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www.impactus.org Fevereiro | Abril 2009 N.

º 14
ISSN 1646-0030 | Mensal | 5 euros

Sustentabilidade, Inovação e Educação


Entrevista com günter verheugen - Vice-Presidente da Comissão Europeia responsável pelas Empresas e Indústria
As crises actuais, o empreendedorismo social e a inovação tecnológica
Principles for Responsible Management Education – Manuel Escudero, Nações Unidas Global Compact
European Academy of Business in Society: entrevista com Simon Pickard, Director da EABIS
Report: Professores Universitários– Ética, Responsabilidade Social e Sustentabilidade nas Universidades Portuguesas
Sumário

4 Editorial 11 Mudar a agenda para 18 EABIS 26 IES


Jorge Rocha de Matos agendar a mudança Simon Pickard Miguel Alves Martins e
Francisco Jaime Quesado Catarina Soares
6 Günter Verheugen 20 EQUAL
12 PSECOLOGY -ou um passo Ana Vale 28 Reportagem: professores
8 A dinâmica das inovações não científIco na evolução universitários - ética,
tecnológicas limpas de Maslow? 22 Entrevista com responsabilidade social
Rafael Kellerman Barbosa Manuel Forjaz Manuel Escudero e sustentabilidade nas
universidades Portuguesas
10 estratégia de lisboa e do 14 A inevitabilidade da 24 Responsabilidade 33 Roteiro
plano tecnológico mudança de paradigma empresarial e inovação da Académico
António Bob Santos Bruno Cachaço e Daniel gestão
Amaral Nigel Roome 34 Roteiro
Inovação

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Jorge Rocha de Matos, Gunter Verheugen, Rafael Barbosa, António Bob
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Sofia Santos Pickard, Nigel Roome, Miguel Martins, Catarina Soares, Jaime Quesado,
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Jorge Rocha de Matos
José Delgado Domingos Propriedade
José Eduardo Martins Sustentare, Lda
Luís Leal
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Apoio Institucional
EDITORIAL

Jorge Rocha de Matos


Presidente do Conselho Geral da Associação
Industrial Portuguesa

Sustentabilidade,
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Inovação
e Universidades
No novo contexto global da vida empresarial, apostar no trinómio caminho certo para que Portugal se possa afirmar competitivamente
4 sustentabilidade-inovação-universidades, significa que, sendo a num novo patamar da cadeia de valor.
inovação um factor de afirmação competitiva para as empresas
e para as economias, ela deve ser pensada e projectada como Este, deverá ser também o fio condutor para os dois desenvolvimentos
alavanca do desenvolvimento sustentável. Significa, também, que a estratégicos inadiáveis a operar na economia portuguesa: por um lado
inovação deve integrar não só factores económicos mas também de investir na modernização e inovação nos seus sectores tradicionais,
natureza ambiental e social, de modo a não comprometer o futuro onde aliás existem excelentes exemplos de boas práticas, e, por outro
das sociedades e das organizações. Neste quadro, as universidades lado, investir em novos sectores e actividades onde a procura e os
e outros centros de saber, desempenham um importante papel mercados internacionais são mais dinâmicos, designadamente as TIC,
instrumental, como produtores de conhecimento e de soluções as biotecnologias, as tecnologias da saúde, as novas energias limpas,
técnico-tecnológicas ambientalmente compatíveis. nanotecnologias, entre outros.

Os empresários e os gestores confrontam-se, por isso, com a Em consequência, relevam-se importantes desafios que se afiguram
necessidade crescente de equacionar factores ambientais e sociais essenciais ao novo posicionamento competitivo:
e económicos nos seus processos de decisão. A integração destes
factores é, porventura, um dos maiores e incontornáveis desafios na • Orientar os recursos, particularmente os fundos estruturais
gestão do futuro, sendo igualmente importante do ponto de vista da associados ao QREN, para reforçar a capacidade de gerar riqueza,
criação de valor e de oportunidades de negócio. num ambiente de forte concorrência no mercado de bens e
serviços, gerando um incremento significativo da produtividade e
Acresce que, para Portugal é fundamental potenciar este trinómio, da qualidade do trabalho, bem como a criação de empregos, com
como suporte de um novo paradigma, em que deve assentar o efeitos positivos a nível da inclusão e coesão social e territorial;
desenvolvimento económico e social e a competitividade da economia • Transformar e enriquecer a carteira de actividades, bens e serviços
portuguesa, isto é, no horizonte de 10 anos, correspondente ao transaccionáveis, com que a economia portuguesa se expõe nos
período de vigência do Quadro de Referência Estratégico Nacional mercados internacionais, o que para tal se exige uma qualificação
(QREN), Portugal dever-se-á afirmar no seio da UE, como um país mais elevada da população activa e esforços mais focalizados
mais competitivo e atractivo, com maior qualidade ambiental, e com nas actividades de ensino, formação e I&D e na cooperação
mais coesão e responsabilidade social. Operar as transformações universidade-indústria, pressupondo igualmente um esforço
na economia portuguesa compatíveis com a afirmação dos novos importante de promoção e qualificação do empreendedorismo a
factores de competitividade ligados ao conhecimento e à inovação, nível nacional;
ou melhor dizendo, apostar na qualificação, na criatividade, na
tecnologia, no design, na marca, nas patentes, na conectividade do • Antecipar as reestruturações que, no quadro da globalização e de
território, nas novas energias limpas, e no ambiente em geral, é o novas tecnologias, permitam absorver as mudanças económicas e
“Acresce que, para Portugal é fundamental potenciar este trinómio,
como suporte de um novo paradigma, em que deve assentar o
desenvolvimento económico e social e a competitividade da economia
portuguesa, isto é, no horizonte de 10 anos, correspondente ao
período de vigência do Quadro de Referência Estratégico Nacional
(QREN), Portugal dever-se-á afirmar no seio da UE, como um país mais
competitivo e atractivo, com maior qualidade ambiental, e com mais
coesão e responsabilidade social.”

sociais, designadamente através de uma política para as PME que da clusterização de tecnologias maduras e de novas tecnologias,
favoreça lógicas de cluster, de uma gestão activa da reconversão conferem um elevado potencial de crescimento em relação a um novo
profissional para novos empregos, complementada com políticas ciclo económico, todavia, com maiores exigências de conhecimento
activas de emprego adequadas; intensivo na lógica do desenvolvimento sustentável.

• Gerir melhor, através da nova carteira de actividades, a superação A crise deve ser vista também num quadro de oportunidades. Aliás,
da situação periférica do país, dado que, pela sua natureza, essas é nos tempos difíceis que se fazem importantes opções, se tomam
actividades são menos sensíveis a essa situação, ou ainda porque grandes decisões, se forjam novas estratégias e se imprimem as

| Editorial
permitem explorá-la transformando-a em oportunidades em mudanças necessárias. Importa, por isso, operar as mudanças que,
conjugação com outras dotações de factores físicos e digitais; no horizonte de uma década, permitam a Portugal afirmar-se, no seio
da UE, como um país inovador, atractivo e competitivo, com maior
• Investir em infra-estruturas de comunicações e transportes qualidade ambiental, mais coesão e responsabilidade social.
5
que diminuam o impacto da posição geográfica, o que pressupõe
uma concentração e hierarquização nos projectos que viabilizem
uma maior variedade de conexões externas de Portugal –
telecomunicações, aeroportos e portos de águas profundas, bem
como eixos de transporte intermodal dirigidos ao centro da Europa;

• Equacionar uma política de cidades na estratégia de


desenvolvimento, não só porque nelas habita a maioria esmagadora
da população, mas também porque representam os locais
privilegiados em que se podem ancorar essas actividades, e ainda
porque ao mesmo tempo permitem gerar um volume significativo
de emprego em actividades mais protegidas da competição
internacional;

• Valorizar a qualidade ambiental, mediante uma concentração de


investimentos em três áreas – riscos naturais, recursos hídricos e
conservação da natureza e desenvolvimento rural – em ligação com
investimentos em larga escala e políticas orientadas para a redução
do efeito poluente da mobilidade;

Em síntese, afirmar o trinómio sustentabilidade-inovação-


universidades, como vector estratégico da competitividade de
Portugal entre as nações, é tanto mais importante quanto é previsível
que o novo ciclo pós-crise, vai aprofundar a importância da economia
baseada no conhecimento.

Na verdade, as oportunidades existentes em muito sectores,


designadamente, o ambiente e as novas energias limpas, as TIC, as
biotecnologias, e, bem assim, as que resultam da massificação da
infra-estrutura tecnológica subjacente ao actual ciclo tecnológico,
por Jorge Rocha de Matos, Presidente do Conselho Geral da Associação Industrial Portuguesa.
traduzidas em novos produtos e serviços, muitos deles resultantes
GÜNTER VERHEUGEN

“Acredito efectivamente que as empresas que nos irão


retirar da recessão serão aquelas que consideram o
Günter Verheugen comportamento ambiental e social responsável como
Comissário Europeu Empresas e Indústria
parte dos seus valores fundamentais e da estratégia
empresarial. “

Entrevista com Günter Verheugen,


Vice-Presidente da Comissão Europeia responsável
pelas Empresas e Indústria
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

1. A Comissão Europeia lançou o Ano Europeu da quando comparado com anos anteriores. Portugal tem estado atento
Criatividade e Inovação. Quais são os objectivos desta ao Painel e melhorou o seu desempenho em inovação. Em resultado
iniciativa? Que acontecimentos terão lugar, em concreto, dos esforços desenvolvidos, Portugal foi agora classificado como um
durante este Ano Europeu? país “moderadamente inovador”. A melhoria no desempenho ficou a
dever-se ao aumento do investimento em recursos humanos, ao apoio
A criatividade é uma característica que todos partilhamos, e um e financiamento, e ao investimento das empresas em inovação. Outros
processo que pode ser aprendido ou encorajado. A inovação consiste países, com as medidas correctas serão capazes e irão convergir.
em transformar ideias em valor, prosperidade e bem-estar, e pode
6 desempenhar um importante papel na abordagem das complexas A inovação é um tema complexo, afectado por uma multiplicidade de
mudanças sociais com que o mundo se depara actualmente: as drivers e barreiras. A política de inovação deve ter em conta a natureza
mudanças climáticas, a pobreza e o actual abrandamento económico, sistémica da inovação, e propor soluções holísticas, nomeadamente
apenas para mencionar alguns. Mas encontrar uma solução para estes condições estruturais e políticas relacionadas, por exemplo, com a área
desafios exige novos conhecimentos, bem como, novas abordagens de da educação e do emprego. São necessários esforços adicionais ao
forma a combinar os conhecimentos já existentes e a encontrar soluções nível da UE e dos Estados-Membros na identificação de novos drivers
holísticas. O que requer competências na área da criatividade: produção da inovação, novas formas de inovação e novos modos de encorajar a
de ideias, capacidade de resolução de problemas, experimentação e inovação. A atenção dos responsáveis políticos tem incidido sobretudo
abertura à mudança, e trabalho conjunto. Tanto a criatividade como na área de investigação e desenvolvimento (I&D) como principal driver
a inovação, têm-se revelado fundamentais para o desenvolvimento da inovação, mas esta por si só não é suficiente para explicar a inovação.
humano e são as chaves do nosso sucesso futuro. A UE tem de encorajar outras actividades de inovação, em especial no
caso das PME, para quem a criação de um departamento de I&D pode
Serão organizados Inúmeros eventos de grande importância no significar um investimento demasiado elevado, e também no caso das
contexto do Ano Europeu da Criatividade. Inúmeras conferências e empresas de sectores e regiões com baixo nível tecnológico. Tal facto é
debates políticos serão organizados em Bruxelas pela Comissão e por verdadeiro, em especial na actual situação económica em que devem ser
outras instituições europeias, por organizações parceiras e pelas partes pensadas formas de inovação menos dispendiosas.
interessadas, por associações empresariais, por sedes regionais e grupos
de reflexão. Esta iniciativa suscitou um grande interesse por parte de 3. Continua a existir uma grande diferença entre a União
uma audiência muito vasta. De facto, mais de 300 eventos (a maioria), Europeia e os EUA. Estará essa diferença a diminuir? Quais
terão lugar nos Estados-Membros, organizados pelas regiões, cidades, os países considerados mais inovadores? O que fez a UE
associações, estabelecimentos de ensino, entre outras. nos países mais pobres da União?

No âmbito do debate político sobre a criatividade e inovação, O Painel Europeu da Inovação de 2008 revela que a UE está a caminho de
publicaremos um documento que pretende transformar as ideias reduzir a diferença existente em relação aos EUA, apesar desta continuar
criativas em inovações, e lançaremos um espaço online para consulta do a ser significativa. A UE tem convergido em várias áreas, tais como no
tema. número de licenciados, na penetração da banda larga e no acesso a
capitais de risco. As fraquezas ainda existentes, comparativamente
2. De acordo com o Painel Europeu da Inovação, Portugal aos EUA, incluem o registo de patentes a nível internacional, o número
encontra-se no grupo de países “em convergência”. O que de investigadores e a despesa com I&D. Estas são áreas que temos
pode fazer um país, a nível local e regional, para melhorar o procurado abordar nos programas da Comissão Europeia, tais como o
desempenho em termos de inovação? Sétimo Programa-Quadro de Investigação.

O Painel Europeu da Inovação atribuiu maior peso aos recursos Segundo o Painel de 2008, e em termos globais, os países com o mais
humanos, à inovação não-tecnológica e aos resultados da inovação, elevado nível de desempenho em inovação são a Suiça, a Suécia e a
Finlândia. No entanto, o relatório revela também que muitos países sustentabilidade, em particular junto das PME?
com baixos níveis de desempenho, incluindo Portugal, estão a registar
grandes progressos. A partir de 2005, a Europa tomou medidas enérgicas no sentido de tornar
a economia mais sustentável. Definimos objectivos ambiciosos para a
Através da estratégia de Lisboa para o Crescimento e o Emprego, e UE, e salientámos o nosso empenhamento em alcançar acordos eficazes
dos respectivos programas de apoio à inovação, a Comissão está a e com carácter de obrigatoriedade nas negociações internacionais sobre
promover o benchmarking, o intercâmbio de boas práticas e a política da o clima. Estas medidas terão efeitos de longo prazo.
aprendizagem. As regiões mais pobres estão também abrangidas pela
política de coesão da UE. Os fundos estruturais direccionam quantias A Comissão está a agir em três níveis. Em primeiro lugar, estamos a
monetárias consideráveis para o desenvolvimento regional, incluindo a trabalhar para implementar os critérios definidos pelo Parlamento
inovação regional. e pelo Conselho Europeu para a atribuição gratuita de licenças de
emissão, e para identificar os sectores da indústria que serão incluídos
4. Criatividade, inovação e empreendedorismo. São estas neste esquema. Em segundo lugar, estamos a implementar o Plano
as palavras para combater a crise? Será que os países de Relançamento da Economia Europeia, o qual coloca em destaque
europeus vão olhar para além da economia? o consumo ecológico como forma de ultrapassar a crise. Em terceiro
lugar, a Comissão adoptou no último Verão um ambicioso plano para o
Antes de mais, gostaria de realçar que a criatividade, a inovação e o Consumo e Produção Sustentáveis e uma Política Industrial Sustentável.
empreendedorismo são parte integrante da economia. A criatividade Este plano de acção complementa o pacote “Energia e Clima”, e cria
é a principal fonte de inovação e a inovação é o principal driver do o quadro político para acelerar a transição para uma sociedade de
crescimento económico e da competitividade. O empreendedorismo e baixo carbono. Ao recompensar os comportamentos ecológicos dos
as PME são cruciais para a economia e para a criação de emprego a nível consumidores e os produtos com melhor desempenho, irá servir de base
europeu. As PME são responsáveis por dois terços dos postos de trabalho aos esforços da indústria europeia para esta se mantenha na liderança
na Europa e pela criação de 80% de todos os novos postos de trabalho. dos mercados mundiais. O plano de acção inclui medidas que ajudam as
A Europa necessita das suas pequenas empresas, sobretudo na actual PME a agarrar a oportunidade da eficiência energética.
situação económica.
Acredito efectivamente que as empresas que nos irão retirar da recessão

| GÜNTER VERHEUGEN
Em segundo lugar, acredito que a actual crise não é apenas económica, serão aquelas que consideram o comportamento ambiental e social
mas antes de uma natureza multifacetada. Estamos simultaneamente responsável como parte dos seus valores fundamentais e da estratégia
a sentir um grave abrandamento económico e um desafio ambiental empresarial. Serão as empresas que vêem na resolução de problemas da
de uma magnitude sem precedentes. A pobreza e a exclusão social sociedade uma oportunidade comercial.
exigem também toda a nossa atenção e empenhamento. A Europa só
pode florescer se for capaz de alcançar os seus objectivos em matéria de 7. Em que consiste a Semana Europeia das PME? Existirão
desenvolvimento sustentável nas suas três vertentes – competitividade, iniciativas em todos os países da UE? Que benefícios
protecção ambiental e inclusão social. A actual crise representa uma poderão as PME retirar desta iniciativa?
oportunidade para tentarmos criar a Europa que desejamos.
7
A 1ª Semana Europeia das PME, que terá lugar de 6 a 14 de Maio de 2009,
“O empreendedorismo e as PME são cruciais para a economia consiste numa campanha que pretende informar os empresários acerca
e para a criação de emprego a nível europeu. As PME são do apoio que lhes é disponibilizado a nível da UE, e a nível nacional e
responsáveis por dois terços dos postos de trabalho na Europa local. A campanha pretende também dar maior relevo aos empresários
e pela criação de 80% de todos os novos postos de trabalho. A e encorajar um maior número de pessoas a tornar-se empresário.
Europa necessita das suas pequenas empresas, sobretudo na Queremos demonstrar aos jovens que ser empresário é uma opção
actual situação económica.” profissional atractiva.

O slogan para a Semana das PME é “Pequenas empresas, grandes


5. Ao nível das PME, em que há empresas a lutar pela ideias”. A nossa ambição é que os empresários e as pequenas empresas
sobrevivência, de que forma pode a inovação ser a obtenham aconselhamento e assistência, aprendam mutuamente, e
solução? E qual deve ser o papel dos governos dos vários estabeleçam contactos durante a Semana das PME, de forma a poderem
países? concretizar as suas grandes ideias e inovarem.

