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negócios N3

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 11 DE JUNHO DE 2012

DIVULGACAO
Lílian Cunha

A indústria de água de coco não


costumadespertargrandesemo-
çõesnomercadodebebidas.Em-
borasejaum produtotipicamen-
te nacional, associado aos co-
queiraisdoNorteeNordeste,be-
be-semuito mais sucose refrige-
rantespor aqui do quea água que
vem do coco. Mas a participação
modesta no consumo (60 mi-
lhões de litros por ano ante os
500 milhões de litros de sucos
prontos) não livrou a bebida de
ficar no centro de uma polêmica:
duas grandes fabricantes come-
çaram a importar água de coco
da Ásia e criaram um desconfor-
to geral no setor.
Custos expressivamente mais
baixosatraíramacearenseDuco-
co e a americana PepsiCo (dona Coqueiral
dasmarcasKeroCocoeTropCo- em Maceió.
co) a importar a matéria-prima Salário
das Filipinas, Vietnã, Sri Lanka, médio do
Índia e Tailândia – os maiores trabalhador
produtores mundiais de coco. brasileiro na
“Nesse países, a água de coco cadeia do
não é nem subproduto, é jogada coco é de
fora”, diz Francisco Porto, presi- R$ 700. Na
dente do Sindicato Nacional dos Ásia, é de
Produtores de Coco do Brasil, o US$ 23
Sindcoco. Por ser descartada, TIAGO QUEIROZ/AE
custa um sétimo do preço do co-
co nacional, mesmo com o frete
da viagem – que dura no mínimo
30 dias de navio.
As marcas rivais, claro, não
gostaram nada da estratégia. Di-
zem que a concorrência com a
A polêmica guerra
matéria-prima asiática é tão des-
leal quanto o episódio dos brin-
quedos chineses. “Na Ásia, os
produtoresdecoconãotêmobri-
gaçõessociais,nãopagamimpos-
da água de coco
Atraídas por custos mais baixos, fabricantes começam a
tos e recebem subsídios”, afirma
Paulo Roberto Gomes, diretor
comercial do Grupo Sococo,
importar a bebida concentrada de países como a Índia e deixam
maior empresa brasileira em vo- concorrentes que usam matéria-prima nacional contrariados
lume envasado de água de coco,
com produção de 35 milhões de
litrosaoano.“Otrabalhadorbra- de produção e comercialização Não é só o tipo de coqueiro nãoimportamosnemaconselha- Sócios da
sileiro da cadeia de produção do da água de coco no País está sen- que influi na qualidade da bebi- ● Produção nacional mos a importação”, diz Gomes. Beba Rio.
cocoganha R$ 700, em média,ao do ameaçada. “Não sabemos da. Para ser trazida para o Brasil, A Ducoco, por sua vez, diz que, Para
mês, enquanto o asiático fica
comUS$23mensais.”SónoNor-
quaisvolumesessasempresases-
tão importando, mas só no Vale
a água de coco passa por um pro-
cesso de concentração. “Ela se
2 bilhões
de cocos foi a produção nacional
independentementede ondeve-
nha a água, os padrões de sabor
Montans (E),
Malzoni e
deste, segundo Gomes, 70 mil do São Francisco, uma das re- torna uma espécie de mingau”, em 2011. Metade desse total foi da bebida são os mesmos. “A ca- Nogueira (D),
pessoas trabalham nessa cadeia giões de maior produção de coco explicaumprodutordecocobra- destinada à água, conforme o deia de fornecimento não tem concorrência
produtiva. no País, as encomendas caíram sileiro que visitou os países de Sindcoco. O total colhido cresce nenhum impacto na qualidade não é justa e
Ducoco e PepsiCo confirmam pelametade”, afirma o presiden- onde a água é exportada. Isso é de 3% a 5%, de acordo com a do produto final”, diz a nota da afeta o
