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Sinopse
Um romance de Natal.
Lady Juliet Lindsay cometeu um erro colossal. Diante da desilusão dos seus
pais, percebeu que um simples beijo roubado poderia custar-lhe tudo. Enviada
para a casa dos tios, na Escócia, ela encontra algo na beleza áspera das terras altas
que rouba o seu coração... e um Highlander, que parece ser a sua outra metade.
Iain MacLeon, chefe do Clã MacLeon, tem o suficiente com que se
preocupar, numa altura em que a política parece um amontoado de animais em
tumulto. Ele ama o seu povo e a sua terra, mas percebeu que também precisa de
uma mulher para compartilhar esse fardo. E então, ele a encontra... uma ruiva
inglesa que rouba o seu coração e o mantém refém de todas as suas crenças e de
tudo o que estima. Mas como convencerá o seu Clã, a amá-la como ele a ama?
Capítulo 1
— Ouviu o que ele disse, Juliet? — Sussurrou Fiona, puxando-a para longe
da entrada da tenda do Clã MacLeon.
— Ele não estava a falar de mim! — Sussurrou Juliet, esforçando-se para
ouvir o que os homens diziam. — Não podia ser.
— Quem mais? — Fiona inclinou-se para a frente para ouvir mais, mas o
som das vozes profundas tinha parado. — Pelo que sei, você é a única "moça
inglesa" nos jogos das Terras Altas.
Juliet tinha de admitir que isso era verdade. Estavam no segundo dia dos
jogos e ela viu Iain MacLeon competir durante boa parte do dia e meio que
estivera ali. Elas tinham acabado de dar um passeio após o almoço e passavam ao
lado do acampamento dos MacLeon quando o ouviram falar.
Fiona uniu seu braço a Juliet e endireitou-se com um sorriso travesso.
— Vamos aproximar-nos mais um pouco?
O coração de Juliet começou a bater fortemente com a emoção.
— Devemos? O seu pai disse que ele é o mais famoso... o mais poderoso... o
mais... — Ela engoliu em seco, pensando naqueles músculos volumosos quando,
menos de uma hora atrás, ele levantou o tronco; um poste de madeira de vinte
metros que deveria pesar mais de doze quilos e jogá-lo numa distância
vencedora.
— Exatamente — Fiona continuou retirando o braço de Juliet. — E ele
acabou de dizer que você é a moça mais bonita dos jogos.
Como ele podia pensar assim, se era sobre ela que falava, era
incompreensível. A sua mãe sempre reclamava da sua forma tão "redonda" e que
não tivesse a altura escultural e as características recatadas que tanto a sua mãe
como a sua irmã loira compartilhavam. Ela tinha o cabelo mais vermelho que
dourado, uma cor brilhante que ardia ao sol e atraía os olhos de muitos homens,
mas, infelizmente, não como uma esposa. Não conseguia compreender por que
atraía o tipo errado de atenção, mas a sua mãe estava cada vez mais desagradada
com ela, exigindo grandes chapéus e golas altas sempre que saíam. E então havia
a voz dele. E estremeceu só de pensar nisso.
Talvez o chefe do Clã MacLeon, Iain Alexander MacLeon, tivesse ouvido
que ela era daquele tipo. Talvez pensasse nela em termos de fogo e tempestade,
não de casa e lar.
Baixou a cabeça enquanto Fiona puxou-a para a fila de tendas MacLeon,
olhando para o chão e deixando que a sua bem-intencionada, embora demasiado
corajosa para a sua sanidade, prima a conduzisse pelo caminho de erva gasta.
Um grupo de tocadores de gaita-de-foles deu a volta pelo outro lado da
fileira de tendas, uma canção tão antiga quanto o tempo começou das suas gaitas
de foles. Eles marcharam em direção a elas vestidos com seus plaids, praticando
para a atuação que estava por vir. Julieta e Fiona congelaram, tanto pelos
tambores como pelo som das gaitas de foles, tão próximos e fortes, os joelhos dos
homens da frente chutando contra os seus kilts, golpeando a terra sob os seus
pés. Juliet agarrou a mão de Fiona, petrificada no meio do caminho, olhando
fixamente e atemorizada, até que os gaiteiros quase sopraram sobre os pescoços
das meninas.
Eles não iam parar.
Teriam de fazer algo em breve ou seriam pisoteadas sob a "Maravilhosa
Graça" de Deus.
O coração de Juliet acelerou quando os seus rostos se aproximaram, sabendo
que deviam sair do caminho, mas de alguma forma não conseguindo. A música
lançara um feitiço sobre ela e ela não conseguia mexer-se. Era a música mais
celestial que alguma vez ouvira.
— Vamos! — Fiona puxou o seu braço novamente, mesmo antes de os pés
em marcha alcançarem o seu estado de estátua congelada.
Fiona poderia parecer uma jovem pequena e fraca, mas não era nada disso.
Ela afastou Juliet para longe da multidão em marcha, para cima de um pedaço
de relva e na direção da lateral da tenda, onde tinham estado. O tecido cedeu sob
o peso das duas, ondulando, cedendo com uma espécie de lenta deflação e depois
recuando um pouco, mas não o suficiente para recuperar o equilíbrio. Caíram de
novo, um pequeno mastro rangeu para a direita, em seguida, o som de tecido
rasgando, como se um grande homem acabasse de se inclinar e rasgar as calças.
Ambas ficaram sem fala e resmungaram quando aterraram em algo duro que
estava dentro da tenda. Moveu-se debaixo delas e ouviu-se um grunhido. Gritos
soaram de dentro da tenda contra o barulho da música. Juliet e Fiona
entreolharam-se com os olhos abertos, o cabelo que caía das suas toucas
cobrindo-as, os vestidos torcidos, reprimindo o horror com o riso.
— Quem está aí? — Disse uma voz estrondosa, profunda e aveludada.
