Candida de Souza
Natal/RN
2012
ii
Candida de Souza
Natal/RN
2012
iii
BANCA EXAMINADORA
Natal/RN
2012
iv
Estado Violência
Estado Hipocrisia
A lei não é minha
A lei que eu não queria
Homem em silêncio
Homem na prisão
Homem no escuro
Futuro da nação
Estado Violência
Deixem-me querer
Estado Violência
Deixem-me pensar
Estado Violência
Deixem-me sentir
Estado Violência
Deixem-me em paz
À Rudnilson e Shirlenne.
Maiores e melhores exemplos de militância pela juventude que já conheci.
Inspiradores e indispensáveis na minha crença de que ainda é possível um mundo
melhor para os nossos jovens.
vi
Agradecimentos
À Alice, minha jovem maninha, que me faz aprender a cada encontro uma nova
faceta da juventude. Muga, obrigada por fazer questão da presença na minha vida!
À Fernandinha, bolsista querida, fundamental nos momentos cruciais de
realização dessa pesquisa, e pessoa com quem tenho aprendido muito. Fernandinha, foi
muito bom ter podido te conhecer um pouco mais. Obrigada pela companhia nas idas a
campo e pela dedicação e afinco a esse projeto. Ter contado com você fez toda a
diferença.
À Helô! Amiga de todas as horas, que me conhece mais que muitos e ainda
assim faz questão de se fazer presente de forma única. Que viveu e vive comigo
momentos que não precisam de muita coisa pra serem especiais. Amiga... Obrigada por
todo o carinho e cuidado nos últimos anos! Sem você teria sido muito mais difícil.
À Dani, minha grande amiga, colega de militância e parceira de projetos, que
acompanhou de perto minha evolução de estagiária a pós-graduanda, me viu “crescer” e
contribuiu ativamente para isso. Dani, sou muito feliz de ter tido oportunidade de
aprender tanto sobre a vida com você. Obrigada pela companhia nas milhões de vezes
que precisei, pelas conversas, pelos momentos de descontração, pelos conselhos e pelas
risadas. Mas, principalmente, obrigada por essa amizade que me é tão cara!
A Marcos, exemplo de maturidade e experiência de vida. Fundamental na minha
formação para esse mundo. Com quem aprendi a ponderar e a acreditar na militância em
Direitos Humanos. Obrigada! Você tem grande parcela de contribuição em quem eu sou
e no que eu acredito hoje!
Ao Observatório da População Infanto-Juvenil em Contextos de Violência
(OBIJUV), berço das melhores experiências acadêmicas e profissionais que vivi nos
últimos anos. Grupo sem o qual essa dissertação não faria o menor sentido. Em especial,
Rocelly, Luana, Carol, Anna Luiza, Herculano, Lívia, Ana Cândida, Carmem, Tatimin,
Martha, Arthemis, Tabita, Luciana e Blenda.
Ao Grupo de Pesquisas Marxismo & Educação, em especial Ana Vládia, que
contribuiu substancialmente para o meu amadurecimento na temática da juventude.
Vládia, sou muito feliz por ter podido contar com você em momentos cruciais, não só
do trabalho. Um brinde aos momentos que vive(re)mos!
A Wall, meu companheiro de aventuras! Que, independente de vertente teórica,
sempre consegue dialogar com minha militância. Wall, obrigada pelos almoços
madrugada adentro, pela diversão madrugada afora e, principalmente, obrigada pela
paciência em me ouvir e pelo carinho que me devota!
Aos amigos Keyla, Adriana, Sol, Rafael, Tadeu, Vitor e Léo, que sempre me
fizeram sentir em casa na cidade grande, que sempre me ouviram e ajudaram nos meus
projetos e que sempre apostaram no meu sucesso. Suas lindas e seus lindos, vocês têm
um lugar especial no meu coração!
À Mari, Pri e Dxa, minhas queridas Lulu’s, que me ensinam que um dos maiores
valores da vida é a amizade, não importa a cara que ela tenha. Meninas, obrigada pela
presença na minha vida. Acompanhando de longe ou de perto a minha jornada, sei que
vocês estão aqui!
A todas as pessoas que atuam com jovens em Felipe Camarão, especialmente os
profissionais que colaboraram imensamente enquanto sujeitos dessa pesquisa. Pessoal,
obrigada pela disponibilidade, atenção e crença neste trabalho.
viii
Sumário
Resumo .......................................................................................................................... xv
Apresentação ................................................................................................................. 17
Introdução ..................................................................................................................... 19
II – MÉTODO ............................................................................................................... 96
4.1 – Felipe Camarão: a contradição da violação permeada por cultura .......... 103
Lista de Siglas
6. CT – Câmara Temática
8. DL – Desenvolvimento de Lideranças
Cultura
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
...................................................................................................................................... 104
Resumo
Abstract
In present day society, violence, mainly in urban centers, has emerged as one of the
main consequences of the “social question”, having great impact on many people's
lives, especially the young ones. Therefore, the government has been called to act in
preventing and combating this form of rights violation. The situation in Natal/RN
corroborates national rates concerning the incidence of violence in youth, and reveals
alarming data, specifically in its suburbs. It was decided to define the field of research
in the district Felipe Camarão, given the historical high homicide rate against its young
population. The aim of this study was to identify and to examine initiatives focused on
prevention and combating against youth violence that are being developed in Felipe
Camarão, in what basis they have been developed and how they translate into action.
More specifically, it aimed to achieve a survey and characterization of the institutions
that have actions focused on the young people in Felipe Camarão, as well as to analyze
the professionals' starting point for the implementation and coordination of actions in
the process of violence reduction, identifying what they do and how they do it. Ten
institutions were identified as having their full or partial actions focused on the young
population. It has been conducted focal groups with professionals from all institutions.
Data were analyzed from the perspective of historical and dialectical method, based on
the Método Comparativo Constante (Grounded Theory). The results were presented
from three analysis lines: the conceptions of professionals on violence; the initiatives
towards violence prevention in Felipe Camarão; and the challenges and perspectives
found in the violence reduction process. We point out that the phenomenon of violence
presents itself as commonplace in people's lives, which contributes to strengthening a
culture of fear, as well as stigmatization of a neighborhood, whether in media or in
social imaginary. Actions aimed to young people need to be better structured,
articulated and to have a critical perspective on the process of violence prevention, in
addition to greater territorial coverage. We argue that the implementation of actions
with emancipatory nature, especially to young population, allowing them to build new
projects for life, associated to a strengthening of state action in the preventive scope,
through policies for high quality education access and dignified work opportunities, in
addition to the consolidation of an effective social capital, are important factors in the
process of violence reduction in Felipe Camarão.
Apresentação
desenvolvimento deste estudo, para que o leitor possa ter acesso a maiores informações
estas se baseiam e como se traduzem em ações. Tal enfoque foi escolhido a partir de
governo do estado do Rio Grande do Norte, que se propõe a buscar garantir a promoção
referentes aos homicídios ocorridos no Rio Grande do Norte nos últimos seis anos. A
partir do acesso a esse material, foi possível delinear as principais características desse
15 e 29 anos, são as vítimas mais recorrentes nas estatísticas dos homicídios no RN;
grande concentração dessa violência nos bairros mais periféricos e com os menores
índices de renda per capita. Tais informações serviram de base para intervenções nos
cinco bairros – dentre os quais, Felipe Camarão – com maiores índices de homicídios de
18
discutir a respeito dos contextos de violência nos quais estão inseridos. Essa experiência
me fez refletir acerca do papel das ações tanto do governo como da sociedade civil no
Assim, este estudo foi desenvolvido a partir de reflexões como: até que ponto o
processo de redução da violência na juventude está sendo pensado nas políticas e ações
para essa população? Quais os princípios que embasam a atuação dos profissionais
da violência?
teórica que servirá de base para a realização dessa pesquisa. Essa estrutura está
políticas e ações voltadas para a juventude. A discussão que abrange essas três áreas
consiste a primeira parte do texto da dissertação. A segunda parte trata dos aspectos da
pesquisa em si, em que serão apresentados os dados pesquisados, bem como a sua
discussão.
Introdução
papel que ela desempenha na sociedade; significa considerar também a influência dessa
sociedade na sua construção. Falar de violência sob essa mesma perspectiva sugere uma
Refletir acerca das ações voltadas para a população juvenil implica compreendê-las
como uma espécie dentro do gênero das políticas sociais, que, em sua essência,
capitalista e desigual vigente na atualidade. Propor-se a discutir a partir desses três eixos
exige uma postura crítica e reflexiva, que busque contextualizar a dinâmica social que
brasileira, além de uma discussão sobre a violência que tem perpassado os contextos
nos quais os jovens pobres estão inseridos, refletindo que respostas têm sido dadas a tal
situação. Ao longo dessa discussão inicial, apresenta-se a forma como estão distribuídos
os eixos que comporão o presente trabalho, além de uma breve explanação acerca dos
ferramenta para minimizar os índices das mazelas que assolam grande parte da
população (Behring & Boschetti, 2010). Sobre esse aspecto, Pereira (2009) aponta que
devido ao seu caráter ambíguo e contraditório: ao mesmo tempo em que essas políticas
peculiar ao lidar com as consequências da “questão social” 1. Cohn (2000) afirma que o
reprodução da subalternização das classes mais pobres. Nesse sentido, os aspectos que
construção de uma ação integrada e sistêmica –, bem como a parcialização das mesmas
idosos.
alvo de inúmeras ações voltadas para a garantia dos direitos e proteção social das
pessoas com até dezessete anos. As iniciativas vão desde a busca pelo acesso dessa
1
Concordando com Yamamoto (2007), entende-se aqui “questão social” como “o conjunto de
problemas políticos, sociais e econômicos postos pela emergência da classe operária no processo de
constituição da sociedade capitalista” (p.31).
21
jovens, antes assistidos pelas políticas voltadas às crianças e adolescentes, ainda serão
uma histórica negligência nas agendas públicas, além de uma naturalização das suas
questões por parte da sociedade. Tal realidade, associada ao modelo de juventude que
vem sendo construído pela sociedade baseada nos moldes capitalistas, contribui para o
de violência, nos quais grande parte dos jovens brasileiros está inserida, seja como
vítima ou algoz.
da população geral. Este é um dado que vem se repetindo há, pelo menos, cinco anos,
havendo pequenas variações na porcentagem anual. Vale ressaltar que mais de 10%
comunidade escolhida para a realização desse estudo, devido à sua história de altos
Diante desse quadro, as ações voltadas para a juventude nessas comunidades têm
dessa violência que tem perpassado a população jovem. Desta forma, faz-se de
22
execução dessas ações, a fim de contribuir para uma análise das práticas que têm sido
efetuadas em seu âmbito. Nesse ínterim, esta pesquisa trará a oportunidade de fomentar
espaços de discussão com os profissionais que lidam diretamente com o público jovem,
nos quais se reflita acerca da atual conjuntura da juventude, bem como, quais as
limitações e possibilidades, tanto das ações como dos próprios profissionais que as
executam.
instituições que possuem ações voltadas para a população jovem em Felipe Camarão,
bem como analisar de que ponto partem os profissionais para a execução e articulação
fazem.
que, longe de se propor a esgotar a discussão, procura-se discutir as fronteiras que foram
apanhado histórico acerca da sua construção social, além de apresentar como esse
ambiguidade na representação social dessa população. Se, por um lado, ela é vista como
começa-se a pensar sob a ótica dos jovens como sujeitos de direitos. A partir daí, faz-se
uma reflexão acerca da ideal juventude que habita o imaginário social, em contraponto à
Para tanto, inicialmente faz-se uma reflexão acerca das diversas concepções de
forma explícita, quanto simbólica e que perpassa várias esferas da sociedade, seja no
exposição à violência que perpassa a vida desses jovens, bem como assinalar caminhos
violência. As ações que esse segmento tem demandado, notoriamente devem apresentar
características específicas, que não deixem de considerar a realidade social na qual estão
direitos e de proteção social. Essa concepção implica dizer que o acesso a serviços não
deve ser visto como uma concessão do Estado para com os jovens, mas sim como um
direito a ser assegurado. No Brasil, as respostas que têm sido dadas às demandas da
população juvenil só começaram a ganhar maior visibilidade a partir dos anos 2000.
debate-se acerca dos desafios e perspectivas para as políticas sociais voltadas para a
educação, trabalho e cultura, que são vistos por muitos autores – e pelos próprios
violência nessa população, bem como são discutidas questões referentes à segurança
25
pública e à forma como o Estado tem se feito presente na juventude por meio dessa
política.
Após lançar mão das discussões apresentadas, segue-se com a segunda parte do
coleta dos dados e os participantes, como acerca da perspectiva de análise. Faz-se então
uma caracterização minuciosa acerca do campo no qual essa pesquisa foi realizada. É
bem como das falas dos participantes da pesquisa. A seguir, faz-se uma caracterização
das instituições que atuam com jovens na comunidade e que constituem o campo de
pesquisa, para, posteriormente, lançar mão da análise dos dados coletados, que estão
divididos em dois grandes eixos, quais sejam: as concepções dos profissionais acerca do
campo pesquisado.
26
I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Desta forma, é preciso caracterizar quem é o jovem da atualidade, em que contexto esse
jovem está inserido e que papel ele representa na sociedade. Ao refletir sobre essa
considerando que não se trata de um conceito que está dado, mas sim de vários
conceitos, que são fruto de uma histórica representação específica dessa população.
forma consensual. Ao longo dos anos, esse segmento vem sendo visto como uma etapa
transitória, em que o sujeito passa da infância para a idade adulta. Tem-se que a
sociais e culturais, que variam de acordo com as diferentes classes sociais, culturas,
única que caracterize e delimite o grupo geracional no qual os jovens estão inseridos,
visto que se trata de uma categoria em permanente construção social e histórica. Assim,
No entanto, como bem discute Souza (2005), essa definição plural na sociedade
reivindicação mercadológica tolhe outros estilos de vida não condizentes com a lógica
dicotomia que emerge nas classes sociais; aqui considerado o principal fator que define
Alguns países, como o Japão, por exemplo, classificam os jovens como indivíduos até
35 anos (Chaves Jr., 1999), enquanto outros adotam outras delimitações bem variadas.
28
Nos países ocidentais não se observa tanta polêmica quanto ao limite inferior,
entanto, a delimitação superior não é tão consensual. Para refletir a esse respeito,
UNESCO (2004) indicam importantes fatores que devem ser considerados: há uma
(UNESCO, 2004).
A saber, a Assembleia Geral das Nações Unidas define, para a América Latina,
jovens como sendo o grupo de pessoas com idade entre 15 e 24 anos (UNESCO, 2004).
jovem; 24 a 29 anos – jovem adulto. De acordo com Aquino (2009), a dilatação para 29
anos não é uma peculiaridade brasileira, e está ocorrendo na maioria dos países que
2
Estudos da UNESCO (2004) apontam que, em se tratando de áreas rurais ou de extrema
pobreza, essa delimitação se reduz e o grupo de 10 a 14 anos é incluído.
3
O marco oficial do surgimento de uma Política Nacional de Juventude foi a criação, através de
iniciativas conjuntas da sociedade civil e do poder público, da SNJ, pela Lei Federal nº 11.129/2005, e do
CONJUVE, que é o espaço de realização do controle social da Política Nacional de Juventude e de todas
as ações vinculadas a ela. Esse assunto será melhor abordado no capítulo 3.
29
pretendem implementar políticas para a juventude. Tal variação é justificada por dois
geral.
segmento. Castro (2009) aponta que as políticas carecem de um marco que referencie o
conceito de juventude de forma mais coesa. No entanto, essa ausência de coesão acerca
social da juventude.
falar de uma juventude universal, visto que não consiste de um fenômeno que está posto
Ela, assim como todos os outros segmentos populacionais, vem sendo delineada e
conceituação sócio histórica da juventude, em que cada época e sociedade aprovam sua
concepção própria e lhe atribuem papéis particulares (Fraga & Iulianelli, 2003). Essa
século XIX contribuiu para que a preocupação com a juventude mundial durante esse
Existia grande preocupação com a disciplina dos jovens pobres, em que emergia a
(2003) aponta que o enfoque na juventude nesse período era o controle da delinquência,
acordo com Novaes (2007), pequenas contravenções dos jovens eram mais
preocupantes do que ações mais graves dos adultos, o que reforçava a ideia da repressão
dessa etapa (concebida como) problemática da vida (Aquino, 2009). Sobre esse aspecto,
4
Trata-se do movimento da eugenia, em que se condenavam as misturas raciais, tidas como
indesejáveis, e se defendia a extinção das “classes perigosas”. Tal concepção serviu de base para diversos
absurdos sociais, a exemplo do movimento higienista no Brasil, que transpôs a esfera da medicina e,
aliado aos ideais eugênicos e ao darwinismo social, contribuiu para a consolidação do mito da
periculosidade na pobreza, por meio de um discurso naturalizante, que condenava aos pobres (em
especial, aos jovens) o rótulo de “perigo social” (Coimbra & Nascimento, 2003).
