Você está na página 1de 140

Informe Agropecuário

Uma publicação da EPAMIG


v.27 n.233 jul./ago. 2006
Belo Horizonte-MG

Sumário
Editorial ............................................................................................................................. 3

Entrevista ........................................................................................................................... 4

Importância do milho em Minas Gerais


Apresentação João Carlos Garcia, Marcos Joaquim Mattoso e Jason de Oliveira Duarte ........................ 7
Em termos de modernização da agricultura
brasileira, a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) Exigências climáticas do milho em Sistema Plantio Direto
é uma realidade inquestionável, com destaque para Wilson Jesus da Silva, Luiz Marcelo Aguiar Sans, Paulo César Magalhães e
a cultura do milho, que, por sua versatilidade, adapta-
Frederico Ozanan Machado Durães ................................................................................. 14
se a diferentes sistemas de produção. A cultura do
milho é fundamental em programas de rotação de
culturas em SPD, por proporcionar grande produ- Manejo da fertilidade do solo para a cultura do milho
ção de fitomassa de alta relação carbono/nitrogênio. Jeferson Antônio de Souza ................................................................................................ 26
A sustentabilidade de um sistema de produção não
está apoiada apenas em aspectos de conservação e
preservação ambiental, mas também em aspectos Manejo da cultura do milho em Sistema Plantio Direto
econômicos e comerciais. José Carlos Cruz, Israel Alexandre Pereira Filho, Ramon Costa Alvarenga,
Com a opção do plantio direto, os produtores Miguel Marques Gontijo Neto, João Herbert Moreira Viana, Maurílio Fernandes
rurais passaram a se preocupar com a manutenção
de Oliveira e Derli Prudente Santana ................................................................................. 42
da cobertura do solo, rotação de culturas e recupera-
ção das áreas, principalmente aquelas com pastagens
degradadas, onde o milho surge como uma alternativa Manejo de plantas daninhas na cultura do milho
viável. Todas essas alterações no sistema produtivo José Mauro Valente Paes e Roberto Kazuhiko Zito ............................................................. 54
contribuem para altos rendimentos obtidos em cul-
tivos racionais da terra, sem degradá-la.
A cultura do milho destaca-se ainda no contexto
Manejo de pragas da cultura de milho em Sistema Plantio Direto
da integração lavoura-pecuária devido às inúmeras Ivan Cruz e Américo Iorio Ciociola Jr. ................................................................................ 66
aplicações que este cereal tem dentro da propriedade
agrícola, quer seja na alimentação animal, na forma Principais doenças da cultura do milho
de grãos ou de forragem verde ou conservada (rolão,
Nicésio Filadelfo Janssen de Almeida Pinto, Maria Amélia dos Santos e
silagem), na alimentação humana ou na geração de
receita mediante a comercialização da produção Dulândula Silva Miguel Wruck ........................................................................................... 82
excedente. Para que essa integração seja implantada,
deve ser precedida de vários cuidados referentes ao Aspectos de produção e mercado do milho
diagnóstico do solo, escolha da cultivar de milho e
Marcos Joaquim Mattoso, João Carlos Garcia, Jason de Oliveira Duarte e
da forrageira, dentre outros.
Esta edição do Informe Agropecuário mostra a José Carlos Cruz ............................................................................................................... 95
importância do milho na cadeia produtiva de suínos
e aves, apresentando técnicas de correção e manu- Cultura do milho na integração lavoura-pecuária
tenção da fertilidade do solo, manejo de pragas,
Ramon Costa Alvarenga, Tarcísio Cobucci, João Kluthcouski, Flávio Jesus Wruck,
doenças e plantas daninhas, produção de milho orgâ-
nico e na integração lavoura-pecuária associadas às José Carlos Cruz e Miguel Marques Gontijo Neto .............................................................. 106
exigências climáticas, que são imprescindíveis para
a sustentabilidade da cultura do milho no Sistema Produção de milho orgânico no Sistema Plantio Direto
Plantio Direto.
Anastácia Fontanétti, João Carlos Cardoso Galvão, Izabel Cristina dos Santos e
José Mauro Valente Paes
Glauco Vieira Miranda ....................................................................................................... 127

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v. 27 n. 233 p. 1-136 jul./ago. 2006


© 1977 EPAMIG Informe Agropecuário é uma publicação da
ISSN 0100-3364
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
INPI: 006505007
EPAMIG

CONSELHO DE
É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem
DIFUSÃO DE TECNOLOGIA E PUBLICAÇÕES
autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
Baldonedo Arthur Napoleão
Luiz Carlos Gomes Guerra EPAMIG.
Manoel Duarte Xavier
Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Álvaro Sevarolli Capute
da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Maria Lélia Rodriguez Simão
Artur Fernandes Gonçalves Filho
Júlia Salles Tavares Mendes Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas
Cristina Barbosa Assis para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
Vânia Lacerda EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
DEPARTAMENTO DE TRANSFERÊNCIA
O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA
publicação da edição.
Cristina Barbosa Assis

Assinatura anual: 6 exemplares


DIVISÃO DE PUBLICAÇÕES
EDITOR Aquisição de exemplares
Vânia Lacerda Setor Comercial de Publicação
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova
COORDENAÇÃO TÉCNICA Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte - MG
José Mauro Valente Paes
Telefax: (31) 3488-6688
E-mail: publicacao@epamig.br - Site: www.epamig.br
REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA
CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047
Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira

NORMALIZAÇÃO
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira
Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
PRODUÇÃO E ARTE
Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
Diagramação/formatação: Rosangela Maria Mota Ennes, v.: il.
Maria Alice Vieira, Fabriciano Chaves Amaral e Letícia Martinez
Capa: Letícia Martinez Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
Foto da capa: Erasmo Pereira
ISSN 0100-3364
PUBLICIDADE
1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Décio Corrêa
Econômico. I. EPAMIG.
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova
Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG CDD 630.5
Telefone: (31) 3488-8565
publicidade@epamig.br
O Informe Agropecuário é indexado na
AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Governo do Estado de Minas Gerais


Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária - EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV

A EPAMIG integra o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, coordenado pela EMBRAPA


Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Plantio Direto
Marco Antonio Rodrigues da Cunha
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Conselho de Administração
garante sustentabilidade
Marco Antonio Rodrigues da Cunha
Baldonedo Arthur Napoleão
Silvio Crestana
Maria Lélia Rodriguez Simão
para a cultura do milho
Osmar Aleixo Rodrigues Filho
Décio Bruxel A importância econômica do milho baseia-se nas suas
Sandra Gesteira Coelho
Adauto Ferreira Barcelos diversas formas de utilização, que vai desde a alimentação animal
Willian Brandt até a indústria de alta tecnologia. Na realidade, o uso do milho em
Joanito Campos Júnior
Helton Mattana Saturnino grão como alimentação animal representa a maior parte do
Conselho Fiscal
Carmo Robilota Zeitune consumo desse cereal, cerca de 70% no mundo. Nos Estados
Heli de Oliveira Penido Unidos, aproximadamente 50% são destinados a esse fim, enquanto
José Clementino dos Santos
Evandro de Oliveira Neiva que no Brasil varia de 60% a 80% de ano para ano.
Márcia Dias da Cruz
Celso Costa Moreira Dentro da evolução mundial de produção de milho, o Brasil
Presidência tem-se destacado como terceiro maior produtor, com 40,8 milhões
Baldonedo Arthur Napoleão
de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com 280
Diretoria de Operações Técnicas
Manoel Duarte Xavier milhões de toneladas, e da China, com 131 milhões de toneladas.
Diretoria de Administração e Finanças
Luiz Carlos Gomes Guerra O milho é cultivado em praticamente todo o território na-
Gabinete da Presidência cional, sendo que 90% da produção concentra-se nas Regiões Sul,
Álvaro Sevarolli Capute
Assessoria de Comunicação Sudeste e Centro-Oeste. Em Minas Gerais a cultura do milho está
Roseney Maria de Oliveira localizada nas regiões Sul e Oeste do Estado, com uma produção
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional
Ronara Dias Adorno de 6,2 milhões de toneladas, em 2005.
Assessoria de Informática A cultura do milho tem apresentado grande capacidade de
Renato Damasceno Netto
Assessoria Jurídica implementar sistemas de produção competitivos e ajustados para
Paulo Otaviano Bernis
Assessoria de Planejamento e Coordenação
condições variadas. Essa característica faz do milho um dos grãos
José Roberto Enoque mais cultivados no Brasil e no mundo. A utilização do Sistema Plantio
Assessoria de Relações Institucionais
Artur Fernandes Gonçalves Filho Direto (SPD) na agricultura brasileira é um avanço e a participação
Auditoria Interna da cultura do milho em sistemas de rotação e sucessão de culturas
Carlos Roberto Ditadi
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia para assegurar a sustentabilidade desse sistema é imprescindível.
Cristina Barbosa Assis
O SPD requer cuidados em sua implantação, mas depois de esta-
Departamento de Pesquisa
Maria Lélia Rodriguez Simão belecido, traz benefícios econômicos e ambientais.
Departamento de Negócios Tecnológicos
Artur Fernandes Gonçalves Filho Por tudo isso e pela adaptação em diferentes regiões e níveis
Departamento de Prospecção de Demandas tecnológicos, o SPD tem-se sobressaído entre os produtores de
Júlia Salles Tavares Mendes
Departamento de Recursos Humanos milho, do grande ao pequeno agricultor. A demanda do grão para
Flávio Luiz Magela Peixoto
Departamento de Patrimônio e Administração Geral alimentação animal e o grande contingente de pequenos produtores
Marlene do Couto Souza
inseridos na produção de milho possibilitaram também a implan-
Departamento de Obras e Transportes
Luiz Fernando Drummond Alves tação do sistema de integração lavoura-pecuária, que consiste no
Departamento de Contabilidade e Finanças
Celina Maria dos Santos cultivo em rotação ou consorciação de culturas anuais como milho,
Instituto de Laticínios Cândido Tostes sorgo e milheto com espécies forrageiras.
Gérson Occhi
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo Nesta edição do Informe Agropecuário são apresentadas
Marcello Garcia Campos
Centro Tecnológico do Sul de Minas tecnologias para produção do milho em SPD, resultantes de estudos
Edson Marques da Silva
e experimentações, que apontam o caminho para a sustentabilidade
Centro Tecnológico do Norte de Minas
Marco Antonio Viana Leite e produtividade da cultura do milho no Brasil.
Centro Tecnológico da Zona da Mata
Juliana Cristina Vieccelli de Carvalho
Centro Tecnológico do Centro-Oeste Baldonedo Arthur Napoleão
Cláudio Egon Facion
Centro Tecnológico do Triângulo e Alto Paranaíba Presidente da EPAMIG
Roberto Kazuhiko Zito

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, jul./ago. 2006


Milho em Sistema Plantio Direto:
evolução na agricultura brasileira
O diretor-executivo do Grupo Ma Shou Tao, Jônadan
Ma, é formado em Engenharia Agronômica pela Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), SP, com
MBA Executivo em Gestão Empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas, RJ.
O Grupo Ma Shou Tao, presente no município de
Conquista, MG, desde 1973, é composto por seis fazendas
e quatro empresas nas áreas de alimentos, armazéns gerais,
comercialização e produção agropecuária.
Para a cultura do milho, a Ma Shou Tao tem cerca de
400 a 600 ha dedicados à produção de grãos, que alcança
produtividade de 9.500 kg/ha e, para silagem, em torno
de 45 t/ha.
De acordo com Jônadan Ma, a evolução das cultu-
ras do milho e da soja no Oeste do Estado é resultado do
investimento maciço na pesquisa, por meio de parcerias
com a Embrapa, EPAMIG e outras instituições afins, sempre
buscando qualidade, preservação ambiental e valorização
do homem do campo.

IA - A agricultura brasileira vem pas- sacas por hectare no sistema de rotação com a tecnologia atual produzir-se em
sando por momentos difíceis. Qual de culturas, o cenário não é favorável. torno de 100 sacas por hectare.
o cenário futuro para a cultura do Já para quem adota alta tecnologia e Vejo então um cenário futuro para o
milho? busca produtividade superior a 120 sa- milho de estabilidade na safra de ve-
Jônadan Ma – A cultura do milho cas por hectare, o cenário futuro, pelo rão e de crescimento para a safrinha,
tem sido muito utilizada em dois sis- menos para a próxima safra, é bastante como tentativa de o produtor rural
temas de produção no Brasil Central: positivo, uma vez que o custo de produ- garantir a sua renda, além da cultura
na rotação de culturas com a soja e ção desta cultura situa-se em torno de tradicional que é a soja.
em sucessão (safrinha) à cultura da 115 sacas por hectare aos preços atuais Em relação aos preços, também o
soja. de R$14,00 por saca. cenário é de estabilidade nos mercados
O cenário deve ser traçado com base Agora, para quem tem um sistema interno e externo, menos sujeitos a que-
no nível tecnológico adotado, diante da que permita adotar a safrinha em suces- das nos preços internacionais, princi-
expectativa de produtividade e dos valo- são à soja, o cenário futuro é bastante palmente devido ao uso do milho para
res praticados no mercado. Considerando- promissor, já que com baixos custos (na produção de etanol nos EUA, que con-
se um nível tecnológico baixo, que per- ordem de 70 a 80 sacas) e com a ocor- sumirá boa parte do excedente mun-
mita obter produtividades de até 110 rência de clima adequado, é possível dial.

I n f o r m e AI ngfroor pmeec Au gá rroi op e, cBu áe rl ioo , HBoerl oi z Ho on rt iez,o nvt.e2, 7v,. 2n7., 2n3. 32 3, 3j,ujlu. l/.a/ ag goo. . 22 00 00 66
IA - A utilização do Sistema Plantio Di- ser altamente exigente e obrigar o agri- de-cisto é de fundamental importância
reto (SPD) na palha é importante cultor a fazer uma adequada mensu- que esta rotação de culturas contemple
para a evolução da cultura do mi- ração do que a cultura de cobertura o milho. A rotação é altamente eficaz pa-
lho no Brasil? pode estar oferecendo naquela safra. ra reduzir a população de nematóides-
Resumindo, com o SPD podemos de-cisto, de todas as raças conhecidas.
Jônadan Ma – Sem dúvida alguma!
alcançar um solo e um ambiente muito Já para os nematóides-de-galha,
A cultura do milho foi e continua sen-
mais equilibrados. Isso, de certa forma, existem diferenças na eficácia das culti-
do fundamental para a evolução do SPD
irá propiciar maior eficiência das tecno- vares para o controle populacional des-
e vice-versa.
logias adotadas e uma possível redução ses nematóides.
O SPD está permitindo a evolução
dos insumos. A EPAMIG, em parceria com a Fun-
geral da agricultura no Brasil, passando
necessariamente pelo milho, ainda mais dação Triângulo de Pesquisa e Desen-
IA - Qual a importância do milho na volvimento, realiza um ensaio estadual
com o incremento e o desenvolvimen-
ILP? há vários anos com diversos híbridos
to da tecnologia integração lavoura-
pecuária (ILP), por meio do Sistema Jônadan Ma – Diria que a ILP é de nas principais regiões produtoras do
Santa Fé, que adota o milho como cul- importância vital e fundamental. É por Estado, que demonstra quais híbridos
tura base para implantação da braquiá- meio do milho como cultura base que oferecem maior ou menor capacidade
ria em consórcio e sucessão para explo- esta tecnologia está sendo implantada de multiplicação dos nematóides-de-
ração da pecuária, tanto de leite como com tanto sucesso. O Sistema Santa Fé, galha, informações estas que devem ser
de corte. que adotamos para implantação da ILP, mais exploradas pelos produtores e pe-
preconiza que a cultura da Brachiaria las empresas.
IA - Com a utilização do SPD na palha brizantha (utilizada em nossos campos
é possível reduzir a utilização de de produção) seja implantada junto IA - Qual a sua opinião sobre o plantio
insumos na cultura do milho? com a cultura do milho, preservando o de milho utilizando o mesmo
potencial de produtividade do milho, espaçamento para o plantio da
Jônadan Ma – O SPD exige a ado-
sem permitir concorrência e mantendo soja?
ção integrada do manejo de solos e do
a braquiária suprimida até o momento Jônadan Ma – O incremento na pro-
manejo cultural, associado ao manejo
em que a luz solar penetre nas entreli- dutividade do milho tem encontrado
estratégico das culturas. Essa integração
nhas. Por ocasião da pré-colheita e logo paralelo com a redução do espaçamen-
de tecnologias, associada ao bom sen-
após a colheita do milho, essa forra- to. Minha opinião é que o produtor
so do agricultor, permite a redução de
geira pode-se desenvolver livremente, rural deve-se adequar a três pontos antes
insumos na cultura do milho, principal-
formando assim uma bela pastagem 30 de adotar o mesmo espaçamento para
mente em relação ao uso de agroquími-
a 40 dias após. Esta técnica pode ser o plantio de soja. O primeiro ponto a
cos e fertilizantes. Existem culturas de
facilmente adotada por todos os produ- ser considerado é se ele já adota as prin-
cobertura de inverno que se bem mane-
tores de milho que buscam um aumento cipais tecnologias como manejo de ferti-
jadas, não apenas promovem melhor
na renda por hectare, uma vez que após lidade, manejo de pragas e manejo cul-
cobertura do solo, reduzindo o poten-
a cultura do milho é possível explorar tural, além do SPD. O segundo é saber
cial de ocorrência de plantas daninhas,
a pecuária por mais 150 a 180 dias na qual o histórico de evolução da produti-
como também reciclam nutrientes como
mesma área. vidade de milho do produtor e aonde
K, N entre outros, que permitem econo-
mia na utilização de herbicidas e mesmo ele quer chegar. E o terceiro é avaliar se
IA - A utilização da cultura do milho ele tem estrutura financeira e técnica
na adubação.
na rotação de culturas é eficaz para
Em relação à adubação, deve-se to- para investir em equipamentos, no caso,
o manejo de nematóides?
mar mais cuidado para redução na utili- plataforma de milho com espaçamento
zação do adubo, pelo fato de a cultura Jônadan Ma – Para os nematóides- da soja.
II nn ffoorrmmee A Ag rgorpoepceucáur iáor, i oB ,e l oB eHloor i zHoonrtiez, ovn. t2e7,, nv..22373, , jnu.l 2. /3a4g ,o . s2e0t0. /6o u t . 2 0 0 6
Vejo esta técnica como uma das proíbe o plantio do milho transgênico mais diversas tecnologias, mas com di-
últimas a ser adotada, se os três pontos em solos brasileiros, mas permite a ferencial de terem custo-benefício mais
forem perfeitamente atendidos. importação de milho transgênico de acessíveis ao produtor brasileiro.
outros países para o uso na fabricação
IA - Qual a perspectiva para o milho de ração animal. IA - A EPAMIG desenvolve ensaios de
transgênico no Brasil? Infelizmente, é um tremendo contra- avaliação de cultivares de milho no

Jônadan Ma – Vejo essa questão senso! estado de Minas Gerais em parceria

com muita frustração e com bastante O mercado internacional, consumi- com a Fundação Triângulo e as

apreensão. dor da proteína animal produzida no empresas privadas e oficiais que são

Frustração porque as questões con- Brasil, da qual o País é um dos maiores detentoras de cultivares de milho.

ceituais e filosóficas estão acima das exportadores mundiais, não faz res- Qual a importância desse trabalho

necessidades tecnológica e econômica trição nenhuma ao milho utilizado para o agricultor mineiro?

do agronegócio brasileiro. na ração animal, seja transgênico ou


Jônadan Ma – Esse trabalho é de
Apreensão porque a demora e a falta não.
grande importância para todos os
de vontade na liberação do milho trans- Pelo contrário, estamos perdendo
componentes da cadeia produtiva do
gênico no Brasil estão abrindo portas, competitividades interna e externa, pelo
milho, desde a semente até o consumi-
a partir do Sul do País, para híbridos fato de estarmos produzindo um milho
dor final, mas infelizmente muito pou-
contrabandeados da Argentina e Para- não-transgênico com custos muito mais
co explorada e aproveitada pelos com-
guai, afetando assim a produção legal elevados que o milho transgênico.
ponentes técnicos da cadeia, na qual
de sementes, embora a cultura seja alta- Enquanto o milho transgênico BT
incluímos o produtor rural.
mente dependente do sistema de me- não recebe qualquer aplicação de inse-
Informações como: quais os híbri-
lhoramento privado. ticida, o milho convencional recebe du-
dos mais adaptados e produtivos para
Não creio que a pirataria estenda-se rante o cultivo pelo menos três a cinco
cada região; quais os híbridos que su-
para a região do Brasil Central, devido aplicações. O consumidor deve levar
primem ou multiplicam os nematóides-
à limitação de adaptação dos híbridos em conta o impacto de agrotóxicos que
de-galha que, por sua vez, podem afe-
contrabandeados. Entretanto, pode afe- o milho convencional tem a mais que o
tar a cultura da soja, dependendo da
tar a condição de segregação do milho milho transgênico.
variedade a ser utilizada; quais as me-
produzido legalmente. lhores tecnologias que permitem maior
Pelo fato de ser uma cultura de poli- IA - De que forma a pesquisa oficial do
desempenho médio da cultura; qual a
nização cruzada, acredito que o milho Brasil tem contribuído para o siste-
melhor época de plantio ao longo dos
transgênico no Brasil não vá ser libe- ma de produção de milho?
anos para cada região; dentre outras,
rado enquanto a linha ambientalista Jônadan Ma – A contribuição da atestam a importância dessa pesquisa
tiver o poder de decisão nos órgãos fe- pesquisa tem ocorrido principalmente para todos os que trabalham e depen-
derais. em duas linhas: dem da cultura do milho. Portanto, te-
Primeiro no desenvolvimento de tec- mos que motivar empresas, produtores
IA - Quais as vantagens para o mercado nologias básicas, tanto nos fatores de e consumidores de milho a incentivar
brasileiro com a produção de grãos construção da produtividade como nos iniciativas como estas, que só existem
de milho não-transgênicos? de proteção. porque são realizadas por técnicos e
Jônadan Ma – Não vejo mais van- E segundo, no desenvolvimento de pesquisadores que se dedicam ao de-
tagem alguma, uma vez que o governo híbridos e variedades adequadas às senvolvimento do agricultor mineiro.

Por Vânia Lacerda

I n f o r m e AI ngf roor m
p ee cAugárroi po e, c Bu áerl ioo , HBoe rl oi zHo on rt iez ,o nvt .e2, 7v,. 2n7 ., 2n3. 23 3, 3 j, uj lu. l/.a/ aggoo. . 22 00 0066
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 7

Importância do milho em Minas Gerais


João Carlos Garcia 1
Marcos Joaquim Mattoso 2
Jason de Oliveira Duarte 3

Resumo - O milho é um dos grãos que dominam o mercado agrícola no mundo, juntamente
com o arroz, o trigo e a soja. Representa a maior quantidade produzida, é também o
cereal que tem registrado maiores incrementos de produção nos últimos anos e um dos
produtos mais tradicionais da agricultura mineira. Em Minas Gerais, observa-se que o
crescimento da produção de milho decorre principalmente do aumento do rendimento
das lavouras e que esse crescimento não vem ocorrendo de maneira uniforme nas
diferentes regiões de planejamento do Estado. Uma avaliação do desenvolvimento da
cultura do milho nas regiões de planejamento é apresentada, assim como a visão das
perspectivas futuras para esse cereal, em Minas Gerais.
Palavras-chave: Zea mays. Economia. Produção.

INTRODUÇÃO do milho, tanto como alimento humano, co- ram desde formas de utilização, até a cris-
A domesticação do milho ocorreu no mo alimento animal. Esta característica o talização de técnicas envolvidas em seu
que é hoje território do México, a partir de torna um produto estratégico para países processo de produção. Existia, e até hoje
um ancestral selvagem, o teosinte. A par- de alta e de baixa renda. Embora em países existe em grande número de propriedades
tir daí, esse cereal passou a ser cultivado mais desenvolvidos o milho seja destinado mineiras, todo o complexo sistema de pro-
em todas as Américas, pelos nativos e, principalmente à alimentação animal, ainda dução e consumo de milho, cuja caracte-
após, foi levado para a Europa, África e é um importante componente da alimenta- rística principal é ser direcionado para o
Ásia. Hoje é cultivado em uma ampla varie- ção da população de muitos países, princi- interior das fazendas. Esse sistema de pro-
dade de ambientes e com o uso da mais palmente da África e da América Central. dução/consumo envolve tanto a alimen-
diversificada tecnologia de produção, o que Deve-se considerar que, à medida que a tação dos moradores da propriedade, como
tem possibilitado essa adaptação. renda e a urbanização da população cres- dos animais (seja para trabalho, seja para
O milho é um dos grãos que dominam o cem, o consumo de produtos de origem ani- produção de carne).
mercado agrícola no mundo, juntamente mal aumenta em proporção maior do que a A crescente urbanização deslocou o
com o arroz, o trigo e a soja. Esse cereal re- de produtos como o arroz e o trigo. Assim, consumo para as cidades e criou a neces-
presenta a maior quantidade produzida e deve-se esperar a transição gradual de uso sidade do estabelecimento de novas for-
também o que tem registrado maiores incre- do milho na alimentação humana para outras mas de produção, voltadas para o abas-
mentos de produção nos últimos anos. Isto formas de utilização, mesmo em países mais tecimento urbano. As cidades foram, no
se deve, principalmente, ao crescimento da pobres. início, abastecidas por eventuais exceden-
produtividade nos países em desenvol- O milho é um dos produtos mais tradi- tes de produção das fazendas que, grada-
vimento. O crescimento da produção é re- cionais da agricultura mineira. Seu cultivo, tivamente, foram substituídos pelo pro-
sultado do desenvolvimento do mercado, desde os tempos da colonização, estabe- duto oriundo de formas especializadas de
proporcionado pelas possibilidades do uso leceu fortes laços culturais, que envolve- produção. Isto aconteceu tanto no que diz

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: garcia@cnpms.embrapa.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mattoso@cnpms.
embrapa.br
3
Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jason@cnpms.
embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006


8 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

respeito à transformação industrial do mi-


lho, quanto à criação de animais confina-
dos (produção de carne de aves, de suínos,
produção de ovos e, mais recentemente,
confinamento de bovinos). O desenvolvi-
mento acelerado das atividades de alimen-
tação animal caracterizou definitivamente
essas atividades como o destino principal
do milho.
Essa visão do desenvolvimento do mer-
cado do milho, em conjunto com a consta-
tação de que ainda existe, na agricultura
mineira, um misto de produtores que, por
suas características individuais, agroeco-
lógicas das suas propriedades e mesmo
pela localização destas, em relação aos cen-
tros de consumo, exerce diferentes graus
de inserção no mercado, é necessária para Gráfico 1 - Produção (1.000 t) e área colhida (1.000 ha) de milho em Minas Gerais –
a análise dos sistemas de produção em uso, 1996-2006
e de como as mudanças que ocorrem nos
FONTE: CONAB (2006).
diferentes elos da cadeia de produção de
(1) Dados preliminares.
milho afetam tanto os produtores como os
consumidores.

PRODUÇÃO QUADRO 1 - Quantidade produzida, área colhida e rendimento de milho - Brasil, Minas Gerais e

No estado de Minas Gerais, observa- Regiões de Planejamento de Minas Gerais em 2005

se que o crescimento da produção é de- Quantidade


Área Rendimento
corrente do aumento do rendimento e não produzida
da área plantada, que praticamente estag- Região Cresci- Cresci- Cresci-
2005 2005 2005
nou ao redor de 1,3 milhão de hectares mento mento mento
(t) (ha) (kg ha-1)
nas últimas safras. O aumento da produ- (% a.a.) (% a.a.) (% a.a.)
ção, que passou de cerca de 3,6 milhões Brasil 34.813.222 2,39 11.452.709 -0,74 3.040 3,09
para 6,3 milhões de toneladas, foi devido
ao incremento no rendimento agrícola em Minas Gerais 6.243.873 4,88 1.353.544 -0,84 4.613 5,70
cerca de 2.136 kg ha-1, atingindo cerca de
Noroeste 763.857 5,52 140.510 0,99 5.436 4,46
4.600 kg ha-1, no fim do período 1994-2005
(Gráfico 1). Norte de Minas 244.082 5,55 115.950 -0,87 2.105 6,29

Jequitinhonha/Mucuri 48.685 1,72 23.277 -5,14 2.092 6,77


Distribuição da cultura
no Estado Triângulo 997.307 4,43 178.416 -0,01 5.590 4,44

A produção de milho em Minas Gerais Alto Paranaíba 1.154.870 5,95 193.325 0,56 5.974 5,35
está concentrada nas regiões situadas no Central 479.521 1,18 131.841 -3,77 3.637 4,93
Sul e no Oeste do Estado, como o Sul de
Rio Doce 193.736 1,46 67.506 -6,27 2.870 7,58
Minas, Triângulo, Alto Paranaíba e No-
roeste (Quadro 1). As causas dessa con- Centro-Oeste 539.431 7,15 114.204 1,13 4.723 6,01
centração estão tanto nas condições agro- Sul de Minas 1.517.122 7,04 296.406 1,77 5.118 5,25
ecológicas (clima, topografia, etc.) mais
Mata 305.262 -0,48 92.109 -4,53 3.314 4,08
favoráveis dessas regiões, como também
pela proximidade de mercado e pela organi- FONTE: IBGE (2006) e LSPA (1994 a 2005).
zação comercial e gerencial das proprie- NOTA: Taxas de crescimento no período 1994-2005.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 9

dades produtoras, o que induz e facilita a lização. A competição entre as diferentes Causas de expansão
introdução de tecnologias de produção possibilidades de explorações agropecuá- O crescimento da produção de milho
mais competitivas. Essas condições con- rias define o padrão tecnológico daquelas em Minas Gerais não ocorreu de maneira
tribuíram para o crescimento inicial da área que se desenvolverão com maior intensi- uniforme nas diferentes regiões de pla-
plantada e, mais recentemente, para o incre- dade, restringindo a área daquelas explo- nejamento (Quadro 1). No Sul de Minas
mento dos rendimentos agrícolas, que se rações que não conseguem incorporar um (a região mais importante no que diz res-
mostram muito diferenciados entre os mu- padrão tecnológico competitivo. Isto pode peito à produção de milho no Estado) e no
nicípios do Estado (Fig. 1). ser verdade, mesmo no que diz respeito ao Centro-Oeste, a produção dobrou no pe-
Por constituírem regiões com tradição próprio desenvolvimento agrícola nas re- ríodo analisado. As regiões Noroeste, Alto
agrícola, ou regiões que se beneficiaram giões. Nesse caso, se o conjunto das pos- Paranaíba e Norte de Minas apresentaram
dos programas de desenvolvimento dos síveis explorações agrícolas revelar poucas crescimento superior ao do Estado. A pro-
Cerrados, uma ampla rede de distribuição delas com grau de competitividade de mer- dução colhida no Triângulo cresceu a uma
de insumos foi estabelecida (o que facili- cado, o desenvolvimento regional do setor taxa semelhante à de Minas Gerais. Nas
ta inclusive a assistência técnica oferecida agrícola estará comprometido. Esta situa- outras regiões, a produção está praticamen-
pelas indústrias fabricantes de insumos), ção verifica-se em algumas regiões do leste te estagnada. A quantidade de milho co-
de transporte e de estruturas de comercia- e norte/nordeste do estado de Minas Gerais. lhida na região do Jequitinhonha/Mucuri é

Figura 1 - Distribuição do rendimento agrícola das lavouras de milho em municípios de Minas Gerais – média de 2004/2005
FONTE: IBGE (2006).
Elaboração: Laboratório de Geoprocessamento da Embrapa Milho e Sorgo.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006


10 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

praticamente inexpressiva diante das outras cado consumidor de produtos que utili- dimentos agrícolas que, entretanto, ainda
regiões. zam o milho como insumo. Existem pólos são baixos.
As fontes de crescimento da produção importantes de produção de aves e suínos
variam entre as regiões do Estado. À exce- para o abastecimento do mercado regional Região III (Sul de Minas)
ção das regiões Centro-Oeste, Sul de Mi- e exportação para outras regiões do Brasil. Esta região, que apresenta fortes vín-
nas, Noroeste e Alto Paranaíba, que apre- É o maior pólo regional de produção de culos com o estado de São Paulo, tem tido
sentaram crescimento na área plantada, as aves e o terceiro em produção de suínos, seu perfil econômico alterado pelo proces-
outras ou estabilizaram ou reduziram a área que são abastecidos principalmente por so de industrialização, causado pela des-
com milho. Em algumas, como a Central, milho transportado de outras regiões do centralização espacial da indústria paulista.
Rio Doce, Mata e Jequitinhonha/Mucuri a Estado (principalmente Triângulo, Alto A proximidade com os centros consumi-
redução da área plantada foi muito expres- Paranaíba e Noroeste). A cultura do milho dores de São Paulo e Rio de Janeiro tem
siva, sendo que dentre estas regiões algu- é realizada, em sua maioria, visando aten- favorecido também o desenvolvimento da
mas são tradicionais produtoras de milho. der ao consumo da propriedade, sendo pecuária leiteira e da indústria de laticínios.
No que diz respeito aos níveis de produ- os pequenos e médios produtores os res- Nessa região localiza-se o principal pólo
tividade obtida e ao seu crescimento, a ponsáveis pela maior parte da produção. produtor de ovos do estado de Minas Ge-
discrepância entre as regiões é conside- No contexto estadual, essa região é a sexta rais. Também é a região que mais produz
rável (Fig. 1). As maiores produtividades maior produtora, sendo o crescimento da milho no Estado e a que apresenta a maior
são verificadas no Triângulo, Alto Para- produção derivado principalmente do área plantada, sendo uma das poucas re-
naíba, Noroeste e no Sul de Minas (acima aumento de produtividade das lavouras de giões onde a área com milho encontra-se
de 5.000 kg ha-1 no ano de 2005) seguidas milho (cerca de 5% ao ano). Apesar do cres- em processo de crescimento. O milho é a
pelas obtidas nas regiões Centro-Oeste cimento, os rendimentos agrícolas obtidos principal cultura temporária, sendo a maior
(ao redor de 4.700 kg ha-1 no ano de 2005), ainda são baixos, superando somente os parte dos grãos colhidos exportada para
Central, Mata, Rio Doce, Norte de Mi- obtidos em regiões com reduzido nível tec- os estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
nas e Jequitinhonha/Mucuri (inferiores a nológico empregado na cultura, como a do O consumo local é reduzido, diante da pro-
3.700 kg ha-1 no ano de 2005). As regiões Jequitinhonha/Mucuri, Norte de Minas e dução disponível. Os rendimentos agrí-
com menor rendimento agrícola da produ- do Rio Doce. colas são altos e têm crescido nos últimos
ção de milho foram também as que apre- anos. Devido à importância da pecuária
sentaram maior redução de área plantada, Região II (Mata) leiteira, grande parte da área com milho
o que pode indicar a perda de competitivi- Nos últimos anos, esta região vem so- destina-se à produção de silagem.
dade dos agricultores locais e conseqüente frendo esvaziamento econômico, fruto da
desinteresse pela cultura, em decorrência estagnação das atividades agrícolas tradi- Região IV (Triângulo)
da menor lucratividade. Outro indicativo cionais. A cultura do milho, hoje concen- A modernização da agricultura, com o
dessa possibilidade está em que as mais trada entre pequenos produtores, não se aproveitamento do Cerrado, adoção de no-
altas taxas de crescimento da produtivida- modernizou e sofre a concorrência pela vas tecnologias, introdução de novas ativi-
de das lavouras de milho, em Minas Gerais, mão-de-obra das atividades urbanas e de dades agrícolas, desenvolvimento da agro-
verificaram-se nas regiões com maior re- outras atividades agrícolas como o café. indústria etc., transformou essa região no
dução de área plantada, o que pode indicar Nesta região também se localizam impor- mais dinâmico pólo agrícola do Estado.
eliminação das lavouras com rendimentos tantes pólos de produção de suínos (é o Verifica-se a introdução de novas culturas
agrícolas muito baixos, isso contribuiria maior pólo de produção em Minas Gerais) na região, como a soja, laranja e cana-de-
para a elevação da média regional. Mesmo e aves (terceiro maior produtor em Minas açúcar, o que vem contribuindo para a esta-
com esse crescimento expressivo, os rendi- Gerais), com empresas de maior porte com bilização da área plantada com milho. O pro-
mentos médios nessas regiões permanecem foco no mercado nacional e atuação no gresso técnico induzido pela pesquisa e o
muito baixos. mercado internacional. A região vem sendo apoio governamental, através dos progra-
É apresentada a seguir uma visão da abastecida por milho produzido no Oeste mas especiais, contribuíram decisivamente
situação nas regiões de planejamento de do Estado, que chega a um preço inferior para essa situação. No caso do milho, os
Minas Gerais: e apresenta melhor padrão de qualidade. rendimentos agrícolas, que já eram altos,
A área plantada com milho decresceu nos elevaram-se ainda mais e hoje situam-se
Região I (Central) últimos dez anos, a uma taxa de cerca de entre os maiores do Brasil. Atualmente, a
Esta região, devido à maior concentra- 4,5% ao ano, e a redução da produção não maioria da produção é obtida em plantios
ção populacional, constitui no maior mer- foi maior, devido ao crescimento dos ren- com características comerciais, com ele-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 11

vado índice de utilização de insumos como estabelecidas no Vão do Paracatu e as si- mamente deficiente. Como decorrência, pre-
fertilizantes e corretivos, mecanização e tuadas nos chapadões. Na porção deno- dominam na região atividades de subsis-
sementes melhoradas de lançamento mais minada Vão do Paracatu, as lavouras são tência nas quais o milho é um componen-
recente. Junto com a região do Alto Para- de caráter familiar e voltadas para a sub- te importante. A produtividade obtida é
naíba constitui o primeiro pólo produtor sistência, com menor produtividade e redu- baixa e instável, variando entre 900 kg ha-1
de suínos e o segundo pólo produtor de zido uso de insumos. Nos chapadões, os e 2.000 kg ha-1 no período analisado. A alta
aves no estado de Minas Gerais, o que re- programas de ocupação do Cerrado indu- taxa de crescimento dos rendimentos, que
presenta um destino interessante para a ziram o desenvolvimento de agricultura de consta no Quadro 1, reflete mais esse pa-
produção local de milho, que não necessita caráter comercial, com ênfase na cultura da drão de flutuação climática e os rendimen-
ser transportada a longa distância até o soja e na utilização de níveis mais elevados tos obtidos em 2003 e 2004 do que o desen-
consumidor. Embora parte do milho seja de insumos agrícolas. As condições de volvimento tecnológico. Em decorrência, a
utilizada na região, parcela considerável produção de milho na região alteraram-se área plantada com esse cereal está em pro-
desse cereal ainda é exportada para outras nessa nova situação, resultando na implan- cesso de redução. O milho produzido é
regiões do Estado. tação de sistemas de produção com maior consumido na região e, diante da estagna-
uso de insumos e melhor gerenciamento. ção das atividades comerciais e produtivas
Região V (Alto Paranaíba) Apesar da concorrência com a soja, a área do setor agrícola, um esforço muito grande
Esta região tem-se caracterizado pelo plantada apresentou crescimento nos últi- será necessário para provocar qualquer
avanço da agricultura comercial e pelo de- mos anos, os rendimentos agrícolas evo- impacto na condução das lavouras.
senvolvimento das atividades de criação luíram a uma taxa anual de crescimento de
animal com maior nível tecnológico. Esse cerca de 4,4%, os quais se situam entre os Região X (Rio Doce)
desenvolvimento tem ocorrido principal- mais elevados de Minas Gerais. A produção A agricultura nesta região tem-se carac-
mente nos chapadões, onde o milho sofre é praticamente toda destinada à exportação terizado por um processo de degradação
a concorrência da soja, por espaço, nas para outras regiões do Estado. ambiental que tem inviabilizado a conti-
áreas de lavouras anuais. Embora influen- nuação do processo produtivo e condu-
ciada pelo desenvolvimento das regiões Região VIII (Norte) zido à estagnação do setor. A situação
vizinhas, a parte da atividade produtiva É a região onde se localizam os muni- da cultura do milho reflete esse ambiente.
ainda é representada pela agricultura tra- cípios da região mineira da Sudene. É mar- A área plantada tende a decrescer e o cres-
dicional. A área plantada com milho tem cada por fatores climáticos adversos e com cimento da produtividade, embora elevado,
crescido levemente nos últimos anos e a economia agrícola centrada na pecuária tem conduzido a rendimentos agrícolas
produção tem-se elevado devido ao aumen- extensiva e na agricultura de subsistência. ainda baixos, com capacidade para resul-
to dos rendimentos agrícolas (que já se A cultura do milho apresenta produtivida- tar em aumento restrito da produção, que
situam em um nível alto). Isso reflete a subs- de reduzida, influenciada por sistemas de é insuficiente para abastecer o mercado lo-
tituição da agricultura tradicional por uma produção com baixa utilização de insumos, cal.
de caráter mais comercial, mais intensiva decorrentes da situação de risco de clima.
no uso de insumos e de mecanização em A área plantada tem-se reduzido e embora PERSPECTIVAS
áreas mais favoráveis. Esta região é expor- a produtividade tenha crescido a uma taxa O desenvolvimento futuro da produção
tadora de milho para outras regiões do elevada, os valores obtidos ainda são muito de milho no estado de Minas Gerais está
Estado. baixos, evoluindo de cerca de 1.000 kg ha-1 ligado ao crescimento das atividades de
para, aproximadamente, 2.000 kg ha-1, entre criação de animais confinados no Estado.
Região VI (Centro-Oeste) 1994 e 2005. É um importante pólo de pro- Esse crescimento servirá de suporte para a
É a região que apresenta maior taxa de dução de ovos e importador de milho de absorção do acréscimo de produção e pa-
crescimento da produção de milho no esta- outras regiões do Estado, principalmente ra remunerar os produtores pela utilização
do de Minas Gerais, resultante do aumento do Noroeste. de sistemas de produção com maior uso
da área plantada e também do rendimento de insumos e pelo melhor gerenciamento
das lavouras. Apresenta características Região IX (Jequitinhonha/Mucuri) das lavouras. Como o milho é um produto
semelhantes às do Sul de Minas. Esta região é considerada a mais pobre que não possibilita, de forma econômica, o
do estado de Minas Gerais. A infra-estrutura transporte para locais muito distantes da-
Região VII (Noroeste) para educação, saúde, comunicação, eletri- queles da produção (com exceção das si-
Esta região apresenta forte contras- ficação, transporte, armazenamento, assis- tuações em que existe logística de trans-
te tecnológico entre as lavouras de milho tência técnica, pesquisa agrícola é extre- porte favorável), é do maior interesse que

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006


12 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

os consumidores estejam próximos desses dições variadas. Os desenvolvimentos


locais. Por outro lado, a eliminação de gar- tecnológicos futuros vão desde ajustes
galos hoje existentes no setor de transporte nos sistemas de produção em uso, até o
ferroviário poderá abrir a possibilidade de desenvolvimento de novos arranjos nos
exportação de milho produzido nas regiões sistemas produtivos, que sejam mais ade-
situadas a oeste do Estado. quados às condições ambientais locais (tais
Devido aos sistemas de comercialização como cultivares e mesmo novos tipos de
ainda pouco desenvolvidos, melhorias cer- insumos). Sistemas de produção adequa-
tamente permitirão aos produtores melhor dos para as regiões mais altas (acima de
remuneração e, conseqüentemente, incen- 700 m) não se têm mostrado tão competiti-
tivo para utilização de sistemas de produ- vos nas regiões mais baixas. O mesmo po-
ção mais competitivos. Mais uma vez, os de ser dito para condições em que déficits
beneficiários serão os agricultores que já hídricos ocorrem com maior freqüência.
se encontram inseridos em atividades co- A elevação constante dos quantitati-
merciais de produção de milho voltadas vos obtidos nos rendimentos agrícolas tem
para o mercado. gerado a necessidade do desenvolvimento
Nas regiões, onde se tem verificado me- de tecnologias para sistemas de produção
nor desenvolvimento da cultura do milho, de alto desempenho, com a utilização de
um esforço maior é necessário, com vistas insumos ainda não comuns nas lavouras
ao desenvolvimento de rede de comercia- de milho e a criação de formas de utilização
lização da produção e também de disponi- daqueles tradicionais.
bilização de insumos para os agricultores. Deve-se chamar a atenção para uma
Esquemas de garantia de compra regional, série de tecnologias de baixo custo, ou
pelos consumidores de milho, poderão seja, plantio em época adequada, análise
induzir ao desenvolvimento de um conjun- de solo, população de plantas, adubação
to de agricultores comerciais de maior de cobertura, controle eficiente de plantas
porte, localizados perto dos mercados con- daninhas e de insetos-praga, que certa-
sumidores, o que seria interessante para mente contribuiriam para adequar os ainda
os processadores. baixos rendimentos obtidos por um grande
número de agricultores com níveis mais
PESQUISA elevados.
Existem regiões no Estado onde a oferta
REFERÊNCIAS
de serviços de assistência técnica (pública
e privada) tem-se mostrado adequada para CONAB. Milho total (1a e 2a safra) – Brasil:
suportar o processo de difusão de novos série histórica de área plantada - safras 1976/77 a
sistemas de produção, assim como é pos- 2005/06. Brasília, 2006. Disponível em: <http://
sível aos agricultores encontrar no mer- www.conab.gov.br/download/ safra/MilhoTotal
cado os insumos que necessita. Nas regiões SerieHist.xls>. Acesso em: 2 maio 2006.
onde esse sistema não é tão desenvolvido,
IBGE. SIDRA. Tabela 1612 - quantidade pro-
ações que possibilitem a sua implantação
duzida, valor de produção, área plantada e
são do maior interesse. Embora essas ações
área colhida da lavoura temporária. Rio de
permitam a difusão dos sistemas de pro-
Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.
dução que já foram testados, ainda existem
sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1612
possibilidades do desenvolvimento e ajus-
&z=t&o=10>. Acesso em: 2 maio 2006.
te de tecnologias mais voltadas para as
características regionais. LSPA. GCEA-MG. Pesquisa mensal de pre-
O milho tem apresentado grande capa- visão e acompanhamento da safra agrícola
cidade de implementar sistemas de pro- de Minas Gerais no ano civil. Belo Horizonte:
dução competitivos e ajustados para con- IBGE. Consultados os anos 1994 a 2005.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.7-12, jul./ago. 2006


14 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Exigências climáticas do milho


em Sistema Plantio Direto
Wilson Jesus da Silva 1
Luiz Marcelo Aguiar Sans 2
Paulo César Magalhães 3
Frederico Ozanan Machado Durães 4

Resumo - A produtividade do milho depende do número de grãos potencialmente capa-


zes de se desenvolver, e o enchimento desses grãos, dos fatores ambientais. A intensidade
com que a cultura do milho expressa seu potencial genético é determinada por sua
interação com o regime de radiação solar, com a temperatura, com o déficit de pressão
de vapor, com a velocidade do vento e com as características físico-hídricas do solo.
Aparentemente, não existe limite máximo de temperatura para a produção de milho,
no entanto, a produtividade tende a diminuir com o aumento dela. As exigências térmi-
cas do milho, da emergência à maturação fisiológica, associadas ao conhecimento da
fenologia da cultura, podem definir a época de plantio, evitando as conseqüências dos
veranicos, a utilização de insumos, fertilizantes, inseticidas, fungicidas e herbicidas e
da colheita dos grãos ou silagem. No plantio direto na palha e com a rotação de culturas
é necessário manejar a época de plantio e as densidades das plantas. O consumo total de
água pelas plantas de milho varia muito com o nível de manejo e com a disponibilidade
de água no solo. A quantidade de água necessária à planta do milho poderá ser estimada
utilizando-se dados climáticos.
Palavras-chave: Zea mays. Radiação solar. Temperatura. Disponibilidade hídrica. Evapo-
transpiração. Coeficiente de cultura. Ecofisiologia vegetal.

INTRODUÇÃO dições climáticas em que a cultura é sub- todo, até região superumida, como a Ama-
O milho, mediante seleção de genóti- metida constituem preponderantes fato- zônia, onde há excessos de umidade e
pos e com o aprimoramento de métodos de res de produção (FANCELLI; DOURADO temperaturas elevadas durante todo o ano.
manejo, vem sendo cultivado em regiões NETO, 2000). Além da variabilidade espacial climática
compreendidas entre os paralelos 58o N O Brasil por sua enorme expansão terri- do Brasil, defronta-se ainda com a variabi-
(Canadá e Rússia) e 40o S (Argentina), dis- torial, o que lhe confere a característica de lidade temporal, ou seja, grandes variações
tribuídas nas mais diversas altitudes, abai- país continental, tem variabilidade ambien- climáticas dentro do ano ou entre anos.
xo do nível do mar (região do mar Cáspio) tal muito grande, principalmente no que se Portanto, como o requerimento de energia
até as regiões com 2.500 m de altitude (re- refere às condições térmicas e hídricas. e de água pelo milho está condicionado
gião dos Andes Peruano). Independente Existe desde região semi-árida como os ser- às condições ambientais, a produtivida-
da tecnologia aplicada, o período e as con- tões nordestinos, quente e seca o tempo de vai variar entre as diferentes condições

Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: wilson@epamig
1

uberaba.com.br
Engo Florestal, D.Sc., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: lsans@cnpms.embrapa.br
2

Engo Agro, Ph.D., Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: pcesar@cnpms.embrapa.br
3

Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. EMBRAPA-CNPMS, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: fduraes@cnpms.embrapa.br
4

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 15

edafoclimáticas. Deve-se, também, ressal- O meio ambiente da cultura é complexo dimento. São plantas de menor altura e
tar a resposta diferencial da planta, devido e difícil de ser conhecido, devido ao seu menor massa vegetativa. Estas caracte-
as suas características ecofisiológicas e ao dinamismo e variações constantes. Porém, rísticas morfológicas determinam menor
manejo que irá receber por influenciarem seu importante papel no crescimento, de- sombreamento dentro da cultura, o que per-
na eficiência do uso da energia e da água. senvolvimento e produção dos grãos de mite pequeno espaçamento entre plantas
O milho, por ser gramínea anual, per- milho não permite que seja desprezado, para melhor aproveitamento de luz. Mesmo
tencente ao grupo de plantas do tipo C4, quando se quer maximizar a produção. Co- entre cultivares normais existem diferenças
possui ampla adaptação climática. Con- mo em todas as culturas, o rendimento dos de densidade, conforme a arquitetura da
forme o fotoperíodo, esse cereal é consi- grãos de milho está intimamente ligado a planta. Sempre que a radiação fotossinte-
derado planta neutra ou de dias curtos. fatores do meio, principalmente os meteo- ticamente ativa interceptada for reduzida e
No estado de Minas Gerais, a cultura rológicos. Assim, neste estudo, serão dis- houver disponibilidade hídrica e de nutri-
do milho tem apresentado alta expansão, cutidos a ecofisiologia da cultura do milho entes, observa-se que a densidade deve
tornando-se importante fonte de divisa. e a ação da radiação, da temperatura, o uso ser aumentada para atingir o máximo rendi-
Esta expansão deve-se ao crescimento da de água pela planta e, posteriormente, o mento de grãos. Verifica-se tendência de
área cultivada e, principalmente, ao respal- efeito da limitação ou excesso desses ele- utilizar cada vez mais espaçamentos redu-
do dado pela pesquisa no que se refere ao mentos na produção. zidos para aumentar a eficiência na utili-
melhoramento genético, controle fitossani- zação de luz solar, água, nutrientes e obter
tário, manejo de solo e densidade de plan- EFEITOS DA RADIAÇÃO SOLAR melhor controle de plantas daninhas, em
tio. Dentre os diversos fatores que afetam E EXIGÊNCIAS TÉRMICAS função do fechamento rápido dos espaços
a produção agrícola, os elementos meteo- disponíveis e redução do impacto das chu-
rológicos destacam-se entre aqueles que Radiação solar vas e dos raios solares no solo, evitando
podem apresentar variações mais bruscas A avaliação da intensidade da radiação erosões hídrica e solar. Já existem agricul-
de ano para ano. Essas variações são fon- solar sobre os solos tropicais é importante tores usando para o milho o mesmo espaça-
tes geradoras de oscilações na produção para a agricultura, passando a exigir nova mento preconizado para a soja (ARGENTA
agrícola, causando expectativa sobre a abordagem técnica. A radiação solar pode et al., 2001).
produção final de grãos nos setores pro- ser identificada por conceito específico, A escolha adequada do arranjo de
dutivo, de transporte, comercialização e como erosão solar, capaz de colocá-la em plantas é uma das práticas de manejo mais
armazenamento. evidência junto a outros fatores condicio- importantes para otimizar o rendimento de
O emprego de métodos inadequados nantes da produção tropical, como aquela grãos de milho, pois afeta diretamente a
de mecanização intensiva, como aração e causada pela água ou pelo vento. Não há interceptação da radiação solar, fator deter-
uso de grades pesadas, tem destruído o como realizar agricultura produtiva e sus- minante da produtividade (ARGENTA et
solo, expondo-o a intensas erosões hídri- tentada nos trópicos sem levar em conta a al., 2001). Cabe destacar que a densidade
cas, eólica e solar, entre outros. Técnicas erosão solar. Na Europa Central (latitude ótima é aquela que apresenta área máxima
eficientes de redução dessas erosões, como de 47o a 34o N), a intensidade da radiação de interceptação da radiação solar (índice
plantio direto na palha, evolução no rela- solar é de 3.349 a 4.186 MJ m-2. Na Europa de área foliar máximo), sem provocar auto-
cionamento com o solo, motivam cada vez Oriental (latitude de 41o 20' a 53o 30' N) é de sobreamento. Setter e Flannigan (1986), em
mais agricultores, mas ainda são relativa- 3.349 a 5.204 MJ m-2. No Brasil (latitude de experimento onde se utilizou sombreamento
mente pouco usadas. 5o N a 34o S) fica entre 5.024 e 6.699 MJ m-2, artificial durante o crescimento dos grãos,
Quando há interesse em conhecer qual portanto, 50% mais forte que na Europa não observaram alterações na taxa de cres-
o comportamento da cultura em relação Central (BLEY JUNIOR, 1999) cimento, mas reduções no tempo de cres-
ao clima, procura-se determinar quais as A intensidade com que a cultura do mi- cimento, resultando em grãos mais leves.
funções biológicas responsáveis pelo seu lho expressa seu potencial genético é de- A produtividade dos grãos de milho (Y),
crescimento e desenvolvimento, que estão terminada por sua interação com o regime segundo Andrade (1992), pode ser expres-
diretamente ligadas com os diferentes ele- de radiação solar, temperatura do ar, déficit sa pela seguinte equação:
mentos meteorológicos. Especificamente, de pressão de vapor, velocidade do vento
Y = Ro . Ei . Ec . p,
com o objetivo de determinar a influência e características físico-hídricas do solo.
dos elementos meteorológicos na produ- Cultivares precoces, principalmente as em que “Ro” é a radiação solar incidente;
ção de grãos, torna-se necessário associar superprecoces exigem maior densidade de “Ei” é a eficiência da interceptação da radia-
os estudos agroclimáticos com as obser- plantio em relação às cultivares normais ou ção solar incidente; “Ec” é a eficiência de
vações fenológicas. tardias, para expressarem seu máximo ren- conversão da radiação solar interceptada
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
16 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

pela biomassa vegetal e “p” é a partição de tropicais e subtropicais, é essencial repor torna o período compreendido entre 15 dias
fotoassimilados de interesse comercial. os estoques de carbono (BLEY JUNIOR, antes e 15 dias após o aparecimento da
Acontece que a radiação solar incidente é 1999). inflorescência masculina extremamente
função da localização geográfica da área Leopold (1964) considera a intensidade crítico. Daí, a razão pela qual esta fase deva
de produção (latitude, longitude e altitu- luminosa como a principal variável que ser criteriosamente planejada, com o intuito
de), bem como da época de semeadura ao afeta o crescimento e o desenvolvimento de coincidir com o período estacional que
logo do ano. A eficiência da interceptação das plantas. Para ele, a temperatura tem apresente temperaturas favoráveis de 25oC
depende da idade da planta, da arquite- efeitos muito complexos sobre os vegetais, a 30oC (FRATTINI, 1975).
tura, do arranjo espacial das plantas e da interagindo com a luz e a água. A tempe- No período de enchimento dos grãos,
população empregada, ao passo que a ratura é o aspecto mais expressivo da inten- a temperatura é o elemento do ambiente
eficiência de conversão, dentre outros sidade da energia calorífica. De acordo com que mais afeta o seu rendimento, devido
fatores, depende principalmente da tempe- Shaw (1977), as maiores produções de mi- ao efeito dela na taxa de acúmulo de massa
ratura. A participação dos fotoassimila- lho ocorrem onde as temperaturas nos me- seca nos grãos. Quando a acumulação de
dos é função do genótipo e das relações ses mais quentes oscilam de 21oC a 27oC. massa seca nos grãos ocorre com tempe-
de fonte-dreno (FANCELLI; DOURADO Aparentemente, não existe um limite máxi- raturas em declínio, ou seja, em plantios
NETO, 2000). mo de temperatura para a produção de mi- muito tardios, a taxa de crescimento efetiva
No plantio direto na palha e com rota- lho, no entanto, a produtividade tende a é menor. A diminuição progressiva da tem-
ção de culturas, é necessário manejar a épo- diminuir com o aumento da temperatura. peratura após o pendoamento aumenta o
ca de plantio e as densidades das plantas. O milho é cultura de clima quente e re- período efetivo de crescimento dos grãos,
Em plantios mais cedo, é possível aumen- quer calor e umidade elevados, desde o reduzindo sua taxa de crescimento e o seu
tar a densidade de plantas, devido à maior plantio até o final da floração. Inúmeras evi- peso final (MAGALHÃES; JONES, 1990a).
disponibilidade de radiação solar, em vir- dências experimentais apontam a tempe- O tempo quente não interfere na acelera-
tude da maior área foliar. ratura como sendo elemento de produção ção do amadurecimento. Com base em da-
mais importante e decisivo para o desenvol- dos experimentais, Fancelli e Dourado Neto
Temperatura vimento do milho. Em regiões cujo verão (2000) relatam que a cada grau de tempera-
As variações de temperatura no solo, apresenta temperatura média diária inferior tura média diária superior a 21,1oC, nos
elemento estreitamente ligado à radiação a 19oC e noites com temperaturas médias primeiros 60 dias após a semeadura, pode
solar, podem ser atenuadas por práticas cul- abaixo de 12,8oC, não são recomendadas apressar o florescimento em dois a três dias.
turais agrícolas adequadas. Em estudos para o cultivo de qualquer cultivar de milho A produtividade do milho pode ser redu-
realizados em Ponta Grossa (PR), em plan- (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). zida, bem como a composição protéica do
tio convencional, a temperatura do solo a Temperaturas do solo inferiores a 10oC grão pode ser alterada, em decorrência das
3 cm passou de 23oC, às 8 horas, para 43oC, e superiores a 42oC prejudicam sensivel- temperaturas acima de 35oC. Tal efeito está
às 14 horas. No plantio direto na palha, nos mente a germinação, ao passo que aquelas relacionado com a diminuição da atividade
mesmos horários, a variação foi de 19oC a entre 25oC e 30oC proporcionam as melho- de redutase do nitrato e, conseqüentemen-
36oC. Os microorganismos do solo não re- res condições para o desencadeamento te, interfere no processo de transformação
sistem mais que algumas horas a tempe- dos processos de germinação das semen- do nitrogênio (FANCELLI; DOURADO
raturas acima de 40oC. A morte ou parali- tes e emergência das plântulas. A tempe- NETO, 2000).
sação de suas atividades interrompe o ciclo ratura durante o período que vai desde a Em terrenos áridos, as temperaturas
de transformação dos minerais em nutri- emergência até o aparecimento das flores é extremamente altas são prejudiciais ao mi-
entes para as plantas (BLEY JUNIOR, 1999). muito importante para determinar a época lho. Nessa condição, as plantas são mais
Temperatura elevada, na faixa de 30oC a da floração. Noites frias desaceleram o sensíveis às altas temperaturas na época
35oC aumenta a velocidade de decompo- crescimento anterior à floração (BERGER, da floração. A combinação de altas tem-
sição da matéria orgânica liberando CO2 na 1962). peraturas e baixas umidades pode causar
atmosfera. Se os agricultores continuarem Por ocasião dos períodos de floresci- morte das folhas e flores, impedindo a poli-
no sistema convencional de plantio, a maté- mento e de maturação, temperaturas médias nização. Temperaturas abaixo de 12,8oC
ria orgânica dos solos tropicais tende a se diárias superiores a 26oC podem promover reduzem apreciavelmente o rendimento do
exaurir, pois não está havendo reposição a aceleração dessas fases, da mesma forma milho.
como nos ambientes intactos. Para manter que temperaturas inferiores a 15,5oC podem Temperaturas noturnas maiores que
a atividade biológica nos solos e, com isso, prontamente retardá-las (BERGER, 1962). 24oC promovem consumo energético ele-
sustentar a produção agrícola em solos O requerimento de temperaturas adequadas vado, em função do incremento da respi-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 17

ração celular, ocasionando menor saldo de ca temperatura base para todo o ciclo da padrão da demanda sazonal da atmosfera,
fotoassimilados, com conseqüente queda planta por ser mais fácil a sua aplicação ou seja, dos fatores físicos que governam
na produtividade. Da mesma maneira, tem- (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). A a evaporação. Pode-se utilizar o coeficiente
peraturas acima de 32oC reduzem sensi- cultura do milho apresenta as seguintes cultural (Kc) para verificar esse diferencial
velmente a germinação do grão de pólen, exigências térmicas em graus-dia, da emer- uso de água, uma vez que esse coeficien-
por ocasião de sua emissão (FANCELLI; gência à maturação fisiológica (BRUNINI te integra os efeitos das características da
DOURADO NETO, 2000). et al., 1983; BERLATO et al., 1984; GAR- cultura no campo. No Gráfico 1, observa-
Segundo Wislie (1962), a temperatura CIA, 1993; FANCELLI; DOURADO NETO, se que há um padrão geral de consumo de
mínima para o crescimento satisfatório do 2000): água pelas plantas. Embora os valores
milho é de 10oC, sendo que a ótima varia de máximos de Kc estejam entre 1,2 e 1,4, a
a) híbridos tardios: graus-dia superior
28oC a 35oC e a máxima de, aproximadamen- literatura mostra valores inferiores a 0,9
a 890;
te, 45oC. Este autor, ainda, considera que as (MATZENAUER et al., 1998) e acima de 2
maiores taxas de crescimento foram alcan- b) híbridos precoce: graus-dia superior (KEIROZ, 2000). Além da variabilidade
çadas entre 29oC e 32oC. O conceito de tem- a 831 e inferior a 890; genética, as diferentes curvas de Kc po-
peratura ótima deve ser revisto com cautela, c) híbridos superprecoces: graus-dia dem ser atribuídas aos métodos de estima-
pois esta temperatura varia com o estádio inferior a 830. tiva da evapotranspiração de referência
de desenvolvimento da planta. Por exem- (MATZENAUER et al., 1998; PEREIRA et
As exigências térmicas do milho, da al., 2005) e ao intervalo de tempo em que
plo, a temperatura ótima para a germinação
emergência à maturação fisiológica, asso- foi estabelecido o coeficiente.
não é a mesma para a floração ou frutifica-
ciadas ao conhecimento da fenologia da Há divergência de valores dos Kc de
ção. Verifica-se que a maioria dos genótipos
cultura, podem definir a época de plantio, região para região, o que torna difícil a re-
atuais não se desenvolve em temperaturas
evitando as conseqüências dos veranicos, comendação de valores desse coeficiente,
inferiores a 10oC, todavia, segundo Berlato
a utilização de insumos, fertilizantes, inse- para estimar o consumo de água pela cultura
e Sutili (1976), a temperatura basal de genó-
ticidas, fungicidas e herbicidas, e a época do milho. Como sugestão, utilizar os
tipos tardios é maior do que a dos genótipos
de colheita dos grãos ou de silagem. coeficientes estabelecidos pela Food and
precoces.
A temperatura quantifica, em valores Agriculture Organization of the United
EXIGÊNCIAS DE ÁGUA
numéricos, o nível de energia interna, o que Nations (FAO), uma vez que os valores
possibilita trocas com o sistema e o meio, O consumo de água pelo milho é um obtidos nas diversas regiões estão relati-
provocando estímulos, ativando ou desa- diferencial nas fases de crescimento e de- vamente próximos dos encontrados pela
tivando funções vitais (OMETO, 1981). senvolvimento da planta, sendo função do FAO.
Segundo Villa Nova et al. (1972), a quanti-
dade de energia exigida por uma cultura
tem sido expressa em graus-dia, ou unida-
des térmicas de desenvolvimento, ou exi-
gência térmica, ou calórica, ou unidade de
calor. A base teórica para essa técnica é
que, dos processos envolvidos no desen-
volvimento da cultura, todos são sensíveis
à temperatura do ar. Cabe enfatizar que a
resposta das plantas a essa temperatura
obedece a limites inferior e superior e é
extensiva ao desenvolvimento total da cul-
tura.
Está comprovado que o método satis-
fatório, para determinar as etapas de desen-
volvimento do milho, leva em consideração
as exigências calóricas ou térmicas. Admite- Gráfico 1 - Valores do coeficiente cultural (Kc) para o milho safrinha (SAF) obtido em
se que a temperatura base possa variar Minas Gerais - Sete Lagoas (SL), Janaúba (JAN); Mato Grosso do Sul (MS),
em função da idade ou da fase fenológica em Goiás (GO), no Paraná (PR) e em São Paulo (SP), e de critérios da FAO
da planta, mas é comum adotar uma úni- Production Yearbook (1985)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


18 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

O consumo total de água pelo milho de uso de água podem resultar em dife- manda da planta. À medida que o solo vai
varia muito com o nível de manejo e com rentes produtividades, devido à água não secando, tanto a evaporação da superfície
a disponibilidade de água no solo. Nos ser o único elemento definidor. do solo quanto a transpiração da planta
trabalhos desenvolvidos por Robins e Pelos resultados de pesquisa, pode-se decrescem. Essa fase é a que Tanner (1977)
Domingo (1953), Deanmead e Shaw (1960) concluir que o milho expressa elevada denominou “fase de taxa de decréscimo”.
e Claassen e Shaw (1970); verificou-se que potencialidade de produção, quando atin- Vale a pena ressaltar que a zona radicular
aproximadamente 50 dias após o plantio ge sua máxima área foliar, com a maior dis- não seca uniformemente nem mesmo quan-
há redução de 3% na produção, por dia de ponibilidade de radiação solar e não tendo do a planta atinge o ponto de murchamento
estresse. No estádio de florescimento, esse déficit hídrico no solo. Daí a importância (BORG, 1980). Essa falta de uniformidade
decréscimo pode atingir 13%, com média de se conhecer e quantificar os processos da extração de água pela zona radicular tor-
em torno de 6%-7%. Se o grau de fertilida- que envolvem a relação planta-clima, prin- na difícil predizer o quanto de água será
de for elevado, a redução da produtivida- cipalmente as relações hídricas. Cowan extraído para uma cultivar num determi-
de pode cair para 3%-4% por dia. Durante (1965) resumiu no Gráfico 2 a influência da nado tipo de solo, sob condição climática
o período de enchimento do grão, a redu- umidade no solo no consumo de água pela específica. Tentaram-se várias relações di-
ção média é em torno de 4% ao dia. planta e ratifica que o consumo de água retas entre transpiração e depleção de água
Nas diversas regiões brasileiras, o milho depende da demanda atmosférica. No Grá- no solo. Os melhores resultados alcan-
consome, em média, de 450 a 600 mm de água fico 2, as quebras de linhas representam a çados encontram-se no Gráfico 3. O que se
durante todo o seu ciclo (FEPAGRO, 1996; existência de algum grau de estresse e as tem feito é relacionar ET/ETmax com a água
MATZENAUER et al., 1998; FANCELLI; diferentes linhas representam os diferen- disponível numa dada profundidade do
DOURADO NETO, 2000), exigindo um mí- tes consumos de água com diferentes de- solo. Água disponível, como preconizado,
nimo de 350 mm, para que a produção não mandas de água pela atmosfera. não viabiliza a avaliação do efeito da distri-
seja significativamente afetada. Em con- Pode-se estimar o uso de água pelo mi- buição de raízes na absorção de água, por-
dição de clima quente e seco, o consumo lho a partir de dados climáticos, e levando- tanto, passou a utilizar água extraível que
não excede a 3 mm dia-1, quando a planta se em conta duas condições: quando não nada mais é que o teor de água disponí-
estiver com menos de 30 cm de altura e, há déficit hídrico no solo e quando o solo vel na zona radicular. O Gráfico 3 repre-
entre o período de florescimento até matu- não tem água suficiente para suprir a de- senta a média dos resultados medidos e
ração, pode atingir valores de 5 a 7 mm.
Daker (1970 apud FANCELLI; DOURADO
NETO, 2000), afirmam que o consumo de
água pode ser de até 10 mm dia-1 em cli-
mas de intenso calor e baixíssima umidade.
O estresse hídrico de dois dias no período
de florescimento diminui o rendimento em
20% e de 4 a 8 dias em 50% (RESENDE et
al., 2003).
No Rio Grande do Sul, Matzenauer et
al. (1998) verificaram que, em setembro,
outubro e novembro, o milho consumiu
570, 572 e 541 mm de água, respectivamente.
Freitas et al. (2004) constataram uma pro-
dução de 6 mil kg de milho, com uso de 370
e 436 mm de água em duas épocas na Zona
da Mata de Minas Gerais. No Semi-Árido
do Nordeste brasileiro, Antonino et al.
(2000) obtiveram valores de evapotranspi-
ração da ordem de 507 mm com uma média
diária de 4,2 mm dia-1, porém nesse local
este valor chega a 7,42 mm dia-1. Foram Gráfico 2 - Transpiração direta da cultura e potencial de água no solo com três níveis
utilizados 2 m3 de água para cada quilo de de evapotranspiração potencial
massa produzida do milho. Valores similares FONTE: Cowan (1965).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 19

encontrados na literatura. Nesse Gráfico 3 em que: Quando as depleções são maiores


podem-se ver duas fases distintas de con-  é a depleção de água no solo; que o ponto crítico (c), ET/ETmax
sumo de água: decresce linearmente, com o aumento
P e I são precipitação e irrigação, res-
de depleção de água.
a) fase de taxa constante: quando o pectivamente;
consumo de água pela planta atinge ET/ETmax pode ser expressa na
seu máximo, ou seja, é governado b) fase de taxa de decréscimo equação:
pelas condições atmosféricas. Pode- (c <  < t)
ET/ETmax = 1 – S (c –  )
se calcular a evapotranspiração (ET) em que:
a partir da estimativa da evapotrans- t é a umidade no solo na capacidade em que:
piração máxima (ETmax): de campo. S é a declividade da curva que na rea-
lidade é: S = 1 / ( – c) e é determi-
 = ET t – (P + I) t = ETmax t 
– (P + I) t nada experimentalmente para uma
dada cultura e solo.
Assim, a ET diária pode ser encon-
trada por meio da equação:

ETmax
ET = t
exp [ –  ETmax / (t – c)]
tc

Determinação da
evapotranspiração de
referência (ETo)
É vasta a literatura relativa aos métodos
de estimar a evapotranspiração de referên-
cia (TANNER, 1967; PEREIRA et al., 1997;
ALLEN et al., 1998).
A American Society of Civil Engineers
(Asce) fez um estudo sobre os diversos
Água extraível (%)
métodos e concluiu que o da FAO-Penman
Gráfico 3 - Consumo de água pela cultura do milho em: Latossolo Vermelho Distrófico Monteith deve ser recomendado como
(LVd), neossolo flúvico (RU), neossolo quartzarênico (RQ), Latossolo Vermelho standard, por ser aplicável em grande quan-
eutrófico (LVef), chernossolo erbânico (ME) tidade de locais e climas e em situações