As risadas pararam e a cor desapareceu dos seus rostos. Soltaram-se da lona,
ainda meio de costas, e ergueram os olhos para o grande homem que agora
olhava para elas. Fiona engoliu algum tipo de som, meio riso, meio gemido.
Juliet puxou o emaranhado de cabelos sobre os seus olhos e viu uns cordões
amarrados a uns sapatos, numas grossas panturrilhas. O seu olhar viajou para um
kilt pesado, vermelho com verde e dourado, para uma cintura com um cinto
apertado com armas, com uma espécie de faca larga brilhando ao sol, que fez os
seus olhos arderem ao vê-la. O seu olhar voou para um peito nu, forte,
musculoso, dourado pelo sol, braços como... como...
Oh, que o querido Senhor no céu a ajudasse, era ele.
O seu olhar voou para o seu rosto, para os seus olhos. Eram azuis e
fascinantes sob a luz, olhando-a com tanta intensidade. Com aquele cabelo loiro
escuro, parecia um leão que simplesmente acabara de acordar de um cochilo
confortável. O seu olhar segurou o dela por um longo tempo, como se fosse sua
presa e a arrastasse para uma armadilha. Balançou a cabeça, achando que
imaginava. Piscou, tentando levantar-se. Ele estendeu a mão e agarrou-lhe o
braço. Ela não conseguia tirar os olhos dele, as gaitas de foles e os tambores
soando ao fundo, deixando uma cadência irreal no momento. O chefe MacLeon
colocou-a de pé. Olhos azuis e cabelos brilhantes como o sol; não podia ver nada
além do seu rosto e imenso peito.
Era o homem que a chamou de "bonita".
— E o que temos aqui? — A sua voz profunda retumbou contra o seu
ouvido quando a puxou para ele. — Estão a tentar destruir a minha humilde
morada ou é apenas a minha pessoa que pretendem ferir?
— Oh, não, possivelmente não conseguiríamos causar tais ferimentos, bem,
isto é... — Ele piscou várias vezes quando se apercebeu que Fiona
desembaraçava-se de outro pedaço de lona e tentava fazer uma reverência
hesitante, afastando o seu próprio cabelo loiro da frente do rosto.
— MacLeon, não pretendíamos causar qualquer dano. Pedimos que nos
desculpe. — Fiona baixou-se tanto que o nariz quase tocou a lona que estava
caída ao lado da tenda. — Na verdade, foi um acidente, estávamos prestes a ser
pisoteadas pelos gaiteiros!
Ele olhou para a frente, por onde o bando de músicos descia, enquanto a
música desvanecia nas principais praças da festa.
Ele endireitou-se, apertando ligeiramente os braços de Juliet para verificar se
estava estabilizada e largou-a, inclinando ligeiramente a cabeça para um lado,
como para comprovar se ela conseguia manter-se de pé.
Ela tinha a certeza que não podia.
Ele era muito mais alto de perto e com o cheiro de um homem que esteve a
competir; couro, sujeira e suor. Aí estava um homem acostumado a chefiar e a
ganhar com a força do corpo. Um homem como nenhum dos que conheceu nos
congestionados salões de baile de Londres. Um homem que a fez pensar em
trabalharem juntos nos campos, em crianças feitas sob cobertores e nascidas em
uma família unida e amorosa, uma força e amor que resistiria ao teste do tempo.
De alguém que poderia conhecê-la, verdadeiramente, e talvez não se importasse
muito com os seus defeitos...
Oh, Deus, tinha de controlar estes pensamentos errados. Não existiam tais
coisas. As mulheres só ansiavam por isso.
— Bem, moça? — Ele estendeu a mão e esfregou o polegar contra o queixo
dela com uma insistência suave, exigindo que mantivesse o olhar.
— Estávamos a ser cercadas pelos músicos e saltamos para o lado. Minhas
desculpas, meu Lorde. Não pretendíamos causar danos.
Os seus olhos iluminaram-se com curiosidade ao ouvi-la, a sua voz, que era
sempre baixa e rouca e "preenchida com um calor especial", como um homem
sussurrando, não importava o que tentasse para torná-la alta e feminina.
Um lado da sua boca subiu um pouco e os seus olhos brilharam com um
humor travesso.
— Mas você causou dano. Och, agora como vou descansar para o arremesso
de martelo? — Ele inclinou-se e Juliet pôde ver os olhos de Fiona crescerem
amplamente com espanto, quando em um grunhido baixo ele disse: — E se me
faz perder, moça?
— Eu, heim… — Juliet olhou para aqueles olhos azuis surpreendentes e
respirou fundo. — Você não pode perder, — disse seriamente. E depois, com
mais convicção: — Você não vai perder.
O seu rosto sério transformou-se, lentamente, num sorriso largo e depois
numa risada profunda.
— E não vou. — Inclinou-se para cada uma delas com um aceno de cabeça
e, em seguida, perguntou: — Serão, então, minhas convidadas?
Juliet olhou para Fiona, sem saber o que dizer.
O sorriso de Fiona preencheu o seu rosto enquanto fazia nova reverência.
Meu Deus, parecia estar a reprimir aquela dança alegre que sempre fazia quando
estava particularmente feliz com alguma coisa.
— Você quer dizer sentar-se com o Clã MacLeon e animá-lo? — Fiona
perguntou com as sobrancelhas arqueadas. — E vamos agitar a sua bandeira? —
Acrescentou antes que ele tivesse tempo de responder.
— O seu pai não se importa? Ele é do Clã Erskine, certo?
Fiona encolheu os ombros.
— Não participaremos nos jogos deste ano.
— Ah! — Ele sorriu. — Então você anda à procura de um campeão?
— Não realmente, não desde que eu ouvi... — Fiona parou quando notou
os grandes olhos de Juliet e os gestos com a cabeça. — Sim, sim, estivemos a
observar os adversários.
