Resumo
Introdução
O novo Ensino Fundamental brasileiro (EF) passou a vigorar com a Lei nº
11.274/06, ampliando a sua duração de oito para nove anos. Fato recente na educação
brasileira requer mudanças organizacionais, estruturais, curriculares e de gestão,
sobretudo para as crianças de seis anos que estão em processo de adaptação, como
ressaltam os documentos do Ministério da Educação e Cultura (MEC):
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Referencial teórico
Os documentos oficiais do Ministério da Educação (MEC) reconhecem que o
novo EF implica necessidade de alterações, pois a antecipação do ingresso das crianças
de seis anos requer novas formas de lidar com o processo ensino-aprendizagem e
implica, necessariamente, a ampliação e enriquecimento das oportunidades de
aprendizagem e de vivências por parte das crianças, vinculadas às novas formas de
organizar o tempo, o espaço e as práticas pedagógicas (BRASIL, 2004; 2006a, 2009).
Também evidencia um trabalho contínuo, sem rupturas:
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Método
A metodologia, a Pesquisa Qualitativa e referenciada na abordagem histórico-
cultural tem como sujeitos as crianças, analisados em seu processo de transição da EI
para o EF de nove anos, sucedendo-se em duas fases: no 2º semestre de 2011 com um
grupo de crianças de uma EMEI e no 1º semestre de 2012, com o mesmo grupo de
crianças, mas agora ingressantes da EMEF.
A EMEI pesquisada atende a aproximadamente 125 crianças entre três e seis
anos de idade e a EMEF um total de 554 alunos, do 1º ao 9º ano, sendo muitos deles
crianças da EMEI porque a distância entre elas é de apenas algumas quadras e o critério
para a organização dos agrupamentos de alunos na EMEF é o geo-referenciamento, ou
seja, por ordem de maior proximidade com a rua onde cada escola se situa. A título de
exemplo, no ano de 2011, 50% dos alunos da turma da EMEI pesquisada (5 numa turma
de 10) foram matriculados no primeiro ano na EMEF em foco. E, dentro da classe da
EMEF, além desses cinco alunos tem mais quatro alunos de outras classes da EI que
não foram pesquisadas. Ou seja, do total da sala de aula da EMEF, que é de 25 alunos,
nove deles (36%) são originários da EMEI.
A construção do material empírico ocorreu por meio de vídeogravações em seis
dias na EMEI e na EMEF. Foram atribuídos nomes fictícios para os sujeitos envolvidos
na pesquisa. Os instrumentos de pesquisa foram:
Análise documental: análise dos PPs das EMEI e EMEF e prontuário dos alunos.
Observação participante: registro no diário de campo e fotografia dos espaços
escolares.
Entrevista com as professoras e crianças
Entrevista Narrativa com as crianças: entrevista que supera o modelo
tradicional (pergunta-resposta) que é substituída pelo contar e escutar histórias e
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Resultados parciais
Os resultados parciais desta pesquisa indicaram até o presente momento às
seguintes considerações:
Não, até então assim nunca houve uma orientação, agente tem oque, o projeto
pedagógico nosso né agente formula ele todo ano e agente trabalha os conceitos que
nós achamos né e que a rede toda trabalha que é através dos conceitos mesmos né e
das diversas linguagens. Não tem assim algo específico. (Professora Suelen – EMEI)
Então, a única coisa que agente faz é falar: “-Óh você, é seu último ano nessa escola,
você já vai pra outra escola”. Lá vai ter diferença sim nas atividades e eles mesmos os
pais acabam falando: “-Ah lá você vai aprender a ler e a escrever”. É oque agente
escuta muito, daí eu falo: “-Lá vocês não vão ter a quantidade de brincadeiras que
vocês têm aqui, vocês vão ter algo a mais”. (Professora Suelen – EMEI)
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como é vivenciada essa etapa poderá trazer tanto marcas positivas quanto negativas
sobre o desenvolvimento biopsicológico da criança, justificando a necessidade da
discussão do ingresso no EF na EI.
Com esse trabalho: “Esperamos que as crianças possam partir em busca do novo,
sentindo-se mais seguras de que serão capazes de trilhar caminhos diferentes,
estabelecer novos contatos e ser bem sucedidas nessa nova etapa” (SILVA, 2011, p.62).
A mesma autora destaca algumas atividades que podem ser realizadas nesse processo,
como por exemplo, construção de um mural com todos os momentos ocorridos na
escola, visitas à escola do EF, festa de despedida, dentre outras. Na EMEI houve uma
festa de encerramento mas foi improvisada [talvez pela presença da pesquisadora na
escola], pois de acordo com a professora Suelen da EMEI:
A gente não queria fazer. [...] nós já fazemos a festa da família para valer por todas.
Ficou combinado que era só festa da família.
Antes a criança de seis anos ficava na escola infantil, era um pré. Mas as mães que já
passaram por aqui sabem que é um primeiro ano bem diferenciado da primeira série.
Mas vocês fiquem tranquilas agente vai caminhando né, vão ter livros didáticos pra
levar, então vai ter bastante coisa. (Professora Márcia – EMEF).
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Nove e vinte cinco tô no portão. Por quê? Porque a ansiedade da saída de ir embora,
de não ver a mãe, traz essa expectativa. (Professora Márcia EMEF).
