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Resumo
Esse artigo trata de um estudo sobre o sistema de adiantamento do governo federal, o Suprimento de Fundos, e
sua utilização na Universidade Federal da Bahia. Parte-se da premissa de que o Suprimento de Fundos é uma
forma de execução orçamentária destinada a despesas emergenciais e de pequeno vulto, que não possam passar
pelo processo normal de execução (processo licitatório). Nessa perspectiva, ao analisar o contexto atual das
aquisições públicas, verificou-se que o Estado brasileiro tem proporcionado avanços tecnológicos no sentido de
facilitar as compras dos órgãos federais por meio de licitação e, ao mesmo tempo, vem criando leis que
dificultam a compra direta ao fornecedor, como as aquisições por Suprimento de Fundos. Sendo assim, esse
estudo trabalhou com a hipótese de que o uso do dispositivo Suprimento de Fundos na UFBA estaria cada vez
mais restrito, tendo em vista o seu caráter emergencial frente ao destaque do planejamento nas novas leis
brasileiras e as novas modalidades de licitação que facilitam as aquisições públicas planejadas. Após análise dos
processos de requisição e prestação de contas de Suprimento de Fundos da UFBA e o levantamento dos dados,
verificou-se que a hipótese especulada foi parcialmente negada, pois, em valores absolutos, os gastos com
Suprimento de Fundos na UFBA estão aumentando nos últimos anos. Contudo, observou-se também que o tipo
de gasto está praticamente restrito a um item de despesa, o qual sua necessidade aumentou ao longo do período
pesquisado e não se conseguiu concluir o processo licitatório para sua aquisição pelos meios normais de
execução orçamentária.
II. INTRODUÇÃO
1
De acordo com o Decreto nº. 6.467, de 30.05.2008, os Comandos Militares, o Ministério Público da União e os
Poderes Legislativo e Judiciário estão autorizados a utilizar-se também da Conta Tipo “B” para pagamento de
Suprimento de Fundos.
2
Apesar desse setor não ser considerado pela CGU como obrigatório, ele é de extrema importância, pois emite
pareceres fundamentados, atestando a regularidade da aplicação ou informando as falhas/irregularidades
detectadas, de modo a subsidiar o ordenador de despesa na tomada de decisão.
3
Veja por exemplo a Lei nº. 101/2000, chamada Lei de Responsabilidade Fiscal; em que o planejamento é
destacado como um dos principais pilares da Administração Pública Responsável.
3
Nesse contexto surge a seguinte questão gerenciadora deste estudo, ou seja, até que
ponto a Universidade Federal da Bahia tem restringido a utilização do Suprimento de Fundos,
na realização de gastos caracterizados como de caráter emergencial por suas unidades de
ensino. A hipótese que nos apresenta é de que os tomadores de decisões têm orientado aos
ordenadores de despesas a coibir cada vez mais o uso desse dispositivo, orientando para o
fortalecimento do planejamento nas realizações das despesas publicas, com isso, minimizando
o caráter emergencial das despesas, por conseguinte se subordinando ao processo normal de
aplicação dos recursos que permeia a administração pública.
Esta pesquisa tem como objetivo geral desenvolver um estudo exploratório sobre os
gastos da Universidade Federal da Bahia efetuados por Suprimento de Fundos no período de
2005 a 2012. Estabeleceu-se, então, coligir a legislação das normas federais aplicada sobre o
tema Suprimento de Fundos; catalogar os tipos de gastos realizados por Suprimento de
Fundos na UFBA dentro do período proposto de pesquisa; verificar a quantidade gasta por
Suprimento de Fundos entre os anos de 2005 e 2012; e analisar a evolução do gasto durante os
anos de pesquisados.