Não existe nenhuma contradição entre sobrevivência e inovação, bem Durante todo o ano, terão lugar centenas de eventos em 34 países, na
pelo contrário. Na maioria dos sectores, são as empresas mais inovadoras Europa e fora dela, incluindo feiras e conferências, actividades em rede,
que sobrevivem. A inovação não está relacionada apenas com a dias de portas abertas e concursos. Estes eventos são organizados por
expansão e o investimento em novos produtos, mas pode também organizações empresariais, prestadores de serviços, autoridades locais e
estar relacionada com a inovação a nível organizacional e de processos. regionais e também por estabelecimentos de ensino.
Estas formas de inovação podem ajudar as empresas a organizarem-se
de forma diferente para reduzir custos e libertar recursos financeiros e
humanos. Para mais informações sobre o Ano Europeu da
Criatividade e Inovação, consulte:
No último ano, a Comissão Europeia implementou a Lei das Pequenas
Empresas. Esta, pretende tornar a Europa mais empreendedora e http://www.create2009.europa.eu
melhorar o enquadramento empresarial a favor das PME, em especial
através da melhoria do acesso aos mercados e da criação de um Para mais informações sobre a Semana Europeia das PME,
enquadramento regulamentar adaptado às suas necessidades. Os consulte:
governos têm um papel fundamental a desempenhar, contribuindo para
http://ec.europa.eu/enterprise/policies/entrepreneurship/
a sua rápida e vigorosa implementação.
sme-week/index_en.htm
6. Em 2005, concedeu uma entrevista à Impactus.
Desde então, como encara a evolução do conceito de por Günter Verheugen, Comissário Europeu Empresas e Indústria.
A DINÂMICA DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS LIMPAS

A dinâmica das inovações


Rafael Kellermann Barbosa
Estudante no Instituto de Economia da Unicamp, São
Paulo, Brasil e presta assessoria em sustentabilidade
tecnológicas limpas
ao INOVA

A problemática ambiental a algum tempo compõe a agenda de discussão essenciais para definir uma estratégia inovativa. Assim como em todo
e pesquisa de diversos segmentos da sociedade, tanto governos, quanto mercado, existem empresas que não estão preparadas para essas
empresas e comunidade científica têm feito esforços para desenhar a mudanças e ficaram de fora da construção dessa nova sociedade.
construção de uma sociedade sustentável e a função a ser desempenhada Falar da construção de uma sociedade sustentável onde as inovações
pela tecnologia dentro da mesma. A tecnologia pode ser vista tanto como privilegiem o meio-ambiente e empresas, governo e consumidores atue
causa quanto solução dos problemas ambientais. Considerando que o em harmonia de princípios pode não passar de um conto de fadas se
desenvolvimento e aplicação das chamadas tecnologias limpas (Clean esses novos negócios não gerarem lucros. A princípio, a lucratividade pode
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Technologies), pode reverter de forma significativa o atual quadro de parecer uma barreira para a implementação de inovações tecnológicas
crise ambiental, parece relevante entendermos porque uma empresa ou limpas, mas a realidade é que essas soluções podem ser redutoras de
instituição de pesquisa gastaria seu tempo e dinheiro no desenvolvimento custos ambientais tanto quanto de custos financeiros. Para isso, os agentes
de tais inovações? Essa simples pergunta, assim como a maioria das comprometidos com o desenvolvimento dessas inovações devem ter
perguntas fáceis, tem resposta difícil. Para começar a respondê-la, condições adequadas de apropriabilidade dos resultados de suas pesquisas,
qualificarei o que quero dizer quando me refiro à tecnologia limpa. em outras palavras, o resultado de seu trabalho deve ser protegido, seja via
registro de patentes ou outras formas de proteção, garantindo a utilização
Tecnologia limpa pode ser todo produto ou processo produtivo que criteriosa da mesma na geração de benefícios às empresas.
minimize a emissão de resíduos, faça controle de poluição, substitua
material não renovável por renovável, otimize a utilização de recursos Neste contexto, cresce a importância das chamadas agências de
reduzindo a geração de rejeitos e consumo energético, além de técnicas transferência de tecnologia. No Brasil, grande parte das pesquisas
que reutilizam insumos e resíduos. Voltamos então à pergunta, quais as científicas é realizada dentro das universidades, muitas das tecnologias
8 motivações que levariam as empresas a desenvolver e aplicar soluções geradas nelas têm aplicabilidade nas empresas, seja através do
como as citadas acima? Existe uma grande diversidade de razões que licenciamento de patentes ou criação de spin-offs. A INOVA (Agência de
motivam uma empresa ou instituição de pesquisa a desenvolver tais Inovação da Universidade Estadual de Campinas-SP, Brasil) realiza um
inovações, abaixo destaco alguns dos mais relevantes. trabalho de apoio aos pesquisadores e às empresas que apresentem
demandas supríveis por inovações tecnológicas, protegendo o
Regulação governamental, demanda do consumidor, competência conhecimento gerado e criando parcerias necessárias para que essas
técnica interna e condições de apropriabilidade, são quatro variáveis que soluções possam gerar benefícios à sociedade. Essa agência de inovação
contribuem fundamentalmente para o crescimento do número e da é pioneira na implementação de um programa de sustentabilidade que
relevância das inovações em tecnologias limpas. Nos últimos quarenta terá foco em tecnologias limpas possibilitando que as empresas possam
anos, e mais recentemente devido à questão do aquecimento global, a encontrar as soluções que procuram e aplicá-las de forma segura e
imprensa e a comunidade científica mundial têm desempenhado um rentável. O licenciamento de uma tecnologia limpa, desenvolvida por
importante papel alertando governos e população para os problemas pesquisadores da universidade, é intermediado pela Inova, possibilitando a
ambientais que a sociedade atual e futura podem enfrentar. implementação dessas no processo produtivo de uma empresa auxiliando
Esses problemas são, em grande medida, decorrentes de um modelo de na consolidação de uma estratégia de mercado que privilegie o meio
desenvolvimento que historicamente pouco se preocupou com o bom uso ambiente sem prejudicar a lucratividade.
dos recursos naturais e hoje sofre as conseqüências desse descuido. Em
resposta a esse fato, os governos vêm aumentando o controle e a regulação Este exemplo mostra, a partir de uma experiência brasileira, uma forma
sobre os processos produtivos, formas de consumo e distribuição. Essas de garantir condições de apropriabilidade adequadas às empresas que
ações integram uma tentativa de fazer as empresas reduzirem a geração/ busquem a adoção de inovações sustentáveis, mas para que essas
emissão de poluentes e outros impactos negativos ao meio-ambiente. agências funcionem eficientemente precisam contar com um aparato
Ao mesmo tempo, consumidores têm aumento a sua exigência nas legal adequado observando-se as especificidades de cada país. Do ponto
compras, observando a conduta das empresas e a qualidade dos de vista externo, as novas exigências legais e dos consumidores fazem
produtos, muitos desses consumidores já exigem a adoção de estratégias com que empresas passem a adotar uma postura cada vez mais pró-ativa
sustentáveis não só no processo produtivo, mas também na gestão global no que diz respeito ao cuidado com o meio-ambiente, internamente,
da companhia. A combinação desses dois fatores cria um ambiente seletivo as capacidades internas e as condições de apropriação das tecnologias
para as inovações e adoção de tecnologias já existentes. Este ambiente utilizadas são variáveis chave para garantir a lucratividade dos negócios.
tem o potencial de mudar a direção dos programas de P&D, bem como Observando essas duas dimensões (interna e externa), se vê alguns
as estratégias competitivas das empresas na direção da construção de determinantes do desenvolvimento e aplicação de tecnologias limpas
um mercado que tenha a variável ambiental como ponto central de seu nos dias de hoje e no futuro. Quando pensar em sustentabilidade, deve-se
funcionamento. Nas empresas, as inovações tecnológicas limpas, tendem ter mente a importância da tecnologia (e das inovações tecnológicas)
a deixar de ser apenas uma resposta às novas restrições regulatórias ou às para a consolidação de estratégias competitivas alternativas que podem
pressões do consumidor, para se tornarem uma estratégia competitiva, desempenhar um papel central na constituição de uma sociedade
onde aquela que não se adequar à maneira sustentável de produzir e sustentável.
distribuir, progressivamente perderá mercado para as “green companies”.
Para acompanhar essa tendência de mercado, as empresas precisam por Rafael Kellermann Barbosa, Estudante no Instituto de Economia da Unicamp, São
lançar mão de suas competências internas, sendo essa uma das condições Paulo, Brasil e presta assessoria em sustentabilidade ao INOVA.
ANTÓNIO BOB SANTOS

António Bob Santos Estratégia de Lisboa e


Assessor do Coordenador Nacional
da Estratégia de Lisboa e do Plano
Tecnológico
do Plano Tecnológico

A Comissão Europeia escolheu este ano para o ano Europeu da vez, Portugal teve um saldo positivo na Balança Tecnológica,
Criatividade e Inovação. Portugal tem algo preparado neste significando isto que passamos a exportar mais produtos e serviços
sentido? Quais as principais acções em inovação no ano que com incorporação tecnológica do que aqueles que importamos. Outro
passou? E perspectivas para 2009? exemplo, a subida de 5 lugares no ranking europeu de Inovação,
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Dando resposta à solicitação da Comissão foi designado, como passando Portugal a incluir o grupo dos países “moderadamente
Coordenador Nacional do Ano Europeu da Criatividade e Inovação inovadores”. Ou, ainda, o facto da despesa em Investigação e
(AECI), o Professor Carlos Zorrinho, que coordena também a Estratégia Desenvolvimento - I&D (em % PIB) estar ao mesmo nível da
de Lisboa e o Plano Tecnológico. No dia 3 de Fevereiro foi lançado registada em Espanha, Itália ou Irlanda, facto impensável há 5 anos
oficialmente o AECI em Portugal, tendo sido realizada uma conferência atrás. O objectivo é continuar este esforço e, se possível, melhorar
com alguns especialistas nestas áreas, dos quais destaco o Don estes resultados, reforçando a estratégia do Plano Tecnológico de
Tapscot, autor de várias obras na área da Web 2.0. Sendo este um ano investimento no conhecimento, na tecnologia e na inovação.
de criatividade e inovação, lançamos um site que pretende ser uma
referência em termos de participação pública. Este site está aberto
a comentários e sugestões vindas da sociedade civil, sendo também Como relaciona inovação e sustentabilidade? As empresas em
um espaço de partilha e de visibilidade para as iniciativas públicas ou Portugal, em sua opinião, têm assumido a Sustentabilidade
privadas a realizar em 2009, no âmbito do AECI. Ou seja, qualquer como parte integrante do seu negócio?
entidade que realize iniciativas no âmbito da Criatividade e Inovação, A sustentabilidade do modelo de desenvolvimento que queremos
10 poderá submetá-las e divulgá-las através do site (www.criar2009.gov. para o futuro só pode ser conseguido através da inovação. Ou seja, a
pt). inovação ao nível dos processos, dos produtos e serviços ou das formas
de organização é essencial para termos um modelo de desenvolvimento
De que forma pode a inovação contribuir para a diminuição do que seja energeticamente mais sustentável, competitivo nos mercados
desemprego que assistimos ? internacionais, capaz de proporcionar maiores níveis de qualificação e
A inovação e a criatividade são elementos essenciais para a criação que seja inclusivo. Felizmente, começa-se a registar nos últimos anos
de mais emprego, para promover um maior crescimento e alcançar uma maior preocupação por parte das nossas empresas em relação
maiores níveis de competitividade - objectivos centrais da Estratégia a estas questões. Esperamos que esta consciencialização continue,
de Lisboa e do Plano Tecnológico. Sabemos que numa sociedade porque a inovação e a responsabilidade social das empresas são
baseada no conhecimento torna-se vital termos uma população activa determinantes para o seu futuro.
com as competências necessárias que lhes permitam responder com
agilidade às mudanças constantes das economias actuais. Para isso E as Universidades de Economia e Gestão? Qual tem sido a
é necessário termos maiores níveis de qualificações, e isso passa por inclusão destes temas nos cursos ensinados?
melhorar o ensino básico, reforçar o ensino técnico e profissional, pela Como sabem, estamos em Portugal num processo de restruturação
requalificação dos adultos, mas também por aumentar os níveis de do Ensino Superior, com a adaptação ao processo de Bolonha, a
literacia digital da população em geral, combatento a info-exclusão. Por alteração dos modelos de gestão das Universidades, bem como
outro lado, o tecido empresarial terá que ser mais sensível às questões a abertura do Ensino Superior a novos públicos ou a aposta nos
da inovação e da criação de valor. Numa economia globalizada, a cursos de especialização tecnológica. No meio deste cenário, os
inovação é fundamental para a diferenciação de produtos e serviços cursos de Economia e Gestão tem vindo gradualmente a adaptar-
e para alcançar maiores níveis de valor acrescentado, garantindo se a estas mudanças e às necessidades do mercado de trabalho e
uma maior competitividade nos mercados internacionais e, das empresas. Por exemplo, quando frequentei a licenciatura em
consequentemente, promovendo o emprego. Economia (ISCTE, meados dos anos 90), o curso já incorporava nessa
altura, como obrigatórias, disciplinas como “Economia do Ambiente
e do Território” ou “Economia da Inovação”, bem como estágios
Este Governo apostou claramente na tecnologia como tendo curriculares nessas áreas em empresas ou entidades públicas, facto
um papel fulcral numa sociedade moderna e desenvolvida. pioneiro na altura. Nos últimos anos, assistimos a maiores ligações
Quais os principais objectivos alcançados? E por alcançar? entre as escolas de economia e gestão e o tecido empresarial, bem
Como coordenador nacional da estratégia de lisboa e do plano como à internacionalização e ao reconhecimento internacional de
tecnológico como tem visto a evolução ao nível da tecnologia algumas dessas escolas. Tudo isso contribui para termos alunos mais
em Portugal? E em particular no que toca às PME’s poderemos bem preparados para que, quando entrarem no mercado de trabalho,
falar de micro empresas inovadoras? consigam dar uma melhor resposta às necessidades das empresas e da
As mudanças foram várias. A implementação do Plano Tecnológico sociedade em geral.
permitiu, por exemplo, nos últimos quatro anos, fosse alterado o
por António Bob Santos, Assessor do Coordenador Nacional da Estratégia de
perfil exportador da economia portuguesa. Em 2007, e pela primeira Lisboa e do Plano Tecnológico
FRANCISCO JAIME QUESADO

Francisco Jaime
Quesado
Gestor do Programa Operacional
Sociedade do Conhecimento

MUDAR A AGENDA PARA AGENDAR A MUDANÇA


por Francisco Jaime Quesado (1)

| FRANCISCO JAIME QUESADO


Novas Estratégias à volta de temas centrais para o futuro do País energética alternativa em Portugal. Trata-se duma matéria polémica
e da Europa estão em cima da mesa. Pensar as novas energias, e a sua abordagem torna-se fundamental para sustentar opções
o ambiente e a inovação como factores centrais duma Nova que se venham a fazer daqui para a frente. A construção duma
Sustentabilidade em que a participação dos cidadãos se assume Sociedade da Sustentabilidade é um desafio complexo e transversal
numa lógica “colaborativa em rede” justifica uma atenção muito a todos os actores e exige um capital de compromisso colaborativo
especial aos Novos Factores Estratégicos de Competitividade que entre todos. Em 2009 Portugal é já claramente um país da linha da
devem nortear qualquer actuação para o futuro. Não se pode frente em matéria de infra-estruturas de última geração na área
conceber uma lógica de mudança na Sociedade Portuguesa se não das Telecomunicações e da produção de novas fontes de energia.
se fizer da Inovação e Criatividade os “enablers” estratégicos duma Assumir o desafio duma perspectiva estratégica de aposta num novo
nova atitude perante a participação individual em sociedade. modelo de Economia Sustentável implica por isso saber dar resposta
às solicitações das várias frentes e acima de tudo tomar de forma
A importância estratégica que a temática da energia e ambiente consciente opções sobre qual as melhores soluções a adoptar para o 11
assume justifica uma participação activa da sociedade civil na futuro.
discussão dos caminhos que se têm que definir daqui para a frente.
Há claramente um sentido de urgência no envolvimento dos “actores A Estratégia de Lisboa em que assenta o compromisso para o futuro
operacionais” (Estado, Universidades, Centros I&D, Empresas) na de Portugal e da Europa é um processo em permanente renovação.
abordagem estruturada das opções que estão em cima da mesa Assumir o desafio das melhores opções para Portugal numa Europa
na definição dos investimentos a realizar. A vinda de Stern a Lisboa indefinida e num Mundo Global complexo passa por saber discutir
afigura-se neste contexto muito oportuna: o emérito professor que as questões que estão em cima da mesa. Energia, Ambiente &
há dois anos apresentou o polémico relatório sobre o impacto das Sustentabilidade definem uma Agenda que tem que ser “agarrada”
alterações climáticas na Nova Ordem Global terá certamente uma com sentido de futuro. Por isso, os “diálogos” que a partir de agora se
mensagem de confiança para com os desafios que se colocam à vão desenvolver um pouco pelo país vai são um sinal de resposta ao
economia e sociedade portuguesa nos próximos tempos. desafio. Esperemos que os resultados correspondam às expectativas.

Da mesma forma se revela actual a temática recentemente


proposta em alguns eventos para analisar as ligações estratégicas DIMENSÃO DIMENSÃO
de dois “enablers de modernidade” – Energia e TIC. O objectivo de ESTRATÉGICA OPERACIONAL
consolidação da Sociedade do Conhecimento em Portugal não se
pode fazer por mero decreto e face à dimensão estratégica assumida . Macro Ambiente . Acções de Sensibilização
pelos objectivos da sustentabilidade torna-se fundamental que o . Posicionamento Global . Plataforma de Educação
Estado, as Universidades e os “players empresariais” na área das
telecomunicações firmem um verdadeiro “pacto estratégico” sobre
as parcerias a desenvolver para a implementação de plataformas em NOVA
que os cidadãos se revelem nesta nova lógica participativa que cada SUSTENTABILIDADE
vez mais é o Portugal 2.0.