31
em que se constrói a ideia dos bandidos de nascença e do mito no qual os jovens pobres
parcela excluída por excelência, pois sequer conseguiam chegar ao mercado de trabalho
formal e se caracterizavam, então, como um “perigo social” que deveria ser controlado,
essa população. Essa vinculação da juventude com a desordem social é uma concepção
que contribui fortemente até os dias atuais para reforçar a relação entre
Sobre esse aspecto, Fraga (2008) aponta os jovens pobres como as principais
Por outro lado, é produzido um discurso de que esses mesmos jovens são os
Discurso esse proveniente dos setores médios atingidos direta ou indiretamente por essa
sociais e que não analisam mais amplamente os contextos nos quais é produzida toda a
como um “grupo de risco”, não fazendo referência à sua condição cidadã e não
segunda metade do século XX, começam a surgir novas concepções que irão se
De acordo com Aquino (2009), por volta das décadas de 1950 e 1960, a
juventude passa a ser vista como uma fase preparatória e transitória da vida, que exige
da família e da escola uma atenção e esforço contínuos, que visem preparar o jovem
para a socialização. Nessa concepção, os possíveis problemas que emergem são alvo de
insurge de forma ambígua: por um lado, é vista como agente de transformação social e,
por outro, como uma parcela populacional ingênua e irracional. Essa ambiguidade
33
também é apresentada por Fraga (2008), ao discorrer sobre a visão social dos jovens
na década de 1980, em conflito com a visão de que estes mesmos atores seriam
responsáveis pela reserva ética das sociedades e pelo destino da humanidade. Novaes
a partir dos seus valores, opiniões e atuação social, tanto implicados na mudança do
que se apresentam de formas mais permanentes – passa a ter lugar em diversos espaços
apenas em uma etapa de preparação para uma vida futura, repleta de inserções nas mais
trabalho, o que implica em duas tendências, quais sejam: os jovens pobres se submetem
mesmo que este também não apresente boas condições de sobrevivência; e, os jovens
privilegiados em sua origem social acabam por adiar a busca pela inserção profissional,
uma questão de classe social. A inserção prematura e precária dos jovens pobres no
condição de moratória social da dos jovens de classes mais abastadas, posto que àqueles
é associada uma perspectiva negativa dessa condição, enquanto a estes estão intrínsecos
aspectos tidos como naturais da juventude (Novaes, 2007). Tem-se então uma clara
distinção de classe no que diz respeito à moratória social. Esse termo, originado da
a sociedade neoliberal reserva para jovens de estratos sociais diferentes. Se para uns a
5
O conceito de moratória social foi desenvolvido por Erik Erikson na segunda metade da década
de 1950, mas atualiza-se a cada período histórico e também pode aplicar-se à juventude atual,
principalmente quando pensado a partir da lógica do sistema produtivo.
35
busca pela qualificação é condição sine qua non à educação, mesmo provocando um
e sugere que, uma vez fora do sistema produtivo, os jovens estariam suspensos da vida
Lourenço (2003) reside no fato de que a juventude tida como esperança exige uma
esfera social.
socioeconômicas e de independência dos jovens, tem-se cada vez mais cedo uma
inserção dessa população no “mundo dos adultos” quanto ao quesito da vida afetiva e
sexual. Camarano (2006) discorre acerca do rearranjo da nupcialidade, que muitas vezes
é o fator que caracteriza a transição para a vida adulta, em que os jovens cada vez mais
cedo saem da casa dos pais e constituem um novo domicílio e uma nova família,
adquirindo responsabilidades que são vistas como pertencentes à adultez. Mais uma vez,
essa conceituação de vida adulta é perpassada por questões de classe. Se, por um lado,
autonomia, inclusive financeira, o mesmo não é verdade para os jovens das classes
36
Não obstante o apresentado, Quiroga (2005) discute que essa noção de moratória
juventude provocou uma reversão em seu lugar social e se impôs enquanto segmento e
enquanto condição social não homogeneizável. Sobre esse aspecto, Aquino (2009)
aponta uma nova visão sobre a juventude: a de ator estratégico do desenvolvimento. Tal
fatores decorrentes dessa nova significação, quais sejam: a reivindicação de uma boa
recorte específico para a juventude nas ações públicas; e o apoio à participação política
dos jovens.
das crianças e jovens, bem como a violência da qual eram vítimas se tornaram uma
6
Se antes foi essencial a intervenção do Estado na economia internacional, bem como o
investimento em políticas públicas – a fim de reestruturar o sistema após a crise de 1929 (Welfare State) –
, no período pós-guerra viu-se a necessidade de uma redução dos gastos com o bem estar social, bem
como da formação de uma taxa “natural” de desemprego para a formação de exército de reserva. Assim,
tornava-se fundamental uma maior ausência do Estado em relação a gastos sociais e intervenções na
economia, para que a mesma pudesse se desenvolver (Anderson, 1995), o que acabou abrindo margem a
um grande programa de privatizações (Yamamoto, 2007). A conjuntura internacional voltada
crescentemente para a globalização do mercado, o Estado mínimo, a desestatização da economia, a
competitividade e a privatização, promovem então profundas alterações sociais e econômicas na
sociedade brasileira na década de 1990. Nesse período, há um acirramento da desigualdade social e uma
deterioração das condições de trabalho e de sobrevivência, agravando vários problemas sociais como
fome, criminalidade, violência e pobreza (Alencar, 2008; Anderson, 1995).
38
lugar diferenciado no imaginário da sociedade, passando a ser vistos a partir das suas
específica do ciclo de vida, e não mais como uma mera transição para a idade adulta.
Desta forma, o foco da juventude se transfere para o presente. Para Aquino (2009), as
sociais.
cultural construído para a juventude. Vale fazer breve reflexão a respeito das questões
7
Quiroga (2005) e Alves (2005) apontam que, no Brasil, especificamente o movimento hip-hop,
em que inicialmente os jovens se organizavam para construir uma nova forma de lazer, se constituiu de
um movimento fundamental no protagonismo juvenil contra a violência urbana que veio assolando a
juventude brasileira na década de 1990.
39
meritocracia. Nesse sentido, observa-se, mais intensamente a partir do século XXI, que
cultural está cada vez mais dirigida às novas gerações: ora à infância, impondo papéis
que antes se restringiam à adultez, ora à juventude, tida como uma geração que
adultos, que são alvo da promessa do rejuvenescimento (Ribeiro & Lourenço, 2003).
Sobre esse aspecto, Ribeiro (2004) aponta que a juventude contemporânea constitui
certo ideal social que talvez nunca termine, visto que cada vez mais a sociedade está
marcada por valores associados à mocidade, como a ideia de liberdade pessoal. Para
entanto, como bem aponta Quiroga (2005) ao distinguir entre jovens e juventude, os
que diz respeito às suas especificidades comparadas às outras faixas etárias, como com
Desta forma, conforme apontam Ribeiro e Lourenço (2003), constitui-se uma noção
impostas aos jovens para sua adequação às mudanças da sociedade atual, que criam
identitário e contribuindo para uma crise, uma vez que, ao mesmo tempo em que ele faz
Nesse sentido, Fraga e Iulianelli (2003) apontam para uma reflexão: ter a
populacional? Ora, é sabido que existe uma distância abismal entre essa representação
Brasil. A distinção que mais se faz presente é a que coloca em lados opostos os jovens
apresentadas logo encontra os sujeitos que as sustentam: para os jovens pobres, resta o
41
sociais relevantes à população jovem. Ao contrário, tem-se o fato de que os jovens das
Vale relembrar que as distinções aqui apresentadas são fruto de uma realidade de
identidade e na vida destes jovens. Desta forma, cabe apresentar algumas informações
apresentados utilizam essa faixa etária como referência para a população juvenil.
percentual ao longo dos anos, com relação aos jovens, visto que em 1993, 8,2% dessa
população era analfabeta e em 2006 esse índice correspondia a 2,4%. Vale ressaltar que
período (Waiselfisz, 2007). De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios – PNAD/2009 (IBGE, 2010), apesar de ter havido redução desse índice em
2009, a referida região continua apresentando mais que o dobro da média nacional de
analfabetos jovens.
Não é coincidência que a região Nordeste apresente tais índices e também seja
uma das regiões com menores indicadores de renda per capita do país. Os índices de
jovens 20% mais pobres do país, o percentual que não sabe ler nem escrever é de 6,4%;
esse índice vai caindo progressivamente até que, no quintil mais rico, o índice é de
0,4%. Além disso, observa-se uma reprodução familiar do analfabetismo, na qual mais
da metade dos pais e mães dos jovens analfabetos também o são. Especificamente no
etária jovem, o que demonstra um grande atraso com relação à evolução dos índices
nacionais.
metade (53,1%) dos jovens se encontra fora das salas de aula e, quando matriculados,
grande parte está em um nível de ensino que não corresponde à sua faixa etária. Cerca
de 14% dos jovens escolarizados cursam níveis de ensino que não correspondem à sua
43
fase de vida. Ao associar esses dois índices, restam menos de 33%, ou seja, um em cada
Mais um índice nacional que perpassa a questão das classes sociais diz respeito à
escolarização adequada, isto é, aquela que abrange pelo menos a formação do Ensino
Médio em diante. Dos jovens que compõem os 10% mais pobres da população, apenas
16% tem escolarização adequada, enquanto dos 10% mais ricos, 62,6% possuem essa
escolarização.
A distinção de classe no que diz respeito aos índices de acesso à educação reflete
mercado, que regula a economia e limita o acesso à educação de qualidade para alguns
Outro aspecto relevante a ser abordado com relação à juventude é a sua inserção
jovens que frequenta escola (46,9%) é levemente inferior à dos que trabalham (51%).
Mais detalhadamente, aponta que na faixa etária dos 15 aos 17 anos, o estudo prevalece
para o mundo do trabalho e, a partir dos 20 anos, este último prepondera. Sobre esse
aspecto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD/ 2009 apresenta que
pouco mais da metade (50,7%) dos jovens de 18 e 19 anos tinham alguma ocupação em
2009, enquanto a proporção era mais elevada (66,9%) entre aqueles na faixa de 20 a 24
desempregados e 11 milhões exerciam ocupações informais. Isto significa que 67% dos
formal. Esse índice é cerca de 10 pontos percentuais mais elevado com relação à taxa de
Nordeste está à frente das demais regiões do país, apresentando 81% dos seus jovens
de escolaridade dos jovens, observa-se uma elevada correlação negativa, ou seja, quanto
da população. Tal dado se refere tanto a dados nacionais, quanto à região Nordeste.
informam ainda que quase 20% do total de jovens brasileiros não estudavam nem
situação de exclusão, que muitas vezes é agravada por determinantes de gênero e raça.
condição de inativos e os que não estudam. De acordo com essa definição, em 2006,
acordo com Waiselfisz (2010), entre 1997 e 2007, houve um aumento de 23,8% de
população total (17,8%). Durante esse período, os homicídios ocorridos na faixa etária
população entre 15 e 29 anos, esse percentual aumenta para 54,8%. Vale salientar que o
nessa faixa, visto que se trata de um quinto da população que é alvo de mais da metade
das ocorrências desse tipo de violência. Outra informação que corrobora esse índice de
população em geral, os homicídios equivalem a apenas 1,8%, com relação aos jovens,
8
O conceito de vulnerabilidade social tem sido bastante discutido e, por vezes, mal empregado.
Desta forma, faz-se necessário esclarecer que a posição que se defende aqui concorda com Castro (2002):
“a ideia desse conceito é sair do circulo descritivo que reduz os pobres a não sujeitos, diferenciando-se de
conceitos como exclusão e pobreza. Há o apelo de se trabalhar a diversos níveis, considerando como se
modela vulnerabilidades ao nivel de comunidades, de instituições, inclusive trabalhando com a noção de
estruturas vulnerabilizantes, isto é, componentes de um sistema que contribuiriam para que, mesmo
dentro de uma classe social, certos indivíduos fossem mais vulnerabilizáveis.”
46
aponta que houve um acréscimo de 150,6% nos homicídios ocorridos entre 1997 e 2007
processo de diagnóstico desse tipo de violência, o que inviabiliza uma análise mais
brasileira, visto que se trata de fontes que apontam indicadores diferentes. Visando
sanar essa dificuldade, opta-se por apresentar os dados referentes ao Rio Grande do
vezes, se agrava em muitos índices. Entre 1997 e 2007, houve um aumento de 165,4%
faixa de 15 a 29, o número decresce para 133,6%. Com relação à capital do estado,
de 183,3%, ao considerar a faixa de 15 a 29 anos. Vale salientar que nos últimos três
9
A Coordenadoria de Direitos Humanos e Defesa das Minorias do Estado do RN – CODEM
realiza um levantamento estatístico dos homicídios ocorridos no estado, através de informações
fornecidas pelo Instituto Técnico e Científico de Polícia do RN – ITEP/RN, órgão responsável por
registrar e emitir os laudos de exames cadavéricos no RN.
47
Juvenil (IDJ), apresentado por Waiselfisz (2004), estabelece uma correlação entre os
índices de renda dos estados e de mortalidade de seus jovens por causas violentas,
revelando que existe uma relação intermediária entre essas mortes e as desigualdades
das ocorrências de homicídios (mais de 50%) nos cinco bairros com maiores
colocados na análise da renda per capita, com relação às outras regiões (Natal, 2009). A
bairros do ranking são Nossa Senhora da Apresentação, Lagoa Azul, Pajuçara e Potengi,
visto que a sua esfera social determina os limites até onde esse jovem pode ir na
sociedade e contribui para a marginalização dos setores mais pobres, em que o acesso a
se de maneira escassa.
de formação ética para uma cultura de paz têm sido os principais responsáveis por situar
identidades pautadas por compromissos de cidadania. Desta forma, esses são alguns dos
indicadores que devem colocar a questão juvenil em um papel central na atenção tanto
do Estado como da sociedade civil. Como bem apontam Fraga e Iulianelli (2003), a
48
principal preocupação das políticas públicas tem sido combater a violência, por meio da
única forma, ou a forma mais eficaz de intervenção de ambos os setores com relação aos
jovens?