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


20 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

que carecem de informações a curto pe- sistema radicular definitivo independe da estádios iniciais do crescimento vegeta-
ríodo. profundidade de plantio, uma vez que a tivo. Assim, temperaturas baixas podem
Quando o solo apresenta teor de água emergência da planta vai depender do po- aumentar o tempo decorrente entre um
extraível acima de 30%-40%, a evapotrans- tencial máximo de alongamento de meso- estádio e outro, alongando, assim, o ciclo
piração é dependente unicamente da de- cótilo (RITCHIE; HANWAY, 1989). da cultura, podendo aumentar o número
manda atmosférica. Quando o teor de água O sistema radicular nodal inicia-se, total de folhas, atrasar a formação do pen-
nos solos é inferior a 30%-40% da água portanto, no estádio VE, e o alongamento dão e diminuir a disponibilidade de nutrien-
extraível, pode-se também determinar o das primeiras raízes inicia-se no estádio tes para a planta. Uma chuva de granizo ou
consumo de água pela cultura por meio de V1, indo até o R3, após o qual muito pouco vento nesse estádio vai ter muito pouco
equações, em que a variável é a evapo- crescimento ocorre (MAGALHÃES et al., ou nenhum efeito na produção final de
transpiração de referência. 1994). grãos, uma vez que o ponto de crescimento
No milho não é constatada a presença estará protegido no solo. Disponibilida-
ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO de fatores inibitórios ao processo de germi- de de água nesse estádio é fundamental,
nação, visto que, sob condições ótimas de por outro lado o excesso de umidade ou
Estádio VE - germinação umidade, os grãos podem germinar ime- encharcamento, quando o ponto de cres-
e emergência diatamente após a maturidade fisiológica, cimento ainda se encontra abaixo da super-
Em condições normais de campo, as mesmo ainda estando presos à espiga. fície do solo, pode matar a planta em poucos
sementes de milho plantadas absorvem Em síntese, na germinação ocorre a em- dias (ALDRICH et al., 1982; MAGALHÃES
água, incham e começam a crescer. A radí- bebição da semente, com a conseqüente et al., 2003).
cula é a primeira a se alongar, seguida pelo digestão das substâncias de reserva, sín- O controle de plantas daninhas nessa
coleóptilo com plúmula incluída. O está- tese de enzimas e divisão celular. fase é fundamental para reduzir a compe-
dio VE é atingido pela rápida elongação do tição por luz, água e nutrientes. Como o
mesocótilo, o qual empurra o coleóptilo Estádio V3 - três folhas sistema radicular está em pleno desenvol-
em crescimento para a superfície do solo. desenvolvidas vimento, mostrando considerável porcen-
Em condições de temperatura e umidade O estádio de três folhas completamente tagem de pêlos absorventes e ramificações
adequadas, a planta emerge dentro de qua- desenvolvidas ocorre com, aproximada- diferenciadas, operações inadequadas de
tro a cinco dias, porém, em condições de mente, duas semanas após o plantio. Nes- cultivo (profundas ou próximas à planta)
baixa temperatura e pouca umidade, a ger- se estádio, o ponto de crescimento ainda poderão afetar a densidade e distribuição
minação pode demorar até duas semanas se encontra abaixo da superfície do solo e de raízes com conseqüente redução na pro-
ou mais. Assim que a emergência ocorre e a planta possui pouco caule formado. dutividade. Portanto, recomenda-se cautela
a planta expõe a extremidade do coleóptilo, Pêlos radiculares do sistema radicular no cultivo.
o mesocótilo pára de crescer. nodal estão agora em crescimento e o de-
O sistema radicular seminal, que são as senvolvimento das raízes seminais é para- Estádio V6 - seis folhas
raízes oriundas diretamente da semente, tem lisado (MAGALHÃES et al., 1994). desenvolvidas
o seu crescimento nesta fase e a profun- Todas as folhas e espigas que a planta Neste estádio, o ponto de crescimento
didade onde elas se encontram depende eventualmente irá produzir estão sendo e o pendão estão acima do nível do solo, o
da profundidade do plantio. O crescimento formadas no V3. Pode-se dizer, portanto, colmo está iniciando o período de alonga-
dessas raízes, também conhecido como que o estabelecimento do número máximo mento acelerado. O sistema radicular nodal
sistema radicular temporário, diminui após de grãos ou a produção potencial estão (fasciculado) está em pleno funcionamen-
o estádio VE e é praticamente não existente sendo definidos nesse estádio. No estádio to e em crescimento.
no estádio V3. V5 (cinco folhas completamente desenvol- Pode ocorrer o aparecimento de even-
O ponto de crescimento da planta de vidas), tanto a iniciação das folhas como tuais perfilhos, os quais se encontram dire-
milho, nesse estádio, está localizado cerca das espigas vai estar completa e a iniciação tamente ligados à base genética da culti-
de 2,5 a 4,0 cm abaixo da superfície do solo do pendão já pode ser vista microscopi- var, ao estado nutricional da planta, ao
e encontra-se logo acima do mesocótilo. camente na extremidade de formação do espaçamento adotado, ao ataque de pra-
Essa profundidade, onde se acha o ponto caule, logo abaixo da superfície do solo gas e às alterações bruscas de temperatura
de crescimento, é também a profundidade (MAGALHÃES et al., 1994, 1995). (baixa ou alta). No entanto, existem pou-
onde vai originar o sistema radicular defi- O ponto de crescimento, que se encon- cas evidências experimentais que demons-
nitivo do milho, conhecido como raízes tra abaixo da superfície do solo, é bastante tram a sua influência negativa na produção
nodais ou fasciculadas. A profundidade do afetado pela temperatura do solo nesses (MAGALHÃES et al., 1995, 2002).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 21

No estádio V8, inicia-se a queda das se. O alongamento do caule ocorre através redução na produção de grãos. Porém, a
primeiras folhas e o número de fileiras dos entrenós. Após o estádio V10, o tempo maior redução na produção poderá ocorrer
de grãos é definido. Durante este estádio de aparição entre um estádio foliar e outro com déficit hídrico na emissão dos estilos-
constata-se a máxima tolerância ao excesso vai encurtar, geralmente isso ocorre a cada estigmas (início de R1). Isso é verdadeiro
de chuvas. No entanto, encharcamento por dois ou três dias (MAGALHÃES et al., também para outros tipos de estresse como
períodos maiores que cinco dias poderão 1994, 1999). deficiência de nutrientes, alta temperatura
acarretar prejuízos consideráveis e irre- Próximo ao estádio V10, a planta de milho ou granizo. O período de quatro semanas
versíveis. inicia rápido e contínuo crescimento com em torno do florescimento é o mais impor-
Estresse hídrico nessa fase pode afetar acumulação de nutrientes e massa seca, que tante para irrigação (MAGALHÃES et al.,
o comprimento de internódios, provavel- continuarão até os estádios reprodutivos. 2003).
mente pela inibição da elongação das célu- Há grande demanda no suprimento de água
las em desenvolvimento, concorrendo des- Estádio V18
e nutrientes para satisfazer as necessidades
se modo para a diminuição da capacidade da planta (MAGALHÃES; JONES, 1990b). É possível observar que os “cabelos” ou
de armazenagem de açúcares no colmo. estilos-estigmas dos óvulos basais alongam-
O déficit de água também vai resultar em Estádio V12 se primeiro em relação aos “cabelos” dos
colmos mais finos, plantas de menor porte O número de óvulos (grãos em poten- óvulos da extremidade da espiga. Raízes
e menor área foliar (MAGALHÃES et al., cial) em cada espiga, assim como o tamanho aéreas, oriundas dos nós acima do solo,
1998). da espiga, é definido em V12, quando ocor- estão em crescimento neste estádio. Essas
Evidências experimentais demonstram re perda de duas a quatro folhas basais. raízes contribuem na absorção de água e
que a distribuição total das folhas expos- Pode-se considerar que nesta fase inicia- nutrientes.
tas nesse período, mediante ocorrência de se o período mais crítico para a produção, Em V18, a planta do milho encontra-se
granizo, geada, ataque severo de pragas e o qual estende-se até a polinização. a uma semana do florescimento e o desen-
doenças, além de outros agentes, acar- O número de fileiras de grãos na espiga volvimento da espiga continua em ritmo
retará quedas na produção da ordem de já foi estabelecido, no entanto, a deter- acelerado.
10% a 25% (FANCELLI; DOURADO minação do número de grãos/fileira só se- Estresse hídrico nesse período pode
NETO, 2000). rá definida cerca de uma semana antes afetar mais o desenvolvimento do óvulo e
Períodos secos aliados à conformação do florescimento, em torno do estádio V17 espiga que o do pendão. Com esse atraso
da planta, característica dessa fase (co- (MAGALHÃES et al., 1994). no desenvolvimento da espiga pode ha-
nhecida como fase do cartucho), conferem Em V12, a planta atinge cerca de 85% a ver problemas na sincronia entre emissão
à cultura do milho elevada suscetibili- 90% da área foliar, e observa-se o início de de pólen e recepção pela espiga. Caso o
dade ao ataque da lagarta-do-cartucho desenvolvimento das raízes adventícias estresse seja severo, ele pode atrasar a
(Spodoptera frugiperda), o que exige cons- (esporões). emissão do “cabelo” até a liberação do pó-
tante vigilância. Do V6 até o estádio V8 len terminar, ou seja, os óvulos que por-
Estádio V15 ventura emitir o “cabelo” após a emissão
deverá ser aplicada a adubação nitogenada
em cobertura (RITCHIE; HANWAY, 1989; Este estádio representa a continuação do pólen não serão fertilizados e, por con-
ALDRICH et al., 1982). do período mais importante e crucial para seguinte, não contribuirão para o rendi-
o desenvolvimento da planta, em termos mento (MAGALHÃES et al., 1994, 1995,
Estádio V9 de fixação do rendimento. Desse ponto em 1999, 2002).
Neste estádio, muitas espigas são fa- diante, o novo estádio foliar ocorre a ca-
cilmente visíveis, se for feita a dissecação da um ou dois dias. Os estilos-estigmas Pendoamento, VT
da planta. Todo nó da planta tem potencial iniciam os seus crescimentos nas espigas Este estádio inicia-se quando o último
para produzir uma espiga, exceto os últimos (MAGALHÃES et al., 2002). ramo do pendão está completamente visível
seis a oito nós abaixo do pendão. Assim, a Por volta do estádio V17, as espigas e os “cabelos” não tenham ainda emergi-
planta de milho teria potencial para produzir atingem crescimento tal que suas extremi- do. A emissão da inflorescência masculina
várias espigas, porém, apenas uma ou duas dades já são visíveis no caule, assim como antecede de dois a quatro dias a exposição
(caráter prolífico) espigas conseguem com- a extremidade do pendão já pode também dos estilos-estigmas, no entanto, 75% das
pletar o crescimento. ser observada (MAGALHÃES et al., 1994). espigas devem apresentar seus estilos-
Ocorre alta taxa de desenvolvimento de Estresse de água, que ocorre no período estigmas expostos, após o período de 10-
órgãos florais, o pendão inicia rápido desen- de duas semanas antes, até duas semanas 12 dias posterior ao aparecimento do pen-
volvimento e o caule continua alongando- após o florescimento, vai causar grande dão. O tempo decorrente entre VT e R1 pode
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006
22 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

variar consideravelmente dependendo do serem polinizados é de dois a três dias. um fluido, cuja composição são açúcares.
híbrido e das condições ambientais. A per- Os “cabelos” da espiga crescem cerca de Embora o embrião esteja ainda desenvol-
da de sincronismo entre a emissão dos 2,5 a 4,0 cm por dia e continuam a se alon- vendo vagarosamente nesse estádio, a
grãos de pólen e a receptividade dos estilos- gar até serem fertilizados (MAGALHÃES radícula, o coleóptilo e a primeira folha
estigmas da espiga concorre para o aumen- et al., 1994). embrionária já estão formados. Assim, den-
to da porcentagem de espigas sem grãos O número de óvulos que será fertiliza- tro do embrião em desenvolvimento já se
nas extremidades. Em condições de campo, do é determinado nesse estádio. Óvulos encontra uma planta de milho em miniatura.
a liberação do pólen geralmente ocorre nos não fertilizados evidentemente não produ- A espiga está próxima de atingir seu tama-
finais das manhãs e início das noites. Nes- zirão grãos. nho máximo.
te estádio, a planta atinge o máximo desen- Estresse ambiental nesta fase, especial- Os estilos-estigmas tendo completa-
volvimento e crescimento. Estresse hídrico mente o hídrico, causa baixa polinização do sua função no florescimento estão
e temperaturas elevadas (acima de 35oC) e baixa granação da espiga, uma vez que agora escurecidos e começando a secar
podem reduzir drasticamente a produ- sob seca tanto os “cabelos” como os grãos (MAGALHÃES et al., 1994, 2002).
ção. Um pendão de tamanho médio chega de pólen tendem à dissecação. Insetos co- A acumulação de amido está-se ini-
a ter 2,5 milhões de grãos de pólen, o que mo a lagarta-da-espiga, que se alimenta dos ciando, passando pela fase anterior à sua
equivale dizer que a espiga em condições “cabelos” devem ser combatidos caso haja formação que é a de açúcares, fluido claro
normais dificilmente deixará de ser poli- necessidade. A absorção de potássio (K) presente nos grãos. Esses grãos estão ini-
nizada pela falta de pólen, uma vez que o nessa fase está completa, enquanto nitro- ciando o período de rápida acumulação de
número de óvulos está em torno de 750 a gênio (N) e fósforo (P) continuam sendo massa seca; esse rápido desenvolvimento
1.000 (MAGALHÃES et al., 1994, 1999; absorvidos. continuará até próximo ao estádio R6. N e P
FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). A liberação do grão de pólen pode ini- continuam sendo absorvidos e a realoca-
A planta apresenta alta sensibilidade ciar ao amanhecer, estendendo-se até o ção desses nutrientes das partes vegeta-
ao encharcamento nessa fase, o excesso meio-dia, no entanto, esse processo rara- tivas para a espiga tem início nesse estádio.
de água pode contribuir inclusive com a mente exige mais de quatro horas para sua A umidade de 85% nos grãos nessa fase,
inviabilidade dos grãos de pólen. complementação. Ainda sob condições fa- começa a diminuir gradualmente até a
Nos estádios de VT a R1, a planta de voráveis, o grão de pólen pode permanecer colheita (MAGALHÃES; JONES, 1990ab;
milho é mais vulnerável às intempéries da viável por até 24 horas. Sua longevidade, MAGALHÃES et al., 1994).
natureza que qualquer outro período, de- entretanto, pode ser reduzida quando sub-
Estádio R3 - grão leitoso
vido ao pendão e a todas as folhas estarem metido à baixa umidade e a altas tempera-
completamente expostas. Remoção de fo- turas (MAGALHÃES et al., 1994). Esta fase é iniciada normalmente 12 a
lha neste estádio por certo resultará em per- O estabelecimento do contato direto 15 dias após a polinização. O grão apresenta-
das na colheita (FANCELLI; DOURADO entre o grão de pólen e os pêlos viscosos se com aparência amarela e no seu interior
NETO, 2000). do estigma estimula a germinação do primei- contém um fluido de cor leitosa, o qual
O período de liberação do pólen estende- ro, dando origem a uma estrutura denomi- representa o início da transformação dos
se por uma a duas semanas. Durante esse nada tubo polínico, que é responsável pela açúcares em amido, contribuindo assim
tempo, cada “cabelo” individual deve emergir fecundação do óvulo inserido na espiga. para o incremento de massa seca. Tal incre-
e ser polinizado para resultar em um grão. A fertilização ocorre de 12 a 36 horas após mento ocorre, devido à translocação dos
a polinização, período esse variável em fotoassimilados presentes nas folhas e no
Estádio R1 - embonecamento colmo para a espiga e grãos em formação.
função de alguns fatores envolvidos no
e polinização A eficiência dessa translocação, além de
processo, tais como teor de água, tempe-
Este estádio inicia-se quando os estilos- ratura, ponto de contato e comprimento do ser importante para a produção, é extrema-
estigmas estão visíveis, ou seja, para fora estilo-estigma (MAGALHÃES et al., 1994; mente dependente de água (MAGALHÃES;
das espigas. A polinização ocorre quando FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). JONES, 1990a; MAGALHÃES et al., 1998).
o grão de pólen liberado é capturado por Embora nesse estádio o crescimento do
um dos estilos-estigmas. Estádio R2 - grão bolha d’água embrião ainda seja considerado lento, ele
O grão de pólen, em contato com o Os grãos neste estádio apresentam-se já pode ser visto, caso haja dissecação. Esse
“cabelo”, demora cerca de 24 horas para brancos na aparência externa e com aspec- estádio é conhecido como aquele em que
percorrer o tubo polínico e fertilizar o óvu- tos de uma bolha d’água. O endosperma, ocorre a definição da densidade dos grãos
lo, geralmente o período requerido para portanto, está com coloração clara, assim (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI;
todos os estilos-estigmas em uma espiga como o seu conteúdo, que é basicamente DOURADO NETO, 2000).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 23

Os grãos nesta fase apresentam rápi- acentuada, caracterizando um período antecipar o aparecimento da formação da
da acumulação de massa seca, com cerca exclusivamente destinado ao ganho de camada preta, indicadora da maturidade
de 80% de umidade, e as divisões celula- peso por parte do grão. Em condições de fisiológica. A redução na produção estaria
res dentro do endosperma apresentam-se campo, tal etapa do desenvolvimento é relacionada com o peso dos grãos e não
essencialmente completas. O crescimento, prontamente reconhecida, pois, quando os com o número de grãos. Os grãos neste
a partir desse momento, é devido à expan- grãos presentes são submetidos à pressão estádio apresentam-se com cerca de 55%
são e enchimento das células do endos- imposta pelos dedos, mostram-se relativa- de umidade (MAGALHÃES et al., 1994).
perma com amido. mente consistentes, embora ainda possam Materiais destinados à silagem devem
O rendimento final depende do número apresentar pequena quantidade de sóli- ser colhidos nesse estádio. O milho colhido
de grãos em desenvolvimento e do tama- dos solúveis, cuja presença em abundân- nessa fase apresenta as seguintes van-
nho final que eles alcançarão. Um estresse cia caracteriza o estádio R3 (grão leitoso) tagens: significativo aumento na produ-
hídrico nesta fase, embora menos crítico (MAGALHÃES et al., 1994). ção de massa seca por área; decréscimo
que na fase anterior, pode afetar a produ- Os grãos encontram-se com cerca de nas perdas de armazenamento pela diminui-
ção. Com o processo de maturação dos 70% de umidade em R4 e com a metade ção do efluente e aumento significativo no
grãos, o potencial de redução na produção do peso que eles atingirão na maturidade. consumo voluntário da silagem produzida
final de grãos, devido ao estresse hídrico, A ocorrência de adversidades climáticas, (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
vai diminuindo. Embora, nesse período, a sobretudo falta de água, resultará numa
Estádio R6 - maturidade
planta deva apresentar considerável teor maior porcentagem de grãos leves e pe-
fisiológica
de sólidos solúveis prontamente dispo- quenos, o que comprometeria definitiva-
níveis, objetivando a evolução do proces- mente a produção. Este é o estádio em que todos os grãos
so de formação de grãos, a fotossíntese na espiga alcançam o máximo de acumula-
Estádio R5 - formação de dente ção de massa seca e vigor, ocorre cerca de
mostra-se imprescindível. Em termos ge-
rais, considera-se como importante caráter Este período é caracterizado pelo apa- 50 a 60 dias após a polinização. A linha do
condicionador de produção a extensão da recimento de uma concavidade na parte amido já avançou até a espiga e a camada
área foliar que permanece fisiologicamente superior do grão, comumente designada preta já está formada. Essa camada preta
ativa após a emergência da espiga. Perío- “dente”, coincide normalmente com o 36o ocorre progressivamente da ponta da
dos nublados ou de reduzida intensidade dia após o princípio da polinização. espiga para a base. Nesse estádio, além da
luminosa acarretarão, nessa fase, a redu- Nessa etapa, os grãos encontram-se em paralisação total do acúmulo de massa seca
ção da fotossíntese e aumento do nível de fase de transição do estado pastoso para o nos grãos, acontece também o início do
estresse da planta, implicando na redu- farináceo. A divisão desses estádios é feita processo de senescência natural das fo-
ção da taxa de acúmulo de massa seca do pela chamada linha divisória do amido ou lhas das plantas, as quais gradativamente
grão e, conseqüentemente, redução na linha do leite. Essa linha aparece logo após começam a perder a sua coloração verde
produção final de grãos, além de favore- a formação do dente e, com a maturação, característica (MAGALHÃES et al., 1994;
cer a incidência de doenças do colmo vem avançando em direção à base do grão. FANCELLI; DOURADO NETO, 2000).
(MAGALHÃES et al., 1998, 2002). Devido à acumulação do amido, acima da O ponto de maturidade fisiológica ca-
Ainda nesse estádio, evidencia-se a linha é duro e abaixo, macio. Nesse estádio, racteriza o momento ideal para a colheita
translocação efetiva de N e P para os grãos o embrião continua se desenvolvendo, e, ou ponto de máxima produção, com 30%-
em formação (MAGALHÃES; JONES, 1990b; além do acentuado acréscimo de volume 38% de umidade, podendo variar entre
FANCELLI; DOURADO NETO, 2000). experimentado pelo endosperma, mediante híbridos. No entanto, o grão não está ainda
aumento das células, observa-se também a em condições de ser colhido e armazenado
Estádio R4 - grão pastoso completa diferenciação da radícula e das com segurança, uma vez que deveria estar
Este estádio é alcançado com cerca de folhas embrionárias no interior dos grãos com 13% a 15% de umidade, para evitar
20 a 25 dias após a emissão dos estilos- (MAGALHÃES et al., 1994; FANCELLI; problemas com a armazenagem. Com cer-
estigmas, os grãos continuam se desenvol- DOURADO NETO, 2000). ca de 18% a 25% de umidade, a colheita já
vendo rapidamente, acumulando amido. Alguns genótipos do tipo “duro” não pode acontecer, desde que o produto colhi-
O fluido interno dos grãos passa do esta- formam dente, o que torna esse estádio, nos do seja submetido a uma secagem artificial
do leitoso para uma consistência pastosa, referidos materiais, mais difícil de ser nota- antes de ser armazenado.
e as estruturas embriônicas de dentro dos do, podendo estar apenas relacionado com A qualidade dos grãos produzidos po-
grãos encontram-se totalmente diferen- o aumento gradativo da dureza dos grãos. de ser avaliada pela porcentagem de grãos
ciadas. A deposição de amido é bastante Estresse ambiental nessa fase pode ardidos, que interfere notadamente na des-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


24 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

tinação do milho em qualquer segmento da REFERÊNCIAS BRUNINI, O.; ALFONSI, R. R.; PAES DE
cadeia de consumo. A ocorrência de grãos ALDRICH, S. R.; SCOTT, W. O.; LENG, E. R. CAMARGO, M.B. Efeito dos elementos climá-
ardidos está diretamente relacionada com Modern corn production. 2.ed. Champaign: ticos no desenvolvimento da cultura de milho.
o híbrido de milho e com o nível de empa- A & L, 1982. 371p.
In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUTIVIDADE DO
lhamento a que estão submetidas as suas MILHO, 1983, Londrina. Anais... Londrina:
espigas. Ainda, de forma indireta, a presen- ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.; SMITH, IAPAR/EMBRAPA- CNPMS, 1983. p.21-40.
ça de pragas, adubações desequilibradas M. Crop evapotranspiration: guidelines for
CLAASSEN, M.M.; SHAW, R.H. Water deficit
e período chuvoso no final do ciclo, atraso computing crop water requirements. Rome: FAO,
effects on corn – II: grain component. Agronomy
na colheita e incidência de algumas doen- 1998. 300p. (FAO. Irrigation and Drainage. Paper,
Journal, Madison, v.62, n.5, p.652-655, Sept./
ças podem influir no incremento do número 56).
Oct. 1970.
de grãos ardidos (RITCHIE; HANWAY,
ANDRADE, F.H. Radiación y temperatura
1989; MAGALHÃES et al., 1994). COWAN, I.R. Transport of water in the soil-
determinan los rendimientos maximos de
A partir do momento da formação da plant-atmosphere. Journal Applied Ecology,
maiz. Buenos Aires: INTA, 1992, 34p. (INTA.
camada preta, que nada mais é do que a v.3, p.221-239, 1965.
Boletin Técnico, 106).
obstrução dos vasos, rompe-se o elo de
DEANMEAD, O.T.; SHAW, R.H. The effect of
ligação da planta-mãe e o fruto, passando ANTONINO, A. C. D.; SAMPAIO, E. V. S. B.;
soil moisture stress at different stages of growth on
este a apresentar vida independente. DALL’OLIO, A.; SALCEDO, I.H. Balanço hídri-
the development and yield of corn. Agronomy
co em solo com cultivos de subsistência no semi-
Journal, Madison, v.52, p.272-274, 1960.
CONSIDERAÇÕES FINAIS árido do nordeste do Brasil. Revista Brasileira
de Engenharia Agrícola Ambiental, Campina FANCELLI, A.L.; DOURADO NETO, D. Produ-
O plantio direto constitui-se em um dos
mais eficientes sistemas de prevenção e Grande, v.4, n.1, p.29-34, jan./abr. 2000. ção de milho. Guaíba: Agropecuária, 2000. 360p.
controle das erosões hídrica, eólica e so- ARGENTA, G.; SILVA, P.R.F. da; SANGAOI, L. FAO PRODUCTION YEAR BOOK. Rome: FAO,
lar, o que seria suficiente para justificar a Arranjo de plantas em milho: análise do estado- v.39, 1985.
sua adoção. Além dessa importante vanta- da-arte. Ciência Rural, Santa Maria, v.31, n.6,
gem esse sistema proporciona: FEPAGRO. Recomendações técnicas para a
p.1075-1084, nov./dez. 2001.
cultura do milho no estado do Rio Grande
a) maior conservação de umidade no BLEY JUNIOR, C. Erosão solar: risco para a agri- do Sul. Porto Alegre, 1996. 121p. (FEPAGRO.
solo; cultura nos trópicos. Ciência Hoje, Rio de Janei- Boletim Técnico, 30).
b) melhor aproveitamento da água dis- ro, v.25, n.148, p. 24-29, abr. 1999. Disponível
FRATTINI, J.A. Cultura do milho. Campinas:
ponível pelas plantas; em: <http://www.pfilosofia. pop.com.br>. Acesso
CATI, 1975. 26p.
em: 15 mar. 2005.
c) menor amplitude térmica no solo, fa-
FREITAS, P. S. L. de; MANTOVANI, E. C.;
vorecendo a fisiologia e o desen- BERGER, J. Maize production and the manu-
SEDIYAMA, G. C.; COSTA, L. C. Simulação da
volvimento do sistema radicular das ring of maizes. Geneva: Center D’Estude de
produtividade do milho pelo modelo CERES-
plantas; l’Azote, 1962. 315p.
Mayze em função da lâmina e da uniformidade de
d) maior tolerância a períodos de estia- BERLATO, M.A.; MATZENAUER, R.; SUTILI, aplicação de água. Revista Brasileira de Enge-
gens (veranicos). V.R. Relação entre temperatura e o aparecimen- nharia Agrícola e Ambiental, Campina Gran-
Uma vez que se conheça o comporta- to de fases fenológicas do milho (Zea mays L.). de, v.8, n.2/3, p.225-232, maio/dez. 2004.
mento climático e o balanço hídrico da Agronomia Sulriograndense, Porto Alegre,
GARCIA, B.I.L. Determinação de temperatura-
região, a ecofisiologia da cultura do milho v.20, n.1, p.111-132, 1984.
base e influência de variáveis climáticas na
e as necessidades calóricas do genótipo a
______; SUTILI, V.R. Determinação das tempera- duração do ciclo e na produção do milho (Zea
ser utilizado podem-se determinar a melhor
turas bases dos subperíodos emergência-pendoa- mays L.). 1993. 81p. Dissertação (Mestrado) –
época para o seu plantio.
mento e emergência-espigamento de 3 genóti- Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Densidades de plantas acima e abaixo
pos de milho. In: REUNIÃO TÉCNICA DE Universidade de São Paulo, Piracicaba.
de ótimo têm efeito negativo na eficiên-
MILHO E SORGO, 21.; REUNIÃO TÉCNICA
cia com a qual a cultura converte radia- KEIROZ, J.E. Estimativa da evapotranspiração
DO SORGO GRANÍFERO, 5., 1976, Porto Alegre.
ção interceptada em massa seca de grãos. potencial da cultura do milho doce na Região
Resumos... Porto Alegre: IPAGRO, 1976. p.26.
E o aumento no rendimento de grãos resul- Norte Fluminense. In: JORNADA DE JOVENS
tante de menores espaçamentos deve-se BORG, H. Plant available water. 1980. 76p. TALENTOS PARA CIÊNCIA, 2., 2000, Rio de
ao maior aproveitamento da radiação solar. Tese (M.S.) – University of Wisconsin, Madison. Janeiro. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2000.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 25

LEOPOLD, A.C. Plant growth and develop- milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, and Technology - Cooperative Extension Service,
ment. New York: McGraw-Hill, 1964. 465p. Brasília, v.25, n.12, p.1755-1761, 1990b. 1989. (Iowa State University of Science and
Technology. Special Report, 48).
MAGALHÃES, P. C. Aspectos fisiológicos da ______; RESENDE, M.; OLIVEIRA, A.C. de;
cultura do milho irrigado. In: RESENDE, M.; DURÃES, F.O.M.; SANS, L.M.A. Caracterização ROBINS, J.S.; DOMINGO, C.E. Some effects of
ALBUQUERQUE, P.E.P. de; COUTO, L. (Ed.). morfológica das plantas de milho de diferentes severe soil moisture déficits at specific growth
A cultura do milho irrigado. Sete Lagoas: ciclos. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO stages of corn. Agronomy Journal, Madison,
Embrapa Milho e Sorgo/Brasília: Embrapa Infor- E SORGO, 20., 1974, Goiânia. Anais... Goiânia: v.45, n.12, p.618-621, Dec. 1953.
mação Tecnológica, 2003. cap.3, p.43-66. ABMS, 1994. p.190.
SETTER, T.L.; FLANNIGAN, B.A. Sugar and
______; DURÃES, F.O.M.; OLIVEIRA, A.C. de. MATZENAUER, T.; BERGAMASCHI, H.; starch redistribution in maize in response to shade
Efeitos do quebramento do colmo no rendimento BERLATO, H.A. Evaporanspiração – II: rela- and ear temperature treatment. Crop Science,
de grãos de milho. Ciência e Agrotecnologia, ções com a evapotranspiração do tanque classe A Madison, v.26, n.3, p.575-579, May/June 1986.
Lavras, v.22, n.3, p. 279-289, jul./set. 1998. e com evaportanspiração de referência e com ra-
diação solar global, em três épocas de semeadu- SHAW, R.H. Climatic requirents. In: CORN and
______; ______; ______; GAMA, E.E.G. e. ra. Revista Brasileira de Agrometeorologia, corn improvement. Madison: American Society
Efeitos de diferentes técnicas de despendoamento Campinas, v.6, n.1, p.15-21, 1998. of Agronomy, 1977. p.591-623. (ASA. Agrono-
na produção de milho. Scientia Agrícola, Pira- my, 18).
cicaba, v.56, n.1, p.77-82, jan./mar. 1999. OMETTO, J.C. Bioclimatologia vegetal. São
Paulo: Agronômica Ceres, 1981. 425p. TANNER, C.B. Measurements of evapotrans-
______; ______; PAIVA, E. Fisiologia da plan- piration. Agronomy, v.11. p.534-574, 1967.
ta de milho. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, PEREIRA, A.R.; VILA NOVA, N.A.; SEDI-
YAMA, G.C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: ______. Relation of climate to leaching of
1995. 27p. (EMBRAPA-CNPMS. Circular Téc-
FEALQ, 1997. 183p. solutes and pollutants through soils. Madison,
nica, 20).
1977. 36p. Mimeografado. (Report to Environ-
______; ______; ______; CARNEIRO, N.P.; PEREIRA, A.S.; SANTOS, E.H. dos; EVAN- mental Data Service. NOAA Grant. NG-34-72).
GELISTA, S.R.M.; ASSAD, E.D.; ROMANI,
PAIVA, E. Fisiologia do milho. Sete Lagoas:
L.A.S.; OTAVIAN, A.F. Compilação de coefi- VILLA NOVA, N.A.; PEDRO JÚNIOR, M.;
Embrapa Milho e Sorgo, 2002. 23p. (Embrapa
cientes culturais (kc) determinados em condi- PEREIRA, A.R.; OMETTO, J.C. Estimativa de
Milho e Sorgo. Circular Técnica, 22).
ções brasileiras. In: CONGRESSO BRASILEIRO graus-dia acumulados acima de qualquer tempe-
______; JONES, R. Aumento de fotoassimilados DE AGROMETEOROLOGIA, 14., 2005, ratura base, em função das temperaturas máximas
na taxa de crescimento e peso final dos grãos de Campinas. Anais... Agrometeorologia, agrocli- e mínimas. Cadernos de Ciências da Terra,
milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, matologia e agronegócios. Campinas: UNICAMP, São Paulo, n.30, p.1-8, 1972.
Brasília v.25, n.12, p.1747-1754, dez. 1990a. 2005. p.165.
WISLIE, C.P. Crop adaptation and distri-
______; ______; Aumento de fotoassimilados RITCHIE, S.; HANWAY, J.J. How a corn plant bution. San Francisco: W. H. Freeman, 1962.
sobre os teores de carboidratos e nitrogênio em develops. Ames: Iowa State University of Science 448p.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.14-25, jul./ago. 2006


26 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Manejo da fertilidade do solo


para a cultura do milho
Jeferson Antônio de Souza 1

Resumo - A cultura do milho tem apresentado evolução crescente, em termos de


produtividade, nos últimos anos. Além de variedades/cultivares com maior potencial
produtivo, têm-se verificado aumentos significativos não só no uso de fertilizantes,
mas também na adoção de práticas de manejo que aumentam a eficiência de aprovei-
tamento dos fertilizantes, sobretudo os nitrogenados e potássicos. Práticas como
antecipação de nitrogênio e aumento na dose inicial de arranque têm proporcionado
altos rendimentos da cultura. Com a opção do Sistema Plantio Direto (SPD), produtores
rurais passaram a se preocupar com a construção da fertilidade do solo, por meio da
rotação de culturas e recuperação das áreas, principalmente daquelas antes com pastagens
degradadas, onde o milho surge como opção viável, e manutenção da cobertura do
solo. Todas essas alterações no sistema produtivo contribuem para altos rendimentos
obtidos em cultivos racionais da terra, sem degradá-la. Também o uso correto de
fertilizantes, além de proporcionar rendimentos mais elevados, tanto pelo incremento
na produtividade quanto pela redução dos custos de produção, contribui para a não-
contaminação do solo, dos cursos d’água e do lençol freático.
Palavras-chave: Zea mays. Adubação. Calagem. Produtividade. Plantio direto.

INTRODUÇÃO estes exercem grande importância no pro- MANEJO DO SOLO


cesso produtivo. Nesse aspecto, devem ser PARA ALTAS PRODUTIVIDADES
A produtividade média mundial de mi-
considerados fatores como: nível de fer-
lho tem aumentado de ano para ano, desde Considerações gerais
tilidade do solo, disponibilidade potencial
a introdução dos híbridos, por volta da Os solos do Cerrado, devido à fragili-
de nutrientes, época, forma e modo de apli-
década de 30. Os ganhos de produtividade cação de fertilizantes, absorção e acúmulo dade do equilíbrio físico-químico requerem
de milho, nos EUA, foram proporcionais de nutrientes pelo milho e translocação e manejo adequado da sua fertilidade, sob
ao aumento do uso de fertilizantes minerais exportação de nutrientes. pena de esgotamento nutricional, baixa
nitrogenados, principalmente, de acordo Portanto, o rendimento da cultura de- sustentabilidade e acelerado processo de
com Cardwell (1982). Também no Brasil, de pende da interação de vários fatores de desertificação.
maneira geral, acréscimos nas produtivi- produção, que, se levados em consideração A evolução da pesquisa nesse tipo de
dades de milho estão associados ao incre- no planejamento das adubações, sobretu- ecossistema tem feito com que o conheci-
mento na quantidade de fertilizantes apli- do da nitrogenada, contribuirão para obter mento do manejo da fertilidade do solo não
cados e na busca por maiores eficiências altas produtividades. seja mais o fator limitante de altas pro-
de utilização. De maneira geral, o incremento no con- dutividades. Pelo contrário, atualmente,
Para as altas produtividades de milho, sumo de fertilizantes pode ser apontado depende-se mais da consideração de fato-
além de considerar as características climá- como uma das principais razões para o res da planta e do ambiente produtivo como
ticas, é imprescindível que se programem aumento das colheitas nas regiões tropicais um todo, do que do conhecimento do solo,
manejos corretos do solo e da cultura, pois e subtropicais. isoladamente. Como exemplo, pode-se citar

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jeferson@
epamiguberaba.com.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 27

a utilização de estádio fenológico da planta o potencial genético. Cultivares, altamen- de nutrientes têm efeito favorável tanto na
como indicativo para se realizarem práticas te produtivas, desde que adequadamente produtividade das culturas, quanto sobre
de manejo da cultura, como controle de manejadas, proporcionam altas produ- o potencial de contaminação de mananciais
plantas daninhas, adubações de cobertura, tividades. No entanto, práticas culturais e represas. A forma do adubo nitrogena-
necessidade nutricional, etc. minimizam os estresses a que a planta pode do pode ser fator determinante nas perdas
Na avaliação da fertilidade do solo para ser submetida e proporciona melhor apro- por volatilização, enquanto que, a dose de
implantação da cultura, deve-se lançar mão veitamento do potencial genético. potássio, aliada à textura do solo, pode
de conceitos dinâmicos que proporcionam O manejo de pragas/doenças contribui controlar suas perdas por lixiviação.
uma análise que considere o conjunto de para reduzir a concorrência do milho com O manejo de nutrientes começa com a
fatores disponíveis no solo. No entanto, as plantas daninhas, insetos e doenças. análise de solo. Esta é a melhor ferramenta
altas produtividades ainda são metas difí- A pesquisa tem colocado à disposição do para prever aplicações adicionais ou redu-
ceis de alcançar por muitos, sobretudo, agricultor, técnicas para superar os efeitos ção de adubações em novos cultivos e,
porque os recursos naturais que regular- adversos dessas pragas/doenças. Dentre conseqüentemente, evitar contaminações
mente resultam em altas produtividades estas, podem ser citadas a seleção de va- ambientais e proporcionar redução dos cus-
não estão disponíveis para todos. Por esta riedades (melhoramento de plantas) com tos com fertilizantes.
razão, há, ainda, necessidade de construir resistência a doenças e rotação de culturas.
ou manejar adequadamente a fertilidade dos A produtividade do solo é fator de gran- Absorção e acúmulo
solos do Cerrado. de importância no processo produtivo. de nutrientes
Na busca por altas produtividades, os Os solos do Cerrado geralmente são de fer- As exigências nutricionais das plantas
desafios que os produtores enfrentam, se- tilidade natural baixa, refletida, principal- de milho são variáveis ao longo do ciclo da
gundo Hoeft (2003), podem ser agrupados mente, pela alta capacidade de adsorção cultura, apresentando picos de máxima e
em cinco categorias, a saber: clima, manejo de fósforo, baixa capacidade de troca catiô- de mínima absorção. Torna-se imprescin-
de nutrientes, produtividade do solo, prá- nica, acidez elevada, baixos níveis de cálcio, dível conhecer a marcha de absorção dos
ticas culturais/potencial genético e manejo magnésio e micronutrientes, em função do nutrientes em função do tempo, para pre-
de pragas (esses fatores já foram mencio- material de origem e/ou do alto intempe- ver como e quando serão feitas as aduba-
nados como recursos naturais reguladores rismo. Com o avanço da agricultura para ções. É igualmente importante conhecer o
de altas produtividades). estas áreas tornou-se imprescindível mane- acúmulo de nutrientes na planta para repo-
Como o clima interfere afetando as altas jar adequadamente as práticas envolvidas sição eficiente dos nutrientes retirados em
produtividades? O milho, como todas as no processo produtivo, sendo estas a úni- maior quantidade e, dessa forma, manter o
culturas, requer fornecimento adequado de ca forma de conseguir altas produtivida- equilíbrio nutricional do sistema produ-
água, temperatura diurna e noturna ade- des. Todas as práticas visam à construção tivo.
quadas e radiação solar abundante, para da fertilidade do solo, minimizando as limi- A nutrição mineral das plantas de milho
permitir a otimização do potencial produ- tações impostas pela baixa fertilidade natu- influencia a colheita, devido também ao
tivo. Para uma produtividade de 10 t ha-1 ral. Neste contexto, o plantio direto assume controle sobre a área foliar nos primeiros
de grãos, a cultura do milho necessita de papel de grande importância, e constitui a estádios de desenvolvimento. Isto porque,
50 a 60 cm de água supridos pela combina- forma mais eficiente de melhorar o sistema segundo mencionado por Fancelli (2000),
ção de precipitação e de água armazenada de produção. a planta de milho é considerada uma das
no solo, conforme Hoeft (2003). Segundo O manejo de nutrientes é essencial, do mais eficientes na conversão de energia ra-
Fancelli (2000), no estádio V4, época em ponto de vista ambiental, por minimizar as diante e, conseqüentemente, na produção
que é definido o potencial produtivo do perdas de nutrientes para o ambiente, e do de biomassa, visto que uma semente que
milho (quando ocorre a diferenciação flo- ponto de vista produtivo, por otimizar a pesa, em média, 260 mg resulta em período
ral), não pode ocorrer disponibilidade de produtividade e reduzir os custos de pro- próximo a 140 dias, cerca de 0,8 a 1,2 kg de
água menor que 2 mm por dia, e temperatu- dução. Estas perdas são significativas na biomassa por planta, e 180 a 250 g de grãos
ra inferior a 12oC por mais de 3 horas (no contaminação de águas subsuperficiais por planta, multiplicando-se, aproximada-
mínimo 25 kg ha-1 de N). A radiação solar pelo nitrogênio lixiviado (acúmulo de nitra- mente, mil vezes o peso da semente que a
está relacionada diretamente com a taxa de to) e pela eutroficação de lagos e reserva- originou. Neste aspecto, o índice de área
fotossíntese, que diminui quando esta ra- tórios, crescimento de algas e outras plan- foliar é determinante até da massa de grãos.
diação é reduzida. tas aquáticas superficiais, principalmente No florescimento, este índice deve estar
Produtividades elevadas somente são pelo arraste de fósforo pelas águas de ero- entre 4,5 e 6,0 (FANCELLI, 2000). A grande
possíveis, se nas plantas estiver inserido são. A dose, a época e a forma de aplicação importância do índice de área foliar pode
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
28 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

ser resumida pelo fato de o milho possuir to do sistema radicular. Nesta fase inicial Translocação e exportação
alto potencial e grande habilidade fisioló- da planta (até aproximadamente a 8a folha), de nutrientes
gica na conversão de carbono mineral em a raiz é o “dreno forte” e constitui a maior No Quadro 2, são mostrados valores
compostos orgânicos, que são transloca- prioridade da planta para proporcionar taxa de exportação de nutrientes obtidos por
dos dos tecidos fotossinteticamente ati- máxima de desenvolvimento do sistema Andrade et al. (1975 ab), em plantas, na
vos, que são a fonte, para locais da planta radicular para que, no estádio correspon- fase de máximo acúmulo de massa seca da
onde serão acumulados, os denominados dente a 12 folhas, a planta possa apresentar parte aérea e por Hiroce et al. (1989), cujas
drenos. O estado nutricional da planta, total atividade na absorção de nutrientes. amostragens foram feitas após a maturação
dentre outros fatores, pode governar a efi- A importância indireta do N no crescimen- fisiológica dos grãos.
ciência de conversão, favorecendo ou to do sistema radicular pode ser resumi- A taxa de translocação do nutriente na
não o processo da fotossíntese (de nada da no fato de ele modular a síntese da cito- planta é variável entre os tecidos e é pré-
adiantaria ter plantas com alta eficiência na cinina e esta ser o estimulante do sistema requisito para sua maior ou menor absor-
interceptação da radiação, com boa arqui- radicular. Então, a restrição de N no início ção depois do florescimento. Condições de
tetura foliar, com bom arranjo espacial e do desenvolvimento do milho pode limitar estresse hídrico limita a translocação de
população ideal, se o estado nutricional o sistema radicular, alterando-o, em ter- carboidratos e nutrientes (VASCONCELOS
está desbalanceado). mos de tamanho, arquitetura, etc., refletin- et al., 1983; SANGOI; ALMEIDA, 1994) e a
Semelhante à exigência nutricional, o do, negativamente, nas demais etapas da baixa fertilidade limita a absorção de nutri-
acúmulo de massa seca também é variável planta. entes e, no caso do N, pode ser limitante
ao longo do ciclo da cultura e, para o milho, Considerando-se os nutrientes N, P, K, durante o período de enchimento de grãos.
a absorção máxima de nutrientes por parte tem-se, no Quadro 1, a absorção pela raiz Neste caso, é de grande importância a re-
da planta ocorre no estádio de 10 a 14 fo- em função do estádio fenológico. Para o N, mobilização do N dos tecidos vegetati-
lhas. Tomando-se quantidade de nutriente a quantidade é maior proporcionalmente vos.
absorvida por unidade de raiz, por tamanho em relação ao número de raiz no estádio 1 É provável que cerca de um terço do N
de sistema radicular (FANCELLI, 2000), (4 folhas), porém, em termos de quantidade e metade do P dos grãos, na maturidade,
verifica-se que, com exatamente quatro de N absorvida na unidade de tempo, a fase seja proveniente de outras partes da plan-
mais importante seria 12 a 14 folhas. Por- ta (HANWAY, 1962). De acordo com
folhas é que acontece a maior necessidade
tanto, o milho apresenta resposta à apli- Fernandes et al. (1999), 71%-77% do N, 77%-
em N, para isso, é que, atualmente, se pensa
cação de N até a 12a folha. Para o fósforo, 86% do P, 26%-43% do K, 3%-7% do Ca,
em termos de antecipação do N. Sem esse
observam-se duas fases importantes: está- 47%-69% do Mg, 53%-77% do S e
aumento no plantio ou sua antecipação não
dio 1 (4 folhas) e logo após o florescimento 35%-87% do Zn foram translocados para
seria possível satisfazer essa demanda da
(estádio 5-6), sendo o P muito importante os grãos. A baixa translocação do cálcio
planta.
no estádio de enchimento de grãos. O fós- mostrada confirma sua quase imobilidade
O comportamento dos híbridos moder-
foro, assim como o potássio, é também dentro da planta e, segundo Vasconcelos
nos altamente produtivos em comparação
importante na massa dos grãos. A máxima et al. (1983), no milho, o cálcio apresenta
com outros mais antigos tem o acúmulo de
absorção do K ocorre quando a planta de baixa redistribuição de folhas e colmos para
massa seca semelhantes, enquanto, ao que
milho possui entre 12 e 14 folhas. a espiga. Segundo Andrade et al. (1975a),
tudo indica, o acúmulo de nutrientes pare-
ce ter aumentado nos estádios iniciais em
híbridos mais produtivos. O reflexo direto QUADRO 1 - Absorção de nutrientes pelas raízes de milho em função do estádio fenológico
desta afirmação é a mudança nas recomen- N P K
Estádios fenológicos
dações das quantidades de nitrogênio na (kg km de raiz dia ) (kg km de raiz dia ) (kg km de raiz dia-1)
-1 -1 -1 -1 -1

adubação de plantio, passando atualmente


4 folhas 3,12 x 10-4 0,62 x 10-4 0,42 x 10-4
de 10 a 20 kg ha-1 para 30 a 45 kg ha-1 de N.
9 folhas 1,77 x 10-4 0,13 x 10-4 0,17 x 10-4
Pergunta-se então: Por que colocar mais
nitrogênio e mais cedo para a planta? Por 12 a 14 folhas 1,88 x 10-4 0,19 x 10-4 1,50 x 10-4
que se estuda tanto a antecipação do nitro- Pendoamento 0,27 x 10-4 0,08 x 10-4 0,19 x 10-4
gênio para a cultura do milho? Segundo
Fancelli (2000), o nitrogênio é fundamental Início do enchimento
para o milho em função de garantir a dife- de grãos 0,45 x 10-4 2,20 x 10-4 0,05 x 10-4
renciação floral e de estimular o crescimen- FONTE: Fancelli (2000).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 29

QUADRO 2 - Valores absolutos e relativos (grãos por planta toda) de macro e micronutrientes (1993), as frações leves da matéria orgâ-
acumulados nos grãos nica do solo influenciam mais a CTC nas
(A) (B)
camadas até 5 cm de profundidade do que
Nutriente Exportação de nutrientes Exportação de nutrientes
as frações húmicas. Entretanto, os resíduos
Nos grãos Relativa Nos grãos Relativa culturais apresentaram significativa parti-
Macronutriente
-1 -1
(kg t ) (% do total) (kg t ) (% do total) cipação nessas frações. O manejo do N está
N 19,5 67 16,4 59 estreitamente relacionado com a biomassa
microbiana e as frações leves.
P 3,9 78 4,0 87
O desenvolvimento radicular do milho
K 4,9 14 5,1 29 é a conseqüência do uso de coberturas
Ca 0,1 2 0,6 14 mortas que produzem sistemas radiculares
Mg 1,7 29 1,7 37
abundantes aumentando a porosidade e re-
duzindo a resistência à penetração (Fig. 1).
S 1,7 33 1,1 42
O aumento da fertilidade em solos de
Nos grãos Relativa Nos grãos Relativa carga variável no SPD é resultante da inte-
Micronutriente
-1 -1
(g t ) (% do total) (g t ) (% do total) ração do não-revolvimento do solo, asso-
B 2,8 15 3,3 19 ciado à manutenção dos resíduos culturais.
É, portanto, a base para sistemas de pro-
Cu _ _ 1,1 15
dução de alta produtividade.
Zn 21,4 52 28,8 56
FONTE: (A) Andrade et al. (1975ab) e (B) Hiroce et al. (1989). RECOMENDAÇÃO DE
ADUBAÇÃO E CALAGEM
Para a cultura do milho, as adubações
a porção palha mais sabugo, em compara- favorecendo a fisiologia e o desenvolvi-
e correções do solo devem ser feitas com
ção aos grãos, é relativamente rica em Ca e mento do sistema radicular das plantas;
base na análise do solo e, quando possível,
K e pobre em N, P, Mg e S. contribui para a melhoria da porosidade complementada pela análise de folhas. Para
total do solo; proporciona maior tolerância que os resultados das análises de solo e
Construção da fertilidade da planta a períodos de estiagem; etc. folhas sejam confiáveis, além da credibili-
do solo Não é possível pensar em construir a dade do laboratório (10% do erro analíti-
O cultivo contínuo de determinada área fertilidade do solo sem pensar no aumento co), é imprescindível fazer boa amostra-
com a mesma cultura resulta no esgota- da matéria orgânica. Este é o componente- gem.
mento acentuado do solo, com a conse- chave do Sistema e apresenta inúmeros De maneira geral, a recomendação de
qüente geração de produções insatisfató- benefícios na ciclagem de nutrientes e adubos e corretivos é feita com auxílio de
rias. Dessa forma, é de grande importância no uso deles pelas plantas. Segundo Sá tabelas próprias. Atualmente, segundo
um programa de rotação de culturas, alter- (1993), o aumento de 1 g dm-3 de C resulta Cantarella e Duarte (2004), merecem des-
nando o cultivo do milho com legumino- em acréscimo de 1,39 cmolc dm-3, na capa- taque os progressos nas tabelas de adu-
sas. Esta prática, inclusive, contribui para cidade de troca catiônica (CTC) do solo e bação, que passaram a levar em conta a
redução na adubação nitrogenada do milho que as taxas anuais de ganho na CTC do expectativa de produtividade e, indireta-
cultivado após a soja. solo a longo período são: na camada de mente, a extração e exportação de nutri-
Um sistema de plantio que apresenta 0,0-2,5 cm, 1,1 cmolc dm-3; na camada de entes. Esses autores também apontam a
inúmeras vantagens na construção da fer- 2,55 a 5,0 cm, 0,3 cmolc dm-3 e na camada de expansão do plantio direto como um fator
tilidade do solo é o Sistema Plantio Dire- 5,0 a 10,0 cm, 0,28 cmolc dm-3 de solo (maior importante para a adoção de tecnologias
to (SPD). Dentre os benefícios inerentes à CTC promove maior produção de fitomas- modernas na cultura do milho, ao mesmo
implantação do SPD, podem-se citar: maior sa que, por conseguinte, promove maior tempo que exige cuidados no manejo da
conservação da umidade do solo; maior ciclagem de nutrientes). Também, aumen- calagem e da adubação, especialmente a
aproveitamento da água disponível pelas to na CTC do solo é sinônimo de aumento nitrogenada, em virtude de potenciais impli-
plantas; contribui consideravelmente pa- de P, devido à redução na adsorção de P, cações ambientais do excesso de N.
ra a manutenção de níveis satisfatórios de à menor superfície de contato com o íon Em resumo, com o avanço das técnicas
matéria orgânica no solo; propicia a ocor- colóide e à formação de formas orgânicas de cultivo e dos aumentos de produtivi-
rência de menor amplitude térmica no solo, de P. De acordo com conclusões de Sá dade da cultura do milho, a recomendação
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
30 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Fotos: Jeferson Antônio de Souza


Figura 1 - Área de plantio de milho (SPD) com cobertura de Brachiaria brizantha (braquiarão), vinte dias após dessecação
NOTA: Observa-se a abundância de raízes e a eficiência da cobertura do solo.

de adubos e corretivos não pode mais ser visando à programação das adubações e/ou bação. Em agricultura de precisão utiliza-
feita com base em dados de laboratórios e correções de solos. É o ponto de partida se o Global Positioning System (GPS), se-
tabelas de adubação. Deve-se substituir o para adubação/correção feita com eficiência. gundo Fancelli e Dourado Neto (2004).
conceito estático de fertilidade de solo, por Para a cultura do milho, assim como para No sistema de cultivo convencional, as
conceitos dinâmicos, que levam em consi- outras culturas anuais, a amostragem de amostragens são feitas na profundidade de
deração fatores que interagem alterando a solo deve ser feita com base em conheci- 0-20 cm e, conforme o caso, até 20-40 cm.
disponibilidade do nutriente em questão. mentos científicos, adotando-se critérios No SPD, de até sete anos após a implan-
Em outras palavras, para se fazer recomen- que façam com que a amostra coletada seja tação, recomenda-se amostrar o solo nas
dação não é mais suficiente verificar o ní- a mais representativa possível das condi- camadas 0-10 cm e 10-20 cm e, até 20-40 cm.
vel ditado pela análise de laboratório e ir à ções de fertilidade da área de implantação A estratificação da camada superficial é
tabela. Isto porque, dois solos com a mesma da cultura. Nesse aspecto, o número mínimo indicativo do potencial do solo em forne-
quantidade de P disponível e opostos em de amostras deve ser estabelecido de acor- cer nutrientes de médio a longo prazo. Pa-
relação à capacidade de água disponível, do com o procedimento de amostragem a ra ter o resultado na camada 0-20 cm, pois
por exemplo, podem ter o mesmo potencial ser adotado: tradicional ou orientada – nor- as adubações e correções são calculadas
produtivo ou o mesmo conteúdo de P, se malmente a orientada exige maior precisão para camadas de 20 cm de solo, misturam-
for considerado apenas o resultado de labo- e, conseqüentemente, maior número de se as amostras coletadas de 0-10 cm e de
ratório, ou potenciais diferentes, se for amostras. 10-20 cm. Em áreas com mais de sete anos
considerada a capacidade de armazena- A amostragem tradicional consiste na de SPD, portanto, em equilíbrio, pode-se
mento de água. É importante considerar coleta de amostras simples, para compor a amostrar o solo de 0-20 cm e de 20-40 cm.
todos os fatores envolvidos e abolir de vez amostra representativa do talhão supos- Em ambos os sistemas de cultivo, conven-
as cartilhas de recomendação. tamente uniforme – os critérios usuais são: cional ou plantio direto, devem-se adotar
topografia e cor do solo ou mapa de ren- estratégias de amostragem que incluem
Amostragem de solo dimento da cultura. A amostragem orien- linhas de plantio e entrelinhas. Para isso,
e planta tada consiste na coleta de amostras sim- as amostras podem ser coletadas com tra-
A amostragem de solo é o componente ples, para compor a amostra composta por dagens nas entrelinhas e nas linhas de
principal de recomendação de adubos e unidade de área, orientada por coordena- plantio, colocando-se em um balde a terra
corretivos e interfere diretamente nos resul- das cartesianas, com o objetivo de fazer o coletada e misturando-se em seguida, para
tados analíticos e na interpretação destes, mapa de fertilidade e recomendação de adu- homogeneização. Daí será retirada a amos-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 31

tra para análise com, aproximadamente, dações. Admite-se que mais de 90% dos Fertilidade atual
300 g. Outra maneira de retirar as amostras erros cometidos na interpretação dos re- e fertilidade almejada
consiste em abrir a cova na profundidade sultados de análise sejam devidos à amos- Muitas vezes a área de cultivo apresen-
de 20 cm, tendo de comprimento o espaça- tragem e não à análise realizada. ta nível de fertilidade insuficiente para a
mento utilizado para as linhas de plantio, É de conhecimento amplo que as con- implantação e manutenção da cultura do
tomando-se a metade do espaçamento para centrações dos nutrientes nas diversas milho. Nesse caso, há necessidade de fa-
cada lado. Assim, a linha de plantio deve- partes da planta são variáveis em função zer correção das características químicas
rá ficar no centro da cova (Fig. 2). Repetir o do estádio de desenvolvimento, além de do solo elevando os níveis atuais de dis-
procedimento em cerca de 20 pontos. outros fatores. De maneira geral, o início ponibilidade de nutrientes a níveis consi-
Ao contrário da análise de solo, o obje- da floração é a época mais indicada para deravelmente mais altos, de acordo com as
tivo da análise foliar é conhecer o estado amostragem na maioria das culturas. Para exigências da cultura. Como orientação,
nutricional da cultura, o que possibilita o o milho, a recomendação é colher o terço adotam-se os valores críticos dos macro-
planejamento de cultivos posteriores, uma médio da folha abaixo da espiga (folha + 4, nutrientes no solo, definindo as faixas óti-
vez que os resultados da análise foliar so- a partir do ápice), retirando-se a nervura ma e de deficiências, e de micronutrientes
no solo, definindo as faixas ótima, de defi-
mente poderão ser úteis para a próxima central, na época da inflorescência femini-
ciência e fitotoxidez (Fig. 3). Elabora-se,
safra. na (cabelo). Devem-se amostrar pelo menos
então o fertigrama. Diante dos dados do
Por meio da análise foliar de amostras 30 plantas por talhão ou gleba.
fertigrama, pode-se visualizar a necessida-
colhidas na hora certa, conseguem-se boas Para obter sucesso no cultivo do milho,
de de cada nutriente a ser adicionado pe-
correlações entre as concentrações de nutri- o agricultor deve lançar mão de resultados
las adubações. Assim, podem-se definir
entes nas plantas e as produções obtidas. de análise do solo, de amostras retiradas
estratégias de manejo a curto e a longo pra-
De posse dos resultados da análise foliar, antes do início do preparo da área de plan-
zos, com o objetivo de alcançar o nível dese-
podem-se calcular doses de fertilizantes, tio, combinados com resultados de análise
jado de fertilidade do solo no sistema de
uma vez que há boa correlação entre as foliar do cultivo anterior. Isto porque, as
produção adotado.
concentrações nutricionais da folha anali- análises de solo e de planta são comple-
sada, e doses necessárias para obter pro- mentares e, em conjunto, oferecem informa- Calagem
dutividades almejadas. Contudo, a análise ções valiosas para a solução de problemas Para a cultura do milho no estado de
não deve ser melhor que a amostragem, isto nutricionais observados no cultivo ante- Minas Gerais, o cálculo da calagem é feito
é, de nada adianta a análise bem-feita em rior, além de possibilitar o planejamento da por dois métodos com base em dois con-
material colhido sem as devidas recomen- adubação a ser feita. ceitos amplamente aceitos por técnicos e

Figura 3 - Fertigrama (solo): representação


esquemática da fertilidade alme-
jada
FONTE: Fancelli e Dourado Neto (2004).
NOTA A – Informação de pesquisa e co-
nhecimento empírico acumulado no
Figura 2 - Esquema para orientar a coleta de amostras de solos em áreas já implantadas
local de interesse, e da fertilidade
FONTE: Comissão .... (1995 apud SOUSA; LOBATO, 2002). atual; B – Resultado da análise quí-
NOTA: Também é útil para coletar amostras de solo após a retirada da cultura. mica do solo.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


32 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

especialistas em fertilidade de solos: méto- Método da saturação por bases feita com base nos resultados da análise
do da neutralização da acidez trocável e da Neste método, considera-se a relação de solo e, sempre que possível, reforçada
elevação dos teores de Ca, Mg e Al tro- existente entre o pH do solo e a saturação pela análise foliar, principalmente em se tra-
cáveis e método da saturação por bases. por bases (V%). Devem ser determinados tando de micronutrientes. Para recomen-
A gessagem pode ser uma prática adotada, os teores de Ca, Mg e K trocáveis e, em dação de nitrogênio lança-se mão da quan-
quando a camada subsuperficial apresen- alguns casos, de Na trocável, além da aci- tidade absorvida pela cultura em função
tar Ca < 0,4 e/ou Al > 0,5 cmolc dm-3 e/ou dez potencial (H + Al) extraível em acetato da produtividade almejada, descontando-
m > 30% e/ou relação Ca/t < 60. As quan- de cálcio 0,5 mol L-1 a pH 7,0 ou pelo esti- se a quantidade fornecida pelo solo, por
tidades de gesso a aplicar estão relaciona- mado pelo método do pHSMP. O valor da meio da matéria orgânica ou de restos de
das diretamente com o valor do P remanes- saturação por bases para a cultura do milho culturas. Para os demais nutrientes, macro
cente (RIBEIRO et al., 1999). é 50%. Então, pode-se determinar a neces- ou micro, deve-se seguir a recomendação
sidade de calcário por: contida na 5a aproximação (RIBEIRO et al.,
Método da neutralização 1999). Para interpretação da disponibili-
da acidez trocável e NC = T (50 – V)/100
dade de fósforo, desde 1999 adotam-se os
da elevação dos teores de Ca, Quantidade de calcário valores do P remanescente, indispensável
Mg e Al trocáveis A necessidade de calcário calculada nos laboratórios de análise de solo do esta-
Neste método, são consideradas as ca- por um dos dois métodos citados refere- do de Minas Gerais.
racterísticas do solo e as exigências das se à quantidade de CaCO3 ou calcário, por Quando se pensa em recomendação de
culturas. Com o cálculo da calagem, por hectare, com poder relativo de neutraliza- adubação, dois tópicos são abordados di-
este método procura-se corrigir a acidez do ção total (PRNT) de 100% a ser incorporado reta ou indiretamente:
solo (para isso leva-se em consideração a na camada de 0 a 20 cm de profundidade.
suscetibilidade ou tolerância do milho à No SPD a correção do solo deve ser feita, a) adubação de correção e
elevada acidez trocável – valor mt, que é a obrigatoriamente, antes de sua implanta- adubação com manutenção
máxima saturação por Al3+, e a capacidade ção. A quantidade de calcário (QC) é ajus-
Segundo Sousa e Lobato (2002), a adu-
tampão do solo, valor Y) e elevar a dispo- tada em função da profundidade de cor-
reção. Esta QC pode ser referida como sen- bação corretiva tem como objetivo trans-
nibilidade de Ca e Mg de acordo com as
do a dose teórica, pois, na prática, a dose formar o solo de baixa fertilidade em solo
exigências da cultura do milho (valor X).
de calcário deve ser calculada levando-se fértil. É importante conhecer o nível de fer-
Para o milho, mt = 15%, X = 2,0 cmolc dm-3 e
em consideração: a porcentagem da su- tilidade atual do solo e a fertilidade almeja-
Y é obtido de acordo com os dados apre-
perfície do solo a ser coberta com calcário da. Para definir o nível de fertilidade que se
sentados no Quadro 3 ou por modelo de
(SC, em %); a profundidade de incorpora- quer, é imprescindível conhecer o grau de
regressão cúbico (Y = 4,002 – 0,125901
ção do calcário (PI, em cm); o PRNT, em %. exigência da cultura.
P-rem + 0,001205 P-rem2 – 0,00000362
Calcula-se a QC através da expressão: Atualmente, com o avanço do SPD,
P-rem3, R2 = 0,9998). Ambos em função
áreas cultivadas com milho dispensam adu-
do valor de fósforo remanescente (P-rem). QC = NC . (SC/100) . (PI/20) . (100/PRNT) bações corretivas, sobretudo naquelas com
Y é variável em função da capacidade tam-
plantio direto já estabilizado.
pão da acidez do solo. Então, a necessida- Adubação
Para obter melhores resultados com a
de de calcário (NC) pode ser determinada A recomendação de adubação para a
lavoura é fundamental que se conheçam
pela equação: cultura do milho, obrigatoriamente, deve ser
os fatores mais limitantes de cada área da
propriedade, pois isso possibilita a progra-
NC = Y [Al3+ – (2,0 . t/100)] + [15 – (Ca2+ + Mg2+)] mação de adubação equilibrada, aplicando-
se, prioritariamente, os nutrientes mais de-
QUADRO 3 - Valores de Y para cálculo da capacidade tampão da acidez do solo em função dos ficientes (adubação de correção) e a dose
valores de fósforo remanescente (P-rem) de manutenção dos nutrientes que estão
P-rem P-rem com teores ótimos no solo (adubação de
Y Y manutenção). De maneira geral, as adu-
(mg L-1) (mg L-1)
bações corretivas são mais comuns para
0a4 4,0 a 3,5 19 a 30 2,0 a 1,2
fósforo e potássio. As principais ferramen-
4 a 10 3,5 a 2,9 30 a 44 1,2 a 0,5
tas disponíveis para esse fim são: histó-
10 a 19 2,9 a 2,0 44 a 60 0,5 a 0,0 rico da área, análise de solo e análise de
FONTE: Ribeiro et al. (1999). folhas.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 33

Quando se pretende cultivar o milho b) adubação de plantio e adubação de semeadura pode ser colocado em sulcos
no SPD, a adubação corretiva deve ser feita, cobertura (parcelamentos) ou a lanço.
obrigatoriamente, antes da implantação, Todo o fósforo a ser fornecido para a Atualmente, recomenda-se colocar no
pois este sistema impede o revolvimento cultura do milho deve ser colocado por plantio mais N (Quadros 4 e 5). No entanto,
do solo. A adubação corretiva gradual po- ocasião do plantio, a não ser quando se tem-se questionado a necessidade de fazer
de ser utilizada, quando não se tem capital tem que fazer adubação fosfatada correti- o parcelamento da adubação nitrogenada
suficiente para realizar a correção de uma va. Nesse caso, o fósforo é colocado no para a cultura do milho, sobretudo em solos
só vez. Consiste em aplicar no sulco de solo antes do plantio. Já o nitrogênio e o argilosos devido, principalmente, ao maior
plantio, quantidade de P superior à indi- potássio são fornecidos parte no plan- custo de produção. Hoje não há razão de
cada para manutenção, até atingir, após tio e parte em cobertura, ou ainda colo- parcelar o N em condições de sequeiro, por-
alguns anos, a disponibilidade de P dese- cados juntos ou não em pré-semeadura. que este está relacionado com a disponibi-
jada para cultivo do milho ou do sistema O N em pré-semeadura tem sido usado em lidade de água (FANCELLI, 2000). Para que
de produção adotado. recuperação de pastagens através da inte- o parcelamento possa ser eficiente, a água
Independentemente do método de corre- gração lavoura-pecuária. O potássio colo- tem que estar no Sistema.
ção do P, estando o solo corrigido com teor cado junto com o N nas entrelinhas do mi- Resultados de pesquisa (FANCELLI,
classificado como adequado, recomenda- lho tem como objetivo reduzir os custos. 2000; FANCELLI; DOURADO NETO,
se apenas a adubação de manutenção. Por outro lado, o potássio sozinho em pré- 2004) têm mostrado que uma cobertura po-

QUADRO 4 - Adubação mineral para a cultura do milho em função da produtividade esperada de grãos
(2) (3)
Disponibilidade de P Disponibilidade de K
(1) (4)
Produtivi- N no N em
(5) (6)
Baixa Média Boa Baixa Média Boa S Zn
dade plantio cobertura
-1
-1 -1 -1 (kg ha ) (kg ha-1)
(t ha ) (kg ha ) Dose de P2O5 Dose de K2O (kg ha )

(kg ha-1) (kg ha-1)

4a6 30-45 80 60 30 50 40 20 40 30 1-2

6-8 30-45 100 80 50 70 60 40 80 30 1-2

>8 30-45 120 100 70 90 80 60 120 30 1-2

FONTE: Dados básicos: Ribeiro et al. (1999).


(1) As doses de N no plantio foram alteradas, conforme sugerido por Fancelli (2000). (2) (3) Utilizar os critérios de interpretação apresentados em
Ribeiro et al. (1999). (3) (4) As coberturas devem ser feitas observando-se as recomendações contidas no Quadro 6. (5) Esta quantidade está
vinculada à aplicação de fertilizantes concentrados, sem enxofre. (6) Em solos deficientes ou com eficiência verificada no cultivo anterior.

QUADRO 5 - Adubação mineral para a cultura do milho em função da produtividade esperada de massa verde para silagem
(2) (3)
Disponibilidade de P Disponibilidade de K
(1) (4)
Produtivi- N no N em
(5) (6)
Baixa Média Boa Baixa Média Boa S Zn
dade plantio cobertura
-1
(kg ha ) (kg ha-1)
(t ha-1) (kg ha-1) Dose de P2O5 Dose de K2O (kg ha-1)

(kg ha-1) (kg ha-1)

30-40 30-45 80 60 30 100 80 40 60 30 1-2

40-50 30-45 100 80 50 140 120 80 110 30 1-2

> 50 30-45 120 100 70 180 160 120 160 30 1-2

FONTE: Dados básicos: Ribeiro et al. (1999).


