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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO N. 0030264-13.2016.4.01.3900/PA

RELATÓRIO

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO (Relator):

Cuida-se de recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério


Público Federal contra decisão proferida pelo Juízo Federal da Seção Judiciária do
Pará, que determinou o relaxamento da prisão preventiva de Ronaldo Lessa
Voloski, Ademildo Alves de Medeiros e Elsiar Roberto Packer.

Na decisão, o Juízo a quo revogou a prisão preventiva dos apelados,


por entender suficiente a substituição por medidas cautelares diversas da prisão -
art. 319 do CP - (fls. 110/113).

Nas razões do recurso, o Ministério Público Federal postula a


cassação da decisão recorrida, com a consequente decretação da prisão
preventiva dos investigados. Sustenta que a segregação cautelar é essencial para
garantia da ordem pública, por existirem provas da materialidade e indícios de
autoria, além da possibilidade de voltarem a delinquir (fls. 138/140v).

Contrarrazões pelos recorridos (fls. 167/168 e fls. 235/240).

Nesta instância, o Parquet Federal manifesta-se pelo reconhecimento


da perda de objeto, em razão de sentença absolutória proferida pelo juiz a quo (fls.
461/466).

É o relatório.

Nº Lote: 2018130761 - 2_2 - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO N. 0030264-13.2016.4.01.3900/PA - TR140603


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VOTO

O EXMO. SR. DESEMBAGADOR FEDERAL NEY BELLO (Relator):

Conforme relatado, cuida-se de recurso em sentido estrito interposto


pelo Ministério Público Federal contra decisão proferida pelo Juízo Federal da
Seção Judiciária do Pará, que determinou o relaxamento da prisão preventiva de
Ronaldo Lessa Voloski, Ademildo Alves de Medeiros e Elsiar Roberto Packer.

O recorrente pretende a reforma da decisão recorrida, sustentando a


necessidade da decretação da prisão provisória, haja vista a existência de
elementos robustos que demonstram a autoria delitiva.

Inicialmente, diferentemente da manifestação do MPF nesta instância,


ressalto que não é o caso de reconhecimento da perda de objeto do presente
recurso em sentido estrito.

A jurisprudência deste Tribunal Regional Federal entende que,


proferida sentença condenatória impondo aos acusados pena definitiva, com
trânsito em julgado, resta prejudicado o recurso em sentido estrito que versar
sobre a segregação cautelar dos mesmos em razão da perda superveniente de
seu objeto.

PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. OBJETO DO


RECURSO: SEGREGAÇÃO CAUTELAR DOS RECORRIDOS.
SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDA COM TRÂNSITO EM
JULGADO. PERDA DE OBJETO DO RECURSO. 1. Recurso em sentido
estrito interposto pelo Ministério Público Federal contra decisão prolatada
pelo Juízo Federal da Subseção Judiciária da Guanambi/BA, que revogou
a prisão preventiva do recorrido, concedendo-lhe a prisão domiciliar. 2.
Não deve ser conhecido o recurso em sentido estrito, cujo objeto é o
restabelecimento da prisão preventiva do recorrido, quando, antes do seu
julgamento, for proferida sentença condenatória com trânsito em julgado,
haja vista a perda superveniente de seu objeto. 3. Nos termos da
jurisprudência deste Tribunal, haverá perda superveniente do objeto
do recurso em sentido estrito quando houver trânsito em julgado da
sentença do processo principal. (RCCR 0012769-
41.2006.4.01.3500/GO, Rel. Desembargador Federal Hilton Queiroz,
Rel.Conv. Juiz Federal Ney De Barros Bello Filho, Quarta Turma, e-DJF1
p.81 de 27/06/2008). 4. Recurso em sentido estrito não conhecido. (grifei)

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(RSE 0002132-70.2016.4.01.3309 / BA, Rel. DESEMBARGADOR


FEDERAL NÉVITON GUEDES, QUARTA TURMA, e-DJF1 de 07/07/2017)

No caso, é bem verdade que os réus foram absolvidos – não


condenados - dos crimes a eles imputados na primeira instância. No entanto, resta
pendente de análise o recurso interposto pela acusação na ação principal, motivo
pelo qual deve o presente recurso ser analisado dentro do trâmite processual
regular.