Defende-se aqui que, para além da realização de políticas e ações paliativas que
nas condições sociais e econômicas, mas sim se identificar áreas estratégicas para a
por parte dos jovens em relação à sociedade e desenvolvam ações que possam oferecê-
preciso fortalecer o debate, incitar a não-violência e ter clareza das diversas nuanças que
perpassam a vida desses jovens. Sobre esse aspecto, propõe-se a seguir uma reflexão a
silenciosa que está cada vez mais naturalizada no imaginário social e consolidada como
uma questão estrutural – portanto, fora do alcance individual de resolução – que atinge
órgãos oficiais têm buscado uma definição de violência que seja capaz de dar conta da
lesões físicas ou questões específicas, para não incorrer na limitada compreensão do seu
Pinheiro e Almeida (2006) apontam-na como uma ação intencional que causa
não-violência seria uma ação intencional guiada pela ética, que possibilitaria a interação
violência. Nos espaços onde não há a primeira, aparece a segunda, e vice-versa. Como
de diversos fatores, que incluem tanto questões macro como microssociais. Ao mesmo
tempo em que se apresenta de forma objetiva, sendo desencadeada e legitimada por uma
constituição dos sujeitos que, imersos nesses contextos, podem mobilizar aspectos
quer aqui afirmar que agressividade e violência são sinônimas. Trata-se do oposto.
destrutividade. Desta forma, a violência apresenta-se como uma ação planejada, com
criminosas ou não, reativas ou proativas. Ao citar o uso da força física e o poder, inclui
vontade de causar dano, isto é, pode haver uma grande diferença entre a ação pretendida
e a consequência alcançada;
seu componente cultural, isto é, alguns comportamentos podem ser considerados por
alguém como toleráveis culturalmente, mas são entendidos como atos de violência, que
categorização das formas como esse fenômeno se expressa na sociedade. Suas múltiplas
facetas, ora extremamente visíveis, ora disfarçadas pelo medo, provocam a elucidação
de modelos que deem conta das muitas caras dessa violência, a fim de proporcionar uma
emocionais ou psicológicos;
cometida por parentes e parceiros íntimos, ou até mesmo por pessoas externas ao
essa última engloba a violência que perpassa a juventude, bem como os atos violentos
coletiva, por sua vez, apresenta aspectos sociais – que supõem uma motivação direta
para que seja praticada por grandes grupos (violência de multidões, terrorismo, crimes
OMS:
53
horizontal apresenta a forma como são afetados os sujeitos que estão inseridos nos
Essa tipologia não pretende ser universal, nem dar conta das delimitações de
cada tipo de violência, até porque a fronteira entre os diversos tipos apresentados é
muito tênue na prática. Pretende sim, fornecer uma estrutura que, ao organizar a
natureza das ações, o cenário e a relação entre vítima e algoz, possa facilitar a
compreensão dos padrões em que se expressa esse fenômeno. Trata-se então de uma
No Brasil, pode-se dizer que a partir da década de 1970, houve uma modificação
no padrão da criminalidade nas áreas urbanas, que se consolidou nos dois decênios
a violência.
55
violências.
propagação da violência. Tem-se então que a violência urbana é uma das mais graves
modelo de sociedade, mas sim de defender que tal configuração social favorece a
determinante, mas, associado a outros fatores, compõe cenários nos quais a violência
tende a se desenvolver.
56
aumenta o impacto de outros fatores decisivos para o seu crescimento. Tem-se então
fim de se buscar alternativas para seu enfrentamento. Nesse esforço, muitos são os
Não existe um fator único que explique porque a violência ocorre mais em uma
comunidade do que em outra, ou porque alguns cometem atos violentos e outros não.
violência, a partir dos fatores supracitados, conforme pode ser visto na Figura 1:
Krug et al. (2002) discutem que os diversos tipos de violência muitas vezes
compartilham alguns fatores de risco – abuso de álcool, acesso à arma de fogo, etc.
vivenciando também outros tipos. Como consequência, buscar trabalhar com os vários
níveis do modelo ecológico – social > comunitário > relacional > individual – pode
conflitos de natureza violenta por parte dos indivíduos. Tais fatores perpassam as
distribuição, acesso e controle dos recursos e dos meios de produção; social, que,
reflexo dos outros dois aspectos, emerge no acirramento da segregação entre grupos
do aumento da violência que vai ao encontro do que aqui é discutido. Também partindo
Esses fatores preparam o terreno para o surgimento da violência, seja pela busca dos
mudanças nas relações entre os indivíduos, destes com o Estado e entre diferentes
Estados. Tal conjuntura se reflete nos conflitos sociais e políticos, bem como na sua
justiça. Resulta que, enquanto uma pequena parcela da população pode optar pela
dominação das classes pauperizadas são inerentes ao modo de produção vigente, desde
há muito, a classe de trabalhadores urbanos pobres é vista como uma classe perigosa e
que deve ser alvo de controle social e repressão estatal. Essa segregação social, aliada
população.
e a dinâmica social. Abramovay et al. (2002) apontam que questões estruturais, como
participação política, isto não é verdade para a ampliação da justiça social. O hiato
dos direitos humanos para a maior parte da população brasileira. A desigualdade entre
riqueza, como a outros recursos simbólicos e de poder – possui estreita relação com a
relações humanas e seus conflitos passam a ser mediados pela violência, que passa a
extravasar a frustração.
públicos.
controle social, não tem dado provas de tratamento igualitário a todos os estratos
herdadas desse período e inexiste um sistema de coerção por parte do Estado que seja
tortura por parte de policiais passaram a ser comumente legitimadas nas comunidades
periféricas, tanto pela elite, como pelos pobres, que sofrem mais de perto com a
indesejáveis, tidos cada vez mais como uma classe perigosa. Ironicamente, o Estado –
principal defensor e garantidor de direitos – parece que não está a serviço de todos os
cidadãos.
frequência com que as pessoas recorrem a ele, dando margem a outras formas de
mas funciona como um Estado paralelo, em que todo e qualquer conflito é resolvido por
criminalidade. Como discute Adorno (2002), o problema não está na pobreza, mas na
10
Conforme discutem Pinheiro e Almeida (2006), o Estado paralelo do tráfico (caracterizado por
fatores como toque de recolher, câmaras de tortura, pontos de desova de cadáveres, assassinato de
delatores e controle da comunidade) pode também ser chamado de Estado associado, visto que a criação
de quadrilhas e crime organizado nas comunidades, bem como a garantia do seu funcionamento só são
possíveis devido à conivência, cumplicidade ou omissão de diversos setores do Estado legal.
62
criminalização dos pobres, isto é, na atenção privilegiada das agências de controle social
contra as transgressões cometidas por cidadãos pobres. Até porque, apesar de a maioria
das pessoas que cometem delitos e são apanhadas pelo sistema ser originária das classes
pauperizadas, a maior parte dos cidadãos dessas classes são submetidos às mesmas
condições de vida e, apesar de não entrarem na criminalidade, são vistos com o mesmo
rótulo da periculosidade.
Tem-se então um conjunto de ações que deveriam estar a serviço da garantia dos
apresentam como violadoras desses direitos. O Estado passa a favorecer a violência não
só por omissão, mas também por ação. E inúmeras são as famílias que enfrentam essa
realidade sem nenhuma rede de proteção. Cardia (2003) aponta que as relações dos
grupos sociais com as instituições de proteção social tendem a ser enfraquecidas nesse
Por outro lado, além das instituições de controle social – polícias e sistemas de
educação e higiene básica, a violência torna-se um fato corriqueiro na vida das pessoas
intensidade nesses grupos específicos. Peralva (2000) critica esta associação entre
pobreza, desigualdades e violência, por esta ser insuficiente no plano explicativo, mas
63
discutidos. No entanto, é preciso ter clareza de que esse fenômeno não constitui
condição sine qua non à classe pobre. As diversas formas de violência não são
tem potencial para desenvolver a violência – esta não é uma reação natural de pessoas
pobres – mas de uma população mais vulnerável aos impactos sociais provocados pela
distribuição desigual de renda e poder; estes sim, aspectos inerentes à sociedade atual,
desenvolvimento desse modelo para a vida dos cidadãos, como uma das condições que
subjazem o seu recrudescimento. Sobre esse aspecto, Trassi e Malvasi (2010) discutem
que:
Trata-se então de uma questão mais ampla, da ordem da justiça social, dentro de
da população.
nos níveis de prevenção primária. É necessário efetivar políticas e ações que sejam
capazes de prevenir graves violações de direitos humanos. Como bem discutem Krug et
al. (2002), uma resposta eficaz à violência não deve somente proteger e apoiar suas
novas formas de interação no espaço público, nas quais a intolerância à violência faça
pessoas da faixa etária juvenil. É verdade também que a repercussão das diversas
expressões de violência ganha mais destaque quando se fala desse grupo etário
periculosidade, essa concepção se consolida ainda mais quando se fala dos jovens
cometidos contra jovens têm sido significativamente mais elevados quando comparados
a outras faixas etárias. Isto é, os jovens pobres têm sido o segmento mais vitimizado
Krug et al. (2002) informam que alguns estudos acerca da violência não fatal revelam
que, para cada homicídio nessa população, cerca de 20 a 40 jovens são vitimizados e
tempo a sua vitimização fatal é maior do que a sua autoria em homicídios, percebe-se
envolvem sim em práticas delituosas, mas vale chamar atenção para o fato de que a
questão central de debate não deve ser a sua criminalização, mas sim a compreensão dos
fatores de risco que perpassam a juventude pobre, para que assim se possam construir
alternativas à violência.
Fatores de risco como participação em lutas físicas, fácil acesso a armas de fogo
violência passa a ser o único meio de se fazer escutar (Pinheiro & Almeida, 2006). A
comunidade em que os jovens se desenvolvem possui uma forte influência sobre seus
comportamentos e os dos seus grupos. Assim, os jovens que residem em locais com
então, que é preciso o somatório de múltiplos esforços para que se consiga reduzir
método único que seja capaz, ele mesmo, de enfrentar essa problemática. É preciso uma
11
De acordo com Krug et al. (2002), “o capital social refere-se a regras, normas, obrigações,
reciprocidade e confiança existentes nas relações sociais e instituições. Os jovens que moram em locais
onde o capital social está ausente tendem a ter um baixo desempenho escolar e uma maior probabilidade
de abandonar tudo” (p. 36).
67
características específicas. Tal resgate faz-se necessário, visto que a concepção que se
tem hoje acerca das juventudes – e que embasa as ações voltadas para os jovens – é
prática das ações estatais e da sociedade civil condizente com seu discurso ao longo dos
anos? A juventude aparecer como pauta na agenda política implica em uma efetiva
transformação na vida desses jovens? Qual o papel da sociedade civil nesse processo do
que resulta nesse momento remete a iniciativas que surgem a partir de meados da
12
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, apresenta-se como o primeiro
instrumento de abrangência internacional que versa de forma ampla acerca da garantia plena de direitos
fundamentais nos quais estão inclusas diversas faixas etárias. Deste modo, implicitamente, os jovens
também estariam contemplados nesse documento. No entanto, como ainda não havia discussões em
âmbito mundial acerca da juventude como um grupo específico, não se observa uma preocupação em
68
Declaração Sobre o Fomento entre a Juventude dos Ideais de Paz, Respeito Mútuo e
documento que, mesmo sendo dirigido aos jovens, representava na verdade a vontade
incitação à guerra. Desta forma, praticamente não teve implicações reais nas
Somente vinte anos mais tarde, a pauta da juventude passa a ter maior
qual foi elaborado o documento Guidelines for further planning and suitable
development in the field of youth, que define referenciais para os países construírem
Ação para a Juventude (PMAJ) e estabelece uma estratégia global, com diretrizes e
América, que deu início à realização de reuniões anuais dos países participantes,
referenciar explicitamente esta categoria, o que acaba por gerar certa invisibilidade da juventude na
implementação desse e de outros tratados.
69
atualmente vinte e um países membros – dentre eles, o Brasil – e que foi criado em
Juventude, com o objetivo de fortalecer o intercâmbio das melhores ações voltadas para
Unidas estabelece o Plano de Ação de Braga, que apresenta uma concepção positiva da
progressista, que deixa de enfocar nos desafios decorrentes das suas problemáticas para
nas diretrizes das políticas da juventude, bem como é alimentado por elas.
13
De acordo com Silva & Andrade (2009), atualmente, a OIJ é a única organização
governamental de juventude que possui caráter internacional e conta com a participação de 21 países-
membros da Ibero-América.
70
Tem-se, então, uma via de mão dupla, em que as ações não somente sofrem
imagens dominantes da representação social desse segmento. Assim, para que haja uma
mudança de paradigma a respeito desse grupo, faz-se mister também uma transformação
Na última década, observa-se que essa mudança tem-se feito cada vez mais
presente, ainda que seja em nível normativo. De acordo com Silva e Andrade (2009),
desenvolvimento pessoal, que deve ser vivida de forma plena, possibilitando aos jovens
Não obstante a conjuntura internacional cada vez mais imersa nas questões da
essa temática (Kerbauy, 2005). Diferentemente de outros países na América Latina, que,
Constituição Federal de 1988, o país estava direcionado à busca pela garantia de direitos
É válido salientar que, apesar de não haver uma política de juventude no Brasil
e influenciados pelas elites adultas do país, foram às ruas no Movimento das Diretas Já
demais vezes que os jovens eram alvo de atenção estavam relacionadas às notícias de
jornal sobre tráfico de drogas, gangues, ocorrências policiais ou outros episódios nessa
direção.
ser sujeitos de direitos, que deviam ser vistos com prioridade absoluta em todas as
aos adolescentes. Quem tivesse idade a partir de 18 anos não era contemplado nas
prerrogativas do ECA. Vale salientar que, o único espaço em que é abordada a faixa
etária acima de 18 anos nesta lei, refere-se à idade máxima para o cumprimento da
medida socioeducativa de internação para aqueles que cometeram ato infracional – que
pode se estender até os 21 anos. Desta forma, além da ausência de previsão de garantia
de direitos aos jovens acima de 18 anos, ainda são previstas sanções, o que demonstra a
72
direitos e também necessita de proteção integral. Tal fato acaba por reforçar o caráter
Sobre esse desenvolvimento das políticas no Brasil, Rua (1998) discute que:
“estado de coisas”. Rua (1998) aponta ainda que as políticas de juventude na década de
que o “estado de coisas” passe a ser um “problema político” e apareça como prioridade
na agenda estatal. Para tanto, faz-se necessária uma mobilização política de diversos
73
juventudes (Novaes & Ribeiro, 2010). Nesse processo, deve-se buscar ultrapassar a
fronteira das intenções previstas na sua formulação, para dar um passo adiante e chegar
à fase da sua real implementação. O Brasil ainda não havia chegado a essa etapa.
nessa década, alguns acontecimentos fizeram a sociedade brasileira voltar os olhos para
os seus jovens. Em 1997, o assassinato do índio Pataxó por cinco jovens de classe
preciso agir.
público jovem, que estabeleciam parcerias com os diversos níveis de governo. Tais
associação entre a juventude brasileira e a violência, que ganhava espaço nas notícias de
jornal. E não poderia ser diferente. Conforme Spósito et al. (2007), durante esse
período, pouco se produziu sobre a situação da juventude brasileira que servisse para
embasar ações consistentes voltadas para a real situação dos jovens em seus diversos
74
inserção laboral dos jovens “excluídos” (Gonzalez, 2009). Ações essas falidas em sua
principal objetivo era retirar os jovens pobres da ociosidade – careciam de uma política
juvenil. Essa é uma realidade que perdura até hoje, mesmo com todos os avanços na
ótica das ações voltadas para a juventude. O ócio ainda é visto como um problema e
Vale salientar que muitas ONGs que atuavam nesse período ainda permanecem
mas abrangendo outras esferas da vida dos jovens, como educação, saúde, serviços
políticas sociais, não só no que diz respeito à sua atuação com os jovens, nos remete a
refletir acerca dessa conjuntura, visto que grande parte das instituições que são alvo
social”, gerando uma nova modalidade de resposta, que acaba por enfraquecer as
14
Utiliza-se aqui a concepção de “terceiro setor” adotada por Coelho (2002), isto é, todos os
movimentos sociais e organizações privadas, sem fins lucrativos, que objetivam a produção de um bem da
coletividade e que apresentam um caráter estruturado e autogovernado.