que fizeram importações de tedoSindcoco.Eletambémrefu- feito por meio de um processo entidade. Hoje, há 240 mil empresa enviada à reportagem. consumidor
água de coco da Ásia – principal- ta a entressafra como justificati- semelhante a uma desidratação, produtores no País. A maioria é da bebida
mente para escapar das varia- va para a importação. “Coco dá o para que seja possível trazer de pequenos agricultores. Investigação. Assim como há
ções da safra nacional e das osci- anointeiro”,dizPorto.“Asvaria- maiságuaocupandomenosespa- países que adotam restrições a
laçõesdospreçosdococonoBra- ções são mínimas e o preço tem ço nos navios. Conservantes são produtosde exportação brasilei-
sil. A PepsiCo, porém, afirmou se mantido constante há anos.” acrescentadosparaqueaáguare- balagem dos produtos Beba Rio ros (carne e suco de laranja, por
pormeiode suaassessoria deim- sista à longa viagem. dizeres como “feito com coco do exemplo), o governo brasileiro
prensaqueaimportaçãofoi pon- Sabor. Na Ásia, o cultivo de co- “Chegando aqui, as indústrias Brasil”, para diferenciar o produ- deveriaadotarparâmetrosemre-
tual. “No primeiro trimestre de co não é destinado à indústria de adicionam água e adoçantes”, to do que é importado da Ásia. lação à água de coco importada,
2011, foi feita uma experiência alimentação, mas, em sua maior afirma Francisco Montans, que, Há também quem questione defendem o pesquisador da Em-
com importação de concentra- parte, à produção de óleo de co- comosempresários TatoMalzo- as condições sanitárias pelas brapa e o Sindcoco. Isso já acon-
do de água de coco da Ásia”, dis- co. Por isso, os coqueiros planta- ni e Francisco Nogueira, é sócio quais a água de coco asiática é tece com vários gêneros agríco-
se a empresa, em comunicado. A dos lá são os da espécie gigante. da marca Beba Rio, de água de extraída. “Não posso afirmar las importados pelo Brasil. Um
companhia garante que a maté- No Brasil, mais da metade das coco. “Cada litro desse concen- que sejam anti-higiênicas, mas deles, por exemplo, é a maçã vin-
ria prima asiática não é mais usa- plantações é de coqueiro anão – trado faz 12 litros de água de co- com certeza estão muito aquém da da Argentina. “Seria preciso
da pela empresa. A Ducoco, tam- mais recomendado para extra- co industrializada”, afirma. O dos padrões brasileiros”, declara montar uma comissão com
bém por meio de nota, declarou ção de água, segundo o pesquisa- problema, acrescenta ele, é o sa- Gomes, da Sococo. A empresa membros da Embrapa, da indús-
que “eventualmente compra de dor Carlos Martins, da Empresa bor. “É por isso que muita gente também usa o processo de con- tria, dos produtores e do gover-
fornecedores de fora do País”. Brasileira de Pesquisa Agrope- não reconhece o verdadeiro sa- centração para transportar água no para investigar as condições
Agricultores e concorrentes, cuária (Embrapa), de Aracaju. O bor da água de coco no produto de coco dos 8 mil hectares de co- em que essa água é extraída na
porém,garantemqueasimporta- teor de gordura na água do coco industrializado”, afirma Malzo- queirais que cultiva até a unida- Ásia e mandada para o Brasil”,
ções continuam – e que a cadeia do gigante é maior. ni.Ele estuda acrescentarna em- de envasadora da bebida. “Mas afirma Martins.

