, à medida que os israelitas conquistavam
aquela terra sob o comando de Josué.[8] O termo
significa estar tranquilo ou descansado no que diz
respeito a conflitos militares. Tenho de admitir que,
dentre as quatro descrições que parecem
corresponder com a atual situação de Israel, essa
segunda caracterização é a menos provável em
nossos dias. Talvez ela se torne realidade num futuro
próximo ou imediatamente antes do Arrebatamento
da Igreja. Não precisaria muito para que essa
situação viesse a se concretizar no Estado de Israel
dos tempos modernos.
A terceira expressão descritiva é a tradução do
termo hebraico betah que foi usado em Ezequiel
38.8. Os dicionários léxicos da língua hebraica
informam que esse vocábulo, em geral, significa
“segurança” ou “convicção”, e explicam que seu
campo semântico se assemelha ao da palavra
“confiança”.[9] No texto hebraico, esse termo
frequentemente é usado no caso construto com o
verbo “habitar”, a exemplo deste texto de Ezequiel,
e ocorre 160 vezes em toda a Bíblia Hebraica.[10] É
usado nos livros de Levítico e Deuteronômio como
uma promessa feita pelo Senhor de que, se o povo
judeu obedecer à Lei de Deus, Ele fará com que a
nação de Israel habite em segurança na sua terra (Lv
25.18,19; 26.5; Dt 12.10). Esse termo é usado em
todos os livros históricos e proféticos do Antigo
Testamento como um referencial que serve para
aferir se Israel está ou não habitando em segurança
na terra. Na realidade, essa frase é usada em
Jeremias 49.31, num contexto de invasão
semelhante ao de Ezequiel 38, onde se lê o seguinte:
“Levantai-vos, ó babilônios, subi contra uma nação
que habita em paz e confiada, diz o Senhor; que
não tem portas, nem ferrolhos; eles habitam a sós”.
É o mesmo sentido no qual o termo foi usado em
Ezequiel 38.8. “Entretanto, esse sentido geral muitas
vezes apresenta uma amplitude semântica negativa
[...] para indicar uma falsa segurança”.[11] O
contexto apóia a conotação de falsa segurança nesta
ocorrência do termo, em face da iminente invasão.
Por outro lado, é possível que o termo não seja
usado no sentido ilusório de falsa segurança, porque
Deus vai livrar miraculosamente a nação de Israel.
Alguns intérpretes tentaram igualar a noção de
habitar “seguramente” com habitar “pacificamente”.
Eles dizem que essa passagem descreve uma
situação na qual Israel se encontra em paz com
todos os seus vizinhos e nenhum destes representa
uma ameaça para os Judeus. Não se pode confirmar
essa noção pelo significado da palavra hebraica
betah, nem pelo contexto dessa passagem. Arnold
Fruchtenbaum comenta o seguinte: “Em nenhum
lugar desse texto há qualquer alusão de que Israel
estaria vivendo em paz. Pelo contrário, a descrição é
de que Israel estaria simplesmente habitando em
segurança, o que significa ‘confiança’, a despeito de
quanto dure um estado de guerra ou de paz. Nas
várias descrições que essa passagem apresenta sobre
Israel, pode-se comprovar que todas são verídicas na
realidade do Estado de Israel atual”.[12]
A quarta caracterização retrata todos eles
vivendo sem muros, sem ferrolhos e sem portas. Já
vimos antes que viver literalmente sem muros
implica que nenhuma de suas cidades ou vilas terá
aquilo que os antigos construíam para conter um
exército invasor. Essa imagem é reforçada pela
informação de que eles não terão ferrolhos [i.e.,
trancas], nem portas, obviamente porque suas
cidades não terão muros. Ferrolhos e portas eram
dispositivos de defesa muito importantes localizados
nas muralhas das cidades da antiguidade.
O que isso significa em relação à invasão? Em
primeiro lugar, essa passagem apresenta a situação
da perspectiva de Gogue, o qual pensa que Israel
não se encontra devidamente protegido e, por isso,
está vulnerável a um ataque-surpresa. Em segundo
lugar, Price salienta que “a segurança de Israel se
baseia no poderio de suas forças armadas, as quais
são consideradas dentre as melhores do mundo e já
têm defendido o país contra adversidades
avassaladoras em várias invasões ocorridas no
passado”.[13] Em terceiro lugar, tais condições
nunca se concretizaram na história de Israel em
momento algum do passado, de modo que só pode
se referir a um tempo ainda futuro, como já
verificamos pela análise das expressões “depois de
muitos dias” e “no fim dos anos” (Ez 38.8). Keil
assevera: “Esta descrição do modo de vida de Israel
também aponta para tempos posteriores que vão
muito além da época do exílio na Babilônia”.[14]
NOTAS 1 CHARLES LEE FEINBERG, THE PROPHECY OF
EZEKIEL, CHICAGO: MOODY PRESS, 1969, P. 221.
2
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.3.
3
Randall PRICE, Comentários Não Publicados Sobre as
Profecias de Ezequiel, 2007, p. 40.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 126.
5
PRICE, Comentários Não Publicados de Ezequiel, p. 40.
6
S. FISCH, Ezekiel: Hebrew Text & English translation with an
Introduction and Commentary, Londres: The Soncino
Press, 1950, p. 255.
7
Francis BROWN, S. R. DRIVER, e C. A. BRIGGS, Hebrew and
English Lexicon of the Old Testament, Londres: Oxford,
1907, edição eletrônica.
8
Confira os seguintes textos: Josué 11.23; 14.15; Juízes
3.11,30; 5.31; 8.28.
9
BROWN, DRIVER, e BRIGGS, Hebrew Lexicon, edição eletrônica;
bem como, KOEHLER e BAUMGARTNER, Hebrew Lexicon,
versão eletrônica.
10
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 7.4.2.
11
G. Johannes BOTTERWECK, e Helmer RINGGREN, orgs.,
Theological Dictionary of the Old Testament, vol. II, Grand
Rapids: Eerdmans, 1977, p. 89.
12
Arnold FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah: A Study of
the Sequence of Prophetic Events, Tustin, CA: Ariel Press,
(1982) 2003, p. 117.
13
PRICE, Comentários Não Publicados de Ezequiel, p. 40-41.