A participação empreendedora da Sociedade Civil neste amplo


DIMENSÃO DIMENSÃO
movimento de reflexão estratégica sobre as novas temáticas
para o futuro do país fecha o circuito. São boas as notícias que EMPRESARIAL CRIATIVA
nos chegam quanto à oportunidade de afirmação da Plataforma
. Dinâmica de Inovação . Pedagogia dos Actores
Construir Ideias, na linha do capital de intervenção de prestigiados
“Think tanks” como é o caso do Policy Network ou do Bruegel, . Orientação para o Valor . Redes Globais
entre outros. Também aqui a actualidade estratégica da temática
energética veio ao de cima, corporizada na discussão profunda por Francisco Jaime Quesado, Gestor do Programa Operacional
Sociedade do Conhecimento
sobre as questões suscitadas pela opção do nuclear como fonte
(1) Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento
MANUEL FORJAZ

Manuel Forjaz
Presidente e fundador da Ideiateca
Consultores

PSECOLOGY (1)
Ou um passo não científIco na
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

evolução de Maslow?
Intróito faltando aquele (moda, design, know-how de gestão de retalho,
Fui um mau aluno universitário e do período não tenho boas memórias. branding, sponsoring, etc., etc.) não podem obviamente vencer em
Lembro-me de uns professores que usavam umas palavras como mercados onde o soft skill é infinitamente mais valioso do que o
Amendoácia para caçar incautos, mas sobretudo não me lembro de transaccionável sapato.
quem me tenha incentivado a gostar de aprender ou a usar o cérebro.
“Mea culpa”, seguramente. Empreendedores
O ensino era sobretudo de memória e portanto quem a tinha melhor Entrevistei e tornei-me amigo de vários empreendedores portugueses
12
vencia tradicionalmente o prémio de melhor aluno, sobrando para os que ao longo dos anos criaram a sua riqueza, independência e
trabalhadores, viajantes, boémios, curiosos e experimentalistas os mobilidade, alguns deles que entrevistei no meu livro “A Bela, Belmiro e
últimos lugares do pódio e trabalhar na função pública ou em anónimas Empreendedores”.
pmes.
Aos melhores alunos cabiam as melhores propostas de emprego, Nenhum deles conseguiu o seu sucesso com tecnologias ou hardware
tradicionalmente na Mckinsey ou Unilever, onde ao fim de 10 anos, um ou mesmo com o comércio de bens transaccionáveis.
em cem chegava a um lugar de direcção, ganhando 4 mil Euros e com
um BMW de serviço (o passo anterior era um carro francês). E com mais Paulo Maló agiu com bom senso e poder de observação quando há uns
10 anos de “carreira” um em mil chegava ao lugar de Director Geral. anos atrás inovou no mercado dos dentistas oferecendo um serviço
O modelo de promoção e consecução da felicidade era simples: study, onde não se sofria e onde não se esperava (enquanto eu andava numa
work, get promoted, money, power, visibility, get recognised, reproduce coisa chamada Clínica do Rato onde o tempo médio de espera era
and die. de oito horas e o génio que me atendia me metia um joelho no peito
enquanto me arrancava os dentes...). Hoje é o maior operador deste
O Novo Mundo mercado do mundo.
Há anos que travo a batalha do empreendorismo familiar. Os governos
portugueses há muito obnubilados pelas tecnologias insistem noutro António Galhardo Simões vende SMSs na sua Send-it aos milhões.
caminho. O dos enzimas, do software, dos Magalhães e dos clusters Não inovou nada a não ser quando oferecia aos seus clientes além da
muitos que sucessivamente vão soçobrando perante um mundo plataforma tecnológica que outros tinham, a construção integrada das
onde à rápida transferência de tecnologia e informação se aliam promoções de marketing e ao consumidor que os seus clientes tanto
custos horários laborais muito competitivos, sistemas educacionais de valorizam.
ponta e baixos custos empresariais sociais (segurança social, sistema
público de saúde, fundos de desemprego, etc). Que inevitavelmente O Diogo Assis a fazer o mesmo que muitos outros (DMC) inovou quando
ensanduicharão o sistema de produção de riqueza nacional entre os convidou para sócio um partner inglês que fez exponenciar a facturação
centros de saber de Berkeley ou Stanford e as fábricas de microchips de no mercado inglês.
Xangai.
Mesmo o Miguel Monteiro da CHIP7 não venceu pelos super-
Por outro lado, no seu débil contributo para a promoção internacional competitivos e transaccionáveis PCs que vendia. O Miguel venceu pela
da economia portuguesa, insistindo na derrotada lógica dos bens sua inesgotável tenacidade e porque também ele criou uma cadeia de
transaccionáveis, esquece-se de processos, métodos de trabalho e inovação interna nas suas empresas (sempre o soft skill) ímpar até há
brainware por contraponto às fábricas de calçado (Aerosoles), a quem alguns anos atrás.
“Há anos que travo a batalha do empreendorismo familiar. Os governos
portugueses há muito obnubilados pelas tecnologias insistem noutro
caminho. O dos enzimas, do software, dos Magalhães e dos clusters muitos
que sucessivamente vão soçobrando perante um mundo onde à rápida
transferência de tecnologia e informação se aliam custos horários laborais muito
competitivos, sistemas educacionais de ponta e baixos custos empresariais
sociais (segurança social, sistema público de saúde, fundos de desemprego, etc).”

O Sucesso De facto um mundo onde 50 biliões de dólares acabavam com a fome,


Todos gostávamos de ser Bill Gates (ou pelo menos de ter o que ele tem), vê o novo afro-americano presidente dos Estados Unidos gastar triliões
mas após lermos Outliers, entendemos o quão difícil é fazer coincidir a tentar reparar não se sabe bem o quê e a gastar mais não sei quantas
um mínimo de talento, a uma óbvia oportunidade e a 10.000 horas de centenas de biliões em sistemas de armamento e guerras sem fim.
prática.
Todos gostávamos de ser Belmiro de Azevedo (ditto) mas há muito que A desertificação do centro das cidades, o explodir do consumo das
os esperamos e parecem baixas as possibilidades de Portugal voltar a benzodiazepinas, os suicídios, o partido pró-pedofilia holandês, a
gerar um igual. droga, as novas epidemias (sifílis, BSE, aves), as velhas guerras, o crime
columbine, o desemprego crónico, são maus sinais numa sociedade em
Os novos soft skills que o estado formal não é suficiente para os resolver.

| MANUEL FORJAZ
Na sociedade ocidental, com a vastíssima maioria da população a
pertencer a uma crescente classe média (no sentido em tudo está O empreendorismo social ou a capacidade de mudar e melhorar o
disponívele o meu pequeno almoço é igual ao de Américo Amorim), com mundo, criando riqueza e emprego, nasce assim juntando esta urgência
consumos saturados numa grande panóplia de mercados (automóveis, de ultrapassar a falência ou insuficiência dos sistemas sociais e a uma
telemóveis, alimentação e casa própria) claramente a pirâmide de nova ordem motivacional individual.
Maslow ganhou mais um degrau. (2)
Há três anos frequente o Insead Social Entrepreneurship Program, num 13
Além do sucesso e reconhecimento profissional (ler ROBERTO tempo em que a própria expressão era mais ou menos experimentalista.
SCHINIASHIKI “Cuidado com os burros motivados”), e do sucesso na Hoje multiplicam-se cursos, fóruns, workshops, programas (só em
construção duma forte auto-estima (e aparentemente os portugueses Março contei mais de 20 iniciativas em Portugal) sobre a temática.
andam todos muito felizes, ver o último estudo da Visão), uma das
fontes de felicidade passa pela arte da generosidade (ver “thanks” how E a boa notícia para o país é que é exportável o modelo do The Hub
the new science of gratitude can make you happier). (3) em vias de ser replicado em Portugal. É transaccionável e replicável
o modelo do Banco Alimentar contra a Fome. Dos Médicos sem
Este é um soft skill, portanto, não transaccionável no sentido aicepiano Fronteiras. Dos Pais Protectores. Que em ambos os casos podem
(que, ilustrativamente, não considera a metodologia de Cliente Mistério assumir a forma de licenças de operação ou cooperação, mas também
desenvolvida pela Ideiateca um bem transaccionável, e portanto não operando em franchising, gerando valor, emprego e um inequívoco
somos apoiáveis, apesar das fortes evidências materiais, que com o valor de reaproveitamento de excedentes e de aproximação a um maior
financimento e apoio adequados, rapidamente, em dois ou três anos, equilíbrio social.
poderíamos dominar este mercado em diversos países do mundo).
Aliás este bem não transaccionável vai trazer este ano a Portugal para E todos ajudarmos a criar um mundo melhor. (4)
um congresso internacional, mais de 150 especialistas de mais de 35 por Manuel Forjaz, Presidente e fundador da Ideiateca Consultores
países para debater o mystery shopping, com consequências directas e
(1) Sem pretensões, julgo que crio neste texto este neologismo (marca e domínio.com já
indirectas de óbvio valor. registados), pois Google, Wikipedia e Enciclopédia Britânica não a referenciam; entendo-a
como o estudo da mente, da maneira de ser deste novo homem ecológico; que tem uma
matriz disfuncional no desenho do seu percurso de vida, não conforme com a fórmula do
A crise e a oportunidade capitalismo clássico ocidental do capital+poder+acumulação; que é motivado e feliz em
construir e viver num sentido de ordem, equilíbrio e harmonia do universo;
“It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of (2) Embora a Catarina Frazão do Instituto de Empreendorismo Social, me chame a atenção
wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was para a antropologista Ruth Benedict e o psicólogo Max Wertheimer, que Maslow considerava
indivíduos modelo pertencentes ao último degrau, a partir dos quais ele generalizava que
the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season entre outras características estas pessoas tendem a concentrar-se sobre os problemas dos
of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we outros, têm um apurado sentido do verdadeiro e falso, são espontâneas e criativas e são livres
de quaisquer constrangimentos sociais. Mas claro esta generalização é talvez um pouco
had everything before us, we had nothing before us, we were all going extrema....
direct to heaven, we were all going direct the other way - in short, (3) E também Caroline Myss, autora de Invisible Acts of Power, “I believe that the human spirit
needs to develop generosity and compassion to be healthy. We need to respond to other’s
the period was so far like the present period, that some of its noisiest vulnerabilities in the process of addressing and healing our own. Exercising empathy and
authorities insisted on its being received, for good or for evil, in the compassion and performing good deeds makes our body and spirit thrive. One scientific
study has actually shown that we require at least four hours a month of face-to-face
superlative degree of comparison only. “ Charles Dickens, A Tale of Two volunteering time for good health…”.
Cities (referindo-se ao período da revolução francesa). (4) Ver mais sobre felicidade e ambição em Happier, de Tal Ben-Shahar (que ensinou pela
primeira vez Psicologia Positiva em Harvard, com gigante sucesso, em 2002); ou ler e ouvir
Helena Marujo e Luís Neto, reputados internacionais especialistas em felicidade.
A INEVITABILIDADE DA MUDANÇA DE PARADIGMA

A INEVITABILIDADE DA MUDANÇA DE PARADIGMA


Por Bruno Cachaço e Daniel Amaral

Vivemos em plena crise económica, financeira, ambiental e social, a tanto ao nível da UE como dos EUA. Nasce finalmente a consciência
indefinição é muita e assistimos a constantes injecções de capital no ambiental do consumidor.
sistema financeiro. As previsões são várias, há os que dizem que o pior já
passou e que o pico da crise ocorreu no primeiro semestre, há quem diga Pegando noutro vector da sustentabilidade, o vector social, facilmente
que a crise ainda vai a meio e alguns prevêem a retoma apenas para o percebemos que as coisas pouco mudaram, e nalguns casos mudaram
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

final de 2010. para pior. Em África os conflitos sucedem-se, tal como a escassez de
alimentos e água ( basta lembrarmo-nos do recente aumento do
Estamos finalmente, cerca de meio ano após o início desta crise, a preço dos cereais que teve uma reflexão catastrófica em África). Nos
assistir a uma retoma das bolsas mundiais, ainda que muito incerta países desenvolvidos nota-se a crescente importância do 3º sector, que
e com uma volatilidade sem histórico e sem paralelo. Gestores por começa agora a assumir um papel fulcral ao nível da sociedade e da
todo o Mundo tentam salvar empresas, evitar despedimentos e interacção entre esta e empresas. Na Europa a população está cada vez
manter a aposta na sustentabilidade. Por outro prisma assistimos a mais envelhecida e as perspectivas para os jovens não as melhores, em
despedimentos em larga escala, ao decréscimo da qualidade de vida, a Portugal por exemplo o número de recem licenciados desempregados
um menor consumo e a confiança dos empresários continua a descer. continua a aumentar.
Ao nível económico é sabida a crise que atravessa o sector financeiro e
Terá sido a reunião do G20 em Londres um passo crucial para os mercados, nunca será de mais relembrar que esta foi provocada por
a mudança de paradigma e saída da crise? O G20 anunciou um gestores pouco responsáveis, alguns até mesmo desprovidos de ética.
plano de 1 trillion dollars para o combate à crise, dando ao FMI um papel Nos EUA o Presidente Obama continua a ‘reformar’ estes gestores (
14 fundamental na ‘distribuição’ deste dinheiro. Acreditamos que chegou indústria automóvel e AIG por exemplo); os ataques a sedes de bancos
finalmente a hora do verde, impulsionada de um modo geral pelos EUA, e as manifestações foram muitas; O Reino Unido fez com que alguns
e em particular, pelo Presidente Obama. A China assume-se finalmente destes gestores dessem a cara e assumissem os erros; em Portugal
como comprometida com o ambiente e a Alemanha continua destacada três bancos foram associados a práticas ilícitas e offshores e por
na Europa ao nível da Energia Renovável. A Península Ibérica começa a surpreendente que seja, tivemos pela primeira vez um banqueiro atrás
imergir como exemplo ao nível do investimento na energia solar e eólica das grades.
e em Portugal o lobbye do nuclear começa a ser difícil de ignorar por É consensual que a regulação financeira em toda a sua dimensão falhou
parte dos decisores políticos. e que tem inevitavelmente de melhorar. A transparência tem de ser
A chamada tempestade perfeita, que atingiu a economia real e promovida pelos Governos e empresas, levando a um crescimento na
arrastou-nos para o ponto onde estamos, é na realidade, a perfeita confiança dos investidores e consumidores.
crise da sustentabilidade, em que a falta de regulação e respectiva
Governance favorece a corrupção em vez da transparência, em que os Chegou a altura na história em que, inevitavelmente, a forma de pensar
agentes económicos preferem olhar para os lucros do curtíssimo prazo e actuar individualmente e em sociedade vai mudar.
à valorização sócio-económica e respectiva viabilidade a longo prazo É agora altura para investimentos socialmente responsáveis, produtos
das organizações e por último mas não menos importante, uma crise, verdes, consciência ambiental, ética e transparência, melhor regulação,
que nos relembra, que continuamos a pedir emprestado o planeta aos menor poluição, produtos de valor acrescentado para os cidadãos e para
nossos netos sem qualquer fundo de garantia. a sociedade.

Senão vejamos, o ambiente continua a degradar-se a um nível


assustador, as boas notícias ainda não superam as más, e apesar de Para que inovar? E de que depende a inovação em
existirem óptimos exemplos, sejam eles de Governos ou empresas, sustentabilidade?
de facto o ambiente ainda não encontrou a sua retoma, continuamos
e continuaremos reféns dos combustíveis fósseis. Os passos têm de A ligação entre sustentabilidade e inovação é à partida fácil de visualizar.
ser maiores, as acções mais firmes e a resposta conjunta. Com Obama A inovação, qualquer que seja, vai ter um impacte, quer seja ao nível da
vimos os EUA assumirem um papel de liderança por um Mundo mais sociedade ( exemplo: projectos de inclusão social ) ou ao nível ambiental
verde, esperemos que não tarde de mais. ( exemplo: tecnologia redutora de emissões ).
A Conferencia de Copenhaga em Dezembro será mais uma página A sustentabilidade deve ser uma plataforma para a inovação e é
importante da História Mundial, espera-se uma resposta Mundial eficaz
necessária a criação de uma cultura de inovação para a sustentabilidade.
na luta contra as alterações climáticas, em particular no que toca às
Alguns dos aspectos que promovem a inovação em sustentabilidade
emissões de carbono. são:
- Ambientes internos que proporcionem conflitos criativos, intra-
Existe um crescente interesse do consumidor na aquisição de organizacionais;
produtos verdes e no valor acrescido concedido por este a empresas - Subsídios, políticas públicas e tecnologia, no fundo o macro ambiente
ambientalmente responsáveis. São vários os estudos que o comprovam, externo;
- Equipas eclécticas que proporcionem a explosão criativa; produção. Poderá ser ao nível do Marketing, implementando mudanças
- Particular atenção às ‘’bordas organizacionais’’, como por exemplo ao nível do design, da caixa, da promoção ou do preço. E poderá ainda
parceiros, fornecedores, no fundo inovações pelos stakeholders; ser organizacional, através da implementação de um novo método
organizacional, seja no local de trabalho, nas relações externas ou nas
É irrelevante se a inovação é feita bottom up ou top down, o inovador práticas de negócio.
tem de ser capaz de desafiar o que é vigente e antecipar cenários. O
erro é normal e natural, 93% das inovações começam mal, é necessário A Mckinsey num trabalho conjunto com o Fórum Económico Mundial
explorar as descontinuidades, perceber as necessidades e alavancar desenhou um mapa identificando factores de sucesso nas câmaras de
competências. inovação; analisaram a evolução dos ‘clusters’ e 700 variáveis tanto
A inovação pode assumir muitas formas. Esta pode ser no processo, internas como externas, de forma a identificar modas nos casos de
implementando uma nova e melhorada forma de distribuição ou sucesso (ver mapa em baixo).

MAPPING INNOVATION
CLUSTERS

Innovation clusters around the


world can be classified based
on their growth and diversity
dynamics; “hot springs” are
small, fast-growing hubs on

| BRUNO CACHAÇO E DANIEL AMARAL


track to become world players;
“dynamic oceans” consist of Momentum:
large and vibrant ecosystems average growth
with continuous creation and of US patents in
destruction of new businesses;
cluster, 1997-2006
“silent takes” are older, slower-
growing hubs with a narrow
range of large established
companies; “shrinking pools”
have been unable, so far, to
expand beyond their star-up core
and so find themselves slowly
migrating down the value chain.
Diversity: Number of separate companies and patent sectors in cluster in 2006

Fonte: Juan Alcacer, Harvard Business School and New York University; Mckinsey analysis.
15
Fazendo também uma análise macro a Portugal, através do European No que toca às reformas europeias em inovação e research analisámos o !
Innovation Scoreboard 2008 percebemos que o plano tecnológico do European Reform Barometer que conclui que existe um abrandamento
Governo socialista tem o seu mérito. Portugal subiu cinco lugares no face ao ano transacto. Apesar disso a Noruega, Hungria, Chipre, Polónia,
ranking Europeu de Inovação. O Scoreboard foi divulgado no final de Bélgica, Holanda, Austria, Finlandia, Portugal, Dinamarca, Irlanda e
Janeiro e revelou que no que toca aos indicadores de inovação o país teve Luxemburgo fizeram progressos acima da média Europeia. Na Bélgica a
uma taxa de crescimento acima do dobro da média Europeia. A evolução redução de taxas aos researchers e patentes bem como a melhoria da
verificada nos indicadores relativos à qualificação dos recursos humanos cooperação entre universidades explica o progresso. A crise económica
foi óptima tal como no indicador relativo aos efeitos económicos da não veio ajudar nestes progressos e os Governos têm de procurar
inovação. Assistimos assim a algumas mudanças estruturais na base soluções, soluções inovadoras.
da economia portuguesa, sendo nós agora considerados na Europa no
grupo dos ‘’Moderate Innovators’’. Ao nível das empresas muito tem sido feito nos últimos anos para
consubstanciar a inovação em sustentabilidade. Algumas empresas
acrescentaram sustentabilidade à palavra inovação,ou seja, passaram
a direccionar a inovação para o aparecimento de novas soluções viáveis
2006 2007 2008 financeiramente nos diferentes níveis de inovação, que beneficiam a
sociedade e o planeta, através da resolução ou mitigação de qualquer
posicionamento risco social ou ambiental do planeta e das comunidades. Infelizmente,
de portugal no ainda teremos de esperar algum tempo para perceber se este recente
22º 22º 17º fenómeno de investimento, foi feito em escala suficiente para mudar os
contexto da
ue27 nossos errados padrões de desenvolvimento.

