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III Colóquio Internacional de Culturas Africanas

Literatura, História e Cultura Afro-brasileira e africana

CADERNO DE RESUMOS

Natal RN
Maio -2014
Apresentação

O III Congresso Internacional de Culturas Africanas – Griots requisita diálogos


interdisciplinares entre professores, pesquisadores, estudantes, escritores, poetas,
compositores, cantores, instrumentistas, cantadores, cantadores de coco, emboladores,
violeiros, repentistas, contadores de histórias, percussionistas, e demais interessados em
discutir questões envolvendo a relação Áfricas - Brasil - América Latina - Portugal. A
terceira edição do GRIOTS traduz novos desafios, não apenas envolvendo questões
voltadas à literatura afro-brasileira e africana, pois se propõe a fomentar debates, e
convoca professores-pesquisadores para a publicação de seus projetos de pesquisas. Ao
adotarmos esse tipo de investigação, estaremos propiciando uma melhor compreensão
dos caminhos das culturas afro-brasileira e africanas nas pesquisas acadêmicas, visando
ampliar os horizontes profissionais dos professores das Escolas Municipais e Estaduais,
tendo em vista a formação contínua do Educador. O encontro, que acontecerá entre os
dias 25, 26 e 27 de maio de 2014, pretende ampliar discussões, através de conferências,
comunicações, mesa redondas e minicursos e apresentações artísticas e recitais de
poesia. No III Congresso Internacional de Culturas Africanas – GRIOTS, o objetivo
principal é contribuir para o intercâmbio Brasil - África, através de contribuições
acadêmicas acerca das Culturas, das Literaturas e das Linguagens que envolvem os
laços afetivos e eletivos entre os países de Língua Portuguesa. Também se almeja o
contato com as diversas formas de expressões, não apenas acadêmicas, já que as
contribuições artísticas e poéticas serão mais que bem vindas. O III Congresso
Internacional de Culturas Africanas está inserido dentro de uma ação promovida pelo
CCHLA, Pós- Graduação em Letras, Departamento de Letras, Departamento de História
e o Curso de Especialização em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana – MEC/
PROGRAMA CONTINUUM- UFRN. Em sintonia com essas entidades educacionais,
em nível de pós-graduação Lato Sensu, integra também as ações de indução do Governo
Federal para a promoção da igualdade racial no Brasil que encontra terreno propício no
interesse acadêmico, ético e político dos sujeitos proponentes, vinculados ao Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes, ao Centro de Educação e ao Centro Regional do
Seridó - CERES, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em diálogo com as
ações da referida Especialização, o principal objetivo do III Colóquio Griots é
contribuir, pela promoção da pesquisa científica e através dos relatos de experiências
desses professores de educação básica, efetivamente com a implementação das Leis
10.639/2003 e 11.645/2008 que tornaram obrigatório o Ensino de História e Cultura
Africana, Afro-brasileira e Indígena nas escolas de educação básica, bem como o
Parecer do CNE/CP 03/2004, que aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana.

Dos Organizadores
GT 01 – LITERATURA INFANTO-JUNVENIL AFRO-BRASILEIRA E AFRICANAS
DE LÍNGUA PORTUGUESA: CONSTITUIÇÃO ESTÉTICA DA COMUNIDADE E
PARTILHA DO SENSÍVEL

Coordenadores(as): Profa. Dra. Ilza MATIAS; Profa. Ms. Concísia Lopes dos SANTOS e Silvia
Barbalho BRITO

O GT propõe discutir a literatura infanto-juvenil afro-brasileira e as literaturas infanto-juvenis


africanas de língua portuguesa, considerando uma estética da criação e a ideia da literatura
como espaço de invenção, permeado por imagens, percepções e leituras que atravessam esses
textos. Isso nos permite reconhecer que neles se estabelecem maneiras de ocupar o sensível e de
dar sentido a essa ocupação (RANCIÈRE, 1995). Nesse aspecto, pode-se articular tal produção
à constituição estética da comunidade, a partir das africanidades que as atravessam, tendo em
vista que é a partilha do sensível que dá forma a essa comunidade. Serão aceitos trabalhos que
se articulem a essas discussões e direcionem novos olhares para essas literaturas, de maneira a
entender como elas alegorizam essa constituição estética. Desse modo, espera-se contribuir com
novas formas de ver, sentir e dizer que dão lugar à multiplicidade implicada nas africanidades.

A SABEDORIA DO IFÁ: “QUEM PEDE POR ORIENTAÇÃO NÃO RECEBE NENHUMA”.

Vinicius Vasconcelos CASTRO


Maria do Socorro Costa Ferreira da SILVA

O conto: O encontro de Orunmilá e Exu encontra-se no livro Infanto-juvenil Histórias do avô:


Histórias de deuses e heróis de várias culturas recontadas por Burleigh Mutén e com
ilustrações por Siân Bailey. Nossa escolha recaiu sobre este conto devido o fato deste ser uma
adaptação para uma publicação paradidático voltadas para as séries do 6º ano ao 9º ano do
ensino fundamental sendo editado e distribuído pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola –
PNBE 2011. O paradidático onde se encontra o conto por nós abordado apresenta oito contos de
povos com diferentes costumes, idiomas, crenças, porém enlaçados por um interesse comum:
compreender o desconhecido e entender as forças da natureza movidas pelo desejo de fazer uma
reflexão sobre o mundo e desvendar a natureza fisiológica dos mistérios. Nosso objetivo é
refletir sobre a questão identidária presente ao longo de sua narrativa, bem como a simbologia
encontrada nestas duas míticas divindades Iorubá, Orunmilá e Exu que são os personagens
principais neste texto, além do mais procuramos relacionar o estudo destes dois arquétipos da
mitologia religiosa desta cultura e o sagrado da religiosidade nigeriana. Como metodologia de
abordagem deste texto literário utilizaremos os pressupostos da história cultural corrente que
elegeu o estudo da literatura como um dos seus mais importantes focos de analise.

Palavras-Chave: Identidade; Literatura; Símbolo.

ODÔ, IYÁ! A RAINHA DO MAR E A CRIAÇÃO DO MUNDO.

Maria do Socorro Costa Ferreira da SILVA


Vinicius Vasconcelos CASTRO

O livro OMO-OBA: Histórias de Princesas de autoria da escritora Kiusam de Oliveira e com


ilustrações de Josias Marinho, contam e recontam mitos da tradição Iorubá. A obra consiste em
seis contos dirigidos ao publico infanto-juvenil, publicado com recomendação do Ministério da
Educação para o 6º ao 9º ano do ensino fundamental como paradidático sendo distribuído pelo
Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE 2011. Os contos literários inseridos e narrados
neste livro abarcam em cada história, um mito de uma Orixá feminina quando criança e que são
representadas como jovens princesas, com atributos valorizados pela cultura Iorubana tais como
personalidade forte, determinação, coragem, perspicácia e feminilidade, embora cada divindade
destas tenha suas próprias singularidades. Entre estas narrativas, escolhemos para analise neste
artigo, a história intitulada: Iemanjá e o poder da criação do mundo, que conta o mito da Orixá
Iemanjá. Procuramos desta forma, realizar um estudo que relacione o sagrado, as simbologias e
as questões de gênero, que representam a divindade Iemanjá no conto. O nosso objetivo é
analisar a questão identitária através da linguagem dos símbolos e dos arquétipos que foram
associados à princesa Iemanjá neste conto de acordo com as propostas metodológicas da Nova
História Cultural.

Palavras-Chave: Literatura; Corpo; Poder Feminino; Identidade.

A IMAGEM DA MULHER NEGRA EM DOIS LIVROS DO PROGRAMA A COR DA


CULTURA: MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA, ANA E ANA.

Roberta Barbosa da CONCEIÇÃO (UEPB)


Ivonildes da Silva FONSECA (UEPB)

O presente trabalho é resultado do andamento do Projeto de Iniciação à Pesquisa cujo objetivo é


analisar a imagem das personagens femininas negras nos livros do “Programa A Cor da
Cultura”.Tomamos por base a investigação acerca dessa problemática procurando identificar
se nos livros selecionados encontram-se a perpetuação ou a ruptura do padrão eurocêntrico
hegemônico com relação às mulheres negras. Para tanto, as fontes trabalhadas por uma equipe
de 04 estudantes serão 18 (dezoito) livros (animados e impressos), sendo que neste trabalho
constam apenas dois livros, Menina Bonita do Laço de Fitae Ana e Ana. A fundamentação
teórica vem de obras que tratam sobre as ideologias do embranquecimento, democracia racial e
racismo. Privilegiaremos o conceito da interseccionalidade e metodologia a Análise de conteúdo
de Bardin.A metodologia consiste em após as leituras, categorizarmos as personagens em
relação à identidade social, religiosa, étnica e de gênero para que, assim tenhamos elementos
que possibilitem a compreensão das questões da pesquisa.A partir desses procedimentos,
acreditamos estar colaborando com o enfraquecimento de estereótipos negativos presentes na
literatura infanto juvenil em relação à mulher negra, tendo em vista que a mesma sofre práticas
discriminatórias acentuadas, nos quesitos gênero, raça, e classe social.

Palavras-chave: Personagens femininas negras; Embranquecimento; Democracia racial;


Interseccionalidade.

NEGRINHA: DESMISTIFICAÇÃO DA INFÂNCIA FELIZ, DESEJOS DO DEVIR-


CRIANÇA

Sílvia Barbalho BRITO (UFRN)


Ilza Matias de SOUSA (UFRN)

Bhabha, Barthes, Deleuze e Derrida nos garantem um redimensionamento teórico provocante,


que instiga crítica e estudos literários a lançarem um novo olhar para a constituição da narrativa
infanto-juvenil. Em Negrinha (1920), conto de Monteiro Lobato, somos convocados a operar
estratégias de desconstrução do mito da infância feliz e de desmistificação do imaginário negro
e infantil, o que motiva um questionamento do jogo de significações que foram fundadas e
refundadas na cultura afro-brasileira. Lobato promove rupturas nos modos de representação:
identidade e memória são fissuradas pela ironia, que desarma a lógica linguística e cultural
dominante. Todavia, nos distanciaremos de uma leitura enaltecedora, desterritorializando os
espaços ainda engessados da escrita lobatiana. Tais interstícios revelam neste conto um
território de luta narrativa, de hibridismo cultural, lugar de produção e deslocamento de
linguagens múltiplas que fragmentam os modelos da tradição. Assim, Negrinha nos possibilita a
fabulação, a produção subjetiva de desejos, de imagens-sonhos do devir-criança.

Palavras-Chave: Monteiro Lobato; Desconstrução; Infância; Afro-brasilidade; Devir-criança.

NO MUNDO PORQUE LUTO NASÇO: A ESCOLA, AS CRIANÇAS E O TEXTO


LITERÁRIO DE EXPRESSÃO AFRICANA

André Magri Ribeiro de MELO (UERN)


Jaiza Lopes Dutra SERAFIM (UERN)

Com o advento da Lei 10.639 e, mais recentemente, da Lei 11.645/08, a abordagem das relações
étnico-raciais e o trato de componentes temáticos inerentes à história, cultura e literatura
africana e afro-brasileira na escola passaram a figurar mais concreta e sistematicamente nos
autos da educação brasileira. O presente artigo tem como escopo refletir sobre a relevância da
literatura infanto-juvenil de expressão africana no pensar/fazer da escola pública nacional.
Amparados nas contribuições de Candido (2004), Zilberman e Silva (1990), Coelho (1995),
MEC (2006) e Souza e Lima (2006), principalmente, traçar-se-á um percurso que parte do papel
do texto literário na escola e perpassa aspectos históricos, sociais e culturais presentes,
especificamente, na literatura afro-brasileira para crianças e jovens. A discussão final é
instaurada em torno de trilhas didático-pedagógicas que possam nortear um trabalho
referendado no que se referir às ações afirmativas, à validação identitária e à efetivação de
espaços de partilha do sensível, estética da comunidade e diversidade, a partir das práticas
literárias, no espaço escolar. Toma-se, aqui, o entendimento de literatura como direito
inalienável de todo cidadão, alinhada à concepção de que pertencendo a todo cidadão, a
literatura precisa construir-se na escola como voz de todas as gentes, de todos os povos, de
todas as cores.

Palavras-chave: Literatura na Escola; Literatura Infanto-juvenil afro-brasileira; Educação e


Relações Étnico-Raciais.

“A VIÚVA VELHA”: AFRICANIDADES NA CONSTRUÇÃO DE UMA PARTILHA DO


SENSÍVEL

Profa. Concísia Lopes dos SANTOS

Jacques Rancière, filósofo francês, em seu Políticas da Escrita (1995), compreende o conceito
de escrita como político por ser o conceito de um ato que permite a partir dele um
desdobramento e uma disjunção essenciais ao seu entendimento. Escrever é um ato que precisa
significar aquilo que realiza, estabelecendo relações entre aquele que escreve, sua motivação, o
assunto de que trata, como e para quem/por quem escreve. Escrever ocupa o sensível, dando
sentido a essa ocupação. Não é apenas uma competência, é coisa política, pois pertence à
maneira como a comunidade se constitui esteticamente, alegorizando essa constituição e
realizando uma partilha do sensível. Júlio Emílio Braz, escritor afro-brasileiro, realiza uma
partilha do sensível ao trazer a lenda “A Viúva Velha”, originária dos Chagas – povo de origem
Quibundo, de Angola - em seu livro infanto-juvenil Lendas Negras (2001). Isso se dá porque o
escritor consegue, a partir do resgate da lenda, estabelecer uma relação entre o conjunto comum
de africanidades partilhado entre os povos africano e brasileiro, ao mesmo tempo em que divide
as partes que lhes são exclusivas. Pretende-se, pois, neste estudo de análise literária, fazer
perceber como se constrói essa partilha.

Palavras-chave: Literatura afro-brasileira; Africanidades; Júlio Emílio Braz; Jacques Rancière;


Partilha do sensível.

INFÂNCIA E AFRICANIDADE: O CABELO COMO CONSTRUÇÃO POÉTICA E


ESTÉTICA EM O MUNDO COMEÇA NA CABEÇA, DE PRISCA AGUSTONI

Natália Oliveira MOURA (UFRN)


Ilza Matias de SOUZA (UFRN)

O mundo começa na cabeça, de Prisca Agustoni, sob a ótica de Minosse, personagem principal
do livro, uma menina beirando seus dez anos, coloca-nos em face à seguinte afirmação situada
nas discussões dos pensadores Deleuze e Guattari (1996, p.37): A cabeça humana implica uma
desterritorialização em relação ao animal, ao mesmo tempo em que tem por correlato a
organização de um mundo como meio ele mesmo desterritorializado. Afirmamos, motivadas por
essa concepção, que Minosse terá nessa narrativa um duplo papel: o de uma Minerva infante,
pequena pensadora desterritorializada de sua origem africana e o da fabuladora que organiza o
mundo desterritorializado como uma artista da cabeça, na qual as cabeleiras constroem uma
nova natureza, trazendo em si forças transformadoras e nômades que metamorfoseiam visões de
mundo e fazem emergir corpos e vozes. Os fios dos cabelos serão os condutores de uma
experiência estética de uma outra beleza, a da africanidade, nos cabelos crespos, nos cabelos-
ninhos, ou cabelos-ondas que se lançam a memórias longínquas. Tal experiência nessa narrativa
infanto-juvenil remete ao que não pode ser subjugado ou tratado como representação branca
hegemônica e homogeneizadora. Assim, é que essa obra nos permite traçar a africanidade
enquanto passagem a sentidos outros, abertos à inserção de alteridades nascentes.

Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil; Desterritorialização; Africanidade.

O CHAMADO DE SOSU: ESPAÇOS DO OUTRO, ESCRITURA AFRICANA RASURADA E


CARTOGRAFIA DAS TEMPESTADES

Débora Karla Fernandes DANTAS (UFRN)


Ilza Matias de SOUZA (UFRN)

O chamado de Sosu, livro infanto-juvenil (2005), do escritor africano Meshack Asare,


constante de uma lista dos cem melhores livros da África e que recebeu da UNESCO, em 1999,
o Prêmio Literatura para Crianças e Jovens a Serviço da tolerância, traz mais que uma proposta
política, cultural e racial, no sentido paternalista e de piedade cristã de tolerar o outro, suportar
com paciência. Ele, antes, produz no espaço literário uma crise de realidades e imaginários que
nos levaria a ver nesse processo de escritura africana, rasurada pelo mundo ocidental, a
constituição de outros espaços ou espaços do outro, ou, ainda, heterotopia, “contestação
simultaneamente mítica e real do espaço em que vivemos” (FOUCAULT, 2006, p. 416).
Através da história do menino paralítico, Sosu e o seu chamado que é sobretudo poético, ativa-
se a linguagem dos tambores, a sonoridade do “tantan”, desencadeando o reconhecimento da
alteridade de que a criança ressurge, junto com a aldeia para um tempo de renovação, ao salvá-
la da destruição das águas. Para isso, se organiza uma cartografia das tempestades (KIRST ET
AL, 2003), a fim de que se possa dar lugar a um novo ordenamento do “real” e como uma outra
gênese para Sosu e o lugar onde nasceu.
Palavras-Chave: Literatura infanto-juvenil; Escritura africana; Heterotopia; Cartografia.

A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO NO “BEIJO DA PALAVRINHA”

Vanessa Barros da SILVA

Esta pesquisa objetiva analisar o imaginário dentro da obra infanto-juvenil de Mia Couto “O
Beijo da Palavrinha (2006)” que, protagonizada por dois irmãos, tematiza um conjunto
abrangente de questões que ecoam na obra deste escritor moçambicano. As imagens da morte,
da infância, e das tradições culturais da África juntamente com as duras condições de vida se
desenvolvem de forma alegórica e bastante poética na narrativa. Serão exploradas imagens
como a “leitura simbólica” da palavra mar, feita de voos, de ondas, de pássaros e de rochas, que
fazem parte da imaginação de Maria Poeirinha, personagem principal do enredo. A partir da
relação das imagens descritas no livro e até mesmo das ilustrações do próprio, este artigo ainda
pretende versar sobre o desenvolvimento da dimensão imaginária que ocorre por meio da
ligação das palavras com a percepção da leitura. Para isso, a abordagem metodológica da
pesquisa se dará por meio de levantamento bibliográfico e será fundamentada a partir dos
estudos teóricos de François Laplatine (1997) e Gaston Bachelard (2013) acerca do imaginário e
da sua construção.

Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil africana; Imaginário; Leitura; Imagens.

OS MITOS E CONTOS TRADICIONAIS AFRICANOS E AFRO – BRASILEIROS NA


FORMAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DE CRIANÇAS EM ESCOLAS
PÚBLICAS. UMA PRÁTICA EM ARTE-EDUCAÇÃO

Giselda Pereira de LIMA (USP)

A escola no Brasil vem ao longo da sua existência ignorando o público que a forma, diverso e
herdeiro de diferentes culturas. No momento que a escola inseriu o ensino de arte, além de
colocá-lo como algo de pouca importância, estabeleceu um currículo baseado na ideologia de
dominação europeia. O arte-educador em muitos casos se tornou o reprodutor da fórmula
estabelecida em nossa História. E os protagonistas da educação básica, as crianças, necessitam
de reconhecer-se em seu contexto escolar e para isso elas precisam de uma diversidade de
referenciais estéticos que colabore em seu processo cultural formativo. O que hoje reflete no
processo formativo e na autoestima de crianças negras que não conhecem as histórias de origem
do seu povo, pois a barreira histórica levantada pelo preconceito afastou da educação sistêmica
os contos e mitos tradicionais africanos e afro-brasileiros que trazem heróis e seres encantados.
Com base em Hampaté Bâ a tradição oral será vista como um caminho na formação da
identidade cultural e pode na contemporaneidade, por meio dos contos e mitos, ser uma
paisagem no processo de formação da identidade cultural de crianças negras. E também um
espaço de reflexão crítica de uma prática em arte-educação, que valoriza e relaciona-se com os
nossos recursos multiculturais.

Palavras- Chave: Tradição oral; Identidade cultural; Contos; Mitos tradicionais; Arte-educação.

O EN-CANTO COMO LUGAR NA LITERATURA DE BARTOLOMEU CAMPOS DE


QUEIRÓS E MIA COUTO

Francielly Câmara LOPES (UFRN)


Profa. Dra. Tânia LIMA (UFRN)
O presente trabalho tem como finalidade identificar os aspectos que aproximam “O olho de
vidro do meu avô”, de Bartolomeu Campos de Queirós, de “O beijo da palavrinha”, de Mia
Couto. Em ambas as obras, é possível perceber que a rede de representações, de construção de
significados, é da infância e, portanto, advém da memória, já que ambos os escritores são
adultos. É por esse lugar de lembranças, distorções e criações que passam as duas narrativas.
Sob o olhar de Bachelard, pretende-se reconhecer o devaneio nesse espaço sagrado da infância
como a raiz do encantamento provocado por essas leituras. A Maria Poeirinha é quase lenda na
narrativa de Mia Couto; o avô Sebastião é herói em “O olho de vidro do meu avô”. Ambos
transitam entre proezas, seja se afogando em uma palavra ou sendo náufrago das próprias
recordações, e voltam à vida a partir da lembrança de alguém. Nessas narrativas, a morte dos
dois personagens liberta-os das privações da vida e os põe como seres do sensível. Dessa forma,
o encantamento é colocado como fruto do improvável, uma vez que a infância desconhece as
limitações do mundo adulto e abre possibilidades para indivíduos de qualquer idade. Esse
trabalho, portanto, propõe-se a compreender a construção do encanto a partir da linguagem
utilizada por Mia Couto e Bartolomeu Campos de Queirós.

Palavras-chave: Infância; Encanto; Devaneio.

A MENINA NEGRA ANUNCIANDO NOVOS TEMPOS NO LIVRO "A BOTIJA DE


OURO".

Danielli Rodrigues da SILVA (UEPB)


Dayana Paulino SANTOS (UEPB)
Dra. Ivonildes da Silva FONSECA

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa em andamento no qual são analisados livros do
Programa A cor da cultura, no sentido de identificar e refletir acerca da imagem das mulheres
negras. Neste momento examinamos o livro A botija de ouro de Joel Rufino dos Santos e
verificamos que a imagem feminina é mostrada com uma força integradora e anunciadora de
possibilidades de mudanças sociais. Encontramos na leitura elementos importantes para o
fortalecimento da concepção de humanidade da população negra, e as resistências engendradas
ao sistema opressor. Dessa forma o resultado dessa investigação estará inserida no conjunto
de trabalhos que contribuem para desnaturalizar a inferioridade das pessoas escravizadas bem
como virá fortalecer o processo de mudança da mentalidade social, na qual ainda é visível
a forte presença do preconceito racial e de gênero.

Palavras-chave: Educação infantil; Mulher negra; Literatura infanto-juvenil.

A CONSTRUÇÃO DA ORALIDADE NA LITERATURA ANGOLANA: UMA ANÁLISE A


PARTIR DO CONTO O LEÃO E O COELHO SALTITÃO, DE ONDJAKI.

Igara M. DANTAS (UFRN)


Douglas de Oliveira SOARES (UFRN)
Tânia LIMA (UFRN)

O presente trabalho pretende analisar a construção da oralidade na literatura angolana a partir do


conto O leão e o coelho saltitão (2009), de Ondjaki, extraindo do próprio texto a recuperação
das formas narrativas da tradição oral nos contos populares, principalmente os que contêm
animais de características humanas como personagens protagonistas, inserindo essas
personagens numa categoria de identidade representativa transpostos para o contexto angolano
pós-independência e dirigidos às crianças e aos jovens. Na primeira fase do projeto,
apresentaremos os vetores estruturantes do conto popular e procedendo à apresentação,
investigaremos as marcas de oralidade presentes na obra, observando sua recorrência e a forma
como são expressas, analisando seu emprego e as significações simbólicas a partir de uma
leitura interpretativa. Num segundo momento, será avaliada a influência de fatores contextuais e
extralinguísticos na escolha dos elementos analisados em questão. Para isso, pretende-se buscar
amparo nas teorias de Stuart Hall, Lourenço do Rosário, Ana Mafalda Leite e Gaston Bachelard.
Tal abordagem vem a demonstrar como o estudo da oralidade nas literaturas africanas é um
pilar fundamental para a reconstrução da cultura de um povo e como as letras da ficção
reescreve uma nação após todo um período de silêncio e opressão por parte do colonialismo.

Palavras-chave: Ondjaki; Oralidade; Literatura angolana.

A COR DA TERNURA: DA AUTO-NEGAÇÃO À RESISTÊNCIA

Michelle Pinto da SILVA (UEPB)


Sueli Meira LIEBIG (UEPB)

A cor da ternura (1998) é um livro infanto-juvenil pertencente à literatura afro-brasileira


apresentado por meio de uma linguagem simples, mas que não apaga a carga significativa das
palavras utilizadas pela autora Geni Guimarães. Nos dez contos que constituem a referida obra
encontramos as marcas do preconceito de cor sofrido pela comunidade negra. Através das
memórias da narradora-autora nos deparamos com uma crescente descoberta da condição de
submissão comumente destinada aos descendentes dos que foram sujeitos à escravidão. Da
auto-negação à resistência, a protagonista da obra reflete a história de muitos negros; de todos
aqueles que da infância à idade adulta veem revelando a teia da discriminação que os envolve.
A resistência desenvolvida por Geni desemboca na afirmação da identidade negra, necessária
para a militância em prol da igualdade entre todos. Fundamentado em autores como Castells
(2010); Candau (2012); Landowski (2002). Duarte (2003); Nascimento (2003), dentre outros,
desenvolvemos as ideias correspondentes à problemática da identidade negra. Como a narrativa
se desenvolve por meio da memória, utilizamos autores como Seligmann-Silva (2005); Santo
Agostinho; Venâncio Filho (2000); Halbwachs (2006) para discutirmos, principalmente, a sua
relação com as questões identitárias.

Palavras-chave: Identidade; Memória; Resistência.

O INFANTE GRAPIÚNA: EXPERIÊNCIAS DE UM MENINO DO POVO

João Maria CLAUDINO

O objeto do presente estudo é o livro O menino grapiúna (1982), do escritor baiano Jorge
Amado. Espécie de autobiografia literária, nele, o autor conta histórias de sua vida dos dez
meses até aos dezenove anos de idade, em 18 capítulos. O livro recebe o nome que foi dado às
pessoas que desbravaram a região do cacau, na Bahia – grapiúna. O estudo terá como base a
escritura a partir do relato de experiência, conforme a cena do discurso. A palavra que parte do
discurso oral, de quem conta o que viveu, e que não procura um “lado da verdade”; mas sim a
“textura” das coisas, a sua expressividade, o seu “valor”. Terá também, o olhar sobre o narrador,
a partir do ponto de intercâmbio de experiências, “a fonte a que recorreram todos os
narradores”, nas palavras de Benjamin. Nada de análises psicológicas, apenas memórias,
lembranças, histórias contadas.

Palavras-chave: O menino grapiúna; Jorge Amado; Escritura; Narrador; Memória.


A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM CONTOS DA LITERATURA AFRICANA
DE LÍNGUA PORTUGUESA

Rosana Maria Teles GOMES (UFPE)


Prof. Dr. Roland WALTER

Conforme Zíla Rêgo (2006), “a constituição do mundo interior do sujeito é fruto de um


processo de conscientização de si mesmo, da sua contingência pessoal, assim como das
circunstâncias que o cercam.” Nesse sentido, a leitura, sobretudo a de textos literários, é de
extrema importância para a construção da subjetividade. No caso de obras africanas de literatura
infanto-juvenil escritas em Língua Portuguesa, indiscutivelmente contribuem para a formação
de um leitor sensível e crítico, à medida que são inúmeras as narrativas as quais, ao
relacionarem o mundo interior a aspectos do mundo circundante, suscitam constatações,
indagações, explicações. Desse modo, favorecem o desejo de superação de uma realidade, por
vezes, bastante árdua. Seguindo-se esse prisma, propõe-se um estudo de contos de autores
africanos, tendo em vista a contribuição desses textos para a construção de uma identidade
coletiva.

Palavras-Chave: Literatura infanto-juvenil; Identidade; África.

REPRESENTAÇÕES AFRO-IDENTITÁRIAS NAS OBRAS LITERÁRIAS INFANTIS

Jaise do Nascimento SOUZA


Tatiana Rachel Andrade de PAIVA.

O presente estudo surge de nossas experiências como professoras da Educação Infantil,


objetivando incentivar o respeito às diferenças e a construção positiva de identidades étnico-
raciais entre as crianças através da literatura infantil. Apresentaremos como sugestões as obras
literárias Menina Bonita do Laço de Fita (Ana Maria Machado); As Tranças de Bintou
(Sylviane Anna Diouf Cosac Naify) e O Menino Marrom (Ziraldo), que se bem utilizadas
oferecem às crianças conhecimentos acerca da diversidade étnico-racial e cultural do nosso
país. Quanto à metodologia, consiste em uma pesquisa bibliográfica e análise descritiva das
referidas obras literárias infantis. A análise das questões propostas se apoia nos argumentos de
Zilberman (2003) e Rosemberg (1985) que discorrem sobre a importância da literatura infantil
na escola, se configurando como um gênero que também atua na construção ideológica, e em
Munanga (2009) discutindo acerca do entendimento da chamada identidade negra no Brasil.
Corroborando com a implementação das leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, o educador ao
trabalhar com obras literárias que abordem a diversidade étnico-racial e cultural, promove um
diálogo com o educando, proporcionando uma reorganização de suas percepções de si e do
mundo, atuando no processo de construção e (re)afirmação identitária.

Palavras-chave: Literatura infantil. Diversidade étnico-racial. Identidade.

GT 02 - O GRITO COMO SINTOMA: LITERATURAS AFROAMERICANAS EM


PERSPECTIVA COMPARADA

Coordenadoras: Alcione Correa ALVES (UFPI) e Rosilda Alves BEZERRA (UEPB)

O Simpósio Temático ora proposto visa a congregar comunicações sobre as literaturas


afroamericanas em perspectiva comparada, em seus mais diferentes gêneros e sistemas
literários, no que se inclui, de modo programático, comunicações sobre as histórias possíveis a
uma literatura afrobrasileira, assim como sobre seus desenvolvimentos críticos. Nossa hipótese
comparativa entre um corpus amplo de literaturas afroamericanas contemporâneas toma, como
tertium comparationis, a noção de grito, pensada inicialmente a partir do poema de Aimé
Césaire intitulado Cahier d´un retour au pays natal e, na esteira deste, desenvolvida
continuamente no âmbito do pensamento afrocaribenho, sobretudo, nos trabalhos de Édouard
Glissant e do grupo da Crioulidade. O grito, aqui, se apresenta como sintoma das construções
identitárias afroamericanas, as quais se busca compreender mediante análise das literaturas nela
imbricadas, questionando os limites imputados à palavra, ao canto, à voz, aos discursos dos
sujeitos negros, limites esses amiúde associados à colonização, escravização e violência ao
longo de nossas histórias nas três Américas. Longe de se deter em uma foclorização das
literaturas afroamericanas, em suas dimensões oral ou escrita, o presente Simpósio Temático
propõe, como um de seus marcos teóricos iniciais, a premissa do Caribe como prefácio às
Américas, conforme Édouard Glissant em Introduction à une poétique du Divers, da qual
decorrerá o exercício, por nós proposto, de estabelecer um debate em torno de cada sistema
literário afroamericano, cada obra, cada poema, cada romance tomado enquanto prefácio a um
modo de pensar estas literaturas em uma rede, tecida pelo esforço comum da busca de novas
construções identitárias que satisfaçam a nós sujeitos negros, americanos, em-processo.
Convidamos, por fim, que cada comunicação submetida proponha, em sua especificidade, uma
exposição do problema de pesquisa assinalando, nas obras de seu corpus literário, o grito como
discurso e ação que, contudo, busquem se afastar de uma fetichização de nossa palavra e nossa
cultura.

Áreas de interesse: Literatura afrobasileira; Literaturas afroamericanas; Literatura Comparada;


Teorias da Literatura.

NINGUÉM É INOCENTE NO RIO: FLUXOS DO ATLÂNTICO E ECOS DO PÓS-


COLONIALISMO EM AGUALUSA

Carlos Alberto de NEGREIRO (UEPB)


Luciano B. JUSTINO (UEPB)

O laço entre os continentes separados pelo Atlântico, o enlace entre o Brasil e Angola revela um
fluxo cultural latente em que subjaz um discurso pós-colonial a partir da experiência narrativa
na obra “O ano em Zumbi tomou o Rio”. Agualusa experimenta um artifício fabular ao
incorporar a figura icônica do herói contra-hegemônico de Zumbi para ilustrar a jornada de um
coronel do Ministério de Angola que se auto exila no Rio de Janeiro. Ele se prepara para tomar
de assalto uma realidade contrastante e dialética dos morros cariocas ao se insuflar em uma
explosão de revolta dos marginalizados das favelas para com os do “asfalto”. O que se observa é
que a violência advinda da marginalização de uma população historicamente excluída e
expropriada dos direitos básicos da dignidade humana é discutida a partir dessa narrativa de
uma possível rebelião dos mais-pobres contra aqueles que os oprimem, é uma tensão social vista
por alguém que vem de uma experiência de um país de história recente de independência, de
uma situação colonial em que as tensões sociais são aviltantes e marcadamente violentas
também para com um povo também marcado pela opressão, expropriação e exclusão. Ao narrar
a fábula de um Rio tomado por Zumbi, Agualusa reflete subrepticiamente sobre uma Angola
pós-colonial em que as questões de desigualdade e exclusão são tão reais e visíveis como as das
comunidades, as favelas do Rio de Janeiro, que continua belo e lindo, no entanto tão cruel com
suas gentes da cor do ébano e do rei Zumbi.

