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7 Circular’ écnica Setembro, 2007 8600-970, Londrina, PR Jrenate@enpso embrapa.br ‘Alexandre L. Nepomuceno Eng Agrénomo, De Emorapa Soja x Postal 231 .86007-970, Lonctina, PR rnepo@enoso.embrapa br Norman Neumaior Eng? Agronomo, Dr. Embrapa Soja Cx Postal 231 8600-970, Londrna, PR orman@enpso.embrapa.br Issn 1516-7860 Ecofisiologia da Soja Na atual agricultura globalizada, incrementos nos rendimentos e redugao dos custos e dos riscos de insucesso passaram a ser exigéncias basicas 4 competitividade. De todos 08 fatores inerentes produgao agricola, o clima aparece como aquele de mais dificil controle e maior agao sobre a limitagdo as maximas produtividades. Aliado a isto, a imprevisibilidade das variabilidades do clima confere & ocorréncia de adversidades climaticas o principal fator de risco e de insucesso na exploragao das principais culturas. Estresses abidticos como a seca, 0 excesso de chuvas, temperaturas muito altas ou baixas, baixa luminosidade, etc., podem reduzir significativamente rendimentos em lavouras e restringir os locals, as épocas e os solos onde espécies comercialmente importantes podem ser cultivadas. Problemas das mais variadas ordens podem surgir e normalmente surgem durante a safra. Quando se trata de atividade econdmica com margens de lucro tao estreitas, como as da atual sojicultura praticada no Brasil, néo ha espago para riscos & interpretacées dibias, por mais insignificantes que paregam. Para que praticas possam ser aplicadas nos momentos em que irdo proporcionar maxima eficiéncia, é necessario bom conhecimento de como a sua lavoura de soja cresce e se desenvolve. A caracterizagao dos estadios de desenvolvimento da planta de soja é essencial para a descrigao dos varios periodos que a lavoura atravessa durante o ciclo da cultura. Asoja 6 uma importante fonte de divisas para o Brasil, contribuindo com uma parcela significativa das exportagées brasileiras. Além disso, inimeras familias brasileiras das mais diversas classes econdmicas dependem diretamente dos empregos gerados pelo ‘complexo de produgao, transporte e industrializagao da soja. No entanto, 0 sucesso de todo esse complexo é ainda hoje extremamente dependente das condigdes climaticas. A queda na produgao de soja no Brasil tem como uma das principais causas a ocorréncia de secas, principaimente nos estados do centro-sul do Pais. Melhor entendimento das exigéncias climaticas da cultura e das relagdes da agua no sistema solo-planta- atmosfera pode contribuir para a redugo dos riscos de insucesso da produgao agricola, |-Estadios Fenolégicos © uso de uma linguagem unificada na descrigao dos estadios de desenvolvimento agiliza o seu entendimento porque facilita a comunicagao entre os diversos piblicos envolvides com a soja. Portanto, a metodologia de descrigao dos estadios de desenvolvimento deve apresentar uma terminologia dnica, ser objetiva, precisa © universal, ser capaz de descrever um Unico individuo ou uma lavoura inteira e ser capaz de descrever qualquer cultivar. A metodologia de descrigao dos estadios de desenvolvimento proposta por Fehr & Caviness (1977) & a mais utllizada no mundo inteiro e apresenta todas essas caracteristicas. Aclassificagao dos estadios de desenvolvimento da soja, proposta por Fehr e Caviness. (1977), identifica precisamente o estadio de desenvolvimento em que se encontra uma planta ou uma lavoura de soja. Aexatidao na identificagdo dos estédios nao sé 6 til, mas absolutamente necessaria para pesquisadores, agentes das assisténcias técnicas plblica e privada, extensionistas ¢ produtores, pols facilita as comunicagbes oral € escrita, uniformizando a linguagem e eliminando as interpretacdes subjetivas Porventura existentes entre esses piiblicos. A aplicagao de agroquimicos em uma lavoura em estadio de desenvolvimento nao apropriado pode ter graves conseqiiéncias (econémicas, ecolégicas, sanitarias). Assim, é absolutamente necessario que o agrénomo, que recomenda alguma pratica, e 0 