14
C. F. KEIL, Ezekiel, Daniel, Commentary on the Old
Testament, traduzido para o inglês por James Martin,
reimpressão; Grand Rapids: Eerdmans Publishing
Company, 1982, p. 165.
27. VÁRIOS PONTOS
DE VISTA –
(CONTINUAÇÃO 3)
AO CONTINUAR
MINHA DEFESA DA
CONCEPÇÃO PRÉ-
TRIBULACIONISTA/PÓS-
ARREBATAMENTO
ACERCA DA OCASIÃO
EM QUE SE
CUMPRIRÁ A
BATALHA DE GOGUE
E MAGOGUE,
EXPRESSO MINHA
CRENÇA DE QUE A
SITUAÇÃO DE
ISRAEL NO
PRESENTE MOMENTO,
MEADOS DO ANO DE
2009, É MUITO
SEMELHANTE AO QUE
ESTÁ DESCRITO NA
PASSAGEM DE
EZEQUIEL, COM
EXCEÇÃO DA
REFERÊNCIA FEITA
EM EZEQUIEL
38.11, DE QUE
ISRAEL ESTARÁ
“...EM REPOUSO...”
NO INSTANTE EM
QUE ESSA INVASÃO
OCORRER. O
PARTICÍPIO
HEBRAICO SHAQAT
DESCREVE UM POVO
QUE ESTÁ
“TRANQÜILO, EM
DESCANSO E
SERENO”.[1] ESSE
TERMO SIGNIFICA
“ESTAR TRANQÜILO”
OU “DESCANSADO”
NO QUE DIZ
RESPEITO A
CONFLITOS
MILITARES, O QUE
NÃO PARECE SER A
SITUAÇÃO DE
ISRAEL NOS DIAS
ATUAIS. EM VEZ
DISSO, OCORRE
EXATAMENTE O
CONTRÁRIO, JÁ QUE
A NAÇÃO VIVE EM
CONSTANTE
CONFLITO COM SEUS
INIMIGOS. RON
RHODES, UM DOS
QUE CONCORDAM
COMIGO QUANTO AO
MOMENTO EXATO EM
QUE SE DARÁ ESSA
INVASÃO, DECLARA
O SEGUINTE: “A
PALAVRA HEBRAICA
USADA NESSE TEXTO
TRANSMITE A IDÉIA
DE ESTAR
TRANQÜILO OU
SERENO. NOS DIAS
ATUAIS, PODE ATÉ
SER QUE ISRAEL
DESFRUTE DE CERTO
SENSO DE
SEGURANÇA EM
VIRTUDE DE SEU
GRANDE PODERIO
MILITAR, MAS A
NAÇÃO NÃO SE
ENCONTRA ‘EM
REPOUSO’ NAQUELE
SENTIDO DESCRITO
POR EZEQUIEL”.[2]
JÁ QUE TODOS OS
PONTOS DE VISTA
TÊM PROBLEMAS,
EU, ATÉ AGORA,
NÃO ENCONTREI UMA
RESPOSTA QUE
EQUACIONE ESTA
ÚLTIMA
INCONGRUÊNCIA NA
CONCEPÇÃO QUE
ADVOGO. SÓ POSSO
DIZER QUE É
PROVÁVEL QUE
ALGUM
ACONTECIMENTO
OCORRA DEPOIS DO
ARREBATAMENTO,
MAS ANTES AINDA
DA TRIBULAÇÃO,
DURANTE O QUAL
ISRAEL VENHA A SE
ENCONTRAR NA
CONDIÇÃO ACIMA
DESCRITA.
A CONCEPÇÃO MIDI-
TRIBULACIONISTA A
SEGUNDA CONCEPÇÃO
FUTURISTA ACERCA DO
MOMENTO EXATO EM QUE
SE CUMPRIRÁ A
INVASÃO DE GOGUE E
MAGOGUE SUSTENTA QUE
TAL INVASÃO SE DARÁ
EM ALGUM INSTANTE DA
METADE DA
SEPTUAGÉSIMA SEMANA
DA PROFECIA DE
DANIEL, GERALMENTE
CONHECIDA COMO
TRIBULAÇÃO. ESSA É A
CONCEPÇÃO MAIS
AMPLAMENTE ACEITA
POR AQUELES QUE
ACREDITAM QUE ESSE
ACONTECIMENTO
OCORRERÁ NUM TEMPO
QUE, PARA NÓS, AINDA
É FUTURO. ENTRE OS
QUE ADVOGAM ESSA
MESMA CRONOLOGIA DA
INVASÃO LIDERADA POR
GOGUE E MAGOGUE
ESTÃO OS SEGUINTES:
JOHN F. WALVOORD,[3]
PAUL BENWARE,[4] J.
DWIGHT PENTECOST,[5]
MARK HITCHCOCK,[6] E
HAL LINDSEY.[7] SE
EU NÃO CRESSE QUE A
CAMPANHA MILITAR DE
GOGUE OCORRERÁ EM
ALGUM MOMENTO ENTRE
O ARREBATAMENTO E O
INÍCIO DA
TRIBULAÇÃO, APOIARIA
ESSE ÚLTIMO PONTO DE
VISTA.
Alguns que defendem essa concepção
acreditam que a invasão encabeçada por Gogue
acontecerá imediatamente antes do ponto médio
daquele período da Tribulação, enquanto outros
crêem que essa invasão ocorrerá imediatamente
depois do ponto médio da septuagésima semana da
profecia de Daniel. Outros, ainda, advogam que não
se deve assumir uma posição quanto ao momento
exato dessa invasão, mas apenas ter uma
compreensão de que, em termos gerais, ela vai
ocorrer na metade do período da Tribulação.
Mesmo assim, esses pontos de vista são geralmente
agrupados como uma única perspectiva.
“O REI DO NORTE”
Essa concepção pode se tornar muito
complicada quando seus defensores tentam
estabelecer uma ligação entre a profecia de Ezequiel
38–39 e outras passagens bíblicas, como, por
exemplo, Daniel 11.40-45. Uma vez que os
acontecimentos mencionados no capítulo 11 de
Daniel são claramente previstos para ocorrer dentro
do período da Tribulação e que “o rei do Norte”
(Dn 11.40) é considerado uma referência ao Gogue
da profecia de Ezequiel, isso situa o momento da
invasão no ponto mediano da Tribulação de sete
anos.[8] O grande problema dessa concepção é que
o “rei do Norte”, referido em Daniel, não é o Gogue
da profecia de Ezequiel.
