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INICIAÇÃO A JUNG: COMO A VISÃO JUNGUIANA PODE AJUDAR


EM UMA NOVA ORDEM NO MUNDO

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Eleanor Madruga Luzes, M.D. Ph.D

Jung escreveu vastamente como funcionava a psique, e a estrutura dos


complexos, assim como dos arquétipos e sobre a sombra, e mesmo sobre a
questão do mal. Na verdade, a partir dele já não seria mais para tratar de doenças
e sim de doentes, e os termos patológicos, são menos relevantes em sua obra do
que tratar de pessoas, e curá-las de seus problemas, visto que sempre ele
procurou a compreensão dos acontecimentos psíquicos. A obra de Jung não é
uma fixação de sucessivos motivos patológicos, nem tão pouco um exercício
mental, sem objetivo de construir uma nova realidade psíquica para seus
pacientes. Foi um incansável pesquisador, de austera responsabilidade científica
que junto Wolfgang Pauli (1900-1958) físico, professor de física teórica,
ganhador do prêmio Nobel em 1945 elaborou o livro “Explicação da Natureza e
Psique”. Além disto, ambos trocaram correspondência até a morte do físico. Na
verdade Jung buscou compreender como a energia psíquica se comporta, mas
só publicou seu livro “Energia Psíquica”, após W. Pauli ter publicado seu livro
que haviam feito em parceria, supracitado.

A visão de Jung, propunha uma compreensão ampla e empírica, sem


direcionamento prévio, para poder de fato compreender o que se passa com cada
indivíduo que esta à frente de um terapeuta, assim dizia:

“Se eu quero compreender o ser humano como indivíduo eu tenho que


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1- Psiquiatra, Analista Junguiana, Doutoranda do Instituo de Psicologia da UFRJ – defendendo tese sobre a “Necessidade do

Ensino da Ciência do Início da Vida

deixar de lado todo conhecimento científico do homem mediano e jogar


fora todas as teorias para poder adotar uma atitude completamente nova
e sem preconceitos. Só posso chegar perto da tarefa de compreender,
com uma mente aberta e livre e aberta porque conhecer o homem,
pressupõem todo tipo de conhecimento sobre a raça humana em geral”
(JUNG, 1978, p. 250)

A primeira coisa a considerar é que a visão da psicologia Junguiana vê a


psique como um sistema relativamente fechado, onde os eventos se passam
dentro de uma movimentação de energia.

Para ilustrar a compreensão fiz os esquemas abaixo. Mas imaginem isto


de modo tridimensional, sendo que o meio azul e azul escuro seria com que de
ar, as transmissões de eventos se passam muito rápido. Já a consciência seria um
meio de água, enquanto o ego um meio como gel. Com isto tento explicar que a
velocidade de acontecimentos nestes meios é diferente, assim como o ritmo das
modificações.
É importante que na formação dos complexos, tanto influencia a
constelação arquetípica com que o indivíduo nasceu como um complexo pode
aumentar ou diminuir o outro, e importa também a ação do meio ambiente em
cima daquela específica estrutura arquetípica.

“Mas a psique humana contém inúmeras coisas que nunca foram


adquiridas, porque a mente humana não nasceu como uma tabula rasa,
nem cada homem possui um cérebro inteiramente novo e único. Ele
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nasce com um cérebro que é o resultado do desenvolvimento de uma série


interminavelmente longa de ancestrais. Este cérebro é produzido em
cada embrião, com toda a sua perfeição diferenciada.” (JUNG,
1984, p. 386)

Dentro da estrutura arquetípica, é preciso considerar o arquétipo de mãe


com que a criança nasce, pois isto vai tingir a maneira como a criança introjeta a
experiência com sua mãe, que Jung demonstra ser extremamente importante
para o desenvolvimento do ser humano:

“A relação mãe-filho, é, de qualquer modo, a mais profunda e a mais


comovente que se conhece; de fato, por um certo tempo, a criança é, por
assim dizer, parte do corpo da mãe! Mais tarde, faz parte da atmosfera
psíquica da mãe por vários anos, e, deste modo, tudo o que há de
original na criança acha-se indissoluvelmente ligado à imagem da
mãe. Isto é verdade não só nos casos individuais, mas é atestado
também pela História.” (JUNG, 1984, p. 388)

A questão de desenvolvimento da saúde e mesmo do que Jung chamou de


Processo de Individuação1, depende que o ego, ao invés de gravitar em torno do
complexo, funcione em comunicação com seu Self, o que se traduziria por uma
capacidade de estar bem consigo e também com a sociedade, de modo criativo e
participativo e adequado.
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1–
Para aqueles que não estão familiarizados com a psicologia complexa talvez pareça
uma pura perda de tempo insistir na diferença, há muito tempo introduzida, entre
‘tornar-se consciente’ e ‘realizar-se a si mesmo (individuação). Mas observo cada vez
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mais que se confunde o processo de tornar-se consciente, e que o eu é,


conseqüentemente identificado com o Si-mesmo, o que naturalmente acarreta uma
irremediável confusão de conceitos, pois com isto a individuação se transforma em
mero egocentrismo e auto-erotismo. Ora, o Si-mesmo compreende infinitamente muito
mais do que apenas o eu, como no-lo mostra o simbolismo desde épocas
imemoriais:significa tanto o Si-Mesmo dos outros, ou os próprios outros, quanto eu. A
individuação não exclui o mundo; pelo contrário, o engloba. ( JUNG, 1966 (a), p.
162)

 INCONSCIENTE:

“... além do material reprimido, o inconsciente contém todos


aqueles componentes psíquicos subliminais, inclusive as percepções
subliminais dos sentidos. Sabemos que, além disso, tanto por uma
farta experiência como por razões teóricas, que o inconsciente
também inclui componentes que ainda não
alcançaram o limiar da consciência. Constituem eles as sementes
de futuros conteúdos consciente. Temos igualmente razões para
supor que o inconsciente jamais se acha em repouso, no sentido de
permanecer inativo, mas está sempre empenhado em agrupar e
reagrupar seus conteúdos”. (JUNG, 1981, b, p. 117).

