Você está na página 1de 22

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO 3º JUIZADO ESPECIAL DA

FAZENDA PÚBLICA DO DF

URGENTE!
Processo nº. 0758368-14.2018.8.07.0016

HEITON LENO DOS SANTOS RIBEIRO, já qualificado nos autos, curador de seu genitor Sr. JOÃO
GALENO RIBEIRO GOMES, nos termos do art. 4º, III, do Código Civil, c/c o art. 72, I, do Código
de Processo Civil de 2015, também já devidamente qualificado nos autos, vem,
respeitosamente por intermédio de seu advogado, in fine assinado, procuração anexa, informar
e ao final requer a este r. JUÍZO em caráter de URGÊNCIA o:

DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL


–I–
SÍNTESE FÁTICA

Em 18.12.2018, o Sr. João Galeno, deu entrada em estado grave no


Hospital Regional do Paranoá, conforme se verifica em laudo médico (DOC.1), constando que:
“o paciente deu entrada em nossa unidade de clínicas médicas em parada
cardiorrespiratória” e segue “em ESTADO GRAVÍSSIMO com risco iminente de morte”
(grifou-se). Considerando a gravidade da situação a família ajuizou ação específica neste r.
JUÍZO em face do Governo do Distrito Federal – Secretaria de Saúde.
Em 20.12.2018, o r. JUÍZO, em pedido de antecipação de tutela
formulado, determinou em decisão interlocutória que o paciente fosse encaminhado para UTI
(DOC.2), conforme segue:

A Decisão Judicial não foi cumprida! Em seguida, em 22.12.2018, o


r. Juiz plantonista determinou que fosse cumprida a antecipação de tutela (DOC.3), inclusive
com a aplicação de multa diária:

Mesmo assim o GDF quedou-se inerte sem cumprir a ordem judicial,


nesta seara dia-a-dia o quadro do paciente vem se agravando, podendo vir a óbito a qualquer
momento devido o descaso, omissão e falta de atendimento por parte da Administração pública
do Distrito Federal.
Para agravar a situação, em sede de contestação (DOC.4) a Procuradoria
Geral do Distrito Federal, em total irresponsabilidade, descaso e desrespeito, informou que o

2
paciente veio a óbito! Ocorre, Excelência que a informação prestada é improcedente,
inverídica, mentirosa, pois, ainda que em estado grave o Sr. João Galeno está vivo!

Necessita-se, pois, que, em caráter de urgência e emergência, este r.


JUÍZO tome as devidas providências, utilizando-se de todos os meios legais disponíveis, para
que a Decisão Judicial seja cumprida por parte do GDF e que o paciente seja transferido ainda
hoje para uma Unidade de Terapia Intensiva – UTI, nos moldes das decisões anteriormente
proferidas.

– II –
DOS PEDIDOS

Posto isso, requer a Vossa Excelência que:

a) DETERMINE que o paciente Sr. João Galeno seja imediatamente transferido para UTI –
Unidade de Terapia Intensiva, a fim de que seja cumprida a decisão judicial elencada;

b) Seja aplicada a multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em desfavor do GDF;

c) Sejam responsabilizados os autores da omissão bem como a própria Administração,


incluindo os responsáveis pela informação imprecisa de que o paciente veio a óbito.

Brasília/DF, 10 de janeiro de 2019.

RENATO ARAÚJO JÚNIOR


OAB/DF: 55.873

3
ANEXOS

1. Procuração
2. DOC. 1 – Laudo Médico
3. DOC. 2 – Decisão Judicial
4. DOC. 3 - Decisão Judicial
5. DOC. 4 – Contestação - PGDF

Declaração de autenticidade: O advogado subscritor desta, na permissibilidade do


inciso VI e § 1º do art. 425 do CPC, declara a autenticidade, sob sua responsabilidade
pessoal, dos documentos ora juntados.