A expressão “rei do Norte” é usada por sete
vezes no Antigo Testamento e todas as suas
ocorrências se encontram em Daniel 11 (versículos
6, 7, 11, 13, 15, 40).[9] Quase todos os intérpretes
futuristas acreditam que a profecia registrada em
Daniel 11.1-35 se cumpriu no passado,
especificamente no segundo século a.C. Os reis do
Norte e do Sul, mencionados nos versículos 1-35 se
referem claramente ao “conflito entre os Ptolomeus
e Selêucidas (Dn 11.5-20). Os Ptolomeus, que
governaram o Egito, eram chamados de reis ‘do
Sul’. Os Selêucidas, que governaram a Síria ao
norte de Israel, eram chamados de reis ‘do Norte’”.
[10] O último uso da expressão “rei do Norte”
ocorre no versículo 40, dentro de um contexto
alusivo ao futuro. John MacArthur declara: “Aqui o
texto menciona a grande batalha final na qual o
último exército que vem do Norte contra-ataca a
última potência africana que vem do Sul. O
Anticristo não permitirá tal retaliação e aproveitará a
oportunidade para revidar e vencer, derrotando
ambos os exércitos referidos, como está registrado
nos versículos 41s.”.[11] Portanto, não é provável
que a expressão “o rei do Norte” seja uma
referência à invasão liderada por Gogue, predita em
Ezequiel 38 e 39. A expressão “o rei do Norte” não
é sinônima da expressão “...do extremo norte...” (Ez
38.6; conforme a Nova Versão Internacional –
NVI), principalmente porque as outras seis
ocorrências da expressão “o rei do Norte” se
referem claramente ao rei da Síria.
Outras objeções à prática de estabelecer uma
relação de correspondência entre essas duas
passagens bíblicas se baseiam nas diferenças
gritantes entre a invasão descrita em Ezequiel e a
batalha descrita em Daniel. Embora ambas estejam
prevista para acontecer “no tempo do fim...” (Dn
11.40), o texto bíblico afirma que “...o rei do Sul
lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra
ele...” (Dn 11.40). Trata-se de uma batalha que
envolve o rei do Sul e o rei do Norte, o qual
“...entrará nas terras, e as inundará, e passará” (v.
40b). Isso não tem o mesmo sentido do texto de
Ezequiel 39.4, onde se verifica que Gogue invadirá
Israel, bem como será totalmente destruído nos
montes de Israel. A passagem de Daniel relata que
eles entrariam em combate na terra de Israel,
atravessariam o território israelense e avançariam
para outros países. Na realidade, o texto alista Israel
como um dos países invadidos nessa ocasião (Dn
11.41).
OUTRAS OBJEÇÕES
ARNOLD FRUCHTENBAUM
RELACIONA OUTROS
ARGUMENTOS
CONTRÁRIOS A ESSE
PONTO DE VISTA: EM
SEGUNDO LUGAR, É
DIFÍCIL COMPREENDER
O MOTIVO PELO QUAL
DEUS INTERVIRIA EM
FAVOR DE ISRAEL
NESSE MOMENTO DA
HISTÓRIA E, LOGO
DEPOIS, PERMITIRIA O
DESENCADEAMENTO DOS
ACONTECIMENTOS QUE
SE DARÃO DURANTE A
SEGUNDA METADE DO
PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO ,
CAUSANDO UM GRANDE
DANO A ISRAEL. EM
TERCEIRO LUGAR
[...] É UM EQUÍVOCO
IDENTIFICAR “O REI DO
NORTE”, MENCIONADO
EM DANIEL 11.40, COM
O GOGUE REFERIDO EM
EZEQUIEL 38.1–39.16.
AO LONGO DE TODO O
LIVRO DE DANIEL SÃO
FEITAS REFERÊNCIAS
AO REI DO SUL E AO REI
DO NORTE. A PRIMEIRA
EXPRESSÃO, “REI DO
SUL”, SE APLICA
COERENTEMENTE AO
EGITO, INCLUSIVE A
REFERÊNCIA FEITA NO
VERSÍCULO 40. A
OUTRA EXPRESSÃO SE
APLICA COERENTEMENTE
À SÍRIA, EXCETO
QUANDO OS
PROPOSITORES DESSE
PONTO DE VISTA
PASSAM A ANALISAR O
VERSÍCULO 40; ELES,
ENTÃO, ATRIBUEM A
REFERÊNCIA FEITA
NESSE VERSÍCULO À
RÚSSIA E, ASSIM,
IDENTIFICAM ESSA
PASSAGEM COM O TEXTO
DE EZEQUIEL 38 E 39.
PORÉM, TANTO O
CONTEXTO QUANTO A
COERÊNCIA EXIGIRIAM
QUE A REFERÊNCIA
FEITA NO VERSÍCULO
40 SE APLIQUE À
SÍRIA. A INVASÃO
MENCIONADA EM DANIEL
11.40 É DIFERENTE DA
INVASÃO DESCRITA EM
EZEQUIEL 38 E 39.