O que a Kimberly-Clark aprendeu com a Turma da Mônica


EPITACIO PESSOA/AE
País. Mas a gente acreditava que Promoção. fraldas, que responde por 40%
Marca inspirada nos podia reverter a situação a partir O brasileiro do total e tem preço médio de R$
personagens de Mauricio da marca local”, diz Aron. Eduardo 0,55 a unidade. Em um setor de
Dez anos depois, ainda com o Aron disputa acirrada, a empresa está
de Souza tirou a empresa nome Turma da Mônica – que assumirá comemorando a volta à lideran-
americana do vermelho aospoucos foiganhandoosobre- a direção ça no mercado total, perdida há
no mercado brasileiro nome Huggies – o segmento de global da um ano para a Procter&Gamble.
fraldasnãosódálucrocomotam- marca De acordo com os números de
Cátia Luz bémrespondepor40%dofatura- Huggies na março e abril da Nielsen, a Kim-
mento da Kimberly, que pulou matriz berly aparece com 25,7%, contra
Na Kimberly-Clark Brasil, a Tur- de R$ 480 milhões para R$ 2,7 25,3% da P&G.
ma da Mônica representa muito bilhões no período. A nova aposta da companhia é
mais que história em quadri- Agora, em um sinal de que as um reforço nos segmentos mais
nhos. Os personagens de Mauri- escolhas da subsidiária brasilei- premium, que vêm crescendo
cio de Souza são um símbolo da ra foram mais do que aprovadas, em um ritmo mais acelerado que
viradademesadafabricanteame- a matriz acaba de nomear Aron os demais. O lançamento é uma
ricana de produtos de higiene e para a direção global da marca linha de fraldas descartáveis que
limpeza no mercado brasileiro. Huggies em todo mundo. “É um vestem como um short e permi-
“Há dez anos, a empresa cogitou reconhecimento do trabalho de tem que a mãe troque o bebê
até sair do Brasil. Hoje somos a toda a nossa equipe”, afirma o mesmo que ele esteja de pé. “É
terceira maior operação global”, executivo. um tipo de fralda prática e co-
diz Eduardo Aron, diretor de cui- mumnosmercadosdaÁsia,prin-
dados pessoais da companhia. Estratégia do possível. A briga cipalmente Coreia e Japão”, ex-
A menina brava e dentuça vi- pela manutenção da Turma da plicaAron.A novalinha,que che-
rou marco dessa história porque Mônica não foi apenas apego à ga ao mercado neste mês, deve
o Brasil é o único país do mundo marca brasileira. “A gente não ti- ser vendida a um preço superior
em que a linha de fraldas da com- nhadinheiroparadefenderapar- a R$ 1 a unidade.
panhia não chegou ao mercado ticipação que já tínhamos com Aron. “Foi assim, escutando o ter que a operação brasileira se que por um trabalho forte de SegundoLuizGaspar, executi-
como Huggies, mas sim como Turma da Mônica e, ao mesmo consumidor, que descobrimos tornou uma das primeiras da marketing.” Na visão do concor- vo de atendimento da consulto-
Turma da Mônica, em função da tempo, lançar Huggies”, conta o que precisávamos de uma fralda Kimberlymundial avisitaracasa rente,a Kimberlyé uma empresa ria Nielsen, a sofisticação é uma
aquisição de uma empresa local executivo. noturnade10horas,duraçãomé- das pessoas para conhecer seus tática, com maior capacidade de tendência em todo o mercado
que tinha o licenciamento da Para planejar os novos lança- dia do sono do bebê.” hábitos de consumo. execução em vendas e em pro- de bens de consumo. Em fral-
marca. mentos – a empresa tinha ape- Quando lançada, em 2003, a Um concorrente admite que a moção, do que de arquitetar das, os números do setor refle-
Em 2002, quando Aron e um nas um tipo de fralda mais popu- nova fralda chegou a represen- Kimberly fez um bom trabalho grandes estratégias em constru- temclaramenteo fenômeno.En-
novo time de executivos coman- lar –, a subsidiária brasileira re- tar 20% da linha de produção e, com a marca Turma da Mônica. ção de imagem. “Hoje eles têm quanto o volume cresceu 3,4%
dados pelo presidente João Da- correu a quem ligava no call cen- com uma margem sete pontos “Ela tinha uma imagem ruim”, um forte posicionamento no no ano passado, em comparação
mato chegaram à companhia, es- ter. “Como não tínhamos área porcentuais acima do modelo afirma . “Eles conseguiram me- quesito preço-qualidade”, com- com 2010, o faturamento nomi-
sa divisão, com 12% do mercado, de pesquisa, tudo o que quería- tradicional, ajudou a levar, em lhorar a percepção da marca pe- plementa. nal do setor avançou, no mesmo
operava no prejuízo. “Houve mossaberagenteperguntavapa- um ano, a divisão para o azul. lo consumidor, mais pela inser- A marca tem hoje quase meta- período, em um ritmo duas ve-
pressão para mudar a marca no ra quem nos ligava”, explica Também foi a partir do call cen- ção de melhores produtos do de do mercado intermediário de zes superior: 7,8%.

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