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CADERNO DE RESUMOS
Natal RN
Maio -2014
Apresentação
Dos Organizadores
GT 01 – LITERATURA INFANTO-JUNVENIL AFRO-BRASILEIRA E AFRICANAS
DE LÍNGUA PORTUGUESA: CONSTITUIÇÃO ESTÉTICA DA COMUNIDADE E
PARTILHA DO SENSÍVEL
Coordenadores(as): Profa. Dra. Ilza MATIAS; Profa. Ms. Concísia Lopes dos SANTOS e Silvia
Barbalho BRITO
Com o advento da Lei 10.639 e, mais recentemente, da Lei 11.645/08, a abordagem das relações
étnico-raciais e o trato de componentes temáticos inerentes à história, cultura e literatura
africana e afro-brasileira na escola passaram a figurar mais concreta e sistematicamente nos
autos da educação brasileira. O presente artigo tem como escopo refletir sobre a relevância da
literatura infanto-juvenil de expressão africana no pensar/fazer da escola pública nacional.
Amparados nas contribuições de Candido (2004), Zilberman e Silva (1990), Coelho (1995),
MEC (2006) e Souza e Lima (2006), principalmente, traçar-se-á um percurso que parte do papel
do texto literário na escola e perpassa aspectos históricos, sociais e culturais presentes,
especificamente, na literatura afro-brasileira para crianças e jovens. A discussão final é
instaurada em torno de trilhas didático-pedagógicas que possam nortear um trabalho
referendado no que se referir às ações afirmativas, à validação identitária e à efetivação de
espaços de partilha do sensível, estética da comunidade e diversidade, a partir das práticas
literárias, no espaço escolar. Toma-se, aqui, o entendimento de literatura como direito
inalienável de todo cidadão, alinhada à concepção de que pertencendo a todo cidadão, a
literatura precisa construir-se na escola como voz de todas as gentes, de todos os povos, de
todas as cores.
Jacques Rancière, filósofo francês, em seu Políticas da Escrita (1995), compreende o conceito
de escrita como político por ser o conceito de um ato que permite a partir dele um
desdobramento e uma disjunção essenciais ao seu entendimento. Escrever é um ato que precisa
significar aquilo que realiza, estabelecendo relações entre aquele que escreve, sua motivação, o
assunto de que trata, como e para quem/por quem escreve. Escrever ocupa o sensível, dando
sentido a essa ocupação. Não é apenas uma competência, é coisa política, pois pertence à
maneira como a comunidade se constitui esteticamente, alegorizando essa constituição e
realizando uma partilha do sensível. Júlio Emílio Braz, escritor afro-brasileiro, realiza uma
partilha do sensível ao trazer a lenda “A Viúva Velha”, originária dos Chagas – povo de origem
Quibundo, de Angola - em seu livro infanto-juvenil Lendas Negras (2001). Isso se dá porque o
escritor consegue, a partir do resgate da lenda, estabelecer uma relação entre o conjunto comum
de africanidades partilhado entre os povos africano e brasileiro, ao mesmo tempo em que divide
as partes que lhes são exclusivas. Pretende-se, pois, neste estudo de análise literária, fazer
perceber como se constrói essa partilha.
O mundo começa na cabeça, de Prisca Agustoni, sob a ótica de Minosse, personagem principal
do livro, uma menina beirando seus dez anos, coloca-nos em face à seguinte afirmação situada
nas discussões dos pensadores Deleuze e Guattari (1996, p.37): A cabeça humana implica uma
desterritorialização em relação ao animal, ao mesmo tempo em que tem por correlato a
organização de um mundo como meio ele mesmo desterritorializado. Afirmamos, motivadas por
essa concepção, que Minosse terá nessa narrativa um duplo papel: o de uma Minerva infante,
pequena pensadora desterritorializada de sua origem africana e o da fabuladora que organiza o
mundo desterritorializado como uma artista da cabeça, na qual as cabeleiras constroem uma
nova natureza, trazendo em si forças transformadoras e nômades que metamorfoseiam visões de
mundo e fazem emergir corpos e vozes. Os fios dos cabelos serão os condutores de uma
experiência estética de uma outra beleza, a da africanidade, nos cabelos crespos, nos cabelos-
ninhos, ou cabelos-ondas que se lançam a memórias longínquas. Tal experiência nessa narrativa
infanto-juvenil remete ao que não pode ser subjugado ou tratado como representação branca
hegemônica e homogeneizadora. Assim, é que essa obra nos permite traçar a africanidade
enquanto passagem a sentidos outros, abertos à inserção de alteridades nascentes.
Esta pesquisa objetiva analisar o imaginário dentro da obra infanto-juvenil de Mia Couto “O
Beijo da Palavrinha (2006)” que, protagonizada por dois irmãos, tematiza um conjunto
abrangente de questões que ecoam na obra deste escritor moçambicano. As imagens da morte,
da infância, e das tradições culturais da África juntamente com as duras condições de vida se
desenvolvem de forma alegórica e bastante poética na narrativa. Serão exploradas imagens
como a “leitura simbólica” da palavra mar, feita de voos, de ondas, de pássaros e de rochas, que
fazem parte da imaginação de Maria Poeirinha, personagem principal do enredo. A partir da
relação das imagens descritas no livro e até mesmo das ilustrações do próprio, este artigo ainda
pretende versar sobre o desenvolvimento da dimensão imaginária que ocorre por meio da
ligação das palavras com a percepção da leitura. Para isso, a abordagem metodológica da
pesquisa se dará por meio de levantamento bibliográfico e será fundamentada a partir dos
estudos teóricos de François Laplatine (1997) e Gaston Bachelard (2013) acerca do imaginário e
da sua construção.
A escola no Brasil vem ao longo da sua existência ignorando o público que a forma, diverso e
herdeiro de diferentes culturas. No momento que a escola inseriu o ensino de arte, além de
colocá-lo como algo de pouca importância, estabeleceu um currículo baseado na ideologia de
dominação europeia. O arte-educador em muitos casos se tornou o reprodutor da fórmula
estabelecida em nossa História. E os protagonistas da educação básica, as crianças, necessitam
de reconhecer-se em seu contexto escolar e para isso elas precisam de uma diversidade de
referenciais estéticos que colabore em seu processo cultural formativo. O que hoje reflete no
processo formativo e na autoestima de crianças negras que não conhecem as histórias de origem
do seu povo, pois a barreira histórica levantada pelo preconceito afastou da educação sistêmica
os contos e mitos tradicionais africanos e afro-brasileiros que trazem heróis e seres encantados.
Com base em Hampaté Bâ a tradição oral será vista como um caminho na formação da
identidade cultural e pode na contemporaneidade, por meio dos contos e mitos, ser uma
paisagem no processo de formação da identidade cultural de crianças negras. E também um
espaço de reflexão crítica de uma prática em arte-educação, que valoriza e relaciona-se com os
nossos recursos multiculturais.
Palavras- Chave: Tradição oral; Identidade cultural; Contos; Mitos tradicionais; Arte-educação.
O presente trabalho é fruto de uma pesquisa em andamento no qual são analisados livros do
Programa A cor da cultura, no sentido de identificar e refletir acerca da imagem das mulheres
negras. Neste momento examinamos o livro A botija de ouro de Joel Rufino dos Santos e
verificamos que a imagem feminina é mostrada com uma força integradora e anunciadora de
possibilidades de mudanças sociais. Encontramos na leitura elementos importantes para o
fortalecimento da concepção de humanidade da população negra, e as resistências engendradas
ao sistema opressor. Dessa forma o resultado dessa investigação estará inserida no conjunto
de trabalhos que contribuem para desnaturalizar a inferioridade das pessoas escravizadas bem
como virá fortalecer o processo de mudança da mentalidade social, na qual ainda é visível
a forte presença do preconceito racial e de gênero.
O objeto do presente estudo é o livro O menino grapiúna (1982), do escritor baiano Jorge
Amado. Espécie de autobiografia literária, nele, o autor conta histórias de sua vida dos dez
meses até aos dezenove anos de idade, em 18 capítulos. O livro recebe o nome que foi dado às
pessoas que desbravaram a região do cacau, na Bahia – grapiúna. O estudo terá como base a
escritura a partir do relato de experiência, conforme a cena do discurso. A palavra que parte do
discurso oral, de quem conta o que viveu, e que não procura um “lado da verdade”; mas sim a
“textura” das coisas, a sua expressividade, o seu “valor”. Terá também, o olhar sobre o narrador,
a partir do ponto de intercâmbio de experiências, “a fonte a que recorreram todos os
narradores”, nas palavras de Benjamin. Nada de análises psicológicas, apenas memórias,
lembranças, histórias contadas.
O laço entre os continentes separados pelo Atlântico, o enlace entre o Brasil e Angola revela um
fluxo cultural latente em que subjaz um discurso pós-colonial a partir da experiência narrativa
na obra “O ano em Zumbi tomou o Rio”. Agualusa experimenta um artifício fabular ao
incorporar a figura icônica do herói contra-hegemônico de Zumbi para ilustrar a jornada de um
coronel do Ministério de Angola que se auto exila no Rio de Janeiro. Ele se prepara para tomar
de assalto uma realidade contrastante e dialética dos morros cariocas ao se insuflar em uma
explosão de revolta dos marginalizados das favelas para com os do “asfalto”. O que se observa é
que a violência advinda da marginalização de uma população historicamente excluída e
expropriada dos direitos básicos da dignidade humana é discutida a partir dessa narrativa de
uma possível rebelião dos mais-pobres contra aqueles que os oprimem, é uma tensão social vista
por alguém que vem de uma experiência de um país de história recente de independência, de
uma situação colonial em que as tensões sociais são aviltantes e marcadamente violentas
também para com um povo também marcado pela opressão, expropriação e exclusão. Ao narrar
a fábula de um Rio tomado por Zumbi, Agualusa reflete subrepticiamente sobre uma Angola
pós-colonial em que as questões de desigualdade e exclusão são tão reais e visíveis como as das
comunidades, as favelas do Rio de Janeiro, que continua belo e lindo, no entanto tão cruel com
suas gentes da cor do ébano e do rei Zumbi.
O estudo ora proposto configura-se na medida em que toma o grito como prerrogativa aos
processos de (re)construções identitárias de sujeitos afroamericanos. Conforme a proposta
assinalada, toma-se o grito enquanto resposta aos valores exógenos, enquanto reivindicação de
voz e resistência frente a violência epistemológica direcionada aos sujeitos negros. Entre
poemas que se destacam por uma alta elaboração musical e poética o grito ecoa em ritmos,
palavras e gestos. Enfim, o grito toma o corpo, vira dança, vibra, reverbera. Assim, tendo como
suporte teórico textos de Gayatri Spivak e Stuart Hall, apresentamos uma leitura possível aos
poemas “Me gritaron negra”(2013), de Victória Santa Cruz; “Milionário do sonho”(2013), de
Elisa Lucinda; e “Siempre presentes”, de Lorena Torres Herrera (2010). O referido corpus de
poetas afroamericanas, haja vista a leitura proposta, grita uníssono através de seus versos,
enquanto reivindicações e resistências em “coros e ecos”. Este estudo tem sido elaborado no
âmbito do Projeto de Pesquisa Teseu, o labirinto e seu nome, vigente na Universidade Federal
do Piauí.
O debate em torno dos estudos culturais tem se tornado cada vez maior, por conta das
constantes mudanças sociais e culturais que provocam a incorporação de culturas diversas na
personalidade do indivíduo. Nesse sentido, torna-se essencial fazer referência à construção
cultural desenvolvida pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa quanto a sua literatura
engajada as questões raciais, buscando construir uma interação entre o contexto histórico da
escravização dos negros e a continuação efetiva da presença de sua cultura. O conceito de
criolização desenvolvido na obra de Édouard Glissant “Introdução a uma poética da
diversidade” é imprescindível a constituição desse trabalho, por oferecer lugar à diversidade, à
troca e a identidades novas, sem discriminar a natureza de cada traço das matrizes culturais.
Serão construídos questionamentos em torno da construção identitária, partindo da análise
comparada que compreende os romances As mulheres do meu pai e Nação crioula de Agualusa,
desenvolvidos por meio da ideia de identidade como uma ressignificação da memória,
caracterizado pela variedade de opiniões que buscam investigar os anseios do homem e as suas
constantes dúvidas e questionamentos em torno das construções identitárias.
Na sua peça teatral Une Tempête, Aimé Césaire mostra como através da apropriação da língua
do colonizador (língua francesa) é possível resgatar a sua identidade cultural, o seu lugar no
mundo. Como afirma Fanon “Falar é existir absolutamente para o outro; é estar em condições
de empregar uma certa sintaxe, possuir a morfologia de tal ou qual língua, mas sobretudo
assumir uma cultura, suportar o peso de uma civilização”. Encontramos na peça vários diálogos
travados entre as personagens Prospero (representando o colonizador) e Caliban (o colonizado),
sobretudo pela exigência do primeiro sobre o segundo para que só utilizasse a língua francesa
como forma única e exclusiva de comunicação, alegando que através dela Caliban pudesse
aculturar-se, eliminando-se assim sua “animalidade”. O presente trabalho objetiva apontar
alguns aspectos da linguagem encontrados na citada obra de Aimé Césaire ao valorizar a cultura
africana através da inserção de termos africanos, do “crèole antilhano”, assim como outros
elementos: Eshu-“dieu-diable nègre” e também ao abordar temas como: relação
colonizador/colonizado. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica e, para tanto, far-se-
á uso das considerações de Fanon, Glissant, Stuart Hall, Homi Bhabha, entre outros teóricos.
Este trabalho pretende analisar, a partir da produção literária das escritoras brasileiras Carolina
Maria de Jesus e Nina Rizzi, signos da diáspora negra na perspectiva da Literatura Menor e
como eles influenciam as narrativas de ambas, partindo do entendimento de que suas obras são
marcadas por diversos estilos literários que desterritorializam a literatura canônica, seja pela
inserção da oralidade e das tradições populares na literatura, seja pela apropriação de fontes
estéticas historicamente subalternizadas. Pretendo abordar as experiências narrativas das autoras
através de uma mirada das produções artísticas próprias da formação de países de culturas
híbridas, questionando os limites colocados à enunciação dos sujeitos negros e problematizando
os agenciamentos produzidos desde este lugar historicamente rebaixado e silenciado. Em suma,
procuro observar como as “aberrações” estilísticas que marcam as obras e compõem a poética
das escritoras pulam para além de suas escritas, acionando o grito como um agenciamento
político e discursivo que transcende as delimitações do cenário literário da produção canônica.