TRATAR TODAS AS
OCORRÊNCIAS DA
EXPRESSÃO “O REI DO
NORTE” NO LIVRO DE
DANIEL COMO UMA
REFERÊNCIA À SÍRIA
E, ENTÃO, CONSIDERAR
DN 11.40 COMO A
ÚNICA EXCEÇÃO QUE SE
REFERE À INVASÃO
LIDERADA PELA RÚSSIA
SÓ PARA ENCAIXÁ-LO
CRONOLOGICAMENTE NA
METADE DO PERÍODO DA
TRIBULAÇÃO, É UMA
EXEGESE INCOERENTE E
EQUIVOCADA. EM
QUARTO LUGAR, ESSE
PONTO DE VISTA FALHA
NO EQUACIONAMENTO DO
PROBLEMA DOS SETE
MESES E DOS SETE
ANOS. ESSA CONCEPÇÃO
MIDI-TRIBULACIONISTA
DE INTERPRETAÇÃO DO
TEXTO OBRIGARIA QUE
OS SETE MESES DE
SEPULTAMENTO DOS
INIMIGOS MORTOS
OCORRESSE NA SEGUNDA
METADE DA
TRIBULAÇÃO, UMA
OCASIÃO EM QUE OS
JUDEUS ESTARÃO EM
FUGA E NÃO TERÃO
CONDIÇÕES DE
ENTERRAR SEUS
PRÓPRIOS MORTOS,
QUANTO MAIS OS
CORPOS DOS INVASORES
RUSSOS [...] A
SITUAÇÃO DOS JUDEUS
NA METADE DO PERÍODO
DA TRIBULAÇÃO NÃO
PERMITIRÁ UM TEMPO
DE SETE MESES DE
SEPULTAMENTO, MUITO
MENOS A CONSTRUÇÃO
DE UMA CIDADE. NO
QUE SE REFERE AOS
SETE ANOS DE QUEIMA
DOS ARMAMENTOS, ESSA
CONCEPÇÃO
INTERPRETATIVA
TAMBÉM EXIGIRIA QUE
OS JUDEUS QUEIMASSEM
AS ARMAS DOS
INIMIGOS DURANTE A
SEGUNDA METADE DA
TRIBULAÇÃO, QUANDO,
NA REALIDADE,
ESTARÃO FUGINDO DA
SUA TERRA. ALÉM DO
MAIS, TAL PONTO DE
VISTA OBRIGARIA QUE
ELES CONTINUASSEM
ESSA QUEIMA DURANTE
O MILÊNIO, POR MAIS
3 ANOS E MEIO, O QUE
É INCOERENTE COM A
PURIFICAÇÃO QUE O
MESSIAS EFETUARÁ
NAQUELA TERRA E COM
A RENOVAÇÃO
RESULTANTE. DURANTE
A SEGUNDA METADE DA
TRIBULAÇÃO, AS
AFLIÇÕES QUE OS
JUDEUS ENFRENTARÃO
CERTAMENTE OS
LEVARIAM À TENTATIVA
DE PRESERVAR ESSAS
ARMAS E MANTÊ-LAS EM
SEU PODER, EM VEZ DE
QUEIMÁ-LAS.[12]
Em outras palavras, a fundamentação principal
dos proponentes de tal concepção para situarem o
momento dessa batalha na metade do período da
Tribulação baseia-se na suposta relação do texto de
Daniel com a passagem de Ezequiel. No entanto, se
a referida relação se prova incongruente e ilógica,
não há motivo relevante para se apoiar a
interpretação de um cumprimento midi-
tribulacionista do acontecimento predito no texto de
Ezequiel.
NOTAS 1 FRANCIS BROWN, S. R. DRIVER, E C. A.
BRIGGS, HEBREW AND ENGLISH LEXICON OF THE OLD
TESTAMENT, LONDRES: OXFORD, 1907, EDIÇÃO
ELETRÔNICA.
2
Ron RHODES, Northern Storm Rising: Russia, Iran, and the
Emerging End-Times Military Coalition Against Israel,
Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2008, p. 173.
3
John F. W ALVOORD, The Nations in Prophecy, Grand Rapids:
Zondervan, 1967, p. 113-15.
4
Paul N. BENWARE, Understanding End Times Prophecy,
edição revisada e expandida, Chicago: Moody Press, 2006,
p. 310-12.
5
J. Dwight PENTECOST, Things To Come: A Study in Biblical
Eschatology, Grand Rapids: Zondervan, 1958, p. 344-55.
6
Mark HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis: Radical Islam, Oil,
And The Nuclear Threat, Sisters, OR: Multnomah, 2006,
pp. 184-86, 202.
7
Hal LINDSEY e C. C. CARLSON, The Late Great Planet Earth,
Grand Rapids: Zondervan, 1970, p. 153-pp. 153-63.
8
Veja a obra de HITCHCOCK, Iran The Coming Crisis, p. 202;
bem como a obra de LINDSEY, Late Great, p. 157-60.
9
Baseado em pesquisa realizada através do programa de
computador Accordance, versão 8.1.3.
10
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e Dallas Theological
Seminary, The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983–1985, vol. 1, p. 1368.
11
John MACARTHUR, Jr., The MacArthur Study Bible, edição
eletrônica, Nashville: Word Publishers, 1997, Dn 11.40.
12
(Ênfase do autor original em itálico) Arnold G. FRUCHTENBAUM,
The Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of
Prophetic Events, edição revisada; Tustin, CA: Ariel
Ministries, 2003, p. 118-19.
28. ARMAGEDOM?
NO COMEÇO DO
MILÊNIO?
A quarta concepção de interpretação futurista
situa cronologicamente os acontecimentos descritos
em Ezequiel 38 e 39 no começo do Milênio. Esse
também não é um ponto de vista amplamente aceito.
O Dr. Elliott Johnson, professor do Dallas
Theological Seminary (i.e. Seminário Teológico de
Dallas) apresentou um ensaio teológico em defesa
dessa concepção perante o Pre-Trib Study Group
(i.e. Grupo de Estudos Pré-Tribulacionistas) no ano
de 1993, intitulada “The Time Placement of Ezekiel
37–39” (i.e. “A Localização Cronológica da
Profecia de Ezequiel 37–39”). Arno Gaebelein
também advogou esse ponto de vista, há cerca de
100 anos atrás, no seu comentário do livro de
Ezequiel.[7] De todas as concepções de
interpretação futurista, esta última me parece a
menos provável pelas razões a seguir.
Em primeiro lugar, pelo que está escrito nos
capítulos 13 e 25 de Mateus (veja, também: Jr
25.32-33; Ap 19.15-18), sabe-se que nenhum
descrente terá permissão de entrar no Milênio [i.e. o
reino milenar de Cristo]. “Assim será na
consumação do século: sairão os anjos, e
separarão os maus dentre os justos, e os lançarão
na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de
dentes” (Mt 13.49-50). “Então, dirá o Rei aos que
estiverem à sua direita [i.e. os crentes]: Vinde,
benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que
vos está preparado desde a fundação do mundo”
(Mt 25.34). “Então, o Rei dirá também aos que
estiverem à sua esquerda [i.e. os descrentes]:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41).
