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NATAL
2014
ROBERTO WAGNER DE MEDEIROS DAMASCENO
NATAL
2014
ROBERTO WAGNER DE MEDEIROS DAMASCENO
BANCA EXAMINADORA
____________________________
UFRN
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UFRN
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UFRN
Agradecimentos
Agradeço a Deus por me fazer sentir sua presença em todos os momentos alegres
e tristes da vida.
Agradeço a minha esposa Amanda que sempre esteve ao meu lado em todas as
dificuldades, e a minha família que me apoiou desde a infância quando toquei as
primeiras notas musicais.
Aleluia!
Louvai a
Deus
em seu
templo,
Aleluia!
Salmo de Davi, rei de todo o Israel, extraído da Bíblia de Jerusalém, Nova edição revista e
ampliada da Paulus Editora. (2002)
Lista de figuras
Figura 8 - À esquerda, rabeca feita pelo Alagoano Nelson, à direita, rabeca feita por
Damião........................................................................................................................................51
Figura 13 - Maneira de pegar na rabeca e o local onde colocar o arco nas cordas (entre cavalete
e espelho).....................................................................................................................................56
Figura 15 - À esquerda o rabequeiro Josenilson Moraes afinando sua rabeca para entrar na
roda..............................................................................................................................................59
INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
5.2. Demonstração das práticas de ensino – aulas por atividades e conteúdo. . . . . . . . . . . . . . .51
5.2. Aula 2 – Ritmo rabecado, o uso do arco e o seu treinamento. (Aula por imitação e
repetição) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
9
5.3. Aula 3 – Digitação, posições e escalas. (Aula por imitação e repetição). . . . . . . . . . . . . . 57
5.7. Aula 7 – Tocando em conjunto nos eventos, entre solos de rabecas e aboios com a voz....64
CONSIDERAÇÕES FINAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
APÊNDICE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72
10
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
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ABSTRACT
This paper reports the practice of teaching and learning the instrument fiddle at the Federal
Institute of the extension project of Science and Technology of Rio Grande do Norte (IFRN),
located in uptown Christmas, in 2014, where weekly happens the course of this instrument.
Introducing a possibility for the development of the classes and including the music education
of the individual through the fiddle, united with the teaching of music theory. As well as
bringing reflections on ways of teaching other fiddlers teachers who act as teachers of this
instrument, made through interviews. Presenting the results of the teaching and learning of the
instrument, made through interviews and photographs with students of fiddle. O first chapter is
as research took the arrival of the fiddle in Brazil; the second chapter deals with the fiddle
music and its importance and its social purposes. In the third chapter details IFRN extension
project are addressed; cited researchers who carried out work of great importance on the subject
fiddle and fiddlers; demonstrating the talk of fiddle in the virtual world, teaching fiddle at
youtube, blogs and websites that feature artwork from fiddlers or fiddles builders. The fourth
chapter carries the story of what I think in relation to teaching and learning and some thoughts
on an interview with other fiddlers also venture to teach this instrument. Finally, the fifth
chapter includes students' thinking around the fiddle, his music and his experiences. Finally,
how does expose the details of the collective teaching fiddle in IFRN the extension project,
marking the breakdown of classes for experienced then reach the final considerations, where I
discuss about the musical and social achievements of students, and reflecting that this
contribution brought teaching and how it can be improved.
KEYWORDS
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INTRODUÇÃO
Antes de relatar minha vivência com a rabeca, falarei um pouco sobre a minha vida e
meu encontro com a música. A música encanta-me desde a infância, principalmente o violino;
o meu desejo em tocar esse instrumento deu-se através dos filmes épicos que eu assistia.
Quando aos treze anos de idade ganhei meu primeiro violino, comecei a ter aulas com uma
professora pelo método Suzuki. No primeiro dia ela apenas afinou meu violino e, deu-me um
CD com o método volume um do Suzuki. Não tivemos aula naquele dia; voltaríamos a nos
encontrar em sete dias.
Três meses depois, eu ministrava aulas básicas de violino na minha igreja para pessoas
de quinze a trinta anos, com idade bem mais avançada que a minha, visto que, contava apenas
treze anos de idade; eu me orgulhava muito por ser uma criança e interessei-me em estudar
sobre músicos como: Vivaldi, Bach, Haendel, Beethoven e Mozart.
Dos treze anos aos dezoito anos participei da Orquestra Filarmônica Genesis; orquestra
da Igreja Central da Assembleia de Deus em Natal. Escolhi cumprir dois anos no serviço
militar obrigatório no 16º Batalhão de Infantaria Motorizado, período de muitas aventuras e
aprendizado. Em seguida, pensei em buscar algum sentido nos estudos, cursar alguma
faculdade que realmente gostasse; a música ainda não era opção, pois eu não via muitas
oportunidades nesta área, então tentei por duas vezes o vestibular para história sem obter
sucesso de aprovação.
Com os dois anos que se passaram, tentei voltar para a orquestra, mas devido falta de
prática no violino, não consegui acompanhar o nível técnico em que a orquestra se encontrava e
apenas pensava em trabalhar e fazer concursos públicos.
12
No ano de 2010, procurei seguir os conselhos de muitos amigos e amigas que tentavam
me convencer em prestar o vestibular para licenciatura em música, voltei a me motivar e a
estudar; Em 2011 fiz o vestibular para licenciatura em música obtendo êxito.
A principio, eu julguei ser aquele instrumento muito mal construído, e me parecia que
quanto mais eu tentava afiná-lo, através daquelas toscas cravelhas, mais ele insistia em parecer
desafinado aos meus ouvidos, sempre acostumados com a perfeita micro afinação do violino.
Marcelo convidou-me a improvisar com a rabeca em cima dos acordes que ele produzia
na viola de dez cordas, isto para mim foi prazeroso, pois sempre gostei de criar solos e compor,
além da perspectiva de me sentir livre para tocar sem nenhuma regra e limites de postura ou
sonoridade. Através de três CDs indicados pelo instrutor, conheci um pouco da música de
rabeca, estes CDs eram dos Mestres: Luiz Paixão, Salustiano e Nelson da Rabeca.
Com o ensino desse instrumento, que muito expressa nossa cultura nordestina, pude
concluir que não existe uma maneira ou um método especifico para o ensino de rabeca; logo
me debrucei em algumas formas de ensinar rabeca de acordo com a vivência que tive da mesma
e, buscando simplificar ao máximo os meus termos musicais, pois a maioria dos alunos nunca
tocou nenhum instrumento.
Depois de toda essa experiência com o ensino de rabeca, e por forte conselho do
professor Agostinho Jorge de Lima, que também é um pesquisador e amante de rabeca e sua
música, decidi fazer este relato de experiência.
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No inicio deste trabalho achei necessário fazer uma pesquisa de como se deu a chegada
da rabeca no Brasil; isso foi uma viagem que fiz no tempo passado, conhecendo os reinos e
impérios que surgiram no antigo oriente; as expansões dos povos em todo o mar mediterrâneo;
além de perceber que apesar das guerras existe uma troca de conhecimentos entre os povos.
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CAPÍTULO 1 - A RABECA E SUA MÚSICA
Depois podemos observar a expansão romana pelo oriente, destroçando toda esta
organização imperial grega que dominava os povos orientais, e alguns séculos depois as
cruzadas cristãs, motivadas pela expansão Árabe no norte da África, com o objetivo de penetrar
na Europa, pelo sul da Espanha trazendo com eles o Islã, sobre esta grande expansão
muçulmana Robson Fantinato Caju esclarece que:
Provavelmente a rabeca poderia estar junto com esta expansão, e como podemos
observar que as rotas principais do mar mediterrâneo estavam sob o controle Islâmico, todos os
produtos de comércio sejam eles alimentos, artesanatos ou armamentos do povo árabe
circulavam pelas suas novas colônias, e principalmente o povo Islâmico se instalava nestas
colônias introduzindo assim entre os conquistados sua religião, cultura e ciência.
Para se ter uma ideia da dimensão da conquista Islâmica, e entender que esta conquista
não foi somente através da guerra bélica, mas também de uma guerra cultural e religiosa,
podemos observar a parte verde do mapa que representa o Islã, e a área roxa que representa os
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Bizantinos que cairiam também algum tempo depois pelos Turcos também Islâmicos que,
tomaram a Cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino pela força dos canhões.