Carolina Maria de Jesus: escritora, negra, moradora da extinta Favela do Canindé, na zona norte
de São Paulo; trabalhou como doméstica, contudo não se adaptou e tornou-se catadora de papel
até sua morte. Ondjaki: Ondjaki (que em umbundo significa „guerreiro‟, ou „aquele que enfrenta
desafios‟) é o pseudônimo do escritor angolano Ndalu de Almeida, nome em ascensão no
cenário da contemporânea literatura lusófona; um menino se comparado aos grandes nomes que
fizeram história na literatura em sua pátria. Ambos, vítimas do silêncio e da subalternidade, ela
de sua condição de “mulher da favela” nos anos 60 e ele, da criança angola no mesmo período
de tempo. É a partir das considerações acerca do silêncio feitas por Orlandi e Roland Bhartes,
associados aos estudos Deleuzianos sobre poesia menor e estudos da subalternidade de Spivak
traçaremos relações de comparatividade entre ambos. Por fim, tentaremos observar como em
ambos às camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão
dos mercados, da representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem membros
plenos no estrato social dominante.
Com base na construção literária e linguística dos textos “O último carnaval da Vitória” e
“Encontro de acaso”, contos pertencentes aos livros Os da minha rua de Ondjaki e A cidade e a
infância, de Luandino Vieira, respectivamente, objetivamos analisar esses textos sob o olhar
inexistencial de fronteiras, portanto com o contato conflitante e influenciador do processo de
crioulização, Glissant (2005). Por meio da perspectiva dos estudos culturais, apontamos ainda
para uma discussão a respeito da construção identitária presente nos textos, que nos remete para
uma ruptura do espaço/tempo, relativizando-os de modo a utilizar a memória como ferramenta
de retorno ao passado a partir de uma memória individual, porém de fortes traços coletivos
(HALBWACHS, CANDAU). A literatura em apreço toma o território como espaço de
constituição de identidades a partir de conflituosas relações, segundo argumenta Silveira (2011),
e é a partir delas que são apontadas construções e reconstruções das identidades das personagens
em uma narrativa caracterizada pelo contato sociocultural e de elementos memorialistas.
EmTenda dos Milagres (1969), Jorge Amado potencializa o entrelaçamento do sistema literário
com outros mecanismos tecno-midiológicos que o atravessam e determinam a sua existência
sempre em relação. Se a literatura, consoante Even-Zohar (2007), é um sistema dinâmico que se
quer estático como estratégia de delimitação e sobrevivência, em Tenda dos Milagres (1969)
esse entendimento dos estratos formadores do que se pretende por literário, as interpelações de
outros universos semiósicossão convidados a doar certo “tônus” a um dos textos amadianos
mais transmitidos, em pluralidade de suportes e plataformas. Ao mesmo tempo, esse romance é
expressão relevante das intercorrências que permeiam a composição de uma mensagem que se
pretende durável e maleável em zonas que escapam do “espaço” literário. Assim, buscamos
pensar essa fluidez do texto literário, cuja temática mais evidente é a instabilidade identitária do
povo afro-brasileiro, perscrutando o percurso rizomático (DELEUZE & GUATTARI) cuja
territorialização provisória é um samba de enredo de uma escola de samba paulista. Nosso
objetivo é, pois, observar esse samba enredo como grito imprevisível que ecoa do próprio texto
afro-brasileiro para um posicionamento em devir.
O presente trabalho busca entender o surgimento do grito inicial afro-americano, que segundo
Chamoiseau em Lettres Créoles (1999), seria o grito primeiro do escravo africano levado à
força para as Américas a bordo do navio negreiro. Muitas vezes em países de colonização
americana, forja-se a ideia equivocada de que a gênese da literatura do continente seria a
literatura dita “de viagem”, ou seja, uma literatura escrita pelos primeiros colonos que pisaram
na terra americana, e que a descreveram de forma intencionalmente exótica. Nessa literatura, os
traços dos indígenas são propositalmente exagerados, de modo a atender às expectativas do
fértil imaginário ocidental a respeito desses indígenas na época das ditas “descobertas”. O
presente trabalho tem como foco o contexto antilhano, do qual surgiram os autores Edouard
Glissant (Introduction à une poétique du divers), Aimé Césaire (Cahier d’un retour au pays
natal), Patrick Chamoiseau (Écrire en pays dominé, Lettres Créoles, Texaco), Frantz Fanon
(Peles negras, máscaras brancas), que são autores que contribuíram para o movimento da
negritude e da crioulidade, tendo sempre em mente a busca de uma identidade própria, livre da
dominação cultural metropolitana, e que de certa forma seria um dos primeiros passos para
conseguir restituir o grito inicial do navio negreiro ao afro-americano contemporâneo.
O presente trabalho tem como objetivo analisar a condição social da mulher negra. Para isso,
faremos uma análise comparativa dos romances confessionais das escritoras afro-americanas
Alice Walker The Color Purple ( A cor Púrpura ) de 1982 e Push (Preciosa) de 2010, de
Sapphire, onde fica claro para o leitor qual é a condição social das protagonistas Celie Johnson
e Clarice Precious Jones. Assim, perceberemos a luta dessas mulheres na tentativa de
mudar as suas sofridas histórias de vida, uma vez que durante muito tempo foram
discriminadas, abusadas, ridicularizadas pela sociedade, desprezadas e excluídas da história,
perdendo o direito à escolarização, à assimilação de novos conhecimentos e à
oportunidade de externar seus pensamentos como ser humano crítico e pensante. Essa difícil
situação reflete as práticas executadas por uma sociedade extremamente preconceituosa e
machista, capaz de impor a condição de ser subalterno às mulheres e obrigá-las a viverem uma
insidiosa submissão aos homens.
As autoras negras, pela tripla discriminação da sociedade, a saber, de gênero, raça e classe
social, conduzem os seus escritos quase que invariavelmente por duas vertentes bem distintas.
Há as que contestam e criticam o status quo através da criação de personagens que falam e
lutam pelos seus direitos civis enquanto cidadãs, mas também há outras que propositalmente
transmutam a sua indignação em insanidade, onde através da fantasia de possuir asas para voar
acreditam-se visíveis e aceitas pela sociedade por se acreditarem brancas, bem sucedidas e,
portanto poderosas. Neste jogo de faz-de-conta inserem-se duas heroínas que chamam a atenção
por brincarem, por assim dizer, de serem felizes: Pecola Breedlove, de Tony Morrison, e Duzu
Querença, de Conceição Evaristo. O presente trabalho se propõe a analisar, num enfoque
comparatista, o comportamento dessas personagens que encontram na insanidade um meio de
sublimar a autoaversão potencializada pela sociedade.
Benkos Biohó es quizá uno de los personajes más representativos de la obra La ceiba de la
memoria (BURGOS CANTOR, Roberto, 2007), puesto que el discurso emitido por su voz y
conciencia está cargado de una intensidad que causa cierta conmoción, además del ímpetu
transgresor que acompaña cada uno de sus movimientos y acciones dentro del relato. Benkos
Biohó, así como lo narra la novela, fue en realidad el primer revolucionario negro del Nuevo
Mundo, que propició las primeras rebeliones de negros cimarrones y la conformación de los
palenques cerca a Cartagena de Indias. La población del palenque aún conserva expresiones de
los idiomas de los esclavos, junto con las costumbres que trajeron de su tierra africana. La
insistencia de Benkos Biohó en recuperar su memoria y hacerla perdurar a través de su grito en
el Nuevo Mundo cumple su cometido, pues sus acciones de resistencia ante la amenaza del
olvido aún subsisten en el presente. Así, el grito se erige como el recurso que le permite
mantener viva su memoria para reconstruir su ser, sanando las heridas provocadas por la
bestialidad de los colonizadores, y también en un modo de resistencia y lucha por mantener
unidos a sus coterráneos como colectividad, a través del reconocimiento y enfrentamiento del
dolor y las marcas físicas del maltrato.
Sabe-se que a cultura brasileira é mistificada de várias outras, diferentes povos contribuíram
para a formação da atual nação. A título de exemplo, tem-se o negro, figura de grande
importância para a construção da sociedade, porém, colocado à margem social. Apesar de tantas
barreiras já terem sido quebradas, estes ainda continuam sofrendo preconceito racial até os dias
de hoje. Partindo desse pressuposto, o presente trabalho objetiva, tendo como base a lei Nº
10.639, de 9 de Janeiro de 2003, que nos traz sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira
e africana. Portanto, esta ressalta a importância da cultura negra na formação da sociedade
brasileira e discute a inclusão da cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio de
escolas públicas e particulares. De tal maneira, faremos uma pesquisa de caráter bibliográfico,
utilizando como corpus o conto de tradição oral “A Serpente e a Perdiz”, presente na “Revista
Literária em Tradução”, publicada em 2011. Busca-se, deste modo, encontrar estratégias para se
ensinar a cultura afro-brasileira através do conto.
Este trabalho busca promover uma reflexão sobre o tema do envelhecimento humano, sob a
ótica social, transmitida de geração em geração por meio da literatura oral e, de modo particular,
intermediada pelos provérbios. Nestas reflexões, pretendemos observar como os jovens tratam
os idosos, nas culturas brasileira e africana. Para tanto, selecionamos alguns provérbios de
origem brasileira em língua portuguesa e outros de origem africana de países de língua francesa,
com o propósito de promover uma interlocução cultural, no que diz respeito à forma pela qual
os jovens tratam seus velhos nas referidas culturas, a partir de tais provérbios.
Metodologicamente, esta pesquisa é documental e, nela, buscamos priorizar a tradução como
um elemento que contempla o aspecto cultural, com base nas ponderações de Mendes (2012),
que faz um estudo acerca da “envelhecência”; em Walter (2010), no que concerne ao conceito
de transculturação, isto é, da tradução do texto que apresenta implícito diversos fatores de sua
cultura, bem como em Jullien (2009), que estuda o diálogo entre as culturas, apenas para citar
alguns. Nos primeiros resultados, identificamos que na África, os jovens não só respeitam, mas
também admiram os anciãos, enquanto no Brasil, o jovem, na maioria das vezes, desrespeita o
velho, desconsiderando sua sabedoria e experiência.
A Bande Dessinée (BD), -ou histórias em quadrinhos-, no continente africano, teve seus
primeiros dias em jornais diários, do fim do século XIX. Com o passar dos anos, a BD saiu das
folhas dos jornais e ganhou suas próprias páginas, nas quais as histórias da cultura africana eram
contadas a partir da sucessão de quadrinhos que estampavam a necessidade de se dar voz àquele
povo, uma vez que subjazia, em todo o restante do mundo que aquele povo estava esquecido. A
BD africana sofreu influências da BD americana, de Will Eisner e também da europeia de
autoria de Töpffer; mas, na forma de apresentação de suas temáticas e da própria disposição dos
quadrinhos, a BD africana estampava não só os aspectos culturais daquele continente, mas
também, um modo único de se fazer BD. A partir desse contexto, este trabalho tem como
objetivo fazer um levantamento das obras, desse gênero, produzidas nos países africanos de
língua francesa, bem como identificar quais são as principais temáticas contempladas nessas
obras. Em seguida, analisaremos a obra Le griotetles aventures de Gao –chapitre 1 (2009), do
autor camaronês KouamTekam David, a fim de identificar quais as principais características
intersemióticas da BD africana, analisando as temáticas recorrentes na referida obra. Para
atingirmos nossos objetivos nos fundamentamos em Dürrenmatt (2013) Cagnin (1975) Cassiau-
Haurie (2010) e Langevin (2006).
Há uma necessidade em novas ferramentas que auxiliem no ensino do francês como língua
estrangeira (FLE) e na divulgação da cultura dos países que falam tal língua; assim,
encontramos o site conte-moi: http://www.conte-moi.net/ como uma dessas ferramentas. Trata-
se de um site pedagógico, que oferece um espaço através de um projeto inovador de recolha e
recuperação do patrimônio oral, de língua francesa em vários continentes, funcionando como
um recurso complementar no processo ensino-aprendizagem, ampliando a descoberta das
culturas de língua francesa (MOURA, 2007), além de estimular a interação entre docente,
discente e a cultura dos países africanos (BERND, 2011). Relatando nossa experiência,
enquanto estudantes de FLE, sobre o uso do referido site, através de análise e descrição,
discutimos a importância da literatura de língua francesa, do Magrebe, no ensino do FLE,
ressaltando as contribuições do site (BLONDEAU; ALLOUACHE, 2008). Para tanto,
analisaremos os contos Le garçonaux grandes oreilles, originário do Marrocos e
L’enfantserpent, da Argélia, realizando um diagnóstico parcial do site. Essas discussões
evidenciam que o site contribui para uma melhor compreensão tanto oral como escrita dos
contos e, portanto, da língua francesa, colaborando também para divulgação dessa cultura do
norte da África.
Neste trabalho, pretendemos discutir a respeito do trabalho com a literatura infantil de países da
África de língua francesa, como um meio de promover o ensino dessa cultura no Brasil.
Tomando como base a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira e
africana nas escolas do Brasil, a fim de mostrar, ainda, que os professores de francês também
podem/devem desenvolver tal ensino, sobretudo quando falamos de professores que dispõem de
formação dupla: a Língua Francesa e Língua Portuguesa. Para tanto, tomamos como base a
própria Lei Federal e um corpus literário de língua francesa, constituído por Contos de tradição
oral da África Central (1989). Assim, a partir de alguns dos resultados obtidos, já podemos
constatar que a abordagem da literatura infantil africana pode promover a conscientização das
crianças a fim de haver a valorização das culturas africanas, como um importante caminho para
uma valorização da cultura brasileira, podendo auxiliar na desconstrução de estereótipos e
clichês que ainda existem na nossa sociedade. Além disso, podemos afirmar que, os professores
de francês têm embasamentos suficientes para também ensinar a cultura africana, pelas vias da
língua francesa, uma vez que a formação nas duas línguas (francesa e portuguesa) pode auxiliar
no ensino da referida cultura, já que as relações entre o Brasil e a África são muito estreitadas.