Palavras-chave: Agualusa; Pós-colonialismo; Exclusão; Violência.


“Y HOY SOMOS COROS E ECOS”: O GRITO COMO RESPOSTA, REIVINDICAÇÃO E
RESISTÊNCIA

Ella Ferreira BISPO (UFPI)


Alcione Corrêa ALVES (UFPI)

O estudo ora proposto configura-se na medida em que toma o grito como prerrogativa aos
processos de (re)construções identitárias de sujeitos afroamericanos. Conforme a proposta
assinalada, toma-se o grito enquanto resposta aos valores exógenos, enquanto reivindicação de
voz e resistência frente a violência epistemológica direcionada aos sujeitos negros. Entre
poemas que se destacam por uma alta elaboração musical e poética o grito ecoa em ritmos,
palavras e gestos. Enfim, o grito toma o corpo, vira dança, vibra, reverbera. Assim, tendo como
suporte teórico textos de Gayatri Spivak e Stuart Hall, apresentamos uma leitura possível aos
poemas “Me gritaron negra”(2013), de Victória Santa Cruz; “Milionário do sonho”(2013), de
Elisa Lucinda; e “Siempre presentes”, de Lorena Torres Herrera (2010). O referido corpus de
poetas afroamericanas, haja vista a leitura proposta, grita uníssono através de seus versos,
enquanto reivindicações e resistências em “coros e ecos”. Este estudo tem sido elaborado no
âmbito do Projeto de Pesquisa Teseu, o labirinto e seu nome, vigente na Universidade Federal
do Piauí.

Palavras-Chave: Grito; Construções identitárias afro-americanas; Elisa Lucinda; Lorena Torres


Herrera; Victória Santa Cruz.

IDENTIDADES EM TRÂSITO: A CRIOLIZAÇÃO EM ROMANCES DE AGUALUSA

Gabriela da Paz ARAÚJO (UEPB)


Rosilda Alves BEZERRA (UEPB)

O debate em torno dos estudos culturais tem se tornado cada vez maior, por conta das
constantes mudanças sociais e culturais que provocam a incorporação de culturas diversas na
personalidade do indivíduo. Nesse sentido, torna-se essencial fazer referência à construção
cultural desenvolvida pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa quanto a sua literatura
engajada as questões raciais, buscando construir uma interação entre o contexto histórico da
escravização dos negros e a continuação efetiva da presença de sua cultura. O conceito de
criolização desenvolvido na obra de Édouard Glissant “Introdução a uma poética da
diversidade” é imprescindível a constituição desse trabalho, por oferecer lugar à diversidade, à
troca e a identidades novas, sem discriminar a natureza de cada traço das matrizes culturais.
Serão construídos questionamentos em torno da construção identitária, partindo da análise
comparada que compreende os romances As mulheres do meu pai e Nação crioula de Agualusa,
desenvolvidos por meio da ideia de identidade como uma ressignificação da memória,
caracterizado pela variedade de opiniões que buscam investigar os anseios do homem e as suas
constantes dúvidas e questionamentos em torno das construções identitárias.

Palavras-chave: Personalidade; Identidade; Cultura; Diversidade.

UNE TEMPÊTE, DE AIMÉ CÉSAIRE: ESCRITURA DE COMBATE A PARTIR DA


APROPRIAÇÃO DA LÍNGUA DO COLONIZADOR (LÍNGUA FRANCESA)

Glaucimara Alves da Costa VIEIRA (UFPI)


Alcione Correia ALVES (UFPI)

Na sua peça teatral Une Tempête, Aimé Césaire mostra como através da apropriação da língua
do colonizador (língua francesa) é possível resgatar a sua identidade cultural, o seu lugar no
mundo. Como afirma Fanon “Falar é existir absolutamente para o outro; é estar em condições
de empregar uma certa sintaxe, possuir a morfologia de tal ou qual língua, mas sobretudo
assumir uma cultura, suportar o peso de uma civilização”. Encontramos na peça vários diálogos
travados entre as personagens Prospero (representando o colonizador) e Caliban (o colonizado),
sobretudo pela exigência do primeiro sobre o segundo para que só utilizasse a língua francesa
como forma única e exclusiva de comunicação, alegando que através dela Caliban pudesse
aculturar-se, eliminando-se assim sua “animalidade”. O presente trabalho objetiva apontar
alguns aspectos da linguagem encontrados na citada obra de Aimé Césaire ao valorizar a cultura
africana através da inserção de termos africanos, do “crèole antilhano”, assim como outros
elementos: Eshu-“dieu-diable nègre” e também ao abordar temas como: relação
colonizador/colonizado. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica e, para tanto, far-se-
á uso das considerações de Fanon, Glissant, Stuart Hall, Homi Bhabha, entre outros teóricos.

Palavras-chave: Linguagem; Apropriação; Identidade.

CARTAS E DIÁRIOS NEGROS: O GRITO DE DOR E TRANSFORMAÇÃO DE


MULHERES AFRO-AMERICANAS EM A COR PÚRPURA E PRECIOSA.

Helder de Araújo HOLANDA (UECE)

Após um extenso período histórico de absoluta e incontestável dominação masculina, os


padrões culturais patriarcais, sexistas e racistas passaram a ser questionados através de livros
que subvertem essa ordem e impedem a continuidade do silêncio acerca das violências e
absurdos contra indivíduos que foram subalternizados ao longo de séculos de história. Diante do
exposto, o presente trabalho terá como base discursiva a situação da mulher negra afro-
americana representada nas obras das escritoras Alice Walker (A Cor Púrpura) e Sapphire
(Preciosa), observando, nessas narrativas, como as suas protagonistas adquirem a consciência da
dominação e dos abusos vivenciados e se reinventam através do grito elaborado a partir das
cartas e dos diários escritos por elas. As protagonistas femininas dessas obras trazem para a
literatura contemporânea vozes silenciadas e fatos estarrecedores decorrentes dos séculos de
dominação patriarcal, racial e sexista, revelando através de suas escritas os absurdos que foram
e ainda são impostos às mulheres negras. Situadas em contextos históricos de épocas diferentes,
Cellie e Precious aproximam-se intensamente em relação aos problemas vivenciados na
tentativa de se situarem como indivíduos no cerne da vida social norte-americana e por
buscarem uma existência marcada pela afirmação de suas identidades de mulher e de negra.

Palavras-chave: Mulher negra; Subalternização; Identidade; Cultura.

LITERATURA AFRO BRASILEIRA: VISÕES E REFLEXÕES NO CENÁRIO LITERÁRIO


BRASILEIRO

Jéssica Catharine Barbosa de CARVALHO (UFPI)


Alana Yasmim dos SANTOS (UFPI)
Alcione Corrêa ALVES (UFPI)
A partir do embase teórico no texto de Maria Nazareth Fonseca "Literatura negra, Literatura
afro-brasileira: como responder à polêmica?" (2006), a presente comunicação visa a estabelecer
um diálogo com dois artigos de Eduardo de Assis Duarte: "Literatura e Afrodescendência"
(2011) e "Literatura afro-brasileira: Um conceito em construção" (2008). A partir disso, propõe-
se uma discussão sobre os pontos de vista relacionados à construção de duas noções, a saber,
Literatura Negra e Literatura Afro-brasileira, com o objetivo de promover uma reflexão acerca
da abrangência do termo Literatura Brasileira. Como metodologia de trabalho, aborda-se
sucintamente um conceito e funções da Literatura, como forma de justificar a necessidade de
uma literatura voltada às produções afro-brasileiras; e, por fim, disserta-se sobre a polêmica
envolvendo os três termos (Literatura Negra, Literatura Afrodescendente e Literatura Afro-
brasileira), explicitando, na forma de uma síntese crítica, suas abrangências e a tendência a uma
especificidade de um povo, literatura, história e cultura que se faz tão presente no nosso país.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Negra; Literatura Afro-brasileira; Maria Nazareth.

DESTERRITORIALIZANDO A ESCRITA: RASTROS E MARCAS DA DIÁSPORA


NEGRA NA CONSTRUÇÃO DE UMA LITERATURA MENOR.

Jéssica Emanuelli Pereira da CUNHA

Este trabalho pretende analisar, a partir da produção literária das escritoras brasileiras Carolina
Maria de Jesus e Nina Rizzi, signos da diáspora negra na perspectiva da Literatura Menor e
como eles influenciam as narrativas de ambas, partindo do entendimento de que suas obras são
marcadas por diversos estilos literários que desterritorializam a literatura canônica, seja pela
inserção da oralidade e das tradições populares na literatura, seja pela apropriação de fontes
estéticas historicamente subalternizadas. Pretendo abordar as experiências narrativas das autoras
através de uma mirada das produções artísticas próprias da formação de países de culturas
híbridas, questionando os limites colocados à enunciação dos sujeitos negros e problematizando
os agenciamentos produzidos desde este lugar historicamente rebaixado e silenciado. Em suma,
procuro observar como as “aberrações” estilísticas que marcam as obras e compõem a poética
das escritoras pulam para além de suas escritas, acionando o grito como um agenciamento
político e discursivo que transcende as delimitações do cenário literário da produção canônica.

Palavras-chave: Literatura menor; Diáspora negra; Desterritorialização.

MEMÓRIAS, SILÊNCIOS E A POÉTICA DA RELAÇÃO NO VELHO SILVESTRE


VITALÍCIO DE ANTES DE NASCER O MUNDO, DE MIA COUTO

João Batista TEIXEIRA (FALC)


Rosilda Alves BEZERRA (UEPB)

As memórias e os silêncios alinhados à prática social do personagem Silvestre Vitalício do


romance Antes de nascer o mundo (2009), do escritor moçambicano Mia Couto nos fornece a
partir da literatura um retrato social de um homem idoso, isolado numa comunidade imaginada,
tecendo sua existência a partir das memórias sufocadas e silêncios que elucidam os quadros de
pessoas que recém- saídas do sistema colonial, que se sentem deslocados e imersas no jogo das
identidades do qual nos fala Hall (2003). Confrontados com os discursos da Pós-modernidade
passam a usar como defesa o silêncio e a memória Le Goff (1996) como códigos de conduta
social em um mundo criado a partir de suas representações culturais. É importante destacar
também o papel do mais velho/idoso na cultura africana como aquele que guarda e repassa o
costume e a tradição. Observa-se um comportamento de exilados, Said (2003) na comunidade
que o mesmo cria a partir de suas construções culturais; Jesusalém. Silvestre Vitalício segue
com seus filhos para esse espaço novo e imaginado num comportamento de errância resistindo
às invasões e trânsitos culturais no seu mundo, e ensurdece como resistência aos diversos
discursos que permeiam o seu espaço social à medida também que apresenta características
daquilo que Glissant (2005) coloca como a Poética da Relação, a ideia de totalidade mundo e de
rizoma como cultura que se expande que vai ao encontro do outro, da cultura que se ressignifica
abandonando fronteiras e discursos para experimentar a totalidade-mundo à medida que terá que
dialogar com a presença do outro, com as lembranças e os que entrarão na sua comunidade.
Autores como Bezerra (2007) e (2001) Bosi (1994) Appiah (1997) Bergson (1994) Ricouer
(2007) Anderson (1991) entre outros discutirão os temas sugeridos nesse ensaio.

Palavras-chave: Memórias; Silêncios; Poética da Relação; Literatura Moçambicana.

A RESISTÊNCIA AO OLHO DO PODER: DESVIO E HIBRIDISMO EM EU, TITUBA,


FEITICEIRA... NEGRA DE SALEM, DE MARYSE CONDÉ

Jônata Alisson Ribeiro de OLIVEIRA(UFPI)


Luciléa Silva da CRUZ (UFPI)
Alcione Corrêa ALVES (UFPI)

O objetivo da presente pesquisa é discutir, de modo introdutório, as práticas de resistência e o


processo de construção identitária em vozes enunciativas de sujeitos negros escravizados. A fim
de cumprir tal objetivo, este trabalho traz uma breve análise da obra Eu, Tituba, Feiticeira...
negra de Salem, de Maryse Condé (1986), na qual Tituba, protagonista do romance, toma para
si, em sua limitação perceptiva, um discurso que reage à imposição da cultura do Outro numa
instância colonial. O presente estudo será fundamentado com base nas noções de desvio
segundo as formulações do ensaísta antilhano Édouard Glissant (2010), e de hibridismo
conforme proposto pelo teórico e crítico cultural Homi K. Bhabha (1998). Este estudo tem sido
elaborado no âmbito de pesquisa do Projeto de Pesquisa Teseu, o labirinto e o seu nome,
vigente na Universidade Federal do Piauí.

Palavras-chave: Maryse Condé; Tituba; Desvio; Hibridismo.

DO MORRO À LUANDA: RELAÇÕES DE SILÊNCIO E SUBALTERNIDADE ENTRE


CAROLINA MARIA DE JESUS E ONDJAKI

Julianny Katarine Aguiar OLIVEIRA(UEPB)


Sueli Meira LIEBIG (UEPB)

Carolina Maria de Jesus: escritora, negra, moradora da extinta Favela do Canindé, na zona norte
de São Paulo; trabalhou como doméstica, contudo não se adaptou e tornou-se catadora de papel
até sua morte. Ondjaki: Ondjaki (que em umbundo significa „guerreiro‟, ou „aquele que enfrenta
desafios‟) é o pseudônimo do escritor angolano Ndalu de Almeida, nome em ascensão no
cenário da contemporânea literatura lusófona; um menino se comparado aos grandes nomes que
fizeram história na literatura em sua pátria. Ambos, vítimas do silêncio e da subalternidade, ela
de sua condição de “mulher da favela” nos anos 60 e ele, da criança angola no mesmo período
de tempo. É a partir das considerações acerca do silêncio feitas por Orlandi e Roland Bhartes,
associados aos estudos Deleuzianos sobre poesia menor e estudos da subalternidade de Spivak
traçaremos relações de comparatividade entre ambos. Por fim, tentaremos observar como em
ambos às camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão
dos mercados, da representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem membros
plenos no estrato social dominante.

Palavras-chave: Ondjaki; Maria Carolina de Jesus; Silêncio; Subalternidade.

NICOLÁS GUILLÉN E A BUSCA PELA “COR CUBANA”: PROCESSOS DE


CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS NO POEMA NEGRO BEMBÒN (1930).
Karine Macêdo FREITAS (UFPI)
Geyza Conceição da Costa PEREIRA (UFPI)
Alcione Corrêa ALVES (UFPI)

Propõem-se investigar as construções identitárias perceptíveis no poema “Negro Bembón”,


integrante da obra Motivos de Son (1930), do poeta afrocubano Nicolás Guillén. Para tanto,
partiremos inicialmente da análise do poema que, inserido no contexto da obra, revela uma
representação contrária àquela imagem rígida de negro inferiorizado. O estudo desta obra é
relevante, pois, na época de sua publicação, o governo cubano sequer reconhecia a população de
seu país como mestiça, fazendo com que Motivos de Son, futuramente representando o desejo
do poeta de unificação de raças e culturas, contribuísse para a construção de uma identidade
nacional cubana. Cumpre salientar que a presente investigação consiste na segunda etapa do
Plano de Trabalho intitulado, provisoriamente, “Processos de construções identitárias dos
sujeitos afrocaribenhos no poema „El apellido‟, de Nicolás Guillén”, ora desenvolvido no
âmbito do Projeto de Pesquisa Teseu, o labirinto e seu nome, e contemplado com financiamento
do CNPq no edital Pibic/CNPq-AF 2013/2014.
Palavras- chave: Nicolás Guillén; Poesia afrocubana; Construções identitárias afroamericanas.

O DISCURSO NO TEMPO SOB A PERSPECTIVA MEMORIALISTA:


CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS EM LUANDINO VIEIRA E ONDJAKI

Luiz Paulo de Carvalho FERREIRA (UEPB)


Rosilda Alves BEZERRA(UEPB)

Com base na construção literária e linguística dos textos “O último carnaval da Vitória” e
“Encontro de acaso”, contos pertencentes aos livros Os da minha rua de Ondjaki e A cidade e a
infância, de Luandino Vieira, respectivamente, objetivamos analisar esses textos sob o olhar
inexistencial de fronteiras, portanto com o contato conflitante e influenciador do processo de
crioulização, Glissant (2005). Por meio da perspectiva dos estudos culturais, apontamos ainda
para uma discussão a respeito da construção identitária presente nos textos, que nos remete para
uma ruptura do espaço/tempo, relativizando-os de modo a utilizar a memória como ferramenta
de retorno ao passado a partir de uma memória individual, porém de fortes traços coletivos
(HALBWACHS, CANDAU). A literatura em apreço toma o território como espaço de
constituição de identidades a partir de conflituosas relações, segundo argumenta Silveira (2011),
e é a partir delas que são apontadas construções e reconstruções das identidades das personagens
em uma narrativa caracterizada pelo contato sociocultural e de elementos memorialistas.

Palavras-chave: Identidade; Memória; Espaço/tempo; Crioulização.

TENDA DOS MILAGRES E OS SAMBAS DE ENREDO, O GRITO EM CANTO E


RIZOMÁTICA RELAÇÃO

Patrícia GERMANO (UEPB)


Rosilda Alves BEZERRA (UEPB)

EmTenda dos Milagres (1969), Jorge Amado potencializa o entrelaçamento do sistema literário
com outros mecanismos tecno-midiológicos que o atravessam e determinam a sua existência
sempre em relação. Se a literatura, consoante Even-Zohar (2007), é um sistema dinâmico que se
quer estático como estratégia de delimitação e sobrevivência, em Tenda dos Milagres (1969)
esse entendimento dos estratos formadores do que se pretende por literário, as interpelações de
outros universos semiósicossão convidados a doar certo “tônus” a um dos textos amadianos
mais transmitidos, em pluralidade de suportes e plataformas. Ao mesmo tempo, esse romance é
expressão relevante das intercorrências que permeiam a composição de uma mensagem que se
pretende durável e maleável em zonas que escapam do “espaço” literário. Assim, buscamos
pensar essa fluidez do texto literário, cuja temática mais evidente é a instabilidade identitária do
povo afro-brasileiro, perscrutando o percurso rizomático (DELEUZE & GUATTARI) cuja
territorialização provisória é um samba de enredo de uma escola de samba paulista. Nosso
objetivo é, pois, observar esse samba enredo como grito imprevisível que ecoa do próprio texto
afro-brasileiro para um posicionamento em devir.

Palavras-chave: Tenda dos Milagres; Carnaval; Rizoma.

O GRITO ORIGINAL, GENÊSE DA LITERATURA AFRO-AMERICANA

Pauline CHAMPAGNAT (UFRN)


Karina CHIANCA (UFPB)
Tânia LIMA (UFRN)

O presente trabalho busca entender o surgimento do grito inicial afro-americano, que segundo
Chamoiseau em Lettres Créoles (1999), seria o grito primeiro do escravo africano levado à
força para as Américas a bordo do navio negreiro. Muitas vezes em países de colonização
americana, forja-se a ideia equivocada de que a gênese da literatura do continente seria a
literatura dita “de viagem”, ou seja, uma literatura escrita pelos primeiros colonos que pisaram
na terra americana, e que a descreveram de forma intencionalmente exótica. Nessa literatura, os
traços dos indígenas são propositalmente exagerados, de modo a atender às expectativas do
fértil imaginário ocidental a respeito desses indígenas na época das ditas “descobertas”. O
presente trabalho tem como foco o contexto antilhano, do qual surgiram os autores Edouard
Glissant (Introduction à une poétique du divers), Aimé Césaire (Cahier d’un retour au pays
natal), Patrick Chamoiseau (Écrire en pays dominé, Lettres Créoles, Texaco), Frantz Fanon
(Peles negras, máscaras brancas), que são autores que contribuíram para o movimento da
negritude e da crioulidade, tendo sempre em mente a busca de uma identidade própria, livre da
dominação cultural metropolitana, e que de certa forma seria um dos primeiros passos para
conseguir restituir o grito inicial do navio negreiro ao afro-americano contemporâneo.

Palavras-chaves: Grito; Negritude; Crioulidade; Identidade; Edouard Glissant.

A CONDIÇÃO SOCIAL DA MULHER NEGRA EM A COR PÚRPURA E PRECIOSA

Rafaela Dayne Ribeiro LUCENA (UEPB)


Sueli Meira LIEBIG (UEPB)

O presente trabalho tem como objetivo analisar a condição social da mulher negra. Para isso,
faremos uma análise comparativa dos romances confessionais das escritoras afro-americanas
Alice Walker The Color Purple ( A cor Púrpura ) de 1982 e Push (Preciosa) de 2010, de
Sapphire, onde fica claro para o leitor qual é a condição social das protagonistas Celie Johnson
e Clarice Precious Jones. Assim, perceberemos a luta dessas mulheres na tentativa de
mudar as suas sofridas histórias de vida, uma vez que durante muito tempo foram
discriminadas, abusadas, ridicularizadas pela sociedade, desprezadas e excluídas da história,
perdendo o direito à escolarização, à assimilação de novos conhecimentos e à
oportunidade de externar seus pensamentos como ser humano crítico e pensante. Essa difícil
situação reflete as práticas executadas por uma sociedade extremamente preconceituosa e
machista, capaz de impor a condição de ser subalterno às mulheres e obrigá-las a viverem uma
insidiosa submissão aos homens.

Palavras - chave: Subalternidade; Mulher; Cor negra.

AS POÉTICAS DE ÉLE SEMOG E JOSÉ LUIS HOPFFER ALMADA EM CONTEXTO DE


LITERATURAS NEGRO-DIASPÓRICAS

Ricardo “Riso” Silva Ramos de SOUZA (CEFET/RJ)

A partir das experiências literárias do Harlem Renaissance (EUA), do Negrismo cubano e da


Negritude na França, o presente artigo pretende demonstrar como características desenvolvidas
por esses movimentos culturais da primeira metade do século XX permanecem atuantes nas
literaturas da diáspora africana e da África, no caso, na análise de poemas do brasileiro Éle
Semog e do cabo-verdiano José Luis Hopffer Almada. Essas marcas de uma literatura negro-
diaspórica, para além do questionamento aos cânones de seus países, desvelam linguagem
contra-hegemônica para denunciar a condição de subalternidade dos negros nas sociedades,
reconfiguram as rasuras da história oficial excludente, assinalam a contribuição efetiva dos
negros na construção de seus países e propõem a valorização das culturas negras a favor
dasidentidades plurais de suas sociedades. O estudo comparativo dos poemas tem o suporte
teórico de W.E.B. Du Bois, Aimé Césaire, Edouard Glissant, Stuart Hall, Paul Gilroy,
Kabengele Munanga, Carlos Moore, entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Literaturas africanas de língua portuguesa; Literatura cabo-verdiana;


Literatura negro-brasileira; Éle Semog; José Luis Hopffer Almada.

BRINCANDO DE SER FELIZ: TONY MORRISON, CONCEIÇÃO EVARISTO E A


INSANA FANTASIA DE VOAR

Sueli Meira LIEBIG (UEPB)

As autoras negras, pela tripla discriminação da sociedade, a saber, de gênero, raça e classe
social, conduzem os seus escritos quase que invariavelmente por duas vertentes bem distintas.
Há as que contestam e criticam o status quo através da criação de personagens que falam e
lutam pelos seus direitos civis enquanto cidadãs, mas também há outras que propositalmente
transmutam a sua indignação em insanidade, onde através da fantasia de possuir asas para voar
acreditam-se visíveis e aceitas pela sociedade por se acreditarem brancas, bem sucedidas e,
portanto poderosas. Neste jogo de faz-de-conta inserem-se duas heroínas que chamam a atenção
por brincarem, por assim dizer, de serem felizes: Pecola Breedlove, de Tony Morrison, e Duzu
Querença, de Conceição Evaristo. O presente trabalho se propõe a analisar, num enfoque
comparatista, o comportamento dessas personagens que encontram na insanidade um meio de
sublimar a autoaversão potencializada pela sociedade.

Palavras-chave: Insanidade; Mulher negra; Tony Morrison; Conceição Evaristo.

A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA FEMININA POR UMA ANÁLISE COMPARATIVA


ENTRE OS ROMANCES IRACEMA E ÚRSULA

Viviana Vieira PIMENTEL (UFPI)


O trabalho proposto apresenta, como tema, a análise da identidade feminina tendo, como
objetivo, analisar como estão circunscritos os processos de construção identitária da mulher, por
meio de uma perspectiva comparativa entre as personagens protagonistas dos romances
brasileiros Iracema (1865), de José de Alencar, e Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis.
Ambas estão inseridas em um mesmo contexto histórico, ao que esta comunicação, tratando-se
de uma abordagem inicial ao tema, buscará ressaltar as semelhanças entre elas como a ausência
da voz feminina, decorrentes da submissão das personagens; e a morte, como solução para
conflitos em ambas narrativas. Utilizou-se, como fundamentação teórica para esta análise, a
abordagem da identidade cultural discutida por autores como Stuart Hall (2002) e Zygmunt
Bauman (2006). Este artigo tem sido elaborado no âmbito do Projeto de Pesquisa Teseu, o
labirinto e seu nome, vigente na Universidade Federal do Piauí.

Palavras-chave: Identidade; Mulher; Romance; Iracema; Úrsula.

EL GRITO DE BENKOS BIOHÓ: RESISTENCIA ANTE EL OLVIDO


EN LA OBRA LA CEIBA DE LA MEMORIA

Yuly Paola MARTÍNEZ SÁNCHEZ (FURG)

Benkos Biohó es quizá uno de los personajes más representativos de la obra La ceiba de la
memoria (BURGOS CANTOR, Roberto, 2007), puesto que el discurso emitido por su voz y
conciencia está cargado de una intensidad que causa cierta conmoción, además del ímpetu
transgresor que acompaña cada uno de sus movimientos y acciones dentro del relato. Benkos
Biohó, así como lo narra la novela, fue en realidad el primer revolucionario negro del Nuevo
Mundo, que propició las primeras rebeliones de negros cimarrones y la conformación de los
palenques cerca a Cartagena de Indias. La población del palenque aún conserva expresiones de
los idiomas de los esclavos, junto con las costumbres que trajeron de su tierra africana. La
insistencia de Benkos Biohó en recuperar su memoria y hacerla perdurar a través de su grito en
el Nuevo Mundo cumple su cometido, pues sus acciones de resistencia ante la amenaza del
olvido aún subsisten en el presente. Así, el grito se erige como el recurso que le permite
mantener viva su memoria para reconstruir su ser, sanando las heridas provocadas por la
bestialidad de los colonizadores, y también en un modo de resistencia y lucha por mantener
unidos a sus coterráneos como colectividad, a través del reconocimiento y enfrentamiento del
dolor y las marcas físicas del maltrato.

Palavras-chave: Esclavitud; Benkos Biohó; Grito; Resistencia; Palenque.

GT 03- RELAÇÕES ENTRE LITERATURA, LÍNGUA, DISCURSOS E CULTURAS NA


ÁFRICA DE LÍNGUA FRANCESA

Coordenadoras: Profa. Dra. Josilene PINHEIRO-MARIZ e Profa. Dra. Maria Angélica de


OLIVEIRA

O continente africano, como um universo histórico-cultural, encontra nas literaturas de língua


francesa, sobretudo, aquelas que apresentam características de obras pós-colonialistas
(MOURA, 2007), um campo fértil para as necessárias discussões sobre liberdade, identidade e,
também, sobre os discursos verdadeiros (FOUCAULT, 2002) de um povo. Essa literatura
produzida e publicada em língua francesa constitui-se no elo entre a cultura oral e a escrita
permeando múltiplas formas e estilos, o Oriente e indo ao Ocidente como uma ponte que liga as
Áfricas. Podemos, até mesmo, dizer que tal literatura, à semelhança do Griot, dá alma
à sociedade africana do Magrebe e do Machrek (poente e nascente, em árabe, região ao norte do
continente), bem como na África subsaariana, ligando-as aos mundos distintos. Nessa
perspectiva, este simpósio temático pretende receber trabalhos que focalizem a literatura
africana de língua francesa (traduzida ou não) e que evidenciem a multiplicidade de aspectos
socioculturais desse universo chamado África. Buscando aprofundar discussões, priorizamos
trabalhos que contemplem noções como sujeito, identidade, discurso e interculturalidade.

A CRISE DOS CONCEITOS DELIMITADOS E A MITANÁLISE NO CONTO AFRICANO


DE TRADIÇÃO ORAL LE SOLEIL ET LA LUNE

Aldenora Márcia Chaves Pinheiro CARVALHO (SEDUC/SEMED)

Na tentativa de estabelecer relações de aproximação e distanciamento entre as literaturas


africana e afro-brasileira de tradição oral, este trabalho pretende fazer uma mitanálise a partir da
leitura do conto Le soleil et la lune(O sol e a lua)objetivando identificar a presença de conceitos
delimitados presentes na narrativa de matriz africana. Por sua origem e configuração, o mito
pode assumir um padrão hermético em função da sua estrutura e tipologia, contribuindo assim,
para o que chamamos de crise dos conceitos delimitados, fenômeno comum na modernidade
tardia. Entretanto, o teor que o mito revela pode variar conforme a sociedade à qual se refere ou
a ele é referida. Este trabalho pretende a partir dessa mitanálise, desconstruir as acepções mais
comuns acerca da didatização da literatura de tradição oral e o ensino em sala de aula.
Analisaremos tais complexidades numa perspectiva dos estudos culturais e a partir da leitura do
conto Le soleil et la lune em Pinheiro-Mariz (2011), ainda, dos pressupostos teóricos de Morin
(2008) e Augé (2007), identificando a ausência e a permanência de elementos constitutivos dos
mitos segundo Eliade (2010) e Salis (2005).

Palavras-chave: Contos africanos; Mito; Mitanálise; Literatura.

CONTRIBUIÇÕES DOS CONTOS DE TRADIÇÃO ORAL AFRICANOS DE LITERATURA


FRANCESA PARA O ENSINO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

Beatriz Moreira MEDEIROS (UFCG)


Laryssa Barros ARAÚJO (UFCG)
Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)

Sabe-se que a cultura brasileira é mistificada de várias outras, diferentes povos contribuíram
para a formação da atual nação. A título de exemplo, tem-se o negro, figura de grande
importância para a construção da sociedade, porém, colocado à margem social. Apesar de tantas
barreiras já terem sido quebradas, estes ainda continuam sofrendo preconceito racial até os dias
de hoje. Partindo desse pressuposto, o presente trabalho objetiva, tendo como base a lei Nº
10.639, de 9 de Janeiro de 2003, que nos traz sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira
e africana. Portanto, esta ressalta a importância da cultura negra na formação da sociedade
brasileira e discute a inclusão da cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio de
escolas públicas e particulares. De tal maneira, faremos uma pesquisa de caráter bibliográfico,
utilizando como corpus o conto de tradição oral “A Serpente e a Perdiz”, presente na “Revista
Literária em Tradução”, publicada em 2011. Busca-se, deste modo, encontrar estratégias para se
ensinar a cultura afro-brasileira através do conto.

Palavras- chave: Cultura afro-brasileira; Ensino; Conto.


BRASIL E ÁFRICA: RELAÇÕES ENTRE VELHOS E JOVENS A PARTIR DE
PROVÉRBIOS

Marcela de Melo Cordeiro EULÁLIO (UFCG)


Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)

Este trabalho busca promover uma reflexão sobre o tema do envelhecimento humano, sob a
ótica social, transmitida de geração em geração por meio da literatura oral e, de modo particular,
intermediada pelos provérbios. Nestas reflexões, pretendemos observar como os jovens tratam
os idosos, nas culturas brasileira e africana. Para tanto, selecionamos alguns provérbios de
origem brasileira em língua portuguesa e outros de origem africana de países de língua francesa,
com o propósito de promover uma interlocução cultural, no que diz respeito à forma pela qual
os jovens tratam seus velhos nas referidas culturas, a partir de tais provérbios.
Metodologicamente, esta pesquisa é documental e, nela, buscamos priorizar a tradução como
um elemento que contempla o aspecto cultural, com base nas ponderações de Mendes (2012),
que faz um estudo acerca da “envelhecência”; em Walter (2010), no que concerne ao conceito
de transculturação, isto é, da tradução do texto que apresenta implícito diversos fatores de sua
cultura, bem como em Jullien (2009), que estuda o diálogo entre as culturas, apenas para citar
alguns. Nos primeiros resultados, identificamos que na África, os jovens não só respeitam, mas
também admiram os anciãos, enquanto no Brasil, o jovem, na maioria das vezes, desrespeita o
velho, desconsiderando sua sabedoria e experiência.