A expansão Árabe e Islâmica não só trouxe a guerra e a devastação para a Europa, mas
veio junto com eles a sua cultura, medicina e matemáticas, e junto a tudo isto seus instrumentos
musicais estavam em suas bagagens, e todas estas informações foram muito bem absorvidas
pelos Portugueses e Espanhóis que em parte da cultura musical ibérica, podemos observar forte
mescla e influência da música árabe, seja no ritmo ou nas escalas usadas em suas melodias, O
historiador Armando Alexandre dos Santos, nos dá uma demonstração de que realmente houve
uma influência Árabe na Europa, através da vida do francês Humberto que foi um ícone de
destaque nas batalhas das cruzadas cristãs, participante ativo da ordem dos pregadores e
conselheiro privado do rei São Luís IX, sobre Humberto se diz que:
[...] como superior de sua ordem, foi muito ativo. Reformou a liturgia
dominicana, estimulou os estudos teológicos e lingüísticos [...] mandou frades
para Barcelona para aprenderem o árabe, idioma que considerava de grande
importância para as missões no Oriente e entre os infiéis. (SANTOS, 2010,
p.12)
Isto ilustra que os árabes já estavam tão firmados na península ibérica que, os povos que
desejassem aprender o árabe ou outra ciência com eles, já tinham onde recorrer, pois existiam
cidades do sul da Espanha onde os cristãos e muçulmanos viviam em relativa paz, e assim não
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só os algarismos arábicos se espalharam pela Europa, mas a rabeca provavelmente foi se
expandindo junto, mesmo que mais lentamente, e ganhando presença nas festas do povo,
conforme Agostinho Lima em sua pesquisa cita Remnant que diz:
Embora por muito tempo arcos não fossem plenamente aceitos nos altos
cículos sociais da Ásia, foram amplamente adotados na Europa depois do
estabelecimento do arco nos séculos X e XI. (LIMA apud REMNANT, 2001,
p. 6)
E sobre a presença da rabeca nas festas e eventos religiosos Lima ainda cita Remnant
que afirma:
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1.2. A música de rabeca
Discordo daqueles que pensam que a rabeca é possuidora de um som tristonho, pois
para mim a música da rabeca é de alta expressividade e pode caracterizar e interpretar muito
mais músicas além de lamentos e fados, a música de rabeca transmite energia, e leva muitas
vezes ao êxtase o indivíduo que se entrega a esta musicalidade. Sobre este sentimento Daniella
Gramani diz que “[...] atrás da sonoridade que ouvia dos rabequeiros tradicionais e daquela que
me agradava comecei a tocar rabeca, feliz!”. (GRAMANI, 2009, p.14).
Com a rabeca, o ato de tocar e cantar se torna natural, pois os rabequeiros geralmente
usam a posição da rabeca junto ao peito esquerdo, isso torna a prática de cantar e se
acompanhar com a rabeca possível em duas maneiras, a primeira é tocando a mesma melodia
ou fazendo uma segunda voz com a rabeca, e a segunda é fazendo uso de pequenos acordes de
dois sons, mas para isso o rabequeiro deve ter alguma noção de harmonia para administrar as
posições que irá usar na música e um bom controle de coordenação motora para manter um
ritmo no arco enquanto canta, isso exige um treinamento.
Nas zonas rurais de muitos estados e também nas zonas urbanas das principais cidades,
encontramos rabequeiros que fazem a música de rabeca ter uma maior repercussão do que em
tempos anteriores, são eles: Nelson da rabeca, Luiz Paixão, Salustiano, Dinda Salu, Seu
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Oliveira, Cláudio Rabeca, Jeferson Leite, Siba, Dimattos da rabeca e Fabiano de Cristo dentre
muitos outros que, em todo o país não só perpetuam, mas inovam a música de rabeca; ora
fazendo composições para este instrumento, ora se integrando em grupos que se fazem
presentes na mídia, em apresentações na noite e até mesmo em viagens internacionais.
Sobre o andamento da música de rabeca Agostinho Lima diz que: “[...] atualmente, a
rabeca e sua música passam por um processo migratório de caráter não apenas geográfico, mas
de um contexto cultural para outro, de um segmento social para outro [...]” (LIMA, 2001, p. 13)
Por vezes, observamos que certos rabequeiros, se reúnem para tocar em conjunto
formando uma admirável harmonia, e criando de uma forma espontânea, acompanhamentos e
melodias que em muito contribui para a música de rabeca, a isto, chamo de “roda de rabeca”, o
ato de estar em um circulo musical onde cada um tem seu papel criativo de interpretação e
opinião, isto muito acrescenta a música de rabeca, e aqueles que estão a aprender o instrumento
e participam desta “roda” são incentivados a observar a prática, seja do professor ou dos outros
rabequeiros presentes, que estão ali para expor suas práticas e suas maneiras de lidar com este
instrumento.
Esta música é perpetuada e sempre será; não entre toda a população do país, mas
somente naqueles que a buscam e que se fazem presentes, em forma de vivência participativa
junto ao som e ao ritmo diversificado e empolgante que uma rabeca é capaz de fazer, estando
ou não acompanhada por outros instrumentos, a música de rabeca é uma ferramenta que
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caracteriza e fundamenta a nossa música de tradição nordestina, esteja esta música presente nos
forrós, cocos ou folguedos.
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CAPÍTULO 2
As aulas são todas as quartas-feiras das 14 horas às 16 horas, a sala conta com cadeiras,
quadro branco, projetor multimídia, computador, som e ar condicionado. Possuímos uma
reprografia que nos apoia quando fazemos pedidos de cópias por e-mail dos assuntos das aulas,
e uma coordenação de projeto de extensão, no qual possuímos uma estreita comunicação. Nesta
coordenação, também temos a liberdade de criar eventos para que a mesma possa publicar e
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divulgar através dos diversos meios de comunicação, e eles também ajudam disponibilizando
camisetas promocionais do evento.
O curso de rabeca tem a duração de dois anos por turma; o objetivo principal do curso é
formar rabequeiros para fazer parte da orquestra de rabecas potiguar, juntamente com os alunos
do curso de viola caipira e também de futuramente dar ensinamento de rabeca a alunos novatos.
Mesmo após o termino do curso, os alunos podem ver que estarão incluídos em
participar do círculo de rabecas e também ajudando no ensino deste instrumento a outras
pessoas.
23
2.2. Uma descrição sobre o curso de rabeca
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Os conteúdos abordados são inicialmente nesta ordem: teoria musical básica, percussão
corporal, o uso da voz em aboios espontâneos nas “rodas de rabeca”, para então podermos
passar esta prática na rabeca em grupo, na qual os alunos vão associando a leitura da partitura
com o braço da rabeca e fazendo improvisação rítmica e melódica em duplas, assim como
fazem com a percussão corporal e o uso da voz nos aboios.
Sempre que possível, convidamos outros rabequeiros para entrar na roda de rabeca e
fazer demonstrações de sua prática e contar aos alunos sobre suas experiências.
É feita uma conscientização aos alunos de que a leitura musical é necessária por quatro
motivos principais: o primeiro é que a partitura serve para nos lembrar de como se executa
determinada música em caso de algum dia chegar a se esquecer de como tocá-la; o segundo
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motivo é que todos possam tocar da mesma forma e no mesmo ritmo para que torne possível
fazer parte da orquestra potiguar de rabecas; o terceiro é a importância de registrar algo que
eles futuramente possam criar com sua imaginação própria, dando assim acesso desta criação a
outras pessoas interessadas; o quarto e último motivo, é que surgindo o interesse em prestar um
vestibular para o curso de licenciatura em música, eles já estarão familiarizados com a leitura
da partitura, tendo em vista que um dos requisitos básicos para aprovação é possuir um bom
conhecimento teórico musical.
Penso ser necessário que outros rabequeiros possam ter acesso ao ensino musical
superior, para que possam dar continuidade às pesquisas sobre a rabeca e os rabequeiros do
Brasil; sob o olhar deles mesmos que estão vivenciando de forma ativa, seja nos folguedos
populares, bailes de forró, cocos como também para que participem no ensino em escolas.
Concordando com esta ideia, Mavilda Aliverte em seu artigo sobre o ensino da rabeca
em Bragança no Pará diz que: “Nesse mundo de globalização, buscar algo que fale de nossas
origens é indispensável para preservar a nossa identidade, e buscar entendê-las e preservá-las é
garantir essa identidade para as gerações futuras.” (ALIVERTE, 2007, p.5)
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CAPÍTULO 3 - O QUE SE FALA DE RABECA
A rabeca e os rabequeiros atualmente têm sido redescobertos e vistos com outros olhos
por pesquisadores de todo Brasil, tais como: Agostinho Lima, Mavilda Aliverte, Daniella
Gramani e Roderick Santos, entre outros que buscam ter uma visão seja esta dos rabequeiros e
suas reações às mudanças impostas pelo tempo, das rabecas e suas formas de construção ou o
ambiente social em que as rabecas e os rabequeiros atuam musicalmente.