(1) As doses de N no plantio foram alteradas, conforme sugerido por Fancelli (2000). (2) (3) Utilizar os critérios de interpretação apresentados em
Ribeiro et al. (1999). (3) (4) As coberturas devem ser feitas observando-se as recomendações contidas no Quadro 6. (5) Esta quantidade está
vinculada à aplicação de fertilizantes concentrados, sem enxofre. (6) Em solos deficientes ou com eficiência verificada no cultivo anterior.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


34 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

deria ser feita entre a 4a e a 6a folha (não QUADRO 7 - Índice salino de fertilizantes com K na CTC do solo em nível adequa-
mais em número de dias, mas em número N-P2O5-K20 Índice do e CTC com valores também satisfató-
de folhas) (Quadro 6). Fertilizante rios pode-se optar por colocar o K em pré-
(%) salino
Quanto ao número de coberturas, semeadura. Essa operação reduz em muito
Nitrato de amônio 34-00-00 101,7
recomendam-se fazer duas, em condições o K na semeadura, o que proporciona ger-
Sulfato de amônio 21-00-00 69,0
de solos arenosos ou de alta percolação, e minação mais uniforme das plantas.
três coberturas, apenas em sistema de pi- Uréia 45-00-00 72,7
vô central. Existem trabalhos desenvolvi- Nitrato de sódio 16-00-00 100,0 Nitrogênio
dos na Embrapa Cerrados com pivô central Superfosfato simples 00-20-00 7,8 É de conhecimento amplo a importância
parcelando-se a adubação nitrogenada em do nitrogênio na cultura do milho de altas
Superfosfato triplo 00-45-00 10,1
até dez vezes e não se encontrou diferença produtividades. A literatura tem mostrado
MAP 11-55-00 26,9
significativa entre três e dez aplicações de resultados com até 200 kg ha-1 de N, para
N em cobertura. Inclusive, quanto maior o DAP 18-46-00 29,0 produtividades acima de 10 t ha-1. A res-
número de parcelamentos, maior é a chance Cloreto de potássio 00-00-60 116,3 posta das culturas à adubação nitrogenada
de perdas por volatilização e imobilização Sulfato de potássio 00-00-54 46,1 depende, além do suprimento de nitrogênio
(porque se trabalha sempre com N diluído). Nitrato de potássio 14-00-46 73,6 do solo, da dose aplicada, das caracterís-
Então, em sistemas de irrigação, devem-se ticas da planta e das condições de uso ante-
FONTE: Fancelli (2000).
fazer, no máximo, três aplicações e, normal- riores (OLIVEIRA; BALBINO, 1995), ou
NOTA: MAP - fosfato monoamônico; DAP -
mente em termos gerais, recomenda-se ape- seja, depende diretamente da forma como
fosfato diamônico.
nas uma aplicação. a adubação foi realizada, da fonte emprega-
Com relação ao potássio, recomenda- da, das condições climáticas e do histórico
se que a quantidade no plantio não seja Além da dose, outras estratégias po- da área ou sistema de cultivo.
superior a 60 kg ha-1, devido ao efeito salino dem contribuir para a adubação potássica Em condições naturais, o N entra no
(FANCELLI, 1998 apud FANCELLI, 2000). eficiente. Isto é importante porque o efeito sistema através da fixação biológica e/ou
No Quadro 7 são mostrados os índices sali- salino vai interferir na arquitetura da raiz, pela decomposição de resíduos de animais
nos de alguns fertilizantes, com destaque a exemplo do que é mostrado na Figura 4 e vegetais. Do N contido no solo, cerca de
para o cloreto de potássio. para a soja. Caso se tenha o solo corrigido, 90% está na matéria orgânica em forma

QUADRO 6 - Adubação de cobertura nitrogenada e de complementação potássica em milho

Parcelamento/Tipo Época Condição ou indicação

Nitrogênio (considerando o uso de


30 a 45 kg ha-1 de N na semeadura)
1 aplicação 4a a 6a folha Solos argilosos e regiões muito chuvosas

2 aplicações (1a) 4a folha Solos arenosos e condição de alta percolação de N


(2a) 7a e 8a folha

3 aplicações (1a) 4a folha Sistemas de irrigação por pivô central


(2a) 6a a 8a folha
(3a) 10a folha

Potássio (considerando o uso de até


60 kg ha-1 de K2O na semeadura)

Pré-semeadura 1 a 8 semanas antes da semeadura Solos corrigidos participação do K na CTC > 1,5 e CTC do solo > 4,5

Cobertura A lanço Antes de as plantas emergirem

Na superfície em faixas Até a 6a folha

Incorporado Até a 8a folha

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 35

resíduos da cultura e a eficiência de utili-


zação do N (MENGEL, 1996), conforme
Figura 5.
Atualmente é vantajoso utilizar sistemas
de produção planejados por sucessivas
safras. Dessa forma, procura-se, através da
rotação de culturas com exigências nutri-
cionais diferentes, aproveitar melhor os resí-
duos de adubações anteriores.
No SPD não há revolvimento do so-
lo, com manutenção dos resíduos na su-
perfície. A liberação de nutrientes, pelo
processo de mineralização, depende, entre
outros fatores, das práticas de manejo e
das condições ambientais, da relação car-
bono/nitrogênio (C/N) dos resíduos.
O cultivo do milho, após gramíneas ou
leguminosas, apresenta um balanço dife-
renciado de N no solo, podendo influir no
rendimento de grãos. O cultivo após gra-
míneas (aveia-preta, por exemplo) apresenta
Figura 4 - Arquitetura de raiz em função da concentração de sais
menor oferta de N na fase inicial, sobretudo,
FONTE: Dados básicos: Teruel (1999 apud FANCELLI, 2000).
devido à relação C/N mais elevada, o que
estável, porém não disponível para as ser respondidas: quanto, como e quando causa imobilização temporária de N. Para
plantas. Este se torna disponível lenta- aplicar o N. As quantidades de N depen- Sá (1993), a faixa de resposta para pro-
mente e em quantidades insuficientes para dem diretamente da produtividade espe- dutividades acima de 8.000 kg ha-1 seria de
satisfazer as exigências das plantas de mi- rada, enquanto que a forma de aplicação 40 a 120 kg ha-1 de N.
lho em crescimento, apenas cerca de 2%- está condicionada à fonte e ao sistema de O cultivo do milho após leguminosas
3% do N da matéria orgânica são conver- cultivo da cultura. A época de aplicação apresenta maior oferta de N ao sistema, e,
tidos para a forma disponível a cada ano relaciona-se mais diretamente com a efi- por conseqüência, menor resposta à adu-
(BELOW, 2002). E as plantas de milho re- ciência no aproveitamento do nutriente pela bação mineral. Nesse caso, Sá (1993) men-
querem N em quantidades relativamente planta. De qualquer forma, a adubação nitro- ciona que a faixa de resposta para produti-
grandes, de 1,5% a 3,5% da massa seca genada tem que ser planejada em função vidades superiores a 8.000 kg ha-1 situa-se
da planta (STANGEL, 1984 apud BELOW, da produtividade almejada, aproveitando- entre 20 e 60 kg ha-1 de N. Dessa forma,
2002). Como conseqüência, o restante do se o máximo possível o investimento com para plantios de milho após soja, a reco-
N tem que ser adicionado através de ferti- fertilizantes. mendação é reduzir em 30 ou 40 kg de N
lizantes químicos. na adubação nitrogenada de cobertura
De acordo com Fancelli (2000) e Fancelli Quanto de nitrogênio aplicar? (RIBEIRO et al., 1999).
e Dourado Neto (2004), para o milho, o po- A quantidade de N a ser fornecida para
tencial de produção é definido precoce- a cultura do milho de altas produtividades Como aplicar o nitrogênio?
mente, ou seja, por ocasião da emissão da vai depender do sistema de plantio ado- Apesar de inúmeros estudos, ainda
4a folha (diferenciação floral). O número tado (convencional ou direto, com ou sem restam dúvidas sobre como aplicar o adubo
de ovários e o número de óvulos contidos rotação de culturas). No plantio conven- nitrogenado, tanto no plantio convencio-
na espiga são afetados pela disponibili- cional, os métodos indiretos de recomen- nal como no SPD, principalmente, com
dade de N, além da temperatura, do genó- dação são basicamente dois: aplicar de 15 relação ao custo da adubação. O aprovei-
tipo, da radiação solar e da densidade de a 20 kg de N por tonelada a ser produ- tamento de N pela cultura do milho depen-
plantas (UHART; ANDRADE, 1995 apud zida (YAMADA, 1996), ou considerar a ne- de, ainda, da eficiência da fonte nitroge-
FANCELLI, 2000). cessidade da cultura para produção de nada.
Na busca pela maior eficiência da adu- grãos e palhada, o fornecimento de N pelo Lara Cabezas e Yamada (1999) verifi-
bação nitrogenada, três questões precisam solo através da matéria orgânica (MO) e caram que a incorporação da uréia tem custo
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006
36 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Produção de Fornecimento pelo solo

10.000 kg ha-1 de grãos (1,4% de N) = 140 kg ha-1 de N 3% de MO (20 kg de N por 1% de MO) = 60 kg ha-1 de N
+ +
10.000 kg ha-1 de palhada (1,1% de N) = 110 kg ha-1 de N 30% de N na palhada (40 kg ha-1 de N) = 33 kg ha-1 de N

Total = 250 kg ha-1 de N Total = 93 kg ha-1 de N

Eficiência de utilização
de N igual a 75%

Necessidade de N via adubação


(250 - 93) / 0,75 = 209,3 kg ha-1 de N

Figura 5 - Necessidade de adubação nitrogenada para a cultura do milho


FONTE: Dados básicos: Mengel (1996).
NOTA: Para o milho após soja descontar 30-40 kg ha-1
MO - Matéria orgânica.

de, aproximadamente, 4,5 vezes maior que de cultivo. Portanto, dependendo da forma cial exigida pelo sistema radicular incipi-
sua aplicação na superfície. Entretanto, se de aplicação, deve-se optar por uma ou ente da cultura. Segundo Ritchie et al. (1993
para cada quilo de N volatilizado deixa-se outra fonte de N. apud YAMADA, 1996), as curvas de
de produzir 15 kg de grãos de milho, em absorção mostram que, mesmo nos híbri-
média, incorporando-se a uréia teria lucro Quando aplicar o nitrogênio? dos de ciclo longo, a fase de maior absor-
adicional de 120%, comparativamente com A aplicação tem sido feita basicamente ção de N ocorre entre 30 e 60 dias após a
a não-incorporação. em três épocas: pré-semeadura, semea- emergência. Considerando que o N aplica-
Resultados de diferentes anos de pes- dura e cobertura, em uma ou mais épocas do ao solo primeiro é retido pelos micror-
quisas mostraram perdas superiores a 40%, combinadas. No geral, recomenda-se fazer ganismos e só depois de liberado (2 a 3
quando a uréia é aplicada na superfície uma adubação de plantio, composta de 1/3 semanas ou mais) é absorvido pelas raí-
da palha (LARA CABEZAS et al., 1997a), da adubação e uma (com 2/3) ou duas co- zes. Pode haver déficit de N no período de
ou quando se compararam perdas entre berturas (com 1/3 + 1/3) com o restante da maior necessidade de absorção de N, prin-
aplicação superficial e incorporada (LARA adubação. cipalmente, quando se faz cobertura tardia
CABEZAS et al., 2000). Em trabalho de O N é um nutriente importante no está- ou se aplica pouco N no plantio.
Pöttker e Wiethölter (2000), a aplicação de dio inicial de desenvolvimento da planta. Em um campo de observação da Ciba
N nas linhas de semeadura de milho, em É na segunda semana após a emergên- Sementes, Yamada (1996) menciona
geral, proporcionou rendimentos de grãos cia, que é definido o potencial de produção aumentos de 2.085 kg ha-1 de grãos (35 sa-
mais elevados que a aplicação a lanço, mas (IOWA STATE UNIVERSITY, 1993 apud cas) quando a adubação de 15 kg ha-1 de N
sem diferença significativa entre modos de FANCELLI, 1997). Dessa forma, há neces- (plantio) mais 115 (em cobertura) foi alte-
aplicação. Em outro estudo, Lara Cabezas sidade da disponibilidade de, pelo menos, rada para 35 kg ha-1 (plantio) mais 85 (em
et al. (1997b) registraram perdas por volati- 30 kg ha-1 de N nesta fase da planta. cobertura). Da mesma forma, Davanso
lização acima de 30% e 70% de N aplicado Além disso, aproximadamente aos 20 et al. (apud YAMADA; ABDALLA, 2000)
como uréia, respectivamente, em plantio dias após a emergência, a absorção de N observaram que os melhores resultados
convencional e SPD (aplicação na super- por unidade de raiz/dia é cerca de sete ve- foram obtidos com aplicação de 40 kg ha-1
fície da palha). Já o nitrato e o sulfato de zes maior que no pendoamento e 16 vezes de N no plantio e 80 em cobertura no está-
amônio, nas mesmas condições apresen- maior que no embonecamento (FANCELLI, dio V4 (quatro folhas totalmente abertas),
taram perdas inferiores a 15%, quando 1997). Assim, a adubação de arranque é em relação à adubação toda no plantio.
aplicado na superfície nos dois sistemas importante para suprir a alta demanda ini- No ano anterior, com melhor distribuição

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 37

de chuvas, estes mesmos autores verifi- solo até próximo da maturação fisiológica devem-se considerar, além da questão rela-
caram não haver diferença significativa dos grãos sem declínio aparente nos está- cionada com a adsorção do P, fatores que
entre a adubação toda no plantio compa- dios. Além de ser exigido durante todo o governam diretamente sua disponibilida-
rada com 40 kg ha-1 no plantio + 80 kg ha-1 ciclo da cultura, o P é o nutriente exporta- de para as plantas, como por exemplo, a
em cobertura. De acordo com Silva e Bu- do em maior quantidade relativa, podendo capacidade de armazenamento de água pelo
zetti (2000), a melhor época de aplicação da exportar aproximadamente 90% da quan- solo, uma vez que, aqueles com mesmo teor
adubação nitrogenada foi metade da do- tidade absorvida, de acordo com os dados de P disponível pode apresentar maior po-
se na semeadura e metade no estádio qua- mostrados no Quadro 2. tencial produtivo em função da restrição
tro a seis folhas desenvolvidas. Segundo Com o baixo retorno de P ao solo, alia- ou não de água. Cabe lembrar que o fósforo
Broch e Fernandes (2000), a aplicação de do ao alto poder adsortivo dos solos do é absorvido pelas plantas, preferencial-
sulfato de amônio em cobertura aumentou Cerrado, este nutriente é sabidamente um mente, na forma iônica [-H2PO-4], e que as
a produtividade, independentemente, da dos mais limitantes à cultura do milho. Nes- raízes absorvem o íon pelo processo de
adubação de plantio. Fórmulas contendo te aspecto, a rotação de culturas é altamente difusão, devido ao gradiente de concentra-
S e Zn aumentaram a produtividade em benéfica ao cultivo do milho sem degra- ção existente na solução do solo (MENGEL;
24% (com fórmulas sem S e Zn, o aumento dação do solo. KIRKBY, 1978).
foi inferior a 10% em relação à testemunha, A recomendação para adubação fos-
sem cobertura nitrogenada). fatada no estado de Minas Gerais é feita Potássio
Visando aumentar a disponibilidade de levando-se em consideração o teor de fós- O potássio é o segundo nutriente mais
N nos estádios iniciais de desenvolvimento foro remanescente (P-rem), utilizado para exportado relativamente e quantitativamen-
do milho, Basso et al. (1998ab) observaram determinação de classes de interpretação te pela cultura do milho (cerca de 20 kg t-1
que, quando 75% do N total recomendado (Quadro 8). O método oficial para deter- de grãos). O máximo acúmulo de K na planta
(90 kg ha-1) foram aplicados até a semea- minação de P disponível é o Mehlich 1. de milho ocorre mais cedo em relação ao
dura (60 kg ha-1 27 dias antes da semea- No entanto, ao recomendar fertilizante nitrogênio e ao fósforo. Segundo Fancelli
dura + 30 kg ha-1 no plantio – os 30 kg ha-1 fosfatado para uma determinada área, (2000), plantas de milho respondem à aplica-
restantes (25%) foram aplicados em cober-
tura), obteve-se o maior rendimento de
grãos comparativamente ao manejo tradi- QUADRO 8 - Classes de interpretação da disponibilidade de fósforo e potássio de acordo com o
valor de fósforo remanescente (P-rem)
cional (semeadura mais cobertura).
Silva et al. (2001) e Fuliaro et al. (2001) (1) Classificação
P-rem
relatam que plantas que receberam 100%
(mg L-1) (2)
do N na semeadura tiveram maior produ- Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
ção de grãos. Em sistemas de rotação de (3)
Fósforo disponível (P)
milho e soja, Vanzela et al. (2001ab) encon- (4)
(mg dm-3)
traram maiores produções aplicando-se
90 kg ha-1, independentemente, do esque- 0-4  3,0 3,1 - 4,3 4,4 - 6,0 6,1 - 9,0 > 9,0
ma de rotação adotado. 4 - 10  4,0 4,1 - 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 12,5 > 12,5

Fósforo 10 - 19  6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 11,4 11,5 - 17,5 > 17,5

Solos do Cerrado são reconhecidos co- 19 - 30  8,0 8,1 - 11,4 11,5 - 15,8 15,9 - 24,0 > 24,0
mo possuidores de fertilidade natural baixa, 30 - 44  11,0 11,1 - 15,8 15,9 - 21,8 21,9 - 33,0 > 33,0
fósforo nativo com teores reduzidos, cálcio, 44 - 60  15,0 15,1 - 21,8 21,9 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0
magnésio e micronutrientes baixos, acidez
(3)
elevada e alta adsorção de fósforo. Potássio disponível (K)
(4)
Ao contrário do nitrogênio e do potás- (mg dm-3)
sio, que são mais exigidos pela planta de
–  15 16 - 40 (5)
41 - 70 71 - 120 > 120
milho na fase inicial, apresentando resposta
até a 12a folha, o fósforo tem seu requeri- (1) Concentração de fósforo da solução de equilíbrio após agitar durante 1h a TFSA com solu-
mento durante todo o ciclo da cultura (Qua- ção de CaCl2 10 mmol L-1, contendo 60 mg L-1 de P, na relação 1:10. (2) Nesta classe apresentam-
dro 1). De acordo com Karlen et al. (1988), a se os níveis críticos de acordo com o valor do fósforo remanescente. (3) Método Mehlich-1.
planta de milho continua a absorver P do (4) mg d m-3 = ppm (m v-1). (5) O limite superior desta classe indica o nível crítico.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


38 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

ção de K até atingirem 12a ou 14a folha, feita gradativamente, porque o limite entre constantes nestes Quadros para N foram
tendo acúmulo máximo por volta da 4a folha. deficiência e toxidez é muito estreito. Sabe- modificados de acordo com sugestões da
A utilização de K no milho cultivado se que o milho tem alta sensibilidade à defi- pesquisa, sendo que as quantidades totais
em solos do Cerrado aponta resposta até ciência de Zn, no entanto, apresenta sensi- continuam praticamente as mesmas. Houve
a dose de 300 kg ha-1 de K2O. Entretan- bilidades inferiores ao Cu, Fe e Mn e muito modificação nas quantidades recomenda-
to, recomenda-se não aplicar mais que pouca a B e Mo. Com relação ao Mo, tem- das para aplicação no plantio, com a con-
60 kg ha-1 de uma só vez no sulco de plantio, se verificado efeito benéfico da sua adição seqüente redução da cobertura, visando
pois doses maiores podem levar a quedas à cultura do milho. Araújo et al. (1996) men- maior quantidade de N mais cedo para o
de produtividade em função da redução na cionam que a aplicação de 90 g ha-1 de mo- milho e, assim, garantir todo o potencial
população de plantas pelo efeito salino dos libdênio, aos 15 dias após a emergência do produtivo da planta.
adubos potássicos. Para minimizar o efeito milho, proporcionou acréscimo de 14,3%
salino, pode-se aplicar parte do fertilizante na produtividade. Estes autores também REFERÊNCIAS
potássico em pré-semeadura ou fazendo- verificaram redução de nitrato nas folhas,
ANDRADE, A.G. de; HAAG, H.P.; OLIVEIRA,
se uma ou mais coberturas. Aplicações tar- quando o Mo foi aplicado aos 15 dias. Por
G.D. de; SARRUGE, J.R. Acumulação diferencial
dias de potássio tendem a ser pouco efici- outro lado, Coelho et al. (1998) não encon-
de nutrientes por cinco cultivares de milho (Zea
entes, sobretudo se o fertilizante for apli- traram acréscimo na produtividade no con-
mays L.) - I: acumulação de macronutrientes.
cado em cobertura superficial e em solos sórcio feijão-milho, com aplicação de Mo Anais da Escola Superior de Agricultura
argilosos, nos quais o aprofundamento do (50 g ha-1 via foliar aos 25 dias após emer- “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, v.32, p.115-
nutriente no solo por lixiviação é lento. Por gência). 149, 1975a.
esta razão, a adubação de cobertura deve De maneira geral, para o estado de Mi-
_______; _______; _______; _______. Acumu-
ser feita quando a planta de milho apre- nas Gerais, recomenda-se adicionar Zn à
lação diferencial de nutrientes por cinco cultivares
sentar no máximo seis folhas. adubação de plantio à base de 1 a 2 kg ha-1
de milho (Zea mays L.) – I: acumulação de
de Zn. Normalmente, utilizam-se formula-
Enxofre e micronutrientes micronutrientes. Anais da Escola Superior de
ções de fertilizantes contendo Zn ou aplica-
A aplicação de enxofre para a cultura Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba,
ção de sulfato de zinco no solo com histó-
do milho é dependente da fonte de adubos v.32, p.151-171, 1975b.
rico de deficiências anteriores. Atualmente,
utilizados no plantio ou em cobertura. For- tem sido utilizada adubação foliar com Zn. ARAÚJO, G.A. de A.; VIEIRA, C.; BERGER, P.G.;
mulações com altas concentrações de NPK No cultivo de milho para silagem, GALVÃO, J.C.C. Épocas de aplicação de molib-
não contêm S, podendo, nesse caso, levar recomendam-se quantidades mais elevadas dênio na cultura do milho. In: CONGRESSO
a deficiências em cultivos subseqüentes. de nutrientes, porque todo o material é NACIONAL DE MILHO E SORGO, 21., 1996,
A utilização de fertilizantes como super- cortado e removido do campo antes que a Londrina. Resumos... Londrina : IAPAR, 1996.
fosfato simples e sulfato de amônio pode cultura complete seu ciclo. Nessas áreas, a p.160.
fornecer enxofre suficiente para suprir as exportação de nutrientes é maior e exige,
exigências da cultura. Para detectar defi- BASSO, C.J.; CERETTA, C.A.; DURIGON, R.;
por conseqüência, maior reposição através
ciências no solo, recomenda-se amostrar o MARCOLAN, L.A. Alternativa de manejo da
de adubações, sobretudo de N e K. Com
solo até a profundidade de 40 cm, uma vez adubação nitrogenada na cultura do milho em
relação ao K, deve-se ressaltar que as cultu-
sucessão a aveia preta, no sistema de plantio direto.
que para este nutriente pode haver defi- ras, de maneira geral, apresentam consu-
In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E
ciência temporária. Para os solos do estado mo de luxo para esse elemento, o que pode
SORGO, 22., 1998, Recife. Resumos... Recife:
de Minas Gerais, a recomendação é apli- provocar maior absorção de K que, mesmo IPA/Associação Brasileira de Milho e Sorgo,
car 30 kg ha-1 de S por ocasião do plantio. adicionado em quantidades maiores será 1998a. p.133.
Áreas submetidas a aplicações de gesso, retirado do sistema pela cultura. Portanto,
em doses devidamente calculadas, não exi- no cultivo para silagem recomenda-se pla- _______; _______; MARCOLAN, A.L.; DURI-
gem aplicação de enxofre para a cultura do nejar a adubação potássica de maneira que GON, R. Manejo do nitrogênio no milho cultivado
milho. a planta fique bem nutrida e ainda haja dis- em sucessão a plantas de cobertura de solo no
A aplicação de micronutrientes tem ponibilidade após a colheita. inverno, no sistema plantio direto. In: REUNIÃO
como objetivo corrigir a deficiência do BRASILEIRA DE FERTILIDADE DE SOLO E
solo. Quando se pensa em altas produti- Recomendação de adubação NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 23.; REUNIÃO
vidades com a cultura do milho cresce a para o milho BRASILEIRA SOBRE MICORRIZAS, 7.;
preocupação com adubação e micronutrien- Nos Quadros 4 e 5 são apresentadas SIMPÓSIO BRASILEIRO DE MICROBIO-
tes. No caso específico de micronutrientes as quantidades recomendadas de NPK, S LOGIA DO SOLO, 5.; REUNIÃO BRASILEIRA
com aplicação no solo, a correção deve ser e Zn para a cultura do milho. Os valores DE BIOLOGIA DO SOLO, 2., 1998, Caxambu.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 39

Resumos... FerBio 98: interrelação fertili- SOLO, 28., 2001, Londrina. Resumos... Ciência _______; KIRKBY, E.H. Principles of plant
dade, biologia do solo e nutrição de plantas - do solo: fator de produtividade competitiva com nutrition. Bern: International Potash Institute,
consolidação de um paradigma. Lavras: UFLA, sustentabilidade. Londrina: Sociedade Brasileira de 1978. 593p.
1998b. Ciência do Solo, 2001.
OLIVEIRA, E.F. de; BALBINO, L.C. Efeitos
BELOW, F.E. Fisiologia, nutrição e adubação HANWAY, J.J. Corn growth and composition in de fontes e doses de nitrogênio aplicados
nitrogenada do milho. Informações Agronô- relation to soil fertility – II: uptake of N, P, and em cobertura nas culturas de trigo, milho
micas, Piracicaba, n.99, p.7-12, set. 2002. K and their distribution in different plant parts e algodão. Cascavel: OCEPAR, 1995. 48p.
during the growing season. Agronomy Journal, (OCEPAR. Resultados de Pesquisa, 1).
BROCH, D.L.; FERNANDES, C.H. Efeito da
Madison, v.54, n.3, p.217-222, May/June 1962.
adubação de plantio e de cobertura na produtividade PÖTTKER, D.; WIETHÖLTER, S. Antecipa-
do milho safrinha. Informações Agronômicas, HIROCE, R.; FURLANI, A. M. C.; LIMA, M. ção da aplicação de nitrogênio em milho. In:
Piracicaba, n.89, p.1-3, mar. 2000. Extração de nutrientes na colheita por po- REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE
pulações e híbridos de milho. Campinas: IAC, DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 25.;
CANTARELLA, H.; DUARTE, A.P. Manejo da 1989. 24p. (IAC. Boletim Científico, 17).
REUNIÃO BRASILEIRA SOBRE MICORRIZAS,
fertilidade do solo para a cultura do milho. In:
HOEFT, R.G. Desafios para obtenção de altas pro- 8.; SIMPÓSIO BRASILEIRO DE MICROBIO-
GALVÃO, J.C.C.; MIRANDA, G.V. Tecnologias
dutividades de milho e soja nos EUA. Informa- LOGIA DO SOLO, 6.; REUNIÃO BRASILEIRA
de produção de milho. Viçosa: UFV, 2004.
366p. ções Agronômicas, Piracicaba, n.104, p.1-4, dez. DE BIOLOGIA DO SOLO, 3., 2000, Santa Maria.
2003. Resumos... FertBio 2000: biodinâmica do solo.
CARDWELL, V.B. Fifty years if Minnesota corn Santa Maria: UFSM, 2000. p.110.
production: sources of yeld increase. Agronomy KARLEN, D.L.; FLANNERY, R.L.; SADLER,
Journal, Madison, v.74, n.6, p.984-990, Nov./ E.J. Aerial accumulation and partitioning of RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ
Dec. 1982. nutrients by corn. Agronomy Journal, Madison, V., V.H. (Ed.). Recomendação para o uso de
v.80, n.2, p.232-242, Mar./Apr. 1988. corretivos e fertilizantes em Minas Gerais:
COELHO, F.C.; VIEIRA, C.; MOSQUIM, P.R.; 5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Ferti-
LARA CABEZAS, W.A.R.; KORNDÖRFER, G.H.;
CASSINI, S.T.A. Nitrogênio e molibdênio nas lidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.
MOTTA, S.A. Volatilização de N-NH3 na cultura
culturas do milho e do feijão, em monocultivos e 359p.
em consórcio – I: efeitos sobre o feijão. Revista do milho - I: efeito da irrigação e substituição

Ceres, Viçosa, MG, v.45, n.260, p.393-407, jul./ parcial da uréia por sulfato de amônio. Revista SÁ, J.C. de M. Adubação nitrogenada na cultura
ago. 1998. brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, do milho. Informações Agronômicas, Pira-
v.21, n.3, p.481-487, jul./set. 1997a. cicaba, n.63, p.5, set. 1993.
FANCELLI, A.L. Cultura do milho: a importância
_______; _______; _______. Volatilização de SANGOI, L.; ALMEIDA, M.L. de. Doses e épocas
da tecnologia. Informações Agronômicas,
N-NH3 na cultura de milho – II: avaliação de de aplicação de nitrogênio para a cultura do mi-
Piracicaba, n.78, p.4, jun. 1997.
fontes sólidas e fluidas em sistema de plantio direto lho num solo com alto teor de matéria orgânica.
_______. Fisiologia, nutrição e adubação do milho e convencional. Revista Brasileira de Ciên- Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
para alto rendimento. In: SIMPÓSIO ROTAÇÃO cia do Solo, Viçosa, MG, v.21, n.3, p.489-496, v.29, n.1, p.13-24, jan. 1994.
SOJA/MILHO NO PLANTIO DIRETO,1., 2000, jul./set. 1997b.
Piracicaba. Anais... Piracicaba: POTAFOS, 2000. SILVA, C.J.; CAZETTA, J.O.; MATTER, U.F.
_______; TRIVELIN, P.C.O.; KORNDÖRFER, Efeito de diferentes formas de adubação nitro-
_______; DOURADO NETO, D. Produção de G.H.; PEREIRA, S. Balanço da adubação nitro- genada sobre a produção de milho cultivado na
milho. Guaíba: Agropecuária, 2004. 360p. genada sólida e fluida de cobertura na cultura de
safrinha. CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊN-
milho, em sistema de plantio direto no Triângulo
FERNANDES, L.A.; VASCONCELOS, C.A.; CIA DO SOLO, 28., 2001, Londrina. Resumos...
Mineiro (MG). Revista Brasileira de Ciência
FURTINI NETO, A.E.; ROSCOE, R.; GUEDES, Ciência do solo: fator de protudividade compe-
do Solo, Viçosa, MG, v.24, n.2, p.363-376, abr./
G.A. de A. Preparo do solo e adubação nitrogenada titiva com sustentabilidade. Londrina: Sociedade
jun. 2000.
na produção de grãos e matéria seca e acúmulo de Brasileira de Ciência do Solo, 2001. p.120.
nutrientes pelo milho. Pesquisa Agropecuária _______; YAMADA, T. Uréia aplicada na super-
SILVA, E.C. da; BUZETTI, S. Avaliação de doses
Brasileira, Brasília, v.34, n.9, p.1691-1698, set. fície do solo: um péssimo negócio! Informações
e épocas de aplicação de nitrogênio na cultura do
1999. Agronômicas, Piracicaba, n.86, p.9-10, jun.
milho (Zea mays L. no sistema de plantio direto
1999.
FULIARO, C. L. B.; LATARINI, M. H. O.; em solo de cerrado. In: REUNIÃO BRASILEIRA
TEIXEIRA, N.T. Diferentes épocas de aplicação MENGEL, D. Manejo de nutrientes na cultura do DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO
de nitrogênio na cultura do milho (Zea mays L.). milho de alta produtividade. Informações agro- DE PLANTAS, 25.; REUNIÃO BRASILEIRA
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO nômicas, Piracicaba, n.73, p. 4-6, mar. 1996. SOBRE MICORRIZAS, 8.; SIMPÓSIO BRA-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


40 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

SILEIRO DE MICROBIOLOGIA DO SOLO, 6.;


REUNIÃO BRASILEIRA DE BIOLOGIA DO
SOLO, 3., 2000, Santa Maria. Resumos... FertBio
2000: biodinâmica do solo. Santa Maria: UFSM,
2000. p.111.

SOUSA, D.M.G. de; LOBATO, E. Cerrado: cor-


reção do solo e adubação. Planaltina: Embrapa
Cerrados, 2002. 416p.

_______; REIN, T.A.; LOBATO, E.; RITCHEY,


K.D. Sugestões para diagnose e recomendação de
gesso em solos de cerrado. In: SEMINÁRIO SOBRE
O USO DO GESSO NA AGRICULTURA, 2., 1992,
Uberaba. [Anais...] São Paulo: IBRAFOS, 1992.
p.139-158.

VANZELA, F.; GIROTTO, F.; PENARIOL, F.G.;


BORDIN, L.; FARINELLI, R.; FORNASIERI
FILHO, D. Resposta do milho ao nitrogênio em
rotação com a soja sobre preparo do solo com
arado escarificador. In: CONGRESSO BRASI-
LEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 28., 2001,
Londrina. Resumos... Ciência do solo: fator de
produtividade competitiva com sustentabilidade.
Londrina: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,
2001a. p.139.

_______; PENARIOL, F.G.; FORNASIERI FILHO,


D.; BORDIN, L.; FARINELLI, R.; GIROTTO, F.
Componentes de rendimento e produção de grãos
em resposta do milho ao nitrogênio em rotação
com a soja no sistema de plantio direto. In: CON-
GRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO,
28., 2001, Londria. Resumos... Londrina:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2001b.
p.141.

VASCONCELOS, C.A.; BARBOSA, J.V.A.;


SANTOS, H.L. dos; FRANÇA, G.E. de. Acumu-
lação de massa seca e de nutrientes por duas cul-
tivares de milho com e sem irrigação suplementar.
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
v.18, n.8, p.887-901, ago. 1983.

YAMADA, T. Adubação nitrogenada do milho:


quanto, como e quando aplicar? Informações
Agronômicas, Piracicaba, n.74, p.1-5, jun.
1996.

_______; ABDALLA, S.R.S. e. Como melhorar


a eficiência da adubação nitrogenada do milho?
Informações Agronômicas, Piracicaba, n.91,
p.1-5, set. 2000.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.26-40, jul./ago. 2006


42 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Manejo da cultura do milho em Sistema Plantio Direto


José Carlos Cruz 1
Israel Alexandre Pereira Filho 2
Ramon Costa Alvarenga 3
Miguel Marques Gontijo Neto 4
João Herbert Moreira Viana 5
Maurílio Fernandes de Oliveira 6
Derli Prudente Santana 7

Resumo - O Sistema Plantio Direto (SPD) consolidou-se como tecnologia conservacio-


nista, largamente aceita entre os agricultores, havendo sistemas adaptados a diferentes
regiões e níveis tecnológicos, do grande ao pequeno agricultor que usa tração animal.
Para o sucesso do SPD, além do revolvimento mínimo do solo e do controle químico de
plantas daninhas, são necessários a implantação de um programa de rotação de culturas
e o estabelecimento de cobertura morta sobre a superfície do solo. A rotação que envolve
as culturas da soja e do milho merece especial atenção, devido às extensas áreas que essas
duas culturas ocupam e ao efeito benéfico em ambas. Para o milho safrinha, em que há
sempre a expectativa de ocorrência de déficit hídrico, o SPD é essencial, pois geralmente
promove o aumento no teor de água disponível para as plantas e permite o plantio o
mais cedo possível, realizado imediatamente após a colheita. Hoje, sistemas de integração
lavoura-pecuária, que consistem no cultivo em rotação e/ou consorciação de culturas
anuais como milho, sorgo e milheto, com espécies forrageiras, principalmente as
braquiárias, representam excelente alternativa, que envolve a cultura do milho em SPD.
Palavras-chave: Zea mays. Cultivar. Prática cultural. Rotação. Climatologia. Cultura de
cobertura.

INTRODUÇÃO lho tem alto potencial produtivo e já foi deverão ser ainda bastante aprimorados
obtida produtividade superior a 16 t ha-1, para obter aumento na produtividade e na
Dos cereais cultivados no Brasil, o mi- em concursos conduzidos por órgãos de rentabilidade que a cultura pode propor-
lho é o mais expressivo, com cerca de 40,8 assistência técnica e extensão rural e por cionar.
milhões de toneladas de grãos produzi- empresas produtoras de semente (COELHO Neste artigo, são discutidos aspectos
dos, em área de, aproximadamente, 12,55 mi- et al., 2003). No entanto, o nível médio na- relacionados com a escolha de cultivares,
lhões de hectares (CONAB, 2006), referen- cional de produtividade é muito baixo, cerca exigências climáticas e cuidados no plantio
te a duas safras, normal e safrinha. Por suas de 3.250 kg ha-1, demonstrando que os di- da cultura do milho, levando em considera-
características fisiológicas, a cultura do mi- ferentes sistemas de produção de milho ção esses diferentes sistemas.

1
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: zecarlos@cnpms.embrapa.br
2
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: Israel@cnpms.embrapa.br
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: ramon@cnpms.embrapa.br
4
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mgontijo@cnpms.embrapa.br
5
Engo Agro, D.Sc.,Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jherbert@cnpms.embrapa.br
6
Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: maurilio.oliveira@cnpms.
embrapa.br
7
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: derli@cnpms.embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 43

MILHO EM SISTEMA PLANTIO ROTAÇÃO DE CULTURA nutrientes do solo, ao que a soja e o milho
DIRETO (SPD) se complementam satisfatoriamente.
A rotação que envolve as culturas da
Na implantação e na condução de um
Em termos de modernização da agri- soja e do milho merece especial atenção,
devido às extensas áreas que essas duas sistema eficiente de plantio direto, é indis-
cultura brasileira, a utilização do Siste-
culturas ocupam e ao efeito benéfico em pensável que o esquema de rotação de
ma Plantio Direto (SPD) é uma realidade
ambas (Quadro 1). Nessa rotação, como se culturas promova, na superfície do solo,
inquestionável e a participação da cultura
observa no Quadro 1, o milho plantado a manutenção permanente de palhada,
do milho em sistemas de rotação e suces-
são (safrinha) de culturas para assegurar após a soja produziu cerca de 9% a mais e que nunca deverá ser inferior a 2,0 t ha-1 de
a sustentabilidade de SPD é fundamental. a soja plantada após o milho produziu 5% massa seca. Como segurança, recomenda-
A área plantada nesse sistema tem aumen- e 15% a mais, quando comparados com os se que sejam adotados sistemas de rota-
tado rapidamente, no Brasil, nos últimos plantios contínuos. ção que produzam, em média, 6,0 t ha-1 ano-1
anos. Estima-se que, hoje, o SPD cubra Existem experimentos que demonstram ou mais de massa seca. Nesse caso, a so-
mais de 25 milhões de hectares, ou seja, os efeitos benéficos do milho, ao se esten- ja contribui com muito pouco, raramente
cerca de 50% da área com culturas anuais der até ao segundo ano da soja plantada ultrapassando 2,5 t ha-1 de massa seca
no País. após a rotação (Quadro 2). Nesse exemplo, (RUEDELL, 1998). Por outro lado, a cultu-
O SPD consolidou-se como tecnologia a soja produziu 20,3% a mais no primei- ra do milho, de ampla adaptação a dife-
conservacionista, largamente aceita entre ro ano após o milho e 10,5% no segundo. rentes condições, tem ainda a vantagem
os agricultores, havendo sistemas adap- Essa diferença foi atribuída, além da menor de deixar grande quantidade de restos cul-
tados a diferentes regiões e aos diferentes incidência de pragas e doenças, à maior turais, que, bem manejados, podem contri-
níveis tecnológicos, do grande ao pequeno quantidade de nutrientes deixados pela pa- buir para reduzir a erosão e melhorar o solo
agricultor que usa a tração animal. Requer lha do milho, principalmente o potássio, do (FIORIN; CAMPOS,1998).
cuidados na implantação, mas, depois de qual a soja é exigente. Na escolha da rota- No Sul do Brasil, devido às condições
estabelecido, seus benefícios estendem-se ção de culturas, especial atenção deve ser climáticas mais favoráveis, há maiores
não apenas ao solo e, conseqüentemente, dada às exigências nutricionais das espé- opções de rotação de culturas, que envol-
ao rendimento das culturas e à competiti- cies escolhidas e à sua capacidade de extrair vem tanto as culturas de verão como as de
vidade dos sistemas agropecuários, mas
também devido à drástica redução da ero- QUADRO 1 - Efeito da rotação soja milho sobre o rendimento destas culturas
são, reduz o potencial de contaminação Rendimento
do meio ambiente e dá ao agricultor maior (kg ha-1)
Rotação
garantia de renda, pois a estabilidade da
(A) (B)
produção é ampliada, em comparação aos
Milho após milho 9.680 (100%) 6.160 (100%)
métodos tradicionais de manejo de solo.
Por seus efeitos benéficos sobre os atribu- Milho após soja 10.520 (109%) 6.732 (109%)
tos físicos, químicos e biológicos do solo, Soja após soja 3.258 (100%) 2.183 (100%)
pode-se afirmar que o plantio direto é uma Soja após milho 3.425 (105%) 2.517 (115%)
ferramenta essencial para alcançar a sus- FONTE: Dados básicos: (A) Cruz (1982) e (B) Muzilli (1981) (apud DERPSCH, 1986).
tentabilidade dos sistemas agropecuários
(CRUZ et al., 2001).
QUADRO 2 - Rendimento de grãos de soja, em kg ha-1, no primeiro e segundo ano após milho,
A cultura do milho tem a vantagem de
comparado ao rendimento da soja sem rotação, conduzidos em Sistema Plantio
deixar grande quantidade de restos cultu-
Direto (SPD)
rais que, uma vez bem manejados, podem
contribuir para reduzir a erosão e melho- Ano
rar o solo. Dessa forma, sua inclusão em Tratamento Média
1987/ 1988/ 1989/ 1990/ 1991/ 1992/ 1993/
esquema de rotação é fundamental. A sus- 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
tentabilidade do sistema de produção não
1o ano após milho 1.838 3.366 3.980 1.883 4.456 4.691 2.746 3.280
está apoiada apenas em aspectos de con-
2o ano após milho 1.499 3.234 3.730 1.716 4.340 3.979 2.589 3.012
servação e preservação ambiental, mas
também nos aspectos econômicos e co- Sem milho 1.440 3.180 3.724 1.136 3.663 3.565 2.378 2.727
merciais. FONTE: Dados básicos: Ruedell (1995).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


44 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

inverno. No Brasil Central, as condições antecessoras de inverno (ROS; AITA, 1996; decomposição dos resíduos vegetais, difi-
climáticas, com quase total ausência de AMADO et al., 2000). Utilizando essas cultando a formação de camada adequada
chuvas entre os meses de maio e agosto, espécies e o consórcio entre elas antece- de cobertura morta. Além do aumento na
dificultam a existência de cultivos de dendo ao cultivo do milho em SPD, Martins velocidade de decomposição do material
inverno, exceto em algumas áreas com e Rosa Junior (2005) concluíram que o uso vegetal, provocada pelas altas tempera-
microclima adequado ou com agricultura da cultura antecessora não influenciou a turas, as culturas anuais não produzem
irrigada. Essa situação dificulta ou deixa produtividade do milho, que a aveia-preta quantidade suficiente de fitomassa, e são
poucas opções para o estabelecimento de foi mais eficiente em manter o solo coberto rapidamente metabolizadas pelos microrga-
culturas comerciais ou mesmo culturas de por maior tempo e aumentou o grau de nismos do solo. Sem cobertura, o solo se
cobertura, isto é, culturas cuja finalidade floculação do solo. adensa mais facilmente, retém menor quan-
principal é aumentar o aporte de restos As culturas de milho e da aveia inte- tidade de água, atinge facilmente altas tem-
culturais sobre a superfície do solo, exi- gradas e de forma planejada, no sistema de peraturas e fica mais suscetível à erosão,
gindo que estas tenham características pe- rotação, proporcionam alto potencial de comprometendo o sistema. Portanto, na
culiares, como rápido desenvolvimento produção de fitomassa, com elevada rela- seleção de espécies destinadas à cobertura
inicial e maior tolerância à seca. ção carbono/nitrogênio (C/N), garantindo do solo em SPD, deve-se levar em conside-
a manutenção de cobertura do solo, dentro ração a quantidade e a qualidade dos resí-
CULTURA DE COBERTURA da quantidade mínima preconizada e por duos vegetais, bem como sua capacidade
No início do SPD, é importante priorizar maior tempo de permanência na superfície. de reciclagem de nutrientes, com impacto
a cobertura e o perfil de fertilidade do solo, Diversos artigos relatam o efeito de direto nos atributos químicos, físicos e bio-
principalmente se as áreas apresentarem culturas de cobertura sobre a produtivi- lógicos do solo e na resposta das culturas
certo grau de degradação. Durante o seu dade e a resposta à adubação nitrogenada, subseqüentes em SPD (LIMA et al., 2005).
crescimento e desenvolvimento, as espé- na cultura do milho (BASSO; CERETTA, Trabalhando com várias opções de ro-
cies de cobertura contribuem efetivamen- 2000; GONÇALVES et al., 2000; SOUZA et tação de culturas de verão (safra normal) e
te para a proteção do solo, bem como para al., 2003; CERETA et al., 2002; VARGAS de safrinha, na região de Rio Verde, GO,
a manutenção de seus resíduos vegetais et al., 2005; LARA CABEZAS et al., 2004). Ferreira (1998) constatou que as maiores
(palhada) na superfície do solo. A cober- O uso generalizado do SPD e de culturas produtividades de milho ocorrem sobre as
tura vegetal (viva ou morta) representa a de cobertura, no Sul do País, criou a neces- palhadas de algodão, girassol, guandu e
essência do SPD, pois tem efeito na inter- sidade de recomendar adubação nitroge- nabo-forrageiro, enquanto que, para a cul-
ceptação das gotas de chuva, evitando o nada para a cultura do milho adaptada a tura da soja, as melhores respostas foram
impacto direto sobre a superfície do solo, esse novo cenário (AMADO et al., 2002). sobre as palhadas de milho, aveia, sorgo e
reduzindo tanto a desagregação das partí- No Brasil Central, as condições climá- milheto.
culas, que é a fase inicial do processo ero- ticas, com quase total ausência de chuvas Hoje, sistemas de integração lavoura-
sivo, quanto a velocidade de escorrimento entre os meses de maio e agosto, dificultam pecuária, os quais envolvem culturas e
das enxurradas, melhora ou mantém a capa- os cultivos de inverno, exceto em algumas forrageiras, principalmente as braquiárias,
cidade de infiltração de água, diminuindo áreas com microclima adequado ou com apresentam essas condições e representam
o efeito da desagregação do solo e evitan- agricultura irrigada. Essa situação dificulta excelente alternativa, que envolve a cultura
do o selamento superficial, provocado pela ou deixa poucas opções para o estabeleci- do milho no SPD.
obstrução dos poros com partículas finas mento de culturas comerciais ou mesmo Um exemplo é o Sistema Santa Fé. Neste
desagregadas. Além disso, protege o solo culturas de cobertura, isto é, culturas cuja Sistema, quando as condições climáticas
da radiação solar, diminui a variação térmi- finalidade principal é aumentar o aporte de permitem, cultivam-se seqüencialmente
ca do solo, reduzindo a evaporação de água restos culturais sobre a superfície do solo, uma a duas culturas solteiras por ano e
e favorecendo o desenvolvimento de mi- exigindo que estas tenham características uma última, a safrinha, que consiste de con-
crorganismos, e ainda ajuda no controle peculiares, como rápido desenvolvimen- sórcio de uma cultura com uma gramínea
de plantas daninhas (ROSOLEM et al., to inicial e maior tolerância à seca. Bertin forrageira. A exploração agrícola, nessas
2003). et al. (2005) relatam que o plantio direto condições, caracteriza-se por um cultivo
Das espécies utilizadas como cultura não deve ser visto como receita universal, solteiro no início da estação chuvosa, seja
de cobertura, algumas merecem destaque, mas como um sistema que exige adapta- soja, milho, ou arroz, e um cultivo de safri-
por seus benefícios físico-químicos ao ções locais. nha de milho ou sorgo associado a uma for-
solo, entre elas a aveia-preta, a ervilhaca- Em regiões de clima tropical, tempera- rageira, comumente a Brachiaria brizantha
peluda e o nabo-forrageiro, como plantas tura e umidade elevadas favorecem a rápida (OLIVEIRA et al., 2001). Geralmente, utilizam-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 45

se como cultura de safrinha o milho, o Em algumas áreas de plantio direto, já se CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
sorgo ou o milheto, também em SPD. Co- constatou aumento do teor de matéria O período de crescimento e desenvol-
mo resultado, têm-se, a partir do segundo orgânica do solo, afetando a curva de re- vimento do milho é limitado pela água,
ano ou mais de cultivo, solos agricultáveis tenção de umidade e aumentando ainda temperatura e radiação solar ou lumino-
corrigidos, com altos níveis de fertilidade mais o teor de umidade para as plantas. sidade. A cultura do milho necessita que
e fisicamente estruturados. Essas áreas, Embora exista grande diversidade de os índices dos fatores climáticos, especial-
inicialmente de fertilidade comprometida, preparo de áreas para o cultivo do milho na mente a temperatura, precipitação e foto-
passam a apresentar altos teores de matéria segunda safra, predomina o emprego do período, atinjam níveis considerados óti-
orgânica, baixos níveis de acidez e elevada Plantio Direto Permanente (PDP) ou Tem- mos, para que o seu potencial genético de
infiltração de água no solo, em relação às porário (PDT), visando antecipar a implan- produção se expresse ao máximo.
áreas onde ainda se utilizam práticas de tação do milho safrinha. No PDT, realiza-se
cultivo tradicionais (OLIVEIRA et al., 2001). a semeadura direta do milho safrinha e o Temperatura
Outro enfoque do Sistema Santa Fé é sua preparo convencional para a soja. Nesse A temperatura possui relação complexa
implantação anual, em regiões onde as con- caso, no verão, tem sido freqüente o pre- com o desempenho da cultura, uma vez que
dições climáticas não permitem a safri- paro com grades. a condição ótima varia com os diferentes
nha, consistindo no cultivo consorciado Em áreas com grande infestação de estádios de crescimento e desenvolvimen-
de culturas anuais como milho, sorgo e mi- plantas daninhas, no momento da colhei- to da planta.
lheto, com espécies forrageiras, principal- ta da soja, e quando o agricultor não dis- A temperatura da planta é basicamente
mente as braquiárias, em áreas agrícolas, põe de máquina para semeadura direta, a mesma do ambiente que a envolve. De-
em solos parcial ou devidamente corrigi- utiliza-se o preparo com grades no outono- vido a esse sincronismo, flutuações perió-
dos. As práticas que compõem o Sistema inverno. Uma desvantagem da grade ara- dicas influenciam nos processos meta-
minimizam a competição precoce da forra- dora é que provoca grande pulverização bólicos que ocorrem no interior da planta.
geira, evitando redução do rendimento das do solo. Além disso, o uso da grade conti- Nos momentos em que a temperatura é mais
culturas anuais, o que permite, após a co- nuamente no verão e na safrinha, por anos elevada, o processo metabólico é mais ace-
lheita destas, a produção forrageira abun- sucessivos, pode provocar a formação do lerado e, nos períodos mais frios, o meta-
dante e de alta qualidade para a alimenta- “pé-de-grade”, uma camada compactada bolismo tende a diminuir. Essa oscilação
ção animal, além de palhada em quantidade logo abaixo da profundidade de corte da metabólica ocorre dentro dos limites extre-
e qualidade para a realização do plantio grade, a 10-15 cm. Essa camada reduz a mos tolerados pela planta de milho, com-
direto na safra seguinte (COBUCCI et al., infiltração de água no solo, o que, por sua preendido entre 10oC e 30oC. Abaixo de
2001). vez, irá favorecer maior escorrimento su- 10oC, por períodos longos, o crescimento
perficial e, conseqüentemente, a erosão do da planta é quase nulo e, sob temperaturas
MILHO SAFRINHA X SISTEMA
solo e a redução da produtividade do milho acima de 30oC, também por períodos lon-
PLANTIO DIRETO (SPD)
safrinha (DE MARIA; DUARTE, 1997; DE gos, durante a noite, o rendimento de grãos
A implantação do milho safrinha, no MARIA et al., 1999) (Quadro 3). decresce, em razão do consumo dos pro-
final do período chuvoso, deixa o agricultor
na expectativa de ocorrência de déficit
hídrico durante o ciclo da cultura. Assim, QUADRO 3 - Rendimento de grãos da soja e do milho safrinha, em Latossolo Roxo, em Tarumã,
toda estratégia de manejo do solo deve le- SP, no ano agrícola 1995/1996, após dez anos de implantação de sistemas de ma-
var em consideração maior quantidade de nejo do solo
água disponível para as plantas. Nesse
Rendimento de grão
caso, sempre que possível, deve-se optar
pelo SPD, pois oferece maior rapidez nas Manejo do solo Safra de soja Safrinha de milho
operações, principalmente no plantio reali- kg ha-1 % kg ha-1 %
zado simultaneamente à colheita, permi-
tindo o plantio mais cedo. Além disso, o Grade aradora/Grade aradora 2.579 78 4.678 77
SPD, com adequada cobertura da super- Escarificador + Grade niveladora/Grade niveladora 3.130 94 5.404 89
fície do solo, permitirá o aumento da infil-
Escarificador + Grade niveladora/Semeadura na palha 3.144 95 5.682 94
tração da água no solo e a redução da
evaporação, com conseqüente aumento no Sistema Plantio Direto 3.310 100 6.046 100
teor de água disponível para as plantas. FONTE: De Maria et al. (1999).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


46 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

dutos metabólicos elaborados durante o Umidade do solo nenhuma sensibilidade às variações do


dia. Temperaturas noturnas elevadas, por O milho é muito exigente em água. fotoperíodo.
longos períodos, causam diminuição do Entretanto, pode ser cultivado em regiões O aumento do fotoperíodo faz com que
rendimento de grãos e provocam senes- onde as precipitações vão de 250 mm até a duração da etapa vegetativa aumente e
cência precoce das folhas (APRAKU et al., 5.000 mm anuais, sendo que a quantidade proporcione também incremento no nú-
1983) de água consumida pela planta, durante mero de folhas emergidas durante a dife-
A temperatura ideal para o desenvol- seu ciclo, está em torno de 600 mm (CRUZ renciação do pendão e do número total de
vimento do milho, da emergência à flora- et al., 1993). O consumo de água pela plan- folhas produzidas pela planta.
ção, está compreendida entre 24oC e 30oC. ta, nos estádios iniciais de crescimento, Nas condições brasileiras, o efeito do
Comparando-se temperaturas médias diur- num clima quente e seco, raramente excede fotoperíodo na produtividade do milho é
nas de 25oC, 21oC e 18oC, verificou-se que 2,5 mm dia-1. Durante o período compreen- praticamente insignificante.
o milho obteve maior produção de matéria dido entre o espigamento e a maturação, o
consumo pode-se elevar para 5 a 7,5 mm Radiação solar
seca e maior rendimento de grãos na tem-
diários. Mas se a temperatura estiver mui- A radiação solar é um dos parâmetros
peratura de 21oC (WILSON et al., 1973).
to elevada e a umidade do ar muito baixa, de extrema importância para a planta de
A queda do rendimento sob temperatu-
o consumo de água poderá chegar até milho, sem a qual o processo fotossintético
ras elevadas deve-se ao curto período de
enchimento de grãos, em virtude da dimi- 10 mm dia-1 (AVELAR, 1986; MARINATO, é inibido e a planta é impedida de expressar
1980; MATZENAUER et al. , 1981). o seu máximo potencial produtivo. Gran-
nuição do ciclo da planta (APRAKU et al.,
A ocorrência de déficit hídrico na de parte da matéria seca do milho, cerca
1983).
cultura do milho pode ocasionar danos em de 90%, provém da fixação de CO2 pelo
A planta de milho precisa acumular
todas as fases. Na fase do crescimento ve- processo fotossintético. O milho é uma
quantidades distintas de energia ou sim-
getativo, devido ao menor elongamento planta do grupo C4, altamente eficiente na
plesmente unidades calóricas necessárias
celular e à redução da massa vegetati- utilização da luz. Uma redução de 30% a
a cada etapa de crescimento e desenvolvi-
va, há diminuição na taxa fotossintética. 40% da intensidade luminosa, por períodos
mento. A unidade calórica é obtida através
Após o déficit hídrico, a produção de grãos longos, atrasa a maturação dos grãos ou po-
da soma térmica necessária para cada eta-
é afetada diretamente, pois a menor mas- de ocasionar até mesmo queda na produção.
pa do ciclo da planta, desde o plantio até o Em pesquisa para avaliar a produção
sa vegetativa possui menor capacidade
florescimento masculino. O somatório tér- de sementes, verificou-se que o milho se-
fotossintética. Na fase do florescimento,
mico é calculado através das temperaturas meado em outubro teve redução na pro-
a ocorrência de dessecação dos estilos-
máximas e mínimas diárias, sendo 30oC e dutividade e no rendimento de sementes
estigmas (aumento do grau de protandria),
10oC, respectivamente, as temperaturas beneficiadas, quando comparado com a
aborto dos sacos embrionários, distúrbios
referenciais para o cálculo. Com relação ao semeadura em março, que apresentou 60%
na meiose, aborto das espiguetas e morte
ciclo, as cultivares são classificadas em a mais na produtividade e maiores valores
dos grãos de pólen resultarão em redução
normais ou tardias, semiprecoces, preco- no rendimento de beneficiamento nas pe-
no rendimento (VALOIS, 1982). Déficit hí-
ces e superprecoces. Segundo Fancelli e neiras 24, 22 e 20 e menores na peneira 18
drico na fase de enchimento de grãos afe-
Dourado Neto (2000), as cultivares normais tará o metabolismo da planta e o fechamento e no resíduo final. Essa diferença foi atri-
apresentam exigências térmicas correspon- de estômatos, reduzindo a taxa fotossin- buída ao fato de o período de enchimento
dentes a 890-1.200 graus-dia, as precoces, tética e, conseqüentemente, a produção de de grãos do milho semeado em outubro ter
de 831 a 890 e as superprecoces, de 780 a fotoassimilados e sua translocação para os ocorrido no mês de janeiro, quando se
830 graus-dia. Essas exigências calóricas grãos. constatou longo período com alta nebulo-
referem-se ao intervalo das fases fenoló- sidade, com grande freqüência de período
gicas compreendidas entre a emergência Fotoperíodo chuvoso durante o dia, ou seja, com redu-
e o início da polinização. Dos materiais Entre os componentes climáticos que ção na radiação fotossinteticamente ativa,
existentes hoje no mercado, 25,25% são afetam a produtividade do milho, está o necessária para implementar o processo
classificados como hiperprecoces e super- fotoperíodo, representado pelo número de fotossintético.
precoces. As cultivares classificadas co- horas de luz solar, o qual é um fator climático
mo precoces representam 65% e as cultiva- CULTIVAR
de variação sazonal, mas que não apresenta
res semiprecoces e normais representam muita variação de ano para ano. O milho é Sem dúvida alguma, o primeiro passo
14,75% das opções de mercado, respectiva- considerado planta de dias curtos, embo- na produção do milho é a escolha da se-
mente (CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005). ra algumas cultivares tenham pouca ou mente. O potencial produtivo do milho é o

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 47

somatório do potencial genético da se- plos. O mesmo ocorre com o preço de suas representam 64,55% das opções de mer-
mente (47,75%) e das condições ambientais sementes. cado.
e manejo cultural (52,25%) (DUVICK,1992). Os híbridos duplos são pouco mais va- Normalmente, as novas cultivares dis-
Conseqüentemente, a escolha correta da riáveis em características da planta e da ponibilizadas no mercado apresentam ele-
semente pode ser a razão do sucesso ou espiga que os simples e triplos. O custo da vado potencial genético, além de outras
insucesso da lavoura. Existem, no mercado semente dos duplos é mais baixo que o pre- vantagens relativas a aspectos fitossani-
brasileiro, mais de 230 tipos de cultivares ço da semente dos simples e triplos. Con- tários, físicos e fisiológicos, capazes de
de milho e a escolha, com base no gosto siderando que esses diferentes tipos de proporcionar altas produtividades. Para
pessoal, disponibilidade e preço, pode não cultivares apresentam grande variação tan- isso, informações, como o comportamen-
ser a melhor. Dessa forma, pode-se afirmar to no custo da semente como no seu poten- to das cultivares em relação às principais
que existem cultivares adaptadas a qual- cial produtivo, é óbvio que a escolha da doenças, tipo de híbrido, ciclo, região de
quer região do País e a qualquer sistema de cultivar deve levar em conta o sistema de adaptação, cor e textura de grãos, época e
produção, sendo provavelmente o insumo produção que o agricultor usará. De nada densidade de plantio recomendada, entre
moderno de uso mais generalizado na cul- adianta usar semente de alto potencial pro- outras, são fornecidas, para que os agricul-
tura do milho. A escolha de cada cultivar dutivo e de maior custo, se o manejo e as tores possam explorar ao máximo o poten-
deve atender a necessidades específicas. condições da lavoura não permitirem que a cial genético dessas cultivares. Pratica-
Para isso, o produtor deve fazer uma ava- semente expresse o seu potencial genético. mente, para toda cultivar comercial são
liação completa das informações geradas Na safra de 2005/2006, foram comer- apresentadas informações, pela empresa
pela pesquisa, assistência técnica, empre- cializadas 237 cultivares de milho, sendo responsável pelas sementes, sobre o com-
sas produtoras de sementes, experiências que 29 foram lançadas, substituindo 22 que portamento da cultivar em relação às prin-
regionais e pelo comportamento de safras deixaram de ser comercializadas, demons- cipais doenças. Com essas informações, os
passadas. De acordo com o grau de melho- trando a dinâmica dos programas de melho- agricultores poderão optar pelo plantio de
ramento genético, encontram-se, hoje, no ramento e a importância do uso de semente cultivares mais resistentes às principais
mercado, variedades, híbridos duplos, tri- no aumento da produtividade. doenças que ocorrem em sua região.
plos e simples, mas os triplos e simples po- Existem, no mercado, variedades e híbri-
dem ser modificados ou não. dos. Verifica-se crescente aumento no nú- ÉPOCA DE SEMEADURA
As sementes das variedades melho- mero de híbridos simples, modificados ou O período de crescimento e desenvol-
radas são de menor custo e, com os devi- não (Quadro 4). Os híbridos simples e tri- vimento é afetado pela umidade do solo,
dos cuidados na multiplicação, podem ser plos, modificados ou não, representam hoje temperatura, radiação solar e fotoperíodo.
reutilizadas por alguns anos, sem dimi- cerca de 65,3% das opções para os produ- A época de plantio é função desses fato-
nuição substancial da produtividade. São, tores, mostrando tendência na agricultura res, cujos limites extremos são variáveis em
ainda, de grande utilidade em regiões onde, brasileira e maior necessidade de aprimorar cada região agroclimática (MUNDSTOCK,
devido às condições econômico-sociais e os sistemas de produção utilizados para 1995). A época de semeadura mais ade-
de baixa tecnologia, a utilização de milho melhor explorar o potencial genético dessas quada é aquela que faz coincidir o período
híbrido torna-se inviável. Os híbridos só sementes (CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005). de floração com os dias mais longos do
têm alto vigor e produtividade na primei- As cultivares classificadas como precoces ano e a etapa de enchimento de grãos com
ra geração (F1). É necessária a aquisição
de sementes híbridas todos os anos. Se os
grãos colhidos forem semeados, o que cor- QUADRO 4 - Distribuição porcentual do número de cultivares de milho disponíveis no mercado nas
responde a segunda geração (F2), haverá últimas safras
redução, dependendo do tipo do híbrido,
Tipo de cultivar 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006
de 15% a 40% na produtividade, perda de
vigor e grande variação entre plantas. Híbridos simples 34,8 35,7 37,6 40,0
Os híbridos simples são potencialmen-
Híbridos triplos 31,3 29,7 28,4 25,3
te mais produtivos que os de outros tipos,
apresentando maior uniformidade de plan- Híbridos duplos 20,5 22,4 22,7 22,3

tas e espigas. São também os mais caros. Variedades 13,4 12,2 11,3 12,4
Os híbridos triplos também são bastante Total de cultivares 207 233 230 237
uniformes e seu potencial produtivo é inter-
Eliminadas/Novas 13 / 25 9 / 35 35 / 32 22 / 29
mediário entre os híbridos simples e du-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


48 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

o período de temperaturas mais elevadas e maior o risco de perdas por seca e/ou relação à de outubro. Essas diferenças fo-
e alta disponibilidade de radiação solar. geadas (ALFONSI; CAMARGO, 1998; ram atribuídas a alterações na quantidade
Isto, considerando satisfeitas as necessi- OLIVEIRA et al., 1998; QUIESSI et al. ,1999; de radiação solar disponível, em decor-
dades de água pela planta. Gomes (1991) BRUNINI et al., 1998; DUARTE et al., 2000). rência da época de plantio. No plantio em
verificou que as épocas em que obteve ren- Hoje, com os avanços nos trabalhos dezembro, a alta porcentagem de plantas
dimento de grãos maiores e mais estáveis na área de climatologia, o Brasil já tem um estéreis pode também ter contribuído para
foram aquelas em que os estádios de de- Zoneamento Agrícola, elaborado pelo Mi- o baixo rendimento de grãos (SILVA et
senvolvimento de quatro folhas totalmen- nistério da Agricultura, Pecuária e Abas- al.,1999) .
te desenvolvidas e a floração ocorrem sob tecimento (MAPA), que fornece informa-
boas condições de água no solo. Nas con- ções sobre as épocas de plantio de milho PROFUNDIDADE DE
dições tropicais, devido à menor varia- tanto na safra como na safrinha, com me- SEMEADURA
ção da temperatura e do comprimento do nores riscos, para quase todo o País.
Nas regiões onde não ocorrem geadas, A profundidade de semeadura está con-
dia, a distribuição de chuvas é que geral-
o plantio do milho poderá ser feito o ano dicionada aos fatores temperatura do solo,
mente determina a melhor época de semea-
todo, mas o agricultor deverá levar em con- umidade e tipo de solo. A semente deve
dura.
sideração as alterações no ciclo da cultura, ser colocada numa profundidade que pos-
No Sul do Brasil, o milho geralmente é
que afetarão a época de colheita e, conse- sibilite bom contato com a umidade do so-
plantado de agosto a setembro e, à medida
qüentemente, o calendário agrícola, poden- lo. Entretanto, a maior ou menor profun-
que se caminha para os Estados do Centro-
do afetar a época de plantio de culturas didade de semeadura vai depender do tipo
Oeste e Sudeste, a época de semeadura
subseqüentes, como mostrado no Qua- de solo. Em solos mais pesados, com dre-
varia de outubro a novembro. Resultados
dro 5. Além disso, o potencial produtivo nagem deficiente ou com fatores que difi-
de pesquisa mostram que atraso na época
pode variar de acordo com as condições cultam o alongamento do mesocótilo, atra-
de plantio, além dos meses de setembro e
climáticas resultantes da época de plan- palhando a emergência de plântulas, as
outubro, resultam em redução no ciclo da
tio. sementes devem ser colocadas entre 3 e
cultura e no rendimento de grãos. Segun-
Experimento com milho irrigado, reali- 5 cm de profundidade. Em solos mais leves
do Oliveira (1990), a época de semeadura
zado no Rio Grande do Sul, mostrou que ou arenosos, as sementes podem ser colo-
afeta várias características da planta, ocor-
os rendimentos de grãos foram, em mé- cadas numa profundidade entre 5 e 7 cm,
rendo decréscimo mais acentuado no nú-
dia, 15% e 48% inferiores na semeadura de para se beneficiarem do maior teor de umi-
mero de espigas por planta (prolificidade)
agosto e dezembro, respectivamente, em dade do solo.
e no rendimento de grãos. Este autor relata
ainda que resultados da literatura mostram
que o atraso na semeadura pode resul- QUADRO 5 - Variação do ciclo de cultivares de milho em função da época de plantio, para a
tar em perdas que podem ser superiores produção de milho verde
a 60 kg ha-1 dia-1. Essa tendência pode ser Época de
revertida se não houver déficit hídrico e Normal Precoce Superprecoce
semeadura
ocorrer a redução na temperatura do ar, nos
05 de fevereiro 124 117 108
meses de fevereiro e março.
Por ser plantado no final da época reco- 05 de março 134 129 127

mendada, o milho safrinha tem sua pro- 06 de abril 145 140 138
dutividade bastante afetada pelo regime de 05 de maio 139 138 137
chuvas e por fortes limitações de radiação
08 de junho 138 133 131
solar e temperatura, na fase final de seu
09 de junho 146 134 125
ciclo. Além disso, como o milho safrinha é
plantado após uma cultura de verão, a sua 12 de agosto 124 119 118
data de plantio depende da época do plan- 08 de setembro 125 118 115
tio dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o 07 de outubro 115 112 106
planejamento do milho safrinha começa
08 de novembro 116 112 107
com a cultura do verão, visando liberar a
área o mais cedo possível. Quanto mais 09 de dezembro 115 115 112

tarde for o plantio, menor será o potencial FONTE: SANS et al. (apud CRUZ et al., 1993).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 49

No SPD, onde há sempre acúmulo de da cultivar, da época de semeadura e do redução no número de espigas por plan-
resíduos na superfície do solo, especial- espaçamento entrelinhas (SANGOI, 2001). ta (índice de espigas) e o tamanho delas.
mente em regiões mais frias, a cobertura Vários pesquisadores consideram o pró- Também o diâmetro do colmo é reduzido e
morta retarda a emergência, reduz o estande prio genótipo como principal determinante há maior suscetibilidade ao acamamento e
e, em alguns casos pode até causar queda da densidade de plantas (SILVA et al.,1999). ao quebramento. Além disso, é reconhe-
no rendimento de grãos da lavoura, de- O aumento da densidade de plantas até de- cido que pode haver aumento na ocorrência
pendendo da profundidade em que a se- terminado limite é a técnica usada com fina- de doenças, especialmente as podridões-
mente foi colocada. O Quadro 6 mostra o lidade de elevar o rendimento de grãos da de-colmo, com o aumento na densidade de
efeito da profundidade de semeadura so- cultura do milho. Porém, o número ideal de plantio. Esses aspectos podem determi-
bre a emergência, o vigor e a duração do plantas por hectare é variável, uma vez que nar o aumento de perdas na colheita, prin-
período de emergência na cultura do mi- a planta de milho altera o rendimento de cipalmente quando esta é mecanizada. Por
lho. grãos de acordo com o grau de competição estas razões, não se recomendam densi-
Contrário à crença popular, a profun- intra-específica proporcionado pelas dife- dades maiores, que embora em condições
didade de semeadura tem influência míni- rentes densidades de planta (SILVA et experimentais apresentam maiores rendi-
ma na profundidade do sistema radicular al.,1999). mentos, não são aconselhadas em lavouras
definitivo, que se estabelece logo abaixo O rendimento do milho aumenta com a colhidas mecanicamente.
da superfície do solo. elevação da densidade de plantio, até atin- A densidade de plantio, dentre as técni-
gir uma densidade ótima, que é determina- cas de manejo cultural, é um dos parâme-
da pela cultivar e por condições externas, tros mais importantes. Geralmente, a causa
DENSIDADE DE PLANTIO
tais como edafoclimáticas do local e do das quedas nos rendimentos de milho é o
A densidade de plantio ou estande, manejo da lavoura. A partir da densidade baixo número de plantas por área. Entre-
definida como o número de plantas por ótima, quando o rendimento é máximo, tanto, para que haja aumento da produti-
unidade de área, tem papel importante no aumento na densidade resultará em decrés- vidade, é necessário que vários outros fato-
rendimento de uma lavoura de milho, uma cimo progressivo na produtividade da la- res, como o nível de fertilidade do solo,
vez que pequenas variações na densidade voura. A densidade ótima é, portanto, va- o nível de umidade e as cultivares estejam
têm grande influência no rendimento final riável para cada situação e, basicamente, em consonância com o número de plantas
da cultura. depende de três condições: cultivar, dispo- por área. Em termos genéricos, verifica-se
O milho é a gramínea mais sensível à nibilidade hídrica e do nível de fertilidade que cultivares precoces (ciclo mais curto)
variação na densidade de plantas. Para cada de solo. Qualquer alteração nesses fatores, exigem maior densidade de plantio em
sistema de produção, existe a população direta ou indiretamente, afetará a densidade relação a cultivares tardias para expressa-
que maximiza o rendimento de grãos. A po- ótima de plantio. rem seu máximo rendimento. A razão dessa
pulação ideal para maximizar o rendimento Além do rendimento de grãos, o aumen- diferença é que cultivares mais precoces,
de grãos de milho varia de 30 mil a 90 mil to da densidade de plantio também afeta geralmente, possuem plantas de menor
plantas ha-1, dependendo da disponibili- outras características da planta. Dentre altura e menor massa vegetativa. Essas ca-
dade hídrica, da fertilidade do solo, do ciclo essas características, merecem destaque a racterísticas morfológicas determinam me-
nor sombreamento dentro da cultura, o que
QUADRO 6 - Porcentagem de emergência, vigor e duração do período de germinação de sementes
possibilita, com isso, menor espaçamento
de milho, em diferentes profundidades
entre plantas, para melhor aproveitamen-
to de luz. Mesmo dentre os grupos de culti-
Profundidade Emergência (1)
Duração média
Vigor vares (precoces ou tardios), há diferenças
(cm) (%) (dia)
quanto à densidade ótima de plantio.
2,5 100,0 3,0 8,0 Uma análise de mais de 237 cultivares
5,0 97,5 3,0 10,0 de milho comercializadas na safra 2005/2006
7,5 97,5 3,0 12,0 mostra que as variedades são indicadas pa-
ra plantios com densidades que variam de
10,0 80,0 2,5 15,0
40 mil a 50 mil plantas por hectare, o que é
12,5 32,5 0,7 18,0 coerente com o menor nível de tecnologia
FONTE: Dados básicos: Fagundes (1975 apud BRESOLIN, 1993). dos sistemas de produção empregados pe-
(1) Vigor aos 22 dias após semeadura. Notas: 3 para o máximo vigor e zero para o mínimo vigor. los agricultores que usam esse tipo de culti-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


