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FACULDADE DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS – ITEPA FACULDADES

DISCIPLINA DE TRINDADE

Acadêmico: Lucas André Stein


Professor: Me. Pe. Rogério Luiz Zanini
Data: 28/11/18

HOMILIA TRINITÁRIA – PASTORAL DA CRIANÇA

“Traziam-lhe até mesmo as criancinhas para que as tocasse; vendo isso, os discípulos as
reprovavam. Jesus, porém, chamou-as, dizendo: ‘Deixai as criancinhas virem a mim e não as
impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo, aquele que não receber o Reino
de Deus como uma criancinha, não entrará nele” (Lc 18,15-17).

Queridos irmãos e irmãs! Desenvolvendo nosso apostolado junto às crianças e suas


famílias, especialmente as que vivem em situações de pobreza e risco, percebemos como o
próprio Deus é mais criança do que adulto; percebemos que elas nos revelam de maneira mais
clara a verdadeira face de Deus.
Ouvimos no Evangelho desta celebração: levavam a Jesus até mesmo as criancinhas.
Até mesmo. Ou seja, as crianças não eram tidas em consideração na sociedade e na religião da
época de Jesus. O Messias não viria para as crianças, que representavam a fraqueza, mas para
“restaurar o Reino de Israel”, afastar os romanos, iniciar o tempo do cumprimento pleno da Lei
de Moisés. Enfim, para coisas de “gente grande”. Porém, Jesus, mais uma vez, inverte a lógica
do poder e põe a fraqueza e a pequenez, como critérios para viver o Reino de Deus. Esta atitude
de Jesus parte da sua própria experiência com Deus: um Pai querido, amoroso e misericordioso,
do qual todos nós somos filhos.
Para sermos verdadeiramente filhos de Deus, devemos ter a atitude de criancinhas.
Como vemos em nossas Celebrações da Vida, as crianças não se importam se o brinquedo está
inteiro ou quebrado, o que importa é brincar com os outros. No momento do lanche, vemos que
não se importam tanto com o que estão comendo, mas que estão comendo algo que lhes foi
preparado. Muitas vezes pensamos que o Reino de Deus se efetiva em planos, projetos e metas,
porém, a partir das criancinhas, percebemos que para vivê-lo temos que ter, antes de tudo, uma
atitude de confiança, de desapego, de voltar ao mais essencial de nossas vidas, que é alegria
com o pouco e a felicidade da partilha. As crianças, vemos, não realizam distinções de cor,
credo, condição social e econômica na hora da brincadeira: querem brincar!
As criancinhas nos revelam quem é Deus: Ele é Pai e nós somos seus filhos, mas Ele
também é criança. Deus não é um adulto sentado em uma escrivaninha administrando o
universo. Ele é uma eterna criança: movimento, relação, amor. Como uma criança ele não segue
os padrões da produtividade humana, mas a lógica da simplicidade e da amizade. No seu Reino,
somos chamados a uma grande confraternização da vida, como fazemos em nossas Celebrações.
É um Reino de cuidado, de carinho, de ternura, onde se sabe que a vida é mais do que ter
condições materiais dignas de vida, pois sabemos que o maior sofrimento das crianças não vem
da pobreza material, mas da falta de afeto, de cuidado dentro das famílias.
Como agentes da Pastoral da Crianças, vocês possuem uma possibilidade única de
encontro com Deus. Numa sociedade que, muitas vezes, objetifica as crianças para a realização
emocional dos pais, tanto é que podem muito bem ser substituídas por um pet, vocês apostam
nelas como o futuro da humanidade e da espiritualidade. Para nos desenvolvermos humana e
cristãmente não podemos descuidar dos mais frágeis: as criancinhas, inclusive daquelas que
ainda não nasceram. Vocês também voltam a ser um pouco mais crianças no relacionamento
com Deus, deixando de lado práticas mais rígidas para encontrá-lo em um sorriso em que ainda
faltam dentes, em um abraço às vezes melequento, em um choro de quem se sente ameaçado
por uma balança de pesagem ou pelas réguas de medição. Também O encontram nas mães que
ficam agradecidas com uma sacola de retalhos de pão e de ossos. Mães, na sua maioria,
abandonadas pelos pais das crianças e que, em situações de extrema dificuldade, decidiram
cuidar da vida.
Que belo é este Deus, que, como Jesus, nos chama como crianças para participarmos do
seu Reino. Que belo é podermos responder ao seu chamado servindo aquelas que mais se
parecem com Ele. Que belo é deixar-se envolver pelas crianças e descobrir nelas a face de um
Deus que se fez Ele mesmo pequeno e pobre; que mamou no seio de uma mãe, que chorou por
um machucado, por fome ou por medo; que brincou e aprendeu a conviver com as demais
crianças e que, ainda pequeno, passou pelo perigo da violência.
Que a Pastoral da Criança ajude toda a Igreja e o mundo inteiro a encontrar-se com esse
Deus Criança, deixando de lado a lógica do poder e da produtividade para abraçar a atitude de
simplicidade, carinho e ternura, mais próprias de um filhinho amado do que de um adulto
religioso.

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