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Física Geral I - F 128

Aula 7
Energia Cinética e Trabalho
2o semestre, 2011
Energia
As leis de Newton permitem analisar vários movimentos. Essa análise
pode ser bastante complexa, necessitando de detalhes do movimento que
são inacessíveis. Exemplo: qual é a velocidade final de um carrinho na
chegada de um percurso de montanha russa? Despreze a resistência do
ar e o atrito, e resolva o problema usando as leis de Newton.
vi = 0

vf = ?

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Energia
Vamos aprender uma técnica muitas vezes mais poderosa (e mais
simples) para analisar o movimento. Essa maneira acabou sendo
estendida a outras situações, tais como reações químicas, processos
geológicos e funções biológicas.
Essa técnica alternativa envolve o conceito de energia, que
aparece em várias formas.
O termo energia é tão amplo que é difícil pensar em uma
definição concisa.
Tecnicamente, a energia é uma grandeza escalar associada a um
estado de um ou mais corpos (sistema). Entretanto, esta definição é
excessivamente vaga para ser útil num contexto inicial. Devemos nos
restringir a determinadas formas de energia, como a manifestada
pelo movimento de um corpo, pela sua posição em relação a outros,
pela sua deformação, etc.
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Energia

Energia é um conceito que vai além da mecânica de Newton e


permanece útil também na mecânica quântica, relatividade,
eletromagnetismo, etc.

A  conservação  da  energia  total  de  um  


sistema  isolado  é  uma  lei  fundamental  
da  natureza.  

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Energia
Importância do conceito de energia:
•  Processos geológicos
•  Balanço energético no planeta Terra
•  Reações químicas
•  Funções biológicas (maquinas nanoscópicas)
ADP ATP ( energia armazenada)
ATP ADP ( energia liberada)
•  Balanço energético no corpo
humano

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Energia cinética e trabalho
A energia cinética K é a energia associada ao estado de movimento de
um objeto. A energia cinética K de um objeto de massa m, movendo-se com
velocidade v (muito menor que a velocidade da luz) é:
1
K = mv 2
2
A unidade de energia cinética no SI é o joule (J):
1 joule = 1 J = 1 kg.m2.s-2

Quando se aumenta a velocidade de um objeto aplicando-se a ele uma


força, sua energia cinética aumenta. Nessa situação, dizemos que um
trabalho é realizado pela força que age sobre o objeto.
“Realizar trabalho”, portanto, é um ato de transferir energia. Assim,
o trabalho tem a mesma unidade que a energia e é uma grandeza escalar.

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Energia cinética e trabalho
Veremos a relação entre forças agindo sobre um corpo e sua energia cinética.

Problema 1-D: um corpo de massa m desloca-se na direção-x sob ação de uma
força resultante constante que faz um ângulo θ com este eixo.

Da segunda lei de Newton a aceleração na direção-x é:

Fx Fx F
ax = v − v 0 = 2a x d = 2 d
2 2
 
m m v v
0
θ
1 1 2 •
m
 • x

Então:
m v − mv0 = Fx d
2
d
2 2
O lado esquerdo representa a variação da energia cinética do corpo e o lado
direito é o trabalho, W, realizado pela força para mover o corpo por uma distância
d:

  (o produto escalar vem
W = Fxd = F ⋅ d do fato que Fx = F cosθ)

Se um objeto está sujeito a uma força resultante constante, a velocidade varia

conforme a equação acima após percorrer uma distância d.

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Trabalho de força constante: força gravitacional
Se o corpo se eleva de uma altura d, então o trabalho realizado pela força peso é:

v W = mgd cosθ= mgd cos 1800 = − mgd

Fg
 O sinal negativo indica que a força gravitacional retira a energia
d mgd da energia cinética do objeto durante a subida.

 Agora, qual é o trabalho realizado pela força peso sobre um corpo


vo  de 10,2 kg que cai 1,0 metro?
Fg
W = mgd = 10,2×9,8×1,0 ≈ +100 J

Neste caso, qual é a velocidade final do corpo, se ele parte do repouso?


( O mesmo resultado,
1 2 1 2 1 2 2W 200 obviamente, poderia ter
ΔK = mv f − mvi = mv f = W ⇒ vf = = = 4,4 m/s sido obtido diretamente da
2 2 2 m 10,2
equação de Torricelli).

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Trabalho de forças constantes
Modelo para resolver o problema:

N 
 F
f at

mg Δx

Trabalho realizado Trabalho realizado Se o carrinho se desloca


pelos carregadores: pela força de atrito: com velocidade constante:
Wc = FΔx Wa = f aΔx cos π = − f aΔx ΔK =0
  
E a força resultante é nula, pois não há aceleração: ∑i Fi = F + fa
Isto é consistente com o fato de que o trabalho total ser nulo: Wc+Wa = 0.

(O trabalho da força peso e normal são nulos, pois o deslocamento é perpendicular a estas forças!)

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Trabalho e energia cinética em 2D ou 3D
(Força resultante constante com 3 componentes)
 
Se uma força resultante F constante
 provoca um deslocamento Δs numa
partícula de massa m, o trabalho de F é:
 
W = F ⋅Δs
Para cada componente:

1 1 1 1 1 1
Fx Δx = mvx2 − mv02x Fy Δy = mv y2 − mv02y Fz Δz = mvz2 − mv02z
2 2 2 2 2 2
Então:
  1 1
W = F ⋅Δs = Fx Δx + Fy Δy + Fz Δz = m(v 2x +v 2y + v 2z ) − m( v 0 2x +v 0 2y + v 02z )
2 2

1 1
Ou seja: W = mv − mv02
2

2 2

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Trabalho de uma força variável (1-D)
Seja F = F(x) a força resultante que atua sobre uma
partícula de massa m.
Dividimos o intervalo (x2 - x1 ) em um número muito
grande de pequenos intervalos Δxi.
Então: W = ∑ i FiΔxi

No limite, fazendo Δxi à 0


Δxi à 0

x2

W = ∫ F ( x)dx
x1

(O trabalho é a área sob a curva de força em função da posição!)