O inconsciente não é só determinado historicamente, mas gera


também o impulso criador – à semelhança da natureza que é
tremendamente conservadora e anula seus próprios
condicionamentos históricos com seus atos criadores.”. (JUNG,
1984, p. 162 -163)
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“A apreciação da psique inconsciente como fonte de


conhecimento não é, de forma nenhuma, tão ilusória como nosso
racionalismo ocidental pretende. Nossa tendência é supor que
qualquer conhecimento provém, em última análise, do exterior”.
(JUNG, 1984, p. 361)

“O inconsciente, em vista de sua extensão indeterminável,


poderia talvez ser comparado ao mar, e o consciente seria
apenas uma ilha que se erguesse sobre o mar. Mas devemos parar aí
na comparação, pois a relação entre o consciente e o
inconsciente é essencialmente diversa da que existe entre a ilha
e o mar. Não há nenhuma relação estável, mas reina uma troca
continua e um deslocamento constante dos conteúdos”. (JUNG,
1981, c, p. 55)

 INCONSCIENTE PESSOAL E O INCONSCIENTE


COLETIVO:

“O fato de o inconsciente conter como que duas camadas: uma


pessoal e outra coletiva. A camada pessoal termina com as
recordações infantis mais remotas; o inconsciente coletivo, porém,
contém o tempo pré-infantil, isto é, os restos da vida dos
antepassados. As imagens não preenchidas, por serem formas não
vividas pessoalmente pelo individuo. Quando, porém, a regressão da
energia psíquica ultrapassa o próprio tempo da primeira infância,
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penetrando nas pegadas ou na herança da vida ancestral, aí despertam


os quadros mitológicos: os arquétipos”. (JUNG, 1981, b, p. 69).

 INCONSCIENTE COLETIVO:

“O inconsciente coletivo compõe-se: primeiro, de percepções,


pensamentos e sentimentos sublimais que não são reprimidos devido a
sua incompatibilidade pessoal, mas que devido à intensidade
insuficiente do seu estímulo ou pela falta do exercício da libido
ficam desde o início aquém do limiar da consciência; segundo de
restos subliminais de funções arcaicas, que existem a priori e que
podem ser acionados a qualquer momento através de um certo
represamento da libido. Esses resíduos não são apenas de natureza
formal, mas também dinâmica (impulsos); terceiro, de combinações
subliminais sob forma simbólica, que ainda não estão aptas para
serem conscientizadas.
Um conteúdo atual do inconsciente coletivo consistirá sempre uma
amálgama dos três pontos já formulados: daí o poder-se interpretar
a expressão para diante e para trás. (JUNG, 1981, b, p. 293).

“O Inconsciente coletivo. Este é constituído pelas


percepções ·inconscientes dos processos real exteriores, por um lado,e
por outro por todos os resíduos das funções de percepção e adaptação
filogenéticas. Uma reconstrução da imagem do mundo inconsciente
resultaria numa imagem, mostrando a realidade exterior, tal
como sempre foi vista. O inconsciente coletivo contém, ou melhor, é
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uma imagem especular do mundo. De certo modo é um mundo,


mas um mundo de imagens.” (JUNG, 1981, b, p 288-.289).

“A conformação mental do primitivo exprime a estrutura básica da


mente humana, aquela camada psíquica, que para nós é o inconsciente
coletivo, aquele nível subjacente que em todos nós é o mesmo, e devido,
a tal igualdade básica não se podem fazer distinções pessoais nas
experiências que se dão nesse nível” (JUNG, 1998, p.59).

 ARQUÉTIPOS:

“Arquétipo significa ‘typos” (impressão, marca-impressão), um


agrupamento definido de caracteres arcaicos, que, em forma e
significado, encerra motivos mitológicos, os quais surgem em forma pura
nos contos de fadas, nos mitos, nas lendas e no folclore. (JUNG,
1998, p.54)

“Os maiores e melhores pensamentos da humanidade são moldados


sobre imagens primordiais, como sobre a planta de um projeto. Muitas
vezes já me perguntaram de onde provêm esses arquétipos ou imagens
primordiais. Suponho que sejam sedimentos de experiências
constantemente revividas pela humanidade” (JUNG, 1981,b, p. 61).

“o arquétipo é um quadro dinâmico, uma parte da psique objetiva”,


que só conseguimos entender corretamente quando vivenciada como
uma coisa autônoma colocada fora de nós e à nossa frente. (JUNG,
1981,b, p.100).
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“Os arquétipos são formas de apreensão e todas as vezes que


nos ·deparamos com formas de apreensão que se repetem de
maneira ·uniforme e regular, temos diante de nós um arquétipo,
quer ·reconheçamos ou não o seu caráter mitológico. (JUNG, 1984, p.
141)”.

Entre os muitos arquétipos estão: o da grande mãe no aspecto nutriente e


transformador, do pai, da criança divina, o puer aeternus, o herói (nos seus
quatro estágios), o velho sábio, a mulher primitiva (na mulher), do Cronos (o
devorador do filho, aquele que é o velho sem criatividade, rígido) o homem
primitivo (no homem), o animus – nos seus 4 estágios (na mulher), a anima –
nos seus 4 estágios (no homem), o arquétipo do si-mesmo.

 ANIMA

“Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas


femininas na psique do homem – os humores e sentimentos instáveis,
as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a capacidade de
amar, a sensibilidade à natureza e, por fim, mas nem por isso menos
importante, o relacionamento com o inconsciente. Não foi por mero
acaso que antigamente utilizavam-se sacerdotisas (como Sibila, na
Grécia) para sondar a vontade divina e estabelecer comunicação com
os deuses”. (JUNG, 1964, p. 177)

“Segundo Jung, existem 4 estágios no seu desenvolvimento. O


primeiro está bem simbolizado na figura de Eva, que representa o
relacionamento puramente instintivo e biológico; o segundo pode ser
representado pela Helena de Fausto: ela personifica um nível
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romântico e estético que, no entanto, é também caracterizado por


elementos sexuais. O terceiro estágio poderia ser exemplificado pela
Virgem Maria – uma figura que eleva o amor (eros) à grandeza da
devoção espiritual. O quarto estágio é simbolizado pela Sapiência, a
sabedoria que transcende até mesmo a pureza e a santidade, como a
Sulamita dos Cânticos dos Cânticos de Salomão.” (JUNG et al. 1964)

 ANIMUS

“A personificação masculina do inconsciente na mulher – o animus


– apresenta, tal como a anima no homem, aspectos positivos e
negativos. Mas o animus costuma se manifestar sob forma de fantasias
ou inclinações eróticas; aparece mais comumente como uma
convicção secreta ‘sagrada’. Quando a mulher anuncia tal convicção
com voz forte, masculina e insistente, ou a impõe às outras pessoas por
meio de cenas violentas reconhece-se, facilmente, a sua masculinidade
encoberta. No entanto, mesmo em uma mulher que exteriormente se
revele muito feminina o animus pode também ter uma força igualmente
firme e inexorável. De repente podemos nos deparar com algo de
obstinado, frio e totalmente inacessível em uma mulher”. (JUNG,
1964, p. 189)