Palavras-chave: Brasil x África; Velhos x jovens; Provérbios; Diálogo cultural.

LE GRIOT ET LES AVENTURES DE GAO: HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA CULTURA


AFRICANA

Déborah Alves MIRANDA (UFCG)


Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)

A Bande Dessinée (BD), -ou histórias em quadrinhos-, no continente africano, teve seus
primeiros dias em jornais diários, do fim do século XIX. Com o passar dos anos, a BD saiu das
folhas dos jornais e ganhou suas próprias páginas, nas quais as histórias da cultura africana eram
contadas a partir da sucessão de quadrinhos que estampavam a necessidade de se dar voz àquele
povo, uma vez que subjazia, em todo o restante do mundo que aquele povo estava esquecido. A
BD africana sofreu influências da BD americana, de Will Eisner e também da europeia de
autoria de Töpffer; mas, na forma de apresentação de suas temáticas e da própria disposição dos
quadrinhos, a BD africana estampava não só os aspectos culturais daquele continente, mas
também, um modo único de se fazer BD. A partir desse contexto, este trabalho tem como
objetivo fazer um levantamento das obras, desse gênero, produzidas nos países africanos de
língua francesa, bem como identificar quais são as principais temáticas contempladas nessas
obras. Em seguida, analisaremos a obra Le griotetles aventures de Gao –chapitre 1 (2009), do
autor camaronês KouamTekam David, a fim de identificar quais as principais características
intersemióticas da BD africana, analisando as temáticas recorrentes na referida obra. Para
atingirmos nossos objetivos nos fundamentamos em Dürrenmatt (2013) Cagnin (1975) Cassiau-
Haurie (2010) e Langevin (2006).

Palavras-Chave: Bande dessinée; Cultura Africana; Literatura.

CIÊNCIA E FICÇÃO: UMA LEITURA DO ROMANCE ANTILHANO PLUIE ET VENT SUR


TÉLUMÉE MIRACLE
Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)
Saulo Rios MARIZ (UFCG)

Se o que caracteriza um texto literário é a mimeses ou a literariedade, o fato é que ambas as


ideias confluem para afirmar que uma obra literária deve, indispensavelmente, ser representação
do verdadeiro, podendo ir muito além das limitações do real. É nesse âmbito que a nossa
reflexão está ancorada, uma vez que o nosso objetivo é discutir, à luz das ciências biológicas,
como fatos da ficção são explicados pela ciência, determinando assim, a verossimilhança de
uma obra. O corpus desta pesquisa, de cunho bibliográfico, é um romance da escritora antilhana
Simone Schwarz-Bart, no qual a personagem central “domina a arte da cura através das
plantas”. Télumée, a protagonista de PluieetventsurTéluméeMiracle realiza curas milagrosas, -
daí ter recebido a alcunha de Miracle -, pois recebeu o legado da arte da “cura pelas plantas”,
advindo dos seus ancestrais africanos. Como base teórica, encontramos em Compagnon (2003)
e nos estudos pós-colonialistas de Moura (2009), suporte à nossa reflexão dentro do contexto
desse romance antilhano, a fim de explorar a dicotomia entre efeito farmacológico e o efeito
placebo como retroalimentadora da herança mística do uso de plantas medicinais, um dos fatos
que dificulta a adesão à fitoterapia por profissionais de saúde.

Palavras-chave: Ciência; Literatura antilhana; Pós-colonialismo.

A LITERATURA FRANCÓFONA NO ENSINO DO FRANCÊS COMO LÍNGUA


ESTRANGEIRA

Emily Thaís Barbosa NEVES (UFCG)


Mariana de Normando LIRA (UFCG)
Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)

Há uma necessidade em novas ferramentas que auxiliem no ensino do francês como língua
estrangeira (FLE) e na divulgação da cultura dos países que falam tal língua; assim,
encontramos o site conte-moi: http://www.conte-moi.net/ como uma dessas ferramentas. Trata-
se de um site pedagógico, que oferece um espaço através de um projeto inovador de recolha e
recuperação do patrimônio oral, de língua francesa em vários continentes, funcionando como
um recurso complementar no processo ensino-aprendizagem, ampliando a descoberta das
culturas de língua francesa (MOURA, 2007), além de estimular a interação entre docente,
discente e a cultura dos países africanos (BERND, 2011). Relatando nossa experiência,
enquanto estudantes de FLE, sobre o uso do referido site, através de análise e descrição,
discutimos a importância da literatura de língua francesa, do Magrebe, no ensino do FLE,
ressaltando as contribuições do site (BLONDEAU; ALLOUACHE, 2008). Para tanto,
analisaremos os contos Le garçonaux grandes oreilles, originário do Marrocos e
L’enfantserpent, da Argélia, realizando um diagnóstico parcial do site. Essas discussões
evidenciam que o site contribui para uma melhor compreensão tanto oral como escrita dos
contos e, portanto, da língua francesa, colaborando também para divulgação dessa cultura do
norte da África.

Palavras - chave: Literatura francófona; Site conte-moi; Ensino do FLE.

PALAVRAS-CHAVE DA POESIA “FRANCÓFONA” CONTEMPORÂNEA

Francinaldo de Souza LIMA (UFCG)


Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)
Tanto na África, quanto nos países de diáspora africana, como os que compõem situados na
América Central, mais diretamente, no Caribe, diversos autores de língua francesa têm utilizado
a linguagem poética para se expressarem e se fazerem ouvir em todo o mundo. Esse fato
impulsiona esta pesquisa, ora em andamento, que tem por objetivo central expor um breve
panorama da poesia contemporânea de língua francesa através de uma pesquisa bibliográfica
documental, baseada em antologias como as de Joubert (1996; 2002) e Chevrel, (2010). Após a
realização do levantamento dos mais expressivos poetas francófonos dos finais do século XX e
do XXI e da análise de alguns de seus textos, discutiremos em “palavras-chave” a importância
da poesia e da língua francesa para a constituição identitária e sociocultural de povos de língua
francesa, cuja literatura é classificada como “francófona”, termo que também será nosso objeto
de discussão. Nos primeiros resultados já nos mostram que duas dessas principais palavras são
“identidade” e “diversidade”, mostrando que o objetivo final é a celebração dessa língua que
outrora trazendo segregação é capaz de promover, hoje, a união.

Palavras-chave: Poesia francófona; Língua francesa; Poesia contemporânea; Francofonia.

ENSINO DA CULTURA AFRICANA NO BRASIL: CONSIDERAÇÕES SOBRE A


LITERATURA INFANTIL DA ÁFRICA DE LÍNGUA FRANCESA

Jéssica FLORÊNCIO (UFCG)


Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)

Neste trabalho, pretendemos discutir a respeito do trabalho com a literatura infantil de países da
África de língua francesa, como um meio de promover o ensino dessa cultura no Brasil.
Tomando como base a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira e
africana nas escolas do Brasil, a fim de mostrar, ainda, que os professores de francês também
podem/devem desenvolver tal ensino, sobretudo quando falamos de professores que dispõem de
formação dupla: a Língua Francesa e Língua Portuguesa. Para tanto, tomamos como base a
própria Lei Federal e um corpus literário de língua francesa, constituído por Contos de tradição
oral da África Central (1989). Assim, a partir de alguns dos resultados obtidos, já podemos
constatar que a abordagem da literatura infantil africana pode promover a conscientização das
crianças a fim de haver a valorização das culturas africanas, como um importante caminho para
uma valorização da cultura brasileira, podendo auxiliar na desconstrução de estereótipos e
clichês que ainda existem na nossa sociedade. Além disso, podemos afirmar que, os professores
de francês têm embasamentos suficientes para também ensinar a cultura africana, pelas vias da
língua francesa, uma vez que a formação nas duas línguas (francesa e portuguesa) pode auxiliar
no ensino da referida cultura, já que as relações entre o Brasil e a África são muito estreitadas.

Palavras-chave: Cultura; Literatura infantil da África; Educação Infantil.

ASSIA DJEBAR: UMA LITERATURA DE RESISTÊNCIA COMO PORTA-VOZ DA


MULHER MAGREBINA

Maria Rennally S. da SILVA (UFCG)


Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)

Entre os escritores da literatura africana, de um modo geral, os magrebinos de língua francesa


nem sempre são lembrados, sobretudo, quando são mulheres. As mulheres-escritoras da África
produzem uma obra que expressa, em uma dimensão mais próxima do real, a revolta diante do
silenciamento e da luta contra a colonização. Nesse sentido, voltamos o nosso olhar para a
argelina AssiaDjebar, por ser considerada, atualmente, a principal porta-voz da mulher do
Magrebe, -região situada ao norte da África. Nesta pesquisa bibliográfica e documental, temos
como principal intento apresentar a obra e a fortuna crítica dessa escritora, destacando a sua
produção literária como um importante espaço para se conceder voz à mulher árabe-
muçulmana. Tanto em sua expressão literária, quanto na cinematográfica, ela aborda questões
em torno do universo feminino de maneira minuciosa, a partir de suas experiências íntimas e
das suas reflexões pessoais. O principal tema encontrado na sua produção é a emancipação da
mulher durante a Guerra da Independência da Argélia (1954-1962). Nossas reflexões estão
embasadas em Moura (2007) ponderando a respeito da literatura pós-colonialista e em Brahimi
(2011), sobre a literatura dita “francófona”. Como resultados, destacamos a identificação da
obra de Djebar enquanto uma literatura de resistência, emprestando voz aos gritos de socorro da
mulher árabe, que tem vivido até os dias de hoje, sob a subordinação ao sexo masculino.

Palavras-chave: Mulher; Subordinação; Magrebe.

A ÁFRICA FRANCÓFONA ATRAVÉS DA CANÇÃO: UMA PROPOSTA PARA UMA


EDUCAÇÃO INTERCULTURAL

Ribamar C. BEZERRA (UFCG)

A música sempre desempenhou um importante papel na sociedade, estando ela presente nas
mais diversas situações da vida cotidiana. Por razões como esta, é instrumento de celebração e
quando se reúne letra e música, transformando-se no gênero liter-musical, canção, ela agrega
valores e, dessa forma, vem sendo utilizada no ensino de línguas, devido à potencialidade sua
característica lítero-musical, reunindo letra e melodia. Assim esse potencial enquanto recurso
didático já se consolida em muitos estudos, a exemplo de Boiron (2001), Sousa e Neto (2003),
Souza (2008) e Dias de Barros (2012). Pensando na sala de aula de línguas estrangeiras e em
seus desafios na promoção de uma abordagem cultural, em conformidade com as indicações dos
Parâmetros Curriculares Nacionais para Língua Estrangeira (2006), desenvolvemos neste
trabalho uma proposta de abordagem intercultural, através da utilização do gênero canção,
produzida e cantada em francês enquanto veículo de exposição cultural, especialmente da África
francófona e de seus povos e culturas e de sua relevância para a construção de uma sala de aula
plural.

Palavras-chave: Interculturalidade; Canção francófona; África.

GT 04 - SOBRE LITERATURA, LÍNGUA, DISCURSOS E CULTURAS NAS ÁFRICAS

Coordenadora: Profa. Dra. Maria Angélica de OLIVEIRA

Segundo Cristóvão Tezza (2009), embora o objeto da literatura não seja a “verdade”, mas o
homem que pensa sobre ela, a literatura, linguagem ao infinito, assim como outros jogos de
verdade, refletem e refratam as vontades de verdade presentes em nossa formação social. Nesse
sentido, o continente africano, como um universo histórico-cultural, encontra nas suas
literaturas um campo fértil para as necessárias discussões sobre liberdade, identidade e sobre os
discursos verdadeiros (FOUCAULT, 2002) de um povo. Essa literatura tanto em língua
portuguesa ou inglesa constitui-se no elo entre a cultura oral e a escrita, permeando múltiplas
formas e estilos, indo do Oriente ao Ocidente ligando as diversas Áfricas. À semelhança do
Griot, tal literatura dá alma à sociedade africana ligando-a aos mundos distintos. Nessa
perspectiva, este simpósio temático pretende receber trabalhos que focalizem as diversas
literaturas africanas de língua portuguesa ou inglesa e que evidenciem a multiplicidade de
aspectos socioculturais desse universo chamado África. Buscando aprofundar discussões,
priorizamos trabalhos que contemplem noções como sujeito, identidade e discurso.

TRADIÇÃO, MEMÓRIA E IDENTIDADE NAS “ABENSONHADAS” VOZES DOS AVÓS


DE MIA COUTO

Maria Angélica de OLIVEIRA (UFCG/UFPB)


Josilene PINHEIRO-MARIZ (UFCG)

No universo da literatura, abrigam-se “abensonhadas” (COUTO, 2012) histórias que refletem e


refratam vontades de verdade das formações sociais. Nesse sentido, os povos desse universo
chamado África encontram em suas literaturas um campo fértil para a preservação de suas
tradições, de suas culturas, de suas crenças. As mãos de seus sujeitos autores tecem os fios que
eternizam a memória de seu povo, de sua tradição, de suas identidades. Nosso trabalho objetiva
investigar, em contos tecidos por Mia Couto, tecelão de “estórias abensonhadas” as vontades de
verdade acerca das tradições, da cultura presente e das crenças nas vozes dos avós. Para análise,
contamos com o suporte teórico e metodológico dos estudos da Análise de Discurso de linha
francesa e dos estudos culturais sobre Identidade realizados por Stuart Hall. As principais
referências são: Foucault (1995; 1999; 2008); Veyne (2011); Indursky (2011); Hall (2011); Le
Goff (2003); Pêcheux (1990); Nora (1984).

Palavras-chave: Tradição; Memória; Identidade; Discurso; Vontades de verdade.

O POETA JOÃO-MARIA VILANOVA

Marlene HERNANDEZ LEITES

Este estudo objetiva, de forma geral, apenas mais um olhar de fora porque de latino americano,
e de dentro, porque de colonizado, no discurso europeu sobre o poeta João-Maria Vilanova, que
se suicidou em 2005, no Porto, em Portugal. Tenciona-se, aqui, conhecer e avaliar o discurso
crítico do colonizador sobre a literatura africana, mais especificamente a angolana. Além disso,
se propõe ainda a: examinar como pesquisadores e críticos de diferentes contextos de
pertencimento se posicionam em seus discursos críticos; contribuir para elucidar as falas e os
lugares; verificar as relações existentes entre discursos críticos e as condições que os
engendram, o contexto que os torna visíveis; a investigar, na medida do possível, quem foi, na
realidade histórica e literária de Língua Portuguesa, João-Maria Vilanova e (re)situá-lo na
literatura angolana e na cultura portuguesa, refletindo sobre a questão da identidade. Foram base
teórica para este estudo, Homi K. Bhabha , Marilena Chauí, J. Derrida, J, Henry Luis Gates,
Boaventura de Sousa Santos e Gayatri Chakravorty Spivak.

Palavras-chave: Literatura africana; Identidade; Discurso crítico; Hibridização.

DISCURSOS SOBRE A MULHER AFRICANA, CULTURA E SOCIEDADE: UMA


ANÁLISE DO CONTO DE TRADIÇÃO ORAL AS DUAS MOÇAS BONITAS COMO
MELANCIAS

Jéssica Pereira GONÇALVES


Jaíne de Sousa BARBOSA
Josilene PINHEIRO-MARIZ

A África é um continente marcado por uma cultura intensamente plural, constituída por valores
sociais, coletivos e ideológicos de um povo que marca sua identidade por meio da coletividade
de homens e mulheres, que muito tem a acrescentar de cultura ao mundo. A literatura, como
representação do mundo e do homem, constitui-se como uma importante representação dessa
cultura tão rica e significativa. É sobre esta perspectiva que nossa pesquisa se estrutura, ao
analisar o conto As duas moças bonitas como melancias. Tal conto é uma das muitas narrativas
da tradição oral africana e fazem parte de uma coletânea de histórias curtas que, como esta,
foram reunidas e transcritas por Yves Pinguilly (2005). Nessa leitura iremos dar maior enfocar à
cultura marcada pela oralidade, por crenças, costumes e valores que constituem a sociedade
africana. Destacamos também o discurso formado sobre a mulher, como algo singular e distinto
dos discursos dos povos ocidentais; mais precisamente brasileiros, que atribuem a mulher
valores culturais e sociais por vezes, muito diferentes daqueles do povo africano. Para isso,
tomaremos como base teórica a Análise do discurso, nos apoiando em pesquisas de estudiosos
como Dantas (2007), Fernandes (2008) e Fiorin (2005) que muito nos acrescentam sobre as
noções elencadas nesta pesquisa.

Palavras-chave: Literatura Africana; Cultura; Valores; Sociedade; Análise do discurso.

PRODUÇÃO DE SINGULARIDADES E EMANCIPAÇÃO SOCIAL EM MIA COUTO

José GERMANO NETO (UFRN)


Prof. Dr. Orivaldo Pimentel LOPES JÚNIOR (UFRN)

A partir dos contos de Mia Couto presentes no livro 'Estórias abensonhadas' (2012) busca-se
compreender como a produção de singularidades a partir do resgate da filosofia e da cultura
tradicional africana se constitui forma de emancipação social e ressignificação da realidade. A
obra está situada no período de superação dos conflitos advindos da independência de
Moçambique e retrata o brotar da esperança e a reorganização da vida do povo afetado pela
guerra. Percebe-se que a partir do resgate cultural africano, o discurso do culto aos ancestrais e
do cuidado com a natureza é utilizado como via de afirmação da cultura local e isso se coloca
frente ao pensamento colonizador e hegemônico, cria-se assim aquilo que o sociólogo
Boaventura de Sousa Santos chama de 'Epistemologia do Sul', o reconhecimento de saberes
produzidos em modelos não-convencionais e, consequentemente, essa Epistemologia do Sul
gera o reconhecimento de formas de existência não-convencionais.

Palavras-chave: Transdisciplinaridade; Epistemologia do Sul; Singularidade; Mia Couto.

O DISCURSO DO SUJEITO AFRICANO NA POÉTICA DE LUÍS GAMA: O LIRISMO E A


SÁTIRA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO NEGRO

Diana Barbosa FREITAS


José Mário SILVA

Quando falamos de língua adentramos em um universo repleto de diversidades culturais que


apresentam contrastes e semelhanças. Em especial na literatura temos a oportunidade de nos
colocarmos enquanto sujeitos representantes de um dado povo, de uma dada cultura. Partindo
dessa assertiva, pensar na literatura do continente africano é pensar nas mais variadas formas de
inserção artística da história do sujeito advindo da África. O legado da literatura africana no
Brasil apresenta um rico emaranhado de significações que auxiliam na (re) constituição da
identidade do sujeito negro dentro da sociedade no qual o mesmo está inserido. Assim,
objetivamos com o presente estudo, discutir acerca das identidades e discursos existentes na
poética de Luís Gama frente ao Brasil escravocrata do século XIX, procurando evidenciar a
inter-relação existente entre o sujeito que contempla o discurso do negro e a posição do mesmo,
enquanto escritor, ocupada socialmente. Para tanto, nos apoiaremos nos aportes teóricos de
Bernd (1992), Carneiro (2010), Gama (2000), entre outros. Os primeiros resultados dessa
análise evidenciam a imagem do negro não mais como um ser digno de pena, ao contrário, na
poesia de Gama vemos um sujeito que, de forma satírica, denuncia as iniquidades do mundo que
o rodeia. Levando a constatar o orgulho presente em sua negritude e o desejo de ressignificar a
imagem do negro dentro da sociedade.

Palavras-chave: Literatura; Luís Gama; Identidade do sujeito negro.

O CORAÇÃO DAS TREVAS: UM ESPECTRO SOMBRIO DA ÁFRICA.

Darisrose Silva MACEDO


Ms. Alberon de Lemos GOMES

O discurso é uma prática da linguagem presente numa narrativa de construção social que apenas
pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social e suas condições de produção,
isso reflete numa visão de mundo determinada e vinculada à sociedade e seus atores sociais.
Assim, este trabalho propõe discutir a imagem idealizada do ocidente sobre a África, a partir da
leitura, “O Coração Das Trevas” (1902), baseada na experiência de vida do escritor Joseph
Conrad no Congo africano. Destaca-se dessa forma a construção ideológica e representativa do
imaginário composto em seu discurso. Compreendendo os sentidos e as ideologias que ele
pretende transmitir, evidenciando o quanto um discurso como narrativa ou fala é uma partícula
de significado do imaginário dominante, que abarca um indivíduo de uma mesma memória
coletiva, elaborando todas as representações de uma sociedade.

Palavras Chaves: Discurso, Imaginário, Representação, África e Joseph Conrad.

A BUSCA PELA IDENTIDADE EM TERRA SONÂMBULA: O FANTÁSTICO COMO


ROTA DE FUGA E INSERÇÃO TOTAL NA REALIDADE

Danilo da Silva CÂNDIDO


Thayane de Araújo MORAIS

“Terra sonâmbula” é uma obra marcada pelo encontro de gerações em um ambiente devastado
por guerras civis. Em meio a um cenário desolador, o jovem Muidinga e o velho Tuhair traçam
um caminho que oferece ao leitor um vasto panorama das relações humanas em um ambiente de
guerra e suas implicações. As duas visões de mundo se entrecruzam e sugerem um ideal de
esperança e de reconstrução, a partir do resgate das tradições, representada pelos “cadernos de
Kindzu” que contam as histórias de um jovem rapaz pelo Moçambique. A ideia de estabelecer
uma dependência mútua entre as personagens é uma tentativa clara do autor de pôr em pé de
„‟igualdade‟‟ o passado, representado pelo ancião e o futuro, sob a imagem do menino letrado.
A esperança de um futuro melhor é produto dessa relação entre passado e presente. Nesse
trabalho tentaremos expor de que maneira Mia Couto utilizou as tradições do lugar para criar
um ambiente de esperança onde já não havia muito o que se esperar. Os símbolos, o contexto
histórico, a busca por uma identidade aparentemente perdida.

Palavras-chave: Literatura Africana; Mia Couto; Identidade.


OS CAMINHOS DA IDENTIDADE NAS PERSONAGENS LAURENTINA E MANDUME
DA OBRA AS MULHERES DE MEU PAI DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

Márcia Letícia GOMES

A literatura africana ao redor do mundo mostra-se rica na expressão de sentimentos, percepções,


crenças, dando livre vazão ao imaginário, por meio do qual são acessados aspectos do
patrimônio cultural de origem africana. A construção de tal literatura é marcada por episódios
de violência, ruptura, transformações, migrações e, em consequência, construção e ruptura de
identidades. No âmbito da discussão acerca de identidade, destaca-se a obra As Mulheres de
Meu Pai de José Eduardo Agualusa, na qual, o tema da viagem, o movimento, a memória como
imagem em movimento, influenciam os pensamentos e concepções de duas personagens em
especial, a saber, o casal Laurentina e Mandume. Nesse sentido, a proposta do estudo consiste
em investigar a questão identitária nas duas personagens referidas, partindo do pressuposto de
que a viagem até a África promove em Laurentina uma espécie de flexibilização da identidade,
pois, no processo de encontrar o desconhecido, a referida personagem assume as raízes
africanas que julgava possuir ao passo que em Mandume o resultado é diverso, pois, este, em
contato com a realidade africana reafirma e sustenta bravamente uma identidade portuguesa à
prova de qualquer influência. Para tal argumentação recorreremos ao exposto por Stuart Hall
(2001; 2003) ao tratar da identidade e da diáspora e, ainda, ao que propõe Edward Said (1999)
ao tratar do tema da viagem como reveladora de aspectos da identidade. A viagem para a África
(para fora) sinaliza aqui uma viagem por si mesmo (para dentro) ao que as personagens
questionam e sofrem a crise de identidade.

Palavras-chave: Identidade; As mulheres de meu pai; José Eduardo Agualusa.

A ÁFRICA NA LÍNGUA E NOS TEMAS DOS POEMAS DE ASCENSO FERREIRA

Odailta Alves da SILVA (SE/PE)

O presente trabalho tem como objetivo investigar o universo africano na obra do poeta
pernambucano Ascenso Ferreira, partindo da premissa de que muitos textos desse autor
modernista são marcados pela oralidade pernambucana, na qual ecoa a voz do negro nordestino
dessa região. Essa pesquisa analisa como a africanidade linguística na obra do poeta constrói-se
através de palavras africanas e de imagens do universo afro-brasileiro. Para tanto, foram
selecionados um total de 29 poemas, dos três livros de Ascenso: Catimbó – doze textos; Cana
Caiana – doze e Xenhenhém – cinco. Encontraram-se diversos textos nos quais os negros
apresentam-se em diferentes contextos: religioso, familiar, amoroso, folclórico. Além das
temáticas, também foram encontrados sessenta vocábulos de origem africana e também alguns
fenômenos linguísticos da oralidade e do português popular que são atribuídos à influência
africana, como o apagamento do /r/ no final das palavras e a falta de concordância nominal, no
português não padrão (BONVINI, 2008; CASTRO, 2005). A fim de atingir os objetivos
propostos, fez-se um panorama dos estudos sobre a influência africana no português do Brasil e
o tráfico de escravizados transatlântico. Essa pesquisa esteve calcada nos postulados de Bonvini
(2008), Rodrigues (2008-1933), Castro (2005 e 2002), Henckel (2005) e Mendonça (1973 –
1933).

Palavras-chave: Poemas; África; Línguas Africanas; Ascenso Ferreira.


GT 05 - LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA: DINÂMICAS
CULTURAIS E POÉTICAS LITERÁRIAS

Coordenadoras: Profa. Dra. Marta Aparecida Garcia Gonçalves (UFRN) e Profa. Dra. Tânia
Lima (UFRN)

O ensino e a pesquisa das Literaturas Africanas em Língua Portuguesa na atualidade ainda


refletem algumas questões como: Qual o lugar da teoria no ensino da literatura produzida em
África? De que forma a relação “história e literatura” ou “real e ficcional” pode/deve ser
aplicada com proveito nos processos de ensino e pesquisa? Há uma configuração no uso da
interdisciplinaridade na pesquisa e no ensino das Literaturas Africanas em Língua Portuguesa?
Diante destes pontos, nosso simpósio tem por finalidade apresentar uma discussão sobre as
produções literárias africanas em língua portuguesa, enfatizando as demandas acadêmicas de
ensino e pesquisa nos Cursos de Letras na atualidade, especialmente aquelas que visam a
problematizar valores voltados para questões e correlações existentes entre a literatura, a
política e a estética. Por isto, propõe-se aqui, acolher trabalhos que norteiem a proposta,
apresentando discussões sobre a literatura africana em língua portuguesa e suas especificidades
na pesquisa e no ensino como: as questões da identidade e da outridade; a recriação de gêneros
da oralidade na escrita; a intertextualidade: singularidades e processos; literatura em relação
com outras áreas do saber; os estudos de gênero; comparativismo: experiências e contribuições;
imbricação entre ética e estética nas produções em África; as relações entre literatura e eventos
históricos; entre outros temas voltados para as Literaturas Africanas em Língua Portuguesa,
visando o bom-encontro dos olhares de professores e pesquisadores que estudam e ensinam
sobre a África.

UTOPIA E RUPTURA: O SER FICTÍCIO E O DESMANCHE DA NARRATIVA DE


NAÇÃO NAS PROSAS DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES E JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

Ana Cristina Pinto BEZERRA (UFRN)

As leituras críticas sobre as narrativas africanas de língua portuguesa apresentam, com


frequência, o diálogo entre o texto ficcional e o discurso historiográfico que permeia tal texto, as
lutas por uma identidade nacional e as consequências do processo de colonização. Como
exemplo desse diálogo, é possível destacar a ficção do escritor José Eduardo Agualusa que, em
meio a ironias e metáforas, sugere o desvanecer de um sonho nacional, a quebra com o ideário
de nação em Angola diante de um cenário de caos, de conflitos e de esquecimentos. Com um
olhar semelhante, o escritor português António Lobo Antunes incita o olhar do leitor sobre
Lisboa, após o discurso áureo da colonização, tecendo um presente que em nada se assemelha
ao passado heroico outrora cantado. Dessa maneira, a análise pretendida aqui deseja tecer uma
relação entre as obras As naus (ANTUNES, 2011) e Teoria geral do esquecimento
(AGUALUSA, 2012), analisando, nesses textos, o modo como a narrativa de nação é subvertida
pelos medos, pela miséria e pelo deboche, sentidos na construção das personagens de tais
enredos. Para tanto, recorre-se às leituras sobre a personagem do romance com Candido (1976),
para então adentrar nos cenários da ex-colônia e sua antiga metrópole, por meio do diálogo com
Mata (2006), Reis (2004), Arnaut (2009), entre outras leituras relevantes para este estudo.

Palavras-chave: Utopia; Ruptura; Narrativa de Nação; Antunes; Agualusa.

UMA FARMÁCIA DE ÁFRICA:


PRECONCEITO, OPRESSÃO E RESISTÊNCIA EM “VENENOS DE DEUS, REMÉDIOS
DO DIABO”, DE MIA COUTO
André Magri Ribeiro de MELO (UERN)

O presente artigo trata-se de um estudo de caráter interpretativista acerca do texto Venenos de


Deus, remédios do Diabo (2008), do moçambicano Mia Couto. Tem-se como escopo o
estabelecimento de relações dialógicas entre as questões histórico-sociais do povo de
Moçambique e a prosa poética de Mia, com pés fincados na realidade negra construída no limiar
fantástico da palavra literária africana. Discutir-se-á, ainda, o ethos dos protagonistas da história
e seu entrelaçamento com aspectos vinculados ao preconceito, ao revide e à representação
feminina, intimamente imbricados à história africana, às identidades negras e à afirmação
cultural do povo moçambicano. Fundamentamo-nos nas reflexões de Hamilton (1981), Chabal
(1994), Munanga (2003), Hall (2006) e Ribeiro (2013), principalmente. O texto em questão alia
subjetividades e materialidades no estudo de interpretação culminante na égide literatura –
história – identidade. Contribuindo de forma significativa no campo do debate acerca das
literaturas africanas em língua portuguesa, este trabalho vale-se das dinâmicas culturais e das
poéticas literárias que perpassam o texto de Mia Couto para solidificar e reafirmar o valor
irrefutável da África na pesquisa em ciências sociais e humanas que se faz em nosso país e no
mundo.

Palavras-chave: África; Preconceito; Opressão; Revide; Literatura Moçambicana.

(DES) CONSTRUÇÕES DE BINARISMOS EM JOÃOTÓNIO, NO ENQUANTO DE MIA


COUTO

Ana Paula P. COMISSÁRIO (UFRN)


Tânia LIMA (UFRN)

Este trabalho tem por objetivo discutir as relações e construções de gênero envolvidas no conto
Joãotónio, no enquanto do escritor moçambicano Mia Couto. Inserido no livro Estórias
abesonhadas, o conto Joãotónio, no enquanto reflete desde os primeiros questionamentos -
datados do início do século XX, acerca dos papeis de homem e mulher - até os reflexos desses
próprios questionamentos vividos na contemporaneidade, ou seja, no nosso século XXI. Este,
no que diz respeito às relações de gênero, se caracteriza, sobretudo, por uma necessidade de
colocar em prática, por assim dizer, as desconstruções dos binarismos homem/mulher,
hetero/homo, os quais por tanto tempo serviram de ancoragem para o mundo e estabilizavam as
relações sociais, uma vez que antes se sabia indubitavelmente como um homem, mulher, hetero,
homo, se comportavam. Porém, essas estruturas fixas, esses enquadramentos já não nos dão
ancoragem na sociedade atual; o discurso patriarcal está em constante desconstrução. E são
essas questões que são levantadas em Estórias abesonhadas e, principalmente, no conto
Joaotónio, no enquanto. Para isso, pretende-se buscar amparo na teorias de Susan Sontag, Stuart
Hall, Lúcia Zolin e Foucault.

Palavras-chave: Mia Couto; Joãotónio; Literatura; Conto; Identidade; Gênero.

O MENINO E A VOZ DO OUTRO: AUTOFICÇÃO E CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA EM


“BOM DIA, CAMARADAS”

Alexsandro Lino da COSTA (UFRN)

Poeticamente, Ondjaki (2014), escritor angolano, retrata, em sua prosa, uma África em
transformação. O narrador-menino (ou menino-narrador) de “Bom dia, camaradas” confunde-se
com o próprio autor nas páginas desse romance que narra um momento histórico decisivo para a
sociedade angolana. Dessa forma, ambas as vozes se misturam: escritor e personagem em uma
confluência bastante difícil de se dissociar. A infância, em foco, ressalta o momento primordial
de construção de identidades, as quais continuarão sendo negociadas ao longo da vida.
Tomando o conceito de “autoficção”, conforme apresentado por Eurídice Figueiredo (2013),
propomos uma leitura em que Ondjaki se autoficcionaliza nas páginas de seu romance, unindo
as searas literárias e sociais mediante procedimentos miméticos artísticos, além de
problematizar as relações entre história e literatura, e ainda entre real e ficção. Para abordar as
questões identitárias, optamos por Tomaz Tadeu da Silva, Kathryn Woodward e Stuart Hall
(2012); de acordo com esses autores, as identidades são construídas em constantes negociações
entre o eu e o outro, sendo, portanto, relacional e baseada na diferença. Com isso, vê-se que o
menino-Ondjaki reflete as mudanças sociopolíticas por que passam Angola e seus habitantes.

