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ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

PQI 2303 OPERAÇÕES UNITÁRIAS DA INDÚSTRIA QUÍMICA I

1o QUADRIMESTRE DE 2013

SISTEMAS PARTICULADOS

PROGRAMA

1 MOVIMENTO DE UMA PARTÍCULA EM MEIO FLUIDO

2 CÂMARA DE SEDIMENTAÇÃO – CÂMARA DE POEIRA

3 ELUTRIADOR

4 DIÂMETROS TÍPICOS DE PARTÍCULAS

5 EQUIPAMENTOS DE SEPARAÇÃO DE PARTICULADOS

6 EFICIÊNCIA DE COLETA DE PARTICULADO EM EQUIPAMENTOS

7 CICLONES INDUSTRIAIS

8 EXERCÍCIOS

Bibliografia Recomendada:

Massarani, G. Fluidodinâmica em Sistemas Particulados, e-papers, 2002.

Perry, R. H.; Green, D. W. (Ed.) Perry's chemical engineers' handbook. New York: McGraw-
Hill, 1999.

Foust, A.S.; Wenzel, L. A,; Clump,C. W.; Maus, L.; Andersen,L. B. Princípios das
Operações Unitárias, Guanabara Dois, 2ª ed. ,1982.

Gupta, S. H.; Momentum Transfer Operations, McGraw-Hill, 1979.

Prof. Dr. Luiz Valcov Loureiro


SISTEMAS PARTICULADOS

1. MOVIMENTO DE UMA PARTÍCULA EM MEIO FLUIDO

O movimento de uma partícula sólida inserida num meio fluido (contínuo) , submetida a
um campo g, é descrita por:

(1)
 
Onde: a é a aceleração da partícula, m sua massa e FP a força associada à interação
partícula-fluido que pode ser decomposta em uma força de empuxo ( = ρFgVP ) e uma de
arraste (“drag force”).

(2)

A força resistiva FD pode ser descrita pelo coeficiente de arraste:
1
FD = C D ρ F AP u 2
2 (3)

Onde: u é a velocidade relativa entre o fluido e a partícula, AP a área projetada da


partícula na direção do escoamento e CD o coeficiente de arrasto, função do número de
Reynolds e do tipo de partícula.

A Figura 1 mostra o coeficiente CD para o caso de uma esfera. Geralmente são definidos
três regimes de escoamento: Stokes ( Re < 1), intermediário ( 1 < Re < 1.000) e Newton
( Re > 1.000).

Figura 1 - Coeficiente de arrasto em função do número de Reynolds para uma esfera

A tabela que segue apresenta expressões que permitem o cálculo do coeficiente de


arrasto em função do Re para esferas.

  2  
CD   Re  

 
24 / Re Re  <  1  

  −0,6
18,5 Re 1    <  Re  <  103  

0,44   103  <  Re  <  105  

Na situação de aceleração nula a partícula atinge a velocidade, vt , que é calculada a


partir das equações (1), (2) e (3):

2(ρ P − ρ F )g VP
vt =
CD ρ F AP (4)

Particularmente no caso de esferas, tem-se:

4 ( ρ P − ρ F ) gDP
vt =
3CD ρ F
(5)

O cálculo da velocidade terminal não é direto, pois o coeficiente de arrasto é função da


€ própria velocidade. No regime de Stokes obtém-se a equação :

gDP2 (ρ P − ρ F )
vt =
18µ (6)

Ressalta-se que o equacionamento proposto neste item pressupõe o escoamento da


partícula em meio “livre” ou “infinito”, isto é, sem interferência de outras partículas.

2. CÂMARA DE SEDIMENTAÇÃO – CÂMARA DE POEIRA

A Figura 2 apresenta um esquema de uma câmera de sedimentação simples, que


funciona tanto como separador gás-sólido como classificador. Aplica-se geralmente
para grandes volumes de gás e quando há disponibilidade de espaço. A velocidade de
escoamento da corrente fluida é reduzida logo após à entrada do câmara e portanto
inicia-se a sedimentação do material. Assume-se que a partícula atinge imediatamente a
sua velocidade terminal na direção vertical e que se move com a velocidade do fluido na
direção horizontal.

  3  
Figura 2 – Câmara de sedimentação classificadora

Para efeito de cálculo considere a configuração apresentada na Figura 3.

Z  
z y
Y  
x

Figura 3 – Esquema de câmara de sedimentação

A corrente fluida de vazão volumétrica Q é alimentada na altura z e sai na posição x, z.

A velocidade média do fluido na câmara é assumida como sendo na direção x (vx ) e


considera-se igual à componente da velocidade da partícula nesta direção (ux ). vx então
pode ser calculada pela razão entre a vazão e a área da secção da câmara:

Q
vX = = ux
YZ
(7)

A componente da velocidade da partícula na direção z é a própria velocidade terminal


€ vt.
Considera-se a sedimentação de uma partícula quando seu tempo de queda é menor que
o tempo de residência da partícula na câmara, expresso por:

Z X v Z QZ Q
< ⇒ vt > X = ⇒ vt >
vt vX X YZX XY
(8)

Face às simplificações na geometria e no escoamento, considera-se que apenas as


€ partículas que atinjam o fundo da câmara são efetivamente retidas, desconsiderando-se,
assim, as que impactam a parede da secção de saída.

