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Hélio Nigri

Indústrias Criativas de Base Tecnológica: Estudo para o


Desenvolvimento de um Cluster de Inovação no Brasil

Tese de Doutorado

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em


Engenharia de Produção do Departamento de Engenharia
Industrial da PUC-Rio como parte dos requisitos parciais
para obtenção do título de Doutor em Engenharia de
Produção

Orientador: Prof. Paulo Roberto Tavares Dalcol


Co-Orientador: Prof. Antonio José Junqueira Botelho

Rio de Janeiro
Setembro de 2009
Hélio Nigri

Indústrias Criativas de Base Tecnológica: Estudo para o


Desenvolvimento de um Cluster de Inovação no Brasil

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título


de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora
abaixo assinada.

Prof. Paulo Roberto Tavares Dalcol


Orientador
Departamento de Engenharia Industrial - PUC-Rio

Prof. Antônio José Junqueira Botelho


Co-orientador
Programa de Pós-Graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação
PUC-Rio

Prof. Bruno Feijó


Departamento de Informática - PUC-Rio

Prof. Paulo Bastos Tigre


UFRJ

Prof. Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti


COPPE/UFRJ

Prof. Alex da Silva Alves


Programa de Pós-Graduação em Metrologia, Qualidade e Inovação
PUC-Rio

Prof. José Eugenio Leal


Coordenador Setorial do Centro Técnico Científico - PUC-Rio

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2009


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou
parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e
do orientador.

Hélio Nigri

Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do


Rio de Janeiro em 1983, Analista de Sistemas pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 1985,
Especialização em Administração pela PUC-Rio em 1987,
Mestre em Informática pela PUC-Rio em 1991, desenvolveu
pesquisa no Imperial College of Science, Tecnology and
Medicine da University of London em 1996/1997. Foi professor
dos Cursos de Análise de Sistemas e de Computação Gráfica
Aplicada da Coordenadoria de Cursos de Extensão da PUC-Rio
de 1989 a 1996. Trabalhou na Promon Engenharia de 1985 a
1993, sendo Gerente de Computação a última posição ocupada.
É sócio-fundador da Nigraph Tecnologia, onde atua desde 1993.

Ficha Catalográfica

Nigri, Hélio

Indústrias criativas de base tecnológica : estudo para o


desenvolvimento de um Cluster de Inovação no Brasil / Hélio
Nigri ; orientador: Paulo Roberto Tavares Dalcol ; co-
orientador: Antonio José Junqueira Botelho. – 2009.

130 f. ; 30 cm

Tese (Doutorado em Engenharia Industrial) – Pontifícia


Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2009.

Inclui bibliografia

1. Engenharia industrial – Teses. 2. Indústrias criativas


de base tecnológica. 3. Clusters. 4. Inovação. 5. Ambiente
criativo. 6. Megamídia. I. Dalcol, Paulo Roberto Tavares. II.
Botelho, Antonio José Junqueira. III. Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia
Industrial. IV. Título.

CDD: 658.5
Esta tese é dedicada ao meu querido pai, meu grande incentivador,
que deixou este mundo doze dias antes da defesa da tese.
Dedico também à minha esposa Karen
e aos meus filhos Dan , Gabriel e Ruth.
Agradecimentos

À minha esposa Karen pelo enorme incentivo, carinho, paciência e


compreensão durante todo o doutorado e por ter segurado a barra sozinha durante
os inúmeros fins-de-semana em que me dediquei ao doutorado em detrimento à
minha família. Sem a sua ajuda e apoio eu não teria conseguido completar esta
tese.

Aos meus queridos filhos Dan, Gabriel e Ruth que, na maneira particular
de cada um, entenderam as minhas ausências em inúmeras programações infantis
em função da tese. Tenho agora como meta recuperar o tempo que estive privado
do convívio com eles.

Aos meus queridos pais, meus eternos agradecimentos pelo exemplo,


carinho, apoio e incentivo irrestrito durante toda a minha vida.

Tive o privilégio de ter sido orientado pelos Professores Paulo Roberto


Tavares Dalcol e Antonio José Junqueira Botelho. Nossas reuniões conjuntas
discutindo conceitos e idéias foram momentos de intenso aprendizado para mim.
Meus sinceros agradecimentos ao Professor Dalcol pela confiança, pelas
sugestões valiosas e objetivas e por estar sempre pronto a ajudar no que fosse
necessário. Ao Professor Botelho por ter me introduzido com brilhantismo nos
temas sobre empreendedorismo e inovação, pela amizade e pelas inúmeras idéias
e sugestões para a pesquisa durante todo o programa de doutorado.

Ao Professor Bruno Feijó do departamento de Informática da PUC-Rio,


membro da banca tanto no doutorado quanto na minha defesa de mestrado no
programa de Informática da PUC-Rio há 18 anos atrás. Tenho muito a agradecer
ao Professor Bruno pelas mais de duas décadas de amizade e conselhos.
Especificamente em relação ao Doutorado, agradeço por ter me incentivado a
ingressar no programa em Engenharia de Produção, pela sugestão do tema de
pesquisa e pelo interesse e participação ativa durante toda a pesquisa.

A José Alberto Aranha, Diretor do Instituto Genesis da PUC-Rio, pelo


apoio e incentivo para ingressar no programa de doutorado.
A Professora Maria Angela Campelo de Melo pelo apoio nos primeiros
anos do doutorado.

Ao meu querido amigo Cláudio Wasserman, amigo de todas as horas, que


além do apoio e incentivo nos momentos mais difíceis, ainda se dispôs a fazer a
revisão gramatical do texto.

Aos meus companheiros da Nigraph Tecnologia pelas oportunidades de


troca, discussões e vivências no desenvolvimento de produtos inovadores que, de
alguma forma, influenciaram nos pontos de vista expostos neste trabalho.

Por último e mais importante de tudo, agradeço a D`us, fonte da vida, por
ter me dado forças e removido obstáculos durante toda esta caminhada.
Resumo

Nigri, Hélio; Dalcol, Paulo Roberto Tavares (Orientador); Co-Orientador:


Botelho, Antonio José Junqueira (Co-Orientador). Indústrias Criativas
de Base Tecnológica: Estudo para o Desenvolvimento de um Cluster
de Inovação no Brasil. Rio de Janeiro, 2009. 130p. Tese de Doutorado -
Departamento de Engenharia Industrial, Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro.

Esta tese tem como objetivo estabelecer os fatores determinantes para o


desenvolvimento de uma nova indústria – a indústria criativa de base tecnológica (ICBT)
– no Brasil, tendo como foco a formação de clusters de inovação. A partir da análise da
literatura sobre a emergência e a evolução de indústrias criativas e as novas oportunidades
geradas pela convergência digital é apresentada uma definição e a cadeia produtiva das
ICBTs, uma indústria com características singulares e um enorme potencial de
crescimento. A crescente importância do lócus regional no processo de geração de
inovações e do impacto da inovação para o desenvolvimento econômico, inclusive
regional, põe em evidência o papel fundamental do estabelecimento de instituições como
aprendizado coletivo, comunicação informal e criação de conhecimento, conexões com os
líderes, indústria de capital de risco e ambientes criativos como elementos centrais de
redes regionais de produção de inovações. A tese identifica e avalia os fatores
determinantes de sucesso de clusters de inovação a partir da análise comparativa de dez
clusters e parques tecnológicos do exterior e, em seguida, aprofunda a análise destes para
os casos de Israel e Taiwan, os mais bem sucedidos da indústria de alta tecnologia
mundial depois do Silicon Valley. A pesquisa examina na seqüência o Plano de Ação de
Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Brasileiro sob o ponto de vista do estímulo
ao desenvolvimento de ICBTs no país. Finalmente, são apresentadas as vantagens
locacionais, estruturais e culturais de uma região, a Cidade do Rio de Janeiro, que
apresenta um alto potencial para o desenvolvimento de um cluster de ICBTs no país. A
partir dos resultados da avaliação dos fatores determinantes nos casos bem-sucedidos de
clusters de inovação de alta tecnologia, da natureza e características singulares das ICBTs
e das lacunas institucionais identificadas na política brasileira, é apresentado um conjunto
de recomendações que visa transformar a Cidade do Rio de Janeiro em um centro de
referência internacional da ICBT.

Palavras-chave
Indústrias criativas de base tecnológica, clusters, inovação, ambiente
criativo, megamídia.
Abstract

Nigri, Hélio; Dalcol, Paulo Roberto Tavares (Advisor); Botelho, Antonio


José Junqueira (Co-Advisor). Technology Based Creative Industries: A
Study for the Development of an Innovation Cluster in Brazil. Rio de
Janeiro, 2009. 130p. Doctorate Thesis - Departamento de Engenharia
Industrial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

This thesis aims to establish the determinant factors for the development of a new
industry – the technology-based creative industries (TBCI) - in Brazil, focusing on the
formation of innovation clusters. Building on the results of a literature review of the
emergence and evolution of the creative industries and of the new opportunities generated
by the digital convergence, the thesis presents a definition and the productive chain of the
TBCI, a singular industry with an enormous growth potential. The growing importance of
the regional locus in the innovation generation process and the impact of innovation on
economic development highlight the fundamental role of establishing institutions such as
collective learning, informal communication and knowledge creation, connection to
leaders, the venture capital industry and the creative environment as central elements of
innovation producing regional networks. The thesis identifies and assesses the
determinants of success of innovation clusters based on a comparative analysis of ten
clusters and science parks around the world and, then, makes an in-depth analysis of the
Israel and Taiwan cases, two of the most successful clusters in the high technology
industry, next to Silicon Valley. The research also examines the Brazil’s Science,
Technology and Innovation Action Plan, from the perspective of policies and
mechanisms therein to promote the development of the TBCIs in the country. Finally, this
work introduces the location, structural and cultural advantages of a region, the city of
Rio de Janeiro, which holds a great potential to develop a TBCI cluster in Brazil. From
the assessment of the determinant factors in the most successful high technology
innovation clusters; the analysis of nature and singularities of the TBCIs and the
identification of the institutional gaps in the Brazilian policy, it is presented a set of
recommendations that aim to transform the City of Rio de Janeiro in an international
reference of the TBCI.

Keywords
Technology based creative industries, clusters, innovation, creative
environment, megamedia.
Sumário

1. INTRODUÇÃO 15
1.1. Relevância do Tema 15
1.2. Objetivos 19
1.3. Metodologia 20
1.4. Estrutura da Tese 20

2. CLUSTERS, EMPREENDEDORISMO E O PAPEL DAS PMEs 26


2.1. Caracterização dos Aglomerados Produtivos Locais 26
2.2. Natureza e Evolução dos Clusters de Inovação 28
2.3. A Economia do Empreendedorismo 32
2.4. O Papel das PME`s na Nova Economia 34
2.5. Colaboração em Clusters de Inovação Tecnológica 35

3. ECONOMIA CRIATIVA 37
3.1. Indústrias Criativas 37
3.2. Classe Criativa 39
3.3. Cidades Criativas 42
3.4. A Indústria Criativa no Brasil 44

4. INDÚSTRIAS CRIATIVAS DE BASE TECNOLÓGICA 47


4.1. Definição 47
4.2. Escopo e Abrangência 49
4.3. Principais Características 53
4.4. A Cadeia Produtiva da ICBT 57
4.5. O Ambiente Criativo 60

5. A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL DE CLUSTERS E PARQUES


TECNOLÓGICOS 62
5.1. Tipologias Existentes 62
5.2. Tipologia Adotada 65
5.3. Análise Comparativa de Clusters e Parques Tecnológicos 67
5.4. O Silicon Wadi de Israel 73
5.5. O Hsinchu Science Park de Taiwan
83
6. DESENVOLVIMENTO DE UM CLUSTER DE INDÚSTRIAS
CRIATIVAS DE BASE TECNOLÓGICA NA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO 89
6.1. Estratégias do Governo Brasileiro para Ciência, Tecnologia e
Inovação 89
6.2. A Situação Atual das ICBTs na Cidade do Rio de Janeiro 92
6.3. O Potencial de Crescimento das ICBTs na Cidade do Rio de Janeiro 95
6.4. O Projeto do VisionLab 98
6.5. Outras Propostas Existentes 99
6.6. O Ambiente Criativo da Cidade do Rio de Janeiro 101
6.7. Caminhos para Formação de um Cluster de ICBTs na Cidade do Rio
de Janeiro 103

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES 110


7.1. Considerações Finais 110
7.2. Conclusões 119
7.3. Sugestões para Trabalhos Futuros 122

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 123

ANEXO I: Distribuição dos Países em Função do Estágio de suas


Economias 129
Lista de Figuras

Figura 1 – Estrutura da Tese 21

Figura 2 – Indústrias Criativas de Base Tecnológica 48

Figura 3 – Exportação de Novas Mídias, 1996-2005 55

Figura 4 – Taxa de Crescimento das Exportações de Novas Mídias,


2000-2005 56

Figura 5 – Cadeia Produtiva das Indústrias Criativas de Base


Tecnologia 59

Figura 6 – Subprocessos e as Atividades Principais dentro do Processo


de Produção da Cadeia Produtiva das ICBTs 60

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Rede de Cidades Criativas segundo a UNESCO 43

Tabela 2 – Análise Comparativa de Clusters e Parques Tecnológicos 71

Lista de Destaques

Destaque 1 – Um típico representante da Classe Criativa 41

Destaque 2 - Atuação de uma ICBT no setor educacional 52

Destaque 3 - Carioca retorna do exterior para criar empresas de


tecnologia no Rio 108
Lista de Abreviaturas e Siglas

ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.

APL – Arranjo Produtivo Local.

C,T&I – Ciência, Tecnologia e Inovação.

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

EAD – Educação a Distância.

ERSO - Eletronics Research and Services Organizations, Taiwan.

FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do

Rio de Janeiro.

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos.

ICBT – Indústria Criativa de Base Tecnológica.

ICT – Instituição de Ciência e Tecnologia.

INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

ITRI - Industrial Technology Research Institute, Taiwan.

LCD- Liquid Crystal Display.

MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia.

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento.

P,D&I – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.

PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior do Governo

Brasileiro.

PUC-Rio – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

PME – Pequena e Média Empresa.

RBV – Rede Brasileira de Visualização.


RedeSist - Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais do

Instituto de Economia da UFRJ.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

SPIL – Sistemas Produtivos e Inovativos Locais.

TI – Tecnologia da Informação.

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação.

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.

UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development.

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.


“Hilel dizia: Se eu não for por mim, quem será por mim?

Mas se eu for só por mim, o que sou eu?

E se não for agora, quando?”

Código de Leis Judaico - A Ética dos Pais, Capítulo I, parágrafo 14.


1
INTRODUÇÃO

Este capítulo traz uma apresentação do tema tratado nesta tese destacando
sua relevância para países em desenvolvimento, como o Brasil, que buscam a
inserção no mercado global através de produtos e serviços de alto valor agregado.
São examinadas algumas ações do governo brasileiro para estimular a inovação
tecnológica e explorado como as Indústrias Criativas de Base Tecnológica
(ICBTs) se apresentam como uma importante alternativa para auxiliar no aumento
da capacidade inovativa da economia brasileira. O capítulo apresenta os objetivos
principais deste trabalho, a estrutura metodológica e os assuntos tratados nos
capítulos subseqüentes.

1.1
Relevância do Tema

A necessidade dos países em desenvolvimento, como o Brasil, de investir


preferencialmente em atividades geradoras de conhecimento, em detrimento de
projetos fabris tradicionais que agregam pouco valor é, hoje em dia, reconhecida e
aceita tanto pela academia quanto por governos (AUDRETSCH e THURIK,
2001; CAVALCANTI, GOMES e PEREIRA, 2001; LASTRES e CASSIOLATO,
2003; PITCE, 2005 e MCT, 2007). Segundo o Manual de Oslo (2004), uma
inovação tecnológica de produto e processo só é considerada implantada se tiver
sido introduzida no mercado (inovação de produto) ou usada no processo de
produção (inovação de processo), daí a importância do papel da empresa no
processo de inovação. A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
do Governo Brasileiro (PITCE) já preconizava a inovação e a diferenciação de
produtos e serviços como a forma ideal de inserir o país nos principais mercados
do mundo. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), órgão
responsável por orientar e supervisionar as ações do PITCE, criou o macro-
programa Inova Brasil, cujo objetivo é mobilizar as empresas, as universidades, os
institutos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, as entidades empresariais,
16

sindicatos de trabalhadores e os diversos órgãos do Estado e da sociedade civil,


com o intuito de aumentar a capacidade de inovação da economia industrial
brasileira, amplificando as ações que cada ente já realiza e incentivando outros a
se engajarem no processo (PITCE, 2005). Mais recentemente, o Ministério da
Ciência e Tecnologia do Governo Federal lançou o Plano de Ação de Ciência,
Tecnologia e Inovação para os anos 2007-2010, no qual uma das quatro
prioridades estratégicas é a promoção da inovação tecnológica nas empresas,
incluindo ações de apoio financeiro às atividades de pesquisa, desenvolvimento e
inovação em empresas existentes; incentivo à utilização de tecnologias para a
inovação pelas empresas e incentivo à criação de empresas intensivas em
tecnologia (MCT, 2007). Dentro desta linha, foi criado o Programa de Subvenção
Econômica para a Inovação como um dos principais instrumentos de política de
governo para estimular e promover a inovação nas empresas, sendo operado de
acordo com as normas da Organização Mundial do Comércio – OMC. Essa
modalidade de financiamento, largamente utilizado em países desenvolvidos, foi
viabilizada no Brasil pela aprovação e regulamentação da Lei da Inovação1 e da
Lei do BEM2. Este programa permite a aplicação de recursos públicos não-
reembolsáveis diretamente em empresas públicas ou privadas que desenvolvam
projetos de inovação estratégicos para o País, compartilhando os custos e os riscos
inerentes a tais atividades3 (SITE 1).
O campo de conhecimento e aplicação das Tecnologias de Visualização4,
aonde está inserida a indústria criativa de base tecnológica, aglutina setores
estratégicos que atuam conectados e de forma integrada, e que na sua dinâmica de
conjunto são capazes de responder aos requisitos da inovação e da geração de
conhecimento. O Plano de Ação do Ministério de Ciência e Tecnologia define a
Rede Brasileira de Visualização (RBV) como um dos segmentos emergentes
prioritários da área de Tecnologia, Informação e Comunicação (TIC). Este
segmento emprega uma mão-de-obra multidisciplinar composta tanto por

1
Lei 10.973, de 02.12.2004, regulamentada pelo Decreto 5.563, de 11.10.2005.
2
Lei 11.196, de 21.11.2005, regulamentada pelo Decreto 5.798, de 07.07.2006.
3
A primeira chamada pública para subvenção econômica em empresas foi realizada pela FINEP
em 2006. Desde então a FINEP já aprovou 566 projetos que totalizaram R$ 1,1 bilhão (SITE 9).
4
Segundo o relatório da Softex (2005a), o conceito de Tecnologias de Visualização “engloba um
subconjunto, relativamente amplo, das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), que têm
em comum a simulação de ambientes e processos virtuais, utilizando como base a matemática, a
física, a lógica e a informática”.
17

trabalhadores comumente conhecidos como criativos - artistas, músicos e


escritores – quanto pelos “trabalhadores do conhecimento” ou “trabalhadores da
informação” – programadores de computador, engenheiros, acadêmicos e
advogados, e que foi denominada na literatura de classe criativa (FLORIDA,
2002). A indústria de jogos para computador é um exemplo clássico, pois
emprega em uma mesma equipe de trabalho tanto profissionais de Tecnologia de
Informação, que trabalham com o estado da arte em programação de
computadores, quanto designers, desenhistas, animadores, músicos e roteiristas,
profissionais de fundamental importância no desenvolvimento de qualquer jogo
de qualidade (TAVARES, 2004).
Além da relevância das indústrias criativas de base tecnológica, esta tese
trata do desenvolvimento de clusters relacionados a esta indústria. A natureza
nova dos clusters de base tecnológica e dos seus arranjos subjacentes apresenta
um desafio tanto para a formulação teórica acerca da produção regional da
inovação quanto para formuladores de política pública para o desenvolvimento.
Esse desafio se amplifica, ademais, quando focado em novas áreas como, por
exemplo, a indústria da megamídia, uma componente representativa da ICBT.
Megamídia é o termo utilizado para definir a convergência de quatro indústrias:
comunicação, tecnologia da informação, computação e entretenimento digital
(MANEY, 1995). São indústrias que, individualmente, geram bens de elevado
valor agregado, sobre os quais a propriedade intelectual tem um papel
fundamental, além de empregarem uma enorme e diversificada quantidade de
mão-de-obra. Esta nova indústria, além de promover a convergência integrativa de
diferentes trajetórias tecnológicas, demanda a formação de redes sociais de
sustentação heterogêneas, com atores com culturas e lógicas profissionais
contrastantes como é o caso do setor de produção de audiovisual e o setor de
produção de tecnologias de informação e visualização avançada. Além da
importância estratégica, são indústrias ambientalmente limpas. As indústrias deste
setor põem em evidência a importância do desenvolvimento regional e de novas
instituições5 tais como comunicação informal, colaboração, aprendizado por
monitoramento, conexões com os líderes, circulação dos “cérebros” em indústrias

5
Há na literatura tanto autores que utilizam o termo “instituições”, como Perez-Aleman (2005),
quanto o termo “fatores determinantes”, como Bresnaham, Gambardella e Saxeniam (2001).
Estaremos usando nesta tese os termos “instituições” e “fatores determinantes” de forma
intercambiável.
18

do exterior e estímulo para que retornem ao país de origem, fortalecimento da


indústria de capital de risco e a existência e preservação de um ambiente criativo.
O trabalho realiza uma revisão bibliográfica sobre Economia Criativa, para
em seguida definir o escopo e a abrangência das Indústrias Criativas de Base
Tecnológica. Este termo ainda não é empregado na literatura da Economia
Criativa, que agrupa as atividades deste setor com o nome de “novas mídias”,
classificando-as apenas como mais uma das atividades das Indústrias Criativas
(UNCTAD, 2008). No entanto, as novas oportunidades geradas pela convergência
digital, as singularidades, a cadeia produtiva diferenciada e, principalmente, o
potencial de crescimento deste segmento específico justificam uma denominação
própria para uma nova indústria – as ICBTs.
A cidade do Rio de Janeiro tem forte vocação para estabelecer um pólo
internacional de tecnologia para a indústria, a pesquisa e o desenvolvimento da
megamídia, uma vez que já conta com institutos de pesquisas, incubadoras de
empresas, redes de TV, estúdios, pólo de cinema e vídeo, produtoras, planetário e
centros culturais. O registro dessa realidade gerou planos e propostas para
estimular o desenvolvimento da indústria de megamídia na cidade, como o Projeto
VisionLab-Rio do Departamento de Informática da PUC-Rio. O objetivo deste
projeto é tornar o laboratório de pesquisa uma âncora tecnológica para a indústria
da megamídia com base nas atividades de pesquisa e inovação, formação de
pessoal especializado, prestação de serviços e representação junto ao poder
público (FEIJÓ, 2003). Na Rede Brasileira de Visualização, uma rede de
pesquisa colaborativa, a Cidade do Rio de Janeiro é um dos nós. No entanto, esta
tese defende a formação de um cluster como sendo mais apropriado do que o
modelo de rede para a produção de inovação na área de visualização em função
das vantagens advindas da concentração e do envolvimento local.
Para auxiliar a formulação dos fatores determinantes para o sucesso de
clusters de ICBTs, este trabalho apresenta uma análise comparativa da experiência
de dez clusters de inovação e parques tecnológicos no mundo. A partir desta
análise, foram escolhidos os clusters de alta tecnologia e inovação de Israel e de
Taiwan para uma análise mais detalhada dos determinantes que levaram estes
clusters a se tornarem dois dos maiores sucessos mundiais em inovação e alta
tecnologia depois do Silicon Valley. As seguintes medidas foram comuns a ambos
os casos: alto investimento do Estado em educação, infra-estrutura e na indústria
19

de capital de risco, que cresceu a tal ponto que estes países têm hoje as duas
maiores indústrias de venture capital do mundo depois dos EUA; estímulo ao
empreendedorismo para combater o desemprego; instituições para o aprendizado
coletivo e rede de relacionamentos sociais e agilidade para aproveitar
oportunidades tecnológicas. Finalmente, esta tese apresenta um conjunto de
recomendações para o desenvolvimento de um cluster desta nova indústria na
Cidade do Rio de Janeiro, a partir dos resultados da análise de clusters de
inovação de alta tecnologia, das singularidades das ICBTs e das lacunas
institucionais identificadas na política industrial brasileira relacionadas as ICBTs.
Este trabalho busca, também, discutir a formação de clusters para a área de
serviços, um tema que pouco aparece na literatura acadêmica. Grande parte da
literatura sobre clusters refere-se a arranjos industriais, como, por exemplo, os
distritos industriais italianos e o distrito de ciências de Taiwan (PIORE e SABEL,
1984; PINE II, 1994; AMADO NETO, 2000 e SAXENIAN, 2006).

1.2
Objetivos

O objetivo geral desta tese é estabelecer que fatores determinantes devem


ser considerados para o desenvolvimento de Indústrias Criativas de Base
Tecnológica no Brasil e desenvolver o argumento que uma das formas mais
eficientes de organização para esta indústria é por meio de clusters de inovação.
O trabalho tem como objetivos específicos responder às seguintes questões
de pesquisa:
• O que são Indústrias Criativas de Base Tecnológica (ICBTs), qual é sua
importância e como é a cadeia produtiva desta indústria?
• Quais os fatores determinantes para o desenvolvimento de clusters bem-
sucedidos de inovação tecnológica?
• Quais as lacunas identificadas no Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e
Inovação do Governo Brasileiro relativas ao desenvolvimento das ICBTs
no Brasil?
• Quais ações devem ser tomadas para o desenvolvimento na Cidade do Rio
de Janeiro de um cluster de inovação de ICBTs?
20

Os resultados deste trabalho irão também contribuir para a discussão sobre


a importância da formação de clusters de base tecnológica para o
desenvolvimento regional em países emergentes.

1.3
Metodologia

Esta tese caracteriza-se por um estudo exploratório dividido nos seguintes


blocos:
• O primeiro bloco traz uma revisão bibliográfica dos assuntos que formam
a base desta pesquisa: clusters de inovação, empreendedorismo e o novo
papel das PMEs, Economia Criativa e a situação das Indústrias Criativas
(ICs) no Brasil.
• A partir da revisão bibliográfica, o segundo bloco avança sobre os novos
conceitos relativos às ICBTs.
• O terceiro bloco apresenta uma análise comparativa de dez clusters e
parques tecnológicos com base em dados secundários. Esta análise foi
usada como mecanismo de seleção de dois casos de sucesso que guardam
uma maior relação com os objetivos desta tese e que foram analisados de
uma forma mais aprofundada.
• A partir dos determinantes de sucesso que emergiram do bloco anterior, o
quarto bloco traz um diagnóstico da Cidade do Rio de Janeiro como o
local de desenvolvimento de um cluster de ICBTs.
• Na confrontação dos resultados dos blocos anteriores e nas respostas às
questões de pesquisa, está alicerçado o resultado final da tese, composto
das considerações finais e conclusões.

1.4
Estrutura da Tese

A estrutura da tese segue o fluxograma apresentado na Figura 1.


21

Figura 1 – Estrutura da tese.