Assim, fica absolutamente claro que os Judeus e
Gentios vivos, que entrarem no Milênio com seus
corpos mortais, constituirão a população inicial do
Reino, composta de 100 por cento de crentes em
Cristo. Ninguém, em sã consciência, sugeriria que
Gogue pode ser um crente em Cristo que
comandará um poderoso exército de crentes num
ataque a Israel durante o Milênio. Portanto, os
invasores só podem ser descrentes, o que, se a
invasão ocorresse no Milênio, exigiria centenas de
anos para que essas pessoas nascessem e chegassem
à quantidade numérica descrita em Ezequiel. Isso
não parece factível.
Em segundo lugar, porque “o texto de Isaías
2.4 elimina a possibilidade de que haja uma guerra
durante o reino milenar de Cristo. Só no fim do
Milênio é que irromperá uma guerra, quando
Satanás for solto de sua prisão de mil anos
(Apocalipse 20.7-9)”.[8]
Em terceiro lugar, porque não faz o menor
sentido, diante das condições em vigor durante o
Milênio, conceber a noção de que a terra de Israel
estaria contaminada por sete meses, após ser
invadida por Gogue (Ez 39.12), quando, na
realidade, a terra estará limpa e purificada.
Em quarto lugar, Rhodes assinala que “o texto
de Isaías 9.4-5 prediz que todas as armas de guerra
serão destruídas logo depois da inauguração do
Reino Milenar de Cristo, de modo que a coalizão
militar que vem do norte não teria nenhum
armamento”.[9]
Essa concepção de que a invasão comandada
por Gogue ocorrerá no começo do Milênio tem
pouquíssimo embasamento, exceto pelo aspecto
isolado de que Israel estará vivendo em paz naquele
momento em que for invadido pela coalizão militar
que vem do norte. De fato, essa situação de paz será
a condição de Israel no início e durante todo o
Milênio, porém, além dessa semelhança, não existe
nenhuma similaridade entre o começo do Milênio e
essa profecia de Ezequiel prevista para se cumprir
nos “...últimos dias...”.
NO FIM DO MILÊNIO?
A última concepção de interpretação futurista
propõe que a invasão liderada por Gogue e
Magogue se cumprirá no final do Milênio, na
ocasião daquela breve rebelião mencionada em
Apocalipse 20.7-10. O ponto forte dessa concepção
é o fato de que os nomes de Gogue e Magogue são
especificamente citados nesse texto, como está
escrito: “Quando, porém, se completarem os mil
anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá a
seduzir as nações que há nos quatro cantos da
terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a
peleja. O número dessas é como a areia do mar.
Marcharam, então, pela superfície da terra e
sitiaram o acampamento dos santos e a cidade
querida; desceu, porém, fogo do céu e os
consumiu” (Ap 20.7-19).
Um expressivo número de intérpretes da Bíblia
acredita que a situação descrita nesse texto indica o
momento exato em que se cumprirá a profecia de
Ezequiel.[10] O erudito evangélico, Ralph
Alexander, um dos defensores desse ponto de vista,
declara o seguinte: A maioria dos comentaristas da
Bíblia entende que esses acontecimentos preditos em
Ezequiel 38–39 se cumprirão depois do Milênio,
conforme é descrito em Apocalipse 20.7-10. A força
do argumento em favor dessa posição está na
explícita referência a Gogue e Magogue no texto de
Apocalipse 20.8. O uso desses termos precisa ser
explicado. O contexto do Milênio certamente se
enquadraria no requisito textual da habitação
pacífica, próspera e segura de Israel na sua terra. A
restauração já teria acontecido. As nações estariam
presentes para testemunhar a rebelião de “Gogue”.
Por certo haveria tempo suficiente para o
sepultamento dos corpos e para a queima das armas.
[11]
Paul Tanner também defende esse ponto de
vista nos seguintes termos: Já que existe uma
importante batalha prevista para o final do Milênio,
confronto esse que o apóstolo João relaciona com
Gogue e Magogue, por que não entender que se
trata da mesma batalha mencionada em Ezequiel
38–39? Um aspecto em comum entre essas duas
batalhas é que ambas dirigem seu ataque a Israel.
Isso proporciona o desfecho perfeito que dá sentido
à história bíblica. No texto de Gn 15.18-21, Deus se
compromete, por meio de uma aliança, a fazer de
Israel uma nação e a dar aos Judeus essa terra
especial. No fim do Milênio quando for solto,
Satanás empreenderá um último e desesperado
esforço para aniquilar Israel, a menina dos olhos de
Deus. Se conseguisse fazer com que Deus deixasse
de cumprir a promessa que fez para Israel, Satanás
derrotaria os propósitos de Deus e, assim,
conquistaria a vitória final.[12]
NOTAS 1 DAVE HUNT, HOW CLOSE ARE WE? COMPELLING
EVIDENCE FOR THE SOON RETURN OF CHRIST, EUGENE,
OR: HARVEST HOUSE PUBLISHERS, 1993, P. 267-70.
2
Louis S. BAUMAN, Russian Events in the Light of Bible
Prophecy, Nova York: Fleming H. Revell Company, 1942, p.
180-89; Harry A. IRONSIDE, Ezekiel the Prophet, Neptune,
NJ: Loizeaux Brothers, 1949, p. 265.
3
Arnold G. FRUCHTENBAUM, The Footsteps of the Messiah: A
Study of the Sequence of Prophetic Events, edição
revisada; Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 119.
4
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 130.
5
FRUCHTENBAUM, Footsteps of the Messiah, p. 119.
6
Ron RHODES, Northern Storm Rising: Russia, Iran, and the
Emerging End-Times Military Coalition Against Israel,
Eugene, OR: Harvest House Publishers, 2008, p. 187.
7
Arno C. GAEBELEIN, The Prophet Ezekiel, Nova York: Our
Hope, 1918, p. 252-55.
8
RHODES, Northern Storm Rising, p. 189.
9
RHODES, Northern Storm Rising, p. 189.
10
Por exemplo, A. B. DAVIDSON, The Book of Ezekiel,
Cambridge: Cambridge University Press, 1892, p. 301;
Henry L. ELLISON, Ezekiel: The Man and His Message,
Grand Rapids: Eerdmans, 1959, p. 133; J. Paul TANNER,
“Rethinking Ezekiel’s Invasion By Gog”, publicado no
periódico Journal of the Evangelical Theological Society,
março de 1996, vol. 39, p. 29-45.