O chefe encolheu os ombros.
— Muito bem. Se vão defender o Clã MacLeon, então tudo está perdoado.
As moças olharam uma para a outra.
Ele olhou atentamente para Juliet.
— Encontrarei as cores MacLeon para você usar. Acho que gostarei de vê-las
em você.
Em seguida, virou-se, e saiu para os campos de competição.
Fiona ficou sem fôlego, assim que ele estava fora do alcance da voz.
— Juliet, você ouviu isto? — Ele quer ver as suas cores em você! — Fiona
segurou-lhe os braços. — É praticamente uma declaração. Ele pode estar indo ao
meu pai, neste momento, para pedir-lhe permissão para cortejá-la.
Juliet tirou as mãos da sua prima dos seus braços.
— Ou pode ser como muitos outros homens e só seja charme e
engenhosidade. — Virou a prima para os restos da tenda. Devemos tentar
resolver este problema.
Fiona olhou ao redor da área e, depois, apontou para dois homens com kilts
com as cores MacLeon, conversando e roubando olhares delas.
— Sim, mas talvez precisemos de um pouco de ajuda.
Juliet riu.
Ela não pôde evitar. Se alguém conseguia consertar uma tenda sem mexer
um dedo, seria certamente a sua loira e alegre prima.
Capítulo 3
Iain acenou com a cabeça para Ruck e tomou outro gole da caneca do que
Ruck insistia ser a melhor cerveja de Nothumberland. O menino estava a tentar
embebedá-lo de modo a não poder ir embora na manhã seguinte? Tinha-lhe dito
que partiria para Edimburgo, tinha negócios com as ovelhas, mas que voltaria e
veria a sua irmã, e... bem, ele balançou a cabeça para limpá-la. Apenas tinha
prometido voltar, não disse o que faria quando regressasse a Edem Place, porque
nem ele sabia exatamente o que faria.
Balançou a cabeça e fechou os olhos. Eles queriam fechar e não voltar a
abrir... e a sua fala... podia sentir. Começava a falar com a profunda pronúncia
das Terras Altas da Escócia que apenas alguns de seus companheiros gaélicos
podiam entender. Ele estava cansado até os ossos... Deus o ajude.
Passou a mão pelo rosto e sentiu a aspereza da sua barba de dois dias.
Precisava de um bom barbear e uma toalha quente no rosto, era isso o que
precisava. E uma cama agradável, macia...
— MacLeon, ouviu-me?
Iain virou-se para a voz. Soava perto e ao mesmo tempo um eco como se
viesse de um desfiladeiro profundo. A sala começou a balançar. Bom Deus no
céu, orou, o que bebi para me sentir assim? Ele estava exausto ao ponto de
querer cair no chão, roncando completamente. Saudou a voz, sem se importar se
era Malcolm, e então procurou por Ruck. Onde estava aquele cachorrinho? Ele
iria mostrar-lhe a cama ou veria o lado intransigente da sua...
Ruck apareceu ao seu lado — MacLeon. Tenho algo importante para
mostrar-lhe.
Iain sinceramente esperava que fosse um travesseiro de penas grossas.
Foram pelas escadas de pedra que serpenteavam até ao terceiro andar, onde
os quartos ficavam em cada lado do longo e estreito corredor. Ruck guiou-o com
um empurrão na direção certa, abrindo a porta e empurrando-o para dentro.
O rapaz não precisava ser tão agressivo. A luz brilhante da lua apareceu pelas
janelas altas e iluminou o quarto. Uma grande cama de dossel chamava-o como
uma amante há muito perdida.
— Dormir. — Ele sentiu a palavra grossa nos seus lábios. Apenas algo...
— Sim. — A voz de Ruck era como um empurrão gentil de uma mãe. —
Você só precisa dormir. — Como a sua mãe costumava dizer quando estava com
febre.
Caiu atravessado na cama e tentou ajudar quando Ruck tirou-lhe os sapatos.
O rapaz colocou-lhe as pernas na cama e cobriu-o com uma manta de cheiro
agradável. Teve de admitir que, embora a casa de Juliet tivesse sido saqueada das
suas riquezas, cheirava melhor do que a maioria e era muito confortável.
Esfregou o rosto contra a suavidade da colcha, sentindo-se como um garotinho e
pensando que aquela cama era um pedaço distante do céu...
— Boa noite, MacLeon. — A sombra de Ruck inclinou-se para ele enquanto
se afastava.
— Espere. — Iain recuperou por um momento e virou a cabeça para o
rapaz. — A sua irmã... — Ele piscou pesadamente. Estava…muito…cansado…
— Aye?
Iain rolou sobre as costas e esticou os braços, dando um longo e profundo
suspiro.
— Você sabe que a amo, não sabe rapaz?
Iain ouviu uma risada suave — Sim, MacLeon. Estou a contar com isso.
Ouviu o baque da porta a fechar-se e então a escuridão fechou-se ao seu
redor.
***
— Juliet. Juliet, acorde.
Juliet virou-se para o som, sempre teve um sono profundo e tentou enterrar
a cabeça debaixo do travesseiro.
— Juliet, se não quer encontrar-se noiva de Malcolm pela manhã, é melhor
acordar.
Ela ergueu-se, respirando rápido e piscando.
— O quê?
— Shhhh.
Virou-se e viu Ruck de pé ao lado da cama com uma vela acesa.
— Ele está fora de combate. O plano funcionou.
— Plano?
— Juliet. O MacLeon. Dei-lhe um pouco mais do que acho que a mãe
normalmente toma à noite para ajudá-la a dormir. Ele está a roncar alto o
suficiente para despertar os mortos.
— Fizeste-o? Oh, que o Senhor tenha misericórdia de nós. Eu nunca
concordei com o seu plano bobo. Você está louco?