Um estudo sobre o Suprimento de Fundos pode ser entendido como uma análise de
uma das formas de execução orçamentária do Governo Federal. Em alguns órgãos, como
numa Universidade, pode-se recorrer bastante a este tipo de dispositivo por conta da
diversificação do seu serviço público prestado, a qual, freqüentemente ocasiona em situações
inesperadas ou emergenciais. As publicações sobre o tema geralmente são feitas por órgãos
técnicos do próprio governo e, quando analisadas academicamente, limita-se a conceituar o
que é Suprimento de Fundos e identificar a lei que o disciplina. Neste sentido, o presente
artigo busca contribuir na discussão do tema com uma visão acadêmica, porém com maior
objetividade e aprofundamento. De maneira que, a sua leitura possa contribuir também para o
controle social do gasto público.
Ao longo dos anos, o conceito básico de adiantamento pouco mudou. Contudo, a Lei
4.320/64, que veio em seguida, tratou do assunto de maneira mais genérica, deixando que lei
complementar o detalhasse. No seu art. 68, resumem-se as letras ‘a’, ‘b’ e ‘c’ (citadas no art.
267 acima) a “despesas que não possam subordinar-se ao processo normal de aplicação”.
Desta forma, acrescentam-se também as despesas de caráter sigiloso, porque não podem
passar por processos que exigem publicidade, tal como as licitações ou a dispensa dela. O art.
69 também trata do tema afirmando que “não se fará adiantamento a servidor em alcance nem
a responsável por dois adiantamentos”. E, uma observação cronológica das normas sobre
suprimentos de fundos, permite-nos afirmar que há uma tendência a evitar ou restringir cada
vez mais a utilização deste meio de realização de despesas.
Em resumo, as seguintes normas que regulamentam o Suprimento de Fundos
atualmente são: (i) Lei 4.320, de 17 de março de 1964, art. 68 e 69; (ii) Decreto-Lei nº. 200,
de 23 de fevereiro de 1967, art. 74, 77, 78, 80, 81, 83 e 84; (iii) Decreto nº. 93.872, de 23 de
dezembro de 1986, art. 45 a 47; (iv) Decreto nº. 5.355, de 25 de janeiro de 2005; (v) Decreto
nº. 6.370, de 1º de fevereiro de 2008; (vi) Portaria nº. 95 MF, de 19 de abril de 2002; (vii)
Portaria nº. 41 MP de 07 de março de 2005, alterada pelas Portarias nº. 01 MP de 4 de janeiro
de 2006, e nº. 44 MP de 14 de março de 2006; (viii) Manual do SIAFI WEB código 02.11.21
atualizada; (ix) Portaria nº. 653 MEC, de 28 de Maio de 2008; (x) Portaria nº. 1.847 UFBA,
de 01 de dezembro de 1998.
A partir das observações citadas acima, pode-se destacar alguns aspectos estruturais e
técnico-administrativos importantes para realização de despesas por Suprimento de Fundos
numa entidade pública, que são: tanto na compra de material de consumo como na aquisição
de serviços, é imprescindível a consulta aos setores de controle de material (almoxarifado) ou
ao setor de contratos de prestação de serviços. Ao mesmo tempo, é importante que se obtenha
uma resposta segura destes setores, pois a existência no estoque de um material a ser
comprado, ou ainda, a existência de fornecedor registrado para fornecê-lo ou para prestar o
serviço a ser contratado, desqualifica a compra por Suprimento de Fundos, tornando-a
injustificável.
Outro aspecto importante a ser destacado é a projeção do gasto ao longo do exercício
orçamentário. Ao se verificar que tal necessidade, num primeiro momento emergencial, irá se
repetir no decorrer do exercício orçamentário, deve-se avaliar a precisão de se abrir um
processo licitatório, buscando evitar que as futuras aquisições por Suprimento de Fundos
dentro de um único período (de um mesmo material ou serviço), sejam apontadas como
fracionamento de despesa.