11
Ralph H. ALEXANDER, “Ezekiel”, publicado na obra de Frank E.
Gaebelein, org. geral, The Expositor’s Bible Commentary,
12 vol., Grand Rapids: Zondervan, 1986, vol. 6, p. 940.
12
TANNER, “Rethinking”, p. 45.
29. NO FIM DO
MILÊNIO?
DIFERENÇAS NO
PROCESSO DE ESTUDO
BÍBLICO, QUANDO SE
NOTA UMA OU MAIS
SEMELHANÇAS EM DOIS
TEXTOS DISTINTOS, É
MUITO COMUM CHEGAR-
SE À CONCLUSÃO DE
QUE ESSES DOIS
TEXTOS SE REFEREM AO
MESMO ACONTECIMENTO.
É POSSÍVEL QUE SE
REFIRAM AO MESMO
ACONTECIMENTO COMO
TAMBÉM É POSSÍVEL
QUE NÃO SE REFIRAM.
QUANDO SE PENSA QUE
EXISTEM SEMELHANÇAS
ENTRE PASSAGENS
BÍBLICAS, É AÍ QUE
AS DIFERENÇAS ENTRE
OS RESPECTIVOS
TEXTOS SE TORNAM
AINDA MAIS
IMPORTANTES. EM
GERAL, QUANDO
EXISTEM MUITAS
DIFERENÇAS ENTRE
DOIS OU MAIS TEXTOS
BÍBLICOS, O MELHOR
QUE SE TEM A FAZER É
ASSUMIR
CONCLUSIVAMENTE QUE
ESSES VÁRIOS TEXTOS
SE REFEREM A
ACONTECIMENTOS
DISTINTOS. CREIO QUE
ESSE SEJA O CASO DA
ANÁLISE COMPARATIVA
ENTRE OS TEXTOS DE
APOCALIPSE 20 E
EZEQUIEL 38–39. PARA
QUE SE CHEGUE À
CONCLUSÃO DE QUE
ESSAS DUAS PASSAGENS
BÍBLICAS FAZEM
REFERÊNCIA AO MESMO
ACONTECIMENTO, É
PRECISO QUE AS
DIFERENÇAS ENTRE
ESSES TEXTOS SEJAM
PRIMEIRAMENTE
HARMONIZADAS.
Arnold Fruchtenbaum identifica estas duas
objeções a esse ponto de vista, as quais considera
irreconciliáveis: Contudo, há duas objeções muito
importantes a essa concepção. A primeira diz
respeito ao fato de que a invasão predita em
Ezequiel vem do norte; a invasão predita em
Apocalipse vem de todas as partes do mundo. A
segunda alega que esse ponto de vista também falha
em solucionar o problema dos sete meses e sete
anos. Esta Terra atual será aniquilada logo depois da
invasão mencionada em Apocalipse, de modo que
não haveria tempo (nem lugar!) para os sete meses
de sepultamento, muito menos para os sete anos de
queima das armas. Isso exigiria que o referido
sepultamento e a referida queima continuassem
dentro da nova ordem, a do Estado Eterno.[1]
A primeira objeção levantada por
Fruchtenbaum implica que a invasão sob o comando
de Gogue é claramente predita no livro de Ezequiel
como um punhado de nações (i.e., uma invasão
regional) que vêm do norte, ao passo que o ataque a
Jerusalém é predito como uma invasão de muitos
indivíduos que procedem de todas as nações do
mundo, significando, portanto, que a invasão
registrada em Apocalipse vem de todas as direções.
O texto de Ezequiel menciona que Gogue, um ser
humano, será o líder da invasão predita pelo profeta,
ao passo que o próprio Satanás (i.e., um ser de
natureza angelical) será o líder do episódio predito
em Apocalipse 20. John Walvoord concorda com
isso e declara que “não existe nada no contexto de
Ezequiel 38–39 que se assemelhe à batalha
mencionada em Apocalipse”.[2] Walvoord levanta a
seguinte pergunta: “Então, por que o apóstolo João
utiliza a expressão ‘Gogue e Magogue’?”. Afinal,
isso seria um ponto forte dessa concepção. O
próprio Walvoord responde a sua pergunta nos
seguintes termos: As Escrituras não explicam essa
expressão. Para falar a verdade, tal expressão pode
ser tirada da frase sem causar qualquer alteração no
sentido da mesma. No texto de Ezequiel 38, Gogue
era o governante e Magogue era o povo governado,
de modo que ambos estavam em rebelião contra
Deus e eram inimigos de Israel. Talvez esses termos
possam ser usados em sentido simbólico, assim
como alguém pode se referir à vida de uma pessoa
dizendo que ela passou por um “Waterloo”. Em
termos históricos, esse nome diz respeito à derrota
de Napoleão em Waterloo, na Bélgica, mas pode
representar simbolicamente qualquer desastre de
grandes proporções. Aqui nesse texto de Apocalipse,
os exércitos vêm motivados pelo mesmo espírito de
oposição a Deus que se encontra na passagem de
Ezequiel 38.[3]
Ao que me parece, a segunda objeção
levantada por Fruchtenbaum se constitui num
problema insuperável para o referido ponto de vista.
Embora Paul Tanner, um dos defensores desse
ponto de vista, afirme, em termos gerais, que
“certamente haveria tempo hábil para o
sepultamento dos corpos e para a queima das
armas”,[4] ele não fornece nenhum detalhe mais
específico sobre esse assunto. Ralph Alexander faz
uso de uma generalização semelhante quando
declara que “haveria, sem dúvida, tempo suficiente
para o sepultamento dos corpos e para a queima das
armas”.[5] Dessa forma, acho que Alexander teria
de pressupor um período de sete anos cuja ocasião
se estenderia para além dos mil anos preditos em
Apocalipse 20. Entretanto, o texto de Ezequiel
39.12 afirma que o propósito do sepultamento dos
inimigos mortos é “...para limpar a terra”. Por que
a terra precisaria ser limpa ou purificada, se no final
do Milênio já haverá uma estrondosa destruição dos
céus e da terra por fogo? O fluxo do texto de
Apocalipse deixa claro que Satanás e todos aqueles
que participarem da rebelião mundial contra Deus
sofrerão um juízo instantâneo que lhes sobrevirá de
imediato. Então, há uma mudança de cenário nos
próximos versículos de Apocalipse 20, v. 11-15,
para focalizar a cena do Julgamento do Grande
Trono Branco, seguida pela cena do “...novo céu e
nova terra...” nos capítulos 21 e 22. O texto de
Apocalipse 21.1 acrescenta a seguinte frase: “...pois
o primeiro céu e a primeira terra passaram...”.