Fonte: Elaborado pelo autor
22

A tese está organizada em sete capítulos, incluindo esta introdução


(Capítulo 1). O Capítulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica de arranjos
produtivos locais e de clusters, com destaque para os clusters de inovação.
Questões como o surgimento e a evolução dos clusters são discutidas com ênfase
na importância do lócus regional, do aprendizado coletivo e do estabelecimento de
redes de relacionamento como elementos-chave para a transmissão do
conhecimento e a produção da inovação. O capítulo analisa a mudança de
paradigma que ocorre na passagem de uma economia administrada e regulada
para uma economia baseada no empreendedorismo. Esta mudança reserva um
novo e relevante papel para as PMEs, principalmente quando atuam em redes de
cooperação. Por último, o capítulo discute a importância da comunicação informal
e a colaboração entre os trabalhadores das empresas-membros de clusters de
inovação tecnológica para o aprendizado das empresas, a partir do exemplo de
dois clusters de alta tecnologia dos EUA.
O Capítulo 3 apresenta o conceito encontrado na literatura para economia
criativa através da definição de indústria criativa, classe criativa e cidade criativa.
Indústrias criativas estavam inicialmente relacionadas estritamente às áreas
cultural e artística, sendo posteriormente incluídas atividades relacionadas com
tecnologia. O ponto chave que caracteriza esta indústria é a produção de
propriedade intelectual. Especial destaque é dado para o perfil de trabalhadores
que compõem a classe criativa, cuja principal característica é a pouca
diferenciação que fazem entre as horas de trabalho e as horas de lazer. As cidades
criativas tendem a se desenvolver com base em uma forte infra-estrutura social e
cultural que atrai a classe criativa. Esta classe criativa, por conseguinte, atrai as
empresas interessadas nesta mão-de-obra que acabam por se estabelecer nestas
cidades. A última seção do capítulo apresenta a cadeia da indústria criativa no
Brasil a partir de um estudo realizado pela Firjan (2008). O estudo evidencia o
papel de liderança que as indústrias criativas do Estado do Rio de Janeiro ocupam
no cenário nacional em relação ao número de trabalhadores envolvidos, renda
média destes trabalhadores e participação da cadeia criativa no PIB Estadual.
O Capítulo 4 explica as razões da utilização do termo “indústria criativa de
base tecnológica” (ICBT) para descrever a nova indústria de megamídia (também
denominada “novas mídias”). É apresentada uma definição para esta indústria que
leva em consideração um novo ambiente de negócios e uma nova classe de
23

trabalhadores criativos. São apontados o escopo e a abrangência da definição


apresentada, diferenciando as ICs das ICBTs, e o enorme potencial de crescimento
desta nova indústria. São apresentados as principais características de uma ICBT e
exemplos de ICBTs que atuam em diferentes áreas, como produção audiovisual
(televisão e cinema), jogos para computador e educação. A importância das
ICBTs em países emergentes é comprovada por dados de exportação do setor de
megamídia no mundo que atestam o maior crescimento das ICBTs em países
emergentes em comparação com os países desenvolvidos. O capítulo traz uma
análise da cadeia produtiva das ICBTs cuja principal característica é a
convergência digital. Os três processos principais da cadeia - Produção,
Distribuição e Exibição - possuem os mesmos requisitos de entrada (hardware,
software, capacitação, financiamento e jurídico), mas requisitos de saída
específicos. As atividades principais das ICBTs se encontram no processo
Produção que é dividido em pré-produção, produção e pós-produção. Os
softwares e peças audiovisuais produzidas neste processo pelas ICBTs são
distribuídos e exibidos pelos demais componentes da cadeia. Por último, o
capítulo apresenta a definição de ambiente criativo para análise do sucesso da
indústria de alta tecnologia de uma forma geral e da ICBT em particular.
O Capítulo 5 traz uma análise da experiência internacional de alguns
clusters e parques tecnológicos. Inicialmente é feita uma revisão bibliográfica das
tipologias utilizadas para análise de clusters e parques tecnológicos. Em seguida é
definida uma tipologia composta por onze indicadores com três níveis possíveis
para cada indicador (alto/médio/baixo, forte/médio/fraco ou muito
importante/médio/pouco importante), com exceção do indicador “tipo de
governança”, que tem uma classificação própria. Foram selecionados para
avaliação dez clusters e parques tecnológicos da Europa, Ásia, Estados Unidos,
além do parque de cinema e vídeo da Cidade do Rio de Janeiro. Foram incluídos
exemplos tanto de países desenvolvidos quanto de países emergentes e casos de
sucesso comprovado (best practices) e alguns com resultados abaixo do esperado.
Após uma breve descrição de cada um destes clusters e parques, é apresentada
uma tabela comparativa com uma avaliação segundo a tipologia adotada. Da
análise desta tabela, foram selecionados dois clusters de alta tecnologia e
inovação para um estudo mais detalhado: o Silicon Wadi de Israel e a região de
Hsinchu de Taiwan. Estes clusters são analisados a partir dos onze indicadores da
24

tipologia adotados na análise comparativa, com o acréscimo de fatores como


traços culturais, presença de multinacionais e oportunidades tecnológicas. A
análise traz importantes lições de como aproveitar externalidades regionais para
alavancar a inovação tecnológica.
O Capítulo 6 apresenta um diagnóstico do potencial da Cidade do Rio de
Janeiro de abrigar um cluster de inovação de ICBTs. Inicialmente é feita uma
análise do Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Brasileiro para
2007-2010 com o foco nas necessidades das ICBTs. Em seguida são descritos as
principais instituições presentes na Cidade do Rio de Janeiro com atividades
relacionadas com a cadeia produtiva das ICBTs, com destaque para a Rede Globo
de Televisão, o Pólo Rio de Cinema, Vídeo e Comunicação, Instituições
Científicas e Tecnológicas, produtoras e incubadoras de empresas de tecnologia.
Em seguida é feita uma análise com dados do desempenho da indústria criativa e
da indústria de TIC no Estado do Rio de Janeiro em comparação com os demais
estados do país, onde se percebe o papel de destaque desempenhado por estas
indústrias no Estado do Rio. Estes dados servem com uma boa aproximação para
medir o potencial das ICBTs no Estado. O capítulo descreve alguns projetos
criados para estimular o desenvolvimento da megamídia na Cidade do Rio de
Janeiro e em especial o projeto do laboratório VisionLab da PUC-Rio. São
apresentadas as vantagens estruturais, locacionais e culturais da Cidade do Rio
com destaque para a atração que a cidade exerce na classe criativa que opta por
morar na cidade em função da informalidade nas relações pessoais, tolerância,
intensa vida cultural e belezas naturais. Este ambiente social e cultural,
denominado de ambiente criativo, também estimula e facilita a rápida transmissão
de idéias e conhecimentos que são as bases para o aprendizado coletivo. Por
último, o capítulo enumera algumas recomendações para estimular a formação de
um cluster de inovação na área de megamídia na Cidade do Rio de Janeiro.
Por fim, o último capítulo apresenta as considerações finais e as
conclusões da tese, discutindo a importância e o potencial de crescimento das
ICBTs, apresentando os fatores determinantes para o desenvolvimento de clusters
bem-sucedidos de ICBTs a partir da análise de clusters e parques tecnológicos no
exterior e apontando as principais recomendações para a Cidade do Rio de Janeiro
se tornar um centro de referência de ICBTs no Brasil e no mundo.
25

Há duas limitações principais de caráter analítico neste trabalho. Uma


primeira está relacionada ao fato que a teorização e a conceituação de clusters,
particularmente de inovação, ainda se encontra em um estágio formativo em que
diferentes perspectivas e visões competem. Na mesma linha e como
conseqüência, essa área de estudos ainda carece de um conjunto sólido e coerente
de análises empíricas comparáveis, capazes de contribuir de forma cumulativa
para a produção de teorias. Uma segunda diz respeito à extrema juventude da
temática ‘indústrias criativas’, cujas fronteiras e indicadores ainda se encontram
em fase de construção e delimitação. Do ponto de vista metodológico, uma
limitação da tese diz respeito à utilização de dados secundários para estudo
exploratório. A obtenção de dados primários tanto para análise comparativa
quanto para o estudo detalhado dos clusters de Israel e Taiwan ficou fora do
escopo desta pesquisa, por razões de custo, logística e tempo.
2
CLUSTERS, EMPREENDEDORISMO E O PAPEL DAS PMEs

Este capítulo traz uma breve revisão bibliográfica sobre clusters, como
surgem e como evoluem, discute a importância do lócus regional no processo de
inovação, apresenta as bases do que é chamado economia do
empreendededorismo e discute o novo papel desempenhado pelas PMEs na
economia. Por último, apresenta a importância de instituições como colaboração
informal e aprendizado no desenvolvimento de clusters de inovação tecnológica.

2.1
Caracterizações dos Aglomerados Produtivos Locais

Uma das maneiras mais efetivas para as empresas adquirirem vantagens


competitivas e aumentarem a produtividade em uma economia globalizada é
através do desenvolvimento regional. O envolvimento local gera conhecimentos,
relacionamentos e motivação difíceis de serem superados por rivais distantes. Os
aglomerados produtivos locais representam as formas de organização típicas para
o desenvolvimento regional. Eles podem ter variadas caracterizações de acordo
com sua estrutura produtiva, organização industrial, formas de governança,
logística, grau de inovação, utilização da tecnologia, associativismos, cooperação
entre agentes, formas de aprendizado e grau de disseminação do conhecimento
especializado local. Por isso, a definição destes aglomerados não é tarefa trivial
nem isenta de controvérsias (SUZIGAN, FURTADO, GARCIA e SAMPAIO,
2004).
Marshall (1920) foi um dos precursores na abordagem de que firmas
localizadas dentro de um aglomerado se beneficiam de um tipo de conhecimento
que “está no ar”. Esta “atmosfera industrial” é absorvida naturalmente por todas
as firmas que fazem parte do aglomerado. Piore e Sabel (1984) chamaram a
atenção da dimensão local ao analisar o sucesso dos distritos industriais italianos
na região conhecida como terceira Itália. Porter (1998) desenvolveu a idéia de
cluster definindo-o como "Concentração em uma mesma localidade de empresas e
27

instituições interconectadas que atuam em um ramo específico de negócios,


podendo incluir universidades, instituições governamentais, agências, associações
comerciais etc., que produzam treinamento especializado, informações, pesquisa
ou suporte técnico". Cassiolato e Szapiro (2003) utilizam dois conceitos distintos
que são adotados pela RedeSist – Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e
Inovativos Locais6: (1) Arranjos Produtivos Locais (APLs) que são definidos
como “aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais- com
foco em um conjunto específico de atividades econômicas- que apresentam
vínculos mesmo que incipientes” e (2) Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
(SPILs) definidos como “aqueles arranjos produtivos em que a interdependência ,
articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e
aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa
endógena, da competitividade e do desenvolvimento local”. Em outras palavras,
os APLs seriam aglomerações produtivas cujas articulações entre agentes locais
não são suficientemente desenvolvidas para caracterizá-los como SPILs. Suzigan
et al. (2004) definem Sistemas Locais de Produção de uma forma simples,
semelhante à definição de Porter (1998) para clusters, considerando que as
distinções conceituais entre os sistemas resumem-se a diferentes graus de
desenvolvimento. Segundo Botelho (2005), nos APL`s as configurações são
fracas ou até mesmo inexistentes, ao passo que os clusters são estruturas fortes e
competitivas cuja trajetória se direciona para a fronteira tecnológica com a força
da alta tecnologia que condiciona as vantagens competitivas dinâmicas dos
clusters globais.
Para os efeitos deste trabalho, utilizaremos tanto o termo quanto o conceito
de cluster apresentado por Porter (1998) em função da simplicidade e da ampla
aceitação na literatura, diferenciando como clusters mais ou menos desenvolvidos
em função dos variados estágios de desenvolvimento e da capacidade sistêmica
para inovação dos mesmos.

6
Para maiores informações sobre a RedeSist ver em http://www.redesist.ie.ufrj.br/
28

2.2
Natureza e Evolução dos Clusters de Inovação

Por mais paradoxal que possa parecer, as maiores vantagens competitivas


em uma economia globalizada encontram-se nos sistemas locais. A informação
pode e deve ser globalizada, mas a geração de conhecimento é necessariamente
local. As proximidades geográfica, cultural e institucional criam inúmeras
facilidades, como acesso a mão-de-obra qualificada, conhecimento de novas
tecnologias, intercâmbio de informações, disponibilidade de treinamentos etc.,
com ganhos na produtividade, inovação e empreendedorismo difíceis de serem
superados. A economia mundial é hoje em dia dominada por empresas integrantes
de arranjos produtivos e, portanto, as empresas e os governos não devem medir
esforços para estimular a formação e o desenvolvimento destes arranjos.
Segundo Breschi e Malerba (2005), a disseminação do conhecimento
localizado é um dos fatores essenciais para explicar o agrupamento de firmas
inovadoras, isto é, a transmissão de novos conhecimentos tende a ocorrer de
maneira mais eficiente entre atores localizados próximos uns dos outros. Este
aprendizado através da rede de relacionamento e da interação, representado pela
habilidade em estabelecer e manter ligações sociais e linhas de comunicação, é
considerado a força principal para as firmas se agruparem e o fator essencial para
o contínuo sucesso dos clusters de inovação. Ainda segundo estes autores,
conhecimento só pode ser transmitido de forma efetiva através do contato pessoal
ou da mobilidade entre firmas dos trabalhadores, casos em que a proximidade
geográfica e cultural é um importante facilitador (BRESCHI e MALERBA,
2001). Como a produção de inovação tem como matéria-prima o conhecimento
adquirido, as firmas localizadas em clusters aprendem mais e tendem a ser mais
inovadoras do que as firmas isoladas.
De acordo com Porter (1998), clusters promovem tanto a competição
quanto a cooperação entre os participantes. A independência e a informalidade da
ligação entre as empresas e instituições propiciam vantagens em eficiência,
efetividade e flexibilidade, quando comparadas com outras formas de
organização, como integrações verticais ou relacionamentos formais (parcerias,
alianças, redes etc.).
29

Interessante ressaltar que a literatura econômica convencional considera


pequena ou nula a relevância da localização. Durante quase cem anos as teorias
econômicas hegemônicas se preocuparam em contextualizar as empresas em
termos de setores, complexos industriais, cadeias industriais, etc. e deixaram de
lado a dimensão espacial da atividade econômica (LASTRES, CASSIOLATO e
MACIEL, 2003).
As razões que determinam o surgimento dos clusters variam de acordo
com o pesquisador. Segundo Porter (1998), eles se formam a partir de razões
históricas como o surgimento de empresas inovadoras e bem-sucedidas que
atraem outras empresas para a região ou em função de demandas locais incomuns,
sofisticadas ou restritivas, como, por exemplo, a indústria da irrigação em Israel.
De acordo com Klepper (2003), clusters se formam quando se tem um estoque de
empresas em setores relacionados, como, por exemplo, a indústria de Taiwan que
fabricava TVs e passou a fabricar computadores. Segundo Bresnahan,
Gambardella e Saxenian (2001), eles se formam a partir de justificativas regionais
como a existência de mão-de-obra e empreendedores talentosos, oportunidades
tecnológicas ou a existência de instituições locais. Já para Perez-Aleman (2005),
os fatores principais para o surgimento de clusters bem-sucedidos não estão
relacionados a razões históricas e nem a justificativas regionais, mas à efetiva
atuação do Estado nos estágios iniciais e à disposição das empresas em
capacitação para melhoria de produtos e processos através do aprendizado por
monitoramento (learning-by-monitoring).
Porter (1998) define as estratégias para evolução dos clusters como
estando relacionadas às seguintes questões: (1) Escolha da localização: a tese de
que na economia globalizada devem-se buscar locais onde os gastos com salários,
taxas e custos operacionais são baixos é incorreta, uma vez que eles normalmente
penalizam o que é mais importante na economia global, que é a produtividade. As
atividades principais de uma empresa, como a estratégia e o desenvolvimento de
novos produtos, devem se beneficiar de locais onde existam clusters vibrantes e
atuantes; (2) Envolvimento local: mesmo em um mundo onde novas formas de
comunicação surgiram encurtando distâncias (internet, videoconferência etc.), o
relacionamento pessoal e o acesso às informações e aos recursos em um mesmo
local ainda fazem a diferença. Empresas, fornecedores e instituições localizados
em uma mesma região representam um importante valor econômico. É também
30

fundamental para as empresas, mesmo com sede em outros estados ou países,


estabelecer uma significativa presença local, auxiliando e prestando serviços à
comunidade em que está inserida e mantendo relacionamento com o governo e as
instituições locais; (3) Aperfeiçoamento do cluster: melhorias no ambiente local
de negócios trazem benefícios para todas as empresas-membro. Neste sentido, o
aperfeiçoamento do arranjo deve ser preocupação constante dos seus membros. A
competição local não deve ser temida, uma vez que a médio e longo prazo ela é
benéfica para as empresas; (4) Ações coletivas: as empresas devem investir
também em serviços públicos e não apenas buscar subsídios e favores dos
governos. Além disso, é necessário que existam associações comerciais que
representem os arranjos produtivos e que defendam as questões locais, uma vez
que atualmente a maioria das associações comerciais representa apenas as
indústrias.
Segundo Perez-Aleman (2005), o elemento central para evolução dos
clusters não são os fatores externos resultantes da proximidade geográfica e sim o
aprendizado por monitoramento (learning-by-monitoring), que se caracteriza pelo
papel das instituições na definição de metas e padrões internacionais de qualidade
e produtividade, no aprendizado individual e coletivo que gera inovação, na
constante e rigorosa avaliação dos seus membros e na ligação das empresas locais
com empresas estrangeiras. Breschi e Malerba (2005) denominam de aprendizado
coletivo o compartilhamento do conhecimento que é condicionado à existência de
normas comuns, convenções e códigos para troca e interpretação do
conhecimento.
Outra perspectiva existente na literatura para explicar a evolução dos
clusters é dada pela teoria evolucionária (NELSON, 1995), (METCALFE, 1998).
Esta teoria dá uma grande ênfase em fatores relacionados com ciência e
tecnologia. O aprendizado, comportamento e a capacidade dos agentes estão
limitados pela tecnologia, base de conhecimento e contextos institucionais nos
quais as firmas atuam. Firmas heterogêneas diante de tecnologias similares,
fazendo buscas em bases de conhecimento similares, adotando atividades de
produção similares e participando da mesma configuração institucional,
compartilham alguns comportamentos e características institucionais e
desenvolvem padrões de aprendizado, comportamento e formas organizacionais
similares (BRESCHI e MALERBA, 2005).
31

Outra importante linha de pesquisa sobre clusters de inovação está baseada


no conceito de Sistemas de Inovação (FREEMAN, 1987). Este conceito parte do
principio de que as firmas não inovam quando estão isoladas e que inovação é um
processo coletivo onde as firmas interagem tanto com outras empresas quanto
com outras organizações como universidades, centros de pesquisa, agências
governamentais e instituições financeiras (BRESCHI e MALERBA, 2005). Estes
sistemas de inovação podem ser tanto nacionais (Sistemas Nacionais de Inovação
- SNI) quanto regionais (Sistemas Regionais de Inovação - SRI) e o
relacionamento entre eles é uma importante questão a ser tratada. Os SNIs
usualmente se dedicam a definir as prioridades científicas, financiamento de
pesquisa básica e treinamento para universidades, enquanto os SRIs influenciam
nas locações. Estes papéis, no entanto, tendem a mudar com entidades privadas e
as próprias regiões assumindo investimentos em pesquisa básica e influenciando
na definição das prioridades. Os SRIs podem ser públicos (Sistema Regional de
Inovação Institucional), como acontece majoritariamente na Europa, ou privado
(Sistema Nacional de Inovação Empreendedor), como acontece com maior
freqüência nos EUA. Não é difícil concluir que este último apresenta melhores
resultados e que a política pública mais eficiente deve ser o estímulo ao
crescimento de organizações de investimento privado que tenham o lucro como o
incentivo para se tornarem mais pró-ativas do que as organizações públicas
(COOKE, 2005).
Cooke (2005) destaca a importância do capital de risco estar próximo das
empresas inovadoras. No modelo de negócios de inovação, os investidores
buscam investir em idéias com a promessa ou a esperança de retorno financeiro,
transformando “idéias, conhecimento e pesquisa em metas especulativas”. Cooke
cita o exemplo de uma empresa de venture capital (Kleiner Perkins - KP) que
construiu seu próprio cluster de firmas start-ups. Estas firmas são aconselhadas a
fazer negócios umas com as outras no melhor estilo de um keiretsu7 japonês. A
KP possuía, no ano de 1997, participação em 230 firmas que empregavam
162.000 trabalhadores. Destas 230 empresas, 59% estavam localizadas no Vale do

7
Keiretsu é um modelo empresarial onde há uma coalizão de empresas unidas por certos interesses
econômicos. Costuma ser uma estrutura baseada em duas partes, um núcleo central no qual se situa
uma organização de grande poderio econômico e um conjunto de pequenas organizações
autônomas, mas que dividem departamentos e acordos econômicos
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Keiretsu).
32

Silício a uma distância de no máximo uma hora de carro do escritório central da


KP. Cooke conclui que “não apenas a proximidade geográfica está no coração
deste modelo de organização industrial, atividades de agrupamento entre firmas
no estilo de uma família keiretsu é o racional para a melhoria no desempenho das
ações da holding”. Zook (2000) aponta a correlação altamente positiva entre
empresas de internet e os capitalistas de risco nos EUA, os quais não gostam de
estar mais de uma hora de carro dos seus investimentos porque eles precisam estar
aptos a se envolverem em atividades de gerenciamento dos empreendimentos.
O uso de conceitos da teoria de redes para a análise de clusters de
inovação tem também aparecido na literatura. Cowan (2005) utiliza modelos de
redes no contexto da inovação, onde a transmissão do conhecimento tem um papel
fundamental. Diferentemente do conhecimento codificado que pode ser difundido
globalmente, sem nenhuma referência às estruturas de conexão, o conhecimento
tácito depende fortemente da rede de agentes sobre o qual ele se espalha. Os
modelos matemáticos de rede são, portanto, um caminho promissor para entender
e analisar a dinâmica da inovação e difusão do conhecimento.
Tentar copiar a experiência de sucesso de um cluster em outro local é uma
experiência fadada ao fracasso. Bresnahan et al. (2001) ressaltam que mesmo a
fase inicial de um cluster é bem diferente da sua fase de sustentação e evolução.
Segundo estes autores, não há uma receita fixa para o surgimento e a evolução de
um cluster, apenas linhas mestras, tais como: a existência de mão-de-obra técnica
e gerencial qualificada que pode ser suprida pela presença de universidades,
treinamento realizado nas grandes empresas ou mão-de-obra estrangeira e a
habilidade para tirar vantagens de oportunidades tecnológicas e de mercado ainda
não exploradas.

2.3
A Economia do Empreendedorismo

Audretsch e Thurik (2001) analisaram a mudança de paradigma que ocorre


na economia mundial na passagem do que eles chamaram economia administrada
para a economia do empreendedorismo. Segundo estes autores, a lógica do pós-
guerra era a concentração das atividades econômicas nas mãos das grandes
empresas uma vez que eram elas que geravam eficiência (princípio básico da
33

produção em massa). As PMEs, em função do tamanho, necessariamente faziam


um uso menos eficiente dos recursos. Ao Estado cabia, então, cuidar da
quantidade e do impacto desta concentração, ou em outras palavras, encontrar
meios de restringir o poder das grandes empresas através de regulação, criação de
leis antitruste ou estatização, daí o nome “Economia Administrada”. Com a
globalização e a mudança de uma economia baseada na terra, capital e trabalho
para uma economia baseada no conhecimento, ocorrem transformações nas forças
econômicas. O surgimento de novas e pequenas empresas eficientes e inovadoras,
a desregulação, a privatização e a flexibilização das leis trabalhistas formam as
bases para uma nova economia ou “Economia do Empreendedorismo”.
Outra questão importante para o surgimento de novos empreendimentos é
a existência do capital de risco. Novas empresas surgem onde há mais facilidade
de financiamento. Os meios tradicionais de financiamento da economia
administrada, com suas exigências de garantias, não atendem às empresas
nascentes, principalmente na indústria de alta tecnologia. A disponibilidade de
investidores anjo8 e capitalistas de risco, tanto pessoas físicas quanto pessoas
jurídicas, em muito facilita a entrada em operação de novos empreendimentos.
Mesmo com o fracasso da maior parte deles, o sucesso de alguns compensa o
investimento global. O próprio comportamento das duas economias diante do
risco merece destaque: enquanto na economia administrada o fechamento de
empresas é visto como perda de recursos da sociedade, tornando
empreendimentos de alto risco algo a ser evitado, na economia do
empreendedorismo o fechamento de empresas faz parte do aprendizado na busca
por novas idéias. Outro exemplo de posições distintas é a visão a respeito da
integração européia. Enquanto na economia administrada as vantagens da
integração estão relacionadas à redução de custo e à economia de escala, a
economia do empreendedorismo vê como vantagens a geração de conhecimento e
de inovação advinda da diversidade das economias, das culturas e das instituições
dos diferentes países integrantes da comunidade européia (AUDRETSCH e
THURIK, 2001).

8
Investidores que aplicam seu próprio capital e experiência em empresas nascentes.
34

2.4
O Papel das PME`s na Nova Economia

No processo evolutivo das organizações industriais, desde a produção em


massa, passando pela produção enxuta e pela customização em massa, nunca as
PMEs tiveram um papel de destaque como nas últimas décadas. As PMEs não têm
força quando atuam de forma isolada, mas sim quando se associam formando
redes horizontais de cooperação baseadas na flexibilidade e na inovação e com
atuação em um ramo específico onde cada empresa atua em uma atividade da
cadeia de valor. Diversos nomes surgiram para esta nova forma de organização
industrial, tais como: especialização flexível, distritos industriais, redes de
cooperação, clusters e arranjos produtivos locais.
No auge da produção em massa, as PMEs tinham um papel secundário, e
as inovações estavam reservadas às grandes empresas. Audretsch e Thurik (2001)
citando Schumpeter descrevem a visão predominante da época, onde a habilidade
das grandes companhias em gerenciar o processo de inovação e mudança antecede
as oportunidades dos empreendedores em iniciar novas empresas. Com isso, a
inovação passa a ser um processo de rotina das grandes empresas, o que tenderia a
tornar a estrutura industrial estável com poucas novas firmas surgindo e poucas
desaparecendo. Isto de fato aconteceu durante os anos 20 até os anos 50, quando
em países como a Alemanha e a Grã-Bretanha houve poucas mudanças nas
empresas líderes. A partir da década de 60, a situação começa a mudar. Na Itália,
pequenas e microempresas (média de apenas 5 funcionários por empresa) criaram
associações produtivas, uniões de mão-de-obra, parques industriais e centros de
serviços coletivos que permitiram a cada pequena empresa se especializar em
uma atividade da cadeia de valor. Estes distritos industriais italianos localizados
em uma região também conhecida como “Terceira Itália” produziam malhas,
máquina especiais, telhas, têxteis, implementos agrícolas, entre outras, competiam
e muitas vezes superavam as grandes empresas já estabelecidas. Processos
semelhantes começaram a aparecer em outros países Europeus, como Alemanha,
Dinamarca e Suécia. Nos Estados Unidos, começaram a surgir novas empresas de
alta tecnologia em clusters locais como o Vale do Silício e a Rota 128. Piore e
Sabel (1984), no clássico livro “The Second Industrial Divide: Possibilities for
Prosperity”, ao analisarem os casos de sucesso dos distritos industriais italianos,
35

concluíram que um novo paradigma nas organizações industriais estava em curso,


denominando-o “Especialização Flexível”.
Para se entender com clareza o novo papel das PMEs nas organizações
industriais, é necessário abordar as mudanças que ocorreram e ainda estão
ocorrendo nas forças econômicas. A competição moderna depende da
produtividade e não mais do acesso a insumos ou a produção em escala, fatores
fundamentais da produção em massa. A alta produtividade depende do uso de
métodos sofisticados, tecnologia avançada e oferecimento de produtos e serviços
diferenciados. A revolução da microeletrônica, principalmente a partir da década
de 80, possibilitou o acesso à tecnologia pelas PMEs através da disseminação dos
microcomputadores.
Os requisitos da Nova Economia baseada no empreendedorismo
privilegiam a atuação das PMEs. Por sua atuação local, relações baseadas no
associativismo, independência, flexibilidade, cooperação e competição, as PMEs
têm tido um papel cada vez mais importante na geração de emprego e renda e no
crescimento econômico das nações nas últimas décadas. Cabe aos Governos
reconhecer estes fatos e estimular a inserção cada vez maior das PMEs nos
sistemas produtivos e inovativos locais.