O fracionamento se caracteriza pela divisão da despesa, de uma mesma natureza, para
utilizar modalidade de licitação inferior à recomendada pela legislação para o total de
despesas. Em outras palavras, é vedada a utilização de modalidade inferior de licitação (ou
dispensa) quando o somatório do valor comprado dentro de um mesmo exercício se enquadrar
numa modalidade superior de licitação. (Fulgêncio, 2007, p. 385). Se tratando de Suprimento
de Fundos, pode-se considerar indício de fracionamento de despesa as compras em um único
exercício e de um mesmo subelemento de despesa, cujo valor total supere os limites dos
incisos I e II do art. 24 da Lei nº. 8.666/93.
Após tomar todas as precauções para uma boa aplicação dos recursos oriundos do
Suprimento de Fundos, o servidor detentor do Cartão de Pagamento do Governo Federal
(também chamado de Agente Suprido) deverá requisitar ao Ordenador de Despesa, através de
processo administrativo, a concessão do valor a ser aplicado juntamente com as devidas
justificativas de sua requisição.
O Ordenador de Despesas, tão responsável pela boa aplicação do recurso quanto o
Agente Suprido, deverá avaliar a real necessidade do gasto, verificar se as precauções na
execução foram tomadas e se a justificativa é pertinente. Somente a partir desses dados ele
poderá aprovar ou indeferir a requisição do servidor. Daí a importância da boa assessoria ou
assistência administrativa, pois esses que iram, a partir de uma análise mais especializada,
resumir as informações processuais para o Ordenador, e apontar em que sentido deverá ser
tomado sua decisão.
A requisição sendo aprovada, a Unidade Gestora emitirá uma Nota de Empenho em
nome do servidor requerente e liberará o valor solicitado para ser gasto através do Cartão de
Pagamento do Governo Federal ou através de saque via este mesmo cartão.
prestação de contas em papel. Além disso, o CPGF permite à Administração Pública uma
maior agilidade nas compras; bem como uma maior facilidade para gerenciar e controlar os
gastos.
Por ser uma transação eletrônica, o uso do CPGF assemelha-se a utilização de um
cartão de crédito comum. Porém, a diferença fundamental é de que o controle e o
acompanhamento dos gastos não estão restritos à operadora de crédito e ao usuário portador
do cartão. O Ordenador de Despesas (ou servidor por ele autorizado) é quem estabelece o
limite a ser gasto com o cartão, controlando-o on-line, podendo, inclusive, verificar em que
tipo de estabelecimento a transação foi realizada. Contudo, a maior beneficiada com a
instituição do CPGF é a sociedade, pois todas as transações ficam disponíveis no endereço
eletrônico da transparência pública nacional, podendo qualquer cidadão consultá-las.
No ano de 2009 o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão publicou a
Portaria 90 que criou o Sistema de Cartão de Pagamento (SCP) e tornou obrigatório que o
portador do cartão detalhasse, em até trinta dias depois de efetuadas as transações, as despesas
por ele realizadas. O detalhamento consiste em registrar: o número da nota fiscal; o CNPJ da
empresa onde o produto foi adquirido; a data da compra e o valor; e a descrição do produto ou
serviço adquirido. Esse detalhamento deveria complementar as informações disponibilizadas
no portal da transparência, possibilitando um maior acompanhamento pela sociedade dos
gastos realizados por Suprimento de Fundos, inclusive daqueles realizados através de saques
nas agências bancárias, mas, até a presente data, apenas pessoas autorizadas por senha têm
acesso a esses dados.
Os saques com o CPGF podem ser realizados para atender as necessidades ainda mais
excepcionais (limitado até 30% do gasto anual do órgão com Suprimento de Fundos) e em
cada concessão deve constar justificativa explicando a excepcionalidade da despesa que
motiva a necessidade do pagamento em espécie. São exemplos de motivações para o saque:
serviços prestados por pessoa física; despesas realizadas, onde possa ser escassa a rede
credenciada à bandeira do CPGF, entre outras. Contudo, o governo recomenda reduzir ao
mínimo possível o pagamento em espécie.