4
Scanned with CamScanner
Scanned with CamScanner
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS

3JEFAZPUB
3º Juizado Especial da Fazenda Pública do DF

Número do processo: 0758368-14.2018.8.07.0016

Classe judicial: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)

AUTOR: JOAO GALENO RIBEIRO GOMES REPRESENTANTE: HEITOR LENO DOS SANTOS
RIBEIRO

RÉU: DISTRITO FEDERAL SECRETARIA DE SAUDE

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

JOAO GALENO RIBEIRO GOMES e outros, neste ato representado por seu filho, HEITOR LENO DOS
SANTOS RIBEIRO, ambos qualificados na petição inicial, ajuizou a presente ação em desfavor de
DISTRITO FEDERAL.
De acordo com as aduções autorais, o postulante encontra-se internado no HRPa – Hospital Regional do
Paranoá, em estado crítico de saúde.
Após a descrição de seu quadro clínico, a parte autora suscita o dever do Estado de garantir o direito à
saúde a todos. Tece suas considerações de mérito. Requer, ao final, a concessão antecipada da tutela
perseguida, para que seja internado em UTI de hospital público ou particular, caso não haja vagas nos
hospitais distritais, e que os custos da internação dê-se às expensas do Distrito Federal.
No mérito, pleiteia a confirmação do provimento antecipatório da tutela pretendida.
Acosta aos autos documentos.
É O RELATÓRIO. DECIDO.
Primeiramente, diante da gravidade dos fatos e da urgência verificada, nomeio o (a) Sr. (a) HEITOR
LENO DOS SANTOS RIBEIRO, como curador do ora requerente, especificamente para este feito, nos
termos do art. 4º, III, do Código Civil, c/c o art. 72, I, do Código de Processo Civil de 2015.
Prosseguindo, nos termos do artigo 300 do Novo Código de Processo Civil cabe ao juiz deferir a tutela de
urgência, entre elas a antecipação de tutela, desde que haja probabilidade do direito e perigo de dano.
Ambos encontram-se presentes na situação em apreço.
Quanto à probabilidade do direito, de acordo com o art. 196 da Constituição Federal, a saúde é direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
O direito à saúde encontra-se indiscutivelmente relacionado ao próprio direito à vida, bens jurídicos, a
toda evidência, de incomensurável valor, que devem, inclusive, ser preferidos a outros bens de somenos
importância.
Em casos similares ao daqui tratado, a jurisprudência desta i. Casa de Justiça respalda a tese autoral, a
exemplo do aresto a seguir, “in verbis”:
REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO
OBRIGAÇÃO DE FAZER. PERDA DO OBJETO. AFASTADA. INTERNAÇÃO EM UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA (UTI). ALEGAÇÃO DE INDISPONIBILIDADE DE LEITO NA REDE
PÚBLICA. SAÚDE. DEVER DO ESTADO. REMESSA OFICIAL CONHECIDA E NÃO PROVIDA.
SENTENÇA MANTIDA.
1. Amorte do autor não implica em perda do objeto, tendo em vista que a confirmação da antecipação de
tutela, ou seja, a confirmação da obrigação do Distrito Federal em internar o autor em lei de UTI é
necessária e útil a fim de evitar qualquer ação regressiva contra os herdeiros.
2. Nos termos do art. 196 da Constituição Federal, a saúde é direito de todos e dever do Estado, o
qual deve garanti-la por meio de políticas sociais e econômicas.
3. Eventuais limitações orçamentárias enfrentadas pelo Poder Público não justificam a omissão em
oferecer tratamento médico básico à população, especialmente às pessoas que se encontram em
estado grave de saúde e não dispõem de condições para arcar com os custos inerentes à rede
hospitalar privada.
4. Nesse contexto, impõe-se a manutenção da decisão que condenou o Distrito Federal a arcar com os
custos da internação do autor em Unidade de Terapia Intensiva de hospital particular.
5. Reexame necessário conhecido e não provido. Sentença mantida. (Acórdão n.923464,
20140110836258RMO, Relator: ROMULO DE ARAUJO MENDES, 1ª Turma Cível, Data de
Julgamento: 24/02/2016, Publicado no DJE: 07/03/2016. Pág.: 270)
A enfermidade de que sucumbe a parte autora encontra-se plenamente comprovada na petição inicial,
restando patente a caracterização do perigo de dano, fazendo-se a internação intentada o meio capaz de
salvaguardar a saúde do postulante. Registre-se, ainda, que a recomendação de internação em UTI ora
acostada é subscrita por médico da Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal, Dra. Lara
Alchimim, CRM/DF 10.282.
Ante o exposto, DEFIROo pedido de antecipação de tutela, com vistas a determinar ao DISTRITO
FEDERAL a internação do autor em Unidade de Terapia Intensiva, de hospital público ou particular com
suporte que as suas necessidades (SUPORTE CORONARIANO). Caso não haja vagas nas unidades
hospitalares da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, deverá o réu providenciar a internação
do postulante em hospital particular conveniado ou não à rede pública de saúde, arcando com o necessário
e adequado tratamento médico.
Caberá ao réu arcar também com a pronta e imediata transferência do postulante para o respectivo
hospital, bem como com todas as despesas oriundas do tratamento dispensado ao autor.
INTIME-SEa Central de Regulação de Internação Hospitalar da Secretaria de Estado de Saúde.
Cumpra-se a presente decisão no horário especial previsto no § 2º do art. 212 do Código de Processo Civil
de 2015, caso assim se necessite.
Advirta-se que, em caso de descumprimento desta decisão judicial, será apurada a responsabilidade
criminal por desobediência, sem prejuízo da eventual prisão em flagrante.
Por fim, defiro à parte autora os benefícios da gratuidade de justiça.
Intimem-se.
ATRIBUO À PRESENTE DECISÃO FORÇA DE MANDADO DE INTIMAÇÃO.