2.5
Colaboração em Clusters de Inovação Tecnológica

A importância da colaboração e do aprendizado coletivo em clusters de


empresas de tecnologia é muito bem descrito por Saxenian (1994) em seu livro
Regional Advantage. Culture and Competitive in Silicon Valley and Route 128. A
autora descreve a história de dois conhecidos clusters de alta tecnologia dos
Estados Unidos: O Vale do Silício, na Califórnia, e a Rota 128 na região de
Boston. Ambos situados nas proximidades de universidades de ponta em
tecnologia (Stanford, na Califórnia, e MIT em Boston), com empresas inovadoras
e bem-sucedidas servindo como “âncoras” para o estabelecimento de novas
pequenas empresas ao redor (Intel e HP, no Vale do Silício, e DEC e Data
General no Rota 128). Ambos experimentaram um forte crescimento nos anos 60
e 70 e uma crise nos anos 80 em função respectivamente da competição japonesa
na produção de processadores e de mudanças na tecnologia com o surgimento dos
36

PCs e das workstations. Após a crise, nos anos 90, o Vale do Silício experimentou
um reflorescimento com novas start-ups de sucesso, como a Sun Microsystem,
Cisco Systems, Netscape, Yahoo, Google e Oracle, enquanto a Rota 128 entrou
em declínio. Hoje, o Vale do Silício é responsável por aproximadamente a terça
parte da exportação de eletrônicos nos Estados Unidos, enquanto na Rota 128 as
empresas “âncoras” foram vendidas e o cluster vem perdendo cada vez mais sua
importância como destino de empresas no segmento de eletrônica nos Estados
Unidos. Saxenian aponta como um dos motivos a diferença cultural existente
entre a informalidade da Califórnia e a postura mais formal e conservadora de
Boston para explicar os caminhos distintos de cada cluster. Enquanto no Vale do
Silício imperava a comunicação informal entre as empresas, o aprendizado
coletivo e a colaboração, na Rota 128 as firmas atuavam de forma independente e
isolada, mantinham uma excessiva lealdade corporativa e guardavam segredo das
suas atividades.
A disseminação dos microcomputadores possibilitou a descentralização da
informação e o aumento da produtividade e da capacidade de inovação das PMEs.
Naturalmente as próprias empresas de Tecnologia criaram alguns dos clusters
mais bem-sucedidos e vibrantes como o Silicon Valley nos EUA e o Silicon Wadi
em Israel. De fato, a própria natureza das empresas de tecnologia torna-se um
terreno fértil para o surgimento e o desenvolvimento de clusters devido aos
seguintes motivos: neste setor as mudanças são constantes e a inovação
ininterrupta, os trabalhadores são capacitados e motivados e as relações são mais
informais e com forte tendência ao associativismo. Não é por outro motivo que
inúmeros governos de países como Irlanda, Índia, Israel, Taiwan e Malásia, entre
outros, buscam criar novos “Vales do Silício” em seus territórios (BRESNAHAN
et al., 2001).
3
ECONOMIA CRIATIVA

Este capítulo introduz os conceitos encontrados na literatura para indústria


criativa, classe criativa e cidade criativa, que compõem o núcleo do que é
chamado a economia criativa. O perfil do trabalhador criativo é ilustrado através
da história de um profissional da indústria de jogos por computador da Cidade do
Rio de Janeiro. O capítulo também apresenta a cadeia da indústria criativa no
Brasil, baseado em um estudo desenvolvido pela Firjan (2008).

3.1
Indústrias Criativas

As Indústrias Criativas (IC) são o coração do que se convencionou chamar


de Economia Criativa. O termo “Indústrias Criativas” foi cunhado pela primeira
vez na Austrália em 1994, com o lançamento de um relatório denominado “Nação
Criativa” (UNCTAD, 2008), mas o início da grande exposição do termo se deu
em 1997, através de um estudo encomendado pelo Ministério de Cultura, Mídia e
Esportes do Reino Unido (UNITED KINGDOM, 1997). Não há na literatura uma
definição aceita por todos que identifique quais os setores da economia pertencem
à indústria criativa. A conceituação inicial para indústria criativa estava
relacionada estritamente às áreas cultural e artística. Apesar de muitos ainda
manterem esta visão9, principalmente nos Estados Unidos10, a conceituação mais
aceita apresenta uma visão mais abrangente para o termo, onde Economia Criativa
está baseada na interação entre economia, cultura e tecnologia. Um ponto chave
que caracteriza esta indústria é que elas produzem propriedade intelectual11 na

9
O relatório da Firjan (2008) observa que o documento da ONU de 2005 intitulado “International
flow of selected cultural goods and services, 1994-2003” se refere à indústria criativa como sendo
relacionada apenas ao setor cultural.
10
Este fato pode ser percebido no boletim da Creative Industries: Business & Employment in the
Arts, USA e no relatório The 50 City Report, Americans for the Arts,
(www.AmericansForTheArts.org), march 2008
11
A propriedade intelectual abrange duas grandes áreas: propriedade industrial (patentes, marcas,
desenho industrial, indicações geográficas e proteção de cultivares) e direito autoral (obras
literárias e artísticas, programas de computador, domínios na internet e cultura imaterial)
(FIRJAN, 2009).
38

forma de patentes, copyrights, marcas e designs proprietários. Indústrias criativas


estão envolvidas direta ou indiretamente com a exploração comercial de bens e
serviços baseados na propriedade intelectual, o que torna o capital intangível e a
proteção à propriedade intelectual questões fundamentais para o desenvolvimento
do negócio (UNCTAD, 2008).
O Ministério de Cultura, Mídia e Esportes do Reino Unido definiu
indústria criativa da seguinte forma:
“Setores que têm sua origem na criatividade, na perícia e no talento
individual e que possuem um potencial para criação de riqueza e empregos
através da geração e da exploração de propriedade intelectual”.
Esta definição engloba treze setores como pertencentes às indústrias
criativas: publicidade, arquitetura, mercado de artes e antiguidades, artesanato,
design, moda, filmagem, softwares interativos de lazer, música, artes
performáticas, editoração, serviços de computação e rádio e televisão (FIRJAN,
2008).
A classificação da UNCTAD (2008) para indústrias criativas é dividida em
quatro grandes grupos: legado, artes, mídia e criações funcionais. As atividades
inerentes a cada grupo são as seguintes:
• Legado
o Expressões culturais tradicionais (artes, festivais e celebrações).
o Sítios culturais (sítios arqueológicos, museus, bibliotecas,
exibições etc.).
• Artes
o Artes visuais (pintura, escultura, fotografia e antiguidades).
o Artes performáticas (música ao vivo, teatro, dança, ópera, circo
etc.).
• Mídia
o Publicações e mídia impressa (livros, jornais e demais
publicações).
o Audiovisual (filmes, televisão, rádio e outros meios de
transmissão).
• Criações funcionais
o Design (interiores, gráfico, moda, jóias e brinquedos).
39

o Novas mídias (software, videogame e conteúdos criativos


digitalizados).
o Serviços criativos (arquitetura, propaganda, cultura e recreação,
pesquisa e desenvolvimento criativo e outros relacionados).
O termo “Economia Criativa“ busca colocar o papel da criatividade como
uma força na economia contemporânea através da proposição de que o
desenvolvimento econômico e cultural são fenômenos inter-relacionados. Florida
(2002) vai além ao considerar que estamos vivendo o limiar de um novo período
econômico denominado “Era da Criatividade”, o quinto período de transição após
a agricultura organizada, a era do comércio e da especialização, o capitalismo
industrial e a era organizacional. Segundo Howkins (2001), “criatividade não é
novidade e tampouco economia, a novidade é a natureza e a extensão do
relacionamento entre elas e como elas se combinam para criar valor e riqueza
extraordinários”. As indústrias criativas que utilizam estes recursos não apenas
possibilitam que os países desenvolvam suas identidades culturais como também
contribuem para o crescimento econômico, para a criação de empregos e para
maior inserção dos países na economia global (UNCTAD, 2008).

3.2
Classe Criativa

Florida (2002) define Economia Criativa não em termos de indústria, mas


em termos de ocupação com o foco em recursos humanos, através de sua mão-de-
obra multidisciplinar por ele denominada de classe criativa. Segundo Florida, a
questão principal não está relacionada com tecnologia ou com o papel dos
governos ou com gerenciamento, mas sim com as pessoas, suas dinâmicas e
padrões emergentes de relacionamento.
A classe criativa engloba toda e qualquer atividade que adicione valor
econômico através da criatividade, sendo composta por cientistas, engenheiros,
matemáticos, arquitetos, educadores, músicos, profissionais de arte, design e
entretenimento, além de profissionais criativos de negócios, finanças e direito.
Segundo Florida, os trabalhadores que compõem a classe criativa compartilham
um etos comum que valoriza a criatividade, a individualidade, a diversidade e a
meritocracia. Eles muitas vezes trabalham em suas horas de lazer e se divertem
40

em horas que supostamente deveriam estar trabalhando. Isto porque, nas palavras
deste autor, “criatividade não pode ser ligada ou desligada em períodos pré-
determinados, sendo em si uma mistura de trabalho e diversão. Escrever livros,
produzir uma obra de arte ou desenvolver um novo software requerem longos
períodos de intensa concentração, pontuados por necessidades de relaxar, incubar
idéias e recarregar. Isto também acontece ao se projetar uma nova campanha de
marketing ou uma estratégia de investimento”. Outra característica desta classe de
trabalhadores é a automotivação, que os fazem estar sempre estudando e se
aprimorando por conta própria, e o fato de considerarem o desafio e a
flexibilidade no trabalho como fatores mais importantes na busca de um emprego
do que o salário. O destaque a seguir mostra a história de um típico representante
desta nova classe criativa.
41

Um típico representante da Classe Criativa

Mário de Almeida Azevedo Junior, carioca, 28 anos, programador visual, começou a


jogar videogame com quatro anos de idade e desde então não parou mais. Mário é um
aficcionado por jogos e conhece quase tudo que já foi lançado. Até os dias de hoje,
joga videogames todos os dias. Mesmo chegando tarde da noite em sua casa, escolhe
algum game para jogar no seu computador ou em sua TV conectada a um computador.
Grande parte de seu tempo livre é utilizado para jogar ou se informar sobre os novos
jogos que aparecem no mercado. Mário é atualmente o primeiro do ranking mundial em
mais de dez jogos na modalidade time attack, que significa o melhor desempenho ou o
caminho mais rápido para atingir o objetivo do jogo.
O sonho de Mário sempre foi trabalhar no desenvolvimento de jogos. Após completar a
graduação, recusou uma proposta de emprego na empresa em que era estagiário para se
juntar a um grupo que tinha o objetivo de desenvolver um game na Cidade do Rio de
Janeiro. Em função da inexperiência da equipe principalmente nas questões de TI e de
mercado, o grupo levou cinco anos para concluir o desenvolvimento do primeiro
produto. Mário passou quatro anos e meio desenvolvendo os personagens e as
animações do jogo sem receber remuneração alguma, ficando em troca com uma
participação nos resultados caso o game consiga emplacar. Apesar do sacrifício
financeiro, do alto risco de retorno e do enorme atraso para o lançamento do produto,
Mário não se arrepende da opção escolhida. Ele não consegue se imaginar trabalhando
em outra atividade que não seja o desenvolvimento de jogos e aquele grupo era a única
opção que ele tinha naquele momento para realizar seu sonho. Na opinião de Mário,
trabalho e lazer se confundem uma vez que para se trabalhar na produção de jogos é
muito importante que o profissional goste muito de jogar e tenha grande experiência
como usuário em diferentes tipos de jogos.

Destaque 1 - Entrevista concedida para o autor em 3 de dezembro de 2008.


42

3.3
Cidades Criativas

A idéia de Economia Criativa também tem sido aplicada especificamente


para a economia das cidades levando ao surgimento do conceito de “cidades
criativas” (UNCTAD, 2008) (LANDRY, 2000). Segundo o relatório de economia
criativa das Nações Unidas (UNCTAD, 2008), cidades criativas são complexos
urbanos onde atividades culturais de vários tipos são componentes integrais do
funcionamento econômico e social da cidade. Estas cidades tendem a se
desenvolver com base em uma forte infra-estrutura social e cultural, ter uma alta
concentração de empregados criativos e ser atrativa para investimentos internos
devido a uma bem estabelecida rede de facilidades na área cultural.
Florida (2002) sustenta que a economia está mudando de um sistema
centrado nas corporações para um sistema centrado nas pessoas e, portanto, as
companhias agora se mudam para onde estão as pessoas e não o contrário. Com
isso, as cidades precisam saber atrair e reter estas pessoas - a classe criativa - e é a
existência desta classe que atrairá as empresas. Segundo este autor, as cidades
bem-sucedidas na nova economia são também as que têm a maior diversidade, as
mais tolerantes e as mais boêmias. Para Florida, as cidades que estão investindo
fortemente em alta tecnologia buscando copiar o modelo do Silicon Valley, mas
não estão provendo um ambiente cultural diverso na região, não terão sucesso no
longo prazo, uma vez que a classe criativa preza muito a qualidade do lugar, ou
seja, uma cidade que possa oferecer um estilo de vida estimulante e criativo. Um
exemplo disto é descrito por Henkel (2002) ao relatar o significativo aumento no
número de profissionais da indústria do audiovisual que se mudaram para a região
Northen Rivers na Austrália principalmente em função do estilo de vida e das
opções culturais existentes naquela região.
Segundo Landry (2000), a criatividade está substituindo a localização, os
recursos naturais e o acesso a mercado como elemento principal para o dinamismo
urbano. O recurso principal, portanto, são as pessoas. Para Landry, diferentemente
de Florida e sua visão de classe criativa, nas cidades criativas não apenas aqueles
envolvidos com a economia criativa é que são criativos. Pessoas comuns também
podem fazer coisas extraordinárias acontecerem e se, por exemplo, cada um
pudesse ser cinco por cento mais imaginativo no que faz, o impacto seria enorme.
43

Ainda segundo Landry, a criatividade pode vir de qualquer pessoa que aborde
assuntos de uma maneira inventiva, podendo vir tanto de um homem de negócios
como de um cientista ou de um servente. Isto implica que em uma cidade criativa,
a burocracia, os indivíduos, as organizações, escolas, universidades etc. são
encorajados a usar criatividade e imaginação em qualquer esfera (pública, privada
ou comunitária).
Outro ponto que demonstra a importância do tema é a tentativa de tornar
tangível o que as pessoas sentem pelas cidades. Com o objetivo de registrar as
emoções que as cidades despertam nas pessoas, o designer britânico Christian
Nold idealizou uma série de “mapas emocionais” para algumas cidades ao redor
do mundo que se constituem nas respostas instintivas de um grupo de pessoas
enquanto passeiam por diversos lugares de cada cidade (RAWSTHORN, 2008).
Há inúmeras cidades no mundo atualmente que desejam ser conhecidas
como cidades criativas. Algumas, tais como Londres, Manchester, Toronto,
Osaka, entre outras, se auto proclamam cidades criativas. A ONU patrocina desde
1994, através da UNESCO, a “Creative Cities Network”, rede internacional
projetada para promover o desenvolvimento social, econômico e cultural de
cidades tanto no mundo desenvolvido quanto em desenvolvimento. Para participar
da rede, as cidades devem procurar promover a cena criativa local,
compartilhando o interesse da UNESCO na diversidade cultural (FIRJAN, 2008).
As cidades criativas são selecionadas por temas, tais como: literatura, música,
design, arte popular e gastronomia. O resultado desta seleção publicada no
relatório de Economia Criativa da UNCTAD (2008) encontra-se na tabela 1.

Tabela 1 - Rede de Cidades Criativas segundo a UNESCO

CIDADE PAÍS TEMA


Edimburgo Escócia Cidade da Literatura
Bolonha Itália Cidade da Música
Sevilha Espanha Cidade da Música
Buenos Aires Argentina Cidade do Design
Montreal Canadá Cidade do Design
Berlin Alemanha Cidade do Design
Santa Fe, Novo Mexico Estados Unidos Cidade da Arte Popular
Aswan Egito Cidade da Arte Popular
Popayan Colômbia Cidade da Gastronomia

Fonte: UNESCO (apud) UNCTAD, 2008


44

3.4
A Indústria Criativa no Brasil

A divisão de Estudos Econômicos da Firjan (2008) elaborou o relatório “A


Cadeia da Indústria Criativa no Brasil” abordando de forma pioneira o tema da
cadeia da IC no Brasil e, em particular, no Estado do Rio de Janeiro. Este relatório
divide a cadeia produtiva em três grandes áreas:
• Núcleo criativo: Composto por doze segmentos que seguiram basicamente
os mesmos critérios do estudo britânico descrito no item 3.1. São eles:
Expressões Culturais, Artes Cênicas, Artes Visuais, Música, Filme &
Vídeo, TV & Rádio, Mercado Editorial, Software & Computação,
Arquitetura, Design, Moda e Publicidade.
• Áreas relacionadas: Composto por indústrias e empresas de serviços que
fornecem diretamente para o núcleo bens e serviços e que são
fundamentais ao funcionamento do mesmo.
• Apoio: Responsável pela provisão de bens e serviços de forma indireta.
Para exemplificar o funcionamento da cadeia, na atividade produção
musical a criação musical faz parte do núcleo, a fabricação dos instrumentos e a
gravação fazem parte da indústria relacionada e a comercialização do CD
corresponde à atividade de apoio (FIRJAN, 2008). A partir da classificação
nacional de atividades econômicas (CNAE 2.0) do IBGE, o estudo da Firjan
identificou de um universo de 673 classificações econômicas, 185 categorias
associadas às atividades criativas, separadas pelas esferas de núcleo, atividades
relacionadas e apoio. A partir desta classificação e de posse dos dados da Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS) do ano de 2006 do Ministério do Trabalho
e Emprego, o estudo levantou o número de trabalhadores, a renda do trabalho e o
número de estabelecimentos para cada uma das três esferas da cadeia da indústria
criativa e estimou a participação econômica da cadeia da IC no PIB nacional e no
PIB fluminense. As conclusões mais importantes deste relatório, para os
propósitos desta pesquisa, são as seguintes:
• O número de trabalhadores envolvidos na cadeia produtiva da IC no Brasil
representa 21,8% do número total de trabalhadores formais do país, sendo
que 1,82% do total de trabalhadores atua nas atividades do núcleo criativo.
45

No Rio de Janeiro 23,1% dos trabalhadores formais do Estado estão


envolvidos na cadeia produtiva e 2,44% do total correspondem ao número
de trabalhadores do núcleo criativo, sendo este o maior percentual de
trabalhadores no núcleo criativo entre as unidades da federação.
• A renda por trabalhador no núcleo criativo no Brasil em 2006 foi de R$
1.660,00, bem superior à média dos trabalhadores formais no país, que foi
de R$ 1.170,00, o que comprova o alto valor agregado das atividades da
IC. No Rio de Janeiro a renda média do núcleo foi de R$ 2.182,00, 64%
maior que a média fluminense. Também neste quesito, o Estado do Rio de
Janeiro apresentou a maior remuneração para os trabalhadores do núcleo
criativo entre os Estados da federação.
• De um total de 52.300 empresas que atuavam no núcleo da cadeia criativa
nacional em 2006, 87,6% empregavam menos de 20 pessoas, o que
evidencia a forte predominância das micro e pequenas empresas neste
setor. No Rio de Janeiro esta percentagem é de 85,5% das firmas do
Estado. São dados fundamentais que devem ser levados em consideração
principalmente para o estabelecimento de políticas públicas de apoio às
ICs.
• A maior parcela da indústria criativa nacional é representada pelos setores
de Arquitetura, Moda e Design. Juntos eles representaram 82,8% do
mercado de trabalhos nas três áreas (núcleo criativo, atividades
relacionadas e de apoio), 82,5% dos estabelecimentos e 73,9% da massa
salarial. A cadeia criativa no Estado do Rio de Janeiro mantém o padrão
nacional ao apontar estes três setores como os que detêm o maior número
de estabelecimentos e postos de trabalho. No item renda por trabalhador,
contudo, destacam-se os setores de televisão, artes visuais e software,
principalmente em função da presença de grandes emissoras e produtoras
na Cidade do Rio de Janeiro. Este dado confirma o alto valor agregado das
atividades relacionadas com a megamídia no Estado e, mais
especificamente, na Cidade do Rio de Janeiro.
• A participação de toda a cadeia criativa no PIB brasileiro em 2006 foi de
16,4%, sendo que 2,59% do PIB corresponderam ao núcleo criativo. No
Rio de Janeiro, estimativas apontam para uma participação de 17,8% da
46

cadeia da IC no PIB fluminense de 2006, sendo que o núcleo respondeu


por 4,0% deste PIB, o maior percentual entre os Estados da federação.

Os dados apresentados no relatório da Firjan permitem concluir que o


Estado do Rio de Janeiro possui um papel de destaque na cadeia produtiva das ICs
em comparação com os demais Estados da Federação, principalmente em função
da atuação das empresas da Cidade do Rio de Janeiro. Este tema voltará a ser
tratado no Capítulo seis deste trabalho.
4
INDÚSTRIAS CRIATIVAS DE BASE TECNOLÓGICA

Conforme já mencionado no capítulo anterior, o termo indústria criativa


era usado inicialmente para atividades relacionadas apenas com os setores cultural
e artístico. A inclusão de empresas de tecnologia como parte das indústrias
criativas é relativamente recente. Neste capítulo procuramos mostrar que
determinados setores da indústria de tecnologia, além das questões inerentes as
TICs, possuem características típicas de uma indústria criativa. Este tipo de
indústria, que denominamos de Indústria Criativa de Base Tecnológica (ICBT),
possui características próprias e um enorme potencial de crescimento, o que
justifica uma análise em separado.
Este capítulo apresenta, portanto, a nossa definição para ICBT, delimita o
escopo e a abrangência da definição, apresenta as principais características desta
indústria e faz uma análise da cadeia produtiva das ICBTs. Por último, apresenta o
conceito de ambiente criativo para análise da ICBT.

4.1
Definição

Não encontramos na literatura uma descrição de ICBT na forma que


estamos propondo neste trabalho. O relatório das Nações Unidas sobre economia
criativa (UNCTAD, 2008), que divide a indústria criativa em quatro grandes
grupos (legado, artes, mídia e criações funcionais), apenas define, dentro do grupo
criações funcionais, um subgrupo denominado “novas mídias” para tratar das
atividades do gênero, o que, em nossa opinião, restringe e não dá a verdadeira
dimensão para esta nova indústria. Na literatura relacionada com a indústria de
TIC, autores como Maney (1995) e Feijó e Badaró (2006) utilizam o termo
“megamídia” para tratar de uma nova indústria resultante da convergência entre as
indústrias de comunicação, tecnologia da informação, computação e
entretenimento digital. Feijó e Badaró vão além ao colocar a megamídia como
parte de um macrosetor de visualização que “tende a ser um paradigma pós-
48

internet de maior impacto do que foi a TV nos anos 50 e a internet na década de


90”. Apesar de destacarem a importância e as grandes mudanças trazidas pela
indústria da megamídia, eles não levam em consideração o novo ambiente de
negócios e a nova classe de trabalhadores da Economia Criativa discutidos no
capítulo anterior.
Com o intuito de tratar de uma forma mais abrangente a indústria de novas
mídias ou megamídia, optamos, portanto, pela denominação Indústria Criativa de
Base Tecnológica (ICBT). Esta indústria pode ser representada como a
intersecção entre o conjunto de produtores de conteúdo – que pertencem as ICs - e
as empresas de tecnologia, informação e comunicação (TICs). A figura 2 mostra
graficamente este conceito. A intersecção entre as TICs e as ICs são
representadas pelas indústrias criativas suportadas pela tecnologia. Deste
conjunto, a parte maior e mais importante está relacionada com a produção de
conteúdo digital. Este subconjunto, portanto, representado pela intersecção entre
as TICs, as ICs e os produtores de conteúdo, é que estamos chamando de ICBT,
tema central desta tese.

Figura 2 – Indústrias Criativas de Base Tecnológica


Fonte: Elaborado pelo autor
49

Para defini-la partimos da descrição do Ministério de Cultura, Mídia e


Esportes do Reino Unido para indústrias criativas, descrita no item 3.1, tornando-a
mais específica para o tipo de indústria que desejamos tratar. Nossa definição é a
seguinte:

Indústrias criativas de base tecnológica surgiram a partir das novas


oportunidades geradas pela convergência digital. São indústrias
ambientalmente limpas que têm sua origem na criatividade e no
talento de uma mão-de-obra qualificada e multidisciplinar e que
preconizam a inovação tecnológica e a diferenciação para a produção
de conteúdo digital. Possuem potencial para criação de riquezas e
empregos através de atividades de alto valor agregado que
possibilitam a geração e a exploração da propriedade intelectual.

As ICBTs estão associadas a uma explosão de tecnologias produzidas nos


últimos anos, sendo as atividades de visualização digital o mais importante vetor
desta nova indústria. Dentro desta linha, encontramos inúmeros conceitos
inovadores que se tornaram ou vêm se tornando realidade, tais como supervias de
informação, TVs com 500 canais, TV digital de alta definição, telemedicina,
educação à distância, hipermídia, entretenimento sob demanda, realidade virtual
imersiva incluindo visualização para as áreas de petróleo e gás, defesa, jogos on-
line, etc. (FEIJÓ, 2003). Diferentemente da definição do Ministério de Cultura,
Mídia e Esportes do Reino Unido que enumera quais os setores pertencem às ICs,
nossa definição para ICBT considera que qualquer setor que se utilize de
conteúdos criativos digitais para suas atividades faz parte desta indústria.

4.2
Escopo e Abrangência

Para melhor diferenciar indústrias criativas (IC) e indústrias criativas de


base tecnológica (ICBT), tomemos como exemplo o setor audiovisual. A
produção de uma novela é certamente produto de uma IC, mas não
necessariamente de uma ICBT, mesmo que o produto final seja digital e diversas
50

tecnologias tenham sido usadas durante a produção (edição das imagens feita por
computador etc.). A participação de uma ICBT em uma produção audiovisual só
acontece quando o produto gerado for diretamente relacionado com o conteúdo e
cuja propriedade intelectual possa ser explorada comercialmente. Por exemplo, o
uso de cenários ou atores virtuais criados com a utilização intensiva de
computação gráfica caracterizam o produto de uma ICBT, como o que ocorreu nas
cenas de batalha da mini-série de 2003 “A Casa das 7 Mulheres”, da TV Globo.
Na indústria do cinema, a participação das ICBT na produção é mais antiga e bem
mais comum (filmes como Shrek, Formiguinha Z, Vida de Inseto, Procurando
Nemo, Madagascar etc.). A produção de conteúdo criativo digital tende a ser cada
vez mais freqüente no setor de audiovisual de uma maneira geral (broadcast para
TV por assinatura e aberta, cinema, TV Digital e internet), sendo um dos
mercados mais promissores para as ICBTs. TSchang e Goldstein (2004) observam
a explosão na demanda por produtos da indústria de animação, uma típica
representante das ICBTs. Os seriados de animação, antes voltados
especificamente para crianças, hoje são produzidos para toda a família. Alguns
jogos para computador bem-sucedidos como Pokemon e Detetive Conan
romperam barreiras e se tornaram produções para TV. Segundo estes autores, a
receita global de animação (incluindo vídeo games, filmes e produções para TV)
prevista para 2008 é de US$ 142 bilhões12. Esta crescente demanda pela nova
mídia pode ser observada também nos demais setores de atuação das ICBTs como
educação a distância, comunicação, medicina etc.
Para entendermos a influência cada vez maior da megamídia nas ICs,
analisaremos a evolução do setor de Educação a Distância (EAD). Até
aproximadamente três décadas atrás, EAD significava o envio de apostilas e
provas pelo correio para os alunos. Através do suporte da Tecnologia de
Informação surge o e-learning, um tipo de EAD que utiliza o computador como
ferramenta e o material educacional distribuído em CD-Roms. Com a
popularização da internet, os cursos de e-learning passam a ser disponibilizados,
na grande maioria dos casos, na rede mundial. Hoje em dia, disponibilizar o
conteúdo dos cursos utilizando apenas textos e imagens já não é suficiente. Há

12
O mercado mundial de games em 2003 foi de US$ 22,3 bilhões. Incluindo o gasto com hardware
e acessórios utilizados para se jogar games, o dispêndio ficou próximo de US$ 50 bilhões
(SOFTEX, 2005b).
51

uma crescente demanda por conteúdos para e-learning que tenham interatividade,
ambientes 3D interativos, simulações e animações em tempo real. A produção
deste tipo de conteúdo exige uma equipe multidisciplinar, criativa e que faça uso
de tecnologias de informação de última geração, isto é, um produto típico para
uma ICBT. Assim como no setor de audiovisual, a demanda pela utilização da
megamídia nas aplicações de EAD tende a ter um crescimento exponencial. Veja
a seguir o destaque para um exemplo de uma ICBT do setor de educação.
52

Atuação de uma ICBT no setor educacional

A P3D é uma empresa paulista fundada em 2000 que desenvolve softwares


educacionais utilizando ambientes tridimensionais e realidade virtual. Através de
um telão touch screen denominado lousa eletrônica, que pode ser acionada com o
dedo ou com um dispositivo similar a uma caneta, o professor pode, por exemplo,
mostrar o esqueleto humano em três dimensões, girando a figura no telão, dando
zoom, escrevendo observações e destacando pontos importantes ou explicar o olho
humano mostrando-o por fora e fazendo cortes para exibir as estruturas internas,
tudo isso em tempo real. A empresa foi fundada por Mervyn Lowe, que é
graduado em Economia e Artes Plásticas, e esteve incubada no Centro Incubador
de Empresas Tecnológicas da USP (CIETEC). Os softwares são desenvolvidos de
forma semelhante a um game, de tal maneira que o professor pode navegar da
forma que achar mais conveniente. O sistema já dispõe de conteúdo educacional
para biologia, geografia e química e o de física está sendo elaborado. O material é
atualizado a cada quatro meses por professores da USP (GESTÂO, 2008). A
empresa, que já exporta para Portugal, Espanha, Inglaterra, Finlândia, EUA e
Índia, conquistou em 2006 prêmios internacionais de inovação em educação na
Espanha e na Suíça e o segundo lugar do prêmio Finep nacional na categoria
pequena empresa (SEBRAE, 2007). Para desenvolver seus produtos, a empresa
recebeu subvenção econômica dos principais organismos de fomento à pesquisa
no país como a FINEP e a FAPESP.
A P3D é um exemplo bem-sucedido de uma ICBT do setor de educação que
começou em uma incubadora ligada a uma universidade e que teve apoio dos
organismos de fomento através dos programas de subvenção econômica.
Demonstra também que há um grande mercado potencial que se abre para as
ICBTs com chances concretas de inserção no mercado global através produtos de
alto valor agregado.
No Rio de Janeiro, a empresa Nigraph Tecnologia iniciou em 2008 o
desenvolvimento de um sistema de autoria para criação de apresentações em
ambiente 3D interativo para EAD com auxílio da FAPERJ através do programa
de apoio à inovação tecnológica no Estado do Rio de Janeiro.