O acompanhamento da sociedade sobre os gastos realizados com o CPGF é de
fundamental importância para que os usuários do cartão sejam mais criteriosos na hora da
compra com Suprimento de Fundos. O primeiro semestre de 2008 teve como principal
noticiário na imprensa nacional as denúncias do episódio que ficou conhecido como “O
Escândalo dos Cartões Corporativos”, em que, na ocasião, o governo, em 2007, tinha dobrado
o valor dos gastos com Suprimento de Fundos em comparação com os anos anteriores. O caso
tomou vieses grandiosamente políticos, com abertura inclusive de Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI), e ao término das investigações apenas a titular da Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, perdeu o seu cargo e também, o então Ministro
dos Esportes devolveu, por conta própria, aos cofres da união a importância de R$ 30.870,285.
No entanto, é possível notar que após as denúncias houve uma mudança no
comportamento dos usuários do CPGF, diminuindo de forma significativa (aproximadamente
20 milhões de reais) os gastos realizados com o cartão. Além disso, o governo baixou decretos
de regulamentação e limites de saque, que também contribuíram para redução desses gastos.
5
G1Notícias. Entenda a Crise dos Cartões Corporativos e o Caso do Dossiê. G1 São Paulo, São Paulo, 28 mar.
2008. Disponível em: < http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL373871-5601,00-
ENTENDA+A+CRISE+DOS+CARTOES+CORPORATIVOS.html>. Acesso em: 29 jan. 2013.
8
Quando em 1993 foi promulgada a Lei 8.666, já se tinha a idéia de que todas as
aquisições da Administração Pública deveriam ser feitas por meio de licitação. É lógico que se
caberiam as exceções, e estas foram listadas nos artigos 24 (dos casos de dispensas de
licitação) e 25 (em que a licitação é inexigível) desta mesma lei. Porém, o processo
licitatório, nos moldes exigidos pela Lei 8.666/93, sempre foi objeto de reclamação de boa
parte dos gestores públicos, que o considera burocrático em demasia, oneroso e lento. Dentro
dessa visão, criou-se resistência em se recorrer à Licitação Pública para toda e qualquer
aquisição, tentando enquadrar algumas compras em uma das trinta e duas possibilidades de
dispensa de licitação listadas no art. 24 ou numa das três possíveis inexigibilidades do art. 25
da Lei 8.666/93. O pequeno vulto, o caráter emergencial, a licitação deserta, a especialização
notória, entre outros, são os incisos frequentemente recorridos pelos gestores públicos para
justificar a compra direta com o fornecedor por eles escolhidos.
Por outro lado, os governos, ao longo dos anos, vieram tentando amenizar as falhas da
Lei 8.666/93, mediante, principalmente, de desenvolvimento de ferramentas e sistemas de
informação capazes de facilitar, diminuir os custos e aumentar o alcance das licitações
públicas. Atrelado a isso, esses sistemas também permitem um maior controle dos
procedimentos por via eletrônica, simplificando, assim, o uso de alguns dispositivos previstos
na Lei, que eram pouco utilizados pela sua complexidade e dificuldade em controlar as
aquisições da administração.
O Sistema de Registro de Preços (SRP), por exemplo, encontra-se previsto no art. 15
da Lei 8.666/93 e durante muito tempo foi pouco utilizado por causa da grande quantidade de
dúvidas dos gestores públicos quanto aos procedimentos e a falta de recursos informatizados
para controle. Trata-se de um procedimento com base em planejamento para futuras
contratações, em que as empresas vencedoras assumem o compromisso de fornecer bens e
serviços a preços e prazos registrados numa ata específica, mas a contratação só é realizada
quando melhor convier aos órgão/entidades que integram essa ata (CGU, 2011).