BRASÍLIA, DF, 20 de dezembro de 2018 21:17:33.

Gisele Nepomuceno Charnaux Sertã

Juíza de Direito Substituta Plantonista


Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS

3JEFAZPUB
3º Juizado Especial da Fazenda Pública do DF

Número do processo: 0758368-14.2018.8.07.0016

Classe judicial: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436)

AUTOR: JOAO GALENO RIBEIRO GOMES REPRESENTANTE: HEITOR LENO DOS SANTOS
RIBEIRO

RÉU: DISTRITO FEDERAL SECRETARIA DE SAUDE

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

JOAO GALENO RIBEIRO GOMES e outros, já qualificada nos autos, formula pedido de
cumprimento de decisão judicial em ação de obrigação de fazer ajuizada em face do Distrito Federal, que
antecipou os efeitos da tutela para deferir a sua internação em leito de UTI.

Em suas argumentações, aduz que o(a) autor(a) encontra-se esperando desde o dia 20/12/2018, a sua
internação em leito de UTI, em estado grave, com risco de morte.

É o breve relatório. Decido.

A hipótese é de deferimento do pedido, haja vista que o prejuízo por eventual descumprimento da
decisão proferida anteriormente (comprovada pelos documentos acostados à peça petitória) é nefasto,
impondo-se medida mais enérgica para garantir a efetividade do provimento liminar, determinando-se ao
Distrito Federal realize o procedimento supracitado na rede pública, ou transfira o paciente para a rede
hospitalar privada, arcando com os custos necessários.

Nesse sentido, considerando que decisão deferida anteriormente não foi suficiente para coagir o Réu a
cumprir a determinação judicial, faz-se necessária a imposição de multa cominatória, de modo a garantir a
eficácia do provimento jurisdicional e da efetivação e cumprimento do mínimo existencial pelo Estado em
relação à sociedade.

Diante do que foi exposto, DETERMINO que o DISTRITO FEDERAL cumpra a tutela antecipada na
decisão anterior, preferencialmente em hospital particular, para internação do paciente, ora requerente, em
LEITO DE UTI, arcando o Distrito Federal com os custos decorrentes, SOB PENA DE MULTA
DIÁRIA DE R$ 5.000,00 (Cinco mil reais) até o limite de R$ 50.000,00 (Cinquenta mil reais).