produtor, que ira executé-la, estejam falando a mesma linguagem. A utilizagao da classificagéo dos estadios de desenvolvimento da soja permite perfeito entendimento, eliminando a possibilidade de erros de interpretagao. sistema proposto por Fehr e Caviness (1977) divide os estadios de desenvolvimento da soja em estadios vegetativos e estadios reprodutivos. Os estadios vegetativos sao designados pela letra V e os reprodutivos pela letra R. Com excecao dos estddios VE (emergéncia) e VC (cotilédone), as letras Ve R so seguidas de indices numéricos que identificam estadios especificos, nessas duas fases do desenvolvimento da planta, 2lEcotisiologia da soja |.1. Estadio Vegetativos (Oné € a parte do caule onde a folha se desenvolve e € usado para a determinacao dos estadios vegetativos Porque é permanente, enquanto que a folha é temporaria, Podendo se desprender do caule. Os nés cotiledonares 0 opostos no caule e cada um deles possui (ou possula) um cotilédone. Para a determinagdo dos estadios vegetativos (V1 a Vn), os nés cotiledonares nao so considerados, pois nao possuem (ou possulam) folhas verdadeiras. Os nés imediatamente acima dos cotiledonares sao os nés das folhas unifolioladas e sao, também, opostos no caule e cada um deles, também, ossui (ou possula) uma folha unifoliolada. Nés opostos ‘ocupam a mesma posi¢ao no caule e, por isso, so considerados como um né apenas. Todos os nés acima dos unifoliolados so allemados, ocupam diferentes posigdes no caule e possuem (ou possulam) folhas \rifolioladas. As folhas jovens possuem foliolos que, no inicio de seu desenvolvimento, se assemelham a llindros. Ao se desenvolverem, os folfolos se desenrolam e 08 bordos se separam até a abertura completa dos mesmos. Uma folha considerada completamente desenvolvida quando esta totalmente aberta e os bordos dos foliolos da folha do né imediatamente acima néo mais se tocam (Figura 1). A folha apical est completamente desenvolvida quando seus foliolos j4 se encontram abertos e se assemelham aos das folhas abaixo dela (Neumaier etal, 2000). é : 5 Figura 1: Folha de soja com follolos cujos bordos nao mais se tocam, © estadio vegetative denominado VE representa a ‘emergéncia dos cotilédones, isto 6, uma plantula recém, emergida é considerada em VE. Uma planta pode ser considerada emergida quando encontra-se com os cotilédones acima da superficie do solo e os mesmos formam um angulo de 90, ou maior, com seus respectivos hipocdtilos (Figura 2), © estadio vegetative denominado VC representa o estadio em que os cotilédones se encontram completamente abertos e expandidos. Uma planta & considerada em VC quando as bordas de suas folhas nifolioladas nao mais se tocam (Figura 3). A partir do VC, as subdivis6es dos estadios vegetativos sao numeradas seqiiencialmente (V1, V2, V3, V4, V5, V6,...Vvn, onde n é 0 numero de nés, acima do nd coliledonar, com folha completamente desenvolvida). Assim, uma plantula esta em V1 quando as folhas unifolioladas (opostas, no primeiro né foliar) estiverem completamente desenvolvidas, isto 6, quando os bordos dos foliolos da primeira folha trifoiolada nao mais se tocarem. De modo semelhante, uma planta atinge o estédio V2 quando a primeira folha trifoliolada estiver completamente desenvolvida, ou seja, quando os bordos dos foliolos da segunda folha trifoliolada nao mais se tocarem (Figura 4). E assim, sucessivamente, para V3, V4, V5, V6,...Vin, conforme apresentado na Tabela 1 Foto: Norman Neumaier Foto: Norman Neumaier Figura 3: Plantula de soja em estadio VC (cotiledone). Foto: Norman Neumaior Figura 4: Planta de soja em estadio V2. ‘Tabela 1. Descrigéo suméria dos estédios vegetativos da soja, Obs: Né cotiledonar nao é considerado. 'Nés unifoliolares sto considerados como umné, jé que so ‘postos e ocupam a mesma altura no caule. Uma folha é considerada completamente desenvolvida quando ‘os bordos dos trifélios da olha seguinte (acima)néo mais se tocam. 