Palavras-chave: Ondjaki; Identidade; Autoficção.

AS DUNAS DE PAULA: O EROTISMO NO DESERTO DE KALAHARI

Canniggia de Carvalho GOMES (UFRN)


Tânia LIMA (UFRN)

Este trabalho tem por objetivo analisar o erotismo presente nos poemas “Mantém a tua mão”,
“Pode ser que me encontres” e “Deixe a mão pousada na duna”, de Ana Paula Tavares.
Inseridos no livro Manual para amantes desesperados, de 2007, os referidos poemas trazem, na
imagem das dunas, um possível retrato para o erotismo feminino, recuperando o corpo da
mulher nas imagens áridas dos desertos. Nas obras, as dunas ora representam os traços da
mulher ora os caminhos para o prazer desta, apontando para este terreno difícil e arenoso como
um labirinto movente, permeado pela falta, que perfaz o desejo, o devir do ser no gozo
feminino. Observa-se na poesia de Ana Paula de Tavares, uma escrita transgressora que vai de
encontro com os preceitos e preconceitos patriarcais pelo fato desta trazer a exposição do corpo
da mulher através da literatura, uma vez que reconhece as podas morais e sociais que toda
mulher é instigada e educada a aceitar. Essas amarras vetam à mulher o direito de se tornar
sujeito de si e dona de seu corpo, pois a ela foi designado aos afazeres domésticos e à
aprendizagem de viver para servir. Pretende-se aqui uma discussão de gênero em sintonia com
o suporte teórico da Crítica feminista, de Lúcia Osana Zolin (2009), G. Spivak, Susan Sontag e
O corpo erotizado, de Elódia Xavier (2007).

Palavras-chave: Ana Paula Tavares; Erotismo; Gênero; Poesia; Feminino.

NASCIDAS PARA COZINHA, PANO E PRANTO: UM DIÁLOGO ENTRE DUAS


MULHERES DE MIA COUTO E DE CONTOS ORAIS AFRICANOS

Felippe Nildo Oliveira de LIMA (UFCG)


Josilene Pinheiro MARIZ (POSLE/UFCG)

A opressão ocasionada pelo poder atribuído, historicamente, ao gênero masculino vitima várias
mulheres de diversas regiões do continente africano. Assim, a cultura da subalternidade
feminina ganha espaço na literatura escrita, bem como na oral, podendo ser questionada ou
perpetuada por meio da afirmação da tradição, em um contexto pós-colonial. Partindo-se dessa
noção, este estudo pretende suscitar um diálogo entre contos do escritor moçambicano Mia
Couto, presentes no livro O fio das missangas (2003), e contos advindos da tradição oral
africana, tendo como eixo temático propulsor a figuração da mulher constantemente oprimida
pelo sistema patriarcal no qual está inserida. Mediante análise comparativa dos contos e de suas
personagens mulheres, a busca pela independência é um fator preponderante, embora quase
inalcançável, considerando-se as punições severas, a violência física, o abandono e a aceitação
da ideologia dominante inculcada. A pesquisa fundamentou-se em Spivak (2010), Bonnici
(1998) e Freyre (1996).
Palavras-chave: Pós-colonialismo; Conto africano; Mulher; Subalternidade.

NEGOCIAÇÕES ENTRE O REAL E O FICCIONAL NO CONTO A EDUCAÇÃO


SENTIMENTAL DOS PÁSSAROS, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA: JOGO DO
ESCRITOR OU FUNÇÃO POLÍTICA E EDUCATIVA?

Isabela Helena Rodrigues COELHO (UFRN)


Marta Aparecida Garcia GONÇALVES (UFRN)

O filósofo Jacques Rancière (1994) afirma que o registro histórico encontra a veracidade do seu
relato quando se desvia da objetividade científica para se imiscuir na composição da narrativa o
remanejamento dos lugares, tempo, pessoas e conteúdos na indiscernibilidade poética do
discurso procedente de diferentes sujeitos e representações, em que a palavra é via “própria de
um saber histórico democrático” (1994: 53). Ao recusar a unanimidade dos discursos dos
grandes feitos e grandes personalidades, a história passa a ser conduzida pela integração dos
anônimos e legitimada pelo testemunho de um tempo e de um lugar que fala por si mesmo
através dos signos. Questionamos se esse fazer político e estético seria então uma capacidade
inerente da literatura? José Eduardo Agualusa, no conto A educação sentimental dos Pássaros,
dilui fronteiras do senso comum sobre a realidade no testemunho sensível da palavra de Jonas
Savimbi e outros, sobre o processo de independência de Angola, compartilhando as
experiências e temporalidades diferentes. No presente trabalho, procuramos apresentar as
contribuições desse conto para a pesquisa entre literatura e política da arte, como também para o
ensino transdisciplinar.

Palavras-chave: Politica da arte; José Eduardo Agualusa; Transdisciplinaridade; História;


Literatura.

VOZES E CORPOS DO FEMININO NA POÉTICA DE ANA CRISTINA CESAR E ANA


PAULA TAVARES

Jucely REGIS (UFRN)


Profª Drª Tânia LIMA (UFRN)

Este trabalho empreende uma análise comparativa do poema “Atrás dos olhos das meninas
sérias”, presente na obra A teus pés (1998), da escritora carioca Ana Cristina Cesar, e do poema
“E as margens”, que integra o livro Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), cuja autora
é a angolana (Ana) Paula Tavares. Considerando-se tanto o contexto cultural de seus países de
origem, quanto o caráter potencialmente subjetivo das duas obras, busca-se verificar de que
modo cada autora promove uma leitura singular da mulher em sua relação com o corpo.
Interessa elucidar de que modo se dá a experimentação da palavra como processo de elaboração
dessas obras e de (re)construção de si, que se revelariam traços comuns da literatura feminina.
Tal interesse se faz justificável pela importância de fazer falar a mulher, assim como os demais
grupos de minorias, no panorama das discussões sobre literatura, de forma que sua voz se
efetive como contradiscurso capaz de desestabilizar os discursos instituídos. Dessa forma, são
necessárias as críticas de Cesar (1999), Deleuze & Guattari (2009), Bonnici & Zolin (2009) e
Spivak (2010).

Palavras-chave: Ana Cristina Cesar; Ana Paula Tavares; Corpo; Mulher; Literatura.
STELA DO PATROCÍNIO E ROSA CARAMELA: COMO DEVIR-MULHER DA
LOUCURA

Krys NASCIMENTO (UFRN)


Malu BARBOSA (UFRN)

Este trabalho nasce do encontro entre Stela do Patrocínio, em Reino dos bichos e dos animais é
o meu nome (2001), e "A Rosa Caramela", conto de Mia Couto, publicado em Cada homem é
uma raça (1990). Qual a intenção de forjar um encontro, que é sempre uma conversa, entre a
primeira, mulher que viveu internada em hospícios no Rio de Janeiro e que jamais escreveu, e a
segunda, personagem que fala com estátuas e que só "existe", através da história narrada por
uma criança, no conto de Mia Couto? Que tipo de encontro é possível entre essas vozes
femininas? Falas e subjetividades do corpo feminino povoam as linhas das referidas obras que,
sob o prisma da loucura, engendra uma produção de modos subjetivos e de resistência da
própria mulher. Segundo Gilles Deleuze e Félix Guattari (1997), "é preciso dizer também que
todos os devires começam e passam pelo devir-mulher. É a chave dos outros devires." Portanto,
o devir-mulher, que acontece na escrita feminina, desencadeia todo um processo de
experimentações próprias do corpo feminino, de suas potências e de seus afetos. De Stela e
Rosa, desejamos algo como este delirante conversar.

Palavras-chave: Stela do Patrocínio; Rosa Caramela; Devir-mulher; Corpo; Loucura.

“MAMA ÁFRICA, A MINHA MÃE É MÃE SOLTEIRA”?: DIÁLOGOS INTRODUTÓRIOS


SOBRE TRADIÇÕES ORAIS

Lisane MARIÁDNE (UFRN)


Karina CHIANCA (UFPB)
Tânia LIMA (UFRN)

O presente trabalho pretende expor um mapeamento introdutório das construções teóricas sobre
o que é denominado como “tradição oral”, ou associado a ela. Nesse sentido, desenvolvemos
diálogos entre as considerações acerca das literaturas orais brasileiras, especialmente a
produzida no nordeste do país, compondo questionamentos sobre a concepção de “origem” ou
“ascendência” dessa oralidade. Em um ótica popularmente disseminada na educação básica
brasileira, o “mito de origem” da literatura oral nordestina recai sobre a cultura europeia: a
pátria/cultura que pariu a oralidade brasileira/nordestina é a mesma que fez dessa terra sua
colônia. Esse olhar limitado e pouco crítico, expande a visão eurocêntrica sobre a cultura.
Principalmente por meio das leituras das produções, A Letra e a Voz e Introdução à Poesia
Oral, de Paul Zumthor e da observação do conteúdo de Literatura em livros didáticos,
provocamos questões sobre essa tradição oral excludente. Visto que desconsidera diversas
tradições para esta história literária, ou as pouco associa. Portanto, o artigo objetiva promover a
inquietação necessária para o estudo e o reconhecimento da pluralidade da(s) tradição(ões) oral
(is).

Palavras-chave: Literatura; Tradição; Oralidade.

LITERATURA E MEMÓRIA: LEMBRANÇAS DE ANGOLA NA POESIA DE LUÍS


QUINTAIS.

Maísa Medeiros Pacheco de ANDRADE (UFRN)


Marta Aparecida Garcia GONÇALVES (UFRN)
Os seres humanos possuem a capacidade de recordar muitos dos acontecimentos vivenciados no
transcorrer do tempo. Os mecanismos da memória possibilitam a revisitação do passado, assim
como a reorganização das impressões deste e do próprio presente. O diálogo entre o passado e o
presente proporciona, portanto, uma constante transformação da ideia que se tem da vida e dos
fatos que nela se sucedem. Na maioria das vezes as lembranças do passado vêm à tona por meio
da interação com o mundo e com outros indivíduos, não se podendo considerar, assim, apenas a
existência de uma memória individual, mas também de uma memória coletiva, compartilhada
por determinado grupo. Com base nisso, o presente estudo se propõe a analisar a densa carga
mnemônica que permeia a poesia de Luís Quintais, especificamente, como as lembranças do
período em que o autor viveu em Angola emergem em seus poemas, contribuindo para a
formação do sentido de sua poesia e para a reflexão acerca de sua condição de sujeito de
fronteira. Para tanto, serão utilizados como aporte teórico os apontamentos de Halbwachs, Le
Goff, Bosi, Ricoeur, Gagnebin, dentre outros.

Palavras-chave: Literatura; Memória; África.

OS LEÕES DE KULUMANI: PATRIRCALISMO E PÓS-COLONIALISMO EM A


CONFISSÃO DA LEOA DE MIA COUTO

Maria de Fátima de Lima LOPES (UFRN)


Tânia LIMA (UFRN)

O romance A Confissão da leoa, de Mia Couto discorre sobre ataques de leões que aterrorizam
uma aldeia moçambicana –Kulumani- e tem vitimado principalmente mulheres. No entanto, a
narrativa não é uma história de caçadas, uma vez que o autor utiliza os leões como metáfora
para denunciar os discursos de poder que regem aquela sociedade, e que se refletem, sobretudo,
na vida das mulheres. A narrativa é centrada na família Mapepe, formada pelo patriarca Genito,
a mãe Hanifa Assulua (que tem consciência da sua opressão, mas é cúmplice da mesma, pois a
reproduz sobre as filhas) e as filhas Silência (sem voz, nula, que nunca denunciou os abusos
praticados pelo pai) e Mariamar (única que apresenta um grau de resistência e que, apesar de
suas sucessivas tentativas de fuga, se submete a uma vida de espera por um homem que um dia
virá salvá-la). Essas personagens reproduzem o estigma da mulher das sociedades pós-coloniais
que foi duplamente marginalizada, relegada ao serviço do homem e ao silêncio. Este trabalho
objetiva analisar o discurso pós-colonial e o patriarcal na construção de algumas personagens
femininas do romance tendo como aparato teórico a Crítica Pós-colonial e a Crítica Feminista, a
partir de leituras de Homi K. Bhabha, Stuart Hall, Thomas Bonicci e Gayatri Charkravorty
Spivak.

Palavras-chave: Patriarcalismo; Crítica feminista; Crítica Pós-colonial.

ÉTICA E PEDAGOGIA: O ENSINO DE LITERATURA ANGOLANA NO CURSO DE


LETRAS

Marta Aparecida Garcia GONÇALVES (UFRN)

No interior da Literatura, na encenação da palavra, ou na exibição que ela realiza, há a liberdade


de se pensar e de se desvendar o que está, por vezes, encoberto em outros planos, se
constituindo esta no espaço do “dizer”: o lócus privilegiado em que, do modo como se quiser
expor, tudo é permitido narrar, a dimensão da “fala livre”. Liberdade de ser, de fazer e de dizer,
conforme propõe Jacques Rancière, na qual o gesto da escritura é assumido como uma prática
de convívio e de partilha do sensível. E é essa dimensão da literatura não só como forma, mas
também como o lugar privilegiado em que tudo, do modo como se quiser, é possível dizer, que
pretendemos apresentar como uma possível “estética da reencenação” na literatura angolana,
enfatizando as demandas acadêmicas de ensino e pesquisa nos Cursos de Letras na atualidade.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Literatura; Jacques Rancière; Literatura Angolana.

A OSGA QUE NARRA E SEDUZ: A RECEPÇÃO NO ENSINO D‟O VENDEDOR DE


PASSADOS, DE AGUALUSA.

Nicholas Almeida R. de MOURA (UFRN)


Marta Aparecida Garcia GONÇALVES (UFRN)
Neste trabalho, pretende-se percorrer a temática literária da sedução do leitor através de
procedimentos de narração. Como recorte escolhido, tem-se um romance escrito pelo angolano
José Eduardo Agualusa, O vendedor de passados (2004), cujo narrador-personagem é uma osga.
Tal singularidade de materialização narrativa merece atenção ao ser um forte ponto de sedução
que a narrativa pode causar no seu leitor, devido ao emprego de procedimentos encontrados no
realismo fantástico. Em um primeiro momento, pretende-se analisar quais estratégias - tais
como frases de efeito e escolhas lexicais – o narrador utiliza para desenrolar a sua história e
como ele tenta chamar a atenção dos que entram em contato com a narrativa. Em um segundo
momento, à luz da teoria da estética da recepção (trabalhada em sua maioria com Hans Robert
Jauss), tenciona-se uma análise de possíveis experiências estéticas que a materialização
narrativa proporciona, levando também em conta as definições de forma e conteúdo abordadas
pelo teórico Vincent Jouve. Como última etapa, tentar-se-á desvendar os possíveis efeitos que a
leitura do livro em estudo causaria em um momento de práxis docente, se inserida em salas de
aula de língua portuguesa e literaturas nos ensinos médio e/ou superior. Visando fortalecer e
conscientizar os estudantes iniciantes na área das letras do grande papel que a literatura africana
desempenha na cultura lusófona, são necessárias análises da natureza que aqui irá se
desenvolver.

Palavras-chave: Agualusa; Recepção; Narrador; Ensino.

A CRIOULIZAÇÃO NA CANÇÃO CIDADÃO DO MUNDO, DE CHICO SCIENCE &


NAÇÃO ZUMBI (1996): CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE LITERATURA AFRO-
BRASILEIRA

Orlando UCELLA (UFRN)

Publicada no álbum Afrociberdelia (1996), de Chico Science & Nação Zumbi, a canção
“Cidadão do mundo” é marcada pela fragmentação no âmbito musical e no verbal. Na parte
musical se observa a utilização do sampler, equipamento eletrônico muito utilizado pelo hip hop
que permite fazer um recorte de trechos de outras canções ou de outras sonoridades para formar
uma nova canção. Na canção que será analisada estão presentes trechos das canções: “Cuidado
com o bulldog”, de Jorge Ben Jor; “Louvação”, de Torquato Neto e Gilberto Gil; e
“Batmacumba”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Já na parte verbal se percebe o recorte de
vários temas, como será apresentado no presente artigo. Aliados à fragmentação, pode-se
perceber a forte presença da cultura afro-brasileira, a utilização de recursos poéticos
característicos tanto do rap como do repente. Sintonizados com tudo isso, dialogaremos com a
crioulização de Édouard Glissant (2005) para tecer sobre uma poética da diversidade na canção
em questão. Além disso, ao longo deste trabalho, pretende-se fazer alguns apontamentos da
contribuição desse estudo para o ensino de literatura afro-brasileira.

Palavras-chave: Literatura afro-brasileira; Chico Science; Ensino.


DO ROMANCE À SÉTIMA ARTE: ANÁLISE INTERSEMIÓTICA DO ROMANCE TERRA
SONÂMBULA, DE MIA COUTO.

Regilane Barbosa MACENO (UESPI)


Prof. Dr. Élio FERREIRA (UESPI)

O presente artigo propõe-se a uma análise intersemiótica do romance Terra sonâmbula, do


escritor moçambicano Mia Couto e da obra fílmica homônima dirigida por Teresa Prata, tendo
em vista as possibilidades de convergência estética entre ambas. O trabalho terá como foco a
transformação da obra literária, por meio da apropriação de imagens figurativas, de ações e
diálogos nas obras supracitadas. O que se procura é perceber, dadas as diferenças entre as
linguagens, se a transposição da obra literária para o cinema foi bem sucedida. Nesse sentido, o
trabalho pretende mostrar de que maneira as duas obras tratam da subjetividade dos
personagens, bem como seus temas principais, levando em conta o contexto do
multiculturalismo presente no romance, transformado em mecanismo de resistência por seu
autor. E como a literatura é transformada em mecanismo de reconstrução da identidade.

Palavras- chave: Transmutação; Tradução; Terra sonâmbula; Multiculturalismo.


ROMPENDO COM A BINARIDADE MASCULINO E FEMININO NAS CANÇÕES
BUARQUEANAS: UM ESTUDO DE FOLHETIM E TANGO DE NANCY.

Ms. Roberto Gabriel GUILHERME DE LIMA (UFRN)

Este artigo aborda a questão do gênero como veículo de identidade no discurso contemporâneo.
Tentando (des)consturir o discurso hegemônico masculino, rompendo com a binaridade
masculino/feminino e consagrando as premissas da teoria queer que pressupõe discursos pós-
modernos no que tange à idéia da identificação do gênero. Neste contexto, apresentam-se os
discursos presentes nas canções buarqueanas femininas - que se contrapõem às canções de
compositores anteriores a ele - buscando compreender a ruptura da dicotomia
masculino/feminino. É através da política da pós-modernidade que a noção de Estudos do
Gênero, nos corpos sexuados, ganham mais visibilidade , vislumbrando pela Teoria Queer que
dá margens aos estudos da fronteira da identidade, mais precisamente entre o gênero
masculino/feminino.

Palavras-chave: Identidade; Gênero; Canção; Discurso; Pós-modernidade.

EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS EM GUINÉ, SABURA QUE DÓI DE TONY TCHEKA

Roclaudelo N‟dafá de Paulo Silva NANQUE (UFPE)


Prof. Dr. Roland WALTER

Uma das realidades dos países ex-colonizados é a pluralidade linguística. A Guiné-Bissau é um


desses países, portanto, possui de fato um mosaico linguístico multifacetado em que convivem
em média 27 línguas étnicas. O kriol - ou crioulo guineense (a língua mais falada) - e o
português (a língua oficial) compõem, outrossim, esse mosaico. Como é natural do contato entre
línguas, a manifestação do bilinguismo ou especificamente dos empréstimos linguísticos
(Borrowings) é algo inevitável. Este trabalhou, num insight que aposta em unir literatura e
linguística, intenta investigar como, em o poeta guineense Tony Tcheca, os empréstimos
linguísticos dançam a dança literária (i.e., se manifestam), com que função, no que a estética se
refere, e qual a sua finalidade social. Para isto, usaremos, como corpus de análise, o último livro
de Tcheka Guiné, Sabura que dói, lançado no Brasil, em Pernambuco, em 2008. E, como
embasamento para a nossa fé referente aos Empréstimos, usaremos Nelly de Carvalho (2002).
Palavras-chave: Kriol; Guiné-Bissau; Português; Empréstimos Linguísticos.

DA POÉTICA PEDAGÓGICA A UMA POESIA QUE ENSINA


ANTI-MANIFESTO PARA UMA ARTE INCAPAZ
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS
Tânia LIMA (UFRN)1
DES-RESUMO
Como ensinar arte? Como propiciar um novo encontro entre a poesia e a vida? Quando é que
iremos devolver poesia ao mundo apressado? Entre salas virtuais, páginas de revistas , salão de
artes e instalações, prêmios de poesia, galerias de grafite, ruas de concertos, a quem a poesia
ensina em um mundo pré (ocupado)? Quem nos escutará em um mundo aprisionado de tantos
racismos e fascismos saindo a cada instante do porão da violência? Paira certo cansaço, mas não
temos como fugir das breves horas de recreio que nos são oferecidas para viver de arte no
século XXI. E tudo que é tão novo já é velho no século vinte e um. Temos apenas alguns dias,
talvez 14 anos, quem sabe dez segundos, são vários os instante de nascimento e morte. Não
sabemos dizer com precisão. Todo dizer é limite. Todo fazer é que são elas, mas falar de
Boaventura de Sousa Santos não é algo “pré-fácil”, é sempre algo oposto a oferecer certezas. O
que se pretende aqui não é apenas apresentar poemas como quem almeja talvez uma procura
didática ou mesmo recriar uma aula expositiva do chão; talvez seja falar do sensível em meio a
uma prosa filosofante. O que se almeja com esse des-resumo talvez seja abrigar uma
provocação gratuita ao mundo da imaginação. O livro de Boaventura de Sousa Santos é uma
espécie de descolonização que, na visão do autor, não se quer prosa nem se quer verso, não se
quer pintura nem escultura. A “inscritura” do livro INKZ é inominável; insurge-se talvez como
“anti-mover” contra o que está estabelecido. O poema é o que transforma o que existe de
ausente e despolitizado em outra coisa. O marco teórico desse resumo fica, portanto, saqueado.
Sentaremos acompanhado do livro Epistemologia do Sul, pão e vinho ou quem sabe de você,
caro leitor.

Palavras-chave: Boaventura de Sousa Santos; Poesia; Descolonização.

DISCUTINDO IDENTIDADES EM AS MÃOS DOS PRETOS, DE LUÍS BERNARDO


HONWANA

Thamires Nayara Sousa de Vasconcelos (UFPB)


Adaylson Wagner Sousa de Vasconcelos (UFPB)

Podemos afirmar que a literatura traz consigo vários objetivos para a construção de uma
sociedade justa e de respeito às diferenças, dentre esses podemos destacar o disseminar da
isonomia entre sujeitos e a promoção de respeito entre os mais distintos povos. Tomando como
válido esse raciocínio, propomos o seguinte estudo. As Mãos dos Pretos, do moçambicano Luís
Bernardo Honwana, exprime essa ideia de igualdade entre o branco e o negro a partir de várias
histórias que venham dar sentido a seguinte indagação: “Por que as mãos dos pretos são mais
claras que o resto do corpo?”. Destarte, o escopo do presente estudo versa tecer considerações
acerca de como a literatura tem o „poder‟ de trazer para a nossa sociedade ocidental conceitos
que a faça buscar uma maior integração entre os mais distintos grupos sociais, respeitando as
mais diversas marcas identitárias. Como aparato teórico, destacaremos os postulados discutidos
por Russeall Hamilton (1999), Stuart Hall (2003) e Jane Tutikian (2006).

Palavras-chave: Branco; Preto; Identidade.

1
Às vezes escreve poemas / outras vezes/ leciona a indisciplina de literatura/ gosta de acender velas para Xangô.
GT 06: AFRICANOS E DESCENDENTES NO BRASIL ESCRAVISTA

Coordenadoras: Profa. Dra. Carmen Alveal e Me. Aldinízia de Medeiros Souza

Este simpósio tem como objetivo oferecer um espaço de discussão sobre as diferentes inserções
dos africanos e seus descendentes na sociedade escravista do Brasil colonial-imperial, levando-
se em consideração participação ativa dessa população na condição de escravos, libertos ou
libres. Os estudos sobre escravidão tem ressaltado a atuação dos africanos e descendentes para
além das atividades econômicas, bem como a diversidade de culturas, além de percebê-la como
participação efetiva e contínua e não apenas como uma contribuição. Essa participação se faz,
entre outras possibilidades, na formação de famílias, nas diferentes formas de busca pela
liberdade, à procura de melhores condições de vida no cativeiro, na expressão suas crenças.
Desse modo, o simpósio possibilita a apresentação de trabalhos que abordem diferentes aspectos
relacionados à história e cultura dos povos africanos e de seus descendentes, escravos ou livres,
no contexto da escravidão.

COMUNIDADE QUILOMBOLA BOA VISTA DOS NEGROS (PARELHAS-RN): UMA


HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA À CONDIÇÃO DE CATIVO E AO TEMPO

Anna Gabriella de Souza CORDEIRO

Os antigos escravos,que fugiram de seus cativeiros, formaram comunidades que mais de cem
anos depois do fim da escravidão recebem o nome de quilombolas.A comunidade da Boa Vista
dos Negros, localizada na cidade de Parelhas-RN, é descendente de uma escrava que fugiu de
sua condição de cativa no brejo paraibano há mais de duzentos anos. Ela chegou à região do
Seridó potiguar, onde engravidou de um fazendeiro local e deu início a uma comunidade que,
hoje, conta com 150 pessoas divididas em 37 famílias. A referida comunidade mantém vivos os
costumes e as crenças do período colonial.Em um país de dimensões continentais como o
Brasil, onde as extensas paisagens, diferenças marcantes nos níveis de transformação territorial
e urbanização, indicam também sua pluralidade racial e étnica. Sua identidade, em processo
constante de reconstrução, decodifica sua estrutura política, cujo desafio é assumir
decisivamente a nação mestiça que formamos. E assim, o quilombismo no Brasil, bem como
nesse caso tão nordestino, tão potiguar, vem a transcender a tênue linha do espaço/tempo onde
tudo se transforma. Nesse sentido, a preservação de suas raízes tão cheias da historicidade
regional vêm a ser um símbolo de luta e resistência desde a época colonial vencendo as sertanias
de contrato, as perseguições e, até os dias atuais, o abandono e o preconceito.

PALAVRAS-CHAVE: Quilombola; Comunidade Boa Vista dos Negros; Identidade Regional;


cultura africana.

PRIVADOS DA LIBERDADE, MAS “LIVRES” PARA CONCEBER: FAMÍLIAS


ESCRAVAS AFRICANAS E INDÍGENAS NO INÍCIO DA COLONIZAÇÃO DO RIO
GRANDE
Dayane Julia Carvalho DIAS (UFRN)
Lívia Brenda da Silva BARBOSA (UFRN)

Apesar do processo conturbado de colonização do Rio Grande no final do século XVII,


é possível perceber a existência de famílias escravas na Capitania. A colonização do Rio Grande
foi caracterizada em seu início por uma economia incipiente e pelas disputas por terras entre
indígenas, colonos e missionários, mais conhecido como a Guerra dos Bárbaros. Nesse
contexto, grupos indígenas resistentes à colonização foram exterminados, outros “mansos”
catequizados. Este artigo pretende uma discussão para além da utilização da mão-de-obra
indígena e africana, propondo-se analisar essas populações que constituíram famílias com suas
especificidades. A demografia surge de modo a trabalhar os aspectos estáticos dessa população,
considerando sua composição e aspectos gerais da população escrava, incluindo os níveis de
natalidade, distribuição por sexo, idade, estado conjugal, região geográfica atual, anterior e de
nascimento. Nesse sentido, este artigo tem por objetivo realizar um estudo preliminar sobre a
presença de famílias escravas africanas e indígenas, com ênfase nas africanas, na freguesia de
Nossa Senhora da Apresentação (Natal), do período de 1681-1711, a partir do aparato teórico e
metodológico da demografia histórica com a análise dos registros de batismos dos arquivos da
Cúria Metropolitana de Natal.

Palavras-chave: Período colonial; Demografia histórica; Famílias escravas; Registros


paroquiais.

AUTA DE SOUZA: UMA JANELA PARA O RIO GRANDE DO NORTE ESCRAVISTA

Genilson de AZEVEDO FARIAS (UFRN)

Já há algum tempo que os estudos acerca da escravidão negra em terras brasileiras vem se
consolidando com bastante força trazendo novos elementos para se pensar as diversas
experiências de homens e mulheres de cor. Na nossa pesquisa, centrada na escritora potiguar
oitocentista e afrobrasileira Auta de Souza (1876-1901), cruzamos documentos diversos e tal
exercício, possibilitou-nos a visualização de escravos e homens pobres livres trabalhando,
resistindo, alcançando sua (s) liberdade (s). Como indicador desse processo podemos citar o
vaqueiro negro Félix José de Souza, bisavô da poeta e que através de seu ofício com as rezes
obteve visibilidade, casando-se com uma moça de posses e de cuja união, nasce uma
descendência de realce no cenário comercial, das letras e da política no contexto de fins dos
oitocentos e início dos novecentos. Nesse sentido, também intencionamos contribuir para se
pensar novas trajetórias da gente negra também na Província do Rio Grande do Norte, gente que
tal como Auta de Souza, mudaram o rumo de suas próprias vidas e formularam outras histórias.

Palavras-Chave: Auta de Souza; Escravidão; Rio Grande do Norte oitocentista.

FORROS, LIVRES E INGÊNUOS: A FORMAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO


LIVRE NO RIO GRANDE DO NORTE NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX.

João Fernando Barreto de BRITO (UFRN)

A presente pesquisa se concentra em investigar a formação do mercado de trabalho livre no Rio


Grande do Norte na segunda metade do século XIX, no que tange ao processo de emancipação
da escravidão na província. Analisar-se-á as tensões e resistências que envolvem os homens
pobres livres (livre condicional, forro ou ingênuo) no esforço de lutarem contra a precariedade
da liberdade e a escravização ilegal. Neste sentido, será investigado como as experiências do
trabalho escravo e livre vão repercutir na formação de um mercado de trabalho – durante a seca
de 1877 - articulado pelos grandes senhores de terras e industriais, sob uma lógica liberal, ou
seja, caracterizada pelo assalariamento, pela imposição de uma disciplina ao trabalho, que vigia
e controla o espaço, o tempo, controla o corpo. Para tanto, utilizou-se fontes como os relatórios
de presidentes de províncias do Rio Grande do Norte de 1877 e 1878, os jornais Zé Povinho
(1887), Brado Conservador (1877-1878), Liberal (1877-1878).
Palavras-chave: homens pobres livres, mercado de trabalho, Rio Grande do Norte.

LUIZ GAMA: ORFEU DE CARAPINHA

Jonh Kennedy Ferreira DA SILVA-Universidade Potiguar


Ana Cristina Carlos GUIMARÃES-Universidade Potiguar

A vida e obra de Luiz Gonzaga Pinto Gama constituem importante retrato de um período crucial
na história dos africanos e afrodescendentes no Brasil. De ascendência africana e portuguesa
,nascido livre no Brasil escravocrata do século XIX, Luiz Gama dedicou sua vida à causa
abolicionista. O poeta fez questão de exaltar sua origem africana, não aceitando o processo de
branqueamento, comum à época. Luiz Gama lutou pelos direitos dos africanos escravos e de
seus descendentes, tendo defendido no tribunal e conseguido a liberdade de centenas de
escravos, mesmo sem bacharelado em Direito. Fez de sua poesia satírica ferramenta contra o
regime escravocrata, a sociedade racista e etnocêntrica de sua época. Esse trabalho propõe-se a
analisar o poema “Quem sou eu?”, a fim de evidenciar a critica e denúncia de uma sociedade
racista e escravocrata sobre o negro. O embasamento teórico é dado pelos conceitos da crítica
pós-colonial e pela contextualização histórica.

Palavras-chave: Luiz Gama; Poesia satírica; Contextualização histórica; Crítica pós-colonial.

“EBULIÇÃO DA ESCRAVATURA”: RESSIGNIFICAÇÕES DA ESCRAVIDÃO


E MODELOS SEGREGACIONISTAS NA CONTEMPORANEIDADE

José Carlos Ribeiro PEREIRA (UEPB)


Maria Suely da COSTA (UEPB)

A partir do poema “Ebulição da Escravatura”, do poeta brasileiro Luís Carlos de Oliveira, este
trabalho apresenta uma análise da problemática das relações humanas com foco para a situação
do negro na sociedade, de modo a identificar semelhanças e divergências com o período
escravista vivido no Brasil, sob a ótica da representação. Em função disso, pontua na condição
de referencial os estudos sobre a literatura afro-brasileira,como forma de identificar a voz e
identidade do negro, bem como entender a luta contra a exclusão e o preconceito social. O
poema se torna relevante na medida em que destaca uma série de questionamentos e
representações acerca da sociedade, sobretudo ao questionar os desafios para enfrentamento de
situações segregacionistas e exploratórias do ser humano, independente de sua cor, origem ou
classe social. Com isso, este trabalho enfatiza uma leitura contra os estereótipos e discursos
preconceituosos, principalmente acerca do negro, além disso, levanta um questionamento em
torno da liberdade do cidadão, em um contexto onde muitas vozes ainda não são ouvidas, mas,
nem por isso, silenciadas.

