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EDUCATIVAS EM SAÚDE
1
Enfermeiro. Doutor em Ciências da Saúde. Educador em Saúde Pública do Centro de Promoção da Saúde do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
2
Médica. Doutora em Ciências da Saúde. Professora Doutora do Departamento de Medicina Preventiva da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
3
Enfermeira. Livre Docente em Enfermagem. Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade
de São Paulo.
Endereço para correspondência: Alfredo Almeida Pina-Oliveira. Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155, 4º
andar, bloco 6, secretaria do Ambulatório Geral e Didático do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo. São Paulo – SP. CEP: 05403-000. E-mail: alfredo.pina@hc.fm.usp.br.
Fonte de financiamento: não houve.
Resumo
A documentação contribui para o melhor planejamento, execução e avaliação de processos educativos na área da
saúde. Objetivo: discutir os limites e possibilidades da utilização da técnica de análise documental para o registro
sistemático das atividades educativas em saúde. Método: ensaio reflexivo sobre o emprego da análise
documental na avaliação da capacitação do Projeto „Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades‟ e com
potencial para a sistematização dos registros de processos educativos em saúde em diferentes cenários.
Resultados: identificação de recursos, instrumentos e abordagens constitutivos do processo ensino-aprendizagem
para a documentação de ações educativas realizadas por profissionais de saúde baseados nos objetivos,
conteúdos, recursos físicos, recursos humanos, recursos materiais, estratégias de ensino, periodicidade e carga
horária dos encontros, e tipo de avaliação. Conclusões: evidenciou-se a relevância da análise documental na
seleção, organização e avaliação dos registros relacionados a práticas educativas que podem contribuir para a
qualidade da formação de recursos humanos e da assistência nos serviços de saúde.
Descritores: Pesquisa qualitativa, modelos educacionais, documentação, educação em saúde.
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familiares e a divisão dos cuidados; gerentes, supervisores e interlocutores
competências familiares/cuidados regionais e locais).
essenciais para o desenvolvimento infantil;
estimulação e aprendizagem da criança de Recursos materiais: são as bases
zero a seis anos; direitos de cidadania e concretas, os insumos que viabilizam a
acesso a serviços de saúde, educação, execução das atividades.
assistência social, sistema de garantia de Projeto Janelas / material didático:
direitos, entre outros. cartilha da família e manual de apoio
“Toda hora é hora de cuidar”; ficha de
Recursos físicos: referem o tipo de acompanhamento dos cuidados para a
área física onde ocorrem os encontros, sua promoção da saúde da criança; book de
configuração e arranjos espaciais. apoio; cópia reprográfica da programação
Ambiente físico do Projeto Janelas: das atividades da oficina de capacitação
uma sala grande com cadeiras dispostas de „multiplicadores‟; textos avulsos e
em círculo para realização das plenárias; letras de música.
salas menores para trabalhos em pequenos Recursos audiovisuais:
grupos; ambiente externo facilitador de microcomputador ou notebook; datashow;
contato com a natureza. retroprojetor; transparências e canetas
apropriadas; flipchart; rádio com toca CD
Recursos humanos: de acordo e CDs variados (temáticos e musicais);
com Luckesi (2011), o educador atua como televisão; vídeo cassete e fitas de vídeo
um mediador entre a coletividade da (temáticas e filmes).
sociedade e a individualidade do educando,
dando direção ao ensino e a aprendizagem. Periodicidade e carga horária dos
Projeto Janelas: seis facilitadoras, encontros: referem-se à organização das
garantindo-se pelo menos uma dupla por atividades no tempo e sua duração. A
encontro (duas enfermeiras, uma oficina de capacitação do Projeto Janelas
psicóloga, duas assistentes sociais e uma compõe-se de cinco encontros de oito
administradora); e 130 profissionais de horas cada um, freqüência semanal,
saúde envolvidos com a estratégia Saúde totalizando uma carga horária de 40
da Família (médicos, enfermeiros, horas.