Em 2006 o Marks&Spencer, um dos maiores retalhistas mundiais,


agrupamento adoptou uma nova estratégia e conceito em sustentabilidade que
de países a Países em Países em Moderate prometia revolucionar o seu negócio, e assim foi com o Plano A. A bem
que pertence “Catching-up” “Catching-up” Innovators conseguida comunicação deste plano permitiu perceber que o plano
portugal A ia muito além de um simples relatório de sustentabilidade. Este
plano elenca cerca de 100 compromissos qualitativos e quantitativos,
direccionados a todos os quadrantes da empresa. Desde a diminuição
de sal nos alimentos que vende, a auditorias e aconselhamento de
11º mais 7º mais 5º mais fornecedores, estes compromissos abrangem todas as áreas relevantes
progresso
relativo elevado elevado elevado da empresa que podem ser melhoradas no que diz respeito a aspectos
sociais e ambientais. Esta inovação estratégica em sustentabilidade
da Marks and Spencer, permite à empresa estar no plano da frente nas
referências em sustentabilidade no sector.
A INEVITABILIDADE DA MUDANÇA DE PARADIGMA

“Sendo um exemplo comum para maior parte


das novas teorias de gestão, a Toyota afirma-se
por ser também uma referência em inovação
tecnológica em sustentabilidade. Em 1997 a
empresa lança o primeiro automóvel Híbrido,
uma inovação completamente dirsruptiva no
mercado (...)”

Ao nível de visibilidade, e disrupção com a anterior gestão, temos no Na sua mais recente publicação, “Corporate Innovators & Social
topo dos exemplos, o plano estratégico e transversal do negócio mais Intrapreneurs: Make Change From Where You Are” a Sustainability de
diversificado do Mundo, o ecoimagination da GE. Focado na eco- John Elkington apresenta, um conjunto de casos de estudo, que explicam
eficiência, o ecoimagination, tem o objectivo de encontrar as soluções e exemplificam, o surgimento de novos negócios e novas apostas,
mais eficientes ao nível de recursos, mais profícuas para os clientes catalogadas de “sustentáveis” , dentro de organizações bem conhecidas
e mais rentáveis para os seus accionistas, apostando no longo prazo e multinacionais. Com este conjunto de casos de estudo, a sustainability
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

como horizonte para a sua estratégia. A Toyota, em inícios dos anos 90, apresenta o mais novo chavão no mundo da gestão, os “Intrapreneurs”.
demarcou-se por continuar a afirmar a sua vontade de ser líder do sector Esta nova espécie no mundo empresarial, podem simplesmente ser
com a sua estratégia de inovação e eficiência energética. Sendo um definidos como empreendedores sociais, que promoveram a mudança a
exemplo comum para maior parte das novas teorias de gestão, a Toyota partir do interior das suas empresas, colocando em prática, estratégias,
afirma-se por ser também uma referência em inovação tecnológica cooperações, produtos e programas, disruptivos, viáveis e concretizáveis,
em sustentabilidade. Em 1997 a empresa lança o primeiro automóvel que beneficiam o negócio da sua empresa, bem como oferecem uma
Híbrido, uma inovação completamente dirsruptiva no mercado, e em solução com claros benefícios sociais e ambientais. Estes “sustainability
2008 afirmou-se pela primeira vez na história destronando os gigantes champions” têm sido um motor de mudança empresarial, que muda a
de Detroit, como a líder mundial no sector. No entanto esta inovação forma de estar de organizações com dimensão mundial, introduzindo
tecnológica disruptiva nos anos 90, hoje, aos olhos de consumidores e soluções que obedecem às “leis” da sustentabilidade e da visão holística
decisores políticos e empresariais é claramente uma pequena melhoria, do negócio, onde não existem externalidades. Apesar de refrescantes e
aos automóveis que sempre circularam na estrada, pois apenas reduz o inovadores, os Intrapreneurs, não são a única resposta, para a inovação
16 consumo de combustível e limita as emissões de CO2 relativamente aos da gestão em sustentabilidade. As redes sociais e o poder das populações,
seus antecessores. Hoje o mercado assimilou como inovação tecnológica parcerias do sector empresarial e terceiro sector, sistemas de gestão para
disruptiva em sustentabilidade, automóveis que não necessitem de o envolvimento permanente das partes interessadas, são apenas algumas
combustíveis fósseis para circular, mantendo a mesma qualidade e soluções com pouco historial e muita margem para alcançar o santo-
conforto dos actuais. Será que a Toyota continuará na crista da onda da graal do mundo empresarial, “a vantagem competitiva” e a diferenciação
inovação tecnológica em sustentabilidade? positiva.

Ao nível da inovação em gestão, é difícil perceber quem está realmente a A inovação em sustentabilidade é o próximo grande passo que temos de
aproveitar o que de novo a teoria em sustentabilidade trouxe em termos integrar na gestão das nossas empresas. A competitividade no futuro, irá
de inovação da gestão. Algumas empresas já perceberem, que apenas ser marcada por uma maior exigência por todas as partes interessadas
aproveitando o poder e a cooperação das suas partes interessadas, é que em relação aos aspectos ambientais e sociais que afectam a montante
conseguirão oferecer os produtos e serviços rentáveis, socialmente aceites e a jusante o produto que é oferecido. È natural que a própria viabilidade
e ambientalmente benignos ou competitivos. Os normativos de diálogo financeira do produto seja determinada, pela exigência da produção,
com os stakeholders oferecidos pela AA1000 e pela Global reporting pelos matérias-primas utilizadas, pelas condições de trabalho e pelo
Initiative, apontam caminhos para a construção de modelos de gestão escrutínio que a organização sofre. Estamos no período de transição, onde
que incluam, não só a informação das partes interessadas, mas também a os selos ambientais e sociais, começam a ser conhecidos e começam a
sua própria participação na gestão da empresa. Embora ainda com pouco integrar a variável “qualidade”.
historial de resultados e exemplos diferenciadores, é notório pela panóplia Organizações como a BodyShop, Natura, Whole Foods, Triodos Bank,
de relatórios de sustentabilidade existentes, uma genuína preocupação começam a ser vistas no mundo empresarial, como referências a estudar,
em incluir os stakeholders na gestão do negócio da empresa. No entanto a comprar – exemplo da BodyShop – e por último a imitar.
este desafio não é simples. A actual crise económica, é uma crise de curto prazo, que irá deixar marcas
A Governance das empresas, em todo o mundo, está inevitalvelmente na sociedade, novas desigualdades e novos problemas sociais. É urgente,
marcada por estruturas top down, onde um CEO e respectivos sénior vice a construção de modelos de gestão empresarial, que tenham a inovação
presidents, têm de acordo com Gary Hammel “o monopólio das decisões”, e a sustentabilidade como referencial de diferenciação, pois depois da
do que avança e não avança para o mercado. Desta forma, o que chega do crise económica, continuaremos a ter o problema da crise energética, da
fundo da organização aos respectivos seniores, foi filtrado por suposições crise da poluição atmosférica, da crise das emissões de CO2 e finalmente
e ambições que deixam o leque de opções limitado e fechado para os da eterna crise das desigualdades sociais. Por isso é urgente colocar a
mais altos responsáveis pela execução nas organizações. O desafio da inovação em sustentabilidade no topo da lista de prioridades. É urgente,
inovação da gestão em sustentabilidade, está em permitir a construção o envolvimento com as partes interessadas, é fundamental a educação e
de modelos, que permitam às partes interessadas verdadeiramente comunicação do que significa sustentabilidade para cada organização, é
relevantes, ultrapassar e tornar irrelevante a necessidade da hierarquia crucial avançar tecnologicamente, mas acima de tudo, é absolutamente
na tomada de decisão. Cabe à hierarquia, perceber qual a melhor forma necessário reinventar a forma como chegamos às soluções, ou seja, é
de construir, modelos relacionais que permitam ligar a base da empresa necessário reinventar a gestão para a sustentabilidade.
ao topo, e a envolvente externa à tomada de decisão, de forma flexível e por Bruno Cachaço, Business Developer Im))pactus e Daniel Amaral, Consultor na Sustentare.
coerente.
SIMON PICKARD

Simon Pickard
Director Geral da EABIS - European
Academy of Business in Society

ENTREVISTA COM O DIRECTOR-GERAL


DA EABIS, SIMON PICKARD
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

1. De que forma foi criada a a investigação na área das políticas, liderando 50% dos projectos
EABIS e quais as suas principais relacionados com RSE, no âmbito do 6º Programa-Quadro comunitário
actividades? (6º PQ).
A EABIS é o resultado de uma ideia
ambiciosa que se transformou 2. Quais são as actividades da EABIS nos próximos anos?
numa história de sucesso As prioridades da EABIS serão um maior e melhor empreendedorismo,
internacional. As nossas raízes diálogo entre empresas e investigação, desenvolvimento de capacidades
remontam ao virar do milénio. Em e internacionalização. Foram vários os objectivos já alcançados nos
2000/2001 as Estratégias de Lisboa últimos anos, mas muitos desafios ainda se mantêm.
e de Gotemburgo delinearam uma
visão para uma sociedade europeia São claramente necessárias novas perspectivas relativamente à
sustentável. Na mesma altura, os gestão e ao governo das empresas, à gestão de risco e à criação de
18 mercados bolsistas de todo o mundo foram abalados pela explosão da valor sustentável. Como ponto de referência para a colaboração ao
bolha tecnológica dos “dot.com” e pelos escândalos que envolveram nível das empresas, instituições académicas e das políticas, a EABIS
empresas de destaque (Enron, Worldcom, Parmalat, entre outros). desempenhará um papel central no desenvolvimento destas através
da investigação e do diálogo. Ao contrário da investigação tradicional,
A globalização, por si só, estava a dar origem a novas e complexas a EABIS dá grande ênfase à interdisciplinaridade e à inclusão das várias
pressões sociais, ambientais e de governo sobre as empresas. Surgiram partes interessadas nos seus projectos – o que reflecte a complexidade
debates críticos em relação à responsabilidade e papel destas na de questões que abordamos.
sociedade. As grandes empresas foram, de um momento para o outro,
responsabilizadas por externalidades que até então haviam conseguido Os resultados destas acções servirão de base às mudanças de paradigma
ignorar. relativamente à forma como são realizados o desenvolvimento
executivo e a educação em gestão. Por fim, a ambição da EABIS é
Em 2001, cinco empresas pioneiras – IBM, Johnson & Johnson, Microsoft, preparar os actuais e os futuros líderes para a gestão sustentável das
Shell e Unilever – compreenderam que uma resposta de longo prazo suas empresas num novo cenário económico e sócio-político. As escolas
a estas questões iria exigir novos conhecimentos e perspectivas que e universidades de gestão têm um papel fundamental a desempenhar
servissem de apoio à mudança a nível organizativo. Consequentemente, na prossecução destes objectivos.
a liderança teria também de desenvolver novas competências e
qualificações para, no futuro, gerir a actividade económica de forma 3. Como podem os estudantes/investigadores participar e em
responsável. que áreas?
Isso depende da definição de “áreas”! Um dos desafios da EABIS é
Consequentemente, as empresas, apoiadas pela Comissão Europeia, dar forma a um debate global mais consolidado e inclusivo. A nossa
uniram esforços para criar uma parceria com as principais escolas de rede encontra-se distribuída por 25 países e nos 5 continentes, daí que
gestão europeias. A principal missão dessa recém-criada organização estejamos ligados a instituições espalhadas por todo o mundo.
– EABIS – foi a integração da responsabilidade empresarial nas práticas É uma organização cujos membros são instituições; trabalhamos
de gestão e de desenvolvimento. Os veículos utilizados para a pôr em com investigadores e faculdades de diferentes áreas, com várias
prática seriam os projectos conjuntos de investigação e educação escolas e universidades de gestão. Desta forma, conseguimos
adaptados às prioridades das empresas e tendo em consideração o alcançar muito melhores resultados junto das empresas nas questões
mundo real. relacionadas com a sociedade em termos de consciencialização,
envolvimento e integração. Contudo, a EABIS coloca todos os seus
Desde a sua fundação, em 2002, que a EABIS e os seus membros já resultados em matéria de investigação e educação no domínio público
levaram a cabo mais de 20 projectos para fazer avançar a compreensão disponibilizando-os assim a qualquer pessoa.
das empresas e as alterações curriculares junto do tecido empresarial
nas questões relacionadas com a sociedade. As cinco empresas As nossas ligações aos estudantes não são tão visíveis, mas temos fortes
fundadoras apoiaram-nos, de forma fundamental, com 1, 5 milhões relações de trabalho com a AIESEC e a Net Impact, duas das principais
de euros. A EABIS tornou-se, também, um ponto de referência para organizações de estudantes, a nível mundial, na promoção de temas
relacionados com o desenvolvimento sustentável nas comunidades “sustentabilidade empresarial” dentro destes parâmetros alargados, na
globais. É de realçar que, nos últimos anos, os estudantes se tornaram esperança de que outros nos sigam.
a principal força motriz no aumento do número de cursos sobre ética
e responsabilidade empresarial. Como tal, para nós é extremamente 7. Quando pensa que a teoria económica passará a incluir, de
importante apoiar a AIESEC, a Net Impact e outras organizações que forma consagrada, a temática da sustentabilidade?
envolvam os alunos neste debate. Até um certo ponto já inclui – qualquer modelo teórico cujos erros
levaram à destruição do valor económico não será considerado
“É de realçar que, nos últimos anos, os estudantes se sustentável. Em última análise, a capacidade de colaboração dos
tornaram a principal força motriz no aumento do número investigadores de Economia com outras disciplinas e áreas será de uma
de cursos sobre ética e responsabilidade empresarial. “ influência decisiva. As empresas têm um papel a desempenhar nos
mercados, mas possuem também uma identidade social e política. Se
4. Quais são as universidades europeias de referência, na área da a Economia abraçar esta pluralidade, talvez se torne parte da solução
sustentabilidade e da RSE? E as principais escolas? teórica.
Em primeiro lugar, gostaria de sugerir aos leitores que consultassem
o website da EABIS. Aí poderão ficar com uma ideia das principais No entanto, se formos um pouco mais longe, poderemos argumentar
instituições europeias empenhadas em integrar a sustentabilidade que – a curto prazo – as questões ligadas à sustentabilidade irão
e a responsabilidade empresarial. Nesse grupo de mais 50 escolas e emergir, antes de mais, a nível microeconómico e só depois a nível
universidades seria injusto destacar alguma. macroeconómico. Se a teoria formal se irá desenvolver, integrando a
mesma terminologia, não sabemos. No entanto, se considerarmos um
Em segundo lugar, encorajo as pessoas a visitarem o nosso novo portal simples exemplo – a questão da escassez de recursos – torna-se óbvio
Business in Society Gateway, desenvolvido em conjunto com a Fundação que a falta de água e petróleo irá encorajar uma mudança de longo
Europeia para o Desenvolvimento da Gestão (EFMD). Este portal contém prazo no comportamento e no consumo por parte das empresas e
o primeiro directório de actividades de investigação e ensino em matéria particulares.
de RE, incluindo licenciaturas e formação para executivos. Com perto
de 200 escolas já associadas, este portal contém muitas e valiosas 8. Pensa que a crise financeira está de alguma forma relacionada
informações sobre o que de mais avançado se faz neste domínio. com a questão da sustentabilidade?
Como já vimos, é praticamente impossível dissociar o que quer que seja

| EABIS - Simon Pickard


5. Quais as questões futuras que os investigadores deveriam da actual crise. A queda das instituições bancárias afectou todas as áreas
investigar, em termos de sustentabilidade e RSE? da economia mundial. Testemunhámos a existência de especulação
Correndo o risco de ser imodesto, o melhor resumo está contido no novo no seio do mercado financeiro – tanto ao nível da gestão como
relatório da EABIS relativo a um projecto recente e financiado pela UE, também dos accionistas – que minou a sustentabilidade ambiental,
intitulado “CSR Platform”. Esta iniciativa, levada a cabo entre 2004 e social e económica. É este género de especulação de curto prazo que
2008, tinha como objectivo delinear o mapa difuso e fragmentado da as empresas e governos se vêem agora obrigados a solucionar. A não
investigação em RE na Europa. Ajudou também a delinear a RSE como ser que exista uma resposta coerente, será difícil construir uma nova
um campo académico e a identificar formas de a desenvolver como uma e sustentável forma de capitalismo e de desenvolvimento económico,
área de investigação cooperativa. para lá da actual turbulência. 19

Com base nas consultas que envolveram perto de 2.000 pessoas ligadas 9. Que ilações podemos retirar para reflexão futura?
ao meio empresarial, académico, político e sociedade civil, o nosso Temos de repensar as remunerações e a prestação de contas dos
Relatório Final apresentou um quadro de investigação orientado para o executivos. Não faz sentido alinhar a remuneração dos directores
futuro e uma lista de 11 temas em torno dos quais foram identificadas e principais gestores das empresas pelos interesses limitados dos
grandes lacunas. Entre outras, õ documento destacou a necessidade das accionistas. Um exemplo, são a opção de compra de lotes de acções –
empresas e das partes interessadas desempenharem um papel mais incentivos para objectivos e práticas de gestão de curto prazo com base
activo na concepção e aplicação, e de ultrapassarem as limitações da RSE na cotação de acções, e não a criação de valor a longo prazo. De futuro,
tendo em conta o principal papel das empresas na sociedade. os conselhos de administração serão alvo de um maior escrutínio no
sentido de solucionarem estas questões.
6. Podemos afirmar que existe um grande fosso entre a Europa
e os EUA ou Japão relativamente ao estudo da sustentabilidade De um modo geral, os actuais e os futuros gestores deverão ser
empresarial? treinados para melhor compreenderem o papel e a finalidade das
Não necessariamente. Por algum motivo, a expressão “sustentabilidade empresas na sociedade. O que inclui a responsabilidade empresarial no
empresarial” abrange um leque muito alargado de temas, disciplinas âmbito político, económico e social, e consequentemente as implicações
e definições que variam de acordo com os critérios seleccionados. É da tomada de decisões das empresas. Não podemos regressar à
difícil medir as diferenças entre a Europa e outros locais em relação à situação anterior. O nosso desafio consiste em retirar os necessários
quantidade de investigação considerada relevante. ensinamentos da actual crise de forma a evitar a sua repetição nos
próximos anos, através da criação do maior número possível de
Foram realizados muitos estudos, a nível mundial, em empresas que empresas sustentáveis existentes até à data.
possuem um crescimento e uma rentabilidade com sustentabilidade,
há largos anos, sendo consideradas líderes nas questões sociais,
ambientais e de governo. Esta investigação analisa frequentemente
a “sustentabilidade” ao nível da empresa – através de vantagens
competitivas em termos de estratégia, operações, marketing, RH ou
noutras funções internas.