— Ele disse que te amava. — Ruck recuou e franziu os lábios, esperando. O
seu irmão sabia que estava a jogar uma carta vencedora, a única carta que poderia
mudar a sua opinião.
— Como sabe?
— Disseme. — Ruck bateu levemente no rosto e imitou o sotaque escocês.
— Você sabe que a amo, não sabe rapaz?
— Ele disse isso? — Juliet saltou da cama e agarrou a bata, jogando-a sobre
os ombros e amarrando a fita de cetim azul sobre o corpete, vestindo-se mais
rápido do que jamais havia feito.
Ruck sorriu e Juliet gemeu.
— Disse.
— Ruck, isto é uma loucura. Sei que quer ajudar e toda gente sabe que
preciso de algo, um plano, mas drogar e sequestrar um chefe escocês e depois
esperar que ele faça os votos...
— Vai funcionar Juliet. Eu sei que vai.
Juliet olhou para o irmão e sentiu as lágrimas nos olhos. Tinham perdido o
pai e agora tinham de lidar com Lorde Malcolm, não era de admirar que se
agarrassem a qualquer coisa.
— Mostre-me. Preciso saber que não deu demasiado.
Ruck fez um som descontente, mas saíram do quarto de Juliet e foram para o
quarto onde tinha deixado Iain.
Quando passavam pela parte superior das escadas, vozes altas detiveram-nos
no caminho. Eles encolheram-se contra a parede, escondendo-se nas sombras.
— Não faz sentido esperar, meu Lorde. Temos de levar a moça connosco de
manhã, assim que o escocês for embora, e evitar qualquer problema com
MacLeon. Tem o contrato de casamento assinado por Lorde Lindsay, por que
esperar que o atrasem com intrigas e artimanhas?
— Sim, por que esperar por uma deliciosa carne fresca na minha cama? —
Uma risada vazia ecoou, enchendo a sala, juntamente com o riso obsceno dos
homens de Lorde Malcolm. Uma cadeira raspou como se estivesse a ser afastada
da mesa.
Juliet sentiu o sangue sair do rosto. Eles a levariam à força pela manhã. A sua
mãe não faria nada para detê-los. Ninguém o faria. Apertou as mãos com tanta
força que sentiu a dor entrar na sua consciência. Ruck agarrou-lhe o braço e
puxou-a pelo corredor, com o dedo nos lábios, lembrando-a de ficar calada.
Eles voltaram para o quarto que usavam para os hóspedes, embora
raramente, e Ruck fechou a porta suavemente. O luar iluminava o quarto através
de duas janelas de vidro. Juliet virou-se e viu Iain, a dormir e a roncar
profundamente na cama. Ele ainda usava o traje de noite, exceto os sapatos e
cardaços.
— Depressa. — O seu irmão fez um gesto para a cama. — Não temos
escolha agora. Ajude-me a colocar os sapatos.
Juliet moveu-se como se fosse de madeira, mas ainda assim obediente. O seu
irmão, seu amado irmão, que ela sempre amou e cuidou, assumiu o controle e
cuidou dela. Dificilmente sabia o que fazia enquanto amarrava os sapatos nas
pernas magras, mas musculosas. Olhou-lhe para o rosto, aliviada por estar a
respirar normalmente e ainda feliz por estar a dormir profundamente. Ruck
dera-lhe muito láudano para esse fim.
— É muito maior do que nós. Como vamos levá-lo para a carruagem?
Ruck empurrou o outro sapato nas suas mãos, foi até ao quarto de vestir e
trouxe uma tábua comprida com um cinto preso no meio. Juliet reconheceu-a.
Era usada quando alguém era ferido, ou tinha caçado um animal grande, quando
algo grande tinha de ser carregado.
— Ruck, não vou conseguir carregar um lado disso. Deve pesar cerca de
doze quilos.
— Nós podemos, querida irmã, e nós vamos. Apenas pense na cama de
Malcolm e terá força.
Teve de admitir que o pensamento lhe deu coragem para pelo menos tentar.
Ele inclinou uma extremidade da tábua contra a cama e colocou as pernas de
Iain sobre ela.Com Juliet na cabeça e Ruck a puxá-lo pela cintura, conseguiram
subir uma grande parte dele. Ele apenas roncou mais alto.
Ela inclinou-se sobre uma extremidade da tábua contra a cama e pendurou
as pernas de Iain sobre ele com Juliet em sua cabeça e Ruck puxando a cintura
de Iain, eles conseguiram obter a maior parte. Ele apenas roncou mais alto.
— Espere, tenho uma ideia. — Juliet deteve Ruck antes de o levantarem
completamente. Foi ao armário da água e tirou dois barris de vinho, lembrou-se
que mantinham alguns neste quarto. Eram feitos de madeira e principalmente
redondos. — Se os colocarmos debaixo da tábua, e depois os virarmos, movendo
os barris, conforme seja necessário, podemos alcançar pelo menos o topo das
escadas com pouco ruído.
Ruck assentiu, uma risada surgiu no rosto.
— Bem pensado.
Funcionou muito bem. Eles pararam na porta para se certificarem de que os
convidados tinham se retirado para dormir e não ouviram nenhum som, só
viram o tremular de uma vela que alguém deixou acesa no grande salão. No topo
da escada, pararam e olharam um para o outro. E agora o quê?
— É uma pena não podermos rolá-lo pelas escadas abaixo, — sussurrou
Ruck.
Juliet reprimiu uma risada histérica. Ela ainda se sentia como um ator em
uma peça. A sua vida realmente não a levou a isto, pois não?
— Bem, se estivermos ambos na extremidade inferior, podemos, certo?
Ruck assentiu.
— Tenha cuidado. Ele não vai ficar feliz se o largarmos pelas escadas e
acordar todo machucado.
Juliet empalideceu só de pensar na sua reação se o machucasse.
— Bem. Simplesmente fique calado.