Destaque 2 – Atuação de uma ICBT no Setor Educacional.


53

4.3
Principais Características

As características principais de uma ICBT são a convergência,


representada pela fusão de técnicas, interesses e mercados de quatro indústrias:
comunicação, tecnologia da informação, computação e entretenimento; e a
flexibilidade, necessária para possibilitar a rápida adaptação às novidades e
alterações no meio tecnológico (FEIJÓ e BADARÓ, 2006).
As TICs têm um papel importante na cadeia de valor das ICBTs, atuando
em diferentes níveis. O conceito chave destas transformações é a convergência
digital, que pode ser de três tipos (UNCTAD, 2008):
• Convergência tecnológica: Fusão de tecnologias utilizadas para a produção
das mídias, tais como filmes, televisão, música e jogos.
• Convergência da mídia: Permite aos usuários consumir diferentes mídias
ao mesmo tempo, a partir de um mesmo dispositivo como um computador
pessoal ou um telefone celular.
• Convergência de acesso: Toda a produção e distribuição da mídia e os
serviços estão passando por um processo de re-engenharia para trabalhar
em uma plataforma de rede distribuída, isto é, tudo está se tornando
disponível na internet com acesso a qualquer hora e de qualquer lugar.
Esta convergência digital possibilitou a criação de novos modelos de
negócio principalmente em relação à distribuição. O ponto principal reside no fato
de que no sistema de distribuição analógico a reprodução leva à degradação do
produto que aumenta com o número de cópias. Na era digital a reprodução pode
ser infinita, não há perdas em relação ao original e não há custo extra por item
copiado. A lógica da economia de escala, que exige a concentração da produção
em poucos produtos para reduzir os custos, não é mais válida na Era Digital.
Produtores e consumidores passam a ter a possibilidade de contato direto, o que
abre espaço para pequenos produtores que antes não tinham acesso aos mercados.
Com os custos de armazenamento e distribuição para produtos digitais
extremamente baixos, as opções disponíveis aumentam enormemente e pequenos
nichos de mercado específicos passam a ser atendidos, no que passou a ser
54

chamado modelo de negócios de Cauda Longa13 (ANDERSON, 2006). A grande


questão é o desafio que estas atividades trazem para a governança e como a
propriedade intelectual deve ser usada e regulada, uma vez que isto implica
grandes investimentos em infra-estrutura (UNCTAD, 2008).
As indústrias criativas de base tecnológica englobam principalmente os
setores de software, entretenimento digital e conteúdo multimídia, além de
serviços de computação e telecomunicação.
Se utilizarmos a classificação de indústrias criativas da UNCTAD (2008)
descrita na seção 3.1, o subgrupo que mais se aproxima do conceito de indústrias
criativas de base tecnológica a que estamos nos referindo é o de novas mídias que
faz parte do grupo criações funcionais. Também parte dos subgrupos audiovisual
e serviços criativos se enquadraria em nossa definição. Analisaremos a seguir
dados relativos ao mercado de novas mídias.
O crescimento do mercado global de novas mídias nos últimos anos tem
sido considerável. Segundo o relatório sobre economia criativa das nações unidas
(UNCTAD, 2008), as exportações mundiais neste setor quase dobraram no
período de 1996 até 2005, tendo apresentado um crescimento mais forte a partir
do ano 2000 com taxas de aproximadamente 10% ao ano. O segmento de vídeo
games foi um dos mais dinâmicos no setor de novas mídias, com um crescimento
de 130% nas exportações no mesmo período. A Figura 3 mostra a exportação de
novas mídias por segmento da economia mundial nos anos de 1996 e 2005. Um
fato importante que merece atenção é o crescimento das exportações neste setor
dos países em desenvolvimento e em transição14 em comparação com as
economias desenvolvidas. Em um período de 10 anos, a participação dos países
desenvolvidos no mercado global para este setor caiu de 87% para 54%, ao passo
que a participação dos países em desenvolvimento cresceu de aproximadamente
20% para 46%. As taxas de crescimento das exportações nas economias em

13
Termo utilizado na Estatística para identificar distribuições de dados da curva de Pareto, onde o
volume de dados é classificado de forma decrescente. Na Nova Economia este raciocínio é
particularmente utilizado no caso de produtos digitas. Por exemplo, no site da Amazon é possível
encontrar não apenas livros que são procurados por milhares de consumidores mas também livros
que são procurados apenas pontualmente por nichos pequenos de consumidores. Ao contrário do
que acontece numa livraria real, os custos associados à manutenção em exposição de produtos
muito pouco procurados são iguais, da mesma forma que ocorre com o ITunes em relação as lojas
físicas de cd´s (SITE 2).
14
Ver Anexo I para relação de países com economias desenvolvidas, em desenvolvimento e em
transição.
55

desenvolvimento e em transição tiveram um expressivo crescimento,


principalmente a partir do ano 2000 até 2005 (33,5% e 94,8%, respectivamente),
enquanto que nas economias desenvolvidas o crescimento foi de apenas 0,5%,
conforme mostra a Figura 4. A China aparece como destaque com um
crescimento de 60% no período de 2000 a 2005.

14000

12000

10000

8000
1996
6000 2005

4000

2000

0
Economias Economias em Economias em Total no mundo
desenvolvidas desenvolvimento transição

Figura 3 - Exportação de novas mídias, 1996-2005 (em US$ bilhões).


Fonte: UNCTAD (2008)
56

100 94,8

90

80

70

60

50

40 33,5

30

20
10
10
0,5
0
Economias Economias em Economias em Mundo
desenvolvidas desenvolvimento transição

Figura 4 - Taxa de crescimento (%) das exportações de novas mídias, 2000-


2005.
Fonte: UNCTAD (2008)

Estes dados reforçam a tese da importância das ICBTs, como o setor de


novas mídias, para os países emergentes que buscam a inserção de seus produtos e
serviços nos principais mercados do mundo.
Outro setor diretamente relacionado com esta indústria é a TV Digital.
Muito mais importante do que os padrões de TV Digital (europeu, japonês,
americano ou chinês) é a questão da produção do conteúdo, que envolve tanto a
produção audiovisual quanto o desenvolvimento de software. A produção de
conteúdo digital é o elo mais importante da cadeia produtiva e onde se encontram
as maiores oportunidades de desenvolvimento para países emergentes como o
Brasil. Segundo Feijó e Badaró (2006), a criação do conteúdo para a TV digital
associada à necessidade de regionalização é, portanto, estratégica tanto para o
governo quanto para as empresas, uma vez que vai além da indústria do
entretenimento, envolvendo defesa, jogos digitais, petróleo, saúde e educação.
57

4.4
A Cadeia Produtiva das ICBTs

As ICBTs estão diretamente relacionadas à produção de conteúdo e


simulação digitais. Em função disso, autores como Feijó e Badaró (2006) utilizam
o termo “macrosetor de visualização” para classificar este tipo de indústria.
Segundo estes autores, visualização é a simulação visual de processos e ambientes
com uma base tecnológica comum a vários setores estratégicos. Em outras
palavras, a mesma tecnologia e os mesmos processos de produção de conteúdo
podem ser usados, por exemplo, no cinema, na televisão, na defesa e em
videogames. Em função disso, a cadeia produtiva do macrosetor de visualização
afeta o processo de trabalho e a maneira como as pessoas se relacionam, se
educam, cuidam da saúde e se divertem, sempre que a simulação digital for o
ponto focal destes processos.
Ainda segundo estes autores, o mercado e os negócios em visualização
estão nos seguintes setores:
• Broadcast e Cinema e TV digital;
• Defesa;
• Petróleo, Gás e Energia;
• Games;
• Turismo;
• Telemedicina;
• Monitoramento Social;
• Educação a Distância (EAD);
• Agronegócio;
• CAD/CAM;
• Geoprocessamento;
• Comunicação.

A Figura 5 apresenta a cadeia produtiva das ICBTs e os principais


processos envolvidos. Hardware, software, capacitação, financiamento e jurídico
são os requisitos de entrada necessários aos três processos principais da cadeia -
Produção, Distribuição e Exibição. Hardware representa os equipamentos,
58

computadores e dispositivos de entrada e saída. Software representa tanto os


programas desenvolvidos sob demanda quanto os produtos já prontos também
conhecidos como produtos de prateleira. Capacitação envolve a educação de nível
superior (graduação, mestrado e doutorado), nível técnico, profissionalizante e os
treinamentos corporativos. Financiamento envolve desde aqueles utilizados na
criação e desenvolvimento de novas empresas (incubadoras, investidores anjo,
capital semente, capital de risco e private equity), passando pelos recursos de
apoio à inovação (recursos públicos reembolsáveis e não-reembolsáveis) até os
tradicionais financiamentos bancários. Jurídico inclui tanto questões envolvendo
propriedade intelectual quanto as relações contratuais de financiamento e acordos
comerciais e técnicos entre os participantes da cadeia.
Diferentemente dos requisitos de entrada, os elementos de saída são
específicos para cada processo. Uma das características principais da cadeia é a
convergência digital. Ela possibilita ao cidadão, a partir de uma mesma ferramenta
assistir TV ou a um filme de sua preferência, fazer compras, se educar, se divertir,
se comunicar e solicitar serviços em geral a qualquer hora e de qualquer lugar.
59

Figura 5 - Cadeia Produtiva das indústrias criativas de base tecnológia.


Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado do original do VisionLab, PUC-Rio.

Esta tese tem como foco o processo Produção da cadeia produtiva, que é
onde se encontram as áreas de atuação específicas das ICBTs. É no processo de
Produção que se realizam os desenvolvimentos de conteúdo digital representado
pelos softwares e pelas peças audiovisuais que serão distribuídos e exibidos pelos
demais componentes da cadeia. A Figura 6 mostra os subprocessos da Produção –
pré-produção, produção e pós-produção. Cada subprocesso é composto por
diversas atividades. Os conjuntos de atividades dos três subprocessos representam
as atividades principais das ICBTs. Estas atividades podem ser executadas por
diferentes empresas ou por diferentes setores dentro de uma mesma empresa. A
60

análise destas atividades confirma o caráter multidisciplinar da equipe de


produção que deve conter tanto trabalhadores tradicionalmente conhecidos como
criativos - artistas, músicos, roteiristas e designers – quanto trabalhadores da
informação - programadores de computador, engenheiros e técnicos. Eles fazem
parte da classe de trabalhadores criativos.

Figura 6 – Subprocessos e as atividades principais dentro do processo Produção


da cadeia produtiva das ICBTs.
Fonte: Elaborado pelo autor.

4.5
O Ambiente Criativo

No capítulo 3 descrevemos a importância de atributos como


tolerância, vida cultural ativa, diversidade e belezas naturais para atrair a classe
criativa, conforme proposto por autores como Florida (2002), Henkel (2002) e
Rawsthorn (2008). Propomos aqui a conceituação de um novo fator que deve ser
considerado para o sucesso, não apenas da ICBT, mas também da indústria de alta
tecnologia de uma forma geral. Chamamos este fator de ambiente criativo. O
ambiente criativo leva em consideração a diversidade das opções culturais, o
estilo de vida, as relações pessoais (mais ou menos informais), o comportamento
social dos habitantes e as belezas naturais do local. Locais onde o ambiente
criativo é mais propício não só atraem a classe criativa, mas, principalmente,
61

facilitam a transmissão de idéias e conhecimentos através da maior comunicação e


colaboração informal que estimulam o aprendizado coletivo.
Nossa definição para ambiente criativo é, portanto, a seguinte:
Ambiente Criativo é o ambiente social e cultural que envolve as
pessoas e suas relações com o local em que vivem e que facilita a transmissão
de conhecimentos através da colaboração informal e estimula o
desenvolvimento de atividades criativas.
Utilizaremos esta definição de ambiente criativo nos capítulos finais desta
tese para analisar o desenvolvimento da ICBT na Cidade do Rio de Janeiro e para
determinar os fatores determinantes de sucesso das ICBTs.
5
A EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL DE CLUSTERS E
PARQUES TECNOLÓGICOS

Neste capítulo é feita uma análise da experiência internacional de alguns


clusters e parques tecnológicos, com o objetivo de se identificar os mecanismos e
as instituições mais importantes para um cluster crescer e se desenvolver. Para
que se possa fazer uma análise comparativa, é necessário definir uma tipologia.
Em função disso, o capítulo se inicia com uma rápida análise de algumas
tipologias encontradas na literatura, para depois definir uma tipologia própria. A
tipologia adotada é então utilizada para avaliar dez clusters e parques tecnológicos
da Europa, Ásia e Estados Unidos, além do pólo de visualização do Rio de
Janeiro, incluindo exemplos tanto de países desenvolvidos quanto de países
emergentes. Como não há clusters e parques que atuam especificamente na área
de megamídia, foram selecionados casos da indústria de TICs que atuam tanto na
prestação de serviços quanto no desenvolvimento de produtos de software e
equipamentos. Os exemplos utilizados incluem tanto os casos de sucesso
comprovado (best practices) quanto aqueles com resultados abaixo do esperado.
Por último, a partir da análise dos indicadores para cada caso, foram escolhidos
dois clusters de alta tecnologia que apresentaram os melhores resultados, ficando
atrás apenas do Silicon Valley: o Silicon Wadi de Israel e o distrito de tecnologia
de Hsinchu em Taiwan. A partir da análise comparativa dos clusters e parques
tecnológicos ao redor do mundo e do estudo das soluções bem-sucedidas
utilizadas em Israel e Taiwan, foram formuladas as recomendações para
implantação de um cluster de base tecnológica no Brasil apresentadas no capítulo
seguinte.

5.1
Tipologias Existentes

A análise comparativa de parques tecnológicos é pouco comum na


literatura devido às dificuldades de uma análise objetiva em função das
63

especificidades de cada caso (diferentes países, ambientes, culturas etc.). Alguns


trabalhos buscam criar indicadores para identificar a existência de arranjos
produtivos locais em um país ou região com o objetivo de orientar ações de apoio
e diretrizes de políticas públicas. Suzigan et al. (2004), por exemplo, adotam uma
metodologia para identificar, classificar e caracterizar Sistemas Locais de
Produção (SLP) no Estado de São Paulo utilizando os indicadores coeficiente de
Gini locacional (GL) e o quociente locacional (QL). O primeiro indica a
concentração espacial da atividade econômica. Varia entre zero e um, e quanto
mais próximo da unidade, mais espacialmente concentrada é a classe da indústria,
ou seja, maior é a possibilidade da existência de clusters. O QL é a razão entre a
participação de uma determinada classe de indústria na estrutura produtiva de
certa região e a participação dessa mesma classe na estrutura produtiva do
estado/país. Neste sentido, quanto maior o QL, maior é a especialização produtiva
da região. A partir desta metodologia, os autores definem quatro tipos básicos de
clusters ou SLPs onde cada tipo deve receber um conjunto de medidas de política
pública diferenciado:
• Núcleos de desenvolvimento regional – possuem enorme importância
para uma região e para o setor de atividade econômica em que atuam (QL
e GL elevados).
• Vetores avançados – possuem enorme importância para o setor, mas o
desenvolvimento econômico regional não depende deles de uma forma
pronunciada (QL elevado e GL reduzido).
• Vetores de desenvolvimento regional – São importantes para uma região,
embora não possuam uma contribuição decisiva para o setor a que estão
vinculados (QL reduzido e GL elevados).
• Embriões de sistema local de produção – Possuem pouca importância
para o seu setor e convivem, na mesma região, com outras atividades
econômicas (QL e GL reduzidos).
Apesar de esta metodologia apresentar uma interessante estratificação dos
sistemas em categorias relativamente homogêneas, ela não atende aos interesses
do nosso projeto por não medir instituições como governança, aprendizado e
colaboração.
64

Cassiolato e Szapiro (2003) também buscam orientar políticas públicas


adaptadas a países em desenvolvimento através da apresentação de uma tipologia
de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas específica para a
realidade brasileira a partir dos resultados de 26 estudos empíricos realizados pela
RedeSist - Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
(http://www.ie.ufrj.br/redesist). Os arranjos produtivos locais são classificados
segundo três dimensões: (i) Tipo de governança (hierárquica ou rede), (ii) Grau de
territorialidade (alto, médio ou baixo) e (iii) Mercados de destino da produção
(local, nacional ou internacional). Os autores definem governança hierárquica
quando há pelo menos uma grande empresa ou instituição local que governa as
relações técnicas e econômicas ao longo da cadeia produtiva e em rede quando se
observa a existência de aglomerações de PMEs, sem a presença de empresas-
âncora, como o que ocorre nos distritos industriais italianos. O grau de
territorialidade define até que ponto estão enraizadas localmente as capacitações
necessárias ao estabelecimento de atividades inovativas, sendo, portanto, a
dimensão mais importante. Por último, o destino da produção é relevante para se
compreender a lógica de funcionamento das relações entre empresas e
instituições.
Uma das conclusões até certo ponto surpreendente apresentada por
Cassiolato e Szapiro para os casos analisados pela RedeSist é que a produção
voltada para o mercado internacional juntamente com a integração em cadeias
globais apresenta limites significativos ao grau de territorialidade das atividades
dos arranjos. Isto contradiz grande parte da literatura que argumenta que a
participação em redes globais de produção leva a um aumento das capacitações
locais e auxiliam as PMEs dos países em desenvolvimento a aumentar sua
capacidade tecnológica, tese defendida, por exemplo, em (PORTER, 1998),
(BRESNAHAN et al., 2001) e (PEREZ-ALEMAN, 2005).
Bresnahan et al. (2001) discutem as causas do sucesso de clusters
regionais de empreendedorismo e inovação que tiveram altas taxas de crescimento
durante os anos 90 e que poderiam ser considerados “os novos Silicon Valleys”.
São estudadas tanto regiões em países emergentes, como Irlanda, Índia, Israel e
Taiwan, quanto em países desenvolvidos como o nordeste da Virginia nos EUA,
Cambridge no Reino Unido, países Escandinavos e a própria região do Vale do
Silício no seu início há 40 anos. Os autores concluem que os fatores econômicos
65

que deram início à formação destes clusters são bem diferentes dos fatores que os
fizeram crescer e se desenvolver. As maiores dificuldades e os maiores riscos
estão na formação de um novo cluster. Nesta fase o papel dos governos, quando
criam políticas públicas para definir onde e quais clusters deverão ser formados,
não apresenta bons resultados. Em contrapartida, políticas públicas, como
investimento em educação, facilidades e incentivos para o empreendedorismo e a
atração de multinacionais, são importantes para o desenvolvimento dos clusters. A
busca de novos nichos de mercado e uma forte orientação para exportação
apresentam melhores resultados que a implantação de políticas protecionistas. O
apoio dos governos para a criação de padrões técnicos ou legais, como aconteceu
com a criação do padrão europeu GSM para telefonia móvel e que trouxe enormes
benefícios para os países Escandinavos e para a Europa em geral, é outro bom
exemplo de acerto em políticas públicas. Em outras palavras, para estes
pesquisadores as políticas públicas não devem estar direcionadas para a formação
dos clusters em si ou mesmo das empresas, mas sim na criação das condições que
possibilitem a criação e o desenvolvimento dos clusters. Outros fatores citados
que podem servir como indicadores comparativos são: a existência de mão-de-
obra técnica e gerencial qualificada, o crescimento das empresas e não apenas do
número de empresas nos clusters, conexão com mercados internacionais e
cooperação com clusters de países do primeiro mundo.

5.2
Tipologia Adotada

Com o intuito de se ter uma análise comparativa de clusters e parques


tecnológicos, foram utilizados indicadores, entre os que aparecem na literatura,
que guardam maior relação com os propósitos desta pesquisa.
A análise será feita a partir dos seguintes indicadores:

• Tipo de governança – Define a existência ou não de uma firma ou


instituição local que coordena as relações técnicas e econômicas ao longo
da cadeia produtiva. Utilizamos o conceito apresentado por Cassiolato e
Szapiro (2003) de governança por rede ou hierárquica, mas subdividimos
o modo hierárquico em três para que se tenha um indicador com um maior
66

nível de detalhe. Os tipos possíveis de governança são os seguintes: rede


de empresas, empresa-âncora, instituição científica e tecnológica ou
instituição governamental.

• Aprendizado e colaboração – Indica o grau de aprendizado e colaboração


existente entre os membros dos clusters, podendo ser: alto, médio ou
baixo.

• Empreendedorismo – Indica a evolução da quantidade de start-ups e


PMEs nos parques a partir de sua formação, podendo ser: alto, médio ou
baixo. Apesar do alerta de Bresnahan et al. (2001) de que o crescimento
das empresas é mais importante do que a quantidade de novas empresas
para a avaliação dos clusters, consideramos que dados relativos ao
crescimento das empresas são mais difíceis de serem obtidos do que a
quantidade de empresas.

• Papel da instituição científica e tecnológica (ICT) – Indica o papel da ICT


para a criação e desenvolvimento do cluster, podendo ser: muito
importante, médio ou pouco importante.

• Estágio do cluster/parque tecnológico – Indica a situação do parque no


momento da análise, podendo ser: embrionário, em desenvolvimento ou
maduro.

• Grau de territorialidade - Utilizamos o conceito apresentado por Cassiolato


e Szapiro (2003), que definem o grau de territorialidade das atividades
produtivas e inovativas como a medida de até quanto estão enraizadas
localmente as capacitações necessárias ao estabelecimento de atividades
inovativas. O grau de territorialidade pode ser: alto, médio ou baixo.

• Papel do Estado – Analisamos o papel do Estado em dois momentos


distintos: na criação e no desenvolvimento do cluster. Em ambos os casos,
o indicador do papel do Estado pode ser: forte, médio ou fraco.

• Capital de risco – Indica a presença do financiamento de risco na formação


e no desenvolvimento dos clusters, podendo ser: alta, média e baixa.

• Capital Humano – Indica o estoque de mão-de-obra talentosa na região


incluindo tanto a mão-de-obra técnica quanto gerencial. Pode ser forte,
médio ou fraco.
67

• Conexão com os líderes – Indica o grau de relacionamento com as regiões


líderes em alta tecnologia, principalmente com o Silicon Valley. Esta
ligação se traduz em parcerias e no desenvolvimento de produtos e
serviços complementares àqueles produzidos pelos líderes. Pode ser forte,
média ou fraca.

5.3
Análise Comparativa de Clusters e Parques Tecnológicos

Para análise comparativa foram escolhidos clusters e parques de alta


tecnologia espalhados ao redor do mundo - Europa, Ásia e EUA - incluindo
exemplos de países desenvolvidos e emergentes e casos bem-sucedidos (best
practices) e outros nem tanto. Uma tabela com a análise comparativa é
apresentada ao final. A relação dos clusters e parques, com uma breve descrição
de cada um é descrita a seguir:
• VR&MM Park de Turin – O Virtual Reality & Multi Media Park tem
como foco promover a pesquisa e o desenvolvimento de aplicações
inovadoras em megamídia, especialmente em realidade virtual e novas
tecnologias, aproveitando-se do fato de Cidade de Turin ter uma forte
vocação em TV e cinema, tendo sido o berço do cinema italiano. O
VR&MM Park possui uma âncora de P&D associada a importantes
universidades italianas (Universidade de Turin e o Politécnico de Turin).
Após investimentos maciços do governo, o VR&MM Park começou a
funcionar em 2004, mas hoje enfrenta grandes dificuldades tanto
financeiras quanto de integração com o mercado (FEIJÓ e BADARÓ,
2006).
• Central Florida Research Park em Orlando, Florida – Com foco em
simulação e treinamento industrial, o parque tecnológico da Flórida integra
sistemas para defesa, principalmente para Marinha americana, e para
parques temáticos. Está ligado a uma universidade de pesquisa
(University of Central Florida) e é considerado o sétimo maior parque do
país. Possui 116 firmas e 9.500 empregados (SITE8).
68

• O Silicon Wadi de Israel - Cluster da indústria de TICs que tem ligações


com importantes centros de pesquisa em tecnologia de Israel. O Silicon
Wadi é o responsável por resultados impressionantes para um país de
pequenas dimensões e com uma população de apenas 7 milhões de
pessoas: Israel é o país com a maior fatia de empregados na indústria de
TIC dentre os países da OECD, o país com o maior número de empresas
com ações na bolsa de valores de empresas de tecnologia dos EUA depois
do próprio EUA e do Canadá e onde as exportações da indústria de TIC
correspondem a um terço do total das exportações do país (FONTENAY e
CARMEL, 2001). O item 5.4 apresenta um estudo detalhado do cluster
israelense.
• Silicon Valley na Califórnia, EUA – Com início na década de 50, é o mais
importante e bem-sucedido cluster de alta tecnologia do mundo e uma
referência para os demais clusters de tecnologia. O Silicon Valley foi o
epicentro de diversas ondas de inovação tecnológica (semi-condutores,
computadores, TI e comércio eletrônico) e é, na maioria dos casos, a
primeira região a colocar no mercado inovações no setor de tecnologia
(KOH et al., 2003). Possui mais de 10.000 firmas que atuam tanto em
pesquisa básica quanto em ciência pura e pesquisa aplicada.
Aproximadamente a terça parte da exportação de produtos eletrônicos dos
Estados Unidos tem sua origem no Vale do Silício.
• Route 128 em Boston, EUA – Mais importante cluster de alta tecnologia
junto com o Silicon Valley nos anos 60 e 70, perdeu importância nos anos
90 quando as mais importantes empresas-ancôra do cluster foram
vendidas. Possui conexão com o MIT, importante instituto de tecnologia
de Boston.
• Cambridge Science Park, Inglaterra – Aberto oficialmente em 1976 pelo
Trinity College da Universidade de Cambridge e sem a intervenção do
Estado, teve um lento desenvolvimento no seu início. O parque é voltado
para pesquisa científica básica, razão pela qual as empresas permaneceram
relativamente pequenas. Segundo Bresnahan et al.(2001), apesar do
crescimento constante ao longo dos anos, o parque de Cambridge não
experimentou um crescimento excepcional como, por exemplo, o Silicon
69

Valey, o cluster de Israel e o de Taiwan, por optar por desenvolver


produtos similares e concorrentes aos produtos do Silicon Valley, ao invés
de produtos complementares, como foi a opção de Israel e Taiwan.
• Hsinchu Science Park, Taiwan – Fundado em 1980 pelo governo de
Taiwan, teve como umas das diretrizes básicas estimular o retorno dos
técnicos e empreendedores nascidos em Taiwan que trabalhavam no
Silicon Valley. Atualmente o parque emprega mais de 50.000 pessoas,
onde algumas empresas que iniciaram suas atividades no parque
transformaram-se em multinacionais globais. O parque desenvolveu fortes
ligações com o Silicon Valley, estando entre os líderes mundiais na
manufatura de componentes eletrônicos e computadores pessoais. A opção
foi atuar como segundo-entrante, com baixo desenvolvimento de
inovações tecnológicas. Apesar de o governo ter sido o responsável pelo
estabelecimento do parque, o seu desenvolvimento ficou a cargo do setor
privado, com abundante presença de capital de risco (KOH et al., 2003).
• Singapore Science Park, Singapura- A motivação inicial na criação do
parque foi atrair companhias multinacionais, como é comum nos parques
tecnológicos da Ásia. Para isso, o governo de Singapura investiu na
provisão de infra-estrutura de qualidade. A participação do setor privado
foi limitada e houve pouca interação entre os membros. Para corrigir estas
deficiências e com o objetivo de tornar Singapura um centro de referência
para P&D e atividades empreendedoras em bio-ciências e TI, o governo
lançou um novo e ambicioso projeto que inclui a construção de uma nova
área denominada One-North, que estende e complementa o parque inicial.
Idealizado em 2000, este novo projeto tem um custo estimado de US$ 8,6
bilhões durante 15 anos. Para suprir a carência de técnicos talentosos, o
governo busca trazer de volta os nativos de Singapura que trabalham nos
EUA, nos moldes do que foi feito pelo governo de Taiwan, além de
investir na formação de mestres e doutores. O parque da Singapura sofre
de uma intensa competição com outros parques da Ásia como o da Malásia
na luta para atrair multinacionais e centros de P&D, o que, em conjunto
com o pequeno mercado interno devido ao reduzido tamanho do país, a
pequena participação do setor privado e a reduzida ligação com outros
70

clusters mais desenvolvidos como o Silicon Valley, constitue o maior


desafio a ser transposto (KOH et al., 2003). Para efeito da análise
comparativa, foi considerado apenas a fase 1 do parque, uma vez que a
fase 2 ainda está em implantação e os resultados ainda não podem ser
mensurados.
• Multimedia Super Corridor, Malásia – Implantado em 1996, foi idealizado
e é controlado pelo governo da Malásia. O projeto busca ao mesmo tempo
atrair empresas multinacionais para a Malásia e estimular a criação de
empresas nacionais, com o objetivo de transformar o país em uma
economia baseado no conhecimento. Os resultados, no entanto, estão
aquém do esperado.
• Pólo Rio de Cinema, Vídeo e Comunicação - Idealizado para ser um
complexo audiovisual de grande porte com tecnologia de última geração, o
pólo possui aproximadamente 100 empresas associadas. O pólo não recebe
recursos do governo e enfrenta dificuldades para crescer.
O quadro a seguir apresenta um comparativo dos clusters e parques tecnológicos
a partir da tipologia definida no item 5.2:
71

Tabela 2 – Análise comparativa de clusters e parques tecnológicos.


