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Aquele que é livre de desejo, . . . cujo desejo foi alcançado, cujo desejo é o Ser,
seu prana não reencarna. Sendo Brahman, eles vão para Brahman.i
As escrituras da Índia explicam que o reino imortal pode ser alcançado por aquele
que é um yogayukta, isto é, aquele que está “atrelado à yoga”ii. Existem duas
definições clássicas para yuj, a raiz de yoga e yukta. A primeira é “atrelamento” ou
“união”. A segunda definição de yuj se relaciona a essa prática de “atrelar-se” ou
“unir-se” em um nível sutil; a raiz yuj, então, indica a prática, na meditação, de
atrelar a mente a um objeto, até o ponto de identificação completa com esse objeto —
uma prática denominada samadhi. Assim, é por meio do samadhi que um Siddha
alcança mahasamadhi.
Samadhi e Mahasamadhi
Quando os cinco sentidos, junto com a mente, permanecem imóveis, é dito que
é o estado mais elevado. Isso é considerado yoga…iii
A Grande Partida
Os Vedas descrevem um canal central no corpo sutil de cada ser vivo, que sobe até o
topo da cabeça.v Nos Upanishads, é entendido que o processo de transcender as
limitações do corpo ocorre quando o prana ascende ao longo desse canal, passando
através do topo da cabeça para o reino de Brahman, mais além.vi O yogue, ao voltar
os sentidos para dentro e focar a respiração nesse canal central, se torna capaz de
induzir sua própria ascensão, por fim perfurando o topo da cabeça e entrando no
reino imortal.
Seu rosto assumiu a mesma aparência que víramos nos primeiros anos — o
shambhavi mudra, o olhar para fora com foco interno. Ele lançou um olhar
amoroso, pleno de graça, para os devotos ao seu redor e então virou os olhos
para cima. O sushumna-nadi vibrou entre suas sobrancelhas. O som de OM,
belo e melodioso, foi ouvido, e seu sopro vital, seu prana, fundiu-se com a
Consciência cósmica.viii
Com essas noções em mente, nós podemos começar a refletir por que o local de
sepultamento de um sábio realizado é considerado tão sagrado. Quando pessoas
comuns falecem, é por meio do prana que elas transmigram para outros reinos e um
dia nascem de novo. Além disso, é por meio do prana que as impressões kármicas,
ações passadas e mérito (punya) da pessoa, são levados para gerar frutos em vidas
futuras. O mesmo não ocorre com um sábio realizado, que alcançou Brahman —
esse ser não terá nascimentos futuros. O que acontece com o prana e o imenso mérito
acumulado por um grande ser?
Quando um ser humano comum morre, a alma deixa o corpo e, de acordo com
seu karma, prossegue para assumir outra forma. Mas no caso dos grandes
seres que realizaram sua unidade com Brahman, com a Realidade mais
elevada, com a Existência, a Consciência e a Bem-aventurança (satcidananda)
onipresentes, o prana não percorre outros planos; ele não deixa o corpo.x
Baba Muktananda uma vez disse sobre Gurudev Siddha Peeth: “Até o final dos
tempos, eu estarei sentado exatamente aqui.”xiii Baba ainda está sentado lá,
irradiando seu estado de Consciência pura do mesmo quarto onde, anos antes, seu
Guru o tinha ritualisticamente instalado. Este é o santuário de samadhi de Baba, e é,
definitivamente, um tirtha.
Até hoje, mais de setecentos anos depois, devotos vêm diariamente ao santuário de
samadhi de Jnaneshvar para receber suas bênçãos e seu mérito, que permeiam o
complexo de edifícios de seu samadhi. E todo ano, no décimo primeiro dia da metade
escura do mês de Kartik (normalmente em novembro), milhares de devotos se
reúnem para celebrar Jnaneshvar e seu estado de realização do Ser.
Assim como o santuário de samadhi de Baba Muktananda serve de canal físico para
sua shakti onipresente, a lua cheia de outubro serve de canal temporal. Essa lua cheia
marca o aniversário lunar do mahasamadhi de Baba, e embora sua shakti seja eterna,
diz-se ser exponencialmente mais radiante nesse dia, abrindo-nos para a presença de
Baba em nossa vida. O foco coletivo de celebração devocional transforma essa shakti
luminosa em uma poderosa chama.
iv Mahabharata 16.5.18-25.
viii Swami Muktananda, Bhagawan Nityananda de Ganeshpuri (Rio de Janeiro: SYD Brasil, 2016), p. 57-58.
ix Kubjikamata Tantra 10.104b-108a, traduzido por Teun Goudriaan, “Some Beliefs and Rituals Concerning Time and
Death in the Kubjikāmata,” in Selected Studies on Ritual in the Indian Religions: Essays to D.J. Hoens, ed. Ria
Kloppenborg (Leiden: E.J. Brill, 1983), p. 98.
x Muktananda, Bhagawan Nityananda de Ganeshpuri, p. 58.
xi Swami Muktananda, Conversations with Swami Muktananda: The Early Years, 2nd ed. (South Fallsburg, NY: SYDA
1997), p. 125.
xiii Muktananda, Bhagawan Nityananda de Ganeshpuri, p. 87.
xiv Śrī Nāmdev Gāthā [Sakaḷa Santa Gāthā], ed. N. Sakhare (Pune: Varda Books, 1990 [1923]), Verses 700-830.