A música sempre desempenhou um importante papel na sociedade, estando ela presente nas
mais diversas situações da vida cotidiana. Por razões como esta, é instrumento de celebração e
quando se reúne letra e música, transformando-se no gênero liter-musical, canção, ela agrega
valores e, dessa forma, vem sendo utilizada no ensino de línguas, devido à potencialidade sua
característica lítero-musical, reunindo letra e melodia. Assim esse potencial enquanto recurso
didático já se consolida em muitos estudos, a exemplo de Boiron (2001), Sousa e Neto (2003),
Souza (2008) e Dias de Barros (2012). Pensando na sala de aula de línguas estrangeiras e em
seus desafios na promoção de uma abordagem cultural, em conformidade com as indicações dos
Parâmetros Curriculares Nacionais para Língua Estrangeira (2006), desenvolvemos neste
trabalho uma proposta de abordagem intercultural, através da utilização do gênero canção,
produzida e cantada em francês enquanto veículo de exposição cultural, especialmente da África
francófona e de seus povos e culturas e de sua relevância para a construção de uma sala de aula
plural.
Segundo Cristóvão Tezza (2009), embora o objeto da literatura não seja a “verdade”, mas o
homem que pensa sobre ela, a literatura, linguagem ao infinito, assim como outros jogos de
verdade, refletem e refratam as vontades de verdade presentes em nossa formação social. Nesse
sentido, o continente africano, como um universo histórico-cultural, encontra nas suas
literaturas um campo fértil para as necessárias discussões sobre liberdade, identidade e sobre os
discursos verdadeiros (FOUCAULT, 2002) de um povo. Essa literatura tanto em língua
portuguesa ou inglesa constitui-se no elo entre a cultura oral e a escrita, permeando múltiplas
formas e estilos, indo do Oriente ao Ocidente ligando as diversas Áfricas. À semelhança do
Griot, tal literatura dá alma à sociedade africana ligando-a aos mundos distintos. Nessa
perspectiva, este simpósio temático pretende receber trabalhos que focalizem as diversas
literaturas africanas de língua portuguesa ou inglesa e que evidenciem a multiplicidade de
aspectos socioculturais desse universo chamado África. Buscando aprofundar discussões,
priorizamos trabalhos que contemplem noções como sujeito, identidade e discurso.
Este estudo objetiva, de forma geral, apenas mais um olhar de fora porque de latino americano,
e de dentro, porque de colonizado, no discurso europeu sobre o poeta João-Maria Vilanova, que
se suicidou em 2005, no Porto, em Portugal. Tenciona-se, aqui, conhecer e avaliar o discurso
crítico do colonizador sobre a literatura africana, mais especificamente a angolana. Além disso,
se propõe ainda a: examinar como pesquisadores e críticos de diferentes contextos de
pertencimento se posicionam em seus discursos críticos; contribuir para elucidar as falas e os
lugares; verificar as relações existentes entre discursos críticos e as condições que os
engendram, o contexto que os torna visíveis; a investigar, na medida do possível, quem foi, na
realidade histórica e literária de Língua Portuguesa, João-Maria Vilanova e (re)situá-lo na
literatura angolana e na cultura portuguesa, refletindo sobre a questão da identidade. Foram base
teórica para este estudo, Homi K. Bhabha , Marilena Chauí, J. Derrida, J, Henry Luis Gates,
Boaventura de Sousa Santos e Gayatri Chakravorty Spivak.
A África é um continente marcado por uma cultura intensamente plural, constituída por valores
sociais, coletivos e ideológicos de um povo que marca sua identidade por meio da coletividade
de homens e mulheres, que muito tem a acrescentar de cultura ao mundo. A literatura, como
representação do mundo e do homem, constitui-se como uma importante representação dessa
cultura tão rica e significativa. É sobre esta perspectiva que nossa pesquisa se estrutura, ao
analisar o conto As duas moças bonitas como melancias. Tal conto é uma das muitas narrativas
da tradição oral africana e fazem parte de uma coletânea de histórias curtas que, como esta,
foram reunidas e transcritas por Yves Pinguilly (2005). Nessa leitura iremos dar maior enfocar à
cultura marcada pela oralidade, por crenças, costumes e valores que constituem a sociedade
africana. Destacamos também o discurso formado sobre a mulher, como algo singular e distinto
dos discursos dos povos ocidentais; mais precisamente brasileiros, que atribuem a mulher
valores culturais e sociais por vezes, muito diferentes daqueles do povo africano. Para isso,
tomaremos como base teórica a Análise do discurso, nos apoiando em pesquisas de estudiosos
como Dantas (2007), Fernandes (2008) e Fiorin (2005) que muito nos acrescentam sobre as
noções elencadas nesta pesquisa.
A partir dos contos de Mia Couto presentes no livro 'Estórias abensonhadas' (2012) busca-se
compreender como a produção de singularidades a partir do resgate da filosofia e da cultura
tradicional africana se constitui forma de emancipação social e ressignificação da realidade. A
obra está situada no período de superação dos conflitos advindos da independência de
Moçambique e retrata o brotar da esperança e a reorganização da vida do povo afetado pela
guerra. Percebe-se que a partir do resgate cultural africano, o discurso do culto aos ancestrais e
do cuidado com a natureza é utilizado como via de afirmação da cultura local e isso se coloca
frente ao pensamento colonizador e hegemônico, cria-se assim aquilo que o sociólogo
Boaventura de Sousa Santos chama de 'Epistemologia do Sul', o reconhecimento de saberes
produzidos em modelos não-convencionais e, consequentemente, essa Epistemologia do Sul
gera o reconhecimento de formas de existência não-convencionais.
O discurso é uma prática da linguagem presente numa narrativa de construção social que apenas
pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social e suas condições de produção,
isso reflete numa visão de mundo determinada e vinculada à sociedade e seus atores sociais.
Assim, este trabalho propõe discutir a imagem idealizada do ocidente sobre a África, a partir da
leitura, “O Coração Das Trevas” (1902), baseada na experiência de vida do escritor Joseph
Conrad no Congo africano. Destaca-se dessa forma a construção ideológica e representativa do
imaginário composto em seu discurso. Compreendendo os sentidos e as ideologias que ele
pretende transmitir, evidenciando o quanto um discurso como narrativa ou fala é uma partícula
de significado do imaginário dominante, que abarca um indivíduo de uma mesma memória
coletiva, elaborando todas as representações de uma sociedade.
“Terra sonâmbula” é uma obra marcada pelo encontro de gerações em um ambiente devastado
por guerras civis. Em meio a um cenário desolador, o jovem Muidinga e o velho Tuhair traçam
um caminho que oferece ao leitor um vasto panorama das relações humanas em um ambiente de
guerra e suas implicações. As duas visões de mundo se entrecruzam e sugerem um ideal de
esperança e de reconstrução, a partir do resgate das tradições, representada pelos “cadernos de
Kindzu” que contam as histórias de um jovem rapaz pelo Moçambique. A ideia de estabelecer
uma dependência mútua entre as personagens é uma tentativa clara do autor de pôr em pé de
„‟igualdade‟‟ o passado, representado pelo ancião e o futuro, sob a imagem do menino letrado.
A esperança de um futuro melhor é produto dessa relação entre passado e presente. Nesse
trabalho tentaremos expor de que maneira Mia Couto utilizou as tradições do lugar para criar
um ambiente de esperança onde já não havia muito o que se esperar. Os símbolos, o contexto
histórico, a busca por uma identidade aparentemente perdida.
O presente trabalho tem como objetivo investigar o universo africano na obra do poeta
pernambucano Ascenso Ferreira, partindo da premissa de que muitos textos desse autor
modernista são marcados pela oralidade pernambucana, na qual ecoa a voz do negro nordestino
dessa região. Essa pesquisa analisa como a africanidade linguística na obra do poeta constrói-se
através de palavras africanas e de imagens do universo afro-brasileiro. Para tanto, foram
selecionados um total de 29 poemas, dos três livros de Ascenso: Catimbó – doze textos; Cana
Caiana – doze e Xenhenhém – cinco. Encontraram-se diversos textos nos quais os negros
apresentam-se em diferentes contextos: religioso, familiar, amoroso, folclórico. Além das
temáticas, também foram encontrados sessenta vocábulos de origem africana e também alguns
fenômenos linguísticos da oralidade e do português popular que são atribuídos à influência
africana, como o apagamento do /r/ no final das palavras e a falta de concordância nominal, no
português não padrão (BONVINI, 2008; CASTRO, 2005). A fim de atingir os objetivos
propostos, fez-se um panorama dos estudos sobre a influência africana no português do Brasil e
o tráfico de escravizados transatlântico. Essa pesquisa esteve calcada nos postulados de Bonvini
(2008), Rodrigues (2008-1933), Castro (2005 e 2002), Henckel (2005) e Mendonça (1973 –
1933).
Coordenadoras: Profa. Dra. Marta Aparecida Garcia Gonçalves (UFRN) e Profa. Dra. Tânia
Lima (UFRN)
Este trabalho tem por objetivo discutir as relações e construções de gênero envolvidas no conto
Joãotónio, no enquanto do escritor moçambicano Mia Couto. Inserido no livro Estórias
abesonhadas, o conto Joãotónio, no enquanto reflete desde os primeiros questionamentos -
datados do início do século XX, acerca dos papeis de homem e mulher - até os reflexos desses
próprios questionamentos vividos na contemporaneidade, ou seja, no nosso século XXI. Este,
no que diz respeito às relações de gênero, se caracteriza, sobretudo, por uma necessidade de
colocar em prática, por assim dizer, as desconstruções dos binarismos homem/mulher,
hetero/homo, os quais por tanto tempo serviram de ancoragem para o mundo e estabilizavam as
relações sociais, uma vez que antes se sabia indubitavelmente como um homem, mulher, hetero,
homo, se comportavam. Porém, essas estruturas fixas, esses enquadramentos já não nos dão
ancoragem na sociedade atual; o discurso patriarcal está em constante desconstrução. E são
essas questões que são levantadas em Estórias abesonhadas e, principalmente, no conto
Joaotónio, no enquanto. Para isso, pretende-se buscar amparo na teorias de Susan Sontag, Stuart
Hall, Lúcia Zolin e Foucault.
Poeticamente, Ondjaki (2014), escritor angolano, retrata, em sua prosa, uma África em
transformação. O narrador-menino (ou menino-narrador) de “Bom dia, camaradas” confunde-se
com o próprio autor nas páginas desse romance que narra um momento histórico decisivo para a
sociedade angolana. Dessa forma, ambas as vozes se misturam: escritor e personagem em uma
confluência bastante difícil de se dissociar. A infância, em foco, ressalta o momento primordial
de construção de identidades, as quais continuarão sendo negociadas ao longo da vida.
Tomando o conceito de “autoficção”, conforme apresentado por Eurídice Figueiredo (2013),
propomos uma leitura em que Ondjaki se autoficcionaliza nas páginas de seu romance, unindo
as searas literárias e sociais mediante procedimentos miméticos artísticos, além de
problematizar as relações entre história e literatura, e ainda entre real e ficção. Para abordar as
questões identitárias, optamos por Tomaz Tadeu da Silva, Kathryn Woodward e Stuart Hall
(2012); de acordo com esses autores, as identidades são construídas em constantes negociações
entre o eu e o outro, sendo, portanto, relacional e baseada na diferença. Com isso, vê-se que o
menino-Ondjaki reflete as mudanças sociopolíticas por que passam Angola e seus habitantes.
Este trabalho tem por objetivo analisar o erotismo presente nos poemas “Mantém a tua mão”,
“Pode ser que me encontres” e “Deixe a mão pousada na duna”, de Ana Paula Tavares.
Inseridos no livro Manual para amantes desesperados, de 2007, os referidos poemas trazem, na
imagem das dunas, um possível retrato para o erotismo feminino, recuperando o corpo da
mulher nas imagens áridas dos desertos. Nas obras, as dunas ora representam os traços da
mulher ora os caminhos para o prazer desta, apontando para este terreno difícil e arenoso como
um labirinto movente, permeado pela falta, que perfaz o desejo, o devir do ser no gozo
feminino. Observa-se na poesia de Ana Paula de Tavares, uma escrita transgressora que vai de
encontro com os preceitos e preconceitos patriarcais pelo fato desta trazer a exposição do corpo
da mulher através da literatura, uma vez que reconhece as podas morais e sociais que toda
mulher é instigada e educada a aceitar. Essas amarras vetam à mulher o direito de se tornar
sujeito de si e dona de seu corpo, pois a ela foi designado aos afazeres domésticos e à
aprendizagem de viver para servir. Pretende-se aqui uma discussão de gênero em sintonia com
o suporte teórico da Crítica feminista, de Lúcia Osana Zolin (2009), G. Spivak, Susan Sontag e
O corpo erotizado, de Elódia Xavier (2007).
A opressão ocasionada pelo poder atribuído, historicamente, ao gênero masculino vitima várias
mulheres de diversas regiões do continente africano. Assim, a cultura da subalternidade
feminina ganha espaço na literatura escrita, bem como na oral, podendo ser questionada ou
perpetuada por meio da afirmação da tradição, em um contexto pós-colonial. Partindo-se dessa
noção, este estudo pretende suscitar um diálogo entre contos do escritor moçambicano Mia
Couto, presentes no livro O fio das missangas (2003), e contos advindos da tradição oral
africana, tendo como eixo temático propulsor a figuração da mulher constantemente oprimida
pelo sistema patriarcal no qual está inserida. Mediante análise comparativa dos contos e de suas
personagens mulheres, a busca pela independência é um fator preponderante, embora quase
inalcançável, considerando-se as punições severas, a violência física, o abandono e a aceitação
da ideologia dominante inculcada. A pesquisa fundamentou-se em Spivak (2010), Bonnici
(1998) e Freyre (1996).