auxiliares de enfermagem, agentes
comunitários de saúde, auxiliares Estratégias de ensino: nesta
administrativos, auxiliares de limpeza, categoria estão reunidas e descritas as
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estratégias e técnicas empregadas. São Discussão
bastante diversificadas e devem estar de A análise documental do processo
acordo com os objetivos e os conteúdos do educativo do Projeto Janelas propiciou a
processo educativo, como por exemplo, reprodutibilidade dos conteúdos, recursos
com o desenvolvimento da capacidade de didáticos e metodologias pelos educadores
observação, análise, teorização, síntese e em seus respectivos locais de atuação
práxis (FREIRE, 2002). (CHIESA et al., 2009; OLIVEIRA, 2007).
Projeto Janelas: metodologia
A abordagem ou forma de coletar os
problematizadora e participativa; técnicas
dados na triangulação pode variar bastante
de grupo para acolhimento e integração;
(DRIESSNACK et al., 2007). Esses
apresentação e construção de conteúdos
autores identificam (a) a triangulação de
através de exposições dialogadas; leituras
dados (busca a convergência ou
compartilhadas e comentadas em
corroboração de dados no mesmo
pequenos grupos; análises críticas de
fenômeno); (b) a triangulação de
músicas e filmes; elaboração de sínteses
investigadores (dois ou mais
através de cartazes e debates em
investigadores colaboram na coleta e
plenárias.
análise dos dados); (c) a triangulação
teórica (utilização de mais de um
Tipo de avaliação: Luckesi (2011)
arcabouço teórico); e (d) a triangulação
ressalta a importância e a
metodológica (utilização de métodos
indissociabilidade do planejamento e da
mistos ou múltiplos para a coleta e análise
avaliação, pois ambos objetivam a
de dados).
obtenção de resultados satisfatórios a partir
de meios e recursos propícios ao Em relação à análise documental,
estabelecimento de situações de Lüdke e André (1986) destacam a riqueza
aprendizagem adequadas. e a estabilidade das informações contidas
Projeto Janelas: utilização de em documentos, aspecto este que permite
rodas de avaliação oral ao final de cada analisar repetidas vezes essas “fontes
dia e preenchimento de ficha de avaliação fixas” de dados, assim como sustentar ou
individual ao final da oficina. ratificar/validar os resultados obtidos em
outros estudos.
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de processos educativos participativos e Referências
transformadores.
BARDIN, L. Análise de conteúdo.
Conclui-se que os documentos Lisboa: Edições 70, 2011.
produzidos por agentes formadores e
BORDENAVE, J. E. D.; PEREIRA, A.
gestores de recursos humanos (planos e M. Estratégias de ensino-
cronogramas de atividades educativas, aprendizagem. 24. ed. Petrópolis:
Vozes, 2002.
manuais técnicos, fichas de avaliação etc.)
são valiosos porque (a) favorecem a BOWLING, A. Research methods in
health: investigating health and health
reprodutibilidade em outros cenários; (b) services. 3. ed. New York: Mc Graw Hill,
contribuem para o enriquecimento dos 2010.
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LUCKESI, C. C. Avaliação da DEMO, P. Pesquisa: princípio científico
aprendizagem escolar: estudos e e educativo. 12. ed. São Paulo: Cortez
proposições. 22. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2006.
Editora, 2011.
MINAYO, M. C. S. O desafio do
conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2008.
OLIVEIRA, A. A. P. Análise
documental do processo de capacitação
dos multiplicadores do projeto "Nossas
Crianças: Janelas de Oportunidades"
no município de São Paulo à luz da
promoção da saúde. 2007. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem) – Escola de
Enfermagem, Universidade de São Paulo,
São Paulo. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis
/7/7137/tde-17052007-101339/pt-br.php.
Acesso em: 01 jul. 2015.
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