Mavilda Aliverte que pesquisou a rabeca na região norte do Brasil nos fala um pouco
sobre todo este universo de pesquisa que muito precisa ser explorado, ela explica que:
Conhecer, vivenciar e relatar o universo da rabeca e dos rabequeiros não é algo simples,
deve-se buscar um entendimento da forma do pensamento daqueles que tocam, criam e brincam
com a música de rabeca.
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Compreender suas funcionalidades musicais em determinados ambientes é fundamental
para que o pesquisador possa ilustrar aos futuros leitores uma verdadeira vivencia neste âmbito.
Com esta divisão organizada na pesquisa, se consegue fazer com que seus leitores
entendam a importância do foco do trabalho e a motivação que levou o pesquisador a este
campo, considerando os diversos ângulos de exploração do objeto estudado, e dando
sustentabilidade e credibilidade ao trabalho realizado, pois através de indagações e observações
pode-se chegar a um resultado eficiente.
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3.2. OS SITES, BLOGS E GRUPOS VIRTUAIS DE RABECA
Neste grupo existe uma troca de informações no tocante a afinações usadas por cada
um deles, marcas de encordoamentos, formas e posições de tocar, demonstração através de
vídeos de apresentações de grupos musicais onde a rabeca se faz presente, comentários sobre
dúvidas que surgem entre os membros do grupo, sempre são em grande quantidade; acredito
que lá é o lugar certo, para qualquer pessoa que deseje aprender e se aproximar mais das
pessoas e dos eventos que envolvem rabeca.
Jeferson Leite também recomenda que aquele que aprende pelo vídeo deve buscar
conselho de alguém mais experiente; no mesmo site, também encontramos sobre os
construtores de rabeca de todo o país, demonstrando sua arte e sua maneira própria de fazer
rabeca; entre os construtores de rabeca mais visitados estão: Nelson da Rabeca de Alagoas, Zé
Pereira de São Paulo, Eloi de Natal, Aldo Macedo do Ceará entre muitos outros.
1
Jeferson Leite é um rabequeiro cearense que atualmente desenvolve um trabalho artístico com música de rabeca
em Goiânia.
29
O site rabeca.org também é muito visitado pelos rabequeiros que desejam conhecer os
locais e as variedades de rabecas que existem não só no Brasil e entre os indígenas Guaranis,
mas também nos Açores e em Portugal.
Também há um blog que nos faz conhecer um pouco sobre Valmir Roza, um construtor
e tocador de rabecas de São Paulo. Neste blog existe uma demonstração de rabecas e violas
construídas por ele, que geralmente está acompanhado pelo violeiro Bob Mendez.
No blog também demonstra detalhes fotográficos sobre suas viagens em busca de outras
culturas e divulga um CD com as composições deles intitulado “Violas & Rabecas”.2
2
http://rabecaseviolas.blogspot.com.br/.
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CAPÍTULO 4 - O ENSINO DE RABECA
A rabeca é conhecida por ser uma parte fundamental nos folguedos populares em todo o
Brasil. Em particular no nosso estado temos o boi-de-reis que justamente por causa da
modernidade e globalização, chega a se enfraquecer e muitos desses grupos e rabequeiros ficam
sem atividade, como Lima em sua dissertação observa o modo que os rabequeiros vêem esta
situação explicando que:
Enfatizo também, que apesar de a rabeca ser um instrumento de cordas simples e com
uma dimensão de notas reduzidas, semelhante a uma flauta doce, desperta o interesse de muitas
pessoas para o seu aprendizado devido a esta aparente facilidade inicial; e também pela
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ausência excessiva de regras de postura deixando a forma de pegar na rabeca mais livre para o
aluno. Sobre o grau de facilidade nesta questão, Santos sustenta que “A posição da mão do
aluno será sempre a mesma, ou seja, a primeira, já que os rabequeiros não costumam sair desta
posição.” (SANTOS, 2011, p. 48)
Acredito ser necessário que a base inicial de ensino de rabeca esteja no contexto das
músicas regionais, para que a partir deste aprendizado, cada aluno possa buscar outros
horizontes musicais que deseje.
Outro importante objeto de meu ensino de rabeca é a criação espontânea, onde todos os
alunos são convidados a entrar em um circulo fechado de tocadores de rabeca, independente de
seus níveis técnicos no manuseio da rabeca, todos tocam em uníssono a mesma nota em ritmo
constante, e a cada um dos alunos é dado um pequeno espaço de tempo para que improvise, isto
é, criar música tocando nas notas da corda abaixo da que está sendo tocada por todos, pois o
acompanhamento fica em uma região sonora mais grave, enquanto a melodia improvisada se
destaca através da região mais aguda das cordas que estão abaixo.
Este improviso pode ser feito na própria rabeca de acordo com a capacidade de cada
aluno ou pode também ser feito com a voz em forma de aboio semelhante aos aboios dos
vaqueiros nordestinos e pode acontecer de este improviso vir em verso criado na hora por um
destes alunos, isso é o que chamo de “roda de rabeca” e fortalece a criatividade dos alunos.
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Possuir um horário de inicio e término, e um dia estabelecido para o ensino coletivo de
rabeca, é um fator importante para a formação dos alunos, pois gera em todos eles um
compromisso de pontualidade, e uma idéia de continuidade do aprendizado que eles obtêm na
sala de aula, e também a visão de todos na seriedade da aula apesar de ser um curso não formal.
Desta forma qualquer pessoa interessada pode assumir o compromisso de ter aulas de
rabeca, desde que esteja dentro da sua disponibilidade, e esta forma de ter um tempo específico
para a aula e uma duração da totalidade do curso funciona muito bem em nosso contexto
urbano, pois as pessoas já estão familiarizadas com este tipo de rotina.
Já o que acontece no ensino dos antigos tocadores que não possuem nem dia nem
horário pré-estabelecido para ensinar, por se encontrarem em uma realidade diferente da
urbana; isto é, na zona rural, onde o ensino de rabeca ocorre como algo mais familiar e
individualizado, dentro de qualquer momento do cotidiano.
Mesmo assim, não deixa também de ter seriedade neste ensino; entretanto, o rabequeiro
sempre está ali à disposição, para que o aluno interessado o busque e adquira a experiência
através do ver, ouvir e imitar.
Sendo esta forma de ensino uma forma saudável e até mesmo mais espontânea, levando
em consideração também que o aluno pode presenciar o seu mestre nos folguedos da
comunidade, ou em algum baile de forró de rabeca que participe. Sobre esta prática de ensino
dos rabequeiros tradicionais, Lima observa que:
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Desta forma, esses dois processos de ensino são sem dúvida alguma eficazes; e esta
comprovado que no decorrer dos séculos obtém seu objetivo no aprendizado. A troca de
conhecimentos com os alunos, adquirida em cada aula coletiva me proporcionaram uma boa
experiência para que eu pudesse organizar de forma sistemática o ensino de rabeca.
Cada aluno possui uma dificuldade que é demonstrada nos exercícios práticos; então
em cima de cada exercício da rabeca, que pareça difícil ao aluno, solicito que faça uma pausa
por um momento na prática total do estudo e se concentre somente na parte em que sente
dificuldades, para que lentamente e por repetição, possa tornar possível a execução e assim
atingir o objetivo do exercício, que é sempre ultrapassar um obstáculo e aprender algo novo.
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4.2. Outras experiências de ensino da rabeca
A forma mais antiga de aprender a tocar rabeca, segundo falam Lima e Carpegianne, é
através da oralidade no qual eles ressaltam que “Essas formas ou processos podem se efetivar
quase que indiretamente, através do escutar, ver e imitar os rabequeiros por parte da pessoa que
quer aprender tocar o instrumento.” (LIMA E CARPEGIANNE, 2010, p. 1). Assim sendo,
podemos refletir que o ensino tradicional de rabeca é algo bem particular de cada mestre
rabequeiro, que ao apresentar suas músicas a quem observa, ele também demonstra a sua
maneira de execução que difere da forma de qualquer outro rabequeiro, como é um fato, cada
rabequeiro assim como cada rabeca possui suas diferenças e nada é padronizado para todos
neste ambiente musical popular.