Palavras-chave: Pós-colonialismo; Conto africano; Mulher; Subalternidade.
O filósofo Jacques Rancière (1994) afirma que o registro histórico encontra a veracidade do seu
relato quando se desvia da objetividade científica para se imiscuir na composição da narrativa o
remanejamento dos lugares, tempo, pessoas e conteúdos na indiscernibilidade poética do
discurso procedente de diferentes sujeitos e representações, em que a palavra é via “própria de
um saber histórico democrático” (1994: 53). Ao recusar a unanimidade dos discursos dos
grandes feitos e grandes personalidades, a história passa a ser conduzida pela integração dos
anônimos e legitimada pelo testemunho de um tempo e de um lugar que fala por si mesmo
através dos signos. Questionamos se esse fazer político e estético seria então uma capacidade
inerente da literatura? José Eduardo Agualusa, no conto A educação sentimental dos Pássaros,
dilui fronteiras do senso comum sobre a realidade no testemunho sensível da palavra de Jonas
Savimbi e outros, sobre o processo de independência de Angola, compartilhando as
experiências e temporalidades diferentes. No presente trabalho, procuramos apresentar as
contribuições desse conto para a pesquisa entre literatura e política da arte, como também para o
ensino transdisciplinar.
Este trabalho empreende uma análise comparativa do poema “Atrás dos olhos das meninas
sérias”, presente na obra A teus pés (1998), da escritora carioca Ana Cristina Cesar, e do poema
“E as margens”, que integra o livro Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), cuja autora
é a angolana (Ana) Paula Tavares. Considerando-se tanto o contexto cultural de seus países de
origem, quanto o caráter potencialmente subjetivo das duas obras, busca-se verificar de que
modo cada autora promove uma leitura singular da mulher em sua relação com o corpo.
Interessa elucidar de que modo se dá a experimentação da palavra como processo de elaboração
dessas obras e de (re)construção de si, que se revelariam traços comuns da literatura feminina.
Tal interesse se faz justificável pela importância de fazer falar a mulher, assim como os demais
grupos de minorias, no panorama das discussões sobre literatura, de forma que sua voz se
efetive como contradiscurso capaz de desestabilizar os discursos instituídos. Dessa forma, são
necessárias as críticas de Cesar (1999), Deleuze & Guattari (2009), Bonnici & Zolin (2009) e
Spivak (2010).
Palavras-chave: Ana Cristina Cesar; Ana Paula Tavares; Corpo; Mulher; Literatura.
STELA DO PATROCÍNIO E ROSA CARAMELA: COMO DEVIR-MULHER DA
LOUCURA
Este trabalho nasce do encontro entre Stela do Patrocínio, em Reino dos bichos e dos animais é
o meu nome (2001), e "A Rosa Caramela", conto de Mia Couto, publicado em Cada homem é
uma raça (1990). Qual a intenção de forjar um encontro, que é sempre uma conversa, entre a
primeira, mulher que viveu internada em hospícios no Rio de Janeiro e que jamais escreveu, e a
segunda, personagem que fala com estátuas e que só "existe", através da história narrada por
uma criança, no conto de Mia Couto? Que tipo de encontro é possível entre essas vozes
femininas? Falas e subjetividades do corpo feminino povoam as linhas das referidas obras que,
sob o prisma da loucura, engendra uma produção de modos subjetivos e de resistência da
própria mulher. Segundo Gilles Deleuze e Félix Guattari (1997), "é preciso dizer também que
todos os devires começam e passam pelo devir-mulher. É a chave dos outros devires." Portanto,
o devir-mulher, que acontece na escrita feminina, desencadeia todo um processo de
experimentações próprias do corpo feminino, de suas potências e de seus afetos. De Stela e
Rosa, desejamos algo como este delirante conversar.
O presente trabalho pretende expor um mapeamento introdutório das construções teóricas sobre
o que é denominado como “tradição oral”, ou associado a ela. Nesse sentido, desenvolvemos
diálogos entre as considerações acerca das literaturas orais brasileiras, especialmente a
produzida no nordeste do país, compondo questionamentos sobre a concepção de “origem” ou
“ascendência” dessa oralidade. Em um ótica popularmente disseminada na educação básica
brasileira, o “mito de origem” da literatura oral nordestina recai sobre a cultura europeia: a
pátria/cultura que pariu a oralidade brasileira/nordestina é a mesma que fez dessa terra sua
colônia. Esse olhar limitado e pouco crítico, expande a visão eurocêntrica sobre a cultura.
Principalmente por meio das leituras das produções, A Letra e a Voz e Introdução à Poesia
Oral, de Paul Zumthor e da observação do conteúdo de Literatura em livros didáticos,
provocamos questões sobre essa tradição oral excludente. Visto que desconsidera diversas
tradições para esta história literária, ou as pouco associa. Portanto, o artigo objetiva promover a
inquietação necessária para o estudo e o reconhecimento da pluralidade da(s) tradição(ões) oral
(is).
O romance A Confissão da leoa, de Mia Couto discorre sobre ataques de leões que aterrorizam
uma aldeia moçambicana –Kulumani- e tem vitimado principalmente mulheres. No entanto, a
narrativa não é uma história de caçadas, uma vez que o autor utiliza os leões como metáfora
para denunciar os discursos de poder que regem aquela sociedade, e que se refletem, sobretudo,
na vida das mulheres. A narrativa é centrada na família Mapepe, formada pelo patriarca Genito,
a mãe Hanifa Assulua (que tem consciência da sua opressão, mas é cúmplice da mesma, pois a
reproduz sobre as filhas) e as filhas Silência (sem voz, nula, que nunca denunciou os abusos
praticados pelo pai) e Mariamar (única que apresenta um grau de resistência e que, apesar de
suas sucessivas tentativas de fuga, se submete a uma vida de espera por um homem que um dia
virá salvá-la). Essas personagens reproduzem o estigma da mulher das sociedades pós-coloniais
que foi duplamente marginalizada, relegada ao serviço do homem e ao silêncio. Este trabalho
objetiva analisar o discurso pós-colonial e o patriarcal na construção de algumas personagens
femininas do romance tendo como aparato teórico a Crítica Pós-colonial e a Crítica Feminista, a
partir de leituras de Homi K. Bhabha, Stuart Hall, Thomas Bonicci e Gayatri Charkravorty
Spivak.
Publicada no álbum Afrociberdelia (1996), de Chico Science & Nação Zumbi, a canção
“Cidadão do mundo” é marcada pela fragmentação no âmbito musical e no verbal. Na parte
musical se observa a utilização do sampler, equipamento eletrônico muito utilizado pelo hip hop
que permite fazer um recorte de trechos de outras canções ou de outras sonoridades para formar
uma nova canção. Na canção que será analisada estão presentes trechos das canções: “Cuidado
com o bulldog”, de Jorge Ben Jor; “Louvação”, de Torquato Neto e Gilberto Gil; e
“Batmacumba”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Já na parte verbal se percebe o recorte de
vários temas, como será apresentado no presente artigo. Aliados à fragmentação, pode-se
perceber a forte presença da cultura afro-brasileira, a utilização de recursos poéticos
característicos tanto do rap como do repente. Sintonizados com tudo isso, dialogaremos com a
crioulização de Édouard Glissant (2005) para tecer sobre uma poética da diversidade na canção
em questão. Além disso, ao longo deste trabalho, pretende-se fazer alguns apontamentos da
contribuição desse estudo para o ensino de literatura afro-brasileira.
Este artigo aborda a questão do gênero como veículo de identidade no discurso contemporâneo.
Tentando (des)consturir o discurso hegemônico masculino, rompendo com a binaridade
masculino/feminino e consagrando as premissas da teoria queer que pressupõe discursos pós-
modernos no que tange à idéia da identificação do gênero. Neste contexto, apresentam-se os
discursos presentes nas canções buarqueanas femininas - que se contrapõem às canções de
compositores anteriores a ele - buscando compreender a ruptura da dicotomia
masculino/feminino. É através da política da pós-modernidade que a noção de Estudos do
Gênero, nos corpos sexuados, ganham mais visibilidade , vislumbrando pela Teoria Queer que
dá margens aos estudos da fronteira da identidade, mais precisamente entre o gênero
masculino/feminino.
Podemos afirmar que a literatura traz consigo vários objetivos para a construção de uma
sociedade justa e de respeito às diferenças, dentre esses podemos destacar o disseminar da
isonomia entre sujeitos e a promoção de respeito entre os mais distintos povos. Tomando como
válido esse raciocínio, propomos o seguinte estudo. As Mãos dos Pretos, do moçambicano Luís
Bernardo Honwana, exprime essa ideia de igualdade entre o branco e o negro a partir de várias
histórias que venham dar sentido a seguinte indagação: “Por que as mãos dos pretos são mais
claras que o resto do corpo?”. Destarte, o escopo do presente estudo versa tecer considerações
acerca de como a literatura tem o „poder‟ de trazer para a nossa sociedade ocidental conceitos
que a faça buscar uma maior integração entre os mais distintos grupos sociais, respeitando as
mais diversas marcas identitárias. Como aparato teórico, destacaremos os postulados discutidos
por Russeall Hamilton (1999), Stuart Hall (2003) e Jane Tutikian (2006).
1
Às vezes escreve poemas / outras vezes/ leciona a indisciplina de literatura/ gosta de acender velas para Xangô.
GT 06: AFRICANOS E DESCENDENTES NO BRASIL ESCRAVISTA
Este simpósio tem como objetivo oferecer um espaço de discussão sobre as diferentes inserções
dos africanos e seus descendentes na sociedade escravista do Brasil colonial-imperial, levando-
se em consideração participação ativa dessa população na condição de escravos, libertos ou
libres. Os estudos sobre escravidão tem ressaltado a atuação dos africanos e descendentes para
além das atividades econômicas, bem como a diversidade de culturas, além de percebê-la como
participação efetiva e contínua e não apenas como uma contribuição. Essa participação se faz,
entre outras possibilidades, na formação de famílias, nas diferentes formas de busca pela
liberdade, à procura de melhores condições de vida no cativeiro, na expressão suas crenças.
Desse modo, o simpósio possibilita a apresentação de trabalhos que abordem diferentes aspectos
relacionados à história e cultura dos povos africanos e de seus descendentes, escravos ou livres,
no contexto da escravidão.
Os antigos escravos,que fugiram de seus cativeiros, formaram comunidades que mais de cem
anos depois do fim da escravidão recebem o nome de quilombolas.A comunidade da Boa Vista
dos Negros, localizada na cidade de Parelhas-RN, é descendente de uma escrava que fugiu de
sua condição de cativa no brejo paraibano há mais de duzentos anos. Ela chegou à região do
Seridó potiguar, onde engravidou de um fazendeiro local e deu início a uma comunidade que,
hoje, conta com 150 pessoas divididas em 37 famílias. A referida comunidade mantém vivos os
costumes e as crenças do período colonial.Em um país de dimensões continentais como o
Brasil, onde as extensas paisagens, diferenças marcantes nos níveis de transformação territorial
e urbanização, indicam também sua pluralidade racial e étnica. Sua identidade, em processo
constante de reconstrução, decodifica sua estrutura política, cujo desafio é assumir
decisivamente a nação mestiça que formamos. E assim, o quilombismo no Brasil, bem como
nesse caso tão nordestino, tão potiguar, vem a transcender a tênue linha do espaço/tempo onde
tudo se transforma. Nesse sentido, a preservação de suas raízes tão cheias da historicidade
regional vêm a ser um símbolo de luta e resistência desde a época colonial vencendo as sertanias
de contrato, as perseguições e, até os dias atuais, o abandono e o preconceito.
Já há algum tempo que os estudos acerca da escravidão negra em terras brasileiras vem se
consolidando com bastante força trazendo novos elementos para se pensar as diversas
experiências de homens e mulheres de cor. Na nossa pesquisa, centrada na escritora potiguar
oitocentista e afrobrasileira Auta de Souza (1876-1901), cruzamos documentos diversos e tal
exercício, possibilitou-nos a visualização de escravos e homens pobres livres trabalhando,
resistindo, alcançando sua (s) liberdade (s). Como indicador desse processo podemos citar o
vaqueiro negro Félix José de Souza, bisavô da poeta e que através de seu ofício com as rezes
obteve visibilidade, casando-se com uma moça de posses e de cuja união, nasce uma
descendência de realce no cenário comercial, das letras e da política no contexto de fins dos
oitocentos e início dos novecentos. Nesse sentido, também intencionamos contribuir para se
pensar novas trajetórias da gente negra também na Província do Rio Grande do Norte, gente que
tal como Auta de Souza, mudaram o rumo de suas próprias vidas e formularam outras histórias.
A vida e obra de Luiz Gonzaga Pinto Gama constituem importante retrato de um período crucial
na história dos africanos e afrodescendentes no Brasil. De ascendência africana e portuguesa
,nascido livre no Brasil escravocrata do século XIX, Luiz Gama dedicou sua vida à causa
abolicionista. O poeta fez questão de exaltar sua origem africana, não aceitando o processo de
branqueamento, comum à época. Luiz Gama lutou pelos direitos dos africanos escravos e de
seus descendentes, tendo defendido no tribunal e conseguido a liberdade de centenas de
escravos, mesmo sem bacharelado em Direito. Fez de sua poesia satírica ferramenta contra o
regime escravocrata, a sociedade racista e etnocêntrica de sua época. Esse trabalho propõe-se a
analisar o poema “Quem sou eu?”, a fim de evidenciar a critica e denúncia de uma sociedade
racista e escravocrata sobre o negro. O embasamento teórico é dado pelos conceitos da crítica
pós-colonial e pela contextualização histórica.