Intime-se o Distrito Federal e a Secretaria de Saúde, por meio do Núcleo de Judicialização, ou quem as
suas vezes fizer, assim como a CENTRAL DE REGULAÇÃO DE LEITOS DE UTI DO DF para garantir
a internação do paciente em Leito de UTI particular.
Quanto ao pedido para que o Secretário de Saúde seja intimado pessoalmente, deixo para o Juiz natural
analisar tal pleito, haja vista a inexistência de indicação do domicilio do precitado agente público.

Após, encaminhe-se para o juiz natural.

Dou à presente força de mandado de intimação.

BRASÍLIA, DF, 22 de dezembro de 2018 00:25:16.

LUCIANO DOS SANTOS MENDES

Juiz(a) de Direito Substituto(a) em Plantão

(assinado eletronicamente)
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

EXCEL ENTÍ SSI M O SENHOR JUI Z DE DI REI TO DO 3º JUI ZADO ESPECI AL


DA FAZENDA PÚBL I CA DO DI STRI TO FEDERAL

Processo: 0758368-14.2018.8.07.0016

Autor : JOAO GALENO RIBEIRO GOMES e outro


Réu : Distrito Federal
Classe: Procedimento do Juizado Especial Cível
Juízo: 3º JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DO DF - BRASÍLIA -
FÓRUM DES. JOSÉ JÚLIO LEAL FAGUNDES

O DI STRI TO FEDERAL , pessoa jurídica de direito público, por seu


Procurador que esta subscreve, nos autos do processo em epígrafe, vem, no prazo legal
e com espeque no Digesto Processual Civil, apresentar a seguinte resposta na forma de

CONTESTAÇÃO

aos termos da inicial, aduzindo, para tanto, os fundamentos de fato e direito que passa a
expor.

BREVE SÚM UL A DA DEM ANDA

Trata-se de ação proposta por JOÃO GAL ENO RI BEI RO GOM ES, neste
ato representado por seu filho, HEI TOR L ENO DOS SANTOS RI BEI RO, cujos
fundamentos encerram pretensão voltada a promoção, pela Secretaria de Estado de
Saúde do Distrito Federal, da internação em Unidade de Terapia Intensiva UTI da rede
pública, ou na sua impossibilidade, da rede privada, às suas expensas.

A antecipação da tutela foi deferida.

A parte veio a obito .

Essa a breve súmula da demanda.

_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 1 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

DAS PREL I M I NARES

I NCORREÇÃO DO VAL OR DADO À CAUSA DA I NAPL I CABI L I DADE DO


CRI TÉRI O DO PROVEI TO ECONÔM I CO PARA A DEFI NI ÇÃO DO VAL OR
DA CAUSA NAS AÇÕES DE UTI , M EDI CAM ENTOS, TRATAM ENTO E
CI RURGI A

Nos termos do art. 337, II e III, do NCPC, incumbe ao réu, antes de discutir o
mérito, alegar a incorreção do valor da causa e a incompetência absoluta e relativa.

Pois bem. In casu, foi atribuído à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).

Todavia, impende salientar que o critério “proveito econômico” não é


adequado para a definição do valor da causa em ações cujo objeto é o fornecimento de
vaga em leito de UTI, o fornecimento de medicação/tratamento ou realização de
procedimento cirúrgico.

Em verdade, tais causas são de valor inestimável, pois seu objeto é a prestação
de um serviço público devido pelo Estado para a concretização da proteção à vida e
saúde; direitos fundamentais calcados no valor da dignidade humana, sem conteúdo
econômico-patrimonial e, portanto, não sujeitos à conversão em qualquer proveito
econômico.

M ister salientar que j á houve pr onunciamento expr esso sobr e o tema pelo
egr égio TJDFT. Com efeito, r estou fixada a tese or a defendida por este ente
feder ado no I RDR 20160020245629, de Relator ia do ilustr e Desembar gador
Gilber to Per eir a de Oliveir a, no sentido de que o valor da causa não é cr itér io
suficiente par a a definição da competência, in verbis

XXVI I . De todo o exposto, resta claro que o valor da causa


não é um critério adequado para constatação se as ações de

_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 2 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

fornecimento de medicamento ou pedido de internação em


UTI podem ou não ser processadas perante o Juizado Especial
da Fazenda Pública, já que partem de um aspecto meramente
estimativo, seja pela impossibilidade de quantificar, a priori, o
valor do tratamento, seja pela natureza do pedido ser
eminentemente cominatória e não visar valor específico.