“O animus, tal como a anima, apresenta quatro estágios de


desenvolvimento: o primeiro é uma simples personificação da força
física – por exemplo, um atleta ou ‘homem musculoso’. No estágio
seguinte, o animus possui iniciativa e capacidade de planejamento; no
terceiro torna-se ‘o verbo’, aparecendo muitas vezes como professor
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ou clérigo; finalmente, na sua quarta manifestação o animus é a


encarnação do ‘pensamento’. Nesta fase superior torna-se como a
anima) o mediador de uma experiência religiosa através da qual a
vida adquire novo sentido, Dá a mulher uma firmeza espiritual e um
invisível amparo interior, que compensam a sua brandura exterior. O
animus na sua forma mais altamente desenvolvida relaciona a mente
feminina com a evolução espiritual da sua época, tornando-a assim
mais receptiva a novas idéias criadoras do que o homem. (JUNG, et
al. 1964)

 ANIMA E ANIMUS

“A função natural do animus (como a da anima) consiste em


estabelecer uma relação entre a consciência individual e o inconsciente
coletivo. Analogamente, a persona representa uma zona intermediária
entre a consciência do eu e os objetos do mundo exterior. O animus e a
anima deveriam funcionar como uma ponte ou pórtico, conduzindo à
imagens do inconsciente coletivo, assim como a persona representa uma
ponte para o mundo”
Em sua primeira forma inconsciente, o animus é uma instância
que engendra opiniões espontâneas, involuntárias, exercendo uma
influência dominante sobre a vida emocional da mulher; anima é, por
outro lado, uma instância que engendra sentimentos
espontâneos, os quais exercem um influência sobre o entendimento
do homem, nele provocando distorções. (Ela virou-lhe a cabeça).
O animus é projetado particularmente em personalidades
‘espirituais’ e toda espécie de ‘heróis’ (inclusive tenores, artistas,
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esportistas, etc.). A anima se apodera facilmente do elemento que na


mulher é inconscientemente, vazio, frígido, desamparado, incapaz de
relação, obscuro e equívoco... No decurso do processo de individuação,
a alma se associa à consciência do eu e possui, pois, um índice
feminino no homem e masculino na mulher. A anima do homem
procura unir e juntar, o animus da mulher procura diferenciar e
reconhecer. São posições estritamente contrárias. No plano da
realidade consciente constituem uma situação conflitual, mesmo
quando a relação consciente dos dois parceiros é harmoniosa.
A anima é o arquétipo da vida... pois a vida se apodera do
homem através da anima, se bem que ele pense que a primeira lhe
chegue através da razão (mind). Ele domina a vida com o entendimento,
mas a vida vive nele através da anima. E o segredo da mulher é que a
vida vem a ela através da instância pensante do animus, embora ela
pense que é o Eros que lhe dá vida. Ela domina a vida, vive, por assim
dizer, habitualmente, através do Eros; mas a vida real, que é também
sacrifício, vem à mulher através da razão (mind), que nela é encarnada
pelo animus”. (JUNG, 1963, p. 351 -352)

Os arquétipos do animus e da anima, são costumeiramente projetados, nos


pares masculino e feminino, portanto junto com a anima,o homem projeta parte
da sombra dele na mulher (no sentido de parte do inconsciente dele), e vice-
versa.
“Assim, nossa sombra freqüentemente se apresenta óbvia para os
outros, mas continua desconhecida para nós. Muito maior é nossa
ignorância dos componentes masculinos ou femininos existentes dentro
de nós, que escapam à nossa atenção, por serem completamente
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diferentes do que nossa consciência conhece a respeito de nós. por esse


motivo, Jung denominou a integração da sombra usando o termo a
“peça-aprendiz” no processo de tornar-se inteiro, e chamou a
integração da anima ou do animus de “obra-prima”. (SANFORD,
1986, p. 17)

 PERSONA

“Persona... é o sistema de adequação ou a maneira por que se dá


a comunicação com o mundo. Cada estado ou cada profissão, por
exemplo, possui sua persona característica.... O perigo está, no
entanto, na identificação com a persona; o professor com seu
manual, o tenor com sua voz... Pode-se dizer, sem exagero, que a
persona é aquilo que não é verdadeiramente, mas o que nós
mesmos e os outros pensam que somos.” (JUNG, 1963, p.
356)

 SOMBRA

“A parte inferior da personalidade. Soma de todos os elementos


psíquicos pessoais e coletivos que, incompatíveis com a forma de vida
consciente escolhida, não foram vividos e se unem ao inconsciente,
formando uma personalidade parcial, relativamente autônoma, com
tendências opostas às do consciente. A sombra se comporta de maneira
compensatória em relação à consciência. Sua ação pode ser tanto
positiva como negativa. No sonho, a sombra tem freqüentemente o mesmo
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sexo do sonhador. Enquanto elemento do inconsciente pessoal, a sombra


procede do eu; enquanto arquétipo do “eterno antagonista” procede do
inconsciente coletivo. A tarefa do início da análise é tornar a sombra
consciente. Negligenciar e recalcar a sombra ou identificar o eu com ela
pode determinar dissociações perigosas. Como ela é próxima do mundo
dos instintos, é indispensável levá-la continuamente em
consideração”.“A sombra personifica o que o indivíduo recusa conhecer
ou admitir e que , no entanto, sempre se impõe a ele, direta ou
indiretamente, tais como os traços inferiores do caráter ou outras
tendências incompatíveis.”
“A sombra é... aquela personalidade oculta, recalcada,
freqüentemente inferior e carregada de culpabilidade, cujas ramificações
extremas remontam ao reino de nossos ancestrais animalescos,
englobando também todo o aspecto histórico do inconsciente,
precisamente a sombra, não é composta apenas de tendências
moralmente repreensíveis, mas também de um certo número de boas
qualidades, instintos, normais, reações apropriadas, percepções realistas,
impulsos criadores, etc..”. (JUNG, 1995, p.359 -360)