50 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

var. As faixas de densidades mais freqüen- é aquele que proporciona distribuição mais b) melhor controle de plantas daninhas,
temente recomendadas para os híbridos uniforme de plantas por área, possibili- devido ao fechamento mais rápido
duplos variam de 45 a 55 mil plantas por ha, tando melhor utilização de luz, água e nu- dos espaços disponíveis, o que di-
havendo casos de recomendação até de trientes (ARGENTA et al., 2001; SANGOI, minui, dessa forma, a duração do
65 mil plantas por ha. Para os híbridos tri- 2001). período crítico das plantas daninhas
plos e simples, é freqüente a densidade de Atualmente, a redução no espaçamento (SWOBODA, 1996);
50 mil a 60 mil plantas por ha, havendo ca- entrelinhas e o aumento da densidade de
c) redução da erosão, em conseqüência
sos de recomendação de até 80 mil plantas plantio são duas realidades na cultura de
do efeito da cobertura antecipada
por ha. Deve ser ressaltado, entretanto, que milho. No mercado brasileiro, inclusive,
da superfície do solo (PENDLETON,
apenas 23 cultivares são recomendadas existem plataformas adaptáveis às colhe-
1965);
com densidades de plantio igual ou maior doras que realizam a colheita em espaça-
do que 70 mil plantas por hectare. A maioria mentos de até 0,45 m. d) melhor qualidade de plantio, atra-
das empresas já está recomendando den- Com relação à disponibilidade hídrica e vés da menor velocidade de rotação
sidades de plantio em função da região, de nutrientes, observa-se que a densidade dos sistemas de distribuição de se-
da altitude e da época de plantio. Além dis- deve ser aumentada sempre que esses fa- mentes e maximização da utilização
so, já existem empresas que recomendam a tores forem otimizados, para que seja atin- de plantadoras. Diferentes culturas,
densidade em função do espaçamento, o gido o máximo rendimento de grãos. como, por exemplo, milho e soja, po-
que representa uma evolução. Dados de Em situações de áreas irrigadas ou derão ser plantadas com o mesmo
pesquisa mostram vantagens do espaça- quando não há restrições hídricas é acon- espaçamento, permitindo maior pra-
mento reduzido (45 a 50 cm entre fileiras), selhável usar o limite superior da faixa da ticidade e ganho de tempo (TECNO-
comparado ao espaçamento convencional densidade recomendada. Um fator impor- LOGIAS..., 2003).
(80 a 90 cm), especialmente quando se uti- tante, quando se usa alta densidade de Tem sido também mencionado que os
lizam densidades de plantio mais elevadas plantio, é assegurar que a cultivar utiliza- espaçamentos reduzidos permitem melhor
(CRUZ; PEREIRA FILHO, 2005). da apresente grande resistência ao acama- distribuição da palhada de milho sobre a
O surgimento de cultivares de milho de mento e ao quebramento. superfície do solo, após a colheita, favo-
ciclo mais curto, estatura reduzida, menor De forma análoga ao suprimento hídri- recendo o SPD.
número de folhas, sendo estas mais eretas, co, quanto maior for a disponibilidade de Diversos trabalhos têm mostrado ten-
aumentou o potencial de resposta da cul- nutrientes para as plantas, seja pela ferti- dência de maiores produções de grãos em
tura à densidade de planta (ALMEIDA et lidade natural do solo seja pela adubação, espaçamentos mais estreitos (45 e 50 cm),
al., 2000). maior será a densidade para se alcançar principalmente com os híbridos atuais, que
O aumento e o arranjo da população de o máximo rendimento. As interações mais são de porte mais baixo e arquitetura mais
plantas podem contribuir para a correta freqüentes entre o nível de fertilidade e a ereta (PAIVA, 1992; MEDEIROS; SILVA,
exploração do ambiente e do genótipo, com densidade de semeadura se dão, princi- 1975; PEREIRA FILHO et al., 1993). Sangoi
conseqüências no aumento do rendimen- palmente, com a adubação nitrogenada et al. (1998) encontraram aumento no ren-
to de grãos (AMARAL FILHO et al., 2002). (XIMENES ,1991). dimento de grãos de milho com redução no
O arranjo de plantas basicamente pode ser espaçamento entre fileiras de até 50 cm.
ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS
manipulado através de alterações na den- Essa redução no espaçamento resultou
sidade de plantas e no espaçamento entre É muito variado o espaçamento entre também em maior peso de grãos por espiga.
fileiras. fileiras de milho nas lavouras, embora seja Esse comportamento deve-se aos milhos
A interceptação da radiação fotossin- nítida a tendência de sua redução. atuais terem características de porte mais
teticamente ativa pelo dossel exerce grande Entre as vantagens potenciais da utili- baixo, melhor arquitetura foliar e menor
influência sobre o rendimento de grãos da zação de espaçamentos mais estreitos, po- massa vegetal, o que permite cultivos mais
cultura do milho, quando outros fatores dem ser citados: adensados em espaçamentos mais fecha-
ambientais são favoráveis. Uma forma de a) o aumento do rendimento de grãos, dos. Devido a essas características, esses
aumentar a interceptação de radiação e, em função de distribuição mais eqüi- materiais exercem menores índices de som-
conseqüentemente, o rendimento de grãos, distante de plantas na área, faz aumen- breamento e captam melhor a luz solar.
é através da escolha adequada do arranjo tar a eficiência de utilização de luz so- Avaliando diferentes cultivares de mi-
de plantas (SILVA et al., 2002). Teorica- lar, água e nutrientes (PASZIEWICZ, lho, espaçamento e densidade de plantio,
mente, o melhor arranjo de plantas de milho 1996; FLÉNET et al., 1996); Cruz et al. (2004) verificaram que o rendi-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 51

mento de grãos cresceu com o aumento da potencial de produção, comprovado nos DE MILHO E SORGO, 24., 2002, Florianó-
densidade de plantio, em ambos os espa- concursos de produtividade e por agricul- polis. [Resumos expandidos...] Meio ambiente
çamentos (reduzido e normal), demons- tores que utilizam alto nível tecnológico, o e a nova agenda para o agronegócio de milho e
trando que poderia aumentar ainda mais a rendimento de milho, no Brasil, ainda é sorgo. Sete Lagoas: Associação Brasileira de Mi-
produtividade, com aumento na densida- muito baixo. Levando em consideração a lho e Sorgo/ Embrapa Milho e Sorgo, 2002.
de de plantio. Entretanto, no espaçamento qualidade e o potencial da semente de mi- 1 CD-ROM.
de 0,50 m entre fileiras, a produtividade lho disponível, com predominância dos
APRAKU, B.; HUNTER, R.B.; TOLLENAAR,
apresentou maior ampliação, quando se híbridos simples, verifica-se que é funda-
M. Effect of temperature during grain filling on
passou de 40 mil plantas ha-1 para 77.500 mental o aperfeiçoamento dos sistemas de
whole plant and grain yield in maize (Zea mays
plantas ha-1, do que no espaçamento de produção para que esses materiais possam
L.). Canadian Journal Plant Science, Ottawa,
0,80 m, indicando que a redução de espa- expressar ao máximo seu potencial gené-
v.63, n.2, p.357-363, 1983.
çamento é mais vantajosa, quando se tico, alcançando altas produtividades em
utilizam maiores densidades de plantio, sistemas de produção sustentáveis. ARGENTA, G.; SILVA, P.R.F. da; SANGOI, L.
mais uma vez concordando com a obser- Arranjo de plantas em milho: análise do estado-
vação de Hoeft (2003) de que o benefício REFERÊNCIAS da-arte. Ciência Rural, Santa Maria, v.31, n.6,
das linhas mais estreitas aumenta à medida p.1075-1084, nov./dez. 2001.
ALFONSI, R.R.; CAMARGO, M.B.P. de. Esti-
que cresce a população de plantas.
mativa de perdas de produção para a cultura do AVELAR, B.C. Ciclo de crescimento e desen-
Quando se pensa em diminuir o espaça-
milho no estado de São Paulo, através de parâ- volvimento de três cultivares de milho e oito
mento entrelinhas e/ou aumentar a densi-
metros climáticos. In: CONGRESSO NACIO- épocas de plantio. In: CONGRESSO NACIONAL
dade de plantas por área, a escolha do hí-
NAL DE MILHO E SORGO, 22., 1998, Recife. DE MILHO E SORGO, 15., 1984, Maceió.
brido deve ser criteriosa. Geralmente, os
Resumos... Globalização e segurança alimentar. Anais... Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS/
híbridos ou as variedades de porte alto
Recife: Associação Brasileira de Milho e Sorgo, Brasília: EMBRAPA-DDT, 1986. p.297-306.
e ciclo longo produzem bastante massa
1998. 1 CD-ROM. (EMBRAPA-CNPMS. Documentos, 5).
e quase sempre não proporcionam bom
arranjo das plantas dentro da lavoura e, ALMEIDA, M.L. de; MEROTTO JUNIOR, A.; BASSO, C.J.; CERETTA, C.A. Manejo do nitro-
por essa razão, já no início do crescimento SANGOI, L.; ENDER, M.; GUIDOLIN, A.F. gênio no milho em sucessão a plantas de cobertura
é prejudicada a captação da luz. Os híbri- Incremento na densidade de plantas: uma alter- de solo, sob plantio direto. Revista Brasileira
dos de menor porte, mais precoces desen- nativa para aumentar o rendimento de grãos de de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v.24, n.4,
volvem pouca massa vegetal, com menor milho em regiões de curta estação estival de cres- p.905-915, 2000.
quantidade de auto-sombreamento, o que cimento. Ciência Rural, Santa Maria, v.30, n.1,
p.23-29, jan./mar. 2000. BERTIN, E.G.; ANDRIOLI, I.; CENTURION, J.F.
proporciona maior penetração da luz so-
Plantas de cobertura em pré-safra ao milho em
lar. Estas plantas permitem cultivo em me-
AMADO, T.J.C.; MIELNICZUK, J.; AITA, C. plantio direto. Acta Scientiarum: agronomy,
nores espaçamentos e maiores densidades
Recomendação de adubação nitrogenada para o Maringá, v.27, n.3, p.379-386, July/Sept. 2005.
(MUNDSTOCK, 1978).
milho no RS e SC adaptada ao uso de culturas
Uma das dificuldades para o uso de BRESOLIN, M. A semeadura do milho no RS. In:
de cobertura do solo, sob sistema plantio direto.
espaçamentos mais estreitos eram as co- BRESOLIN, M. (Coord.). Contribuições a cul-
Revista Brasileira de Ciencia do Solo, Viçosa,
lheitadeiras, que, muitas vezes, não se tura do milho para o Estado do Rio Grande
MG, v.26, n.1, p.241-248, 2002.
adaptavam a esta situação. No entanto, do Sul. Porto Alegre : Fundação de Ciência e
hoje, com a evolução do parque de má- _______; _______; FERNANDES, S. B. V. Le- Tecnologia, 1993. p.44-69.
quinas agrícolas, esse problema já não guminosas e adubação mineral como fontes de
existe. nitrogênio para o milho em sistemas de pre- BRUNINI, O.; BORTOLETTO, N.; MARTINS,
paro do solo. Revista Brasileira de Ciencia A.L.M. et al. Interação: época de plantio, du-
CONSIDERAÇÕES FINAIS do Solo, Viçosa, MG, v.24, n.1, p.179-189, ração do ciclo e produção para a cultura do mi-
2000. lho no estado de São Paulo. In: CONGRESSO
A cultura do milho, por sua versatili-
NACIONAL DE MILHO E SORGO, 22., 1998,
dade, adapta-se a diferentes sistemas de AMARAL FILHO, J.P.R.; FORNASIERI FILHO,
Recife. Resumos... Globalização e segurança
produção. Devido à grande produção de D.; BARBOSA, J.C. Influência do espaçamento,
alimentar. Recife: Associação Brasileira de Milho
fitomassa de alta relação C/N, a cultura é densidade populacional e adubação nitrogenada
e Sorgo, 1998. 1 CD-ROM.
fundamental em programas de rotação de nas características produtivas em cultura de milho
culturas em SPD. Embora apresente alto sob alta tecnologia. In: CONGRESSO NACIONAL CERETTA, C.A.; BASSO, C.J.; FLECHA, A.M.T.;

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


52 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

PAVINATO, P.S.; VIEIRA, F.C.B.; MAI, M.E.M. sistema agrícola. Informe Agropecuário, Be- of corn, sorghum, soybean, and sunflower. Agro-
Manejo da adubação nitrogenada na sucessão aveia lo Horizonte, v.22, n.208, p.13-24, jan./fev. nomy Journal, Madison, v.88, n.2, p.185-190,
preta/milho, no sistema plantio direto. Revista 2001. Mar./Apr. 1996.
Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG,
DE MARIA, I.C.; DUARTE, A.P. Sistemas de GOMES, J. Parâmetros ambientais e época de
v.26, n.1, p.163-171, 2002.
preparo do solo e sucessão de culturas para implan- semeadura. In: IAPAR. A cultura do milho no
COBUCCI, T.; KLUTHCOUSKI, J.; AIDAR, H. tação e desenvolvimento do milho “safrinha”. Paraná. Londrina, 1991. cap. 3, p.51-61.
Aproveitando-se da planta daninha. Cultivar, In: SEMINÁRIO SOBRE A CULTURA DO MI- (IAPAR. Circular, 68).
Pelotas, v.3, n.27, p.26-30, abr. 2001. LHO “SAFRINHA”, 4., 1997, Assis, SP. Anais...
GONÇALVES, C.N.; CERETTA, C.A.; BASSO,
Campinas: IAC/CDV, 1997. p.71-80.
COELHO, A.M.; CRUZ, J.C.; PEREIRA FILHO, C.J. Sucessões de culturas com plantas de cobertura
I.A. Rendimento do milho no Brasil: chegamos _______; _______; CANTARELLA, H.; PECHE e milho em plantio direto e sua influência sobre o
ao máximo? Informações Agronômicas, Pira- FILHO, A.; POLISINI, G. Caracterização de nitrogênio no solo. Revista Brasileira de
cicaba, n.101, mar. 2003. Encarte técnico. lavouras de milho “safrinha” no Vale do Parana- Ciência do Solo, Viçosa, MG, v.24, n.1, p.153-
panema. In: SEMINÁRIO SOBRE A CULTURA 159, 2000.
CONAB. Quinto levantamento de avaliação DO MILHO “SAFRINHA”, 5., 1999, Barretos.
da safra 2005/2006. Brasília, 2006. Disponí- HOEFT, R.G. Desafios para obtenção de altas pro-
Anais... Campinas: IAC, 1999. p.229-238.
vel em: <http://conab.gov.br/dowload/safra/ dutividades de milho e de soja nos EUA. Infor-
BOLETIM_5_Levantamento_abril2006>. Aces- DERPSCH, R. Rotação de culturas: plantio di- mações Agronômicas, Piracicaba, n.104,
so em: maio 2006. reto e convencional. São Paulo: Ciba- Geigy, 1986. p.1-4, dez. 2003.
Não paginado.
CRUZ, J.C. Effect of crop rotation and tillage LARA CABEZAS, W.A.R.; ALVES, B.J.R.;
systems on some soil properties, root dis- DUARTE, A.P.; MARTINS, A.C.N.; BRUNINI, URQUIAGA CABALLERO, S.S.; SANTANA,
tribution and crop production. 1982. 220f. O . ; C A N TA R E L L A , H . ; D E U B E R , R . ; D.G. de. Influência da cultura antecessora e da
Thesis (Doctor of Philosophy) - Purdue Univer- PATERNIANI, M.E.A.G.Z.; TSUNECHIRO, A.; adubação nitrogenada na produtividade de mi-
sity, West Lafayett. SAWAZAKI, E.; DENUCCI, S.; FANTIN, G.M.; lho em sistema plantio direto e solo preparado.
RECO, P.C. Milho safrinha: técnicas para o Ciência Rural, Santa Maria, v.34, n.4, p.1005-
_______; MONTEIRO, J. de A.; SANTANA, D.P.; cultivo no estado de São Paulo. Campinas: CATI, 1013, jul./ago. 2004.
GARCIA, J.C.; BAHIA, F.G.F.T. de C.; SANS, 2000. 16p. (CATI. Documento Técnico, 113).
L.M.A.; PEREIRA FILHO, I.A.P. (Ed.). Reco- LIMA, E. do V.; CRUSCIOL, C.A.C.; LIMA, P.L.;

mendações técnicas para o cultivo do milho. DUVICK, D.N. Genetic contributions to advances CORRÊA, J.C. Espécies para cobertura e qualidade

Brasília: EMBRAPA-SPI, 1993. 204p. in yield of US maize. Maydica, Bergamo, v.37, dos resíduos vegetais na implantação do sistema
n.1, p.69-79, 1992. de plantio direto em região de inverno seco. Revis-
_______; PEREIRA, F.T.F.; PEREIRA FILHO, ta Brasileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas,
FANCELLI, A.L.; DOURADO NETO, D. Pro-
I. A.; OLIVEIRA, A. C. de; MAGALHÃES, v.4, n.2, p.180-194, maio/ago. 2005.
dução de milho. Guaiba: Agropecuária, 2000.
P.C. Respostas de cultivares de milho a variação
360 p. MARINATO, R. Irrigação em milho. Informe
em espaçamento e densidade. In: CONGRESSO
Agropecuário, Belo Horizonte, ano 6, n.72,
NACIONAL DE MILHO E SORGO, 25.; SIM- FERREIRA, S.M. Extensão rural e assistência
p.42-45, dez. 1980.
PÓSIO BRASILEIRO SOBRE A LAGARTA-DO- técnica no sistema plantio direto na região dos
CARTUCHO, SPODOPTERA FRUGIPERDA, Cerrados. In: SEMINÁRIO SOBRE O SISTEMA MARTINS, R.M.G.; ROSA JUNIOR, E.J. Cultu-
1., 2004, Cuiabá. Resumos expandidos... DE PLANTIO DIRETO NA UFV, 1., 1998, Vi- ras antecessoras influenciando a cultura de milho
Da agricultura familiar ao agronegócio: tecnologia, çosa, MG. Resumo das palestras... Viçosa, MG: e os atributos no sistema de plantio direto. Acta
competitividade e sustentabilidade. Sete Lagoas: UFV, 1998. p.107-115. Scientiarum: agronomy, Maringá, v.27, n.2,
Associação Brasileira de Milho e Sorgo/Embrapa p. 225-232, Apr./June 2005.
Milho e Sorgo/EMPAER, 2004. 1 CD-ROM. FIORIN, J.E.; CAMPOS, B.C. de. Rotação de
culturas. In: CAMPOS, B.H.C. de (Coord.). MATZENAUER, R.; WESTPHALEN, S.L.
_______; PEREIRA FILHO, I.A. Hora da esco- A cultura do milho no plantio direto. Cruz BERGAMASCHI, H.; SUTILI, V.R. Evapo-
lha. Cultivar: grandes culturas, Pelotas, ano 7, Alta: FUNDACEP/FECOTRIGO, 1998. cap.2, transpiração do milho (Zea mays L.) e sua relação
n.77, p.4-11, set. 2005. Caderno técnico cultivar: p.7-14. com a evaporação do tanque classe A. Agrono-
milho. mia Sulriograndense, Porto Alegre, v.17, n.2,
FLÉNET, F.; KINIRY, J.R.; BOARD, J.E.;
p.273-295, 1981.
_______; _______; ALVARENGA, R.C.; SAN- WESTGATE, M.E.; REICOSKY, D.C. Row
TANA, D. P. Plantio direto e sustentabilidade do spacing effects on light extinction coefficients MEDEIROS, J.B. de; SILVA, P.R.F. da. Efeitos de

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 53

níveis de nitrogênio e densidades de plantas sobre AND SORGHUM RESEARCH CONFERENCE, _______; ARGENTA, G.; STRIEDER, M. L.;
o rendimento de grãos e outras características agro- 20., 1965, Chicago. Proceedings... Washington: CARDOSO, E.T.; FORSTHOFER, E.; SUHRE, E.
nômicas de duas cultivares de milho (Zea mays L.). ASTA, 1965. p.51-58. Resposta de dois híbridos de milho ao arranjo de
Agronomia Sulriogandense, Porto Alegre, plantas. In: CONGRESSO NACIONAL DE
QUIESSI, J.A.; DUARTE, A.P.; BICUDO, S.J.;
v.11, n.2, p.227-249, 1975. MILHO E SORGO, 24., 2002, Florianópo-
PATERNIANI, M.E.A.G.Z. Rendimento de grãos
lis. [ Resumos expandidos...] Meio ambiente
MUNDSTOCK, C.M. Aspectos fisiológicos da e características fenológicas do milho em dife-
e a nova agenda para o agronegócio de milho e
tolerância do milho ao frio. In: SEMINÁRIO rentes épocas de semeadura, em Tarumã (SP). In:
sorgo: Sete Lagoas: Associação Brasileira de Mi-
SOBRE A CULTURA DO MILHO “SAFRINHA”, SEMINÁRIO SOBRE A CULTURA DO MILHO
lho e Sorgo/Embrapa Milho e Sorgo, 2002.
3., 1995, Assis, SP. Resumos... Campinas: IAC, “SAFRINHA”, 5., 1999, Barretos. Anais... Cam-
1 CD-ROM.
1995. p.45-48. pinas: IAC, 1999. p.239-247.
SOUZA, L.C.F. de; GONÇALVES, M.C.; ALVES
_______. Efeito de espaçamentos entre linhas ROS, C.O. da; AITA, C. Efeito de espécies de
SOBRINHO, T.; FEDATTO, E.; ZANON, G.D.;
e de populações de plantas de milho (Zea mays) inverno na cobertura do solo e fornecimento de
HASEGAWA, E.K.B. Culturas antecessoras e
de tipo precoce. Pesquisa Agropecuária Brasi- nitrogênio ao milho em plantio direto. Revista
adubação nitrogenada na produtividade de milho
leira, Brasília, v.13, n.1, p.13-18, 1978. Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.20,
em plantio direto irrigado. Revista Brasileira
n.1, p.135-140, jan./abr. 1996.
de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v.2, n.3, p.55-
OLIVEIRA, I.P. de; ROSA, S.R.A. da; KLUTH-
ROSOLEM, C.A.; CALONEGO, J.C.; FOLONI, 62, set./dez. 2003.
COUSKI, J.; AIDAR, H.; COSTA, J.L. da. Palhada
J.S.S. Lixiviação de potássio da palha de espécies
no Sistema Santa Fé. Informações Agronô- SWOBODA, R. Interest grows in narrow corn.
de cobertura de solo de acordo com a quantidade
micas, Piracicaba, n.93, p.6-9, mar. 2001. Wallaces Farmer, Spencer, v.121. n.1, p.6-7,
de chuva aplicada. Revista Brasileira de Ciên-
Jan. 1996.
OLIVEIRA, M.D.X. de. Comportamento da cia do Solo, Viçosa, MG, v.27, n.2, p.355-362,
cultura de milho (Zea mays L.) em diferentes 2003. TECNOLOGIAS integradas: soluções técnicas
épocas de semeadura nas Regiões Centro e para a agricultura. Barueri: DUPONT/ Santa Cruz
RUEDELL, J. A soja numa agricultura sustentável.
Norte de Mato Grosso do Sul. 1990. 90f. Tese do Sul : PIONEER, 2003. 19p.
In: SILVA, M.T.B. da (Coord.). A soja em rota-
(Mestrado) - Escola Superior de Agricultura de
ção de culturas no plantio direto. Cruz Alta: VALOIS, A.C.C. Eficiência comparativa de
Lavras, Lavras.
FUNDACEP/FECOTRIGO, 1998. cap. 1, p.1-34. quatro métodos de seleção em uma popula-
_______; DARÓS, R.; ARIAS, E.R.A. Época ção melhorada de milho (Zea mays L.). 1982.
_______. Plantio direto na região de Cruz
de semeadura do milho safrinha para o estado do 118f. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agri-
Alta. Cruz Alta: FUNDACEP/FECOTRIGO,
Mato Grosso do Sul. In: CONGRESSO NACIO- cultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São
1995. 134p.
NAL DE MILHO E SORGO, 22., 1998, Recife. Paulo, Piracicaba.
Resumos... Globalização e segurança alimentar. SANGOI, L.; ENDER, M.; GUIDOLIN, A.F.;
HEBERTE, P.C. Redução entre linhas: uma alter- VARGAS, L.K.; SELBACH, P. A.; SÁ, E.L.S.
Recife: Associação Brasilleira de Milho e Sorgo,
nativa para aumentar o rendimento de grãos de de. Imobilização de nitrogênio em solo cultiva-
1998. 1 CD-ROM.
milho no Planalto Catarinense. In: REUNIÃO do com milho em sucessão à aveia preta nos sis-
PAIVA, L.E. Influência de níveis de nitro- TÉCNICA CATARINENSE DE MILHO E FEI- temas plantio direto e convencional. Ciência
gênio, espaçamento e densidade no rendi- JÃO, 1., 1998, Chapecó. Resumos... Chapecó: Rural, Santa Maria, v.35, n.1, p.76-83, jan./fev.
mento forrageiro e qualidade da silagem EPAGRI, 1998. p.9-11. 2005.
de milho (Zea mays L.).1992. 81f. Tese (Mes-
_______. Understanding plant density effects on WILSON, J.H.; CLOWES, M.S.T.J.; ALLISON,
trado) - Escola Superior de Agricultura de Lavras,
maize growth and development: an important J.C.S. Growth and yield of maize at different
Lavras.
issue to maximize grain yield. Ciência Rural, altituds in Rhodesia. Annals of Applied Biology,
PASZKIEWICZ, S. Narrow row spacing influence Santa Maria, v.31, n.1, p.159-168, jan./fev. Cambridge, v.73, p.77-84, 1973.
on corn yield. In: ANNUAL CORN AND SOR- 2001.
XIMENES, P.A. Influência da população de
GHUM RESEARCH CONFERENCE, 51., 1996,
SILVA, P.R.F. da; ARGENTA, G.; REZERA, F. plantas e níveis de nitrogênio na produção
Chicago. Proceedings... Washington: ASTA,
Resposta de híbridos de milho irrigado à densidade e qualidade da massa verde e da silagem de
1996. p.130-138.
de plantas em três épocas de semeadura. Pesquisa milho (Zea mays L.). 1991. 145f. (Tese Douto-
PENDLETON, J. Cultural practices: plant density Agropecuaria Brasileira, Brasília, v.34, n.4, rado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
and row spacing for corn. In: ANNUAL CORN p.585-592, abr. 1999. MG.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.42-53, jul./ago. 2006


54 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Manejo de plantas daninhas


na cultura do milho
José Mauro Valente Paes 1
Roberto Kazuhiko Zito 2

Resumo – As plantas daninhas constituem grande problema para a cultura do milho.


Prejudicam a cultura, pois competem por luz solar, água e nutrientes. Dependendo do
nível de infestação e das espécies, podem dificultar a operação de colheita e comprometer
a qualidade do grão. O controle de plantas daninhas no Sistema Plantio Direto (SPD), que
já foi causa principal da desistência de produtores em continuar no sistema, hoje possui
enfoque prático, notadamente diferenciado do que vem acontecendo e, também, das
ferramentas que estão sendo colocadas à disposição dos técnicos e produtores para
melhor gerenciamento da questão. O manejo de plantas daninhas envolve vários méto-
dos de controle, que devem ser utilizados de acordo com os fatores ligados à cultura
(espécie, cultivar, espaçamento, densidade e profundidade de plantio), à comunidade
infestante (espécie, densidade e distribuição), ao ambiente (solo, clima e tratos culturais)
e ao período de controle ou convivência. Com a utilização do manejo integrado de
plantas daninhas, devidamente orientado, é possível minimizar a utilização de herbi-
cidas e, em alguns casos, pode-se buscar a sua exclusão no SPD na palha. Esta situação
permitirá reduzir os impactos negativos causados pelo uso dos herbicidas nos meios
físico, biótico e antrópico.
Palavras-chave: Zea mays. Plantio direto. Manejo integrado. Controle integrado. Controle
químico. Herbicida. Espécie nociva. Alelopatia.

INTRODUÇÃO sariamente na sua completa eliminação. distribuição), ao ambiente (solo, clima e


As plantas daninhas constituem grande Resultados de pesquisa mostram que o tratos culturais) e ao período de controle
problema para a cultura do milho. Confor- período crítico de competição das plantas ou convivência.
me a espécie, a densidade e a distribuição daninhas com o milho, em condições nor- O controle de plantas daninhas no Sis-
da invasora na lavoura, as perdas são signi- mais, ocorre entre 20 e 60 dias após a emer- tema Plantio Direto (SPD), que já foi causa
ficativas. A invasora prejudica a cultura, gência da cultura. A competição é tolerável principal da desistência de produtores em
competindo com esta por luz solar, água e após este período, por não afetar o rendi- continuar no sistema, hoje possui enfoque
nutrientes, podendo, a depender do nível mento do milho. prático, notadamente diferenciado do que já
de infestação e da espécie, dificultar a ope- O manejo de plantas daninhas envolve esta acontecendo e, também, das ferramen-
ração de colheita e comprometer a quali- vários métodos de controle, que devem ser tas que estão sendo colocadas à disposição
dade do grão. utilizados de acordo com os fatores ligados dos técnicos e produtores para melhor ge-
O controle de plantas daninhas consiste à cultura (espécie, cultivar, espaçamento, renciamento da questão (ADEGAS, 1997).
na adoção de certas práticas que resultam densidade e profundidade de plantio), à co- Pode-se dizer que o SPD na palha só
na redução da infestação, mas não neces- munidade infestante (espécie, densidade e evoluiu, significativamente, no Cerrado a

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jpaes@epamig
uberaba.com.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: zito@epamiguberaba.com.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 55

partir do momento em que se conseguiu QUADRO 1 - Sementes nocivas proibidas para o comércio de sementes de grandes culturas
dominar de modo satisfatório o manejo das Limite máximo
plantas daninhas, permitindo a adoção de Nome científico Nome comum por amostra
sistemas de controle que fossem eficientes analisada
e de baixo custo (SCALÉA, 1998). Esta evo- Cuscuta spp. Cuscuta cipó-chumbo, fios-de-ovos 0
lução foi conseqüência, principalmente, do
Cyperus rotundus Tiririca-verdadeira 0
aprimoramento das técnicas de controle
dessas invasoras. Echium plantagineum Borrago 0
Muitos agricultores cometem o erro de Eragrostis plana Capim-annoni 0
atribuir somente a um método a incumbên- Euphorbia heterophylla Leiteira, amendoim-bravo 0
cia de controlar as plantas daninhas. O bom
Oryza sativa Arroz-preto 0
manejo deve congregar todos os possíveis
métodos de controle (manejo integrado de Rumex acetosella Linguinha-de-vaca 0
plantas daninhas), compondo estratégia Sorghum halepense Capim-maçambará, sorgo-de-alepo 0
tecnicamente eficiente e economicamente Vigna unguiculata Feijão-miúdo 0
viável, para manter a sustentabilidade do
FONTE: Brasil (1986).
SPD na palha.
A associação de métodos de controle
deve ser utilizada sempre que possível, de entrar na lavoura ou em talhões, onde o bom espaçamento é aquele que permite
porém é conveniente que a estratégia de existem espécies-problema e controle de cobertura do solo, quando a cultura atinge
controle (melhor método, no momento plantas daninhas próximas a canais de irri- seu pleno desenvolvimento vegetativo,
oportuno) esteja adaptada às condições gação e margens de carreadores. devendo ser diferenciado para os dife-
locais de infra-estrutura, como disponi- rentes híbridos e variedades e condições
bilidade de mão-de-obra, implementos e CONTROLE CULTURAL edafoclimáticas. É comum o uso de 0,75 m
análise de custos. Os vários métodos de O controle cultural consiste em apro- entrelinhas e 4 a 6 sementes por metro para
controle atualmente disponíveis são apre- veitar as próprias características do milho a maioria dos híbridos e variedades. A va-
sentados a seguir. e das plantas daninhas, de modo que a cul- riação do espaçamento entrelinhas ou da
tura leve vantagem sobre as invasoras. densidade de plantas na linha pode con-
CONTROLE PREVENTIVO tribuir para a redução da interferência de
A rotação de culturas, além de muitas
Consiste no uso de práticas que visam outras utilidades, é praticada como meio plantas daninhas sobre a cultura. A redu-
prevenir a introdução, o estabelecimento de prevenir o surgimento de altas popula- ção do espaçamento entrelinhas geral-
e/ou, a disseminação de determinadas ções de certas espécies de plantas dani- mente proporciona vantagem competitiva
espécies em áreas ainda não infestadas. nhas mais adaptáveis à determinada cul- à maioria das culturas sobre as plantas da-
A legislação nacional estabelece a relação tura. A monocultura por vários anos e a ninhas sensíveis ao sombreamento.
das espécies nocivas e seus respectivos aplicação dos mesmos herbicidas, ano
CONTROLE QUÍMICO
limites máximos específicos de tolerância, após ano, no mesmo solo favorecem o esta-
para sementes de espécies daninhas tole- belecimento de certas espécies daninhas O manejo químico é um método de con-
radas e determina as proibidas. Isto evita tolerantes que aumentam sua interferência trole de plantas daninhas eficiente desde
que contaminem novas áreas utilizando sobre a cultura, refletindo negativamente que usado adequadamente, de forma inte-
sementes com impurezas. Nos Quadros 1 e na produção, na qualidade dos produtos grada com outros métodos. Pode ser usado
2, encontram-se a relação das sementes e nos lucros. A escolha do tipo de cultura em toda a área cultivada, entretanto, antes
nocivas toleradas e proibidas para o comér- a ser incluída em uma rotação, quando o de sua utilização deve-se proceder a levan-
cio de sementes fiscalizadas de grandes controle de plantas daninhas é o principal tamento criterioso das espécies infestan-
culturas. objetivo, deve recair sobre plantas cujas tes, do local, tanto quanto possível, sua
Além do uso de sementes livres de pro- características sejam bem contrastantes densidade (número de plantas por m2), bem
págulos de plantas daninhas, outros cuida- com o milho. como sua distribuição. Somente, com base
dos são necessários, como uso de estrume, Para que a cultura do milho tenha van- nessas informações, torna-se possível par-
palha ou compostos isentos de propágulos tagem competitiva em relação às plantas tir para a escolha correta dos princípios
de plantas daninhas proibidas, limpeza daninhas, é importante que se tenha ade- ativos e das doses a serem recomendadas,
completa dos equipamentos agrícolas antes quado espaçamento. Em termos práticos, com maior eficiência. Ao se usar este esque-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
56 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 2 - Sementes nocivas toleradas para o comércio de sementes de grandes culturas ma de controle, propicia-se redução das
Limite plantas daninhas ao longo dos anos agrí-
máximo por colas, dos custos de controle e, em alguns
Nome científico Nome comum
amostra casos, até a redução da área a ser tratada
analisada com herbicidas (BIANCHI, 1997). As alte-
Acanthospermum hispidium Carrapicho-de-carneiro 10 rações das importâncias relativas das
Aeschynomene rudis Angiquinho 10 espécies, com a predominância de plantas
Amaranthus spp. Caruru-gigante, bredo, caruru-de-espinho 15 pouco comuns no sistema convencional,
Anthemis cotula Macela-fétida – constituem outro tipo de impacto que se
Avena fatua e A. barbara Aveia-silvestre, aveia-selvagem 5 evidencia atualmente. Entretanto, esses
Bidens pilosa Picão-preto 10 impactos são resultantes de integração dos
Borreria alta Língua-de-vaca 10 fatores acima comentados e da aplicação
Brachiaria plantaginea Capim-marmelada, papuã 10 de herbicidas, especialmente os de ma-
nejo.
Brassica campestris e
O uso do manejo químico das plantas
Sinapis arvensis Mostarda-silvestre, mostarda-selvagem 10
daninhas, pela aplicação de herbicidas, foi
Cassia tora e C. occidentalis Fedegoso 10 o que possibilitou a eliminação do preparo
Cenchrus echinatus Capim-carrapicho, timbete 10 do solo, conduzindo a mudança do sistema
Chechrus echinatus Erva-formigueira, ançarinha – convencional de cultivo para a implemen-
Cirsium vulgares Cardo 30 tação do SPD na palha. O plantio direto,
Croto glandulosus Gervão-branco 10 em comparação com o tempo de agricultura
Cyperus esculentus Tiririca-amarela _ convencional, é uma prática relativamente
Cyperus sesquiflorus Capim-santo, capim-de-um-só-botão – recente. As reduções iniciais da diversida-
Cyperus spp. Tiririca-do-brejo, tiririca-falsa 5 de e densidade das plantas daninhas foram
Digitaria insularis Capim-amargoso – os primeiros sinais do impacto deste siste-
Diodia teres Poaia-do-campo, diodia – ma de cultivo sobre a dinâmica das comuni-
dades infestantes. Da ação conjunta do
Echinocloa crusgalli e
não-revolvimento do solo e da cobertura
E. colonum Capim-arroz, colônia 10
morta que, em condições de bom controle
Echium plantagineum Borrago – de plantas daninhas, há tendência de de-
Euphorbia hetophylla Leiteira, amendoim-bravo – senvolver menor população de infestantes
Hiptis suaveolens Mata-pasto, fazendeiro – nos campos submetidos ao SPD do que ao
Ipomoea aristolchiaefolia Corda-de-viola, corriola, campainha – sistema convencional, como observado
Ipomoea purpurea Corda-de-viola, corriola, campainha – por Almeida (1985b), em ensaios condu-
Oryza sativa Arroz-vermelho 8 zidos em duas localidades do Paraná (Qua-
Pennisetum setosum Capim-oferecido, capim-custódio 15 dro 3).
Polygonum convolvulus Cipó-de-veado 10 Com o aprimoramento do manejo de
Polygonum spp. Erva-pessegueira, enredadeira, erva-de-bicho 10 plantas daninhas e com a evolução dos pró-
Rapistrum rugosum Mostarda-comum 20 prios herbicidas, pode-se dizer que o SPD
Raphanus raphanistrum Nabiça 5 na palha não é poluente, contribui para a
Rumex acetosella Linguinha-de-vaca – redução de utilização de insumos moder-
Rumex crispus e nos e reduz o risco de contaminação do
R. obtusifolius Língua-de-vaca 10 meio ambiente. É preciso desmistificar a
crença de que o SPD na palha aumenta o
Sida spp. Guanxuma, guanxuma-branca, malva-preta 10 uso de herbicidas (SILVA, 1997).
Sylybum marianum Cardo-branco – Com a utilização do manejo integrado
Solanum spp. Maria-pretinha, jóia, fumo-bravo 15 de plantas daninhas, devidamente orien-
Xantium americanum Carrapichão 15 tado, é possível minimizar a utilização de
Xantim spp. – – herbicidas com redução de doses e, em
FONTE: Brasil (1986). alguns casos, pode-se buscar a sua exclu-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 57

QUADRO 3 - Número de plantas daninhas por m2 em SPD e convencional, na sucessão soja trigo O uso da cobertura de palha é o exem-
e milho trigo determinado após a colheita do trigo – média de três anos plo mais antigo de manejo econômico de
plantas daninhas. A presença dessa palha
Londrina Carambeí
Sistema é fundamental para o sucesso do plantio
Soja Milho Soja Milho direto, além dos importantes efeitos na con-
servação e manutenção da umidade do solo
Plantio convencional 49 73 45 81 e em causar, também, supressão das plantas
Plantio direto 33 47 17 09 daninhas.
Existem numerosas evidências de que
os aleloquímicos podem alterar a absorção
de íons pelas plantas. Sem dúvida, este
são no SPD na palha. Esta situação per- dro 6, encontram-se alguns produtos indi- fenômeno encontra-se associado ao colap-
mitirá reduzir os impactos negativos causa- cados para a cultura do milho. so de outras funções, como a respiração e
dos pelo uso dos herbicidas nos meios Os herbicidas para o controle das plan- a permeabilidade das membranas celula-
físico, biótico e antrópico. tas daninhas devem ser registrados no res. Os aleloquímicos podem atuar como
A expectativa dos agricultores experien- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- reguladores de crescimento vegetal, como
tes do Brasil, do Paraguai e da Argentina tecimento (MAPA). Em algumas situações inibidores de fotossíntese, desregulado-
é que, pelo uso sistemático da adubação as Secretarias Estaduais de Agricultura res da respiração e da permeabilidade das
verde e da rotação de culturas, assim como podem proibir o uso de determinado pro- membranas, inibidores da síntese protéica
o uso correto dos produtos químicos, se duto. Ao se pensar em controle químico e da atividade enzimática (PUTNAN, 1985).
consiga reduzir a quantidade de herbicidas em milho, alguns itens devem ser consi- Para que os produtos secundários libe-
no SPD na palha em, aproximadamente, derados: rados pelas coberturas mortas em plantio
80% da quantidade utilizada no sistema a) a seletividade do herbicida para a direto tenham ação sobre as infestantes, é
convencional (DERPSCH, 1997). Além dis- cultura; necessário que esses atinjam no solo a con-
so, essa redução de herbicidas possibili- centração mínima a que elas são suscetí-
b) a eficiência no controle das princi-
tará a implementação de uma agricultura veis. Esta concentração é função da quan-
pais espécies na área cultivada;
econômica, social e ecologicamente sus- tidade de aleloquímicos contidos na palha
tentável. c) o efeito residual dos herbicidas para
e da velocidade com que são lixiviados para
O método mais utilizado para controlar as culturas que serão implantadas
o terreno. Para reduzir infestações, os alelo-
as invasoras é o químico, isto é, o uso de em sucessão ao milho.
químicos devem ser liberados gradativa-
herbicidas. Suas vantagens são a econo- Dada a existência de legislação rigorosa mente, para que seus efeitos se façam sentir
mia de mão-de-obra e a rapidez na aplica- quanto à responsabilidade no uso de de- até que as culturas atinjam desenvolvimen-
ção. Para que a aplicação dos herbicidas fensivos, torna-se necessário que as reco- to suficiente para competir, com vantagem,
seja segura, eficiente e econômica, exigem- mendações sejam feitas por engenheiro com as infestantes que venham surgir.
se técnicas refinadas. O reconhecimento agrônomo ou técnico devidamente creden- A decomposição do material vegetal é um
prévio das invasoras predominantes é con- ciado que possa emitir receita específica dos fatores que influenciam neste aspecto,
dição básica para a escolha adequada do para cada caso. sendo que a maioria dos cereais tem de-
produto (Quadros 4 e 5), que resultará no composição lenta e, conseqüentemente,
controle mais eficiente das invasoras. EFEITOS ALELOPÁTICOS
ação alelopática longa, enquanto as dico-
A eficiência dos herbicidas aumenta, O processo de decomposição da cobertu- tiledôneas têm decomposição rápida e, ação
quando aplicados em condições favorá- ra morta na superfície libera gradativamente alelopática alta no início, porém, de curta
veis. É fundamental que se conheçam as vários compostos orgânicos denominados duração (ALMEIDA, 1988).
especificações do produto antes de sua aleloquímicos, muitos deles interferindo A alelopatia pode ser analisada sob dois
utilização e que se regule corretamente o diretamente na germinação e emergência enfoques diferentes. Ela pode ser preocu-
equipamento de pulverização, quando for de plantas daninhas (ALMEIDA, 1985a). pação pelas conseqüências negativas so-
o caso, para evitar riscos de toxicidade ao O processo de germinação das plantas da- bre o desenvolvimento da cultura ou ser
homem e à cultura. ninhas, quando está intimamente ligado a usada como forma de controle de plantas
Os herbicidas são classificados quanto esses fatores, reduz substancialmente no daninhas que competem com o homem na
à época de aplicação, em pré-plantio, pré- SPD com grande quantidade de cobertura produção de alimentos (GASSEN; GASSEN,
emergentes e pós-emergentes. No Qua- de palha. 1996).
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006
QUADRO 4 - Comportamento de plantas daninhas de folhas largas em função da aplicação de herbicidas em pré-emergência, pós-emergência inicial e pós-emergência tardia para a cultura do milho 58

Nome científico Nome comum

Acetochlor
Alachlor
Alachlor + Atrazine
Ametryn
Ammonium-glufosinate
Atrazine
Atrazine + Isoxaflutole
Atrazine + Simazine
Atrazine + S-metolachlor
Bentazon
Carfentrazone
Cyanazine
2,4-D
Dimethenamid
Diuron + Paraquat
Glyphosate
Isoxaflutole
Linuron
Nicosulfuron
Paraquat
Pendimethalin
Sethoxydim
Simazine
S-metolachlor
Sulfosate
Trifluraline

p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f
Alternanthera tenella Apaga-fogo S • • S • • S P • S S M • A A A S M A S M A S • A S • • P P • - - S M P M A S S • • M A S • A A - - - M P P • S M • A S S • • • P T M • • M • • • S S M • •
Commelina benghalensis Trapoeraba S • • S • • M P • S A S • S M S M P S S - S M • S M • • S M • A A M P T P A A S • • A A A • S P M - - P M P • M P • S M P • • • T T M • • S • • • M P P • •
Acanthospermum australe Carrapichinho M • • M • • S P • S A S • A S S S M S - - S M • S M • • M P • - - M P T P S S M • • S A S • A S - - - S M M • S M • S M T • • • T T S • • P • • • A S P • •
Bidens pilosa Picão-preto S • • S • • S P • S A S • A A A A S S - - A S • A S • • A S • - - S M T P A A M • • A A S • A A - - - M M M • S M • A S P • • • P T S • • M • • • A A P • •
Bidens subalternans Picão-preto S • • M • • - - • A - - • A - A - - - - - - - • A S • • A S • - - - M - - A A M • • - A S • A A - - - M - - • - - • A - P • • • • T S • • M • • • A S P • •
Ipomoea grandifolia Corda-de-viola P • • T • • S M • M S M • A A M M P - - - S M • S M • • S M • A A P M P P A S P • • M A A • A A - - - T P P • S P • S S T • • • T T M • • P • • • S M P • •
Euphorbia heterophylla Leiteira P • • P • • S P • M S S • S S S M - - - - S P • S M • • T P • A A P M - P S S P • • P S M • A S - - - T P P • S M • A S T • • • T T P • • P • • • A S P • •
Silene galica Alfinete-da-terra A • • M • • S P • S S M • A - S S M - - - S M • S M • • M P • - - A P T P A M - • • S A S • A A - - - A P T • - - • A S M • • • T T S • • S • • • A A A • •
Portulaca oleraceae Beldroega S • • S • • S A • A A A • A A A S S - - - A M • A M • • S S • P P M P P M A A A • • A A A • A A A - - S S M • A S • A A A • • • T T S • • S • • • A A M • •
Acanthospermum hispidum Carrapicho-de-carneiro P • • P • • M P • S A S • A A A S M - - - S M • S S • • S M • - - S P T M S S S • • S A S • A A - - - P S M • A M • S S T • • • T T S • • M • • • S M P • •
Xanthium cavalinesii Carrapicho-bravo P • • P • • P P • - - - • A S M M P - - - - - • M M • • S M • - - P T T P A S - • • M S M • A S - - - P P T • S - • S S P • • • T T P • • P • • • A A P • •
Amaranthus deflexus Caruru-rasteiro A • • A • • A M • A A S • A A A A S S - - A S • A S • • S M • A S S P T M A A A • • A A A • A A - - - A M M • A S • A S A • • • T T A • • M • • • A A A • •
Polygonum convolvulus Cipó-de-veado M • • M • • M P • M S - • - - M S P - - - M S • M P • • S S • - - M P P P M P - • • P S S • A A - - - P P P • - - • M M M • • • T T M • • P • • • A A P • •
Ipomoea nil Campainha P • • T • • M P • M S M • S S M M P S - - S M • M M • • S S • A A M P P S A A S • • S A A • A A S - - S P P • S M • A S T • • • T T M • • P • • • M M P • •
Sida rhombifolia Guanxuma S • • M • • S P • S A S • - - S S M - - - S S • S S • • S M • M P S P P P S S P • • A A S • A A - - - M P P • M P • S P T • • • T T M • • M • • • S S P • •
Rumex obtusifolius Língua-de-vaca M • • P • • M P • M P P • - - M P P - - - M P • M P • • P P • - - M P P P M M - • • - - - • A A - - - P P P • - - • M M P • • • T T M • • P • • • - - P • •
Raphanus raphanistrum Nabiça P • • P • • S P • M S S • A S S S M A A - S M • S S • • S M • - - M P P P A A S • • M A A • A A S - - S M P • A S • A A M • • • T T M • • M • • • A - P • •
Galinsoga parviflora Fazendeiro A • • S • • A P • A A S • A S A M P - - - A M • A M • • S M • - - S M P P A A S • • A A A • A A - - - S M P • A • A A M • • • T T A • • S • • • A A P • •
Richardia brasiliensis Poaia-branca S • • M • • S S • S S M • S S S A M - - - S A • S A • • P T • M M S A S P S M S • • A A S • A S - - - M S M • S M • S S M • • • T T M • • S • • • S M S • •
Cardiospermum halicacabum Balãozinho T • • T • • T M • - - - • - - T M P - - - T M • - - • • P T • A P T P T T S M - • • T S S • A A - - - - - - • M - • A A P • • • T T T • • - • • • A A T • •
Emilia sonchifolia Falsa-serralha M • • M • • A P • A A S • A A A S M - - - S M • A M • • S M • - - S P T P A A S • • S A S • A A - - - M P P • - - • A S S • • • T T S • • S • • • S S P • •
Lenotis nepetifolia Cordão-de-frade P • • P • • S S • A A S • - - S S P - - - S M • S M • • S M • - - S P T P A A S • • A A S • A A - - - S M P • - - • A S M • • • T T M • • P • • • A A P • •
Leonurus sibiricus Rubim P • • P • • S S • S A S • - - S M P - - - S P • S P • • S M • - - S M P P A A M • • A A S • A A - - - S P P • - - • A S M • • • T T M • • P • • • - - M • •
Senna obtusifolia Fedegoso P • • P • • M P • M S - • S M M S M - - - M P • M - • • P P • - - M P P P S S M • • M S S • A S - - - M P P • S P • S S P • • • T T P • • P • • • S M P • •
Senna occidentalis Mata-pasto P • • P • • M P • M S M • - - M S M - - - M P • M P • • P P • - - M P P P S S - • • M A S • S S - - - S P P • S M • S S P • • • T T P • • P • • • S S P • •
Desmodium tortuosum Pega-pega P • • P • • S M • M M M • - - S M P - - - S M • S M • • P P • - - S P P P S S P • • S A S • A A - - - S P P • S M • S S P • • • T T P • • P • • • M M P • •
Indigofera hirsuta Anileira - • • S • • A - • M - - • S S A - - - - - - - • - - • • M P • - - P - - T A A P • • M S S • S S - - - - - - • S M • S S P • • • T T P • • M • • • A S P • •
Sida cordifolia Malva-branca S • • S • • A S • S S M • A S S S M - - - S M • S M • • S - • - - S P P P A A A • • A A S • A A - - - M P P • - - • S S P • • • T T M • • M • • • A - P • •
Sida glaziovii Malva-guaxima M • • S • • S P • A S - • - - S M P - - - S M • S M • • S S • - - S P P P A A - • • A A S • A A A - - - - - • - - • S S P • • • T T M • • S • • • A A P • •
Sida santaremnensis Guanxuma M • • M • • S - • A M M • - - S S M - - - S M • S M • • S M • - - S P P P S S - • • - - - • A A - - - M P P • - - • S S P • • • T T M • • S • • • A A P • •
Sida spinosa Guaxima S • • S • • A P • S M - • - - S P P - - - S P • S P • • A S • - - S P P M S S - • • A A - • A A - - - M P P • - - • S S P • • • T T M • • M • • • A S P • •
Sida urens Guanxuma-dourada - • • M • • S M • S S M • - - S M - - - - - - • - - • • S M • - - M - - P A A - • • S - - • A A - - - - - - • - - • S S M • • • T T P • • M • • • A A M • •
Sidastrum micranthum Malva-preta - • • M • • S P • S M M • - - S M P - - - S P • S P • • M M • - - S P T M A A - • • A A S • A A - - - M M - • S - • S M P • • • T T M • • M • • • A - P • •
Heteranthera limosa Agriãozinho - • • S • • S - • - - - • - - M P P - - - - - • - - • • S M • - - S P - P A A - • • - A A • A A - - - S P P • - - • S S M • • • T T P • • M • • • A A M • •
Heteranthera reniformis Hortelã-do-brejo - • • S • • - - • S M M • - - M P P - - - M P • M P • • S M • A M S P P P A S - • • - - - • A A - - - A P P • - - • S S P • • • T T P • • M • • • A S M • •
Spermacoce latifolia Erva-quente S • • M • • S S • S M M • A S S S S - - - S S • S S • • M M • S M M M P M S M - • • A A S • S M - - - S P P • - - • S S P • • • T T M • • S • • • S M P • •
Nicandra physaloides Joá-de-capote - • • S • • A A • M S M • - - S A M - - - S S • A S • • S S • M - M P P M A A S • • - - - • A A - - - M P P • A - • S S M • • • T T M • • S • • • S S P • •
Solanum americanum Maria-pretinha S • • P • • S A • S S M • A A S A M - - - S A • S A • • M P • A S M P P M A A P • • A A A • A A - - - M P P • - - • A A P • • • T T M • • S • • • A A P • •
Ageratum conizoides Mentrasto S • • S • • A P • S A S • A A A S M - - - A S • A S • • A S • - - A P T S A A S • • A A A • A A - - - A A S • S M • A S P • • • T T A • • S • • • A S P • •
Stellaria media Esparguta S • • A • • A A • A A S • - - A A S - - - A A • - - • • S M • - - A A S P S S - • • S A S • A A - - - S - - • S M • A M A • • • T T S • • - • • • A A M • •
Melampodium divaricatum Estrelinha S • • M • • - - • S - - • - - S - - - - - - - • S - • • S - • A S S - - M A A - • • A A A • A A - - - S - - • - - • A A M • • • T T P • • M • • • A A M • •
Melampodium perfoliatum Botão-de-cachorro P • • M • • - - • - S - • - - S A - - - - S - • S - • • M P • - - - - - P S S - • • S A A • A A - - - - - - • - - • A A P • • • T T - • • P • • • A S M • •
Tridax procumbens Erva-de-touro - • • S • • - - • - - - • - - S - - - - - S - • S - • • S M • - - - - - - A S S • • - - - • A A - - - - - - • - - • S M P • • • T T - • • M • • • A A P • •
FONTE: Lorenzi (2000).
NOTA: A - Altamente suscetível (acima de 95% de controle); S - Suscetível (de 85% a 95% de controle); M - Medianamente suscetível (de 50% a 85% de controle); P - Pouco suscetível (menos de 50% de controle); T - Tolerante (0% de controle); • - Não-
recomendável; p - Pré-emergência; i - Pós-emergência inicial (plantas daninhas com 2 a 4 folhas); f - Pós-emergência tardia (plantas daninhas com 4 a 8 folhas).
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


QUADRO 5- Comportamento de plantas daninhas de folhas estreitas em função da aplicação de herbicidas em pré-emergência, pós-emergência inicial e pós-emergência tardia para a cultura do milho

Nome científico Nome comum

Acetochlor
Alachlor
Alachlor + Atrazine
Ametrine
Ammonium-glufosinate
Atrazine
Atrazine + Isoxaflutole
Atrazine + Simazine
Atrazine + S-metolachlor
Bentazon
Carfentrazone
Cyanazine
2,4-D
Dimethenamid
Diuron + Paraquat
Glyphosate
Isoxaflutole
Linuron
Nicosulfuron
Paraquat
Pendimethalin
Sethoxydim
Simazine
S-metolachlor
Sulfosate
Trifluraline

p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f p i f

Brachiaria decumbens Capim-braquiária S • • M • • M M • M S M • A A P M P - - - M P • M P • • T T • - - P P T M T T S • • M A A • A S M A - - - - • S - • A S A • • • A S M • • S • • • A A A • •

Brachiaria mutica Capim-angola M • • P • • - - • M M M • - - P P T - - - P P • P P • • T T • - - P T T P T T - • • P S S • A A - - - - - - • - - • A A - • • • S S S • • P • • • A - M • •

Brachiaria plantaginea Capim-marmelada M • • M • • S M • A S M • A A M M M S A - S M • S M • • T T • - - M M P M T T S • • S A A • A A S - - P T T • A A • A A S • • • A S M • • S • • • A A A • •

Cenchrus echinattus Capim-carrapicho A • • S • • S P • M S M • - - P P T S - - M P • S P • • T T • - - P P T P T T A • • M A A • A A M - - P T T • S M • A A S • • • A A P • • A • • • A S A • •


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Cynodon dactylon Grama-seda P • • T • • T T • P P T • - - P T T - - - P T • P T • • P T • - - P T T P T T P • • P M M • S S - - - P T T • S S • M M P • • • P P P • • P • • • S S P • •

Digitaria horizontalis Capim-colchão A • • A • • A P • S S S • A A M P P A A - S P • A P • • T T • - - M P T M T T S • • A A A • A A S - - P P T • S S • A A A • • • A S S • • A • • • A A A • •

Eleusine indica Capim-pé-de-galinha A • • A • • A S • A S M • A A S P P S - - A P • A P • • T T • - - P P T M T T S • • S A S • A A A - - M P T • S S • A A A • • • A A S • • A • • • A A A • •

Lolium multiflorum Azevém A • • S • • S M • S M P • - - M M P - - - M M • A P • • T T • - - M P T P T T S • • M A A • A A - - - M P T • S P • A S S • • • A S M • • S • • • A A A • •

Echinocloa colonum Capim-arroz A • • S • • S P • M S S • - - M P P - - - S P • A A • • T T • - - P P T P T T A • • P A A • A A S - - P P T • - - • S S M • • • A S M • • A • • • A A M • •

Pennisetum clandestinum Capim-quicuio P • • P • • P - • - - - • M P P T T - - - - - • M - • • T T • - - P T T T T T P • • P S M • A A - - - - - - • - - • - - P • • • S M P • • - • • • A A P • •

Sorghum halepense Capim-argentino

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


S • • P • • M P • M M P • - - P P P - - - P P • S P • • T T • - - P P T M T T S • • M S S • A A - - - P P T • - - • S S S • • • S M P • • S • • • A A S • •

Cyperus rotundus Tiririca P • • P • • P T • P P T • M M P P P - - - P P • - - • • P P • - - P T T P S S P • • P S M • S A - - - P T T • M - • S S P • • • T T P • • - • • • S S P • •

Panicum maximum Capim-colonião S • • S • • S P • M M M • A A P P P S - - M P • S P • • T T • - - P P T P T T S • • M A S • A A - - - P P T • - - • A A S • • • S M M • • S • • • A A S • •

Pennisetum setosum Capim-oferecido - • • S • • S S • M S M • - - S S P - - - M M • S S • • T T • - - P P T P T T M • • S A A • A A - - - T - - • A M • A A S • • • S M P • • S • • • A A S • •

Rhynchelytrum repens Capim-favorito A • • M • • S - • S S - • - - S M - - - - S - • S M • • T T • - - - P T T T T A • • - A A • A A - - - - P T • - - • A A S • • • A A S • • S • • • A A A • •


FONTE: Lorenzi (2000).
NOTA: A - Altamente suscetível (acima de 95% de controle); S - Suscetível (de 85% a 95% de controle); M - Medianamente suscetível (de 50% a 85% de controle); P - Pouco suscetível (menos de 50% de controle); T - Tolerante (0% de controle); • - Não-
recomendável; p - Pré-emergência; i - Pós-emergência inicial (plantas daninhas com 2 a 4 folhas); f - Pós-emergência tardia (plantas daninhas com 4 a 8 folhas).
59
60 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 6 - Alternativas para o controle químico(1) de plantas daninhas na cultura do milho (continua)
(3)
Dose comercial
Formulação -1 -1 Classificação
(L ha ou kg ha )
(2) e
Nome comum Nome comercial Registrante
(4) (5)
concentração Pré- Pós- Toxi- Ambi-
emergência emergência cológica ental
-1
Acetochlor Kadett Monsanto EC 840 g L 3,0 a 4,0 – II II
-1
Acetochlor Kadett CE Monsanto EC 840 g L 3,0 a 4,0 – I I
-1
Acetochlor Surpass Dow AgroSciences EC 768 g L 2,6 a 5,2 – I I
-1
Alachlor Alaclor Nortox Nortox EC 480 g L 5,0 a 7,0 – II II
-1
Alachlor Laço CE Monsanto EC 480 g L 5,0 a 7,0 – I III
-1
Alachlor + Atrazine Agimix Milenia SC (260 + 260) g L 6a8 6a8 II II
-1
Alachlor + Atrazine Alazine 500 SC Agricur SC (250 + 250) g L 7a8 – III II
-1
Alachlor + Atrazine Boxer Monsanto SC (300 + 180) g L 7a9 – I II
-1
Alachlor + Atrazine Alaclor + Atrazine SC Nortox Nortox SC (240 + 250) g L 6a7 – I II
-1
Ametryne Ametrina Agripec Agripec SC 500 g L 3,0 a 4,0 3,0 a 4,0 III II
-1
Ametryne Gesapax 500 Cyba Geigy Syngenta SC 500 g L – 3,0 a 4,0 IV II
-1
Ametryne Gesapax GrDa Syngenta WG 785 g kg – 2 a 2,5 IV II
-1
Amicarbazone Dinamic Bayer WG 700 g kg 0,4 – II II
-1
Amônio-Glufosinato Finale Bayer SL 200 g L – 1,5 III III
-1
Atrazine Atrazine Atanor 50 SC Atanor SC 500 g L 4a6 4a6 III III
-1
Atrazine Atranex 500 SC Agricur SC 500 g L 4a5 – III II
-1
Atrazine Atrazina Nortox 500 SC Nortox SC 500 g L 3 a 6,5 3 a 6,5 III II
-1
Atrazine Atrazinax 500 Bayer SC 500 g L 3 a 6,5 – III (6)
-1
Atrazine Coyote Milenia SC 500 g L 5a6 5a 6 II II
-1
Atrazine Gesaprim 500 Ciba-Geigy Syngenta SC 500 g L 4a5 4a 5 IV II
-1
Atrazine Gesaprim GrDa Syngenta WG 880 g kg 2,5 a 3,5 2,5 a 3,5 III II
-1
Atrazine Herbitrin 500 BR Milenia SC 500 g L 4a8 _ III (6)
-1
Atrazine Proof Syngenta SC 500 g L 4a5 4a5 IV II
-1
Atrazine Siptran 500 SC Sipcam SC 500 g L 4a5 4a5 III III
-1
Atrazine Siptran 800 PM Sipcam PM 800 g L 3a4 3a4 III III
-1
Atrazine Trac 50 SC Atanor SC 500 g L 4a6 4a6 III III
-1
Atrazine + Bentazon Laddok Basf SC (200 + 200) g L – 2,4 a 3,0 I II
-1
Atrazine + Dimethenamid Guardsman Basf SE (320 + 280) g L 4,0 a 5,0 – I II
-1
Atrazine + Isoxaflutole Alliance WG Bayer WG (830 + 34) g kg 1,5 a 2,0 – IV II
-1
Atrazine + Nicosulfuron Sanson AZ Ishihara WG (500 + 20) g kg – 1,75 a 2,0 IV II
-1
Atrazine + Óleo Vegetal Posmil Milenia SC (400 + 300) g L – 5a7 IV II
-1
Atrazine + Óleo Vegetal Primóleo Syngenta SC (400 + 300) g L – 5a6 IV II
-1
Atrazine + Simazine Actiomex 500 SC Action SC (250 + 250) g L 3,5 a 7,0 3,5 a 7,0 IV II
-1
Atrazine + Simazine Atrasimex 500 SC Agricur SC (250 + 250) g L 4,0 a 6,0 – III II
-1
Atrazine + Simazine Controller 500 SC Dow AgroSciences SC (250 + 250) g L 3,5 a 6,0 – IV II
-1
Atrazine + Simazine Extrazin SC Sipcam SC (250 + 250) g L 3,6 a 6,8 – IV (6)
-1
Atrazine + Simazine Herbimix SC Milenia SC (250 + 250) g L 6,0 a 7,0 6,0 a 7,0 IV III
-1
Atrazine + Simazine Primatop SC Syngenta SC (250 + 250) g L 6a8 6a8 III II

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 61

(continuação)
(3)
Dose comercial
Formulação -1 -1 Classificação
(L ha ou kg ha )
(2) e
Nome comum Nome comercial Registrante
(4) (5)
concentração Pré- Pós- Toxi- Ambi-
emergência emergência cológica ental
-1
Atrazine + Simazine Triamex 500 SC Bayer SC (250 + 250) g L 3,5 a 6,0 3,5 a 6,0 III III
-1
Atrazine + S-Metolachloro Primagram Gold Syngenta SC (370 + 230) g L 3,25 a 4,5 3,5 a 4,5 I II
-1
Atrazine + S-Metolachloro Primaiz Gold Syngenta SC (370 + 230) g L 3,25 a 4,5 3,5 a 4,5 I II
-1
Atrazine + S-Metolachloro Primestra Gold Syngenta SC (370 + 290) g L 3,25 a 4,5 3,25 a 4,5 II II
-1
Bentazon Banir Sipcam SL 480 g L – 1,5 a 2,5 (6) (6)
-1
Bentazon Basagran 480 Basf SL 480 g L – 1,5 III III
-1
Bentazon Basagran 600 Basf SL 600 g L – 1,2 a 1,6 III III
-1
Carfentrazone-ethyl Aurora 400 CE FMC EC 400 g L – 25 a 31,2 II II
-1
Cianazine Bladex 500 Basf SC 500 g L 3 a 4,5 – III I
-1
2,4-D 2,4-D 806 Nufarm Nufarm SL 806 g L – 0,5 a 1,5 I III
-1
2,4-D 2,4-D Amina 72 Atanor SL 698 g L – 1,0 a 1,5 I III
-1
2,4-D Aminamar Agro Química Maringá SL 806 g L – 1,5 I III
-1
2,4-D Aminol 806 Milenia SL 806 g L – 0,5 a 1,5 I I
-1
2,4-D Capri Milenia SL 868 g L – 1 a 1,25 I II
-1
2,4-D Deferon Milenia EC 502 g L 0,6 a 0,9 0,6 a 0,9 III II
-1
2,4-D DMA 806 BR Dow AgroSciences SL 806 g L – 1,5 I III
-1
2,4-D Herbi D-480 Milenia SL 480 g L 3,0 a 4,5 3,0 a 4,5 I (6)
-1
2,4-D Navajo Nufarm WG 970 g kg – 0,4 a 1,7 I III
-1
2,4-D Tento 867 CS Dow AgroSciences SL 867 g L – 2 I II
-1
2,4-D U 46 D-Fluid 2,4-D Nufarm SL 806 g L – 1,5 I III
-1
Dimethenamid Zeta 900 Basf EC 900 g L 1,25 – I II
-1
Diuron + Paraquat Gramocil Syngenta SC (100 + 200) g L – 2a3 II II

Foramsulfuron +
-1
Iodossulfuron-methyl Equip Plus Bayer WG (300 + 20) g kg – 120 a 150 III III
-1
Glyphosate Agrisato 480 CS Alkagro SL 480 g L 1,0 a 6,0 1,0 a 6,0 IV II
-1
Glyphosate Glifos Cheminova SL 480 g L – 1,0 a 2,0 II III
-1
Glyphosate Glyphosate 480 Agripec Agripec SL 480 g L – 1 a 6,0 IV III
-1
Glyphosate Glyphosate Alkagro Alkagro SL 480 g L 2,0 a 5,0 2,0 a 5,0 III III
-1
Glyphosate Glyphosate Atanor Atanor SL 480 g L – 1,0 a 3,0 III III
-1
Glyphosate Glyphosate Nortox WG Nortox WG 720 g kg – 0,5 a 2,5 IV III
-1
Glyphosate Glyphosate Nortox Nortox SL 480 g L – 1,0 a 6,0 IV III
-1
Glyphosate Glyphosate Nufarm Nufarm SL 480 g L 1,0 a 5,0 – II III
-1
Glyphosate Gliphogan 480 Agricur SL 480 g L – 1a2 III III
-1
Glyphosate Glister Sinon SL 480 g L – 1,0 a 3,0 III III
-1
Glyphosate Gliz 480 CS Dow AgroSciences SL 480 g L – 1,0 a 6,0 IV III
-1
Glyphosate Gliz BR Dow AgroSciences SL 480 g L – 1,0 a 6,0 IV III
-1
Glyphosate Polaris Du Pont SL 480 g L – 0,5 a 5 IV III

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


62 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

(conclusão)
(3)
Dose comercial
Formulação -1 -1 Classificação
(L ha ou kg ha )
(2) e
Nome comum Nome comercial Registrante
(4) (5)
concentração Pré- Pós- Toxi- Ambi-
emergência emergência cológica ental
-1
Glyphosate Radar Monsanto SL 480 g L – 0,5 a 5 III III
-1
Glyphosate Roundup Original Monsanto SL 480 g L – 0,5 a 6 IV III
-1
Glyphosate Roundup Transorb Monsanto SL 648 g L – 1,0 a 4,5 III III
-1
Glyphosate Roundup WG Monsanto WG 720 g kg – 0,5 a 3,5 IV III
-1
Glyphosate Rustler Monsanto SL 480 g L – 0,5 a 5,0 III III
-1
Glyphosate Trop Milenia SL 480 g L – 1,0 a 6,0 IV III
-1
Glyphosate-sal de potássio Zapp Qi Syngenta SL 620 g L – 0,7 a 4,2 III III
-1
Imazapic + Imazapyr Onduty Basf WG (525 + 175) g kg – 100 III II
-1
Isoxaflutole Alliance SC Bayer SC 20 g L 2,5 a 4,0 – III II
-1
Isoxaflutole Provence 750 WG Bayer WG 750 g kg 80 – III II
-1
Linuron Afalon SC Bayer SC 450 g L 1,6 a 3,3 – III (6)
-1
Linuron Linurex Agricur 500 PM Agricur PM 500 g kg 1,5 a 3 – III (6)
-1
Mesotrione Callisto Syngenta SC 480 g L – 0,3 a 0,4 III III
-1
Nicosulfuron Nisshin Ishihara WG 750 g kg – 70 a 80 IV III
-1
Nicosulfuron Sanson 40 SC Ishihara SC 40 g L – 1,25 a 1,5 IV II
-1
Nicosulfuron Nicosulfuron Nortox S.A. Nortox SC 40 g L – 1,25 a 1,5 III III
-1
Nicosulfuron Nipppon 40 SC Agripec SC 40 g kg – 1,3 a 1,5 III III
-1
Paraquat Gramoxone 200 Syngenta SL 200 g L – 1,5 a 3 II II
-1
Pendimethalin Herbadox 500 CE Basf EC 500 g L 2,0 a 3,5 – II (6)
-1
Sethoxydim Poast Plus Basf DC 120 g L – 1,5 a 2,0 III III
-1
Sethoxydim Poast Basf DC 184 g L – 1,0 a 1,25 II III
-1
Simazine Herbazin 500 BR Milenia SC 500 g L 4a5 – III III
-1
Simazine Sipazina 800 PM Sipcam PM 800 g kg 2a5 – III (6)
-1
S-Metolachloro Dual Gold Syngenta EC 960 g L 1,25 a 1,75 – I II
-1
Sulfosate Touchdown Syngenta SL 480 g L – 1,0 a 6,0 IV III
-1
Terbutilazine Gardoprim Syngenta SC 500 g L 4,0 a 7,0 – IV II
-1
Trifluralin Novolate Milenia EC 600 g L 0,9 a 4,0 – I II
-1
Trifluralin Premerlin 600 CE Milenia EC 600 g L 3,0 a 4,0 – II II
-1
Trifluralin Trifluralina Nortox Gold Nortox EC 450 g L – 1,2 a 5 II II

FONTE: Agrofit (2006).