Os investigadores, a nível mundial, necessitam de repensar esta


abordagem, pois a mesma já não é adequada para nos dar resposta aos
principais desafios da “sustentabilidade” – questões de cariz público tais
como as mudanças climáticas, a desertificação o SIDA, entre outros. Os
efeitos da globalização estão a provocar o rápido incremento desses
desafios. A EABIS tenciona abordar qualquer futura investigação em por Simon Pickard, Director Geral da EABIS - European Academy of Business in Society
EQUAL

Inovação Social
Dra. Ana Vale
Gestora da EQUAL Portugal O legado EQUAL em Portugal

A EQUAL é uma Iniciativa Comunitária, proporcionaram um enriquecimento mútuo.


financiada pelo Fundo Social Europeu > Igualdade de Género> Fomentou uma nova mentalidade face à
(FSE) e pelo Estado Português, para igualdade de género, segundo a qual, a igualdade de oportunidades,
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

promover a Inovação Social, isto é, criar direitos e deveres entre mulheres e homens, se concretiza e aprofunda
novas soluções capazes de responder aos diferentes níveis da sociedade.
às necessidades e expectativas das > Disseminação> romoveu-se uma atitude nova face à partilha
!
pessoas, das organizações e das e à transferência do conhecimento e das soluções inovadoras, no
comunidades, de modo a construir sentido de serem validados por terceiros e de serem transferi¬dos para
uma sociedade mais criativa, solidária contextos que permitam chegar a mais utilizadores e beneficiários
e justa. finais.

Para concretizar estes objectivos, a EQUAL desenvolveu um modelo As 188 Parcerias de Desenvolvimento (PD) EQUAL desenvolveram
experimental, iniciado em 2000, assente em três etapas: elaboração centenas de produtos e soluções inovadoras dirigidas a diferentes
do diagnóstico dos problemas e das necessidades, e definição de sectores de intervenção. Deste conjunto, foram seleccionadas
20 um projecto e parceria para o desenvolver; validação das soluções para disseminação 320 metodologias inovadoras, cuja escolha
inovadoras e implementação do projecto; disseminação das soluções foi baseada em critérios de qualidade, inovação, empowerment,
junto de decisores políticos, de organismos responsáveis pela execução utilidade, acessibilidade, entre outros. Estas podem agrupar-se em
das políticas, de técnicos/utilizadores/beneficiários, e da sociedade em sete domínios que correspondem genericamente às principais áreas
geral. de inovação desenvolvidas pela EQUAL: Empowerment, Inclusão e
Interculturalidade; Animação para o Desenvolvimento Territorial;
O desenvolvimento das referidas etapas é inspirado num conjunto Empreendedorismo Inclusivo; Educação para a Empregabilidade e a
de princípios e de práticas que têm contribuído para mudanças Cidadania; Formação ao Longo da Vida e Inovação Organizacional;
significativas nas pessoas, e nas organizações envolvidas na EQUAL, ao Responsabilidade Social das Organizações; Modernização do Sistema
nível da sua abordagem e forma de trabalhar e intervir na sociedade. Prisional e Inserção de (ex)Reclusos; Igualdade de Género, Conciliação da
Vida Pessoal e Profissional e Serviços de Proximidade.
Princípios de Intervenção EQUAL:
> Inovação> A EQUAL contribuiu para a criação de uma nova O objectivo da EQUAL é que as soluções inovadoras concebidas pelos
dinâmica de inovação no campo da intervenção social, promovendo projectos e a título experimental, tenham um efeito multiplicador, isto
soluções criativas e eficazes para problemas novos e antigos aos quais é, que sejam reconhecidas, adaptadas e incorporadas por organi¬zações
a sociedade ainda não conseguiu dar resposta. exteriores ao seu universo. Nesse sentido, a EQUAL assume um carácter
> Trabalho em Parceria> Desenvolveu-se uma cultura de trabalho estruturante, ou seja, actua preferen¬cialmente sobre as “estruturas”,
em parceria, através da constituição de Parcerias de Desenvolvimento políticas, organizacionais e técnicas, intervenientes nos processos de
reunindo organizações de natureza diversa e de intervenção formação-em¬prego-inclusão, por acreditar que estas são cruciais para
complementar, proporcion¬ando assim respostas integradas e assegurar a transferência das soluções para benefício dos públicos em
consequentemente mais eficazes. desvantagem social.
> Empowerment> Introduziu definitivamente em Portugal o
conceito de empowerment dos beneficiários das políticas e das Aquela que foi a maior Iniciativa Comunitária em Inovação Social
intervenções sociais. O desenvolvimento deste conceito foi essencial implementada em Portugal e na Europa, terminou em Dezembro
para adaptar a Inovação Social às necessidades reais das pessoas, último, enquanto laboratório de experimentação. Mas o enorme
organizações e das comunidades, além de fomentar a participação e legado prova que é possível criar uma dinâmica de Inovação Social
a cidadania. com o envolvi¬mento e a implicação de muitas organizações e pessoas
> Cooperação Transnacional> Estabeleceu-se um número prov¬enientes dos sectores público, empresarial e terceiro sector, visto
significativo de acordos e projectos transnacionais, cuja partilha que é na complementaridade entre estes que a criação de soluções
de dif¬erentes realidades, experiências, práticas, saberes e, inovadoras se torna eficaz.
desenvolvimento conjunto de novos produtos e soluções,
Das centenas de projectos que testemunham a importância do legado Incremento da Diversidade e Responsabilidade Social das
EQUAL e a utilidade das soluções que desenvolveram, destacam-se aqui Organizações
o Emprego Apoiado e o Nautilus, sendo este último a continuação do
primeiro. Tão importante como trabalhar o percurso dos/as indivíduos/
as na ligação com as empresas, é o trabalho de apoio às empresas
na sua ligação com os/as indivíduos/as. Desta assunção nasceu o
«Emprego Apoiado e Nautilus ajudam a criar oportunidades de projecto NAUTILUS, com a finalidade de fomentar a interligação das
vida» metodologias de Emprego Apoiado com o movimento empresarial
Ter um emprego no mercado de trabalho aberto, justamente RSO - Responsabilidade Social das Organizações, particularmente na
remunerado e de acordo com as competências pessoais, é um vertente da sustentabilidade social e incremento da diversidade.
elemento-chave para a inclusão social, realização e qualidade de vida.
É precisamente nas competências individuais que os responsáveis do Segundo um estudo de análise custo/benefício do Emprego Apoiado,
projecto EQUAL – “Emprego Apoiado” – acreditam residir a fórmula que efectuado pelo projecto NAUTILUS, «a dimensão social das empresas é
permite combater desigualdades sociais e criar oportunidades de vida. cada vez mais encarada na gestão como um factor determinante para
a competitividade das empresas e para a consolidação de um clima
Inicialmente concebido para pessoas com deficiência e doença mental, organizacional potenciador de produtividade, rentabilidade», além de
o “Emprego Apoiado”, inspirado no movimento internacional com o contribuir para a melhoria da imagem e reputação da empresa.
mesmo nome, foi adaptado a um universo mais alargado de pessoas
em situação de desvantagem, nomeadamente minorias étnicas, ex-
reclusos/as, jovens sinalizados pelo sistema judicial, mulheres vítimas de

| EQUAL
violência doméstica ou, simplesmente, pessoas que por uma condição
sócio-económica mais desfavorecida, se encontram permanentemente
excluídas do mundo profissional. Este modelo caracteriza-se pela
21
participação dos indivíduos na construção e condução do seu próprio
projecto profissional (auto-determinação), pela valorização e conciliação
das aspirações e talentos individuais com os requisitos e necessidades
das empresas (job matching).
Segundo o representante da APEA, «a lógica subjacente a este
Desta forma «a pessoa tem oportunidade de perceber a sua própria processo é a de que as empresas precisam de recursos humanos
história, quais são as suas competências e o que é necessário fazer para para funcionarem e as pessoas que precisam de um emprego têm
um percurso de inserção sócio-profissional bem sucedido», explica competências que podem resolver algumas das necessidades das
Augusto de Sousa, da Associação Portuguesa de Emprego Apoiado, empresas», trata-se pois de proporcionar as condições para um
entidade criada em 2003, em consequência da dinâmica levado a cabo «casamento» entre as necessidades das pessoas e das empresas e não,
pelos membros então envolvidos no Projecto. como se poderia julgar, conceder um favor ou aceitar uma imposição.
O sucesso desta metodologia reside no suporte individualizado,
proporcionado por técnicos/as do projecto, tutores/as de empresas, Os resultados alcançados até agora são bastante positivos, «em termos
colegas de trabalho e empresários/as, que em conjunto procuram que de Emprego Apoiado trabalhámos com mais de 1000 empresas na área
as competências e potencialidades dos indivíduos sejam reconhecidas da grande Lisboa e Setúbal. Do ponto de vista das pessoas trabalhadas
e valorizadas, e no envolvimento dos beneficiários na definição, são, certamente, mais de 600», refere Augusto Sousa, para quem
implementação e avaliação do seu próprio percurso de inserção. estes números reflectem a criação de postos de trabalho, percursos de
inclusão bem sucedidos e mais empresas satisfeitas com esta dinâmica
«A partir das competências da pessoa e daquilo que ela quer fazer, de trabalho.
procuramos identificar uma empresa para desenvolver um programa
individual que permita efectuar um acompanhamento da pessoa, DESTAQUES
temos de conseguir que as pessoas apliquem o potencial que têm na
empresa, a todos os níveis», acrescenta Augusto de Sousa. «A EQUAL foi a maior Iniciativa Comunitária em Inovação Social
implementada em Portugal e na Europa».
Para a realização plena dos objectivos a que se propôs, o Projecto «Este modelo caracteriza-se pela participação dos indivíduos na
desenvolveu um conjunto de recursos técnico-pedagógicos que vieram construção e condução do seu próprio projecto profissional (auto-
dar uma ajuda preciosa à generalização e consolidação da metodologia determinação), pela valorização e conciliação das aspirações e talentos
em Portugal, facilitando nomeadamente a apropriação desta por parte individuais com os requisitos e necessidades das empresas (job
das organizações. matching)».

por Equal, Dra Ana Vale.


MANUEL ESCUDERO

Entrevista com
Manuel Escudero,
Consultor Global Compact das Nações
Unidas Secretário Geral PRME
Manuel Escudero

1. Em que consiste a PRME e como teve início esta iniciativa? Qual


o seu principal objectivo? Deste modo, e servindo de exemplo positivo no âmbito das suas
A PRME é uma acção mundial para a actualização dos conteúdos actividades, as instituições académicas têm o potencial de produzir
programáticos, da investigação e dos métodos de ensino das escolas de mudanças positivas numa grande escala.
gestão e de outras instituições académicas relacionadas com esta área,
para fazer face às realidades e exigências sociais do séc. XXI, passando a 2. Quantas instituições se associaram a esta iniciativa? De que
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

incluir na educação dos futuros gestores os valores da sustentabilidade e forma funciona a parceria?
da responsabilidade empresarial. Até ao momento (2 de Abril de 2009) 224 instituições de todo o mundo,
A missão da iniciativa Princípios para a Educação em Gestão Responsável nomeadamente dos EUA, da Europa, do Médio Oriente e da região
(PRME) consiste em estimular e apoiar, a nível mundial, a educação, da Ásia-Pacífico. Estimamos que no final de 2009 este número tenha
investigação e empreendedorismo na área da gestão responsável. A aumentado para 350 participantes, de novo com uma distribuição
PRME inspirou-se em valores aceites a nível internacional, tais como os geográfica equilibrada da iniciativa em particular em relação à América
princípios do Global Compact das Nações Unidas. Esta iniciativa procura Latina, Ásia, Médio Oriente e África. Para tal, necessitamos que as escolas
implementar um processo de aperfeiçoamento contínuo nas instituições de gestão actuem como promotores, e de novas alianças a nível regional,
educativas na área da gestão com o propósito de desenvolver uma nova em particular na Ásia, América Latina e África.
geração de líderes empresariais capazes de gerir os complexos desafios
com que as empresas e a sociedade se deparam no séc. XXI. Temas como A parceria funciona através de várias plataformas:
a responsabilidade empresarial e a sustentabilidade já invadiram o actual a) Divulgação pública de informações sobre o progresso na
meio académico, no entanto ainda não foram incorporadas no ensino implementação da PRME: Estamos neste momento a dar início ao
regular na área da gestão. A PRME é uma acção mundial atempada processo de divulgação pública (ou como preferimos designá-la) de
22 para que as escolas e universidades de gestão de todo o mundo partilha de informação sobre o progresso como a melhor forma de
adaptem gradualmente os conteúdos programáticos, a investigação, os obtenção de reconhecimento pelos nossos esforços.
métodos de ensino e as estratégias institucionais aos novos desafios e b) Aprendizagem: Trabalhamos também através de Grupos de Trabalho
oportunidades a nível empresarial. em diferentes áreas, sendo estes habitualmente dirigidos por uma ou
Qualquer instituição que esteja disposta a integrar a responsabilidade duas escolas de gestão – o nosso objectivo para este ano é dar início ao
empresarial e a sustentabilidade de uma forma gradual mas sistemática, fluxo de aprendizagem, através da produção de ferramentas úteis para
mas utilizando os Seis Princípios como um quadro de referência, terá lugar implementação, com base nos bons exemplos disponibilizados pelas
nesta iniciativa. escolas participantes.
Ser uma empresa responsável perante a comunidade nunca foi tão c) O empreendedorismo das escolas de gestão abertas à sociedade:
relevante como na actualidade. Num mundo que se depara com sérios Devemos partir do conceito abstracto de sustentabilidade para os temas
desafios económicos, sociais e ambientais, um número crescente específicos daí decorrentes, através de parcerias em questões em que
de empresas – desde as grandes multinacionais até às PME – tem disponibilizamos as nossas capacidades para a resolução de assuntos
começado a abordar estes desafios de forma estratégica e nas suas prementes.
actividades diárias. Existem evoluções prometedoras que indicam a
existência de uma recompensa para as empresas que progredirem de 3. Acredita que hoje as Universidades estão a assumir a ética, a
forma pró-activa no sentido da sustentabilidade e da responsabilidade sustentabilidade e a inovação como parte integrante dos seus
social – desenvolvendo e implementando estratégias que reduzam os currículos?
riscos, estabilizem o ambiente empresarial, e aproveitem oportunidades A sustentabilidade e a responsabilidade empresarial invadiram as salas de
antes ignoradas para a criação de valor. A capacidade de uma empresa aula mas não passaram a ser parte integrante do núcleo estratégico da
competir, ganhar confiança e assegurar a viabilidade a longo prazo educação em gestão.
está actualmente claramente interligada à prestação de contas e ao
comportamento empresarial responsável. Tal facto parece prenunciar As instituições académicas na área da gestão já embarcaram numa
novas formas exercer a actividade económica que beneficiam tanto a missão de longo prazo de adaptação dos seus papéis como educadores,
empresa como a sociedade. investigadores e promotores. Temas, tais como ética empresarial,
Dado que o sector empresarial necessita de novas soluções, empresas e sociedade, estudos ambientais e de sustentabilidade ou
conhecimentos e novas formas holísticas de pensar, as instituições empreendedorismo social são cada vez mais integrados nos currículos
académicas relacionadas com a área de gestão, e em particular as académicos. No entanto, na maioria dos casos estes temas não fazem
escolas de gestão, encontram-se numa posição única para abordar estas parte do núcleo dos currículos, nem têm sido integrados como novos
necessidades: valores básicos das disciplinas mais tradicionais – tais como análise
• Através da educação, as instituições académicas têm um papel central financeira, contabilidade, marketing, operações ou recursos humanos.
a desempenhar na formação das competências, aptidões e capacidade Tendo em conta esta realidade, os Princípios para a Educação em Gestão
de decisão dos futuros líderes empresariais. Responsável (PRME) constituem-se como uma acção mundial atempada
• Através da investigação, as instituições académicas podem para as escolas de gestão se adaptarem de forma gradual aos novos
desenvolver os meios e as estruturas para as práticas empresariais desafios e oportunidades empresariais.
responsáveis.
• Por fim, as instituições académicas são um actor privilegiado na 4. Tem notado um interesse crescente relativamente a esta
promoção dos novos valores e ideias da responsabilidade empresarial. matéria por parte dos alunos, professores e Governos?
Sim, existe um interesse crescente por parte dos alunos no sentido de
se preparem da melhor forma para as suas futuras carreiras, possuindo da mais grave crise económica de que há memória, acreditamos que os
a visão, as ferramentas técnicas e as competências necessárias para valores da responsabilidade social a nível mundial incluídos nos Princípios
servir as empresas que coloquem em prática os valores de base da para a Educação em Gestão Responsável (PRME) são mais importantes
responsabilidade social empresarial. A este respeito podemos observar do que nunca. As escolas de gestão associadas à iniciativa PRME podem
os resultados das sondagens realizadas por duas organizações que desempenhar um papel fundamental como agentes de mudança ao
co-presididem à iniciativa PRME, a Netimpact e o Aspen Institute – renovarem o nosso compromisso em relação à educação dos futuros
Business and Society Program (http://www.unprme.org/resource-docs/ líderes. É fundamental que as instituições académicas na área da gestão
LizMawandRichLeimsider.pdf ). eduquem a nova geração de líderes empresariais para a criação de
Em relação aos professores, as faculdades em geral são plurais, existindo valor a longo prazo. A actual crise reforçou a nossa concepção de que a
alguns deles com uma ideia clara sobre esta temática ao passo que viabilidade a longo prazo e o sucesso das empresas irão depender da sua
outros neste momento ainda não. Daí que a PRME seja uma iniciativa capacidade de gerir as preocupações ambientais, sociais e de governo e de
de cariz progressivo, que habitualmente tem início com um grupo de criar valor sustentável através da inovação e de novos modelos de negócio
faculdades e com o apoio e compromisso dos respectivos directores e, em adaptados a um contexto mundial em constante evolução. Esta noção
seguida, e de forma gradual, alarga a necessidade e a prática de alteração de responsabilidade empresarial como pré-requisito do crescimento
dos conteúdos programáticos… mas isso demora algum tempo, o que sustentável irá implicar uma aproximação das estratégias e operações
acreditamos ser bom… dado que a mudança não deve ser forçada, mas empresariais aos valores e princípios universais retratados em iniciativas
antes demonstrada e aceite de forma voluntária pelos membros das internacionais tais como o Global Compact das Nações Unidas. Serão
faculdades. também necessários níveis mais elevados de transparência e de prestação
de contas perante as partes interessadas. Estamos empenhados em
Em relação aos Governos, a tendência é igualmente importante e cada colocar todas estas considerações no núcleo de desenvolvimento dos
vez mais… a última prova relativamente a este facto é apelo relacionado conteúdos programáticos para a educação em gestão.
com a responsabilidade social das empresas, referido na Declaração de
Líderes do G20 na Cimeira de Londres. 7. Podemos afirmar que existe uma grande disparidade entre
a Europa e os EUA em relação ao estudo da sustentabilidade
5. Tendo em consideração a actual crise económica, qual deveria empresarial?
ser o papel dos Governos relativamente à Educação? Estamos todos numa fase de aprendizagem, a abrir caminho, a agir de
Perseverar na educação de elevada qualidade é sempre importante, mas acordo com o que defendemos…
mais do que nunca neste momento.
8. Que projectos ou actividades estão planeados para o futuro?
6. Provavelmente com empresários e gestores responsáveis não Muitos, existem cerca de 30 actividades planeadas para este ano em
nos encontraríamos nesta crise financeira. Concorda? diferentes partes do mundo e levadas a cabo por diferentes instituições
Sim, concordo. E é por esse motivo que na nossa declaração elaborada no signatárias… mas a actividade mais importante é, sem dúvida que,
Fórum Global para a Educação em Gestão Responsável que organizámos em 2009, devido à divulgação do progresso realizado por todos os
nas Nações Unidas, em Dezembro de 2008, afirmamos que a actual participantes, aprendemos mutuamente sobre como implementar, nas
recessão económica mundial demonstrou o elevado grau de interligação nossas actividades educativas diárias, os princípios da PRME.
existente entre os mercados de capitais e a economia real. No decorrer
por Manuel Escudero, Consultor Global Compact das Nações Unidas Secretário
Geral PRME.