Palavras-chave: Negro; Sociedade; Escravidão.

DO ACESSO À MEMÓRIA HISTÓRICA DOS AFRO-DESCENDENTES NA AMÉRICA


PORTUGUESA: CATÁLOGO GERAL DA ESCRAVIDÃO NEGRA NO PERÍODO
COLONIAL

Prof.ª Dr.ª Juciene Ricarte APOLINÁRIO (UFCG)


Prof. Me. Janailson Macêdo LUIZ (SEEP)

Nos últimos anos, pesquisadores dos campos das Ciências Humanas e Sociais, com destaque
para a História, vêm lançando novos olhares para a temática da escravidão negra na América
Portuguesa. Boa parte das abordagens vem sendo orientadas por novas perspectivas e novos
paradigmas e realizadas com base na releitura de documentos históricos até então inéditos ou
pouco divulgados. Nesse sentido, a realização de pesquisas histórico-documentais, visando a
formação de acervos sobre a escravidão negra, vem se constituindo como uma ação de grande
relevância, não apenas para que sejam ampliados os níveis quantitativos e qualitativos das
abordagens realizadas, mas para dar sustentação a busca por uma maior visibilidade das
populações negras brasileiras. Através dessa visibilidade, almeja-se, por sua vez, que sejam
criadas novas sensibilidades e fortalecidas as noções de pertencimento étnico-identitárias entre
os afro-brasileiros. É com base nesses objetivos que está sendo desenvolvido, em Campina
Grande-PB, entre 2012 e 2014, um projeto que visa catalogar os verbetes e os documentos sobre
a escravidão negra no período colonial, reproduzidos no âmbito do Projeto Resgate Barão do
Rio Branco (Ministério da Cultura),realizado a partir dos documentos encontrados no Arquivo
Histórico Ultramarino, Lisboa – Portugal. O artigo apresenta alguns resultados desse projeto,
que visa ampliar o acesso à memória histórica dos afro-descendentes no período colonial.

Palavras-chaves: Escravidão; Pesquisa histórico-documental; Arquivo Histórico Ultramarino.

O BANZO E AS RELAÇÕES SOCIAIS NA POÉTICA NEGRA: PROFESSORES


BRASILEIROS DEVEM INCORPORAR AS VOZES DOS GRIOTS EM SUAS
SALAS DE AULA.
.
Jufran Alves TOMAZ (UFRN)

Este estudo tem como objetivo situar aspectos relativos a uma análise empreendida em textos de
três autores: Luís Antônio de Oliveira Mendes, Antônio Frederico de Castro Alves e José João
Craveirinha a respeito de como o negro não aceitando a condição de escravo, resistiu de
diferentes maneiras, incluindo o banzo – melancolia ou depressão profunda que proporcionava
ao negro escravizado à loucura e até à morte. A coleta de informações realizou-se através de
observação simples, no qual defini-se o comportamento social, o sujeito e o cenário que o Brasil
e África estão inseridos nesse contexto, da colonização aos dias atuais. A pesquisa é de cunho
bibliográfico sendo este um rascunho inicial, material escrito a ser revisada em termos de
conteúdo e de forma de expressão, pela orientação da professora doutora Tânia Lima. Os
procedimentos para a realização dessa pesquisa será compreendida pelos métodos histórico e
comparativo, tentando explicar similitudes e divergências analisadas sob as concepções teóricas
de ROCHA (2002), BACHERLARD (2000), FOUCAULT (1997), entre outros. Propõe-se
agregar possibilidades pedagógicas de escolarização da literatura afro-brasileira, com vistas à
formação dos professores neste país, de seus alunos, de toda a comunidade escolar,
constituindo-se em atividade permanente nas salas de aula.

Palavras chave: Banzo; História; Formação; Literatura; Poética.

OS ESCRAVIZADOS E A DESAGREGAÇÃO DO ESCRAVISMO NO BRASIL: BREVES


REFLEXÕES

Lucian Souza da SILVA

O presente artigo baseia-se na recente historiografia da História Social da Escravidão, que tem
possibilitado um novo olhar em torno dos escravizados e dos escravizadores, superando a visão
construída em torno da atuação do sujeito em situação de cativeiro como vítima inerte do
sistema, mas também fugindo da hipervalorização de seus atos de rebeldia. Nosso objetivo é
refletir, a partir da historiografia, sobre a atuação dos escravizados nos anos finais de existência
do sistema escravista do Brasil, destacando a importância de suas ações para se por um fim
definitivo na escravidão. Neste sentido, existe uma relevante produção acadêmica, com a qual
iremos dialogar, sobre o processo final de desarticulação do sistema escravista em diferentes
lugares do Brasil, podemos destacar, entre outros, os trabalhos de Chalhoub (1990), Machado
(2010), Lima (2008) e Filho (2006).

Palavras-chave: Escravizados; Resistência; Fim da escravidão;


FUGINDO PARA A LIBERDADE: CASOS DE ESCRAVOS ENVOLVENDO QUESTÕES
DE JUSTIÇA (CIDADE DO NATAL, 1720-1735).

Marcos Arthur Viana FONSECA (UFRN)


Kleyson Bruno Chaves BARBOSA (UFRN)

Este trabalho tem por intuito contribuir para que seja tecida a história dos escravos e forros,
africanos ou descendentes de africanos, na capitania do Rio Grande, mais especificamente, na
cidade do Natal durante o período colonial. As referências são escassas sobre a escravidão nesse
espaço citado, entretanto, sabe-se da presença de escravos, por meio das poucas fontes que se
tem acesso. Este artigo focará, primordialmente, dois casos envolvendo a questão da escravidão,
que também perpassa pela questão de conflito de jurisdições na capitania do Rio Grande, na
década de 1720 e de 1730. No primeiro caso, tem-se a acusação de que o capitão-mor do Rio
Grande teria soltado escravos da cadeia, ajudando-os a fugir. No segundo caso, envolvendo
outros funcionários régios, há um conflito entre o provedor e o capitão-mor sobre a prova da
alforria ou não de um mulato, e o quanto essa dúvida gerou conflitos entre várias pessoas na
cidade do Natal. Portanto, discutir questões como liberdade, estratégias de escravos de se
passarem por forros em outras localidades, entre outras questões, contribui para um melhor
entendimento da história da escravidão e dos escravos ou forros, africanos ou descendentes de
africanos, na cidade do Natal.

Palavras-chave: Escravidão; Cidade do Natal; História do Brasil Colônia.

MANOEL: AFILHADO DO SAGRADO: O SACRAMENTO DO BATISMO COMO


LEGITIMADOR SOCIAL.

Monique MAIA DE LIMA (UFRN)


Carmen M. ALVEAL (UFRN)

Este ensaio é resultante de uma investigação inicial ocorrida no livro de registro de batismo de
escravos da paróquia de São José de Mipibú entre os anos de 1871 e 1873. O estudo tem o
objetivo de pesquisar as relações sociais que envolvem o sacramento do batismo de escravos
desta paróquia. O trabalho propõe ainda uma breve análise sobre a legitimidade desses escravos,
a verificação da existência da fabricação da família escrava e por fim as relações de compadrio.
Desse modo, pretende-se verificar o caráter do ritualismo católico característico do Brasil e a
relação intimista da religiosidade brasileira. Para enfim, entender como o sacramento do
batismo era capaz de fomentar a legitimidade social. Para discutir a relação da intimidade com
que é tratada a religião no Brasil utiliza-se as ideias de Sérgio Buarque de Holanda, Sidney
Pereira da Silva, Glaúcia Souza de Freire, Juliana Beatriz Almeida de Souza e Sergio Figueiredo
Ferret.

Palavras chave: Batismo; Religiosida de,Intimidade; Legitimidade.

ENTRE A AMIZADE E A DELAÇÃO: ESTUDO SOBRE AS REDES DE SOCIABILIDADE


DE ESCRAVOS QUE VIVIAM EM LISBOA (1720-1731)

Ristephany Kelly da Silva LEITE (UFRN)

Do final da década de 1720 até 1731 foi aberto um processo contra Manoel da Piedade, escravo
nascido na Bahia e morador da cidade de Lisboa. Neste processo inquisitorial encontra-se
muitos nomes de outros escravos denunciando uns aos outros e principalmente a Manoel da
Piedade. Percebe-se um expressivo contato entre os expoentes, demonstrado pela convivência
que estes deixam transparecer terem vivido, principalmente durante o ano de 1729. A partir
deste processo do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Coimbra pode-se analisar não
somente a convivência destes escravos, suas origens que se mostram bastantes diversas, suas
práticas religiosas e a mescla destas na capital de Portugal, como também a importância destes
processos inquisitoriais, não só pela quantidade de informações contidas neles, mas também
pela minucia dos depoimentos recolhidos pelo inquisidor. Objetiva-se neste artigo evidenciar,
através da análise deste processo, a interação entre os escravos vindos de diferentes partes do
Império em Portugal, bem como analisar as diversas formas de convívio entre estes indivíduos,
que variavam entre o coleguismo e a delação, podendo entender assim como estes agentes
históricos conviviam e estabeleciam relações uns com os outros.

Palavras chave: Processos inquisitoriais; Manoel da Piedade; Redes de sociabilidade.

GT 07 – HISTÓRIA E LITERATURA NA NARRATIVA DOS PALOP

Coordenadores(as): Profa. Dra. Vanessa Rimbau Pinheiro e Prof. Dr. João Batista Pereira

Naturalmente influenciada pelo contexto descortinado após a descolonização, a literatura dos


PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) tem a metaficcionalização
historiográfica como um de seus temas mais recorrentes. Neste sentido, é mister analisar em que
medida o externo torna-se interno e de que maneira pode-se verificar os elementos textuais que
constituem a historicidade do texto sem reduzi-lo a um mero pretexto para análises sociológicas,
uma vez que o diálogo entre texto e contexto tem o seu alcance delimitado e autorizado pela
singularidade irredutível do texto literário. Em função disso, mostram-se necessários tanto o
estudo do texto em si como a correlação entre a obra e o contexto histórico no qual ela foi
produzida, bem como o reflexo da literatura na sociedade e vice-versa.

A INSULARIDADE NA POESIA SÃO-TOMENSE

Adriana Elisabete BAYER (UEFS)

Escrita ou não distante do arquipélago, a poesia são-tomense manifesta a representação das


condições geográficas de maneiras diversas. A identidade cultural do ilhéu pode estar no
vínculo com a terra; na identificação do mar como veículo de denúncia, conscientização e
solidariedade; no afeto pelo lugar; no sentimento de pertença que ultrapassa as fronteiras
marítimas. A maneira de ser, pensar, expressar e sentir do ilhéu se traduz em insularidade, cuja
presença este artigo pretende examinar nas poesias de Francisco José Tenreiro, Tomás
Medeiros, Alda Espírito Santo, Olinda Beja e Conceição Lima.

Palavras-chave: Poesia são-tomense; Diáspora; Insularidade; Identidade cultural.

LITERATURA E HISTÓRIA: VOZES ANOITECIDAS, DE MIA COUTO. UM ESTUDO DE


CASO
Rinah de Araújo SOTO

As imbricações entre literatura e história são bastante evidenciadas nas chamadas literaturas
africanas pós-coloniais. Nesta comunicação, num primeiro momento, nos propomos a
contextualizar historicamente - e de forma sucinta - a publicação do primeiro livro de contos do
escritor moçambicano Mia Couto, Vozes Anoitecidas. Tal obra gerou imensa polêmica na altura
de seu lançamento, no ano de 1987, sobretudo por seguir uma ideo-estética contrária à proposta
pelo regime socialista do pós-independência. Em seguida, será de nosso interesse observar não
apenas a historicidade da obra, numa perspectiva geral, mas, sobretudo, como a história do
Moçambique pós-colonial se faz presente na estrutura interna dos textos. Para tanto,
analisaremos o conto intitulado “O dia em que explodiu Mabata-bata”, sob a luz da topoanálise,
e a partir de uma categoria do espaço narrativo: o espaço como focalização, visando demarcar a
historicidade do texto a partir da percepção das personagens e da situação insólita que o mesmo
traz. Para tanto, utilizaremos como base teórico-metodológica os estudos de Brandão (2007) e
Soethe (2007) sobre o espaço narrativo, bem como artigos sobre as relações entre literatura e
história na obra coutiana, com ênfase nos estudos de Meneses & Ribeiro (2008), Mendonça
(1988) e Noa (2002).

Palavras-chave: Literatura; História; Mia Couto; Vozes Anoitecidas; “O dia em que explodiu
Mabata-bata”.

PREDADORES DA LIBERDADE: LEITURA DE UM ROMANCE DE PEPETELA

Marília Maia SARAIVA (IFRN)

Predadores (2005), romance do escritor angolano Pepetela, narra de forma crítica e irônica o
cenário politico e cultural de Angola entre 1974 e 2004, os primeiros trintas anos de
independência do país. Os conflitos giram em torno da nova burguesia angolana pós-
independência, representada pelo personagem principal José Caposo, o qual ascende
socialmente utilizando métodos corruptos. O romance delineia essa nova elite angolana como a
predadora do projeto identitário nacional tão almejado. Assim, o objetivo deste trabalho é
proporcionar uma discussão acerca da relação entre história e identidade nacional na construção
da narrativa. Predadores questiona o processo político que envolve a Angola de hoje, retomando
a discussão sobre nação, tão pertinente nos romances de Pepetela. Como referencial teórico, são
consultados os autores: Le Goff, Walter Benjamin, Linda Hutcheon, Frantz Fanon, Manuel
Castells, entre outros.

Palavras-chave: Pepetela, Angola, literatura, história, identidade.

O GRITO DA VOZ QUE CALA: UMA ANÁLISE DO CONTO A SAIA ALMARROTADA,


DE MIA COUTO

Joan Saulo Ramos do MONTE (UFPB)

Tomando por objeto a narrativa do conto A saia almarrotada, do escritor moçambicano Mia
Couto, o objetivo deste trabalho é o de verificar como a abordagem da condição feminina,
presente na obra, ilustra a situação de Moçambique no período colonial e consequentemente a
situação da África, em relação a Portugal, levando em consideração os termos históricos e
políticos. Destarte, será utilizado como bases teóricas principais, os livros Arqueologia do Saber
e A Ordem do Discurso de Michel Foucalt para que se possa verificar como ocorre o processo
de dessemelhança, bem como se dá os mecanismos de monitoramento do discurso, tão presentes
na obra e que afeta a personagem que se mostra tão oprimida, subjugada e, por sua vez, sujeita
às leis

Palavras-chaves: Mia Couto; Condição feminina; Identidade.

A REPRESENTAÇÃO DA (DES)CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM OS CUS DE


JUDAS E MAYOMBE

Felipe de Castro CRUZ (UFPB)


Cícero Isaac Barbosa SANTIAGO (UFPB)

A segunda metade do século XX foi marcada, além da II Guerra Mundial, por fortes
atribulações na relação entre Portugal e suas colônias africanas. Atribulações estas
intensificadas pelas guerras ultramarinas e, posteriormente, pelas consequências da queda do
Salazarismo. No âmbito da literatura, duas obras oferecem uma visão aproximada deste período:
Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes, e Mayombe, de Pepetela. Propomos estudar
comparativamente, neste artigo, esses dois romances enfocando a representação do processo de
construção e desconstrução da identidade mediante os mecanismos coercivos do Estado.
Dissertaremos sobre como a violência praticada pelo Estado pode destruir a subjetividade,
reificando-a, ou pode construí-la, interiorizando interesses externos na subjetividade literária.
No primeiro caso, nosso foco será o narrador protagonista de Os Cus de Judas; no segundo, o
personagem Comissário, de Mayombe. Observamos que ambos os personagens, embora
participantes da mesma guerra, têm sua identidade modelada de formas diferentes, o que
transfigura como o momento político vivenciado pelos dois países à época representada na
narrativa pode modificar as características idiossincráticas dos personagens. Para embasar nosso
trabalho buscaremos respaldo, principalmente, nas obras de Stuart Hall, no que diz respeito às
discussões acerca da identidade, e Arturo Gouveia, no que tange à violência do Estado.

Palavras-chave: Literatura Luso-africana. Identidade. Violência do Estado.

UM OLHAR ACERCA DA REALIDADE HISTÓRICA DE ANGOLA A PARTIR D‟O


VENDEDOR DE PASSADOS, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

Adaylson Wagner SOUSA (UFPB)


Sayonara Souza da COSTA (UFPB)

O escopo do presente estudo versa discutir a historiografia africana, no pré e pós-independência


lusitana, presente na obra “O Vendedor de Passados” (2004), do escritor angolano José Eduardo
Agualusa. O enredo é conduzido a partir do olhar crítico de uma osga perante a vivência de
Félix Ventura que tem por ofício retratar histórias oponentes para aqueles que o contrata.
Criando histórias, Félix Ventura recria biografias pomposas para setores da sociedade angolana
que o contrata e que durante anos se viu conduzida e silenciada pela política de exploração
portuguesa. Assim, discutiremos como a realidade externa, a história recente de Angola, se faz
presente nos fatos narrados no objeto de estudo ora destacado, a partir das observações da osga.
Como aporte teórico utilizaremos os postulados desenvolvidos por Pires Laranjeira (1985), Rita
Chaves (1998), Russeall Hamilton (1999), Stuart Hall (2003) e Jane Tutikan (2006).

Palavras-Chave: Historiografia, África, Sociedade, Angola.

O CONTO AS MÃOS DOS PRETOS, DE LUÍS BERNADO HONWANA E A


IDENTIDADE NACIONAL NA LITERATURA DOS PALOP NO CONTEXTO PÓS-
COLONIAL

Rossana Tavares ALMEIDA


Graciely da Costa FONCECA

A relevância do conto “As mãos dos pretos”, de Luís Bernado Honwana, deve-se à questão da
identidade nacional presente no texto, como uma forma de manifestação contra a Colônia
portuguesa e a busca da igualdade entre os homens, independente de etnia. Honwana crítica o
discurso feito pelos colonizadores e pela Igreja Católica, que desvalorizava o negro e
consequentemente sua cultura, caracterizando-o como bicho, pecador (somente pelo fato de ser
negro), sujo etc. A identidade nacional é analisada à luz do texto “A Identidade Sob Nova Face:
globalização, pós-colonialismo, hibridismo”, do livro “Velhas Identidades Novas: o pós-
colonialismo e a emergência das nações de língua portuguesa”, de Jane Tutikian, em que traz a
ideia de que a cultura é uma fonte de identidade. A parti desta afirmação, discutiremos sobre a
relação entre a cultura do colonizador e do colonizado, sobre a ótica da cultura que olha e a que
é olhada, tal questão é discutida pela autora. Esta relação é bastante importante para o
entendimento do conto. Para o enriquecimento deste trabalho, também será utilizado o texto “A
literatura dos PALOP e a Teoria Pós-colonial”, de Russel G. Hamilton, que contribuirá para a
contextualização do conto, e a compreensão da significância deste como protesto ao regime
colonial.

Palavras-chave: Identidade nacional; Negro;Colonizador.

O RUGIDO DAS LEOAS: O ANVERSO E O VERSO DAS PERSONAGENS FEMININAS


NA OBRA DE MIA COUTO

Jéssica Rodrigues FÉRRER


Geovanna D. Bezerra SILVA

O presente trabalho se propõe a analisar o romance A confissão da leoa (2012), do


moçambicano Mia Couto. Partiremos da categoria personagem feminina, dando enfoque as
personagens Mariamar, Hanifa, Luzilia e Naftalinda: as quatro mulheres apresentadas na obra.
Temos como objetivo problematizar a ação transgressora dessas personagens, em diferentes
graus e situações, que vão de encontro à tradicional passividade feminina no contexto africano.
Diante disso, torna-se inerente considerar, além dos aspectos estruturais do romance, as
questões históricas, sociais e culturais de Moçambique, visto que a citada obra fomenta as
discussões pós-coloniais acerca do discurso identitário, dando ênfase a posição ocupada pela
mulher numa sociedade hierarquicamente dividida em gênero. Como respaldo teórico serão
utilizados alguns dos conceitos de Antonio Candido, concernentes a categoria escolhida. Do
mesmo modo, os estudos de Stuart Hall, Benedict Anderson e Homi K. Bhabha nortearão a
nossa pesquisa.

Palavras-chave: Mia Couto; Personagem feminina; Identidade; Crítica pós-colonial.

HISTÓRIA, ESTILIZAÇÃO E RUÍNA EM O VENDEDOR DE PASSADOS, DE JOSÉ


EDUARDO AGUALUSA

Gabriel Domício Medeiros Moura FREITAS


Érika Pinheiro ARAÚJO

Em seu ensaio “Sobre o conceito da História”, Benjamin (1994) questiona a concepção de


história como uma sucessão de acontecimentos, encadeados linearmente e segundo uma relação
de causalidade entre eles. Neste sentido, aquele filósofo alemão defende que o conhecimento
histórico decorre de um processo de construção. Este, por sua vez, não provém de um tempo
homogêneo e vazio, sendo, portanto, impregnado de “agoras”. Ainda segundo o mesmo
pensador, um determinado tipo de historiador possuiria o dom e “privilégio exclusivo” de
despertar no passado “as centelhas da esperança”: quem estiver convencido de que nem mesmo
os mortos se encontrariam seguros caso o inimigo (as classes dominantes) vença – e ele tem
vencido incessantemente. Desse modo, o passado surge como apropriação de determinada
reminiscência no meio de um conjunto de ruínas, vislumbradas também na direção do futuro
graças à barbárie promovida pelo “progresso” ao longo dos séculos. Logo, pretendemos
articular tais questões apresentadas com a relação entre Félix Ventura, o “traficante de
memórias”, e José Buchmann, protagonistas do romance O vendedor de passados, do escritor
angolano José Eduardo Agualusa. A base teórica deste trabalho incluirá, além do autor já
mencionado, Candido (1976, 2010), Adorno (2008, 2009), Schmidt (2009), Chaves (2005).

Palavras-chave: História; Estilização; Passado; Ruína; Angola.

VINTE E ZINCO EM PRETO E BRANCO

Aline de Abreu ANDREOLI

O presente trabalho busca analisar a obra Vinte e Zinco, do escritor moçambicano Mia Couto,
procurando, a partir do exame dos fatos históricos ali narrados e através da mistura de culturas e
crenças nela mostrados, realizar uma abordagem do ponto de vista ideológico e social,
embasada nos Estudos Culturais. A história, que se passa na Vila de Moebase em Moçambique,
tem como “pano de fundo” os fatos ocorridos entre os dias 19 e 30 de abril de 1974, ou seja, os
imediatamente antecedentes e os imediatamente posteriores à Revolução dos Cravos, ocorrida
em Portugal e que levou à queda da Ditadura Salazarista. De um ponto de vista ideológico,
procuramos enfocar as visões, ações e reações - tanto dos negros como dos brancos diante de
tais acontecimentos. Isso nos permite observarmos algumas dicotomias presentes na real
história das relações luso-africanas, com suas consequências delineadas num produto místico-
cultural resultante. Este estudo visa auxiliar na efetiva implementação da Lei 10.639/2003, que
propõe o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira em todas as instituições de
ensino do Brasil.

Palavras-chave: Vinte e Zinco. Dicotomia. Ideologia e cultura.

O PAPEL DE MOÇAMBIQUE E ANGOLA NO CENÁRIO FICCIONAL


CONTEMPORÂNEO: DO MÍTICO AO HÍBRIDO

Vanessa Neves Riambau PINHEIRO

Este estudo analisa a obra de três autores luso-africanos da atualidade, a saber, Mia Couto,
Agualusa e Ondjaki. A partir da análise de algumas de suas obras, verificar-se-á de que maneira
estes se coadunam literariamente ou não, com base na verificação de suas escolhas simbólicas e
temático-estruturais. Buscar-se-á também apontar tendências e diretrizes da literatura angolana e
moçambicana na atualidade e seu papel no cenário ficcional. Para tanto, utilizaremos como base
teórica os autores Benedict Anderson, Stuart Hall, Kwame Anthony Appiah, Edward Said, Eric
Hobsbawm e Memmi, entre outros.

Palavras-chave: Literatura angolana; Mia Couto; Agualusa, Ondjaki.

GT 08: LITERATURA COMPARADA E ENSINO DE LITERATURA: ESTUDO DAS


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO NEGRO E DA MEMÓRIA SOCIAL NA
LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

Coordenadores: Prof. Dr. Derivaldo dos SANTOS (UFRN) e Prof. Dr. Humberto
HERMENEGILDO (UFRN)

A presente proposta reunirá trabalhos que contemplem o exame do texto literário de escritores
brasileiros e africanos, voltado para o estudo das representações sociais do negro, da identidade
e da memória social, a partir de uma perspectiva intertextual e polifônica que permitirá a análise
crítica e o reconhecimento da identidade nacional brasileira e de África como expressão dessa
pluralidade. Integra ainda o estudo do texto literário afro-brasileiro e seus vários contextos no
âmbito do sistema escolar, considerando as contribuições da Literatura Comparada ao ensino de
literatura de escritores afro-brasileiros. Parte-se do pressuposto de que a “a literatura pode ser
um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição
dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual”, (Candido,
Direito à literatura), contribuindo para a formação da consciência crítica do leitor e para uma
melhor compreensão da vida e dos homens, seja por apontar a necessidade de inclusão social de
sujeitos silenciados pela história social estabelecida, seja por conduzir o leitor ao
reconhecimento do outro como cidadão. A literatura de escritores afro-brasileiros deve ser
discutida como forma de expressão capaz de nos conduzir ao conhecimento da realidade social e
histórica e como experiência de escrita que se eleva à condição de interpretação do mundo.

DISRITMIA ESPACIAL – RESISTÊNCIA E RENDIÇÃO NA NARRATIVA DE MIA


COUTO

André PINHEIRO (UFRPI)

O registro da memória sociocultural africana é o procedimento mais recorrente na obra de Mia


Couto. Abordado sob múltiplas perspectivas, o tema parece adquirir uma roupagem diferenciada
a cada novo volume publicado. No romance A varanda do frangipani (1996), o autor faz uma
leitura do período em que já começava a esfriar a guerra civil que sucedeu à libertação de
Moçambique do domínio português. Tendo como cenário uma fortaleza isolada na costa
moçambicana, esse espaço constitui a representação das condições vividas pelos países
africanos escravizados. É através da categoria espacial que Mia Couto promove um mergulho
em questões de grande valor histórico para o seu continente. Logo, o objetivo deste trabalho é
fazer uma análise do romance A varanda do frangipani, tomando como ponto de partida a sua
estruturação espacial. Pretende-se mostrar que os espaços delineados na obra revelam aspectos
políticos, sociais e culturais da sociedade africana. Com uma estrutura que alterna a voz do
narrador com relato de personagens, esse livro acaba demonstrando que o espaço deve ser
encarado como um fenômeno perceptivo, e não como algo meramente material. Ademais, a
análise simbólica do espaço também revela dados importantes da obra e da sociedade africana,
como o sentimento de medo diante da guerra e a esperança de um mundo livre.

Palavras-chave: Teoria do espaço; Mia Couto; Representações sociais.

O SILÊNCIO NO CONTO E NA MEMÓRIA: “O EMBONDEIRO QUE SONHAVA


PÁSSAROS”

Arivaldo Leandro da Silva MONTE

Neste trabalho realizaremos uma leitura sob a perspectiva do silêncio na ficção do


moçambicano Mia Couto. O não dizer ou inaudito, de diferentes formas, traduz-se no que há de
mais sublime na expressão, naquilo que a linguagem ainda não conseguiu corromper de todo – o
silêncio. No conto “O Embondeiro que sonhava pássaros”, encontraremos o silêncio do riso, da
ironia, da denúncia social, da opressão do olhar do colonizador. Encontraremos ainda o silêncio
da solidão e do seu próprio interior. Aquele que desperta a lógica da imaginação e da fantasia,
da utopia do desligar-se do mundo civilizado, construindo argumentos preconceituosos e
rejeitando o diferente – e os perigos desta seara, da colonização. Para atingir este objetivo o
trabalho estará fundamentado nas teorias de Orlandi (1997) do seu livro As Formas do Silêncio,
para quem o silêncio não está fora da linguagem, nem tampouco representa um abismo de
sentidos, mas possibilidades de efeitos de muitos sentidos onde a palavra gira em torno. (p.23).
Seque-se que a incompletude é fundamental para produzir as várias possibilidades, também, na
construção do sujeito e de sua resistência em manter viva a memória de um povo, no que
contamos com as observações de Le Goff (2003), onde “os esquecimentos e os silêncios da
história” (p. 422) podem revelar mecanismos de manipulação da memória coletiva.

Palavras – chave: Silêncio; Memória; Mia Couto.

ÁFRICA SILENCIADA: UMA LEITURA DO POEMETO DE JOÃO CRAVEIRINHA

Camilla Araújo FREIRE (UFRN)


Derivaldo dos SANTOS (UFRN)

O presente trabalho analisa o poema Poemeto, de José Craveirinha (1922-2003), considerado


um dos maiores expoentes da poesia de Moçambique, tendo como categoria analítica o silêncio.
Parte-se do pressuposto de que o silêncio é uma espécie de microideologia, uma forma de
mascarar ou ocultar as contradições sociais e a dominação, invertendo o modo de processar o
pensamento sobre a realidade instituída. A percepção mundana de outrora de “quem cala
consente” pode não significar concessão alguma, já que o silêncio pode estar aliado a uma
forma de “silenciamento”: fruto de imposições e determinações, quando se está obrigado a
silenciar, como se o apagamento da voz do outro representasse a anulação de sua existência.
Nesse sentido, nossa abordagem toma o exercício da fala ligado ao exercício de apoderamento e
ao direito de expressão. A análise se fundamenta no pensamento de Roland Barthes acerca do
silêncio, em seu livro O neutro, e de Lourival Holanda, na obra Sob o signo do silêncio.Nosso
estudo pôde verificar que o silêncio inscrito, na obra poética de José Craveirinha, é uma
configuração lírica de combate ao sistema social opressor imposto em terras de África,
extrapolando os limites do código verbal ou da linguagem normativa.

Palavras-chave: Silêncio. Poesia. Moçambique.

A LITERATURA INFANTO-JUVENIL COMO DIREITO INALIENÁVEL E


INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO

Bruna Janine CABALLERO (UFRN)

O presente trabalho trata de uma abordagem crítica sobre literatura e ensino a partir da análise
de uma obra do universo literário infanto-juvenil, O beijo da palavrinha, do moçambicano Mia
Couto. Neste contexto, esse livro representa uma pequena parte da contínua produção deste
escritor, o qual nasceu em Moçambique, sendo biólogo, jornalista e autor de mais de trinta
livros, entre prosa e poesia. Portanto, pensar a literatura funciona como um artefato intelectual e
afetivo que atua como processo de instrução e educação é a função deste trabalho. Partindo
desse raciocínio, a temática deste está voltada para a literatura infanto-juvenil africana como
instrumento de inclusão social e étnica, a fim de discutir a literatura e o ensino a partir do estudo
sobre a obra citada, abordando como problemática principal a reflexão sobre a literatura como
um instrumento que possui papel relevante na formação da consciência crítica do aluno e na sua
formação cidadã. Por fim, nesse sentido, a literatura infanto-juvenil africana, aplicada em sala
de aula, apareceria como contribuinte de uma melhor e mais ampla relação inter-humana,
possibilitando o desmascaramento de qualquer negação dos direitos humanos.

Palavras-chave: Literatura africana; ensino; literatura infanto-juvenil.


A PERSONAGEM DE FICÇÃO EM HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS: O GATO E O
ESCURO, DE MIA COUTO

Wellington Medeiros de ARAÚJO (UERN)

De fundamental relevância no universo da narrativa de ficção, a personagem constitui um dos


motes propulsores na construção e configuração às leituras estéticas e históricas que o texto
literário suscita. Nesse sentido, o presente trabalho procura averiguar o personagem na obra
destinada ao público infantil “O gato e o escuro” do escritor moçambicano Mia Couto. Sem
perder de vista sua relação com outras particularidades do texto, como o tema, o enredo, o
espaço e as representações sociais que daí brotam, este elemento da narração constitui papel
primordial na exegese a ser feita do material lido. Mais do que um exercício de leitura crítica,
portanto, o estudo da personagem atenta para a necessidade de erguer interpretações em torno
do literário salvaguardando sua participação enquanto instrumental teórico e reflexivo na
relação ensino e aprendizagem, apontando para o que Antonio Candido (2004) concerne à
literatura como parte dos direitos humanos. E isso se faz notar mais ainda, sabendo que, como
participação direta da sociedade de onde provém, o texto de Couto focaliza situações em que o
enfrentamento e a inserção à diversidade conduzem o leitor à sua necessária condição de
inclusão social.
PALAVRAS-CHAVE: Personagem; Mia Couto; Leitura; Direitos Humanos.