 SELF ou SI-MESMO ou EU SUPERIOR

“O Si-mesmo deve ser compreendido como a totalidade da


esfera psíquica. O Si-mesmo não é apenas o ponto central, mas
também a circunferência que engloba tanto a consciência como o
inconsciente. Ele é o centro desta totalidade, do mesmo modo
que o eu é o centro da consciência”. (JUNG, 1991, p. 51)
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“Face à tendência perigosa e desagregadora, o mesmo


inconsciente coletivo dá origem a uma reação em contrário, na
forma de um processo centrador, caracterizando por símbolos
inconfundíveis. Este processo vai construir nada menos do que um
novo centro para a personalidade, cuja característica-conforme
mostram os símbolos – é estar acima do eu, e cuja superioridade
também é comprovada empiricamente, numa fase posterior.É por isso
que esse centro não pode ser subordinado, mas na valoração tem
que ser colocado acima do eu. Além disso, já não se pode designá-lo
como eu razão por que o denominei o “Si Mesmo”(Selbest).
Experimentar e vivenciar este si mesmo é a meta mais nobre da ioga
indiana. Por este motivo, que a psicologia do si mesmo que nos
familiarizemos com os tesouros do saber indiano. Tanto aqui, como na
Índia, a experiência do si mesmo nada tem a ver com intelectualismo,
mas é um experiência vital e profundamente transformadora. O
processo que conduz a ela foi por mim denominado processo de
individuação. (JUNG, 1981, a, p. 97)

“O alvo da individuação, tal como o retratam as imagens do


inconsciente, representa uma espécie de ponto médio ou de centro em
que o valor supremo e a maior intensidade de vida se acham
concentrados. Não o podemos distinguir das imagens de valor supremos
das religiões. Aparece no processo de individuação com a mesma
naturalidade com que se manifesta nas religiões, no mundo cristão,
por exemplo, como um ‘castelo interior’ (Teresa de Ávila), uma
cidade ou jardim de quatro lados, com a scintilla animae,como imago
Dei que há na alma, como o ‘circulo cuja periferia não está em lugar
nenhum e cujo centro está em toda parte’, como o cristal, uma pedra,
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uma árvore, um recipiente ou uma ordem cósmica – ou,mais uma vez,


nas religiões orientais, como uma flor de ouro de quatro pétalas, como
a luz, como o ‘vazio’ cheio de significado. A experiência dessa
extremidade mais elevada, ou centro, traz ao indivíduo um senso de
significado e de realização, na presença do qual ele pode aceitar a si
mesmo e encontrar um caminho intermediário entre os opostos
presentes na sua natureza interior. Em vez de ser uma pessoa
fragmentada, obrigada a apegar-se a apoios coletivos, o indivíduo
torna-se um ser humano inteiro, autoconfiante, que já não precisa viver
como parasita do seu ambiente coletivo, mas que enriquece e fortalece
esse mesmo ambiente com sua presença. A experiência do self traz a
sensação de pisar num solo firme no interior de si mesmo, num terreno
de eternidade interior que nem a morte física pode tocar. (VON
FRANZ, 1997, p. 63)

“A finalidade da evolução psicológica é tal, como na evolução


biológica, a auto-realização, ou seja, a individuação. Visto que o
homem só se percebe a si próprio como um ego, e o Si-mesmo como
totalidade, é algo indescritível, não se distinguindo de uma imagem de
Deus, a auto-realização não é outra coisa em linguagem metafísica e
religiosa, do que a encarnação divina”. (JUNG, 1980, p. 156)

 COMPLEXOS:

“Em meus estudos sobre os fenômenos das associações mostrei


que existem certos agrupamentos de elementos psíquicos em torno de
conteúdos afetivamente acentuados, que designamos complexos. O
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conteúdo afetivamente acentuado, ou complexo, é constituído de um


elemento central e de um grande número de associações
secundariamente consteladas. O núcleo central consta, por sua vez,
de duas componentes, a saber: 1) de um fator determinado pela
experiência, isto é, por um acontecimento vivido e ligado
casualmente àquilo que o cerca, e 2) de um fator determinado pelas
disposições internas e imanentes ao caráter do ·próprio individuo.
O núcleo caracteriza-se pela sua tonalidade afetiva, pela acentuação
dos afetos. Esta acentuação é energeticamente falando, uma
quantidade de valor.” (JUNG, 1984, p.9-10).

“O complexo não é autônomo, a não ser que nos ocorra


forçosamente e ·nos mostre visivelmente sua superioridade em
relação à vontade ·consciente. Ele também constitui um daqueles
distúrbios que provêm ·das ·regiões obscuras da psique.” (JUNG,
1984, p. 345).

“Os complexos – as nossas experiências mostram-no claramente-


gozam de marcada autonomia. São entidades psíquicas que vão e
vêm a seu bel-prazer e a sua aparição ou desaparição escapa ao
domínio da nossa vontade. Assemelha-se a entidades independentes que
levassem no interior da nossa psique uma espécie de vida parasitária.
O complexo irrompe na estrutura ordenada do eu e aí fica ao sabor
da sua conveniência”. (JUNG, 1975, p. 206)

“O complexo, por ser dotado de tensão ou energia própria, tem a


tendência de formar, também por conta própria, uma pequena
personalidade. Apresenta uma espécie de corpo e uma determinada
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quantidade de fisiologia própria, podendo perturbar o coração, o


estômago, a pele. Comporta-se, enfim, como uma personalidade
parcial”. (JUNG, 1998, p. 86).

“O complexo é uma espécie de íman, um centro carregado de


energia que atrai tudo o que lhe está ao alcance, mesmo coisas
indiferentes” (JUNG, 1975, p. 205)
“Quem estiver sob a influência de um complexo predominante,
assimila, compreende e concebe os dados novos que surgem na sua
vida, em conformidade com esse complexo, ao qual ficam
submetidos; em resumo: o individuo vive momentaneamente
em função do seu complexo, como se vivesse um imutável
preconceito originário.” (JUNG, 1975, p. 206)

 CONSCIÊNCIA:

“A consciência é, em primeiro lugar, um ‘órgão de orientação’


em um mundo de fatos exteriores e interiores.” (JUNG, 1984, p. 127).
“A consciência é por natureza uma espécie de camada superficial, de
epiderme flutuante sobre o inconsciente que se estende pelas
profundidades, como um vasto oceano de uma perfeita continuidade”
(JUNG, 1975, p. 116)

“A natureza determinada e dirigida da consciência é uma


aquisição extremamente importante que custou à humanidade os mais
pesados sacrifícios, mas que, por seu lado, prestou o mais alto
serviço à humanidade. Sem ela a Ciência, a técnica e a civilização
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seriam simplesmente impossíveis, porque todas pressupõem


persistência, regularidade e intencionalidade fidedignas do
processo psíquico.” (JUNG, 1984, p. 70)