15
INDICADORES Governança Aprend./ Empreend. Papel Estágio Grau de Papel Estado Capital Capital Conexão
CLUSTERS e PARQUES Colabor. ICTs Territorial. Criação Desenv. de Humano com os
TECNOLÓGICOS Risco Líderes

VR&MM Park, Turin ICT baixo baixo MI ED alto forte fraco baixo forte fraco

Silicon Wadi, Israel rede alto alto MI maduro alto médio médio alto forte forte
Multimedia Super Corridor,
Malásia inst. gover. baixo baixo médio ED baixo forte forte baixo fraco fraco

Pólo Rio de Cinema, Vídeo e


Comunicação rede baixo médio PI ED alto fraco fraco baixo fraco fraco

Silicon Valley, California emp. âncora alto alto MI maduro alto médio fraco alto forte forte

Route 128, Boston emp. âncora baixo alto MI maduro alto médio fraco alto forte forte

Central Florida Research Park ICT médio médio MI ED alto fraco fraco alto forte médio
Cambridge Science Park,
Inglaterra ICT médio alto MI maduro alto fraco fraco alto forte fraco

Hsinchu Science District, Taiwan rede alto alto MI maduro alto forte médio alto médio forte

Singapore Science Park, Singapura


Fase 1 inst. gover. baixo baixo médio ED baixo forte forte baixo fraco fraco

Fonte: Elaborado pelo autor.

15
Notas Explicativas: MI - Muito Importante; PI – Pouco Importante e ED – Em Desenvolvimento.
72

Consideramos como critério de sucesso para avaliação dos clusters


analisados os seguintes fatores: Alto grau de empreendedorismo, representado
pela evolução na quantidade de empresas, alto grau de aprendizado e colaboração
entre as empresas-membro e forte presença da indústria de capital de risco.
Segundo estes critérios, os clusters mais bem sucedidos, depois do Silicon Valley,
foram os clusters de Israel e de Taiwan.
A análise da tabela 2 permite apontar algumas observações que não podem
ser consideradas como conclusivas pelo pequeno número de casos estudados, mas
que indicam uma forte tendência:
• Os clusters e parques cuja governança é feita por instituições
governamentais parecem não apresentar bons resultados, como é o caso da
Malásia e a fase inicial do parque da Singapura. O parque de Taiwan, que
é um caso de sucesso, apesar da forte presença do Estado na sua criação,
tem uma forte presença do capital de risco e sua governança é feita pelo
setor privado. Este ponto está de acordo com o que está apresentado em
trabalhos como (BRESNAHAN et al., 2001) e ( KOH et al., 2003).
• Dos dez casos estudados, os três mais bem-sucedidos – Silicon Valley,
Silicon Wadi e Hsinchu Science Park - são os únicos que obtiveram o
grau alto no quesito aprendizagem e colaboração existente entre os
membros dos clusters e parques, o que indica a importância destes
quesitos para o sucesso, conforme ressaltado em (SAXENIAN, 2006).
• Os clusters e parques em que as ICTs têm papel predominante parecem
apresentar menos problemas no quesito capital humano. No entanto,
quando a governança é realizada pelas ICTs os resultados nem sempre são
satisfatórios. No Cambridge Science Park, o Trinity College executa um
rigoroso processo seletivo para definir quais empresas podem se instalar
no parque. Isto provavelmente foi uma das causas do lento crescimento do
parque no seu início (KOH et al., 2003).
• Alto grau de territorialidade e estoque de mão-de-obra talentosa parecem
não levar necessariamente ao sucesso dos clusters e parques, conforme se
pode perceber na análise da tabela, apesar de todos os casos bem-
sucedidos possuírem alto grau em ambos os quesitos. São, portanto,
condições fundamentais, mas não suficientes.
73

• Nos casos em que o papel do Estado é forte na criação e no


desenvolvimento, a presença do empreendedorismo e do capital de risco
se enfraquece e o cluster parece não conseguir se desenvolver, fato
também observado por autores como (BRESNAHAN et al., 2001) e (
KOH et al., 2003). É o que acontece na Malásia e na primeira fase do
parque de Singapura
• Os casos mais bem-sucedidos, como Israel e Taiwan, possuem uma forte
ligação com os líderes, notadamente os EUA e o Silicon Valley,
trabalhando em parceira e oferecendo produtos e serviços
complementares. Saxenian (2006) destaca que a ligação de Taiwan é
através do outsourcing da manufatura, que, em função do baixo custo da
mão-de-obra local, tornou as atividades de manufatura de computadores
no parque de Taiwan fortemente complementares às do Silicon Valley. O
país soube aproveitar esta situação atingindo crescimento considerável
com a formação de grandes empresas multinacionais fabricantes de
computadores e componentes eletrônicos. Empreendedores em Israel
atuam em nichos de mercado em áreas complementares às do Silicon
Valley. O parque de Cambridge, ao contrário, produz produtos similares
e que competem com os EUA. Apesar de ostentar um crescimento
consistente ao longo dos anos, o parque de Cambridge cresce a taxas
muito menores em comparação aos clusters de Israel e Taiwan
(BRESNAHAN et al., 2001).

5.4
O Silicon Wadi de Israel

O Estado de Israel, fundado há apenas sessenta anos, é um país de


pequenas dimensões – sua área é menor do que o Estado de Sergipe, a menor
unidade federativa do Brasil e menos da metade da área do Estado do Rio de
Janeiro - e com uma população de aproximadamente sete milhões de pessoas.
Apesar das enormes adversidades advindas de sua localização em meio a uma
vizinhança hostil e de um mercado interno muito reduzido, o país se tornou um
dos mais importantes players do mercado global de alta tecnologia.
74

Silicon Wadi (wadi significa “vale” em hebraico e em árabe), uma alusão


ao famoso cluster da Califórnia, é o termo utilizado para denominar o cluster de
alta tecnologia de Israel. O cluster ocupa grande parte do território israelense,
aproximadamente 6.000 Km2 (metade da área do Silicon Valley), sendo que a
maior concentração de indústrias de alta tecnologia encontra-se nas áreas
metropolitanas densamente povoadas de Tel Aviv, Haifa e Jerusalém. Apesar de
autores como Roper e Grimes (2005) destacarem a maior importância da cidade
de Tel Aviv pela quantidade de empresas de alta tecnologia em seu entorno, pode-
se dizer que, em função da pequena área do país e pela existência de empresas de
tecnologia espalhadas por praticamente todo território, o país como um todo é um
cluster de Tecnologia de Informação e Comunicação (FONTENAY e CARMEL,
2001).
Os resultados alcançados e a importância da indústria de alta tecnologia
israelense no mercado mundial impressionam: Israel é o país com a maior fatia de
empregados na indústria de TIC dentre os países da OECD, o país com o maior
número de empresas start-ups no mundo proporcionalmente a sua população e o
segundo maior em números absolutos, atrás apenas dos EUA: possui o maior
número de empresas com ações na bolsa de valores de empresas de tecnologia
(NASDAQ) dos EUA depois do próprio EUA e do Canadá (mais de 120
empresas) e onde as exportações da indústria de alta tecnologia correspondem a
aproximadamente 40% das exportações do país16. Assim como os clusters de
TICs da Índia e Irlanda, o Silicon Wadi está centrado em software. A diferença é
que no caso israelense o foco está no desenvolvimento de produtos, ao passo que
na Índia e Irlanda o principal é a prestação de serviços.
O sucesso inicial do Silicon Wadi na área de segurança de dados, fruto dos
altos níveis de investimentos em P&D realizados pela área militar, serviu de
estímulo para o desenvolvimento de inúmeros produtos voltados para outros
nichos de mercado. Em comparação com países que também apresentaram altas
taxas de crescimento no mercado de alta tecnologia nos últimos anos, como
Taiwan, Irlanda e Finlândia, Israel é o que atua em mais nichos de mercado e o
que está mais focado em atividades de P&D, design e desenvolvimento e menos
em produção, marketing e distribuição (ROPER e GRIMES, 2005).

16
Fonte: Israel High-Tech & Investment Report, May 2008 (www.ishitech.co.il)
75

O sucesso das inovações geradas no Silicon Wadi pode ser comprovado


por alguns exemplos (extraídos de MORASHÁ, 2007 e Israel High-Tech &
Investment Report, 2008 - www.ishitech.co.il):
• O primeiro produto de mensagem instantânea para internet foi o ICQ da
empresa Mirabilis, que alerta os usuários quando seus amigos estão on-
line e disponíveis para uma conversa eletrônica. A Mirabilis foi vendida
para a American OnLine por 407 milhões em 1998 (HILTZIK, 2000).
• O primeiro firewall, software utilizado para proteger sistemas conectados a
uma rede externa e que atualmente se encontra na grande maioria das
empresas que precisam proteger seus sistemas de invasões pela internet,
foi desenvolvido pela empresa israelense Check Point Software.
• Os processadores da Intel Pentium-4, para computadores desktops, e
Centrino, utilizados em notebooks, foram inteiramente desenvolvidos nos
laboratórios de P&D da Intel em Israel.
• A empresa M-systems foi a pioneira no desenvolvimento da memória flash
DiskOnKey e DiskOnChip, utilizada nos pen drives, que revolucionou o
gerenciamento e o armazenamento de informações.
• A GE Healthcare Israel lançou o primeiro equipamento miniatura de ultra-
som cardíaco portátil do mundo.
• O lançamento pioneiro de telefonia através do protocolo IP (conhecido
comoVoIP- voz sobre IP) foi da empresa israelense Vocaltec.
• A tecnologia de compressão ZIP foi desenvolvida por dois professores do
Instituto Tecnológico Technion de Haifa.
• O primeiro instrumento para diagnóstico de câncer de mama não-
radiotivo, totalmente computadorizado, foi desenvolvido em Israel.
• PillCam, a primeira pílula endoscópica para ingestão que contém uma
microcâmera foi lançada pela Given Imaging. Trata-se de um comprimido
com uma microcâmera de alta resolução embutida que serve para fazer
exames menos invasivos do trato digestivo, fotografando tudo à medida
que desce pelo organismo.
• A empresa israelense Lumus Optical criou os vídeo-óculos para assistir
TV e vídeos em qualquer lugar. As imagens são refletidas diretamente no
76

globo ocular pelo aparelho, preso na armação dos óculos, que podem ser
usados até mesmo com telefones celulares.
• A empresa Argo Medical Technologies desenvolveu o aparelho ReWalk,
um exoesqueleto computadorizado que auxilia paraplégicos a ficar de pé,
caminhar e subir escadas (O GLOBO, 2008).

As principais causas do sucesso do cluster de inovação israelense,


analisadas sob o ponto de vista das questões abordadas neste trabalho, são:
• Papel do Estado
O estímulo para criação e desenvolvimento de empresas de alta tecnologia
com produtos e serviços de alto valor agregado é uma prioridade de
Estado. Israel é o país que tem o maior gasto em P&D como percentual do
PIB17 dentre todos os países do mundo18 (OECD, 2008). Apesar de este
valor envolver não só o gasto governamental como também o gasto da
indústria em P&D, o percentual do governo é significativo. O governo
também dá apoio direto para as novas empresas. Quase todas as startups
podem obter uma bolsa de duzentos e cinqüenta mil dólares para
determinar se seu produto é vendável19 .
• Papel das instituições científicas e tecnológicas
As bases da pesquisa científica e tecnológica em Israel começaram muito
antes da criação do Estado em 1948, como parte do desejo de transformar
a terra de Israel em um grande centro espiritual, cultural e científico para
abrigar o futuro Estado Judaico. A universidade Hebraica de Jerusalém foi
fundada em 1925, mesmo período em que foram lançadas as bases para o
hospital Hadassah (atualmente uma das mais importantes instituições de
pesquisa médica do mundo). O Instituto de Tecnologia Technion, fundado
em 1924, e o Instituto Weizmann de Ciências, fundado em 1934, são
centros acadêmicos e de pesquisa de padrão internacional. Somam-se a

17
Este indicador, conhecido como GERD de Gross expenditure on R&D as a percentage of
GDP,é utilizado para comparação internacional de gastos em P&D e representa as despesas
domésticas de um país relacionadas com P&D em um determinado ano (OECD, 2008).
18
OS 10 países que mais gastaram em P&D em termos de percentual do PIB em 2006 foram:
Israel (4,53%), Suécia (3,73%), Finlândia (3,45%), Japão (3,39%), Coréia do Sul (3,23%), Suíça
(2,9%), Islândia (2,78%), EUA (2,62%), Alemanha (2,53%) e Áustria (2,45%). O Brasil gastou
1,02% (OECD, 2008).
19
Fonte: Israel High-Tech & Investment Report, May 2008 (www.ishitech.co.il)
77

estes as universidades criadas após a criação do Estado de Israel que são:


Universidade Bar-Ilan ,Universidade de Tel-Aviv, a Universidade Ben-
Gurion, Universidade de Haifa e Universidade Aberta de Israel.
A existência de universidades e centros de pesquisa de alto padrão dentro
do cluster e a forte ligação mantida com a indústria de alta tecnologia de
Israel são fatores fundamentais para se entender o sucesso e o crescimento
da indústria de TIC no país.
• Capital Humano
Israel possui uma grande quantidade de capital humano em áreas como
matemática, física, computação, engenharia, ciências da vida e medicina.
Aproximadamente 28% da população têm nível superior, sendo que 1,35%
é de engenheiros e cientistas, constituindo-se na maior concentração per
capita de engenheiros e cientistas entre os países da OECD (bem à frente
do segundo colocado, os EUA, com 0,8%) (FONTENAY e CARMEL,
2001).
Conforme observou Bresnahan et al. (2001), a formação de uma mão-de-
obra técnica talentosa em Israel se deve não apenas às universidades
locais, mas também ao serviço militar, às universidades americanas e à
imigração de engenheiros e cientistas vindos da antiga União Soviética.
Na década de 90 estes imigrantes chegaram a 17% de toda a força de
trabalho israelense (aproximadamente um milhão de pessoas) e com um
alto nível de educação (26,6% com nível superior) (PACE, 2001). A
inserção deste enorme contingente de pessoal no mercado de trabalho se
transformou, por razões óbvias, em um sério problema. Por outro lado, o
baixo custo de oportunidade do capital humano local representa um
importante estímulo ao empreendedorismo, o que acabou acontecendo em
Israel. De fato, em países como Alemanha, França e Japão, onde o capital
humano qualificado tem um custo de oportunidade mais alto, os incentivos
para iniciar novos empreendimentos de risco em novas indústrias não
conseguem superar com facilidade os ganhos e os altos salários recebidos
ao se trabalhar nas indústrias já estabelecidas (BRESNAHAN et al., 2001).
A alta qualidade da mão-de-obra israelense faz com que não só inúmeras
multinacionais americanas e européias estabeleçam centros de P&D em
78

Israel como também a grande maioria das empresas israelenses que


transferem suas operações para os Estados Unidos ou Europa (por questões
relacionadas ao acesso aos mercados) mantenham seus centros de P&D em
Israel.
• Presença de multinacionais
A presença de laboratórios de pesquisas de multinacionais em Israel é
antiga, tendo um importante papel no desenvolvimento da indústria de alta
tecnologia no país. O centro de pesquisa da Motorola, que conta
atualmente com mais de quatro mil funcionários, foi instalado no país em
1964. A Intel e a IBM possuem no país o maior laboratório de pesquisa e
desenvolvimento fora dos EUA, sendo que o centro de pesquisa da Intel
conta com oito unidades no país e emprega mais de cinco mil funcionários
onde aproximadamente dois mil são cientistas e engenheiros envolvidos
em projetos de P&D. A General Eletric inaugurou sua primeira unidade no
país em 1950 e a Microsoft Corporation fez de Israel a sede de sua
primeira subsidiária fora dos EUA em 1989 (MORASHÁ, 2007). Além
disso, as empresas líderes de tecnologia dos EUA e Europa (por exemplo,
as americanas Cisco, Lucent e Computer Associate e a alemã SAP)
adquirem start-ups israelenses com a mesma facilidade e freqüência que o
fazem no Silicon Valley
Os benefícios percebidos pelas multinacionais para estabelecer atividades
de P&D em Israel, além da qualidade da mão-de-obra local são: excelência
das instituições acadêmicas, baixo custo relativo da mão-de-obra,
incentivos fiscais e financiamentos governamentais para atividade de P&D
e baixa rotatividade da mão-de-obra.
• Empreendedorismo
Israel é considerado um dos mais bem-sucedidos exemplos de promoção
do empreendedorismo. Com mais de três mil empresas de alta tecnologia e
start-ups é o local, depois do Silicon Valley, com a maior concentração de
companhias de alta tecnologia no mundo20. Segundo Fontenay e Carmel
(2001), apenas no ano 2000 surgiram em Israel 500 novas start-ups de alta
tecnologia. Israel é o país que mais gasta em negócios relacionados com

20
Fonte: Israel High-Tech & Investment Report, May 2008 (www.ishitech.co.il)
79

P&D em percentual do PIB no mundo. Este indicador (conhecido como


BERD – business enterprise expenditure on R&D as a percentage of
GDP) está fortemente relacionado com a criação de novos produtos e
técnicas de produção, assim como o esforço de um país na promoção da
inovação (OECD, 2008).
Uma das razões para este sucesso é a existência de uma mão-de-obra
talentosa e bem educada que recebeu um significativo reforço com a
imigração maciça que chegou ao país vinda da antiga União Soviética. O
Estado percebeu que a abertura de negócio próprio era visto como uma
opção atrativa pelos imigrantes e, em função disso, promoveu inúmeras
iniciativas em favor do empreendedorismo, tais como fundo de
empréstimo para pequenos negócios e incubadoras tecnológicas que
tinham como objetivo o desenvolvimento de produtos comerciais para
exportação baseados em inovação tecnológica.
• Grau de territorialidade, aprendizado e colaboração
O Silicon Wadi apresenta um alto grau de territorialidade baseado,
principalmente, na existência de uma mão-de-obra qualificada, na rede de
contatos profissionais e pessoais, no conhecimento acumulado pelas
empresas e nas instituições locais. O país possui uma peculiaridade
importante na formação de redes que é o serviço militar obrigatório. As
conexões pessoais que se formam durante o serviço militar são
semelhantes àquelas das universidades com o benefício adicional de serem
mais fortes e duradouras devido ao convívio diário e á conivência que se
formam no enfrentamento das situações de tensão e pressão vividas
durante o serviço militar. Como é grande o número de pessoas que saem
das unidades tecnológicas militares para as indústrias de alta tecnologia,
este relacionamento se torna um fator importante para o recrutamento de
pessoal.
As conexões formadas no serviço militar em conjunto com as relações
formadas nas universidades israelenses, somadas ao fato da população do
país ser pequena (aproximadamente sete milhões de pessoas), tornam a
rede de contatos profissionais e pessoais extremamente eficiente. Com
isso, o conhecimento coletivo das empresas é rapidamente difundido entre
80

os membros do cluster através da colaboração informal e dos


aconselhamentos que membros das empresas mais antigas dão para os
novos empreendedores.
As instituições locais presentes em grande número no cluster prestam
importantes serviços especializados tais como: recrutamento e seleção de
pessoal, financiamento via capital de risco, contabilidade, consultorias
(legal, tributária, financeira, estratégia etc.), treinamento, auxílio para
abertura de escritório nos Estados Unidos, incubadoras, pesquisas de
mercado, conferências, exibições etc.
• Capital de risco
Até 1985 não havia a presença institucional do capital de risco em Israel.
Em 1993 o governo criou um fundo que financiava fundos de capital
empreendedor. O governo se responsabilizava com 40% do financiamento
e o restante podia ser financiado por investidores domésticos ou
estrangeiros. O programa tinha como objetivo atrair investidores
estrangeiros não apenas pelo seu capital, mas, principalmente, pelos seus
conhecimentos em venture capital. A idéia era transferir conhecimentos do
exterior, principalmente dos EUA, e treinar os capitalistas de risco
israelenses (AVNIMELECH, KENNEY e TEUBALL, 2005). O
crescimento do capital de risco foi explosivo e em 2000 já havia mais de
cem fundos gerenciando $7.3 bilhões de dólares, tornando a taxa de capital
empreendedor per capita em Israel semelhante à do Silicon Valley
(FONTENAY e CARMEL, 2001). A presença do capital estrangeiro se
tornou dominante. Apenas em 2007 foi investido $ 1,7 bilhão de dólares
em empresas de tecnologia, sendo mais da metade vindo de fora do país21.
Israel tem hoje mais de 300 fundos de capital de risco, enquanto no Brasil
são pouco mais de 80 (NEVES, 2008).
• Conexão com os líderes
De uma maneira geral, a estratégia do cluster israelense em relação às
tecnologias líderes no mercado mundial, notadamente àquelas do Silicon
Valley e dos EUA, tem sido a de desenvolver produtos complementares ao
invés de competir diretamente com o objetivo de substituir as tecnologias

21
Fonte: Israel High-Tech & Investment Report, May 2008 (www.ishitech.co.il)
81

líderes (BRESNAHAN et al., 2001). Como o mercado local é muito


pequeno e a demanda é fundamental para o crescimento, as empresas
israelenses de alta tecnologia buscam desenvolver inovações que sejam
complementares ás inovações americanas para facilitar a entrada no
mercado americano. Esta estratégia tem sido usada pelos novos clusters de
TICs (os “novos Silicon Valleys”) mais bem-sucedidos dos anos 90 como
os clusters da Irlanda, Índia, Israel e Taiwan.
O fator principal da conexão de Israel com o Silicon Valley se deve ao
grande número de israelenses trabalhando e estudando nos Estados
Unidos, aproximadamente 500.000 (em torno de 7.5% da população de
Israel). Muitos trabalham no Silicon Valley após terminarem os estudos e
depois voltam para Israel para criarem suas empresas, mantendo fortes
ligações com as empresas de tecnologia, com os investidores de risco e
com o mercado americano (SAXENIAM, 2006). Esta estreita ligação com
o principal mercado de tecnologia do mundo tem sido um dos pilares do
sucesso das empresas israelenses. O posicionamento dos produtos para
atuarem em nichos complementares às tecnologias líderes, a abertura de
escritórios comerciais nos EUA mesmo nos estágios iniciais das empresas,
o lançamento de ações em bolsas americanas, o intercâmbio de técnicos
com as universidades e empresas americanas e o fácil acesso ao capital de
risco americano têm sido uma estratégia vencedora para não apenas
sobrepor as limitações de um mercado local muito reduzido, mas
principalmente abrir as portas para o mercado global.
• Oportunidades tecnológicas
Em função do permanente clima de tensão e hostilidade com os países
vizinhos desde a criação do Estado em 1948 e de alguns embargos sofridos
na aquisição de tecnologia militar estrangeira (o mais célebre deles foi o
imposto pela França em 1967, que proibiu a venda de qualquer tipo de
armamento para Israel), a indústria militar israelense investe pesadamente
no desenvolvimento de tecnologias militares próprias. Esta necessidade de
segurança para garantir a sobrevivência do Estado levou ao
desenvolvimento de novas tecnologias de defesa. O sucesso dos produtos
desenvolvidos tornou o setor militar um dos líderes de exportação no país.
82

Gradualmente algumas empresas de tecnologia militar passaram a buscar


aplicações civis em que pudessem utilizar seus conhecimentos. Entre as
áreas que detinham uma clara vantagem competitiva estavam as de
tecnologias de comunicação e redes. Com a explosão da internet nos anos
90, inovações nestas duas áreas passaram a ter um alto valor comercial.
Questões relacionadas com segurança de dados e comunicação sem fio se
tornaram críticas e existiam poucas ferramentas disponíveis no mercado.
Por outro lado, a indústria militar israelense já tinha passado por
problemas semelhantes em suas redes de comunicação e desenvolvido
soluções em resposta. Naturalmente, então, as empresas israelenses se
tornaram líderes no fornecimento de ferramentas para comunicação de
dados (FONTENAY e CARMEL, 2001). As oportunidades tecnológicas
abertas com o vertiginoso aumento de utilização da internet foram bem
aproveitadas pelos empreendedores israelenses que passaram a focar a
rede mundial como destino para a sua expertise tecnológica.
O sucesso das empresas pioneiras estimulou o surgimento de novas start-
ups em áreas diferentes de tecnologia de comunicação e rede. Nos últimos
anos, aplicações inovadoras em áreas como medicina e biotecnologia
passaram a crescer em importância ao passo que o número de empresas
com tecnologia oriunda diretamente de aplicações militares diminuiu,
reforçando o crescimento e a diversidade do cluster de alta tecnologia de
Israel.
• Traços culturais
A cultura judaica tem uma tradição milenar que coloca a educação como
prioridade. Como os judeus representam a grande maioria da população
israelense (77%), este traço cultural representa uma importante vantagem
numa época em que as forças econômicas estão cada vez mais baseadas no
conhecimento. Há, no entanto, um traço marcante característico do povo
israelense, que é obrigado a conviver com guerras e vizinhos hostis: uma
postura audaciosa, determinada e até certo ponto arrogante diante de
situações complexas, imprevistas e adversas. Esta postura é sintetizada por
uma expressão peculiar em hebraico, bastante conhecida e utilizada no dia-
a-dia israelense que se chama “chutzpah” (pronuncia-se rutz-pá) (NEVES,
83

2008). O chutzpah pode ser sintetizado pela seguinte frase: “não me ensine
como fazer, eu vou te ensinar”. Esta atitude acaba por ter uma influência
positiva em relação ao empreendedorismo, uma vez que a capacidade de
assumir riscos e enfrentar desafios são elementos cruciais para o
florescimento de atividades empreendedoras

5.5
Hsinchu Science District de Taiwan

O Hsinchu Science-Based Industrial Park, criado em 1980 pelo governo de


Taiwan, foi o principal responsável pela transformação de Taiwan de uma ilha
pobre, especializada na produção de brinquedos, guarda-chuvas e TVs, em um
centro global de projeto e manufatura de sistemas eletrônicos. Em 2001, o país,
com uma população de 22 milhões de pessoas, estava produzindo 27 milhões de
PCs de mesa por ano e dominando o mercado global de notebooks (SAXENIAN,
2006).
No fim da década de 90, o país se tornou o terceiro maior produtor de
hardware para TI, atrás apenas dos EUA e Japão, com as exportações de TI
representando quase metade do total de exportações do país, e a renda per capita
dobrando de 1988 para 1999. No ranking internacional de patentes, o país pulou
da vigésima-primeira posição em 1980 para a sétima em 1995. Empresas
localizadas na região, hoje em dia, projetam e produzem sistemas eletrônicos com
tecnologia de ponta para grandes multinacionais como, por exemplo, notebooks
para a Dell, playstations para Sony, iPods para Apple e PDAs para a Palm. A
região produz não só o estado da arte em circuitos impressos e PCs , como
também notebooks (73% da produção mundial), PDAs (55% da produção
mundial), monitores LCD para computador (65% da produção mundial), placas-
mãe (78% da produção mundial), discos óticos (45% da produção mundial),
câmeras digitais (40% da produção mundial), conectores, teclados, scanners,
modems etc.(SAXENIAM, 2006).
A região de Hsinchu foi escolhida para a instalação do parque em função
da proximidade com o instituto de pesquisa estatal ITRI (Industrial Technology
and Research Institute) e as universidades National Tsing Hua University e
84

National Chiao Tung University. Posteriormente o laboratório estatal ERSO


(Eletronics Research and Services Organizations) se transferiu para a região.
No final da década de 70, empresas de componentes eletrônicos dos EUA
e Japão se interessavam por Taiwan devido ao baixo custo de sua mão-de-obra.
Na década de 80, as empresas de Taiwan passaram a produzir componentes
eletrônicos para grandes marcas no modelo OEM (Original Equipment
Manufacturing) e na década de 90 no modelo ODM (Original Design
Manufacturing), onde, neste último, a empresa local passa a ter grande autonomia,
sendo a responsável pelo projeto, engenharia, produção, gerenciamento do
inventário e logística. Atualmente, as empresas de Taiwan buscam desenvolver
marcas próprias tendo como foco a inovação e o processo de fabricação vem
sendo transferido para a China.
As principais causas do sucesso do cluster de inovação de Taiwan,
analisadas a partir da tipologia descrita neste capítulo são descritas a seguir:

• Papel do Estado
O Estado desempenhou um importante papel no desenvolvimento da indústria
de componentes eletrônicos e na criação do Hsinchu Science District.
Inicialmente implantou uma infra-estrutura de alta qualidade na região para
dar suporte às startups no desenvolvimento e manufatura de produtos de alta
tecnologia (KOH et al., 2003). Para atrair empresas intensivas em pesquisa
para a região, o governo oferecia terrenos subsidiados, incentivos fiscais e
financiamento para atividades de P&D através dos bancos estatais que
participavam em joint ventures com até 49% das ações (SAXENIAN, 2006).
As atuações dos institutos públicos ITRI e ERSO garantiam a transferência de
tecnologia para empresas domésticas.
Apesar da forte presença do Estado nos estágios iniciais do distrito, o seu
crescimento se deu em função da iniciativa privada através da indústria de
venture capital. Saxeniam (2006) aponta as diferenças de Taiwan para seus
competidores do sudeste da Ásia, Singapura e Malásia. Nas décadas de 60 e
70, os três países tinham como estratégia atrair empresas multinacionais para
instalarem fábricas de componentes eletrônicos em seus territórios através de
incentivos e subsídios, além de uma mão-de-obra barata. A partir da década de
85

80, o governo de Taiwan passou a encorajar o empreendedorismo, o


aprimoramento das capacidades domésticas, o investimento em educação
superior e o retorno dos nativos de Taiwan que trabalhavam nos EUA.
Singapura e Malásia, que mantiveram a mesma estratégia dos anos 60 e 70,
têm hoje uma indústria de TI majoritariamente controlada pelo Estado e pelas
multinacionais com pouca participação das empresas domésticas em inovação.
O investimento em educação superior também trouxe resultados expressivos
em Taiwan. O número de graduados cresceu de menos de 10.000 por ano em
2001 para aproximadamente 200.000 em 1996 – equivalente a 18% da
população acima de 25 anos – sendo que 40% foram graduados em
Engenharia (SAXENIAN, 2006).