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| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Introdução decorrer sem nenhuma ligação estratégica evidente à empresa, aos


O conceito e a prática da responsabilidade empresarial (RE) são seus produtos ou mercados ou competências, ou poderá seguir uma
entendidos de diferentes formas. Este artigo, ao invés de se centrar lógica de filantropia que reflecte o apoio o desenvolvimento da própria
em definições académicas, está direccionado para a prática como marca, da visibilidade da empresa junto de determinados grupos de
forma de inspiração. Começa por revelar inúmeras abordagens à RE clientes ou partes interessadas influentes, ou através de projectos
que foram observadas, descriminando as forças motrizes presentes que reforcem o brio dos colaboradores ou o desenvolvimento de
em cada abordagem e considerando a orientação de RE seguida. competências de base.
Em seguida, procura examinar os casos concretos de empresas que
decidiram desenvolver e incluir a RE nos seus processos empresariais ou A segunda orientação pode ser encontrada em empresas que têm as
nos seus modelos de negócio através de mudanças radicais. É, ainda, suas actividades sob pressão social e ambiental e, por isso, enfrentam
24 apresentado e analisado um modelo de inovação da gestão que serve riscos que têm de ser solucionados através de um maior controlo e
de base às empresas bem sucedidas neste processo. de uma adaptação dos colaboradores. No limite, tal implicará uma
maior adaptação dos colaboradores, processos e rotinas de forma a
Drivers de RE minimizar os riscos, reduzir os impactos sociais e ambientais e aumentar
Independentemente da dimensão das empresas, existem inúmeros a confiança existente entre a empresa e as partes interessadas
drivers de RE. Num extremo estão as empresas que se regem por nas suas actividades. Neste caso, existem duas sub-categorias. O
valores, e que desde a sua fundação trabalham em função de um controlo e a adaptação relativamente à gestão do risco que pode
conjunto específico de princípios relacionados com o ser humano ou afectar apenas algumas das actividades das empresas, ou pode
com o ambiente, como parte integrante da visão orientadora do(s) implicar uma abordagem global das empresas às suas carteiras de
seu(s) fundador(es). O que pode resultar de convicção, da harmonia actividades. Pode ainda resultar de actividades experimentais que
entre os fins e os meios como por exemplo no caso das empresas que são posteriormente aplicadas de uma forma mais abrangente ou de
disponibilizam produtos amigos do ambiente, ou, de uma simples uma mudança global. A abordagem experimental é mais cautelosa,
adequação ao mercado porque as oportunidades empresariais foram permitindo o desenvolvimento da capacidade de gerir o tipo de riscos e
encaradas como uma forma de dar resposta à procura de produtos e oportunidades.
serviços que possuem características sociais e ambientais específicas.
Seja em que situação for, os gestores aprendem com a prática. A Terceira orientação de RE considera as exigências e preocupações
sociais e ambientais como fonte de inspiração para o desenvolvimento
No outro extremo encontram-se empresas que adoptaram a RE devido de novas oportunidades de criação de valor. Esta pode ocorrer através
a pressões e exigências externas, sejam elas reais ou sentidas. Tal facto da experimentação, centrada num conjunto limitado de oportunidades
fica a dever-se a pressões sociais e ambientais directas sobre os seus de negócio, ou pode envolver a revisão global da empresa à luz das
produtos, serviços e/ou tecnologias ou porque o desenvolvimento da RE exigências sociais e ambientais e das oportunidades de negócio.
pelas empresas concorrentes ou consideradas de referência é encarado
como um objectivo a alcançar. Este é também o caso de empresas As empresas podem recorrer às três orientações e algumas
que se consideram líderes e que adoptaram a RE numa fase inicial, empresas efectuam combinações de algumas das sub-categorias
servindo de exemplo para as restantes. Ao contrário das empresas que simultaneamente ou de forma sequenciada. Estes processos de
se regem por valores, estas empresas têm de passar por um processo mudança são, frequentemente, imperfeitos e irregulares.
de aprendizagem e mudança de forma a desenvolverem a sua prática
de RE. Apesar da combinação destes drivers e orientações, torna-se óbvio
que o exemplo mais extremo de mudança organizacional é aquela que
Orientações de RE pode ser encontrada em empresas que, desde o início, não se baseavam
Para além das diferenças de drivers, a RE pode ter diferentes em valores tendo-se apercebido de que operavam num determinado
orientações. Existem três orientações principais, sendo que algumas contexto de mercado em que as condições sociais e ambientais
possuem sub-categorias. A primeira orientação pode ser encontrada levaram os gestores a decidir efectuar uma mudança global em termos
em empresas que encaram a RE como um processo de filantropia em organizacionais. O objectivo destes foi o desenvolvimento de um
que é disponibilizada uma parte das receitas, da competência de gestão, novo modelo de negócio e de processos e rotinas correlacionados que
das competências dos colaboradores ou doações de bens ou serviços criem valor de formas inovadoras e/ou evitem ou reduzam os riscos na
para beneficiar projectos sociais e/ou ambientais. Este processo pode medida do possível. O processo utilizado pelas empresas bem sucedidas
nesta abordagem constitui uma importante experiência. conhecimentos internos e externos, mas, as ideias para determinar a
sua viabilidade e as mudanças nas práticas foram efectuadas da base
O autor estudou inúmeras empresas deste género. As suas abordagens para o topo.
são descritas e analisadas na secção seguinte.
As funções que serviram de suporte a este processo incluíram o
A RE e a Transformação Organizacional através da desenvolvimento da visão empresarial, a supervisão de recursos que
Inovação da Gestão disponibilizou o espaço e os recursos necessários ao processo, a criação
de conceitos que interligou conhecimentos para dar forma a novos
As propriedades básicas do processo de transformação levado a cabo conceitos, a promoção de conceitos que disseminou esses mesmos
pelas empresas bem sucedidas na inclusão da RE no seu modelo de conceitos através da organização comunicando-os e procurando ideias
negócio e estrutura organizacional inclui inúmeras fases, sustentadas que os apoiem. A promoção de redes, através do conhecimento de
por inúmeras funções desempenhadas por membros da empresa e pessoas-chave na empresa, permitiu aos responsáveis pela promoção
por outros agentes, e por várias convicções. As fases do processo são de conceitos obter apoio e informações. Por fim, todos aqueles que

| NIGEL ROOME
simples. contribuíram com ideias e alteraram as suas rotinas para as adaptar à
1. Emergência da tomada de consciência da necessidade de mudança visão e aos conceitos a ela associados.
2. Desenvolvimento de uma nova visão que reflicta aquilo que a
empresa pretende vir a ser Estas funções não foram necessariamente desempenhadas por
3. Pesquisa e produção de novos conceitos que se constituam como indivíduos, mas sobretudo por grupos e por vezes baseadas em rotinas
uma via para a nova visão – tais como, reuniões regulares entre os vários departamentos ou
4. Verificação desses conceitos através da construção de ideias e níveis, ou sistemas de gestão dos conhecimentos. Desta forma estas 25
verificação da viabilidade de combinação dos conceitos e ideias funções contribuíram para a liderança da inovação e mudança como
5. Tradução das novas práticas decorrentes da combinação de uma actividade partilhada construída através de uma multiplicidade de
conceitos viáveis e ideias a eles associadas em novas comunicações e funções, todos elas necessárias.
actividades de desenvolvimento empresarial, pessoal e de mercado,
bem como em processos técnicos ou novos produtos. Por fim, há indícios que sugerem que três convicções servem de base
ao processo de mudança. Em primeiro lugar, a mudança foi necessária
As primeiras duas fases foram frequentemente desenvolvidas junto e inevitável porque os problemas que a empresa teve de enfrentar
da cúpula empresarial. O que não significa que a gestão de topo ficaram a dever-se à forma como negociava – ou seja, a forma de
tenha sempre definido a nova visão, mas se não o fizeram pelo menos negociar da empresa necessitava de ser alterada. Em segundo lugar, a
sabiam que esta era necessária à empresa e procuraram obter opiniões mudança foi encarada como uma aventura, ou oportunidade ou desafio
externas para dar forma à nova visão. A elaboração de novos conceitos a ser recebido de braços abertos e não contrariado. Em terceiro lugar,
seguiu-se à criação da nova visão. O que frequentemente teve origem houve uma forte convicção proveniente do topo acerca da importância
numa mescla de ideias provenientes do exterior e do interior da da comunicação, tal como escutar e falar, e o valor da participação
empresa, recorrendo aos saberes daqueles que conhecem os principais das ideias que iriam apoiar a mudança. Os membros da organização
elementos que constituem os processos ou práticas das empresas. foram incentivados e autorizados a contribuir, em especial através de
um rápido feedback acerca da viabilidade das suas ideias e, em caso
A quarta e a quinta fase incluíram a contribuição de ideias provenientes negativo, a referir qual o motivo.
do interior da empresa de forma a clarificar os novos conceitos e torná-
los operacionais em toda a estrutura organizacional, nomeadamente Conclusão
desde o sector operacional, passando pelo marketing, até ao sector de Este breve documento abordou a transformação organizacional que
estratégia. Estas, envolveram uma vasta interacção entre os promotores envolveu a RE como forma de inovação da gestão. Este processo
dos novos conceitos e os colaboradores da empresa que ajudaram a implica diferentes fases, funções e convicções que contribuem para
determinar se os conceitos eram viáveis e quem, em última análise, liderar a mudança. Neste caso, a inovação da gestão conduz à inovação
necessitaria de modificar as suas práticas para fazer funcionar esses tecnológica, e não o oposto. Foi impulsionada por uma necessidade
conceitos. que foi sentida e não pela inovação tecnológica. Apesar dos indícios
provirem da RE nos casos extremos em que as empresas se deparam
Por ultimo, assim que a visão, conceitos e práticas foram adaptados e com a necessidade de transformar por completo as suas actividades,
testados quanto à sua viabilidade, foram apoiados por comunicações ficou comprovado que quando a RE é encarada como um processo
e acções que conduziram ao desenvolvimento e à mudança de inovação da gestão, este, pode ser potencialmente mais bem
organizacional em toda a empresa. Este processo implicou a realização sucedido do que quando é visto como uma ordem proveniente do topo
de programas de formação, comunicações presenciais e comunicações da organização ou um conjunto de iniciativas que surgem do fundo.
faseadas. A quarta e a quinta fase conduziram frequentemente a A sugestão é que as fases, as funções e as convicções são robustas
inovações tecnológicas. independentemente da orientação da RE de uma empresa.

Em termos de direcção – a visão veio do topo da empresa para a por Nigel Roome , Solvay Business School, Brussel e Associate Dean TiasNimbas Business
base, foram elaborados novos conceitos através da combinação de School
IES

dos seus projectos. Estes indivíduos, cujas características poderiam ser

As crises actuais, o comparadas a um descobridor a caminho da Índia, são gentilmente

empreendedorismo social
apelidados de “empreendedores sociais”. Este será um dos motores
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

para sair da crise. Haja Iniciativa!


e o IES: caminhos
a trilhar O empreendedorismo social (ES) junta talento, iniciativa e ferramentas
Miguel Alves Martins, Director Executivo do empresariais ao serviço da resolução de problemas sociais.
IES - Instituto de Empreendedorismo Social Empreendimentos com uma clara missão social, inovadores na forma
como criam novos modelos de negócio, focados na criação de impacto
social, com grande potencial de replicabilidade e/ou escalabilidade e,
Recessão, desemprego, crise, endividamento, problemas sociais, por último, uma procura de sustentabilidade financeira. Estas são as
são hoje expressões correntes. Estamos a viver a primeira crise da características que fazem os projectos de ES únicos.
“Era global” contemporânea. Setembro de 2008 ficará recordado
como um mês negro. Os sinais de falha do nosso sistema financeiro O empreendedorismo, social ou não, não faz parte da nossa cultura
existiram, mas optámos por confiar na recuperação do mercado. recente. Segundo o GEM (Global Entrepreneurship Monitor), uma
Fomos envolvidos numa crise financeira que deu lugar à económica estrutura independente que avalia a realidade do empreendedorismo
26 e que pouco a pouco tem desmascarado uma profunda crise social em 34 países, Portugal não tem uma história que lhe facilite o
e de valores nos países ditos “desenvolvidos”. Esta crise social caminho. Apenas 4% da nossa população adulta era empreendedora
é crescente. Juntamos ao panorama duro em que nasceram os em 2004 (valor que diminuiu em 50% desde 2001) e a cultura nacional
Objectivos do Milénio o crescente número de desempregados, o de incentivo ao empreendedorismo foi qualificada como a de menor
sobre-endividamento das famílias, a crescente pobreza muitas vezes nível neste estudo. O estado e o ensino não eram alheios a este facto:
escondida, a limitação dos recursos naturais, as alterações climáticas, estávamos abaixo da média do GEM em todas as categorias de apoio
entre tantos outros. Observamos esta vaga crescente de problemas ao empreendedorismo e éramos o país europeu com pior desempenho
sociais e percebemos, um pouco por todo o mundo, a impotência de no apoio à formação universitária e ensino primário/secundário, na
governos, organizações internacionais, empresas e sector social para área do empreendedorismo. Os 40 anos de regime Salazarista e a
transformar esta realidade. existência de organizações sociais de grande peso no sector social,
limitaram durante décadas o aparecimento de empreendedores na
A solução não está num determinado sector, está numa mentalidade nossa sociedade civil. Sendo verdade como ponto de partida, com os
e implica que se cumpram várias premissas. Exige-se profissionalismo correctos incentivos, acesso a informação global e alguma entreajuda,
na resolução dos problemas sociais. Necessitamos de uma crescente consegue-se reavivar o espírito empreendedor em Portugal.
optimização dos recursos, já por si cada vez mais escassos. Precisamos
de uma maior comunicação objectiva que permita mais parcerias e Perante estes novos paradigmas de desenvolvimento, é necessário
trocas “reais” de experiências (quem já faz o quê, onde, como, porquê, procurar novos equilíbrios de desenvolvimento económico, social e
com que meios e resultados). As missões das organizações têm de se ambiental. Precisamos de novos líderes motivados e com iniciativa.
superar aos interesses pessoais. Só com o conjunto destas premissas É preciso educar um país para esta mudança de paradigma. Não
poderemos acelerar processos de inovação e de boas práticas gerando podemos esperar por terceiros para resolver os problemas que nos
maior impacto num espaço mais reduzido de tempo. Não podemos circundam. Torna-se necessária uma transformação de cultura, uma
“perder” mais tempo a tentar inventar repetidamente a roda. No transformação de mentalidades. Aqui joga um papel fundamental o
entanto, a resolução destes problemas não chega. Como dizia Belmiro ensino, que tem de se adaptar rapidamente a esta nova realidade. São
de Azevedo no passado dia 18 de Fevereiro num encontro do Fórum necessários mais incubação, registo e investimento em mais patentes,
para a Competitividade: “Portugal tem uma crise de líderes” que empowerment dos alunos, maior noção de risco, um ensino mais
afecta governos, partidos, empresas e sindicatos. A estes acrescentaria prático e objectivo, maior ligação às empresas, sociedade civil e ao
o sector social. Por último, tem de existir uma identificação clara mundo, e coaching ao longo da vida. Este é o caminho das principais
dos problemas sociais que vivemos e dos que se avizinham. Sem universidades do mundo. Procura constante de cruzar sectores
informação e objectivos claros não há líderes que surjam. Os para a resolução de problemas económicos, sociais e ambientais. A
problemas sociais, tal como o restante mercado, precisam de líderes estanquicidade sectorial está em extinção e não resolve os nossos
que tenham iniciativa, que meçam e assumam riscos, que reconheçam problemas. É neste caminho que vem o ES, aliando o melhor dos
oportunidades, que assumam consequências dos seus actos, que sectores privados e público ao poder do indivíduo.
tenham coragem de aprender com os seus próprios actos, que criem
impacto social positivo e o meçam, que procurem a sustentabilidade
“Precisamos de novos líderes motivados e com iniciativa.
É preciso educar um país para esta mudança de paradigma.”