75
“questão social” (Yamamoto, 2007), que agora passa a ser vista como objeto de
filantropia cuja solução está ligada à ação de ONGs, igrejas, comunidades e sociedade
civil, cabendo ao Estado intervir somente nos problemas sociais que põem em risco a
ocorre devido à focalização dos serviços e à descentralização das ações, que passam a
ser executadas por diferentes instituições de direito privado (seja com fins públicos ou
não). Já a privatização dos serviços segue dois caminhos: a re-mercantilização (em que
(em que a sociedade civil passa a promover serviços de utilidade pública). Como os
amplos setores da população ficam descobertos pela assistência do Estado, não tendo
mesmo padrão das políticas públicas, atendendo a demandas específicas e sem interação
76
umas com as outras. Outro aspecto refere-se ao fato de que os serviços apresentam-se
muitas vezes como paliativos diante da grande problemática que envolve a população
Vale salientar que, embora visem um serviço de caráter público, essas instâncias
social”, uma vez que este passa, convenientemente, a não se ver na obrigação de
sociais não exclui a participação da sociedade em sua proposição. O que se defende aqui
abordagem apoiada no discurso de pagamento da dívida social (Teles & Freitas, 2008).
não configurava uma característica inerente à juventude. Tratava-se muito mais dos
oportunidade de reação aos fatores de risco presentes nos contextos em que estavam
ainda está – bastante presente tanto no discurso quanto no planejamento das ações de
membro do capital social da nação. De acordo com Castro (2002), este é um conceito
que possui um valor simbólico que deve ser discutido a partir da sua formulação em
enquanto sujeito da sua própria história. Para Dayrell e Carrano (2003), falar em
acontecido na prática, visto que os programas não chegam a conceber seus beneficiários
78
como sujeitos de ação e a promoção da cidadania somente tem se dado no interior dos
Desta forma, o termo protagonismo juvenil tem servido para reforçar o caráter
meramente instrumental das políticas e, por vezes, tem obscurecido a luta pelo
reconhecimento dos demais direitos da juventude, que vão bem além da busca pela
participação ativa na sociedade. Spósito (2003) coloca ainda que, apesar dos avanços:
desestimular a sua participação social – aqueles que não tiverem oportunidade de acesso
à participação, ou mesmo os que não querem esse espaço, acabam alijados das ações,
que são estruturadas a partir dessa abordagem. Desta forma, tem-se que o protagonismo
juvenil teve seu sentido político deslocado. Em vez de servir como estímulo à
emancipação política e ao empoderamento dos jovens em busca dos seus direitos, acaba
somente reproduzindo um discurso que foi imposto a partir do modelo no qual as ações
79
vêm sendo construídas e que está longe da prática de participação ativa nas
preocupação da sociedade e do Estado com esse segmento. Desta forma, faz-se mister
1990, diferentemente dos outros países da América Latina, no Brasil não havia uma
diferentes espaços em que são implantados, por outro, acaba por consolidar ações
fragmentadas e com pouco impacto na vida dos jovens. (Spósito & Carrano, 2007).
alvo.
Entre 1995 e 1998, se tem registro de apenas seis programas que atingiam o
público jovem. Esse número aumenta substancialmente no período de 1999 para 2002,
80
15
chegando a dezoito programas nacionais distribuídos em diversos ministérios . No
entanto, apesar da quantidade, tais ações eram marcadas por um foco difuso e
crianças, adolescentes e jovens, o que reflete uma carência de acúmulo teórico dos
sentidos políticos e sociais diferentes, ora focando na assistência e inclusão dos jovens
saneadoras da violência. Sobre esse aspecto desarticulado das ações voltadas para a
15
Ministério da Educação: Programa de Estudantes em Convênio de Graduação (PEC-G),
Projeto Escola Jovem; Ministério do Esporte e Turismo: Jogos da Juventude, Olimpíadas Colegiais,
Projeto Navegar; Ministério da Justiça: Serviço Civil Voluntário, Programa de Reinserção Social do
Adolescente em Conflito com a Lei, Promoção de Direitos de Mulheres Jovens Vulneráveis ao Abuso
Sexual e à Exploração Sexual Comercial no Brasil; Ministério da Saúde: Programa de Saúde do
Adolescente e do Jovem; Ministério do Trabalho e Emprego: Jovem Empreendedor; Ministério da
Assistência e Previdência Social: Centros da Juventude, Agente Jovem de Desenvolvimento Social e
Humano; Ministério da Ciência e Tecnologia: Prêmio Jovem Cientista, Prêmio Jovem Cientista do
Futuro; Presidência da República: Comunidade Solidária, Programa Capacitação Solidária, Rede Jovem;
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Brasil em Ação/Grupo Juventude.
81
perspectiva mais coesa, que possa contemplar as demandas da juventude de forma mais
políticas estruturantes16.
Os jovens cada vez mais passam a se inserir nos movimentos sociais, que reivindicam
vida dos jovens e das ações voltadas para a juventude; o Projeto Juventude concretizou
uma pesquisa nacional que visava traçar o perfil da juventude brasileira; a comissão
Juventude.
Além dessas ações, no âmbito normativo, estão em tramitação até hoje dois
16
Novaes, Cara, Silva e Papa (2006) fazem uma divisão das políticas voltadas para a juventude
em três categorias: a) Políticas Estruturais: ações continuadas, que objetivam a garantia de direitos
fundamentais, como aumento do acesso a níveis mais elevados de ensino, por meio da educação do
campo e expansão da Educação de Jovens e Adultos; b) Programas: iniciativas governamentais
específicas, subordinadas ou não às anteriores, que possuem prazo determinado para atuar sobre
determinada realidade, como a Escola Aberta e o ProJovem; c) Ações: ações de curto prazo ou para
determinado público, que articulam-se ou não com as políticas e programas, tais como o Consórcio
Nacional de Juventude e os Pontos de Cultura. Além das iniciativas governamentais, as ações da
sociedade civil também podem ser consideradas como integrantes da política de juventude.
82
Capítulo VII e dá nova redação ao Art. 227 da CF/1988. Todas essas ações começam a
desafios que deveriam ser contemplados na Política Nacional de Juventude. São eles:
informação.
comunidades tradicionais.
integrados em curto, médio e longo prazo. Assim, além de elencar tais necessidades, o
Vale salientar que ocupar esses espaços e fomentar essas discussões no nível da
agenda pública é a forma mais eficiente de inserção da sociedade civil nas ações do
Estado, visto que, além de não substituir o seu papel por meio de ações isoladas, ainda
Jovens (ProJovem).
representantes do poder público e 2/3 da sociedade civil. Suas atribuições são formular e
imediatos e cotidianos dos e das jovens aos equipamentos adequados de saúde, esporte,
simbólicas.
seu enfrentamento se fará possível se forem consideradas três linhas de ação do Estado:
universais. Defende-se então que não há cisão entre as políticas universais e as políticas
possibilitando também condições de vida digna para todos, inclusive os que estão
conclusão da Educação Básica, nos casos desta etapa não ter sido concluída, também
devem ser questão central nas políticas voltadas para o enfrentamento da violência na
juventude.
contexto, como a medida de caráter emergencial, apontada como necessária pelo Grupo
ações comunitárias, que abrangia a faixa etária de 18 a 24 anos, de pessoas que não
bem como destes com as políticas estruturantes; aumentar a faixa etária de atendimento
plano de ação único para todos esses programas já existentes, que passaram a funcionar
Inclusão de Jovens, que passou a ter gestão compartilhada entre a SNJ e os Ministérios
integração e uma alta sobreposição das modalidades, tanto com relação à abrangência,
Jovens e Adultos (EJA). Na prática, isso tem causado um esvaziamento das salas de
aula do EJA. O alcance da meta inicial, que era a de atendimento a todos os jovens ditos
previsto. Silva e Andrade (2009) indicam alguns caminhos possíveis para a efetivação
dos municípios, bem como a sua integração com o nível médio de ensino. Tais medidas
jovens.
Ante o exposto, cabe uma reflexão sobre a configuração atual das políticas de
compensatório aos jovens de baixa renda que não tiveram acesso a uma educação básica
de qualidade.
87
A clara orientação de diálogo com a dívida social do país, presente nas políticas
modelo socioeconômico atual, não se configura como solução para as problemáticas que
justa:
situações de violação de direitos que têm permeado a vida dos jovens. No entanto,
existe outra face do Estado que tem se feito presente e que não necessariamente tem
âmbito das políticas de juventude. Para tal, dedica-se uma seção desse capítulo a
analisar quais são os principais desafios e perspectivas que estão postos nesse contexto.
A falta de acesso a direitos básicos tem sido uma realidade vivenciada por
são alguns frutos de uma sociedade excludente, que se consolidou com o modelo
socioeconômico vigente.
a um grande conjunto de pessoas que não têm e não terão acesso ao mercado de
trabalho, mas que são essenciais para a manutenção da exploração por parte das classes
trabalho.
anterior, em grande parte possuem esse viés de incentivo à qualificação. Aliado a isso, a
educação também teria papel fundamental na preparação desse jovem para o mercado.
Assim, educação e trabalho seriam aspectos constituintes de uma política estrutural, que
89
teria condições de transformar a vida dos jovens. Novaes et al. (2006) apontam que,
No entanto, cabe refletir até que ponto essa qualificação profissional é pensada a
partir da necessidade dos jovens. Não seria mais uma forma de criar demandas para
uma política de trabalho que considere a heterogeneidade dos espaços em que os jovens
estão inseridos, nem as diversas relações que estes estabelecem com o estudo e/ou
trabalho.
compensatório, uma vez que ter acesso às políticas de qualificação não significa
Corrochano et. al (2008) discutem que para além dessa qualificação profissional e
política passam, então, a ser “direitos” e “oportunidades”. Spósito et al. (2007) alertam
para o fato de que a preocupação com o desemprego tem aparecido atrelada ao combate
ao tráfico, que teria o poder de cooptar jovens ociosos e atraí-los para a criminalidade.
quando se trata de jovens pobres, negros e do sexo masculino, visto que as mulheres
ociosidade e afastando-os das ruas, deve ser o de proporcionar uma formação integral,
satisfatória, reforça outra forma de intervenção estatal, de caráter repressivo, que tem se
feito mais presente na vida dos jovens pobres do que qualquer outra política. As
execução penal, muitas vezes é a primeira forma de contato de um jovem com o Estado.
pública sobre a população jovem não se trata de algo explícito em suas diretrizes, mas o
abordagem policial é fato inegável. É curioso pensar que em um Estado que possui
tantas ações preventivas especificamente destinadas a esse público, essas ações têm tido
Vale ressaltar que não se trata de negar a importância da segurança pública para
o Estado, mas sim de analisar criticamente e repensar o seu modus operandi nos
os jovens.
necessariamente significa que estes cometem mais ilegalidades, mas sim que estão mais
Se a atuação policial com mais ênfase sobre os jovens poderia ser justificada
pelas próprias estatísticas, que apontam maior envolvimento deste segmento
populacional em crimes, pode-se dizer que a própria abordagem e suspeição
dos jovens, com grande frequência, contribui para sua maior presença nas
estatísticas de persecução e execução penal. Se o papel da polícia é o de
tratar todos os cidadãos igualitariamente, sem criminalizar nem vitimizar
nenhum grupo populacional, o jovem, assim como outros grupos, não pode
ser estigmatizado pelas forças de segurança do Estado. (Ferreira et al., 2009,
p.215)
jovens pobres por parte do Estado, que tem se apresentado como um dos grandes
violadores dos direitos desses cidadãos. Tem-se, então, uma problemática em diferentes
1,6 presos a cada mil, enquanto que para os homens jovens, essa taxa é de 10,4 presos a
92
cada mil. Nas comunidades, os efeitos das ações arbitrárias e abusivas, intimidações,
uma relação dos agentes com a comunidade, isto é, tem-se uma repressão reativa a
(Dowdney, 2008). Apesar de possuir efeito imediato e ser mais quantificável, tal
estratégia não é eficiente em longo prazo, visto que não ataca a raiz do problema.
Para que a tensão entre polícia e comunidade se atenue, é preciso uma mudança
prazo, mas que pode se materializar em ações concretas como a formação continuada
estratégias que, em geral não apresentam recorte explícito, mas potencialmente incidem
pública com políticas sociais, tendo como um de seus focos os jovens entre 15 e 24
anos, moradores das regiões metropolitanas mais violentas. De acordo com Soares
repressão qualificada, entre garantia de direitos humanos e a prática policial, visto que
17
O PRONASCI não foi pensado sem nenhum antecedente nos documentos oficiais da
segurança pública. A sua formatação é resultado de outras propostas que vinham sendo gestadas (ao
menos em caráter normativo) desde os anos iniciais do século XXI, a exemplo do Plano Nacional de
Segurança Pública. Para melhor conhecimento acerca desse processo histórico da construção da agenda
da segurança pública no Brasil, ver Sento-Sé (2011).
94
De acordo com Willadino et al. (2011), a ênfase no poder local, trazida pelo
dos municípios no âmbito da segurança pública implica, exatamente, nessa aliança entre
as políticas sociais e os agentes de segurança. Além disso, cabe aos agentes locais uma
participação efetiva na avaliação das ações ligadas ao programa. Apesar desses avanços,
tornar uma dificuldade na sua execução. Desta forma, o abismo existente entre o que
reais, em todo o seu período de vigência (até 2012) e inclui formação de agentes de
as ações preventivas.
direito à segurança sem violar outros direitos, deve ser pautada em uma perspectiva
18
O RN consiste em um dos estados que possui convênio com o Ministério da Justiça e é
contemplado na área de abrangência do PRONASCI.
95
respostas que têm sido dadas aos contextos de violência que perpassam a vida dos
II – MÉTODO
Para a identificação e escolha das instituições que seriam alvo deste estudo, foi
(CRAS), a fim de levantar informações sobre as organizações que tivessem suas ações
voltadas para a juventude no bairro. Além disso, foi realizado levantamento documental
vez autorizada, agendamos as novas visitas às instituições para a realização dos Grupos
controversa, devido aos seus usos para fins diversos. No entanto, pode-se dizer que
de questões lançadas pelo facilitador, conseguem interagir não só com este, mas entre si,
um grupo focal, visto que essa dependerá da opção metodológica do facilitador, tendo
97
em vista o processo de interação grupal, bem como dos fins que se deseja obter com o
mesmo. As diferentes abordagens e objetivos dos grupos, tais como marketing, relações
que o diferencia das entrevistas, que, ainda que em grupo, são mais direcionadas para a
Nesse sentido, Veiga e Gondim (2001) afirmam que se trata de uma técnica que
(2002) discute que existem três modalidades de grupos focais: exploratórios, clínicos e
vivenciais. A modalidade adotada neste estudo foi a exploratória, por estar centrada na
concepções de pessoas imersas em uma realidade específica. Além disso, pode-se dizer
2009). Nos grupos realizados para os fins dessa pesquisa, optamos por iniciá-los com a
98
grupo. O seu uso nos grupos permite espelhar discussões acerca de eventos que
dados. Apesar de o CEAV não fazer parte do bairro de FC, optamos por desenvolver o
piloto, realizamos ajustes no guia de tópicos (roteiro) do grupo focal, bem como ajustes
Norte. O registro das informações foi feito por meio de gravação em vídeo, com o
consentimento dos participantes (Apêndice C), bem como através de diários de campo,
elaborados por uma relatora, presente em todos os grupos. A duração dos encontros
da discussão. Em média tiveram cerca de uma hora e meia de duração. Os grupos foram
99
2. Procedimentos de análise
dos dados. Vale salientar que o papel do pesquisador não é substituído pelo software.
Desta forma, a codificação e categorização dos dados foram feitas com base no
apenas descritivos acerca de uma realidade, mas sim a explicação dessa realidade,
Nesse sentido, Trinidad et. al (2006) apontam que a utilização do MCC implica
investigação, de acordo com os limites dos próprios dados. Por isso, durante o processo
de coleta de dados, inserimos mais três instituições que comporiam o corpus de análise,
teoria.
Trinidad et. al (2006), no MCC, desde o início o investigador codifica e reflete acerca
explicação teórica.
Nessa direção, Barbour (2009) discute que nos grupos focais, apesar de o
construção do objeto de pesquisa, este deve ficar atendo aos códigos que surgem in vivo,
durante o processo do grupo focal, que não são códigos estabelecidos a priori, mas sim,
a partir da constante comparação entre as falas apresentadas nos grupos. Para melhor
A partir dessa estrutura, a análise de dados foi feita à luz de uma perspectiva
das dinâmicas sociais que perpassam o contexto das ações voltadas para a juventude e
3. Participantes
voluntário em uma ou mais das instituições que atuam com jovens em Felipe Camarão.
4. Caracterização do Campo19
segunda guerra mundial. Nesse período, o solo das áreas mais centrais da cidade já tinha
que viria a se caracterizar a periferia natalense (Bezerril, 2004). A figura abaixo mostra
19
As informações contidas em toda a seção 4 são provenientes tanto de pesquisas documentais
como de falas extraídas dos grupos focais.
104
considerada zona rural. Logo, foi ocupada por pessoas que tinham um baixo poder
aquisitivo e não conseguiam ter acesso às áreas mais centrais da cidade. Tratava-se de
carpinteiros, carvoeiros, que migravam na tentativa de fugir da seca, atraídos tanto pelo
baixo preço das terras como pela vasta extensão de cordões dunares e manguezal do rio
Potengi. A ocupação das terras foi feita de forma desordenada e com demarcações
recurso da autoconstrução.