É pra chorar? Não mamãe já vem!. Mas aí a professora vai pedir pras mamães pra no
primeiro dia não atrasar, porque se atrasar cria ansiedade e excitação. (Professora
Márcia EMEF).
Porque tem gente que me assusta, mas agora eu não tô mais com medo. (Sônia).
Quem assusta você? (Pesquisadora).
Tem menino, tem menina. (Sônia)
Tem muita gente, por isso fica assustada? (Pesquisadora).
Afirmativa com a cabeça (Sônia)
Nas falas e nos desenhos das crianças, foi perceptível a noção de que a maioria
das crianças sabe que a escola de EI é diferente do EF, dando as seguintes justificativas:
Porque lá vai ter que fazer lição e levar pra casa... e vai ter aqueles cadernos grandão.
(Manuela, no desenho dialogado).
Lá ele já aprende muita lição, lá não é essas coisas aqui, é outra.. É lápis de cor, é
lápis de escrever.. Canetinha sabe essas coisas aí que tem pra estudar lá. (Ana Clara,
no desenho dialogado)
Porque aqui agente aprende mais coisas né, vai aprendendo coisinha de bebê . Eu
acho que vou aprender várias coisas, muito legais! Eu vou aprender fazer lição, lição
de casa, lição da escola, fazer muitas coisas legais, mas eu não vou poder ir no
parquinho na quadra essas coisas. (Ingrid, no desenho dialogado).
Fato esse é confirmado com as respostas das crianças sobre o que mais terão
saudades de fazer com os amigos quando for para a escola nova. Foi consensual a
resposta de que é brincar, evidenciando a importância dessa atividade para a criança.
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Alice brinca com uma linha na mesa do refeitório e depois começa a passar a linha na
Ariana, em seu cabelo e ela dá risada.
O que você tá brincando Alice? (Pesquisadora durante a merenda)
De nada, tá na hora do lanche. (Alice)
Eu sou a mãe, gente e vocês são os filhos. Luiz, você é o pai (Ana Clara na areia)
Posso te ajudar filha (Ana Clara se dirige à Sônia e ajuda a colocar areia em cima da
mesa da casinha do Tarzan, brinquedo do parquinho)
Eu ia fazer um castelo (Ana Clara)
A gente vai fazer um bolo (Sônia diz à pesquisadora)
Bolo do que? (Pesquisadora)
De morango (Sônia)
De morango, que delícia. Depois você dá um pedaço para mim? (Pesquisadora)
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Você vai virar o urso! Luiz (com o pé de lata dentro da sala de aula na hora da
brincadeira livre)
Ela vai segura de Daminha pro show da Barbie...[ajuda Vânia a colocar o vestido da
caixa de fantasia]. Segura aqui e faz assim, pose porque a gente vai desfilar. Deixa eu
arrumar seu cabelo [simula estar penteando o cabelo de Vânia].
Da piscina e dos brinquedos. De formiguinha e pé-de lata (Rafael, sobre o que mais
sente saudade da EI)
Se você pudesse trazer alguma coisa ou pessoa para essa escola, quem ou o que você
traria? (pesquisadora)
Uma boneca. (Eloísa)
Aqui não tem? (Pesquisadora)
Não. (Eloísa)
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Nas aulas de Educação Física que deveria ocorrer espaço para o faz-de-conta, ele
é subordinado, pois o foco é a aquisição das habilidades motoras:
É mais a parte motora, porque eles estão atrasados pelo gráfico. Eu tenho que
recuperar tudo. [...] Para a idade deles é para estar no estágio maduro. [...] Eu dou
jogos e brincadeiras também , mas eu também dou aula de lançar e agarrar, lançar e
girar... para eles é brincadeira, visando o que está defasado. Jogos e brincadeiras eu
deixo mais para o final do ano. (Professora de Educação Física Silvana).
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Considerações Finais
Através de nossas análises, pudemos identificar importantes aspectos a respeito
da (não) articulação entre a EI e o EF ocorrido no cotidiano escolar. De nosso ponto de
vista, vale a pena sublinhar, juntamente com Zabalza (1998), que a questão da
continuidade e da superação das fragmentações tão comuns nas escolas é crucial para a
construção de um projeto educativo qualitativamente melhor. Conforme este autor diz,
Referências Bibliográficas
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2- Brincar dirigido 30 min - A professora propõe ginástica, às vezes cantando músicas para
tornar motivadora a realização do exercício, bandinha rítmica, cantigas de
roda e brincadeiras tradicionais como garfo/colher, esconde-esconde,
telefone sem fio O tempo para a realização destas atividades é de
aproximadamente 30 minutos.
3- Atividade 30 min - Geralmente a atividade é um desenho a partir de histórias contadas
ou de eventos que acontecem em sala de aula. As crianças escrevem o nome
e também copiam da lousa o título da atividade.
4- Merenda e escovação 30 min - As crianças realizam o auto-servimento e a merenda é refeição,
de dentes como arroz, feijão, uma carne com legume, verdura e uma fruta.
5-Brincar livre 1 h - As crianças brincam livremente na classe, geralmente escolhem
brinquedos, jogos ou computador (30 min). Nos 30 min. finais do dia vão
para o parque ou quadra.
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