A partir do poema “Ebulição da Escravatura”, do poeta brasileiro Luís Carlos de Oliveira, este
trabalho apresenta uma análise da problemática das relações humanas com foco para a situação
do negro na sociedade, de modo a identificar semelhanças e divergências com o período
escravista vivido no Brasil, sob a ótica da representação. Em função disso, pontua na condição
de referencial os estudos sobre a literatura afro-brasileira,como forma de identificar a voz e
identidade do negro, bem como entender a luta contra a exclusão e o preconceito social. O
poema se torna relevante na medida em que destaca uma série de questionamentos e
representações acerca da sociedade, sobretudo ao questionar os desafios para enfrentamento de
situações segregacionistas e exploratórias do ser humano, independente de sua cor, origem ou
classe social. Com isso, este trabalho enfatiza uma leitura contra os estereótipos e discursos
preconceituosos, principalmente acerca do negro, além disso, levanta um questionamento em
torno da liberdade do cidadão, em um contexto onde muitas vozes ainda não são ouvidas, mas,
nem por isso, silenciadas.
Nos últimos anos, pesquisadores dos campos das Ciências Humanas e Sociais, com destaque
para a História, vêm lançando novos olhares para a temática da escravidão negra na América
Portuguesa. Boa parte das abordagens vem sendo orientadas por novas perspectivas e novos
paradigmas e realizadas com base na releitura de documentos históricos até então inéditos ou
pouco divulgados. Nesse sentido, a realização de pesquisas histórico-documentais, visando a
formação de acervos sobre a escravidão negra, vem se constituindo como uma ação de grande
relevância, não apenas para que sejam ampliados os níveis quantitativos e qualitativos das
abordagens realizadas, mas para dar sustentação a busca por uma maior visibilidade das
populações negras brasileiras. Através dessa visibilidade, almeja-se, por sua vez, que sejam
criadas novas sensibilidades e fortalecidas as noções de pertencimento étnico-identitárias entre
os afro-brasileiros. É com base nesses objetivos que está sendo desenvolvido, em Campina
Grande-PB, entre 2012 e 2014, um projeto que visa catalogar os verbetes e os documentos sobre
a escravidão negra no período colonial, reproduzidos no âmbito do Projeto Resgate Barão do
Rio Branco (Ministério da Cultura),realizado a partir dos documentos encontrados no Arquivo
Histórico Ultramarino, Lisboa – Portugal. O artigo apresenta alguns resultados desse projeto,
que visa ampliar o acesso à memória histórica dos afro-descendentes no período colonial.
Este estudo tem como objetivo situar aspectos relativos a uma análise empreendida em textos de
três autores: Luís Antônio de Oliveira Mendes, Antônio Frederico de Castro Alves e José João
Craveirinha a respeito de como o negro não aceitando a condição de escravo, resistiu de
diferentes maneiras, incluindo o banzo – melancolia ou depressão profunda que proporcionava
ao negro escravizado à loucura e até à morte. A coleta de informações realizou-se através de
observação simples, no qual defini-se o comportamento social, o sujeito e o cenário que o Brasil
e África estão inseridos nesse contexto, da colonização aos dias atuais. A pesquisa é de cunho
bibliográfico sendo este um rascunho inicial, material escrito a ser revisada em termos de
conteúdo e de forma de expressão, pela orientação da professora doutora Tânia Lima. Os
procedimentos para a realização dessa pesquisa será compreendida pelos métodos histórico e
comparativo, tentando explicar similitudes e divergências analisadas sob as concepções teóricas
de ROCHA (2002), BACHERLARD (2000), FOUCAULT (1997), entre outros. Propõe-se
agregar possibilidades pedagógicas de escolarização da literatura afro-brasileira, com vistas à
formação dos professores neste país, de seus alunos, de toda a comunidade escolar,
constituindo-se em atividade permanente nas salas de aula.
O presente artigo baseia-se na recente historiografia da História Social da Escravidão, que tem
possibilitado um novo olhar em torno dos escravizados e dos escravizadores, superando a visão
construída em torno da atuação do sujeito em situação de cativeiro como vítima inerte do
sistema, mas também fugindo da hipervalorização de seus atos de rebeldia. Nosso objetivo é
refletir, a partir da historiografia, sobre a atuação dos escravizados nos anos finais de existência
do sistema escravista do Brasil, destacando a importância de suas ações para se por um fim
definitivo na escravidão. Neste sentido, existe uma relevante produção acadêmica, com a qual
iremos dialogar, sobre o processo final de desarticulação do sistema escravista em diferentes
lugares do Brasil, podemos destacar, entre outros, os trabalhos de Chalhoub (1990), Machado
(2010), Lima (2008) e Filho (2006).
Este trabalho tem por intuito contribuir para que seja tecida a história dos escravos e forros,
africanos ou descendentes de africanos, na capitania do Rio Grande, mais especificamente, na
cidade do Natal durante o período colonial. As referências são escassas sobre a escravidão nesse
espaço citado, entretanto, sabe-se da presença de escravos, por meio das poucas fontes que se
tem acesso. Este artigo focará, primordialmente, dois casos envolvendo a questão da escravidão,
que também perpassa pela questão de conflito de jurisdições na capitania do Rio Grande, na
década de 1720 e de 1730. No primeiro caso, tem-se a acusação de que o capitão-mor do Rio
Grande teria soltado escravos da cadeia, ajudando-os a fugir. No segundo caso, envolvendo
outros funcionários régios, há um conflito entre o provedor e o capitão-mor sobre a prova da
alforria ou não de um mulato, e o quanto essa dúvida gerou conflitos entre várias pessoas na
cidade do Natal. Portanto, discutir questões como liberdade, estratégias de escravos de se
passarem por forros em outras localidades, entre outras questões, contribui para um melhor
entendimento da história da escravidão e dos escravos ou forros, africanos ou descendentes de
africanos, na cidade do Natal.
Este ensaio é resultante de uma investigação inicial ocorrida no livro de registro de batismo de
escravos da paróquia de São José de Mipibú entre os anos de 1871 e 1873. O estudo tem o
objetivo de pesquisar as relações sociais que envolvem o sacramento do batismo de escravos
desta paróquia. O trabalho propõe ainda uma breve análise sobre a legitimidade desses escravos,
a verificação da existência da fabricação da família escrava e por fim as relações de compadrio.
Desse modo, pretende-se verificar o caráter do ritualismo católico característico do Brasil e a
relação intimista da religiosidade brasileira. Para enfim, entender como o sacramento do
batismo era capaz de fomentar a legitimidade social. Para discutir a relação da intimidade com
que é tratada a religião no Brasil utiliza-se as ideias de Sérgio Buarque de Holanda, Sidney
Pereira da Silva, Glaúcia Souza de Freire, Juliana Beatriz Almeida de Souza e Sergio Figueiredo
Ferret.
Do final da década de 1720 até 1731 foi aberto um processo contra Manoel da Piedade, escravo
nascido na Bahia e morador da cidade de Lisboa. Neste processo inquisitorial encontra-se
muitos nomes de outros escravos denunciando uns aos outros e principalmente a Manoel da
Piedade. Percebe-se um expressivo contato entre os expoentes, demonstrado pela convivência
que estes deixam transparecer terem vivido, principalmente durante o ano de 1729. A partir
deste processo do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Coimbra pode-se analisar não
somente a convivência destes escravos, suas origens que se mostram bastantes diversas, suas
práticas religiosas e a mescla destas na capital de Portugal, como também a importância destes
processos inquisitoriais, não só pela quantidade de informações contidas neles, mas também
pela minucia dos depoimentos recolhidos pelo inquisidor. Objetiva-se neste artigo evidenciar,
através da análise deste processo, a interação entre os escravos vindos de diferentes partes do
Império em Portugal, bem como analisar as diversas formas de convívio entre estes indivíduos,
que variavam entre o coleguismo e a delação, podendo entender assim como estes agentes
históricos conviviam e estabeleciam relações uns com os outros.
Coordenadores(as): Profa. Dra. Vanessa Rimbau Pinheiro e Prof. Dr. João Batista Pereira
As imbricações entre literatura e história são bastante evidenciadas nas chamadas literaturas
africanas pós-coloniais. Nesta comunicação, num primeiro momento, nos propomos a
contextualizar historicamente - e de forma sucinta - a publicação do primeiro livro de contos do
escritor moçambicano Mia Couto, Vozes Anoitecidas. Tal obra gerou imensa polêmica na altura
de seu lançamento, no ano de 1987, sobretudo por seguir uma ideo-estética contrária à proposta
pelo regime socialista do pós-independência. Em seguida, será de nosso interesse observar não
apenas a historicidade da obra, numa perspectiva geral, mas, sobretudo, como a história do
Moçambique pós-colonial se faz presente na estrutura interna dos textos. Para tanto,
analisaremos o conto intitulado “O dia em que explodiu Mabata-bata”, sob a luz da topoanálise,
e a partir de uma categoria do espaço narrativo: o espaço como focalização, visando demarcar a
historicidade do texto a partir da percepção das personagens e da situação insólita que o mesmo
traz. Para tanto, utilizaremos como base teórico-metodológica os estudos de Brandão (2007) e
Soethe (2007) sobre o espaço narrativo, bem como artigos sobre as relações entre literatura e
história na obra coutiana, com ênfase nos estudos de Meneses & Ribeiro (2008), Mendonça
(1988) e Noa (2002).
Palavras-chave: Literatura; História; Mia Couto; Vozes Anoitecidas; “O dia em que explodiu
Mabata-bata”.
Predadores (2005), romance do escritor angolano Pepetela, narra de forma crítica e irônica o
cenário politico e cultural de Angola entre 1974 e 2004, os primeiros trintas anos de
independência do país. Os conflitos giram em torno da nova burguesia angolana pós-
independência, representada pelo personagem principal José Caposo, o qual ascende
socialmente utilizando métodos corruptos. O romance delineia essa nova elite angolana como a
predadora do projeto identitário nacional tão almejado. Assim, o objetivo deste trabalho é
proporcionar uma discussão acerca da relação entre história e identidade nacional na construção
da narrativa. Predadores questiona o processo político que envolve a Angola de hoje, retomando
a discussão sobre nação, tão pertinente nos romances de Pepetela. Como referencial teórico, são
consultados os autores: Le Goff, Walter Benjamin, Linda Hutcheon, Frantz Fanon, Manuel
Castells, entre outros.
Tomando por objeto a narrativa do conto A saia almarrotada, do escritor moçambicano Mia
Couto, o objetivo deste trabalho é o de verificar como a abordagem da condição feminina,
presente na obra, ilustra a situação de Moçambique no período colonial e consequentemente a
situação da África, em relação a Portugal, levando em consideração os termos históricos e
políticos. Destarte, será utilizado como bases teóricas principais, os livros Arqueologia do Saber
e A Ordem do Discurso de Michel Foucalt para que se possa verificar como ocorre o processo
de dessemelhança, bem como se dá os mecanismos de monitoramento do discurso, tão presentes
na obra e que afeta a personagem que se mostra tão oprimida, subjugada e, por sua vez, sujeita
às leis
A segunda metade do século XX foi marcada, além da II Guerra Mundial, por fortes
atribulações na relação entre Portugal e suas colônias africanas. Atribulações estas
intensificadas pelas guerras ultramarinas e, posteriormente, pelas consequências da queda do
Salazarismo. No âmbito da literatura, duas obras oferecem uma visão aproximada deste período:
Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes, e Mayombe, de Pepetela. Propomos estudar
comparativamente, neste artigo, esses dois romances enfocando a representação do processo de
construção e desconstrução da identidade mediante os mecanismos coercivos do Estado.
Dissertaremos sobre como a violência praticada pelo Estado pode destruir a subjetividade,
reificando-a, ou pode construí-la, interiorizando interesses externos na subjetividade literária.
No primeiro caso, nosso foco será o narrador protagonista de Os Cus de Judas; no segundo, o
personagem Comissário, de Mayombe. Observamos que ambos os personagens, embora
participantes da mesma guerra, têm sua identidade modelada de formas diferentes, o que
transfigura como o momento político vivenciado pelos dois países à época representada na
narrativa pode modificar as características idiossincráticas dos personagens. Para embasar nosso
trabalho buscaremos respaldo, principalmente, nas obras de Stuart Hall, no que diz respeito às
discussões acerca da identidade, e Arturo Gouveia, no que tange à violência do Estado.
A relevância do conto “As mãos dos pretos”, de Luís Bernado Honwana, deve-se à questão da
identidade nacional presente no texto, como uma forma de manifestação contra a Colônia
portuguesa e a busca da igualdade entre os homens, independente de etnia. Honwana crítica o
discurso feito pelos colonizadores e pela Igreja Católica, que desvalorizava o negro e
consequentemente sua cultura, caracterizando-o como bicho, pecador (somente pelo fato de ser
negro), sujo etc. A identidade nacional é analisada à luz do texto “A Identidade Sob Nova Face:
globalização, pós-colonialismo, hibridismo”, do livro “Velhas Identidades Novas: o pós-
colonialismo e a emergência das nações de língua portuguesa”, de Jane Tutikian, em que traz a
ideia de que a cultura é uma fonte de identidade. A parti desta afirmação, discutiremos sobre a
relação entre a cultura do colonizador e do colonizado, sobre a ótica da cultura que olha e a que
é olhada, tal questão é discutida pela autora. Esta relação é bastante importante para o
entendimento do conto. Para o enriquecimento deste trabalho, também será utilizado o texto “A
literatura dos PALOP e a Teoria Pós-colonial”, de Russel G. Hamilton, que contribuirá para a
contextualização do conto, e a compreensão da significância deste como protesto ao regime
colonial.
O presente trabalho busca analisar a obra Vinte e Zinco, do escritor moçambicano Mia Couto,
procurando, a partir do exame dos fatos históricos ali narrados e através da mistura de culturas e
crenças nela mostrados, realizar uma abordagem do ponto de vista ideológico e social,
embasada nos Estudos Culturais. A história, que se passa na Vila de Moebase em Moçambique,
tem como “pano de fundo” os fatos ocorridos entre os dias 19 e 30 de abril de 1974, ou seja, os
imediatamente antecedentes e os imediatamente posteriores à Revolução dos Cravos, ocorrida
em Portugal e que levou à queda da Ditadura Salazarista. De um ponto de vista ideológico,
procuramos enfocar as visões, ações e reações - tanto dos negros como dos brancos diante de
tais acontecimentos. Isso nos permite observarmos algumas dicotomias presentes na real
história das relações luso-africanas, com suas consequências delineadas num produto místico-
cultural resultante. Este estudo visa auxiliar na efetiva implementação da Lei 10.639/2003, que
propõe o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira em todas as instituições de
ensino do Brasil.