105
do Rio Potengi).
uma divisão ambiental do bairro da seguinte forma: área edificada ou área dos conjuntos
últimas, estão concentradas as oito áreas que podem ser consideradas favelas: Maré,
Barreiros, Torre, Fio, Promorar, Alta Tensão, Alemão e Palha. Cerca de 25% dos
acesso a serviços básicos de água, saúde e moradia digna (Natal, 2009). Trata-se de
natalense com relação ao público jovem, que equivale à cerca de 21% do total. Ao se
analisar a renda mensal dos chefes de família, observa-se que Felipe Camarão ocupa o
900,00 mensais por chefe de família, a média dos moradores de FC equivale a um terço
Estado que garanta os mínimos sociais em algumas regiões de Felipe Camarão, aliada à
cenário social em que emergem vários tipos de violação de direitos. Tal conjuntura
Isso se reflete em uma taxa de homicídios mais que duas vezes maior que a natalense,
isto é, enquanto a capital possui uma taxa de 28,3 homicídios a cada cem mil habitantes
jovem de 15 a 24 anos tem sido o principal alvo desses contextos de violência. A saber,
contra a população em geral do bairro. Outro dado que merece atenção é que a taxa de
quatro bairros que, quando associados a Felipe Camarão, somam o índice de mais de
Vale salientar que a incidência de homicídios consiste de apenas uma das formas
de expressão da violência que, por ser mais facilmente mensurável, consegue refletir
jovens pobres.
vida, o bairro de Felipe Camarão é tido como um berço da cultura potiguar. A cultura de
foram passados de pai para filho. Alguns mestres de tradição oral conhecidos são
Mestre Manoel Marinheiro que, com o seu Boi de Reis, foi considerado patrimônio
cultural imaterial pelo Ministério da Cultura em 2006, além do Mestre Chico Daniel,
com seu teatro de bonecos João Redondo. O bairro possui uma Casa de Cultura Manoel
Marinheiro, em que são expostos para visitação a figura do Boi de Reis, os figurinos
compõem essa tradição. Atualmente, alguns espaços, além da Casa de Cultura, são
responsáveis por preservar essa cultura de tradição, a exemplo de uma das Organizações
comunidade ainda conseguem aprender e valorizar essa cultura de tradição que, aliada a
da comunidade.
dobrou para mais de oitenta. Além disso, algumas das instituições que atuam com
jovens também possuem um forte viés religioso. Isso se reflete na presença de jovens na
Conselho Comunitário que, por vezes, é utilizado para reuniões e atividades da Igreja.
108
Natal/RN que possuem altos índices de violência, Felipe Camarão possui um número
Vale salientar que tal informação não necessariamente significa o acesso da população
domicílios que possuem de zero a três anos de estudo é de 44,5%, e outros 32,4%
possuem de quatro a sete anos de estudo (Natal, 2009). Outro aspecto importante de
destacar refere-se à localização desses espaços, que estão quase que totalmente
assentamentos precários já listados, localizados nas regiões mais periféricas, visto que o
bairro possui uma grande extensão territorial. Na figura abaixo, podemos observar esse
20
Devido a problemas técnicos, não foi possível obter a transcrição literal do grupo focal
ocorrido com a equipe do CRAS. Deste modo, todas as informações referentes a esta instituição são
provenientes dos contatos iniciais com a equipe e coordenação, bem como do diário de campo elaborado
na ocasião do grupo focal e de pesquisas documentais.
110
(SEMTAS). Foi inaugurado no bairro em 2004 e conta com seis profissionais na equipe
gerais e dois vigias, bem como cinco estagiários do Programa Bolsa Família (PBF). As
são: ProJovem Adolescente, Plantão Social, Bolsa família, Projeto Grávida, Grupo de
do ProJovem Adolescente, que é tido nesta pesquisa como uma das instituições
analisadas, visto que, apesar de utilizar o espaço físico do CRAS e fazer parte das suas
ações, trata-se de uma iniciativa com características e objetivos próprios e que atinge
composta por uma coordenadora, duas orientadoras sociais, uma facilitadora cultural de
inscritos, divididos em duas turmas (uma por turno), que contam com orientação social
(grafite). Além disso, existe um dia destinado ao lazer, no qual os jovens fazem
atividades externas, como campeonatos na praia, ida ao teatro, ao cinema, gincanas, etc.
profissionais têm a oportunidade de ver o que o outro vai fazer durante a semana, bem
como avaliar as atividades que foram realizadas. Apesar de as atividades exercidas por
cada profissional terem as suas particularidades, elas seguem as mesmas diretrizes, que
atendidas pelo CRAS – como por meio de busca ativa, em que a equipe do programa faz
112
etc.
entanto, foi apontado pelos profissionais que realmente existem épocas do ano em que
benefício financeiro diretamente. Para tentar solucionar essa questão, a equipe sempre
existentes em Felipe Camarão – escolhida para fazer parte da presente pesquisa, por se
tratar da única que possui o nível de Ensino Médio, que é o nível ofertado para os
jovens. Desta forma, as informações aqui prestadas com relação aos quantitativos
referem-se somente a esse nível de ensino. A escola passou a ter ensino médio em
professores que dão aulas em 12 turmas. A grande maioria dos professores possui
formação específica para a disciplina que ministra. Cada turma possui cerca de 40
noturno das aulas do Ensino Médio, mas ainda assim, existem altos índices de
problemas com relação à frequência dos alunos e assiduidade nas aulas e nas provas.
A escola sedia os programas Escola Aberta e Mais Educação, que são atividades
educação formal.
os jovens. Deste modo, somente este atende aos critérios de inclusão no presente estudo.
O Conselho Comunitário II é composto por oito membros que, em sua maioria, são da
juventude.
Futebol das Juventudes”, realizada dentro de uma das localidades mais precárias de
Felipe Camarão. Além disso, o espaço do conselho também é cedido para outras
114
como atividade principal a educação regular gratuita de crianças e jovens até o ensino
médio. Sua missão é “promover a inclusão social por meio da educação e atuar como
desde 1989 e hoje atende a 280 alunos no ensino médio (nível de ensino em que está
presente a grande maioria dos jovens da escola). As aulas do ensino médio acontecem
no período noturno. O perfil dos alunos que frequentam as aulas é, no geral, jovens de
Felipe Camarão, que possuem algum tipo de ocupação durante e o dia e que possuem
currículo escolar.
115
resultados no que diz respeito ao ingresso dos alunos na universidade, bem como no
mercado de trabalho. Além das aulas regulares, a Fundação desenvolve alguns projetos
b) Projeto Gera Atitude: projeto composto por um grupo de jovens dos ensinos
formação dos estudantes, por meio de encontros semanais para a realização de leituras e
debates acerca de temáticas diversas da atualidade. Por meio desse projeto, os alunos
no ensino médio, realizada pelos alunos, para os concluintes do ensino fundamental: “os
alunos, abordando temáticas que perpassam a adolescência e a vida deles de uma forma
geral;
durante todo o ano, voltado tanto para os alunos como para a comunidade.
equipada com diversos instrumentos, bem como um curso de idiomas. Diante disso,
que se dá para além do conteúdo estrutural, por meio da vivência nesses projetos,
A Organização Não Governamental Lar Fabiano de Cristo faz parte de uma rede
constituída por 13 pessoas, sendo uma supervisora, uma assistente social, duas
atua a partir das famílias que são cadastradas, oferecendo atividades tanto para as
crianças e jovens, como para os adultos e idosos do núcleo familiar. No entanto, além
dos núcleos familiares que estão cadastrados, outros jovens da comunidade participam
Para os jovens, são oferecidas oficinas de capoeira, bem como oficinas de dança
que são trabalhados aspectos como Folclore, Cultura e Religião. Outra perspectiva
consiste no reforço escolar das crianças que frequentam a instituição. Nesse projeto, as
crianças têm aula de educação regular diariamente. Durante as aulas, também são
117
A ONG Visão Mundial faz parte de uma rede nacional, trata-se de uma
organização cristã, cuja missão é “seguir a Jesus Cristo, trabalhando com os pobres e
novas do Reino de Deus”. A instituição possui tempo certo para encerrar as atividades
estão empoderados, a mesma procura outro lugar para contribuir com suas ações. O
prazo final das ações da ONG em Felipe Camarão é 2021. Atualmente, a instituição
118
sociais, além disso, conta também com quatro estagiários remunerados. A ONG é
voltada para o público infanto-juvenil, mas também desenvolve trabalhos com mulheres
adultas e com a comunidade. Atualmente, existem 2166 inscritos, dos quais cerca de
1000 são crianças, 125 são mulheres e o restante é o público adolescente/jovem. Esse
Camarão em cinco microrregiões (Peixe Boi, Granja ABC, Centro, Promorar e Fio) e
a oficina Baú de Leitura, brinquedoteca, teatro, dança, capoeira, futebol e música. Essas
dois encontros semanais, oferecidos para os jovens, mas que também contam com a
a Copa de Futebol das Juventudes em parceria com o Conselho Comunitário, bem como
organizam para reivindicar seus direitos. Inicialmente, esse projeto foi criado pela Visão
119
Mundial e chamava-se Rede Social Caminhos do Sol, mas atualmente está em processo
comunidade renomearam de Rede Social Felipe Camarão, que tem uma coordenação
metodologias de ação: a) Projeto Redes, que utiliza a metodologia Gold, que se trata de
Outro grupo que está sendo construído na Visão Mundial é o grupo dos homens,
responsável pelo cadastramento das crianças e jovens, bem como pelo relacionamento
destes com os seus padrinhos. Os padrinhos são pessoas comuns que investem na Visão
Mundial e se correspondem por cartas com uma criança específica, beneficiária desse
investimento. A cada três meses são realizadas visitas aos membros cadastrados, para o
esporte, lazer, arte e cultura para crianças, adolescentes e jovens”. Assim, a organização
atua com projetos de reforço escolar e de atividades esportivas e culturais com crianças,
Habilidades de Estudo – PHE oferece reforço escolar para as crianças, no contra turno
serem utilizados pela instituição. Há ainda o projeto Música e Cidadania, voltado para a
dos cursos de artesanato e culinária oferecidos por professores voluntários para as mães
das crianças e dos jovens, bem como do projeto Fazendo a Diferença com o NAM, em
que pessoas com habilidades diferentes vão até a instituição em um dia específico e
fornecem serviços como corte de cabelo, manicure, recreação com crianças, consulta ao
ONG é por meio de doações. As doações de roupas, brinquedos e alimentos para serem
desde 2002. De uma forma geral, a instituição é guiada por valores de cunho religioso e
voluntário, em que eles desenvolvem ações junto aos grupos e oficinas existentes.
ações trocam ideias acerca de como o trabalho está sendo desenvolvido. O sistema de
que busca resgatar a cultura de tradição existente em FC. Sua equipe é composta pelos
mestres de tradição, bem como pelas oficineiras e pela coordenação. A grande maioria
das atividades é voltada para o público jovem, mas também são desenvolvidas ações
planejamento das atividades também ocorre semanalmente, com toda a equipe, bem
como anualmente.
cultura de tradição, que servem como incentivo à valorização das raízes culturais do
Uma característica forte dessa instituição é que a grande maioria de seus profissionais
123
Uma vez feita a caracterização das instituições que foram objeto de estudo dessa
grupos focais nesses espaços. Para tanto, optamos por dividir esta seção em duas partes,
Felipe Camarão, identificando o que estes pensam sobre essa realidade e como isso
influencia nas iniciativas que desenvolvem e que são voltadas para a juventude do
bairro.
do trabalho desenvolvido e a abrangência das ações. Além disso, faremos uma análise
acerca das possíveis implicações dessas ações nos contextos de violência que perpassam
profissionais que contribuíram para essa pesquisa, e com o acordo feito ao início de
cada grupo focal, as informações aqui apresentadas não terão identificação institucional.
Desta forma, apenas para fins de organização textual, optamos por renomear
125
“Do rio que tudo arrasta se diz violento. Porém ninguém diz
violentas as margens que o comprimem.”
Bertold Brecht
violência urbana; não por acaso, visto que uma das principais problemáticas dos centros
urbanos diz respeito à violência, e a juventude tem protagonizado esse espaço, seja
como vítima ou algoz. No entanto, essa problemática não aparece de forma isolada.
setores da sociedade de acordo com o seu nível econômico. Essa segregação de acordo
com os níveis de renda aparece de forma mais ou menos visível em diferentes centros
urbanos, a depender da forma como foram sendo ocupados os diversos espaços das
126
cidades ao longo dos anos. Sobre essas formas de ocupação urbana, Pedrazzini (2006)
tem sido pouco ou quase nenhum. Temos, então, que o desenvolvimento econômico de
população. Esse abismo existente entre as duas formas de desenvolvimento faz emergir
capitalista.
de um Estado de bem estar, que acaba por permitir a criação de um poder paralelo,
considerado como ilegítimo e que deve sofrer repressão. Eis que surge o Estado Penal
com a justificativa de conter esse poder nesses espaços. Assim, é importante não nos
decorrentes desse processo de segregação nos centros urbanos, mas sim, em que medida
cidade, enquanto que nas outras duas, concentram-se os bairros cujo poder aquisitivo da
população está em uma média bem inferior. Os poucos bairros pauperizados que se
localizam nas duas regiões com maior poder aquisitivo, acabaram sendo “engolidos”
pelos grandes empreendimentos ao seu redor, tornando-se invisíveis aos olhos de quem
trafega nas principais ruas da cidade. O mesmo ocorre também com os bairros das
outras duas zonas, que, apesar de corresponderem a mais de 50% do território natalense,
acabam por se tornar invisíveis, visto que o acesso a bens e serviços (públicos e
privados) se concentra nas zonas mais abastadas. Conforme assinalado, Felipe Camarão
está localizado na Zona Oeste, uma das duas regiões que possuem os menores índices
de renda per capita. Condizente com a sua região administrativa, os seus moradores
também possuem, em média, um baixo poder aquisitivo. Inclusive, inferior aos demais
Vale salientar que esse processo de segregação espacial não ocorre somente
que reflete na ocupação desigual do território. Esse fenômeno vai além do aspecto da
Essas verdadeiras ilhas de pobreza estão localizadas nas regiões mais periféricas
região de mangue. É nesses espaços que existe o terreno mais propício para o
áreas dessa natureza é tanta que ocasiona a desagregação da comunidade e o fim dos
espaços públicos. Desta forma, a violência tem se tornado um fenômeno usual na vida
dos jovens, junto às difíceis condições de subsistência e aos vínculos familiares muitas
vezes desestruturados.
Acerca da influência dessa dinâmica na vida dos jovens, Krug et al. (2002)
discutem que:
Felipe Camarão:
Instituição 5 E perto da escola, né, não tem. É assim, em ruas mais afastadas
129
Quem conhece o bairro fala “essa rua tal já não é boa de morar”,
porque já é mais violenta, sabe? A questão das bocas de fumo, que
eles sabem onde é, que já têm acesso.
E tem o lado bom e o lado ruim de morar, né? É porque aqui tem
Instituição 7
isso, a divisão. “Porque aqui é bom de morar, aqui não, aqui já não
presta...”.
Já tem uma rua que é a rua da morte, entendeu? Que é aqui perto
do Fio, já aconteceu vários assassinatos.
Mas o que a gente vê e ouve é que “ah, não sei quem, de não sei
aonde aconteceu isso”, mas não achega até aqui.
de iniciativas nesses espaços, seja do poder público ou da sociedade civil. Uma das
chegam às instituições.
21
Todos os nomes próprios de profissionais que aparecem nos fragmentos de textos utilizados
são fictícios
130
(Pinheiro & Almeida, 2006), percebemos que, num espaço em que o fenômeno da
violência aparece de forma mais acentuada, cujas práticas sociais são pautadas em uma
série de regras estabelecidas por formas alternativas de poder, não há espaço para o
serem apontadas enquanto oriundas dessas regiões mais pauperizadas, não é verdade
Sobre esse debate da associação entre pobreza e violência, é válido apresentar algumas
Mas era pra eu saber onde era que eu estava. E eu fui andando e
passando... Vendo aquelas pessoas carentes. Chegava a ser
paupérrimo, mesmo. Mas o que eu notei, é que eles têm a
Instituição 3 educação muito grande. Andando por eles e vendo, falando com
eles, convivendo com aquelas pessoas. E percebi, que a
violência, ela não anda em conjunto com a carência não. Ela
anda ao lado.