A diferença principal entre o SRP e um processo licitatório comum é que, no segundo,
visa-se uma contratação específica que resultará em um contrato com objeto determinado. No
SRP, a licitação define as qualidades do bem ou serviço e os respectivos preços unitários, mas
as quantidades a serem adquiridas dependem da conveniência da administração. Ou seja, o
SRP funciona como um estoque virtual em que o pagamento somente ocorre após a entrega
do bem ou serviço. Quando bem planejado e aplicado, o SRP lembra o Sistema de Produção
Enxuta (Just in time), em que “os insumos (bem e serviços) necessários ao processo de
produção são adquiridos no momento de sua necessidade para aplicação” (CGU, 2011, p.8).
Essa outra forma de licitar possibilita resolver alguns problemas de compras e
aquisições no setor público, principalmente aqueles que se referem a compras de bem comuns
e de peças de reposição, evitando assim que se recorra ao processo licitatório comum a cada
necessidade da administração, pois já se tem mercadorias e serviços licitados e com preços
registrados para o exercício. Além disso, o SRP permite ainda que as licitações sejam feitas
em grupos de órgãos públicos participantes ou que, um órgão ou entidade pública não
participante da licitação possa adquirir mercadoria e serviços licitados em outro órgão
público: a chamada “carona” (Decreto nº. 3.931/01 art. 8º). No entanto, o SRP depende de um
controle bastante seguro e transparente e, consequentemente, de um aparato tecnológico que o
torne possível. Isso afastou os gestores públicos de utilizá-lo durante um longo período, mas
com o desenvolvimento tecnológico e, principalmente, com a possibilidade de se realizar a
9
licitação de SRP através da modalidade Pregão Eletrônico (Decreto nº. 5.450/05, art. 25, §§ 7º
e 8º) o Sistema de Registro de Preço passou a ser muito mais utilizado na administração
pública e vem substituindo as modalidades tradicionais de licitação, como Convite e Tomada
de Preço.
O Pregão Eletrônico talvez seja a principal evidência da inserção de recursos
tecnológicos ao processo licitatório. Ele foi criado através da Lei Federal n. 10.520/02 e
mudou significativamente a forma de licitar brasileira, tornando-a mais dinâmica, ampla e
econômica. O Pregão Eletrônico funciona como um leilão, só que ao contrário: nele ganha o
fornecedor que oferecer a mercadoria ou o serviço pelo menor preço ao órgão licitador. Este
último divulga sua necessidade e os fornecedores se cadastram pela web para ofertar lances de
preços no dia e horário marcado. Após definido o vencedor, esse apresentará a documentação
de habilitação que será conferida e deferida ou indeferida pelo pregoeiro. Observe que o
pregão inverte a fase de habilitação dos fornecedores, deixando-a para o final e são analisados
apenas os documentos da empresa vencedora, diferentemente da Concorrência, por exemplo,
em que a habilitação é prévia e os documentos de todos licitantes são verificados. O Pregão
Eletrônico ainda, por ser realizado via web, pode ser acessado de qualquer local, o que amplia
a quantidade de participantes concorrentes e, consequentemente, reduz os preços ofertados.
Um estudo publicado pelo Governo Federal em outubro de 2012, afirma que 93% das
compras da União até setembro deste mesmo ano foram feitas por meio de Pregão Eletrônico
e que, tal modalidade de licitação gerou uma economia de 4,5 bilhões de reais6.
Toda essa evolução do processo licitatório permite concluir que, justificar a compra
direta ao fornecedor, alegando o alto custo de se fazer uma licitação ou, a dificuldade de
encontrar fornecedores para participar do certame, ou ainda a emergência do gasto frente á
lenta burocracia da licitação, está cada vez mais difícil, e pode ser vista pelos órgãos
fiscalizadores como falta de planejamento da gestão e, no caso do uso de Suprimento de
Fundos, como impropriedade da aplicação dos recursos públicos (Acórdão Nº 1760/2012 –
TCU – Plenário).