MARGINALIZAÇÃO E EXPLORAÇÃO DO NEGRO EM LIMA BARRETO

Francisco H. Arruda de OLIVEIRA

Lima Barreto fora um escritor, mulato e morador do subúrbio carioca que tivera a ideia, quando
jovem, de escrever sobre a “História da Escravidão no Brasil”, ideia essa que só ficara no seu
diário. Entretanto, se o escritor não conseguiu concretizar sua ideia escrevendo a história da
escravidão brasileira, ele logrou o êxito no romance “Clara dos Anjos”. Este romance começou
a ser projetado em 1903 – como está registrado no seu diário íntimo – esó veio a ser publicado
em definitivo em 1923. Inicialmente parecia uma problematização sobre o negro que continuava
a ser marginalizado mesmo após a queda da monarquia em 1889. Em “Clara dos Anjos” apesar
de Lima Barreto abandonar uma escrita histórica da exploração e marginalização do negro no
Brasil, permanece ainda o cerne da ideia inicial, se não histórica, mas contemporânea da
marginalização que o negro continuou a sofrer no período já republicano. O enredo da mulata
que é seduzida, sarcasticamente na data 13 de maio de 1888, por um homem branco e depois
abandonada, tendo sua filha o mesmo fim, não é simplesmente uma ironia de Lima Barreto, é a
representação de uma imagem latente na República Velha: mesmo com o progresso
incrementado pela belle époque a questão do negro, sua condição socioeconômica e seu lugar na
sociedade republicana ficaram em segundo plano, sendo renegado, marginalizado, e ainda,
explorado nos subúrbios.

Palavras-chave: marginalização; exploração; negro; Lima Barreto.

AS MATRIZES AFROBRASILEIRAS NA OBRA DE SOSÍGENES COSTA

Heráclito Júlio Carvalho dos SANTOS (IESM/UEMA)


Raimunda Celestina Mendes da SILVA (UESPI)

A presente pesquisa tem como objetivo central a compreensão e a análise das matrizes de raízes
africanas e afrodescendentes na obra poética do poeta baiano Sosígenes Marinho Costa. Analisa
ainda a sua obra do ponto de vista estilístico e formal, a partir dos extratos fônicos e fonéticos.
Inicialmente, parte dos traços biográficos com vistas a entender que influência da cultura baiana
recebeu na sua literatura. Dentre as muitas contribuições desse poeta, tem-se a sua participação
na Academia dos Rebeldes e em veículos de comunicação, como o jornal Diário da Tarde, da
cidade de Ilhéus, onde assinava uma coluna utilizando o pseudônimo Sósmacos. Este trabalho
também discute, entre outras questões: o papel político e social dos seus poemas na sociedade
da época, bem como a deflagração das tradições culturais, religiosas e os costumes
afrodescendentes dos habitantes do sul da Bahia, a grande inspiração dos poemas de matrizes
africanas de Sosígenes Costa. A construção do trabalho se deu através de pesquisa
bibliogrráfica, uma vez que as informações foram colhidas em livros, revistas da área e
consultas a sites de internet, visando o diálogo com os teóricos.

Palavras-chave: Literatura africana; Afrodescendência; Estilística.

MARCAS DA REPRESENTATIVIDADE AFRICANA NA POÉICA DE ASCENSO


FERREIRA

Liana Dantas de MEDEIROS (UFRN)


Derivaldo dos SANTOS (UFRN)

Este trabalho tem como proposta a análise da poética de Ascenso Ferreira sob o escopo da
representatividade social e da memória africana. Sua poesia inovou o Modernismo brasileiro e
revelou à crítica sudestina - também seduzida pela originalidade da obra - a dimensão
emblemática da cultura popular do Nordeste.(Catimbó; Cana Caiana; Xenhenhém; 2008; 6ª
edição; Martins Fontes). Os títulos de seus livros, em especial, Catimbó, já remete o leitor ao
universo Afro-brasileiro O poeta pernambucano desfrutou da convivência com os costumes,
cânticos, linguagem, gastronomia, danças, rituais dos ex-escravos e de seus filhos, do início do
século passado, na qual a configuração da sociedade pós-colonial brasileira firmava-se na
mesclagem dos elementos híbridos de nossa colonização e a busca de uma identidade nacional.
O imbricamento do legado cultural africano na cultura nordestina e brasileira aflora na poesia de
Ascenso Ferreira. Essa representatividade configura-se na semântica Afro-brasileira, na
oralidade, no uso que o poeta fez da rima e da métrica no ritmo dos poemas. Assim como seu
jogo poético em cima de ritmos musicais como cocos, maracatus e sambas de roda, tradições da
herança cultural Afro-brasileiro. O poeta Ascenso Ferreira pesquisou a cultura popular
nordestina, daí representá-la com cores fortes a nossa ancestralidade africana. Em muitos de
seus poemas configura-se a presença de várias vozes; entras elas as do dilaceramento, das dores
sofridas pelos filhos da mãe África Para isso, pretende-se buscar respaldo em Luís da Câmara
Cascudo, Paul Zumthor, Octávio Paz, Jorge Luis Borges, Domício Proença Filho.

Palavras-chave: Representatividade Social; Africanidade; Sociedade; Cultura Popular

AS ÁFRICAS ESCRITAS: AFRICANIZAÇÃO E DESAFRICANIZAÇÃO DO BRASIL EM


LUÍS DA CÂMARA CASCUDO.

Raquel Silva MACIEL (UFCG)


Dra. Regina Coelli Gomes NASCIMENTO

O trabalho é fruto de uma pesquisa acerca da produção intelectual do escritor potiguar Luís da
Câmara Cascudo. O empenho que esse dedicou aos trabalhos acerca da cultura popular
brasileira culminou na publicação de mais de 150 obras. Entre os pensamentos desenvolvidos
em seus estudos, temos a concepção de que algumas tradições populares podem ser encontradas
na sua forma pura em determinados lugares, entre esses o continente africano. É a partir dessa
ideia que por volta da década de 1960 é publicado o livro de sua autoria intitulado Made in
África que trata da relação Brasil-África e é de acordo com o próprio Cascudo fruto de sua
simpatia por esse continente e das pesquisas etnográficas desenvolvidas nos países africanos em
busca de uma origem para práticas culturais brasileiras. Nessa obra temos um estudo das
heranças culturais africanas no território brasileiro em relação aos costumes, gestos e falas. Esse
artigo busca desenvolver um ensaio sobre uma contradição presente na trajetória desse
intelectual, poisna medida que tenta promover uma africanização do Brasil através da escrita de
obras como a citada, por outro lado esse intelectual potiguaré apontado por estudiosos como
Durval Muniz de Albuquerque Jr. (2010) como responsável por uma desafricanização de nosso
país, negando em muitos momentos a influência que as tradições africanas possuem na
formação da chamada cultura popular brasileira.

Palavras-chave: Câmara Cascudo; Africanização; Desafricanização.

CONVERGÊNCIAS LITERÁRIAS ENTRE AS OBRAS DE NEWTON NAVARRO E


NELSON SAÚTE
Marcel Lúcio Matias RIBEIRO (IFRN)

O presente artigo realiza uma análise comparativa entre as obras Os mortos são estrangeiros
(1970), do escritor norte-rio-grandense Newton Navarro, e Rio dos bons sinais (2007), do
escritor moçambicano Nelson Saúte. De início, podem-se apontar as seguintes semelhanças
entre ambas: a opção estrutural dos autores pela forma do conto; e, no enredo das narrativas, a
predominância da temática da morte e sua representação na sociedade. Assim, partindo desses
pontos de convergência, o artigo tece ponderações sobre o gênero conto na literatura
contemporânea, identifica semelhanças no aspecto estilístico da narrativa dos dois escritores e
desenvolve estudo sobre a representação da morte no universo cultural nordestino e no universo
cultural africano. Como fundamentação teórica, recorre-se ao suporte dos estudiosos: Alfredo
Bosi, Câmara Cascudo, Fábio Lucas, Jean Ziegler, João Paulo Borges Coelho.

Palavras-chave: narrativa contemporânea; Conto; Morte; Cultura nordestina; Cultura africana.

UMA LEITURA DA MARGINÁLIA DO ROMANCE MACAU


Maria Aparecida de Almeida REGO (UFRN)
Humberto Hermenegildo de ARAÚJO ( UFRN)

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma leitura do romance Macau (1934) do
ficcionista brasileiro Aurélio Pinheiro, situado no espaço urbano de uma cidade interiorana
(Macau) no contexto do início do século XX no Brasil. Como cidade litorânea, a extração de sal
é a atividade econômica de maior desenvolvimento em Macau. Nosso olhar recairá sobre a
trajetória das personagens que compõem as margens desse sistema econômico, tradicionalista e
preconceituoso, por exemplo, as criadas, o bêbado, o capanga, as mulheres submissas, o negro,
o índio, dentre outros agentes que não tiveram reconhecimento social e foram vistos, durante
muito tempo, como desgraças, comprometendo o avanço da nação. Usaremos como aporte
teórico Benjamin (1985), Candido (1976) Schwarz (1983) e Spivak (2010), cujos estudos
vislumbram a possibilidade de leitura de uma literatura representando uma realidade social que,
na relação entre centro e periferia, promove o silenciamento de algumas vozes. Pensaremos a
relação da cidade com as margens dos que ficam submersos à beira de um sistema sem saída
que, representado no romance, demonstra a permanência de traços de uma escravidão de raça,
pela subserviência.

Palavras-chave: Romance Macau; Dialética social; Personagens marginalizados.

PRESENÇA DO NEGRO NA LITERATURA POTIGUAR


Thiago Gonzaga do SANTOS (UFRN)
Midiã Ellen White de AQUINO (UFRN)

Este trabalho se propõe a investigar como o negro é representado na literatura potiguar,


buscando fazer um panorama sobre alguns autores e textos representativos a partir da fase
inicial da literatura norte-rio-grandense até os dias atuais. Assim sendo, constata-se que no Rio
Grande do Norte a literatura escrita por negros ou sobre a temática afrodescendente quase não
existe, e quando aparece ao longo da história tem pouco caráter do engajamento que, de maneira
geral, procura denunciar aspectos problemáticos da realidade em que vive o negro, de forma a
contribuir para que se produzam certas mudanças na sociedade da qual ele faz parte. Ante esse
cenário, nomes como Fabião das Queimadas, Auta de Souza e Henrique Castriciano são,
portanto, os primeiros registros de afrodescendentes da literatura potiguar. Antes destes, uma
voz branca versou sobre a condição do escravo, foi Segundo Wanderley, que no movimento
abolicionista brilhou intensamente com vários poemas em defesa da causa negra. Depois de
muitos anos sem registros sobre a produção literária afro em solo potiguar surge em meados dos
anos 50 o poeta Cosme Lemos, dedicando um poema totalmente à causa negra, sendo o
primeiro a ter em seus versos o caráter de engajamento, depois da abolição. Portanto, a voz do
negro na literatura local ao longo dos anos permaneceu tímida e alguns poucos que ousaram
falar foram brancos versando sobre o negro na maioria das vezes na sua condição estereotipada.

Palavras-chave: Literatura potiguar; Representação; Negro; Engajamento.

A GÊNESE DA IDENTITÁRIA NEGRA: OPOSIÇÕES E REPRESENTAÇÕES NA OBRA


OS TAMBORES DE SÃO LUÍS DE JOSUÉ MONTELLO

Aldenora Márcia Chaves Pinheiro CARVALHO (SEDUC/SEMED)

Na modernidade tardia, os estudos sobre o homem e suas complexidades, modificaram o modo


de falar sobre identidade, cultura, diferença, desigualdade, multiculturalismo e sobre os pares
organizadores dos conflitos nas ciências sociais. Alguns teóricos apontam que nessa nova
configuração, o conhecimento científico não é mais o reflexo das leis da natureza, antes, traz
consigo um universo de teorias, ideias e paradigmas que interrogam sobre tais complexidades.
Com base nesses pressupostos, o presente trabalho pretende discutir acerca da crise dos
conceitos delimitados que ainda subjazem em algumas áreas das humanidades, especificamente
quando da formação da identitária negra na Literatura Brasileira. Para tanto, faremos uma
análise da obra Os tambores de São Luís de Josué Montello com vistas à identificação das
relações de aproximação e distanciamento entre as identidades do escravo e do escravizado
presentes no texto do autor maranhense. As bases teóricas deste trabalho aportam nos estudos de
Morin (2008 ), Canclini (2010) e Cândido (2008), e na obra literária de Montello (2005).

Palavras-chave: Identidade; Negro; Representação; Literatura Brasileira.

A CONQUISTA DA VOZ: VEREDAS DE MEMÓRIA E AFRODESCENDÊNCIA NA


POESIA DE SALGADO MARANHÃO

João Batista Sousa de CARVALHO (UESPI)


Prof. Dr. Élio Ferreira de SOUSA (UESPI)

A obra poética de Salgado Maranhão caracteriza-se pela forte preocupação com a linguagem,
em instaurar novos sentidos à palavra, sem, contudo, renegar questões históricas e sociais. Uma
das questões que se delineia na poesia deste autor refere-se ao desejo de desconstruir o discurso
dominante que relega a cultura e o indivíduo afrodescendente a uma condição de inferioridade.
Nesse processo de desconstrução, verifica-se a importância dada à recorrência de aspectos da
memória individual e coletiva. O sujeito lírico dos poemas analisados assume-se como
pertencente a uma realidade sociocultural afrodescendente, configurando-se como uma voz
emancipada política e literariamente, capaz de produzir um discurso poético permeado de
sentidos favoráveis à valorização do grupo sociocultural a que pertence, numa postura de
resistência e de denúncia contra a marginalização histórica. A pesquisa se apoia em teóricos
como Halbwachs (2004), Pereira (2009), Cuti (2010), Candau (2012), Paz (2012), dentre outros.

Palavras-chave: Afrodescendência; Memória; Poesia; Salgado Maranhão.

CENTENÁRIO DE CAROLINA MARIA DE JESUS: UMA ESCRITORA POUCO (RE)


CONHECIDA

Luci Carla Soares SILVA (UEFS)


Josivania Brandão FERREIRA (UEFS)

O presente trabalho tem por objetivo relatar a história de Carolina Maria de Jesus, mulher negra,
catadora de lixo, favelada, que demonstrou a convivência das famílias na favela do Canindé em
São Paulo a partir da década de 50. Em março de 2014, a escritora completaria 100 anos;
mulher guerreira, que através da sua luta divulgou a literatura realista e a literatura negra no país
do século XX. Morando em um barracão com três filhos, ela era a mantenedora do lar, apesar
das dificuldades vividas. Carolina de Jesus não se deixava esmorecer, mesmo com fome ou
doente ia buscar o sustento para alimentar suas crianças. Amava escrever e cantar, por isso
relatava tudo o que acontecia na sua jornada de trabalho ou na comunidade onde habitava.
Comentava sobre seus vizinhos insolentes, seus amigos e sobre os problemas que afetava cada
morador. Autora de livros que descrevem problemas sociais, principalmente a fome; Carolina
Maria de Jesus ainda é uma escritora (des) conhecida pela sociedade brasileira e esquecida pelo
cânone literário do nosso país.
Palavras-chave: Literatura negra. Favela do Canindé. Fome. Problemas sociais

MARIA FIRMINA DOS REIS E LUÍS GAMA: CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS DA


AFRICANIDADE NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Maria das Dores JUSTO (EEEFM)


Ana Márcia Targino de OLIVEIRA (UEPB)

A Literatura Negra ou Afro-brasileira, cujo sujeito autoral negro mantém um comprometimento


engajado com a etnicidade afrodescendente, surgiu com as obras de alguns pioneiros, que
através das suas narrativas transcendem a realidade da escravidão no Brasil. Na perspectiva de
analise da temática realizou-se esse estudo comparativo, que busca a articulação entre as obras:
Primeiras Trovas Burlescas de Getulino (1859) de Luís Gama e Úrsula (1859) de Maria
Firmina dos Reis, com o objetivo de expor a constituição do sujeito negro (a)e a visão deste (a)
sobre a sociedade no século XIX, evidenciando a valorização do negro, a descriçãodo gênero
feminino e a voz do escritor (a) negro (a).Tratou-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, de
caráter descritivo/interpretativista. Buscou-se contribuições teóricas emAzevedo (1999),Muzart
(2000)Priore(2010), Proença Filho (1988), Zilá Bernd (1987) entre outros. Conclui-se que os
(as) autores (as) trazem uma visão positiva sobre o negro, da mulher e do (a) escritor/escritora
negro (a).

Palavras-chave: Narrativo; Escritores; Negro; Afro-brasileira.

O OUTRO OLHAR DE MARIA FIRMINA NO CONTO A ESCRAVA


Sílvia M. Macedo da SILVA (UFRN)

Este trabalho focaliza o conto "A escrava", publicado em 1887 pela maranhense Maria Firmina
dos Reis (1825-1917). Segundo os poucos críticos que reconhecem a magnitude de sua obra,
trata-se da primeira escritora afrobrasileira a enxergar a escravidão sob a perspectiva dos
escravizados, como explica Eduardo de Assis no posfácio escrito no romance Úrsula, da mesma
autora, de 1859. Agraciada com uma mentalidade à frente de seu tempo, traz em suas obras o
drama dos negros diante de sua condição de escravo, onde são representados de forma diversa
ao postulado pelos discursos científico e religioso da época. Diante disso, pretende-se investigar
como se dá o componente das representações sociais no conto "A escrava", especialmente a
representação do negro, da escravidão e da mulher, de acordo com as reflexões de Luiz Costa
Lima em Mímeses e Modernidade. Além disso, busca-se com este trabalho, o incentivo ao
estudo da obra de Maria Firmina, já recomendado por alguns críticos que apontam a relevância
da autora para a (re)construção da história do nosso país.

Palavras-chave: Representações sociais; Literatura afro-brasileira; Escravidão.

A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO EM CAPITÃES DA AREIA E THE DEFIANT

Pedro FILGUEIRA (UFRN)


Adriano CRUZ (UFRN)

Jorge Amado tem uma relação intrínseca com a Indústria Cultural, desde a década de 1940, o
escritor, tem emprestado suas obras para o cinema. Dentre elas, escolhemos como objeto de
análise o livro Capitães da Areia, romance lançado na década de 1930. O livro narra a história
de um grupo de meninos abandonados em Salvador. A narrativa foi traduzida para o cinema em
dois momentos: o primeiro, em 1971, com The Defiant. O filme é interpretado por atores
americanos e brasileiros. Os atores escolhidos para o grupo de "capitães" não são todos negros
como descritos no romance, o diretor optou em representar alguns dos personagens com atores
caucasianos. Essa escolha ocasionou críticas à produção fílmica pelo processo de
"embranquecimento" das personagens. No segundo momento, temos uma versão nacional,
exibida em 2011, em meio às comemorações do centenário de nascimento do autor, a direção
fica por conta de Cecília Amado. O elenco principal é composto por adolescentes, não atores e
afrodescendentes, selecionados entre jovens das comunidades soteropolitanas. A partir dessa
constatação, partimos da hipótese de que a diretora adotara como fundamento a estética realista
para a realização fílmica. Pretendemos fazer uma análise comparativa, interrogando-nos que
condições históricas permitiram maior visibilidade do negro no cinema.

Palavras-chave: Representação; Negritude; Capitães da Areia; Realismo.

A REPRESENTAÇAO SOCIAL DA MULHER NEGRA NO CONTO UMA NEGRINHA


ACENANDO, DE DALTON TREVISAN

Eduarda VALDIVINO (UFRN)


Derivaldo dos SANTOS (UFRN)

Este trabalho tem como objeto de estudo o conto “Uma negrinha acenando”, de Dalton
Trevisan, procurando analisar o modo como a representação da mulher negra se insere na
narrativa como ser submetido à margem da realidade social. Procura-se analisar questões
relacionadas ao meio social em que a personagem principal se insere, sua natureza mutável e o
drama social por ela vivido. Para proceder à análise, foi utilizada como orientação de leitura a
perspectiva crítica de Antonio Candido (2006), no que se refere à relação entre o texto literário e
a vida social, e Auerbach (1987), no trato dado à representação da realidade na literatura, o
pensamento de Eduardo de Assis Duarte (2008), presente em Literatura afro-brasileira: um
conceito em construção, e de Sandra Goulart (2010), em Pode o subalterno falar?.

Palavras-chave: Negra; Representação social; Drama; Trevisan.

A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO E DA ABOLIÇÃO EM MENINO DE ENGENHO

Bruno da Costa FERREIRA (UFRN)


Edna Maria RANGEL DE SÁ (UFRN)

A 13 de maio de 1888 era sancionada a Lei Áurea, abolindo o regime escravista no Brasil. Mas
a dita abolição representou o fim da servidão e a emancipação da população negra? O presente
estudo busca demonstrar - a partir da revisão bibliográfica, da elaboração de fichamentos e da
consolidação de um repertório teórico adequado à hipótese - que a representação realista do
negro e da abolição na “narrativa memorialista” do romance Menino de Engenho, de José Lins
do Rego, confirma o caráter humanizador da literatura expresso no ensaio intitulado O Direito à
literatura, de Antonio Candido; na obra A literatura em perigo, de Tzvetan Todorov; bem como
em Literatura para quê?, de Antoine Compagnon. A literatura se transforma, assim, em
“instrumento de combate” , cumprindo sua função desfetichizadora e emancipatória. A leitura
do romance de José Lins publicado em 1932 provoca uma visão mais nítida sobre o passado e o
presente, permitindo relações pertinentes entre a insuficiência da Lei Áurea e o extermínio da
juventude pobre e negra em curso no Brasil. “Para esta gente pobre a abolição não serviu de
nada”, terá servido a democracia burguesa?

Palavras-chave: Representações do negro; Representações da abolição; Menino de Engenho.

A COR DA ÁFRICA E A DOR DO BRASIL NA HISTÓRIA DE LUÍZA/KEHINDE

Ariane Kercia Benício de Sá BARRETO (UEPB)


Áquila Sartori MESQUITA (UEPB)

A identidade, assim como a memória, se estabelece a partir de uma construção simbólica que
envolve a relação com o outro e com o mundo. No livro Um defeito de cor, de Ana Maria
Gonçalves (2012),as problemáticas da identidade, das questões do ser, pertencer e se afirmar,
alicerçam a triste história de Kehinde:mulher negra vinda da África que escravizada passa pela
travessia a bordo de um navio negreiro rumo à Bahia, onde vive a maior parte da vida. Sua
história revela toda a violência consequente dos estereótipos que definem e limita a imagem da
mulher africana, ressaltando apenas seus atributos físicos, sua sensualidade, sua fala e
dispensam os conceitos que realmente constituem os significados de identidade. Identidade que
indiferente às características criadas com sentido único de ênfase à desigualdade constitui-se
pelo fazer da vida, pelo acúmulo de experiências múltiplas e pela consciência que temos de nós
mesmos.Desse modo, o presente trabalho objetiva discutir sob o viés da história de Luíza, o
processo de (re)constituição da identidade por meio da memória, no contar da história de vida. E
nessa perspectiva, discutir-se-á a cerca das problemáticas da identidade à luz de Bauman (2005),
Hall (2003, 2006), Babha (2003) e Woodward (2009). A respeito da identidade negra através
dos conceitos de Munanga (2006), Nascimento (2000, 2003) e Santos (1990). E sobre as
implicações da memória por meio dos estudos deBosi (1994) eHalbwachs (1990), entre outros.

Palavras-chave: Literatura afro-brasileira; Mulheres Africanas; Memória; Identidade.

SOLANO TRINDADE ECOANDO LANGSTON HUGHES: O NEGRO E SUA


(AUTO)IMAGEM NA POESIA
Alexandre Bezerra ALVES (UERN)

Como um dos aspectos recorrentes da Literatura produzida por escritores negros no Brasil
surgem versos sobre problemas de ordem social e que, em significativa parcela desta produção,
as disparidades entre pobres e ricos, entre negros e brancos, aparece como indício recorrente.
Em diversos poemas de Solano Trindade (1908-1973) há evidentes marcas de uma desigualdade
social que margeia aquilo que Jaime Ginzburg (2012) chama de imagens de violência e
melancolia na literatura. Na composição poética intitulada “Civilização branca”, da obra O
poeta do povo (2008), de Solano Trindade, se faz propagar um eco também perceptível do
escritor afro-americano Langston Hughes (1902-1967) em seu poema “I, too”, publicado na
década de 1920 em meio ao movimento conhecido com Harlem renaissance. O objetivo aqui é
pronunciar uma visão acerca de como a literatura pode servir de “instrumento consciente de
desmacaramento” (CANDIDO, 2004) e como os poetas negros percebem a discriminação
racial/social na poesia de forma com que os dois textos citados funcionem como micronarrativas
de um cotidiano em que a (auto)imagem do negro corresponda a um outro indício, o de
mudança e justiça social para eles. Há nestes poemas/poetas uma voz lírica individual,
contemporânea, que se mescla a um teor sugestivamente coletivo e crítico.

Palavras-chave: Solano Trindade; Langston Hughes; Poesia afro-brasileira; Negro; Racismo.

LITERATURA E ENSINO: A MAGIA DAS PALAVRAS VEICULANDO VALORES E


DESNATURALIZANDO RELAÇÕES DE DESIGUALDADES

Maria Suely da COSTA (UEPB)

Compreender a representação dada ao negro no texto literário foi o interesse que norteou a
pesquisa desenvolvida através do programa PIBIC/UEPB, com fins de realizar um estudo dos
processos de construção/reconstrução dessa representação na literatura de cordel a partir de
textos cujos temas assinalassem a visão de uma identidade positiva do negro. Quando da
pesquisa, verificou-se que cada vez mais a literatura de cordel assume um papel didático-
pedagógico na sociedade. Está a cada dia ganhando espaço nas escolas, na mídia e em diversos
ambientes de discussão. Essa crescente valorização do cordel se justifica no fato de ser um texto
promotor de questionamentos e representação da realidade, possibilitando resgate do passado,
crítica e denúncia social. Os resultados obtidos na pesquisa tornaram possível observar
expressões literárias cuja linguagem desconstrói estereótipos negativos, resgatando a
contribuição do negro na história do país e no processo de formação étnica de nosso povo.
Como gênero do discurso,no ambiente social da sala de aula,tende a contribuir na formação do
leitor, proporcionando o domínio de outros conteúdos advindos da diversidade cultural,
valorizandodiferentes práticas culturais e pondo em foco os direitos da cidadania.

Palavras-chave: Poesia; Negro; Representação; Ensino.

PRINCESA VIOLETA E VALENTINA: UM DIALOGISMO IDENTITÁRIO


À LUZ DA LEI 10.639/03

Márcia Soares Matos QUEIRÓZ (UFRN)

O presente trabalho tem como objetivo analisar, à luz da Lei 10.639-03, o dialogismo identitário
entre as obras Princesa Violeta, de Veralindá Ménezes, Valentina, de Márcio Vassallo. Para
tanto, serão utilizadas como principais suportes teóricos as reflexões de Eni Pulcinelli Orlandi e
Michel Foucault, em suas respectivas obras Análise do Discurso e A Ordem do Discurso; e a
própria letra da Lei 10.639-03, que apregoa o ensino da História e Culturas Afro-brasileiras e
Africanas nas escolas brasileiras. Questões, por exemplo, como a longa ausência de uma
princesa negra na literatura de um país tão miscigenado quanto o Brasil, pode levar-nos a
pensar, esse silêncio (ausência), como uma estratégia subliminar, historicamente colocada a
favor das ideologias elitistas. Bem como, a nos questionar de que maneira estes conceitos
podem influenciar na formação da criança/adolescente? Desta forma, o presente trabalho
objetiva analisar, à luz da Lei 10.639-03, o dialogismo identitário entre as referidas obras,
comparando-as e associando-as ao poder da palavra enquanto práxis libertadora.

Palavras-chave: Cultura afro-brasileira; Ensino; Princesa negra.

GT 09 - O AFRO-BRASILEIRO NAS ARTES: MÚSICA, PINTURA E LITERATURA

Coordenadora: Profa. Dra. Leilane Leandro Assunção da SILVA (UFRN)

Esse GT pretende reunir trabalhos sejam teóricos ou empíricos, que discutam de que maneira
as representações da cultura afro-brasileira aparecem em três dos mais prolíficos campos da
arte: a música, a pintura e a literatura. Buscando problematizar dilemas éticos, estéticos e
políticos que ainda são da ordem do dia na nossa sociedade machista e racista. Partimos da
ideia que toda discussão sobre arte fortalece a ciência na medida em que amplia suas
possibilidades e pressupostos, trazendo para o âmbito das ciências humanas a discussão sobre o
engajamento político e a poetização da narrativa, duas das dimensões que mais podem ser
enriquecidas com essa incursão epistemológica das ciências humanas à arte. Para tanto,
conceitos como hibrides ou mestiçagem, tais como desenvolvidos por Bruno Latour e
Michel Serres, respectivamente, bem como a ideia da arte como tutoria de resiliência de Boris
Cyrulnik se revestem de caráter central para a discussão que aqui empreendemos, visto que
não se trata tão somente de narrar de que maneira o afro brasileiro aparece na arte brasileira
bem como até que ponto essa ampliação de perspectivas pode problematizar a própria
ontologia do conhecimento nas ciências humanas, tomando as representações da cultura afro-
brasileira como signos de resistência político-cultural cientifica contra a normatização das
éticas e estéticas existenciais que constituem e são constituídos, dialogicamente,
paradoxalmente,tanto as ciências quanto as artes tais como se apresentam, tão bem, por
exemplo, nas obras de Friedrich Nietzsche e Claude-Lévistrauss.

TREINAMENTO DE ATORES E ATRIZES: O USO DA CAPOEIRA DE ANGOLA COMO


FERRAMENTA PARA A PREPARAÇÃO CORPORAL E O APRIMORAMENTO DE
HABILIDADES MUSICAIS

Ana Rachel da Silva CAVALCANTE (UFPB)

Esdras SARMENTO (UFCG)

O presente artigo visa apresentar a possibilidade de utilização de determinados movimentos


coreográficos presentes no jogo da Capoeira de Angola com o objetivo de preparar
corporalmente os atores e atrizes para que possam adquirir uma maior consciência do potencial
físico e com isto apontar direcionamentos referentes à utilização da energia corporal à cena
teatral. Ainda neste sentido, propomos uma reflexão a respeito do uso de determinadas melodias
e estruturas inerentes a algumas canções deste gênero da Capoeira, para o aprimoramento de
certas habilidades musicais, as quais consideramos indispensáveis à formação dos atores e
atrizes. Deste modo, como procedimentos metodológicos, iremos abordar nos referenciais
teóricos, autores que trabalham com a Antropologia teatral e a Consciência corporal para
fundamentar as ideias relativas à preparação do corpo. Utilizaremos também o conceito da
Rítmica, discutido na área de Educação Musical, que propõe o aprimoramento de habilidades
musicais mediante a utilização de movimentos corporais. Trata-se assim, de propor um diálogo
estético entre aspectos da cultura afrodescendente e o processo de aperfeiçoamento artístico no
teatro e na música para cena.

Palavras-chave: Capoeira de angola; Energia corporal; Rítmica.

“ARROCHA O BUMBA NEGADA”: REPRESENTAÇÕES SOBRE O PÍFANO, A


CIRANDA E O COCO DE RODA DA COMUNIDADE REMANESCENTE DE
QUILOMBOS CAIANA DOS CRIOULOS (ALAGOA GRANDE - PB)

Prof. Me. Janailson Macêdo LUIZ (SEE/PB)

Prof.ª Dr.ª Juciene Ricarte APOLINÁRIO (UFCG)

Em Caiana dos Crioulos, comunidade remanescente de quilombos situada em Alagoa Grande,


Brejo da Paraíba, são tradicionais as “brincadeiras” do pífano, ciranda e coco de roda. O artigo
analisa representações sobre essas manifestações musicais, construídas por seus próprios
praticantes e por agentes externos à comunidade, entre os anos 1949 e 2014, tomando como
fontes depoimentos orais, DVDs, CDs, textos jornalísticos, documentários e relatórios
antropológicos. Representadas pelos “de fora”, pelos outros, como práticas importantes para a
sua identificação enquanto grupo dotado de características próprias, essas manifestações são
apropriadas nas práticas e representações dos moradores do local como elementos essenciais
para o estabelecimento de suas identidades étnicas, definindo as fronteiras entre o nós e os
outros, e colaborando não somente com a manutenção dos saberes transmitidos pelos seus
antepassados, mas para a constituição de sua etnicidade.

Palavras-chaves: Etnicidade; Comunidades remanescentes de quilombos; Caiana dos Crioulos.