NOTA: Aplicar herbicida PRÉ com solo em boas condições de umidade. Não aplicar herbicidas PÓS durante períodos de seca, em que as plantas
estejam em déficit hídrico.
(1) Antes de emitir recomendação e/ou receituário agronômico, consultar relação de defensivos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), e cadastrados na Secretária de Agricultura do Estado (onde houver legislação pertinente). (2) A escolha do produto deve ser
feita de acordo com a situação. É importante conhecer as especificações dos produtos escolhidos. (3) A escolha da dose depende da espécie e do
tamanho das plantas daninhas para os herbicidas de pós-emergência e da textura do solo para os de pré-emergência. Para solos arenosos e de bai-
xo teor de matéria orgânica, utilizar doses menores. As doses maiores são utilizadas em solos pesados e com alto teor de matéria orgânica.
(4) Classificação toxicológica: I - Extremamente tóxico; II - Altamente tóxico; III - Medianamente tóxico; IV - Pouco tóxico. (5) Classificação ambi-
ental: I - Altamente perigoso; II - Muito perigoso; III - Perigoso; IV - Pouco perigoso. (6) Em adequação a Lei no 7.802/89.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 63

Alguns especialistas levantam a hi- ou a dessecação das plantas é uma idéia phylla, a herbicidas inibidores da enzima
pótese de que o azevém e a aveia produzem recente, que não tem mais do que aproxi- ALS.
substâncias prejudiciais à cultura do milho, madamente 40 anos, segundo Osborne No entanto, é comum confundir falta
recomendando a semeadura um mês após (1968). de controle com resistência. A maioria dos
a dessecação. A pesquisa em dessecantes ganhou casos de seleção e de resistência pode ser
Em condições de campo, a Avena destaque a partir dos anos 60 e o maior nú- esperada quando se utiliza o mesmo herbi-
strigosa (aveia-preta) tem demonstrado mero de trabalhos concentra-se na década cida ou herbicidas com o mesmo mecanismo
grande potencialidade no controle de plan- de 70. As culturas mais pesquisadas foram de ação, consecutivamente. Erros na dose
tas daninhas sob SPD na palha, com maior algodão, batata, sorgo e a soja. Os traba- e na aplicação são as causas da maioria
versatilidade por apresentar grande produ- lhos desenvolvidos procuram resolver dos casos de falta de controle.
ção de massa seca. O Lolium multiflorum principalmente: produtos e doses a serem Prevenir a disseminação e a seleção de
(azevém) também vem sendo utilizado por usados e épocas de aplicação. espécies resistentes são estratégias funda-
proporcionar boa cobertura do solo e con- A aplicação de manejo também deno- mentais para evitar esse tipo de problema.
trolar eficientemente Digitaria horizontalis minada de dessecação é realizada com A utilização e a rotação de produtos com
(capim-milhã), Brachiaria plantaginea herbicidas pós-emergentes não-seletivos, diferentes mecanismos de ação e a adoção
(capim-marmelada), e, particularmente, a objetivando controlar toda a vegetação do manejo integrado (rotação de culturas,
Sida sp. (guanxuma) (ROMAN; VELLOSO, existente na área antes da semeadura das uso de vários métodos de controle, etc.)
1993). culturas, a qual pode ser constituída de fazem parte do conjunto de indicações para
A atividade dos aleloquímicos no solo plantas daninhas ou culturas semeadas eficiente controle das invasoras.
é normalmente transitória, uma vez que são para produção de massa. Normalmente, É interessante manter o histórico de
sujeitos à absorção pelos colóides do solo a operação de dessecação é concentrada cada área da propriedade para identificar a
e, degradação, inativação e transformação num período curto, sendo importante que evolução da população de determinadas
pelos microrganismos. A caracterização do o produtor disponha de equipamentos su- espécies. Normalmente, não se identificam
efeito alelopático é tarefa de grande com- ficientes. os biótipos resistentes já no primeiro ano
plexidade, devido ao alto número de va- Atualmente, são disponíveis no merca- de sua ocorrência, ou seja, quando se per-
riáveis envolvidas no processo. O controle do vários princípios ativos recomendados cebe a falta de controle de uma espécie que
dessas variáveis no delineamento experi- para essa operação (glifosato, sulfosato, tradicionalmente era controlada por certo
mental, o domínio de técnicas agrícolas e paraquat), os quais podem variar de região herbicida, já se decorreram vários anos
da biologia de plantas daninhas são tare- para região, de fazenda para fazenda e da seleção do biótipo resistente (VIDAL,
fas que exigem a condução de trabalhos mesmo dentro destas. Há, portanto, neces- 1997).
científicos para tentar elucidar a complexi- sidade de bom monitoramento da área para
dade destes efeitos e suas interações com aumentar a eficiência, diminuindo, assim, MANUSEIO DE HERBICIDAS E
o ambiente. desperdício e custos. DESCARTE DE EMBALAGENS
A tecnologia de aplicação atual tem
Devem-se utilizar somente herbicidas
OPERAÇÃO DE MANEJO evidenciado a possibilidade de redução do
devidamente registrados no MAPA e
OU DESSECAÇÃO volume de calda na aplicação de herbicidas
cadastrados na Secretaria de Agricultura
de manejo, permitindo que uma maior área
A dessecação é a secagem das plan- dos Estados que adotam este procedimen-
seja tratada em menor tempo, facilitando a
tas, acelerada quimicamente, resultando na to para uso na cultura do milho e para a
programação da pulverização nos momen-
morte de todas as partes delas. O principal espécie de planta daninha que se deseja
tos mais oportunos do dia.
aspecto fisiológico da dessecação parece controlar. O número do registro consta no
ser a injúria das membranas das células, o rótulo do produto.
RESISTÊNCIA
suficiente para permitir a rápida perda da O equipamento de proteção individual
água. Tem sido constatada a resistência de (EPI) apropriado é necessário em todas as
O grau de injúria varia com o ingre- certas plantas daninhas como Brachiaria etapas de manuseio de agrotóxicos (abas-
diente ativo utilizado, bem como o está- plantaginea e Digitaria ciliaris a herbici- tecimento do pulverizador, aplicação e
dio fisiológico das plantas. O uso de des- das inibidores da ACCase, Bidens pilosa, lavagem de equipamentos e embalagens),
secantes que provoca o desfolhamento Bidens subalternans e Euphorbia hetero- a fim de evitar possíveis intoxicações.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


64 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Não se deve fazer mistura em tanque produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, do Brasil, Brasília, 26 jul. 2002b. Seção 1, p.53.
de dois herbicidas, ou de herbicida (s) com o armazenamento, a comercialização, a propa- Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>.
outro agrotóxico. Tal procedimento é proi- ganda comercial, a utilização, a importação, a Acesso em: 3 jul. 2006.
bido por lei (BRASIL, 2002b). Somente é exportação, o destino final dos resíduos e emba-
BIANCHI, M.A. Manejo integrado de plantas
permitida a utilização de misturas formu- lagens, o registro, a classificação, o controle, a
daninhas no Rio Grande do Sul. Revista Plantio
ladas. inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus com-
Direto, Passo Fundo, n.41, p.53-57, 1997. Edição
Em aplicação de herbicidas em condi- ponentes e afins, e dá outras providências. Diário
Especial.
ções de pós-emergência, deve-se respeitar Oficial [da] República Federativa do Brasil,
o período de carência do produto (entre a Brasília, 8 jan. 2002a. Seção 1, p.1. Disponível DERPSCH, R. Agricultura sustentável. In: SA-
data de aplicação e a colheita do milho). em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: TURNINO, H.S.; LANDERS, J.N. (Ed.). O meio
O rótulo e a bula do produto devem ser 11 maio 2006. ambiente e o plantio direto. Goiânia: APDC,
lidos com atenção e seguidas todas as 1997. cap 2, p.29-48.
_______. Lei no 9.974, de 6 de junho de 2000.
orientações e cuidados com o descarte das Altera a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que GASSEN, D.N.; GASSEN, F.R. Plantio direto o
embalagens, que devem ser devolvidas dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a caminho do futuro. 2.ed. Passo Fundo: Aldeia
vazias (após a tríplice lavagem das que produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, Sul, 1996. 207p.
contêm produtos líquidos), no prazo de um o armazenamento, a comercialização, a propa-
ano após a compra do produto, ao posto LORENZI, H. (Coord.). Manual de identifi-
ganda comercial, a utilização, a importação, a
de recebimento indicado na nota fiscal de cação e controle de plantas daninhas: plan-
exportação, o destino final dos resíduos e emba-
compra, conforme legislação do MAPA tio direto e convencional. 5.ed. Nova Odessa:
lagens, o registro, a classificação, o controle, a
Plantarum, 2000. 339p.
(BRASIL, 2000, 2002a). inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus com-
ponentes e afins, e dá outras providências. Diário OSBORNE, J.D. Defoliation and defoliants.
REFERÊNCIAS Oficial [da] República Federativa do Brasil, Nature, n.219, p.514-567, 1968.
Brasília, 7 jun. 2000. Seção 1, p.1. Disponível
ADEGAS, F.S. Manejo integrado de plantas da-
em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: PUTNAM, A.R. Weed allelopathy. In: DUKE,
ninhas. Revista Plantio Direto, Passo Fundo,
11 maio 2006. S.O. (Ed.). Weed physiology: reproduction and
n.40, p.17-21, 1997.
ecophysiology. Boca Raton: CRC Press, 1985.
_______. Ministério da Agricultura. Portaria no p.131-155.
AGROFIT. Brasília, 2006. Disponível em: <http://
443, de 11 de novembro de 1986. Aprova e torna
extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_
válida a relação das espécies “nocivas” e seus ROMAN, E.S.; VELLOSO, J.A.R. Controle cul-
agrofit_cons>. Acesso em: 19 jun. 2006.
respectivos limites máximos específicos, anexos tural, coberturas mortas e alelopatia em sistemas
ALMEIDA, F.S. A alelopatia e as plantas. Lon- a esta Portaria, estipulados em número de semen- conservacionistas. In: EMBRAPA. Centro Nacio-
drina: IAPAR, 1988. 60p. tes por amostra analisada e dimensionada, de nal de Pesquisa de Trigo. Plantio direto no
acordo com as regras para análise de sementes em Brasil. Passo Fundo, 1993. p.77-84.
___________. Influência da cobertura morta do
vigor, para produção, transporte e comércio de
plantio direto na biologia do solo. In: ATUALIZA- SCALÉA, M. Manejo e controle de plantas dani-
sementes nacionais e importadas de orelícolas,
ÇÃO em plantio direto. Campinas: Fundação nhas em plantio direto no Cerrado. Revista
forrageiras e de grandes culturas. Diário Oficial
Cargill, 1985a. p.103-144. Plantio Direto, Passo Fundo, n.45, p.49-51,
[da] República Federativa do Brasil, Brasília,
1998. Especial Cerrado.
___________. Influência da cobertura morta do 11 nov. 1986. Disponível em: <http://www.agri
plantio direto na biologia do solo. In: SIMPÓSIO cultura.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2006. SILVA, J.B. da. Plantio direto: redução dos riscos
SOBRE POTENCIAL AGRÍCOLA DOS CERRA- ambientais com herbicidas. In: SATURNINO, H.S.;
_______. Ministério da Agricultura, Pecuária e
DOS, 1., 1985, Goiânia. Trabalhos apresen- LANDERS, J.N. (Ed.). O meio ambiente e o
Abastecimento. Instrução Normativa, nº 46, de
tados... Campinas: Fundação Cargill/Goiânia: plantio direto. Goiânia: APDC, 1997. cap. 6,
24 de julho de 2002. Determina às empresas
EMGOPA, 1985b. p.109-149. p.83-88.
titulares de registros de agrotóxicos a retirada das
BRASIL. Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de indicações de misturas em tanque dos rótulos e VIDAL, R.A. Herbicidas: mecanismo de ação e
o
2002. Regulamenta a Lei n 7.802, de 11/07/1989, bulas de seus agrotóxicos, no prazo de 30 (trinta) resistência de plantas. Porto Alegre: Palotti, 1997.
que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a dias. Diário Oficial [da] República Federativa 165p.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.54-64, jul./ago. 2006


SELETIVIDADE DE ACCENT®
SOBRE 10 DIFERENTES HÍBRIDOS DE MILHO
Daniel Donato Hernandez
Representante Pesquisa e Desenvolvimento – DuPont do Brasil S/A
(daniel.d.hernandez@bra.dupont.com)

Com o objetivo de determinar o grau de seletividade do herbicida Accent® (nicosulfuron NicoDry


75%WG) sobre os diferentes híbridos de milho, um ensaio foi conduzido na Estação Experimental da Pionner
Sementes em Itumbiara/GO, entre os meses de janeiro e abril de 2006. Foram escolhidos 10 diferentes híbridos
de milho, todos utilizados em larga escala na região centro-sul do país, ao que se segue: 30P70, 30F80,
30F90, 30K75, 30K64, 30K73, 30F35, DKB390, DAS2B710 E MAXIMUS. Foram aplicadas duas doses do
herbicida Accent® (21 e 42 g.p.c/ha) em mistura com atrazina a 4,0 L.p.c/ha e Assist (0,3% v/v), com uma
vazão igual a 200 L/ha, obtida por meio de um aplicador pressurizado com barra de 4 bicos e pontas tipo
XR110.02. Além disso, foi realizado um tratamento testemunha com as plantas de milho mantidas no limpo
através de capina manual. Por ocasião da aplicação, as plantas de milho encontravam-se no estádio V4.
Durante o período experimental, a precipitação foi de 451 mm.
Avaliações visuais foram realizadas aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação do herbicida com o
objetivo de se verificar possíveis sintomas de fitointoxicação às plantas de milho. Independentemente da época
de avaliação, do híbrido observado e dose do herbicida Accent® utilizado, não foram observados quaisquer
sintomas nas plantas de milho que pudessem ser interpretados como fitointoxicação e, conseqüentemente,
injúrias às plantas.
Por ocasião da colheita, as produtividades dos 10 híbridos de milho foram analisadas, não sendo
observado, no entanto, reduções das mesmas devido à aplicação do herbicida Accent®.
Portanto, conclui-se que, para os 10 híbridos de milho estudados, a aplicação de Accent® nas doses
de 21 e 42 g.p.c./ha no estádio V4 da cultura, não provocou sintomas perceptíveis de fitointoxicação na cultura,
não reduzindo, assim, suas produtividades. Dessa maneira, para essa modalidade de aplicação e doses, o
herbicida Accent® mostrou-se altamente seletivo à cultura do milho, apresentrando-se como uma excelente
opção para o manejo e controle de plantas daninhas para esta cultura.

DuPont Accent®: Produto em fase de registro.


66 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Manejo de pragas da cultura de milho


em Sistema Plantio Direto
Ivan Cruz 1
Américo Iorio Ciociola Jr. 2

Resumo - Com a globalização, pode-se esperar profunda mudança no que se refere ao


controle de pragas na produção agrícola. Para que haja competitividade é necessário o
aumento da produção sem onerar seus custos. O controle de pragas, muitos anos
dependente quase que exclusivamente do uso de produtos químicos, que não encon-
travam resistência por parte da sociedade, deve, nesse milênio, sofrer modificações
significativas. Atualmente, a preocupação com os efeitos adversos dos produtos quími-
cos é muito maior. Do ponto de vista da sociedade leiga, a palavra de ordem é qualidade
de vida. No passado, havia grande diversificação em relação ao número de empresas
produtoras de defensivos. Hoje muitas dessas empresas têm investido na área de
biotecnologia e já dispõem de plantas transgênicas. Apesar das inúmeras controvérsias
sobre o uso dessa nova tecnologia, pode-se esperar grande avanço e até mesmo
modificações nos atuais modelos de MIP empregados, além do aumento nas pesquisas
com controle alternativo, especialmente com inimigos naturais, que deverão ser parte
importante nos sistemas de manejo de pragas no futuro.
Palavras-chave: Zea mays. Controle alternativo. Controle biológico. MIP.

INTRODUÇÃO O controle de pragas, muitos anos de- de seus produtos. O lema era a diversidade
Com a chegada da globalização, pode- pendente quase que exclusivamente do de ação sobre as espécies de insetos, mes-
se esperar profunda mudança no que se uso de produtos químicos, que não encon- mo sendo estas pragas, insetos benéficos
refere ao controle de pragas na produção travam resistência por parte da sociedade, ou agentes de controle biológico. Com o
agrícola brasileira. Para que haja competi- deve, nesse milênio, sofrer modificações passar do tempo, os exemplos negativos
tividade é necessário o aumento dessa pro- significativas. No passado, os inseticidas, com o uso inadequado dos produtos quí-
dução, sem onerar seus custos. Em outras considerados eficazes, de ação rápida e de micos fizeram com que a sociedade come-
palavras, será necessário o aumento da custo relativamente baixo, foram utiliza- çasse a despertar, especialmente depois
produtividade, porém, o componente “qua- dos sem parcimônia, mesmo nos casos em do livro “Primavera Silenciosa” de Carson
lidade”, não só do produto colhido, mas que determinada espécie de inseto nem (1962). Daí em diante, muitos outros exem-
também do ecossistema de produção, será mesmo demandava medidas de controle plos começaram a ser documentados, inclu-
fundamental nas competições internacio- (DENT, 1991). Com os atributos dos inse- sive aqueles que afetariam diretamente a
nais, para a aquisição de bens alimentícios, ticidas químicos e sem medidas alterna- eficiência dos produtos químicos. Vários
tanto para alimentação direta quanto indi- tivas competitivas, por muitos anos, as casos de resistência aos inseticidas foram
reta, especialmente no caso de milho, muito empresas produtoras de tais insumos não relatados (BROWN, 1971; BROWN; PAL,
utilizado nas rações de suínos e aves. preocuparam-se com a melhoria qualitativa 1971; GEORGHIOU; LAGUNES-TEJEDA,

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: ivancruz@cnpms.embrapa.br
2
Engo Agro, D.Sc.,Pesq. EPAMIG-CTTP/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: ciociolajr@epamig
uberaba.com.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 67

1991). Segundo Metcalf (1980) e Metcalf nologia, pode-se esperar grande avanço e mente através dos sintomas de danos ou
e Luckmann (1994), a resistência genética até mesmo modificações nos atuais mo- de falhas existentes na plantação. Essas
adquirida pelos insetos em relação aos delos de MIP empregados. É de se espe- falhas podem ser decorrentes da falta de
inseticidas continua sendo a barreira mais rar aumento nas pesquisas com controle plantio da semente, ou ocasionadas pelas
importante para o sucesso no uso desses alternativo, especialmente com inimigos pragas citadas. Algumas delas, quando não
químicos em programas de manejo. Atual- naturais, que deverão ser parte importan- matam a planta pela destruição da semente,
mente, a preocupação com os efeitos adver- te nos sistemas de manejo de pragas no ocasionam seu enfraquecimento, o que
sos dos produtos químicos é muito maior. futuro. causa sua morte posteriormente, por não
Do ponto de vista da sociedade leiga, a pa- ter condições de competir com as demais
lavra de ordem é qualidade de vida. Ou seja, DESCRIÇÃO, BIOLOGIA, plantas da cultura ou com as plantas dani-
a sociedade demanda cada vez mais pro- IMPORTÂNCIA E nhas. Cavando-se o solo próximo às falhas,
dutos e ambientes de melhor qualidade, CONTROLE DAS PRAGAS no início da germinação, deve-se encontrar
significando desta feita produtos sem resí- a semente e/ou a praga.
No Brasil e em muitos outros países a
duos tóxicos. Do ponto de vista científico, implementação de programas de manejo de
a preocupação também é a mesma, porém, Percevejo-castanho
pragas ainda não é realidade em função da
devem-se acrescentar, ainda, os efeitos co- carência de informações básicas sobre a Scaptocoris castanea Perty, 1830
laterais dos inseticidas sobre os agentes dinâmica populacional das pragas. A pre- (Hemiptera, Heteroptera,
de controle biológico, que provavelmente tensão é colocar à disposição do leitor Cydnidae)
exerciam papel fundamental no controle de informações que auxiliem no reconheci- Conhecido popularmente como percevejo-
determinadas pragas antes de ser elimina- mento das diferentes pragas que atacam a castanho, Scaptocoris castanea, nos últi-
das ou reduzidas drasticamente pelo mau cultura de milho e na tomada de decisão mos três anos vem causando prejuízos
uso dos produtos químicos. Portanto, sem sobre o seu controle. em diversas espécies vegetais de impor-
dúvida, nos próximos anos o sistema de Existem, no Brasil, revisões bibliográ- tância econômica no Brasil, com desta-
controle de pragas no mundo deve mudar. ficas que permitem, de maneira razoável, a que para as culturas de soja, milho, algo-
Na verdade, em alguns países já se pratica síntese da bioecologia das principais pragas dão e pastagens (SILOTO; RAGA, 1998).
há algum tempo, o que se chama manejo que afetam a cultura de milho, bem como a Os estudos sobre a espécie são escassos
integrado de pragas (MIP), que reúne e usa, maneira de efetuar seu manejo. Entre as mais no Brasil. O gênero Scaptocoris está dis-
de maneira inteligente, os métodos de con- importantes, podem ser incluídos os traba- tribuído desde os Estados Unidos até a
trole que propiciam maior sustentabilidade lhos de Santos et al. (1982), Cruz (1992ab, Argentina (FROESCHNER; CHAPMAN,
ao sistema agrícola (PIMENTEL, 1981abc; 1993, 1994, 1995ab, 1996, 1997ab, 1999, 1963; BREWER, 1972). No Brasil, sua
DENT, 1991; METCALF; LUCKMAN, 2004), Cruz e Santos (1984), Cruz e Turpin distribuição é generalizada, embora com
1994). (1982, 1983), Cruz et al. (1983, 1987, 1990, registros de ataque mais na Região Centro-
Mesmo naqueles países onde já se tem 1993, 1995c, 1996, 1997b, 1999b, 2001), Cruz; Sul do Brasil (ANDRADE; PUZZI, 1953;
implantado o manejo integrado de pragas Waquil (2001), Waquil et al. (1992), Gassen PUZZ; ANDRADE, 1957; BRISOLLA et al.,
têm-se discutido as tendências mundiais (1996) e Silva (1998). 1985; RAMIRO et al., 1989; COSTA; FORTI,
de compra ou fusão das grandes empresas 1993; BECKER, 1996; BERTI FILHO et al.,
produtoras de insumos, bem como o avan- Pragas da semente 1996; SOUZA FILHO et al., 1997; CORRÊA-
ço na área de biotecnologia, com a produ- e/ou raízes FERREIRA et al., 1999). Segundo Raga et
ção de milho geneticamente modificado, Existem diversos insetos apontados al. (2000), nas culturas de soja, milho e algo-
pela introdução de toxinas da bactéria na literatura como pragas subterrâneas dão do estado de São Paulo, S. castanea
Bacillus thuringiensis (CAROZZI; KOZIEL, que se alimentam de diferentes hospedei- tem sido observado com maior freqüência
1997). Esses fatos, com certeza, levarão à ros, incluindo o milho, como os cupins e intensidade, em ataques às plantas no
mudança nas estratégias de manejo atual- (diversas espécies distribuídas nos gê- sentido da linha de plantio, nem sempre
mente utilizadas. No passado, havia grande neros, bicho-bolo ou coró (Phyllophaga, formando reboleiras típicas.
diversificação em relação ao número de Cyclocephala, Diloboderus), larva-arame O percevejo-castanho na fase adulta
empresas produtoras de defensivos. Hoje (Conoderus e outros gêneros), percevejo- tem de 7 a 9 mm de comprimento e de 4 a
muitas dessas empresas têm investido na castanho, (Scaptocoris castanea), larva- 5 mm de largura. As pernas anteriores são
área de biotecnologia e já dispõem de plan- alfinete (Diabrotica speciosa) e, provavel- destinadas à escavação e as posteriores
tas transgênicas. Apesar das inúmeras mente, outras vaquinhas. De modo geral, a possuem fortes cerdas e espinhos. As for-
controvérsias sobre o uso dessa nova tec- identificação dessas pragas se faz inicial- mas jovens são de coloração marrom-clara.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
68 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Durante a noite, podem voar para outras


localidades. Os ovos são postos no solo.
O percevejo-castanho é facilmente reco-
nhecível, no momento da abertura dos
sulcos, pelo cheiro desagradável que exala.
Nas épocas mais secas, aprofunda-se no
solo à procura de regiões mais úmidas,
retornando à superfície durante as chuvas.
Segundo Raga et al. (2000), as plantas ata-

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


cadas têm suas raízes sugadas por ninfas e
adultos e tornam-se raquíticas. O desen-
volvimento reduzido e posterior morte da
planta podem ser confundidos com defi-
ciência nutricional, que é facilmente dife-
renciada, quando as plantas são arranca-
das do solo, pois exala-se um odor típico, Figura 2 - Larva de Diabrotica speciosa
oriundo das glândulas odoríferas do inse-
to.
do completamente desenvolvida, atinge o gramínea, especialmente em sistemas de
Larva-alfinete tamanho máximo de 10 a 12 mm, com cerca plantio direto (GASSEN, 1996; MARQUES
Diabrotica speciosa Germar, 1824 de 1 mm de diâmetro. É de coloração geral et al., 1999). No entanto, ainda não se tem
(Coleoptera, Chrysomelidae) esbranquiçada, sobressaindo a cabeça e resultados de campo, quantificando o impac-
o ápice do abdome, que são de coloração to de diferentes populações do inseto sobre
Os adultos de D. speciosa são muito
preta. Alimenta-se da região da raiz e pode os rendimentos da cultura de milho. Segun-
conhecidos, especialmente pela coloração
atingir o ponto de crescimento, matando do Marques et al. (1999), existe relação posi-
verde-amarela (Fig. 1), recebendo às vezes
as plantas recém-germinadas. Com o desen- tiva e significativa entre a densidade de
a denominação nacional ou patriota. São
volvimento da planta e também das larvas, larvas de D. speciosa no sistema radicular
pequenos besouros com coloração geral
é comum o ataque ser verificado nas raízes de milho e o dano na raiz e redução do peso
verde, sobressaindo nas asas três manchas
adventícias, prejudicando o desenvolvi- seco da parte aérea da planta. Para estes
amarelas. São insetos pequenos e ágeis,
mento normal da planta. Em ataques inten- autores, a densidade de larvas capaz de
com cerca de 6 mm de comprimento. Tanto
sos é comum o desenvolvimento de raízes causar danos ao milho, no estádio em que
o macho quanto a fêmea alimentam-se das
nos nós da planta. A planta desenvolve- ocorreu a infestação (sete dias após a emer-
folhas de diferentes culturas e, no milho,
se de maneira irregular, apresentando-se gência), está aquém de 40 larvas por plan-
seus danos às vezes são confundidos com
recurvada. O ciclo biológico total do inseto ta. Porém, como os resultados não foram
os ocasionados por larvas de lepidópte-
dura cerca de 53 dias, sendo de 13, 23 e 17 obtidos em campo e sim em vasos conten-
ros, especialmente da lagarta-do-cartucho,
dias os períodos de incubação, larval e do vermiculita como substrato, o que pode
quando raspam as folhas. Os ovos são co-
pupal, respectivamente. não traduzir a realidade, especialmente em
locados no solo próximo à planta hospe-
O inseto é uma praga polífaga que afeta relação à sobrevivência das larvas, estes
deira. A larva (Fig. 2) é cilíndrica e, quan-
diversas culturas no Brasil. Os adultos autores sugerem que novas pesquisas
atacam as folhas de hortaliças de modo devam ser realizadas no campo, para se
geral, feijoeiro, soja, girassol, algodoeiro, conhecer o real nível de dano econômico
etc. (ZUCCHI et al., 1993). As larvas ata- dessa praga na cultura do milho.
cam a parte subterrânea, incluindo semen-
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

tes em germinação, nódulos de legumino- Bicho-bolo ou coró


sas, raízes de milho e tubérculo de batata, Phyllophaga spp.; Cyclocephala spp.
provocando muitas vezes danos severos e Diloboderus abderus Sturm, 1826
(LOURENÇÃO et al., 1982). Em milho, nos (Coleoptera, Scarabaeidae)
últimos anos, com o incremento da área de As larvas dos insetos conhecidos como
safrinha, as larvas vêm causando conside- bicho-bolo ou corós (Phyllophaga spp.;
Figura 1 - Adulto de Diabrotica speciosa ráveis danos ao sistema radicular dessa Cyclocephala spp. e Diloboderus abderus)
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 69

são semelhantes quanto ao aspecto ge- dos adultos por oviposição em certos ti- desses insetos variam de seis a 19 mm de
ral, com o corpo de coloração branco- pos de solo. Mesmo pequenas variações comprimento, possuem coloração marrom
amarelada e em forma de C; a cabeça é de na textura do solo aparentemente podem ou mesmo mais escura e têm forma alon-
cor marrom; possuem três pares de pernas. afetar a preferência pela oviposição. À se- gada, afunilando nas extremidades. De-
A ponta do abdome é brilhante e transpa- melhança de outros insetos de solo, as positam seus ovos no solo, entre as raízes
rente e o conteúdo interno do corpo pode espécies de bicho-bolo, no Brasil, são pou- de gramíneas. As larvas alimentam-se das
ser visualizado através da pele. co conhecidas e estudadas em relação à raízes de milho e de outras gramíneas.
Dentro de um mesmo estádio de desen- sua taxonomia e bioecologia, o que dificulta As recém-nascidas são de coloração esbran-
volvimento, as larvas de cada espécie o estabelecimento de seus níveis de dano quiçada. Quando completamente desen-
podem ser separadas pelo tamanho e pela na cultura de milho. Alvarado (1980, 1983, volvidas adquirem coloração marrom-
disposição dos pêlos e espinhos na região 1989) relatou que na Argentina o efeito de amarelada e o corpo torna-se bastante
ventral do último segmento abdominal larvas de D. abderus é evidente na fase esclerotinizado. O período larval varia de
(SALVADORI, 1997). Nas espécies do gê- inicial de milho, quando as densidades são dois a cinco anos. Findo esse período, a
nero Phyllophaga existem duas fileiras superiores a quatro larvas/m2. No Brasil, larva forma uma célula no solo e transforma-
paralelas de espinhos no centro daquele Silva e Costa (2002) concluíram que o nível se numa pupa tenra e de coloração branca,
segmento; em Cyclocephala existe distri- de controle para milho seria de apenas 0,5 permanecendo nesse estádio por curto pe-
buição uniforme das setas no último seg- larvas/m2. ríodo, findo os quais emergem os adultos.
mento abdominal da larva; a cabeça das Li et al. (1976) descrevem o ciclo biológico
larvas de D. abderus é de coloração marrom- Larva-arame de C. vespertinus, uma praga importante
avermelhada, mais escura do que a cabeça Agriotes; Conoderus e Melanotus na cultura do milho na Região Nordeste
das outras duas espécies, que é marrom- (Coleoptera, Elateridae) dos Estados Unidos da América. Os ovos
amarelada. Os adultos são mais facilmente Segundo Thomas (1940), os insetos dessa espécie (brancos e esféricos) são de-
separados, especialmente no tamanho e na denominados larva-arame são considera- positados no solo, em massas, sendo que
cor. D. abderus são os de maior tamanho dos pragas de grande importância para cada massa pode conter entre 20 e 40 ovos,
(cerca de 25 mm), apresentando coloração muitas plantas cultivadas em vários países medindo cada um cerca de 0,5 mm. Durante
pardo-escura, e os machos apresentam do mundo. Lima (1953) mencionou a impor- seu ciclo a fêmea pode depositar entre 200
“chifre”. Os besouros de Phyllophaga sp. tância das espécies do gênero Agriotes e e 1.400 ovos. A larva de coloração marrom
são de tamanho intermediário (20 mm) em Conoderus, ao danificar raízes e a base do é alongada, com corpo rígido, medindo
relação às outras duas espécies e apre- caule de plantas, principalmente gramíneas. entre 18 e 22 mm, quando completamente
sentam coloração marrom-avermelhada- Algumas espécies do gênero Melanotus desenvolvida. Apresenta o abdome com
brilhante. Os besouros de Cyclocephala também são citadas como pragas de milho muitos segmentos e com reentrância no
são os de menor tamanho (cerca de 15 mm) (QUATE; THOMPSON, 1967; RILEY et al., final do último segmento. O estádio larval
e apresentam coloração marrom-amarelada. 1974; RILEY; KEASTER, 1979). Keaster et dura entre três e sete anos. A transformação
Esses insetos podem ter ciclo de vida al. (1975) salientaram as dificuldades exis- no estádio de pupa ocorre no próprio solo.
de dois a quatro anos, embora seja mais tentes para estabelecer os níveis de danos A pupa é de coloração que varia de branca
comum o ciclo de três anos. Normalmen- e construir tabelas de vida para as espécies a marrom-brilhante e mede entre 12 e 15 cm
te, colocam os ovos em gramíneas nativas. de larva-arame, devido à falta de informa- de comprimento.
As larvas recém-nascidas iniciam sua ali- ções tanto sobre preferência por hospe-
mentação próximo à superfície do solo. deiros, como sobre os efeitos de fatores Controle das pragas subterrâneas
As plantas de milho podem ser severamen- ambientais sobre o crescimento e desen- Em função da escassez de informações
te danificadas ou enfezadas pela alimenta- volvimento de suas populações. sobre a bioecologia dessas pragas, as reco-
ção das larvas nas raízes. Em infestações A biologia dessa praga varia de acordo mendações de controle muitas vezes são
pesadas, a planta pode morrer. Em infes- com a espécie. Não existem no Brasil estu- de caráter geral. Uma delas baseia-se na
tações mais leves, pode ocorrer o tomba- dos básicos sobre tais espécies. Segundo rotação de culturas que, de maneira geral,
mento das plantas, em função do enfra- Keaster et al. (1975), uma das razões para influencia o grau de incidência de uma ou
quecimento do sistema radicular. Os danos isso está relacionada com a complexidade outra espécie de pragas subterrâneas na
geralmente são localizados em rebolei- de espécies, dificuldade de coletar grande cultura do milho, de acordo com o tipo de
ras. Pequenas áreas podem ser totalmente número de larvas e ciclo biológico muito cultivo utilizado na rotação, com a seqüên-
destruídas, enquanto outras permanecem longo. As informações encontradas no cia de rotação e com o tempo que se tenha
intactas. Essa variação reflete a preferência Brasil são na maioria genéricas. Os adultos cultivado a mesma espécie vegetal antes
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
70 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

de mudar para outra (LIMA, 1992). Segun- Segundo Viana e Marochi (2002), o cia dos produtos carbossulfan e lindane
do Gray e Steffey (1993), o potencial de controle químico tem sido o método mais utilizados via tratamento de sementes na
dano de uma praga subterrânea é baixo na utilizado em programas de manejo das redução do número de plantas mortas por
cultura do milho, quando este é semeado várias espécies de Diabrotica. No entanto, espécies de larva-arame na cultura do trigo.
após a soja, não necessitando, portanto, para D. speciosa, a espécie que ataca o milho
de medidas químicas de controle. Porém, no Brasil, os trabalhos são escassos, impos- Pragas do colmo
quando o milho é semeado após milho ou sibilitando recomendação eficiente de inse- Lagarta-rosca
após pastagem, problemas maiores podem ticidas ou método de aplicação. Os estudos Agrotis ipsilon Hufnagel, 1766
ocorrer, especialmente em relação ao bicho- relatados em outros países indicam a per- (Lepidoptera, Noctuidae)
bolo, larva-arame e larva-alfinete. sistência (seis a dez semanas para conferir O nome científico dessa espécie refle-
Segundo Lima (1992) a eliminação de proteção à planta durante o período mais te a marca verificada na asa anterior da
hospedeiros intermediários, principalmente suscetível) dos inseticidas como fator impor- mariposa que lembra a letra grega ípsilon.
na ante-safra, é outra medida que contribui tante no controle de Diabrotica (LEVINE; A espécie é uma praga de ocorrência mun-
para diminuir a população de pragas sub- OLOUMI-SADEGHI, 1991). No entanto, dial que ataca folhas, colmos e raízes de
terrâneas, aliviando a pressão de infesta- resultados inconsistentes têm sido relata- muitas espécies vegetais cultivadas incluin-
ções que ocorreriam no próximo cultivo. dos em vários trabalhos visando o controle do uva, algodão, fumo, soja, batata, toma-
O atraso na semeadura de milho tem da praga (APPLE et al., 1977; SUTTER et te, feijão, repolho, couve-flor, morango e
sido relacionado com a diminuição da po- al., 1989, 1990; DAVIS; COLLEMAN, 1997). milho. As posturas são feitas na parte aérea
pulação de D. abderus (ALVARADO, 1980; Para o controle de S. castanea em milho da planta. Após o primeiro instar, as lagartas
MOREY; ALZUGARAY, 1982; SILVA et al., safrinha, Raga et al. (1997) trabalhando com dirigem-se para o solo, onde permanecem
1996). inseticidas via tratamento de semente ou protegidas durante o dia, só saindo ao anoi-
Medidas químicas de controle ainda aplicados sobre o solo, destacaram ape- tecer para se alimentarem. A lagarta desse
têm-se constituído na prática mais exten- nas o inseticida clorpirifós como eficiente, inseto alimenta-se da haste da planta,
samente empregada para o controle de quando pulverizado no sulco de plantio. provocando o seccionamento desta, que
pragas subterrâneas (LIMA, 1992). Isso se Em outro trabalho na mesma cultura, em ava- pode ser total, quando as plantas estão com
deve, sem dúvida, à facilidade de aplicação. liação realizada aos 55 dias após a semea- a altura de até 20 cm, pois ainda são muito
De modo geral, o controle baseia-se em apli- dura, encontraram maior eficiência na redu- tenras e finas, e parcial, após esse período.
cações preventivas, uma vez que o controle ção populacional do inseto, empregando Apesar desse sintoma de dano ser caracte-
curativo, mesmo que possível, nem sempre os inseticidas (g i.a. ha-1) terbufós (2.000 rístico da lagarta-rosca, ele não é exclusivo,
leva a resultados satisfatórios, conside- e 3.000 g i.a. ha-1), fipronil (80 g i.a. ha-1) pois pode ser provocado também pela
rando que ao notar os sintomas, parte do e endosulfan (525 e 1.050 g i.a. ha-1), esti- lagarta-do-cartucho. Portanto, deve-se
prejuízo já está feita (LIMA, 1992). Uma mando níveis médios de mortalidade de identificar corretamente a espécie que está
dessas medidas é com base no tratamento 97,9%; 95,8%; 76,3%e 64,6%, respectiva- ocasionando o dano. A separação das
da semente com inseticidas sistêmicos. mente (RAGA et al., 1998). Siloto et al. (2000) espécies, através dos adultos, é muito fácil,
Esse método dá proteção à semente e/ou observaram que aos 38 dias após a aplicação, em função das grandes diferenças mor-
plântula contra a maioria das pragas sub- os inseticidas terbufós, clorpirifós e endo- fológicas. No entanto, às vezes, não é tão
terrâneas, seja pelo efeito direto do produto sulfan foram os inseticidas mais eficientes fácil a separação das lagartas. Uma das
em contato com a praga, o que causa sua na redução da população do percevejo- características que pode ser utilizada para
morte, seja pelo efeito de repelência, não castanho em milho safrinha. a separação mais rápida é através das
deixando que a praga ocasione danos na Para controlar o bicho-bolo (D. abderus), suturas da cabeça, onde se tem desenhado
fase mais crítica da cultura. Dessa maneira, Silva (1996), estudando diferentes inseti- na parte frontal de S. frugiperda um Y
tem-se maior número de plantas por unida- cidas de tratamento de sementes, concluiu, invertido, enquanto que na lagarta de A.
de de área do que se teria, se não fosse efe- com base no número de larvas vivas, po- ipsilon o que observa é um V invertido.
tuado nenhum tipo de controle. Segundo pulação de plantas e produtividade de As lagartas de A. ipsilon, quando com-
Radford e Allsopp (1987), o tratamento de grãos, que os melhores produtos foram pletamente desenvolvidas, medem cerca
sementes requer menos quantidade de thiodicarb (700 g 100 kg-1 de sementes), de 40 mm, são robustas, cilíndricas, lisas e
ingrediente ativo do que as aplicações no carbossulfan (500 g 100kg-1), e furathiocarb apresentam coloração variável, predo-
sulco de plantio, seja através de pulveri- (640 g 100 kg-1). minando a cor cinza-escura. As lagartas
zações ou de produtos granulados. Como Morrill (1984), em estudos que visaram quando tocadas enrolam-se tomando o
conseqüência, o custo do controle é menor. o controle de larva-arame, relatou a eficiên- aspecto de uma rosca. A duração do ciclo
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 71

larval varia entre 20 e 25 dias, à tempera- generalizada e por atacar todos os estádios
tura de 25oC ± 3oC (HARRIS et al., 1962; de desenvolvimento da planta. A redução
SANTOS; NAKANO, 1982). A lagarta nos rendimentos de grãos, devido ao
transforma-se em pupa no próprio solo. ataque dessa praga, varia de 17,7% a 55,6%
A pupa apresenta o tegumento bem escle- de acordo com o estádio de desenvolvi-
rotizado, marrom, com segmentação bem mento e dos genótipos de milho (CRUZ;
evidente. A duração do estádio pupal va- TURPIN, 1982, 1983; WILLIAMS; DAVIS,
ria entre 11 e 15 dias, à temperatura de 1990; WILLINK et al., 1991; CRUZ et al.,
25oC ± 3oC (HARRIS et al., 1962; EL- 1996, 1999a). Aspectos sobre a sua bio-
SAYED; NAGUIB, 1964; SANTOS; ecologia foram revisados por Cruz (1995a).
NAKANO, 1982). A mariposa é geralmen- A mariposa coloca seus ovos agrupados
te de coloração marrom-escura, com áreas formando massa, que pode conter mais de
claras no primeiro par de asas, coloração 300 ovos. O período de incubação varia de
clara com os bordos escuros, no segundo acordo com a temperatura, mas nos meses
par, medindo cerca de 40 mm de enver- de verão, é em torno de três dias. As larvas
gadura. Santos e Nakano (1982) relataram

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


recém-eclodidas iniciam sua alimentação
que o número médio de ovos obtidos por pelas partes mais tenras das folhas, deixan-
fêmea de A. ipsilon foi 1.263, em experimento do sintoma de dano característico, pois se
de laboratório. alimentam apenas da parte verde, sem, no
Controle das pragas de colmo entanto ocasionar furos nas folhas, ou seja,
a) tratamento de sementes: o tratamento raspam a folha, deixando apenas a epiderme
de sementes é eficaz para o controle membranosa. As plantas que estão sendo
Figura 3 - Danos causados pela lagarta-
da lagarta-rosca, porém somente atacadas são, portanto, facilmente reco-
do-cartucho, Spodoptera
para os ataques em plântulas; nhecidas pelas inúmeras pontuações trans-
frugiperda
b) controle biológico: existem labora- parentes. Quando a lagarta passa para o
tórios de produção de moscas e ves- segundo instar ela começa a furar as folhas,
indo em direção ao cartucho da planta, local térias. Nesse caso, a perda em qualidade
pas, que são liberadas na área, e em
onde permanece até próximo ao estádio de do grão e conseqüentemente da própria
função da capacidade inerente de
pupa. Durante o período larval, em torno silagem é reduzida.
busca de cada espécie liberada, pro-
de 18 a 20 dias, a lagarta consome grande A lagarta completamente desenvolvida
curam e controlam eficientemente a
quantidade de área foliar (Fig. 3), geralmen- sai da planta e dirige-se ao solo penetrando
praga. Com o aumento da incidência
te alimentando-se das folhas mais tenras. por alguns centímetros, onde constrói uma
na cultura do milho, tal tecnologia
A lagarta pode também penetrar no colmo, célula, transformando-se em seguida em
biológica pode ser facilmente adap-
através do cartucho, fazendo galerias des- pré-pupa, com duração de cerca de um dia,
tável. Atualmente, pela facilidade de
cendentes, até danificar o ponto de cresci- findo o qual se transforma em pupa. O pe-
produção e baixo custo, o parasitói-
ríodo pupal dura cerca de onze dias.
de de ovos do gênero Trichogramma mento, ocasionando o sintoma denomi-
tem sido indicado para o controle bio- nado coração morto. Outro dano provoca-
do pela lagarta-do-cartucho é através do Controle de pragas que atacam a
lógico de várias pragas de importân-
seccionamento na base do colmo que pode fase vegetativa do milho
cia econômica em sistemas florestais
e agrícolas (PARRA et al., 2002). ser parcial ou total, neste caso, com a morte A lagarta-do-cartucho é sem dúvida a
da planta. O ponto de inserção da espiga praga de maior preocupação em termos de
Pragas da parte aérea pode ser também atacado, com perda total manejo, em virtude de sua ocorrência em
(fase vegetativa) da produção da planta atacada, devido à praticamente todas as fases de desenvolvi-
não-formação de grãos ou pela queda da mento da planta. Em função disso, dife-
Mastigadores
espiga com grãos ainda em formação. São rentes estratégias de manejo precisam ser
Lagarta-do-cartucho também comuns os danos diretamente no adotadas.
Spodoptera frugiperda Smith, 1797 grão em formação dentro da espiga, oca- Ataque no início do desenvolvimento
(Lepidoptera, Noctuidae) sionando danos diretos pela alimentação da cultura de milho acarretará redução do
A lagarta-do-cartucho é a principal pra- ou indiretos por facilitar a penetração de número de plantas na área, pois a plântula
ga da cultura do milho por sua ocorrência microrganismos, tais como fungos e bac- fatalmente será morta pela praga. Em fun-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
72 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

ção da pequena área foliar da planta, muitas QUADRO 1 - Comparação entre aplicação via trator ou pulverizador costal de inseticidas em mi-
vezes o controle via pulverização conven- lho em diferentes estádios de desenvolvimento, para o controle de Spodoptera
cional não é eficiente, pois o produto não frugiperda
fica retido na folha, diminuindo seu período Mortalidade larval
residual. A medida de controle, com base (%)
no uso de inseticidas sistêmicos via trata-
Dose Estádio de desenvolvimento da planta
mento de sementes, tem sido uma alterna- Produto Aplicação
(g i.a. ha-1) no dia da pulverização
tiva viável.
(número de folhas abertas)
Em plantas mais desenvolvidas, ou seja,
a partir do estádio de oito folhas, muitas 4-6 6-8 8-10 10-12
vezes a eficiência esperada do controle da Clorpirifós 288,0 Costal 89 94 99 79
praga não é alcançada, não pela ineficiên-
Trator 84 84 65 25
cia do produto utilizado, mas sim, devido
ao método de aplicação. Por exemplo, em Metomil 112,5 Costal 88 83 96 76
estádios mais avançados de desenvolvi- Trator 85 95 69 50
mento da planta a eficiência da aplicação
via trator pode cair, significativamente, de- Fenpropatrin 30,0 Costal 89 80 94 53
vido ao tombamento das plantas pela pró- Trator 82 86 70 20
pria barra de pulverização, fazendo com que NOTA: i.a. - Ingrediente ativo.
o produto não atinja o centro do cartucho
da planta onde se encontra a praga (Qua- QUADRO 2 - Valor estimado da incidência da lagarta-do-cartucho na cultura de milho (%) acima
dro 1). do qual se devem utilizar medidas de controle
Um indicativo para determinar a época (1)
Nível de controle (NC)
de controlar a lagarta-do-cartucho – Nível
(% de plantas atacadas)
de Controle (NC) ou porcentagem de plan- Custo
tas atacadas, acima dos quais se recomen- do controle Rendimentos estimados
da o controle – na cultura de milho desti- (R$) (t ha-1)
nado à produção de grãos, é mostrado no
3 4 5 6 7 8
Quadro 2. O valor calculado de porcenta-
gem de plantas atacadas, quando compara- 7 11,7 8,7 7,0 5,8 5,0 4,4

do com o valor real da infestação observada 8 13,3 10,0 8,0 6,7 5,7 5,0
no campo, serve de base para tomar deci- 9 15,0 11,2 9,0 7,5 6,4 5,6
sões sobre o controle da praga. Um valor
10 16,7 12,5 10,0 8,3 7,1 6,2
médio encontrado no campo, semelhante
ou superior ao valor determinado pelo Qua- 11 18,3 13,7 11,0 9,2 7,9 6,9

dro 2, leva à decisão de controlar a praga. (1) NC calculado pela fórmula: 100 x Custo do Controle em R$ ha-1 (R$ 0,20 x kg ha-1 x preço do
O valor no Quadro 2 é estabelecido em milho, em R$ kg-1, em que o valor fixo de R$ 0,20 é o dano médio que a praga ocasiona ao milho
função da fórmula, que leva em conside- (20%); assumindo um valor de R$ 0,10 (kg de milho).
ração o custo do controle, o dano médio
que a praga ocasiona (média de 20%) e o
valor a ser protegido (valor monetário do lho por hectare e um custo de controle de da praga ocorre em plantas, cujo estádio
milho). Assume-se que quanto maior for o R$ 10,00, o ponto de decisão sobre a neces- de desenvolvimento impede a entrada de
valor a ser protegido, menor será a tole- sidade de controle da lagarta-do-cartucho equipamentos como o trator, pode-se fazer
rância à praga. O NC calculado é então com- seria para infestação igual ou superior a uso da pulverização via água de irrigação
parado ao valor real da porcentagem de 8,3%. ou através de avião. Considerando que a
plantas atacadas, obtido no campo, após Devido às características de ataque da ocorrência inicial da praga pode ser nas
amostragem realizada em cinco pontos/ha lagarta-militar na cultura de milho, geral- plantas daninhas dentro ou fora da cultura
(100 plantas consecutivas por ponto). mente em surtos, a aplicação de inseticidas do milho, muitas vezes, o controle desses
Exemplificando, para um rendimento químicos deve ser imediata e dirigida para focos resulta em maior eficiência e em
esperado de 6 toneladas de grãos de mi- todas as partes da planta. Quando o ataque menor custo, por ser aplicação localizada.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 73

Sugadores tes pelas plantas de milho, com conseqüen- atacada na fase de formação de grãos, as
te redução na produção, sendo esse efei- espigas deformam-se e não há o desen-
Cigarrinha-do-milho
to influenciado pela suscetibilidade da volvimento dos grãos ou estes tornam-se
Dalbulus maidis Delong & Wolcott,
cultivar, época de infecção das plantas e ressecados (CLOWER, 1957; PARISI;
1923 (Homoptera, Cicadellidae).
temperatura ambiente. O espiroplasma e DAGOBERTO, 1979). Quando o grão é
Dalbulus maidis (Fig. 4) é a cigarrinha o fitoplasma são transmitidos de forma atacado no estádio leitoso ou pastoso,
mais importante da cultura do milho na persistente pela cigarrinha. Esse inseto- apresenta-se completamente destruído
América Latina (NAULT, 1990). Essa espé- vetor, assim como os patógenos que trans- ou manchado na maturidade (PARISI;
cie no Brasil ainda é de importância relati- mitem, multiplica-se apenas em milho (Zea DAGOBERTO, 1979). Outras conseqüên-
vamente pequena pelos danos diretos mays L.) e em espécies relacionadas, que são cias advindas do ataque na espiga, ou nos
ocasionados através da sucção de seiva. raras no Brasil (FERNANDES; OLIVEIRA, grãos em formação, incluem a perda na
No entanto, por ser transmissora eficaz de 2000). Assim, a presença contínua de plan- qualidade (diminuição nos teores de óleo,
doenças, tem recebido muita atenção dos tas de milho no campo oriundas da ger- proteína etc.), na estética do produto in
pesquisadores, pois a alta incidência das minação de sementes de milho remanes- natura, industrializado e redução na germi-
doenças transmitidas pode limitar a produ- centes da cultura anterior ou por plantios nação da semente (DAGOBERTO et al.,
ção do milho. A fêmea mede cerca de 5 mm sucessivos dessa cultura, pode permitir a 1980).
e seus ovos são alongados, incrustados sobrevivência dos patógenos e da cigarrinha.
na nervura principal, geralmente no interior Controle de insetos sugadores que
do cartucho. Tanto as ninfas como os adul- Percevejo-barriga-verde atacam a fase vegetativa do milho
tos são sugadores de seiva. No processo Dichelops spp. e
Para a cigarrinha D. maidis, consideran-
de alimentação em planta doente e, poste- Percevejo-verde do que os danos são mais significativos
riormente, em uma sadia ocorre a trans- Nezara viridula Linnaeu, 1758 em relação às doenças transmitidas e que
missão da doença, que pode ocasionar (Hemiptera, Pentatomidae) basta uma picada do inseto para que ocor-
perdas elevadas nos rendimentos. ra a transmissão, a eficiência do controle
Em anos recentes e em algumas regiões
Entre as principais doenças transmiti- do vetor não tem sido suficiente para evi-
do País, tem-se verificado a ocorrência dos
das pela cigarrinha, estão os enfezamen-
percevejos Dichelops e Nezara especial- tar os danos ocasionados pelas doenças.
tos, que são doenças sistêmicas associadas Deve-se, portanto, lançar mão de outras
mente em plantas jovens de milho. Os gê-
à presença, no floema das plantas, de mi- táticas de manejo. Evitar o plantio de culti-
neros são facilmente separados, pois o
crorganismos procariontes, pertencentes à
Nezara é totalmente verde e de maior di- vares muito suscetíveis, selecionando-as
classe Mollicutes (espiroplasma e fito-
mensão, enquanto que o Dichelops apre- de acordo com as características indicadas
plasma) (FERNANDES; OLIVEIRA, 2000). em Cruz et al. (2001).
senta o dorso marrom.
Os enfezamentos reduzem significativa- Tais insetos geralmente migram da cul- O tratamento de sementes tem sido a
mente a quantidade absorvida de nutrien- tura da soja para se alimentarem de plântu- alternativa viável para o controle dos per-
las de milho, podendo causar redução do cevejos. Martins e Weber (1998) estudaram
número de plantas por unidade de área. a eficiência e praticabilidade agronômica
Quando o ataque ocorre em plantas mais do imidacloprid (Gaucho 700 PM, nas do-
desenvolvidas e estas não morrem, é co- ses de 140 e 210 g i.a. ha-1 por 100 kg de
mum o aparecimento de perfilhos impro- sementes), comparando-o com a pulveriza-
dutivos. Além disso, a planta atacada apre- ção convencional com methamidophós
senta crescimento retardado. Geralmente, (Tamaron BR, a 240 g ha-1, aplicado de
tem-se verificado apenas a presença de um a 14 dias após a semeadura). A eficiên-
adultos que atacam a planta. No entanto, cia do tratamento de sementes no controle
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

quando a fêmea coloca seus ovos na plân- do inseto foi superior a 87%, em avaliações
tula, as formas jovens também se alimen- realizadas aos 20 e 30 dias após a emergên-
tam e danificam a planta. Segundo Clower cia da planta.
(1957), plantas de milho entre 25 e 30 cm, O tratamento da semente propicia con-
quando atacadas por N. viridula, mostram trole relativamente bom, porém com residual
graus distintos de danos, que variam des- muito pequeno. Dependendo da população
Figura 4 - Adulto da cigarrinha-do-milho, de leve murchamento das folhas centrais da praga (dois percevejos por metro de sul-
Dalbulus maidis até a morte da planta. Quando a planta é co) haverá necessidade de utilização de
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
74 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

medidas complementares, através da pul- importância nos próximos anos, especial- a) aplicações de alimentos suplementa-
verização. Nesse caso, o inseticida deve mente quando composta com outros mé- res para atrair, fixar, reter e sustentar
ser direcionado especialmente para atin- todos de controle, em função das melhorias os inimigos naturais na área, quando a
gir o colmo da planta, onde normalmente nas técnicas de produção dos inimigos presa natural está em baixa população
encontra-se o inseto. naturais, do conhecimento da época mais ou quando substâncias nutritivas, tais
apropriada de liberação; a busca de novas como pólen, são deficientes para a
FUTURO DO MIP EM MILHO espécies ou raças mais efetivas também manutenção dos inimigos naturais;
deve contribuir de maneira substancial pa- b) fornecimento ou manejo de abrigos
O objetivo principal do Programa do
ra o aumento da eficiência desse método utilizados pelos inimigos naturais, tais
MIP continuará sendo a manipulação de
de controle (CRUZ, 2002). como margens, faixas ou matas nati-
maneira inteligente do ambiente de uma
Em diversos países existem progra- vas próximas da lavoura, que também
praga-chave, para reduzir permanente-
mas de controle biológico através de servem de abrigo para pássaros inse-
mente sua posição de equilíbrio, de tal mo-
Trichogramma (Fig. 5), um inimigo natural tívoros;
do que ela caia para um patamar abaixo do
muito importante na manutenção de bai-
nível de dano econômico. Essa redução c) manejo de plantas daninhas que ser-
xas populações de lagartas de H. zea nas
duradoura deverá ser conseguida usando vem como refúgios para as popula-
espigas de milho. Além da eficiência des-
táticas (de maneira isolada ou em combi- ções dos inimigos naturais;
te parasitóide no campo, sua criação em
nação), tais como a liberação intencional e
escala pode ser facilmente conseguida em d) uso seletivo de inseticidas para evitar
o estabelecimento de inimigos naturais nas
laboratório (CRUZ et al., 1999a), abrin- a eliminação dos inimigos naturais.
áreas onde eles não se encontram (atra-
do espaço para uso no controle
vés do controle biológico clássico), uso
de outras pragas. Vários outros
de inseticidas microbianos, utilização de
inimigos naturais têm sido con-
variedades de milho resistentes às pra-
siderados promissores para uso
gas (seja através da resistência genética
tradicional, seja através do uso de plan- em programas de manejo de pra-
tas geneticamente modificadas – plantas gas, especialmente em relação às
transgênicas) e manejo ambiental (CRUZ, espécies de Lepidoptera (CRUZ,
2002). 1994, 1995b; CRUZ et al., 1995ab;
Em programas de manejo, a meta será 1997a; CRUZ e OLIVEIRA, 1997;

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


sempre evitar que pragas-chave conhecidas REIS et al., 1988; REZENDE et al.,
atinjam populações que ultrapassem seus 1994, 1995; FIGUEIREDO et al.,
níveis de danos. As medidas corretivas de- 2002). Apesar de todos esses avan-
verão ser usadas somente quando as pra- ços, ainda será necessária a de-
gas (sejam elas, pragas-chave, secundárias terminação, com maior precisão,
ou migratórias, recentemente surgidas na do real valor das liberações ma-
área) estiverem fora do controle e as perdas ciças desses inimigos naturais
Figura 5 - Trichogramma sp., parasitando ovos da
que justifiquem as ações de controle sejam no campo. Controle cultural para
lagarta-do-cartucho
aparentes. Alguma tática de manejo ainda conservar e aumentar os inimigos
muito incipiente na cultura do milho no naturais existentes na área deve
Brasil com certeza receberá atenção especial ser melhorado no futuro.
nesse novo milênio: controle biológico com Novas tecnologias estão sen-
predadores e parasitóides; controle micro- do desenvolvidas para viabilizar
biano, uso seletivo de produtos químicos a criação massal da tesourinha
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

e plantas geneticamente modificadas. Doru luteipes (Dermaptera: Forfi-


culidae) (Fig. 6), em laboratório, e
Controle biológico com posterior liberação no campo.
predadores e parasitóides Técnicas especiais para aumen-
Essa tática de controle contra as pra- tar a eficiência de inimigos natu-
gas do milho, embora não tenha sido ainda rais devem ser consideradas em
amplamente utilizada, deve aumentar de qualquer estratégia de manejo: Figura 6 - Adultos da tesourinha, Doru luteipes

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 75

O uso de suplementos alimentares para esse autor, a escolha de fungos como can- espalhando-se por todo o corpo do inseto
aumentar a eficiência dos inimigos naturais didatos a agentes de controle biológico cai (tecido adiposo, epidérmico, matriz traqueal
tem sido empregado principalmente para dentro de sete espécies dentro dos Deute- e mesmo glândulas salivares, tubo de
alguns insetos predadores, como pulve- romicetos (fungo imperfeito): B. bassiana, Malphighi e células sangüíneas) e provo-
rizações com substâncias açucaradas em B. brongniartti, Hirsutella, Verticillim cando sua morte, geralmente de seis a oito
plantas próximas ou na própria cultura. lecanii, M. anisopliae N. rileyi e Aschersonia dias após a ingestão. Uma lagarta infectada
aleyrodis. Algumas dessas espécies são pelo vírus de poliedrose nuclear ingere ape-
Controle biológico com conhecidas há mais de 100 anos (por exem- nas 7% do alimento normalmente ingerido
entomopatógenos plo, B. bassiana e M. anisopliae). Somente por lagarta sadia (VALICENTE; CRUZ,
Entre os agentes causais de doenças para B. bassiana existem mais de 700 traba- 1991).
infecciosas em pragas, os fungos ocupam lhos publicados, desde 1970 (JARONSKI, Entre as bactérias, o Bacillus thurin-
lugar de destaque, sendo os primeiros agen- 1997). giensis (Bt) é um dos agentes do controle
tes de infecção de natureza microbiana iden- Os agentes de controle biológico à de pragas mais promissores. Quando a
tificados em insetos (ALVES; MORAES, base de vírus são, na maioria, do grupo praga alimenta-se do hospedeiro, contendo
1979). Entre os fungos entomopatogêni- Baculovírus, devido à especificidade, à os esporos de Bt, seu aparelho digestivo
cos mais conhecidos e estudados estão os alta virulência ao hospedeiro e à maior fica paralisado e ocorre diminuição na inges-
gêneros Entomophthora, Cordyceps, segurança proporcionada a vertebrados tão de alimentos, embora a lagarta ainda
Aschersonia, Metarrhyzium, Beauveria e (TANADA; REINER, 1962; IGNOFFO et al., permaneça viva por vários dias.
Nomuraea. Os fungos caracteristicamente 1965; ALLEN et al., 1966; WHITLOCK, Como bioinseticida, o Bt vem sendo
penetram no hospedeiro através do tegu- 1977; BURGHES et al., 1980; MOSCARDI, usado há décadas (FEITELSON et al., 1992)
mento, ao contrário de bactérias e vírus, os 1986). Para a lagarta-do-cartucho do milho, e está registrado, sem limitação de uso, para
quais só entram via canal alimentar. Recen- têm-se estudado dois tipos de Baculovírus, controle de várias espécies de Lepidoptera.
temente foi demonstrado que certos fun- ou seja, o vírus de granulose e o vírus de A limitação para sua maior participação no
gos patogênicos tais como B. bassiana, N. poliedrose nuclear. No entanto, esse último mercado deve-se ao alto custo de produ-
rileyi e P. fumosoroseus alteram a função tem sido apontado como de maior potencial ção e à instabilidade dos resultados obti-
dos hemócitos durante seu desenvolvi- de uso contra lagartas de Spodoptera spp. dos no campo (VAECK et al., 1987). Mes-
mento in vivo (HUNG; BOUCIAS, 1992; (YOUNG; HAMM, 1966; GARCIA, 1979; mo com a eficiência Bt efetivo no controle
LOPES-LASTRA; BOUCIAS, 1994), GARDNER; FUXA, 1980; HAMM; HA- de várias pragas do milho, conforme seu
reduzindo o número de hemócitos do hos- RE 1982; FUXA, 1982; GARDNER et al., registro de uso, a eficiência das estirpes
pedeiro, inibindo dessa maneira a forma- 1984; MOSCARDI; KASTELIC, 1985; hoje comercializadas sobre a lagarta-do-
ção de um sistema efetivo de encapsula- VALICENTE et al., 1989; VALICENTE; cartucho é baixa (WAQUIL et al., 1982).
ção multicelular contra o corpo estranho. CRUZ, 1991; JONES et al., 1994; HAMM; Toxinas de Bt têm sido as precursoras das
A eficiência dos fungos depende de vários CARPENTER, 1997). plantas transgênicas de milho e de outras
fatores abióticos. Um desses fatores é a O vírus de poliedrose nuclear de culturas para o controle de diferentes
umidade relativa do ambiente, que pode Spodoptera frugiperda (VPNSF) é espe- pragas de importância econômica.
controlar o desenvolvimento do processo cífico, isto é, só tem ação sobre a lagarta-
infectivo dos fungos, tais como Beauveria, do-cartucho. A larva é a fase mais susce- Uso de inseticidas seletivos
Metarhizium, Nomuraea e Paecilomyces. tível à sua infecção. Em condições naturais, Apesar do avanço nos métodos alter-
Segundo Ignoffo et al. (1976) e Gaugler e a praga é infectada mais comumente por nativos de controle dentro dos programas
Boush (1978, 1979), os inseticidas micro- via oral ao ingerir o alimento (folhas de de MIP, o uso de produtos químicos con-
bianos são inativados pela exposição aos milho) contaminado; no entanto é possível vencionais ainda será necessário contra
raios solares. A fotoinativação tem sido também a infecção através dos ovos, dos muitas pragas para as quais alternativas
considerada como o fator ambiental mais orifícios de respiração do corpo (espirá- ainda não estão disponíveis, ou seja, ainda
importante especialmente no que diz res- culos), ou mesmo através de insetos pa- não foram desenvolvidas ou não estão
peito à luz ultravioleta de maior interesse rasitóides contendo vírus. Uma vez inge- implementadas. É provável que o controle
biológico, por ser a faixa onde maiores da- rido, os corpos de inclusão poliédrica, químico ainda persista por longo período
nos são verificados (EDGINGTON et al., encontrando condições alcalinas existen- como um dos mais potentes métodos de
2000). tes no mesêntero são dissolvidos liberan- controle de pragas. No entanto, seu uso
Produtos comerciais à base de fungos do os vírions. O vírus começa a se multipli- contínuo não será mais permitido. Além do
já existem (JARONSKI, 1997). Segundo car nos núcleos das células dos tecidos, aumento da conscientização sobre os pro-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006
76 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

blemas ambientais e o perigo para a saúde, _______. Plagas: insectos del suelo. In: DAMI- _______; PAL, R. Insecticide resistance in
seu uso contínuo irá sempre gerar outras LANO, A.L.; BRUGNONI, L. Colección princi- arthropods. Geneva: Whord Health Organization,
conseqüências, sendo do ponto de vista pales cultivos de la Argentina: el cultivo del 1971. 401p.
do MIP, entre as mais importantes, o maíz. Buenos Aires: INTA, 1980. p.88-94.
BURGHES, H.D.; CROZIER, G.; HEBER, J. A
aumento significativo no nível de resistên-
ALVES, S.B.; MORAES, S.A. de. Influência da luz review of safety tests on Baculoviruses. Ento-
cia da praga.
sobre o crescimento e a esporulação de Beauveria mophaga, Paris, v.25, n.4, p.329-340, 1980.
bassiana (Bals.) Vuill. Ecossistema, Espírito
Uso de armadilhas contendo CAROZZI, N.; KOZIEL, M. Advances in insect
Santo do Pinhal, v.4, n.1, p.43-62, set. 1979.
feromônio sexual control: the role of transgenic plants. London:
A disponibilidade comercial do fero- ANDRADE, A.C.; PUZZI, D. Experiências com Taylor & Francis, 1997. 301p.
mônio de Spodoptera frugiperda tem inseticidas orgânicos para controlar o “percevejo
CARSON, R. Silent spring. Boston: Houghton,
favorecido a tomada de decisão sobre a castanho” (Scaptocoris castaneus) em cana de
açúcar. Biológico, São Paulo, v.19, n.10, p.187- 1962. 368p.
necessidade de controle dessa praga. Tem
também propiciado o avanço principal- 189, out. 1953. CLOWER, D. F. Damage to corn by southern
mente na utilização do controle biológico APPLE, J.W.; CHIANG, H.C.; ENGLISH, L. M.; green stink bug. Journal of Economic Ento-
através de parasitóides de ovos, como é o FRENCH, L.K.; KEASTER, A.J.; KRAUSE, G.F.; mology, Washington, v.51, n.4, p.471-473, Aug.
caso de Trichogramma spp. e Telenomus MAYO, Z.B.; MUNSON, J.D.; MUSICK, G.J.; 1957.
remus. Os trabalhos desenvolvidos pela OWENS, J.C.; RASMUSEN, R.E.; SECHRIEST, CORRÊA-FERREIRA, B.S.; MOSCARDI, F.;
Embrapa Milho e Sorgo indicam a utiliza- J.J.; TOLLEFSON, J.J.; WEDBERG, J.L. Impact SOSA-GOMEZ, D.R. Ocorrência do percevejo
ção de uma armadilha do tipo Ferocon 1C of northern and western corn rootworm
castanho Scaptocoris castanea Perty em soja,
por hectare. Essa armadilha, contendo o larvae on field corn. Madison: University of
em Cornélio Procópio, PR. In: WORKSHOP
feromônio sexual de S. frugiperda deve Wisconsin, 1977. 10p. (University of Wisconsin.
SOBRE PERCEVEJOS CASTANHO DA RAIZ,
ser colocada no centro da área, logo após North Central Regional Research Publication,
1999, Londrina. Ata e resumos... Londrina:
a emergência da plântula. As vespinhas 239).
Embrapa Soja, 1999. p.56-58. (Embrapa Soja.
Trichogramma ou Telenomus serão libe-
BECKER, M. Uma nova espécie de percevejo- Documentos, 127).
radas na densidade de 100 mil adultas por
castanho (Heteroptera: Cydnidae: Scaptocorinae)
hectare, quando forem capturadas em COSTA, C.; FORTI, L.C. Ocorrência de Scaptocoris
praga de pastagens do Centro-Oeste do Brasil.
média três mariposas por armadilha. castanea, Perty 1830 em pastagens cultivadas
Anais da Sociedade Entomológica do Brasil,
Caso a opção seja por inseticida quí- no Brasil. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
Londrina, v.25, n.1, p.95-102, 1996.
mico, a escolha deve ser por produto sele- Brasília, v.28, n.8, p.977-979, ago. 1993.
tivo, aplicado 10 dias após a detecção das BERTI FILHO, E.; MILANI, D.; CERIGNONI,
CRUZ, I. A lagarta-do-cartucho na cultura do mi-
três mariposas por armadilha por hectare, J.A. Ocorrência de Scaptocoris castanea Perty,
lho. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1995a.
seguindo as condições apontadas no Qua- 1830 (Hemiptera: Heteroptera: Cydnidae) em
45p. (EMBRAPA-CNPMS. Circular Técnica,
dro 2. Eucalyptus sp. (Myrtaceae). Revista de Agri-
21).
cultura, Piracicaba, v.71, n.1, p.126, 1996.
REFERÊNCIAS _______. Controle biológico em manejo de pra-
BREWER, M. Scaptocoris castaneus Perty,
gas. In: PARRA, J. R.P.; BOTELHO, P.S.M.;
ALLEN, G.E.; GREGORY, B.G.; BRAZZELL, J.R. chinche dañina a raíces de alfafa (Hemiptera-
Integration of the Heliothis nuclear polyhedrosis Cydnidae). Idia, Buenos Aires, v.294, p.27-28, CORRÊA-FERREIRA, B.S.; BENTO, J.M.S.

virus into a biological control program on cotton. 1972. (Ed.). Controle biológico no Brasil: parasi-
Journal of Economic Entomology, College tóides e predadores. São Paulo: Manole, 2002.
BRISOLLA, A.D.; FURTADO, E.L.; CARDIM, cap. 32, p.543-570.
Park, v.59, n.6, 1333-1336, 1966.
M.C.F.; KAWAMOTO, O.S. Ocorrência do perce-
ALVARADO, L. Amostragem de insetos de solo. vejo castanho - Scaptocoris castaneus Perty, 1830: _______. Efeito do tratamento de sementes de
In: REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE INSETOS em bananal na região litorânea do estado de São milho com inseticidas sobre o rendimento de
DE SOLO, 2., 1989, Londrina. Ata... Londrina: Paulo. Biológico, São Paulo, v.51, n.5, p.135- grãos. Anais da Sociedade Entomológica do
EMBRAPA-CNPSo, 1989. p.34-37. 137, maio 1985. Brasil, v.25, p.181-189, 1996.