6
Para maiores informações sobre a Economia do Governo Federal com o Pregão Eletrônico veja a matéria:
“Compras governamentais por pregão eletrônico geram economia de R$ 4,5 bilhões”. Publicada em
22/10/2012 no sítio: www.brasil.gov.br. Acessado em 08/01/2013.
10
IV.METODOLOGIA
Este estudo tem como objeto de pesquisa os gastos por Suprimento de Fundos na
Universidade Federal da Bahia, tendo como análise temporal o período entre os anos de 2005
e 2012. A classificação da pesquisa dar-se-á na perspectiva delineada por Beuren (2003) que
sugere que as pesquisas sejam enquadradas de acordo com os seus objetivos, procedimentos e
abordagem.
Quanto ao objetivo da pesquisa ela é de natureza descritiva, pois teve como objetivo
descrever características da utilização do Suprimento de Fundos na Universidade Federal da
Bahia, sem nenhuma interferência do pesquisador sobre o fenômeno pesquisado. Os
resultados poderão contribuir para destacar o papel do planejamento na gestão pública,
fazendo uma relação de que quanto menos se recorre ao Suprimento de Fundos, melhor tem
sido o planejamento da UFBA, pois ela está necessitando menos de recorrer aos dispositivos
emergenciais para despesas de pequeno vulto.
Em relação aos procedimentos a pesquisa caracteriza-se como um Estudo de Caso na
Universidade Federal da Bahia e concentra-se sobre a temática do uso do Suprimento de
Fundos, reunindo informações detalhadas através da coleta de dados por verificação in loco
dos processos administrativos, buscando apreender a totalidade desse fenômeno nesta
Instituição.
Relativamente ao aspecto da abordagem, ante ao forte debruçamento sobre os
números, os quais ajudaram a entender o uso do Suprimento de Fundos na UFBA, essa
pesquisa classifica-se como quantitativa, pois busca demonstrar, através dos dados levantados,
como se dá a utilização do Suprimento de Fundos na UFBA e os fatores que determinam os
critérios do uso desta ferramenta nesta Instituição.
A técnica de coleta utilizada que teve maior aprofundamento nesta pesquisa foi a
análise dos processos de concessão de Suprimento de Fundos e dos processos de
comprovação dos gastos, conhecida como de prestação de contas. Mas, também, diante da
grande disponibilização de dados sobre o tema pesquisado na internet, boa parte dos dados foi
coletada no Portal da Transparência do Governo Federal. Além disso, recorreu-se a
informação direta com os funcionários da universidade quando os números não foram
suficientes para perfeita compreensão dos fatos.
Sob o aspecto da população e amostra o estudo foi centrado nos processos de
concessão e de prestação de contas de Suprimento de Fundos da Universidade Federal da
Bahia no período de 2005 a 2012, e, eventualmente, consultou-se os servidores diretamente
envolvidos nas etapas de efetivação do gasto.
11
V. RESULTADO E DISCUSSÃO
4.1 A unidade de estudo de caso: UFBA7
7
Para maiores informações sobre a UFBA, como estrutura administrativa e organizacional e a sua natureza
jurídica, consulte o Estatuto e Regimento Geral da UFBA, 2010. Disponível em www.UFBA.br. Acessado em
14/01/2013.