Aprender com algum mestre, no convívio, o idioma da rabeca, é uma boa experiência
para que se possa conhecer a originalidade sonora do toque da rabeca naquele âmbito onde o
rabequeiro tradicional se insere e também a sua postura. Pois, deve-se tocar rabeca pensando
em rabeca e não em outro instrumento; assim Daniella Gramani afirma quando ela se dispôs a
ter este contato com a rabeca do fandango dizendo que:
Daniella Gramani assim como o Josenilson Moraes3, também teve aulas de violino bem
antes de possuir algum interesse pela rabeca e reconheceu ser necessário ter esta vivência para
3
Josenilson Moraes é um rabequeiro Potiguar, toca no boi-de-reis do Mestre Manoel Marinheiro em Felipe
Camarão, também ensinou rabeca e toca forró de rabeca no grupo candeeiro.
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se sentir aceita no grupo tradicional de fandango e buscar ver em si mesma que estava a tocar
de acordo com as raízes tradicionais da oralidade que é passada de pessoa para pessoa no
decorrer de suas vidas em seu cotidiano cultural. Reforçando esta ideia, Lima afirma que:
E, também, sem a vivência obtida pela apreciação dos bailes de forró de rabeca,
folguedos e outras manifestações culturais, no qual este instrumento está presente, como
Agostinho Lima diz:
Os rabequeiros que procuram se embasar desta forma, isto é, sendo participantes dos
conhecimentos dos rabequeiros mais antigos e buscando escutar suas produções através dos
CDs, demonstrará uma autenticidade em seu som e na sua forma de tocar, tudo de acordo com
a maneira tradicional no manejo de rabeca, pois o que há de mais essencial quando se escuta
uma rabeca tocar, é o seu sotaque, sua particularidade sonora que se difere entre todas as outras
rabecas, pois cada rabeca é construída de forma diferente, e cada rabequeiro a toca com sua
técnica própria, seja ela adquirida com algum mestre tradicional ou ouvindo as músicas de
tradição de rabeca procurando se aproximar desta, ou o rabequeiro obtém seu desenvolvimento
técnico sozinho.
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Buscando conhecer, assimilar e registrar aqui a experiência de ensino de outros
rabequeiros de diferentes regiões, uma entrevista foi feita via facebook e e-mail, com
rabequeiros: O potiguar Cláudio Rabeca, e os cearenses Jeferson Leite e Fabiano de Cristo.
O cearense Jeferson Leite, conta como conheceu a rabeca dizendo que: “[...] Meu
primeiro contato com rabeca foi em Natal, durante a 1ª Quinzena Barroca do RN (2002), onde
assisti a apresentação do Grupo Candeeiro (Josenilson Morais), e conheci Seu André da Rabeca
tocando numa rua, no centro da cidade [...]” (JEFERSON LEITE, 2014, Entrevista)
Após esta experiência o Jeferson Leite também buscou conhecer não só sobre a música
de rabeca, mas também sobre a história da rabeca através do que se havia escrito até então, ele
disse na entrevista que: “... em Fortaleza tive a ajuda da folclorista Lourdes Macena em relação
aos estudos bibliográficos da rabeca [...] ” (JEFERSON LEITE, 2014, Entrevista)
O conhecimento das origens da rabeca bem como sua história na chegada ao Brasil é de
fundamental importância para os rabequeiros atuais que possuem o acesso a internet ou
bibliotecas e desejam pesquisar e conhecer melhor o instrumento, pois tendo como
embasamento os trabalhos bibliográficos sobre o instrumento, torna possível tirar dúvidas das
pessoas em relação à antiguidade da rabeca diante dos outros instrumentos de arco.
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Com base na história, Lima enfatiza a antiguidade da rabeca afirmando que: “[...] o
instrumento trazido por portugueses [...] foi a rabeca, que aqui se popularizou, e não o violino –
este ainda sendo forjado na lutheria italiana do final do século XVI.” (LIMA, 2001, p.10)
Ao perguntar a estes rabequeiros com quem aprenderam a tocar rabeca, e como se deu
este ensino e se já tocavam outro instrumento antes, pode-se notar que todos eles antes de
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conhecer a rabeca já eram musicalizados, isto é, já tocavam algum instrumento e também
estavam inseridos em grupos musicais; sobre como e com quem aprendeu Cláudio Rabeca
disse assim:
Aprendi com Mestre Salustiano, fiz 10 aulas com ele, por método de imitação,
onde ele primeiramente me falou onde colocar os dedos e a cada aula me
ensinava uma música, onde ele tocava e eu tinha que repetir. Antes eu tocava
Violão, Viola Caipira e Guitarra. (CLÁUDIO RABECA, 2014, Entrevista).
Podemos observar que a busca de Cláudio pelo toque de rabeca, o fez buscar um mestre
e um método tradicional de ensino, de forma que ele se sentisse mais próximo da rusticidade do
instrumento e de sua forma de tocar, e ao mesmo tempo sentisse a maneira de ensino deste
mestre tradicional.
O rabequeiro Jeferson Leite que já possuía uma experiência musical com instrumento
de arco, explica como foi sua iniciação musical antes de ser rabequeiro dizendo:
Desta forma, podemos observar que aqueles que já dominam algum instrumento de
arco, possuem maior facilidade em criar uma adaptação da técnica que têm, para direcionar na
postura e no toque de rabeca.
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Jeferson Leite pensava desta forma:
Mas algum tempo depois Jeferson Leite sentiu que havia pedidos de pessoas em
aprender o instrumento, e ele reavaliou seu pensamento no tocante ao ensino de rabeca, e
através de uma elaboração de aulas e do contato com Cláudio Rabeca ele criou oito vídeos
aulas.
Sobre como se iniciou a iniciativa em dar aulas de rabeca Jeferson Leite esclarece:
Diante da troca de informações entre rabequeiros, fica claro que a ajuda mutua em
muito contribui para o ensino de rabeca, os vídeos intitulados “Toques de Rabeca” estão
disponíveis no youtube.com e são acessados por todos os novos rabequeiros que buscam os
fundamentos básicos do aprendizado de rabeca.
Jeferson Leite sempre recomenda que apenas o vídeo não é suficiente para o
aprendizado, mas que a busca por um professor de rabeca é importante para aperfeiçoar o
aprendizado e se aproximar mais do universo musical e da questão idiomática da rabeca, ou
seja, a assimilação de uma forma característica de tocar a rabeca é de muita importância para
quem toca ou para quem ouve.
Fabiano de Cristo fala sobre as diversas influências musicais que passou dos treze anos
de idade até o presente momento, para ele tudo deve acontecer de forma natural e espontânea,
tendo em vista que as primeiras músicas que ele tocou na rabeca foram na verdade
composições criadas por ele mesmo enquanto “brincava” com o instrumento.
40
Fabiano de Cristo explica como se deu sua jornada na música em direção a rabeca
dizendo:
Minha iniciação musical se deu cedo o bastante para que eu mesmo nem me
desse conta desse processo. Com 13 anos já estava tocando numa banda de
baile no Colégio Cearense Sagrado Coração (Irmãos Marista) e já fazia shows
e viagens com o grupo. Tocava percussão. Da percussão para a bateria, depois
violão, pife e a rabeca. Aprendi os primeiros toques sozinho. Fui aprendendo
brincando com o instrumento, é tanto que as primeiras músicas que toquei
foram composições minha que na verdade era resultado das combinações
melódicas que ia criando ao estudar o instrumento. Meu estudo continuou
dessa forma ainda por um bom tempo. Estudando sozinho, criando músicas e
executando essa criação. Com o tempo fui decodificando as escalas na rabeca,
as tonalidades, já havia desenvolvido o hábito de tocar e cantar, a execução de
acompanhamento harmônico (utilizando dicordes). Hoje tenho estudado
também a tradição de rabeca do Sertão dos Inhamuns, ligada aos Reisados de
Caretas, Danças de São Gonçalo e bailes da região. Novo aprendizado, nova
afinação, uma técnica de arco diferente do que havia me acostumado. Um
novo universo. (FABIANO, 2014, Entrevista).
Com toda a sua bagagem musical, Fabiano de Cristo se aprofundou na rabeca de forma
individual e ao mesmo tempo espontânea, visto que começa se divertindo, isto é, “brincando”.
A partir disso ele usava todas as suas vivências para explorar todo o potencial da
rabeca, até chegar ao ponto do uso da voz acompanhada pela rabeca, acompanhamento
chamado de “dicordes”, que se trata de um acompanhamento rítmico em que o tocador usa duas
cordas ao mesmo tempo, e procura fazer posições em que dê a sonoridade de um acorde.