 EU

“... a consciência é um requisito essencial do eu . Mas sem o eu, é


impossível pensar em consciência. Esta aparente contradição se resolve
se considerarmos o eu o reflexo, não de um só, mas de muitos e
variados processos e suas interações, ou seja, daqueles processos e
conteúdos que compõem a consciência do eu. A sua diversidade
forma realmente uma unidade porque a sua relação com a
consciência atua como uma espécie de força gravitacional, atraindo
as várias partes na direção daquilo que poderíamos chamar de
centro virtual. Por esta razão não falo simplesmente do eu, mas de
um complexo do eu, na suposição fundamentada de que o eu tem
uma composição flutuante e por isto é mutável e conseqüentemente não
pode ser simplesmente o eu. (JUNG, 1984, p. 333)
“O eu é um aglomerado de conteúdos altamente dotados de
energia e, assim, quase não há diferença ao falarmos de complexos e
do complexo do ego” (JUNG, 1998, p. 87)

“O eu é dotado de um poder, de uma força criadora, conquista


tardia da humanidade, que chamamos vontade” (JUNG, 1975, p.
126)
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 INSTINTOS:

“No meu ponto de vista, a questão do instinto não pode ser


tratada psicologicamente sem levar em conta a dos arquétipos, pois
uma coisa condiciona a outra” (JUNG, 1984, p. 138).

“De fato, de nossa civilização desapareceram as falagogias


dionísicas da Atenas clássica e os mistérios dos deuses ctônicos;
assim também as representações teriomorfas da divindade estão
reduzidas a alguns poucos remanescentes como a pomba, o
cordeiro e o galo que enfeita as torres de nossas igrejas. Mas tudo
isso não impede que na infância passemos por um período
durante o qual o modo arcaico de pensar e sentir se manifesta em
palavras, e que durante toda a vida, ao lado do pensamento recém-
adquirido, dirigido e adaptado, possuímos um pensamento-fantasia
que corresponde a estados de espírito ancestrais. Assim como
nosso corpo em muitos órgãos conserva ainda resquícios de
antigas funções e estados, também nosso espírito, que parece ter
ultrapassado todos os instintos primitivos, traz ainda as marcas
do desenvolvimento por que e passou e repete o arcaico ao menos em
sonhos e fantasias.” (JUNG, 1986, (b) p. 24)

Existem autores neo-junguianos, que na verdade, por não compreenderem


a nova cosmovisão, que é deixar de ver a realidade de modo Newtoniano, ou
seja, a visão da causa e efeito. Mas partir para um maneira de ver os eventos da
psique, como manifestação da energia dentro da visão quântica e pós-quântica,
em que se fundamenta a Psicologia Analítica, voltam em grande número deles a
uma maneira próxima à freudiana de ver, apenas mudando o modo de explicar
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eventos, ao invés do foco ser o Complexo de Édipo, valem-se de outros mitos


gregos ou de outras mitologias para explicar a clínica deste ou daquele paciente,
ou ainda mais grave de um número significativo de pacientes.

Na verdade a Psicologia Analítica propõe uma maneira de observação e


trabalho com o paciente, que nada tem de ficar buscando razões predeterminadas
para encaixar o que é encontrado, mas antes uma visão que busca a orientação
do trabalho através da percepção do material que provém do inconsciente do
paciente, quer seja oriunda dos sonhos, com seus símbolos, quer seja através do
que o paciente relata, ou expressa através de material plástico, ou o que aparece
por técnica de imaginação ativa.

 IMAGINAÇÃO ATIVA
“’Em princípio, a ‘imaginação ativa’ consiste em suspender a faculdade
crítica e permitir que emoções, afetos, fantasias, pensamentos obsessivos
ou até imagem de sonho desperto emerjam do inconsciente,
confrontando-as como se estivessem objetivamente presentes. ’ Esses
conteúdos se exprimem com freqüência de modo solene ou
pomposo, ’uma infernal mistura do sublime e do ridículo”, razão por que,
a princípio, a consciência pode sentir-se chocada e inclinada a descartar
tudo como fato sem sentido. A ansiedade pode provocar uma espécie de
‘paralisia’ consciente, ou a pessoa pode penetrar fundo demais no
inconsciente e cair no sono. Um confronto alerta e vívido com os
conteúdos do inconsciente é, no entanto, a própria essência da
imaginação ativa. Isso requer um compromisso ético em relação às
manifestações vindas do interior, para não que não seja destrutivo, tanto
para os outros como para o sujeito. A prática disso torna-se uma espécie
de magia negra. Fantasias podem ser objetivadas por meio do seu
21

registro escrito, por meio do desenho, da pintura ou (o que é mais raro)


da dança alusiva a elas. Um diálogo escrito é a modalidade mais
diferenciada disso e costuma levar aos melhores resultados...
A imaginação ativa é o mais eficaz instrumento por meio do qual o
paciente pode tornar-se independente do terapeuta e aprender a seguir os
próprios passos.
Se se ‘compreendem’ as imagens e se pensa que o processo se dá pela via
da cognição, sucumbe-se a um perigoso erro. “Porque todo aquele que
não consegue tomar a própria experiência como um compromisso ético é
vitimado pelo princípio do poder” (VON FRANZ, 1997, p.93)

 SINCRONICIDADE

“O problema da sincronicidade me tem ocupado há muito tempo,


sobretudo a partir de meados dos anos vinte, quando ao investigar os
fenômenos do inconsciente coletivo, deparava-me constantemente com
conexões que eu não podia simplesmente explicar como sendo grupos ou
‘séries’ de acasos. Tratava-se, antes, de ‘coincidências’ de tal
modo ligadas significativamente entre si, que seu concomitante ‘causal’
representa um grau de probabilidade astronômico” (JUNG, 1984, p.455-
456).

“Emprego, pois, aqui, o conceito geral de sincronicidade, no sentido


especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem
relação causal, mas com o mesmo conteúdo significativo, em contraste
com ‘sincronismo’ cujo significado é apenas o de ocorrência simultânea
de dois fenômenos.” (JUNG, 1984, p.459)
22

A Psicologia Analítica demonstra que ao trabalharmos o mais saudável do


paciente, teremos bem melhor resultado, até porque o inconsciente propende
para a saúde.