A DESTRUIÇÃO POR
FOGO NO TEXTO
ORIGINAL DE
APOCALIPSE, HÁ DUAS
PALAVRAS GREGAS QUE
REQUEREM UMA ATENÇÃO
ESPECIAL. A PRIMEIRA
SE ENCONTRA NO TEXTO
DE APOCALIPSE 20.9,
QUANDO DIZ QUE
“...DESCEU, PORÉM, FOGO
DO CÉU E OS
CONSUMIU”, OU SEJA,
CONSUMIU AQUELAS
PESSOAS QUE VIERAM
DE TODAS AS NAÇÕES
DA TERRA E QUE
SITIARAM A CIDADE DE
JERUSALÉM. A PALAVRA
GREGA TRADUZIDA POR
“CONSUMIU” É O VERBO
KATAPHAGO, CUJO
SIGNIFICADO GERAL É
O DE “CONSUMIR PELO
ATO DE COMER;
DEVORAR”. UM
DICIONÁRIO LÉXICO DA
LÍNGUA GREGA
ENQUADRA O USO QUE O
TEXTO DE APOCALIPSE
20.9 FAZ DESSA
PALAVRA DENTRO DO
CAMPO SEMÂNTICO DE
“DESTRUIR
COMPLETAMENTE” E,
“NO QUE SE REFERE AO
FOGO: CONSUMIR OU
QUEIMAR ALGUÉM”.[6]
A CLARA IMPLICAÇÃO
DESSA PALAVRA É A DE
QUE NÃO RESTARÃO
CADÁVERES PARA SEREM
SEPULTADOS, PORQUE
AQUELAS PESSOAS
MENCIONADAS NO TEXTO
SERÃO QUEIMADAS E,
PORTANTO, CONSUMIDAS
PELO FOGO QUE DEUS
ENVIARÁ DO CÉU. POR
ISSO, A OCORRÊNCIA
DESSA PALAVRA NÃO
PERMITE NENHUMA
RELAÇÃO COM AQUELE
PERÍODO DOS SETE
ANOS DE PURIFICAÇÃO
DA TERRA DE ISRAEL
PREVISTO NA PROFECIA
DE EZEQUIEL.
A outra palavra grega se encontra em
Apocalipse 21.1 que diz: “Vi novo céu e nova terra,
pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram...”. O termo “passaram” é a tradução do
verbo grego parerhomai que significa basicamente
“ir embora; partir; perecer”. O dicionário léxico da
língua grega afirma que no contexto dessa passagem
a palavra tem o sentido de “descontinuar um estado
ou condição; desaparecer”.[7] Esse texto bíblico,
juntamente com Apocalipse 20.9, alicerça o conceito
de que os céus e a Terra, que agora existem, serão
destruídos quando o período de mil anos chegar ao
fim, fato esse que impede o cumprimento dos
detalhes preditos em Ezequiel 39.9-16 no mesmo
momento histórico de Apocalipse 20 e que,
portanto, inviabiliza a concepção proposta por esse
último ponto de vista.
Além do mais, a passagem bíblica de 2Pedro
3.10-13 se refere à futura destruição dos céus e terra
atuais, numa linguagem sincronizada com o que está
escrito em Apocalipse 20 e 21. “Virá, entretanto,
como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus
passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos
se desfarão abrasados; também a terra e as obras
que nela existem serão atingidas. Visto que todas
essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser
tais como os que vivem em santo procedimento e
piedade, esperando e apressando a vinda do Dia
de Deus, por causa do qual os céus, incendiados,
serão desfeitos, e os elementos abrasados se
derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa,
esperamos novos céus e nova terra, nos quais
habita justiça”. Grande parte do vocabulário usado
no texto de Apocalipse também se encontra em
2Pedro. Nesse caso, chega-se à conclusão de que
essa passagem de 2Pedro 3 é uma expansão do que
o apóstolo João viu e registrou em Apocalipse. Isso
significa que, depois dos mil anos do reinado de
Cristo, este planeta Terra em que vivemos será
queimado e totalmente destruído. Talvez isso
explique a razão pela qual Deus enviará fogo do Céu
sobre os rebeldes que sitiarem Jerusalém, já que tal
ato divino seria a primeira etapa da destruição total
do planeta Terra. Portanto, não há como forçar uma
interpretação de que os detalhes da invasão
mencionada em Ezequiel se refiram ao mesmo
acontecimento predito em Apocalipse.
MAIS ALGUMAS
DIFERENÇAS QUANTO
MAIS EU ANALISO
COMPARATIVAMENTE OS
DETALHES DO TEXTO DE
EZEQUIEL COM O TEXTO
DE APOCALIPSE 20.7-
10, MAIS EU PERCEBO
QUE OS
ACONTECIMENTOS
PREDITOS NESSAS
PASSAGENS BÍBLICAS
SÃO NITIDAMENTE
DIFERENTES. OUTRO
DETALHE VERIFICADO
NO TEXTO DE
EZEQUIEL, QUE NÃO
FAZ O MENOR SENTIDO
À LUZ DE APOCALIPSE
20, É O FATO DE QUE
GOGUE E SEUS ALIADOS
NA INVASÃO SERÃO
SEPULTADOS PELOS
ISRAELENSES NUM VALE
QUE, SEGUNDO O
TEXTO, SE LOCALIZA A
LESTE DO MAR
MEDITERRÂNEO.
