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A Presidenta de Direita

Jorge Barcellos – Doutor em Educação/UFRGS

e-mail:jorgealbertosoaresbarcellos@gmail.com

A esquerda torceu o nariz quando Mônica Leal assumiu a Presidência da


Câmara Municipal de Porto Alegre na última quinta-feira. Isso não é correto. A
esquerda e o feminismo foram os primeiros a apontar o papel subordinado da
mulher e que a política permanece um universo fechado para elas. Agora,
quando uma chega a um posto político, renegam sua conquista: ” é mulher,
mas... é de direita! ”

Direita ou não, Mônica Leal já faz parte da revolução democrática que encaminha
para o fim da dominação dos homens na Câmara Municipal. Sua posse significa
a recusa das mulheres de sua geração ao confisco da representação política
pelos homens ao nível local, esfera machista cuja cortesia com as mulheres é
sua maneira de considerá-las ...“apenas mulheres” e não dirigentes políticas.

Alimento esperança por sua gestão. A razão é que as mulheres na política não
têm exatamente as mesmas motivações que os homens: ao invés do carreirismo,
a defesa do pragmatismo; ao invés dos jogos do poder, a necessidade de fazer
passar suas ideias e ao invés de lutar por postos, a busca por avanços concretos.
Você não precisa concordar com as ideias de Mônica Leal para defender a
importância dela em assumir o maior posto político da cidade, o que fez
exatamente como se espera de uma presidenta: defendendo valores
democráticos, o bem comum e a valorização do servidor público.

Neste último aspecto, outra esperança. Mônica Leal, cujo partido integra a base
de governo, já manifestou que não concorda com tudo o que o Prefeito propõe.
Isso é bom para a democracia, para a cidade e para o serviço público cujo valor
Mônica reconhece - mas o Prefeito não. É inaceitável que, por ser mulher,
Mônica se curve durante sua presidência à dominação de homens e projetos dos
quais discorde. A autonomia é uma qualidade sua importante e foi-lhe ensinada
por seu pai, Pedro Américo Leal, que publicamente criticou a tortura durante o
movimento de 64 “sigo minhas ideias e convicções”, disse Mônica ao tomar
posse.

A esquerda promoveu um grande debate sobre a paridade dos sexos na política,


mas isso não pode valer apenas quando a esquerda está no poder.

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