Com efeito, na órbita do direito civil, os direitos fundamentais refletem-se na


tutela dos direitos de personalidade, de caráter extrapatrimonial. Assim, ações que
tutelem especificamente a proteção de tais direitos (e não o pagamento de indenização
por sua já concretizada violação) não têm conteúdo econômico imediatamente aferível,
nos termos do art. 291 do Código de Processo Civil.

Por outro lado, por se tratarem de direitos fundamentais, não há falar sequer na
possibilidade de opção dos autores pela conversão da obrigação em perdas e danos, para
o fim de pagamento dos dias de internação em UTI ou pagamento do equivalente aos
medicamentos, ao tratamento ou à realização do procedimento cirúrgico.

De fato, aos autores desse tipo de ação apenas interessa o cumprimento da


tutela específica, pois o objeto da tutela consiste em direito fundamental, inalienável,
sem conteúdo econômico-patrimonial repita-se -, sendo inviável, assim, a dita
conversão.

Ora, as perdas e danos correspondem a danos materiais sofridos, ao que se


perdeu efetivamente mais o que se deixou de lucrar (art. 402, CC). Todavia, na hipótese
sob análise, a parte autora, em verdade, não sofre danos materiais pela demora na
entrega do serviço de saúde, pelo que a ela é devido tão somente a prestação do serviço
público, a concretização da proteção à vida e à saúde. Não há e não se discute proveito
econômico.

Destarte, como não é admitida, em tais demandas, eventual conversão da


obrigação em perdas e danos, não há se falar em utilização do critério “proveito
econômico” para a definição do valor de causas desse jaez.
_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 3 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

Assim o é porque repita-se - em razão das características dos direitos


fundamentais em jogo, a pretensão em tais demandas encerra obrigação infungível não
cabendo, portanto, sua conversão em perdas e danos. Nesse sentido o escólio de
Arnaldo Rizzardo, na obra Direito das Obrigações.1

Como reforço da tese, deve-se lembrar que nesse tipo de demanda não há
sequer possibilidade de eventual expedição de precatório nem de requisição de pequeno
valor referentes à equivalência do serviço pleiteado. Isso reforça o entendimento de que
o valor da causa vem sendo incorretamente fixado pelas partes adversas com base em
inexistente “proveito econômico”.

Nesse sentido, inclusive, se fir mou a tese do I RDR


20160020245629, j á mencionado. Confir a-se:

XXVI . Dessa for ma, sej a por qual lado ou per spectiva se
investigue as demandas em apr eço, não há como fugir de
uma ver dade indelével, os valor es dados a esse tipo de causa
tem car áter mer amente estimativo, sej a por não poder
pr ecisar , de início, o exato valor dos tr atamentos, sej a pelo
obj eto pr incipal se subsumir a uma obr igação estatal,
consubstanciada na pr estação do ser viço público de saúde e,
não a pecúnia ou qualquer valor a título indenizatór io.

Absolutamente equivocado, portanto, o valor da causa ora


atribuído.

Por todo o exposto e constatado o equívoco do critério utilizado para fixação


do valor da demanda, requer seja o mesmo corrigido, atribuindo-se um valor da causa
de forma meramente estimativa, a fim de satisfazer a exigência da lei processual,
devendo ser, portanto, reduzido a um valor de menor porte e simbólico, tal como
R$900,00 (novecentos reais), tudo nos termos do que o art. 292, §3º, do NCPC, in
verbis:
“ Art. 292.
(...) §3º O Juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor
da causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo
1
Direito das Obrigações, Editora Forense, 6ª Edição, 2011.
_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 4 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido


pelo Autor, caso em que se procederá ao recolhimento das
custas correspondentes.”
M ÉRI TO

I NTERNAÇÃO EM UTI I NEXI STÊNCI A DE VI OL AÇÃO DO DI REI TO À


SAÚDE OFENSA AO PRI NCÍ PI O DA I SONOM I A

Noutro diapasão, cumpre salientar que não se pode falar em violação ao direito
à saúde por parte deste ente federado, que tem empreendido esforços de toda ordem
para levar a bom termo suas competências constitucionais e legais.