  4  
Para efeito de dimensionamento, tem-se:

Q
XY >
vt (9)

Sabe-se que a velocidade do fluido na câmara deve ser limitada para evitar o arraste de
partículas no caso de regime turbulento. Sugere-se como velocidade máxima 3 m/s:

Q
< 3m /s
YZ (10)

€ A eficiência de retenção da câmara é função do tamanho das partículas. Considera-se


eficiência de retenção de 100% quando:

Q
vt >
XY (11)

No caso de regime de Stokes, tem-se:

gDP2 (ρ P − ρ F ) Q 18µ Q
vt = > ⇒ DP >
18µ XY g (ρ P − ρ F )XY (12)

Para velocidades terminais baixas (partículas menores) a eficiência de coleta pode ser
calculada pela relação entre o tempo de residência e o tempo de queda necessário,
segundo a expressão:

vt X vt XYZ XY
η= = = vt
Z vx Z Q Q (13)

No caso de regime de Stokes, tem-se a expressão da eficiência em função do diâmetro:

XY gDP2 (ρ P − ρ F ) XY
η = vt =
Q 18µ Q (14)

  5  
3. ELUTRIADOR

O elutriador (Figura 5) é uma coluna vertical na qual escoa um fluido com velocidade
ascendente bem definida e o material sólido, a ser tratado, é alimentado no topo da
coluna. O material com velocidade de sedimentação maior que a do fluido é coletado no
fundo da coluna e o restante é arrastado pelo fluido. Geralmente utilizam-se várias
colunas com diferentes velocidades de fluido, o que possibilita efetuar uma
classificação do material.

Figura 4 – Elutriadores

4. DIÂMETROS TÍPICOS DE PARTÍCULAS

  6  
5. EQUIPAMENTOS DE SEPARAÇÃO DE PARTICULADOS  

  7  
                                         

  8  
6 . EFICIÊNCIA DE COLETA DE PARTICULADO EM EQUIPAMENTOS  

  9  
7. CICLONES INDUSTRIAIS

Ciclones são equipamentos relativamente simples, sem partes móveis, empregados para
remover partículas, tipicamente maiores que 5 µm, de uma corrente de gás. No caso de
separação partícula-líquido, denomina-se hidrociclone. São utilizados em diferentes
segmentos industriais, tais como: alimentício, farmacêutico, químico, metalúrgico,
mineração etc.

O ciclone é basicamente uma câmara de sedimentação na qual o campo gravitacional é


substituído pelo campo centrífugo de 5 a 2.500 g. A corrente de gás contendo
particulado entra tangencialmente na câmara do ciclone a alta velocidade (6-20 m/s), e
devido à configuração deste tem-se o estabelecimento de um campo centrífugo que
proporciona a separação gás-partícula. As partículas percorrem trajetórias helicoidais na
direção radial e são capturadas quando atingem a superfície da região cônica e
escorregam até fundo do trecho cônico, onde são descarregadas. As partículas muito
finas acabam arrastadas pela corrente de gás e saem pelo topo.

Figura 5 - Ciclone

  10  
A previsão do campo de velocidades do fluido e da partícula resultda da solução de um
conjunto de equações de grande complexidade. O desenvolvimento de sistemas de CFD
– Computational Fluid Dynamics - tem permitido a substituição de relações empíricas
por equações fundamentais dos fenêmenos de transporte. A figura 6 apresenta um corte
superior do ciclone na altura da entrada do mesmo. A linha tracejada representa uma
trajetória do gás e a cheia da partícula, ambas inciadas no mesmo ponto da alimentação.

- Atrito no duto de entrada;


- Contração / expansão na entrada;
- Atrito nas paredes;
- Perdas cinéticas no ciclone;
- Perdas na entrada do tudo de saída;
- Perdas de pressão estática entre a entrada e a saída.

- Eficiência de Captação.

Diversos autores investigaram a duração do movimento das partículas


no ciclone e fizeram uma previsão teórica do desempenho do equipamento.
Várias expressões teóricas e semi-empíricas têm sido propostas para
prever a eficiência de captação de um ciclone, mas ainda os métodos
experimentais são de maior confiança.  
Na prática,
Figura 6o –que se especifica
Trajetória do fluido eno projeto no
da partícula é a eficiência
interior de separação
do ciclone.
desejada para partículas de um determinado tamanho. O diâmetro de corte
de um ciclone experimentais
Os métodos depende dasainda propriedades
são de maiordoconfiançasólido, para
das opropriedades do egás,
dimensionamento a
do tamanho
valaiação dodofuncionamento
ciclone e dasdestes
condições operacionais.
equipamentos. A principal variável de projeto é a
Em uma
eficiência de curva
coleta típica de eficiência
de desejada para ciclones
para partículas (Figura 4)tamanho.
de um determinado observa-se
A
queeficiência
a eficiência aumenta
de coleta rapidamente
depende das propriedadescom o aumento
da partícula, do gás, do tamanho
do ciclone e dasda
partícula. O diâmetro de corte (D’= D
condições operacionais. Usualmente utiliza-se corte) especificado é o diâmetro
o diâmetro de corte, DPC, que no qual
a metade da massa
corresponde das de
ao diâmetro partículas alimentadas
partícula que é coletada com é retida.
uma eficiência de 50%.