Este estudo analisa a obra de três autores luso-africanos da atualidade, a saber, Mia Couto,
Agualusa e Ondjaki. A partir da análise de algumas de suas obras, verificar-se-á de que maneira
estes se coadunam literariamente ou não, com base na verificação de suas escolhas simbólicas e
temático-estruturais. Buscar-se-á também apontar tendências e diretrizes da literatura angolana e
moçambicana na atualidade e seu papel no cenário ficcional. Para tanto, utilizaremos como base
teórica os autores Benedict Anderson, Stuart Hall, Kwame Anthony Appiah, Edward Said, Eric
Hobsbawm e Memmi, entre outros.
Coordenadores: Prof. Dr. Derivaldo dos SANTOS (UFRN) e Prof. Dr. Humberto
HERMENEGILDO (UFRN)
A presente proposta reunirá trabalhos que contemplem o exame do texto literário de escritores
brasileiros e africanos, voltado para o estudo das representações sociais do negro, da identidade
e da memória social, a partir de uma perspectiva intertextual e polifônica que permitirá a análise
crítica e o reconhecimento da identidade nacional brasileira e de África como expressão dessa
pluralidade. Integra ainda o estudo do texto literário afro-brasileiro e seus vários contextos no
âmbito do sistema escolar, considerando as contribuições da Literatura Comparada ao ensino de
literatura de escritores afro-brasileiros. Parte-se do pressuposto de que a “a literatura pode ser
um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição
dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual”, (Candido,
Direito à literatura), contribuindo para a formação da consciência crítica do leitor e para uma
melhor compreensão da vida e dos homens, seja por apontar a necessidade de inclusão social de
sujeitos silenciados pela história social estabelecida, seja por conduzir o leitor ao
reconhecimento do outro como cidadão. A literatura de escritores afro-brasileiros deve ser
discutida como forma de expressão capaz de nos conduzir ao conhecimento da realidade social e
histórica e como experiência de escrita que se eleva à condição de interpretação do mundo.
O presente trabalho trata de uma abordagem crítica sobre literatura e ensino a partir da análise
de uma obra do universo literário infanto-juvenil, O beijo da palavrinha, do moçambicano Mia
Couto. Neste contexto, esse livro representa uma pequena parte da contínua produção deste
escritor, o qual nasceu em Moçambique, sendo biólogo, jornalista e autor de mais de trinta
livros, entre prosa e poesia. Portanto, pensar a literatura funciona como um artefato intelectual e
afetivo que atua como processo de instrução e educação é a função deste trabalho. Partindo
desse raciocínio, a temática deste está voltada para a literatura infanto-juvenil africana como
instrumento de inclusão social e étnica, a fim de discutir a literatura e o ensino a partir do estudo
sobre a obra citada, abordando como problemática principal a reflexão sobre a literatura como
um instrumento que possui papel relevante na formação da consciência crítica do aluno e na sua
formação cidadã. Por fim, nesse sentido, a literatura infanto-juvenil africana, aplicada em sala
de aula, apareceria como contribuinte de uma melhor e mais ampla relação inter-humana,
possibilitando o desmascaramento de qualquer negação dos direitos humanos.
Lima Barreto fora um escritor, mulato e morador do subúrbio carioca que tivera a ideia, quando
jovem, de escrever sobre a “História da Escravidão no Brasil”, ideia essa que só ficara no seu
diário. Entretanto, se o escritor não conseguiu concretizar sua ideia escrevendo a história da
escravidão brasileira, ele logrou o êxito no romance “Clara dos Anjos”. Este romance começou
a ser projetado em 1903 – como está registrado no seu diário íntimo – esó veio a ser publicado
em definitivo em 1923. Inicialmente parecia uma problematização sobre o negro que continuava
a ser marginalizado mesmo após a queda da monarquia em 1889. Em “Clara dos Anjos” apesar
de Lima Barreto abandonar uma escrita histórica da exploração e marginalização do negro no
Brasil, permanece ainda o cerne da ideia inicial, se não histórica, mas contemporânea da
marginalização que o negro continuou a sofrer no período já republicano. O enredo da mulata
que é seduzida, sarcasticamente na data 13 de maio de 1888, por um homem branco e depois
abandonada, tendo sua filha o mesmo fim, não é simplesmente uma ironia de Lima Barreto, é a
representação de uma imagem latente na República Velha: mesmo com o progresso
incrementado pela belle époque a questão do negro, sua condição socioeconômica e seu lugar na
sociedade republicana ficaram em segundo plano, sendo renegado, marginalizado, e ainda,
explorado nos subúrbios.
A presente pesquisa tem como objetivo central a compreensão e a análise das matrizes de raízes
africanas e afrodescendentes na obra poética do poeta baiano Sosígenes Marinho Costa. Analisa
ainda a sua obra do ponto de vista estilístico e formal, a partir dos extratos fônicos e fonéticos.
Inicialmente, parte dos traços biográficos com vistas a entender que influência da cultura baiana
recebeu na sua literatura. Dentre as muitas contribuições desse poeta, tem-se a sua participação
na Academia dos Rebeldes e em veículos de comunicação, como o jornal Diário da Tarde, da
cidade de Ilhéus, onde assinava uma coluna utilizando o pseudônimo Sósmacos. Este trabalho
também discute, entre outras questões: o papel político e social dos seus poemas na sociedade
da época, bem como a deflagração das tradições culturais, religiosas e os costumes
afrodescendentes dos habitantes do sul da Bahia, a grande inspiração dos poemas de matrizes
africanas de Sosígenes Costa. A construção do trabalho se deu através de pesquisa
bibliogrráfica, uma vez que as informações foram colhidas em livros, revistas da área e
consultas a sites de internet, visando o diálogo com os teóricos.
Este trabalho tem como proposta a análise da poética de Ascenso Ferreira sob o escopo da
representatividade social e da memória africana. Sua poesia inovou o Modernismo brasileiro e
revelou à crítica sudestina - também seduzida pela originalidade da obra - a dimensão
emblemática da cultura popular do Nordeste.(Catimbó; Cana Caiana; Xenhenhém; 2008; 6ª
edição; Martins Fontes). Os títulos de seus livros, em especial, Catimbó, já remete o leitor ao
universo Afro-brasileiro O poeta pernambucano desfrutou da convivência com os costumes,
cânticos, linguagem, gastronomia, danças, rituais dos ex-escravos e de seus filhos, do início do
século passado, na qual a configuração da sociedade pós-colonial brasileira firmava-se na
mesclagem dos elementos híbridos de nossa colonização e a busca de uma identidade nacional.
O imbricamento do legado cultural africano na cultura nordestina e brasileira aflora na poesia de
Ascenso Ferreira. Essa representatividade configura-se na semântica Afro-brasileira, na
oralidade, no uso que o poeta fez da rima e da métrica no ritmo dos poemas. Assim como seu
jogo poético em cima de ritmos musicais como cocos, maracatus e sambas de roda, tradições da
herança cultural Afro-brasileiro. O poeta Ascenso Ferreira pesquisou a cultura popular
nordestina, daí representá-la com cores fortes a nossa ancestralidade africana. Em muitos de
seus poemas configura-se a presença de várias vozes; entras elas as do dilaceramento, das dores
sofridas pelos filhos da mãe África Para isso, pretende-se buscar respaldo em Luís da Câmara
Cascudo, Paul Zumthor, Octávio Paz, Jorge Luis Borges, Domício Proença Filho.
O trabalho é fruto de uma pesquisa acerca da produção intelectual do escritor potiguar Luís da
Câmara Cascudo. O empenho que esse dedicou aos trabalhos acerca da cultura popular
brasileira culminou na publicação de mais de 150 obras. Entre os pensamentos desenvolvidos
em seus estudos, temos a concepção de que algumas tradições populares podem ser encontradas
na sua forma pura em determinados lugares, entre esses o continente africano. É a partir dessa
ideia que por volta da década de 1960 é publicado o livro de sua autoria intitulado Made in
África que trata da relação Brasil-África e é de acordo com o próprio Cascudo fruto de sua
simpatia por esse continente e das pesquisas etnográficas desenvolvidas nos países africanos em
busca de uma origem para práticas culturais brasileiras. Nessa obra temos um estudo das
heranças culturais africanas no território brasileiro em relação aos costumes, gestos e falas. Esse
artigo busca desenvolver um ensaio sobre uma contradição presente na trajetória desse
intelectual, poisna medida que tenta promover uma africanização do Brasil através da escrita de
obras como a citada, por outro lado esse intelectual potiguaré apontado por estudiosos como
Durval Muniz de Albuquerque Jr. (2010) como responsável por uma desafricanização de nosso
país, negando em muitos momentos a influência que as tradições africanas possuem na
formação da chamada cultura popular brasileira.
O presente artigo realiza uma análise comparativa entre as obras Os mortos são estrangeiros
(1970), do escritor norte-rio-grandense Newton Navarro, e Rio dos bons sinais (2007), do
escritor moçambicano Nelson Saúte. De início, podem-se apontar as seguintes semelhanças
entre ambas: a opção estrutural dos autores pela forma do conto; e, no enredo das narrativas, a
predominância da temática da morte e sua representação na sociedade. Assim, partindo desses
pontos de convergência, o artigo tece ponderações sobre o gênero conto na literatura
contemporânea, identifica semelhanças no aspecto estilístico da narrativa dos dois escritores e
desenvolve estudo sobre a representação da morte no universo cultural nordestino e no universo
cultural africano. Como fundamentação teórica, recorre-se ao suporte dos estudiosos: Alfredo
Bosi, Câmara Cascudo, Fábio Lucas, Jean Ziegler, João Paulo Borges Coelho.
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma leitura do romance Macau (1934) do
ficcionista brasileiro Aurélio Pinheiro, situado no espaço urbano de uma cidade interiorana
(Macau) no contexto do início do século XX no Brasil. Como cidade litorânea, a extração de sal
é a atividade econômica de maior desenvolvimento em Macau. Nosso olhar recairá sobre a
trajetória das personagens que compõem as margens desse sistema econômico, tradicionalista e
preconceituoso, por exemplo, as criadas, o bêbado, o capanga, as mulheres submissas, o negro,
o índio, dentre outros agentes que não tiveram reconhecimento social e foram vistos, durante
muito tempo, como desgraças, comprometendo o avanço da nação. Usaremos como aporte
teórico Benjamin (1985), Candido (1976) Schwarz (1983) e Spivak (2010), cujos estudos
vislumbram a possibilidade de leitura de uma literatura representando uma realidade social que,
na relação entre centro e periferia, promove o silenciamento de algumas vozes. Pensaremos a
relação da cidade com as margens dos que ficam submersos à beira de um sistema sem saída
que, representado no romance, demonstra a permanência de traços de uma escravidão de raça,
pela subserviência.
A obra poética de Salgado Maranhão caracteriza-se pela forte preocupação com a linguagem,
em instaurar novos sentidos à palavra, sem, contudo, renegar questões históricas e sociais. Uma
das questões que se delineia na poesia deste autor refere-se ao desejo de desconstruir o discurso
dominante que relega a cultura e o indivíduo afrodescendente a uma condição de inferioridade.
Nesse processo de desconstrução, verifica-se a importância dada à recorrência de aspectos da
memória individual e coletiva. O sujeito lírico dos poemas analisados assume-se como
pertencente a uma realidade sociocultural afrodescendente, configurando-se como uma voz
emancipada política e literariamente, capaz de produzir um discurso poético permeado de
sentidos favoráveis à valorização do grupo sociocultural a que pertence, numa postura de
resistência e de denúncia contra a marginalização histórica. A pesquisa se apoia em teóricos
como Halbwachs (2004), Pereira (2009), Cuti (2010), Candau (2012), Paz (2012), dentre outros.
O presente trabalho tem por objetivo relatar a história de Carolina Maria de Jesus, mulher negra,
catadora de lixo, favelada, que demonstrou a convivência das famílias na favela do Canindé em
São Paulo a partir da década de 50. Em março de 2014, a escritora completaria 100 anos;
mulher guerreira, que através da sua luta divulgou a literatura realista e a literatura negra no país
do século XX. Morando em um barracão com três filhos, ela era a mantenedora do lar, apesar
das dificuldades vividas. Carolina de Jesus não se deixava esmorecer, mesmo com fome ou
doente ia buscar o sustento para alimentar suas crianças. Amava escrever e cantar, por isso
relatava tudo o que acontecia na sua jornada de trabalho ou na comunidade onde habitava.
Comentava sobre seus vizinhos insolentes, seus amigos e sobre os problemas que afetava cada
morador. Autora de livros que descrevem problemas sociais, principalmente a fome; Carolina
Maria de Jesus ainda é uma escritora (des) conhecida pela sociedade brasileira e esquecida pelo
cânone literário do nosso país.
Palavras-chave: Literatura negra. Favela do Canindé. Fome. Problemas sociais
Este trabalho focaliza o conto "A escrava", publicado em 1887 pela maranhense Maria Firmina
dos Reis (1825-1917). Segundo os poucos críticos que reconhecem a magnitude de sua obra,
trata-se da primeira escritora afrobrasileira a enxergar a escravidão sob a perspectiva dos
escravizados, como explica Eduardo de Assis no posfácio escrito no romance Úrsula, da mesma
autora, de 1859. Agraciada com uma mentalidade à frente de seu tempo, traz em suas obras o
drama dos negros diante de sua condição de escravo, onde são representados de forma diversa
ao postulado pelos discursos científico e religioso da época. Diante disso, pretende-se investigar
como se dá o componente das representações sociais no conto "A escrava", especialmente a
representação do negro, da escravidão e da mulher, de acordo com as reflexões de Luiz Costa
Lima em Mímeses e Modernidade. Além disso, busca-se com este trabalho, o incentivo ao
estudo da obra de Maria Firmina, já recomendado por alguns críticos que apontam a relevância
da autora para a (re)construção da história do nosso país.