Nesse contexto, de crucial importância a conscientização por parte da


sociedade de uma forma geral de que a judicialização do tema envolvendo a internação
em UTI acaba gerando descontrole administrativo e a ocupação de leito por paciente em
situação menos crítica do que a de outros, em flagrante ofensa ao Princípio da Isonomia.

E isso porque, no âmbito do Distrito Federal, as internações em UTI são


organizadas por um grupo de médicos na Central de Regulação2; central essa que
mantém permanente contato com os hospitais públicos; faz a triagem da situação e do
nível de risco de cada paciente, dentre outras considerações técnicas; organizando a
internação no âmbito da rede pública e também da rede particular conveniada. É um
trabalho árduo e contínuo, ao qual o autor só recorreu após sua internação no leito de
UTI do hospital particular.

Cumpre informar que, atualmente, todo o sistema é informatizado e alimentado


com informações em tempo real, permitindo, assim, a melhor gestão das vagas pelos
profissionais da área de saúde.

Para tanto, a Por tar ia nº 42, de 31 de agosto de 2006, da Secretaria de Estado


2 A Por tar ia nº 41, de 30 de agosto de 2006, cria, no âmbito da SES/DF, a referida Central de Regulação de

Internação Hospitalar CRIH, sendo responsável pela regulação dos leitos hospitalares dos estabelecimentos
assistenciais de saúde do DF, vinculados ao SUS, sejam próprios, conveniedos ou contratados.
_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 5 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

de Saúde do Distrito Federal, aprovou diretrizes e critérios para serem utilizados pela
Central de Regulação de Internação Hospitalar em relação aos pacientes a serem
internados nas UTI's Adulto, Pediátrica e Neonatal, da Rede SES/ Distrito Federal
(próprios, conveniados e contratados) quanto à:
1) Priorização da admissão de pacientes nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTI)3;
2) Condições específicas ou patologias determinadas apropriadas
para admissão à UTI;
3) Critérios para a alta da UTI;

Observa-se, assim, que o Distrito Federal não se furta de seu dever legal de
assegurar o direito à saúde a todos de for ma igualitár ia - garantia constitucional
estabelecida no artigo 196 da CF/88 -, mas, ao contrário, prima pelo atendimento
igualitário e efetivo aos pacientes, com base nas diretrizes normativas e técnicas acima
citadas.

Outrossim, a lei 12.401/2011, que alterou a Lei nº 8.080/1990 e dispôs sobre a


assistência terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do Sistema

3 PRI ORI DADE 01 Pacientes criticamente enfermos, em coma ou não, e instáveis que necessitam de cuidados de
Terapia Intensiva e monitoração que não pode ser provida fora do ambiente de UTI. Usualmente, esses tratamentos
incluem suporte ventilatório, drogas vasoativas contínuas, etc. Nesses pacientes, não há limites em se iniciar ou
introduzir terapêutica necessária. Exemplos destes doentes incluem choque ou pacientes com instabilidade
hemodinâmica, pacientes em insuficiência respiratória aguda necessitando de suporte ventilatório, inclusive
neonatal; prematuro abaixo de 1500g na primeira semana de vida.

PRIORIDADE 02 Pacientes que necessitam de monitoração intensiva e podem potencialmente necessitar


intervenção imediata. Não existe limite terapêutico geralmente estipulado para estes pacientes. Exemplos incluem
pacientes com condições co-mórbidas crônicas (como as terapias renais substitutivas) que desenvolvem doenças
agudas graves clínicas ou cirúrgicas; prematuros acima de 30 semanas, nas primeiras horas de vida, em uso de
suporte respiratório, tipo CPAP nasal, que fizeram uso do surfactante pulmonar e estão compensados clínica e
laboratorialmente; desconforto respiratório decorrente de pneumotórax não hipertensivo.