Por exemplo, se o acorde for dó maior, ele pode usar dó+mi, ou dó+sol, ou mi+sol e
assim a cada “dicorde” dentro da música, basta ter o conhecimento da tríade que compõe um
acorde maior e menor para fazer uso desta técnica, acompanhando assim a voz ritmicamente.
Falando também das aulas individuais e em grupo, e sobre como se dá seu ensino,
Cláudio Rabeca diz que:
[...] dou aulas regularmente, tenho alunos que vão na minha casa onde fazem
aula individual e de vez em quando dou oficinas para grupos de 10 a 15
41
alunos. meu método é o de usar muita repetição, mostrando o local de cada
dedo e corda, passando bem lentamente cada parte da música, não uso
partitura. (CLÁUDIO RABECA, 2014, Entrevista).
Fica claro que o método de imitação e repetição que o Cláudio rabeca adotou é o
tradicional usado pelos antigos rabequeiros que, por séculos vem sendo usado e é comprovada
sua eficácia em resultados. Quanto ao uso de partitura ou algum tipo de escrita codificada, e o
tipo de música ou escalas usadas em suas aulas, Cláudio Rabeca informa abaixo:
[...] costumo iniciar as aulas com exercícios que mostram o local que cada
dedo pode tocar, depois ensino uma sequência de músicas, começando por
Asa Branca, depois Juazeiro, após isso passo algumas toadas de Cavalo
Marinho, e aí vai dependendo do nível e desejo do aluno, tudo isso usando
imitação e ouvido, nada de partitura. (CLÁUDIO RABECA, 2014, Entrevista)
Acredito ser muito importante que a forma tradicional de ensino da rabeca seja passada
para frente e não se permita que seja esquecida, pois tudo contribui para somar a um ensino de
qualidade, onde o aluno absorve a percepção do universo sonoro através da imitação e
posteriormente da criação espontânea.
Diferente do que Cláudio Rabeca faz, Fabiano de Cristo optou por fazer uso de uma
codificação numérica para auxiliar em seu ensino, e também está obtendo bons resultados, pois
segundo ele, é de fácil assimilação, Fabiano explica sua experiência dizendo assim:
O ato de um rabequeiro criar sua metodologia, seja tradicional ou não, é de grande valia
para o ensino da rabeca; como Fabiano de Cristo reconhece que não existe nenhum método ou
disciplina em conservatórios ou escolas de música para tal atividade, isto fez com que ele se
interessasse pelo ensino deste instrumento.
42
Fabiano explica que.
Apesar de muitos amigos terem me procurado para esse fim, não havia me
disponibilizado justificando não ter um método para tal e como a rabeca é um
instrumento sem trastes, que requer de que a toca um exercício de percepção,
ouvido, afinação, julgava muito difícil de ensinar alguém. De toda forma me
interessei pela questão do ensino de rabeca quando percebi que no Ceará
temos mais de uma centena de rabequeiros registrados no livro Rabecas do
Ceará (Gilmar de Carvalho) e no site rabeca.org [...] (FABIANO DE CRISTO,
2014, Entrevista).
Através dos esforços e da união de muitos rabequeiros que estão conectados através da
internet, e que divulgam suas atividades e compartilham seus conhecimentos e vivências
musicais uns com os outros, pode-se ter uma certeza de que a rabeca e sua música não serão
mais um assunto esquecido, pouco comentado, ou até mesmo ignorado, pois o objetivo desta
união virtual de rabequeiros é na verdade um convite que nos leva a fomentar a cultura da
rabeca em nosso país e, um convite ao ensino às pessoas que gostam deste instrumento, que
vem se tornando um meio de musicalizar, socializar e valorizar o indivíduo que escolhe ser e
estar entre os rabequeiros e sua música.
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CAPITULO V- Relato das práticas do ensino coletivo de rabeca.
Foi importante ter a opinião deles a respeito de seus pensamentos em relação à rabeca,
sua música e anseios em relação ao ensino, pois assim pude descobrir outras maneiras de
instigar a sua sede pelo conhecimento de música, rabeca e teoria musical, bem como mantê-los
inseridos no entendimento das aulas.
De todos os alunos apenas três se dispuseram a responder este questionário, foram eles:
Willian Cosme da Silva, Mariano da Silva e Marcos Alexandre; na primeira pergunta pude
observar a diversidade de opiniões sobre o que eles sentem e sabem de rabeca.
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Sobre o que pensam de rabeca, cada um deles respondeu que:
Já Mariano, respondeu que ele pensa que a rabeca é: “Uma ferramenta que auxilia na
proclamação da liberdade que o coração almeja.” (MARIANO, Entrevista, 2014)
Para mim, que não a conhecia, mas que agora estou tendo a oportunidade de
fazê-lo. Está sendo uma experiência muito especial. A rabeca possui uma
sonoridade que me remete às minhas origens nordestinas e, pesquisando um
pouco, vi que é um instrumento bem antigo, o "pai" do violino moderno que
conhecemos. (MARCOS, Entrevista, 2014)
Podemos notar que apesar das diferentes respostas dos alunos rabequeiros no tocante ao
que pensam da rabeca, que existe um orgulho regional, de cultura local.
Quanto a Marcos e Willian podemos observar que, Willian já conhecia a rabeca, pois o
mesmo é neto de um rabequeiro interiorano já falecido e, sempre teve o desejo de seguir os
passos do avô, explorando esta musicalidade que ele considera singular de nossa região
nordeste. Marcos, que não conhecia a rabeca, buscou pesquisar materiais bibliográficos e de
internet para conhecer sua história, se sentindo de volta às raízes do nordeste, na medida em
que conhece e aprende mais sobre a rabeca.
Sobre o que cada aluno rabequeiro pensa da música de rabeca, Willian afirma que: “A
música da rabeca é a parte mais regional do instrumento, é onde está à identidade do rabequeiro
ou da sua região.” (WILLIAN, Entrevista, 2014). Com isso pode-se notar que a música de
rabeca onde quer que esteja, garante uma identificação cultural da região onde se insere, sendo
assim, considera-se a caracterização da música de rabeca como algo de grande valor, pois onde
ali estiver um rabequeiro com seu instinto criativo e também espontâneo, lá se firmará a
identidade cultural local.
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Unir a questão religiosa com a música de rabeca, também não é algo estranho neste
universo; a isto temos os exemplos dos muitos folguedos existentes em nosso país que unem o
sagrado com o profano. Mariano responde o que pensa da música da rabeca dizendo que: “É
como um lamento, um grito, um gemido, é como se o som interpretasse a fonética do gemido
mesmo. Dom que Deus concede.” (MARIANO, Entrevista, 2014). Quando Mariano fala em
lamento, grito e gemido se referindo também que a música da rabeca, é um dom que Deus dá
àquele que produz este som e que interpreta estes sentimentos, visando de alguma forma com
este argumento encarar a arte, a música, a rabeca e o rabequeiro que cria esta música como algo
divino.
Sobre o que vem apreciando desde que iniciou o curso de rabeca, Marcos fala o que
pensa da música de rabeca explanando suas reflexões acerca; Marcos diz:
Ele observa a simplicidade das pessoas que tocam e fabricam a rabeca, e reconhece que
apesar desta simplicidade, existe uma gama de sonoridades e composições a partir da
espontaneidade daqueles que se aprofundam neste instrumento; fortalecendo também a cultura
local onde se insere e muito acrescenta na história da rabeca e sua música.
Já Mariano, confessa que é mais aberto a tudo, ele afirma suas preferências com poucas
palavras dizendo assim: “Regionalizando e apaziguando na louvação as indiferenças. Vai do
Coco de roda ao Blues.” (MARIANO, Entrevista, 2014). Ele busca absorver toda e qualquer
cultura com um único fim, que é o que ele chama de “regionalizando” e “apaziguando”, ele
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busca através de sua criatividade, assimilar conteúdos culturais diversificados e inserir nestes
conteúdos a nossa identidade nordestina, reconhecendo a música como uma ferramenta que une
e apazigua toda e qualquer diferença em uma sonoridade única.
Marcos demonstra essa união de gostos musicais que toma conta das preferências de
todos os alunos rabequeiros respondendo que aprecia: “Rock e pop rock, música católica, jazz e
soul music.” (MARCOS, Entrevista, 2014). Considero que me assustei no inicio, ao ver que os
alunos do curso de rabeca estavam tão dispersos entre tantas influências musicais, mas depois
de demonstrar o universo de conhecimento do mundo da rabeca, e apreciar com eles as músicas
e as diferentes sonoridades e formas de tocar de cada Mestre rabequeiro, pude notar que a
música da rabeca assim como pode ser mantida por eles, também pode entrar em um estado de
mutação devido à diversificação de influências que eles absorvem em seus gostos musicais.