Jorge Amado tem uma relação intrínseca com a Indústria Cultural, desde a década de 1940, o
escritor, tem emprestado suas obras para o cinema. Dentre elas, escolhemos como objeto de
análise o livro Capitães da Areia, romance lançado na década de 1930. O livro narra a história
de um grupo de meninos abandonados em Salvador. A narrativa foi traduzida para o cinema em
dois momentos: o primeiro, em 1971, com The Defiant. O filme é interpretado por atores
americanos e brasileiros. Os atores escolhidos para o grupo de "capitães" não são todos negros
como descritos no romance, o diretor optou em representar alguns dos personagens com atores
caucasianos. Essa escolha ocasionou críticas à produção fílmica pelo processo de
"embranquecimento" das personagens. No segundo momento, temos uma versão nacional,
exibida em 2011, em meio às comemorações do centenário de nascimento do autor, a direção
fica por conta de Cecília Amado. O elenco principal é composto por adolescentes, não atores e
afrodescendentes, selecionados entre jovens das comunidades soteropolitanas. A partir dessa
constatação, partimos da hipótese de que a diretora adotara como fundamento a estética realista
para a realização fílmica. Pretendemos fazer uma análise comparativa, interrogando-nos que
condições históricas permitiram maior visibilidade do negro no cinema.
Este trabalho tem como objeto de estudo o conto “Uma negrinha acenando”, de Dalton
Trevisan, procurando analisar o modo como a representação da mulher negra se insere na
narrativa como ser submetido à margem da realidade social. Procura-se analisar questões
relacionadas ao meio social em que a personagem principal se insere, sua natureza mutável e o
drama social por ela vivido. Para proceder à análise, foi utilizada como orientação de leitura a
perspectiva crítica de Antonio Candido (2006), no que se refere à relação entre o texto literário e
a vida social, e Auerbach (1987), no trato dado à representação da realidade na literatura, o
pensamento de Eduardo de Assis Duarte (2008), presente em Literatura afro-brasileira: um
conceito em construção, e de Sandra Goulart (2010), em Pode o subalterno falar?.
A 13 de maio de 1888 era sancionada a Lei Áurea, abolindo o regime escravista no Brasil. Mas
a dita abolição representou o fim da servidão e a emancipação da população negra? O presente
estudo busca demonstrar - a partir da revisão bibliográfica, da elaboração de fichamentos e da
consolidação de um repertório teórico adequado à hipótese - que a representação realista do
negro e da abolição na “narrativa memorialista” do romance Menino de Engenho, de José Lins
do Rego, confirma o caráter humanizador da literatura expresso no ensaio intitulado O Direito à
literatura, de Antonio Candido; na obra A literatura em perigo, de Tzvetan Todorov; bem como
em Literatura para quê?, de Antoine Compagnon. A literatura se transforma, assim, em
“instrumento de combate” , cumprindo sua função desfetichizadora e emancipatória. A leitura
do romance de José Lins publicado em 1932 provoca uma visão mais nítida sobre o passado e o
presente, permitindo relações pertinentes entre a insuficiência da Lei Áurea e o extermínio da
juventude pobre e negra em curso no Brasil. “Para esta gente pobre a abolição não serviu de
nada”, terá servido a democracia burguesa?
A identidade, assim como a memória, se estabelece a partir de uma construção simbólica que
envolve a relação com o outro e com o mundo. No livro Um defeito de cor, de Ana Maria
Gonçalves (2012),as problemáticas da identidade, das questões do ser, pertencer e se afirmar,
alicerçam a triste história de Kehinde:mulher negra vinda da África que escravizada passa pela
travessia a bordo de um navio negreiro rumo à Bahia, onde vive a maior parte da vida. Sua
história revela toda a violência consequente dos estereótipos que definem e limita a imagem da
mulher africana, ressaltando apenas seus atributos físicos, sua sensualidade, sua fala e
dispensam os conceitos que realmente constituem os significados de identidade. Identidade que
indiferente às características criadas com sentido único de ênfase à desigualdade constitui-se
pelo fazer da vida, pelo acúmulo de experiências múltiplas e pela consciência que temos de nós
mesmos.Desse modo, o presente trabalho objetiva discutir sob o viés da história de Luíza, o
processo de (re)constituição da identidade por meio da memória, no contar da história de vida. E
nessa perspectiva, discutir-se-á a cerca das problemáticas da identidade à luz de Bauman (2005),
Hall (2003, 2006), Babha (2003) e Woodward (2009). A respeito da identidade negra através
dos conceitos de Munanga (2006), Nascimento (2000, 2003) e Santos (1990). E sobre as
implicações da memória por meio dos estudos deBosi (1994) eHalbwachs (1990), entre outros.
Como um dos aspectos recorrentes da Literatura produzida por escritores negros no Brasil
surgem versos sobre problemas de ordem social e que, em significativa parcela desta produção,
as disparidades entre pobres e ricos, entre negros e brancos, aparece como indício recorrente.
Em diversos poemas de Solano Trindade (1908-1973) há evidentes marcas de uma desigualdade
social que margeia aquilo que Jaime Ginzburg (2012) chama de imagens de violência e
melancolia na literatura. Na composição poética intitulada “Civilização branca”, da obra O
poeta do povo (2008), de Solano Trindade, se faz propagar um eco também perceptível do
escritor afro-americano Langston Hughes (1902-1967) em seu poema “I, too”, publicado na
década de 1920 em meio ao movimento conhecido com Harlem renaissance. O objetivo aqui é
pronunciar uma visão acerca de como a literatura pode servir de “instrumento consciente de
desmacaramento” (CANDIDO, 2004) e como os poetas negros percebem a discriminação
racial/social na poesia de forma com que os dois textos citados funcionem como micronarrativas
de um cotidiano em que a (auto)imagem do negro corresponda a um outro indício, o de
mudança e justiça social para eles. Há nestes poemas/poetas uma voz lírica individual,
contemporânea, que se mescla a um teor sugestivamente coletivo e crítico.
Compreender a representação dada ao negro no texto literário foi o interesse que norteou a
pesquisa desenvolvida através do programa PIBIC/UEPB, com fins de realizar um estudo dos
processos de construção/reconstrução dessa representação na literatura de cordel a partir de
textos cujos temas assinalassem a visão de uma identidade positiva do negro. Quando da
pesquisa, verificou-se que cada vez mais a literatura de cordel assume um papel didático-
pedagógico na sociedade. Está a cada dia ganhando espaço nas escolas, na mídia e em diversos
ambientes de discussão. Essa crescente valorização do cordel se justifica no fato de ser um texto
promotor de questionamentos e representação da realidade, possibilitando resgate do passado,
crítica e denúncia social. Os resultados obtidos na pesquisa tornaram possível observar
expressões literárias cuja linguagem desconstrói estereótipos negativos, resgatando a
contribuição do negro na história do país e no processo de formação étnica de nosso povo.
Como gênero do discurso,no ambiente social da sala de aula,tende a contribuir na formação do
leitor, proporcionando o domínio de outros conteúdos advindos da diversidade cultural,
valorizandodiferentes práticas culturais e pondo em foco os direitos da cidadania.
O presente trabalho tem como objetivo analisar, à luz da Lei 10.639-03, o dialogismo identitário
entre as obras Princesa Violeta, de Veralindá Ménezes, Valentina, de Márcio Vassallo. Para
tanto, serão utilizadas como principais suportes teóricos as reflexões de Eni Pulcinelli Orlandi e
Michel Foucault, em suas respectivas obras Análise do Discurso e A Ordem do Discurso; e a
própria letra da Lei 10.639-03, que apregoa o ensino da História e Culturas Afro-brasileiras e
Africanas nas escolas brasileiras. Questões, por exemplo, como a longa ausência de uma
princesa negra na literatura de um país tão miscigenado quanto o Brasil, pode levar-nos a
pensar, esse silêncio (ausência), como uma estratégia subliminar, historicamente colocada a
favor das ideologias elitistas. Bem como, a nos questionar de que maneira estes conceitos
podem influenciar na formação da criança/adolescente? Desta forma, o presente trabalho
objetiva analisar, à luz da Lei 10.639-03, o dialogismo identitário entre as referidas obras,
comparando-as e associando-as ao poder da palavra enquanto práxis libertadora.
Esse GT pretende reunir trabalhos sejam teóricos ou empíricos, que discutam de que maneira
as representações da cultura afro-brasileira aparecem em três dos mais prolíficos campos da
arte: a música, a pintura e a literatura. Buscando problematizar dilemas éticos, estéticos e
políticos que ainda são da ordem do dia na nossa sociedade machista e racista. Partimos da
ideia que toda discussão sobre arte fortalece a ciência na medida em que amplia suas
possibilidades e pressupostos, trazendo para o âmbito das ciências humanas a discussão sobre o
engajamento político e a poetização da narrativa, duas das dimensões que mais podem ser
enriquecidas com essa incursão epistemológica das ciências humanas à arte. Para tanto,
conceitos como hibrides ou mestiçagem, tais como desenvolvidos por Bruno Latour e
Michel Serres, respectivamente, bem como a ideia da arte como tutoria de resiliência de Boris
Cyrulnik se revestem de caráter central para a discussão que aqui empreendemos, visto que
não se trata tão somente de narrar de que maneira o afro brasileiro aparece na arte brasileira
bem como até que ponto essa ampliação de perspectivas pode problematizar a própria
ontologia do conhecimento nas ciências humanas, tomando as representações da cultura afro-
brasileira como signos de resistência político-cultural cientifica contra a normatização das
éticas e estéticas existenciais que constituem e são constituídos, dialogicamente,
paradoxalmente,tanto as ciências quanto as artes tais como se apresentam, tão bem, por
exemplo, nas obras de Friedrich Nietzsche e Claude-Lévistrauss.
Esta comunicação tem como objetivo analisar e expor as influências vindas da África que
ressoam na obra musical de Clara Nunes. Elegemos como objeto de estudo algumas canções
gravadas por ela a partir de 1971, quando se iniciou sua afirmação como cantora, sambista e
figura emblemática no imaginário cultural afro-brasileiro, pois, além de entoar sambas que
retomam nossa afrodescendência, Clara representava em si o que cantava: em 1971 viajou para
a África e de lá voltou convertida ao candomblé e com novos rumos para sua carreira. É quando
sua imagem passa a ser vinculada às religiões afro-brasileiras, cultos que ela seguia,
tendo imprimido no imaginário brasileiro sua semiótica dos anos 80, pouco antes de seu
falecimento: cabelos vermelhos, armados, trajando sempre roupas brancas e guias de entidades
religiosas do candomblé e da umbanda. Para guiar nossa pesquisa buscaremos em Fanona
igualdade entre os problemas do colonizado antilhano e o colonizado brasileiro, a começar pela
linguagem: ao reprimir a linguagem do colonizado, o colonizador mata sua originalidade
cultural, tratando-a como inferir e introjetando a cultura da metrópole como oficial, superior e
única. Nesse mesmo caminho, EdouardGlissant, bebendo da fonte de Deleuze e Guattari, falará
em rizoma, a raiz que se une com outras raízes, aplicado ao princípio da identidade, uma forma
de ver positivamente a diversidade cultural. Assim, parafraseando Fanon, Clara Nunes, ao
buscar representar uma imagem audiovisual afro-brasileira, fará uso de uma máscara negra por
sobre sua pele branca, mas que, com seu canto, ressoa mestiça, rizomática, herança aqui deixada
pela cultura africana.
O presente trabalho expõe uma pesquisa feita para conclusão da matéria de Introdução à
Etnomusicologia do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de Sergipe. Os
afoxés, ou como é conhecido, “candomblé de rua”, leva para as ruas seus cortejos com alguns
aspectos característicos do Candomblé, como músicas, danças e as louvações aos Orixás. A
pesquisa fala sobre os afoxés do estado de Sergipe. Sendo o Afoxé Omu Oxum da cidade de
Aracaju, hoje o mais antigo do estado, tem como principal diferença a valorização da mulher
dentro dele e da sociedade, fazendo sempre homenagens as Ayabás, como também avultando a
importância da música para as religiões afro-brasileiras. O afoxé Omo Oxum foi o escolhido
como base para nossa pesquisa pelo diferencial entre os demais. A pesquisa está estruturada em
duas etapas: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo.
Luiz Silva, conhecido por Cuti, nasceu em Ourinhos – SP, no dia 31 de outubro de 1951.
Formado em Letras pela USP, é Mestre em Teoria da Literatura e Doutor em Literatura
Brasileira pela Unicamp. Foi um dos fundadores do Quilombhoje Literatura e um dos criadores
dos Cadernos Negros, tendo sido membro da Comissão Nacional do “Primeiro Encontro de
Encontros Negros”. Em sua obra, Cuti focaliza estereótipos e preconceitos presentes numa
sociedade miscigenada, que ignora os problemas enfrentados pela minoria negra. Este trabalho
tem por intuito discutir os poemas “Crespa Cantiga”, “Quebranto” e “Operação Pente-Fino”,
que expõem e criticam comportamentos discriminatórios de uma sociedade preconceituosa onde
os dominados internalizam a cultura do dominador. O suporte teórico para este estudo é dado
pela crítica pós-colonial e pelo conceito de poder simbólico.
Este artigo trata da identificação do senso comum como elemento cultural e valorização do
candomblé através da vivência de Pedro Archanjo personagem da obra Tenda dos Milagres
(1964) de Jorge Amado. É um estudo que analisa etnograficamente a oposição apresentada no
enredo entre o conhecimento popular x saber científico justificado e reafirmado através da
descrição de costumes e da religião de matiz africana. No texto, Pedro Archanjo possui um
conhecimento compatível com o saber acadêmico, mas não dispõe do mesmo prestígio social
por não ser branco e católico. Este aspecto norteará o estudo direcionando a reflexão sobre a
temática da mestiçagem colocada pelo autor e procurando entender a relação existente entre o
candomblé e a construção identitária do personagem do personagem através dos acontecimentos
ocorridos da tenda dos milagres. É um estudo relevante porque contribui para consolidar a
importância da religião africana na formação cultural da sociedade brasileira através da
evidenciação dos costumes e ritos populares.