• Empreendedorismo
Ao contrário do Japão e da Coréia, nos quais empresas gigantes dominam a
indústria de TI, em Taiwan esta indústria consiste em aproximadamente
10.000 produtores altamente especializados, formados principalmente por
pequenas e médias enpresas e localizados na região de Hsinchu. Apesar de
muitas startups terem sido originadas no instituto governamental ITRI, é a
presença abundante do venture capital que possibilitou e ainda possibilita o
empreendedorismo na região (KOH et al., 2003). As grandes empresas de
Taiwan, como a Acer (a maior e a mais conhecida empresa de tecnologia),
também contribuíram para a descentralização da infraestrutura local, ao
suportarem spin-offs e start-ups internos. Muitas empresas de placas-mãe de
computadores em Hsinchu tiveram sua origem na Acer, em um processo
semelhante ao da empresa Fairchild no Silicon Valley22.
Os profissionais que retornaram para Taiwan após trabalharem nos EUA têm
um papel importante no crescimento do empreendedorismo. Em 2000, 42%
das novas empresas que se instalaram em Hsinchu tinham um destes
profissionais como fundadores (SAXENIAN, 2006).

22
A Fairchild Semicondutor, criada em 1958 no Silicon Valley, foi a primeira empresa a conseguir
a produção em massa de circuitos integrados. A partir da Fairchild surgiram inúmeros spin-offs e
start-ups tais como a Intel, Signetics (hoje Philips Semiconductors), National Semiconductors e
AMD. Estas empresas, principalmente a Intel, criada por dois dos fundadores da Fairchild,
formaram a base da indústria de semicondutores dos EUA.
86

• Papel das instituições científicas e tecnológicas


A ilha possui quatro universidades de engenharia de elite – National Taiwan
University, National Chiao Tung University (NCTU), National Tsing Hua
University e National ChengKo University, além do Industrial Technology
Research Institute (ITRI), Eletronics Research and Services Organizations
(ERSO) e de mais três labotatórios nacionais (National Center for High
Performance Computing, Synchronous Radiation Research Center e National
Space Program Office). Estas instituições têm uma forte ligação com as
empresas da região de Hsinchu.

• Grau de territorialidade, aprendizado e colaboração


As redes domésticas de ex-alunos, as conexões externas com o Silicon Valley
e a mobilidade da mão-de-obra são ferramentas poderosas para o aprendizado
e a colaboração informal entre as empresas de Hsinchu. Engenheiros chineses
que trabalham no Silicon Valley e em Taiwan formaram associações locais
para troca de idéias e aconselhamento. Estas conversações entre engenheiros
dos dois lados do Pacífico contribuem para a criação de identidades coletivas e
compromissos para o desenvolvimento de projetos conjuntos, auxiliando no
aprendizado das empresas locais. Estas associações também são consultadas
pelos oficiais do governo de Taiwan para traçar as diretrizes da política
industrial e para incentivar a descentralização da indústria. Alguns exemplos
destas associações: Chinese Institute of Engineer/USA- organização técnica
que promove a comunicação e o intercâmbio de informações entre
engenheiros e cientistas chineses; Asian American Manufactures Association –
rede de negócios entre empresas da Ásia e EUA e Monte Jade Science and
Technology Association- promove a cooperação de negócios e investimentos
de longo prazo entre Taiwan e o Silicon Valley (SAXENIAN, 2006).
A infra-estrutura de alta qualidade do distrito de Hsinchu, a presença de
universidades de engenharia de ponta, a existência de uma mão-de-obra
treinada e qualificada, a presença de empresas líderes com atuação global e
um ambiente que estimula o aprendizado e a colaboração entre as empresas do
cluster e também com os profissionais que trabalham no Silicon Valley dão ao
87

distrito de Hsinchu um alto grau de territorialidade para atividades produtivas


e inovativas.

• Conexão com os líderes


O grande número de pessoas originárias de Taiwan que trabalham no Silicon
Valley, em conjunto com os que retornaram para o país natal após longos
períodos nos EUA, são os principais responsáveis pelo forte vínculo existente
entre o Sillicon Valley e Hsinchu. No início dos anos 80, o ITRI estabeleceu
seu primeiro escritório no exterior no Silicon Valley. Posteriormente outras
agências governamentais fizeram o mesmo, incluindo o Hsinchu Science Park.
O objetivo destas agências era monitorar as tendências industriais e
tecnológicas para os produtores locais. Elas também se ocupavam de manter
um banco de dados dos engenheiros e cientistas de computação nativos da
China e de Taiwan que trabalhavam no Vale com o objetivo de recrutá-los
para voltarem para Taiwan fornecendo-lhes informações para criarem
negócios de tecnologia na ilha ou para trabalharem em empresas locais. No
período entre 1986 e 1996, mais de 40.000 chineses retornaram para Taiwan
vindos dos EUA, formando redes informais de ex-alunos de engenharia de
Stanford, ex-funcionários da IBM, do laboratório Bell etc. que se encontram
regularmente em Hsinchu. Estes profissionais que retornaram para Taiwan,
muitos deles tendo trabalhado mais de 10 anos nos EUA, trouxeram com eles
não apenas aptidão técnica, mas também conhecimento organizacional,
gerencial e de mercado com o estado da arte em tecnologia, além de uma
ampla rede de contatos com o setor de TI dos EUA (SAXENIAN, 2006). Este
forte relacionamento entre Hsinchu e o Silicon Valley se traduz em inúmeras
colaborações formais e informais entre investidores, empreendedores,
empresas pequenas e médias, além de divisões de grandes empresas
localizadas em ambos os países.

• Capital de risco
A base para o desenvolvimento da indústria de alta tecnologia em Taiwan foi,
além da criação do parque tecnológico de Hsinchu, o desenvolvimento de uma
indústria doméstica de capital de risco. Com o apoio do Ministério de
88

Finanças, membros do governo consultaram profissionais de investimento,


organizaram colaborações com grandes bancos americanos para adquirir
conhecimentos gerenciais e de finanças e enviaram grupos para o Silicon
Valley para serem treinados no gerenciamento de firmas de venture capital.
Em 1990 havia 20 empresas de venture capital em Taiwan. Em 1999 este
número passou a 153. O total investido em mais de 1800 empresas atingiu 1,3
bilhão de dólares. Taiwan hoje tem a terceira maior indústria de venture
capital do mundo, atrás apenas do Silicon Valley e de Israel23 e a terceira
maior bolsa de valores em volume negociado, atrás apenas de Nova York e
Londres (SAXENIAN, 2006). A presença do capital de risco transformou a
região de Hsinchu em um laboratório aberto para o crescimento de empresas
de tecnologia e foi o que diferenciou Taiwan dos demais países asiáticos como
Malásia e Singapura.

• Capital Humano
O número de graduados com educação superior em Taiwan cresceu de menos
de 10.000 por ano em 1961 para aproximadamente 200.000 em 1996,
correspondendo a 18% da população com mais de vinte cinco anos. Destes,
40% foram graduados em engenharia. É uma mão-de-obra altamente
capacitada não só pela excelência das ICTs locais, mas também porque muitos
vão estudar nas melhores universidades americanas. No início da década de 90
mais de 30% dos engenheiros que foram estudar nos EUA retornaram para
Taiwan, contra menos de 10% nos anos 60 e 70 (SAXENIAN, 2006).
• Presença de multinacionais
Diferentemente dos anos 60 e 70, quando as multinacionais instalavam suas
fábricas em Taiwan para aproveitar o baixo custo da mão-de-obra local, a
partir do ano 2000 empresas estrangeiras passaram a instalar seus centros de
P&D no país. Com o objetivo de estar próximos de fornecedores essenciais
para reduzir o tempo de lançamento de novos produtos no mercado, empresas
como Intel, IBM, Sony, Dell, 3Com, Broadcom, Conexant, HP, Motorola,
Alcatel e Nortel Networks estabeleceram novos centros internacionais de
P&D em Taiwan.

23
Alguns órgãos, como o Dow Jones, apresentam uma classificação diferente.
6
DESENVOLVIMENTO DE UM CLUSTER DE INDÚSTRIAS
CRIATIVAS DE BASE TECNOLÓGICA NA CIDADE DO RIO
DE JANEIRO

Este capítulo traz um diagnóstico da Cidade do Rio de Janeiro tendo em


vista seu potencial para o surgimento e o crescimento de um cluster de ICBT.
Inicialmente são analisadas as estratégias do Governo Brasileiro para a Ciência,
Tecnologia e Inovação com o foco em assuntos relacionados com a ICBT. Em
seguida são apresentados os principais atores da cadeia da ICBT atualmente
existentes no município, bem como os dados das indústrias criativas e da indústria
de TIC no Estado. São analisadas algumas propostas que surgiram para
transformar a Cidade do Rio de Janeiro em uma referência nacional para a
indústria da megamídia, com destaque para o projeto do laboratório VisionLab do
departamento de informática da PUC-Rio. O capítulo apresenta as vantagens
locacionais e culturais que a cidade possui para abrigar um cluster de ICBT e
conclui com as recomendações que devem ser consideradas para o
desenvolvimento de clusters de inovação da indústria de megamídia na cidade do
Rio de Janeiro.

6.1
Estratégias do Governo Brasileiro para Ciência, Tecnologia e
Inovação

O Governo Brasileiro lançou, através do Ministério de Ciência e


Tecnologia, o Plano de Ação para Ciência, Tecnologia e Inovação para o período
2007-2010 (MCT, 2007). Nesta seção serão apresentados os pontos mais
relevantes do plano que, de alguma forma, estão relacionados com o
desenvolvimento das ICBTs no país. A análise crítica destas ações será
apresentada na conclusão deste trabalho (capítulo VII).
O plano do MCT contempla 21 linhas de ações dividas em quatro
prioridades estratégicas: Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de
90

C,T&I; Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas; Pesquisa,


Desenvolvimento e Inovação em Áreas Estratégicas e C,T&I para o
Desenvolvimento Social. O plano reconhece que, apesar de o conhecimento no
país ter avançado nos centros de ensino e pesquisa24, a capacidade de produzir
inovações tecnológicas por parte das empresas deixou a desejar25. Por isso ele tem
como uma de suas metas integrar a política de C,T&I à política industrial de modo
que as empresas sejam estimuladas a incorporar a inovação em seus processos
produtivos para que possam aumentar sua competitividade global. Apesar de o
foco maior continuar sendo o apoio à pesquisa em universidades e ICTs, o
reconhecimento de que a inovação se dá nas empresas e que o Estado deve apoiá-
las financeiramente foi um avanço. O marco regulatório desta mudança foi a Lei
de Inovação de 2004, que permitiu a participação minoritária do governo federal
no capital de empresas privadas de propósito específico que visem ao
desenvolvimento de inovações, além da concessão de recursos financeiros sob a
forma de subvenção econômica, financiamento ou participação acionária visando
ao desenvolvimento de produtos e processos inovadores. Além disso, o plano
inclui o apoio para a criação de centros de P,D&I nas empresas com o intuito de
atenuar uma distorção: no Brasil, ao contrário do que ocorre nos países
desenvolvidos, os pesquisadores estão em sua grande maioria concentrados nas
universidades e pouco contribuem para ampliar a capacidade do país de gerar
inovações competitivas.
O plano prevê ampliar o financiamento para a formação, qualificação e
fixação de recursos humanos, em especial de pesquisadores e de quadros técnicos
de suporte à pesquisa e à inovação. Segundo o MCT (2007), o Brasil forma quase
10 mil doutores por ano desde 2006, no entanto existem no total apenas 70 mil
pesquisadores-doutores ativos no país. Esta baixa densidade de pessoal
qualificado torna-se ainda mais grave quando se observa a pequena densidade de
pesquisadores-engenheiros que servem à indústria nacional. Em função disso, o
plano, entre outras ações voltadas para recursos humanos, inclui: ampliação do
número de bolsas de pós-graduação com alocação de cotas extras para as
24
Entre 1981 e 2006 a expansão de artigos científicos do Brasil publicados em revistas
internacionais deu-se a uma taxa média de 9% ao ano, enquanto a elevação mundial anual foi de
3%. Neste período a participação de brasileiros na produção científica mundial passou de 0,44%
para 1,92% (MCT, 2007).
25
Em 2005 houve redução de 13,8% no número de patentes requeridas no Brasil, enquanto
ocorreu acréscimo de 32,9% na China, 14,8% na Coréia e 1,3% na Índia (MCT, 2007).
91

engenharias e áreas da ciência e da tecnologia consideradas estratégicas para o


desenvolvimento do país, apoio à criação de mestrado profissional, apoio a
projetos que viabilizam a inserção de pesquisadores –engenheiros e doutores – nas
empresas e apoio à fixação de pesquisadores envolvidos em atividades de
pesquisa, desenvolvimento e inovação nas ICTs.
Outra ação contida no plano é o fomento à criação e à expansão da
indústria de capital empreendedor no país através do programa Inovar. Por meio
da ação da FINEP, este programa busca incentivar o surgimento de fundos de
participação acionária em empresas inovadoras de diferentes estágios de
crescimento (fundos semente para empresas nascentes; fundos venture capital
para empresas emergentes e fundos private equity para empresas maduras ou em
desenvolvimento para mercado). O objetivo é desenvolver uma estrutura voltada
para estimular a criação de novos fundos, atrair novos investidores institucionais
(nacionais e internacionais) e disseminar as melhores práticas de seleção e análise
de fundos. Segundo a FINEP (SITE 9), desde 2001 já foram enviadas 105
propostas de fundos por 51 gestores diferentes, tendo a FINEP já aprovado
investimentos em 22. Estes fundos aportaram recursos em quase 50 empresas com
um volume total comprometido de US$2,4 bilhões e participação média da FINEP
de 10%. A indústria de venture capital e private equity no Brasil é da ordem de
US$26,6 bilhão, correspondendo a 1,7% do PIB. Apesar do crescimento médio de
53,4% ao ano desta indústria desde 200426, o percentual sobre o PIB ainda é bem
inferior ao de países desenvolvidos como EUA e Inglaterra que gira em torno de
4% do PIB.
Em relação à linha de ação para as TICs, o plano de ação do MCT prevê
um programa de estímulo ao setor de software e serviços relacionados a
segmentos emergentes e de alto potencial de crescimento, entre eles TV digital,
visualização, entretenimento e software como serviço, atividades típicas das
ICBTs. Este programa tem como meta realizar chamadas/editais/encomendas dos
Fundos Setoriais de C,T&I dedicados ao fomento de projetos conjuntos entre
empresas e instituições de P,D&I para a Rede Brasileira de Visualização (RBV) e
para outros segmentos emergentes de TICs. Interessante notar que, para estimular
o segmento de visualização, onde estão inseridas as ICBTs, o Governo propõe a

26
Passou de 0,6% do PIB em 2004 para 1,7% em 2008 (SITE 9).
92

formação de uma rede nacional, ao passo que a nossa proposta para o segmento
está centrada no desenvolvimento de clusters, uma vez que a transmissão de
novos conhecimentos necessários para gerar produtos inovadores ocorre de
maneira mais eficiente entre atores localizados próximos uns dos outros.

6.2
A Situação Atual das ICBTs na Cidade do Rio de Janeiro

A Cidade do Rio de Janeiro possui uma vocação para atividades de


audiovisual, multimídia e entretenimento digital que pode ser comprovada pela
existência dos principais atores na cidade - pólo de cinema e vídeo, redes de TV,
estúdios, produtoras, institutos de pesquisa e universidades, centros culturais,
incubadoras de empresas nas áreas de tecnologia e cultura, planetário e empresas
de software – com atividades relacionadas com a cadeia produtiva das ICBTs.
A percepção das vantagens de se estimular aglomerados produtivos locais
de empresas do setor de audiovisual para aproveitar a vocação da Cidade é antiga.
O Pólo Rio de Cinema, Vídeo e Comunicação nasceu de uma idéia da Prefeitura
em 1986 de criação de pólos industriais com atividades não poluentes que se
enquadrassem na vocação econômica da Cidade. A existência de um cluster de
audiovisual na Cidade do Rio é atestada por algumas instituições. O SEBRAE
identificou um Arranjo Produtivo Local de Audiovisual que envolvia 191
estabelecimentos, gerando mais de 8.000 postos de trabalho, sendo a maior parte
concentrada no segmento de TV sob a liderança da Rede Globo de Televisão
(BRITTO, 2004). A RedeSist-UFRJ fez uma análise do que ela denominou como
Sistema Produtivo e Inovativo Local (SPIL) de Audiovisual do Rio de Janeiro,
englobando atividades centradas na criação, produção, distribuição e
comercialização de conteúdos baseados em audiovisual, para o cinema, a
televisão, institucional e novas mídias (MATOS, GUIMARÃES e SOUZA,
2008). Estes autores constataram em pesquisa de campo que as produtoras de
audiovisual consideram uma importante vantagem competitiva o fato de estarem
localizadas no Rio de Janeiro em função principalmente dos seguintes fatores:
participação em atividades cooperativas, qualidade da mão-de-obra, acesso aos
canais de distribuição e proximidade com os fornecedores de equipamentos.
93

A Cidade foi o berço do cinema brasileiro e hoje é a sede dos mais


importantes órgãos de apoio e fomento à produção audiovisual, como a Agência
Nacional do Cinema (Ancine), a Riofilme e o Centro Técnico Audiovisual
(CTAV). A cidade conta ainda com os mais respeitados laboratórios e os
melhores e maiores estúdios brasileiros. Nada menos que 60% das empresas
produtoras de cinema estão instaladas na cidade, dentre elas a Globo Filmes, que
possui nove das dez maiores bilheterias de filmes nacionais da última década
(SITE 5). No centro desta cadeia produtiva, estão as Organizações Globo, um
complexo multi-midiático que inclui rádio AM e FM, TV, cinema, jornais,
revistas, editora, servidor de internet, jornal on-line, agências de notícia, entre
outras, que ocupam um contingente de cerca de 20 mil pessoas (MATOS et al.,
2008). De especial interesse para a ICBT é a Rede Globo de Entretenimento, que
engloba a Globo Filmes (atuação no segmento de cinema), a TV Globo (televisão
aberta) e a Globosat (televisão por assinatura). A Rede Globo de Televisão
responde por cerca de 70% do faturamento das Organizações Globo e é
atualmente a quarta rede de televisão do mundo e a primeira em produção e
exibição de conteúdo próprio (SITE 5).
Os principais atores da cadeia de megamídia atualmente existentes no
município são descritos a seguir:
• Central Globo de Produções – Projac - Localizado no bairro de
Jacarepaguá, zona oeste do Rio, o Projac tem uma área total de 1,65
milhão de metros quadrados, dos quais 137 mil metros quadrados são de
área construída. Possui três cidades cenográficas totalizando 160 mil
metros quadrados; 32 unidades portáteis de produção para gravação das
cenas; salas de controle de estúdio, com 26 câmeras; um prédio de arquivo
de fitas, automatizado e robotizado, com 250 mil cópias; dez estúdios
acusticamente tratados, com 8 mil metros quadrados, e avançados recursos
de iluminação. Os quatro estúdios dedicados à produção de novelas já
disponibilizam tecnologia para gravação HDTV. O consumo de energia no
Projac equivale ao de uma cidade de 75 mil habitantes (SITE 5).
Atualmente, a Central é um dos mais importantes centros de
teledramaturgia do mundo e serve de laboratório em todas as áreas
94

técnicas para a produção nacional, além de ser aglutinador dos melhores


atores e técnicos do audiovisual brasileiro.
• Pólo Rio de Cinema, Vídeo e Comunicação - Localizado na Barra da
Tijuca, em uma área de 410 mil metros quadrados, é o maior pólo desta
natureza da América do Sul, tendo sido inaugurado em 1997 (MATOS et
al., 2008). O pólo é dividido em quatro setores: a central de estúdios, a
área dos associados, a área de atividades complementares e a área de hotel.
Idealizado para ser um complexo audiovisual de grande porte com
tecnologia de última geração, o pólo abriga atualmente oito estúdios - num
terreno que pertence à prefeitura e que é alugado para a Associação das
Empresas do Pólo Rio - e cerca de 60 produtoras independentes que
adquiriram lotes vendidos pela prefeitura de forma subsidiada, além do
Sindicato da Indústria Cinematográfica (SITE 3). Gerido pela associação
com recursos próprios e com 91 empresas associadas, mas com apenas 38
em funcionamento, o pólo está longe de atingir a excelência
principalmente em relação a processos tecnológicos inovadores. Nos
últimos anos, o pólo tem sofrido um processo de esvaziamento, fruto de
especulação imobiliária (os terrenos se valorizaram e há uma pressão de
venda para empresas não relacionadas com o setor audiovisual) e de uma
administração que, há 20 anos no poder, não se renovou nem conseguiu
fomentar a integração entre os associados (DUARTE, 2009).
• Instituições Científicas e Tecnológicas – O Estado do Rio de Janeiro
abriga 334 programas de pós-graduação27 oferecidos em 41 Instituições,
sendo que 240 (72%) destes programas são oferecidos na capital
(FAPERJ, 2008). A Cidade do Rio de Janeiro possui uma das infra-
estruturas de ensino, ciência e pesquisa mais completas e consolidadas do
Brasil na área de megamídia, com ICTs de reconhecida excelência que
desenvolvem projetos relacionadas com o setor, tais como a PUC-Rio,
COPPE/UFRJ, IMPA, UERJ e IME.
• Rede Record – Localizado em Vargem Grande, no município do Rio de
Janeiro, o RecNov (Record Novelas) é um complexo de 200 mil metros
quadrados onde trabalham cerca de 1800 funcionários. O espaço possui
27
O Estado ocupa a segundo colocação em número de cursos de pós-graduação no país (FAPERJ,
2008).
95

oito estúdios instalados com modernos equipamentos para produção de


telenovelas e minisséries e previsão de construção de mais dois estúdios
(SITE 4).
• Incubadoras de empresas – As principais universidades da cidade possuem
incubadoras de empresas de tecnologia, sendo que o Instituto Gênesis da
PUC-Rio e a incubadora da COPPE/UFRJ estão entre as mais profícuas do
país.

6.3
O Potencial de Crescimento das ICBTs na Cidade do Rio de Janeiro

Traduzir a situação atual das ICBTs na cidade do Rio de Janeiro em


números (como, por exemplo, quantidade de trabalhadores, geração de renda,
número de estabelecimentos e participação no PIB do Estado) não é possível pelos
seguintes motivos: (i) muitas das atividades das ICBTs são novas e não constam
na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0) do Instituto
Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), tais como produção de videogames e
animações digitais; (ii) algumas atividades constantes do CNAE podem ou não ser
atividades de ICBTs, como, por exemplo, produção cinematográfica que só terá a
participação de uma ICBT caso a produção utilize animação ou cenário virtual, o
que não é especificado na classificação do CNAE.
Como as ICBTs podem ser consideradas, resumidamente, como a
intersecção entre o conjunto de ICs e as empresas de tecnologia, informação e
comunicação (TICs), conforme descrito no Capítulo IV, uma boa aproximação
para analisar o potencial das ICBTs na Cidade do Rio de Janeiro consiste na
análise em separado da Indústria Criativa e da indústria de TIC.
O papel desempenhado pelas ICs no Estado do Rio de Janeiro foi
analisado pelo relatório da cadeia da Indústria Criativa no Brasil, elaborado pela
Firjan (2008). Utilizando os setores da IC definidos pelo Ministério de Cultura,
Mídia e Esportes do Reino Unido na classificação do CNAE e as estatísticas
disponibilizadas pelo Ministério do Trabalho através do RAIS, este relatório
identificou pontos que reafirmam a vocação do Estado do Rio de Janeiro em
setores ligados à criatividade. Entre as questões abordadas, as mais significativas
96

para efeito deste trabalho são: o Estado do Rio possui o maior percentual de
trabalhadores em setores da IC entre as unidades da federação (2,44% contra
1,82% do país como um todo), a remuneração destes trabalhadores é a maior entre
seus pares (31% superior à renda média dos trabalhadores do núcleo criativo do
país) e a participação da cadeia da IC no PIB fluminense é o maior percentual
(4%) entre os Estados da federação (São Paulo é de 3,4%, e a média ponderada de
todos os estados da federação é de 2,6%). Entre os setores da IC, televisão, artes
visuais e software apresentaram as maiores rendas per capita, principalmente em
função da presença das grandes emissoras, produtoras e empresas de software
localizadas na Cidade do Rio de Janeiro. Segundo Matos, Guimarães e Souza
(2008), em termos relativos, o Rio de Janeiro contribuiu com 52% da produção
cultural no Brasil em 1999.
O papel da indústria de TIC no estado do Rio de Janeiro pode ser analisado
a partir dos registros de propriedade intelectual (propriedade industrial e direito
autoral de software) depositados no INPI (Instituto Nacional de Propriedade
Industrial). Esta análise nos pareceu a mais apropriada em função da importância
da geração e da exploração da propriedade intelectual para as ICBTs, como está
expresso na própria definição desta indústria apresentada no Capítulo IV.
Os pedidos de patentes depositados por residentes do Estado do Rio de
Janeiro em 2007 foram de 552 representando 8,2% do total do país e a quinta
posição entre os Estados da federação. Quando analisamos os dados específicos
da indústria de TIC, tais como registros de programas de computador e contratos
de tecnologia, a participação do Estado do Rio aumenta consideravelmente. O
número de depósitos de programas de computador no INPI28 provenientes do
Estado do Rio de Janeiro em 2006 foi de 383, representando 24,6% do total do
país, atrás apenas do Estado de São Paulo, com cerca de 40%. Contratos de
tecnologia são aqueles que resultam em transferência de tecnologia, incluindo
licença de direitos de propriedade industrial (exploração de patentes e de desenho
industrial e uso de marcas), aquisição de conhecimentos tecnológicos
(fornecimento de tecnologia e prestação de serviços de assistência técnica e
científica) e franquias. O número de certificados de averbação destes contratos por

28
Estes números não significam que estas invenções foram desenvolvidas no local, apenas
indicam onde foram depositadas. Estes dados, portanto, devem ser analisados com a devida
cautela.
97

unidade da federação da empresa cessionária em 2005 no Estado do Rio foi de


394, representando 26,8% do total do país, perdendo apenas para o Estado de São
Paulo, que tem 39,3% (Banco de Dados do INPI- site: www.inpi.gov.br).
Considerando que o Estado de São Paulo tem uma área quase seis vezes maior,
sete vezes mais municípios e uma população duas vezes e meia maior que o
Estado do Rio, percebe-se a força da indústria de TIC no Estado do Rio de
Janeiro.
Vê-se, portanto, que o Estado do Rio de Janeiro tem uma posição de
destaque no cenário nacional tanto em relação às ICs quanto em relação às TICs, o
que nos permite concluir que as ICBTs têm um grande potencial de crescimento
no Estado. A influência da capital na economia do Estado é enorme. Dos 92
municípios do Estado, o município do Rio foi o responsável em 2005 por 5,5% do
PIB nacional, 48,2% do PIB Estadual e 70,4% do PIB da região metropolitana29
(ZANI, 2008). Além disso, os principais atores e instituições das ICs e das
indústrias de TIC se encontram na Cidade do Rio de Janeiro. Em estudo do
SEBRAE sobre arranjos produtivos locais que apontou a existência de um APL de
informática na Cidade do Rio, aproximadamente 97% do emprego e dos
estabelecimentos de informática do Estado concentravam-se na região da capital
(BRITTO, 2004). Podemos concluir, portanto, que a liderança representada pelo
Estado do Rio de Janeiro representa, na verdade, a liderança da Cidade do Rio de
Janeiro.
Este potencial de crescimento das atividades de megamídia na Cidade do
Rio de Janeiro já foi percebido por algumas instituições locais. Estas instituições
desenvolveram planos ou projetos que, de alguma forma, buscam estimular as
atividades desta indústria na Cidade, com o objetivo de torná-la uma referência no
Brasil. Os dois itens a seguir descrevem alguns destes projetos.