RESSONÂNCIAS DA CULTURA AFRICANA EM CANÇÕES INTERPRETADAS POR


CLARA NUNES

Marcela RIBEIRO (UFRN)

Tânia LIMA (UFRN)

Esta comunicação tem como objetivo analisar e expor as influências vindas da África que
ressoam na obra musical de Clara Nunes. Elegemos como objeto de estudo algumas canções
gravadas por ela a partir de 1971, quando se iniciou sua afirmação como cantora, sambista e
figura emblemática no imaginário cultural afro-brasileiro, pois, além de entoar sambas que
retomam nossa afrodescendência, Clara representava em si o que cantava: em 1971 viajou para
a África e de lá voltou convertida ao candomblé e com novos rumos para sua carreira. É quando
sua imagem passa a ser vinculada às religiões afro-brasileiras, cultos que ela seguia,
tendo imprimido no imaginário brasileiro sua semiótica dos anos 80, pouco antes de seu
falecimento: cabelos vermelhos, armados, trajando sempre roupas brancas e guias de entidades
religiosas do candomblé e da umbanda. Para guiar nossa pesquisa buscaremos em Fanona
igualdade entre os problemas do colonizado antilhano e o colonizado brasileiro, a começar pela
linguagem: ao reprimir a linguagem do colonizado, o colonizador mata sua originalidade
cultural, tratando-a como inferir e introjetando a cultura da metrópole como oficial, superior e
única. Nesse mesmo caminho, EdouardGlissant, bebendo da fonte de Deleuze e Guattari, falará
em rizoma, a raiz que se une com outras raízes, aplicado ao princípio da identidade, uma forma
de ver positivamente a diversidade cultural. Assim, parafraseando Fanon, Clara Nunes, ao
buscar representar uma imagem audiovisual afro-brasileira, fará uso de uma máscara negra por
sobre sua pele branca, mas que, com seu canto, ressoa mestiça, rizomática, herança aqui deixada
pela cultura africana.

Palavras-chave: Mestiçagem; Cultura afro-brasileira; Música; Clara Nunes.

IJEXÁ PRA OXUM: MUSICALIDADE E GÊNERO NO PRIMEIRO AFOXÉ DE SERGIPE

Mateus Tayslan Andrade de CARVALHO (UFS)

Mackley Ribeiro BORGES (UFS)

O presente trabalho expõe uma pesquisa feita para conclusão da matéria de Introdução à
Etnomusicologia do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de Sergipe. Os
afoxés, ou como é conhecido, “candomblé de rua”, leva para as ruas seus cortejos com alguns
aspectos característicos do Candomblé, como músicas, danças e as louvações aos Orixás. A
pesquisa fala sobre os afoxés do estado de Sergipe. Sendo o Afoxé Omu Oxum da cidade de
Aracaju, hoje o mais antigo do estado, tem como principal diferença a valorização da mulher
dentro dele e da sociedade, fazendo sempre homenagens as Ayabás, como também avultando a
importância da música para as religiões afro-brasileiras. O afoxé Omo Oxum foi o escolhido
como base para nossa pesquisa pelo diferencial entre os demais. A pesquisa está estruturada em
duas etapas: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo.

Palavras-Chaves: Afoxés; Música; Sergipe.

A SUPERAÇÃO DA DICOTOMIA NEGRO VERSUS BRANCO, NA OBRA DE OSÓRIO


ALVES DE CASTRO

Luiz Antonio de Carvalho VALVERDE (UNEB)

Observaremos como os narradores, na obra de Osório Alves de Castro, apresentam os dilemas


existenciais dos negros, fruto do sistema de opressão, secundado pela ideia de supremacia
europeia, que vê o Ocidente como sujeito e os povos periféricos como objeto de dominação.
Para romper esse bloqueio das energias produtivas, que coloca os negros e mestiços em déficit
existencial perante o Grande Outro, habitando uma zona de conflitos em que a sobrevivência
estrita é a linha de chegada, os narradores, nas obras em estudo, vão propor um desmonte da
dicotomia negro versus branco, através de imagens-síntese que escancaram um novo olhar sobre
a humanidade em sua unidade genética, e multiplicidade cultural. Tomaremos como operadores
de leitura e discussão as ideias de Levinas, Spivak, Fanon, Derrida, entre outros.

Palavras-chave: Negro versus branco; Sujeito do ocidente; Sujeito subalterno; Convergências e;


Pluralidade.

MULHERES E CRIANÇAS AFRODESCENDENTES NAS ARTES VISUAIS


BRASILEIRAS: imagens educam?

Francilene Brito da SILVA (UERJ)


Em investigação bibliográfica sobre o tema da arte afrodescendente, encontramos nas artes
visuais, do período barroco até a contemporaneidade, obras e proposições artísticas como:
retrato, paisagem, poéticas visuais, instalações com formas e conteúdos que trazem imagens de
mulheres e crianças afrodescendentes em diversas técnicas, estilos artísticos pessoais, escolas
estilísticas, estilos históricos, materiais em contextos da história da arte no Brasil, mas, que não
problematizam tal presença da mulher e da criança afrodescendente brasileira. Será que essa
abordagem “despreocupada” não estaria deixando de lado discussões que enriqueceriam a
educação estética brasileira, como um corolário de formas de repensar o racismo e mexer com
construções visuais educativas? Que conexões podemos tecer entre essas imagens e
conhecimentos sociais heterogêneos, na “caixa preta” de nossas experiências cotidianas.

Palavras-chave: Artes visuais; Imagens de mulheres; Crianças. Afrodescendência; Cotidiano.

CUTI: O ELOGIO DA DIFERENÇA

Hugo Leonardo Sales de ANDRADE (UNP)

Luiz Silva, conhecido por Cuti, nasceu em Ourinhos – SP, no dia 31 de outubro de 1951.
Formado em Letras pela USP, é Mestre em Teoria da Literatura e Doutor em Literatura
Brasileira pela Unicamp. Foi um dos fundadores do Quilombhoje Literatura e um dos criadores
dos Cadernos Negros, tendo sido membro da Comissão Nacional do “Primeiro Encontro de
Encontros Negros”. Em sua obra, Cuti focaliza estereótipos e preconceitos presentes numa
sociedade miscigenada, que ignora os problemas enfrentados pela minoria negra. Este trabalho
tem por intuito discutir os poemas “Crespa Cantiga”, “Quebranto” e “Operação Pente-Fino”,
que expõem e criticam comportamentos discriminatórios de uma sociedade preconceituosa onde
os dominados internalizam a cultura do dominador. O suporte teórico para este estudo é dado
pela crítica pós-colonial e pelo conceito de poder simbólico.

Palavras-chave: Estereótipos; Negros; Minoria.

O CANDOMBLÉ EM PAUTA: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO


PERSONAGEM PEDRO ARCHANJO NA OBRA TENDA DOS MILAGRES DE JORGE
AMADO

Alcina Simplício dos SANTOS (UEPB)

Este artigo trata da identificação do senso comum como elemento cultural e valorização do
candomblé através da vivência de Pedro Archanjo personagem da obra Tenda dos Milagres
(1964) de Jorge Amado. É um estudo que analisa etnograficamente a oposição apresentada no
enredo entre o conhecimento popular x saber científico justificado e reafirmado através da
descrição de costumes e da religião de matiz africana. No texto, Pedro Archanjo possui um
conhecimento compatível com o saber acadêmico, mas não dispõe do mesmo prestígio social
por não ser branco e católico. Este aspecto norteará o estudo direcionando a reflexão sobre a
temática da mestiçagem colocada pelo autor e procurando entender a relação existente entre o
candomblé e a construção identitária do personagem do personagem através dos acontecimentos
ocorridos da tenda dos milagres. É um estudo relevante porque contribui para consolidar a
importância da religião africana na formação cultural da sociedade brasileira através da
evidenciação dos costumes e ritos populares.

Palavras-chave: Candomblé; Cultura; Pedro Archanjo; Tenda dos Milagres; Religião.


A MATERNIDADE NA OBRA DE CONCEIÇÃO EVARISTO: UMA LEITURA DE SAURA
BEVENIDES AMARANTINO E SHIRLEY PAIXÃO
Fernanda CÂMARA (UNP)
Este trabalho analisa a representação do amor materno nos contos “Saura Bevenides
Amarantino” e “Shirley Paixão”, da escritora mineira Conceição Evaristo. Nos textos
analisados, podemos ver que o amor materno é apenas um sentimento humano como outro
qualquer e como tal é incerto, frágil e imperfeito. Pode existir, aparecer, se mostrar forte e igual
para todos os filhos ou não. Contrariando a crença generalizada da nossa sociedade, ele não está
necessariamente inscrito na natureza feminina. Saura BevenidesAmarantino já havia tido dois
filhos que foram acolhidos e amados incondicionalmente. A terceira gravidez foi consequência
de um relacionamento fortuito e foi rejeitada por ela de imediato. Contrariando o modelo
clássico do amor materno, ela entrega o bebê ao pai da criança, não querendo ter nenhuma
relação com essa filha. Já na história de Shirley Paixão, o amor materno ultrapassa os vínculos
biológicos da maternidade, visto que a partir de uma união com um homem que tinha 3 filhas,
ela se torna mãe dessas meninas, amando-as e mantendo um relacionamento de cumplicidade
com elas. Este trabalho tem como suporte teórico conceitos da crítica feminista, como corpo
feminino, patriarcado e maternidade.
Palavras-chave: Conceição Evaristo; Crítica feminista; Corpo; Maternidade.

QUARTO DE DESPEJO: QUANDO A RESISTÊNCIA NEGRA E FEMININA SE CRUZAM

Gustavo MATOS (UNP)

Luísa SÍCOLO (UNP)

Carolina Maria de Jesus nasceu na cidade de Sacramento (MG), em 14 de março de 1914. Em


1947, foi para São Paulo, onde viveu a maior parte de sua vida. Negra e pobre, catadora de
papeis, mãe solteira, morava na favela do Canindé com seus três filhos. Andara na escola
somente durante dois anos, mas tinha verdadeira paixão pela leitura. Em cadernos que recolhia
do lixo, escrevia o seu diário, relatando o seu dia a dia no “quarto de despejo”, a favela. Na
década de 1950, foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas e, em 1960, foi lançado o livro
Quarto de despejo: diário de uma favelada, obra que se encontra traduzida em vários idiomas.
Leitora compulsiva, considera que a leitura tem o poder de humanizar, de abrir os olhos para a
opressão e preconceitos do branco contra o preto, do rico contra o pobre, do homem contra a
mulher. Afirma diversas vezes sua liberdade recusando o matrimônio e relata a violência e
sujeição de suas vizinhas aos maridos. Sua obra mostra a situação nas favelas, espaços urbanos
criados após a Lei Áurea pelos negros, que passaram de escravos do branco a escravos da fome.
Para a análise da obra utilizaremos conceitos da teoria e crítica pós-colonial e da crítica
feminista.

Palavras-chave: Quarto de despejo; Crítica pós-colonial; Crítica feminista.

“VOZES-MULHERES” DE CONCEIÇÃO EVARISTO: MEMÓRIAS DA TRAJETÓRIA


DAS MULHERES NEGRAS NO BRASIL

Ludmila GESTEIRA (UNP)


Makson GERMANO (UNP)

Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, no dia 29 de novembro de 1946. Oriunda de


família humilde, mudou-se para o Rio de Janeiro, na década de 1970. Formada em Letras pela
UFRJ, foi durante muitos anos professora da rede pública de ensino. Estreou na Literatura em
1990, na série Cadernos Negros, com a publicação de contos e poemas. O presente trabalho tem
como objetivo analisar as memórias da diáspora negra feminina no poema “Vozes-mulheres”,
que apresenta o drama vivido por gerações de mulheres negras. A avó, ainda menina, veio da
África nos porões de um navio negreiro e passou a vida obedecendo aos patrões brancos, a mãe
continuou a obedecer e ela registrou em versos o sofrimento dessas mulheres. Este trabalho está
embasado em conceitos da crítica pós-colonial e da crítica feminista. O estudo permite afirmar
que a história das mulheres negras no Brasil é feita de sofrimento, submissão e revolta. A
esperança está depositada na filha, que representa a geração que ecoa o passado, mas liberta do
peso da opressão.

Palavras-chave: Memórias; Mulheres negras; África.

VISUALIDADES EM MOVIMENTOS: QUAL O LUGAR DA ARTE CONTEMPORÂNEA


AFRICANA NO CENÁRIO AFROBRASILEIRO?

Luzia GOMES (UFPA/ULHT)

Ao contrário do que se denomina arte tradicional africana, os trabalhos de artistas visuais


africanos contemporâneos, como Kiluanji Kia Henda, Claudia Veiga, Yonamine, Edson Chagas,
Nástio Mosquito, entre outros, estão dentro dos parâmetros ocidentais dos objetos considerados
obras de arte, circulando em museus e galerias internacionais. Entretanto, observo que no
cenário afrobrasileiro e na academia brasileira de um modo geral, ao se refletir sobre as
produções visuais do continente africano, geralmente, privilegia-se a arte tradicional, na qual
destaca-se as esculturas tendo como suporte a madeira, o bronze e em alguns casos, o marfim.
Esses artefatos despertam o interesse tanto dos pesquisadores, quanto dos não pesquisadores.
Nesse sentido, a arte contemporânea africana, que não se restringe a pintura, desenho e escultura
é praticamente invisibilizada. A partir das observações expostas, procuro discuti o lugar ou o
não lugar da arte contemporânea africana no cenário afrobrasileiro. As visualidades em
constantes movimentos geradas pelas produções artísticas desvelam diversas imagens
possibilitando pensar numa África contemporânea e urbana. Mas também, é um ponto de
partida para questionar a História da Arte eurocêntrica e a sua forma de construir a
representação do outro. Considero relevante compreender os trabalhos dos artistas africanos da
atualidade como produção de conhecimento, e, forma de experimentação estética do mundo.

Palavras-chave: Arte africana contemporânea; Cenário afrobrasileiro; Lugar.

O BERIMABAU É O MAESTRO: A MÚSICA DE NANÁ VASCONCELOS, A CULTURA


AFRO-BRASILEIRA E O ESPAÇO ATLÂNTICO(S) SUL

Rinah de ARAÚJO SOUTO (FLUC)

Francisco Orniudo Fernandes FILHO (UFPB/FACCAMP)

O berimbau, enquanto instrumento característico da cultura afro-brasileira, aparece neste estudo


como um artefato cultural proveniente de Angola e que chegou ao Brasil através do trânsito
realizado pelo que alguns estudiosos chamam de espaço Atlântico(s) Sul (Alencastre, 1980;
Vecchi, 2008). Nesta comunicação faremos, num primeiro momento, uma breve exposição
sobre a ideia de Atlântico(s) Sul, que remete a um espaço por onde transitaram vidas, línguas,
costumes e as mais diversas formas de conhecimento. Essa diversidade, contudo, foi
violentamente descredibilizada por uma forma única de conhecimento válido dominante a
eurocêntrica. Num segundo momento pretendemos demonstrar que a música de Naná
Vasconcelos relaciona-se diretamente com o Atlântico(s) Sul na medida em que, até hoje, o
instrumentista pernambucano reflete, através de suas performances, as relações dinâmicas desse
espaço ao trazer nas bases da sua obra musical as influências mútuas entre os povos que por lá
transitaram, principalmente os africanos. Para tanto, iremos nos valer de depoimentos do
próprio músico em causa, um virtuose da percussão, sobretudo ao berimbau, a fim de verificar
como ele próprio percebe essa relação e como a mesma se mostra em sua música, estabelecendo
um diálogo com estudos sobre cultura afro-brasileira e música, com ênfase em artigo de José
Carlos Gomes da Silva (2013).

Palavras-chave: Cultura afro-brasileira; Atlântico(s) sul; Naná Vasconcelos; Berimbau; Música.

O “BRASIL MESTIÇO DE CLARA NUNES: CORES, CHOROS E CANTOS

Leilane ASSUNÇÃO (UFRN)

Este trabalho parte da análise da discografia e artes de capas de trabalhos e de entrevistas dadas
pela cantora Clara Nunes ou sobre ela para desenvolver os conceitos de mestiçagem e hibridez
numa arte que descamba para uma atitude política dessa artista e que serve de ponto de
referência e inspiração para uma discussão que religue ciências humanas e artes, valorizando os
elementos afro-brasileiros como signos de resistência cultural e politização do pensamento.
Apoiam essa discussão autores como Claude Lévi-Strauss, Edgar Morin, Bruno Latour e Michel
Serres.

Palavras-chave: Clara Nunes; Brasil mestiço; Musicalidade; Engajamento; Ciência e arte.

AS PRÁTICAS EDUCACIONAIS DO POVO XACRIABÁ (MG)

Raul Victor Vieira Ávila de AGRELA (UFCE)

Carlos Emílio Barreto Corrêa LIMA (UFRN)

Nas últimas décadas do séc. XX, a instituição escolar tem sido uma realidade para o povo
Xacriabá (MG) do mesmo modo que a escrita (autoria), essa denominada de literatura indígena.
Em 1997 foi publicado o livro O tempo passa e a história fica escrito e ilustrado pelos
professores Xacriabá, José Nunes Oliveira e Domingos N. Oliveira. O presente trabalho analisa
a literatura indígena, especificamente o citado livro, no intuito de perceber como se estabelece
o elo entre a experiência docente como instrumento que fomenta a identidade indígena, pois se
reconhece a escola como espaço de transmissão de conhecimento, valores, hábitos,
pensamentos. Destarte, é interesse do seguinte trabalho situar como se relaciona a atuação dos
professores indígenas com a(s) realidade(s) da(s) aldeia(s) – o ordenamento organizacional
indígena –, pensando as demandas, as memórias, as relações temporais, inevitavelmente
interligados com as lutas e reclames de direito de acordo com a especificidade do processo
histórico.

Palavras-chave: Educação; Indígena; Xacriabá; Identidade.

GT 11 – RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA NO BRASIL

Coordenador: Prof. Dr. Lourival ANDRADE JÚNIOR (UFRN)


O Brasil é formado por uma enormidade de práticas culturais, advindas de sua formação étnico-
histórica, onde a cultura deu o tom das manifestações e representações que se forjaram tanto no
campo como nas cidades. Penetrar nesta rede de significações é um dos objetivos centrais de
muitas pesquisas da área das ciências humanas nos últimos anos no país. Também vale destacar
que os estudos sobre as manifestações culturais africanas que balizaram a formação afro-
brasileira tem demonstrado que ainda temos muito que galgar para preencher lacunas ainda
bastante acentuadas em nossas pesquisas. Esta africanidade precisa se tornar mais presente em
nossas falas e várias são as possibilidades de buscar estas conceituações e aproximações. Este
simpósio temático pretende reunir pesquisas que discutam as diversas formas de re (ligações)
entre o homem e o sagrado em suas mais variadas manifestações sensíveis, gestuais, orais e
materiais e que tenham relação direta ou indireta com as matrizes africanas no Brasil como a
Umbanda, o Candomblé, o Catimbó, a Jurema, o Xangô, o Omolocô, o Terecô, o Tambor de
Mina e tantas outras designações que compõe um cenário ritualístico assentado na
ancestralidade e numa cultura oral em que a mediunidade é fator determinante em muitos cultos.

A RIQUEZA DO SINCRETISMO RELIGIOSO BRASILEIRO

Gleba Coelli Luna da SILVEIRA (IFRN)

Yemanjá ou Iemanjá é um orixá vindo da Africa, sendo seu nome derivado da expressão yoruba
Yéyé omo ejá, que significa "Mãe cujos filhos são peixes"e representado no candomblé pelo
assentamento sagrado que se denomina igba yemanja. No dia 02 de fevereiro é comemorado em
todo o Brasil o dia de Iemanjá, o dia de festa no mar, em homenagem a Iemanjá. Iemanjá é um
mito que atravessou todo o Atlântico, vindo do continente Africano se fundindo com a cultura
brasileira. No Brasil este mito passou a ser considerado um sinônimo de tolerância, de
esperança, amor e carinho. Iemanjá a Rainha do Mar recebe festejos no Brasil, país de grande
sincretismo religioso, por pessoas que pertencem as mais diversas religiões, classes sociais e
níveis culturais. Iemanjá é sim a rainha das águas salgadas e vista pelo nosso povo como a
padroeira afetiva de todo o litoral brasileiro. Existe um sincretismo entre as santas católicas:
Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora de Glória.
Ocorre em certos momentos festas em que as duas são homenageadas. No Brasil tanto Nossa
Senhora dos Navegantes como Iemanjá são homenageadas no dia 02 de fevereiro, e neste dia se
comemora com uma grande e bela procissão através das águas dos rios.

Palavras-chave: Iemanjá; Brasil; África; Sincretismo.

ENCRUZILHADA DO SAGRADO: REPRESENTAÇÕES RELIGIOSAS NO CEMITÉRIO


SÃO MIGUEL

André Luís Nascimento de SOUZA (UFRN)


Bruno Rafael dos Santos FERNANDES (UFRN)
Sebastião Leal Ferreira VARGAS NETTO (UFRN)

O universo religioso afro-brasileiro está repleto de personagens que, de alguma forma, traduzem
os mais variados tipos sociais. Distantes de figurarem estritamente no espaço sagrado do
terreiro, as representações imagéticas de entidades da umbanda e do catimbó-jurema são
utilizadas também em práticas híbridas onde se misturam concepções religiosas afro-luso-
indígenas. Neste sentido, as imagens de Pretos-Velho, Mestres do catimbó e de santos católicos
podem ser encontradas não somente nos terreiros ou em centros específicos onde se desenrolam
ritos religiosos de cunho mediúnico, mas também num lugar bastante significativo: o cemitério.
O espaço destinado ao repouso eterno dos corpos que sucumbem à marcha indelével da vida
escapa à função que lhe foi atribuída a partir do momento em que passa a protagonizar tramas e
dilemas importantes do cotidiano humano. A encruzilhada enunciada no título encontra-se no
Cemitério São Miguel, na cidade de Santa Cruz, pedaço agreste do Rio Grande do Norte.
Recentemente esta cidade ganhou notoriedade ao receber uma vertiginosa estátua de Santa Rita
de Cássia. No entanto, em desacordo ao discurso hegemônico católico, na “terra da santa”
existem práticas que fogem à esfera religiosa do catolicismo, prova disso são os elementos
encontrados sobre um jazigo de um milagreiro, localizado na referida necrópole. No túmulo
podemos encontrar uma gama de símbolos reveladores da pluralidade devocional dos fiéis que
recorrem àquele espaço sacralizado: velas, fitas, ex-votos, várias imagens de santos, imagens de
pretas e pretos-velhos, representações de Zé Pelintra, oferendas, etc. Analisar essas imagens,
relacionando-as com o universo híbrido da religiosidade brasileira é o nosso intento.

Palavras-chave: Hibridação; Devoção; Entidades; Matriz africana.

NAS ENCRUZILHADAS DA VIDA: OS ARQUÉTIPOS DO ORIXÁ POMBAGIRA E A


MULHER CONTEMPORÂNEA

Ms. Marcela dos Santos LIMA (URCA)

Por muito tempo e, ainda nos dias de hoje, Pombagira recebe o arquétipo da “moça da rua”,
“mulher da vida”, gerando vários equívocos e múltiplas interpretações. “Pombagira”,
considerada por alguns pesquisadores como um Orixá feminino cultuada na Umbanda, nosso
lugar de investigação, é a guardiã, mestra da vida, senhora dos caminhos à esquerda dos Orixás.
Esta pesquisa caracteriza-se como uma escrita analítico-discursiva, por localizar-me no centro
da experiência vivida - como médium de umbanda e, como pesquisadora que saboreia as trocas
de conhecimento e a procura questionadora dos caminhos - vários, que tecem os fios da teia dos
mistérios que envolvem o Orixá Pombagira. Tais mistérios, entre a materialidade e a
transcendência, se mesclam, neste artigo, à pesquisa de gênero e no imaginário da mulher
ameaçadora, que afirma sua sexualidade, dona e senhora do seu corpo, de suas escolhas e de
seus caminhos, dona das encruzilhadas - a evocação de um feminino transgressor. Este estudo
insere-se no Núcleo de Estudos em Educação Popular, Escola, Gênero e Relações Étnico-
Raciais - CNPq do curso de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri - URCA, do qual
faço parte como artista-professora-pesquisadora.

Palavras-chave: Pomba gira; Umbanda; Feminino; Estudos de gênero.

MÃES E PAIS DE SANTO: REELABORANDO AS CRENÇAS AFRICANAS NO ESPAÇO


COLONIAL BRASILEIRO

Olga Suely TEIXEIRA

Estudos sobre religião são relevantes sempre, pois mesmo numa sociedade laica, este aspecto
constitui-se em elemento primordial para a elaboração sócio-cultural da identidade dos grupos.
O objetivo deste Ensaio é refletir sobre a relação de gêneros no Terreiro de Candomblé,
enquanto produto dos anseios negros na reelaboração de sua espiritualidade e de suas crenças no
cenário colonial brasileiro. Partindo da pesquisa bibliográfica e utilizando como referencial
teórico alguns nomes como Teixeira (2000) e Verger (1992), são apresentadas algumas ideias
sobre os papeis feminino e masculino no espaço dos terreiros e sobre como estes foram
definidos ao longo do tempo. A abordagem também dá conta do trabalho social do terreiro,
quase sempre invisível para a maior parte da sociedade, embora em menor escala para não fugir
ao tema ensaístico principal. O trabalho não apresenta um final conclusivo, mas abre
precedentes para novos questionamentos a respeito de um tema instigante e ainda alvo do
preconceito de algumas pessoas.
Palavras-chave: Religiões afro-brasileiras; Terreiros de candomblé; Relações de gênero.

MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS DE MATRIZ AFRICANA EM VAU DA SARAPALHA

Ana Maria NUNES (UFPB)

O artigo é uma análise das manifestações e representações das religiões de matriz africana
presentes no espetáculo Vau da Sarapalha, encenado pelo Grupo de Teatro Piollin. Pretende-se
analisar os signos referentes às religiões de origem africana presentes na música, nas expressões
corporais e vocais e nos objetos cênicos que constituem o espetáculo Vau da Sarapalha.
Almeja-se compreender a contextura de representações ritualísticas, ancestrais e mediúnicas
presentes nos diversos sistemas de signos do espetáculo Vau da Sarapalha. Quanto aos
procedimentos metodológicos, pretende-se realizar pesquisa teórica e análise de uma gravação
em vídeo do espetáculo Vau da Sarapalha. Adota-se como referência a abordagem da Semiótica
da Cultura, tendo como base o conceito de modelização. A pesquisa se constitui como um
estudo de caso com abordagem qualitativa, com ênfase nas trocas entre literatura e teatro,
comunicação, semiótica, e teorias da análise do teatro. O artigo é parte da dissertação em
andamento “Vau da Sarapalha: uma abordagem semiótica”, desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Letras da UFPB, sob a orientação da professora Dra. Elinês de Albuquerque
Vasconcelos e Oliveira.

Palavras-chave: Vau da Sarapalha; Religiões africanas; Semiótica; Teatro.

O IMAGINÁRIO DA PORNOGRAFIA NA VOZ DA POMBA GIRA: UMA ANÁLISE


LINGUÍSTICO-ANTROPOLÓGICA DE RITUAIS AFRO-BRASILEIROS

João Irineu de FRANÇA NETO (UEPB)

O presente trabalho realiza uma análise de itens lexicais, nos seus processos semântico-
contextuais, que são utilizados na voz da Pomba Gira, entidade espiritual de rituais afro-
brasileiros. Objetivamos compreender como a significação acerca do imaginário da pornografia,
enquanto manifestação do Eros, se realiza na dinâmica do contexto ritualístico, em que se dá a
interação entre sagrado e profano. Dialogamos teoricamente, com Paul Zumthor, no tocante às
poéticas da oralidade; com Alessandro Duranti, sobre a Antropologia Linguística; com Mircea
Eliade, sobre os aspectos imaginários do ritual; e com Gilbert Durand, sobre os aspectos
simbólicos do imaginário. Os dados analisados foram coletados etnograficamente, por meio de
gravação audiovisual em situações reais de ritos afro-brasileiros na cidade de João Pessoa-PB.
Uma das principais conclusões que os dados da pesquisa nos levam é que não há uma dicotomia
entre a pornografia e o ritual religioso, mas uma mistura de elementos do sagrado e do profano
na constituição da identidade afro-brasileira.

Palavras-chave: Léxico; Pornografia; Eros; Ritual; Afro-brasileiro; Identidade.

O ÚTERO DA RESISTÊNCIA

Alberto Roberto COSTA

Este trabalho é resultado de observações e reflexões feitas a partir das experiências e do contato
com as dinâmicas culturais afro-brasileiras e africanas que dialogam com os estudantes da
educação básica da rede pública da periferia do Distrito Federal. A pesquisa busca identificar os
discursos estéticos produzidos pelas festas de candomblé ketu e pelas manifestações culturais
que nascem no interior dos espaços sagrados. Para tanto, parte da análise dos símbolos presentes
no processo de iniciação à estética do documentário Iroco _ A Árvore Sagrada, dirigido por
Clarice Hoffman. A análise estética dos elementos cênicos presentes nas festas de candomblé
sob a ótica da Etnocenologia nos remete às noções de construções de estratégias e de narrativas
que se contrapõem ao discurso hegemônico do etnocentrismo europeu. Os candomblés
apresentam um contraponto à visão do corpo negro submisso e humilhado imposta pelo
colonialismo no Brasil ao produzirem uma imagem mais coerente com a luta, a resistência e a
ancestralidade dos povos africanos para evitar a mera folclorização e teatralização da
profundidade da cosmovisão africana.

Palavras-chave: Discursos estéticos; A árvore sagrada; Candomblé; Etnocenologia.

O DISCURSO DOS ORIXÁS EM TENDA DOS MILAGRES, DE JORGE AMADO

Rafael Francisco BRAZ (UFRPB)


Dra. Marinalva Freire da SILVA (UEPB-UFPB)

O discurso dos Orixás em Tenda dos milagres, de Jorge Amado é um estudo sobre a questão da
resistência religiosa evidenciada no romance amadiano publicado na década de 70 e através
deste estudo sobre a questão da ideologia religiosa, à luz das considerações de Alves (1984),
Paleri (1990), Smith (2001), Valente (1994) e Orlandi (1997) sobre os costumes afros e o
sincretismo desenvolvido em nosso país, o trabalho vem mostrar a pertinência da religião
africana em meio à opressão, às práticas excludente e, principalmente, a tentativa de
marginalizar a herança cultural africana. Ressaltando o caráter social que possui a obra em
análise, o estudo evidencia a permanência de traços religiosos africanos na sociedade brasileira,
além de demonstrar as variadas formas encontradas pelo povo mestiço a fim de estabelecerem a
sua resistência cultural. Considerando as situações apresentadas na obra é, pois necessário
afirmar que o discurso narrado apresenta-se como suporte para exaltar, desmistificar e incluir a
religião afro no espaço privilegiado que vem sendo reservado às religiões cristocêntricas, uma
vez que a mesma possui características típicas de toda e qualquer religião tida pelos dominantes
como única verdade possível.

Palavras-chave: Religião afro; Discurso; Resistência cultural.

SARAVÁ! SALVE A JUREMA SAGRADA: A FIGURA FEMININA AFRO-RELIGIOSA


RESISTINDO NA PÓS-MODERNIDADE.

Bruna Cristina da SILVA (UPE)


Ms. Jair Gomes SANTANA

A religiosidade afro brasileira é a junção de costumes, práticas e da memória trazidos por negros
e negras que em meio a um mundo e realidades distintas procuraram construir um laço que
ativasse suas formas culturais . Nesse sentido, o presente trabalho visa abordar a temática da
Jurema Sagrada, pratica religiosa que resulta da dupla pertença entre os cultos afro brasileiros e
indígenas especificamente no estado de Pernambuco, destacando a presença da figura feminina
e das formas de exaltação desse gênero dentro do culto, através do respeito, devoção, cores,
vestimentas, adereços, e seus respectivos significados. Mostrando que tanto a Sacerdotisa,
quanto as figuras das próprias entidades na Jurema Sagrada possuem um valor evidentemente
elevado e de muita importância pois as tradições, os ensinamentos são passados através das
gerações, e ambas trazem consigo o domínio de uma pratica cultural e religiosa que na maioria
das esferas religiosas são especificas da figura masculina. Destacando assim, que a
religiosidade popular e as questões de gênero ocupam o campo amplo de discussão pois essas
particularidades culturais se unem ao meio social e compõem um grito das minorias que lutam e
resistem contra a tradição do fundamentalismo religioso na pós modernidade.

Palavras-chave: Religiosidade; Modernidade; Tradições; Gênero; Jurema Sagrada.