O ensino da rabeca é o alvo principal desta entrevista, tendo em vista que de acordo
com as dificuldades de cada aluno, é possível criar melhorias para uma forma de ensinar
rabeca, demonstrando a eles novos caminhos para o aprendizado.
No ensino coletivo da rabeca, o professor não consegue dar uma atenção especial
ao aluno em todas as suas dúvidas; o tempo de duas horas de aula se torna bem pequeno
quando se esta em uma sala com vinte e dois alunos, cada um com sua rabeca fazendo seu som.
Para sanar esta questão dos termos teóricos musicais ou técnicos que, sempre são abordados na
sala de aula e que, devido ao curto espaço de tempo os alunos nem sempre conseguem tirar a
dúvida, criei um banco de dados em arquivos no grupo “Rabeca Potiguar” no facebook, no qual
os alunos podem fazer download dos conteúdos das aulas e imprimir o material caso desejem
ter em mãos para estudo em casa.
Como a maioria dos alunos não conhece a teoria musical, e os que tocam algum
instrumento, o fazem através de cifras, sempre existe um sentimento de gratidão por parte deles
no tocante ao ensino da rabeca, Mariano responde o que ele acha do ensino de rabeca
agradecendo:
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Grato a Deus por esse auxilio que tu nos concede. Louvado sejam os dons que
o Senhor entrega aos homens para que os homens estejam alimentados do que
procede de Deus. Assim, é como um Pai que reparte o pão com os filhos.
(MARIANO, Entrevista, 2014)
Saber os detalhes de tudo o que acontece na aula de rabeca, de acordo com a visão dos
alunos, é muito gratificante para mim, pois observo que dinâmicas ou pequenas apreciações são
realizadas, embora inicialmente os alunos não demonstrem alguma reação positiva.
Fica claro que, conversando depois com eles, existiu realmente uma consideração do
que foi executado ou apreciado por eles, os alunos realmente acham importante cada momento
vivenciado na aula de rabeca, seja de forma apreciativa ou de execução; quanto aos detalhes
que se pode observar na visão de um aluno, Marcos agradece e explica que:
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Um ensino democrático deve ser discutido e fortalecido com opiniões e críticas
construtivas, tanto do lado do professor como dos alunos, pois sem este alicerce da
comunicação, se torna impossível melhorar o ensino, seja ele qual for.
Saber onde cada aluno pode encontrar um obstáculo ou uma dúvida, e com paciência e
prática ensinar a superar e passar adiante vencendo a dificuldade, é o objetivo de todo educador
que preza pelo resultado chamado ensino-aprendizagem.
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5.2. Demonstração das práticas de ensino – aulas por atividades e conteúdo.
5.2. Aula 1 – Conhecendo os rabequeiros, suas formas de tocar e suas músicas.
Figura 8 - À esquerda, rabeca feita pelo Alagoano Nelson, à direita, rabeca feita por
Damião.
50
Em seguida, mostramos a trajetória da rabeca que vai do Oriente com a expansão Árabe
por todo norte da África, chegando ao sul da península ibérica através dos Mouros; e na Grécia,
ou melhor, no Império Bizantino através dos Turcos, sempre tendo por base a história das
guerras e conquistas seguidas de colonizações, que dá a entender a proximidade dos povos
europeus com alguns costumes e convivências dos povos árabes, bem como a assimilação de
parte de sua cultura, como a matemática, e comércio de alguns de seus produtos, tais como o
café, tapetes e outros.
Provas da presença da rabeca na Europa medieval são suas antigas pinturas e estátuas
conservadas ainda hoje em museus e bibliotecas e catedrais sendo possível visualizar algumas
destas em sites da internet4, como podemos ver algumas adiante.
4
http://crab.rutgers.edu/~pbutler/rebec.html
51
Figura 10 - “Great Canterbury Psalter”, Biblioteca Nacional de Paris, 1180 - 1190
52
Figura 12 - Rabequeiro esculpido por Bennedeto Antelami, Catedral de Parma,
Itália, 1180.
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Em seguida dou uma demonstração em minha própria rabeca de algumas músicas de
Luiz Gonzaga, como: Asa Branca, Nega Zefa, Sala de reboco, Pagode Russo; para que a partir
destas músicas que eles conhecem e apreciam na rabeca, possam criar um interesse maior para
a próxima aula.
Sigo mostrando que com a rabeca também é possível cantar e acompanhar com a voz,
dando uma demonstração de sequências de acordes feitos com cordas duplas em ritmo
sincopado, ou seja, um ritmo de resfolego, ritmo sanfonado. Os acordes são simples e
aproveitam apenas dois sons da tríade harmônica, por exemplo, no acorde de ré maior, os três
sons que o compõe são: Ré, Fá sustenido e Lá; explico que o rabequeiro apenas escolhe
qualquer combinação destes sons de acordo com a facilidade desejada nas posições no braço da
rabeca.
5.2. Aula 2 – Ritmo rabecado, o uso do arco e o seu treinamento. (Aula por imitação e
repetição)
O ensino de rabeca que abordo com os alunos rabequeiros tem influência do Método de
violino Suzuki, pois em cada aula eu levo uma sequência para que seja repetida continuamente
por todos os alunos, até que se atinja ao objetivo da execução plena do exercício; sobre o
método Suzuki, a professora de violino Thaynara Oliveira explica que:
A prática em grupo atingiu o seu objetivo, que era o de fazer com que os alunos
tocassem no mesmo ritmo; se a aula se desse individualmente, ou seja, cada aluno executando a
sua maneira, a prática em conjunto levaria mais tempo para se tornar possível.
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Para se trabalhar a coordenação motora dos alunos rabequeiros, na passagem do arco de
uma corda para outra, aumentei a velocidade para notas de um tempo, a semínima, seguidas
depois de algum tempo de exercício pelas colcheias, e assim continuamente praticando até ser
possível executar as semicolcheias, isto sempre mostrando no quadro e em material impresso as
figuras musicais correspondentes a cada ritmo executado, para que eles pudessem já ir
memorizando e aprendendo com a própria prática rítmica da rabeca.
Por se tratar de um instrumento não temperado, ou seja, com ausência de trastes para
indicar as distâncias exatas dos semitons, coloco na rabeca dos alunos dois pontos azuis de
adesivo; indicando o primeiro dedo e o segundo dedo, e enfatizo que no inicio do aprendizado
do terceiro dedo sempre será posto junto ao segundo dedo, e mostro que nesta posição os
alunos podem fazer escalas musicais. Entretanto, antes das escalas, proponho o exercício da
corda solta com o primeiro dedo, nisso demonstro a forma correta de digitação, digo correta,
pois não prejudicará o aluno quando ele precisar fazer sons com cordas duplas, a digitação na
rabeca deve ser com a ponta da falange do dedo e não de outra forma.
Tive um pouco de dificuldade com um aluno que já tocava sanfona, pois ele digitava o
braço da rabeca não com a falange dos dedos, mas com as próprias digitais, costume herdado
da sanfona, e que foi abandonado com um tempo a mais de treinamento.
56
Figura 14 - Braço da rabeca com pontuação azul
A roda de rabeca não é apenas um momento em que todos tocam juntos como alguns
pensam, mas é uma troca de conhecimentos e opiniões acerca de música e de rabeca, na qual
cada aluno esta lado a lado em um círculo onde todos compartilham e assimilam na prática tudo
o que é realizado em torno desta roda, tornando possível um aprendizado prazeroso onde todos
são mais do que ouvintes, são participantes ativos; e nas rodas de rabeca é sempre importante
quando se tem um visitante rabequeiro que possa demonstrar suas composições e falar um
pouco sobre sua história com a rabeca.
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Figura 15 - À esquerda o rabequeiro Josenilson Moraes afinando sua rabeca para entrar na roda.
Nesta primeira roda de rabeca, o assunto foi sobre a afinação usada nas rabecas e como
proceder para afinar, pesquisando sobre a afinação que os rabequeiros costumam usar Lima
conclui que: “Na afinação da rabeca o intervalo sonoro buscado entre as cordas é o de quinta
justa, mas este intervalo nem sempre é obtido, sendo possível observar pequenas alterações
microtonais.” (LIMA, 2001, p.18).