Universidades conceituadas como Columbia, Harvard, Oxford ou o A missão do IES é dar-lhes resposta, de forma a que mais indivíduos
INSEAD já criaram os seus departamentos de ES. Tantas outras como determinados com ideias inspiradoras atinjam o seu elevado potencial
o ESADE, IESE, LBS, Kellogg ou São Paulo têm criado investigação e de impacto social e ambiental. Queremos mais empreendedores
ensino nesta área. Em Portugal, tanto a AESE como o Lisbon MBA sociais, melhores soluções e maior impacto! Para isto há que dar
oferecem aulas de referência em ES. resposta a necessidades como circulação de informação, acesso a
fundos, ferramentas de medição de impacto, promoção, ferramentas
O conceito de ES ganhou visibilidade mundial com personalidades e competências de gestão. Assim sendo, o IES actua em quatro áreas
como Muhammad Yunus, criador do microcrédito, e com Govindappa principais: investigação, promoção de empreendedorismo social (ES),
Venkataswamy, fundador do Aravind Eye Care System (o primeiro partilha de conhecimento e formação.
projecto apoiado pela Fundação Champalimaud). Não se trata porém
de um conceito novo. É a filosofia subjacente, por exemplo, na origem No âmbito da investigação, o IES está a desenvolver uma metodologia
das Misericórdias, inovação portuguesa do fim do século XV. O termo de identificação de iniciativas de ES, em parceria com docentes de
empreendedor social foi utilizado pela primeira vez em 1972 por universidades nacionais e internacionais, a Câmara Municipal de
Robert Owen, na sua obra “The Sociology of Social Movements”. O Cascais e o IEFP. Neste momento, trata-se de um projecto-piloto no

| IES
termo ganha notoriedade nos anos 80 com Rosabeth Moss Kanter, Concelho de Cascais, com ambições de alargamento aos restantes
Professora da Universidade de Harvard e Bill Drayton, fundador Concelhos do território nacional e a outras regiões, nomeadamente
da Ashoka - principal organização internacional a trabalhar neste 27
no continente Africano. Estes estudos de mercado permitem conhecer
domínio. a realidade de ES no terreno e também dar visibilidade às melhores
práticas, para que possam ser replicadas e aplicadas em maior escala,
Em Portugal, o ES ganhou protagonismo em Maio de 2007 com a potenciando o seu impacto. A investigação permite também conhecer
organização do “Congresso de Empreendedorismo Social”, evento e “importar” melhores práticas internacionais de ES e ferramentas
organizado em parceria com o INSEAD e a Câmara Municipal de como as de medição de impacto.
Cascais. Com a segunda edição deste evento, em 2008, ficou clara
a necessidade de uma estratégia de desenvolvimento do ES, um Em termos de promoção do ES, uma das actividades mais visíveis a
tubo de ensaio baseado em Portugal com pontes globais. Cascais organizar em 2009 será o Congresso de Empreendedorismo Social,
abraçou o projecto, o INSEAD juntou-se à iniciativa e contribuiu que viverá este ano a sua III edição. Este é um evento reconhecido pela
para a sua credibilização. O IES – Instituto de Empreendedorismo qualidade dos seus programas e oradores, pela inovação dos temas
Social vai ajudar a definir e implementar essa estratégia: Um debatidos e pelas oportunidades de networking e aprendizagem inter-
projecto de empreendedores sociais para empreendedores sociais sectorial e internacional.
que visa tornar-se num centro de investigação e formação líder em
Empreendedorismo Social. De forma a fomentar a partilha de conhecimento, o IES aposta
fortemente num processo contínuo de networking, ao dinamizar
redes locais e internacionais de ES, e no desenvolvimento de um

O IES – uma base em repositório de informação.

Portugal para o Finalmente, a área da formação e da capacitação. O IES acredita numa


Empreendedorismo formação prática e experimental de elevado impacto, que permita
Social no Mundo desenvolver competências e dê acesso a ferramentas e a fontes de
Catarina Soares, Directora Executiva do IES financiamento. Estas acções serão complementadas por programas
- Instituto de Empreendedorismo Social de coaching, um acompanhamento customizado às necessidades
específicas de cada iniciativa e adaptado à etapa de desenvolvimento
em que se encontram.
O IES - Instituto de Empreendedorismo Social tem como objectivo
dar resposta às necessidades dos empreendedores sociais. Trata-se O IES pretende facilitar a emergência de novos empreendedores
de um projecto inovador, ambicioso, focado numa missão social, que sociais e potenciar o seu impacto enquanto catalisadores de mudança.
pretende a partir do conhecimento local ter um elevado impacto ao Acreditamos que conseguiremos gerar transformação social,
nível global. fomentando mais iniciativas sociais e soluções mais sustentáveis, mais
eficazes e com maior impacto.
O IES conduziu um estudo de mercado a empreendedores sociais por Miguel Alves Martins, Director Executivo do IES - Instituto de Empreendedorismo Social
por todo o mundo para confirmar as suas principais necessidades. e Catarina Soares, Directora Executiva do IES - Instituto de Empreendedorismo Social.
REPORTAGEM: PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Reportagem: Professores Universitários


– Ética, Responsabilidade Social e
Sustentabilidade nas Universidades
Portuguesas
28

questões:
1. Qual a sua ligação académica com os temas da Sustentabilidade
(SD)/ Responsabilidade Social (RS) e Ética?

2. Que investigação tem feito nessa área? Através de parcerias?


3. Que importância atribui ao ensino de temas como
Sustentabilidade, Ética e Empreendedorismo?

4. A actual crise poderia ter sido evitada se a Ética e a transparência


fossem realmente promovidas pelas Universidades?

5. Nota um crescente interesse de alunos e professores por estes


temas?

6. Que papel tem a Universidade que assumir para um


desenvolvimento realmente sustentável?
Helena de pequenos cursos e oficinas, incluindo a depois a contabilizar e arrumar em
formação de ecoclubes, o desenvolvimento tipologias o que era o “caminho certo” para
Gonçalves a sustentabilidade. Acreditava que sabendo
Universidade de programas de Agenda 21, o uso de sistemas
naturais sustentáveis para o tratamento as metas do concretamente sustentável, nós,
Católica Portuguesa
de água, e a familiarização com alimentos e as empresas em particular, saberíamos o
( UCP )
geneticamente modificados e seus contornos caminho. Descobri que há uma imensidão de
de (in)sustentabilidade. aspectos, de objectivos, de instrumentos para
operacionalizar, numa busca quase insana
1./6.
Lecciono Ética Económica e Empresarial
Esta continuará a ser, certamente, uma aposta
da UCP, aproveitando sinergias múltiplas entre
de procurar o caminho menos doloroso para
chegar à sustentabilidade. E assim ando eu,
na Faculdade de Economia e Gestão, da as várias faculdades. colegas e empresas parceiras a querer saber
UCP – Centro Regional do Porto, que a par motivos, formas, resultados e correlações entre,
de Ética e Filosofia e Social são oferecidas Todas as instituições (quer formais quer e.g., a RS e a competitividade, a relação entre
no tronco comum das licenciaturas de informais) onde se incluem universidades têm a ética dos gestores e as estratégias de RS, e a
Economia e Gestão. Estas substituem os 5 um papel crucial para um desenvolvimento escrutinar os conceitos e as formas que melhor
Seminários de Ética e Humanismo oferecidos realmente sustentável porque “dão as representam agir com equidade. A investigação
durante os 4 anos de licenciatura, antes sementes”. O grau de responsabilidade de cada nesta área tem crescido titubeante, quando se
da “reforma de Bolonha”. Sou também um é assim maior na medida em que as temos quer ágil. Aprendo com alegria que algumas

| REPORTAGEM: PROFESSORES UNIVERSITáRIOS


docente de Responsabilidade Social das na mão; elas germinam, ou não, tendo em ideias simples e belas como a fundação
Empresas e Ética Empresarial em diferentes conta a forma como “arejamos o campo” ou Francisco Manuel dos Santos que tem como
cursos, nomeadamente no MBA Executivo, como vamos tratando “as ervas daninhas”. Mas missão valorizar as instituições públicas e
da Escola de Gestão Empresarial - parceria isto só acontece se nos transformamos, saindo reforçar os direitos dos cidadãos vão surgindo
com Universidade de Aveiro e AEP. Nesta da nossa zona de conforto para reflectir e agir destes pequenos e grandes esforços de pensar
escola sou coordenadora da Pós-graduação sobre os grandes desafios que enfrentamos. Se e agir com responsabilidade.
Gestão de Organizações e Desenvolvimento continuarmos como o sapo, dentro da panela
Sustentável, iniciada em 2005. Actualmente
decorre a 4ª edição no Campus da Foz e
a aquecer, não teremos nunca a possibilidade
de saltar “fora da panela”, fora do sistema. 3./6.
Sem experiência no ensino básico e
a 1ª edição, no Campus de Sintra. Muito Alcançarmos o Bem Comum, com e para
conhecimento específico sobre a forma
diversificada em múltiplas vertentes desde os outros, em instituições justas é algo que
como a estrutura ética de cada um se edifica,
o plano curricular, equipa docente ou depende, certamente, de todos e de cada um.
ouso afirmar que é nesse precoce período
heterogeneidade dos alunos, foi desenhada
de crescimento que se ensinam e instalam
a pensar em algumas características do
os valores das representações justas em
Desenvolvimento Sustentável: visão ecléctica,
cada um de nós. Sabemos, contudo, que
multidisciplinaridade e acção. Com alunos
mesmo aprendendo o justo podemos não
de Economia e Gestão, Direito, diferentes
o agir! No entanto, quero acreditar que na 29
Engenharias, Filosofia, Arquitectura entre
aprendizagem profissional, ainda se pode
outros, a aprendizagem em equipas
ensinar que uma qualquer atitude profissional
multidisciplinares é real ficando com uma
é ou não mais virtuosa que outra. Waddock
formação genérica sobre Economia e Politica
(2005) argumenta “que as escolas de negócios
Ambiental e diferentes áreas da Gestão desde
precisam de ensinar aos futuros líderes a força
a Contabilidade, Marketing e Finanças. Os
alunos são confrontados com os temas da Idalina Dias e a natureza essencial das relações entre o
negócio, a sociedade, a natureza e o mundo
Sustentabilidade e ficam a conhecer alguns Sardinha ou então as organizações serão geridas por
dos múltiplos instrumentos específicos SOCIUS – Instituto
líderes ocos que não têm um sentido real de
como códigos de ética, normas e referenciais Superior de
ética e da responsabilidade, como descrito nos
ou relatórios de sustentabilidade. Inclui Economia e Gestão
poemas de T.S. Elliot “The hollow men””. Neste
um módulo inovador - o Fórum Teatro, 9 ( ISEG )
campo, há debates sobre os aspectos do ensino
seminários fixos e várias conferências e visitas
da ética em termos de conteúdo, período,
de estudo que variam em cada edição. A equipa
1.
Inovação

abordagens pedagógicas e até Faculdades onde


docente é diversificada incluindo docentes
Com os três conteúdos SD, RS e ética tenho este se deve desenvolver (e.g., artes, gestão,
da nossa e doutras faculdades e reputados
uma relação amorosa polígama onde todos biologia). Parece urgente que um estudante
especialistas do mundo empresarial. Conta
estão claramente. Estes meus amores domine as referências da filosofia tradicional
desde o início com um importante parceiro, o
concretizam-se em diferentes cenários: o antes de uma ética do negócio, de uma bioética
BCSD Portugal.
mais recente é o SOCIUS/ISEG, centro de ou da ética na arte. Contudo, não é só um
Ainda no CRP mas na Escola Superior de investigação onde tenho o prazer de aprender ensino universitário com lacunas na ética e na
e partilhar conhecimento; o outro cenário é o transparência o responsável maior da crise do
Biotecnologia disponibilizamos formação
ensino sobre RS e ética empresarial a alunos mercado de capitais e das instituições sociais.
de base ao nível da licenciatura, conjugada
de pós-graduação e de mestrado de gestão Outros actores fazem parte dos sistemas
com dois mestrados de Bolonha: um em
que me desafiam. A dor desta relação tripla sócio-culturais-político-económicos-etc
inovação ambiental, vocacionado para a
qualidade e saúde ambiental, e outro, mais instala-se quando vejo estes amores crescerem dinâmicos e sinergéticos que desenhamos.
lentamente e mascarados de “boas” acções. Na universidade, a multidisciplinaridade
convencional, em engenharia do ambiente.
articulada é fundamental para que os curricula
A aposta consolida-se no programa de
respondam às urgências dos interessados no
doutoramento, que inclui temáticas diversas
desde a requalificação de solos contaminados
e despoluição de águas à participação pública
2.
Quase todos damos valor à quantificação.
desenvolvimento sustentável.
Nada há de novo que eu possa acrescentar ao
que sabemos precisar: “sinto” que há ainda
na tomada de decisão em controvérsias Quando comecei a ser “aprendiz” de cientista muita beleza para pensar, fazer e usufruir, há
socio-ambientais. Para outros públicos existe também foi pela via da quantificação: muita inteligência e autores para ler e colar à
uma escola de Verão com um leque alargado primeiro a contabilizar impactes ambientais, pele, de quem quer um desenvolvimento justo.
REPORT: PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS

João César Liliana mais forte certos valores que são diferentes da
actual geração de professores/académicos. Num
das Neves Marques trabalho que realizamos recentemente sobre a
Universidade Pimentel análise da predisposição ética dos estudantes
Católica Portuguesa Escola Superior de e dos docentes na área da contabilidade em
( UCP ) Tecnologia e Gestão Portugal, constatamos que os estudantes
de Leiria ( ESTG ) apresentam uma maior preocupação em
relação às dimensões ética e filantrópica, uma
1.
Tenho-me dedicado a este tema desde 1994,
1.
Nos meus trabalhos, analiso o conceito de
mais fraca orientação para os desempenhos
económicos e obtivemos valores do score
leccionando as cadeiras de Ética Económica e sustentabilidade ao nível organizacional, o médio em relação à componente legal muito
Ética empresarial na minha faculdade desde qual é tido frequentemente como sinónimo de semelhantes para os dois tipos de grupos.
1998. Além disso ajudei a fundar com alguns
colegas o CEBE - Center for Ethics, Business and
qualidade dos resultados e de viabilidade de
longo prazo das empresas. Nos meus trabalhos o 6.
O desenvolvimento sustentável ou os
Economics, da Universidade Católica, que faz conceito de sustentabilidade ou de persistência
conceitos relacionados com a sustentabilidade
investigação nesse temas dos resultados é tido como um “score” do
são um desafio e uma oportunidade para
desempenho. A este nível considera-se que as
as Universidades, não só em termos de

2.
organizações não terão futuro se não forem
investigação mas também de divulgação.
lucrativas, eficientes e éticas.
As Universidades têm a oportunidade
2.
Tenho investigado e publicado na área. O mais
de influenciar as próximas gerações de
significativo é o livro
A minha investigação tem-se centrado profissionais a serem agentes activos de
Neves, J.C. (2008) Introdução à Ética
sustentabilidade por via da sua inserção numa
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Empresarial, Principia, Lisboa. essencialmente na análise da qualidade dos


resultados como uma medida sumária de actividade produtiva, mas igualmente como
Além disso tenho vários artigos publicados em
avaliação do desempenho e um aspecto fulcral consumidores e cidadãos em geral.
revistas e volumes científicos internacionais:
Neves, J (2000) “Aquinas and Aristotle’s quando se pretende avaliar a qualidade da
Distinction on Wealth”, History of Political informação contabilística.
Economy, vol 32, nº3, Fall.
Neves, J.C. (2008) “Ethical Reasons for Ethical 3.
Atribuo-o muita importância ao ensino desse
Luís Reto
Behaviors” in Vaccaro, A, H. Horta and P. Presidente do
tipo de temas. O mesmo pode contribuir para a Instituto Superior de
Madsen eds (2008) Transparency, Information
necessária alteração das práticas contabilísticas Ciências do trabalho
and Communications Technology: Social
e de relato. Centrando estas na melhoria das e da empresa ( ISCTE )
Responsibility and Accountability in Business
técnicas de valoração (atribuição de valor), na
and Education, Philosophy Documentation
transparência da informação e na divulgação de
Center, Charlottesville, Virginia, USA.
30 outros itens financeiros e não financeiros que
1.
Este ultimo Vaccaro, Horta and Madsen
facilitem a estimação dos fluxos de tesouraria
eds (2008) é um volume editado pelo CEBE
futuros. É claramente reconhecido que o estudo, O meu papel, enquanto Presidente do ISCTE,
como resultado da sua primeira conferência
por exemplo, de contabilidade ou gestão deve visa essencialmente promover e fomentar
internacional sobre ética empresarial, em 2007
ser informado também pelas perspectivas de o desenvolvimento de mais e melhor

3.
comportamento político, empreendedorismo e investigação nestas áreas, tendo perfeita
perspectivas mais sociológicas e éticas. consciência da importância crescente
Penso que hoje se trata de um tema
incontornável no ensino da Gestão e da 4.
Penso que sim, uma vez que os escândalos
destes temas. Paralelamente é também
uma preocupação do ISCTE a progressiva
Economia. As empresas compreenderam que
financeiros que começaram a ocorrer no início transversalização destes conteúdos nos
lhes é exigido um padrão de comportamento
dos anos 2000 destacaram a associação entre nossos cursos, nomeadamente nas áreas onde
e fazem esforços nesse sentido, que as
o fracasso empresarial, o fracasso em termos estes temas ganham maior relevância ou seja
universidades têm de acompanhar e
de governo corporativo e de práticas de relato. em Economia e Gestão. Por último, é nossa
fundamentar.
Sabendo que os condutores primários do pretensão atrair e desenvolver as competências
4.
Penso que não. A actual crise resulta dos
negócio para a sustentabilidade são a prestação
de contas (accountability) e a transparência, o
internas necessárias para que estejamos
melhor preparados para lidar com estas áreas
mecanismos económicos normais. É verdade governo corporativo e divulgação (reporting), emergentes.

2.
que nestas situações os problemas éticos risco e gestão, e a descoberta de fontes
vêm ao de cima e ficam visíveis. Mas não se importantes de vantagens competitivas, logo se
deve exagerar o seu papel. Mesmo que a ética as Universidades promovessem mais o estudo A investigação realizada tem incidido
fosse mais respeitada era provável que a crise destes temas, se adequassem os seus curricula essencialmente nas relações existentes entre
sucedesse. numa base de “triple bottom line” (natureza a Responsabilidade Social das Empresas e a
económica, social e ambiental), promovessem sua relação com a Economia Social e nessa

5.
as perspectivas das ciências sociais e do perspectiva temos vindo a desenvolver
comportamento político, as perspectivas mais algumas parcerias que nos permitem potenciar
Evidentemente. sociológicas e éticas, talvez se teria evitado os resultados e a aplicabilidade da investigação
muitos dos actuais problemas económico- realizada.