12
Ano de Utilização do CPGF 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Quantidade de Cartões Utilizados
na UFBA 2 3 18 2 3 3 7 4
Fonte: Portal da Transparência do Governo Federal: <http://www.portaldatransparencia.gov.br>
Tabela 3 - Valores (em reais) dos Gastos com Suprimento de Fundos no período de 2005 - 2012
Esfera de
Utilização
do CPGF 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Governo
Federal 21.706.269,63 33.362.544,98 76.254.491,76 55.257.326,02 64.547.860,27 80.079.782,60 58.743.558,95 25.491.902,41
Ministério
da
Educação 1.183.879,50 3.759.705,95 5.359.075,85 4.829.177,96 5.171.540,78 4.796.494,28 5.595.371,49 2.569.108,71
Por se tratar de uma universidade com atuação em quase todas as áreas de formação
acadêmica e, além disso, com assistência estudantil, a UFBA tem as mais diversas possíveis
necessidades que podem surgir como emergenciais. Desde remédios até material esportivo ou
hospitalar, tudo pode ser objeto de aquisição por Suprimento de Fundos na UFBA, desde que
se enquadre nas características exigidas em Lei. Porém, sendo tais emergências em sua
maioria decorrentes da própria atividade fim desta Autarquia, espera-se sempre que até
mesmo elas sejam incorporadas ao planejamento da Universidade, fazendo-se assim licitação
ou buscando a aquisição com contratos prévios.
Neste sentido, buscou-se identificar quais os materiais e serviços que foram objeto de
compra através do Suprimento de Fundos na Universidade Federal da Bahia no período de
2005 a 2012, os quais estão distribuídos da seguinte maneira:
14
Gráfico 1: Distribuição dos Gastos com Suprimento de Fundos na UFBA de 2005 - 2012
Fonte: Processos de Prestação de Contas de Suprimento de Fundos da UFBA
Tabela 4 - Evolução dos tipos de despesas realizadas por Suprimento de Fundos na UFBA
Vê-se que, dos oito anos pesquisados, nos quatro últimos, a despesa com gênero
alimentício concentrou mais de 75% (setenta e cinco por cento) do gasto com Suprimento de
Fundos da UFBA. Essa concentração, segundo informação de servidores técnico-
administrativos da Universidade, decorre principalmente da dificuldade de se concluir uma
licitação para alguns alimentos específicos, utilizados nas aulas práticas realizadas na Escola
de Nutrição. A situação agravou-se ainda mais a partir do ano de 2009, com a criação do curso
de Gastronomia (coordenado também por essa unidade de ensino) o qual aumentou a
demanda por alimentos ainda mais singulares. A análise dos dados constantes na Tabela 5
ratifica a informação obtida com servidores da UFBA.
Centro de Custos 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Total
Escola de Nutrição (NUT) - - 3.220,34 - 6.990,59 7.979,57 5.206,76 6.228,42 29.625,68
Instituto Multidisciplinar - - - - - 1.194,86 1.566,41 1.429,99 4.191,26
De Saúde (IMS)
Pro - Reitoria de - - 6.686,24 3.999,43 200,00 617,60 6.799,91 4.571,48 22.874,66
Administração (PROAD)
Escola de Dança (DAN) - - - 532,30 497,00 - - - 1.029,30
Serviço de Seleção - - 8.570,56 - - - - - 8.570,56
(SSOA)
Pro - Reitoria de Assist. 800,00 5.236,80 2.000,00 - - - - - 8.036,80
Estudantil (PROAE)
Inst. De Ciências e - - 2.200,73 - - - - - 2.200,73
Desenv. Sustentável
(ICADS)
Hosp. Univ. Prof. Edgar 532,87 7.093,10 5.884,39 - - - - - 13.510,36
Santos (HUPES)
Total 1.332,87 12.329,90 28.562,26 4.531,73 7.687,59 9.792,03 13.573,08 12.229,89 90.039,35
VI. CONCLUSÃO
16
Propôs-se nesse artigo fazer um estudo sobre os gastos efetuados por Suprimento de
Fundos na Universidade Federal da Bahia, desde o ano de 2005, quando foi instituído o
Cartão de Pagamento do Governo Federal, até o ano de 2012.
Nesse sentido, fez-se um levantamento das principais normas que regulam o uso de
Suprimento de Fundos, primeiramente na esfera federal como um todo, depois, no Ministério
da Educação e na UFBA propriamente dita. Em seguida, verificou-se tanto a quantidade que
se gastou por este dispositivo no período pesquisado, como o tipo de gasto realizado por
Suprimento de Fundos na UFBA.