UMA PERSPECTIVA ACERCA DA SENSUALIDADE FEMININA NA FIGURA DA


POMBA GIRA

Noemia Dayana de OLIVEIRA (UFCG)


João Marcos Leitão SANTOS (UFCG)

RESUMO: Exu, um dos orixás presentes nos cultos afro-brasileiros, é o responsável pelo elo
entre as esferas do sagrado e profano. Esse orixá possui diversas falanges compostas por
espíritos desencarnados de boêmios, malandros, prostitutas e amantes vingativas. A falange de
Bombojira, popularmente conhecida como Pomba Gira, quando incorporada no “aparelho”
feminino, caracteriza-se pela sensualidade escandalosa que em muito se opõe à visão ocidental
cristã, culturalmente sancionada no uso do corpo da mulher. Nosso objetivo neste trabalho,
portanto, foi analisar a figura da Pomba Gira a partir dos atributos sexuais presentes na sua
manifestação corporal, além de confrontá-los à discussão do cristianismo, que preza pela
discrição dos comportamentos femininos. Os pressupostos teóricos basearam-se nos estudos
feitos por Anjos (2006), Augras (1989), Birman (1985), Bastide (1978) e Eliade (1957). As
análises concentraram-se majoritariamente no campo da Antropologia, uma vez que as
pesquisas feitas no âmbito da História das Religiões sobre os cultos afro-brasileiros ainda são
muito reduzidas. Concluiu-se que as Pombas Giras não sendo entidades nem de luz e nem de
trevas, dialogam diretamente com um corpo casto.

PALAVRAS CHAVES: Sensualidade; Corpo feminino; Pomba Gira; Cultos afros.

TRINTA ANOS DE “QUILOMBO”: RESIGNIFICAÇÕES AFRICANAS E PRÁTICAS


RELIGIOSAS

Dr. Lourival ANDRADE JÚNIOR (UFRN/CERES/DHC)

Em 2014 completar-se-á trinta anos da estreia do filme de longa metragem “Quilombo” dirigido
por Cacá Diegues. A película leva ao público a epopeia do Quilombo dos Palmares e a luta pela
liberdade dos negros no Brasil. Parece um assunto bastante explorado pela filmografia
brasileira, mas a maior contribuição para os estudos sobre a África e os afro-brasileiros é a
leitura das resignificações propostas pelo filme e o papel determinante das práticas religiosas,
principalmente iorubanas, no cotidiano, desenrolar e construção das lideranças de Palmares na
narrativa do filme. “Quilombo” não perdeu sua atualidade e merece uma discussão mais ampla e
profunda sobre os caminhos da luta contra a escravidão e as relações ancestrais dos negros
nascidos no Brasil com a África deixada a força por seus antepassados. Zumbi, Dandara e tantos
outros negros líderes de Palmares são filhos da América, mas pertencentes ao universo sagrado
dos Orixás.

Palavras-chave: Quilombo; Zumbi; Orixás.

MEU CORPO, MINHA CASA

Arilma Soares
As aulas de dança afro brasileira na Escola Municipal Nossa Senhora da Apresentação além da
técnica de corpo são utilizadas lendas dos orixás e outra historias que abordam a cultura africana
como recurso pedagógico. Pretende- se assim através da dança estreitar relações dos saberes
étnicos culturais comuns a africanos e brasileiros, sensibilizando o corpo para despertar seu
imaginário e torná-lo consciente na relação com o outro, reativando memorias corporais
pertinentes a sua ancestralidade. A lenda de iemanjá, uma releitura, que aborda a historia de
uma mulher que estava perdida com seus filho(a)s em uma floresta e ao tocar seu corpo
percebeu que saia muita água e ela podia alimentar seus filhos ao mesmo tempo em que este
excesso de agua tornou- se um rio revelando o caminho de volta pra casa. Uma metáfora da vida
de tantas mulheres, mães sozinhas que sustentam filhos e filhas, que experimentam juntos, uma
luta cotidiana pela sobrevivência. As lendas na escola trazem a reflexão sobre essa realidade de
forma lúdica provendo associações ao contexto familiar, construção da sua corporeidade e
possibilidades de afirmação/identificação enquanto sujeito afro descendente.

Palavras Chave: Culturas; Corporeidade; Dança; Escola; Memórias.

GT 12 – O REGISTRO DAS CRENÇAS TRADICIONAIS NAS LITERATURAS


AFRICANAS

Coordenador: Prof. Dr. Sávio Roberto FREITAS (UFRPE)

Partindo do princípio de que os países africanos ainda são orientados religiosamente em sua
maioria pelas crenças tradicionais, nosso simpósio acolhe trabalhos que tenham como objeto de
análise textos literários africanos em verso ou prosa que evidenciam o registro de mitos e/ou
ritos africanos que sobreviveram às imposições religiosas coloniais de diversas orientações
dogmáticas (protestantismo, catolicismo, anglicanismo, entre outros) impostas pelo colonizador
nos países africanos. A produção literária africana da fase pós-colonial, através das obras de
Paula Tavares, Paulina Chiziane, Luandino Vieira, Pepetela, Ungulani Ba Ba Khosa, Vera
Duarde, Odete Semedo, entre outros, sempre mostram as crenças tradicionais como um traço
identitário que marca a presença da tradição na modernidade no sentido reforçar a ideia de que
há entre os intelectuais africanos uma cumplicidade cultural revelada por meio do registro de
temas denunciadores de uma conduta local impermeável às investidas do colonizador. A
religiosidade é um solo impermeável, uma vez que trazem para o discurso literário um universo
cultural muito específico do povo africano.

A “FÚRIA SAGRADA” DO PADRE TAVARES NA SANZALA VAN DUM (PEPETELA).

Denise ROCHA (Unilab)

A análise do registro literário da permanência de crenças tradicionais na sanzala do holandês


Baltazar Van Dum, como tentativa de sobrevivência das identidades nativas no espaço católico
imposto pelo colonizador português, é o objetivo desse artigo que será baseado nas reflexões de
Durkheim. No romance A Gloriosa Família: No tempo dos Flamengos, publicado em 1997, o
escritor angolano Pepetela evoca um episódio assustador para os moradores -escravos e forros-
da propriedade rural de Van Dum, comerciante de escravos: a chegada do padre Tavares (1645),
que imbuído de uma missão evangelizadora radical e hegemônica, adentrou as cubatas à busca
de objetos sagrados que faziam parte da etnia, religião e identidade dos residentes. Para o
clérigo, a meta era acabar com o sincretismo religioso, no entanto, houve uma resistência velada
de preservação do transcendental em contraposição à inesperada visitação pastoral.
Palavras-chave: Literatura angolana; Pepetela; Crenças tradicionais; Catolicismo; Identidade.

OS ELEMENTOS DO SAGRADO EM A MORTE DO VELHO KIPACAÇA

Cassiana GRIGOLETTO (UFPE/FACEPE)


Dr. Roland WALTER

A oralidade, traço preponderante na cultura africana, passa a figurar também na escrita literária
quando esta começa a fazer parte desse universo cultural, tornando-se um dos modos pelos
quais se recria e subverte a língua do colonizador e se reinventa os elementos da tradição. É
.nesse sincretismo da voz (tradicional africana) e da letra, um dos aspectos de originalidade da
literatura angolana (MATA, 2014), que se inscrevem também as dimensões identitárias da
angolanidade. O escritor Boaventura Cardoso usa essa forma fabular em A morte do velho
Kipacaça (1987) para reinventar a sabedoria popular e reinscrevê-la em outro tempo, contexto
histórico e ideológico. Tomando essa obra como objeto de estudo, pretendemos analisar como
os três contos - “O sol nasceu no poente”, “A árvore que tinha batucada” e “A morte do velho
Kipacaça”- aparentemente independentes, são marcados pelos ritmos e símbolos da
religiosidade e modos de vida africanos, pela interpretação de provérbios, pela poeticidade e
plasticidade na linguagem, buscada na oralidade das cercanias da Quibala (província do Kuanza
Sul). Além disso, objetivamos verificar se os elementos da essencialidade africana que
permeiam as narrativas - o batuque, a árvore, o velho, o fogo – se inscrevem como força e
resistência ao colonizador e/ou marca identitária.

Palavras-chave: Boaventura Cardoso; Crenças e mitos; Angolanidade; Re-tradicionalização.

GT13 – MULHERES AFRICANAS, VOZES SILENCIADAS

Coordenadora: Profa. Dra. Zuleide Duarte

A urgência de inscrever, em caráter irrevogável e definitivo, a escrita feminina africana no


espaço maior de escritores do chamado pós-colonialismo, aponta para a reflexão acerca da
universalidade do texto produzido por mulheres e sua necessidade de ecoar mais longe. Escrever
a vida do lugar reservado a um mundo compartimentado não é prática nem demanda de autoras
que avançam no desnudamento de questões sociais, éticas, étnicas, religiosas e muito mais. Aca-
tam-se textos sobre escritoras africanas oriundas de quaisquer países submetidos aos regimes
coloniais.

DIÁSPORA E PERTENCIMENTO EM A MAP TO THE DOOR OF NO RETURN: NOTES TO


BELONGING DE DIONNE BRAND

Áurea Regina do Nascimento SANTOS (UESPI)


Profa. Dra. Algemira de Macêdo MENDES (UESPI)

O objetivo deste artigo é analisar a obra da escritora Dionne Brand, A Map to the Door of No
Return (2001), uma meditação auto-reflexiva sobre a memória, a identidade e a história da
diáspora Africana. A autora é natural de Trinidad e reside no Canadá desde o ano de 1970.
Dionne Brand expressa a mudança de território como uma fissura entre o passado e o presente,
em uma tentativa de desenhar um mapa do território inexplorado dos seus ancestrais como uma
mulher negra no Canadá. A autobiografia ficcional objeto deste estudo também foca nas
questões de pertencimento embora a autora apresente uma visão inusitada sobre como as
feministas negras devem lidar com essa ideia. Ao buscar por seu passado, Dionne Brand narra
fragmentos de suas memórias pessoais, memórias de viagem e artigos de jornal. A análise da
obra teve como referencial teórico Fanon, Gilroy, Du Bois e Cesaire, entre outros.

Palavras-chave: Dionne Brand; Diáspora; Literatura Afrodescendente; Escrita Feminina.

ENTRE VOZES: A POESIA SEM FRONTEIRAS DE CONCEIÇÃO LIMA E PAULA


TAVARES

Dione Ribeiro COSTA (UEPB/PPGLI)


Profa. Dra. Rosilda Alves BEZERRA (UEPB/PPGLI)

O presente trabalho traçará algumas reflexões e considerações a respeito da poesia de Conceição


Lima, natural de Santana, ilha de São Tomé e Príncipe e Ana Paula Tavares, de Huíla, sul de
Angola, levando-se em conta o contexto histórico-social e as condições em que os referidos
países africanos eram submetidos, como também, a luta de ambas em prol da mesma causa
referente as suas respectivas nações, que é justamente a independência e liberdade do seu povo.
Sendo assim, esse trabalho se propõe investigar como são feitas as articulações poéticas em
relação a memória, pertencimento e identidade feminina, em termos de resistência e superação
das barreiras impostas pelo processo colonial presentes nas produções das duas autoras
africanas. A partir desse ponto de vista, utilizaremos como aporte teórico, os estudos de Hall
(2003 ), Glissant (1928 ), Mata (2006), Queiroz (2012), Secco (2006), Fernandes (2011),
Laranjeira (2006), Hamilton (2006) e Padilha (2006) entre outros autores que de alguma
maneira tratam do mesmo tema.

Palavras-chave: Pertencimento; Identidade feminina; Independência; Liberdade; Memória.

SÓ A INSTRUÇÃO APAGA NOSSA COR:


AS PERSONAGENS COLONIZADAS DE LÍLIA MOMPLÉ

Maria Gorette de Brito Silva (PPGLI/UEPB)

A fim de evidenciar a literatura africana feita por mulheres, esse estudo tem irá refletir sobre as
marcas da pós-colonização representadas nas personagens Violante e Celina no conto “O Baile
de Celina” de Lília Momplé. Conto que rendeu à escritora o Prêmio Caine para escritores de
África em 2001. A história gira em torno do esforço das personagens femininas em conseguir
uma condição social mais elevada por meio da “instrução”. Mulheres ligadas pelas marcas da
subalternidade, desvalorização feminina, exclusão social, racismo e memória. Temáticas
presentes nas obras dessa escritora moçambicana que escreve uma literatura engajada em
pontuar as dificuldades sociais presentes numa Moçambique pós-guerra. Lilia Momplé discute
as dificuldades que a mulher sofreu no período histórico da guerra civil que durou 16 anos e
aconteceu após a Independência de Moçambique em 1975.
Palavras-chave: Pós-colonização; Valorização feminina; Racismo; Lília Momplé;
Moçambique.

PAULINA CHIZIANE: CANTANDO A AFRICANIDADE FEMININA

Severino Lepê CORREIA - UEPB

O texto de PaulinaChiziane é uma inadequação às verdades ditas sobre as mulheres africanas


sob a ótica dos machos, visto que não propõe o afastamento em se tratando de enfrentar o
inimigo comum. O estudo pretende mostrar através do Alegre Canto da Perdiz, numa
abordagem feminina pós-colonialista produzida pela primeira mulher moçambicana a publicar
um romance, a história da mulher africana; assinalar como uma guerrilheira da FRELIMO,
nascida de uma família protestante, com sagacidade e olhar feminino consegue traçar, através de
suas personagens – Delfina, Maria das Dores e Jacinta – um panorama denunciador da situação
dramática da África a partir do que os outros fizeram dela. Através da rebelde Delfina que, tira
as mulheres do anonimato, desordena a moral pública, desafia os hábitos locais, invadindo e
profanando o santuário dos machos, Paulina mostra como a mulher africana, orgulhosa de suas
origens, buscou suas próprias estratégias de sobrevivência. Com muita seriedade e ironia sem
perder o amor, a poesia, o misticismo e os caminhos da tradição, põe no ar um grito contra a
submissão feminina, demonstrando que o “nascer, parir e morrer”, não cabe mais no caminho de
quem, pela via do olhar feminino, só vê desafios, dando voz às mulheres no caminho da
reconstrução da identidade: única forma de poder reelaborar e subverter as relações
estabelecidas relendo os mitos.

Palavras-Chave: Africanidade; Feminismo; Literatura; Pós-colonialismo; Resistência.

A ESCRITA DE SI E DE RESISTÊNCIA EM PAULINA CHIZIANE

Maria Dnalda Pereira da SILVA (UEPB)


Profa. Dra. Zuleide Duarte (UEPB)

Compreendendo a literatura como espaço de construção desentidos, de expressões e vivências


de homens e mulheres que a produzem, destacamos a literatura de Paulina Chiziane como
expressão literária do universo cultural, subjetivo, histórico, social e político do sujeito negro, e
sobretudo, da mulher moçambicana. Assim, objetivamos analisar na obra O Sétimo Juramento
como a mulher ganha espaço tanto na sociedade moçambicana, quanto na própria literatura,
bem como atentar para escrita dessa autora como uma escrita de resistência, na medida em que,
por meio da afirmação identitária, da denúncia, da resistência feminina, ela (re) significa seus
valores culturais, seu o modo de viver, sua tradição. Desse modo, observamos que Chiziane traz
para as páginas literárias a condição da mulher, de forma que nos possibilita vislumbrar a
escrita/vivência da própria escritora, o que pode configurar uma escrita de si, tendo em vista que
a própria Chiziane aponta “para a necessidade de transformação da mulher em elemento ativo”
e, isso é possível por meio de sua escrita. Para tanto, realizaremos uma análise crítica da acima
citada, tendo como aportes teóricos estudos como Bhabha, Chabal, Hall, Fonseca, dentre outros
que se fizerem necessários.

Palavras-chave: Escrita feminina africana;condição subalterna; resistência

DUAS PONTAS DO LAÇO: IDENTIDADE E PÓS-COLONIZAÇÃO


NAS PERSONAGENS DE LÍLIA MOMPLÉ E MIA COUTO

Maria Gorette de Brito SILVA (PPGLI/UEPB)

Este estudo tem por objetivo observar as questões de identidade e pós-colonização por meio das
personagens idosas dos contos “Os olhos da Cobra Verde” de Lília Momplé e “A avó, a cidade
e o semáforo” de Mia Couto. Essas personagens estão ligadas pelas marcas da ancestralidade,
valorização feminina, exclusão social, memória e pela dicotomia entre o velho e o novo.
Temáticas presentes nas obras desses dois escritores moçambicanos que escrevem uma
literatura engajada em pontuar as dificuldades sociais de uma Moçambique pós-guerra. Através
da avó Facache, Lilia Momplé discute os danos que a mulher sofreu no período histórico da
guerra civil que durou 16 anos e aconteceu após a Independência de Moçambique em 1975. A
avó Ndzima de Mia Couto representa o choque entre as tradições e valores das aldeias e as
ilusões trazidas pela sociedade pós-colonial.

Palavras-chave: Identidade; Pós-colonização; Ancestralidade; Valorização feminina;


Moçambique.

MULHER, NEGRA E FEITICEIRA: O INSÓLITO EM EU, TITUBA, FEITICEIRA... NEGRA


DE SALEM DE MARYSE CONDÉ.

Rodrigo Luiz.C.B.FISCHER

Em Eu, Tituba, feiticeira... negra de Salem, de 1986, a escritora antilhana Maryse Condé
recupera a personagem Tituba e sua participação na trama criada por Arthur Miller em As
feiticeiras de Salem, de 1953. Marcada pela presença do insólito ficcional, o romance explora o
episódio de Salem sob o ponto de vista da escrava, desde antes chegar ao vilarejo até depois do
incidente. Este recurso permite que Condé subverta não somente a narrativa de Miller ou a
questões históricas, mas levante temas que dialogam com os Estudos Culturais, tais como
escravidão, colonialismo, gênero e identidade. Esta pesquisa visa, assim, analisar o papel da
escrava/feiticeira como estratégia narrativa que descontrói o estereótipo negativo associado à
figura lendária da bruxa. Pois o mito, na obra, é reabilitado em símbolo de resistência e
libertação, e a imagem da mulher passa a ocupar a posição de sujeito da história e de heroína
ficcional.

Palavras-chave: Escravidão; Colonialismo; Gênero; Identidade; Insólito Ficcional.

GT14 - A TRANSIÇÃO DO SÉCULO XIX PARA O SÉCULO XX: DISCURSOS


CIENTIFICISTAS; PRECONCEITOS; ESCRAVIDÃO E NEGROS NAS
REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS BRASILEIRAS

Coordenadoras(es): Profa. Dra. Renata Pimentel (UFRPE) e Profa. Dra. Tâmara Abreu (UFRN)

O longo período de transição do século XIX para o XX pode ser considerado chave para
compreensão de muitos estereótipos e preconceitos que se mantiveram como discursos das
ciências sociais incipientes e comportamentos opressores, vigentes ainda hoje, sobretudo no que
tange às ditas minorias (negros, mulheres, pessoas com comportamentos sexuais e sociais fora
da “norma”). Nesse momento imperam discussões sobre raça, sexualidade, gênero, sempre se
estabelecendo padrões de normalidade e patologia. Obras como as de Aluízio Azevedo; Adolfo
Caminha; Machado de Assis, Cruz e Sousa; Euclides da Cunha; Lima Barreto; Monteiro Lobato
dialogam com teorias como as de Comte; Taine; Spencer e Darwin (também de críticos e
pensadores brasileiros: Raimundo Nina Rodrigues, Edgard Roquette-Pinto, Sílvio Romero,
Gilberto Freyre ou Josué de Castro). A partir desse universo de conexões podem se promover
discussões que atravessam transformações no pensamento sociocultural brasileiro (dos
conservadores aos questionadores), chegando-se a embates de opiniões e recepções (que
festejam ou repudiam) tais obras literárias, sobretudo no que tange à temática da negritude, da
escravidão, da condição feminina. Este Simpósio Temático tem como objetivo detectar o quanto
do pensamento que serviu de alicerce para a formação da Antropologia e da Cultura no Brasil,
ainda no século XIX, persiste até hoje, só que com nova roupagem, para criminalizar grupos e
movimentos sociais e, ainda, procura desconstruir – sob a égide de patrulhamentos de discursos
de grupos – a rotulação de condenação aos autores que cabem no espectro do estudo aqui
proposto.

HOMOAFETIVIDADE EM QUESTÃO: UMA CONFIGURAÇÃO HISTÓRICA DA QUESTÃO


DE GÊNERO EM BOM CRIOULO DE ADOLFO CAMINHA.

Eveline Pereira de Amorim ALMEIDA (UEPB)

Esta pesquisa pretende apresentar uma reflexão acerca da literatura e da configuração histórica com
relação ao gênero e os estudos acerca deste, tomando como ponto de partida o início do século XX,
destacando suas condições de produção e circulação, bem como as tendências e/ou novos rumos da
criação literária nacional. A partir da análise acerca da homoafetividade e dos 'vieses' que se abrem
nessa relação de gênero. Para tanto, propomos refletir a obra Bom Crioulo, como fonte de
interpretação da narrativa de Adolfo Caminha, em diálogo com os assuntos das relações
homossexuais em questão: a paixão, o orgulho, o preconceito, e a narrativa histórico-social, que
transmite um mundo que só é possível adentrar através da linguagem expressa nesse romance tão
polêmico, que busca a alteridade do discurso, que vai contra os padrões morais da época e que tais
configurações sociais ainda persistem até o século XXI, descortinando novas visões para o ser
humano como um ser social e que modifica o meio em que vive.

Palavras-chave: Contexto histórico; Paixão; Homoafetividade; Orgulho; Preconceito.

Palmares por Arthur Ramos, a construção da epopeia do Negro brasileiro nas décadas de 1930 e
40
Thyago Ruzemberg Gonzaga de Souza (UFRN)

Palmares, antes visto no pensamento social e na historiografia como “inimigo” da civilização


brasileira, passou ao status de herói nacional, entre o final do século XIX e a segunda metade do
século XX. Essa transformação de perspectiva pode ser observada nos escritos de Arthur
Ramos, durante as décadas de 1930 e 40. Esse antropólogo (médico de formação e carreira)
produziu o Quilombo dos Palmares como obra do Negro brasileiro. O nosso objetivo, é analisar
o Palmares composto por Arthur Ramos no livro “The negro in Brasil” de 1939, relacionando a
construção desse espaço imaginativo com a tradição historiográfica e o “teatro de construção”
em que o autor estava inserido. Arthur Ramos se posicionou como herdeiro de Nina Rodrigues,
continuando a preocupação deste em investigar as populações negras no Brasil, talvez por causa
dessa herança, jamais tenha se livrado totalmente do discurso racializado. Todavia, dentro de
um olhar da antropologia cultural das décadas de 1930 e 40, colocou Palmares como espaço da
resistência ao processo de aculturação imposto aos escravos no Brasil; também influenciado
pela prática da etnografia passou a perceber esse negro como sujeito de sua própria história,
igualmente, fundamentado em trabalhos do Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano e do
Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, escreveu uma narrativa epopeica sobre o
Quilombo.

Palavras-chaves: Historiografia; Negro brasileiro; Palmares; Arthur Ramos.

UMA LEITURA DO CONTO "PAI CONTRA MÃE": UMA REFLEXÃO SOBRE A


CONDIÇÃO DA MULHER ESCRAVA A PARTIR DA IRONIA

Nyedja da Silva PINTO (UFPB)

Machado de Assis aborda em seu conto "Pai contra mãe" temáticas que faziam parte da
sociedade carioca, já no fim do Segundo Império, como a escravidão, a tirania, a crueldade e a
hipocrisia, problemáticas que perduram até os dias atuais, através de um discurso irônico e
crítico, com o objetivo de revelar as relações de poder estabelecidas, a partir das dissonâncias
socioeconômicas, suas causas e consequências. Destarte, faz-se relevante analisar a temática da
escravidão através da personagem Arminda, do conto "Pai contra mãe", a partir da ironia, pois
Machado traz à tona, não apenas, a escravidão relacionada à cor da personagem, mas também a
sua condição de mulher escrava, que luta pela sua vida e a do seu filho, diante de um sistema
escravista e capitalista: luta que é vivenciada mesmo após a abolição da escravatura, por
mulheres negras, estas não mais aprisionadas por grilhões, mas por uma sociedade machista e
preconceituosa, na qual a mulher não detém o mesmo poder de liberdade do homem. Assim,
buscamos refletir sobre a posição diferenciada do olhar proposto na de Machado diante da
sociedade e da condição do homem que nela vive, pois, diferentemente de tantos escritores de
sua época, ele analisa de forma irônica e crítica a escravidão, desnudando a realidade senhorial.
Como embasamento teórico utilizaremos Muecke (1995), Bernd (1987), BOSI (1994), entre
outros.

Palavras-chave: Machado de Assis; Século XIX; Mulher escrava;, Preconceito, Marginalização.

O PROBLEMA DA IDENTIDADE NACIONAL: A CONTRIBUIÇÃO DE OS SERTÕES DE


EUCLIDES DA CUNHA PARA A FORMAÇÃO DA IDEIA DO PENSAMENTO SOCIAL
BRASILEIRO

Aline CASTILHO (UFRPE)


Camila BORGES (UFRPE)

Este artigo tem o objetivo de propor uma análise aprofundada do pensamento exposto por
Euclides da Cunha no livro Os Sertões no que diz respeito a sua abordagem sobre questões
raciais e miscigenação como fator primordial para a construção do tipo sertanejo e que serviu
como um dos pontos de partida para a produção de estudos que forneceram a base do que vem a
ser pensamento social brasileiro na contemporaneidade. Os Sertões não é verdadeiramente uma
obra de antropologia, sociologia, geografia ou botânica e, ao mesmo tempo, preenche todas
essas classificações pela versatilidade e pelas influências que o autor recebe das teorias
evolucionistas vindas de fora no contexto de formação das ciências sociais no Brasil. Assim,
pode-se afirmar que o tema abordado por Euclides da Cunha norteia a maioria das discussões,
ainda na década de 1930, sobre a definição do homem brasileiro e da própria construção de uma
“identidade nacional”. Estas referências estão presentes, por exemplo, nas reflexões sobre o
homem situado na definição dada por Gilberto Freyre e na do homem cordial em Sérgio
Buarque de Holanda. Com isso, pretende-se fazer uma crítica a discussão teórica da ideia de um
“povo brasileiro”, pois essa produção se dá em uma perspectiva quase sempre restrita e
excludente.
Palavras-chave: Euclides da Cunha; Os Sertões; Darwinismo social; Evolucionismo;
Pensamento social brasileiro.

TIA NASTÁCIA E A INSTAURAÇÃO DO ESPAÇO MATRIARCAL


NO SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO
Sherry ALMEIDA (UFRPE)

A personagem Tia Nastácia, das histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo, tem suscitado inúmeras
especulações sobre uma possível visão preconceituosa de Monteiro Lobato em relação aos
negros. Entretanto, os mesmos livros que parecem tão discriminatórios trazem argumentos
suficientes para que se desconstrua essa visão deletéria da obra de Monteiro Lobato. As ações e
falas da Tia Nastácia, quando lidas de maneira contextualizada, constituem-se índice de
subversão e de desejo de igualdade sócio-racial por parte do autor. O objetivo deste trabalho é
especular que o Sítio pode ser visto como espaço de subversão à ordem social brasileira. Mais
especificamente, queremos mostrar que Lobato apresenta como figuras de autoridade e de
gerência Dona Benta e Tia Nastácia, assumindo esta, ao contrário do que costumeiramente se
indica, não uma condição subalterna àquela: Tia Nastácia apresenta-se como responsável pela
administração do Sítio e educação das crianças de maneira cooperativa à Dona Benta. Isso nos
permitiria afirmar que ela se configura como personagem indispensável na instauração dessa
“ordem matriarcal”. Para tanto, analisaremos três obras do Sítio: Caçadas do Pedrinho, O poço
do Visconde e Reforma de Natureza, tendo como base de apoio as ideias de J.J. Banhofen e
Émile Durkheim sobre matriarcado, além de estudos de Marisa Lajolo sobre a obra de Monteiro
Lobato.

Palavras-chave: Monteiro Lobato, Sítio do Pica-pau Amarelo, Tia Nastácia, Matriarcado

De abolicionistas a africanistas: contradições na literatura brasileira 1900-1945

Tâmara Abreu (UFRN)

Que o conceito de raça, o positivismo de Comte e o darwinismo social de Spencerpermeiam a


maior parte dos discursos de intelectuais brasileiros da primeira república já não é novidade.
Mas a naturalidade com que a perversa concepção de hierarquia racial transparece nos
interstícios das falas de alguns dos narradores e dos personagens mais insuspeitos da literatura
brasileira da primeira metade do século XX sugerehaver contradições maiores do que se
costuma supor na formação do pensamento nacional. Fala-se aqui da centralidade da noção
histórica – e equivocada – de raça para aapreensão da sociedade brasileira durante oprimeiro
período republicano e o Estado Novo; basta ver o quanto o próprio termo (raça) era empregado
exaustivamente tanto na imprensa quanto na literatura, contribuindo para balizar todo um
sistema de disposições para sentir e pensar ohomem brasileiro miscigenado que perdurou por
muito tempo, e que, embora em outro contexto e sob outras formas, ainda perdura na sociedade
brasileira. Interessa-nos estudar as representações do negro em um grupo de obras literárias que
via de regra são analisadas a partir de perspectivas opostas: umas reputadaspor veicular imagem
inferiorizada do negro (consideradas racistas portanto); outras por valorizar seus personagens
negros com crítica às elites edenúncia das desigualdades sociais,pelo seu ataque às instituições
que promoveram a escravidão, por seu respeito à cultura afro-brasileira – inclua-se entre elas
textos de Joaquim Nabuco, Machado de Assis, Lima Barreto, Jorge de Lima,Monteiro Lobato,
Graciliano Ramos, Jorge Amado. São textos publicados predominantemente entre 1900 e 1945,
nos quais se pode entrever,diluídasna dicçãode seus atores,as contradições inerentes aos filhos
de um paísde cultura colonizada, hibridizada, compósita, incrustada em uma mentalidade
herdada do escravismo e, ao mesmo tempo, revestida de anseios de progresso, liberdade e
democracia.

“O QUE É QUE A MORENA TEM?”: UM BREVE OLHAR SOBRE A REPRESENTAÇÃO


DA MULHER NEGRA E MESTIÇA NA TRADIÇÃO POÉTICA BRASILEIRA ATÉ O
ALVORECER DO SÉCULO XX

Galiana Brasil

Seguindo a trilha dos estudos sobre colonização e identidades, atentos aos desvios desse
caminho labiríntico, buscamos, neste artigo, refletir sobre representações da mulher negra e
mestiça que se desdobram e proliferam na tradição poética brasileira (a partir de expoentes
como Gregório de Mattos e Manuel Bandeira); sem ignorar seu rebatimento em traços culturais
da contemporaneidade (o carnaval e os meios de comunicação de massa). Apoiamo-nos em
noções teóricas como: o conceito de hibridação (Canclini: 2001), identidade (Hall: 2005) e
canibalismo amoroso (Sant‟anna: 1984), na tentativa de revelar dinâmicas das relações de
poder; mecanismos de inferiorização social, racial e sexista que funcionam ainda como artifícios
de cristalização ou questionamento de estereótipos e preconceitos.

Palavras-Chave: representação de gênero e raça; hibridação; poesia brasileira; identidade

“AGORA CHEGOU MINHA VEZ. NEGRO TAMBÉM É GENTE, SINHÁ!”: TIA


NASTÁCIA COMOSUJEITO DO DISCURSO E NARRADORA GRIOTNAS
HISTÓRIAS DO SÍTIO DO PICAPAU AMARELO.
Dra. Renata Pimentel

Se, na primeira metade do século XX, Monteiro Lobato foi censurado, por ser ateu e por
discordar da política brasileira relativa ao petróleo, nos últimos quinze anos, é visto como
racista e preconceituoso. Observa-se, então, que, infelizmente, não se lê a sua literatura dedicada
às crianças com os olhos de uma criança, mas de adultos que se obstinam em encontrar (para
eliminar) o que não for politicamente correto e que não conseguem enxergar a contribuição à
fantasia infantil que o imaginário das histórias do Sítio oferece – contribuição que é a função
precípua do texto literário. Livros como Caçadas do Pedrinho (acusado de conteúdo
preconceituoso, levou o Supremo Tribunal Federal a discutir seu uso pela rede pública de
ensino) oferta material suficiente para contrariar tal acusação. Nele, como em vários outros de
seus livros infanto-juvenis, Lobato faz o que raros autores fizeram em sua época: põe o
negro como sujeito do seu discurso (aquele que fala), e não apenas como objeto estético (de
quem se fala).Em Histórias de Tia Nastácia, Lobato coloca a cozinheira do sítio como
detentora da voz da sabedoria que contará, aos outros personagens, histórias da oralidade
propagadas e preservadas na memória de seu povo. Ao contrário, portanto, do que vários
autores insistem em afirmar, a representação da personagem Tia Nastácia constitui-se como
uma valorização do saber popular de uma cultura ancestral, e não como ridicularização e
racismo. Lobato deixa claro o poder discursivo que oferece à Nastácia já ao denominar como
serões os momentos em que ela conta suas histórias, tal como faz com Dona Benta quando esta
narra aos netos histórias do seu conhecimento obtido em suas leituras. É possível, pois,
especular que Tia Nastácia nos é apresentada como principal voz subversiva (verdadeira
griot) contra o prec