PRIORIDADE 03 Pacientes criticamente enfermos mas que têm uma probabilidade reduzida de sobrevida pela
doença de base ou natureza de sua doença aguda. Esses pacientes podem necessitar de tratamento intensivo para
aliviar uma doença aguda, mas limites ou esforços terapêuticos podem ser estabelecidos como não intubação ou
reanimação cardio-pulmonar. Exemplos incluem pacientes com neoplasias metastáticas complicadas por infecção,
tamponamento ou obstrução de via aérea; prematuros extremos abaixo de 25 semanas e/ ou peso abaixo de
500g; mal formações incompatíveis com a vida; hemorragia intra/ peri/ ventricular de grande extensão.
_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 6 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

Único de Saúde - SUS, trouxe conceitos, ou, ao menos, indicativos que reforçam, in
casu, a observância das portarias supracitadas quanto à assistência terapêutica integral.
Confira-se:
“ Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a
alínea d do inciso I do art. 6o consiste em:
I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a
saúde, cuja prescrição esteja em conformidade com as
diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico para a
doença ou o agravo à saúde a ser tratado ou, na falta do
protocolo, em conformidade com o disposto no art. 19-P;
II - oferta de procedimentos terapêuticos, em regime domiciliar,
ambulatorial e hospitalar, constantes de tabelas elaboradas
pelo gestor federal do Sistema Único de Saúde - SUS,
realizados no território nacional por serviço próprio,
conveniado ou contratado.”
“ Art. 19-N. Para os efeitos do disposto no art. 19-M, são
adotadas as seguintes definições:
I - produtos de interesse para a saúde: órteses, próteses, bolsas
coletoras e equipamentos médicos;
II - protocolo clínico e diretriz terapêutica: documento que
estabelece critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo
à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e
demais produtos apropriados, quando couber; as posologias
recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o
acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a
serem seguidos pelos gestores do SUS.” (Grifo nosso)

De fácil conclusão, assim, que decisões judiciais específicas e pontuais acabam


privilegiando uns em detrimento de outros, muitas vezes em situação de saúde mais
críticas; o que constitui ofensa ao princípio da igualdade que deve prevalecer no âmbito
do sistema público de saúde.

Ademais, a sobrecarga decorrente do público e notório atendimento de


pacientes provenientes de outras unidades da federação tem trazido severos entraves de
ordem administrativa e financeira, pois se os recursos são escassos, as necessidades
coletivas não o são.
_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 7 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

Se assim ocorre, a momentânea ausência de leitos disponíveis em Unidade de


Terapia Intensiva da rede pública não autoriza a intervenção judicial para se condenar o
Distrito Federal, sob pena de a exceção convolar-se em regra.

Desse modo e até mesmo em respeito aos demais pacientes que aguardam
uma vaga de leito de UTI (princípio da isonomia art. 5º, caput, da CF/88) -, todos
deveriam se submeter à Central de Regulação da Secretaria de Estado de Saúde do
Distrito Federal, de maneira a evitar que aqueles que recorram ao Judiciário sejam
privilegiados em relação aos demais.

Por outro, lado e apesar da força do argumento trazido na inicial de que os


direitos à vida e à saúde têm índole constitucional, sendo inarredável o dever estatal de
garanti-los, verifica-se que esse arrazoado comporta temperamentos. Com efeito, a par
do direito à saúde, a Constituição Federal albergou outros tantos igualmente
importantes, como aqueles relativos à moradia, à educação, ao saneamento básico, ao
lazer, etc.; incumbindo o Estado da concretização de todos.

Mas a Carta Magna foi mais além. Afirmou, ainda, que o Poder Público tem
que cumprir esses deveres com base na Legalidade, Impessoalidade, Moralidade,
Publicidade e Eficiência, bem como de forma econômica e com um orçamento
equilibrado. A Lei Maior também estabeleceu uma série de restrições de índole
material, formal e temporal na execução dos orçamentos públicos, tudo com vistas a
preservar o equilíbrio orçamentário e atuarial, evitando situações típicas de nosso
passado recente, em que se gastava mais do que se arrecadava e se emitia papel-moeda a
todo o tempo, gerando uma inflação galopante.