— Claro, vamos.
Juliet ficou de um lado da tábua, enquanto Ruck ficava no outro, aos pés de
Iain. Lentamente deslizaram-no, degrau a degrau pelas escadas.
Quando chegaram ao fim, ambos olharam nostálgicos para os barris de
vinho.
— Suba e traga-os. — Disse Juliet a Ruck.
Um barulho repentino no salão, ao virar da esquina e à direita, congelou-os.
Um homem gemeu e mexeu-se.
Regressaram às sombras, mas não conseguiram mover a tábua ou Iain, que
ainda roncava baixinho. Juliet aproximou-se e colocou a mão na sua boca, mas
só conseguiu fazer o ronco sair pelo nariz como um bufo suave.
— Oh, querido.
— Alguém vem, — sussurrou Ruck. — Rápido, temos de movê-lo. — Ruck
pegou-o por um ombro e levantou-o. Juliet segurou no outro ombro e juntos o
colocaram de pé. Ele não estava completamente inconsciente quando o
moveram, então ele foi capaz de ficar parado, ou algo assim em seus pés.
Colocaram os braços ao redor dos seus ombros e meio que o arrastaram, meio
que o carregaram e levaram-no ao redor da esquina de pedra em direção à
entrada. Com sorte quem andava pelo salão não notaria a tábua ao pé da escada.
Com os pés apenas arrastando e às vezes deslizando atrás dele, eles
conseguiram tirá-lo, onde Juliet tombou contra o seu peso.
— Não consigo dar outro passo. — Ela sussurrou.
Ruck baixou o outro lado e apoiou Iain contra uma coluna de pedra.
— Vamos arrastá-lo para aqueles arbustos. Sente-se com ele e eu vou buscar
a carruagem.
— A mãe vai nos estrangular por isto.
— Vamos dizer-lhe que foi ideia de MacLeon. Você não tem culpa. — Ruck
sorriu, com os olhos tão brilhantes pela aventura à luz do luar que Juliet sentiu
uma pontada de amor por seu irmão. Acenou para ele ir, mas continuou a
pensar, o que aconteceria?
Capítulo 7
Iain ouviu o grito e soube que não podia esperar mais um segundo. Ele
estava agachado do lado de fora da tenda e sabia que a sua esposa estava lá com
Malcolm. Onde estavam os homens com a distração? Tinha que ir sozinho e
arriscar que o plano fosse destruído.
No momento em que se levantou da sua posição agachada, os sons de
cavalos a relinchar e a bufar soaram na quietude da noite. Ele olhou para cima e
viu a sombra de um dos seus homens a desamarrar uma rédea e a empurrar o
cavalo em direção ao acampamento. Graças a Deus estava a começar.
Olhou com expectativa para a tenda onde Malcolm mantinha a sua esposa,
mas o homem não saiu para investigar. No entanto, outros homens no
acampamento notaram e acordavam. Um grito repentino emergiu e, em seguida,
vários outros homens correram para o centro do acampamento. Pistolas e
mosquetes foram carregados, mas ninguém parecia estar em pânico.
Teria que fazer alguma coisa... agora.
Levantou a pistola, apontou para o poste de madeira mais distante que
continha a tenda. Estava escuro e respirava com dificuldade, mas tinha de acertar
no poste; não havia espaço para erros. Olhou através da mira situada sobre o
canhão e apertou o gatilho.
Fumaça saiu da arma, tornando impossível, por um segundo ou dois, ver se
tinha acertado e então ouviu um estalido, uma vibração de um lado da tenda ao
colapsar e um rugido de raiva vindo de dentro.
Malcolm saiu a correr da tenda, uma mão no pescoço e sangue a escorrer
entre os dedos. Juliet tinha feito isso? Lembrou-se da faca e sorriu.
Malcolm começou a rugir demandas. Iain conseguiu ver que as calças
estavam desabotoadas. O seu estômago revirou. Ele ia ficar doente... ou pior,
estrangular o homem a sangue frio.
Quero-o vivo, dissera o oficial. Foi a única coisa que impediu Iain de saltar e
atacá-lo ali mesmo.
Siga o plano.
As palavras rugiram dentro de sua cabeça, mas o corpo esforçava-se por
deixar a cobertura do arbusto e correr para a sua noiva.
Observou com a respiração contida como Malcolm se dirigia para a comoção
da debandada, os cavalos e os seus homens correndo, dando voltas, procurando a
causa na escuridão. Assim que Malcolm chegou à fogueira, Iain respirou fundo,
o primeiro em minutos, e suavemente saiu detrás do arbusto para andar
furtivamente a curta distância de erva até a entrada da tenda.
Empurrou a aba e correu para dentro.
— Juliet? — A tenda estava escura e meio caída. Ouviu um soluço e depois
sentiu-a estreitar-se em seus braços. Tremia da cabeça aos pés e segurava uma
faca ensanguentada na mão.
Apertou-a com força contra si e sussurrou: — Apunhalou-o?
Ela acenou com a cabeça contra o seu peito, soltando um gemido.
— Shhhh, está tudo bem agora. Vamos. — Ele pegou a faca dela, limpou-a
na erva, enfiou-a no cinto e pegou a mão dela. Abriu um pouco a aba da tenda e
espiou, escutando. Disparos juntaram-se à comoção. — Fique agachada, —
instruiu.
Agachando-se, deslizaram desde a tenda de volta para o esconderijo onde
Iain estivera. Uma vez atrás da espessa copa de galhos, eles pararam para respirar.
Iain voltou a avaliar a situação. Malcolm dirigia os seus homens para a colina e
riacho, à procura dos homens do meirinho. Pelo canto do olho, viu uma sombra
de branco e percebeu que Malcolm enviara um dos seus homens de volta à tenda
para vigiar Juliet. Gesticulou para Juliet se agachar ainda mais quando o homem
correu para a tenda e depois saiu novamente. Ia apressado contar a Malcolm, e
Iain não podia deixar isso acontecer.