1.2, Estadios reprodutivos (Os estadios reprodutivos so denominados pela letra R seguida dos nimeros um até alto e descrevem detalhadamente o periodo florescimento-maturagao. Os estadios reprodutivos abrangem quatro distintas fases do desenvolvimento reprodutivo da planta, ou seja, florescimento (R1 e R2), desenvolvimento da vagem (R3 © R4), desenvolvimento do grao (RS © R6) ¢ maturacao da planta (R7 e R8). Na Tabela 2 sao apresentados sumariamente os estadios reprodutivos da soja. Tabela 2. Desoricao sumaria dos estadios reprodutives da soja. Obs. Gaule significa a haste principal da planta. Utimas nés se referem aos titimos nés superiores. Uma fotha ¢ considerada completamente desenvolvida quando 108 bordos dos triflios da folha seguinte (acima) néo mais se tocam. A proposta de Fehr e Caviness (1977) no apresenta subdivisGes dos estadios de desenvolvimento da soja. Entretanto, para melhor detalhamento do estadio R5, Ritchie et al. (1977) propée sua subdivisdo em cinco sub- estadios: © R5,1-grdos perceptivels ao tato (o equivalente a 10% da granagao); R5,2- granagdode 11% a 25%; R5,3- granagaode 26% a 50%; R5,4- granagdode 51% a 75%: R5,5- granagode 76% a 100%. Ecofisiologia da soja ls ll-Exigéncias Climaticas Dos elementos climaticos, a temperatura, 0 fotoperiodo e a disponibilidade hidrica so os que mais afetam o desenvolvimento e a produtividade da soja, 4. Temperatura Asojase adapta melhor as regiées onde as temperaturas ‘oscilam entre 20°C ¢ 30°C sendo que a temperatura ideal para seu desenvolvimento esté em tomo de 30°C. Recomenda-se que a semeadura da soja ndo deve ser realizada quando a temperatura do solo estiver abaixo dos 20°C, pois a germinacao e a emergéncia da planta ficam comprometidas. A faixa de temperatura do solo adequada para a semeadura varia entre 20°C a 30°C, sendo 25°C a temperatura ideal para uma emergéncia rapida e uniforme. Regides com temperaturas menores ou iguais a 10°C graus S20 impréprias ao cultivo da soja, pois nesses locais 0 crescimento vegetative da soja ¢ pequeno ou ‘nulo. Por outro lado, temperaturas acima de 40°C tém efeito adverso na ‘taxa de crescimento, provocam ‘estragos na floragéo © diminuem a capacidade de retengao de vagens. Esses problemas se acentuam com aocorréncia de déficits hidricos. Para a produgao de sementes de soja com qualidades fisiolégicas @ sanitérias superiores, séo_indicadas regides com temperaturas do ar mais amenas (inferiores 422°C) durante a fase de maturacao da cultura (Costa et al., 1994). ‘Afloragao da soja somente & induzida quando ocorrem temperaturas acima de 13°C. As diferencas de data de florago, entre anos, apresentadas por uma cultivar semeada em uma mesma época séo devido as variagdes de temperatura. Assim, a Soja floresce antes do tempo quando ocorrem altas temperaturas, 0 que pode acarretar diminuigéo na altura da planta, Este problema pode ser agravado se, a0 mesmo tempo, ‘ocorrerinsuficiéncia hidrica efou fotoperiédica durante a fase de crescimento. Diferencas de data de floragao entre cultivares, numa mesma época de semeadura, num mesmo local, s4o devido, principalmente, a resposta diferencial das cultivares ao comprimento do dia (fotoperiodo). ‘Amaturacdo pode ser acelerada pela ocorréncia de altas temperaturas. Quando vém associadas a periodos de alta umidade, as altas tempertaturas contribuem para diminuir a qualidade das sementes e, quando associadas a condigées de baixa umidade, predispdem as sementes a danos mecdnicos durante a colheita, ‘Temperaturas baixas na fase de maturacao, associadas ‘a periodos chuvosos ou de alta umidade, podem provocar atraso na data da colheita, bem como haste verde e retengao foliar. 1.2. Fotoperiodo A adaptagao de diferentes cultivares a determinadas regides depende, além das exigéncias hidricas térmicas, de sua exigéncia fotoperiédica. A sensibilidade ao fotoperiodo é caracteristica varidvel entre cultivares, ou seja, cada cultivar possui seu fotoperiodo critico, cima do qual o florescimento ¢ atrasado. Por estarazo, ‘soja é considerada planta de dia curto,

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