_______. Daños de insectos de suelo en se- BROWN, A.W.A. Pest resistance to pesticides. _______. Manejo de pragas na cultura do milho.
millas de plantas cultivadas. Pergamino: In: WHITE-STEVENS, R. (Ed.). Pesticides in In: FANCELLI, A.L.; DOURADO NETO, D. (Ed.).
INTA-EERA, 1983. 7p. (INTA. Informe Técnico, the environment, New York: Marcel Dekker, Tecnologia da produção de milho. Piracicaba:
180). 1971. v.1, part 2, p.457-552. ESALQ, 1997a. p.18-39.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 77

CRUZ, I. Manejo de pragas da cultura de milho. (Boddie). Anais da Sociedade Entomológica inseticidas granulados aplicados mecanicamente
In: GALVÃO, J.C.C.; MIRANDO, G.V. (Ed.). Tec- do Brasil, Londrina, v.24, n.2, p.273-278, 1995a. nas culturas de milho e sorgo. Pesquisa Agro-
nologias de produção do milho. Viçosa, MG: pecuária Brasileira, Brasília, v.18, n.6, p.575-
_______; CORRÊA, L.A.; PEREIRA FILHO, I.
UFV, 2004. cap.9, p.311-366. 581, jun. 1983.
A.; GAMA, E.E.G. e; PEREIRA, F.T.F. Milho:
_______. Manejo de pragas da cultura de milho. cultivares para 2001. Cultivar, Pelotas, ano 3, _______; TURPIN, F.T. Efeito da Spodoptera
In: SEMINÁRIO SOBRE A CULTURA DO n.33, out. 2001. Caderno técnico. frugiperda em diferentes estádios de crescimento
MILHO SAFRINHA, 5., 1999, Barretos. Anais... da cultura de milho. Pesquisa Agropecuária
_______; FIGUEIREDO, M.L.C.; GONÇALVES,
Barretos: Instituto Agronômico, 1999. p.27-56. Brasileira, Brasília, v.17, n.3, p.355-359, mar.
E.P.; LIMA, D.A.N.; DINIZ, E.E. Efeito da idade
1982.
_______. Manejo integrado da lagarta-do-cartu- de lagartas de Spodoptera frugiperda (Smith)
cho do milho. In: SEMINÁRIO SOBRE A (Lepidoptera: Noctuidae) no desempenho do _______; _______. Yield impact of larval infes-
CULTURA DO MILHO “SAFRINHA”, 4., 1977, parasitóide Campoletis flavicincta (Ashmead) tations of the fall armyworm (Lepidoptera:
Assis, SP. Anais... Campinas: IAC, 1997b. p.189- (Hymenoptera: Ichneumonidae) e consumo foliar Noctuidae) to midworld growth stage of corn.
195. por lagartas parasitadas e não-parasitadas. Anais Journal of Economic Entomology, College
da Sociedade Entomológica do Brasil, Pira- Park, v.76, n.5, p.1052-1054, Oct. 1983.
_______. Manejo integrado de pragas de milho
cicaba, v.26, n.2, p.229-234, ago. 1997a.
com ênfase ao controle biológico. In: SIMPÓSIO _______; VALICENTE, F.H.; SANTOS, J.P. dos;
DE CONTROLE DE PRAGAS DA REGIÃO DO _______; _______; MATOSO, M.J. Controle WAQUIL, J.M.; VIANA, P.A. Manual de iden-
PARANAPANEMA, 1., 1994, Assis, SP. Anais... biológico de Spodoptera frugiperda utilizan- tificação de pragas da cultura de milho. Sete
Assis: Instituto Biológico/CATI, 1994. p.26-40. do o parasitóide de ovos Trichogramma. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 1997b. 67p.
Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1999a. 40p.
_______. Manejo integrado de pragas de milho _______; VIANA, P.A.; WAQUIL, J.M. Manejo
(EMBRAPA-CNPMS. Circular Técnica, 30).
com ênfase para o controle biológico. In: CICLO das pragas iniciais de milho mediante o tra-
D E PA L E S T R A S S O B R E C O N T R O L E _______; LIMA, D.A.N.; FIGUEIREDO, M.L.C.; tamento de sementes com inseticidas sistê-
BIOLÓGICO DE PRAGAS, 4., 1995, Campinas. VALICENTE, F.H. Aspecto biológico do para- micos. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1999b.
Anais... Campinas: Instituto Biológico de São sitóide Campoletis flavicincta (Ashmead) criados 39p. (EMBRAPA-CNPMS. Circular Técnica, 31).
Paulo/Sociedade Entomológica do Brasil, 1995b. em lagartas de Spodoptera frugiperda (Smith).
p.48-92. _______; WAQUIL, J.M. Pragas da cultura do
Anais da Sociedade Entomológica do Brasil,
milho para silagem. In: CRUZ, J.C.; PEREIRA
Londrina, v.24, n.2, p.201- 208, 1995b.
_______. Metodologia e resultados de pesquisa FILHO, I.A.; RODRIGUES, J.A.S.; FERREIRA,
com tratamento de sementes envolvendo pragas _______; MONTEIRO, J. de A.; SANTANA, D.P.; J.J. (Ed.). Produção e utilização de silagem
iniciais da cultura de milho. In: REUNIÃO SOBRE GARCIA, J.C.; BAHIA, F.G.T. de C.; SANS, de milho e sorgo. Sete Lagoas: Embrapa Milho
PRAGAS SUBTERRÂNEAS DOS PAÍSES DO L.M.A.; PEREIRA FILHO, I.A. (Ed.). Reco- e Sorgo, 2001. cap. 6, p.141-207.
CONE SUL, 2., 1992, Sete Lagoas. Anais... Sete mendações técnicas para o cultivo do milho.
Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1992a. p.145-156. _______; _______; SANTOS, J.P.; VIANA, P.
Brasília: EMBRAPA-SPI, 1993. 204p.
A.; SALGADO, L.O. Pragas da cultura do mi-
_______. Prevenção e controle das pragas de _______; OLIVEIRA, A.C. Flutuação populacio- lho em condições de campo: métodos de con-
milho e sorgo. In: CONGRESSO NACIONAL DE nal do predador Doru luteipes Scudder em plantas trole e manuseio de defensivos. Sete Lagoas:
MILHO E SORGO, 19.; REUNIÃO TÉCNICA de milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, EMBRAPA-CNPMS, 1987. 70p. (EMBRAPA-
ANUAL DO SORGO, 21., 1992, Porto Alegre. Brasília, v.32, n.4, p.363-368, abr. 1997. CNPMS. Circular Técnica, 10).
Conferências... Porto Alegre: SAA, 1992b.
p.210-233. _______; _______; VASCONCELOS, C.A. Efeito _______; _______; VIANA, P. A. Manejo de
do nível de saturação de alumínio em solo ácido pragas na cultura do milho. Informe Agro-
_______. Tratamento das sementes com inse-
sobre os danos de Spodoptera frugiperda (J. E. pecuário, Belo Horizonte, v.14, n.164, p.21-
ticidas visando o controle de pragas iniciais. In:
Smith) em milho. Anais da Sociedade Ento- 26, 1990.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Mi-
mológica do Brasil, v.25, p.293-297, 1996.
lho e Sorgo, Tecnologia para produção de _______; _______; _______; VALICENTE, F.H.
sementes de milho. Sete Lagoas: EMBRAPA- _______; SANTOS, J.P. dos. Diferentes bicos do Pragas: diagnóstico e controle. Informações
CNPMS, 1993. p.55-61. (EMBRAPA-CNPMS, tipo leque no controle da lagarta-do-cartucho em Agronômicas, Piracicaba, n.71, set. 1995c.
Circular Técnica, 19). milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Arquivo do Agrônomo, 2, p.9-21. 2.ed.
Brasília, v.19, n.1, p.1-7, jan. 1984.
_______; ALVARENGA, C.D.; FIGUEIREDO, DAGOBERTO, E.; PARISI, R.; NICOLÁS, I.
P.E.F. Biologia de Doru luteipes (Scudder) e sua _______; _______; WAQUIL, J.M.; BAHIA, F. Contribución al conocimiento de los daños
capacidade predatória de ovos de Helicoverpa zea G.T.F.C. Controle da lagarta-do-cartucho com producidos en maíz por distintos niveles de

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006


78 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

poblaciones de “chinche verde” Nezara tores bióticos e abióticos na regulação popu- HARRIS, C.R.; MAZUREK, J.H.; SHITE, G.V.
viridula (L.) (Hemiptera: Pentatomidae). lacional de Spodoptera frugiperda (Abbot & The life history of the black cutworm, Agrotis
Argentina: INTA, 1980. 7p. Smith, 1797) (Lepidoptera, Noctuidae). 1979. ipsilon (Hufnagel), under controlled conditions.
96f. Tese (Mestrado) – Universidade Estadual de Canadian Entomologist, v.94, n.5, p.1183-
DAVIS, P.M.; COLLEMAN, S. Managing corn
Campinas, Campinas. 1187, 1962.
rootworms (Coleoptera: Chrysomelidae) on dairy
farms: the need for a soil insecticide. Journal of GARDNER, W.A.; FUXA, J.R. Pathogens for the HUNG, S.Y.; BOUCIAS, D.G. Influence of
Economic Entomology, College Park, v.90, suppression of the fall armyworm. Florida Beauveria bassiana on the cellular defense res-
p.205-217, 1997. Entomologist, Gainesville, v.63, n.4, p.439-447, ponse of the beet armyworm, Spodoptera exigua.
Dec. 1980. Fall Armyworm Symposium – 1980. Journal of Invertebrate Pathology, v.60, n.2,
DENT, D. Insect pest management. Walling-
p.152-158, Sept. 1992.
ford: CAB International, 1991. 604p. _______; NOBLET, R.; SCHWEHR, R. D. The
potential of microbial agents in managing popu- IGNOFFO, C.M.; CHAPMAN, A.J.; MARTIN,
EDGINGTON, S.; SEGURA, H.; LA ROSA, W.;
lations of the fall armyworm (Lepidoptera, Noc- D.F. The nuclear-polyhedrosis virus of Heliothis
WILLIAMS, T. Photoprotection of Beauveria
tuidae). Florida Entomologist, v.67, n.3, p.325- zea (Boddie) and Heliothis virescens (Fabricius) –
bassiana: testing simple formulations for control
332, Sept. 1984. Fall Armyworm Symposium – III: effectiveness of the virus against field popu-
of the coffee berry borer. International Journal
1984. lations of Heliothis on cotton, corn, and grain
of Pest Management, v.46, n.3, p.169-176,
GASSEN, D. N. Manejo de pragas associadas sorghum. Journal of Invertebrate Pathology,
2000.
à cultura do milho. Passo Fundo: Aldeia Norte, New York, v.7, n.2, p.227-235, June, 1965.
EL-SAYED, N.; NAGUIB, M.A. Contribution to 1996. 127p. _______; MARSTON, D.L.; HOSTETTER, B.P.;
the biology of the greasy cutworm Agrotis ipsilon
GAUGLER, R.; BOUSH, G. M. Effects of  – BELL, J.V. Natural and induced epizootics of
Rott. (Lepidoptera: Noctuidae). Bulletin of the
radiation on the entomogenous nematode, Nomuraea rileyi in soybean caterpillars. Journal
Society of Entomology of Egypt, v.47, p.197-
Neoaplectana carpocapsae. Journal of Inver- of Invertebrate Pathology, v.27, n.2, p.191-
200, 1964.
tebrate Pathology, v.33, n.1, p.121-123, Jan. 198, Mar. 1976.
FEITELSON, J.S.; PAINE, J.; KIM, L. Bacillus 1979.
JARONSKI, S.T. New paradigms in formulating
thuringiensis: insects and beyond. Biotechno-
_______; _______. Effects of ultraviolet radia- mycoinsecticides. In: GOSS, G.R.; HOPKINSON,
logy, New York, v.10, p.271-275, 1992.
tion and sunlight on the entomogenous nematode, M.J.; COLLINS, H.M. (Ed.). Pesticide formu-
FERNANDES, F.T.; OLIVEIRA, E. de. Prin- Neoaplectana carpocapsae. Journal of Inver- lations and application systems. [s.l.]: Ameri-
cipais doenças na cultura do milho. 2.ed. Se- tebrate Pathology, v.32, n.3, p.291-296, Nov. can Society for Testing and Materials, 1997. p.99-
te Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 2000. 80p. 1978. 112.
(EMBRAPA-CNPMS. Circular Técnica, 26).
GEORGHIOU, G.P.; LAGUNES-TEJEDA, A. The JONES, K.A.; IRVING, N.S.; GRZYWACZ, D.;
FIGUEIREDO, M.L.C.; DELLA LUCIA, T.M.C.; occurrence of resistance to pesticides in MOAWAD, G.M.; HUSSSEIN, A. H.; FARGAHLY,
CRUZ, I. Efeito da densidade de Telenomus remus arthropods. Rome: FAO, 1991. 318p. A. Application rate trials with a nuclear poly-
Nixon (Hymenoptera: Scelionidae) no controle hedrosis virus to control Spodoptera littoralis
de ovos de Spodoptera frugiperda (Smith) (Lepi- GRAY, M.E.; STEFFEY, K.L. Insect pest manage-
(Boisd.) on cotton in Egypt. Crop Protection,
doptera: Noctuidae) em liberações de campo, na ment for field and forage crops. In: UNIVERSITY
Surrey, v.13, n.5, p.337-340, Aug. 1994.
OF ILLINOIS. Illinois pest control handbook.
cultura do milho. Revista Brasileira de Milho
Champaign, Urbana, 1993. cap. 1. KEASTER, A.J.; CHIPPENDALE, G.M.; PILL,
e Sorgo, Sete Lagoas, v.1, n.2, p.12-19, 2002.
B.A. Feeding behavior and growth of the wireworm
HAMM, J.J.; CARPENTER, J.E. Compatibility
FROESCHNER, R.C.; CHAPMAN, Q.L. A south Melanotus depressus and Limonius dubitans:
of nuclear polyhedrosis viruses and inherited
american cydnid, Scaptocoris castaneus Perty, effect of host plants, temperature, photoperiod,
sterility for control of corn earworm and fall
established in the United States (Hemiptera: Cydni- and artificial diets. Environmental Entomology,
armyworm (Lepidoptera: Noctuidae). Journal
dae). Entomological News, Philadelphia, v.74, v.4, n.4, p.591-595, 1975.
of Entomology Science, Georgia, v.32, n.2,
p.95-98, 1963.
p.148-153, 1997. LEVINE, E.; OLOUMI-SADEGHI, H. Ma-
FUXA, J.R. Prevalence of viral infections in nagement of diabroticide rootworms in corn.
_______; HARE, W. W. Application of ento-
populations of fall armyworm, Spodoptera Annual Review of Entomology, Palo Alto,
mopathogens in irrigation water for control of
frugiperda, in southeastern Louisiana. Envi- v.36, p.229-255, 1991.
fall armyworms and corn earworms (Lepidop-
ronmental Entomology, College Park, v.11,
tera: Noctuidae) on corn. Journal of Economic LI, Y.; WILSEY, W. T.; WEEDEN, C. R.;
n.1, p.239-242, 1982.
Entomology, College Park, v.75, n.6, p.1074- SHELTON, A.M. (Ed.). Pests in the Nor-
GARCIA, M.A. Potencialidade de alguns fa- 1079, Dec. 1982. theastern United States. [Ithaca]: Cornell

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 79

University, c1976. Disponível em: <http:www. MORRILL, W.L. Control, sampling methodology, RADFORD, B.J.; ALLSOPP, P.G. Use of insec-
nysaes.cornell.edu/ent/factsheets/pests/ww.html>. and effect on wheat yield in Montana. Journal ticides and a press wheel to control soil insect
Acesso em: 15 jan. 2003. of Georgia Entomological Society, v.19, n.1, affecting sorghum and sunflower establishment
p.67-71, 1984. in southern Queens land. Journal of Australian
LIMA, A.M. da C. Insetos do Brasil. Rio de Ja-
Entomological Society, v.26, p.161-167, 1987.
neiro: Escola Nacional de Agronomia, 1953. t. 8, MOSCARDI, F. Utilização de vírus para contro-
cap. 29, part.2. le da lagarta-da-soja. In: ALVES, S.B. (Coord). RAGA, A.; SILOTO, R.C.; SATO, M.E. Efeito de
Controle microbiano de insetos. São Paulo: inseticidas sobre o percevejo castanho Scaptocoris
LIMA, L.C.S.F. Controle de pragas subterrâneas:
Manole, 1986. p.188-202. castanea (Hem.: Cydnidae) na cultura algodoeira.
passado, presente e futuro, In: REUNIÃO SOBRE
Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo,
PRAGAS SUBTERRÂNEAS DOS PAÍSES DO _______; KASTELIC, J.G. Ocorrência de vírus
v.67, n.1, p.93-97, jan./jun. 2000.
CONE SUL, 2., 1992, Sete Lagoas. Anais... Sete de poliedrose nuclear e vírus de granulose em
Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1992. 194p. populações de Spodoptera frugiperda atacando _______; SOUZA FILHO, M.F.; RAMIRO, Z.A.;
soja na região de Sertaneja, PR. In: EMBRAPA. THOMAZINI, M.J. Controle químico do per-
LOPEZ-LASTRA, C.; BOUCIAS, D.G. Studies on
Centro Nacional de Pesquisa de Soja. Resulta- cevejo castanho, Scaptocoris castanea (Het.:
the cellular reactions of Spodoptera exigua larvae
dos de pesquisa de soja 1984/85. Londrina, Cydnidae) em cultura de milho. In: REUNIÃO
infected with the fungus Nomuraea rileyi. Jour-
1985. p.128. (EMBRAPA-CNPSo. Documen- SUL-BRASILEIRA SOBRE PRAGAS DE SOLO,
nal of Invertebrate Pathology, v.63, n.1,
tos, 15). 6., 1997, Santa Maria. Resumos... Santa Maria:
p.101-102, Jan. 1994.
UFSM, 1997. p.92-94.
NAULT, L.R. Evolution of insect pest: maize
LOURENÇÃO, A.L.; ROSSETTO, C.J.; LASCA,
and leafhopper, a case study. Maydica, v.35, _______; _______; SILOTO, R.C.; RAMIRO,
D.H. de C.; PALLA, V.L.; PALLA, G.J. Ocorrência
p.165-175, 1990. Z.A. Eficiência de inseticidas sobre o percevejo
de larvas de Diabrotica speciosa (Germar, 1824)
castanho Scaptocoris castanea (Hem.: Cydnidae)
danificando vagens e sistema radicular de amen- PARISI, R.; DAGOBERTO, E.L. Observaciones em cultura de milho safrinha. Arquivos do Ins-
doinzeiro. Bragantia, Campinas, v.41, p.241- preliminares sobre el daño de chinche verde tituto Biológico, São Paulo, v.65, p.36, 1998.
243, nov. 1982. Nezara viridula en granos de maíz. Pergamino: Suplemento: 11 a Reunião Anual do Instituto
INTA-EERA, 1979. t.2. (INTA. Información, 14). Biológico, 1998.
MARQUES, G.B.C.; ÁVILA, C.J.; PARRA, J.R.P.
Danos causados por larvas e adultos de Diabrotica PARRA, J.R.; BOTELHO, P.S.M.; CORRÊA- RAMIRO, Z.A.; ARAÚJO, J.B.M.; RODRIGUES,
speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae) em milho. FERREIRA, B.S.; BENTO, J.M.S. (Ed.). Contro- L.A. Ocorrência do “percevejo castanho”,
Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, le biológico no Brasil: parasitóides e preda- Scaptocoris castanea Perty, 1830, em pastagens
v.34, n.11, p.1983-1986, nov. 1999. dores. São Paulo: Manole, 2002. 635p. da DIRA de Marília, SP. Biológico, São Paulo,
MARTINS, J.C.; WEBER, L.F. Imidacloprid no v.55, n.1/2, p.13-14, jan./dez. 1989.
PIMENTEL, D. (Ed.). Handbook of pest
tratamento de sementes associado ou não a pulve- management in agriculture. Boca Raton: CRC REIS, L.L.; OLIVIERA, L.J.; CRUZ, I. Biologia
rizações com inseticidas no controle de Dichelops Press, 1981a. v.1, 597p. e potencial de Doru luteipes no controle de
furcatus (Fabr.) na cultura do milho. In: CON- Spodoptera frugiperda. Pesquisa Agropecuária
GRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 22., _______. Handbook of pest management in
Brasileira, Brasília, v.23, n.4, p.333-342, abr.
1998, Recife. Resumo… Globalização e segu- agriculture. Boca Raton: CRC Press, 1981b. v.2,
1988.
rança alimentar. Recife: ABMS, 1998. p.152. 501p.
REZENDE, M.A.A.; CRUZ, I.; DELLA LUCIA,
METCALF, R.L. Changing role of insecticides in _______. Handbook of pest management in T. M. C. Aspectos biológicos do parasitóide
crop protection. Annual Review of Entomo- agriculture. Boca Raton: CRC Press, 1981c. v.3, Chelonus insularis (Cresson) (Hymenoptera, Bra-
logy, Palo Alto, v.25, p.219-256, 1980. 656p. conidae) criados em ovos de Spodoptera frugiperda
(Smith) (Lepidoptera, Noctuidae). Revista Bra-
_______; LUCKMANN, W.H. (Ed.). Introduc- PUZZI, D.; ANDRADE, A.C. O “percevejo cas-
sileira de Zoologia, v.12, n.4, p.779-784, 1995.
tion to insect pest management. 3.ed. New tanho”- Scaptocoris castaneus (Perty): no estado
York: J. Wiley, 1994. 650p. de São Paulo. Biológico, São Paulo, v.23, n.8, _______; _______; _______.Consumo foliar de
p.157-162, ago. 1957. milho e desenvolvimento de lagartas de Spodoptera
MOREY, C.A.; ALUGARAY, R. Biología y
frugiperda (Smith) parasitadas por Chelonus
comportamiento de Diloboderus abderus QUATE, L.W.; THOMPSON, S.E. Revision of
insularis (Cresson) (Hymenoptera: Braconidae).
(Sturn) (Coleoptera: Scarabaeidae). Monte- click beetles of genus Melanotus in America north
Anais da Sociedade Entomológica do Brasil,
video: Ministerio de Agricultura y Pesca, 1982. of Mexico (Coleoptera: Elateridae). Proceedings
v.23, n.3, p.473-478, 1994.
44p. (Ministerio de Agricultura y Pesca. Boletin of the United States National Museum,
Técnico, 5). v.121, n.3568, p.1-83, 1967. RILEY, T. J.; KEASTER, A. J. Wireworms

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006


80 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

associated with corn: identification of larvae nine _______; COSTA, E. C. Nível de controle de frugiperda, com o baculovírus. Sete Lagoas:
species of Melanotus from the North Central States. Diloboderus abderus em aveia preta, linho, mi- EMBRAPA-CNPMS, 1991. 23p. (EMBRAPA-
Annals of the Entomological Society of lho e girassol. Ciência Rural, Santa Maria, v.32, CNPMS. Circular Técnica, 15).
America, College Park, v.72, n.3, p.408-414, n.1, p.7-12, jan./fev. 2002.
_______; PEIXOTO, M. J. V. D.; PAIVA, E.;
May 1979.
_______; LINK, D.; COSTA, E.C.; TARRAGÓ, KITAJIMA, E.W. Identificação e purificação de
_______; _______; ENNS, W.R. Four species of M.F.S. Efeito da época de semeadura de milho um vírus da poliedrose nuclear da lagarta Spodoptera
wireworms of the genus Melanotus associated with sobre os danos causados pelas larvas de Diloboderus frugiperda. Anais da Sociedade Entomológica
corn in Missouri. Journal of Economic Ento- abderus (Sturm) (Coleoptera: Melolonthidae) em do Brasil, Jaboticabal, v.18, p.71-81, 1989.
mology, College Parker, v.67, n.6 p.793, Dec. plantio direto. Anais da Sociedade Entomo- Suplemento.
1974. lógica do Brasil, v.25, n.1, p.89-94, 1996.
VIANA, P.A.; MAROCHI, A.I. Controle químico
SALVADORI, J.R. Manejo de corós em cereais SOUZA FILHO, M.F.de; RAMIRO, Z.A.; RAGA, da larva de Diabrotica spp. na cultura do milho
de inverno. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, A.; THOMAZINI, M.J. Ocorrência de Scaptocoris em sistema de plantio direto. Revista Brasileira
1997. 8p. (EMBRAPA-CNPT. Comunicado Téc- castanea e Atarsocoris brachiariae (Heterop- de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v.1, n.2, p.1-11,
nico, 3). tera: Cydnidae) na cultura da soja no estado de 2002.
São Paulo. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE
SANTOS, H.R.; NAKANO, O. Dados biológicos WAQUIL, J.M.; CRUZ, I.; VIANA, P.A.; SAN-
SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 19.,
sobre a lagarta-rosca Agrotis ipsilon (Hufnagel, TOS, J.P.; VALICENTE, F.H.; MATRANGOLO,
1997, Jaboticabal. Anais e resumos… Lon-
1776) (Lepidoptera, Noctuidae). Anais da Socie- W.J.R. Levantamento de pragas subterrâneas e
drina: EMBRAPA-CNPSo, 1997. p.192-193.
dade Entomológica do Brasil, Jaboticabal, ano sua importância na redução da população de
(EMBRAPA-CNPSo. Documentos, 107).
11, n.1, p.33-48, 1982. plantas. In: REUNIÃO SOBRE PRAGAS SUB-
SUTTER, G.R.; BRANSON, T.F.; FISHER, J. TERRÂNEAS DOS PAÍSES DO CONE SUL,
SANTOS, J.P.; CRUZ, I.; BOTELHO, W. 2., 1992, Sete Lagoas. Anais... Sete Lagoas:
R.; ELLIOT, N.C.; JACKSON, J.J. Effect of
Avaliação de dano e controle da cigarrinha- EMBRAPA-CNPMS, 1992. p.133-144.
insecticide treatments on root damage ratings
das-pastagens em plantas de milho com
of maize in controlled infestations of western
diferentes idades. Sete Lagoas: EMBRAPA- _______; VIANA, P.A.; LORDELO, A.I.; CRUZ,
corn rootworms (Coleoptera: Chrysomelidae).
CNPMS, 1982. 9p. (EMBRAPA-CNPMS. Pes- I.; OLIVEIRA, A.C. de. Controle da lagarta-do-
Journal of Economic Entomology, College
quisa em Andamento, 2). cartucho em milho com inseticidas químicos e
Park, v.82, p.1792-1798, 1989.
biológicos. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
SILOTO, R.C.; RAGA, A. Percevejo castanho Brasília, v.17, n.2, p.163-166, fev. 1982.
_______; FISHER, J.R.; ELLIOT, N.C.; BRANSON,
nas culturas de soja e milho safrinha (Scaptocoris
T.F. Effect of insecticide treatments on root
castanea e Atasrsocoris brachiariae). In: REU- WHITLOCK, V.H. Simultaneous treatments of
lodging and yield in maize controlled infestations Heliothis armigera with nuclear polyhedrosis virus
NIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO
of western corn rootworms (Coleoptera: Chryso- and a granulose virus. Journal of Invertebrate
INSTITUTO BIOLÓGICO, 1., 1998, Migue-
melidae). Journal of Economic Entomology, Pathology, New York, v.29, n.3, p.297-303, 1977.
lópolis. Anais... Miguelópolis: Instituto Bioló-
College Park, v.83, p.2414-2420, 1990.
gico, 1998. p.79-84. WILLIAMS, W.P.; DAVIS, F. Response of corn
TANADA, Y.; REINER, C. The use of pathogens to artificial infestation with fall armyworm and
_______; SATO, M.E.; RAGA, A. Efeito de inse-
in the control of the corn earworm Heliothis zea southwestern corn borer. Southwestern Ento-
ticidas sobre percevejo castanho em cultura de
(Boddie). Journal of Invertebrate Pathology, mologist, Dallas, v.15, p.163-166, 1990.
milho-safrinha. Revista de Agricultura, Pira-
New York, v.4, p.139-154, 1962.
cicaba, v.75, n.1, p.21-27, 2000. WILLINK, E.; OSORES, V.M.; COSTILLA, M.
THOMAS, C.A. The biology and control of A El gusano cogollero del maíz. Avance Agro-
SILVA, M.T.B. Controle de larvas de Diloboderus
wireworm: review of literature. University industrial, San Miguel de Tucumán, v.12, p.3-7,
abderus Sturn (Coleoptera: Melolonthidae) atra-
Park: Pennsylvania State University, 1940. 90p. 1991.
vés do tratamento de sementes de milho com
(Pennsylvania State College Bulletin, 392).
inseticidas em plantio direto. Anais da Sociedade YOUNG, J. R.; HAMM, J. J. Nuclear-polyhedrosis
Entomológica do Brasil, v.25, n.2, p.281-286, VAECK, M.; REYNAERTS, A.; HÖFTE, H.; viruses in control of corn earworm and fall army-
1996. JANSENS, S.; BEUCKELEER, M. de; DEAN, C.; worm in sweet corn. Journal of Economic Ento-
ZABEAU, M.; MONTAGU, M.V.; LEEMANS, J. mology, College Park, v.59, n.2, p.382-384,
_______. Insetos-pragas: aspectos ecológicos, da-
Transgenic plants protected from insect attack. 1966.
nos e controle. In: CAMPOS, B.C. de. (Coord).
Nature, London, v.327, p.33-37, 1987.
A cultura do milho em plantio direto. Cruz ZUCCHI, R.A.; SILVEIRA NETO, S.; NAKANO,
Alta: FUNDACEP/FECOTRIGO, 1998. p.95- VALICENTE, F.H.; CRUZ, I. Controle bio- O. Guia de identificação de pragas agrícolas.
123. lógico da lagarta-do-cartucho, Spodoptera Piracicaba: FEALQ, 1993. 139p.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.66-80, jul./ago. 2006


82 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Principais doenças da cultura do milho


Nicésio Filadelfo Janssen de Almeida Pinto 1
Maria Amélia dos Santos 2
Dulândula Silva Miguel Wruck 3

Resumo - Nos últimos anos, tem-se presenciado o aumento da incidência de doenças


na cultura do milho, que resulta em quedas na produtividade e na qualidade dos grãos.
As causas do aumento da incidência dessas doenças são a monocultura do milho, as
alterações climáticas e o manejo cultural adotado, fazendo com que os patógenos (fungos,
bactérias, nematóides, vírus, molicuttes) permaneçam por mais tempo na área de cultivo.
O manejo de doenças do milho exige o empenho do produtor, que resultará numa maior
ou menor eficiência do controle. Estão disponíveis no mercado, híbridos que apresentam
diferentes graus de resistência para diferentes doenças, mas não para todas. Para algumas
doenças foliares, causadas por fungos, há trabalhos comprovando a viabilidade e a
eficiência do controle químico, podendo assim fazer parte do sistema de manejo da
cultura.
Palavras-chave: Zea mays. Doença. Manejo. Nematóide.

INTRODUÇÃO a mancha-branca (etiologia indefinida); mo saprófita. Portanto, a rotação de cultura,


A incidência e a severidade de doenças as ferrugens causadas por Puccinia sorghi o manejo adequado da matéria orgânica e
na cultura do milho têm aumentado muito (ferrugem-comum), Puccinia polysora o bom preparo do solo reduzem sensivel-
nos últimos anos, devido, principalmen- (ferrugem-polissora) e Phyzopella zeae mente o seu potencial de inóculo.
te, a mudanças climáticas globais, a mu- (ferrugem-branca ou tropical); a queima- Por outro lado, o desbalanço de nutri-
danças no sistema de cultivo (plantio di- de-turcicum (Exserohilum turcicum); a entes no solo predispõe as plantas ao
reto, milho irrigado), da época de plantio cercosporiose (Cercospora zeae-maydis e ataque deste patógeno (Fig. 1). Excesso de
(primeira época – safra de verão e segunda Cercospora sorghi f. sp. maydis); a mancha- nitrogênio associado à deficiência de po-
época – safrinha), de plantios consecutivos foliar por Stenocarpella macrospora tássio torna as plantas mais suscetíveis à
(milho no campo o ano todo), da expan- (Diplodia macrospora); a antracnose-foliar doença.
são da área cultivada para a região Centro- (Colletotrichum graminicola);
Oeste e, não raro, à ausência da rotação de o enfezamento-pálido e o
culturas (substituída pela sucessão de cul- enfezamento-vermelho, entre
turas). Essas mudanças têm contribuído outras.
acentuadamente para a multiplicação e pre-
servação de inóculos de diversos patóge- DOENÇAS FOLIARES Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

nos (fungos, bactérias, nematóides, vírus,


Mancha por turcicum
molicuttes), bem como submetido a cultura
do milho a condições edafoclimáticas fa- Exserohilum turcicum
voráveis ao desenvolvimento de determi- (= Helminthosporium
nadas doenças. turcicum)

No Brasil, atualmente, são muitas as É um fungo invasor do solo


doenças da cultura do milho. Destacam-se e não consegue sobreviver co- Figura 1 - Mancha por turcicum (Exserohilum turcicum)

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: nicesio@cnpms.embrapa.br
2
Enga Agra, D.Sc., Profa UFU, Caixa Postal 593, CEP 38400-902 Uberlândia-MG. Correio eletrônico: amelias@umuarama.ufu.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: dmiguel@epamiguberaba.com.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 83

Mancha-branca Ferrugem-branca ou tropical


Etiologia indefinida Physopella zeae
A medida de controle mais recomen- A ferrugem-branca (Fig. 5) é de ocor-
dada para a mancha-branca é a utilização rência mais recente no Brasil. Nos últi-
de cultivares resistentes. Materiais comer- mos anos, disseminou-se de forma que se
ciais de milho têm apresentado alta varia- tornou comum em muitas regiões do País.
bilidade no grau de resistência a esta doen- É favorecida por ambientes úmidos e por
ça (Fig. 2). A alteração na época de plantio temperaturas moderadas a altas. Portan-
deve coincidir com a fase de suscetibilida- to, por amplitude maior de temperatura que
de do hospedeiro e ausência do patógeno. aquela mais favorável à ferrugem-polissora,
Em algumas regiões de ocorrência desta apresentando grande capacidade de adap-

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


doença, sua severidade tem sido maior nos tação em diferentes ambientes. Em geral,
meses de dezembro a maio, não ocorrendo apresenta maior severidade em locais de
normalmente nos meses de julho a outu- baixa altitude e, principalmente, em plantios
bro. tardios. Por ser parasita obrigatório e apre-
sentar ciclos completos, as principais me-
didas de controle para as três ferrugens
citadas são a utilização de cultivares resis-
Figura 3 - Ferrugem-comum
tentes, a eliminação de plantas hospedeiras
(Puccinia sorghi)
e o controle químico.

Ferrugem-polissora
Puccinia polysora
A ferrugem-polissora (Fig. 4) é favo-
recida por temperaturas em torno de 27oC,
umidade relativa alta e altitudes inferiores
a 900 m. Altitudes superiores a 1.200 m são
desfavoráveis à doença.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


Figura 2 - Mancha-branca

Ferrugem-comum
Figura 5 - Ferrugem-branca ou tropical
Puccinia sorghi
(Physopella zeae)
A ferrugem-comum do milho (Fig. 3)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

é favorecida por temperaturas entre 16oC e


Cercosporiose
23oC, alta umidade relativa e altitudes su-
periores a 900 m. Por ser parasita obrigatório Cercospora zeae-maydis e
e apresentar ciclo completo, as principais C. sorghi f. sp. maydis
medidas de controle são a utilização de A cercosporiose (mancha-cinza-da-
cultivares resistentes, a eliminação de plan- folha) (Fig. 6) pode causar perdas superio-
tas hospedeiras alternativas e o controle Figura 4 - Ferrugem-polissora res a 80% na produção de grãos de milho.
químico. (Puccinia polysora) A severidade da cercosporiose é favore-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
84 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

cida pela ocorrência de vários dias nubla- bo foliar (Fig. 7) e na nervura central da
dos, com alta umidade relativa, presença folha, sendo favorecida por períodos de
de orvalho e cerração por longos períodos. alta temperatura e de alta umidade relativa.
O fungo sobrevive em restos de cultura Como medidas de controle, recomenda-se
de milho e a disseminação de seus esporos a utilização de sementes sadias, de cultiva-
ocorre pelo vento e por respingos de água res resistentes e de rotação de culturas.
de chuva ou irrigação. Por isso, um fator
de grande importância na severidade da
doença é a presença, na superfície do solo,
de restos de cultura infectados, os quais
se constituem em fonte primária de inóculo.
A medida de controle mais eficiente é a uti-
lização de cultivares resistentes, elimina-

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


ção dos restos de cultura e a rotação de
culturas.

Figura 8 - Mancha por Stenocarpella


macrospora

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


Queima-bacteriana
Pseudomonas alboprecipitans
A turgidez da folha do milho favorece a
ocorrência desta doença, cujos sintomas
caracterizam-se pela presença de lesões ne-
cróticas, tipicamente alongadas e estreitas
Figura 7 - Antracnose-foliar (Fig. 9). Excesso de água (chuva ou irri-
(Colletotrichum graminicola)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

gação) predispõe as plantas de milho ao


ataque desta doença.
Mancha por
Stenocarpella macrospora
Este fungo causa manchas necróticas
grandes nas folhas do milho (Fig. 8), que po-
dem ser confundidas com aquelas produ-
Figura 6 - Cercosporiose zidas por Exserohilum turcium. Contudo,
(Cercospora zeae-maydis e
uma característica sintomatológica impor-
C. sorghi f. sp. maydis)
tante é que na mancha por S. macrospora
é facilmente observado um pequeno cír-
Antracnose-foliar
culo, visível contra a luz, o qual corres-
Colletotrichum graminicola ponde ao ponto de infecção do patógeno.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

A antracnose-foliar está aumentando Este patógeno sobrevive em resto de cul-


em incidência e severidade nas lavouras tura de milho infectado, atingindo nova
das principais regiões produtoras de mi- cultura via liberação dos seus esporos pe-
lho, notadamente nos estados de GO, MT, la ação do vento e da água de chuva. Para
MS, MG, SP, PR e SC. Esta doença tem si- o controle desta doença recomendam-se a
do favorecida no SPD, bem como em áreas utilização de cultivares resistentes, a elimi-
onde não se pratica a rotação de cultura. nação dos restos de cultura contaminados Figura 9 - Queima-bacteriana
A antracnose pode estar presente no lim- e a rotação de cultura. (Pseudomonas alboprecipitans)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 85

Enfezamento-pálido Enfezamento-vermelho geral, as plantas afetadas não apresen-


Espiroplasma Fitoplasma tam acentuada redução do crescimento,
Esta doença é transmitida pela cigarri- O enfezamento-vermelho (Fig. 11), à se- embora o tamanho das espigas e o enchi-
nha (Dalbulus maidis). Seus efeitos podem melhança do enfezamento-pálido, pode ser mento de grãos sejam seriamente preju-
resultar em drástica limitação da produção, seriamente limitante à produção do milho. dicados. As medidas de controle para o
particularmente quando as plantas de milho Esta doença, também, é transmitida por cigar- enfezamento-vermelho incluem, prin-
são infectadas nas fases iniciais de desen- rinhas, principalmente Dalbulus maidis. cipalmente, o uso de cultivares resisten-
volvimento (Fig. 10). Em geral, as plantas No Brasil, tem sido observado que, em tes.
apresentam encurtamento de internódios,
formação de espigas pequenas e o enchi-
mento de grãos pode ser seriamente pre-
judicado. As espigas apresentam grãos
frouxos, pequenos, descoloridos ou man-
chados. Dependendo da cultivar, as plantas
secam e morrem ou tombam antes da matu-
ridade, provavelmente devido ao enfraque-
cimento causado pela doença. Em regiões
onde o milho é cultivado em plantios su-
cessivos, as cigarrinhas migram de campos
doentes que atingiram a maturidade para
campos com plantas jovens, levando com
elas o agente da doença. O método mais
eficiente para controle do enfezamento-
pálido do milho é a utilização de cultivares
resistentes.
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Figura 10 - Enfezamento-pálido
(espiroplasma) Figura 11 - Enfezamento-vermelho (fitoplasma)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


86 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

DOENÇAS DO COLMO plantas vivas e tornarem-se parasitas. Nes-


se caso, a eficiência da rotação de cultura é
Podridão-do-colmo
questionável. Por outro lado, o manejo ade-
Stenocarpella (Diplodia): S. maydis
quado da matéria orgânica e o bom preparo
ou S. macrospora
do solo permitirão sensível redução no
A podridão-do-colmo é uma doença potencial de inóculo. Culturas de milho cor-
favorecida por temperaturas entre 28oC e retamente adubadas, a fim de evitar dese-
30oC e umidade relativa alta, quando estas quilíbrios nutricionais, são mais resisten-
condições ocorrem duas a três semanas tes. A medida mais econômica e eficiente é
após a polinização (Fig. 12). O fungo, na a utilização de cultivares resistentes.
forma de picnídios e/ou micélio dormente,
sobrevive no solo, em restos de cultura e
em sementes. Por serem fungos invasores
do solo, a rotação de cultura, o manejo ade-

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


quado da matéria orgânica e o bom preparo
de solo reduzem, sensivelmente, o poten-
cial de inóculo no solo. A medida de con-
trole mais econômica e eficiente é a utili-
zação de cultivares resistentes.

Figura 14 - Podridão-do-colmo (Pythium sp.)

Antracnose-do-colmo
Colletotrichum graminicola
A antracnose-do-colmo (Fig. 15) torna-
se mais visível após o florescimento das
plantas de milho, e, conseqüentemente,
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Figura 13 - Podridão-do-colmo
(Fusarium verticillioides
e F. subglutinans)

Podridão-do-colmo
Figura 12 - Podridão-do-colmo Pythium
(Stenocarpella maydis
O principal causador é o fungo Pythium
ou S. macrospora)
aphanidermatum (Fig. 14), habitante natu-
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

ral do solo e que se diferencia dos demais


Podridão-do-colmo
patógenos de colmo por atacar plantas
Fusarium verticillioides e ainda jovens e vigorosas, antes do flo-
F. subglutinans rescimento. Em condições de alta umida-
São fungos (Fig. 13) habitantes do so- de do solo e alta temperatura, a podridão
lo. Apresentam elevado número de hos- ocorre no primeiro entrenó acima do solo.
pedeiros, vivem a maior parte de seu ciclo A principal medida de controle é o manejo Figura 15 - Antracnose-do-colmo
de vida como saprófitos, podendo infectar adequado da água de irrigação. (Colletotrichum graminicola)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 87

esta é a fase mais apropriada para o seu Podridão-mole-do-colmo a ocorrência da podridão-do-cartucho por
diagnóstico. A antracnose-do-colmo pode Erwinia carotovora pv. zeae E. chrysanthemi. Os sintomas típicos desta
causar a morte prematura da planta, propor- Como o nível de umidade do solo afeta, doença caracterizam-se pela murcha e seca
cionando o seu tombamento. Esta doença simultaneamente, a suscetibilidade do mi- das folhas do cartucho da planta, decor-
tem sido favorecida no SPD, bem como em lho e a virulência do patógeno, a manu- rentes de podridão aquosa na base desse
áreas onde não se pratica a rotação de cul- tenção de altos níveis de umidade no solo cartucho (Fig. 18). As folhas do cartucho
tura. Como medida de controle recomenda- é favorável a patógenos dependentes de desprendem-se facilmente e exalam odor
se a utilização de sementes sadias, culti- água para a sua disseminação, como é o desagradável. O controle desta doença do
vares resistentes e rotação de culturas. caso da bactéria Erwinia carotovora pv. milho, em plantios irrigados, pode ser efeti-
zeae, que causa a podridão-mole-do-colmo vamente conseguido através do adequado
Podridão-preta-do-colmo (Fig. 17). As plantas atacadas apresentam manejo da irrigação.
Macrophomina phaseolina apodrecimento aquoso na base do colmo e
Este fungo se desenvolve melhor em morrem rapidamente. Esta doença pode
condições de solo seco e quente, causan- ocorrer, também, em locais de temperatura
do a podridão-preta-do-colmo do milho e umidade do ar relativamente altas.
(Fig. 16). Esta doença é facilmente preve-
nida em cultivos irrigados com a umidade
do solo mantida próxima da capacidade de
campo. A incidência desta doença aumen-
ta em condições de altas temperaturas e
seca por ocasião do florescimento do mi-
lho.

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Figura 18 - Podridão-do-cartucho
(Erwinia chrysanthemi)

DOENÇAS DA ESPIGA
Carvão-da-espiga
Figura 17 - Podridão-mole-do-colmo
Ustilago maydis
(Erwinia carotovora pv. zeae)
Doença muito comum e de fácil iden-
tificação. Ocorre na lavoura normalmen-
Podridão-do-cartucho
te em baixa freqüência (plantas isoladas).
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Erwinia chrysanthemi O desenvolvimento do carvão-da-espiga


Em geral, as bactérias necessitam de (Fig. 19) é favorecido por temperatura alta
água livre e altas temperaturas para sua mul- (26-34oC), baixa umidade do solo e em plan-
tiplicação e disseminação. Assim, a alta tas de milho com deficiência nutricional.
umidade proporcionada pelo excesso de A infecção da espiga resulta na substitui-
água de irrigação ou chuva, principalmente, ção dos grãos ou das sementes pelas estru-
Figura 16 - Podridão-preta-do-colmo pelo acúmulo de água no cartucho da plan- turas do fungo, com evidente formação de
(Macrophomina phaseolina) ta, associada a altas temperaturas, favorece galhas.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006
88 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Podridão-rosada-da-espiga Podridão-vermelha-da-
Fusarium verticillioides ou ponta-da-espiga
F. subglutinans Gibberella zeae

A infecção dos grãos pode-se iniciar Esta podridão de espiga é conheci-


pelo topo ou por qualquer outra parte da, também, pelo nome de podridão-de-
da espiga (Fig. 21), mas sempre associada Gibberella. É mais comum em regiões de
a alguma injúria no grão (grãos ardidos). clima ameno e de alta umidade relativa.
A medida mais econômica e eficiente é a A ocorrência de chuvas após a poliniza-
utilização de cultivares resistentes. ção propicia a ocorrência desta podridão
de espiga. A doença inicia-se com massa
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo cotonosa avermelhada na ponta da espi-
ga (Fig. 22) e pode progredir para sua base.
A palha pode ser colonizada pelo fungo e
tornar-se colada na espiga. Ocasionalmen-
te, esta podridão pode-se iniciar na base e
progredir para a ponta da espiga, confun-
dindo o sintoma com aquele causado por
Fusarium verticillioides ou F. subglutinans.
Figura 19 - Carvão-da-espiga
Chuvas freqüentes no final do desenvol-
(Ustilago maydis)
vimento da cultura, principalmente em
Podridão-branca-da-espiga lavoura com cultivar com espigas que não
Stenocarpella maydis
se dobram para baixo após a maturidade
ou S. macrospora
fisiológica dos grãos, aumentam a incidên-
cia desta podridão de espiga (grãos ardi-
Esta podridão é causada pelo mesmo
dos). Este fungo sobrevive nas sementes
agente etiológico da podridão-do-colmo.
na forma de micélio dormente. A forma
Espigas infectadas apresentam grãos de
assexual de Gibberella zeae é denominada
cor marrom, denominados grãos ardidos;
F. graminearum.
de baixo peso e com crescimento micelial
branco entre as fileiras de grãos (Fig. 20).
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Espigas mal empalhadas, com palhas frou-


xas e que não se dobram para baixo após a
maturidade fisiológica dos grãos são mais
suscetíveis. Alta precipitação ou irriga-
ções freqüentes na época da maturidade
dos grãos favorecem o aparecimento desta
doença. A medida de controle mais econô- Figura 21 - Podridão-rosada-da-espiga
mica e eficiente é a utilização de cultivares (Fusarium verticillioides
resistentes. ou F. subglutinans)
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Figura 22 - Podridão-vermelha-da-ponta-
Figura 20 - Podridão-branca-da-espiga (Stenocarpella maydis ou S. macrospora) da-espiga (Gibberella zeae)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 89

Os grãos ardidos em milho são o reflexo são exímios biossintetizadores de toxinas, As principais micotoxinas que têm sido
das podridões de espigas, causadas pelos denominadas micotoxinas. relatadas contaminando o milho na fase de
fungos presentes no campo, isto é, na fa- Como padrão de qualidade tem-se, em pré-colheita são as aflatoxinas (Aspergillus
se de pré-colheita. São considerados grãos algumas agroindústrias, a tolerância máxi- flavus e A. parasiticus), as ocratoxinas (A.
ardidos todos aqueles que possuem pelo ma de 6% para grãos ardidos, em lotes co- ochraceus) e as toxinas de Fusarium: zea-
menos ¼ de sua superfície com descolo- merciais de milho. Quando ocorrem fortes ralenona (produzida por F. graminearum e
rações, cuja matiz pode variar de marrom- chuvas após o estádio da maturidade fisio- F. roseum), deoxinivalenol - DON ou vomi-
claro a roxo (Fig. 23) ou vermelho-claro a lógica dos grãos e também há a posterga- toxina (F. graminearum e F. verticillioides),
vermelho-intenso (Fig. 24). Esses fungos ção na colheita do milho, normalmente a toxina T-2 (F. sporotrichioides) e as fumo-
podem ser divididos em dois grupos: aque- incidência de grãos ardidos supera este limi- nisinas (F. verticillioides, F. subglutinans
les que apenas produzem grãos ardidos e te de tolerância máxima, cujos valores têm e F. proliferatum). Assim, as perdas qua-
aqueles chamados toxigênicos, que, além atingido freqüentemente 10% a 20%, em litativas por grãos ardidos são motivos
de propiciar a produção de grãos ardidos algumas cultivares. de desvalorização do produto e ameaça à
saúde humana e à dos rebanhos.

DOENÇAS DAS SEMENTES,


RAÍZES E PLÂNTULAS
As sementes de milho estão sujeitas a
danos por fungos no campo de produção
de sementes, durante o período de armaze-
namento e pelos fungos presentes no solo
da semeadura. A semente pode ser infes-
tada ou infectada por fungo. Na infesta-
ção, o fungo localiza-se externamente na
Arquivo Embrapa Milho e Sorgo superfície dela, enquanto que na infecção
o fungo aloja-se nos tecidos internos da
semente: endosperma e embrião.
Os fungos que sobrevivem no solo
na forma de estruturas de resistência (cla-
midosporos, esclerócios e oósporos) ou
aqueles que infectam as sementes podem
Figura 23 - Grãos ardidos (Stenocarpella maydis) causar o apodrecimento delas (Fig. 25),

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Figura 25 - Podridão-de-sementes
Figura 24 - Grãos ardidos (Fusarium verticillioides) (Pythium aphanidermatum)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


90 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

morte de plântulas em pré ou pós-emergência ção de lesão mole, a qual pode apresentar No solo, os fungos encontram condi-
(Fig. 26 e 27), e podridões radiculares em coloração preta, branco-parda ou branco- ções ideais para atacar as sementes de mi-
plântulas (Fig. 28 e 29). Na morte das plân- rosada, indicando o ataque de Pythium lho, principalmente, quando a semeadura é
tulas, o fungo ataca a região do mesocó- spp., Diplodia maydis ou Fusarium spp., realizada em condições subótimas, isto é,
tilo, próximo ao nível do solo, com forma- respectivamente. em solo frio, mal drenado, compactado e

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


Figura 26 - Plântulas atacadas por Sclerotium rolfsii

Figura 28 - Podridão-das-raízes
(Pythium aphanidermatum)

Arquivo Embrapa Milho e Sorgo


Arquivo Embrapa Milho e Sorgo

Figura 29 - Podridão-das-raízes
Figura 27 - Plântulas atacadas por Pythium aphanidermatum (Rhizoctonia solani)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 91

com baixo nível de oxigênio; condição em dem ser parasitadas por Meloidogyne e ficando em primeiro os causadores de ga-
que há impedimento da germinação, ou a Pratylenchus. lhas do gênero Meloidogyne. No entanto,
velocidade de emergência é reduzida, apresenta um número de trabalhos reali-
propiciando maior exposição ao ataque dos Meloidogyne: zados no Brasil ainda inferior ao necessário
fungos. Temperatura do solo entre 10oC a nematóide-de-galhas (FERRAZ, 1999).
12oC impede a germinação das sementes A ocorrência de Meloidogyne parasi- O gênero Pratylenchus engloba, apro-
de milho, porém não cessa o desenvol- tando milho e causando prejuízos foi rela- ximadamente, mais de 60 espécies descritas
vimento de fungos do solo causadores de tada por Lordello et al. (1986b) e tratava-se (TIHOHOD, 2000). A distribuição geo-
apodrecimento de sementes. de Meloidogyne incognita raça 3. Atual- gráfica do nematóide-das-lesões é ampla,
O potencial de inóculo do fungo no solo mente, Meloidogyne incognita e M. javanica parasitando várias cultivares de grande
é fator importantíssimo na germinação das são as espécies mais comuns em lavou- interesse como soja, milho, algodão, fumo,
sementes e atua na intensidade de resposta ras de milho no Brasil. Sob condições expe- trigo, alfafa, maçã, pêssego e citros (GOODEY
da semente ao tratamento com fungicida. rimentais 2 mil juvenis de 2o estádio de et al., 1965). Além disso, apresenta grande
Em solo muito infectado, mesmo que as Meloidogyne/kg de solo reduz o cresci- número de plantas infestantes como hos-
sementes tenham alto vigor, a melhor de- mento e a produção do milho. pedeiros, que possibilitam a sobrevivência
cisão é tratá-las com fungicidas. Também, As espécies de Meloidogyne são bas- na entressafra e interferem na eficácia de
para as regiões mais frias ou para plantios tante polífagas, ou seja, apresentam ampla programas de rotação de culturas, quando
de inverno, devem-se utilizar lotes com alto gama de hospedeiros. Desse modo, há com- não são eliminadas (MANUEL et al., 1980).
vigor, associados ao tratamento das se- prometimento da utilização de rotação de Entre as plantas infestantes que se desta-
mentes com fungicidas. culturas, pois existe escassez de opções cam pela alta multiplicação, relacionam-se
de plantas não-hospedeiras. Entre os hos- para Pratylenchus brachyurus: carrapi-
NEMATÓIDES DO MILHO chinho (Alternanthera ficoidea), capim-
pedeiros, incluem-se as plantas infestantes
Muitas espécies de fitonematóides já como beldroega, caruru, capim-marmelada carrapicho (Cenchrus echinatus), capim-
foram associadas ao milho em diferentes e maria-pretinha, que são ótimas hospe- marmelada (Brachiaria plantaginea),
partes do mundo. No Brasil, as espécies mais deiras para Meloidogyne incognita e M. maria-pretinha (Solanum nigrum), capim-
importantes são Pratylenchus brachyurus, javanica. O descuido de não evitá-las tan- colchão (Digitaria sanguinalis), bra-
P. zeae, Helicotylenchus spp. Steiner, to na safra como na entressafra pode resul- quiárias (Brachiaria spp.), tiririca (Cyperus
Criconemella spp. De Grises and Loof, tar no fracasso da tentativa de reduzir o spp.) e grama-batatais (Paspalum notatum).
Meloidogyne spp. Goeldi e Xiphinema nível populacional do nematóide. Enquanto que para Pratylenchus zeae,
spp. Cobb. Rotylenchulus reniformis tam- capim-colonião (Panicum maximum), capim-
bém já foi associada como parasito de raízes Sintomas carrapicho, sapé (Imperata brasiliensis) e
de milho. O sistema radicular apresenta peque- tiririca são ótimas hospedeiras.
A constatação da ocorrência de nematói- nas galhas. No entanto, as galhas podem Os nematóides-das-lesões são encon-
des na cultura, principalmente Meloidogyne estar totalmente ausentes e, por isso, mui- trados em quase todos os cultivos de milho
incognita e M. javanica, que causam danos tas vezes o milho é considerado, erronea- e são freqüentemente associados com o
em lavouras de milho, tem sido freqüente mente, como mau hospedeiro ou até mesmo crescimento reduzido da cultura. Pratylenchus
em alguns Estados brasileiros (CARNEI- imune. Sintomas observados na parte aérea brachyurus, P. zeae e P. penetrans são as
RO et al., 1990; LORDELLO et al., 1986ab). do milho que refletem o parasitismo nas espécies mais encontradas em regiões
Em muitas regiões brasileiras, o cultivo do raízes, compreendem nanismo, clorose fo- tropicais e subtropicais.
milho apresenta-se como única opção agrí- liar, murcha durante os dias quentes e essas Esses nematóides são tipicamente mi-
cola em programas de rotação de culturas plantas doentes formam as reboleiras de gradores e endoparasitas de órgãos sub-
principalmente em função da sua adapta- tamanho variável. terrâneos, não obstante possam ser encon-
bilidade às diversas condições edafocli- trados associados a órgãos aéreos, como
máticas. Além disso, em áreas produtoras Pratylenchus: em estacas da planta ornamental Coleus,
de soja com Heterodera glycines, o milho nematóide-das-lesões- causando lesões a cerca de 5 cm acima do
é a cultura mais utilizada nos planos de ro- radiculares nível do solo (THORNE, 1961), ou em ramos
tação por tratar-se de planta não-hospedeira No Brasil, o nematóide-das-lesões de aveia e cevada (MERZHEEVSKAYA, 1951).
a essa espécie (MANZOTTE et al., 2002). posiciona-se como o segundo grupo mais Os nematóides-das-lesões têm quatro
Por outro lado, estas duas culturas po- importante de fitonematóides à agricultura, estádios juvenis e o adulto. Os ovos po-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


92 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

dem ser depositados no interior das raízes 1976). A temperatura de 20oC é considera- rias do solo, resultando no aparecimento
ou no solo. Embora sejam comumente mais da ótima para o bom desenvolvimento de de muitas lesões necróticas típicas, de
encontrados no interior dos tecidos vege- raízes e é simultaneamente ótima para pene- coloração escura.
tais parasitados. A célula-ovo passa pela tração máxima na raiz e desenvolvimento P. zeae causa interrupção mecânica das
embriogênese, resultando no primeiro do P. brachyurus (DICKERSON et al., 1964). células e necrose, e resulta na formação
estádio juvenil (J1). Ocorre a primeira troca Nas espécies de clima tropical, como P. de cavidades no tecido cortical (OLOWE;
de cutícula no interior do ovo, resultando brachyurus, o ciclo completa-se em 28 dias CORBETT, 1976; OLOWE, 1977). Ao con-
no segundo estádio (J2). Esse juvenil eclode a 30oC - 35oC e a mais alta taxa de reprodu- trário, P. brachyurus causa mais necrose
e inicia sua alimentação ao penetrar na raiz ção foi observada a 29oC - 30ºC (LINDSEY; do que danos mecânicos. Ocasionalmente,
da planta. Os juvenis, a partir de J2, sofrem CAIRNS, 1971; OLOWE; CORBETT, 1976). é observada uma delicada hipertrofia da
três ecdises antes de tornarem-se adultos. Embora para muitas espécies de célula. A presença de pequenas lesões na
O segundo, terceiro e quarto estádios juve- Pratylenchus não se tenham dados sobre superfície da raiz planta pode ser observada
nis e os adultos (fêmeas) são infectivos e a influência de características físicas do com freqüência. A alteração das células é
penetram nas raízes, movimentando através solo, sabe-se que a textura dele está li- o resultado da reação às toxinas produzidas
ou entre as células do córtex, enquanto se gada ao desenvolvimento do nematóide. pelo nematóide (BROOKS; PERRY, 1967).
alimentam do conteúdo celular (NICKLE, Em P. zeae, verificou-se que a movimen- As reboleiras são características nas
1984). tação horizontal foi bem maior em solo pratilencoses de cultivos de milho, consis-
A reprodução em Pratylenchus pode arenoso do que em solo argiloso, quase tindo de conjunto de plantas que apresenta
ser realizada por anfimixia, partenogênese não havendo migração na ausência de sintomas reflexos na parte aérea em fun-
meiótica ou partenogênese mitótica, sendo raízes (ENDO, 1959). ção do parasitismo que acontece nas raízes.
aparentemente equivalentes os números de As plantas tornam-se pequenas (nanismo),
espécies anfimíticas e partenogenéticas Sintomas com ramos finos e folhas cloróticas ama-
(ROMAM; TRIANTAPHYLLOU, 1969; O gênero Pratylenchus, segundo Tiho- relecidas. A murcha pode ocorrer durante
LUC, 1987). hod (2000), causa nas raízes ferimentos, a estação seca e, com ataque severo, pode
Os machos de P. brachyurus são extrema- onde outros organismos patogênicos como acontecer a desfolha. Espigas pequenas e
mente raros, visto que as fêmeas reproduzem- bactérias e fungos, tornam-se oportunistas mal granadas podem também ser obser-
se por partenogênese mitótica. O período e penetram. Essa interação ocasiona a for- vadas.
necessário para completar uma geração mação de lesões que resultam na destruição
varia conforme a temperatura. Em baixas dos tecidos da raiz. Os sistemas radiculares Manejo de áreas contaminadas
temperaturas, o ciclo de vida é retardado parasitados mostram-se reduzidos, pouco por nematóides
em milho, quando comparado com o desen- volumosos e rasos. O milho é uma das culturas mais re-
volvimento em temperaturas mais altas Os juvenis e/ou adultos entram nas comendadas para a prática de rotação
(TIHOHOD, 2000). Uma geração completa- raízes e penetram através ou entre as célu- em áreas infestadas com Meloidogyne
se em quatro a oito semanas, em média, e o las do córtex, alimentando-se do conteú- javanica (Treub, 1885) Chitwood 1949, pela
desenvolvimento é parcial ou totalmente do celular, enquanto migram pelos tecidos. existência de muitos genótipos que não
no interior dos tecidos vegetais, particular- O parênquima cortical fica bastante desor- permitem a multiplicação do nematóide.
mente nos sistemas radiculares das plantas ganizado, devido à destruição de nume- No entanto, para P. brachyurus, P. zeae
hospedeiras. Assim, várias gerações po- rosas células durante a movimentação dos Graham 1951 e M. incognita já não há essa
dem ocorrer durante o ciclo vegetativo das espécimes (ação mecânica). Também, du- pronta disponibilidade.
culturas (JENKINS; TAYLOR, 1967). rante a alimentação, observa-se injeção de O conhecimento do fator de reprodu-
A temperatura juntamente com a espécie secreções esofagianas no interior das cé- ção (FR) das espécies de nematóides em
vegetal afeta efetivamente o desenvolvi- lulas (ação tóxica), as quais se degeneram genótipos de milho é importante. O FR é
mento e a reprodução do Pratylenchus e acabam morrendo pouco tempo depois calculado pela razão entre a população final
(OLOWE; CORBETT, 1976; ZIRAK- da retirada do nematóide. Com isso, ocorre do nematóide (colheita) e a população ini-
PARVAR et al., 1980). Freqüentemente a severa proliferação de raízes laterais em cial do nematóide (semeadura), e expressa
temperatura ótima para desenvolvimento milho (OGIGA; ESTEY, 1975; ZIRAK- se o genótipo é bom ou mau hospedeiro.
do nematóide está correlacionada com a PARVAR et al., 1980). As radicelas infes- Os híbridos e cultivares de milho utilizados
temperatura ótima requerida para um bom tadas por Pratylenchus freqüentemen- em plantios comerciais devem apresentar
crescimento da planta (OLOWE; CORBETT, te sofrem invasão por fungos e/ou bacté- FR menor que 1, se possível igual a zero ou

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 93

próximo de zero, ou seja, maus hospedei- A utilização de genótipos resistentes In: CONGRESSO BRASILEIRO DE NEMA-
ros. Deve haver pressão por parte dos seria a medida mais eficiente e econômi- TOLOGIA,14., 1990, Londrina. Resumos...
agricultores, para que as empresas de se- ca de controle desses nematóides. Porém, Londrina: Sociedade Brasileira de Nematologia,
mentes de milho forneçam as informações pouco se sabe sobre a resistência de espé- 1990. p.4.
de FR. Há uma variação de hospedabilida- cies vegetais ao nematóide-das-lesões.
DICKERSON, O.J.; DARLING, H.M.; GRIFFIN,
de dos vários genótipos testados e como Segundo Ferraz (1999), quanto ao con-
C.D. Pathogenicity and population trends of
esses materiais apresentam diferenciação trole de P. brachyurus e P. zeae nas culturas
Pratylenchus penetrans on potato and corn.
de uso regional, são muitos no mercado, e da cana-de-açúcar, do café e do milho, há
Phytopathology, Worcester, v.54, n.3, p.317-
as informações são escassas e nem sempre um número expressivo de trabalhos desen-
322, Mar. 1964.
atualizadas. volvidos no País. Contudo, muitos foram
Brito e Antônio (1989), trabalhando divulgados na forma de resumos e de publi- ENDO, B.Y. Responses of root-lesion nemato-
com diversos genótipos de milho, obser- cações de difícil acesso. Outro problema des, Pratylenchus brachyurus and P. zeae, to
varam que dos materiais testados, a maio- levantado foi que as estratégias avaliadas various plants and soil types. Phytopathology,
ria comportou-se como resistente ao ne- visam o controle não só do Pratylenchus, Baltimore, v.49, p.417-421, July 1959.
matóide M. javanica. Em outro trabalho, mas primariamente das espécies de
Manzotte (2002) constataram que, dos 56 Meloidogyne. FELLI, L.F.S.; MONTEIRO, A. R. Hospeda-
Outras medidas, como o alqueive que bilidade de variedades de milho, Zea mays, a
materiais, 24 mostraram-se resistentes a
Meloidogyne incognita raça 1. Nematologia
M. javanica. Por outro lado, Felli e Mon- consiste em arações sucessivas, arranquio
e eliminação de restos culturais, também Brasileira, Piracicaba, v.11. p.6-7, 1987.
teiro (1987), Manzotte (2002) e Medeiros et
al. (2001) avaliaram genótipos de milho são importantes no controle desses nema- FERRAZ, L.C.C.B. Gênero Pratylenchus: os ne-
quanto à reação de M. incognita e M. tóides (TIHOHOD, 2000). Entretanto, deve- matóides das lesões radiculares. Revisão Anual
javanica, e observaram suscetibilidade em se recorrer também a medidas de prevenção
de Patologia de Plantas, v.7, p.157-195,
todos os materiais estudados. para impedir ou limitar a contaminação de
1999.
Embora a resistência do milho a M. áreas não infestadas, principalmente com
javanica já tenha sido relatada, as reações relação ao trânsito de máquinas e imple- GOODEY, J.B.; FRANKLIN, M.T.; HOOPER,
de cultivares utilizadas no Nordeste e das mentos agrícolas. D.J.T. Goody’s: the nematode parasites of plant
linhagens selecionadas nos programas de catalogued under their horts. 3rd. ed. Farnham
melhoramento dirigidos àquela região não REFERÊNCIAS Royal: CAB, 1965. 138p.
são conhecidas. Um dos principais fatores
ANDREI, E. Compêndio de defensivos agrí- JENKINS, W.R.; TAYLOR, D.P. Plant nema-
responsáveis por essa falta de informação
colas. 6.ed. comp. de atual. São Paulo: Organi- tology. New York: Reinhold, 1967. 270p.
é que o parasitismo do nematóide-das-
zação Andrei, 2003. v.2, 302p.
galhas em milho nem sempre induz à for- LINDSEY, D.W.; CAIRNS, E.J. Pathogenicity of
mação de genótipos efetivamente resis- _______. Compêndio de defensivos agríco- the lesion nematode, Pratylenchus brachyurus,
tentes (MEDEIROS et al., 2001). las: guia prático de produtos fitossanitários para on six soybean cultivars. Journal of Nemato-
Carbofuran é o ingrediente ativo dos uso agrícola. 6.ed. rev. e atual. São Paulo: Orga- logy, v.3, p.220-226, 1971.
nematicidas recomendados para a cultura nização Andrei, 1999. 672p.
LORDELLO, A.I.L.; LORDELLO, R.R.A.;
do milho no controle de Pratylenchus zeae
BRITO, J.A. de; ANTÔNIO, H. Resistência de SAWAZAKI, E. Susceptibilidade de genótipos de
(ANDREI, 1999, 2003). Acréscimos de 33%
genótipos de milho a Meloidogyne javanica. milho às raças de Meloidogyne incognita.
a 128% na produção podem ser obtidos
Nematologia Brasileira, Piracicaba, v.13, Nematologia Brasileira, Piracicaba, v.10, p.21-
após a aplicação de nematicidas.
p.129-137, 1989. 22, 1986a.
Entre as alternativas, o uso da rota-
ção de cultura com plantas do gênero BROOKS, T. L.; PERRY, V.G. Pathogenicity LORDELLO, R.R.A.; LORDELLO, A.I.L.;
Crotalaria é uma eficiente medida de of Pratylenchus brachyurus to citrus. Plant SAWAZALI, E.; TREVISAN, W.L. Nematóide
controle. Considerando-se que no Brasil Disease Report, Beltsville, v.51, p.569-573, das galhas danifica lavoura de milho em Goiás.
poucas pesquisas têm sido feitas sobre a 1967. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v.10,
utilização de Crotalaria no controle de espé- p.145-149, 1986b.
cies de Pratylenchus, estudos mostram CARNEIRO, R. G.; ANTÔNIO, H.; BRITO, J.A.;
que a maioria das espécies de Crotalaria ALTÉIA, A.A.K. Identificação de espécies e raças LUC, M. A reappraisal of Tylenchida (Ne-
apresentam acentuada resistência a P. fisiológicas de Meloidogyne na região Noroeste mata) – 7: the family Pratylenchidae Thorne.
brachyurus e P. zeae (SILVA et al., 1989). do estado do Paraná: resultados preliminares. Review Nematology, v.10, p.203-218, 1987.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


94 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

MANUEL, J.S.; REYNOLDS, D.A.; BENDIXEN, NICKLE, W. R. Plant and insect nematodes. Pratylenchus. Journal of Nematology, v.1,
L.E.; RIEDEL, R.M. Weeds as hosts of Pratylenchus. New York: Marcel Dekker, 1984. 985p. p.357-362, 1969.
Agricultural Research Development Center
OGIGA, I.R.; ESTEY, R.H. Penetration and colo- SILVA, G. S. da; FERRAZ, S.; SANTOS, J. M.
Bulletin, p.1123,1980.
nization of Brassica rapa and Zea mays root dos. Resistência de espécies de Crotalaria a
MANZOTTE, U.; DIAS, W.P.; MENDES, M. de lesions by Pratylenchus penetrans. Phyto- Pratylenchus brachyurus e P. zeae. Nemato-
L.; SILVA, J.F.V. da; GOMES, J. Reação de híbri- protection, v.56, p.23-30, 1975. logia Brasileira, Piracicaba, v.13, p. 81-86,
dos de milho a Meloidogyne javanica. Nema- 1989.
tologia Brasileira, Brasília, v.26, n.1, p.105- OLOWE, T. Histological changes in mays root

108, jun. 2002. induced by Pratylenchus brachyurus and P. zeae THORNE, G. Principles of nematology. New
in the absence of other micro-organisms. Nige- York: McGraw-Hill, 1961. 553p.
MEDEIROS, J.E.; SILVA, P.H.; BIONDI, C.
ria Journal of Plant Protection, v.3, p.41-51,
M.; MOURA, R.M.; PEDROSA, E.M.R. Rea- TIHOHOD, D. Nematologia agrícola aplica-
1977.
ção de genótipos de milho ao parasitismo de da. Jaboticabal: FUNEP, 2000. 473p.
Meloidogyne javanica. Nematologia Bra- _______; CORBETT, D.C.M. Aspects of the bio-
ZIRAKPARVAR, M.E.; NORTON, D.C.; COX,
sileira, Brasília, v.25, n.2, p.243-245, dez. 2001. logy of Pratylenchus brachyurus and P. zeae.
C.P. Population increase of Pratylenchus hexincisus
Nematologica, v.22, p.202-211, 1976.
MERZHEEVSKAYA, O.I. New species of ne- on corn as related to soil temperature and type.
matodes. Sbornik Nauchnykh Trudov., v.2, ROMAN, J.; TRIANTAPHYLLOU, A.C. Ga- Journal of Nematology, v.12, p.313-318,
p.112-120, 1951. metogenesis and reproduction of seven species of 1980.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.82-94, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 95

Aspectos de produção e mercado do milho


Marcos Joaquim Mattoso 1
João Carlos Garcia 2
Jason de Oliveira Duarte 3
José Carlos Cruz 4

Resumo - O milho é insumo para produção de centenas de produtos, porém na cadeia


produtiva de suínos e aves são consumidos aproximadamente 70% do milho produzido
no mundo. Para melhor abordagem do mercado do milho, é importante a visão dos
panoramas mundial e nacional da produção e consumo das carnes de suíno e de frango,
e de como o Brasil se posiciona neste contexto. Destacam-se assim, as principais utiliza-
ções do milho como insumo para outros sistemas produtivos e os coeficientes técnicos de
sistemas de produção comerciais de milho.
Palavras-chave: Zea mays. Economia. Sistema de produção. Consumo. Custo de produção.
Coeficiente técnico.

INTRODUÇÃO possível o melhor entendimento das pos- cado, os custos de transporte afetam muito
O desenvolvimento da produção e do sibilidades futuras do milho no Brasil. a remuneração da produção obtida em
mercado do milho deve ser analisado, pre- regiões distantes dos pontos de consumo,
PANORAMA INTERNACIONAL
ferencialmente, sob a ótica das cadeias pro- reduzindo o interesse no deslocamento da
dutivas ou dos sistemas agroindustriais Produção de milho produção a maiores distâncias, ou em con-
(SAG). O milho é insumo para produção de Os maiores produtores mundiais de mi- dições que a logística de transporte é des-
centenas de produtos, porém na cadeia pro- lho são os Estados Unidos, China e Brasil, favorável.
dutiva de suínos e aves são consumidos, que, em 2005, produziram: 280,2; 131,1; e O mercado mundial de milho é abaste-
aproximadamente, 70% do milho produzi- 35,9 milhões de toneladas, respectivamen- cido basicamente por três países, os Esta-
do no mundo e entre 70% e 80% do milho te (Quadro 1). dos Unidos (46 milhões de toneladas de
produzido no Brasil. Assim, para melhor De uma produção total, no ano de 2005 exportações, em 2005), a Argentina (14 mi-
abordagem do que está ocorrendo no mer- de, aproximadamente, 708 milhões de to- lhões de toneladas, em 2005) e a África do
cado do milho torna-se importante, além neladas (USDA, 2006), cerca de 75 milhões Sul (2,3 milhões de toneladas, em 2005).
da análise de dados relativos ao produto são comercializados internacionalmente A principal vantagem desses países é ter
milho per si, também uma visão, ainda que (em torno de 10% da produção total, em logística favorável, que pode ser decor-
superficial, dos panoramas mundial e na- 2005, com expectativa de 11,5%, em 2006). rente da excelente estrutura de transporte
cional da produção e consumo das carnes Isto indica que o milho destina-se, princi- (caso dos EUA), proximidade dos portos
de suíno e de frango e de como o Brasil se palmente, ao consumo interno. Deve-se (caso da Argentina) ou dos compradores
posiciona neste contexto, para que seja ressaltar que, dado seu baixo preço de mer- (caso da África do Sul). O Brasil, eventual-

Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: mattoso@cnpms.
1

embrapa.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: garcia@cnpms.embrapa.br
Economista, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: jason@cnpms.
3

embrapa.br
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: zecarlos@cnpms.
4

embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


96 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 1 - Principais países produtores de milho – 2001-2005 tir do milho, nos Estados Unidos, o que
Produção pode incrementar o consumo interno desse
(1.000 t) cereal e reduzir as quantidades disponíveis
País para exportação, no país que é responsável
Ano
por mais de 50% da quantidade comercia-
2001 2002 2003 2004 2005 lizada internacionalmente.