Apoiado na parte superior de um arbusto denso, puxou a pistola e estendeu-a
em direção ao homem. Um som de uma explosão veio desde o seu lado direito
antes que pudesse apontar. O homem caiu no chão. Virando-se bruscamente,
Iain viu o oficial parado em um pequeno penhasco. Com um movimento de
mão, o oficial disse a Iain que ele esteve sempre a observar e que sabia que Juliet
estava com ele. Ele cobriu-os o tempo todo. Iain respirou profundamente e
afundou ao lado da sua noiva.
— Juliet, escute com atenção. — Gentilmente pegou no rosto em suas mãos
e virou-o para ele. Os seus olhos estavam arregalados de surpresa e cheios de
lágrimas. — Shhhh, minha doçura, tudo ficará bem.
Ela negou com a cabeça.
— O que fazemos? São muitos.
— Estou aqui com o oficial de justiça de Gretna Green e uma dúzia de
homens. Podemos vencer esta luta. — Apertou-lhe o ombro e apontou para a
colina, longe do acampamento, para onde tinham viajado no início. — Vê essa
corrente? Vamos segui-la de volta para a estrada de Gretna Green.
Aproximadamente a oito quilômetros está nosso acampamento; escondido no
sopé daquelas colinas.
— Não me pode enviar para ali sozinha. — Agarrou-se ao braço dele com
um desespero que nunca tinha visto nela. Teria Malcolm conseguido antes que o
esfaqueasse? Só a ideia o fez querer vomitar, mas agora não era o momento de
perguntar.
— Não, garota. Vou leva-la.
Pegou na mão dela e colocou-a atrás dele enquanto desciam para o vale
seguindo o riacho, os disparos continuavam a soar atrás deles.
Nuvens escuras e sombrias moviam-se com o vento, o luar ia e vinha,
luzindo na corrente enquanto corriam, com a respiração agitada e densa na noite
calma, longe da situação. Assim que ficaram longe o suficiente para não ouvir as
rajadas de tiros, Iain pôs Juliet sobre uma pedra grande e plana, e convidou-a a se
sentar e recuperar o fôlego.
— Mas devemos parar? — Ele segurou-a e sabia que ela tinha razão.
— Apenas por um momento.
Ela engoliu em seco e assentiu. Quando recuperou fôlego suficiente para
falar, expulsou rapidamente todas as perguntas que deveria estar a pensar.
— O que aconteceu? O ferreiro sobreviveu? Sinto-me tão horrível — olhou
para ele com olhos doloridos de pânico, a pele luminosa na luz clara. — Ele está
morto, não está?
— Aye — Iain olhou brevemente para longe e passou uma mão sobre os
olhos, sentindo-se subitamente cansado. — O oficial e a milícia vieram em nossa
ajuda devido à morte do ferreiro. Pretendem ver Lorde Malcolm enforcado,
embora não sei se eles têm o poder de mantê-lo aqui na Escócia.
— Então é a morte do ferreiro que nos pode salvar. — Balançou a cabeça,
lágrimas nos olhos. — Não é justo. Eu só... Ruck e eu... O Ruck está com eles?
Iain agachou-se na frente dela e pegou-lhe na mão.
— Pedimos-lhe que ficasse no acampamento e o defendesse de qualquer um
que pudesse chegar e nos descobrir. Ele não ficou muito feliz com isso, asseguro-
lhe. Mas se me obedeceu, então está seguro.
— Reze a Deus que tenha escutado.
— Está mais calma, então? — Iain puxou-a para cima e para os seus braços,
olhou para ela, o seu cabelo era uma bagunça de longos cabelos escuros ao redor
dos ombros.
— Aye — Tinha adotado o seu modo de dizer "sim".
Queria perguntar-lhe o que tinha acontecido com Malcolm, quase não podia
evitar que as perguntas escapassem dos seus lábios, mas se ela lhe contasse algo
que ele não poderia suportar, não achava que fosse capaz de prosseguir com o
plano. A enviaria para o acampamento sozinha e voltaria para trás, e cortaria a
garganta de Lorde Malcolm. Estremeceu ao pensar nisso.
— MacLeon! — Um grito sussurrado o deteve. Virou-se e agarrou a arma e
depois empurrou Juliet para trás dele. Ambos se voltaram para a voz.
— Não atire, pelo amor de Deus! — Seu irmão saiu de trás de uma árvore
espessa com as mãos para cima. — Sou só eu.
— Ruck! — Juliet afastou-se de Iain com um som desesperado saindo da
garganta e correu para o irmão, jogou os braços ao redor do seu pescoço e quase
o jogou no chão.
Iain correu atrás dela. O que fazia o rapaz tão longe do acampamento?
Ele respondeu à pergunta não formulada de Iain assim que estavam juntos.
— Não apareceu ninguém ao redor por tanto tempo que decidi que o
acampamento não precisava ser protegido, afinal de contas.
— As ordens não são para ser desobedecidas, nem decididas pela sua
avaliação da situação, — disse Iain, o seu olhar varrendo o horizonte em busca
de perigo.
Ruck assentiu e encolheu os ombros.
— Suponho que sim, mas achei que poderia precisar de mim.
Parecia tão autêntico, tão jovem e entusiasta que Iain não teve coragem de
continuar a repreendê-lo. Querido Senhor, é assim que é? Ter um irmão mais
novo? Descobriu que já havia um lugar especial gravado em seu coração para o
rapaz. Um lugar de proteção, um lugar paterno, um lugar que cresceria e que
mais tarde também estaria aí para os seus filhos.