Paralelamente, analisou-se o contexto das aquisições de materiais e serviços no setor
público, e se constatou que as condições atuais, tanto materiais (no sentido de recursos
tecnológicos) como legais, favorecem e exigem que o planejamento seja tomado como um
princípio das tomadas de decisões do gestor público, ficando assim cada vez mais difícil
justificar as compras por Suprimento de Fundos, tendo em vista que elas estão reservadas às
despesas excepcionais, que por algum motivo não pôde passar pelo processo normal de
execução.
Nessa perspectiva, trabalhou-se com a hipótese de que os gastos efetuados por
Suprimento de Fundos estariam diminuindo a cada ano, na medida em que o planejamento de
execução orçamentária da UFBA estaria melhorando, seguindo o contexto das aquisições
públicas atuais. Em outras palavras, esperava-se que com a facilidade, através das recentes
mudanças no processo licitatório, de se adquirir bens e serviços por meio de licitação (como a
criação do Pregão Eletrônico, por exemplo) e com a obrigatoriedade legal de licitar; as
compras diretas ao fornecedor, como Suprimento de Fundos, estariam sendo cada vez menos
necessárias.
Tal hipótese não foi confirmada totalmente, pois, em números absolutos, o gasto com
Suprimento de Fundos na UFBA, em vez de diminuir, vem aumentando nos últimos anos. No
entanto, uma observação mais detalhada demonstrou que os gastos não diminuíram por causa
apenas de um tipo de despesa que tem encontrado dificuldades em finalizar a licitação. Desta
forma, conclui-se que a confirmação da hipótese é uma questão de tempo e de curto prazo,
pois, ultrapassando a dificuldade do fornecimento de gêneros alimentícios licitados – a qual a
solução não precisa ser exclusivamente a conclusão do processo licitatório, mas pode ser a
formalização de convênios ou parcerias com outros órgãos ou entidade – os gastos com
Suprimento de Fundos serão restritos apenas a despesas realmente eventuais, as quais a UFBA
cada vez menos tem sido surpreendida, graças ao seu bom planejamento orçamentário.
REFERÊNCIAS
17
BRASIL. Lei 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro
para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios
e do Distrito Federal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320.htm#veto>. Acesso em 11 abr. 2012.
KOHAMA, Hélio. Contabilidade Pública: teoria e prática. São Paulo: Atlas. 2003.
Abstract
This article deals with a study on the system of advance of the federal government, the
supply-of-funds, and their use at the Federal University of Bahia. It starts with the premise
that the supply-of-funds is a form of budget expenditures aimed at emergency and small
figure, which can’t go through the normal process of execution (bidding process). From this
perspective, to analyze the current context of public procurement, it was found that the
Brazilian government has provided technological advances to facilitate purchases of federal
agencies through competitive bidding and at the same time is creating laws that hinder the
direct purchase the supplier, as purchases by supply-of-funds. Therefore, this study worked
with the hypothesis that the use of the device supply-de-funds at the Federal University of
Bahia would be increasingly restricted in view of its emergency planning ahead to highlight
the new Brazilian laws and new bidding procedures that facilitate the procurement planned.
After analyzing the requisition processes and accountability Supply-of-Funds of the Federal
University of Bahia and survey data, it was speculated that the hypothesis was partially denied
because, in absolute terms, spending on supply-of-Funds at the Federal University of Bahia
are increasing in recent years. But, it was also observed that the type of spending is mostly
restricted to an expense item, which increased its need throughout the research period and was
not able to complete the bidding process for its acquisition by normal means of budget
execution.
Keywords: Federal University of Bahia (UFBA); Supply of Funds; Payment Card Federal
Government (CPGF); Budget Execution, Accounting Applied to Public Sector Procurement