6.
A universidade tem de cumprir o seu papel de
financeiros.
5.
È também de referir que, sendo o ISCTE,
através da IBS (ISCTE Business School), a única
Sim, sem dúvida que se verifica um crescente universidade portuguesa membro da European
formação e educação. Se o fizer com qualidade
interesse de alunos e professores por estes Academy of Business in Society , se têm vindo
estes temas necessariamente ocuparão o seu
temas, mas também se verifica uma espécie de a desenvolver, com outras escolas de gestão
lugar. Não se deve exagerar essa influência,
“generation gap”, isto é, a presente geração de europeias, alguns projectos de investigação
mas ela é inegável
estudantes respeita e defende de uma forma de âmbito sectorial visando uma mais
ampla percepção da importância do tema da Maria Rosário situação talvez não tivesse chegado ao ponto
Sustentabilidade e Responsabilidade Social para de ruptura a que chegou. Era já lugar comum
a actividade empresarial.
Partidário afirmar que “a coisa ia rebentar por algum
Instituto Superior lado”, que “não podia continuar assim”. Mas

3.
Técnico ( IST ) como afirmava Zapatero esta semana em
Madrid, a crise ainda não bateu no fundo!
A maior importância, pois qualquer um
Vai haver mais e pior, por um lado porque
destes temas tem-se vindo a solidificar na
a velocidade trazida pelos processos de
nossa sociedade e é nossa obrigação dotar
os nossos alunos de amplas competências
A
1./6.
minha ligação académica aos temas
“atropelamento ambiental e social” anteriores
não conseguem parar de repente (qual avião
nestes domínios, preparando-os assim para
da Sustentabilidade faz-se quer pela ou TGV que precisa de pelo menos meia-
uma nova realidade onde conceitos como a
actividade docente quer pela investigação. hora para reduzir altitude e velocidade) mas
transparência e a accountability ganham uma
Pela via docente a dimensão e o discurso também porque tardam a ser tomadas as
nova dimensão. Paralelamente e contrariando
da sustentabilidade está inerente e reformas sociais e económicas necessárias
a mentalidade ainda dominante nos alunos
objectivamente ligado a todas as disciplinas para re-estabelecer uma ordem diferente
universitários portugueses, onde o seu futuro
da minha responsabilidade, destacando da ordem anterior, assente exactamente
é perspectivado numa óptica de se tornarem
em particular as disciplinas de Desafios nos valores éticos e de transparêcnia, entre
trabalhadores por conta de outrem. Há
Ambientais e da Sustentabilidade (Mestardo outros valores fundamentais da sociedade.
vários anos que tanto a nível nacional como

| REPORTAGEM: PROFESSORES UNIVERSITáRIOS


em Engenharia Civil), Avaliação Ambiental Parece-me contudo que a administração
internacional temos desenvolvido actividades
Estratégica (Mestrados em Engenharia do Bush nos EUA, e o seu peso global mundial,
de ensino, investigação e tutoria na área do
empreendedorismo. O exemplo talvez mais Ambiente e Engenharia do Território), Avaliação têm talvez mais influência do que a
universidade! A Universidade de alguma
conhecido foi a organização do concurso Audax Estratégica e Sustentabilidade (Doutoramento)
- Negócios à Prova na RTP2. e Seminários de Inovação e Desenvolvimento maneira sempre contribuiu para o discurso
Sustentável no Instituto Superior Técnico da ética e da transparêcnia, e há já alguns

4.
Poderia ter o seu impacto, mas tenho dúvidas
(IST), neste caso uma disciplina de opção do
2º ciclo, aberta a todas as áreas da engenharia
anos que acentuou esse discurso quer por via
das dinâmicas ambientais quer por via das
do IST, e que em 2008-09 contou com mais questões de ética social.
relativamente à eficácia destas iniciativas,
pois se tivermos em conta que esta crise tem de 70 alunos de diversas origens dentro do
origem nos EUA onde por exemplo o tema da IST. Entendo que o ensino da sustentabilidade Há um crescente interesse de professores e
ética empresarial é ensinado em grande parte tem a maxima importância. Não é imaginável alunos por estas questões, mais por novidade
do que por convicção, embora seja evidente o
das escolas de gestão desde há vários décadas, hoje desenvolver qualquer investigação ou
ensino que não faça referência, ou não integer número de alunos, mais do que o número de
facilmente nos apercebemos que não chega
em pleno a temática da sustentabilidade. professors, que genuinamente se preocupam
a promoção de valores, sem intensificar os
As questões de ética e empreendedorismo com as questões de ética e de sustentabilidade.
mecanismos de supervisão e controlo.
são igualmente importantes, a primeira A Universidade é a escola, e como diz o velhor

5. ainda enquanto princípios, a segunda com ditado “de pequenino se torce o pepino!”. A 31
uma dimensão talvez mais empírica e de abertura que os alunos demonstram neste
Claramente existe cada vez um maior operacionalidade. momento, o seu interesse e preocupação
interesse por parte do corpo de docentes do com a construção de uma sociedade mais
ISCTE em abordar este tema, seja através A investigação que desenvolvo é diversa e tem justa, corolário das questões de ética,
do desenvolvimento de novos conteúdos múltiplas interfaces com a sustentabilidade, transparência e sustentabilidade, constitui um
onde a Ética, a Responsabilidade Social e a já que é inevitável integrar a sustentabilidade capital crescente que deve ser aproveitado e
Sustentabilidade aparecem como fulcrais, seja como paradigma de desenvolvimento, ou como multiplicado.
em projectos de investigação nestas temáticas. objecto de análise e avaliação. A investigação
Ao nível dos discentes, tem sido interessante desenvolvida pela equipa que coordeno incide
registar ao longo dos últimos 3/4 anos o sobre questões relativas ao estabelecimento
aumento significativo de trabalhos e teses de objectivos e metas de sustentabilidade,
desenvolvidos nestas áreas, sendo que por exemplo através do desenvolvimento
esta tendência se verifica nos três ciclos de estratégias de sustentabilidade ou à
(Licenciatura, Mestrado e Doutoramento). avaliação estratégica de políticas e planos
Rute Abreu
Escola Superior de
de desenvolvimento, até à medição da
6. sustentabilidade através do estabelecimento e
avaliação de indicadores de sustentabilidade,
Tecnologia e Gestão
de Leiria ( ESTG )
A Universidade tem um papel central na em sectores como o turimo, o desenvolvimento
promoção do Desenvolvimento Sustentável, urbano, o ordenamento do território, a energia.
pois ao formar os líderes de amanhã é vital Também no que respeita à Responsabilidade
que estes sejam sensibilizados e percebam
a importância cada vez maior que o tema
social e ética tem sido desenvolvida, na
minha equipa, investigação no domínio
1.
Para além da sua aplicação na Contabilidade
da Sustentabilidade e da Responsabilidade das estratégias e práticas empresarias, em
Social têm para a sobrevivência durável das e em outros domínios!da área da Gestão,
particular no sector dos operadores turísticos. esses temas são transversais. De facto, os
instituições e da sociedade em geral.
modelos “tradicionais” de decisão estão a
Não sei se a actual crise poderia ter sido demonstrar todas as suas incongruências
evitada, mas algum efeito teria tido o ensino e paradoxos, tendo sido os factores
de ética e transparência como valores inerentes ao cumprimento dos princípios
paradigmáticos do ensino universitário. A de sustentabilidade, responsabilidade social
actual crise é o resultado de uma crise de e ética que originaram os (des)equilíbrios
valores e de respeito pelo próximo. Se a na Sociedade. O combate preventivo à
ética e a transparência fossem promovidas ocorrência de fraude e corrupção, o incentivo
pela Universidade de forma mais intense, a à implementação de processos de decisão
REPORTAGEM: PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS

assentes em pilares de desenvolvimento


sustentável e o constante controlo e avaliação 5. 2.
dos procedimentos são as medidas a seguir O interesse por estes temas resulta A minha área principal de investigação é a
num futuro próximo e que importa transmitir essencialmente do seu vasto campo de Economia Ecológica, na qual trabalho no
no meio académico. aplicação e do respectivo impacto na vida espectro desde a investigação fundamental,
das organizações, da Sociedade e do próprio integrando os contributos teóricos da
2. cidadão. Assim, a criatividade das acções
e a diversidade das políticas adoptadas,
Termodinâmica, da Ecologia e da Economia,
passando pela utilização desta teoria para o
A investigação desenvolvida tem tido como
em todo o mundo, evidenciam o valor das desenvolvimento de métodos de avaliação
enfoque a temática da responsabilidade
empresas numa perspectiva social, que de sustentabilidade e chegando à aplicação
social aplicada às práticas de determinados
complementa o seu valor económico e prática destes métodos na agricultura
sectores de actividade. Essa investigação tem-
financeiro. Consequentemente, uma maior sustentável. Oriento três bolseiros de
se realizado através da Social Responsibility
responsabilização das organizações, um pós-doutoramento, catorze (três em co-
Research Network (SSRNet), da qual sou
desenvolvimento crescente da investigação dos orientação) alunos de doutoramento, nove
membro desde a sua criação em 2003. A rede,
professores e do ensino e aprendizagem destes alunos de mestrado e seis bolseiros de
com mais de 500 membros de todo o mundo,
temas por parte dos estudantes, nas unidades investigação. Foi ou sou um gestor de cerca
tem como presidente, e grande dinamizador,
curriculares dos diferentes ciclos formativos, de 20 projectos, financiados por programas
o Professor Doutor David Crowther (UK). A
contribuem para ampliar valores, princípios nacionais e comunitários de investigação e
missão da SSRNet é permitir que diversos
e a própria “cultura empresarial”. Todo este demonstração, por organismos públicos e
stakeholders, preocupados com os vários
interesse visa dar resposta às necessidades da por empresas privadas, num valor total de
aspectos da responsabilidade social, se unam
Sociedade, contribuindo efectivamente para a financiamento próximo de 3 M€. Em particular,
na elaboração de projectos de investigação,
solução de problemas. fui gestor do projecto Extensity – Sistemas de
no desenvolvimento de cursos e material
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Gestão Ambiental e de Sustentabilidade na


didáctico, bem como na realização de outras
actividades (nomeadamente, a discussão 6.
A Universidade, bem como os Institutos
Agricultura Extensiva e membro da comissão
coordenadora da Avaliação Portuguesa do
de working-papers e a publicação de livros e
Politécnicos, através dos seus actores Millennium Ecosystem Assessment, ambos
journals).
(Reitores, Presidentes, Dirigentes, Docentes, envolvendo um leque muito amplo de
parceiros, incluindo empresas, universidades,
3.
Funcionários, Discentes e Comunidade, em
geral) podem, e devem, dinamizar a consciência organizações não governamentais e
Essas temáticas são muito importantes e estão colectiva de uma sociedade mais positiva e organismos da administração central. Publiquei
fortemente ligadas ao desempenho académico dinâmica, apesar de todas as suas exigências. já mais de cem artigos científicos, em livros,
de cada estudante, para além de conduzirem A sensibilização para questões ambientais e revistas científicas e actas de conferências
ao seu sucesso enquanto futuro profissional. da envolvente social, económica, financeira e nacionais e internacionais
Acima de tudo, estes temas contribuem política, entre outras, constitui uma importante

32
para melhorar a “cultura empresarial”, a
qual exige uma (re)adaptação constante do
“semente” que germinará num futuro próximo,
mais promissor e sem os excessos que
3.
Considero o ensino destes temas
campo conceptual, e, consequentemente, justificam a actual crise, pois os recursos são extremamente importante. Este ensino deve
das competências profissionais, que devem escassos e as necessidades infinitas e, por isso, ser conjugado com uma estratégia geral das
ser asseguradas pelas instituições de ensino a necessidade de equilíbrio. universidades, de promoção de investigação
superior. Assim, devem dotar-se os estudantes
e de intervenção na sociedade em relação
de ferramentas, competências, conhecimentos
a estes temas, e da real promoção do
e habilidades (em alguns casos, promovendo
empreendedorismo, entre docentes e alunos.
as que lhe são inatas) que os levem a explorar
novas decisões económicas e financeiras, na
observância dos princípios de responsabilidade 4.
social e do incentivo ao empreendedorismo. Tiago Como todos os processos socio-económicos,
a actual crise tem um conjunto de causas
Domingos
4.
complexo. Neste âmbito, uma melhor
Instituto Superior
formação ética dos gestores teria ajudado a
A actual crise, que começou por ser financeira, é Técnico ( IST )
evitar alguns dos problemas, mas não penso
agora económica e, cada vez mais, social, como que pudesse ter evitado a crise.
resultado das más práticas das organizações
no âmbito da ética, da deontologia e da
responsabilidade social. Assim, é indiscutível 1. 5.
Acho que o interesse por estes temas tem vindo
que, a postura ética e a transparência das Sou doutorado em Engenharia do Ambiente
a crescer, mas é ainda claramente insuficiente.
actividades realizadas, ao estarem subjacentes e professor no Instituto Superior Técnico,

6.
às decisões das organizações, devem fazer no Mestrado Integrado em Engenharia do
parte dos planos curriculares promovidos Ambiente, onde fui ou sou responsável
pelas instituições de ensino superior, de pelas cadeiras de Termodinâmica, Energia e A Universidade tem um papel fundamental
forma a desenvolverem o know-how de Ambiente, Modelação Ambiental, Ecologia na formação de técnicos com competências
aperfeiçoamento empresarial que a Sociedade Industrial e Economia do Ambiente, e nos interdisciplinares e uma visão abrangente
exige. Adicionalmente, também as melhores doutoramentos em Sistemas Sustentáveis de dos problemas, no desenvolvimento de
e piores experiências e práticas nesta área Energia, Engenharia Mecânica e Engenharia do investigação nestas áreas, e na transferência de
podem, e devem, apoiar o conhecimento Ambiente, onde sou responsável pela cadeira conhecimento para os organismos públicos e
científico e técnico, ao traduzirem-se em de Economia Ecológica. as empresas.
excelentes “casos de estudo”.
Roteiro académico

RANKING RESEARCH- Universidades que publicaram


mais research sobre os aspectos social,
COURSEWORK- Universidades ambiental e ético:
que melhor integram os aspectos
social, ambiental e ético nas 1 - The University of Michigan
aulas: 2 - The University of Nottingham 3Stanford University
4 - The University of North Carolina at Chapel Hill
1-Stanford University; 5 - York University
2- York University; 5 - University of California, Berkeley
3-Yale University; 5 - University of Virginia
4- University of California, Berkeley; 8 - University of Bath
5- Instituto de Empresa; 9 - University of Notre Dame
6- ESADE Business School; 9 - University of Western Ontario
7- Duquesne University. 9 - Duke University 9Boston College

Websites de Referência em Portugal


Portal da Educação BEYOND GREY PINSTRIPES é um inquérito de 2 em 2 anos que
http://www.min-edu.pt
forma um ranking das business schools. A missão que têm é identificar
Portal Tecnologia e Ciência programas de MBA inovadores que integrem aspectos sociais e
www.cienciaviva.pt
ambientais no currículo do aluno enquanto estudante e no research.
Parcerias entre Escolas na Europa
www.etwinning.net Mais info em: http://www.beyondgreypinstripes.org/index.cfm
Fundação Calouste Gulbenkian
www.gulbenkian.pt Eventos
Empreendedorismo em Portugal
www.ifdep.pt
Maio 2009

| ROTEIRO ACADéMICO
Agência para a Sociedade do Conhecimento
www.osic.umic.pt/populacao_educacao
5 - 8 Maio World Civic Forum: PRME Asian Perspective,
Plano Tecnológico Educação Seoul – Korea.
http://www.escola.gov.pt/inicio.asp
Qualificação de Jovens 6 - 8 Maio Integrating Corporate Responsibility
www.inovjovem.gov.pt programme, Ashridge Business School,
http://iscte.pt Berkhamsted, United Kingdom.
http://www.ist.utl.pt 11 - 12 Maio Responsible Business Summit, London.
http://www.mitportugal.org
33
Programa Operacional Sociedade do Conhecimento 14 Maio Baltic Management Development
http://www.posc.mctes.pt Association (BMDA) 2009 Conference:
http://www.cienciapt.net/pt PRME presentation- Copenhagen Business
School, Denmark.
www.iseg.utl.pt
www.ucp.pt 14 - 15 Maio Global Anti-corruption Summit,
Washington DC.
Websites de Referência Internacionais
15 - 17 Maio Global Leadership, Global Ethics?: In
UNESCO search of the ethical leadership compass -
www.portal.unesco.org Ashridge Business School, Ashridge, United
European Commission Education Kingdom.
http://ec.europa.eu/education/index_en.htm
Junho 2009
European Commission Education and Culture
http://ec.europa.eu/dgs/education_culture/index_en.htm
18- 19 Junho World Summit on Public Management
OECD Education
http://www.oecd.org/department/0,3355,en_2649_33723_1_1_1_1_1,00.html Education, Training and Development.
www.unicef.org Mais informação em : http://www.unprme.org/events/
CommonWealth of learning
www.col.org
Information Network on Education in Europe
Livros
www.eurydice.org
Case Studies in Sustainability Management and Strategy
uropean Centre for the Development of Vocational Training
www.cedefop.europa.eu A textbook of competition-winning case studies for
Education and World Bank management education in the field of sustainability
www.worldbank.org/education management and strategy.
PRME - Principles for Responsible Management Education
www.unprme.org Teaching Business Sustainability
European Academy of Business in Society From Theory to Practice
www.eabis.org

ESADE Business School Sustainable Development for Engineers


www.esade.es A Handbook and Resource Guide
http://www.greenleaf-publishing.com

EABIS Branded Books


http://www.eabis.org/eabis-branded-books/3.html
Roteiro Inovação

Websites de Referência em Portugal Eventos


Ministério da Economia e Inovação
www.min-economia.pt Abril 2009
| Im))pactus Fevereiro | Abril 2009

Instituto de Apoio às Pequenas e Média Empresas e à Inovação


http://www.iapmei.pt 21- 23 Abril - The European Future Technologies
Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Conference, FET09.
www.mcies.pt
Agência de Inovação Maio 2009
http://www.adi.pt
A educação, ciência, tecnologia e inovação em Portugal
http://www.cienciapt.net/pt 6 - 14 Maio First European SME Week
Programa Operacional Ciência e Inovação 2010
http://www.poci2010.mctes.pt/home 14 Maio IDC Innovation Forum
Fundação para a Ciência e Tecnologia Criatividade e Inovação como Alavancas de
http://alfa.fct.mctes.pt
Competitividade para as PME- Braga.
Site Português do Ano da Creatividade e Inovação
http://criar2009.gov.pt/ -
Junho 2009
34 Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação
www.ineti.pt
Instituto de desenvolvimento e inovação tecnológica 18 -20 Junho 4ª Jornadas de Inovação / Innovation Days
http://www.idit.up.pt 2009. More info: www.adi.pt
Associação Empresarial para a Inovação
http://www.cotecportugal.pt
21 -24 Junho ISPIM Conference - The Future of
Associação Industrial Portuguesa Innovation - will be held in Vienna, Austria.
www.aip.pt
www.bcsdportugal.org Mais Informação:
http://www.create2009.europa.eu/calendar_of_events/eu_events.html
Websites de Referência Internacionais http://criar2009.gov.pt/calendario-oficial/

European Year of Creativity and Innovation


http://create2009.europa.eu Livros
European Commission Enterprise and Industry
http://ec.europa.eu/enterprise/index_en.htm
Sustainable Innovation
The Competitiveness and Innovation Framework Programme The Organisational, Human and Knowledge Dimension
http://ec.europa.eu/cip/index_en.htm
Contributing Editor: René Jorna
A network for market oriented R&D GreenLeaf Publishing
http://www.eureka.be/home.do

European Institute of Innovation and Technology


http://ec.europa.eu/eit System Innovation for Sustainability 1
Perspectives on Radical Changes to Sustainable Consumption
European Portal for SME’s
http://ec.europa.eu/enterprise/sme/index_en.htm and Production Edited by Arnold Tukker, Martin Charter, Carlo
Vezzoli, Eivind Stø and Maj Munch Andersen
Science and Innovation European Innovation Scoreboard
http://www.proinno-europe.eu/index.cfm?fuseaction=page. GreenLeaf Publishing
display&topicID=5&parentID=51

OECD - Org. for Economic Co-operation and Development Greener Purchasing, Opportunities and Innovations
http://www.oecd.org
GreenLeaf Publishing

Sustainable Technology Development, Paul Weaver, Leo


Jansen, Geert van Grootveld, Egbert van Spiegel and Philip
Vergragt
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