“A Psicologia analítica, é uma reação contra uma racionalização


exagerada da consciência que, na preocupação de produzir processos
orientados, se isola da natureza e, assim, priva o homem de sua história
natural e o transpõe para um presente limitado racionalmente que
consiste em um curto espaço de tempo situado entre o nascimento e a
morte. Esta limitação gera no indivíduo o sentimento de que é uma
criatura aleatória e sem sentido, e esta sensação nos impede de viver a
vida com aquela intensidade que ela exige para poder ser vivida em
plenitude. A vida se torna então insípida e já não representa o homem
em sua totalidade. É por isto que tantas vidas vividas caem sob domínio
do inconsciente. Os indivíduos vivem como se caminhassem com
sapatos muito apertados. A qualidade de eternidade, que é tão
característica da vida do primitivo, falta inteiramente em nossas vidas.
Vivemos protegidos por nossas muralhas racionalistas contra a
eternidade da natureza. A Psicologia analítica procura justamente
romper estas muralhas, ao desencavar de novo as imagens fantasiosas
do inconsciente que a nossa mente racionalista havia rejeitado. Estas
imagens situam-se para além das muralhas; fazem parte da natureza
que há em nós e que aparentemente jaz sepultada em nosso passado, e
contra a qual nos entrincheiramos por trás dos muros da ratio [razão].
A Psicologia procura solucionar os conflitos daí resultantes, não
23

voltando à natureza, numa linha rousseauneana, mas conservando-nos


ao nível da razão que alcançamos com sucesso e enriquecendo nossa
consciência com o conhecimento da psique primitiva.” (JUNG, 1984, p.
395).

Se considerarmos que a PAZ para ser alcançada é preciso começar por


atingi-la dentro do ser humano. A psique tem vital papel no encontro e na
manutenção da PAZ.

“A psique é um fator de perturbação das leis do cosmos, e se algum dia


conseguíssemos causar dano à Lua , através da fissão atômica, isto seria
obra da psique..
A psique é o eixo do mundo” (JUNG, 1984, p. 222)

Ao estudar o funcionamento da CONSCIÊNCIA Jung notou que:

“A consciência é dotada de um certo número de funções, que a orienta no


campo dos fatos ectopsíquicos e endopsíquicos. A ectopsique é um
sistema de relacionamentos dos conteúdos da consciência com os fatos e
dados originários do meio-ambiente, um sistema de orientação que
concerne à minha manipulação dos fatos exteriores, com os quais entro
em contacto através das funções sensoriais. A endopsique, por outro lado,
é o sistema de relação entre os conteúdos da consciência e os processos
desenrolados no inconsciente.” (JUNG, 1998, p.29)

As endopsíquicas são: memória, componentes subjetivos das funções


conscientes (tendência a reagir de uma determinada maneira), emoções e afetos,
24

e o quarto fator endopsíquico é a invasão (quando o inconsciente inunda a


consciência, que fica debilitada).

Das funções Ectopsíquicas temos: a SENSAÇÃO a INTUIÇÃO, o


PENSAMENTO e o SENTIMENTO.

A importância desta percepção de Jung nos ajuda a entender como


percebemos individualmente o mundo. Mas pode num nível internacional ser
usada para compreender como as culturas de países diferentes vêem o mundo, e
mesmo o desenvolvimento da humanidade. (LUZES, 2003)

Na Evolução do se humano observamos que:

Havia seres a caminho da humanização a 25 milhões no planeta. O homo


sapiens sapiens aparece no planeta em torno de 40. 000 anos atrás.

Com a função SENSAÇÃO – criou artefatos, percebeu e ritualizou a


morte, e para alguns autores a partir daí começa a nascer a cultura – é o
numinoso – a percepção intuitiva trazendo a revelação, daí o salto de qualidade.

Sendo guiados pela função inferior, procuravam a discrição ao


expressar o contato com a relação com os mortos, tanto que o homem de Cro-
Magnon pintava sobre morte em lugares de difícil acesso em cavernas, e pintava
por cima, com um descaso que as pessoas costumam ter com algo relativo a
função inferior – vem –explode- e novamente é deixada de lado.
25

O culto das deusas mães nas sociedades agrícolas aparece entre 35.000 a
8.000 a.C. Em 30.000 a.C. já possuíam um calendário. Em 8.000 a.C. ocorre a
revolução agrícola e é o término da última glaciação – então a humanidade
possuía de 5 a 10 milhões de habitantes, que se organizavam em povoados de
500 habitantes. Mas também aparecem as primeiras cidades com 3.000
habitantes - Jericó – murada (8.000 a.C.)- Satal Hüyük (6.700 a.C.) (Turquia)
civilização que não conheceu a violência. - Eridu (5.000 a. C.) (Mesopotâmia)
onde o culto é institucionalizado

Foi feita uma descoberta em 1958 a respeito da capacidade de mudança de


comportamento que foi denominada de “Fenômeno do Centésimo Macaco” –
referindo-se a uma Massa Crítica – A Macaca fuscata observada por 30 anos no
Japão. Foi uma experiência com batata-doce misturada com areia, que era assim
ingerida, até um dia uma macaca descobriu como lavá-las no rio, depois de
muitos fazerem o mesmo, outros macacos da mesma espécie de outras ilhas e do
continente estavam com a mesma prática. (KEYES, 1995)
De algum modo a evolução algo semelhante no mesmo tempo em vários
lugares no homo sapiens sapiens aconteceu como o Fenômeno do Centésimo
Macaco – Uma massa crítica consciente, faz brotar a consciência por toda a
parte.
SENSAÇÃO EXTROVERTIDA - função irracional, são excelentes em
perceber o absoluto do que acontece, ninguém é mais realista (JUNG, 1981 (d)).
Objetivam os fatos de modo extraordinário, assim como os detalhes, além de
grande praticidade que possuem, dão grande ênfase ao objeto externo. A função
transmite o estímulo físico percebido pelos órgãos dos sentidos, e pelos órgãos
internos. Tanto percebem a textura e forma dos objetos, como tem ótima
percepção corporal. Como sua função inferior é a intuição, ela se manifesta com
os “maus presságios” um tanto egocêntricos, têm fascinação por fantasmas e
26

estórias bizarras, de ficção científica. Segundo von Franz (1995, p. 40) “o


melhor aparelho fotográfico”

SENSAÇÃO INTROVERTIDA - É o indivíduo capaz de perceber não só


todos os detalhes numa sala, mas perceber-lhe a atmosfera, é como diria von
Franz (1995, p.47) “como se fosse uma chapa fotográfica altamente sensível,
como se uma pedra caísse em águas profundas” – uma impressão que se
aprofunda. É visto como passivo, neutro, reage com lentidão aos estímulos, e
ocasionalmente, emerge-lhes num rompante o heróico. Costuma dar a impressão
de frieza, indiferença pelos objetos, caminha por um mundo subjetivo, não se
faz notar pela aparência. Possui uma tendência de condenar o meio ambiente por
uma estratégia de condenação disfarçada, podendo mesmo exercer um tipo de
tirania. Na sua função inferior atuante, projeta-nos outros pensamentos
negativos contra eles, e então são capazes de calúnias, defensivas, espionar,
fazer intrigas, que acaba por desencadear um ciclo vicioso. Vive absolutamente
no presente, para ele o futuro não existe. Possui uma visão espacial do tempo.
Quando algo os arrebata, assume uma neutralidade auto-suficiente, algo um
tanto superior, que desarma um interlocutor sensível. Tende ao
conservadorismo, pois não lhe apraz se relacionar com uma realidade que muda.