Figura 4 - Eficiência de coleta de um ciclone


Figura 7: Eficiência de coleta de ciclone industrial tipo Lapple
Para dimensionar o ciclone podemos utilizar a relação empírica de
Rosin, Rammler e Intelmann, na qual o diâmetro de corte é calculado pela
relação:
  11  
A eficiência de coleta de uma partícula de diâmetro DP em um ciclone industrial poder
ser estimada em função do diâmetro de corte pela equação abaixo, também expressa no
gráfico acima:

1
η= 2
1+ ( DPC /DP ) (15)

A relação empírica de Rosin e Rammler calcula o diâmetro de corte e é utilizada para o


€ dimensionamento de ciclones:

9 µ BC
DPC =
2π (ρ P − ρ F )N EVF
(16)

Sendo: VF = Q/(BCHC), é a velocidade do gás no duto de alimentação, recomenda-se


usar 15 m/s, e NE é número efetivo de voltas que o fluido dá desde a entrada até o
centro do ciclone, geralmente igual a 5.

                             

Figura 7 – Parâmetros geométricos dos ciclones industriais

  12  
A queda de pressão entre a alimentação e a saída de ar pode ser calculada pela equação
(17) , na qual NH = 8 para o ciclone Lapple:

ρ FVF2
ΔP = N H
2 (17)

Q
VF =
BC H C
(18)

Quanto maior a vazão de gás maior a eficiência de coleta e maior a perda de carga. O
compromisso do custo operacional da potência para insuflar o gás e a eficiência
adequada é importante na definição do tamanho do ciclone.

8. EXERCÍCIOS
1) Calcular o diâmetro da menor partícula que é coletada com eficiência de 100 % na
câmara de poeira abaixo esquematizada.
Propriedades do fluido: densidade 1,2 kg/m3 e viscosidade 0,018 cP.
Densidade da partícula 2500 kg/m3 .
Dimensões da câmara 2 x 2 x 16 m, sendo a distância entre as lamelas (chapas) de
10 cm.
Considere vazão de alimentação de 4 m3/s e sistema diluído.

2  m  

16  m  

2) Adquiriu-se uma bateria de ciclones de ciclones do tipo Lapple com diâmetro de


0,5 m. O objetivo é coletar partículas de densidade 1000 kg/m3 presentes em uma
corrente de ar a 90 ºC e 1 atm.
Segundo o fornecedor do equipamento, partículas maiores que 20 µm são coletadas
com eficiência superior a 95 % para uma velocidade de ar na secção de entrada é 15
m/s.
Verifique a validade das informações do fornecedor.

3) Uma fábrica dispõe de um conjunto de 3 ciclones em paralelo na configuração


Lapple. O diâmetro dos ciclones é 20 pol. Estimar: a) A capacidade do conjunto
para uma velocidade de ar na secção de entrada de 15 m/s; b) O diâmetro da
partícula que é coletada com eficiência de 95%; c) A potência do soprador a ser

  13  
usado na operação. Considerar que o gás tenha as propriedades do ar a 200ºC e 1
atm e que as partículas sólidas tenham densidade 3.000 kg/m3.

4) Deseja-se estudar o desempenho de uma bateria constituída por dois ciclones Lapple
em série com respectivamente 63,6 cm e 45 cm de diâmetro no tratamento de 27,7
m3 /min de gás. Propriedades do gás: densidade 1,1 kg/m3 e viscosidade 0,017 cP.
Propriedades do material particulado: densidade da partícula 25.00 kg/m3 e
distribuição granulométrica dada por:

D (µm) 5 10 15 20 25 30
X – fração
do material 0,14 0,36 0,55 0,71 0,82 0,90
 
5) O separador de poeira esquematizado abaixo (dimensões em metros) opera em 3
compartimentos. Estimar a faixa de diâmetro das partículas retidas em cada um dos
compartimentos. Dados: vazão de gás 140 m3/min (ar a 20 ºC e 1 atm, viscosidade
0,018 cP) e densidade da partícula (esférica) 3 g/cm3.    
 
1,5                              1,5                                1,5  
 
 
 
 
  4  
 
 
 
 
 
0,5  
 
 
 
6) Uma mistura finamente dividida de galena (PbS) e calcário na proporção em massa
de 1 para 4 é sujeita à elutriação com corrente ascendente de água de 0,5 cm/s. A
distribuição granulométrica dos dois materiais é a mesma:

D (µm) 20 40 60 80 100
X – fração
do material 0,15 0,43 0,64 0,78 0,88

Calcular a porcentagem de galena no material arrastado e no produto de fundo.


Dados: viscosidade da água 0,9 cP, densidade das partículas (esféricas) de galena
7,5 g/cm3 e de calcário 2,7 g/cm3 .
 

  14  

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