— Sim, preciso de você, — disse Iain em voz baixa. Pegou na faca que tinha
dado a Juliet e entregou-a a Ruck, o punho para fora. — Leve a sua irmã de
volta ao acampamento e esconda-a. — Quando Ruck começou a protestar, Iain
deu um passo em sua direção e olhou para ele com toda a seriedade que tinha.
— Não confiaria a ninguém mais a tarefa. É uma missão tão perigosa quanto a
minha. Eles vieram por uma coisa e vão querer apenas uma coisa se nos
superarem. Juliet.
O rosto de Ruck assumiu a seriedade da situação.
— Teme a derrota?
— Nay, temer nunca. Seja um estrategista sobre isso, sim. Se não
regressarmos... — Ele virou-se para Juliet e prometeu com profunda convicção:
— Regressarei. — Para Ruck, terminou: — Se não voltarmos, você deve levar
Juliet à minha casa nas Terras Altas. Deve dizer-lhes o que aconteceu. Eles vão
protegê-lo.
— Mas como saberei o caminho? — perguntou Ruck.
Iain extraiu uma tira de couro do cinto, onde a colocou pronta para amarrar
algo. A seguir, pegou um pesado anel de ouro do seu dedo, acorrentou-o na tira
e amarrou as pontas. Voltou-se para Juliet e colocou-o ao redor do seu pescoço,
deslizando o anel dentro do corpete onde não poderia ser visto.
— O selo MacLeon está gravado no anel. Também os manterá seguros na
Escócia e oferecerá orientação.
— Mas Iain... — Juliet aproximou-se dele.
Ele segurou-a pelos ombros e puxou-a para mais perto, olhando para os seus
belos olhos castanhos.
— Disse que viria por você e vim por você. Digo agora que vou regressar.
Tenha fé... Não tema, esposa.
Sentiu que ela ficou mais firme quando uma resolução interna atingiu a sua
coluna. Ela assentiu e ficou na ponta dos pés para beijá-lo. Pelo canto do olho
viu que Ruck virava-se, o que o fez sorrir enquanto se inclinava e devolvia o
beijo. A sua boca moveu-se sobre a dela, saboreando-a, recordando os seus lábios
macios.
Era o primeiro beijo como marido e mulher e ele prometeu que não seria o
último.
Capítulo 11
Juliet lembrou-se várias vezes durante a hora seguinte para ter fé. Percebeu,
sentada na escuridão junto ao seu irmão, abrigados por um afloramento rochoso
coberto de musgo, que poderiam ser muitas as vezes nos próximos anos, quando
Iain tivesse de sair para a batalha. O seu pai nunca teve de fazer tal coisa, que ela
se lembrasse, de modo que não era algo que tenha visto a sua mãe suportar.
Olhou para Ruck e sabia que ele também poderia ter de lutar pelo rei e pelo país
algum dia. Tinha quase a idade para se juntar à milícia britânica e parecia
ansioso por isso. Era dever das mulheres ficar para trás, manter o funcionamento
das casas e esperar e rezar para que os seus homens voltassem vivos. Para ela, não
havia um clã de outras mulheres e crianças em paz, para tranquilizar e consolar
quando as coisas dessem errado. Ao olhar para o seu futuro, viu que seria uma
líder, gostasse ou não.
Era hora de começar a agir como tal.
Pôs-se de pé.
— Ruck, que armas tem?
Ruck levantou-se, com o cenho franzido.
— Esta arma e uma faca. Porquê? Juliet, no que está a pensar?
— Estou a pensar que já nos escondemos tempo suficiente. Não nos vamos
colocar em perigo desnecessário, mas temos que voltar e ver o que está a suceder.
Eles estão em menor número e podem precisar de nós.
— MacLeon terá minha cabeça se a deixar fazer isso. — Ruck enterrou os
calcanhares com uma carranca.
— Não vamos lutar com Iain, apenas avaliar a situação.
— Bom, está bem. — O brilho da aventura surgira em seus olhos e Juliet
sabia que ele não poderia deixar de ficar animado por ver o que estaria a
acontecer.
Apressaram-se a voltar ao acampamento, a fria luz da lua ajudou-os a ver o
caminho. Quando se aproximaram, viram um bom lugar onde podiam olhar
para baixo e ver sem serem vistos, e esconderam-se atrás do mato alto.
— Está muito tranquilo, — comentou Ruck.
De fato estava; tão funesto. Juliet gesticulou com a mão e deslizou ainda
mais perto do próximo grupo de arbustos. Espiou por cima da vegetação rasteira
observando uma pequena fogueira que se extinguia e as tendas, algumas caídas,
brilhando na luz misteriosa. Havia três corpos no chão. O pulso de Juliet
acelerou enquanto procurava por Iain.
De repente, um grito cortou o ar.
Juliet endureceu, cada nervo zumbindo com a comoção.
— Veja! — Apontou para várias formas escuras que se deslocavam ao longo
do caminho, retrocedendo para a encosta onde ficava a estrada para a sua casa.
— Vamos.
Ruck já estava de pé em uma posição inclinada e aproximando-se. Juliet
segurou a saia e acompanhou-o. Aproximaram-se o suficiente para conseguirem
distinguir as vozes.
— Deixe-nos ir e ela vive.
Juliet esforçou-se por ver. Viu Iain; conheceu a sua forma instantaneamente.
Estava de pé com vários homens de um lado, enquanto Lorde Malcolm e os seus
homens estavam do outro lado. Piscou, perguntando-se se os seus olhos estavam
a pregar-lhe uma partida enquanto olhava fixamente para Lorde Malcolm. Ele
tinha uma mulher segura contra o peito, assim como tivera Ruck na oficina do
ferreiro. A mulher virou a cabeça e Juliet quase gemeu em voz alta. O coração
caiu.
— É a mãe, — Ruck ofegou. — O que está a fazer aqui?
Juliet não sabia, mas não podia ser bom.
— Vamos, lorde Malcolm, — dizia um dos homens do lado de Iain, com a
arma apontada para o par, — não quer outro assassinato em suas mãos, pois
não?