A maioria das rabecas não possui “micro afinadores” que, são pequenas peças de metal
que facilitam a afinação, e deixam as cravelhas da rabeca com a função de somente apertar a
corda, tanto eu quanto alguns alunos preferimos não usar micro afinação por uma questão de
caracterização da rabeca, mas tenho visto que, em certas apresentações ao público, a micro
afinação das cordas da rabeca seriam de grande ajuda na facilidade e velocidade de afinação,
pois afinar somente com as cravelhas perde-se muito tempo, tendo em vista que às vezes as
cravelhas travam, e quando isto acontece é necessário folgar a corda novamente para iniciar o
processo; as cordas usadas por nossas rabecas são de bandolim.
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Para afinar cerca de vinte e duas rabecas no ensino coletivo, levo cerca de trinta
minutos, pois dois fatores contribuem para que uma rabeca recém-afinada volte a desafinar, um
deles é a mudança de temperatura ocasionada o ar condicionado, por exemplo; o outro é a falta
de uso da própria rabeca pelo aluno durante a semana, ou seja, uma rabeca que está em
atividade diariamente, mesmo que seja tocada apenas uma hora por dia, segura mais a
afinação.
Nessa roda de rabeca que se trata do assunto afinação, é explicado que quando se trata
de afinação de rabecas, cada rabequeiro possui a sua própria afinação; sendo de quinta justa ou
não, as afinações de nossas rabecas deveriam ser padronizadas para que se tornasse possível
tocar em grupo; escolhi uma música que a maioria dos alunos conhece, e os que não conheciam
aprenderam, pois apenas cantamos uma pequena parte da música que demonstra o intervalo de
quinta justa, a música era “Anunciação” de Alceu Valença e esta música tem uma parte que se
canta: “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais” e justamente a parte onde diz “Tu vens”
mostra melodicamente o intervalo de uma quinta justa, pedi para que um aluno tocasse da corda
sol para a corda ré, e depois da corda ré para a corda lá e finalmente da corda lá para a corda
mi, e ele percebeu que praticamente aquela parte da música demonstrava o intervalo que todas
as cordas da rabeca deveriam ter. Apesar de usar o nome das cordas da rabeca de sol, ré, lá e mi
como o violino, sempre uso a afinação de um ou dois tons abaixo da afinação do violino,
usando os nomes destas cordas desta maneira mais por uma questão de costume ao ler partitura,
e com o objetivo de que os alunos também possam ler partitura desta forma.
Quanto aos alunos que ainda não haviam entendido, por alguma falta de treinamento de
percepção auditiva, foi demonstrado que o terceiro dedo de cada corda reproduzia a mesma
nota da corda que está acima, com a distância de uma oitava acima, assim foi possibilitada uma
comparação de sons para afinar as cordas das rabecas com muita atenção para evitar romper as
cordas.
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5.5. Aula 5 – Conhecendo as notas musicais através do braço da rabeca.
Em minhas aulas o uso da voz é fundamental para que, eu tenha certeza de que o aluno
está aprendendo, e também com o objetivo de tornar algo normal para o aluno o uso da voz e da
rabeca simultaneamente.
Iniciando pela corda sol, o aluno deve tocar nesta sequência: corda sol solta, e dizer a
palavra sol na mesma medida em que toca, toca-se então o primeiro dedo e pronuncia cantando
a nota lá, ou seja, diz a palavra “lá” entoando a voz com o mesmo som produzido pela rabeca.
Ao se apertar o primeiro dedo da corda sol, e assim os alunos vão trabalhando os três
dedos na mesma medida em que aprendem a usar a voz junto ao toque de rabeca, adquirindo
assim um conhecimento duplo que se resume, a saber, o nome das notas de cada corda e a fazer
o uso da voz na medida em que se toca.
Enquanto aqueles que argumentam que não sabem cantar, e que não possuem boa
entonação na voz, mesmo assim exijo esta prática, mesmo que seja simplesmente falada, pois
acredito que aqueles que não conseguem cantar vão futuramente obter algum resultado com
este treinamento de rabeca e voz.
No grupo dos alunos rabequeiros que criei no facebook, postei uma imagem em
arquivos que mostra detalhes sobre as notas do braço da rabeca, os números indicam que o zero
é corda solta, e os números um, dois e três são respectivamente o primeiro, segundo e terceiro
dedo.
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Figura 16 - Digitação e nome de cada uma das notas no braço da rabeca
O rabequeiro que ensina, deve se valer do sonoro para as suas aulas, mas também
buscar material visual para fundamentar ou ilustrar seu ensinamento.
Após os alunos conhecerem as notas no braço da rabeca, mostro a eles uma introdução
de teoria musical sem tantos detalhes técnicos, apresento o pentagrama que são as cinco linhas
da pauta musical, e explico que nas linhas e nos espaços entre as linhas podem ser colocadas as
notas, as figuras musicais que mais uso nas aulas de rabeca são as semínimas e a colcheias;
explico a função da clave de sol e demonstro como se faz seu desenho pedindo que os mesmos
repitam; demonstro as linhas suplementares inferiores que são apenas duas e a linha
suplementar superior que é apenas uma no caso da rabeca, tudo isto analisando a partitura por
61
mim elaborada com o fim de levar os alunos a sua primeira leitura musical, e explicando a
importância da partitura para eles.
Os alunos são desafiados a estudar compasso por compasso, até se sentirem seguros
para realizar o exercício das notas que estão sem numeração dos dedos (semelhante ao método
Suzuki), passando do exercício de uma corda, vai para a próxima e assim irá explorar todo o
braço da rabeca, tudo isso se dá não individualmente, mas em duplas ou trios, com o objetivo
62
de que se tenha uma vivência da prática em conjunto, e após algum tempo, cessam de tocar
suas rabecas para que ao tempo marcado pela zabumba todos os presentes na sala possam tocar
o exercício juntos e assim sentir o som e o ritmo na coletividade.
Como exercício para casa eu dou a cada um uma partitura com o titulo: “Descobrir qual
é a música”, gerando neles uma curiosidade e vontade em saber o que está escrito lá, é claro
que a música que coloquei é uma música simples, regional e fácil de tocar de acordo com as
posições de tom, tom e semitom aprendido e praticado em aulas anteriores.
5.7. Aula 7 – Tocando em conjunto nos eventos, entre solos de rabecas e aboios com a voz.
Nunca algo é tão motivador para o aluno, do que tocar para o público, se sentir parte de
um grupo que depois de algumas aulas já se sentem em família, compartilhar o que aprendeu
com a rabeca e o convívio com os outros alunos rabequeiros e o professor, estar entre violas de
dez cordas e percussões em geral é algo de grande valor no coração de todo aluno que se
apresenta em algum recital ou evento comemorativo.
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Sempre digo aos alunos que em apresentações não se deve ficar parado, se não
consegue tocar na rabeca aquela ou outra música, que pegue em instrumentos percussivos
pequenos como clavas, ganzá, reco-reco, agogô entre outros e faça cada um seu barulho no
acompanhamento; o importante é fazer o som ficar cheio de vida e ritmos e se sentir dentro
deste universo espontâneo.
Figura 19 - Foto tirada antes do evento luzes da cidade no IFRN cidade alta – Natal RN
Aos que ainda não tocam as músicas, mas conseguem executar variações rítmicas
com três notas, eu crio um acompanhamento simples, com base na tríade harmônica dos
acordes, usando células rítmicas e em cada parte da música e a indicação de apenas uma nota
que deve ser tocada por vez dentro desta célula rítmica.
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Figura 20 - Alunos no evento comemorativo aos 160 anos de criação do Patrimônio da união.
Nas rodas de rabeca onde todos em certo momento executam um “ostinato”, ou seja, um
ritmo constante na nota ré ou lá, acontecem os aboios e os solos espontâneos de rabeca, e os
alunos dão lugar à criatividade e se sentem livres para executar solos, recitar versos, e o mais
empolgante no ato de usar a voz, é a criação de aboios espontâneos. Diante de toda aquela
atmosfera sonora, sobre a definição de aboio, Natã Vieira diz que:
E assim cada aluno rabequeiro, através da vivência musical ao público aberto, ou nas
rodas de rabeca, aprende a ter confiança no que faz e busca através desta experiência, um
melhoramento de sua prática instrumental, que futuramente poderá estar ensinando a outros.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em questão da prática do ensino de rabeca, acredito que ainda é um vasto campo a ser
explorado, e que este assunto deve ser analisado tanto por pessoas que fazem parte deste
âmbito, isto é, os rabequeiros que se aventurarem a pesquisar; como também por pesquisadores
interessados em expor suas indagações, reflexões e vivências quando estão diante da atmosfera
da música de rabeca e do pensamento de institucionalização deste ensino.