De acordo com Pinheiro e Almeida (2006), isso significa dizer que os moradores
dessas regiões têm mais risco de serem mortos – ou sofrerem outros tipos de violência –
do que aqueles de regiões mais abastadas. Os autores apontam ainda que a população
das áreas urbanas tidas como mais violentas é composta por cidadãos que obedecem as
leis, que vivem a mesma cultura urbana e que possuem os mesmos valores que outras
parcelas da população.
urbana que recrudesce nos territórios pauperizados. Como uma violação gravíssima que
um Estado que não ainda não conseguiu se consolidar como democrático, nem de
direito.
contribuem para o fortalecimento dessa cultura da violência, que precisam ser debatidos
violência na juventude
O aumento do uso de drogas em FC, especialmente por parte dos jovens, foi
apontado como um fator que está cada vez mais generalizado na comunidade. Seja
drogas tidas como mais leves, até as consideradas mais perigosas. Os relatos dos grupos
apontam que antigamente não era comum encontrar pessoas usando drogas durante o
Foram identificadas nos grupos algumas possíveis causas para esse aumento do
às drogas;
jovens aponta a falta de repressão policial e não destaca também a ausência de medidas
preventivas com relação à temática do uso de drogas? Além disso, essa mesma
instituição fez críticas à forma como a polícia atua dentro do bairro, com o abuso da
mais eficaz, não só com relação ao uso de drogas, mas também à violência de uma
forma geral.
de fato, o fácil acesso à compra das drogas pode ser um potencializador para o seu uso,
enfrentamento dos contextos de violência que perpassam, deveria ter um caráter muito
acesso à renda consiste numa análise bastante limitada da realidade e nos faz questionar
a respeito da concepção de violação de direitos que perpassa essas instituições. Uma vez
Mesmo que suas ações não sejam necessariamente voltadas para o ensino da religião ou
caráter mais moralista, responsabilizante e que tem os valores familiares como eixo
família coincidem com as que possuem uma tendência à realização de ações de caráter
mais assistencialista22. Por ora, ressaltamos que, apesar de termos clareza que a família
principal fator a ser discutido com relação ao consumo de drogas deveria perpassar a
para a prática de pequenos atos delituosos em toda a região. Esses atos se diferenciam
dos crimes contra a vida, que estariam relacionados à rede do tráfico e às suas regras.
por parte de determinados líderes, que devem ser seguidas por todos de uma
comunidade específica. Nos centros urbanos, um dos principais fatores que determina
esse poderio é o tráfico de drogas. Essa atividade tem tido, historicamente, influência
droga não consiste uma realidade recente, entretanto, o tráfico e a rede organizada de
Assim, falar nos efeitos da rede do tráfico não se dissocia do debate do contexto
22
A natureza das ações das instituições será abordada no capítulo seguinte.
135
Vale salientar que não consideramos que a violência e o tráfico de drogas são
fenômenos equivalentes, apesar da associação existente entre eles. Ocorre que, o fator
excertos:
nos últimos cinco anos no bairro de Felipe Camarão, contribuindo para o encantamento
dos jovens, seja por proporcionar um fácil acesso aos bens de consumo, ou por se
137
ônus dos riscos a que esses jovens se submetem ao ingressar nesse mercado. Parece-nos
que tais riscos que não têm amedrontado os jovens inseridos nessa lógica, ou os
tornam importantes atrativos nesse processo de cooptação, ainda que isso possa lhes
pautada por uma hierarquia rígida, mas que dá possibilidades de ascensão. Feffermann
(2006) discute que a ascensão nos níveis da divisão do trabalho é permitida quando o
sujeito demonstra uma característica fundamental: a disposição para matar. Eis mais
uma característica encantadora aos olhos dos jovens. Se em uma lógica de mercado
dentro da legalidade, o máximo que eles irão conseguir, com muito esforço, será ocupar
lucrativo, em várias esferas da vida, lhes parece, de fato, uma alternativa bem razoável.
Essa realidade impacta a vida dos jovens de diferentes maneiras. São formados
respeito às torcidas organizadas. Máfia e Gangue consistem de duas torcidas rivais, dos
apontado no trecho a seguir, esse fenômeno também não está dissociado da lógica do
consumo:
três anos na comunidade, bem como, a incidência de crimes praticados com a sua
utilização. De acordo com as falas apresentadas, esse fator tem estreita relação com a
facilitador da rotina dessa rede, dada a agilidade e discrição que possibilita. Além dessa
139
nos últimos anos, que foram atribuídas às práticas higienistas no sudeste do país:
violência. Tem-se uma lógica em que dívidas e delações a grupos rivais, ou outros
motivos banais, são motivos concretos para os chamados “acertos de contas”, e tem-se
cada vez mais o descarte da vida de milhares de jovens. Sobre essa banalização da
Fulano é útil, fulano não é mais útil, então vamos eliminá-lo, né. E
às vezes não tem um motivo aparente (...). Então se faz uma limpa,
como os alunos dizem: teve uma limpa na rua tal, sobrou pra todo
mundo, teve tiro e várias pessoas foram abatidas, mas quem criou
essa limpa? Que regras estão determinantes aí? É, a gente não
entende nada dessas regras próprias deles, né.
Instituição 5
É verdade, e a prática tem sido cada vez mais constante aqui, né,
eu acho que nós que estamos aqui há algum tempo, a gente não
ouvia com tanta frequência essa questão, né, de morreu ali na
esquina, foi atingido por uma bala, matou. Então, só o mês
passado nós tivemos vários casos em praticamente uma semana,
então, a gente tem percebido que a situação tem se agravado.
Instituição 8 E isso, nesses últimos três anos, tem sido com uma frequência
140
muito maior, né? Nós vivíamos isso até o a década de 80. No final
da década de 80, 90, início dos anos 2000, a gente estava meio
calado, meio quieto, uma coisa. Mas agora, de 2008 pra cá, a
coisa meio, realmente... Voltou com muita força.
Mas parece que hoje em dia o pessoal diz que cada vida tem um
preço, até dez reais é um preço, um real é um preço, até um
cigarro é o preço.
Todo hora tem morte aqui. Toda semana tem dois três, é.
violência aparece de forma evidente em todo o bairro, ainda que a vitimização letal
complexificação das redes dos empresários23 do tráfico também são aspectos imbricados
nesse processo:
aprofundada sobre as bases socioeconômicas que estão por trás dos atos violentos. Em
decorrência disso, nos parece que as estratégias de combate à violência têm atuado não
23
De acordo com Feffermann (2006), “pode-se caracterizar esses traficantes como empresários
de um setor econômico ilegal que buscam acumular capital, reinvestir parte dos lucros, conquistar
mercados e diversificar investimentos, mesmo considerando as particularidades impostas por tal situação
jurídica da ilegalidade”(p. 25).
142
Vale salientar que, em FC, essa banalização do ato violento já não está mais
relacionada somente com as práticas de agressões que resultam em lesões leves, mas
também à violência letal, dada a corriqueira notícia de que “mais um foi morto essa
contra esses jovens também consiste num aspecto que reforça essa cultura da violência,
visto que os agressores não têm sido responsabilizados pelas suas ações. Ao contrário,
temos relatos de intervenção das forças policiais de forma arbitrária, muitas vezes
requer uma reflexão que vai além da sua relação com o tráfico, especialmente no trato
comunidades, conforme discutido, podem ser tidas como um estado associado, à medida
que observamos o envolvimento ativo de forças estatais inseridas nessa lógica. Essa
apresentaram que:
A relação das forças policiais com o crime organizado24 tem se tornado uma
que haja qualquer tipo de controle ou regulação, está posto o terreno para práticas
24
Zaluar (2007) discute que o tráfico é apenas um dos elementos do crime-negócio, que funciona
a partir de diversos setores, se valendo de mecanismos parecidos entre as redes de operações legais e
ilegais. Temos uma mistura dos mercados formal e informal, envolvendo, ao mesmo tempo, os setores
governamentais, os comerciantes da droga, e outros ramos que atuam frequentemente na economia
formal, mas boa parte de seus lucros advém das atividades do tráfico, como as companhias de transporte,
mercado imobiliário e outros.
144
comunidade com a polícia fica bastante prejudicada. Conforme podemos observar nos
trechos abaixo:
abusiva, temos clareza de que devem sim existir intervenções com seriedade, no
entanto, até estas ficam prejudicadas, dado o poderio que já está instaurado
fala da Instituição 1, a respeito de um policial honesto que foi executado por um policial
intervalo de tempo de seis meses. Percebemos, a partir dos relatos nos grupos, que a
contrário, essa sensação é agravada, à medida que não se sabe quem será a próxima
vítima do spray de pimenta ou do cassetete para haver uma confissão. Essa e outras
Um dos alunos meus, até ele falou assim: “professora sabe o que
aconteceu, chegou pra mim, um policial me tirou da moto e disse
que ia tomar minha moto se eu num fosse pra casa, ai de repente
Instituição 4
eu fui. Eu não vim ontem por causa disso.” Um aluno meu chegou
dizendo e disse que se ele tivesse no meio da rua ia dar nele, ia
bater nele.
Isso sem falar nas execuções e nos “desaparecimentos”, que consolidam ainda
ação do Estado é inexistente, que não chega na hora certa, e que, quando chega, não são
feitos todos os procedimentos, os inquéritos não são instaurados e “fica tudo por isso
mesmo”. Sobre esse aspecto, a Human Rights Watch (2009) aponta que quando um
descartam as provas necessárias para determinar a legitimidade das mortes, como por
cena do crime, ou ainda a intimidação de vítimas. Esse último exemplo reforça uma
não sabem de nada que aconteceu, sob pena de serem perseguidos e penalizados pela
146
denúncia. Vale salientar que essa “lei” não é imposta somente por policiais, mas pelos
conseguiam estabelecer uma boa relação com as instituições, fornecendo inclusive seu
telefone pessoal, para caso houvesse alguma urgência. Essa realidade foi apontada como
um passado, que não corresponde mais aos dias atuais. Nestes, a realidade é de ausência
policiais procuram alvos certos para criminalizar, torturar e exterminar. Essa prática é,
inclusive, muitas vezes referendada pela própria comunidade, desde que não seja um
refere-se à existência de uma possível lista de pessoas que estariam marcadas para
Por questões de segurança, a instituição solicitou que não fosse identificada, nem
mesmo pelo mecanismo de numeração aqui utilizado, e que não fossem relatados todos
não identificável. De acordo com as informações apresentadas, na lista que está nas
mãos do grupo de extermínio que atua na comunidade, consta uma série de nomes de
pessoas, em sua maioria jovens, que, ou estão envolvidos diretamente com as dívidas do
tráfico – seja por serem usuários ou traficantes numa hierarquia mais baixa –, ou então
fazem parte de grupos que podem ameaçar o comércio local, ou ainda, tornaram-se
articulação dos agentes do poder público com pessoas que exercem o poder na
comunidade, para fins de realizar uma “limpeza” que elimina os indesejáveis, por si só,
organização desse extermínio é tal que a comunidade tem consciência de que existe uma
lista dos matáveis, em que se estabelece a ordem e quem será o próximo, temos, de fato,
a consolidação da barbárie.
não ocorre devido a uma “má índole” por parte dos policiais. A legitimação dessa
qualquer forma de manifestação que possa ir de encontro à ordem social. Ordem, esta,
vista a partir da nossa sociedade contemporânea, permeada pela lógica do capital. Nesse
que favorece e reforça essas práticas, que incidem especialmente sobre a população
Isto significa dizer que, para aqueles que estão à margem do sistema produtivo,
sistema, o que lhes chega do Estado são as práticas repressoras e criminalizantes, visto
que se trataria de uma população com potencial para a desregulação do espaço público.
um processo que vem sendo reforçado ao longo de anos, e que tem tido um forte
149
impacto social nessas regiões, não só no que diz respeito à exposição dos seus membros
à violência física, mas também à integridade psicológica e social, uma vez que a
população tem sido cada vez mais dominada pelo medo e pela insegurança.
insegurança, dentre outros. Temos que o medo da violência generalizada, que tem
assolado várias comunidades, trata-se de um medo social, visto que surge a partir de um
fenômeno que afeta a coletividade. Baierl (2004) aponta que, mesmo a violência tendo
assim ela tem alimentado essa cultura do medo, que modifica sutilmente – ou
forma, diante das diversas formas como se expressa a violência, as pessoas passam a
não mais sentir indignação, pois o principal sentimento que lhes domina é o medo e a
das instituições como uma prática que já tem começado a acontecer na periferia de FC,
na qual, depois de determinada hora, as pessoas não saem mais de casa, embora não
haja recomendação expressa para que se tranquem. Sento-Sé (2009), sobre essa prática,
cultura do medo apareceram de formas diferentes nos diversos grupos. Enquanto que
Depois dos acontecidos a gente até anda com medo aqui. Tem dia
que até nem dá pra trabalhar. O horário da gente foi modificado
por causa dessas coisas, então tem dia que a gente vem com medo
Instituição 7 mesmo, né? Essa semana eu acho que a gente vinha porque tinha
que vir, porque a gente estava vindo trabalhar com medo. E aí a
gente até pensa algumas vezes em desistir porque é um trabalho
difícil, né?
É que eu não vejo essa violência que tem aqui no bairro, até
Instituição 2 porque a gente trabalha em escola e com alunos do turno noturno,
da noite, então eles são diferentes.
151
Vim pra cá, estou há 11 anos por aqui e nunca fui nem tocado,
nem falaram algo comigo aqui. Aqui assim, você tem que se impor,
tem que mostrar que realmente né... tem que ser profissional, não
dar brechas...
medo não ser apontada como uma constante em algumas instituições, em outras, essa
percepção tem deixado os profissionais receosos e isso tem interferido em sua rotina de
influenciam diretamente nas atividades realizadas pelas entidades do bairro, visto que,
muitas vezes, elas têm a sua territorialidade limitada exatamente por essa barreira
invisível da insegurança e acabam por não chegar às localidades mais críticas de FC.
Vale salientar que, nas instituições em que foi apontado não haver percepção de
tempo em FC e já estabeleceram uma relação com os moradores ou, por vezes, são
152
tradição e as diversas ações que ocorrem na comunidade, por intermédio das suas
quanto esses aspectos positivos do bairro são esquecidos e o quanto o poder público,
apesar de se fazer presente por meio de algumas escolas e unidades de saúde, tem sido
ausente em termos de qualidade dos serviços, causando a sensação de que o bairro está
abandonado:
violência que assolam determinada comunidade, Sento-Sé (2003) discute que não há
uma correlação direta entre o aumento dessa sensação e o real aumento dos índices de
complexo, que envolve diversas variáveis, tais como a ineficácia dos agentes do Estado
instâncias públicas como o judiciário e a polícia, bem como, enfraquece a crença no que
deveria ser o seu princípio fundamental: a garantia dos direitos humanos. Na mesma
direção, Cunha et al. (2011) realizaram uma pesquisa que indica que a população tende
a não confiar na polícia, e que isso pode ser decorrente, dentre outras coisas, do
Estado.
Além disso, outro aspecto bastante reforçado pela mídia, que talvez seja sua
ser veiculada em detrimento de outra que não teria o mesmo impacto no grande público.
superficiais, a partir de uma única fonte (normalmente, a polícia), sem nenhum tipo de
Sobre esse aspecto, Ramos e Paiva (2007) nos levam a refletir a partir de um
Natal/RN:
Uma notícia dessas, eu só, assim, tomo cuidado para não reforçar
Instituição 6 o estigma de que Felipe Camarão é um bairro ruim, e que não
presta.
cultura do medo que, além de cercear a liberdade dos moradores do bairro, ainda
abordadas.
apresentados acima, consiste no reforço ao poder/status dos jovens que foram cooptados
Como bem colocado pela Instituição 1, a mídia tem funcionado como o “oscar
jovens é influenciada pela formação de grupos que conseguem se fazer visíveis por
Dá status aquela coisa de saber que o fulano mora na rua tal e ele
tem um trinta e oito e ele toca o terror ali naquela amostrazinha
de população porque ele manda, porque ele é o cara, porque ele é
o perigoso, ele é o temido.
nos grupos que possuem esse poder e status na comunidade, o exemplo a ser seguido.