Estados Unidos 241.485 228.805 256.905 299.917 280.228 Suínos e aves


China 114.254 121.497 115.998 130.434 131.145 As principais utilizações do milho no
Brasil 41.955 35.933 48.327 41.806 34.860 mundo são as atividades de criação de aves
México 20.134 19.299 19.652 22.000 20.500 e suínos. Existem previsões de que a de-
Argentina 15.365 15.000 15.040 15.000 19.500 manda mundial de carnes continue cres-
cendo e estimativas apontam consumo
Índia 13.160 10.300 14.720 14.000 14.500
superior a 110 milhões de toneladas de car-
França 16.408 16.440 11.991 16.391 13.226
ne suína e quase 70 milhões de toneladas
Indonésia 9.347 9.654 10.886 11.225 12.014 de carne de frango, até o ano de 2015.
África do Sul 7.772 10.076 9.705 9.965 11.996 A China é o país que mais produz e
Itália 10.554 10.554 8.702 11.375 10.622 consome carne suína: aproximadamente
FONTE: FAO (2006). 50 milhões de toneladas. O segundo lugar
é ocupado pelos Estados Unidos, com cer-
ca de 9,5 milhões de toneladas. O Brasil
mente, participa desse mercado, porém, a em curto período. Essa situação abrirá mer- é o quinto produtor mundial (Quadro 2).
instabilidade cambial e a deficiência da cado de cerca de 8 ou 9 milhões de tone- O consumo per capita registrado no Brasil,
estrutura de transporte até aos portos tem ladas adquiridas anualmente por países de 12 kg ha-1 ano-1, ainda é baixo, quando
prejudicado o País na busca de presença asiáticos que tradicionalmente compravam comparado com o observado na China, Esta-
mais constante no comércio internacional da China. dos Unidos e União Européia, que é de
de milho. Para finalizar, está ocorrendo processo 30, 28 e 42 kg ha-1 ano-1, respectivamente.
Os principais consumidores são o Japão de incremento de produção de etanol a par- O crescimento verificado na China, nos
(16,5 milhões de toneladas, em 2005), Coréia
do Sul (8,5 milhões de toneladas, em 2005),
QUADRO 2 - Principais países produtores de carne suína – 2001-2005
México (6,0 milhões de toneladas, em 2005)
e Egito (5,2 milhões de toneladas, em 2005). Produção
(1.000 t)
Outros importadores relevantes são os paí-
ses do Sudeste da Ásia (2,9 milhões de País Ano
toneladas, em 2005) e a Comunidade Euro-
péia (2,5 milhões de toneladas, em 2005). 2001 2002 2003 2004 2005
Nesses dois últimos casos, além das impor- China 42.982 44.358 46.233 48.118 50.095
tações ocorre grande montante de trocas Estados Unidos 8.691 8.929 9.056 9.312 9.402
entre os países que compõem cada um des-
Alemanha 4.074 4.110 4.239 4.323 4.505
ses blocos.
Espanha 2.989 3.070 3.190 3.176 3.310
Um fato importante a destacar é que
a China vem gradativamente diminuindo Brasil 2.637 2.798 3.059 3.110 3.110

seus estoques (formados em grande parte França 2.315 2.346 2.339 2.293 2.257
como política derivada da Guerra Fria), por Vietnã 1.515 1.654 1.795 2.012 2.100
meio de agressiva política de exportação. Canadá 1.731 1.858 1.882 1.936 1.960
Como a produção chinesa não tem sido su- Polônia 1.849 2.023 2.209 1.956 1.923
ficiente para atender à demanda crescente,
Dinamarca 1.716 1.759 1.762 1.810 1.800
a China deverá, em primeira fase reduzir as
exportações e, em segunda fase, passar de Total mundial 92.082 95.249 98.473 100.484 102.523
exportadora a importadora líquida de milho, FONTE: FAO (2006).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 97

últimos anos, é impressionante, pois foi QUADRO 3 - Principais países produtores de carne de aves – 2001-2005
incorporada à produção quantidade quase Produção
equivalente ao total de carne suína produ- (1.000 t)
zida nos Estados Unidos. Com certeza esse País Ano
crescimento está exercendo forte pressão
sobre a quantidade demandada de milho 2001 2002 2003 2004 2005
para alimentação do rebanho suíno.
Estados Unidos 14.267 14.701 14.924 15.514 16.026
O custo de produção de carne suína na
China (US$ 1,32 kg-1 vivo) é mais que o do- China 9.070 9.275 9.660 9.895 10.149
bro do verificado no Brasil (US$ 0,62 kg-1 Brasil 6.208 7.050 7.760 8.668 8.668
vivo) e maior que os observados na União México 1.928 2.076 2.116 2.225 2.225
Européia (US$ 1,10 kg-1 vivo) e Estados Índia 1.250 1.400 1.600 1.650 1.900
Unidos (US$0,77 kg-1 vivo) (ROPPA, 2005). Espanha 1.009 1.191 1.185 1.268 1.320
Além disso, o número de animais por km2,
Reino Unido 1.263 1.272 1.295 1.288 1.309
que é de 50,6 na China; 36,8 na União Euro-
Indonésia 900 1.083 1.118 1.191 1.245
péia e 10,2 nos Estados Unidos, é substan-
Japão 1.216 1.229 1.239 1.242 1.240
cialmente maior que os 4,5 animais por km2
no Brasil. A alta densidade populacional Federação Russa 862 938 1.030 1.152 1.130
de suínos traz sérias implicações ambien- Total mundial 61.523 64.262 65.874 68.322 69.892
tais, derivadas dos efeitos nocivos causados
FONTE: FAO (2006).
pela disposição dos dejetos dos animais
no meio ambiente, e já afeta as decisões
sobre a localização de novos empreendi- QUADRO 4 - Produção brasileira de milho
mentos voltados para a criação de suínos.
Ano
Deve-se registrar que, mesmo no Brasil,
Safra
estas considerações crescem de importân- 2001 2002 2003 2004 2005
cia e têm direcionado a produção para áreas
com menor concentração de animais e Produção (1.000 t)

menor impacto ambiental da disposição dos Total 42.290 35.267 47.411 42.192 39.040
resíduos, localizadas principalmente na 1a safra 35.833 29.086 34.614 31.617 29.319
região Centro-Oeste. 2a safra 6.457 6.181 12.797 10.574 9.721
Com relação à produção de carne de
Área plantada (1.000 ha)
frango, os Estados Unidos, com aproxima-
Total 12.973 12.298 13.226 12.822 12.297
damente 16 milhões de toneladas, são os
a
maiores produtores mundiais, seguidos pe- 1 safra 10.546 9.413 9.664 9.465 9.195

la China e Brasil (Quadro 3). A produção 2a safra 2.426 2.885 3.563 3.357 3.102
mundial é crescente, porém o crescimento Rendimento (kg ha-1)
distribui-se de maneira mais uniforme entre
Total 3.260 2.868 3.585 3.291 3.175
os principais produtores. a
1 safra 3.398 3.090 3.582 3.340 3.189
PANORAMA NACIONAL a
2 safra 2.661 2.142 3.592 3.150 3.134

Produção de milho FONTE: CONAB (2006).


A produção de milho no Brasil tem-se
caracterizado pela divisão da produção em Nordeste esse período ocorre no início do na Região Centro-Oeste e nos estados do
duas épocas de plantio (Quadro 4). Os plan- ano). Mais recentemente, tem aumentado Paraná e São Paulo. Verifica-se decréscimo
tios de verão, ou primeira safra, são realiza- a produção obtida na chamada safrinha, na área plantada no período da primeira
dos na época tradicional, durante o período ou segunda safra. A safrinha refere-se ao safra, decorrente da concorrência com a
chuvoso, que varia entre fins de agosto, milho de sequeiro, plantado extemporanea- soja, o que tem sido parcialmente compen-
na Região Sul, até os meses de outubro/ mente, em fevereiro ou março, quase sem- sado pelo aumento dos plantios na safrinha.
novembro, no Sudeste e Centro-Oeste (no pre depois da soja precoce, com predomínio Embora realizados em condição desfavo-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


98 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

rável de clima, esses plantios vêm sendo QUADRO 5 - Produção de milho 1a safra. Centro-Sul, Brasil (1.000 t)
conduzidos dentro de sistemas de produ-
Ano
ção, gradativamente adaptados a estas con- Região
dições, o que tem contribuído para elevar 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005
os rendimentos das lavouras.
Centro-Oeste 5.733 3.884 4.088 3.852 3.308
A baixa produtividade média de milho
no Brasil (3.175 kg ha-1) não reflete o bom MT 891 680 772 678 532

nível tecnológico já alcançado por boa par- MS 1.204 638 681 539 441
te dos produtores voltados para lavouras GO 3.517 2.435 2.483 2.476 2.165
comerciais, uma vez que as médias são obti- DF 120 131 153 159 169
das nas mais diferentes regiões, em lavou-
ras com diferentes sistemas de cultivos e Sudeste 7.687 8.165 8.865 9.515 9.466
finalidades. MG 4.153 4.657 5.208 5.903 6.068
O milho é cultivado em praticamente ES 129 138 145 125 119
todo o território, sendo que 90% da produ-
RJ 28 27 22 24 26
ção concentra-se nas Regiões Sul (43%),
SP 3.376 3.344 3.490 3.463 3.251
Sudeste (25%) e Centro-Oeste (22%). A par-
ticipação dessas regiões em área plantada Sul 19.630 14.391 17.658 14.363 10.926
e produção vem-se alterando ao longo dos
PR 9.446 7.380 8.140 7.523 6.537
anos.
SC 3.947 3.106 4.235 3.340 2.818
A evolução da produção de milho 1a
safra e 2a safra, nas principais regiões pro- RS 6.237 3.906 5.283 3.500 1.571
dutoras e respectivos Estados, é mostrada Centro-Sul 33.049 26.441 30.611 27.730 23.701
nos Quadros 5 e 6.
Nota-se que a produção obtida na pri- Brasil 35.833 29.086 34.614 31.617 27.272
meira safra (com exceção do ano da safra FONTE: CONAB (2006).
2004/2005, afetada por problemas climáti-
cos) manteve-se relativamente estável, em
QUADRO 6 - Produção de milho na 2a safra – Brasil (1.000 t)
que pese a redução da área plantada (e mes-
mo o deslocamento das melhores áreas e Ano
dos agricultores comerciais para a cultura Região
da soja). Esse equilíbrio foi conseguido pelo 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005
incremento da produtividade agrícola nos Nordeste 121 265 254 219 219
principais Estados produtores, nos quais, BA 121 265 254 219 219
a produtividade média na safra de verão
(1a safra) já é superior a 4.500 kg ha-1. A pro- Centro-Oeste 2.502 3.204 5.843 5.503 4.603
dutividade na safrinha (2a safra), embora MT 953 1.519 2.456 2.768 2.938
menor que a da safra normal, tem mostrado MS 970 708 2.359 1.814 998
tendência de crescimento, demonstrando GO 563 959 1.002 896 636
a maior difusão de tecnologias de produção DF 16 17 27 24 30
nessa época de plantio, apesar das restri-
ções climáticas. Sudeste 905 729 1.183 1.134 836
MG 75 131 120 98 104
Suínos e aves
SP 831 598 1.063 1.036 732
Diferente do que acontece no mundo,
onde a carne suína é a mais consumida, no Sul 2.929 1.983 5.517 3.669 1.806
Brasil consome-se a de frango, seguida das PR 2.929 1.983 5.517 3.669 1.806
carnes bovina e suína. O Quadro 7 mostra
Centro-Sul 6.336 5.916 12.543 10.306 7.246
a evolução da produção de carnes no Brasil
(os dados diferem daqueles dos Quadros 2 Brasil 6.457 6.181 12.797 10.574 7.704
e 3, devido à diferença de fontes). FONTE: CONAB (2006).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 99

QUADRO 7 - Evolução da produção de carnes 2005, representando acréscimo de 8% em QUADRO 9 - Consumo de milho por segmento
no Brasil (1.000 t) relação ao ano anterior (Quadro 9). Para (milhões de t)
2015, estima-se que para atender, primor-
Ano Ave Suíno Bovino Ano
dialmente, ao segmento de ração animal, a
1997 3.891,2 1.010,4 3.334,9 produção brasileira de milho terá que ser Carne Variação
2004 2005
de, aproximadamente, 55 milhões de tone- 2005/2004
1998 4.196,0 1.119,1 3.397,9
(%)
1999 4.681,3 1.237,8 3.806,7 ladas.
Frango 13,70 14,60 7
Outro aspecto relevante que deve ser
2000 5.082,0 1.348,5 3.899,8
destacado é a localização das unidades Ovo 2,20 2,30 5
2001 5.566,7 1.588,1 4.330,3
industriais de suínos e aves. A Região Sul Suíno 7,60 8,40 11
2002 6.068,9 1.881,1 4.699,6 ainda concentra a maioria da produção e Bovino 1,05 1,21 15
2003 6.226,4 1.917,5 4.977,2 vem apresentando crescimento dessa ati-
Outros 1,45 1,49 3
2004 7.060,0 1.867,6 5.922,3 vidade. Mais recentemente, a produção de
suínos e de frangos na Região Centro- Ração 26,00 28,00 8
FONTE: IBGE (2006).
Oeste vem mostrando forte expansão, vin- FONTE: Sindirações (2006).
culada à crescente produção de soja e milho
No que se refere à carne de frango, este nessa região. Essa tendência é plenamente do milho pode ser encontrado no Qua-
é o segmento do setor de proteínas animais justificável em razão do peso que represen- dro 10. Nas seções seguintes, as principais
que mais cresce no País, e é impulsionado ta o milho e a soja no custo final da ração, transformações necessárias para os consu-
pelas exportações. Do total produzido em tanto para aves, quanto para suínos. Além mos animal e humano serão exploradas.
2004, cerca de 71% destinaram-se ao merca- disso, o custo de transporte, especialmente
do interno e 29% foram exportados. O Brasil no Brasil, onde são precárias as condições Consumo humano
é o maior exportador mundial de carne de de infra-estrutura, onera muito o preço do Mesmo para o consumo humano, o mi-
frango e exportou, em 2004, para 136 dife- milho, quando transportado a longas dis- lho necessita de alguma transformação.
rentes países e os maiores importadores tâncias, refletindo na elevação do custo da À exceção, quando os grãos estão em esta-
de frango brasileiro foram: Oriente Médio, ração. Assim, há tendência de consumir o do leitoso, ou “verde”. Os grãos secos não
Ásia e União Européia. milho o mais próximo possível das áreas de podem ser consumidos diretamente pelo
Mais recentemente, verifica-se forte produção. ser humano.
incremento das exportações de carnes bo- O milho pode ser industrializado atra-
vinas. A evolução das exportações brasi- MERCADO DO MILHO
vés dos processos de moagem úmida e
leiras de carnes está no Quadro 8. As expor- O milho caracteriza-se por destinar-se seca. Este último é o mais utilizado no Brasil.
tações de bovinos e aves foram as que mais tanto para o consumo humano como para Desse processo resultam subprodutos co-
cresceram. a alimentação de animais. Em ambos os mo a farinha de milho, o fubá, a quirera,
Para atender à crescente demanda por casos, algum tipo de transformação, indus- farelos, óleo e farinha integral desengor-
ração animal, estima-se que serão consumi- trial ou na própria fazenda, pode ser neces- durada, envolvendo escalas menores de
das 42 milhões de toneladas de milho, em sário. O resumo de possíveis utilizações produção e menor investimento industrial.
O processamento industrial do milho ren-
QUADRO 8 - Evolução das exportações brasileiras de carnes (toneladas) de, em média, 5% do seu peso na forma de
óleo. Através do processo de moagem úmi-
Ano
Tipo da, o principal subproduto obtido é o ami-
2000 2001 2002 2003 2004 do, cujo nome do produto foi praticamente
substituído pela designação comercial de
Carne suína in natura 116.006 247.369 449.202 458.031 470.969
Maizena.
Carne peru in natura 42.487 67.952 89.151 110.446 134.338 Em Minas Gerais, bem como no Brasil,
Carne frango industrializada 9.349 16.599 24.963 37.730 45.177 a moagem seca é o processo mais utilizado.
Carne frango in natura 906.746 1.249.288 1.599.924 1.922.046 2.424.513
Devido à pequena necessidade de maqui-
naria e também à simplicidade desta, as
Carne bovina industrializada 132.242 132.636 160.480 180.406 231.696
indústrias processadoras de milho por esse
Carne bovina in natura 188.657 368.286 430.272 620.118 925.071 processo estão espalhadas pelo Estado,
FONTE: MDIC-SECEX (2006). sendo geralmente de pequeno porte e qua-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006
100 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 10 - Múltiplos usos do milho (planta, espiga e grão) no Brasil se que totalmente dedicadas ao processa-
mento para consumo local. A tendência
Destinação Forma/Produto final
recente está na concentração destes pro-
Uso animal direto Silagem; rolão; grão (inteiro/desintegrado) para dutos em indústrias de maior porte, que
ave, suíno e bovino. têm sido instaladas em Minas Gerais. Como
a maioria dessas indústrias é de pequena
Uso humano direto de preparo caseiro Espiga assada ou cozida; pamonha; curau; pipo-
dimensão e voltada para o abastecimento
ca; pão; bolo; broa; cuscuz; polenta; angu; sopa;
local, a proximidade do mercado é mais
farofa.
importante do que a localização das fontes
Indústria de rações Ração para ave (corte e postura); outras aves; de produção de milho.
suíno; bovino (corte e leite); outros mamíferos. Além dos produtos derivados da moa-
gem seca, vários produtos industriais fo-
Indústria de alimentos (produtos finais) Amido; fubá; farinha comum; farinha pré-cozida; ram acrescentados dentre os destinados
flocada; canjica; óleo; creme; pipoca; glicose; dex- ao consumo humano. Os de maior impor-
trose. tância são o amido, derivado da moagem
Intermediários Canjica; sêmola; semolina; moído; granulado; fa- úmida, e o óleo de milho. Devido à complexi-
relo de germe. dade de seu processamento e à necessida-
de de capital envolvido, estes produtos são
Xarope de glucose Bala dura; bala mastigável; goma de mascar; doce oriundos de empresas de grande porte.
em pasta; salsicha; salame; mortadela; hambúr- Em Minas Gerais, a produção de óleo
guer; outras carnes processadas; fruta cristalizada; está concentrada na região do Triângulo,
compotas; biscoito; xarope; sorvete; para poli- onde se encontra instalado o maior parque
mento de arroz. agroindustrial, processador de milho e soja
do Estado e um dos mais modernos do País.
Xarope de glucose com alto teor de maltose Cerveja.
A produção de derivados mais nobres, co-
Corantes caramelo Refrigerante; cerveja; bebida alcoólica; molho. mo a glicose e o amido, ocorre na região do
Triângulo (Uberlândia).
Maltodextrinas Aroma e essência; sopa desidratada; pó para sor- Mais recentemente, tem aumentado a
vete; complexo vitamínico; produto achocola- produção do milho especificamente desti-
tado. nado ao enlatamento. Esta indústria tem
Amidos alimentícios Biscoito; melhorador de farinha; pão; pó para
evoluído em termos de qualidade, pois mais
pudim; fermento em pó; macarrão; produto far-
recentemente, com a disponibilidade de no-
macêutico; bala de goma.
vos materiais adaptados ao País, passou-
se a processar o milho do tipo doce. Existe
Amidos industriais Para papel; papelão ondulado; adesivo; fita go- um movimento para transferência dessa
mada; briquete de carvão; engomagem de tecido; indústria, anteriormente localizada, princi-
beneficiamento de minério. palmente, no extremo sul do Brasil, para as
regiões do Triângulo e do Alto Paranaíba,
Dextrinas Adesivo; tubo e tubete; barrica de fibra; lixa; abra-
onde, com as novas cultivares, é possível
sivo; saco de papel; multifolhado; estampagem
a produção durante todo o ano, aproveitan-
de tecido; cartonagem; beneficiamento de mi-
do a infra-estrutura de irrigação existente.
nérios.
Consumo animal
Pré-gelatinizados Fundição de peças de metal.
Neste ponto, a cadeia produtiva do mi-
Adesivos Rotulagem de garrafa e de lata; saco; tubo e tubete; lho passa a se inserir na cadeia produtiva
fechamento de caixa de papelão; colagem de papel; do leite, dos ovos e da carne bovina, suí-
madeira e tecido. na e de aves, sendo esse o canal por onde
os estímulos do mercado são transmitidos
Ingredientes protéicos Rações para bovino; suíno; ave e cão.
aos agricultores. Mudanças nessas cadeias
FONTE: Jornal Agroceres (1994). passam a ser de vital importância como

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 101

incentivadoras do processo produtivo do zação na própria fazenda. O milho des- Produtor comercial de grãos
milho. Três grandes derivações ocorrem tinado ao consumo humano – principal- Normalmente produzem milho e soja em
neste item: mente na forma de fubá, farinha ou can- rotação, podendo também envolver outras
jica – tem menor quantitativo, diante do culturas. São especializados na produção
a) a produção de silagem, para alimen-
destinado à alimentação de pequenos ani- de grãos e têm por objetivo comercializar a
tação de vacas em produção de leite
mais, geralmente aves e suínos. produção. Plantam lavouras maiores. Utili-
e, mais recentemente, de gado con-
Embora esse estádio da cadeia do milho zam a melhor tecnologia disponível, predo-
finado para engorda no período de
possa gerar eventualmente algum exce- minando o sistema plantio direto (SPD). São
inverno;
dente para comercialização fora da pro- os grandes responsáveis pelo abasteci-
b) a industrialização do grão de milho priedade agrícola, sua importância no que mento do mercado.
em ração; diz respeito ao abastecimento urbano é hoje
muito reduzida. O aumento na eficiência dos Produtor de grãos e pecuária
c) o emprego do grão em mistura com
concentrados protéicos para a ali- sistemas alternativos de produção de aves Neste caso, o agricultor usa nível médio
mentação de suínos e de aves. e suínos, as próprias características dos de tecnologia, por lhe parecer o mais ade-
produtos demandados pelos consumidores quado, em termos de custo de produção.
A atividade de produção de milho para urbanos e as quantidades necessárias para É comum o plantio de milho, para renova-
silagem tem sofrido forte influência, tanto atingir escalas mínimas que compensem o ção de pastagens. A região, muitas vezes,
na necessidade de modernização do setor transporte para as regiões consumidoras não produz soja e o milho é a principal
de pecuária leiteira de Minas Gerais, como reduziu, e muito, sua capacidade de compe- cultura. As lavouras são de tamanho mé-
no incremento das atividades de confina- tição. Sua importância hoje é muito maior dio a pequeno. A capacidade gerencial
mento bovino que ocorreram nos últimos na subsistência dessas populações rurais não é tão boa e muitas vezes as operações
anos. do que como fator de geração de renda ca- agrícolas não são realizadas no momento
No caso da industrialização do grão de paz de promover melhorias substanciais oportuno, com o insumo adequado ou na
milho em ração, o processo de transforma- em seu padrão de vida. O desafio que se quantidade adequada. A qualidade das má-
ção resulta no fornecimento de rações pron- defronta neste elo da cadeia seria a trans- quinas e dos equipamentos agrícolas pode
tas, principalmente utilizadas na criação de formação da capacidade desses agricul- também comprometer o rendimento do
animais de estimação, como cães, gatos, tores em se integrarem em cadeias de pro- milho.
etc. cessamento de milho mais modernas e Recentemente, estão implementando a
Na criação de suínos, devido à quanti- competitivas, sem o que sua situação de recuperação de pastagens degradadas, que
dade relativamente grande de milho neces- marginalidade diante do processo de de- atingem, praticamente, 50 milhões de
sária, este normalmente é adquirido em senvolvimento do País não será modifi- hectares. À medida que avance o programa
grão, ou parcialmente produzido pelos cria- cada. de recuperação, deverá haver aumento na
dores para mistura com concentrados na oferta de milho, uma vez que o sistema de
propriedade rural. CUSTO DE PRODUÇÃO integração lavoura-pecuária, utilizando mi-
Todas essas três derivações têm-se de- lho, tem-se mostrado o mais apropriado
senvolvido consideravelmente em Minas Sistema de produção para esse fim.
Gerais, com a criação de pólos regionais de de milho
consumo de milho, que não necessariamen- Há grande diversidade nas condições Pequeno produtor
te estão próximos aos locais de produção de cultivo do milho no Brasil. Observa-se É aquele produtor de subsistência, em
(caso da avicultura na região de Pará de desde a agricultura tipicamente de subsis- que a maior parte da produção é consumida
Minas e de suinocultura em Ponte Nova). tência, sem utilização de insumos modernos na propriedade. O nível tecnológico é bai-
Ao contrário da industrialização de milho (produção voltada para consumo na pro- xo, inclusive envolvendo o uso de semente
para o consumo humano, este setor apre- priedade e eventual excedente comerciali- não melhorada. O tamanho da lavoura é
senta grande dinamismo, com incremento zado), até lavouras que utilizam o mais alto pequeno. Essa produção tem perdido impor-
do número de indústrias processadoras. nível tecnológico, alcançando produtivi- tância, no que se refere ao abastecimento
dades equivalentes às obtidas em países do mercado.
Processamento na fazenda de agricultura mais avançada. Indepen-
Uma parcela importante do milho pro- dente da região, os seguintes sistemas de Produção de milho safrinha
duzido no Estado destina-se ao consumo produção de milho são bastante eviden- Este tipo de exploração ocupa hoje cer-
ou transformações em produtos para utili- tes. ca de três milhões de hectares de milho

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


102 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

plantados principalmente nos estados oferta tem sido importante para a regula- nológico único que atenda a todos os siste-
PR, SP, MT, MS e GO. O milho é semeado rização do mercado. mas de produção utilizados e que se adapte
extemporaneamente, após a soja precoce. a todas as situações inerentes a cada lavou-
O rendimento e o nível tecnológico depen- Coeficiente técnico ra. Entretanto, especificamente com relação
dem muito da época de plantio. Nos plan- Dos sistemas de produção identifica- aos produtores enquadrados no sistema
tios mais cedo, o sistema de produção é, às dos, o que mais prontamente assimila às citado, é possível, com razoável precisão,
vezes, igual ao utilizado na safra normal. tecnologias disponíveis na busca de com- identificar um padrão tecnológico que se
Nos plantios tardios, o agricultor reduz o petitividade diz respeito ao “produtor co- apresenta como o mais adequado para essas
nível tecnológico em função do maior ris- mercial de grãos”. Para esse sistema, tem- lavouras.
co da cultura, devido, principalmente, às se observado grande homogeneização do Os coeficientes técnicos foram elabo-
condições climáticas (frio excessivo, geada padrão tecnológico empregado pelos pro- rados para as três situações predominan-
e deficiência hídrica). A redução do nível dutores na condução das lavouras de mi- tes nas lavouras comerciais, quais sejam:
tecnológico refere-se, basicamente, à se- lho, variando pouco entre as principais safra normal, usando SPD (Quadro 11): sa-
mente utilizada e redução nas quantidades regiões produtoras. fra normal, usando plantio convencional
de adubos e defensivos aplicados. Essa Evidentemente não existe padrão tec- (Quadro 12); safrinha (Quadro 13).

QUADRO 11 - Coeficientes técnicos de produção para 1 ha de milho (plantio direto: produtividade 7.000 kg ha-1) (continua)

Quantidade
Descrição Especificação Unidade
utilizada

Preparo do solo
Calcário – t 0,7
Gesso – t 0,4
Distribuição do calcário Trator 85 hp + calcariador h/m 0,125
Dessecação – herbicida Glifosato L 3
Distribuição de herbicida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L h/m 0,3
Mão-de-obra – distribuição de herbicida – d/H 0,25

Plantio
Semente Híbrido simples ou triplo saco de 20 kg 1
Tratamento de semente
Fungicida – L 0,02
Inseticida – L 0,4
Adubação 8-28-16 + FTE kg 300
Plantio – adubação mecânica Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira com 12 linhas h/m 0,8
Transporte interno para plantio Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3

Trato cultural
Adubação de cobertura Uréia kg 200
Aplicação de adubação de cobertura Trator 85 hp + distribuidor de adubo com 5 linhas h/m 0,6

Herbicida – pós-emergência
Herbicida 1 – L 2,5
Herbicida 2 – L 0,8

Aplicação de herbicida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (1X) h/m 0,3

Controle de praga
Inseticida 1 Piretróide L 0,3
Inseticida 2 Fisiológico L 0,6

Espalhante adesivo Óleo mineral L 1


Aplicação de inseticida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X) h/m 0,6

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 103

(conclusão)

Quantidade
Descrição Especificação Unidade
utilizada

Trato cultural
Controle de formiga
Formicida Isca kg 0,6

Colheita
Colheita mecânica Colheitadeira plataforma 4m h/m 0,85
Transporte interno Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3

NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem; FTE – Fritted trace elements.

QUADRO 12 - Coeficientes técnicos de produção para 1 ha de milho (plantio convencional: produtividade 7.000 kg ha-1)
Quantidade
Descrição Especificação Unidade
utilizada
Preparo do solo
Calcário – t 0,7
Gesso – t 0,4
Distribuição do calcário – h/m 0,125
Gradagem aradora Trator 120 hp + grade pesada h/m 1,6
Gradagem niveladora Trator 120 hp + grade niveladora h/m 0,4

Plantio
Semente Híbrido simples ou triplo saco de 20 kg 1
Fungicida – L 0,02
Inseticida – L 0,4
Distribuição de inseticida manual – d/H 0,05
Adubação 8-28-16 + FTE-CAMPO kg 300
Plantio – adubação mecânica Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira 12 linhas h/m 0,8
Transporte interno para plantio Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3

Trato cultural
Adubação de cobertura Uréia kg 200
Aplicação de adubação de cobertura – h/m 0,6
Herbicida – pós-emergência
Herbicida 1 – L 2,5
Herbicida 2 – L 0,8
Aplicação de herbicida – máquina Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L h/m 0,3
Mão-de-obra – aplicação de herbicida – d/H 0,16
Inseticida
Inseticida 1 Piretróide L 0,3
Inseticida 2 Fisiológico L 0,6
Espalhante adesivo Óleo mineral L 1
Aplicação de inseticida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X) h/m 0,6
Mão-de-obra – aplicação de inseticida – d/H 0,32
Controle de formiga
Formicida Isca kg 0,6

Colheita
Colheita mecânica Colheitadeira plataforma 4m h/m 0,85
Transporte interno Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3
NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem; FTE – fritted trace elements.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


104 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 13 - Coeficientes técnicos de produção para um 1 ha de milho (safrinha: produtividade 3.000 kg ha-1)
Quantidade
Descrição Especificação Unidade
utilizada
Preparo do solo
Dessecação – herbicida
Herbicida 1 Glifosato L 1,5
Herbicida 2 2,4-D L 0,5
Distribuição de herbicida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L h/m 0,15
Mão-de-obra – distribuição de herbicida – d/H 0,25

Plantio
Semente Híbrido duplo ou triplo saco de 20 kg 1
Adubo 4-20-20 kg 200
Plantio – adubação Trator 120 hp + plantadeira/adubadeira com 12 linhas h/m 0,8
Transporte interno para plantio Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3

Trato cultural
Adubação de cobertura Uréia kg 60
Aplicação da adubação – h/m 0,5
Inseticida – L 0,6
Aplicação de inseticida Trator 85 hp + pulverizador Barra 2000 L (2X) h/m 0,3
Mão-de-obra – aplicação de inseticida – d/H 0,32

Colheita
Colheita mecânica Colheitadeira plataforma 4m h/m 0,6
Transporte interno Trator 85 hp + carreta 8 t h/m 0,3

NOTA: h/m – Hora/máquina; d/H – Dia/homem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS dos produtores de milho de determinada Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.sidra.

Uma vez que a produção mundial de região. ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1612&z=


Para finalizar, embora o atendimento a t&o=10>. Acesso em: 2 maio 2006.
suínos e aves, principais consumidores de
milho, continuará crescendo, a questão que consumidores localizados a distâncias mais JORNAL AGROCERES. São Paulo: AGROCERES,
se coloca é a indagação sobre quais re- curtas seja vital, o estabelecimento do canal n. 219, jan. 1994.
giões reúnem as condições mais favoráveis de comércio exterior é interessante, tendo
em vista que este fornecerá um piso de flu- MDIC. SECEX. Sistema de Análise das Informa-
para suportar esse crescimento. ções de Comércio Exterior – ALICE. Brasília.
Certamente haverá grande peso para tuação dos preços mais estável do que os
Disponível em: <http://aliceweb. desenvolvimento.
favorecer regiões produtoras de milho que normalmente verificados nos preços inter-
gov.br/default.asp>. Acesso em: 2 maio 2006.
disponham de boa logística de transporte nos.
ROPPA, L. Competition from South American
para atender a consumidores situados em
REFERÊNCIAS pork production. In: ADVANCES IN PORK
distância razoável. Esse atendimento re-
a a
CONAB. Milho total (1 e 2 safra) - Brasil: PRODUCTION, 16., 2005. p.16-42. Disponível
gional é da maior importância para a sus-
série histórica de área plantada - safras 1976/77 a em: <http://www.banffpork.ca/proc/2005pdf/
tentabilidade da atividade produtiva, pois
2005/06. Brasília, 2006. Disponível em: <http:// PFri-RoppaL.pdf>. Acesso em: 2 maio 2006.
provê escoamento seguro para a produção.
www.conab.gov.br/download/safra/MilhoTotal SINDIRAÇÕES. Perfil: demanda de macro-
Outro fator importante é a disponibilidade
SerieHist.xls>. Acesso em: 2 maio 2006. ingredientes. Disponível em: <http://www.
de um sistema de armazenamento eficiente,
que possibilite aos agricultores realizar a FAO. Statistical databases: Faostat-agriculture. sindiracoes.org.br/asp/sindi_interna.asp?ir=

comercialização da produção de forma mais Rome. Disponível em: <http://www.org.br>. Aces- sindi_perfil.asp>. Acesso em: 2 maio 2006.

lucrativa ao longo do ano. A disponibi- so em: 2 maio 2006.


USDA. World agricultural supply and demand
lidade do sistema de comercialização efi- IBGE. SIDRA. Tabela 1612 - Quantidade pro- estimates. Washington, 2006. Disponível em:
ciente também é parte desse complexo de duzida, valor de produção, área plantada e <http://www.usda.gov./oce/commodity/wasde>.
aspectos que aumenta a competitividade área colhida da lavoura temporária. Rio de Acesso em: 2 maio 2006.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.95-104, jul./ago. 2006


106 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Cultura do milho na integração lavoura-pecuária


Ramon Costa Alvarenga 1
Tarcísio Cobucci 2
João Kluthcouski 3
Flávio Jesus Wruck 4
José Carlos Cruz 5
Miguel Marques Gontijo Neto 6

Resumo - A cultura do milho (Zea mays) destaca-se no contexto da integração lavoura-


pecuária (ILP), devido às inúmeras aplicações que este cereal tem na propriedade agrícola,
quer seja na alimentação animal, quer seja na alimentação humana ou na geração de
receita, mediante a comercialização da produção excedente. Outro ponto importante são
as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras, no que diz
respeito ao seu consórcio com capim. Uma dessas vantagens é a competitividade no
consórcio, visto que o porte alto das plantas de milho, depois de estabelecidas, exerce
grande pressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo local. A altura de inserção
da espiga permite que a colheita seja realizada sem maiores problemas, pois a regulagem
mais alta da plataforma diminui os riscos de embuchamento. Somando-se a isso, com a
disponibilidade de herbicidas graminicidas pós-emergentes, seletivos ao milho, é possível
obter resultados excelentes com o consórcio milho + forrageira. A cultura do milho ainda
possibilita trabalhar com diferentes espaçamentos. No consórcio com forrageiras, a
redução de espaçamento tem a vantagem de desenvolver um pasto mais bem formado.
A decisão pelo espaçamento do consórcio a ser estabelecido deve também levar em
conta a disponibilidade das máquinas, tanto para o plantio quanto para a colheita.
Palavras-chave: Zea mays. Produção integrada. Consorciação de cultura. Forrageira.
Sistema Barreirão. Sistema Santa Fé. Pastagem consorciada. Produção de forragem.
Herbicida.

INTRODUÇÃO ma, de tal maneira que há benefícios para de fibras, de lã, de carne, de leite e de agro-
A integração lavoura-pecuária é a di- ambas (Fig. 1). Como uma das principais energia a custos mais baixos, devido ao
versificação, rotação, consorciação e/ou vantagens, possibilita que o solo seja sinergismo que se cria entre a lavoura e a
sucessão das atividades agrícolas e pecuá- explorado economicamente durante todo pastagem. Sistemas de integração lavoura-
rias dentro da propriedade rural, de forma o ano ou, pelo menos, na maior parte dele, pecuária (ILP), compostos por tecnologias
harmônica, constituindo um mesmo siste- favorecendo o aumento na oferta de grãos, sustentáveis e competitivas foram e ainda

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: ramon@cnpms.embrapa.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico: cobucci@
cnpaf.embrapa.br
3
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico: joaok@
cnpaf.embrapa.br
4
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:
sac@cnpaf.embrapa.br
5
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas- MG. Correio eletrônico: zecarlos@cnpms.embrapa.br
6
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas- MG. Correio eletrônico: mgontijo@cnpms.embrapa.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 107

lho + forrageira. Aliás, essa prática é bas-


tante antiga. Por outro lado, é raro aquele
que faz implantação de pastagens em áreas
agrícolas. Existem para essas duas situa-
ções, propostas para inserir as proprie-
dades em ILP de tal forma que elas pas-
sem a ser mais sustentáveis e competitivas.
As tecnologias disponíveis são o Sistema
Barreirão e o Sistema Santa Fé. Esses siste-
mas são perfeitamente ajustados a qual-
quer tamanho de propriedade, desde as
pequenas com alguns hectares e que usam
a mão-de-obra familiar, até aquelas empre-
sariais com alto nível tecnológico.

Ramon Costa Alvarenga


Sistema Barreirão
Este sistema foi desenvolvido na dé-
cada de 80 pela Embrapa Arroz e Feijão.
Com ele foi possível recuperar ou reformar
Figura 1 - Consórcio milho braquiária imensas áreas com pastagens degradadas,
especialmente no Brasil Central (Fig. 2).
Ainda hoje, ele é usado com essa finalida-
estão sendo desenvolvidos e/ou ajustados solo e ajuda no controle da erosão, devido de servindo como preparação para implan-
às diferentes condições edafoclimáticas do à cobertura e à proteção que proporciona. tação da ILP no Sistema Santa Fé.
País. Isso tem possibilitado a sustentabi- A lavoura cultivada na seqüência é be- Para que o Sistema Barreirão seja implan-
lidade do empreendimento agrícola, com neficiada com a melhoria da qualidade do tado, ele deve ser precedido de vários cui-
redução de custos, distribuição de renda e solo. dados referentes ao diagnóstico da gleba,
redução do êxodo rural, em decorrência da Durante as etapas de conversão da escolha da cultivar de milho e da forragei-
maior oferta de empregos no campo. propriedade, ou parte dela, para ILP o pro- ra, dentre outros. Primeiramente, deve-se
Entre os principais benefícios da ILP prietário deverá ir se qualificando, pois fazer a avaliação do perfil do solo da gleba,
destacam-se: o gerenciamento torna-se mais complexo.
ocasião em que se constatam as condições
As maiores dificuldades para adoção de
a) para o produtor, há aumento da pro- do solo, quanto à presença de camada com-
ILP, por parte do pecuarista, é seu parque
dutividade e do lucro da atividade, pactada ou adensada e espessura do hori-
de máquinas geralmente limitado. Por sua
com maior estabilidade de renda, zonte superficial, etc. Nessa etapa, podem
vez, o agricultor demandará investimentos
devido à produção diversificada; ser decididas quais profundidades de amos-
consideráveis em cercas e animais. Em ra-
b) com a rotação de cultura, há a redu- tragem para caracterização física e química
zão disso, acordos de parcerias e arrenda-
ção dos custos e da vulnerabilidade do solo. Com base nos resultados das aná-
mentos de terra têm sido uma saída para
aos efeitos do clima e do mercado; lises, deve-se fazer a correção da acidez do
aqueles que não dispõem de capital para
solo, seguindo a orientação de um técnico.
c) com a lavoura, há melhoria da fertili- fazer estes investimentos ou não estão dis-
É importante que a aplicação do corretivo
dade do solo, o que permite ganhos postos a utilizar linhas convencionais ou
seja feita pelo menos 60 dias antes do plan-
em produtividade e maior oferta de especiais de crédito para ILP, que estão sen-
tio e que ainda haja umidade suficiente no
pasto, forragem e grãos, para alimen- do implementadas.
solo, para que o calcário reaja.
tação animal na estação seca. O milho é uma espécie exigente em
MILHO CONSORCIADO
A adubação de manutenção da nova fertilidade do solo e necessita de pH, Ca,
COM FORRAGEIRAS
pastagem deve manter um novo patamar Mg, saturação por alumínio e saturação
de produtividade. Por sua vez, a pastagem Na prática, depara-se com as mais va- por bases, sendo mínimos em torno de 6,0;
favorece a melhoria da qualidade física e riadas situações em que o produtor tenta 2,2; 0,8 menor que 20% e 50%-55%, respecti-
biológica do solo, a redução de pragas e reduzir os custos de recuperação ou refor- vamente. Esses níveis são, também, os mí-
doenças, aumenta a matéria orgânica do ma de seus pastos, fazendo plantio de mi- nimos necessários para implantar o Siste-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
108 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

profundidade o banco de sementes de


plantas daninhas, para que estas não ger-
minem ou tenham a emergência retardada,
competindo menos com o milho; incorporar
o sistema radicular de capins, acelerando a
sua mineralização para minimizar a concor-
rência com o milho pelo nitrogênio, etc.
Na seqüência, são tomados os cuidados
com a conservação do solo. Como o condi-
cionamento químico não é imediato, ou seja,
demanda tempo de reação dos corretivos e
fertilizantes, é esperado melhor desem-
penho das lavouras de milho nos cultivos
subseqüentes, por ser esta cultura exigente

Ramon Costa Alvarenga


em condicionamento químico do solo.
Para obter bom desempenho da cultura
em áreas com pastagem degradada, onde
predominam solos ácidos e de baixa fer-
tilidade, são necessários a correção míni-
Figura 2 - Sistema Barreirão ma de acidez e o suprimento de bases, como
nutrientes. A calagem, nesse caso, pode ser
feita antes do período chuvoso que ante-
ma Plantio Direto (SPD). Dentre esses pa- Caso se opte pela adubação corretiva, cede a semeadura (agosto/setembro), no
râmetros, a saturação por bases pode ser recomenda-se apenas fósforo e potássio. final do período chuvoso (março/abril) ou
considerada a mais importante caracterís- Na adubação de base, contudo, os demais dois ou mais anos antes da implantação da
tica química do solo para a produção do macro e micronutrientes podem ser minis- cultura. Essa última opção é que irá possi-
milho (FAGERIA, 2001). Além disso, a cul- trados simultaneamente à semeadura do mi- bilitar a melhor reação do corretivo, como
tura do milho é mais adaptada a solos ante- lho. Para cada tonelada de grãos são reque- atestam os dados expostos no Quadro 1.
riormente cultivados, principalmente com ridos cerca de 24 kg de N, 3 kg de P, 23 kg Na primeira opção, devido ao curto período
soja. Como cultura de primeiro ano, em solos de K, 5 kg de Ca, 4 kg de Mg, 46 g de Zn, de reação no solo, o calcário deve ser bem
recém-corrigidos ou após pastagem degra- 8 g de Cu, 65 g de Mn, 274 g de Fe e 18 g homogeneizado no solo. Para tanto, o me-
dada, dificilmente são obtidos rendimen- de B (FAGERIA, 2001). Conforme Coelho lhor método consiste em aplicar 60%-70%
tos de grãos superiores a 6 t ha-1. Assim, o et al. (2003), a extração de enxofre pela planta do calcário, incorporá-lo superficialmente
agricultor pode optar pelo cultivo de va- de milho varia de 15 kg a 30 kg ha-1, para pro- com grade aradora, arar profundamente
riedade e não de híbrido, cujas sementes duções de grãos em torno de 5 t a 7 t ha-1. (35-40 cm), aplicar o restante 30%-40% do
são, via de regra, quatro a cinco vezes mais Com a ILP, o milho é preferido na recu- corretivo, nivelar/destorroar e semear o mi-
onerosas. Existem no mercado variedades peração de pastagens degradadas, em con- lho e a forrageira. Nas demais opções, o
de milho, com ampla adaptação e poten- sórcio com forrageiras tropicais, pelo Sis- calcário pode ser espalhado superficial-
cial produtivo entre 6 t e 7 t ha-1. Outro fa- tema Barreirão (OLIVEIRA et al., 1996), ou mente para ser apenas incorporado, ime-
tor relevante é que o ciclo do milho é regu- em áreas de lavoura, com solos adequada- diatamente antes da semeadura do con-
lado pela soma calórica, exigindo que se mente corrigidos, pelo Sistema Santa Fé sórcio.
tenha o adequado cuidado na escolha da (KLUTHCOUSKI et al., 2000). No Sistema Barreirão, a determinação
cultivar em relação à altitude e à latitude. A principal característica do Sistema da necessidade de calagem para o milho
Baixas latitude (menor que 12o) e altitude Barreirão é a aração profunda com arado obedece à mesma metodologia e aos cri-
(menor que 400 m), comuns nos Cerrados de aivecas. A razão para usar esse imple- térios utilizados para os cultivos solteiros.
requerem, geralmente, cultivares com soma mento é fazer os condicionamentos físico Entretanto, deve-se considerar que para
calórica mais alta, em torno de 800 graus- e químico do solo, rompendo camadas com- solos com alto teor de areia e baixa matéria
dia, até a floração. Mesmo assim, nessas pactadas ou adensadas; inverter a camada orgânica, o método de saturação por bases
condições, as produtividades máximas pos- de solo revolvida para que haja incorpora- geralmente subestima a quantidade de cal-
síveis giram em torno de 6 a 7 t ha-1. ção profunda de corretivos; incorporar em cário a ser aplicada. Em geral, isto ocorre

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 109

QUADRO 1 - Algumas características químicas do solo antes e dois anos após a aplicação superficial de calcário, em Brejinho de Nazaré, TO1

Ca Mg Al CTC V Argila Silte Areia


Profundidade pH da
Época
(cm) água -3
mmolc dm %

Antes 0-10 4,7 1,0 0,4 0,1 3,82 42,4 19 5 76

10-20 3,7 0,5 0,3 0,4 4,83 18,9 21 5 74

(2)
Após 2 anos 0-10 5,5 12,0 7,0 0 4,25 48,2 – – –

10-20 5,0 10,0 4,0 0 3,07 24,7 – – –

NOTA: Dados não publicados, coletados por Georgette Andrea Kluthcouski, técnica da Agropecuária Santa Angelina, em julho de 2002.
CTC – Capacidade de troca catiônica; V – Saturação por bases.
-1
(1) A gleba foi calcariada alguns anos antes de ser recalcariada. (2) Refere-se à aplicação de 2 t ha de corretivo.

com todos os métodos vigentes. Assim, é cmolc dm-3 de solo, na razão aproximada apresentados no Quadro 3, onde todas as
necessário considerar a cultura a ser implan- de 3-4:1. Um exemplo disso é mostrado no características avaliadas foram substancial-
tada, o histórico da área e a experiência lo- Quadro 2, observando-se que, mesmo com mente alteradas pela calagem em 50 dias.
cal, quanto à resposta das culturas aos a incorporação do corretivo pouco antes Esse fato foi observado também na Agro-
corretivos de acidez do solo. Não deve ha- da semeadura do milho, houve efeito signi- pecuária Santa Angelina, em Brejinho de
ver diferença na quantidade de corretivo a ficativo na produtividade de grãos de mi- Nazaré, TO, em solo recém-desmatado, isto
ser aplicada em relação ao tempo que ante- lho e na produção da forrageira. é, que nunca recebeu corretivos de acidez
cede a implantação da cultura. Por outro lado, a reação do corretivo do solo (Quadro 4). Nota-se que a reação
Para a cultura do milho, a calagem é no solo, no que se refere a alguns parâme- do solo foi plenamente alterada em 90 dias
necessária, quando o solo apresentar con- tros físico-químicos, é relativamente rápida, e essa alteração foi mais proeminente em
centração de Ca2+ + Mg2+ inferior a 3,0 como pode ser comprovado pelos dados solos que continham maior teor de areia.

QUADRO 2 - Efeito de métodos de incorporação de calcário sobre a produtividade de massa verde da planta e produtividade de grãos do milho híbri-
do BR 201, e de massa verde da forrageira B. brizantha, em área anteriormente sob pastagem degradada, na Fazenda Barreirão, em
Piracanjuba, GO

Milho B. brizantha
(1)
Calcário Método de
-1
(t ha ) incorporação Estande Massa verde Produtividade Massa verde
-2 -1 -1 -1
(plantas m ) (g planta ) (kg ha ) (t ha )

0 – 6,5 a 1.767 b 1.993 b 17,2 c

3 Grade aradora 6,8 a 2.700 a 3.467 a 25,7 ab

3 Arado 6,8 a 2.900 a 3.014 a 28,3 a

3 Grade niveladora 6,6 a 3.073 a 3.360 a 22,0 bc

CV (%) – 10,8 10,2 8,7 14,8

FONTE: Oliveira et al. (1996).


NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação.
(1) Quantidade de calcário aplicada um mês antes da semeadura. Considerando: Latossolo Vermelho-Amarelo; pH 5,8; Ca2+ + Mg2+ =
2,0 cmolc-3; teores de P, K, Cu, Zn, Fe e Mn de 0,8 mg, 137,0 mg, 2,1 mg, 0,6 mg, 154,0 mg e 50,0 mg dm-3, respectivamente; matéria
orgânica = 20 g kg-1.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


110 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 3 - Efeito de diferentes doses de calcário em algumas características de um Latossolo Vermelho no período de 50 dias após a aplicação

Ca Mg Al S CTC V m
Calcário pH/H2O
-1
(t ha ) (1/1,25) -3 -1
cmolc dm cmolc kg %

0 4,8 1,7 1,4 0,3 3,5 12,4 40,0 2,5

1 5,4 4,2 3,0 0,1 7,6 14,6 52,0 0,7

2 5,6 4,1 2,3 0,0 6,8 13,0 52,0 0,0

Média 5,3 3,4 2,3 0,2 6,0 13,3 48,0 1,1


FONTE: Dados básicos: Oliveira et al. (2000).
NOTA: CTC – Capacidade de troca catiônica; V – Saturação por bases; m – Saturação por alumínio.

QUADRO 4 - Algumas características químicas do solo, antes e seis meses após a aplicação de calcário1, Agropecuária Santa Angelina, Fazenda
Tocantins, Brejinho de Nazaré, TO

Profun- Ca Mg Al CTC V Argila Silte Areia


pH da
Época didade
água -3
(cm) mmolc dm %

Gleba 1

Antes da aplicação do calcário 0-10 3,7 0,3 0,2 0,6 5,0 11,4 12 5 83

10-20 3,7 0,2 0,1 0,5 4,2 8,4 11 5 84

Após 6 meses da aplicação 0-10 6,0 1,2 0,6 0,0 3,1 58,5 – – –

10-20 4,4 0,5 0,3 0,3 2,4 34,3 – – –

Gleba 2

Antes da aplicação do calcário 0-10 3,9 0,3 0,1 0,4 4,6 10,4 10 4 86

10-20 3,9 0,2 0,1 0,4 3,5 10,1 11 5 84

Após 6 meses da aplicação 0-10 5,7 1,5 0,6 0,0 3,6 60,8 – – –

10-20 4,1 0,6 0,2 0,4 2,8 29,5 – – –

Gleba 8

Antes da aplicação do calcário 0-10 3,8 0,3 0,2 0,4 4,7 12,0 37 9 54

10-20 3,9 0,2 0,1 0,3 3,9 9,1 34 9 57

Após 6 meses da aplicação 0-10 5,7 1,2 0,5 0,0 3,8 46,7 – – –

10-20 4,4 0,5 0,3 0,2 2,8 29,2 – – –

Gleba 9

Antes da aplicação do calcário 0-10 3,9 0,3 0,2 0,3 5,3 10,6 32 9 59

10-20 4,0 0,2 0,1 0,4 4,0 8,8 35 10 55

Após 6 meses da aplicação 0-10 5,6 1,2 0,5 0,0 3,6 47,8 – – –

10-20 4,5 0,4 0,2 0,2 2,6 23,8 – – –


NOTA: Dados não publicados, coletados por Georgette Andrea Kluthcouski, técnica da Agropecuária Santa Angelina, em julho de 2002.
V – Saturação por bases.
-1 -1
(1) Foram aplicadas 5 t ha de calcário dolomítico e 400 kg ha de superfosfato simples.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 111

Também em solos sob pastagens de- Existem vários relatos de que o proces- Os sulfatos carreiam alguns cátions-
gradadas, onde predominam solos ácidos so mais econômico de correção da acidez base através dos horizontes, corrigindo a
e pouco férteis, a aplicação de calcário dois das camadas superficiais e subsuperficiais acidez e favorecendo o crescimento radi-
a três meses antes da semeadura do mi- do solo é a utilização de uma parte de gesso cular das plantas. No Sistema Barreirão, as
lho resultou em produtividade média de (sulfato de cálcio) em mistura com calcário. doses extremas de qualquer um dos correti-
grãos de 3,75 t ha-1, chegando ao máximo O gesso contém, aproximadamente, 23% de vos, aplicadas entre dois e três meses antes
de 7,4 t ha-1. As mais altas produtividades cálcio e 19% de magnésio. Assim, se forem da semeadura do milho, tenderam a resultar
referem-se, muito provavelmente, a solos aplicados 500 kg ha-1 de gesso, por exem- em menores produtividades do milho, cul-
anteriormente corrigidos ou naturalmente plo, só com este insumo estariam sendo tivar BR 201, e da forrageira B. brizantha
férteis (Quadro 5). Assim, para atingir mé- aplicados 115 kg ha-1 de Ca e 95 kg ha-1 de (Quadro 6), não havendo, contudo, dife-
dias superiores a 6 t ha-1, é fundamental S, quantidades essas teoricamente sufi- renças significativas entre as proporções
que a calagem seja feita com antecedência cientes para a obtenção de mais de 6 t ha-1 testadas. No entanto, melhores rendimen-
mínima de um ano ou um ciclo de chuvas. de milho. tos foram obtidos para as misturas com as

QUADRO 5 - Produtividade média de grãos e taxas de retorno diretas obtidas nas unidades demonstrativas do Sistema Barreirão, implantadas em
duas safras agrícolas em solos sob pastagem degradada e em diferentes municípios e Estados brasileiros
(1) (2)
Cultura anual Produtividade Taxa de
Safra agrícola Total de municípios Estados abrangidos -1
consorciada (t ha ) retorno direta

1992/1993 3 GO Milho 4,1 1,06

1993/1994 16 GO/MS/MG/SP/MT Milho 3,4 0,80

1993/1994 1 GO Sorgo 3,0 0,94

FONTE: Dados básicos: Yokoyama et al. (1998).


(1) Gramínea: Brachiaria brizantha. (2) Retorno por unidade monetária aplicada.

QUADRO 6 - Efeito da mistura de gesso com calcário no estande, na produtividade de grãos do milho híbrido BR 201, na produtividade de massa
verde da forrageira B. brizantha e nos teores de cálcio no perfil do solo, Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO

Cálcio
Milho -3
(cmolc dm )
(1) Massa verde
Mistura
da forrageira Profundidade
calcário:gesso -1
Estande Produtividade (t ha ) (cm)
-2 -1
(plantas m ) (kg ha )
30 60 90

(2)
100:0 4,9 a 3.797 a 16,8 2,0 1,5 1,3

80:20 6,1 a 3.550 a 12,8 2,7 1,7 1,2

60:40 4,9 a 4.300 a 15,2 2,3 1,2 1,4

40:60 4,9 a 4.217 a 15,4 2,2 1,7 1,4

20:80 6,3 a 4.093 a 13,9 1,8 2,3 1,3


(3)
0:100 6,1 a 3.493 a 13,2 1,8 2,3 1,3

Testemunha 6,1 a 1.490 b 14,3 1,9 1,5 1,3


FONTE: Oliveira et al. (1996).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
(1) Latossolo Amarelo; pH 5,7; Ca2+ + Mg2+ = 0,7 cmolc dm-3; teores de P, K, Cu, Zn, Fe e Mn de 0,7; 86,0; 0,3; 2,3; 154,0 e 44,0 mg dm-3,
respectivamente; matéria orgânica = 19 g kg-1. (2) Correspondente a 3,0 t ha-1. (3) Correspondente a 5,76 t ha-1.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


112 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

relações calcário: gesso de 60% e 40% e radas ou não ao adubo do milho. É impor- deve-se aos milhos atuais terem caracterís-
40% e 60%. A distribuição do cálcio no tante cuidar para que essa mistura seja feita ticas de porte mais baixo, melhor arquitetura
perfil do solo, a partir da profundidade de no dia do plantio e regulada a profundida- foliar e menor massa vegetal que permitem
60 cm, foi crescente, à medida que a mistu- de de deposição do adubo + sementes para cultivos mais adensados em espaçamentos
ra continha mais gesso. maior profundidade, a fim de que não ultra- mais fechados. Quanto à qualidade da sila-
Na recuperação de pastagens degrada- passe o limite e que haja emergência das gem, Paiva (1992) verificou maior rendi-
das, tal qual no Sistema Barreirão, o tempo plântulas, o que varia conforme a espécie. mento de proteína bruta na massa seca da
de reação do corretivo no solo é, em geral, Geralmente, sementes de braquiária podem forragem, no espaçamento de 0,50 m, com-
insuficiente, não obedecendo ao período ser semeadas até 8 cm e de panicum até parando com espaçamentos maiores. Esse
mínimo de 90 dias, em condições de solo 3 cm. As sementes do milho geralmente plantio em menores espaçamentos, além de
úmido, entre a aplicação e a semeadura da são semeadas a 3 cm de profundidade no possibilitar melhor e mais rápida cobertura
cultura ou da forrageira. Considerando-se solo. do solo, evita a formação de touceiras muito
que o principal fator determinante da velo- É desejável estabelecer uma ou duas grandes de capim, o que poderá afetar nega-
cidade de reação do corretivo é o tamanho linhas adicionais de forrageira nas entre- tivamente a qualidade do próximo plantio.
de suas partículas, o calcário filler, ou fina- linhas do milho para melhor formação da Outra possibilidade é o plantio defasado
mente moído, pode produzir melhor resulta- pastagem, o que vai depender do espaça- da forrageira em 15 a 30 dias depois da
do que o calcário convencional. Na cultu- mento e do equipamento de plantio dis- emergência do milho: planta-se o milho
ra do milho, embora o teste estatístico não ponível. Existe hoje tendência de redução solteiro e, quando ele já estiver estabeleci-
tenha detectado diferenças, houve acrés- do espaçamento entrelinhas na cultura do, faz-se o semeio da forrageira.
cimo superior a 1,0 t ha-1 de grãos com a do milho, principalmente com os híbridos Em muitos casos, agropecuaristas têm
utilização do filler e diferenças significati- atuais, que são de porte mais baixo e arqui- adotado essa tecnologia somente para re-
vas na produção de massa verde da forra- tetura mais ereta. Sangoi et al. (1998) encon- cuperar ou reformar pastagens. O programa
geira B. brizantha (Quadro 7). traram aumento no rendimento de grãos de de adubação de manutenção e de pastejo
No Sistema Barreirão, os procedimen- milho com redução do espaçamento entre controlado tem permitido a utilização da
tos de plantio do milho são os tradicionais. fileiras até 50 cm. Esta redução no espaça- nova pastagem por período indeterminado,
No plantio simultâneo, dependendo da espé- mento resultou também em maior massa com alta produtividade. Caso essa progra-
cie da forrageira, suas sementes são mistu- de grãos por espiga. Esse comportamento mação não seja executada, a nova pasta-
gem degradar-se-á em alguns anos, sendo
necessário recuperá-la novamente. É re-
QUADRO 7 - Efeito comparativo da calagem tradicional com a microcalagem no estande, no nú- gra em ILP que a pastagem não se degrade.
mero de espigas, na produtividade de grãos de milho e massa verde de B. brizantha, Se isto estiver acontecendo mostra que há
em solo sob pastagem degradada, Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO deficiência no planejamento da ILP adota-
da e que medidas corretivas são necessá-
Milho Massa verde rias.
(1)
Calcário da forrageira
Estande Espiga Produtividade -1
Recomendações
-2 o -1 -1 (t ha )
(planta m ) (n espiga m ) (kg ha ) a) devido à cultura do milho não ser
-1 plenamente adaptada a cultivos de
3 t ha de calcário a lanço 5,7 a 4,9 a 2.283 a 34,4 b
-1
abertura de área ou sob área com pas-
3 t ha de filler a lanço 5,8 a 5,3 a 3.348 a 44,6 ab
tagem degradada, o potencial de
-1
0,3 t ha de filler na linha 5,6 a 5,4 a 3.360 a 50,8 a rendimento, no primeiro ano, dificil-
-1 mente ultrapassa 5 t ha-1;
0,6 t ha de filler a lanço 5,7 a 5,4 a 3.084 a 38,6 ab
b) para a obtenção de altas produtivi-
CV (%) 11,2 12,7 8,3 15,6 dades de milho, acima de 6 t ha-1, é
FONTE: Oliveira et al. (1996).
recomendável a aplicação dos cor-
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente pelo teste retivos de acidez do solo pelo menos
Tukey, a 5% de probabilidade. um ciclo de chuvas antes da semea-
CV - Coeficiente de variação. dura;
(1) Latossolo Vermelho-Amarelo; pH 5,7; Ca2+ + Mg2+ = 2,6 cmolc dm-3; teores de P, K, Cu, Zn,
Fe e Mn de 1,1 mg, 89,0 mg, 2,6 mg, 0,6 mg, 363,0 mg e 33,0 mg dm-3, respectivamente; matéria c) em áreas recém-desbravadas ou sob
orgânica = 15 g kg-1. pastagem degradada, a opção por

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 113

variedade resulta em economia da dade agrícola mais competitiva e sustentá- de profundidade, retarda em até 13 dias a
ordem de quatro a cinco vezes na vel. Além disso, esse sistema está viabili- sua emergência, conseguindo-se ampla
aquisição de sementes. zando o plantio direto em várias regiões, vantagem do índice de área foliar (IAF) da
devido à geração de palhada em quanti- cultura sobre o da forrageira. No Sistema
Sistema Santa Fé dade adequada. Somam-se a isso alguns Santa Fé, o consórcio é conduzido em solo
O Sistema Santa Fé fundamenta-se na benefícios agregados à palhada de bra- de média a alta fertilidade e espera-se maior
produção consorciada de culturas de grãos, quiária, no que diz respeito ao seu efeito competição da forrageira com a cultura. Por
especialmente o milho, sorgo, milheto com supressor de plantas daninhas e de fungos esta razão, além da semeadura mais profun-
forrageiras tropicais, principalmente as do de solo. da da forrageira, em alguns casos pode ha-
gênero Brachiaria e Panicum, tanto no ver a necessidade do uso de herbicidas para
SPD quanto no convencional, em áreas de Fisiologia das espécies
conter seu crescimento.
lavoura, com solo parcial ou devidamente em consórcio
Portela (2003) estudou o consórcio mi-
corrigido (Fig. 3). Nesse sistema, a cultura As espécies forrageiras comumente uti- lho com braquiária e com mombaça. Veri-
do milho apresenta grande performance de lizadas são de metabolismo C4 de elevadas ficou que mesmo com ou sem a aplicação
desenvolvimento inicial e exerce com isso taxas de crescimento em altas irradiâncias. do herbicida para reduzir o crescimento das
alta competição sobre as forrageiras, evitan- Por isso, redução do crescimento das for- forrageiras, a Taxa Assimilatória Líquida
do, assim, redução significativa na produ- rageiras deve ser considerada, para que o (TAL) do milho foi maior que a das forra-
tividade de grãos. Os principais objetivos consórcio tenha êxito, com produtividades geiras em grande parte do ciclo da cultura
do Sistema Santa Fé são a produção for- de grãos equivalentes ao sistema soltei- (Gráficos 1 e 2). A TAL indica a eficiência
rageira para a entressafra e palhada em ro. Estratégias como retardar a emergên- fotossintética e devido ao maior crescimen-
quantidade e qualidade para o SPD. Esse cia da forrageira, uso de doses reduzidas to do milho e conseqüente sombreamento
sistema apresenta grande vantagem, pois de herbicidas e populações adequadas que este exerce nas forrageiras, resultou
não altera o cronograma de atividades do das espécies em consórcio são fundamen- em maior Taxa de Crescimento da Cultura
produtor e não exige equipamentos espe- tais para que as áreas foliares das culturas (TCC) do milho, superando ao das forra-
ciais para sua implantação. Através dele, é sobreponham-se às das forrageiras ao lon- geiras, tornando o consórcio dessas espé-
possível aumentar o rendimento da cultura go do ciclo. De acordo com Portes et al. (2000),
cies muito seguro (Gráficos 3 e 4). A apli-
de milho e das pastagens e, com isso, baixar no Sistema Barreirão, dispondo as sementes
cação de herbicida para redução do TCC
os custos de produção, tornando a proprie- das forrageiras a, aproximadamente, 10 cm
da braquiária (Gráfico 3B) somente é neces-
sária em situações em que o milho não tem
bom desenvolvimento inicial, em casos de
baixa fertilidade do solo e/ou outros fatores,
tais como: estiagem prolongada no período
inicial da lavoura, forte ataque de lagarta-
do-cartucho, etc.
Vários são os trabalhos realizados com
o consórcio milho e forrageiras como cita-
dos no Quadro 8. Na média de todos os
ensaios a presença da forrageira reduziu
a produtividade em 5%, contudo verifica-
se que vários foram os casos de diferenças
não-significativas entre o milho solteiro e o
consorciado. Vale ressaltar que os diferen-
tes resultados estão associados à combi-
nação de vários fatores, como a população
Ramon Costa Alvarenga

da forrageira, época de sua implantação,


arranjos de plantio, presença de plantas da-
ninhas, aplicação de herbicidas, fertilidade
do solo e condições hídricas. Nos trata-
mentos em que foram aplicados os herbi-
Figura 3 - Sistema Santa Fé cidas para reduzir o crescimento da forra-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
114 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

A B

Gráfico 1 - Taxa Assimilatória Líquida (TAL) de milho solteiro, milho consorciado e braquiária em função de dias após a emergên-
cia (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).

A B

Gráfico 2 - Taxa Assimilatória Líquida (TAL) de milho solteiro, milho consorciado e mombaça em função de dias após a emergên-
cia (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).

geira, as produções foram semelhantes às o plantio destas é feito junto com a cober- dicotiledôneas e algumas gramíneas anuais.
do milho solteiro, indicando que este pro- tura nitrogenada (20 dias pós-emergência No consórcio, esse herbicida é aplicado
cedimento pode eliminar as perdas no do milho). Dessa forma, são usados os her- nas doses de 1.000 a 1.500 g i.a. ha-1, em pós-
consórcio. bicidas aplicados em pós-emergência das emergência, e nessas doses somente apre-
plantas daninhas e do milho. Dentre esses sentam controle sobre as dicotiledôneas.
Manejo de herbicidas e efeito herbicidas destacam-se o herbicida atrazina As sulfonilúreas são usadas em pós-
no milho e na produção e alguns do grupo químico das sulfonilú- emergência, com enfoque no controle de
de forragem reas, como o nicosulfuron, foramsulfuron gramíneas e algumas espécies dicotiledô-
No consórcio milho e forrageiras, geral- e iodosulfuron methyl sodium (ZAGONEL, neas. Já o foramsulfuron atua principal-
mente as aplicações de herbicidas em pré- 2002 apud JAKELAITIS et al., 2005a). mente sobre gramíneas, e o iodosulfuron
emergência afetam o estabelecimento das O atrazine pertence ao grupo químico methyl sodium sobre espécies de folhas
forrageiras, mesmo naqueles manejos onde das triazinas e controla espécies daninhas largas, estando, assim disponível no mer-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 115

A B

Gráfico 3 - Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) de milho solteiro, milho consorciado e braquiária em função de dias após a emer-
gência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).