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Energia cinética e trabalho
Substituindo a força pela segunda lei Newton teremos:
xf xf x f (v f ) vf
dv dx
W = ∫ F(x) dx = m∫ dx = m ∫ dv = m∫ v dv
xi xi
dt x (v )
dt v
i i i

1
= m(v 2f − vi2 ) = ΔK
2
Ou seja:
1
W = m(v 2f − vi2 ) = ΔK
2
Este é o teorema do trabalho-energia cinética: W = área = ΔK

“O trabalho da força resultante que atua sobre uma


partícula entre as posições x1 e x2 é igual à variação da
energia cinética da partícula entre estas posições”.

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Trabalho realizado por uma força elástica
F(x) Força da mola: F(x) = − kx
F(x) = − kx xf

Wmola = ∫ F(x) dx
xi
xi xf x
xf
1
Wmola = −k ∫ xdx = − k ( x 2f − xi2 )
xi
2

F
Se o trabalho sobre a mola (massa) for
realizado por um agente externo, seu valor
é o obtido acima, porém com sinal trocado.

x Se xi < xf à W < 0
(mola sendo esticada)

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Teorema do trabalho-energia cinética: força variável

v
Uma massa m atinge uma mola não distendida com velocidade 0 .
Qual é a distância que a massa percorre até parar?
 O trabalho da força da mola até a massa parar é:
v0
k  
m   1 1
W = − k ( x 2f − xi2 ) = − kx 2f (pois xi = 0)
2 2
Δx
1 1 2
A variação da energia cinética será: ΔK = m ( v f − vi ) = − mv0
2 2

2 2
Portanto,
m m
ΔK = W ⇒ kx 2f = mv02 ⇒ x f = − v0 ⇒ Δx = v0
k k

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Trabalho de uma força variável: 3D

 força F agindo em uma partícula ao longo de
O trabalho infinitesimal dW de uma
um deslocamento infinitesimal ds é:  
 dW =F ⋅ ds
F 
ds
 (Trajetória C) Portanto o trabalho total, W, será a soma de
ds 
F todos estes trabalhos infinitesimais, dW, ao
(em cada instante
longo da trajetória descrita pela partícula.
devemos calcular Esta soma leva uma nome e uma símbolo
 dW = Fds cosθ) especial; é a Integral de Linha
F θ  
W = ∫dW =∫ F ⋅ ds = ∫ F ds cosθ

ds C C C

 
Se F = Fx i + Fy ˆj + Fz kˆ xf yf zf

e W = ∫ Fx dx + ∫ Fy dy + ∫ Fz dz
Fx = Fx (x ) ; Fy = Fy ( y ) ; Fz = Fz (z ) xi yi zi

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Exemplo: Movimento circular uniforme
Ausência de trabalho no movimento circular uniforme
 
v ds A força centrípeta não realiza trabalho:
    
F dW = Fc ⋅ ds = 0 , pois Fc ⊥ ds
c

Ou, pelo teorema do trabalho-energia cinética:

ΔK = W = 0


v =cte

A força Fc altera apenas a direção do vetor velocidade, mantendo o seu
módulo inalterado.

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Potência
Até agora não nos perguntamos sobre quão rapidamente é realizado um
trabalho!
A potência P é a razão (taxa) de realização do trabalho por unidade de tempo:

dW Unidade SI:
P=
dt J/s = watt (W)
 
Considerando o trabalho em mais de uma dimensão: dW = F ⋅ dr
 
dW dr
P= =F⋅
dt dt
O segundo termo é a velocidade. Então:

P= F ⋅v

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Trabalho e potência
100 m rasos × Maratona

P. A. Willems et al, The Journal of Experimental Biology 198, 379 (1995)


100 m rasos Maratona (42.142 m)
Trabalho realizado sobre o corredor: Trabalho realizado sobre maratonista:
2,1 × 104 J 5,9 × 106J

Potência: Potência:
2,1×104 J 5,9×106 J
P100 = = 2100 W P100 = = 816 W
10 s 2×60×60 s

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Um pouco de história

definição da unidade
cavalo-vapor:
James Watt 1736-1819
1 cv = 550 lb.ft/s
1 cv = 746 W v = 1,0 m/s
m ~ 76 kg
Unidade de potência criada por Watt para fazer o
Esquema de máquina a vapor de marketing de sua máquina em uma sociedade
James Watt (1788)
fortemente dependente do (e acostumada ao)
trabalho realizado por cavalos.
1a motivação: retirada da água das minas de carvão.

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Energia cinética relativística: curiosidade

(energia cinética relativística)


⎛ ⎞⎟
⎜⎜ ⎟⎟
2⎜
⎜ 1 ⎟⎟ relativística
K = m0 c ⎜⎜ −1⎟⎟
⎜⎜ v 2 ⎟⎟

K/mc2
⎜⎜ 1− 2 ⎟⎟
⎝ c ⎟⎠
clássica

No limite para v << c :


1
K = m0 v 2
2 v/c

(energia cinética clássica)

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