Por outro lado, no presente caso, o recurso não merece ser provido.

Da análise dos autos é possível concluir que, não obstante os


fundamentos apresentados pelo recorrente, cabível, na espécie, a aplicação de
outras medidas cautelares, como entendeu o magistrado de piso, que se mostrem
aptas a garantir a ordem pública e a conveniência da instrução criminal, bem como
impedir a reiteração delitiva.

Constato, também, que, apesar de a denúncia imputar aos apelados


os delitos tipificados no art. 4º, caput, e art. 5º, caput, da Lei 7.492/86, estes não se
configuram como crimes que causam clamor público de forma a representar risco
social a colocação do custodiado em liberdade.

Em relação à prisão preventiva, não obstante seja uma regra a


presunção de não culpabilidade, e a liberdade um direito e um princípio
constitucional, ambos devem ser cotejados com o dever do Estado de fornecer
segurança e o direito dos cidadãos de exercerem sua cidadania em um país
seguro.

É fora de dúvida que a prisão não dispensa comprovação do


fundamento cautelar. Entender o contrário equivaleria admitir que pudesse ser
decretada uma prisão desprovida de qualquer motivação, pelo simples fato de a
liberdade ser proibida. Permitir-se-ia, dessa forma, prisão sem ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, contrariando o preceito
constitucional previsto no art. 5º, LXI.

Evidente que não foi essa a intenção do legislador.


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Sobressai disso, ao que penso, a necessidade de adequada


fundamentação dos fatos que viabilizam a prisão processual, não sendo exagerado
afirmar que tal requisito – fundamentação, que inclui a demonstração razoável do
fato legitimador da medida – constitui uma das mais importantes garantias do
indivíduo, a efetiva proteção dos direitos fundamentais.

Nesse sentido, aliás, é que se revela aquilo que Ferrajoli concebe


como “valor fundamental do princípio da motivação: garantia da natureza cognitiva
e não potestativa do julgamento, o qual, quanto ao direito, se atrela à estrita
legalidade, e quanto aos fatos, à prova da hipótese acusatória” (Diritto e Ragione:
teoria del garantismo penale, 3ª ed., Roma: Laterza, 1996, p. 640).

Neste contexto, entendo que não é o caso de decretação da prisão


preventiva, vez que não atende aos requisitos do art. 312 do Código de Processo
Penal, haja vista não estar descrito, concreta e objetivamente, com o apelado, em
liberdade, trará risco à ordem pública ou econômica e, tampouco, interferirá na
instrução criminal.

Assim, deve prevalecer a regra geral relativa à privação da liberdade


pessoal com finalidade processual segundo a qual o alcance do resultado se dá
com o menor dano possível aos direitos individuais, sobretudo quando há expressa
referência a inúmeras outras medidas de natureza cautelar que podem ser
decretadas pelo juízo da causa e em proveito das investigações.

Demais, a liberdade provisória constitui um benefício cujo princípio


orientador está insculpido no inciso LXVI do art. 5º da Constituição Federal:

"Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a


liberdade provisória, com ou sem fiança".

Daí se concluir que a regra fundamental no Estado Constitucional e


Democrático de Direito é a liberdade. A segregação preventiva tem natureza
excepcional e, salvo nos casos de fundamentada necessidade – garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e
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indício suficiente de autoria –, equivale ao início antecipado de cumprimento de


pena.

Dito de outra forma, a prisão cautelar é medida excepcional regida


pelo princípio da necessidade, porquanto restringe o estado de liberdade da
pessoa que ainda não foi julgada e tem a seu favor a presunção constitucional da
não culpabilidade.

Demais, ressalto que a decisão que revogou a prisão preventiva do


apelado e fixou a medida cautelar data de 10/11/2016, não se justificando que os
apelados voltem à segregação quase dois anos após a revogação da medida
acautelatória, até porque não há notícias, até o presente momento, de que houve
mudança apta a demonstrar que a medida adotada pelo magistrado de piso seja
insuficiente para resguardar a aplicação da lei penal.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso em sentido estrito.

É o voto.

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