A B

Gráfico 4 - Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) de milho solteiro, milho consorciado e mombaça em função de dias após a emer-
gência (DAE) na ausência (A) e presença (B) de herbicidas
FONTE: Portela (2003).

cado como mistura pronta para a cultura do O período crítico de competição (PCC) sulfuron (Sanson) é recomendado nas do-
milho (FRANCO, 2002 apud JAKELAITIS das plantas daninhas e/ou forrageiras no ses de 4 a 8 g i.a. ha-1 (0,1 a 0,2 L p.c. ha-1).
et al., 2005b). milho ocorre entre os estádios V5 (cinco A dose maior é recomendada quando a for-
No Quadro 9 são apresentados traba- folhas totalmente expandidas) e V8 ou entre rageira e/ou plantas daninhas estão em
lhos realizados para calibração de doses 20 e 40 dias pós-emergência (BLANCO et estádios mais avançados (mais de três per-
de herbicidas no consórcio milho e bra- al., 1976; RAMOS; PITELLI, 1994; HANIZ filhos). Para o consórcio do milho e pani-
quiária. Verifica-se que em alguns ensaios et al., 1996; DUARTE, 2000). Dessa forma, cuns (tanzânia, mombaça e outros) a do-
houve a interferência significativa do con- a aplicação de herbicidas pós-emergentes se de nicosulfuron não deve ultrapassar a
sórcio sobre o rendimento de grãos e nes- deve ser feita entre V4 e V5. O herbicida 6 g i.a. ha-1 (0,15 L p.c. ha-1), devido à sen-
tes as subdoses de herbicidas eliminaram atrazine (atrazina) é usado na dose de 1.500 sibilidade dessas espécies aos herbicidas.
a competição exercida pela braquiária no g i.a. ha-1 (3 L p.c. ha-1), para o controle de Para o herbicida foramsulfuron + iodo-
milho. plantas daninhas dicotiledôneas. O nico- sulfuron (Equipe-Plus) recomenda-se dose

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


116 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 8 - Produtividade de grãos de milho no sistema solteiro, consorciado com braquiária, com e sem herbicida em diferentes locais e anos

Milho + Milho +
Milho Braquiária Braquiária
solteiro (sem (com
CV
Local Ano Cultivar herbicida) herbicida) Fonte
(%)
Produtividade
-1
(kg ha )

Piracicaba-SP 2003 FORT 9.270 a 9.690 a – 1,60 Tsumanuma (2004)

Piracicaba-SP 2003 CATI AL 34 7.130 a 5.190 b – 11,10 Severino et al. (2005)

Coimbra-MG 2002 AGN 3180 5.910 a 5.270 b 5.860 a 5,98 Jakelaitis et al. (2005 a)

Coimbra-MG 2002 AG 122 6.881 a 5.319 b 6.732 a 9,20 Jakelaitis et al. (2005b)

Jaboticabal-SP 2002 _ 9.800 a 9.700 a – 3,77 Bernardes (2003)

Ilha Solteira- SP 2002 AG 8080 8.300 a 7.200 b – 8,07 Pantano (2003)

Santo Antônio de Goiás-GO 2002 BR 3150 9.388 a 8.415 a 9.121 a 3,12 Portela (2003)

Coimbra-MG 2001 AG 6690 4.500 a 4.250 a 4.267 a – Jakelaitis et al. (2004)

Santo Antônio de Goiás-GO 2001 BR 201 5.945 a 5.252 a 5.844 a 8,20 Kluthcouski e Aidar (2003)

Brasília-DF 2000 30T75 7.444 a 8.788 a – 9,50 Kluthcouski e Aidar (2003)

Novo São Joaquim- MT 2000 AG 1051 3.960 a 3.012 a – 19,80 Kluthcouski e Aidar (2003)

Novo São Joaquim- MT 2000 AG 9010 5.456 a 5.877 a – 3,30 Kluthcouski e Aidar (2003)

Novo São Joaquim- MT 2000 BR 201 3.825 a 3.880 a – 6,00 Kluthcouski e Aidar (2003)

Montividiu-GO 2000 Tork 5.882 a 5.447 a – 5,50 Kluthcouski e Aidar (2003)

Santa Helena de Goiás-GO 2000 BR 201 8.865 a 8.779 a – 5,00 Kluthcouski e Aidar (2003)

Santa Helena de Goiás-GO 2000 BR 205 9.256 a 8.352 a – 10,70 Kluthcouski e Aidar (2003)

Santa Helena de Goiás-GO 2000 BR 206 9.170 a 8.570 b – 6,60 Kluthcouski e Aidar (2003)

Santa Helena de Goiás-GO 2000 AG 105 4.088 a 4.102 a – 10,40 Kluthcouski e Aidar (2003)

Campo Novo do Parecis-MT 1999 A 2662 5.857 a 4.840 b – 3,60 Kluthcouski e Aidar (2003)

Luis Eduardo Magalhães-BA 1999 Dina 766 7.823 a 8.507 a – 4,90 Kluthcouski e Aidar (2003)

Luziânia-GO 1999 C 333B 5.023 a 4.859 b 5.298 a 13,70 Kluthcouski e Aidar (2003)

Santa Helena de Goiás-GO 1999 BR 201 7.686 a 7.600 a 6.854 a 9,60 Kluthcouski e Aidar (2003)

Santa Helena de Goiás-GO 1999 BR 201 7.999 a 8.164 a – 11,50 Kluthcouski e Aidar (2003)

Santa Helena de Goiás-GO 1998 BR 201 7.735 a 8.236 a – 7,60 Kluthcouski e Aidar (2003)

Média – – 6.966 (100) 6.637 (95) – – –

NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na linha, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


QUADRO 9 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes herbicidas e doses

Produtividade
-1
(kg ha )
(A) (A)
Dose Dose Santa Helena Santa Helena (A) (B) (B) Santo Antônio de
Herbicida Luziânia-GO Coimbra-MG Coimbra-MG
-1 -1 de Goiás-GO de Goiás-GO Goiás-GO
(g i.a. ha ) (L p.c. ha ) (cultivar C 333B) (cultivar AG 6690) (cultivar AGN 3180)
(cultivar BR 201) (cultivar C 333B) (cultivar BR 3051)

1999 1999 1999 2001 2002 2004

Milho solteiro – – 7.686 a 5.945 a 5.023 a 4.950 a 6.881 a 7.480 a

Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 0 7.600 a 5.252 b 4.859 a 4.440 a 5.319 b 6.250 b


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Nicosulfuron + atrazine 2 + 1.500 0,05 – – – 4.560 a 6.533 a –

Nicosulfuron + atrazine 4 + 1.500 0,1 – – – – 6.167 a –

Nicosulfuron + atrazine 6 + 1.500 0,15 7.365 a 6.099 a 5.438 a – – 7.378 a

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 0,2 – – – 4.569 a 6.180 a 7.270 a

Nicosulfuron + atrazine 12 + 1.500 0,3 6.603 a – 5.298 a 4.502 a 6.610 a 7.435 a

Nicosulfuron + atrazine 18 + 1.500 0,45 6.854 a – 5.361 – – –

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 15 + 1 + 1.500 0,05 – – – – 6.732 a 7.480 a

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 22,5 + 1,5 + 1.500 0,075 – – – – – 7.545 a

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 30 + 2 + 1.500 0,1 – – – – 6.723 a –

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 45 + 3 + 1.500 0,15 – – – – 6.402 a –

CV (%) 13,3 8,2 11,1 – 5,9 7,8


FONTE: (A) Kuthcouski e Aidar (2003) e (B) Jakelaitis et al. (2004).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV - Coeficiente de variação; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial.
117
118 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

de 15 + 1 g i.a. ha-1 (0,5 L p.c. ha-1). Nessas rageira, devido aos herbicidas, depende de taxa de crescimento no início do desenvol-
doses recomendadas dos herbicidas cita- vários fatores, como as condições hídricas, vimento em comparação com a forrageira,
dos, há uma redução do crescimento da a fertilidade do solo, e do próprio nível de o que garante o sucesso do plantio simul-
forrageira e também das plantas daninhas fitotoxicidade da forrageira após a aplicação tâneo das duas espécies. Ao contrário do
em torno de 40% a 50%, suficientes para a dos herbicidas. Portanto, recomenda-se milho, a produção da forrageira é extrema-
redução da competição com o milho no PCC não aplicar doses acima das recomenda- mente afetada pela época de implantação
(Quadro 10). das. (Quadro 15). Verifica-se, nos trabalhos reali-
O efeito da aplicação de herbicida na zados, que a produção da forrageira diminui
produção de forragem foi estudado por Arranjos espaciais da significativamente, à medida que atrasa a
alguns autores (Quadro 11). Os dados não forrageira e efeito no milho introdução desta no consórcio. O milho,
são conclusivos, pois no trabalho de e na produção de forragem por ser uma planta muito competitiva, afeta
Freitas et al. (2005), a aplicação de herbi- Trabalhos realizados mostram que os negativamente a forrageira, quando esta é
cida favoreceu a produção de forragem de diferentes arranjos testados não afetaram implantada em pós-emergência do milho.
B. brizantha, tanto na colheita da forragem o rendimento do milho (Quadro 12). Entre- Diante desses dados, recomenda-se o plan-
do milho, como 60 dias após esse período. tanto os arranjos afetam de forma significa- tio simultâneo da forrageira com o milho,
Nesse trabalho, o resultado pode ser expli- tiva a produção de forragem (Quadro 13), ou pois o rendimento deste não é afetado (des-
cado pelo fato de o herbicida controlar a seja, ficou evidente que o plantio de duas de que sejam seguidas as recomendações
planta daninha B. plantaginea, diminuindo, linhas da forrageira na entrelinha do milho de uso de herbicidas, arranjos e densidade
portanto, a competição com a B. brizantha. proporcionam maior produção de forragem, de plantio) e a produção da forrageira após
Já no trabalho de Jakelaitis et al. (2005a), a ou seja, quanto maior for a distribuição em colheita do granífero atinge seu máximo
aplicação dos herbicidas afetou negativa- linha da forrageira, maior será a produção potencial.
mente a produção de B. brizantha, na co- (menor tempo de formação do pasto).
lheita do milho, como também 50 dias pós- Densidade de plantio da
colheita e 40 dias após o primeiro pastejo. Épocas de introdução das forrageira e efeito no milho e
O mesmo aconteceu no trabalho de Kluth- forrageiras e efeitos no milho na produção de forragem
couski et al. (2003). Portela (2003), estudan- e na produção de forragem Nos trabalhos, não se verificaram res-
do mombaça e braquiária verificou que, De acordo com os trabalhos citados no postas da densidade de plantio das forra-
apesar de haver redução da produção da Quadro 14, verifica-se que não há diferenças geiras na produção de milho e de forragem
forrageira na colheita do milho com a aplica- de produtividade do milho entre o plantio (Quadros 16 e 17). Recomenda-se, portan-
ção de herbicida, aos 50 dias após a colheita simultâneo da forrageira com o milho e o to, uma densidade de 3,0 kg ha-1 de semen-
não se verificou efeito negativo. Conclui- plantio em pós-emergência. Como discuti- tes puras e viáveis para a implantação do
se que a recuperação da toxicidade da for- do anteriormente, o milho apresenta maior consórcio.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


QUADRO 10 - Porcentagem de controle de B. brizantha e Digitaria horizonthalis e rendimento de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes herbicidas e doses
(A)
Coimbra-MG Santo Antônio de Goiás-GO
(cultivar AGN 3180) (cultivar BR 3051)

Controle Controle Toxicidade Controle Toxicidade


Dose Dose
Herbicida -1 -1 B. brizantha D. horizonthalis milho -1 B. brizantha milho -1
(g i.a. ha ) (L p.c. ha ) kg ha kg ha
(%) (%) (%) (%) (%)
28 DAA 28 DAA 28 DAA 28 DAA 28 DAA

2002 2004

Milho solteiro – – 100 100 0 6.881 a 100 0 7.480 a


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 0 0 0 0 5.319 b 0 0 6.250 b

Nicosulfuron + atrazine 2 + 1.500 0,05 20 30 0 6.533 a – – –

Nicosulfuron + atrazine 4 + 1.500 0,1 43 50 0 6.167 a – – –

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Nicosulfuron + atrazine 6 + 1.500 0,15 – – – – 42 0 7.378 a

Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 0,2 73 80 0 6.180 a 60 0 7.270 a

Nicosulfuron + atrazine 12 + 1.500 0,3 91 83 0 6.610 a 65 0 7.435 a

Nicosulfuron + atrazine 18 + 1.500 0,45 – – – – – – –

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 15 + 1 + 1.500 0,05 53 70 0 6.732 a 50 0 7.480 a

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 22,5 + 1,5 + 1.500 0,075 – – – – 55 0 7.545 a

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 30 + 2 + 1.500 0,1 80 76 2 6.723 a – – –

Foramsulfuron + iodosulfuron + atrazine 45 + 3 + 1.500 0,15 90 91 10 6.402 a – – –

CV (%) – – – 5,9 – – 7,8

FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005a).


NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; DAA – Dias após a aplicação dos herbicidas; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial.
119
120 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 11 - Produtividade de massa seca de forragem e de grãos de milho, em função da aplicação de herbicidas
(A)
Coimbra-MG
(2002 - cultivar AGN 2012)
Dose
Herbicida -1 B. brizantha B. plantaginea B. brizantha Rendimento de B. brizantha
(g i.a. ha )
30 DAA 30 DAA colheita forragem de milho 60 DAC
-1 -1 -1 -1 -1
(kg ha ) (kg ha ) (kg ha ) (t ha ) (kg ha )
Milho solteiro – – – – 55 a –
Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 342 a 3.657 a 138 b 40 b 2.249 b
Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 250 b 849 b 733 a 55 a 4.482 a
CV (%) sd sd sd 5,9 sd
(B)
Coimbra-MG
(2002 - cultivar AGN 3180)
Dose
Herbicida -1 B. brizantha B. brizantha B. brizantha B. brizantha B. brizantha
(g i.a. ha )
30 DAA colheita colheita 50 DAC 40 DAP
-1 -1 -1 -1 -1
(kg ha ) (kg ha ) (kg ha ) (kg ha ) (kg ha )
Milho solteiro – – – 6.888 a – –
Nicosulf uron + atrazine 0 + 1.500 – 5.347 a 5.319 b 7.767 a 3.685 a
Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 – 2.367 b 6.180 a 3.717 b 2.487 b
CV (%) – – 24,42 5,98 26,47 20,03
(C)
Santo Antônio de Goiás-GO
(2001 - cultivar BR 201)
Dose
Herbicida -1 B. brizantha B. brizantha B. brizantha B. brizantha B. brizantha
(g i.a. ha )
30 DAA colheita colheita 45 DAC 35 DAP
-1 -1 -1 -1 -1
(kg ha ) (kg ha ) (kg ha ) (kg ha ) (kg ha )
Milho solteiro – – – 5.945 a – –
Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 – 1.060 a 5.252 a 4.300 a 4.060 a
Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 – 1.162 a 5.844 a 3.740 a 2.920 b
CV (%) – – 13,5 8,20 20,78 33,20
(D)
Santo Antônio de Goiás-GO
(2001 - cultivar BR 3150)
Dose
Herbicida -1 B. brizantha Rendimento B. brizantha
(g i.a. ha )
40 DAA de milho 50 DAC
-1 -1 -1
(kg ha ) (kg ha ) (kg ha )
Milho solteiro – – 8.425 a –
Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 400 a 8.012 a 6.130 a
Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 230 b 8.039 a 5.780 a
CV (%) – 54,78 10,0 34,30
(D)
Santo Antônio de Goiás-GO
(2002 - cultivar AGN 3180)
Dose
Herbicida -1 P. maximum Rendimento P. maximum
(g i.a. ha )
40 DAA de milho 50 DAC
-1 -1 -1
(kg ha ) (kg ha ) (kg ha )
Milho solteiro – – 7.375 a –
Nicosulfuron + atrazine 0 + 1.500 280 a 6.877 a 9.600 a
Nicosulfuron + atrazine 8 + 1.500 150 b 7.708 a 11.100 a
CV (%) – 26,62 9,40 49,3
FONTE: (A) Freitas et al. (2005), (B) Jakelaitis et al. (2005a), (C) Kuthcouski e Aidar (2003) e (D) Portela (2003) .
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
DAA – Dias após aplicação dos herbicidas; DAC – Dias após colheita; DAP – Dias após primeiro pastejo; CV – Coeficiente de
variação; i.a. - Ingrediente ativo; p.c. - Produto comercial

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 121

QUADRO 12 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes arranjos espaciais

Produtividade
-1
(kg ha )
Arranjos espaciais
(A) (B) (C)
Coimbra-MG Ilha Solteira-SP Coimbra-MG
(cultivar AG 122) (cultivar AG 8080) (cultivar AGN 2012)

Plantio simultâneo com uma linha na entrelinha 5.570 a – –

Plantio simultâneo com duas linhas na entrelinha 5.030 a – 55.330

Plantio simultâneo a lanço 5.770 a 6.928 a 49.790

Plantio simultâneo na linha do milho 5.550 a 7.503 a –

Plantio 30 DAE do milho, uma linha na entrelinha – 7.677 a 51.920

Plantio 30 DAE do milho a lanço – 8.147 a –

Milho solteiro 5.910 a 7.995 a 55.920

CV (%) 9,20 8,07 –

Espaçamento do milho entre fileiras (m) 1,00 0,45 1,00


-1
Densidade de plantio de B. brizantha (kg ha de sementes puras viáveis) 3,0 6,4 3,8

Uso de subdose de herbicida Sim Não Sim

FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005b), (B) Pantano (2003) e (C) Freitas et al. (2005).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; DAE – Dias após emergência.

QUADRO 13 - Produtividade de massa seca de B. brizantha, consorciada com milho em função de diferentes arranjos espaciais

Produtividade
-1
(t ha )
(A) (B) (C)
Arranjos espaciais Coimbra-MG Ilha Solteira-SP Coimbra-MG
(cultivar AG 122) (cultivar AG 8080) (cultivar AGN 2012)

Colheita 25 DAC Colheita 60 DAC

Plantio simultâneo com uma linha na entrelinha 1,15 c – – –


Plantio simultâneo com duas linhas na entrelinha 2,66 b – 0,73 4,48

Plantio simultâneo a lanço 0,45 c 1,69 a 0,13 0,76


Plantio simultâneo na linha do milho 0,71 c 2,13 a – –
Plantio 30 DAE do milho, uma linha na entrelinha – 1,45 a 0,05 0,05
Plantio 30 DAE do milho a lanço – 1,48 a – –
Braquiária solteira 7,63 a – 2,83 14,94
CV (%) 16,14 34,47 – –
Espaçamento do milho entre fileiras (m) 1,00 0,45 1,0 1,0
-1
Densidade de plantio da B. brizantha (kg ha de sementes puras viáveis) 3,0 6,4 3,8 3,8

Uso de subdose de herbicida Sim Não Sim Sim

FONTE: (A) Jakelaitis et al. (2005b), (B) Pantano (2003) e (C) Freitas et al. (2005).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; DAC – Dias após colheita; DAE – Dias após emergência.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


QUADRO 14 - Produtividade de grãos de milho consorciado com B. brizantha, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira 122

Produtividade
-1
(kg ha )
Época de introdução da forrageira
(A) (A) (A) (B) (C) (D)
Piracicaba-SP Piracicaba-SP Piracicaba-SP Jaboticabal-SP Ilha Solteira-SP Coimbra-MG
(cultivar Fort) (cultivar Fort) (cultivar Fort) (cultivar Exceler) (cultivar AG 8080) (cultivar 2012)

Milho solteiro 9.270 a 9.270 a 9.270 a 9.723 a 7.995 a 55.130 a

Plantio simultâneo 9.690 a 9.700 a 9.333 a _ 7.503 a 49.790 a

Plantio em pós-emergência do milho – V4 9.260 a 9.500 a 9.450 a _ 7.677 a _


(quatro folhas desenvolvidas)

Plantio em pós-emergência do milho – V5 _ _ _ 9.595 a _ 51.920 a


(cinco folhas desenvolvidas)

Plantio em pós-emergência do milho – V7 _ _ _ 9.595 a _ _


(sete folhas desenvolvidas)

CV (%) 7,36 7,36 7,36 3,77 7,09 _

Forrageira B. decumbens B. brizantha B. ruziziensis B. decumbens B. brizantha B. brizantha

Espaçamento do milho entre fileiras (m) 0,9 0,9 0,9 0,9 0,45 1,0

Arranjo Uma linha na Uma linha na Uma linha na Duas linhas na Uma linha na A lanço
entrelinha entrelinha entrelinha entrelinha entrelinha

Densidade de plantio da forrageira 3,0 3,0 3,0 6,4 3,17 3,8


-1
(kg ha de sementes puras viáveis)

Uso de subdose de herbicida Não Não Não Não Não Sim

FONTE: (A) Tsumanuma (2004), (B) Bernardes (2003), (C) Pantano (2003) e (D) Freitas et al. (2005).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação.
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


QUADRO 15 - Produtividade de massa seca de forragens consorciada com milho, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira

Produtividade
-1
(t ha )

(A) (A) (A) (B) (C) (D)


Época de introdução da forrageira Piracicaba-SP Piracicaba-SP Piracicaba-SP Jaboticabal-SP Ilha Solteira-SP Coimbra-MG
(cultivar Fort) (cultivar Fort) (cultivar Fort) (cultivar Exceler) (cultivar AG 8080) (cultivar 2012)

Colheita 60 DAC Colheita 60 DAC Colheita 60 DAC Colheita Colheita Colheita 60 DAC

Milho solteiro – – – – – – – – – –
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Plantio simultâneo 1,31 a 3,93 a 1,56 a 3,17 a 1,06 a 2,22 a – 2,13 a 0,13 a 0,76 a

Plantio em pós-emergência do milho – V4 0,37 b 3,16 a 0,35 b 2,10 b 0,33 b 1,85 b – 1,45 a – –
(quatro folhas desenvolvidas)

Plantio em pós-emergência do milho – V5 – – – – – – 4,51 a – 0,05 a 0,05 b


(cino folhas desenvolvidas)

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Plantio em pós-emergência do milho – V7 – – – – – – 2,88 b – – –
(sete folhas desenvolvidas)

CV (%) 17,7 20,0 17,7 20,0 17,7 20,0 7,75 29,84 – –

Forrageira B. decumbens B. brizantha B. ruziziensis B. decumbens B. brizantha B. brizantha

Espaçamento do Milho entre fileiras (m) – – – – 0,45 1,0

Arranjo Uma linha na Uma linha na Uma linha na Duas linhas na Uma linha na A lanço
entrelinha entrelinha entrelinha entrelinha entrelinha

Densidade de plantio da forrageira 3,0 3,0 3,0 6,4 3,17 3,8


-1
(kg ha de sementes puras viáveis)

Uso de subdose de herbicida Não Não Não Não Não Sim

FONTE: (A) Tsumanuma (2004), (B) Bernardes (2003), (C) Pantano (2003) e (D) Freitas et al. (2005).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
DAC – Dias após colheita; CV – Coeficiente de variação.
123
124 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

QUADRO 16 - Produtividade de grãos de milho consorciado com forrageiras, em função de diferentes densidades de semeio da forrageira

Produtividade
-1
(kg ha )
Densidade de semeio (A) (B)
Jaboticabal-SP Santo Antônio de Goiás-GO
(cultivar Exceler) (cultivar BRS 3051)
Milho solteiro 9.270 a 8.425 a 7.812 a 7.373 a 8.103 a
-1
1,6 kg ha sementes puras e viáveis – 7.959 a 7.772 a 7.077 a 7.028 a
-1
3,2 kg ha sementes puras e viáveis 9.561 a 8.012 a 8.039 a 6.877 a 7.708 a
-1
4,8 kg ha sementes puras e viáveis – 7.898 a 7.551 a 7.195 a 7.521 a
-1
6,4 kg ha sementes puras e viáveis 9.629 a – – – –
CV (%) 3,77 9,4 9,4 10,0 10,0

Forrageira B. decumbens B. brizantha B. brizantha P. maximum P. maximum

Espaçamento do milho entre fileiras (m) 0,9 0,90 0,90 0,90 0,90
Época de plantio Pós-emergência Plantio Plantio Plantio Plantio
(V5) simultâneo simultâneo simultâneo simultâneo

Arranjo Duas linhas na Uma linha na Uma linha na Uma linha na Uma linha na
entrelinha entrelinha e entrelinha e entrelinha e entrelinha e
outra no milho outra no milho outra no milho outra no milho

Uso de subdose de herbicida Não Não Sim Não Sim


FONTE: (A) Bernardes (2003) e (B) Portela (2003).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação; V5 – Milho com cinco folhas desenvolvidas.

QUADRO 17 - Produtividade de massa seca de forragens consorciada com milho, em função de diferentes densidades de semeio da forrageira

Produtividade
-1
(t ha )
(A) (B)
Densidade de semeio Jaboticabal-SP Santo Antônio de Goiás-GO
(cultivar Exceler) (cultivar BRS 3051)

Colheita 50 DAC 50 DAC 50 DAC 50 DAC

Milho solteiro – – – – –
-1
1,6 kg ha sementes puras e viáveis – 5,67 a 5,21 a 10,7 a 11,2 a
-1
3,2 kg ha sementes puras e viáveis 4,48 a 6,13 a 5,78 a 9,6 a 11,0 a
-1
4,8 kg ha sementes puras e viáveis – 6,00 a 5,19 a 11,8 a 14,7 a
-1
6,4 kg ha sementes puras e viáveis 4,55 a – – – –
CV (%) 7,75 34,3 34,3 49,3 49,3

Forrageira B. decumbens B. brizantha B. brizantha P. maximum P. maximum

Espaçamento do milho entre fileiras (m) 0,9 0,90 0,90 0,90 0,90

Época de plantio Pós-emergência Plantio Plantio Plantio Plantio


(V5) simultâneo simultâneo simultâneo simultâneo

Arranjo Duas linhas na Uma linha na Uma linha na Uma linha na Uma linha na
entrelinha entrelinha e entrelinha e entrelinha e entrelinha e
outra no milho outra no milho outra no milho outra no milho

Uso de subdose de herbicida Não Não Sim Não Sim


FONTE: (A) Bernardes (2003) e (B) Portela (2003).
NOTA: Médias seguidas pela mesma letra na mesma coluna, não diferem significativamente pelo teste Tukey, a 5% de probabilidade.
DAC – Dias após colheita; CV – Coeficiente de variação; V5 – Milho com cinco folhas desenvolvidas.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 125

Interação das forrageiras e a testemunha mantida com as diferentes da colheita, deve estar disponível o secador
plantas daninhas no consórcio plantas daninhas produziu apenas 2,0 t ha-1. de grãos. Depois da colheita, dependendo
milho + forrageira Entretanto, quando se utilizou do consór- da condição do pasto, deve-se fazer um pas-
Segundo Severino et al. (2005), o manejo cio com as forrageiras B. decumbens, B. tejo rápido de formação, para estimular o per-
de plantas daninhas na cultura do milho brizantha e P. maximum, com a presença filhamento da forrageira, ou o pasto deve
pode ser otimizado com a adoção de espé- das gramíneas forrageiras, ficou evidente ser vedado. No primeiro caso, em seguida
cies de plantas forrageiras que convivam e a supressão da infestação de plantas dani- à saída dos animais, a área deve ser vedada
desenvolvam-se nas entrelinhas da cultura. nhas, uma vez que os rendimento obtidos por período suficiente para rebrota e cresci-
Além de auxiliar na supressão da comu- com a consorciação foram significativa- mento até a fase do pastejo definitivo, que
nidade infestante, as forrageiras aceleram mente maiores que os da testemunha (mi- vai depender das condições do clima. Caso
a formação da pastagem que será destinada lho solteiro sem capina). o milho seja colhido para ensilagem, a área
ao consumo animal. Esse sistema de culti- é vedada em seguida até a época do primei-
vo pode ser, particularmente, interessante COLHEITA DO MILHO ro pastejo definitivo. A altura do pastejo
para pequenas áreas, como, por exemplo, A partir do início do secamento das deve seguir as recomendações para a espé-
as de agricultura familiar. folhas do milho vai haver maior penetração cie forrageira plantada, bem como a carga
No Quadro 18, verifica-se que, quan- de luz e a forrageira voltará a crescer em animal. Depois de um ciclo de pastejo que
do o milho se desenvolvia na presença de maior velocidade. Então, a colheita não deve pode ser somente na entressafra ou de alguns
plantas daninhas (corda-de-viola, caruru- sofrer atraso, pois a forrageira poderá cres- anos e, ao final do período de seca, a pasta-
roxo e capim-colchão), houve significati- cer muito e causar transtornos (embucha- gem é vedada e, no início das chuvas, des-
va redução da produtividade. Em média a mento) na colheita mecânica e operacional secada, dando início a novo ciclo de cultura
testemunha capinada produziu 7,0 t ha-1 e na manual. Caso se decida por antecipação solteira em rotação ou em consórcio.

QUADRO 18 - Produtividade de grãos de milho consorciado com forrageiras, em função de diferentes plantas daninhas

Produtividade
-1
(kg ha )

Cultivar CATI AL 34
Planta daninha
Milho solteiro Milho solteiro Consórcio com Consórcio com Consórcio com
com capina sem capina B. brizantha B. decumbens P. maximum

Corda-de-viola 7.130 Aa 1.980 Ad 4.000 Ac 4.040 Ac 5.190 Ab

Caruru-roxo 7.010 Aa 2.350 Ad 4.080 Ac 4.100 Ac 5.170 Ab

Capim-colchão 7.040 Aa 2.310 Ad 4.070 Ac 4.180 Ac 5.180 Ab

CV (%) 11,1 11,1 11,1 11,1 11,1

Espaçamento do milho entre fileiras (m) 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9

Época de plantio Simultâneo Simultâneo Simultâneo Simultâneo Simultâneo

Densidade de plantio da forrageira 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0


-1
(kg ha de sementes puras viáveis)

Arranjo Duas linhas na Duas linhas na Duas linhas na Duas linhas na Duas linhas na
entrelinha entrelinha entrelinha entrelinha entrelinha

Uso de subdose de herbicida Não Não Não Não Não

FONTE: Severino et al. (2005).


NOTA: Médias seguidas pela mesma letra maiúscula, na coluna, e minúscula, na linha, não diferem significativamente pelo teste
Tukey, a 5% de probabilidade.
CV – Coeficiente de variação.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


126 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

REFERÊNCIAS J.L.; VIANA, R.G. Efeitos de herbicidas no con- consorciação com milho em diferentes espa-
BERNARDES, L.F. Semeadura de capim sórcio de milho com Brachiaria brizantha. Planta çamentos na integração agricultura-pecuária
braquiária em pós-emergência da cultura Daninha, Viçosa, MG, v.23, n.1, p.69-78, jan./ em plantio direto. 2003. 60f. Dissertação (Mes-
do milho para obtenção de cobertura morta mar. 2005a. trado em Agronomia/Sistema de Produção) – Fa-
em sistema de plantio direto. 2003. 42f. Dis- culdade de Engenharia, Universidade Estadual
______; SILVA, A.F.; SILVA, A.A.; FERREIRA,
sertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade Paulista “Júlio de Mesquista Filho”, Ilha Solteira,
L.R.; FREITAS, F.C.L.; VIVIAN, R. Influência de
de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade 2003.
herbicidas e de sistemas de semeadura de Brachiaria
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jabo- brizantha consorciada com milho. Planta Dani- PORTELA, C.M. de O. Efeito de herbicidas e
ticabal, 2003. nha, Viçosa, MG, v.23, n.1, p.59-67, jan./mar. diferentes populações de forrageiras con-
BLANCO, H.G.; OLIVEIRA, D.A.; ARAUJO, 2005b. sorciadas com as culturas de soja e milho,
J.B.M. Épocas em que uma associação de mato no Sistema Santa Fé. 2003. 68f. Dissertação
KLUTHCOUSKI, J.; AIDAR, H. Implantação,
provoca prejuízos por competição à produção de (Mestrado em Agronomia) – Universidade Fede-
condução e resultados obtidos com o Sistema San-
milho. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO DE ral de Goiás, Goiânia.
ta Fé. In: _______; STONE, L.F.; AIDAR, H.
HERBICIDAS E ERVAS DANINHAS, 11., 1976, (Ed.). Integração lavoura-pecuária. Santo PORTES, T. de A.; CARVALHO, S.I.C. de; OLI-
Londrina. Resumos... Piracicaba: Sociedade Bra- Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. VEIRA, I.P. de; KLUTHCOUSKI, J. Análise do
sileira de Herbicidas e Ervas Daninhas, 1976. p.18. cap.15, p.407-441. crescimento de uma cultivar de braquiária em cul-
COELHO, A.M.; FRANÇA, G.E. de; PITTA, tivo solteiro e consorciado com cereais. Pesqui-
______; COBUCCI, T.; AIDAR, H.; YOKO-
G.V.E.; ALVES, V.M.C.; HERNANI, L.C. Nutri- sa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.35, n.7,
YAMA, L. P.; OLIVEIRA, I. P. de.; COSTA, J.
ção e adubação do milho. 2003. Disponível p.1349-1358, jul. 2000.
L. da S.; SILVA, J. G. da.; VILELA, L.; BAR-
em: <http://www.portaldo agronegocio.com.br/
CELLOS, A. de O.; MAGNOBOSCO, C. de U. RAMOS, L.R. de M.; PITELLI, R.A. Efeitos de
index.php?p=texto&&idT=175>. Acesso em: 14
Sistema Santa Fé - Tecnologia Embrapa: inte- diferentes períodos de controle da comunidade
fev. 2006.
gração lavoura-pecuária pelo consórcio de cultu- infestante sobre a produtividade da cultura do
DUARTE, N.F. Determinação do período de ras anuais com forrageiras, em áreas de lavoura, milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
competição de plantas daninhas fundamen- nos sistemas direto e convencional. Santo Antônio Brasília, v. 29, n. 10, p. 1523-1531, out. 1994.
tado nos estádios fenológicos da cultura do mi- de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2000. 28 p.
SANGOI, L.; ENDER, M.; GUIDOLIN, A.F.;
lho (Zea mays). 2000. 81p. Dissertação (Mes- (Embrapa Arroz e Feijão. Circular Técnica, 38).
HEBERTE, P.C. Redução entre linhas: uma alter-
trado) – Universidade Federal de Lavras, Lavras.
OLIVEIRA, I.P. de; CUNHA, R.; SANTOS, R.S.M. nativa para aumentar o rendimento de grãos de
FAGERIA, N.K. Resposta de arroz de terras altas, dos; FARIA, C.D. de; CUNHA, G.F. da. Efeito da milho no Planalto Catarinense. In: REUNIÃO
feijão, milho e soja à saturação por base em solo correção da fertilidade do solo no desenvolvimen- TÉCNICA CATARINENSE DE MILHO E FEI-
de Cerrado. Agriambi: Revista Brasileira de En- to da Brachiaria brizantha cv. Marandu em JÃO, 1., 1998, Chapecó. Resumos... Chapecó:
genharia Agrícola e Ambiental, Jaboticabal, v.5, latossolo com diferentes históricos. Pesquisa EPAGRI, 1998. p.9-11.
n.3, p.416-424, set./dez. 2001. Agropecuária Tropical, Goiânia, v.30, n.1, p.57-
SEVERINO, F.J.; CARVALHO, S.J.P.; CHRIS-
64, 2000.
FREITAS, F.C.L.; FERREIRA,F.A.; FERREIRA, TOFFOLETI, P.J. Interferências mútuas entre a
L.R.; SANTOS, M.V.; AGNES, E.L. Cultivo con- ______; KLUTHCOUSKI, J.; YOKAMA, L.P.; cultura do milho, espécies forrageiras e plantas
sorciado de milho para silagem com Brachiaria DUTRA, L.G.; PORTES, T. de A.; SILVA, A.E. daninhas em um sistema de consórcio – I: impli-
brizantha no sistema de plantio convencional. da.; PINHEIRO, B. da S.; FERREIRA, E.; CAS- cações sobre a cultura do milho (Zea mays). Plan-
Planta Daninha, Viçosa, MG, v.23, n.4, p.635- TRO, E. da M. de; GUIMARÃES, C.M.; GOMIDE, ta Daninha, Viçosa, MG, v.23, n.4, p.589-596,
644, out.dez. 2005. J. de C.; BALBINO, L.C. Sistema Barreirão: out./dez. 2005.
HANIZ, G.; HOKSHOUSER, D. L.; CHANDER, recuperação/renovação de pastagens degrada-
TSUMANUMA, G. M. Desempenho do milho
J.M. The critical period of Johnsongrass (Sorghum das em consórcio com culturas anuais. Goiânia:
consorciado com diferentes espécies de
halepens) control in field corn (Zea mays). Weed EMBRAPA-CNPAF, 1996. 87p. (EMBRAPA-
braquiárias, em Piracicaba, SP. 2004. 83p.
Science, Champaign, v. 44, n.4, p. 944-947, 1996. CNPAF. Documentos, 64).
Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Escola
JAKELAITIS, A.; SILVA, A.A.; FERREIRA, L.R.; PAIVA, L.E. Influência de níveis de nitrogê- Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Uni-
SILVA, A.F.; FREITAS, F.C.L. Manejo de plantas nio, espaçamento e densidade no rendimen- versidade de São Paulo, Piracicaba.
daninhas no consórcio de milho com capim- to forrageiro e qualidade da silagem de mi-
YOKOYAMA, L.P.; KLUTHCOUSKI, J.;
braquiária (Brachiaria decumbens). Planta Da- lho (Zea mays L.). 1992. 81f. Dissertação
OLIVEIRA, I.P. de. Impactos socioeconômicos
ninha, Viçosa, MG, v.22, n.4, p.553-560, out./ (Mestrado) – Escola Superior de Agricultura de
da tecnologia “Sistema Barreirão”. Santo
dez. 2004. Lavras, Lavras.
Antônio de Goiás: EMBRAPA-CNPAF, 1998. 37p.
______; ______; ______; ______; PEREIRA, PANTANO, A.C. Semedura de braquiária em (EMBRAPA-CNPAF. Boletim de Pesquisa, 9).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.106-126, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 127

Produção de milho orgânico no


Sistema Plantio Direto
Anastácia Fontanétti 1
João Carlos Cardoso Galvão 2
Izabel Cristina dos Santos 3
Glauco Vieira Miranda 4

Resumo - O Sistema Plantio Direto (SPD) é um dos principais desafios da agricultura


orgânica na atualidade e sua consolidação passa necessariamente pela adaptação e geração
de conhecimentos tecnológicos que possibilitem a manutenção e o incremento da
fertilidade do solo, o manejo de pragas, doenças e plantas invasoras, a estabilização da
produção e a melhoria do padrão comercial dos produtos. Os resultados de pesquisa
sobre a produção de milho orgânico no SPD indicam entre os principais entraves técnicos
o manejo das plantas daninhas e a disponibilização dos nutrientes dos adubos orgânicos
em sincronia com a demanda nutricional das plantas de milho.
Palavras-chave: Zea mays. Agricultura orgânica. Agricultura alternativa. Planta de co-
bertura. Planta daninha. Planta invasora.

INTRODUÇÃO nutenção dos índices produtivos e com- sui cerca de 203 mil hectares com cultu-
Nas últimas décadas, têm sido obser- prometendo o sistema de produção. Esses ras orgânicas e 600 mil hectares com pasta-
vadas mudanças no padrão de consumo e fatos contribuíram para o surgimento de gens orgânicas (ORMOND et al., 2002).
de alimentação. Novos valores, sociais e novo paradigma, o da sustentabilidade, o No entanto, o País deve subir para a 2a
ambientais, antes não relevantes, são agre- qual preconiza o uso equilibrado do solo e posição, devido à recente certificação de
gados aos produtos, o que influencia a da água, a maximização das contribuições 5,7 milhões de hectares de áreas de extra-
escolha dos consumidores. A crescente de- biológicas e o incremento da biodiversi- tivismo sustentável de castanha, açaí,
manda por alimentos mais saudáveis, de dade. A adoção desse paradigma difundiu pupunha, látex e outros produtos, oriun-
melhor qualidade, com elevado valor nutri- amplamente as correntes de agricultura dos principalmente da região Amazônica
cional e produzidos em sistemas menos ecológica, entre elas a agricultura orgâ- (AGRICULTURA..., 2006).
agressivos ao ambiente, gerou a necessi- nica. As normas de produção, certificação e
dade de repensar o modelo de produção. O crescimento de vendas de produtos comercialização dos produtos orgânicos no
Os modelos reducionistas de produ- orgânicos no mundo está em torno de 7% Brasil começaram a ser regulamentadas por
ção agrícola conseguiram, em curto prazo, a 9% ao ano e os maiores mercados estão meio da Instrução Normativa no 7, de 17 de
aumentar a produtividade e conferir maior situados na Europa e nos EUA; a área des- maio de 1999 (BRASIL, 1999) e, posterior-
competitividade no mercado globalizado. tinada à produção orgânica certificada no mente, pela Lei no 10.831 de 23 de dezembro
Porém, os impactos gerados causaram de- mundo ocupa cerca de 26,5 milhões de hec- de 2003 (BRASIL, 2003). Em 11 de junho de
gradação do solo, contaminação da água e tares e o Brasil está na 5a posição mundial 2004, foi publicada a Instrução Normati-
perda da biodiversidade, dificultando a ma- (WILLER; YUSSEF, 2005). O Brasil pos- va no 16, que estabelece os procedimentos

1
Enga Agra, Doutoranda, UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: afontanetti@yahoo.com.br
2
Engo Agro, D.Sc., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: jgalvao@ufv.br
3
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM/Bolsista FAPEMIG, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correiro eletrônico: icsantos@epamig.ufv.br
4
Engo Agro, D.Sc., Prof. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: glaucovmiranda@ufv.br

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


128 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

a serem adotados para registro e renovação culativas, fornecidas pelas certificadoras e utilizando o mínimo possível de insumos
de registro de matérias-primas e produtos entidades ligadas à extensão rural. Existem, externos à propriedade. A produtividade
de origem animal e vegetal orgânicos jun- aproximadamente, 25 certificadoras atuan- no sistema orgânico é conseqüência da ci-
to ao Ministério da Agricultura, Pecuária e do no Brasil. No Instituto de Biodinâmica clagem de nutrientes e do equilíbrio alcan-
Abastecimento (BRASIL, 2004). Algumas e de Desenvolvimento Rural (IBD, 2006), çado. Um produto não recebe o selo orgâ-
alterações nas exigências ainda podem ser por exemplo, há, atualmente, cerca de 50 nico com base apenas no resultado final,
feitas pelas certificadoras, principalmente projetos de certificação de milho orgânico. mas em função de todo o seu processo
para atender ao mercado internacional, de Além disso, muitos agricultores produzem produtivo.
acordo com as diretrizes da International milho em sistemas ecológicos sem certi-
Federation of Organic Agriculture Move- ficação. De acordo com dados da Asso- ESCOLHA DAS ESPÉCIES
ments (Ifoam). ciação Riograndense de Empreendimentos PARA FORMAÇÃO DA
Entre as culturas produzidas no sistema de Assistência Técnica e Extensão Rural COBERTURA MORTA
orgânico, no Brasil, destacam-se a soja, o (Emater-RS), somente no estado do Rio
açúcar e o café, destinados à exportação, Grande do Sul, 795 hectares eram cultiva- Diferentemente do SPD tradicional, o
e as olerícolas, destinadas principalmen- dos com milho orgânico em 2001, com orgânico, por não utilizar os herbicidas des-
te ao mercado interno (DAROLT, 2002). produtividade média de 4,0 t ha-1, cerca secantes, depende da formação de uma boa
No entanto, outros setores, como de pro- de 300 kg a mais que a média nacional de cobertura morta ou palha para sua implan-
dução de cereais, carnes, leite e seus deri- milho produzido convencionalmente (PRO- tação, não apenas com o intuito de manter
vados deverão ser incrementados, devido DUTORES..., 2003). o solo protegido, mas principalmente para
à inserção de suas cadeias produtivas no O fato é que a produção de milho orgâ- evitar futuros problemas com as plantas
mercado orgânico. nico no Brasil deve aumentar, mas ainda daninhas.
Nesse contexto, a produção de milho encontrará várias barreiras técnicas que Recomenda-se também que, na fase ini-
orgânico assume grande relevância, pois é dificultarão sua consolidação. Entre elas cial de implantação do SPD, se evite a utili-
intensamente utilizado na alimentação está o incremento e a manutenção da ferti- zação de áreas que se encontram em pousio
animal. É fundamental para a consolidação lidade do solo e o manejo das plantas inva- (com vegetação espontânea) ou áreas com
das cadeias produtivas de carnes e leites soras. os restos da cultura antecessora junto com
orgânicos. Uma das contradições da produção as plantas daninhas de final de ciclo, pois
O preço dos grãos de milho e de soja orgânica de grãos é o sistema de preparo nesses casos o manejo das invasoras no
orgânicos é cerca de 40% a 100% mais ele- de solo, que geralmente é feito com aração cultivo posterior fica difícil, visto que a
vado que o dos grãos produzidos conven- e gradagem, o que não está totalmente de competição com a cultura no início do ciclo
cionalmente. Quase toda a produção orgâ- acordo com os princípios da agricultura será muito maior.
nica é exportada, diminuindo a oferta do orgânica. Portanto, enquanto no sistema Na escolha das plantas de cobertura,
produto no mercado interno, o que tem convencional as áreas de plantio direto vêm devem-se privilegiar as que apresentem rá-
dificultado o avanço da produção de car- aumentando, no sistema orgânico os pro- pido crescimento inicial, boa capacidade
nes orgânicas no Brasil, principalmente de dutores continuam a revolver o solo. de recobrimento do solo e elevada produ-
aves. Na formulação das rações orgânicas Sem dúvida, a prática do plantio direto ção de biomassa. Várias pesquisas reali-
para animais, a legislação permite a utiliza- seguindo os preceitos da agricultura orgâ- zadas no sistema tradicional em SPD têm
ção de apenas 20% de componentes não nica seria o ideal em termos de sustentabi- indicado que plantas de inverno como a
produzidos de acordo com as diretrizes orgâ- lidade, mas adaptar o plantio direto tradi- aveia-preta (Avena strigosa) e o trigo
nicas. Assim, devido à baixa oferta e ao cional às normas da produção orgânica não (Triticum aestivum) são boas opções para
elevado preço dos componentes de origem tem sido tarefa fácil para os pesquisadores, reduzir a densidade das plantas daninhas
orgânica, o quilo da ração orgânica é, apro- extensionistas e produtores. e sua interferência nas safras posterio-
ximadamente, 70% mais caro que o da ra- As diferenças entre os cultivos tradi- res. Na cultura da soja, o incremento dos
ção convencional (DEMATTÊ FILHO et cional e orgânico em SPD não se restringem níveis de palha de aveia-preta sobre o so-
al., 2005), o que pode dificultar a permanên- apenas ao que é ou não é permitido pela lo reduziu de forma exponencial a infes-
cia do produtor no setor de avicultura orgâ- legislação, mas também às diferenças de tação de capim-marmelada (Brachiaria
nica. abordagem. A produção orgânica tem o plantaginea); na ausência do controle quí-
É difícil quantificar a área com produção enfoque holístico; a fertilidade do solo deve mico, as maiores produtividades da soja
orgânica de milho no Brasil; as informações ser alcançada e mantida com a aplicação foram obtidas quando a aveia-preta pro-
estatísticas nesse setor são em geral espe- de resíduos orgânicos vegetais e animais, duziu acima de 6 t ha-¹, possivelmente de-
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006
Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 129

vido à redução da infestação de capim- desse nutriente pelo milho, além de permitir riormente, não utiliza os herbicidas desse-
marmelada (THEISEN et al., 2000). Re- maior proteção do solo e controle das plan- cantes do sistema convencional; as plantas
sultados de experimentos realizados nos tas daninhas, requisitos essenciais para a são roçadas ou tombadas na fase de forma-
Estados Unidos revelaram que 5 e 7 t ha-1 produção orgânica de milho em SPD. ção de grãos (quando cultivadas exclusi-
de massa seca de resíduos de trigo sobre Em experimentos realizados durante vamente para cobertura do solo), ou após
o solo reduzem a biomassa das plantas nove anos na Região Sul do País foi cons- a colheita (quando se aproveita o resto
daninhas em 21% e 73%, respectivamente tatado que a utilização do consórcio de aveia- cultural), utilizando roçadeiras motori-
(WICKS et al., 1994). preta com ervilhaca (Vicia sativa) propor- zadas, rolo-faca, entre outros equipamen-
Na Estação Experimental de Coimbra- cionou produção de massa seca igual à do tos.
MG, pertencente a Universidade Federal cultivo isolado de aveia e acúmulo de ni- No SPD orgânico de milho implantado
de Viçosa (UFV), a aveia-preta produziu trogênio equivalente ao da ervilhaca, po- na Estação Experimental de Coimbra-MG
4,0 t ha-1 de massa seca no primeiro ano de rém com relação C/N de 23,7, enquanto no da UFV, o manejo da aveia-preta é reali-
adoção do SPD de milho orgânico (MELO, cultivo exclusivo da aveia e da ervilhaca zado na fase de formação de grãos (início
2004). Na mesma área experimental, no essa foi de 46,8 e 14,7 respectivamente, de- do mês de outubro) com ceifadeira moto-
terceiro ano de plantio direto orgânico, monstrando que no consórcio o processo rizada (Fig. 1 e 2); a palha fica exposta ao
obteve-se produção média de 7,0 t ha-1 de de mineralização e imobilização perma- sol durante aproximadamente cinco dias e,
massa seca de aveia-preta. Porém, para atin- neceu próximo ao equilíbrio (AMADO et em seguida, o plantio do milho é realizado
gir essa produtividade numa região de al., 2000). Estes autores destacaram ainda com a semeadora/adubadora de plantio
inverno seco como da Zona da Mata mi- que o acúmulo de nitrogênio na biomassa direto (MELO, 2004) (Fig. 3). Deve-se evitar
neira é necessário utilizar irrigação e realizar do milho cultivado em sucessão ao con- a utilização de semeadoras que promovam
o plantio até julho, em baixa temperatura. sórcio foi igual ao obtido no cultivo do mi- maior abertura lateral do sulco de plantio,
Embora a aveia-preta tolere temperaturas lho em sucessão à ervilhaca em cultivo pois nesse caso ocorre maior exposição das
mais elevadas em relação a outras espécies solteiro. sementes das plantas daninhas, o que favo-
de inverno, quando o plantio é realizado a rece sua emergência na linha.
partir de agosto há queda na produção de MANEJO DAS PLANTAS No sistema orgânico essas plantas só
massa seca. DE COBERTURA E PLANTIO
podem ser controladas com o repasse ma-
Uma alternativa para a formação da co-
O manejo das plantas de cobertura no nual com enxada, o que onera os custos de
bertura morta na produção orgânica é a
sistema orgânico, como mencionado ante- produção.
utilização do consórcio entre gramíneas e
leguminosas. Enquanto as gramíneas apre-
sentam alta relação carbono/nitrogênio
(C/N), baixa taxa de decomposição e, por
isso, maior permanência da palha sobre o
solo, as leguminosas apresentam baixa
relação C/N e rápida taxa de decomposição;
assim, parte do nitrogênio pode ser libera-
do nas primeiras semanas após o manejo.
No entanto, o aproveitamento desse nutri-
ente pela cultura em sucessão dependerá
do sincronismo entre a decomposição da
palha e a demanda da cultura. Se a cultura
em sucessão não absorver esse nutriente,
grande parte pode ser perdida por vola-
tilização ou lixiviação. O consórcio de gra-
míneas com leguminosas, portanto, pode
Anastácia Fontanétti

contribuir para liberação gradual do nitro-


gênio, impedindo sua imobilização inicial,
geralmente observada, quando se utiliza
cobertura formada exclusivamente por gra-
mínea, e pode favorecer o aproveitamento Figura 1 - Corte da aveia-preta com ceifadeira motorizada

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


130 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

João Carlos Cardoso Galvão


Anastácia Fontanétti

Figura 2 - Detalhe da ceifadeira motorizada Figura 3 - Plantio do milho com semeadora/adubadora de plantio
direto

ESCOLHA DA CULTIVAR de milho para o sistema de produção orgâ- Uso de composto orgânico
DE MILHO nico, Oliveira (2005) verificou que o híbrido na adubação do milho orgânico:
AG1051 e a variedade AL25 foram os mais experiência da UFV
A escolha da cultivar de milho para o
indicados como genitores nesse ambiente. A Estação Experimental de Coimbra- MG
sistema orgânico deve levar em considera-
ção, principalmente, a adaptação às condi- da UFV mantém desde 1984, experimento
ADUBAÇÃO permanente, no qual são testadas as hipó-
ções edafoclimáticas da região, a tolerância
a pragas e doenças e a eficiência quanto A adubação nos cultivos orgânicos teses de que o composto orgânico aplicado
à absorção de nutrientes de fontes menos baseia-se no aporte de matéria orgânica ao continuamente na cultura do milho modi-
solúveis. Em geral, as variedades têm si- solo por meio de resíduos de origem animal fica os teores de nutrientes, influencia as
do preferidas em relação aos híbridos, pois ou vegetal, como esterco, composto orgâ- características físicas do solo e aumenta o
possuem maior variabilidade genética. nico, vermicomposto, biofertilizante e adu- rendimento de grãos de milho (GALVÃO,
No entanto, nada impede a utilização de bos verdes (BRASIL, 1999). Ainda de acor- 1995; MAIA; CANTARUTTI, 2004). Anual-
cultivares híbridas, desde que sejam reco- do com Brasil (1999), fertilizantes minerais mente, são aplicados 40 m³ ha-1 ano-1 de
mendadas visando à região e à época de naturais pouco solúveis como fosfato na- composto orgânico, o que, dependendo da
plantio e adquiridas por preços compatíveis tural, termofosfato, sulfato de potássio, densidade, atinge entre 10 e 15 t de massa
com os custos de produção. sulfato de magnésio e micronutrientes seca ha-1 ano-1, e dois níveis de adubação
A produção de espigas de milho verde podem ser utilizados; porém, algumas cer- mineral, 250 e 500 kg ha-1 da fórmula 4-14-8
de dez cultivares comerciais, em sistema tificadoras restringem seu uso. no plantio e mais 100 e 200 kg ha-1 de sulfato
orgânico, foi avaliada por Santos et al. O composto orgânico é um dos adubos de amônio em cobertura, respectivamente.
(2005); eles verificaram que os híbridos mais usados na agricultura orgânica, mas É mantida também uma testemunha sem
AG4051 e D270 apresentaram os melho- sua utilização implica na realização de com- adubação. Inicialmente, o preparo do solo
res desempenhos, com produção de 10,5 e postagem e requer meio de transporte e apli- para o SPD do milho era realizado com uma
7,4 t ha-1 de espigas despalhadas, respecti- cação desse insumo, o que eleva os custos aração e duas gradagens e o composto apli-
vamente; entre as variedades, as cultivares de produção. Outra dificuldade levantada cado no sulco de plantio (Fig. 4).
AL25 e UFVM100 apresentaram as maio- em relação ao uso do composto para pro- O composto é obtido por meio da com-
res produções de espigas: 8,0 e 7,1 t ha-1 dução de milho orgânico é relacionada com postagem de esterco bovino e resíduos de
respectivamente. No entanto, Melo (2004) o volume a ser aplicado para que se obte- cultivos, como a palha de feijão e trigo, col-
não encontrou diferenças entre a variedade nha elevada produtividade de grãos. Em mo de milho picado, casca de café e capim
UFVM100 e o híbrido AG1051 para as função dessas dificuldades apresentam-se seco. Os teores médios de nutrientes presen-
principais características agronômicas de a seguir resultados de pesquisas sobre o tes no composto orgânico são: 0,7 dag kg-1
milho verde, produzido no SPD orgânico. uso de composto orgânico na cultura do de P; 2,8 dag kg-1 de K; 1,0 dag kg-1 de Ca;
Tendo em vista a seleção de genitores milho. 0,4 dag kg-1 de Mg e 3,2 dag kg-1 de N to-

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 131

O Gráfico 1 ilustra os resultados obti-


dos ao longo de vários anos por Galvão
(1995), Silva et al. (1998), Bastos (1999) e
Maia (1999). Verifica-se que a produtividade
do milho obtida na parcela testemunha, ou
seja, sem adubação por 14 anos, está em
acentuada queda, influenciada pelo esgo-
tamento de nutrientes do solo. Por sua vez,
o nível 1 de adubação mineral (250 kg ha-1
de 4-14-8 mais 100 kg de sulfato de amô-
João Carlos Cardoso Galvão

nio ha-1 ano-1) também tendeu a reduzir o


rendimento dos grãos de milho durante os
anos de experimentação. No nível 2 de adu-
bação mineral (500 kg ha-1 de 4-14-8 mais
200 kg de sulfato de amônio ha-1 ano-1), a
produtividade manteve-se estável, com o
Figura 4 - Aplicação do composto orgânico no sulco de plantio, forma utilizada no
potencial produtivo em torno de 6,5 t ha-1.
cultivo orgânico convencional na UFV
Com uso de composto orgânico a tendên-
cia da produtividade do milho foi sempre
tal, com pequena variação de um ano para nico, enquanto a aplicação da adubação ascendente, atingindo patamar em torno de
o outro. mineral durante os 14 anos pouco alterou 8,0 t ha-1. Esses resultados permitiram a
A primeira avaliação foi realizada sete o teor de N-total do solo. No tratamento estes autores concluir que a aplicação de
anos após o início do experimento. Os re- com adubação orgânica cerca de 3,1% do 40 m³ ha-1 ano-1 de composto orgânico dire-
sultados evidenciaram que o composto N-total estava na forma lábil, ou seja, mine- tamente no sulco de plantio, garante a ma-
elevou os teores de fósforo (P), potássio ralizável, contra 2,8% no tratamento mine- nutenção da fertilidade do solo e da pro-
(K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) e mante- ral. dução do milho orgânico.
ve o pH do solo em níveis satisfatórios,
sendo que o incremento nos teores de P
foi de aproximadamente quatro vezes em
relação à testemunha (sem adubação) e
o de K, 2,4 vezes maior (GALVÃO, 1995).
Verificou-se que os teores foliares de nitro-
gênio (3,00 dag kg -1), fósforo (0,24 dag kg-1)
e potássio (1,94 dag kg-1), no milho aduba-
do com composto orgânico, foram con-
siderados adequados para a cultura, com
produtividade média de grãos de milho de
5 t ha-1.
Maia e Cantarutti (2004) observaram,
14 anos após o início do experimento, na
mesma área experimental aumento dos teo-
res de C total e C lábil no solo e, conseqüen-
temente, aumento médio de 41% da capa-
cidade de troca catiônica (CTC) total nas
parcelas que receberam o composto orgâ-
nico, com tendência de diminuição da CTC
nas parcelas que receberam adubação mi-
neral. Verificaram também aumento de 44% Gráfico 1 - Produtividade da cultura do milho em função de vários anos de cultivo
de N-total na camada de 0 -10 cm do solo nas submetido a diferentes adubações
parcelas que receberam composto orgâ- FONTE: Dados básicos: Maia (1999).

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


132 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

Em 2003, na mesma área experimental,


foi adotado o SPD para produção orgânica
de milho com apoio financeiro do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (Fapemig). A partir desse ano o com-
posto orgânico (40 m³ ha-1 ano-1 ) passou a
ser aplicado em cobertura, ao lado da li-
nha de plantio, após a emergência do milho
(Fig. 5). A primeira avaliação da produção

João Carlos Cardoso Galvão


de milho no SPD foi realizada por Melo
(2004), que verificou produção de espi-
gas de milho verde sem palha de 7,2 t ha-1 .
Este autor ressalta que o SPD orgânico pro-
porcionou resultados equivalentes ao do
SPD convencional, com altos valores nos
componentes de produção de milho verde. Figura 5 - Aplicação do composto orgânico em cobertura ao lado da linha de plantio
Porém, no segundo ano de plantio di- do milho, forma utilizada no Sistema Plantio Direto orgânico na UFV
reto na mesma área experimental, verificou-
se tendência de redução do rendimento de
grãos do milho. De acordo com o Gráfico 2,
no cultivo convencional (aração e grada-
gem), a aplicação do composto orgânico
proporcionou aumento da produtividade
de grãos de milho ao longo de vários anos;
no entanto, a partir do segundo ano de
SPD, a produtividade foi reduzida no cul-
tivo orgânico em SPD e teve incremento
no SPD tradicional (fertilização mineral e
uso de herbicidas).
A redução na produtividade está, pro-
vavelmente, relacionada com o fato de que
as plantas de milho não estão absorvendo
os nutrientes disponibilizados pelo com-
posto orgânico aplicado em cobertura, e
também ao aumento da população de plan- Gráfico 2 - Produtividade de milho em sistema convencional e em SPD, em função de
tas daninhas na área, a partir do segun- adubação mineral e orgânica ao longo de vários anos - Estação Experimental
do ano de plantio direto orgânico, o que de Coimbra-MG da UFV, 2005
aumenta a competição entre a cultura e as
plantas invasoras pelos fatores de produ- Nos sistemas de produção orgânicos vência com as plantas daninhas, porque
ção. descritos na literatura, o manejo das plan- podem ser importantes fontes de alimento
tas daninhas tem recebido pouca atenção, alternativo e abrigo para inimigos naturais
MANEJO DAS o que se justifica, até certo ponto, em sis- de vários insetos-pragas (ALTIERI et al.,
PLANTAS DANINHAS
temas estáveis, de longo prazo, nos quais 1996). No entanto, não se pode ignorar o
O manejo das plantas daninhas no cul- as práticas de manejo possibilitam o con- fato de que as plantas daninhas competem
tivo orgânico em SPD é, sem dúvida, o prin- vívio entre as culturas e as plantas dani- com as culturas, principalmente, em áreas
cipal entrave técnico na atualidade e um nhas dentro de um limiar de dano econômico de conversão ao sistema orgânico, acarre-
dos principais motivos da recusa do SPD aceitável. Além disso, no sistema orgânico tando perdas na produtividade. Na cultu-
pelos produtores orgânicos. é desejável, sempre que possível, a convi- ra do milho em sistema convencional, por

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 133

exemplo, a interferência das plantas dani- densidade de seis plantas por metro na ceifadeira motorizada nos estádios de qua-
nhas pode reduzir o rendimento de grãos mesma linha do milho (Fig. 6), ele não afeta tro e oito folhas do milho completamente
em até 87%, principalmente quando ocorre a produção da cultura, contribui no aporte desenvolvidas (Fig. 7 e 8).
nos estádios iniciais de desenvolvimento de nutrientes ao solo e reduz a ressemea- Em estudo realizado na Estação Experi-
da cultura, devido à competição por água, dura de final de ciclo das plantas daninhas. mental do Instituto Agronômico do Paraná
luz e nutrientes (KOZLOWSKI, 2002). O manejo das plantas daninhas durante (Iapar), em Ponta Grossa (PR), foi avaliada
O não-revolvimento do solo, a utiliza- o ciclo da cultura é feito na maior parte das a demanda de mão-de-obra e o efeito dos
ção da palha como cobertura morta e a ro- vezes, com o uso de roçadeiras nas entre- métodos de controle das plantas daninhas
tação de culturas, entre outras práticas do linhas e/ou de capina manual com enxada (uma capina, duas roçadas, dessecante mais
SPD, interferem no comportamento evolu- nas linhas e entrelinhas de plantio. No expe- uma roçada e herbicida), sobre o rendimento
tivo da flora infestante e contribuem para rimento da Estação Experimental de Coimbra- de grãos de milho em SPD. Verificou-se que
o seu controle. O simples fato de não mo- MG da UFV, o manejo das plantas daninhas a capina é altamente demandadora de mão-
vimentar o solo diminui a germinação de no cultivo orgânico em SPD é realizado com de-obra e demonstrou tendência de redu-
espécies dependentes da luz para o pro-
cesso germinativo como, por exemplo, picão-
preto (Bidens pilosa), botão-de-ouro
(Galinsoga parviflora) e beldroega
(Portulaca oleraceae) (BLANCO; BLANCO,
1991), e reduz em até 94% as manifesta-
ções epígeas de tiririca (Cyperus rotundus),
pois não ocorre a divisão de tubérculos e
a quebra da dominância apical provocada
pelos implementos agrícolas utilizados para
a movimentação do solo (JAKELAITIS et
al., 2003). A rotação de culturas e a cobertura
morta podem modificar ainda a dinâmica
do banco de sementes e, por conseqüência,
da comunidade de plantas daninhas por
proporcionar diferentes modelos de com-
petição, distúrbios do solo e ação alelo-
pática (BUHLER et al., 1997). Porém, essas
mudanças são observadas em longo pra-
zo.
No início da adoção do SPD sem o uso
de herbicidas, algumas estratégias são
importantes e devem ser seguidas para a
manutenção da produtividade: utilizar plan-
tas de cobertura com alta produção de bio-
massa, evitar a reinfestação de final de ciclo
e períodos de pousio entre as culturas. Uma
alternativa para diminuir a infestação de
final de ciclo é consorciar a cultura com
adubos verdes de bom recobrimento do
solo, que podem ser semeados simultanea-
Anastácia Fontanétti

mente às culturas ou algum tempo depois.


A consorciação do milho com o feijão-de-
porco (Canavalia ensiformis) tem-se re-
velado promissora para o SPD orgânico.
Nas condições da Zona da Mata minei- Figura 6 - Consórcio de milho com feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) no Sistema
ra, quando o feijão-de-porco é semeado na Plantio Direto orgânico

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


134 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

roçagem, pode dificultar o manejo (MELO,


2004). Este mesmo autor verificou maior
produção de biomassa total de plantas da-
ninhas no SPD orgânico em comparação
ao SPD tradicional com utilização de her-
bicidas, devido, principalmente, à alta ca-
pacidade de rebrota de algumas espécies
de plantas daninhas como Bidens pilosa.
Esses dados corroboram com os mencio-
nados por Chiovato et al. (2006a), os quais
avaliaram em casa de vegetação os métodos
de controle mecânico de B. pilosa e suas
interferências nos componentes de produ-
ção do milho orgânico. Estes autores veri-
ficaram que a roçada e o tratamento sem

Anastácia Fontanétti
controle foram os que mais interferiram
na produção de massa seca das folhas do
milho, reduzindo em 27,12% a produção em
Figura 7 - Roçada das plantas daninhas em parcela de Sistema Plantio Direto orgânico, relação à capina. Concluíram que a roçada
em primeiro plano, e ao fundo parcelas do Sistema Plantio Direto tradicional não proporcionou controle eficiente de B.
com aplicação de herbicidas pilosa no cultivo do milho orgânico.
A eficiência da roçada no manejo das
plantas daninhas também depende da
densidade de infestação. Para a espécie
Brachiaria plantaginea, a roçada e a ca-
pina proporcionaram o mesmo acúmulo de
massa seca total de plantas de milho que con-
viveram com duas plantas de B. plantaginea
por vaso com 18L de substrato (solo + com-
posto orgânico). Porém, nas maiores den-
sidades (quatro e seis plantas), o tratamento
com roçada foi semelhante ao sem contro-
le, demonstrando que a roçada é eficiente
no controle de B. plantaginea apenas,
quando essa se encontra em baixa densida-
de populacional (CHIOVATO et al., 2006b).

MANEJO DE PRAGAS
Anastácia Fontanétti

E DOENÇAS
Nesse caso, novamente os enfoques
entre os SPD tradicional e orgânico são dis-
Figura 8 - Detalhe da roçada das plantas daninhas na entrelinha do milho orgânico tintos. No manejo orgânico, deve-se privi-
em Sistema Plantio Direto legiar a prevenção, utilizando, para isso,
sementes de boa qualidade, cultivares tole-
rantes/resistentes a pragas e a doenças
ção no rendimento do milho. É indicada grãos de milho (DAROLT; SKORA NETO, consideradas de risco na região, aumento
apenas para áreas com baixa densidade de 2002). da diversidade de espécies (cultivos inter-
plantas daninhas. Já o uso de duas roça- Porém, para algumas espécies de plan- calares, rotação de culturas, áreas de refú-
das, apresentou nível intermediário de mão- tas daninhas, principalmente as que apre- gio, etc.); limpeza de implementos agrícolas;
de-obra e não prejudicou o rendimento de sentam rebrota, a utilização exclusiva da alteração da época e densidade de plantio,

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto 135

quando possível. Também recomendam-se Os resultados de pesquisa indicam que o 1996, Kopenhagen. Proceedings... Funda-
os métodos curativos e/ou de manutenção uso da roçada tende a favorecer espécies mentals of organic agriculture. Kopenhagen:
dos níveis de infestação abaixo dos de da- que apresentam elevada capacidade de re- IFOAM, 1996. v.1, p.91-112.
nos econômicos, por meio da utilização de brota, o que tem contribuído para o aumen-
AMADO, T.J.C.; MIELNICZUK, J.; FERNANDES,
biofertilizantes, caldas, extratos botânicos, to dessas espécies na área, dificultando o
S.B.V. Leguminosas e adubação mineral como
preparados homeopáticos, armadilhas lu- manejo e onerando os custos de produção.
fontes de nitrogênio para o milho em sistemas de
minosas, controle biológico, feromônios, Fica, assim, evidente que outras estraté-
preparo do solo. Revista Brasileira de Ciên-
entre outros. gias de manejo devem ser estudadas com
cia do Solo, Viçosa, MG, v.24, n.1, p.179-189,
o intuito de diminuir a competição das
jan./mar. 2000.
CONSIDERAÇÕES FINAIS plantas daninhas com o milho, principal-
mente no início do ciclo. BASTOS, C.S. Sistemas da adubação em cul-
A produção de milho orgânico no SPD
tivo de milho exclusivo e consorciado com
não se encontra definida, mesmo porque REFERÊNCIAS feijão, afetando a produção, estado nutricio-
na produção orgânica não existem pacotes
A AGRICULTURA orgânica no Brasil. Botucatu: nal e incidência de insetos fitófagos e ini-
tecnológicos; a unidade de produção deve
Instituto Biodinâmico. Disponível em: <http:// migos naturais. 1999. 117f. Dissertação (Mes-
ser analisada individualmente e a tecnologia
www.ibd.com.br/artigos/agricultura_ orgânica_ trado em Entomologia) - Universidade Federal de
adaptada à sua realidade. De modo geral, o
brasil.html>. Acesso em: 10 mar. 2006. Viçosa, Viçosa, MG.
manejo das plantas daninhas e a disponibi-
lidade de nutrientes dos adubos orgânicos ALTIERI, M.A.; NICHOLLS, C.J.; WOLFE, M.S. BLANCO, H.G.; BLANCO, F.M.G. Efeito do ma-
em sincronia com a época de maior deman- Biodiversity - a central concept in organic agri- nejo do solo na emergência de plantas daninhas
da da cultura são os principais entraves culture: restraining pest and diseases. In: INTER- anuais. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
da produção orgânica de milho em SPD. NATIONAL SCIENTIFIC CONFERENCE, 11., Brasília, v.26, n.2, p.215-220, fev. 1991.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006


136 Cultivo do milho no Sistema Plantio Direto

BRASIL. Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2006, Viçosa, MG. Anais...Viçosa, MG: UFV, para milho-verde. 2004. 61f. Dissertação (Mes-
2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá 2006b. 1 CD-ROM. trado em Fitotecnia) – Universidade Federal de
outras providências. Diário Oficial [da] Repú- Viçosa, Viçosa, MG.
DAROLT, M.R. Agricultura orgânica: inven-
blica Federativa do Brasil, Brasília, 24 dez.
tando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002, 249p. OLIVEIRA, L.R. Seleção de genitores de mi-
2003. Seção 1, p.8. Disponível em: <http:// www.
lho para sistema de produção orgânico. 2005.
planetaorganico.com.br/legisl.htm>. Acesso em: _______; SKORA NETO, F. Sistema de plantio
29f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) – Uni-
4 mar. 2006. direto em agricultura orgânica. Revista Plantio
versidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
Direto, Passo Fundo, p.28-31, jun./ago. 2002.
_______. Ministério da Agricultura e do Abaste-
ORMOND, J.G.P.; PAULA, S.R.L. de; FAVARET
cimento. Instrução Normativa no 7, de 17 de maio DEMATTÊ FILHO, L.C.; MENDES, C.M.I.; FILHO, P.; ROCHA, L.T.M. da. Agricultura orgâ-
1999. Estabelece as normas de produção, tipifi- KODAWARA, L.M. Produção de frango orgâ- nica: quando o passado é futuro. BNDES Setorial,
cação, processamento, evase, distribuição, identi- nico: desafios e perspectivas. In: BIOFACH Rio de Janeiro, n.15, p.3-34. mar. 2002. Dispo-
ficação e de certificação da qualidade para os AMERICA LATINA. Rio de Janeiro, 2005. Dispo- nível em <http:// www.bndes.gov.br/conhecimento/
produtos orgânicos de origem vegetal e animal. nível em: <http:// www.planetaorganico. com.br/ bnset/set1501.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2006.
Diário Oficial [da] República Federativa do TrabFrango.htm>. Acesso em: 10 mar. 2006.
Brasil, Brasília, 19 maio 1999. Seção 1, p.11. PRODUTORES gaúchos apostam no milho ecoló-
Disponível em: <http:// www.planetaorganico. GALVÃO, J.C.C. Característica física e quí- gico. Santa Catarina: EPAGRI-CEPA, 2003. Dis-
com.br/legisl.htm>. Acesso em: 4 mar. 2006. mica de solo e produção de milho exclusivo ponível em: <http://www.icepa.com.br/observatorio/
e consorciado com feijão, em função de adu- noticias0801/no1508.htm>. Acesso em: 10 mar.
_______. Ministério da Agricultura, Pecuária e bações orgânicas e mineral contínuas.1995. 2006.
Abastecimento. Instrução Normativa no 16, de 194f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Univer-
11 de jun. de 2004. Estabelece os procedimentos SANTOS, I.C. dos; MIRANDA, G.V.; MELO,
sidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
a serem adotados, até que se concluam os trabalhos A.V. de.; MATTOS, R.N.; OLIVEIRA, L.R.;

de regulamentação da Lei no 10.831, de 23 de IBD. Disponível em: <http:// www.ibd.com.br/ LIMA, J. da S.; GALVÃO, J.C.C. Comportamento

dezembro, para registro e renovação de registro busca/search.asp>. Acesso em: 5 mar. 2006. de cultivares de milho produzidos organicamen-

de matérias-primas e produtos de origem animal e te e correlações entre características das espigas


JAKELAITIS, A.; FERREIRA, L.R.; SILVA, A.A.; colhidas no estádio verde. Revista Brasileira
vegetal, orgânicos, junto ao Ministério da Agri-
AGNES, E.; MIRANDA, G.V.; MACHADO, A.F.L. de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, v.4, n.1, p.45-
cultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Diá-
Efeitos de sistemas de manejo sobre a população 53, 2005.
rio Oficial [da] República Federativa do
de tiririca. Planta Daninha, Viçosa, MG, v.21,
Brasil, Brasília, 14 jun. 2004. Seção1, p.4. Dispo- SILVA, E.C.; GALVÃO, J.C.C.; MIRANDA, G.V.;
n.1, p.89-95, jan./abr. 2003.
nível em: <http://www.planeta organico.com.br/ ARAÚJO, G.A.A. Produtividade do milho após
legisl.htm>. Acesso em: 4 mar. 2006. KOZLOWSKI, L.A. Período crítico de interfe- 13 anos de aplicações contínuas de adubações
rência das plantas daninhas na cultura do milho orgânica e mineral. In: SIMPÓSIO DE INICIAÇÃO
BUHLER, D.D.; HATZLER, R.G.; FORCELLA,
baseado na fenologia da cultura. Planta Dani- CIENTÍFICA, 8., 1998, Viçosa, MG. Anais...
F. Implications of weed seed bank dynamics to
nha, Viçosa, MG, v.20, n.3, p.365-372, set./dez. Viçosa, MG: UFV, 1998. 321p.
weed management. Weed Science, Champaign,
2002.
v.45, n.3, p.329-336, May/June 1997. THEISEN, G.; VIDAL, R.A.; FLECK, N.G. Re-
MAIA, C.E. Reserva e disponibilidade de ni- dução da infestação de Brachiaria plantaginea
CHIOVATO, M.G.; GALVÃO, J.C.C.; FALUBA,
trogênio pela adição continuada da adu- em soja pela cobertura do solo com palha de aveia-
J.S. de; FONTANÉTTI, A.; FERREIRA, L.R.;
bação orgânica e da mineral na cultura do preta. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
MIRANDA, G.V. Controle mecânico de Bidens
milho em um podzólico vermelho-amarelo Brasília, v.35, n.4, p.753-756, abr. 2000.
pilosa e sua interferência nos componentes
câmbico. 1999. 55f. Dissertação (Mestrado em
de produção do milho orgânico. In: SIMPÓSIO WICKS, G.A.; CRUTCHFIELD, D.A.; BURNSI-
Solos e Nutrição de Plantas) - Universidade Federal
DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 15., 2006, Vi- DE, O.C. Influence of wheat (Triticum aestivum)
de Viçosa, Viçosa, MG.
çosa, MG. Anais... Viçosa, MG: UFV, 2006a. straw mulch and metalachlor on corn (Zea mays)
1 CD-ROM. _______; CANTARUTTI, R. B. Acumulação growth and yield. Weed Science, Champaign,
de nitrogênio e carbono no solo pela adubação v.42, p.141-147, 1994.
_______; _______; _______; _______; MI-
orgânica e mineral contínua na cultura do milho.
RANDA, G.V.; FERREIRA, L.R. Interferência dos WILLER, H.; YUSSEFI, M. (Ed.). The world of
Agriambi: Revista Brasileira de Engenharia Agrí-
métodos de controle mecânico de Brachiaria organic agriculture: statistics and emerging
cola e Ambiental, Campina Grande, v.8, n.1, p.39-
plantaginea e Brachiaria decumbens nos com- trends. IFOAM, 2005. 189p. Disponível em:
44, jan./abr. 2004.
ponentes de produção do milho orgânico. In: <http:// www.soel.de/inhalte/publikationes/s/s_74_
SIMPÓSIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 15., MELO, A.V. de. Sistemas de plantio direto 07.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2006.

Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.27, n.233, p.127-136, jul./ago. 2006

Você também pode gostar