29
O PIB do município do Rio, que participou em 2005 com 5,5% do PIB nacional, é o segundo
maior do país, atrás apenas da Cidade de São Paulo com 12,3% do PIB nacional. O Estado do Rio
de Janeiro participou com 11,5% do PIB nacional (ZANI, 2008).
98

6.4
O Projeto do VisionLab

O projeto mais consistente foi desenvolvido pelo laboratório VisionLab-


Rio, do departamento de informática da PUC-Rio. Este projeto tem como objetivo
transformar a Cidade do Rio em um pólo nacional na área de visualização. A idéia
do laboratório é atuar como âncora tecnológica para a indústria da megamídia
com base nas seguintes atividades: pesquisa e inovação, formação de pessoal
especializado em megamídia, prestação de serviços e representação junto ao poder
público para estímulo à formação de um cluster de megamídia (FEIJÓ, 2003).
Laboratórios de atividades relacionadas com megamídia, ligados a universidades
de pesquisa e que servem como apoio tecnológico para a indústria, podem ser
encontrados em diversos lugares ao redor do mundo como o MIT Media Lab, o
Center for Creative Technologies da University of Southern Califórnia, o Central
Florida Research Park e o VR&MM Park de Turin, sendo que apenas nos dois
últimos os laboratórios estão localizados dentro do parque de empresas de
tecnologia.
O VisionLab propôs a criação de uma rede de pesquisa colaborativa que
serviu como base para o lançamento pelo governo federal da Rede Brasileira de
Visualização (RBV). Em 2007, o Ministério da Ciência e Tecnologia lançou o
Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para os anos 2007-2010, onde a
RBV aparece como um dos segmentos emergentes prioritários das TICs para
pesquisa, desenvolvimento e inovação em áreas estratégicas e a Cidade do Rio de
Janeiro aparece como um dos nós desta rede (MCT, 2007).
Apoiado pelo governo através de verba repassada pela FINEP, O
VisionLab-Rio inaugurou em 2005 modernas instalações no Pólo de Cinema e
Vídeo da Barra da Tijuca, formando um dos nós da RBV para a área de
audiovisual. A idéia era ficar próximo das empresas lá instaladas e servir como
âncora tecnológica para elas. Com o fim das verbas do governo, que não
considerou como sua responsabilidade a etapa posterior à implantação, e com os
projetos para o setor privado em número insuficiente, o laboratório não conseguiu
se manter no Pólo de Cinema e Vídeo, fechando suas portas em meados de 2008.
Interessante notar que o VR&MM Park de Turin, que apresenta as maiores
semelhanças com o Rio de Janeiro (a cidade de Turin também possui vocação em
99

TV, além de ter sido o berço do cinema italiano), também enfrenta grandes
dificuldades financeiras e de integração com o mercado, uma vez que o governo
italiano, após investimentos da ordem de 30 milhões de Euros no parque durante
quatro anos, não considera como sua responsabilidade investimentos após a
inauguração (FEIJÓ e BADARÓ, 2006).
A experiência do VisionLab traz questões importantes que devem ser
discutidas: Quanto tempo o governo deve financiar empreendimentos em
inovação tecnológica? A política de inovação deve ser regional ou centralizada?
Como estimular a integração dos laboratórios com a indústria? No caso do
VisionLab, o governo não planejou corretamente o investimento no laboratório,
ao não levar em consideração que em inovação os investimentos devem ser de
médio e longo prazo. Além disso, seria também importante que o laboratório
buscasse uma maior integração com o mercado através de contatos e divulgação
dos seus serviços.

6.5
Outras Propostas Existentes

O Instituto Gênesis da PUC-Rio tem um projeto de construção de uma


Plataforma de Mídias Convergentes e Indústrias Criativas do Estado do Rio de
Janeiro, cujo objetivo é desenvolver e consolidar o setor da megamídia e das
indústrias culturais na região. O projeto pretende apoiar o desenvolvimento dos
seguintes pólos no Estado do Rio (INSTITUTO GENÊSIS, 2008):
• Pólo Gávea/Jardim Botânico: Parque Tecnológico e Cultural Urbano da
Gávea. Áreas de atuação: TI, Design, Moda e Áudio.
• Pólo Barra/Jacarepaguá: Parque de Audiovisual da Barra. Áreas de
atuação: Produção e Pós-produção de Audiovisual e TV Digital
• Pólo Niterói: Centro Tecnológico de Audiovisual de Niterói. Áreas de
atuação: E-Gov, Animação e Realidade Virtual para Cultura e Turismo.
• Pólo Nova Iguaçú: Fábrica de Software de Nova Iguaçu. Área de atuação:
Apoio Empresarial.
• Pólo Lapa/Centro: Centros de Cultura e Entretenimento. Área de atuação:
cultural.
100

Em dezembro de 2006, o Governo Federal lançou o Fundo Setorial do


Audiovisual (FSA), destinado ao desenvolvimento articulado de toda a cadeia
produtiva da atividade de audiovisual no Brasil. O fundo, gerido pela FINEP
através de operações reembolsáveis e não-reembolsáveis, tem como objetivos: o
desenvolvimento de novos meios de difusão da produção audiovisual; o
crescimento e a diversificação da infra-estrutura de serviços e de salas de
exibição; o aumento sustentado da participação de mercado em conteúdo
nacional; o incremento da cooperação entre os muitos agentes econômicos e o
fortalecimento da pesquisa e da inovação (SITE 6).
Em 2008, a RioSoft (Agente do Programa Softex de apoio à exportação de
software no Rio de Janeiro) divulgou as bases para o lançamento do Centro
Experimental de Conteúdos Interativos Digitais no Rio de Janeiro – CECID (SITE
7). O CECID tem como objetivo articular, em parceria com universidades e
empresas, as novas tecnologias demandadas pela convergência digital. O projeto
busca atualmente fontes de financiamento público para implantação do centro.
Recentemente, a prefeitura do Rio anunciou a intenção de criar um Centro
de Desenvolvimento de Empresas de Tecnologias Inovadoras (CDETI) na área do
Porto do Rio, como parte dos esforços de revitalização da área portuária. A idéia
prevê a instalação de uma incubadora de empresas de tecnologia da informação
junto com incubadoras ligadas à área cultural e à área de audiovisual, dentro do
conceito de convergência digital. O centro também pretende ter áreas
compartilhadas para serem usadas por empresas não incubadas para capacitação e
treinamento (JORNAL DO COMMERCIO, 2009).
Na Cidade de Niterói, vizinha a Cidade do Rio, há também um projeto de
criação de um pólo de inovação tecnológica. A idéia é criar um pólo digital
temático com o foco em entretenimento, cultura e mídias. O projeto conta com a
participação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da incubadora de
empresas da UFF e tem o apoio do Governo Municipal de Niterói e do Governo
do Estado do Rio de Janeiro.
Percebe-se que as propostas são semelhantes e totalmente desconectadas
umas das outras. Não há condições e nem mercado para vários pólos no Estado do
Rio, principalmente se levarmos em conta que já existe o Pólo Rio de Cinema,
Vídeo e Comunicação.
101

Apesar da percepção existente na academia e nas esferas pública e privada


do potencial de crescimento das ICBTs na Cidade do Rio de Janeiro representado
pelos planos e propostas acima descritos, falta uma análise focada nas
necessidades e nas instituições que devem ser implantadas para a formação de um
cluster de inovação para a ICBT. Esta é uma das lacunas que esta tese pretende
preencher.

6.6
O Ambiente Criativo da Cidade do Rio de Janeiro

A partir da definição de ambiente criativo descrita no item 4.5 desta tese,


descrevemos a seguir os principais fatores que moldam o ambiente criativo na
Cidade do Rio:
• Centro cultural e turístico do país – Antiga capital federal, a cidade do Rio
de Janeiro continua sendo a capital cultural do país e, devido a suas
belezas naturais, é a cidade brasileira mais conhecida no exterior. É,
portanto, uma típica representante da classe de cidades mundiais. Segundo
Acs, Bosma e Sternberg (2008), cidades mundiais apresentam claras
vantagens para o empreendedorismo, uma vez que pessoas criativas e
talentosas e, portanto, mais empreendedoras, preferem viver em cidades
com certos atributos como tolerância, vida cultural ativa e intensidade de
conhecimentos. Florida (2002) ressalta a forte concentração espacial de
criatividade e talento presente nas áreas metropolitanas a partir de análises
realizadas nos EUA.
• Estilo de vida – O estilo de vida mais informal do carioca é um atrativo
para que a classe criativa se estabeleça na cidade. Segundo Florida (2002),
o estilo de vida e instituições culturais, como por exemplo, uma nova cena
musical ou uma vibrante comunidade artística, ajudam a atrair e estimular
aqueles que utilizam criatividade em tecnologia e nos negócios. Este autor
cita inclusive o papel positivo da “boemia” no crescimento econômico das
regiões. Este ambiente social e cultural presente na cidade do Rio de
Janeiro também estimula e facilita a rápida transmissão de idéias e
conhecimentos. Matos et al. (2008) constataram através de pesquisa de
102

campo que os encontros informais e de lazer têm relevância para os


processos de aprendizado das empresas do setor de audiovisual do Rio de
Janeiro. Segundo eles, 60% das produtoras consideram estes encontros
como fontes de informação de alta ou média relevância, ao passo que entre
as empresas distribuidoras e exibidoras este índice chega a 80%. Estes
autores concluíram que “as questões culturais e o comportamento social
típico do carioca provavelmente têm alguma influência sobre a
forma/freqüência que os atores locais se relacionam ampliando a
relevância destes encontros para o aprendizado das empresas. Entre os
encontros informais que a cidade proporciona estão: o chope com os
amigos, a praia do final de semana e os encontros em restaurantes, clubes,
etc. Estas relações informais certamente acabam gerando spillovers para o
aprendizado das pessoas e das empresas, para a realização de parcerias e
ações cooperativas”.
• Relações pessoais menos formais - A maior informalidade nas relações
pessoais é uma característica das cidades praianas como o Rio de Janeiro.
Esta informalidade faz parte da cultura da cidade e está presente também
nas empresas que se estabelecem na região. Para Saxeniam (1994), este
tipo de informalidade estimula o aprendizado. Segundo esta autora, as
diferenças culturais existentes na informalidade da Califórnia (Silicon
Valley) e a postura mais formal e conservadora de Boston (Route 128)
ajudam a explicar o crescimento do Vale do Silício e o declínio da Rota
128, respectivamente. Enquanto no Vale do Silício imperavam a
comunicação informal entre as empresas, o aprendizado coletivo e a
colaboração, na Rota 128 as firmas atuavam de forma independente e
isolada, mantinham uma excessiva lealdade corporativa e guardavam
segredo das suas atividades. Um paralelo interessante pode ser traçado
entre Boston e São Paulo, e entre Rio de Janeiro e a Califórnia. As duas
primeiras são conhecidos centros financeiros e onde as relações pessoais
são mais formais, enquanto nas duas últimas as relações são mais
informais, o que estimula o aprendizado coletivo, a colaboração e o
florescimento de atividades criativas. Seguindo esta mesma linha, Henkel
(2002) enfatiza que a relação informal dos trabalhadores australianos da
103

região Northen Rivers foi um fator importante na criação de um cluster de


audiovisual e que através da colaboração entre seus membros tem
transformado a região em uma “região que aprende”.
• Belezas naturais - Henkel (2002) destaca a beleza natural e o atrativo estilo
de vida da região Northen Rivers na Austrália como pontos fundamentais
para o florescimento da indústria de audiovisual no local, uma vez que
estes fatores atraíram trabalhadores criativos para a região. A reconhecida
beleza natural da cidade do Rio, com suas praias e montanhas, é um
atrativo a mais para trazer a classe criativa para a cidade.
Todos estes fatores influenciam para tornar o ambiente criativo propício na
Cidade do Rio de Janeiro para atividades relacionadas com as ICBTs. Este
ambiente criativo pode ser sintetizado na frase do escritor mexicano Carlos
Fuentes (2009): “São Paulo não me interessa, mas o Rio é uma das minhas
imagens de felicidade. Quando penso no Brasil, penso no Rio, na gente do Rio, na
cultura carioca”.

6.7
Caminhos para Formação de um Cluster de ICBT na Cidade do Rio
de Janeiro

A economia do município do Rio de Janeiro é fortemente baseada em


serviços. Para se ter uma idéia desta dependência, do PIB do município de R$ 119
bilhões em 200530, 85% vem do setor de serviços, bem superior do que as taxas
correspondentes ao setor de serviços no PIB estadual (69%) e no PIB nacional
(65%) (ZANI, 2008). Assim, o setor de serviços é a grande força econômica e o
caminho para o desenvolvimento da cidade. As atividades da ICBT estão em linha
com esta vocação, uma vez que pertencem ao setor de serviços, além de
possuírem um alto valor agregado e um enorme potencial de crescimento para
tornarem-se uma importante alternativa para combater a decadência econômica da
cidade.

30
O município é o responsável pelo segundo maior PIB do Brasil e o trigésimo do mundo (SITE
13).
104

A Cidade do Rio de Janeiro tem, portanto, potencial para se tornar uma


referência para a ICBT no Brasil por apresentar vantagens estruturais, locacionais
e culturais em comparação com os demais municípios do país e que geram uma
maior externalidade para o desenvolvimento de clusters como o de megamídia.
Em outras palavras, a Cidade do Rio de Janeiro tem as condições para, usando a
linguagem do relatório da ONU (UNCTAD, 2008), se tornar uma Cidade Criativa
na área de megamídia.
A partir da análise dos clusters e parques tecnológicos de inovação que
fizemos no Capítulo V, podemos apontar algumas recomendações que devem ser
consideradas para o desenvolvimento de clusters de inovação em países
emergentes. No caso particular da Cidade do Rio de Janeiro, em que o potencial
para o desenvolvimento do setor de megamídia já foi reconhecido pelo governo
federal através da Rede Brasileira de Visualização, os esforços devem ser
concatenados e convergentes visando ao fortalecimento das atividades
relacionadas com a megamídia. As principais recomendações são as seguintes:
• Implantar instituições voltadas para a megamídia – A disseminação do
conhecimento localizado é a matéria-prima básica para a inovação. Para
isso deve ser estimulada a criação na Cidade do Rio de Janeiro de
instituições voltadas ao compartilhamento de informações relacionadas
com o setor de megamídia. Estas instituições teriam como papel a
elaboração de normas comuns, convenções e códigos para troca e
interpretação do conhecimento, definição de padrões e metas, coordenação
da relação entre as empresas do setor e destas com o Estado, identificação
coletiva de problemas e formação de alianças para resolvê-los, treinamento
e constate avaliação dos seus membros. Estas instituições devem contar
com a presença e o apoio do setor público, do setor privado e da academia.
O projeto da Riosoft de criar um Centro Experimental de Conteúdos
Interativos Digitais no Rio de Janeiro, descrito no item 6.5, caso se alinhe
aos objetivos descritos acima, poderia representar uma instituição voltada
para esse fim.
• Apoio do Estado - Clusters de inovação precisam do apoio do Estado nas
mais diversas dimensões: formação de mão-de-obra técnica e gerencial de
qualidade, infra-estrutura para instalação das empresas, estímulo à
105

instalação de laboratórios de pesquisa de multinacionais e apoio financeiro


para as empresas inovadoras e laboratórios de pesquisa ligados às
universidades para atuarem em conjunto com as empresas. O Estado deve
ter em mente que estes apoios devem ter uma duração de médio a longo
prazo e que os resultados em inovação tecnológica são raros e demorados,
particularmente nos estágios iniciais de mercados emergentes. Logo, esses
programas de apoio e subvenção devem ser de médio/longo prazo com o
montante sendo reduzido ao longo do tempo. Este apoio, no entanto, deve
ser gradualmente substituído por investimentos privados relacionados com
o capital de risco. Para a formação de um cluster de megamídia na Cidade
do Rio, é prioritário o apoio do Estado ao Pólo Rio de Cinema, Vídeo e
Comunicação da Barra da Tijuca para transformá-lo em um pólo de
inovação. O pólo, que hoje não conta com auxílio do Estado, passa por
dificuldades e conta com empresas pouco inovadoras. O apoio do Estado e
a melhoria na infra-estrutura, em conjunto com as demais recomendações
aqui propostas, trariam empresas inovadoras para o local. O apoio a
laboratórios de pesquisa como o VisionLab é outra medida importante. O
projeto do VisionLab de criar uma unidade no pólo da Barra da Tijuca,
que fracassou por falta de verbas e de visão do Governo, está no caminho
correto. Retomar este projeto corrigindo-se os erros porventura cometidos
é uma boa alternativa.
• Formação de profissionais para o setor de megamídia - Uma das bases para
o surgimento de um cluster de inovação é a existência e atração de
profissionais talentosos. Para o estabelecimento de um cluster de ICBTs
no Rio de Janeiro deve ser estimulada a criação de cursos técnico, superior
e de pós-graduação na área de megamídia, abrangendo os seguintes
profissionais: designers, programadores e analistas de TI, projetistas de
jogos por computador, engenheiros, profissionais de animação e de
realidade virtual, profissionais de comunicação para mídia interativa,
designers de interface, profissionais de vídeo e áudio e músicos para a
composição de trilhas sonoras. Na área do ensino médio-
profissionalizante, uma iniciativa interessante foi a criação do NAVE
(Núcleo Avançado de Educação) pelo Instituto Oi Futuro, da empresa
106

Oi/Telemar, com o objetivo de formar pessoal para o mercado de trabalho.


Em parceria com as secretarias Estaduais, a iniciativa privada e
organismos do terceiro setor, o NAVE proporciona aos alunos cursos de
multimídia e TV digital, jogos por computador e roteiro e produção31
(SITE 10). No ensino superior, o curso de Novas Mídias é uma parceria
entre a UFRJ e a Rede Globo, sendo oferecido como disciplina optativa
para alunos de graduação em Engenharia Eletrônica, de Computação e de
Controle da UFRJ32. Iniciativas como estas precisam ser multiplicadas na
Cidade do Rio para atender a demanda do cluster.
• Empreendedorismo em megamídia – As incubadoras de empresas ligadas
às universidades cariocas poderiam focar, durante o processo de seleção
das empresas a serem incubadas, em projetos de empresas na área de
megamídia, aumentando assim a quantidade de start-ups do setor. Como
estas incubadoras recebem apoio do governo, uma parte do recurso
relativo ao Rio de Janeiro poderia estar direcionada para empresas de
megamídia. Para se ter uma idéia deste apoio, a FINEP lançou em 2009 o
programa PRIME – Primeira Empresa Inovadora -, que beneficiará com
recursos, em todo o Brasil, quase duas mil empresas com até 24 meses de
vida: cada empresa poderá ter à disposição R$ 120 mil não-reembolsáveis
e mais R$ 120 mil a serem pagos sem juros em até 100 meses. O programa
investirá R$1,3 bilhão em cinco mil empresas nascentes de alta tecnologia
em todo o país nos próximos quatro anos. Na cidade do Rio de Janeiro
foram escolhidas três incubadoras que selecionarão até 360 empresas neste
primeiro ano do programa (SITE 9). A FINEP e as incubadoras poderiam
estipular, por exemplo, uma quantidade mínima de start-ups na área de
megamídia para estimular o desenvolvimento do cluster na cidade.

31
Com modernas instalações e equipamentos de alta tecnologia, o NAVE é voltado para a
pesquisa e o desenvolvimento de soluções educativas que utilizem de forma diferenciada as
tecnologias da informação e da comunicação no ensino médio. Criado em 2004, foi implantado em
2005 em Recife e em maio de 2008 no Rio de Janeiro. Durante a manhã é dado o currículo médio
convencional e à tarde o ensino médio profissionalizante. Totalmente gratuito, o Instituto Oi
Futuro tem o objetivo de instalar outros NAVEs em outros Estados do país em parceria com as
redes estaduais do ensino médio (SITE 10).
32
Criado em 2002 e tendo iniciado a 14º turma em 2009, o curso mobiliza aproximadamente 15
profissionais da Rede Globo e da Globo.com, além de professores da UFRJ, para falar de temas
estratégicos da megamídia como efeitos especiais, sistemas de transmissão de TV digital, conteúdo
web, convergência celular-tevê, entre outros (SITE 12).
107

• Ligação com os líderes internacionais da área de megamídia – Buscar


ligações com as regiões líderes de alta tecnologia, através de profissionais
e pesquisadores que lá estudaram ou trabalharam, para parcerias no
desenvolvimento de produtos e serviços complementares àqueles
produzidos pelos líderes. No caso do setor de megamídia, além do Silicon
Valley, referência mundial em alta tecnologia, devem-se buscar parcerias
tanto com os parques tecnológicos que atuam na área de megamídia, como
o Central Florida Research Park e o VR&MM Park de Turin pelas razões
já descritas no Capítulo V, quanto com laboratórios de elevado peso
acadêmico e forte apoio a indústria local, como o MIT Media Lab e o
Center for Creative Technologies da University of Southern Califórnia. O
destaque a seguir mostra a experiência de um profissional que após estudar
e trabalhar nos EUA voltou ao Brasil e criou duas empresas de tecnologia
digital para produção e exibição de TV em plataforma móvel.
108

Carioca Retorna do Exterior para Criar Empresas de Tecnologia no Rio

Alberto Magno fez mestrado e doutorado nos EUA, trabalhou lá por muitos anos e
chegou a abrir uma empresa de games em Los Angeles. Decidiu voltar ao Brasil e,
desde então, já criou duas empresas no setor de ICBTs: a AS TV, que atua na área de
produção, captação, finalização e transmissão de imagens e de dados, e a M1nd, que
atua na área de TV para celulares. Magno define a M1nd como uma “empresa carioca
de inteligência”. A empresa é líder no segmento de TV Móvel no país, com 300 mil
usuários da TIM e da OI. Nos próximos meses a empresa passará a trabalhar no
mercado internacional atendendo a seis operadoras móveis da América Latina e outras
11 da África. A previsão é atingir dois milhões de usuários até o final do ano e quatro
milhões em 2010 (ROSA, 2009). Segundo Magno, só há duas empresas no mundo que
desenvolvem este tipo de produto e ambas não têm interesse em países do terceiro-
mundo em função da instabilidade dos sinais de telefonia nestes países.
Magno considera muito importante para o profissional da sua área a experiência de
trabalho no exterior, não só pelo aprendizado tecnológico, mas pela rede de
relacionamentos e pelo conhecimento de mercado e das inovações que surgem a cada
dia. Seu sócio, Salvatore de Luca, foi chefe da engenharia de Broadcast da Sony em
Tókio. Dos 41 cientistas da M1nd, 18 são brasileiros que trabalhavam no exterior e que
voltaram seduzidos pela proposta de Magno de “quebrar paradigmas e escrever uma
história nova no Brasil”. Ele frisa que os principais motivos para o retorno destes
profissionais foram o desafio profissional e a vontade de morar no Rio. A questão
financeira ficou em segundo plano. Magno também incentiva seus funcionários a
estudarem no exterior. Atualmente, quatro estão nos EUA em universidades de ponta.
Mesmo distantes, continuam desenvolvendo remotamente software para M1nd. Ele
próprio faz questão de manter “um pé” nos EUA. Viaja várias vezes por ano para lá,
mantém sua empresa de games em Los Angeles (hoje tocada pelo seu filho) e continua
renovando sua rede de contatos. Para Magno, as bases para a criação de empresas
inovadoras são: montar uma equipe talentosa e motivada e “circular pelo mundo”.

Destaque 3 - Entrevista concedida para o autor em 3 de agosto de 2009.


109

• Apoiar a localização e focalização de empresas de capital de risco na


Cidade – Apesar da importância do papel do Estado, principalmente nos
estágios iniciais, a presença do capital de risco é fundamental para o
crescimento dos clusters de inovação. Facilitar e estimular a presença do
capital de risco na cidade é prioritário, uma vez que as empresas de capital
de risco devem idealmente estar próximas das empresas inovadoras
(COOKE, 2005).
• Presença de pesquisadores da área de megamídia nas empresas – Apesar
do grande número de ICTs de alto nível na Cidade do Rio de Janeiro, há
poucos pesquisadores na empresas locais. A grande maioria está vinculada
às ICTs. Como a inovação se dá nas empresas, o Estado deve apoiar a
presença de pesquisadores nas empresas do Rio de Janeiro, inclusive nas
PMEs, da mesma forma que apóia a fixação de doutores nas
universidades33.

33
Em junho de 2009 a Capes em parceria com a FAPERJ lançou o maior programa de Apoio ao
Pós-Doutorado no Estado do Rio de Janeiro. Com recursos na ordem R$ 94 milhões, o programa
irá custear a fixação temporária (até 5 anos) de até 320 jovens doutores (pesquisadores que
obtiveram o grau de doutor há no máximo 5 anos) em programas de pós-graduação do Estado do
Rio para ingresso em 2009 e 2010 (SITE 11). Apesar da existência de programas de bolsa para
fixação de pesquisadores nas empresas através do CNPq (bolsa RHAE pesquisador na empresa) e
Finep, eles são ainda muito tímidos quando comparados com os programas de fixação de doutores
nas universidades.
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES

Este capítulo final está dividido em três partes: a primeira, considerações


finais, traz um resumo conclusivo dos assuntos abordados nos capítulos anteriores
e as respostas às questões de pesquisa apresentadas no capítulo I; a segunda,
conclusões, trata do objetivo geral desta tese relacionado aos fatores
determinantes para o desenvolvimento de ICBTs no Brasil, além das principais
contribuições trazidas por esta pesquisa e a última parte traz algumas sugestões
para trabalhos futuros.