INTUIÇÃO EXTROVERTIDA – É o tipo que olha as coisas sempre


imaginando sobre as possibilidades relativas a ela. São as pessoas que farejam as
coisas, pois percebem os germes dos acontecimentos futuros. Encontra-se este
tipo entre jornalistas, homens de negócios com perfis audaciosos, editores, pois
tem grande possibilidade de perceber o que será popular no próximo ano.
Corretores de valores, pessoas, que farejam as tendências de mercado. É tipo
encontrado onde algo novo está sendo criado. (VON FRANZ, 1995).
27

Em geral olham as coisas de longe de modo vago, e isto é perceptível,


inclusive no modo real de olhar. Jung costumava dizer que o tipo sensação tende
a convergir para o objeto, enquanto o tipo intuição tem uma maneira de olhar
que apenas cobre a superfície. Não olham fixamente, globalizam o objeto num
todo, tendem a olhar para a periferia do campo visual.
Comumente são os tipos que semeiam, mas não colhem, pois estão já
ocupados com outra semeadura.
Não tem uma boa percepção do corpo, daí negligenciarem as necessidades
físicas. por vezes só percebem o cansaço quando já estão esgotados.
Em geral não se atém ao bem estar dos que o cercam, assim como segue a
moralidade própria de sua intuição, que não é lógica, nem sentimental, por isto
são muitas vezes visto como aventureiros. A contrapartida da sua função inferior
faz emergir neste tipo, idéias obsessivas hipocondríacas, fobias, e uma variedade
de sensações exóticas. (JUNG, 1981, (d))

INTUIÇÃO INTROVERTIDA – Assim como o extrovertido, também tem a


capacidade de pressentir o futuro. Mas como isto é voltado mais para o interior,
este é um tipo mais encontrado entre xamãs, videntes, profetas, artistas. Ele
conhece os processos psicológicos que se dão no inconsciente coletivo, e pode
comunicar a sociedade tais tendência de modificação. Devido à sensação
inferior tem enorme dificuldade de percepção do corpo, e por vezes de controle
do apetite. Não tem muita noção das mais básicas necessidades físicas, e
tampouco percebem as necessidades físicas dos que o cercam Sofre, como o
intuitivo extrovertido de grande imprecisão em relação aos fatos reais. (VON
FRANZ, 1995). Em geral não se comunicam bem, pois saltam de um assunto
para outro, o que nem sempre pode ser acompanhado pelo interlocutor. Podem
ser maus ouvintes, uma vez que deduzem o que o outro tem a dizer, são o
extremo do “para bom entendedor, pingo é letra”. Sua relação espaço e tempo é
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bem deficiente. Os objetos da vida real prática, como formulários, documentos


e outras coisas parecidas, são algo com que tem dificuldade em lidar. Muitas
vezes seu ambiente é caótico, falta-lhe algo de metódico.

PENSAMENTO EXTOVERTIDO – É uma função racional, ou judicativa,


pois julga. Possuem fórmulas e regras objetivamente orientadas que impõe a si
próprios e aos outros à volta. Estas fórmulas constituem medidas do que é bom
ou mal belo ou feio. Sendo bom tudo que concorda com a norma. Não toleram
exceções (MEIER, 1995). Podem ser reformuladores, mas se limitados, serão
críticos descontentes, argumentadores afetados. São por via da função inferior,
suscetíveis, quando não reconhecidos por suas idéias, e sentem-se atingidos num
plano pessoal quando isto ocorre, devido ao sentimento inferior. Podem ser
idealistas extremados, que podem achar-se portadores do que pode ser melhor
para a humanidade. E obcecados para fazer valer o que pensam podem valer-se
de meios escusos. Em ciência, falsear dados, por exemplo, visto que não podem
abrir mão de seu pensamento, sendo ele dogmático, isto também devido ao
sentimento inferior, não poder contribuir para pôr em pauta os valores. Muitas
vezes atrás da atitude doutoral esconde-se na intimidade um tirano. E se o
sentimento inferior cobrir-lhes de mágoa, a tirania, como reação tende a piorar.

PENSAMENTO INTROVERTIDO -É um pensamento que se orienta pela


subjetividade, mais se volta para as idéias do que para o objeto. Há um
sentimento de organização que faz determinar o juízo. Equacionam teorias,
porém conservam uma atitude defensiva ante os fatos, são adendos, mas nunca o
foco. Tentam forçar os fatos a se submeterem as imagens previamente formadas,
ou até a ignorá-los para que se fixem na imagem criada em suas fantasias.
Muitas vezes o experenciado é primitivo, às vezes simbólico. Tendem a ser
descritivos. O pensamento é percebido como mais profundo, em anteposição ao
29

extrovertido que é mais abrangente. Indivíduos deste tipo pode parecerem frios,
pois demonstram um distanciamento face aos objetos. E eles usam de
estratagemas para mantê-los à distância. Muitas vezes não cuidam do que criam,
nem pedem ajuda para os outros. Mas acham que suas idéias devem ser acatadas
por todos a sua volta. Muitas vezes deixa-se usar por pessoas inescrupulosas
pois não percebem que estão sendo prejudicados, pois o objeto, não é
importante. Por vezes nem avaliam o valor de suas idéias para o mundo, ou as
sobreestimam. Muitas vezes tornam-se excessivamente auto-criticos, a ponto de
se auto-destruirem ou excessivamente susceptíveis a crítica alheia, confundindo-
as com não dirigidas as suas idéias, mas como sendo pessoais. Trabalham de
modo taciturno. Criam muitas regras para seu cotidiano. São mais apreciados na
intimidade, do que publicamente. Suscitam rivalidades extremas, devido à
dificuldade de se relacionar. São excelentes organizadores, são os indivíduos
que não perdem o fio da meada numa reunião. Seus sentimentos profundos, são
difíceis de vir à tona. Porém são discretos e leais aos amigos, embora esperem
que os procurem. Nestas pessoas, sentimentos infantis podem aflorar de tal
modo que aparecem conversões abruptas. Um tipo comum entre filósofos. O
sentimento pode ser envenenado por maledicência, ou pode ser pegajoso.