Depois, passam, então, a servir de exemplo para outros, mais inexperientes. Conforme
os estudos indicam também que muitos jovens são atraídos pela perspectiva
de obter reconhecimento ao impor medo e insegurança quando ostentam
armas de fogo ou de afirmar a sua masculinidade guerreira ao serem
identificados como “bandidos” (p. 202)
construída pela mídia, de que são os responsáveis pela violência dos centros urbanos, e
utilizam esse rótulo em seu favor, potencializando a busca pelo status por meio da
disseminação do medo.
Por fim, não poderíamos deixar de ressaltar o papel que a mídia exerce sobre a
práticas violentas. Pelo fato de estarmos em uma sociedade que prega os ideais de
consumo, introjeta essa lógica na vida das pessoas das comunidades mais pobres de
forma extremamente perversa. Em um contexto no qual a forma mais fácil de acesso aos
bens materiais tem sido por meio da ilegalidade, por vezes, a juventude se deixa
deslumbrar e ingressa nesse mercado informal com fins de fácil obtenção de bens, que,
por consequência lhe trariam outras benesses, como o poder e o fortalecimento do seu
158
que lá ocorrem. Desta forma, defendemos uma abordagem midiática propositiva, que
da violência, tenha como eixo central a cobrança do Estado para melhorias nessas
transformar realidades.
Uma vez feita essa análise acerca de como as instituições analisam o fenômeno
referente às ações que têm sido feitas no bairro, diante desses contextos de violência que
voltadas para a juventude, dados os diversos contextos de violência nos quais muitos
jovens estão inseridos, devem ser pautadas a partir de uma perspectiva emancipatória,
traçaremos uma análise acerca das peculiaridades das ações desenvolvidas em Felipe
comunidade e na vida dos jovens, bem como a importância das mesmas para a
Antes disso, vale fazer uma breve reflexão acerca da concepção dos
possamos compreender de que ponto partem as instituições para a realização das ações
algumas tendências no discurso dos profissionais que atuam com a juventude em FC.
Longe de querermos apontar uma diretriz específica que orienta as ações realizadas,
queremos apenas elucidar, de uma forma geral, alguns discursos que nos chamaram
atenção.
em que era depositada nos jovens a responsabilidade sobre o seu sucesso profissional e
pessoal. Salientamos que essas falas eram referentes aos jovens que eram atendidos por
protagonismo, carece de uma análise mais profunda acerca das reais chances que esses
uma área específica que temos um fator garantidor de sucesso profissional. Para este, é
preciso muito mais que capacitação, mas a criação de vagas no mercado de trabalho,
o serviço prestado. Sabemos que essa não tem sido uma realidade das vagas que são
oferecidas aos jovens de classes subalternizadas. Estes, quando não ficam à margem
maioria, atuam de forma autônoma, fazendo “bicos”. Trata-se, pois, de uma questão
privações que vive a maioria das famílias de FC. Não queremos dizer aqui que o jovem
e a sua família não possuem um papel ativo no seu processo de construção para a vida.
Não se trata disso. Trata-se, sim, do reconhecimento de que existe um Estado regulador,
que deveria garantir os mínimos sociais, para que estes pudessem construir projetos de
Outro discurso que nos chamou bastante atenção, nessa mesma linha de
instituições, houve o discurso de que seria melhor que houvesse a redução, para que os
adolescentes pudessem ser penalizados pelos seus atos. Nesses espaços, os argumentos
utilizados iam desde o senso comum de que “quem tem idade para votar, tem idade para
ser preso”, até uma análise mais aprofundada de que, apesar de reconhecerem que o
sistema carcerário não é o ideal, “pelo menos os adultos iriam deixar de cooptar os mais
limitamos a manifestar o quão desolador é saber que existem ações voltadas para a
bem como a importância que tem a sociedade civil organizada nesse processo de busca
visto que a própria natureza das instituições é diferenciada entre si. A começar pelo
As duas instituições que possuem ações voltadas para todas as idades, focam
com o seu foco de atuação preferencialmente voltado às crianças, elas foram escolhidas
para compor a análise visto que possuem um impacto também sobre os jovens, à medida
162
apesar de haver foco formalmente em uma faixa etária específica, as ações acabam
abrangendo outras, visto que muitas vezes as atividades são abertas ao público que não
também a juventude.
Outro aspecto que merece ser apontado refere-se à natureza jurídica das
juventude em FC, a grande maioria delas compõe o “terceiro setor” – sete instituições. E
ocupação desses jovens, para que não permanecessem na rua e entrassem em contato
estatais.
25
O voluntariado será abordado mais adiante, nessa mesma seção.
163
Considerando o caráter muitas vezes transitório das ações não governamentais, por
dessas instituições. O que torna esse fator contornável em FC é o fato de que algumas
No entanto, para além desse aspecto, não podemos deixar de refletir acerca das
debate da inserção do “terceiro setor” no campo das políticas sociais requer uma
Montaño (2008) discute que a “questão social” deixa de ser vista como uma
26
Conforme aponta Montaño (2008), o Estado tem sido um ator importante na promoção do
“terceiro setor”, tanto na esfera legal como financeira, por meio de incentivo a projetos e ações, retirando-
se paulatinamente da responsabilidade sobre as sequelas da “questão social”.
164
consequências disso e têm sido alvo de ações que não necessariamente garantirão a
civil, apenas duas não oferecem atividades de complementação escolar. Nas demais, as
educação regular em tantas instituições. Pode-se dizer, portanto, que esse quadro é um
É importante frisar que o que está sendo posto em xeque nessa discussão não é a
da educação, como das atividades das instituições. No entanto, é preciso termos clareza
Nossos alunos dizem sempre assim ‘hoje eu não tenho aula à tarde,
Instituição 6 posso vir pra cá?’... Só que eu tenho 25 cadeiras aqui, eu tenho 25
alunos à tarde, se os meus 25 alunos da turma da manhã... Eu
gostaria demais de trazer todos para cá, porque eu não queria
nenhum deles na rua, mas como é que eu vou colocar mais 25 aqui
no horário que não tem aula lá pra eles?
Até pouco tempo tínhamos a educação infantil, né, que era uma
parceria, que a Instituição 4 tinha, o prédio era da instituição e
tinha parceria pra ajudar na alimentação, dava toalha, as tias
Instituição 4
daqui ensinavam na creche, essas coisas assim, material didático,
mas aí, ela [referindo-se à prefeita da cidade] tirou as crianças
daqui, né, que tinha um contrato e removeu pra lá.
Instituição 4 foi dita em tom de reprovação ao expor que o poder executivo municipal
existia com a ONG. De fato, para além da reflexão em meios acadêmicos acerca dos
166
também dos profissionais que estão na ponta, lidando diretamente com essa contradição,
desenvolvimento do grupo, houve divergência entre esta ser uma instituição que visa
fortalecimento de vínculos, com atenção integral às famílias, bem como na busca por
estratégias para tentar mudanças a partir da realidade da vida das pessoas atendidas,
outra parte do grupo aponta que o papel da Instituição 10 é ajudar à família e o jovem a
de que, antes, tratava-se de uma instituição que poderia possibilitar tais mudanças na
vida das pessoas, no entanto, atualmente, tem tido um papel mesmo de adaptação à
realidade, a fim de criar formas de adequação nas pessoas, para que estas aprendam a
Que marco seria esse que mudaria o caráter transformador de uma instituição?
De que forma se deu essa mudança no objetivo da atuação junto à comunidade? Como
uma instituição que antes tendia à mudança, hoje exerce um papel de facilitar a
Essa reflexão trazida pelo grupo da Instituição 10 nos remete à contradição das
manter o controle dos índices de mazelas sociais, provocadas por esse sistema. As
consequências disso apontam para tímidas iniciativas do poder público junto às sequelas
da “questão social” que, atuando de forma focalizada, não visam a solução dos
desenvolvimento social do país, a partir de 2003 (Marques & Mendes, 2006), por meio
pobreza extrema. Foi durante esse período que se deu a implantação da Instituição 10
em Felipe Camarão. Hoje, quase dez anos depois, apesar dos avanços conseguidos com
sequelas da “questão social” ainda fazem parte da realidade dessas pessoas de forma
bastante presente.
promessa e a esperança de um futuro melhor para a população, por meio dos programas
que viriam a ser instalados, hoje, dados os limites estruturais das políticas sociais – que
mesmos profissionais acabam por perceber que o seu papel ali está sendo muito mais o
famílias, da tentativa de inserção dos jovens em algum programa social, dentre outras
que não está destacada do que já foi refletido anteriormente, quando apontamos
como de agentes externos, tem guiado ações que não necessariamente implicam em
nas comunidades, apontando este como um dos principais aspectos que desencadeiam o
visto que tais ações apresentam-se com um caráter imediatista, que remedia
população para combatê-los. Esse fato, aliado à focalização das políticas, acaba
certas ações no que diz respeito à doação de alimentos a quem tem fome, por exemplo.
No entanto, é preciso ter o discernimento de que não é somente com ações de cunho
instituições. Pelo cunho assistencialista das ações, as práticas desses jovens acabam
que o jovem passa a ser um sujeito atuante nos contextos nos quais está inserido, agindo
de forma autônoma para a realização de ações que possam trazer melhorias para a
comunidade:
sabemos que, à medida que os jovens passam a ser reconhecidos enquanto sujeitos de
direito, faz-se necessária a inserção desses em espaços políticos, de forma atuante, junto
caráter mais voltado ao assistencialismo, esse protagonismo não encontra espaço para se
desenvolver de outra forma que não a de reforçar tais ações, de modo também
assistencialista.
não necessariamente são voltadas somente para jovens, mas também para crianças e
de uma perspectiva crítica. Não dá para fazer essa discussão de forma isolada, focando
somente no jovem. Com relação a este, as atuações voluntárias, muitas vezes imbuídas
duas das instituições pesquisadas, houve relatos de membros que eram voluntários e que
de vagas no mercado como a melhor alternativa para a redução dos índices de jovens à
Assim, apesar de certos benefícios aos jovens que exercem o voluntariado, ações
convocada a dar a sua parcela de contribuição ao próximo, seja por meio de doações
Sobre esse aspecto, Gohn (2004) discute que a responsabilização dos cidadãos
serviços que ajudem a dar conta do controle das mazelas sociais. Não obstante, as
práticas voluntárias continuam sendo bastante presentes até a atualidade. Aos jovens,
grupo etário que está sempre sendo estimulado a adotar essa postura, é lançada a
proposta de dar conta de demandas que não são de sua alçada. Nesse contexto de
privada. Assim, práticas voluntárias seriam uma conduta condizente com um cidadão de
torna-se quase que uma obrigatoriedade ao jovem que faz parte de programas:
Espera-se que essa população volte à escola pública para concluir seus
estudos (sabemos que não são poucas as dificuldades inscritas nessa meta),
para participar, quase de modo diário, de atividades educativas, e para
promover o desenvolvimento do seu bairro, quando o Estado e outras
instituições não o fizeram. Por que esse conjunto de exigências e tais
expectativas apenas com jovens pobres? Por que alunos de escolas técnicas
federais ou de universidades públicas, usufruindo serviços gratuitos
mantidos pelos impostos, não estão também submetidos a qualquer
contrapartida comunitária, sabendo-se que teriam melhor capital cultural e
social para essa ação? (p. 246).
Mais uma vez, vale salientar que essa é uma análise geral da conjuntura, a fim de
espaços. Obviamente, ao fazermos uma análise mais detalhada do percurso histórico das
peculiaridades de cada período, que têm a ver com diversos fatores, tais como a
específicos, dentre outros. Esses avanços, no entanto, são provenientes de outras formas
de participação da sociedade civil, que não meramente a realização de ações que são de
das ações voltadas para a juventude deve vir pautada de apontamentos de alternativas a
esses modelos, faz-se necessário dedicar a próxima parte dessa seção a analisar as ações
de cunho emancipatório que ocorrem em FC. Da mesma forma, a partir de uma reflexão
crítica acerca das práticas adotadas, bem como dos seus limites e possibilidades no
transformação dessa realidade, seja pelo que dizem as leis, seja por parte de agentes do
Estado. Pois bem, considerando esse contexto, a realidade que temos é que a sociedade,
apesar desse discurso, tem estado desacreditada no que se refere ao seu potencial de
reivindicar seus direitos tivessem ficado obsoletas. Cada vez menos o processo de
relatos abaixo mostram o desabafo acerca da falta de mobilização para a caminhada pela
Por outro lado, outras falas também demonstram que, mesmo com essa falta de
apoio, algumas das instituições ainda veem essa ida às ruas como uma ferramenta para
outras questões:
Por exemplo, teve o pelotão da saúde, que foi uma caminhada para
conscientizar tanto para a questão da dengue no bairro, que estava
ficando bem agravada, quanto também à questão dos serviços de
Instituição 9
saúde do bairro que passam por grandes fragilidades.
Apesar disso, sabemos que ir às ruas é apenas uma das formas de se reivindicar
espaços que antes eram somente destinados ao poder público, dentre outras formas de
participação. No entanto, parece que isso também não tem sido suficiente para imbuir a
armas, são aspectos que colaboram para a descrença da população nos resultados
participação.
O que os jovens dessas comunidades têm a ver com isso? Seria a participação a solução
mas sim, em associação com este e, sempre que possível, de controle e fiscalização
deste. Reis e Reis (2010) discutem que os conflitos que podem decorrer das relações
entre Estado e sociedade devem ser dirimidos, visto que, apesar de se tratarem de
perca a autonomia de nenhum dos lados e sem perder de vista a construção do interesse
público e a efetivação das políticas. Conforme discutido, isso não significa a execução,
por parte da sociedade, de ações que seriam de caráter estatal, mas o exercício da
177
cidadania participativa e da implicação social dos cidadãos junto à esfera pública. Isso
sociedade, no entanto, é a partir dela que deve se dar esse processo de mudança; c) é no
plano local que se concentram as forças sociais, que devem ser potencializadas em prol
emancipação.
Diante dessas premissas, temos que o poder local de uma comunidade não é
condição inerente à mesma. Não se trata de um fenômeno dado, que existe a priori.
Bom, eu tenho um exemplo do que pode ser feito quando ela estava
comigo lá em Nossa Senhora da Apresentação, a questão do
intercâmbio. Eu pedia pros meninos escreverem uma carta sobre
os pontos positivos e negativos da comunidade de Felipe
Camarão. Eles estavam escrevendo e os meninos de Nossa
Senhora da Apresentação fizeram o mesmo pra mostrar que são
Instituição 7
realidades comuns, pra eles pensarem a respeito de qual mudança
eles poderiam fazer na comunidade deles pra melhoria. Isso, sei
lá, é uma forma de tentar orientar pra uma mudança. Mais ou
menos isso, esse intercâmbio, pra que possam ver que tem
realidades que são da Zona Norte e Zona Oeste e se casam, são
problemas comuns a todos, né? Então que eles possam estar
pensando, refletindo sobre o que fazer para mudar isso.
acima mostram, para além de uma atuação junto aos jovens da comunidade, a inserção
transformação social.
O termo capital social, já utilizado algumas vezes nesse trabalho, requer uma
análise a partir da ação coletiva. Trata-se de uma abordagem que propõe a construção de
apontam que:
Capital social emerge como uma categoria analítica nova, cujo objetivo é
propiciar outras perspectivas de análise e alternativas a velhos problemas,
principalmente aqueles relacionados com a relação entre Estado-sociedade,
a participação social, e a superação da pobreza e da exclusão social em
diferentes níveis de análise. (p. 48).
Baquero (2007) discutem ainda que o engajamento cívico por meio de redes tem
coletiva, com o fim de gerar soluções práticas para problemas específicos, por meio do
esforço conjunto.
seja essencial, não constitui, por si só, condição para o desenvolvimento social. Esta
democracia e participação, mas não só a estes conceitos. Vai além, significando uma
direção à melhoria das condições de vida. Nesse sentido, não é algo que é fornecido
para determinado grupo, mas construído pelo próprio, por meio de mediações e criação
Pase (2007) aponta que o empoderamento pode ocorrer nos níveis individual,
de terem autonomia sobre a sua própria vida, o segundo estaria mais ligado às questões
capital social é o que tem potencial para construir mudanças efetivas na comunidade.