— Autodefesa. Qualquer lei na terra da Inglaterra me apoiará contra um
comerciante escocês — zombou Lorde Malcolm.
— Sim, talvez, mas contra uma dama? A mãe da sua prometida? Sei que isso
seria outra história.
— Cale-se. — Olhou para Iain. — Consegui o que eu queria de Juliet e não
tenho mais nenhum uso para ela. Ela não é a aliança que preciso. Se me devolver
a dívida que paguei por Lorde Lindsay e o custo de Eden, pode tê-la como o
bem danificado que é, legitimamente. Matou cinco dos meus homens. Vamos
terminar com isto e vamos embora sem sermos importunados.
Juliet apertou o maxilar, raiva enchendo-a pelo que Lorde Malcolm
insinuou. Jogava algum jogo obscuro. Esperava que Iain não caísse em nenhum
truque.
— E a sua mãe? Pode retornar para casa ilesa? — A voz profundamente
calma de Iain fez que Juliet respirasse com facilidade. Ele tinha um plano. Sabia
o que fazia. Tem fé. Tem fé.
— Vou deixá-la no meu caminho. Tem a minha palavra — declarou Lorde
Malcolm.
A sua mãe contorceu contra ele.
— Mente! Está queimada até os alicerces. Tudo! Não há mais Eden...
Lorde Malcolm cortou suas palavras sufocando-a com o braço.
Ruck começou a levantar-se, mas Juliet puxou-o de volta.
— Espere, — sussurrou.
— Temos que salvá-la! — O rosto de Ruck estava esculpido com miséria na
estranha luz.
— Espere, — Juliet concordou, silenciosamente lembrando-o de ter fé
também.
— Deixe-a connosco e pode ir, — declarou Iain com autoridade, estendendo
a mão para a mãe de Juliet. — Agora.
Lorde Malcolm hesitou e depois empurrou Lady Lindsay para ele. Ela abriu
a boca para respirar, mas correu para o seu lado. Iain empurrou-a para trás dele,
com a pistola, as armas do oficial e dos seus homens apontadas para os homens
de Lorde Malcolm enquanto estes viravam e montavam os poucos cavalos que
conseguiram reunir. Ela assistiu, incrédula, enquanto eles viravam os cavalos e
saíam. Ele realmente escapava do assassinato do ferreiro? Realmente os deixaria
em paz se Iain pagasse a dívida? Duvidava.
Juliet tinha começado a levantar-se quando soou um disparo.
Ruck puxou-a para trás dos arbustos, mas não antes de ver Lorde Malcolm
cair da sela e deslizar do cavalo para o chão.
***
Iain olhou em volta e viu que o oficial estava de pé com as pernas afastadas,
uma arma fumegante nas mãos. Ele olhou para Iain e piscou.
— Autodefesa.
Iain olhou abruptamente para os homens de Malcolm, esperando que
devolvessem o disparo, mas viu que galopavam para longe, obviamente, não
preocupados com o estado do seu amo.
Ele ficou ali comocionado pelo rumo dos acontecimentos. O oficial deu-lhe
um tapinha no ombro.
— Estou agradecido ao bom Laird pela luz da lua desta noite. — Sorriu. —
Não teria conseguido o disparo sem ela.
Iain sacudiu a cabeça.
— Teria sido melhor ir a julgamento... ver a justiça feita.
— Aye, teria sido. Mas o homem estava certo. Ele conseguiria livrar-se sem
sequer ter visto um julgamento. A lei favorece os ricos e os nobres. É uma pena,
mas é assim que as coisas funcionam.
Iain deu um longo suspiro, concordando.
— Cuidaremos do corpo. Vá procurar a sua noiva. — Deteve-se e virou a
cabeça de repente para Iain. — Por que ainda não o oficializou, certo MacLeon?
Juliet estava agradecida pelas sombras que ocultavam o fluxo de calor que
encheu o seu rosto.
— Gretna Hall, é para onde a vai levar. Vossa Senhoria e Lorde Ruck podem
ficar comigo e com a minha esposa por uns dias até que decida o que fazer.
— Isso é muito amável de sua parte — reconheceu Iain.
Lady Lindsay bufou.
— Não vou ficar com estranhos. Onde está o meu filho?
— Aqui! — Ruck levantou-se rapidamentee os saudou, gritando. Começou a
subir a colina em direção a eles. Com um pouco de ruído, Juliet correu atrás
dele.
Iain encontrou-a no meio do caminho e tomou-a em seus braços.
— O que está fazendo aqui? — Parecia satisfeito e irritado ao mesmo tempo.
— Disse que ficasses com Ruck.
— Ruck está aqui.
— Não era isso o que queria dizer. — Parecia que tentava decidir entre
beijá-la ou estrangulá-la. Ela decidiu tomar a decisão por ele, levantando-se e
envolvendo os braços ao redor do seu pescoço.
— Eu sei. Sinto muito. Eu… eu tinha que ver se estava bem. — Os seus
lábios separaram-se quando ela chegou mais perto.
Seus lábios caíram sobre os dela, absorvendo a sua frustração com o
movimento devorador da sua boca contra a dela. Os sentidos de Juliet
rodopiaram, deixando-a tonta e sem fôlego. Esqueceu-se de onde estavam, quem
podia ver, tudo exceto o homem que era seu marido.
Ele se separou, a respiração irregular.
— Não vai me desobedecer de novo?
— Hoje não, — prometeu com apaixonada sinceridade, sorrindo para ele.
Ele riu alto.
— Você vai ser a minha morte, moça.
— Não. — Ela balançou a cabeça, os olhos cheios de felicidade. — Eu vou
ser a sua vida.
Seus olhos ficaram suaves e cheios de amor.
— Aye. Isso será, esposa. Isso será
Epílogo