CHARLES DYER
ACRESCENTA O
SEGUINTE: O VALE
ONDE O EXÉRCITO DE
GOGUE SERÁ SEPULTADO
SE LOCALIZA “AO
ORIENTE” DO MAR
MORTO, NUM
TERRITÓRIO QUE
ATUALMENTE PERTENCE
À JORDÂNIA. NA FRASE
“O VALE DOS
VIAJANTES”, A
EXPRESSÃO “DOS
VIAJANTES” PODE SER
INTERPRETADA COMO UM
NOME PRÓPRIO
HEBRAICO. É POSSÍVEL
QUE SE REFIRA AOS
“MONTES DE ABARIM”,
SITUADOS A LESTE DO
MAR MORTO, OS QUAIS
ISRAEL ATRAVESSOU NO
SEU PERCURSO PARA A
TERRA PROMETIDA (CF.
NM 33.48). SE FOR
ESSE O CASO, O
SEPULTAMENTO DE
GOGUE OCORRERÁ NO
VALE DE ABARIM, DO
OUTRO LADO DA PARTE
DO MAR MORTO QUE
PERTENCE A ISRAEL, A
SABER, NA TERRA DE
MOABE. CONTUDO, O
TEXTO DE EZEQUIEL
DIZ QUE O
SEPULTAMENTO SERÁ
“EM ISRAEL”, PELO
FATO DE QUE ISRAEL
DETEVE O CONTROLE
DAQUELA REGIÃO
DURANTE ALGUNS
PERÍODOS DE SUA
HISTÓRIA (CF. 2SM
8.2; SL 60.8).[8]
Essa falta de sincronia entre os detalhes das
duas passagens bíblicas examinadas demonstra que
elas não tratam do mesmo acontecimento.
Por que o Senhor determinaria que Israel
fizesse do local de sepultamento de Gogue um
memorial para as futuras gerações, se Ele já sabia
que estava prestes a queimar e destruir todo o
planeta? Isso não faz sentido! Mark Hitchcock
salienta que “esses capítulos estão inseridos num
contexto que prediz a restauração de Israel (Ez 33–
39), vindo, em seguida, uma descrição do Templo
que existirá no Milênio e dos sacrifícios que nele
serão oferecidos (Ez 40–48). A invasão, registrada
nos capítulos 38 e 39, faz parte da restauração de
Israel, a qual, em termos cronológicos, se cumprirá
antes que o Reino Milenar de Cristo seja
oficialmente estabelecido.[9]
NOTAS 1 ARNOLD G. FRUCHTENBAUM, THE FOOTSTEPS OF
THE MESSIAH: A STUDY OF THE SEQUENCE OF
PROPHETIC EVENTS, EDIÇÃO REVISADA; TUSTIN,
CA: ARIEL MINISTRIES, 2003, P. 121.
2
John F. W ALVOORD, Roy B. ZUCK e DALLAS THEOLOGICAL
SEMINARY., The Bible Knowledge Commentary: An
Exposition of the Scriptures, Wheaton, IL: Victor Books,
1983 – 1985), vol. 2, p. 981.
3
W ALVOORD, The Bible Knowledge Commentary, vol. 2, p.
981.
4
J. Paul TANNER, “Rethinking Ezekiel’s Invasion By Gog”,
publicado no Journal of the Evangelical Theological
Society, March 1996, vol. 39, p. 45.
5
Ralph H. ALEXANDER, “Ezekiel”, publicado na obra organizada
por Frank E. GAEBELEIN, The Expositor’s Bible Commentary,
12 vol., Grand Rapids: Zondervan, 1986, vol. 6, p. 940.
6
William ARNDT, Frederick W. DANKER e Walter BAUER, A
Greek-English Lexicon of the New Testament and Other
Early Christian Literature, 3ª edição, Chicago: University of
Chicago Press, 2000, p. 532.
7
ARNDT, DANKER e BAUER, A Greek-English Lexicon, p. 103.
8
(Grifo do Autor Original), Charles H. DYER, “Ezekiel”,
publicado na obra organizada por John F. W ALVOORD e Roy
B. ZUCK, The Bible Knowledge Commentary: An Exposition
of the Scriptures, Old Testament, Wheaton, IL: Victor
Books, 1983–1985, p. 1302.
9
Mark HITCHCOCK, After The Empire: Bible Prophecy in Light
of the Fall of the Soviet Union, Wheaton, IL: Tyndale House
Publishers, 1994, p. 134.
30. EZEQUIEL 38 E
39 - RESUMINDO
A SITUAÇÃO DE ISRAEL
O texto bíblico nos informa que, no momento
dessa invasão, Israel já terá se recuperado da espada
(Ez 38.8), o que só pode se referir à sua situação
atual ou a alguma ocasião depois de nossos dias.
Essa recuperação da espada deve ter relação com as
derrotas judaicas nos anos 70 d.C. e 135-136 d.C.,
quando a longa Diáspora dos Judeus teve início e
também deve estar relacionada com o
reagrupamento de Israel “...que se congregou dentre
muitos povos...” (v. 8). Em conjunto com as
expressões “...depois de muitos dias...” e “...no fim
dos anos...” (Ez 38.8), parece claro que o texto faz
alusão a um episódio que ainda vai acontecer no
futuro, provavelmente associado com o período da
Tribulação.
Esse texto prediz que toda a nação de Israel
estaria “...habitando seguramente...” na sua terra
quando a invasão ocorrer (Ez 38.8). Creio que esse
fato seja o maior desafio à concepção, por mim
defendida, de que essa invasão acontecerá depois do
Arrebatamento da Igreja, mas antes do começo da
70ª semana profetizada por Daniel, a saber, antes da
Tribulação vindoura. Alguns intérpretes têm tentado
igualar o conceito de viver “seguramente” com o de
viver “pacificamente”. Tais intérpretes afirmam que
essa passagem descreve uma situação em que Israel
estaria vivendo em paz com todos os países vizinhos
e que nenhum destes seria uma ameaça para os
judeus. Essa interpretação não tem nenhuma
sustentação no significado da palavra hebraica
betah, nem é apoiada pelo contexto da passagem.
Arnold Fruchtenbaum comenta o seguinte:
Em nenhum lugar desse texto há qualquer alusão de
que Israel estaria vivendo em paz. Pelo contrário, a
descrição é de que Israel estaria simplesmente
habitando em segurança, o que significa “confiança”, a
despeito de quanto dure um estado de guerra ou de
paz. Nas várias descrições que essa passagem
apresenta sobre Israel, pode-se comprovar que todas
são verídicas na realidade do Estado de Israel atual.[1]