Usar como fundamentação para as aulas de rabeca e para este trabalho, todas as
experiências pessoais, vivenciadas pelos pesquisadores (Lima, Santos, Gramani e Aliverti) foi
de grande valia para obter ideias e encontrar respostas para os novos horizontes do ensino de
rabeca.
Com relação ao uso de teoria musical nas aulas de rabeca, acredito ser necessário no
contexto em que me encontro, pois o objetivo deste ensino é para se tocar coletivamente e
também pelo motivo de incentivar os alunos a uma busca pela vida acadêmica em música.
Observando os sentimentos dos alunos através das apresentações vivenciadas por eles,
pude notar que em suas visões, os alunos rabequeiros também consideram que tiveram um
grande avanço, seja na questão teórico-musical, na prática de rabeca ou de espontaneidade
criativa; todos compreenderam o ensino proposto e as dificuldades encontradas foram
superadas através do esforço e ajuda mútua e do treino individual de cada um no cotidiano.
Concluo com a importância de que além de fazer uma mescla do método de ensino
Suzuki com a prática de ensino tradicional, o uso das informações obtidas através dos
pesquisadores de rabeca, que investigam a vida dos rabequeiros e as manifestações na qual eles
fazem parte, foi imprescindível para o ensino deste instrumento, pois deve haver um respeito e
uma perpetuação da tradição e dos modos antigos dos rabequeiros tradicionais no tocante a
66
rabeca, é claro que se este for o desejo daquele que quer seguir fielmente o ensino deste
instrumento, adquirindo desta forma o domínio do original idioma rabecado.
Assim encerro este relato, almejando em futuramente dar continuidade a este trabalho
sobre o ensino de rabeca, e que a partir de todas as vivências realizadas em torno deste ensino,
possam surgir ideias que irão nortear o desenvolvimento de novas ideias em torno deste
instrumento tão singular chamado rabeca.
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REFERÊNCIAS
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete olhares sobre a antiguidade – História das civilizações
antigas. 2ª Ed. – Brasília: Editora Universidade de Brasília. 224 p. 1998.
LIMA. Agostinho Jorge de. Música tradicional e com tradição da rabeca. Dissertação
(Mestrado em Música), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001.
SANTOS, Roderick Fonseca dos. Cinco abordagens sobre a identidade da rabeca. Dissertação
(Mestrado em Música), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011.
SANTOS, Armando Alexandre dos. No século XIII, debates sobre as cruzadas. Artigo, Centro
universitário Claretiano de Batatais, São Paulo, 2010.
68
VIEIRA, Natã Silva. Cultura de Vaqueiro: O sertão e a música dos vaqueiros nordestinos.
Artigo, III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, Faculdade de
Comunicação/ Universidade Federal da Bahia, Salvador 2007.
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ENTREVISTAS
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APÊNDICE
2-Com quem aprendeu rabeca? Como foi este ensino? Tocava outro instrumento antes?
3-Após aprender rabeca, de que maneira ensinou rabeca e quantos alunos teve?
4-Que tipo de músicas utilizou no ensino inicial? Foi por imitação? Utilizou partitura ou
memorização/ouvido?
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Entrevista exemplo com Fabiano de Cristo (Via email. Data 18/10/2014)
Olá Roberto...
Aí vão as respostas:
R- Me interessei pela rabeca no mesmo momento em que a conheci, ou pelo menos a percebi
como instrumento singular. Hoje reconheço que certamente já havia escutado o instrumento
antes desse momento. Mas onde me pego ouvindo, vendo e instantaneamente desejando possuir
e aprender a tocar o instrumento; foi em Fortaleza por volta do ano 2005. Na época tínhamos
nacional e localmente a influência musical dos movimentos Manguebeat (do Recife para o
Brasil) e o Movimento Cabaçal no Ceará que vivia a mesma opção estética e conceitual de unir
a tradição local, a música dos anônimos da zona rural com o referencial mundial da música
pop, rock, jazz, mpb, etc. Lembro que vi os shows dos grupos Mestre Ambrósio, Dr. Raiz e
logo tratei de adquirir minha primeira rabeca (que foi construída pelo luthier Di Freitas que é de
Fortaleza mas mora em Juazeiro do Norte).
2-Com quem aprendeu rabeca? Como foi este ensino? Tocava outro instrumento antes?
R- Minha iniciação musical se deu cedo o bastante para que eu mesmo nem me desse conta
desse processo. Com 13 anos já estava tocando numa banda de baile no Colégio Cearense
Sagrado Coração (Irmãos Marista) e já fazia shows e viagens com o grupo. Tocava percussão.
Da percussão para a bateria, depois violão, pife e a rabeca. Aprendi os primeiros toques
sozinho. Fui aprendendo brincando com o instrumento, é tanto que as primeiras músicas que
toquei foram composições minhas que na verdade eram resultado das combinações melódicas
que ia criando ao estudar o instrumento. Meu estudo continuou dessa forma ainda por um bom
tempo. Estudando sozinho, criando músicas e executando essa criação. Com o tempo fui
decodificando as escalas na rabeca, as tonalidades, já havia desenvolvido o hábito de tocar e
cantar, a execução de acompanhamento harmônicos (utilizando dicordes). Hoje tenho estudado
também a tradição de rabeca do Sertão dos Inhamuns, ligada aos Reisados de Caretas, Danças
de São Gonçalo e bailes da região. Novo aprendizado, nova afinação, uma técnica de arco
diferente do que havia me acostumado. Um novo universo.
3-Após aprender rabeca, de que maneira ensinou rabeca e quantos alunos teve?
R- Só agora estou ensinando rabeca. Apesar de muitos amigos terem me procurado para esse
fim, não havia me disponibilizado justificando não ter um método para tal e como a rabeca é
um instrumento sem trastes, que requer de que a toca um exercício de percepção, ouvido,
afinação, julgava muito difícil de ensinar alguém. De toda forma me interessei pela questão do
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ensino de rabeca quando percebi que no Ceará temos mais de uma centena de rabequeiros
registrados em no livro Rabecas do Ceará (Gilmar de Carvalho) e no site rabeca.org e mesmo
assim não temos sequer uma disciplina optativa nos cursos de música das universidades (nem
mesmo na Universidade Federal do Cariri, sediada em Juazeiro do Norte, terra do Cego
Oliveira, cantador que eternizou a ligação entre a rabeca e a cantoria), muito menos em
conservatórios ou na escola. Essa contradição me levou a pesquisar sobre as experiências de
ensino de rabeca em outros lugares e percebi que nosso cenário não é tão diferente do restante
do país. Dessa forma passei a pesquisar a música de rabeca da localidade de Cachoeira do Fogo
(Independência - CE) e aproveitei a existência de uma Orquestra de Rabecas no local para
experimentar uma proposta inicial de método que estou chamando de cifra numérica ou método
numérico. Estou trabalhando com cinco alunos nessa proposta. Ela basicamente se constitui de
um procedimento de leitura e escrita baseada em números, onde não há indicação de ritmo (o
que requer que o aluno conheça antecipadamente a música estudada), mas que tem se
demonstrado de fácil compreensão, facilitando a fluência para escrita e leitura dos alunos.
Nesse método as notas são indicadas em conjuntos de dois números escritos com tamanhos
diferentes tipo: 32, onde o primeiro número diz respeito à posição de digitação e o segundo
número à corda executada (posição 3 na corda 2). Esse método pode ser aplicado a músicas
instrumentais ou canções com letra. No caso de se utilizar associado a uma letra de música,
chamamos de cifra numérica. O método ainda está sendo desenvolvido e requer aplicações em
diferentes realidades de ensino para poder aperfeiçoarmos algumas limitações do mesmo. O
certo é que é de fácil repasse para quem ainda não tem conhecimento da leitura musical
tradicional.
4-Que tipo de músicas utilizou no ensino inicial? Foi por imitação? Utilizou partitura ou
memorização/ouvido?
R- Músicas tradicionais dos folguedos locais (aprendidas nos Reisados de Caretas, Danças de
São Gonçalo e no repertório de músicas tocadas nos bailes da região) e algumas consagradas no
repertório da música nordestina. Utilizamos o método numérico (ou cifra numérica quando vem
acompanhada de uma letra). Nesse método, apesar de trabalharmos a leitura, é necessário que
tenhamos um exercício da memorização também, uma vez que não temos indicações de ritmo
tão precisas quanto na partitura tradicional.
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