Pois bem. Para cumprir seus deveres constitucionais, o Estado elabora uma
série de políticas públicas, engendradas por profissionais especializados nas mais
diversas áreas do conhecimento humano, de modo a alcançar soluções coerentes e
ajustadas aos objetivos perseguidos. Especificamente na área da saúde, os agentes

_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 8 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

estatais realizam uma série de estudos e levantamentos epidemiológicos com base em


dados de incidência e prevalência das principais moléstias que acometem a população.
Em seguida, elaboram protocolos padronizados para atender os habitantes de cada
município.

Ora, com base em um orçamento que é limitado, tanto por razões materiais
quanto jurídicas, é natural que se tenha que eleger prioridades, com lastro nas principais
necessidades da população local.

Neste diapasão, não é preciso muito esforço para constatar que apesar dos
milhões gastos pelo Estado na persecução do "bem comum", sempre surgirão avanços
tecnológicos cujos médicos particulares vão afirmar serem "de ponta", mas que na
verdade apresentam ganho terapêutico muito próximo ou pouco superior às terapias
convencionais.

Além disso, em uma interpretação sistemática da Constituição Federal, que erige


princípios de equilíbrio orçamentário e atuarial e responsabilidade fiscal a patamar de
importância idêntico ao de outras normas constitucionais, conclui-se que o Estado deve
garantir ao administrado o seu direito à saúde mediante políticas públicas, mas não todo
e qualquer tratamento, nem a qualquer preço.

Entendimento em sentido contrário inclusive constituiria odioso privilégio de


determinados indivíduos ao sacrifício dos direitos do resto da coletividade (artigo 5°,
caput, da CF/88). Ora, pretende a parte autora obter do Poder Judiciário provimento que
lhe forneça tratamento injustificadamente diferenciado. Todavia, mesmo da perspectiva
material, o princípio da isonomia só autoriza o tratamento desigual se as situações
forem efetivamente desiguais, o que efetivamente não ocorre no caso em tela, mormente
quando a opção pela procura à rede particular de saúde foi feita única e exclusivamente
pelo autor.

Nesses termos, conclui-se que o Poder Judiciário deve avaliar


_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 9 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

parcimoniosamente as pretensões voltadas à implementação ao direito à saúde, de modo


a assegurar a universalidade e isonomia na prestação de serviços pelo Poder Público,
consoante dicção do artigo 196 da CF/88, o que enseja, no caso em tela, a
improcedência do pedido formulado na exordial.

DO PEDI DO

1) no mérito, seja o pedido julgado totalmente


improcedente, condenando-se a parte autora nas custas
processuais;

2) Caso assim não entenda V. Exa, requer-se, em pedido


sucessivo, que ao menos se limite a responsabilidade do Distrito
Federal à data em que efetivamente houve a inscrição da parte
autora na Central de Regulação de Leitos da Secretaria de Saúdes.

3) ao fim, seja arbitrado novo valor da causa, nos termos


do art. 292, VIII, §3º, CPC, estipulando para tanto a importância de
R$ 900,00 (novecentos reais);

Por todo o exposto, requer o Distrito Federal seja julgado improcedente o


pedido deduzido na exordial.

Protesta, por fim, provar o alegado por todos os meios em direito admitidos,
principalmente pela juntada de novos documentos.
N. Termos,
P. Deferimento.

Brasília, 26/12/2018

_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 10 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
PROCURADORI A-GERAL DO DI STRI TO FEDERAL
PROMAI - Grupo de Ações Comuns

Jhúlia Mikaella Aguiar Nunes


Estagiária
4567254

Cybele Lara da Costa Queiroz


Procurador do Distrito Federal
OAB/DF Nº 5.392

_____________________________________________________________________________________________
2018.01.043943 / Página 11 de 11
SAM, Bloco I, Edifício Sede - CEP 70620000, Brasília-DF
Scanned with CamScanner

Você também pode gostar