7.1
Considerações Finais

Esta tese teve como objetivo discutir o papel e o potencial de um novo tipo
de indústria, a indústria criativa de base tecnológica (ICBT), e analisar os
determinantes principais que devem ser consideradas para o desenvolvimento de
um cluster de inovação de ICBTs no Brasil.
Inicialmente analisou-se a importância da inovação tecnológica em países
emergentes e a busca para inserção no mercado global através de produtos e
serviços de alto valor agregado. Como uma inovação tecnológica só pode ser
considerada implantada quando tiver sido introduzida no mercado (Manual de
Oslo, 2004), o estímulo à inovação nas empresas passou a ser fundamental. A
questão que se apresenta para os governos é saber como estimular a transmissão
de conhecimento entre as empresas para gerar inovação e quais atividades são
propícias para criação de produtos e serviços com alto valor agregado. Neste
sentido, foram destacadas algumas ações do governo brasileiro para promoção da
inovação nas empresas.
Em seguida, apresentou-se a caracterização e a evolução dos clusters e as
vantagens competitivas advindas da proximidade geográfica. Estas vantagens são
ainda mais acentuadas para as empresas focadas em inovação onde a transmissão
de novos conhecimentos ocorre através do contato pessoal ou da mobilidade entre
111

firmas dos trabalhadores, ambos os casos em que a proximidade geográfica é um


importante facilitador. Como a produção de inovação tem como matéria prima o
conhecimento adquirido, as firmas localizadas em clusters aprendem mais e por
isso tendem a ser mais inovadoras. A definição de metas, normas comuns e
padrões de qualidade por associações e a constante e rigorosa avaliação dos seus
membros caracterizam o aprendizado por monitoramente, também uma eficiente
forma de compartilhamento de informações. Outro ponto que auxilia no
aprendizado é a questão cultural relacionada com a informalidade presente em
determinadas regiões e que facilita a comunicação e a colaboração entre os
trabalhadores.
A importância do estímulo ao empreendedorismo foi discutida sob a ótica
da mudança de paradigma que ocorre na passagem de uma economia administrada
e regulada para uma economia baseada no empreendedorismo, conforme apontado
por Audretsch e Thurik (2001). Esta mudança traz um novo e relevante papel para
as PMEs, principalmente quando atuam em conjunto. A revolução da
microeletrônica, principalmente a partir da década de 80, possibilitou o acesso à
tecnologia pelas PMEs através da disseminação dos microcomputadores fazendo
com que inovações tecnológicas, antes restritas às grandes empresas, passassem a
ser comuns também entre as PMEs.
Para responder a primeira questão de pesquisa sobre o papel, a importância
e a cadeia produtiva das ICBTs foi necessário, antes, definir as bases da chamada
economia criativa. A exploração comercial de bens e serviços originados na
criatividade e no talento e baseados na propriedade intelectual é o ponto chave do
que se convencionou chamar Indústria Criativa (IC), que inicialmente abrangia
apenas as áreas cultural e artística. Posteriormente, alguns autores passaram a
incluir um novo subgrupo denominado novas mídias, que inclui software,
videogame e conteúdos criativos digitalizados, como parte das ICs (UNCTAD,
2008). Na literatura de TIC, utiliza-se o termo megamídia para definir uma nova
indústria que agrega tecnologia de informação, computação, comunicação e
entretenimento digital. No entanto, ambas as definições não conseguem expressar
as características singulares desta nova indústria que, por possuir um potencial
enorme de crescimento, merece uma análise mais profunda e abrangente. Por este
motivo esta tese introduziu o conceito de ICBT, que integra a visão da IC com a
visão da TIC. A definição apresentada destaca pontos como a presença de mão-
112

de-obra qualificada e multidisciplinar, inovação tecnológica, convergência digital


e produção de conteúdo e produtos e serviços de alto valor agregado. São pontos
que diferenciam a ICBT da IC. Na ICBT, os produtos e serviços são mais
complexos e por isso a barreira de entrada é maior do que na IC. Portanto, não
basta que uma produção seja armazenada em meio digital ou as imagens editadas
por computador para que ela seja considerada um produto de uma ICBT. Para que
isso aconteça o processo de criação do conteúdo deve ser digital, como, por
exemplo, a criação de cenários virtuais, animações de personagens ou a simulação
do funcionamento do corpo humano para fins educacionais. A importância das
ICBTs em países emergentes é comprovada por dados de exportação do setor de
novas mídias no mundo que atestam o maior crescimento das ICBT em países
emergentes em comparação com os países desenvolvidos, conforme descrito no
relatório da UNCTAD (2008).
O foco da economia criativa está nas pessoas, denominada classe criativa
(FLORIDA, 2002). Há um paralelo entre a convergência digital que possibilita
trabalhar e se divertir usando a mesma ferramenta e a classe criativa que faz pouca
diferenciação entre lazer e trabalho, isto é, trabalham muitas vezes nas horas de
lazer e vice-versa. O conceito de cidade criativa foi apresentado para caracterizar
cidades que prezam a diversidade e a tolerância e possuem uma forte infra-
estrutura social e cultural que atrai a classe criativa. A presença desta classe
criativa, por conseguinte, atrai as empresas interessadas nesta mão-de-obra a se
estabelecerem nestas cidades. Isto acontece, por exemplo, em Israel onde diversas
empresas multinacionais instalaram seus centros de pesquisa com o intuito de
absorver uma mão-de-obra altamente qualificada para seus quadros. Ocorre,
portanto, uma inversão, conforme observou Florida (2002): ao invés dos
trabalhadores se mudarem para o local onde as empresas estão estabelecidas, as
empresas se mudam para os locais onde há uma grande concentração de mão-de-
obra criativa. Por isso as cidades precisam saber atrair e reter a classe criativa.
Com o intuito de melhor expressar este fenômeno e sua relação com o
aprendizado, esta tese introduziu o conceito de ambiente criativo como sendo o
ambiente social e cultural que envolve as pessoas e suas relações com o local em
que vivem e que facilita a transmissão de conhecimentos através da colaboração
informal e estimula o desenvolvimento de atividades criativas.
113

A cadeia produtiva da ICBT é composta pelos processos de produção,


distribuição e exibição de conteúdo digital. A característica principal desta cadeia
é a convergência digital, isto é, a mesma tecnologia e os mesmos processos de
produção de conteúdo podem ser usados no cinema, na televisão, em educação a
distância, em videogames etc. Isso torna possível ao cidadão, a partir de um
mesmo dispositivo a qualquer hora e de qualquer lugar, assistir TV ou a um filme
de sua preferência, fazer compras, se educar, se divertir e se comunicar. É no
processo de produção que se encontram as atividades principais das ICBTs que
são: planejamento, pesquisa, concepção artística, roteiro, story-board,
desenvolvimento das mídias, desenvolvimento de software, programação visual,
sonorização, efeitos especiais, edição e controle de qualidade.
Com o intuito de analisar o papel de instituições no desenvolvimento de
clusters, foi definida uma tipologia específica que foi utilizada na análise
comparativa de nove clusters e parques tecnológicos internacionais, além do pólo
de cinema e vídeo da Cidade do Rio de Janeiro. Foram selecionados exemplos
tanto de países desenvolvidos quanto de países emergentes e casos bem sucedidos
e fracassados. Os resultados desta análise apontam tendências, sendo que algumas
delas convergem com o que foi exposto em trabalhos como (BRESNAHAN et al.,
2001), (KOH et al., 2003) e (SAXENIAN, 2006). As principais tendências
verificadas na análise comparativa foram: (i) A governança quando é feita por
instituições governamentais parece não apresentar bons resultados, (ii) A presença
do Estado na criação do parque ou cluster só é bem sucedida quando, em uma
etapa posterior, ela é substituída pela indústria do capital de risco e a governança
passa a ser exercida pelo setor privado, (iii) Alto grau de aprendizagem e
colaboração estão presentes em todos os casos de sucesso, (iv) clusters e parques
ligados as ICTs tem menos problemas no quesito capital humano, mas quando a
governança é feita pelas ICTs o resultado nem sempre é satisfatório, (v) alto grau
de territorialidade e estoque de mão-de-obra talentosa são condições necessárias
mas não suficientes para o sucesso, (vi) os casos mais bem sucedidos apresentam
uma forte conexão com o Silicon Valley através da oferta de produtos e serviços
complementares. A melhor forma de criar esta conexão é quando profissionais
que trabalharam durante anos no Silicon Valley retornam para seus países de
origem trazendo conhecimento técnico, organizacional e de mercado, além de
uma valiosa rede de contatos.
114

A partir do quadro comparativo foram escolhidos para uma análise mais


detalhada dois dos casos mais bem sucedidos da indústria de alta tecnologia
mundial depois do Silicon Valley: o Silicon Wadi de Israel e o distrito de Hsinchu
de Taiwan. O cluster israelense atua predominantemente na produção de software
e se caracteriza pelo alto grau de inovação e pioneirismo dos seus produtos,
diferentemente de Taiwan que atua com grande sucesso como segundo-entrante
na manufatura de componentes eletrônicos e computadores pessoais, porém com
um menor grau de inovação. A ICBT, uma indústria relativamente recente com
produtos e serviços baseados em softwares com alto grau de inovação, tem
características mais próximas ao cluster de inovação israelense. Tanto o Silicon
Wadi quanto Hsinchu souberam tirar proveito de suas vantagens locacionais,
estruturais e culturais para se tornarem destacados players no mercado global de
alta tecnologia.
A análise dos clusters de inovação de Israel e de Taiwan serviu como base
para responder a segunda questão de pesquisa sobre os fatores determinantes para
o desenvolvimento de clusters bem sucedidos de inovação tecnológica. Estes
fatores são os seguintes:
(i) Alto investimento do Estado – Investimentos em educação, pesquisa
universitária, apoio financeiro às start-ups de alta tecnologia e incentivos para
instalação de laboratórios de P&D de multinacionais. Além disso, os governos
de Israel e Taiwan logo perceberam que o desenvolvimento desta indústria
dependia do capital de risco e criaram fundos que financiavam o capital de
risco. Hoje em dia, Israel tem a segunda maior indústria de venture capital do
mundo, atrás apenas do Silicon Valley, e Taiwan a terceira.
(ii) Estímulo ao empreendedorismo para combater o desemprego - Israel recebeu
na década de 90 uma grande quantidade de imigrantes da antiga União
Soviética que chegou a representar 17% da força de trabalho. Um dos
caminhos adotados para a inserção deste contingente no mercado foi estimular
o empreendedorismo. Taiwan possuía na década de 70 uma grande quantidade
de engenheiros e técnicos que deixavam o país devido à falta de oportunidades
profissionais. Na década de 80 o governo passou a encorajar o
empreendedorismo. O baixo custo de oportunidade do capital humano,
portanto, pode ser canalizado para aumentar o número de empreendedores em
tecnologia.
115

(iii) Colaboração informal e rede de relacionamentos sociais - Em Israel, o serviço


militar obrigatório e a conivência que se forma no enfrentamento das situações
de tensão e pressão auxiliam na formação de fortes conexões pessoais que, em
conjunto com as associações locais facilitam a colaboração e o
aconselhamento informal, importantes pilares para o trabalho em equipe e o
aprendizado coletivo. Em Taiwan, a agência de pesquisa estatal e as
associações locais de chineses tanto em Hsinchu quanto no Silicon Valley,
formadas para troca de idéias e aconselhamento, auxiliam no aprendizado das
empresas locais.
(iv) Agilidade para aproveitar as oportunidades tecnológicas - Israel detinha
conhecimento de segurança de dados e comunicação voltado para a área
militar. Com a explosão da internet os empreendedores israelenses souberam
rapidamente transpor seus conhecimentos de tecnologia de comunicação para
a rede mundial criando ferramentas comerciais inovadoras. Taiwan possuía
um estoque de empresas que fabricavam TVs e que souberam se adaptar com
rapidez para produzir computadores e componentes eletrônicos, inicialmente
no modelo OEM (Original Equipment Manufacturing) e posteriormente no
modelo ODM (Original Design Manufacturing).
O plano de ação do governo brasileiro para ciência, tecnologia e inovação
para o período 2007-2010 (MCT, 2007) foi analisado com o foco na identificação
de lacunas para estimular o desenvolvimento das ICBTs no Brasil, tema da
terceira questão de pesquisa. O plano apresenta alguns avanços ao definir como
uma de suas prioridades a promoção da inovação tecnológica nas empresas com
ênfase nos novos instrumentos criados pela lei de inovação de 2004 como a
subvenção econômica para projetos de P, D&I das empresas e a possibilidade
aberta para pesquisadores ligados a universidades de se tornarem empreendedores.
A ampliação do fomento à indústria de venture capital no país é outra ação
acertada. Apesar de uma visão de ciência e tecnologia ainda muito focada nas
instituições de ensino e pesquisa, o plano tem, pelo menos, o mérito de reconhecer
que a inovação se dá nas empresas, seguindo a visão do Manual de Oslo (2004). O
plano também reconhece e enfatiza que grande parte dos pesquisadores do país,
hoje ligados as ICTs, pouco contribuem para gerar inovações. Em relação às
atividades ligadas as ICBTs, como o setor de visualização, temos a propor as
seguintes mudanças:
116

(i) O plano tem como uma das metas dentro de segmentos emergentes de P,D&I
o incentivo a formação de uma rede de visualização – RBV (Rede Brasileira
de Visualização). No entanto a formação de um cluster de visualização, ao
invés de uma rede, nos parece mais apropriado, uma vez que a inovação
ocorre em sistemas locais por exigir uma troca intensa entre os atores. O
conceito de rede funciona bem para academia ao facilitar o contato entre
pesquisadores (rede de pesquisadores), mas não para um modelo empresarial
focado em inovação. Para estes casos, a concentração de empresas,
instituições de ensino e pesquisa, empresas de capital de risco, associações etc.
em uma mesma região é o que possibilita a disseminação do conhecimento,
matéria prima para a inovação, conforme visão predominante da literatura
sobre cluster referenciada ao longo deste trabalho.
(ii) O plano apresenta incentivos para a fixação de recursos humanos para C,T&I
com o objetivo de evitar a “fuga de cérebros”. No entanto para o
empreendedorismo e inovação a diáspora é extremamente benéfica por
possibilitar a transferência não apenas de conhecimentos técnicos, mas
principalmente de conhecimentos organizacionais, de mercado e de
financiamento, quando há o retorno desta mão-de-obra para o seu país de
origem, conforme descreveu Saxenian (2006). Sendo assim, o governo deveria
estimular o retorno de brasileiros que trabalham com tecnologia no exterior,
especialmente no Silicon Valley. Este estímulo pode vir de várias formas, tais
como: facilidades para criação de novas empresas de tecnologia, subvenção
econômica para projetos inovadores e/ou redução de impostos nos primeiros
anos de funcionamento para todos aqueles que retornarem e criarem novas
empresas no país, além de bolsas de auxílio e facilidades para colocação de
profissionais brasileiros vindos do exterior em empresas de tecnologia locais.
Seria, portanto, uma espécie de fixação de profissionais que retornaram do
exterior nas empresas, nos moldes do programa atual de fixação de
pesquisadores nas universidades. A tão temida “fuga de cérebros” pode vir a
se transformar em uma bem-vinda “circulação de cérebros” quando estes
profissionais são repatriados trazendo conhecimento e uma ampla rede de
contatos. O momento atual, com a crise econômica mundial iniciada no
segundo semestre de 2008, é bastante propício para esta ação, uma vez que o
setor de tecnologia dos EUA, duramente afetado pela crise, foi obrigado a
117

colocar em disponibilidade uma grande quantidade de mão-de-obra


qualificada. Em função disso, é muito provável que existam profissionais
brasileiros altamente qualificados dispostos a retornar, mas que não o fazem
por falta de oportunidades. Para viabilizar estas idéias seria importante que as
agências de fomento governamentais mantivessem uma relação de brasileiros
que atuam no setor de tecnologia no exterior para que possam ser contatados e
estimulados a retornar, como faz, por exemplo, o governo de Taiwan.
(iii) Investimentos em inovação devem ser de médio e longo prazo, contínuos e,
além disso, deve-se ter em mente que os resultados demoram a aparecer. A
experiência do laboratório VisionLab da PUC-Rio que, com apoio do governo,
inaugurou modernas instalações no Pólo de Cinema e Vídeo da Barra da
Tijuca com o intuito de ser a âncora tecnológica para as empresas do pólo e
que, pouco tempo depois, teve que fechar as portas devido a interrupção deste
apoio, é um exemplo de falta de planejamento nos investimentos em inovação.
Outro caso que realça a falta de continuidade na aplicação das diretrizes do
plano do MCT diz respeito ao fomento a projetos relacionados com a Rede
Brasileira de Visualização. No edital de subvenção econômica da FINEP de
2008, visualização era uma das áreas prioritárias para submissão de projetos.
Já no edital de 2009, visualização não aparecia mais como opção para envio
de projetos (SITE 9). Ao não se levar em consideração o ciclo de
amadurecimento de atividades inovativas, corre-se o risco de se colocar todo
um trabalho a perder.
Foi apresentado um diagnóstico da Cidade do Rio de Janeiro tendo em
vista o potencial da cidade para o surgimento e o crescimento de um cluster de
ICBTs. A vocação para o desenvolvimento da ICBT pode ser comprovada pelas
vantagens estruturais, locacionais e culturais da Cidade. As vantagens estruturais
são representadas pela presença da Rede Globo de Televisão, uma das melhores
redes de TV do mundo; a existência de um pólo de cinema e vídeo; os melhores
laboratórios, estúdios e produtoras de cinema do Brasil; instituições científicas e
tecnológicas de nível internacional; empresas de TI e diversas incubadoras de
empresas de tecnologia ligadas às universidades. As vantagens locacionais são
representadas pela vocação da cidade pelo setor de serviços que é confirmada pela
liderança nacional nas atividades relacionadas com a cadeia da indústria criativa e
118

pelo destaque das empresas de tecnologia da informação localizadas na Cidade do


Rio no cenário nacional.
A Cidade do Rio também apresenta um ambiente criativo propício que
atrai a classe criativa em função, principalmente, dos seguintes atributos: (i)
antiga capital federal, a cidade ainda é o centro cultural do país, atraindo pessoas
criativas e talentosas dos meios culturais, artístico e também de tecnologia e
negócios que preferem viver em cidades com uma vida cultural efervescente, (ii)
estilo de vida mais informal o que acarreta em relações pessoais menos formais,
que estimulam a transmissão de conhecimento, a comunicação e a colaboração
informal. Conforme constatou Matos et al. (2008), o comportamento social típico
do carioca e os encontros informais e de lazer, como o chope entre amigos, a praia
do final de semana etc., são fontes de informação relevantes para o aprendizado
das pessoas e das empresas e para a realização de parcerias e ações cooperativas.
Neste aspecto, é oportuno considerar que assim como São Paulo, cuja
característica são relações mais formais, adapta-se melhor as atividades
financeiras e industriais, a informalidade nas relações pessoais presente na Cidade
do Rio de Janeiro é um fator de estímulo ao florescimento de atividades criativas
tanto nas áreas cultural e artística como também na área tecnológica e (iii) beleza
natural rara composta por um conjunto de praias e montanhas dispostas de forma
harmônica dentro da área metropolitana.
A Cidade do Rio de Janeiro tem, portanto, uma excelente oportunidade de
se tornar um centro de referência nacional e internacional para a ICBT, uma
cidade criativa de megamídia. Em linha com a vocação da Cidade para o setor de
serviços, o fortalecimento desta indústria atrairá a classe criativa que, por sua vez,
atrairá empresas, gerando um ciclo virtuoso de desenvolvimento para a Cidade.
Mas o que falta para isso acontecer, para este potencial se transformar em
realidade? Esta foi a quarta e última questão de pesquisa apresentada nos
objetivos da tese, que o Capítulo VI procurou responder. As vantagens estruturais,
locacionais e culturais que a cidade possui para o florescimento de um cluster de
indústrias criativas de base tecnológica são fatores importantes, mas representam
apenas o ponto de partida. A questão central reside no fato do poder público (nas
esferas federal, estadual e municipal) e também o setor privado reconhecerem o
grande potencial das ICBTs dando-lhes a devida prioridade. A partir daí não há
uma receita, mas um conjunto de ações e recomendações que se tomadas de forma
119

concatenada e com metas bem definidas podem levar a resultados positivos. Estas
ações são, resumidamente, as seguintes: (i) criação de instituições voltadas para o
compartilhamento de informações relativas ao setor de megamídia; (ii) apoio do
Estado para revitalização do Pólo Rio de Cinema, Vídeo e Comunicação da Barra
da Tijuca e para laboratórios de pesquisa voltados para ICBT que tenham como
prioridade a integração com empresas; (iii) formação de profissionais para o setor
nos níveis de pós-graduação, superior e, principalmente, técnico, replicando
experiências bem sucedidas como a do Instituto Oi Futuro para formação
profissional de pessoal de nível médio em atividades relacionadas com a
megamídia; (iv) estímulo ao empreendedorismo em áreas relacionadas com a
ICBT através do foco, nos editais de subvenção econômica para o Estado do Rio,
em start-ups que atuam neste setor; (v) apoio a presença de pesquisadores e
profissionais de talento vindos do exterior nas empresas, nos moldes do programa
de fixação de jovens doutores em ICTs; (vi) apoio a localização de empresas de
capital de risco na Cidade para que estejam próximas das empresas locais e (vii)
ligação com os líderes internacionais da área de megamídia incluindo parques
tecnológicos e as ICTs que mantenham uma forte ligação com a indústria local.

7.2
Conclusões

O estímulo à indústria de alta tecnologia em função dos produtos de alto


valor agregado por ela gerados tem sido um dos objetivos dos governos tanto de
países emergentes como desenvolvidos. As ICBTs aparecem com um enorme
potencial de crescimento em função da convergência digital (tecnológica, de
mídia e de acesso) possíveis nos dias de hoje. Como a inovação está na base deste
tipo de indústria, clusters aparecem como o modelo mais eficiente uma vez que a
disseminação de novos conhecimentos tende a acontecer quando os atores estão
concentrados na mesma região. O Estado pode ter um papel positivo ou negativo
no estímulo ao processo de desenvolvimento de clusters de tecnologia,
dependendo de onde e como ele atua.
Para estabelecer as instituições que devem ser consideradas para o
desenvolvimento das ICBTs tomamos como base a tipologia adotada para análise
120

comparativa de clusters e parques tecnológicos, os casos de sucesso de clusters de


inovação de alta tecnologia e as características específicas da nova indústria
criativa de base tecnológica. A intenção não é propor uma receita de sucesso,
mesmo porque elas não existem nem para clusters de tecnologias já conhecidas
quanto mais para novas tecnologias. Neste sentido, seguimos a linha de Bresnahan
et al. (2001) de apresentar alguns fatores determinantes que devem receber uma
especial atenção na formulação de políticas regionais voltadas para a ICBT:
(i) Aprendizado e Criação de Conhecimento – Para uma nova indústria como a
ICBT formada por atores das mais diversas formações e que depende da
inovação constante para crescer e se desenvolver, o aprendizado coletivo e a
formação de conhecimento são elementos chaves. Os principais fatores para
transmissão de conhecimento característicos dos clusters em função da
proximidade geográfica como o contato pessoal, rede de relacionamento e a
mobilidade entre firmas dos trabalhadores não são suficientes. É preciso
estimular a criação de instituições que tornem possível o aprendizado por
monitoramento, conforme proposto por Perez-Aleman (2005). Estas
instituições teriam como objetivo o compartilhamento de informações,
definição de padrões e metas, estímulo a mudanças organizacionais e a novas
atividades, adaptação aos padrões internacionais de qualidade e produtividade,
identificação coletiva de problemas e aliança para resolvê-los, constante
avaliação dos membros, além da coordenação da relação entre o Estado e o
setor privado. Estas instituições podem ser criadas pelo poder público, pelas
empresas ou mesmo pelas ICTs. Outras instituições que favorecem a
colaboração informal e que também devem ser incentivadas são aquelas
formadas pelos próprios trabalhadores como as associações de ex-alunos de
uma universidade ou ex-funcionários de uma determinada empresa.
(ii) Conexões com os Líderes – Conexões com os líderes da indústria de alta
tecnologia, principalmente o Silicon Valley, possibilitam a criação de
parcerias e o desenvolvimento de produtos e serviços complementares que são
mais facilmente aceitos pelo mercado global, conforme observado por autores
como Bresnahan et al. (2001) e Saxenian (2006). A forma mais eficiente de
estabelecer esta conexão é através do retorno dos profissionais que trabalham
no exterior para seus paises de origem. Estes profissionais transferem para o
país natal conhecimento institucional, tecnológico e de mercado, além de uma
121

ampla rede de contatos ativos, uma vez que, mesmo após o retorno, continuam
mantendo fortes ligações com a região onde trabalharam. As indústrias de alta
tecnologia em geral e especialmente as ICBTs precisam de talentos e estes
profissionais que estudaram e trabalharam no exterior são normalmente
criativos e talentosos. Deve-se, portanto, atrair este profissional dando-lhes as
condições necessárias para que empreendam em seu país de origem de modo a
convencê-los que sua capacitação profissional terá um valor maior na sua terra
natal.
(iii) Capital de Risco – Da mesma forma que os clusters de empresas de alta
tecnologia, clusters de ICBTs necessitam da indústria de venture capital para
poderem crescer. Mesmo que o Estado tenha uma forte presença na criação e
no período inicial de um cluster, o amadurecimento, representado pelo
aumento no número de start-ups e/ou pelo crescimento das empresas-membro,
só acontece quando há uma indústria de venture capital forte. O Estado deve
estimular o crescimento desta indústria através de financiamentos e apoio
organizacional. A presença do investidor estrangeiro deve ser estimulada, não
apenas pelo seu capital, mas, principalmente, pela transferência de
conhecimento para a indústria de capital de risco local. Israel e Taiwan
provaram que é possível, através de políticas de governo bem planejadas,
desenvolver uma vibrante indústria de capital de risco em menos tempo do
que ocorreu nos EUA (AVNIMELECH, KENNEY e TEUBALL, 2005).
Outro fator importante é a presença de profissionais, que já tiveram a
experiência de criar suas próprias empresas, atuando como capitalistas de
risco.
(iv) Ambiente Criativo – De acordo com a definição apresentada nesta tese, um
ambiente criativo propício facilita a transmissão de conhecimentos além de
atrair a classe criativa. Clusters de ICBTs devem estar localizados em regiões
que sejam atrativas o suficiente para que sejam escolhidas pela mão-de-obra
criativa como local para viver. Cada vez mais as empresas buscam se instalar
em locais onde há uma grande quantidade de talentos disponíveis, conforme
enfatizou Florida (2002). O sucesso das ICBTs está diretamente relacionado
com a existência de uma mão-de-obra criativa e talentosa. Por isto esta
indústria deve buscar regiões que atendam as necessidades desta classe de
trabalhadores criativos. Estes trabalhadores buscam locais que sejam
122

tolerantes, abertos a criatividade, com um estilo de vida mais informal e


dinâmico e uma vida cultural ativa e intensa em conhecimento. Nestas regiões
a transmissão de conhecimento que gera o aprendizado é maior em função da
informalidade na comunicação e na colaboração entre as pessoas.
Finalmente, podem-se destacar também as seguintes contribuições para
literatura geradas por esta tese: (i) a proposta de uma nova terminologia (ICBT) e
um novo conceito que integra convergência digital com indústria criativa; (ii) o
mapeamento exploratório da cadeia produtiva da ICBT; (iii) a definição de
ambiente criativo e sua inclusão como um dos fatores determinantes para o
sucesso de clusters de inovação e (iv) a definição de uma tipologia para análise
comparativa de clusters e parques tecnológicos.

7.3
Sugestões para Trabalhos Futuros

Dentre as sugestões para trabalhos futuros sobre o tema destacam-se:


(i) Aumentar o escopo analítico para determinar a relação existente entre
ambiente criativo e os demais fatores de sucesso em clusters de inovação bem
como a importância do ambiente criativo para o sucesso de clusters de uma
forma geral.
(ii) A partir do marco analítico definido nesta tese, realizar estudos de casos
empíricos de ICBTs em outros países.
(iii) Realizar uma pesquisa empírica com os principais atores da ICBT na Cidade
do Rio de Janeiro para colher informações sobre suas expectativas e visões e o
que esperam de um cluster de inovação de ICBT na cidade.
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ANEXO I
Distribuição dos Países em Função do Estágio de suas
Economias34
Fonte: UNCTAD (2008)

1. ECONOMIAS DESENVOLVIDAS

América
Bermudas Saint Pierre e Miquelon

Canadá Estados Unidos da América


Groelândia

Ásia
Israel Japão

Europa
Alemanha Holanda
Andorra Hungria
Áustria Ilhas Faeroe
Bélgica Islândia
Bulgária Irlanda
Chipre Itália
República Tcheca Lituânia
Dinamarca Luxemburgo
Estônia Malta
Eslováquia Noruega
Eslovênia Polônia
Espanha Portugal
Finlândia República da Látvia
França Romênia
Grã-Bretanha San Marino
Gibraltar Suécia
Grécia Suiça
Vaticano

Oceania
Australia Nova Zelândia

34
No documento das Nações Unidas (UNCTAD, 2008) não foi explicado qual foi o critério para
a classificação dos países em Economias Desenvolvidas, Economias em Transição e Economias
em Desenvolvimento. O documento apenas trouxe em seu anexo a relação dos países por tipo de
economia, conforme transcrito aqui. Nesta tese, esta classificação só foi usada nos dados sobre
exportação de novas mídias que foram retirados do documento da UNCTAD.
130

2. ECONOMIAS EM TRANSIÇÃO

Ásia
Armênia Quirguistão

Azerbaijão Tadjiquistão

Casaquistão Turcomenistão
Geórgia Uzbequistão

Europa
Albânia Moldávia
Belorússia Rússia
Bósnia e Herzegovina Sérvia e Montenegro
Croácia Ucrânia
Macedônia

3. ECONOMIAS EM DESENVOLVIMENTO

Demais países não relacionados acima.

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