SENTIMENTO EXTROVERTIDO - É uma função racional (pois é


judicativa), onde o que pesa são os valores dos objetos exteriores. São
indivíduos que fazem facilmente amizades, têm poucas ilusões sobre as pessoas,
pois são avaliadores do lado negativo e positivo de uma pessoa de modo
adequado. São pessoas bem ajustadas no mundo, em geral razoáveis, e que de
algum modo conseguem levar os outros a lhe darem o que querem. Elas
suavizam o ambiente de modo que a vida transcorra mais fácil. Conseguem se
auto-determinar a gostar ou não do que queiram. Estão em perfeita sintonia com
os valores objetivos. Caso isto seja exagerado, o tipo pode dar a impressão de
30

impessoalidade, pois seus julgamentos são sempre adequados. Os valores


coletivos também são bem aceitos por eles. São participativos na vida pública,
no mundo da moda, na vida artística pública. Onde se tornam evidentes por seu
bom gosto e por serem amistosos. (MEIER, 1995) Ao extremo podem ficar em
sintonia com objetos externos, podem cair para a sua função inferior tornando-se
muito críticos, com pensamento sem originalidade. Tudo fica pelo valor das
aparências, e acreditam em tudo o que ouvem. São supersticiosos e crédulos em
assuntos intelectuais. Como não conseguem um pensamento independente, suas
idéias são subjetivas e pessoais, que dão aparência de esterilidade, ou coisa
vingativa.

SENTIMENTO INTROVERTIDO - Um pouco impenetráveis, pois são


guiados por seus sentimentos subjetivos, que costumam ficar incógnitos, não
chamam a atenção pela aparência física. Porém na discrição mantém um
ambiente harmônico, nada que possa coagir o próximo. Em extremo, parece
não se importarem com os sentimentos alheios. Parecem frios e reservados,
mas isto não é real, seus sentimentos são intensivos, e não extensivos. Poucas
palavras em determinadas circunstâncias difíceis, mas em compensação podem
aprofundar-se diante da miséria do mundo inteiro, se espantando com ela. Não
são de palco, estão mais nos bastidores. Com lealdade silenciosa. Estabelecem
discretamente padrões, que são pelos demais seguidos, sem que façam
pregação. As pessoas sentem-se compelidas a se comportarem como eles. Em
geral se interessam por grande número de fatos exteriores, não obstante não
aparentar. Mas seu pensamento inferior é capaz de se perder em verdadeiros
pantanais sem saída. Muitas vezes tendem a monomania, e às vezes a
bibliolatria. (MEIER, 1995) A aparência pode ser sofisticada e distante, por
questão de proteção contra o objeto, tem tendência a melancolia. Os valores
destes tipos não são coletivos, são pessoais. Sua gentileza pode não ser notada
31

publicamente, mas só na intimidade. Podem ser benfeitores anônimos. Podem


devido à função inferior serem excessivamente críticos, com os demais. São
inclinados ao pessimismo, e podem sofrer de mal entendidos pessoais.
A tipologia Junguiana tem prestado um auxílio na compreensão na clínica,
na área de relações humanas (em empresas), mas pode ser usada aplicada a
culturas aprimorando o conhecimento e entendimento entre os povos.
A Psicologia Analítica tem uma função importante no momento histórico
que passamos. Mais do que nunca é preciso que cada ser humano faça sua
opção pela ética, única saída de sobrevivência. O processo de Individuação
pode levar a tomada de consciência que beneficia a muitos.
Se nos primórdios a função prevalente no mundo era a SENSAÇÃO, logo
depois veio o PENSAMENTO com suas maravilhas e também terríveis
contribuições. Agora precisamos desenvolver o SENTIMENTO, que é o
portador da ética, e conseqüentemente quem garantirá melhor e mais
qualitativamente a sobrevivência da espécie. Para que isto ocorra é preciso
voltar-se para uma PEDAGOGIA que começa informando aos adolescentes
sobre CIÊNCIA PRÉ E PERINATAL, vale a pena para travar os primeiros
conhecimentos ir aos sites: www.cienciadoiniciodavida.org ; www.science-
beginningoflife.org (até dezembro de 2008); www.pensamentoecologico.org
www.birthpsychology.com, www.freebirth.com, www.wombecology.com
As crianças já nascidas com estes cuidados, receberiam o suporte
educacional que uma criança precisa para o bom desenvolvimento de sua
estrutura física e psíquica, para tanto, precisaria que a mãe passasse a ter
licença maternidade de 4 anos. Tal licença já vem sendo de mais de 2 anos em
vários países, especialmente os que viram as conseqüências de gerações
sucessivas de creches
Depois a PEDAGOGIA a ser vivida na escola, precisaria ver a criança
como um todo, uma personalidade a ser desenvolvida, ao invés de apenas
32

receber informação para se “adestrar” a exercer uma função, com grande


ignorância de quem é. Um modelo a ser aperfeiçoado para este tipo de ensino,
já existe com sucesso há 100 anos em vários países do mundo, são cerca de
800 escolas, e existem algumas nos Brasil em vários estados, é a
PEDAGOGIA WALDORF, criada por Rudolf Steiner, nela um dos pilares é
que a criança tem o mesmo professor por 8 anos, o que já faz surgir uma
natural transdisciplinaridade. Penso que se juntássemos a esta muito do
conhecimento Junguiano, inclusive a particularidade de aprendizado que se dá
em razão da função psicológica da criança, e muitos mais outros
aperfeiçoamentos, teríamos um ponto de partida para imaginar de fato uma
nova sociedade. (LUZES, 2003)

Neste momento precisamos tentar olhar para uma revolução na


PEDAGOGIA, pois é preciso uma nova educação para um novo homem, o
“homo sapiens frater”, este ser que colabora com o próximo, ao invés de
competir, este indivíduo que é um cidadão da terra, com toda consciência de
saber cuidar dela, ele é a garantia de uma saudável evolução da nossa espécie.
(LUZES, 2003)
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____________./rcul. Psicologia da Religião Ocidental e Oriental. In: Obras


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JUNG, C. G, VON-FRANZ, HENDERSON, JOSEPH L., JACOBI, JOLANDE,


JAFFÉ, ANIELA./rcul. O Homem e Seus Símbolos.Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira, 1964, 316 p.

KEYES Jr., KEN./rcul .O Centésimo Macaco – O Despertar da Consciência


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