Esses trechos apontam para uma perspectiva voltada a uma busca pela mudança,
por meio da orientação acerca dos direitos desses jovens, bem como do incentivo ao
da autonomia. E ainda, de uma autonomia voltada para o contexto em que esse jovem
Além desses exemplos, vale falar um pouco acerca de uma ação implementada
necessariamente conta com a participação somente da juventude mas, por ser realizada
por uma instituição voltada para esse público e por abarcar a comunidade em geral, na
Consiste de uma rede que é composta por moradores do bairro, entidades que estão em
FC, ONGs, grupos culturais formais e informais e instituições privadas, com o objetivo
Rede Social, de acordo com os relatos, pretende que essa metodologia se expanda para
algumas ações pontuais em FC e agora está focada na divulgação dessa metodologia nas
escolas, junto aos pais e alunos. Além disso, tem se inserido em espaços de participação
que vão além das demandas do bairro, como a Conferência Municipal da Saúde e
gerar um tecido social coeso, em que os moradores cada vez mais se sintam
Observemos que a Instituição 9, nesse processo, situa-se apenas como mais um dos
atores de mediação, como um dos catalisadores das ações, que são construídas por todos
e em prol de todos.
Entretanto, é preciso ter em mente que, apesar da forma como foi relatada, a
Rede Social certamente ainda carece de uma real consolidação em FC. Afirmamos isso
única que fez menção à existência desse projeto da comunidade. Isso é reflexo, dentre
outras coisas, da distância que ainda existe entre o discurso e a prática das ações em FC,
que não difere de outras comunidades em que se tem diversos tipos de intervenção, seja
possibilita a criação de espaços regidos pelas leis de um estado paralelo (ou associado) e
instituições:
Vale salientar que não queremos aqui atribuir um rótulo às instituições que
foram estudadas e que tal categorização não consiste em uma condição excludente e
dicotômica com relação aos outros objetivos. Isto é, não é só porque uma instituição foi
caracterizada como compensatória que ela não pode ter também ações de cunho mais
espaços.
não atingem nem a totalidade nem a maioria da população; as políticas estatais, apesar
185
realidade.
“terceiro setor”, a sua localização na comunidade também segue a mesma lógica, isto é,
todas elas são sediadas nas regiões mais centrais do bairro. No entanto, a localização de
uma instituição não necessariamente significa que a abrangência das suas ações se dá
somente na sua sede, podendo haver ações itinerantes, que abranjam outras áreas da
comunidade. Em FC, ações realizadas em outros locais da comunidade, que não sejam a
sede das instituições, foram identificadas em apenas três delas. Vale ressaltar que nos
referimos a ações de caráter continuado, que façam parte do planejamento e que estejam
últimas, nove entre as dez instituições relataram já ter tido alguma experiência pontual
É válido destacar ainda que, apesar de três delas apresentarem ações que são
alguns até com CNPJ. Consiste em um estilo musical que atrai a atenção dos jovens,
que acabam por se organizar autonomamente em grupos, para cantar e dançar nesse
estilo. Ocorre que, os jovens que fazem parte desses grupos, de acordo com relato da
Instituição 8, não têm muito espaço nas demais entidades do bairro, principalmente
Igrejas e outras instituições. Além disso, em geral, trata-se de jovens moradores dessas
regiões mais afastadas de Felipe Camarão, o que, por si só, já seria um motivo de
segregação.
que as ações não estão disponíveis para todos os jovens, indistintamente do lugar de
onde vêm, é bastante preocupante. Seja pelo medo, limites ideológicos, ou até falta de
187
os jovens que participam dos projetos e das ações não são os mesmos jovens que têm
contraposição aos jovens que possuem uma maior aproximação com os contextos de
juventude. Mesmo os profissionais que estão no dia a dia com esses jovens, por vezes
ainda apresentam posturas discriminatórias nesse sentido, de voltar suas ações somente
Vale salientar que a Instituição 8 tem buscado dar espaço a esses grupos que não
chegam nas instituições. Já organizou três grandes shows na comunidade, em que esses
violência ocorrido durante os shows, mesmo o último tendo tido cerca de cinco mil
pessoas, dentre as quais havia dois grupos rivais. Vale salientar que o aparato policial
nessa ocasião consistia em dois agentes da segurança pública, e que essa rivalidade que
possivelmente ocasionaria violência não foi contida pelos agentes, mas sim, por meio da
alguma outra entidade que tivesse o seu trabalho voltado para os jovens de FC e se
possuíam algum tipo de articulação com estas. Na maioria dos grupos, os membros só
conseguiram apontar, no máximo, três instituições. E, mesmo assim, muitas vezes não
desenvolviam com os jovens, ou se sequer eram mesmo voltadas para esse público.
Houve também os grupos que citaram ter ciência da existência de outros espaços, mas
que não havia nenhum processo de articulação com esses, devido ao caráter de
Instituição 7 Porque quando acontecem ações assim, teve até uma ação agora
da saúde, tem os grupos, mas assim, cada um com a sua parte,
nenhum se junta, nenhum troca ideias, entendeu? É como se fosse
assim uma competição de quem tem mais adolescentes.
instituição, é impossível haver algum tipo de articulação. E, nas que têm conhecimento
189
de outras, observamos que, ou não ocorrem ações, ou ocorrem somente ações pontuais
pelas outras e enaltecendo as qualidades da sua. Essa postura, por si só, já dificulta a
proposição de ações articuladas. Como se não bastasse a rotina, muitas vezes já fechada,
das diversas atividades de cada instituição, ainda existem posturas dessa natureza, que
Salientamos que essa realidade não está condizente com a busca pela construção de um
empresas de capital privado, locais e nacionais, que destinam uma parcela de seus
190
Entretanto, com relação à articulação das ações, essas deixam a desejar, tanto quanto as
do “terceiro setor”.
válido destacar uma experiência exitosa no que diz respeito à articulação de duas
da “Copa de Futebol das Juventudes”, realizada por meio de uma parceria entre as
formadas por jovens da região, cada equipe com 15 jogadores. Através dessa atividade,
de FC, a localidade do Fio (assim denominada por se localizar embaixo de fios de alta
tensão). Consiste de um espaço tido como inacessível para as demais instituições, por
ter um histórico de violência bem acentuado e por se caracterizar como um território sob
relações de confiança com os moradores do Fio. Além disso, houve adesão de muitos
jovens que, organizados em equipes, por vezes rivais, conseguiram dirimir alguns
191
conflitos por meio da prática do esporte. Alguns excertos acerca dessa atividade
Desde a década de 80, e até muito antes disso, que é a história que
em momentos são fortes, em outros momentos são fracos, e esse é
um momento muito forte, né? Que jovens de Guarapes não podem
vir pra Felipe Camarão, os jovens da Cidade Nova não podem ir
pra Guarapes, tem essa coisa. E a gente convidou um time da
Cidade Nova, um time do Guarapes, um time da Esperança, um
time do Bom Pastor, pra gente também ter essa relação.
Está sendo muito bom, pra mim está sendo realmente onde eu
quero chegar, e quero chegar mais além. Claro que tem também
minha, a integridade física da pessoa, mas acho que a gente está
conseguindo reverter um pouco essa situação de dentro pra fora,
entendeu?
Hoje eu estou como eu queria estar, e tem uma turma, uns dez, uns
dez ou no máximo quinze, que é esse o foco. São os que realmente
estão dentro.
192
rodas de conversa com esses jovens, acerca de questões cotidianas da vida deles, que
com essa juventude que não chega à sede das instituições proporcionou também outros
esportivas. Além disso, abriu oportunidade para alguns dos jovens fazerem testes em
times profissionais da cidade. Durante o momento de coleta de dados, a copa estava nas
fases finais e já havia pretensão de um novo campeonato, dessa vez com o público
mirim e infantil.
Essa experiência nos traz reflexões que vão além do processo de articulação
Observamos uma carência de ações que busquem a promoção dos direitos, ações
afirmativas, que aconteçam in loco, no foco central onde os contextos são mais
sobressair às ações de repressão e controle das forças coercitivas do Estado. Além disso,
união de esforços não só da sociedade, mas das instituições entre si, juntamente com os
algumas dificuldades que merecem uma discussão. Tais entraves refletem, muitas vezes,
na limitação das ações realizadas, e, por consequência, também têm o seu impacto junto
10, por exemplo, o lugar em que a mesma deveria funcionar está em reforma há dois
anos. Durante esse período, as ações acontecem provisoriamente em uma casa alugada,
que não possui espaço adequado para a realização de cursos, grupos e oficinas, ainda
que essas atividades estejam dentro das diretrizes de atuação da instituição. Esse mesmo
espaço é dividido com a Instituição 7, que executa as suas ações em uma pequena sala
que não comporta a quantidade de jovens prevista nas diretrizes do programa. A questão
salarial também foi apontada por profissionais de algumas instituições como um fator
precarizada. Temos uma política pobre, para os pobres. Analisando essa problemática
área social se dá no limite mínimo de intervenção estatal, e não visa o fim das mazelas
194
sociais, mas apenas o controle dos altos indicadores nacionais de pobreza, fome,
violência, etc. Desta forma, percebemos que, nacionalmente, os gastos com o social,
apesar de terem tido um tímido avanço na última década, ainda carecem de um maior
da “questão social”, visto que a gestão e execução das políticas, feitas a partir do poder
local, oferecem melhores condições para a participação cidadã nessas várias etapas. No
entanto, a forma como tem se dado o desenvolvimento desses passos, pelo menos no
município do Natal/RN, não só carece dessa participação cidadã, como padece de sérios
para os projetos, até a carência de recursos humanos. Essa realidade reflete diretamente
na execução das políticas, vide o que foi apontado pelas instituições de FC.
Ainda com relação à carência de infraestrutura, foi apontado pela maioria das
instituições que a ausência de espaços públicos de lazer, tais como praças e quadras,
também limita a atuação das instituições, que, ou utilizam seus espaços privados
das ações de enfrentamento à violência, visto que, de fato, são reflexos da ausência do
Estado, seja por meio de ações preventivas, ou através de garantias mínimas, como, por
que ajudam, em números, a mascarar essa carência do poder público no bairro. Mesmo
sobre essas instituições, houve apontamentos relevantes, que mostram que somente a
população:
instituições. Como já dedicamos a seção anterior desse capítulo a essa questão, cabe-nos
parcerias e atividades conjuntas na própria comunidade. Mais uma vez, o Estado deve
ser responsabilizado nesse quesito, visto que, por meio da Assistência Social, deveria
intervenção.
entraves para a efetivação dos direitos dos jovens de FC. De acordo com o relato, os
projetos e benefícios que chegam à comunidade não vêm com a proposta de resolução
dos problemas, mas de uma contribuição frágil e momentânea. Essa observação está
sociais, já discutido.
houvesse mais incentivo a atividades culturais no bairro, visto que se trata de uma
prática que tende a atrair a atenção dos jovens de FC, e que pode ser uma mediadora no
iniciativas, a partir do Estado, de inclusão digital e capacitação dos jovens, que lhes
propulsores nos projetos de vida desses jovens. Vale salientar que, como bem colocou a
Além disso, outra questão, dessa vez trazida pelas instituições 8 e 10, diz
respeito à oferta, quando há, de cursos de capacitação que não são condizentes com a
realidade dos jovens e que não têm potencial contributivo nem para sua formação
apontou que, a vinda de projetos prontos, sem um real diagnóstico das necessidades da
197
comunidade, ocasiona uma pouca participação e engajamento dos jovens, visto que
estes têm que se adaptar aos projetos, mas o contrário não é possível. Os profissionais
discutiram ainda que é necessário escutar os jovens e as suas demandas, para que o
essa questão, a Instituição 8 nos informou que fez uma intervenção junto à Assistência
Social no bairro para que os cursos oferecidos aos jovens tivessem um caráter
foram oferecidos muitas vezes, e não mudam a realidade de ninguém”. Assim, por meio
Por fim, a falta de apoio das famílias dos jovens e da comunidade em geral nas
ações realizadas pelas instituições, também foi um aspecto indicado como uma
limitação. Muitas vezes, por não acreditarem na real efetividade do trabalho realizado
pelas entidades do bairro, as famílias acabam por não incentivar a participação dos
nas ações em que são demandados. O mesmo tem valido para a comunidade como um
todo, que, nas ações que demandam esforço coletivo, os profissionais sentem que
deveria haver uma maior mobilização por parte dos moradores, na busca pela garantia
dos seus direitos. Muito desse descrédito pode ser decorrente da situação generalizada
de violação de direitos que essas famílias, seus jovens e a comunidade como um todo
não cumpridas por políticos, oriundos da própria comunidade27, são fatores que podem
Então, são outras ações que a agente pensa que somadas vão estar
mostrando pra eles esse outro lado, o conhecimento, a arte, a
cultura, as coisas que vão realmente engrandecê-lo.
Instituição 5
E a gente acha que a gente está diretamente, eu acho que eu posso
dizer diretamente, oferecendo aí essa outra visão que a gente disse
que a escola precisa dar pra eles, essa construção de valores que
a gente vê na comunidade tão fragilizado ou deturpado...
27
Atualmente, existe um vereador na Câmara Municipal de Natal que teve seu berço em Felipe
Camarão. A comunidade como um todo é descontente com a sua atuação junto às dificuldades
enfrentadas no bairro. Esse descontentamento foi apontado em várias instituições, em especial, naquelas
em que havia profissionais moradores do bairro.
199
perspectiva de redução da violência, pelo menos entre aqueles jovens que frequentam as
suas ações. Como apontado por várias delas, trata-se de um trabalho lento e gradual,
mas que pode fazer a diferença na construção dos projetos de vida desses jovens. A
organização dos jovens e do seu protagonismo na comunidade e nas suas próprias vidas.
grupo, a visibilidade que lhes é dada nas ações desenvolvidas e, principalmente, a sua
esforços ainda são necessários para conseguirmos, de fato, uma redução dos índices de
têm conseguido influenciar nesse processo? Que tipos de mecanismos ainda são
necessários lançar mão para buscar um futuro melhor para os nossos jovens?
culturais tradicionais, que convivem com a barbárie cotidiana. Nesse meio, encontram-
instituições, do Estado ou do “terceiro setor”, ou fora delas, nos espaços públicos que
identidades.
Sobre essas entidades, que possuem suas ações voltadas para as juventudes, foi
permeado por cansaço e moralismos, mas, outras vezes carregado de lucidez quanto à
transformação social.
201
dessa nação, de modo que, ainda há um longo caminho a percorrer entre a intenção das
ações e o seu real impacto dentro da comunidade. Como bem coloca Frigotto (2009), o
humanos e a democracia.
neoliberal. Por isso mesmo, a reafirmação dos direitos humanos, faz-se necessária para
Acrescentamos a esses fatores o direito à segurança. Sem essas garantias, não podemos
capitalismo.
reconfigurar o cenário das nossas políticas. Já que vivemos sob a égide do capital, que,
com sua mão invisível, viola, maltrata e exclui – ou inclui perversamente –, resta-nos a
aumento das vagas no mercado. Não se trata somente de investir recursos na educação,
emancipatório, que possam chegar à maioria dos jovens. E, em especial, não se trata de
V – Referências
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APÊNDICES
213
APÊNDICE A
Apresentação:
- Iniciar apresentando o projeto e seus objetivos e solicitar uma rápida
apresentação de cada um, seguida de uma palavra que defina o seu trabalho na
instituição.
APÊNDICE B
CARTA DE ANUÊNCIA
juventude”, a ser realizada com a equipe profissional desta instituição, em sua sede. A
_______________________________________
Assinatura do responsável
215
APÊNDICE C
eu,______________________________________________________________________, de
forma livre e esclarecida, manifesto meu interesse em participar deste projeto de pesquisa.
Qualquer dúvida a respeito desta pesquisa o senhor (a) poderá se comunicar através do seguinte contato:
Coordenadora da Pesquisa: Candida de Souza. Tel. (84)32153793 email:didapsi@yahoo.com