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Análise de textos

Graduandos: Bheatriz Rocha/ Lucas Dias


Tamires Celi/ Ygor Sabino
Disciplina: Brasil Império
Prof°: Rangel Cerceau

O século XIX é marcado pelo cientificismo . Essa é a premissa que norteia


o trabalho “O espetáculo das raças: Cientistas, Instituições e questão racial no
Brasil – século 1870-1930”, de Lilia Moritz Schwarcz sobre a entrada das ideias
raciais no Brasil, elaborada em conceitos entendidos até então como científicos.
Nesse sentido, Schwarcz, busca analisar como o ideário positivista que tinha
como desejo o progresso da civilização. Cabe ressaltar que esse ideário não foi
uma criação brasileira mas, diante da especificidade que existia aqui e que não
era comum ao continente europeu, essas ideias foram adaptadas de modo a
conduzir o Brasil a atingir o modelo de sociedade europeu e portanto a
civilização.

Significativo lembrar que o contexto da entrada dessas ideias, século XIX,


está inserido no contexto de crise do sistema do colonial, chegada da família real
no Brasil e posteriormente a independência. E o processo de independência é
fundamental para compreendermos o porquê das recepção dessas ideias, uma
vez que o Brasil, agora independente precisava compor a sua nação para se
legitimar e se inserir nas relações internacionais.

E essa nação deveria se aproximar das nações consideradas civilizadas.


Portanto, nesse contexto as ideias raciais de caráter evolucionista entram no
território primeiro como forma de diagnosticar a patologia brasileira: A
mestiçagem. O Brasil era um país de mestiço, um país negro. Para alguns
teóricos desse período a mestiçagem era o problema do Brasil na medida em
que eliminava “as melhores qualidades” de cada grupo.
Para outros a mestiçagem servia como forma de embranquecer a
sociedade pois se julgava que a raça branca era superior e com o tempo teria
condições de limpar o sangue mestiço.

Esse processo como dito anteriormente, está relacionado com as


perspectivas cientificistas do século, contexto esse em que as ciências exatas
como Biologia, Química e Física, tomam forma própria e seus métodos passam
a ser adaptados para as ciências humanas, ancorado na crença de esses
métodos científicos que eram usados nas ciências naturais eram universais e
aplicáveis a qualquer área de estudo, principalmente referente a sociedade.

A herança dessa tentativa de aplicar exatidão nas análises humanas se


expressam na equação

 Branco + Índio + Negro 

Partindo desse modelo, a sociedade brasileira passou a se explicar a


partir de tais referenciais. A historiografia desse período e posterior legitimou tal
pensamento. Porém atualmente, uma nova abordagem historiográfica se propõe
a resgatar as dinâmicas que foram apagadas devido a tal reducionismo. No
artigo “Mesclas americanas: uma leitura historiográfica do fenômeno e conceito
de mestiçagem na América Ibérica.” De autoria de Rangel Cerceau Netto,
podemos perceber como as relações que se estabeleceram tinham produtos
mais complexos do que o proposto pela equação citada anteriormente.

Primeiro ponto que é significativo destacar é que essa relação entre


mestiçagem e raça deve ser entendida como uma leitura produzida pelo século
XIX. O que é possível verificar para os períodos anteriores é que essas mesclas
atravessam os limites raciais1 ou de cor na medida em que alavancava questões
de ordens culturais.

Antes do século XIX, as denominações que se aplicava aos diversos


sujeitos estavam mais ligados a questões de origem do que de cor de pele

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Destacamos que essa expressão “raça”, não possui um caráter biológico. Porém por questões
de inteligibilidade do texto, usaremos tal conceito na tentativa de aproximar do entendimento. De forma
clara.
propriamente dito. Um exemplo, ser negro não era sinônimo de pessoa de pela
escura e sim sinônimo de africano. Crioulo é outra definição que não possui
relação única com cor de pele e sim com origem. Crioulo era sinônimo de filhos
de africanos nascidos no Brasil.

A mestiçagem nesse contexto estava ligada a toda a complexidade que


circulava nas ruas, nos comércios e nos lares. Diferentes termos foram criados
e ressignificados para tornar inteligível tanto para quem se define como para
quem define o outro. A relação entre o que eu entendo e o que o outro entende
precisava ser clara numa sociedade onde essas identificações organizavam a
hierarquizavam a sociedade.

O que podemos notar é que uma mesma palavra adquire sentidos


diferentes ao longo do tempo. Trazendo essa palavra para século XX, Gilberto
Freyre foi pioneiro ao qualificar a mestiçagem, enxergando-a como algo positivo.
Para Freyre a mestiçagem trouxe o melhor dos povos e enriqueceu a cultura
brasileira.

Concluindo, a nova perspectiva historiográfica ao abordar as relações e


as especificidades nos possibilitar conhecer mais do universo que existiu e ainda
faz parte de nossa cultura. Historicizar os conceitos é significativo pois permite
compreender as raízes dos discursos que ainda se encontram presentes. O
estudo de Lilia se torna significativo nesse sentido por demostrar como homens
envolvidos com produção de conhecimento, legitimados por instituições podem
traçar os rumos de um país. O trabalho de Cerceau Netto por outro lado, ao
historicizar os conceitos nos permite refletir criticamente sobre os usos do
conceitos, e sobre as dinâmicas dentro dos contextos, valorizando as práticas e
buscando compreende-las dentro de sua lógica.

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