Este trabalho parte da análise da discografia e artes de capas de trabalhos e de entrevistas dadas
pela cantora Clara Nunes ou sobre ela para desenvolver os conceitos de mestiçagem e hibridez
numa arte que descamba para uma atitude política dessa artista e que serve de ponto de
referência e inspiração para uma discussão que religue ciências humanas e artes, valorizando os
elementos afro-brasileiros como signos de resistência cultural e politização do pensamento.
Apoiam essa discussão autores como Claude Lévi-Strauss, Edgar Morin, Bruno Latour e Michel
Serres.
Nas últimas décadas do séc. XX, a instituição escolar tem sido uma realidade para o povo
Xacriabá (MG) do mesmo modo que a escrita (autoria), essa denominada de literatura indígena.
Em 1997 foi publicado o livro O tempo passa e a história fica escrito e ilustrado pelos
professores Xacriabá, José Nunes Oliveira e Domingos N. Oliveira. O presente trabalho analisa
a literatura indígena, especificamente o citado livro, no intuito de perceber como se estabelece
o elo entre a experiência docente como instrumento que fomenta a identidade indígena, pois se
reconhece a escola como espaço de transmissão de conhecimento, valores, hábitos,
pensamentos. Destarte, é interesse do seguinte trabalho situar como se relaciona a atuação dos
professores indígenas com a(s) realidade(s) da(s) aldeia(s) – o ordenamento organizacional
indígena –, pensando as demandas, as memórias, as relações temporais, inevitavelmente
interligados com as lutas e reclames de direito de acordo com a especificidade do processo
histórico.
Yemanjá ou Iemanjá é um orixá vindo da Africa, sendo seu nome derivado da expressão yoruba
Yéyé omo ejá, que significa "Mãe cujos filhos são peixes"e representado no candomblé pelo
assentamento sagrado que se denomina igba yemanja. No dia 02 de fevereiro é comemorado em
todo o Brasil o dia de Iemanjá, o dia de festa no mar, em homenagem a Iemanjá. Iemanjá é um
mito que atravessou todo o Atlântico, vindo do continente Africano se fundindo com a cultura
brasileira. No Brasil este mito passou a ser considerado um sinônimo de tolerância, de
esperança, amor e carinho. Iemanjá a Rainha do Mar recebe festejos no Brasil, país de grande
sincretismo religioso, por pessoas que pertencem as mais diversas religiões, classes sociais e
níveis culturais. Iemanjá é sim a rainha das águas salgadas e vista pelo nosso povo como a
padroeira afetiva de todo o litoral brasileiro. Existe um sincretismo entre as santas católicas:
Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora de Glória.
Ocorre em certos momentos festas em que as duas são homenageadas. No Brasil tanto Nossa
Senhora dos Navegantes como Iemanjá são homenageadas no dia 02 de fevereiro, e neste dia se
comemora com uma grande e bela procissão através das águas dos rios.
O universo religioso afro-brasileiro está repleto de personagens que, de alguma forma, traduzem
os mais variados tipos sociais. Distantes de figurarem estritamente no espaço sagrado do
terreiro, as representações imagéticas de entidades da umbanda e do catimbó-jurema são
utilizadas também em práticas híbridas onde se misturam concepções religiosas afro-luso-
indígenas. Neste sentido, as imagens de Pretos-Velho, Mestres do catimbó e de santos católicos
podem ser encontradas não somente nos terreiros ou em centros específicos onde se desenrolam
ritos religiosos de cunho mediúnico, mas também num lugar bastante significativo: o cemitério.
O espaço destinado ao repouso eterno dos corpos que sucumbem à marcha indelével da vida
escapa à função que lhe foi atribuída a partir do momento em que passa a protagonizar tramas e
dilemas importantes do cotidiano humano. A encruzilhada enunciada no título encontra-se no
Cemitério São Miguel, na cidade de Santa Cruz, pedaço agreste do Rio Grande do Norte.
Recentemente esta cidade ganhou notoriedade ao receber uma vertiginosa estátua de Santa Rita
de Cássia. No entanto, em desacordo ao discurso hegemônico católico, na “terra da santa”
existem práticas que fogem à esfera religiosa do catolicismo, prova disso são os elementos
encontrados sobre um jazigo de um milagreiro, localizado na referida necrópole. No túmulo
podemos encontrar uma gama de símbolos reveladores da pluralidade devocional dos fiéis que
recorrem àquele espaço sacralizado: velas, fitas, ex-votos, várias imagens de santos, imagens de
pretas e pretos-velhos, representações de Zé Pelintra, oferendas, etc. Analisar essas imagens,
relacionando-as com o universo híbrido da religiosidade brasileira é o nosso intento.
Por muito tempo e, ainda nos dias de hoje, Pombagira recebe o arquétipo da “moça da rua”,
“mulher da vida”, gerando vários equívocos e múltiplas interpretações. “Pombagira”,
considerada por alguns pesquisadores como um Orixá feminino cultuada na Umbanda, nosso
lugar de investigação, é a guardiã, mestra da vida, senhora dos caminhos à esquerda dos Orixás.
Esta pesquisa caracteriza-se como uma escrita analítico-discursiva, por localizar-me no centro
da experiência vivida - como médium de umbanda e, como pesquisadora que saboreia as trocas
de conhecimento e a procura questionadora dos caminhos - vários, que tecem os fios da teia dos
mistérios que envolvem o Orixá Pombagira. Tais mistérios, entre a materialidade e a
transcendência, se mesclam, neste artigo, à pesquisa de gênero e no imaginário da mulher
ameaçadora, que afirma sua sexualidade, dona e senhora do seu corpo, de suas escolhas e de
seus caminhos, dona das encruzilhadas - a evocação de um feminino transgressor. Este estudo
insere-se no Núcleo de Estudos em Educação Popular, Escola, Gênero e Relações Étnico-
Raciais - CNPq do curso de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri - URCA, do qual
faço parte como artista-professora-pesquisadora.
Estudos sobre religião são relevantes sempre, pois mesmo numa sociedade laica, este aspecto
constitui-se em elemento primordial para a elaboração sócio-cultural da identidade dos grupos.
O objetivo deste Ensaio é refletir sobre a relação de gêneros no Terreiro de Candomblé,
enquanto produto dos anseios negros na reelaboração de sua espiritualidade e de suas crenças no
cenário colonial brasileiro. Partindo da pesquisa bibliográfica e utilizando como referencial
teórico alguns nomes como Teixeira (2000) e Verger (1992), são apresentadas algumas ideias
sobre os papeis feminino e masculino no espaço dos terreiros e sobre como estes foram
definidos ao longo do tempo. A abordagem também dá conta do trabalho social do terreiro,
quase sempre invisível para a maior parte da sociedade, embora em menor escala para não fugir
ao tema ensaístico principal. O trabalho não apresenta um final conclusivo, mas abre
precedentes para novos questionamentos a respeito de um tema instigante e ainda alvo do
preconceito de algumas pessoas.
Palavras-chave: Religiões afro-brasileiras; Terreiros de candomblé; Relações de gênero.
O artigo é uma análise das manifestações e representações das religiões de matriz africana
presentes no espetáculo Vau da Sarapalha, encenado pelo Grupo de Teatro Piollin. Pretende-se
analisar os signos referentes às religiões de origem africana presentes na música, nas expressões
corporais e vocais e nos objetos cênicos que constituem o espetáculo Vau da Sarapalha.
Almeja-se compreender a contextura de representações ritualísticas, ancestrais e mediúnicas
presentes nos diversos sistemas de signos do espetáculo Vau da Sarapalha. Quanto aos
procedimentos metodológicos, pretende-se realizar pesquisa teórica e análise de uma gravação
em vídeo do espetáculo Vau da Sarapalha. Adota-se como referência a abordagem da Semiótica
da Cultura, tendo como base o conceito de modelização. A pesquisa se constitui como um
estudo de caso com abordagem qualitativa, com ênfase nas trocas entre literatura e teatro,
comunicação, semiótica, e teorias da análise do teatro. O artigo é parte da dissertação em
andamento “Vau da Sarapalha: uma abordagem semiótica”, desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Letras da UFPB, sob a orientação da professora Dra. Elinês de Albuquerque
Vasconcelos e Oliveira.
O presente trabalho realiza uma análise de itens lexicais, nos seus processos semântico-
contextuais, que são utilizados na voz da Pomba Gira, entidade espiritual de rituais afro-
brasileiros. Objetivamos compreender como a significação acerca do imaginário da pornografia,
enquanto manifestação do Eros, se realiza na dinâmica do contexto ritualístico, em que se dá a
interação entre sagrado e profano. Dialogamos teoricamente, com Paul Zumthor, no tocante às
poéticas da oralidade; com Alessandro Duranti, sobre a Antropologia Linguística; com Mircea
Eliade, sobre os aspectos imaginários do ritual; e com Gilbert Durand, sobre os aspectos
simbólicos do imaginário. Os dados analisados foram coletados etnograficamente, por meio de
gravação audiovisual em situações reais de ritos afro-brasileiros na cidade de João Pessoa-PB.
Uma das principais conclusões que os dados da pesquisa nos levam é que não há uma dicotomia
entre a pornografia e o ritual religioso, mas uma mistura de elementos do sagrado e do profano
na constituição da identidade afro-brasileira.
O ÚTERO DA RESISTÊNCIA
Este trabalho é resultado de observações e reflexões feitas a partir das experiências e do contato
com as dinâmicas culturais afro-brasileiras e africanas que dialogam com os estudantes da
educação básica da rede pública da periferia do Distrito Federal. A pesquisa busca identificar os
discursos estéticos produzidos pelas festas de candomblé ketu e pelas manifestações culturais
que nascem no interior dos espaços sagrados. Para tanto, parte da análise dos símbolos presentes
no processo de iniciação à estética do documentário Iroco _ A Árvore Sagrada, dirigido por
Clarice Hoffman. A análise estética dos elementos cênicos presentes nas festas de candomblé
sob a ótica da Etnocenologia nos remete às noções de construções de estratégias e de narrativas
que se contrapõem ao discurso hegemônico do etnocentrismo europeu. Os candomblés
apresentam um contraponto à visão do corpo negro submisso e humilhado imposta pelo
colonialismo no Brasil ao produzirem uma imagem mais coerente com a luta, a resistência e a
ancestralidade dos povos africanos para evitar a mera folclorização e teatralização da
profundidade da cosmovisão africana.
O discurso dos Orixás em Tenda dos milagres, de Jorge Amado é um estudo sobre a questão da
resistência religiosa evidenciada no romance amadiano publicado na década de 70 e através
deste estudo sobre a questão da ideologia religiosa, à luz das considerações de Alves (1984),
Paleri (1990), Smith (2001), Valente (1994) e Orlandi (1997) sobre os costumes afros e o
sincretismo desenvolvido em nosso país, o trabalho vem mostrar a pertinência da religião
africana em meio à opressão, às práticas excludente e, principalmente, a tentativa de
marginalizar a herança cultural africana. Ressaltando o caráter social que possui a obra em
análise, o estudo evidencia a permanência de traços religiosos africanos na sociedade brasileira,
além de demonstrar as variadas formas encontradas pelo povo mestiço a fim de estabelecerem a
sua resistência cultural. Considerando as situações apresentadas na obra é, pois necessário
afirmar que o discurso narrado apresenta-se como suporte para exaltar, desmistificar e incluir a
religião afro no espaço privilegiado que vem sendo reservado às religiões cristocêntricas, uma
vez que a mesma possui características típicas de toda e qualquer religião tida pelos dominantes
como única verdade possível.
A religiosidade afro brasileira é a junção de costumes, práticas e da memória trazidos por negros
e negras que em meio a um mundo e realidades distintas procuraram construir um laço que
ativasse suas formas culturais . Nesse sentido, o presente trabalho visa abordar a temática da
Jurema Sagrada, pratica religiosa que resulta da dupla pertença entre os cultos afro brasileiros e
indígenas especificamente no estado de Pernambuco, destacando a presença da figura feminina
e das formas de exaltação desse gênero dentro do culto, através do respeito, devoção, cores,
vestimentas, adereços, e seus respectivos significados. Mostrando que tanto a Sacerdotisa,
quanto as figuras das próprias entidades na Jurema Sagrada possuem um valor evidentemente
elevado e de muita importância pois as tradições, os ensinamentos são passados através das
gerações, e ambas trazem consigo o domínio de uma pratica cultural e religiosa que na maioria
das esferas religiosas são especificas da figura masculina. Destacando assim, que a
religiosidade popular e as questões de gênero ocupam o campo amplo de discussão pois essas
particularidades culturais se unem ao meio social e compõem um grito das minorias que lutam e
resistem contra a tradição do fundamentalismo religioso na pós modernidade.
RESUMO: Exu, um dos orixás presentes nos cultos afro-brasileiros, é o responsável pelo elo
entre as esferas do sagrado e profano. Esse orixá possui diversas falanges compostas por
espíritos desencarnados de boêmios, malandros, prostitutas e amantes vingativas. A falange de
Bombojira, popularmente conhecida como Pomba Gira, quando incorporada no “aparelho”
feminino, caracteriza-se pela sensualidade escandalosa que em muito se opõe à visão ocidental
cristã, culturalmente sancionada no uso do corpo da mulher. Nosso objetivo neste trabalho,
portanto, foi analisar a figura da Pomba Gira a partir dos atributos sexuais presentes na sua
manifestação corporal, além de confrontá-los à discussão do cristianismo, que preza pela
discrição dos comportamentos femininos. Os pressupostos teóricos basearam-se nos estudos
feitos por Anjos (2006), Augras (1989), Birman (1985), Bastide (1978) e Eliade (1957). As
análises concentraram-se majoritariamente no campo da Antropologia, uma vez que as
pesquisas feitas no âmbito da História das Religiões sobre os cultos afro-brasileiros ainda são
muito reduzidas. Concluiu-se que as Pombas Giras não sendo entidades nem de luz e nem de
trevas, dialogam diretamente com um corpo casto.
Em 2014 completar-se-á trinta anos da estreia do filme de longa metragem “Quilombo” dirigido
por Cacá Diegues. A película leva ao público a epopeia do Quilombo dos Palmares e a luta pela
liberdade dos negros no Brasil. Parece um assunto bastante explorado pela filmografia
brasileira, mas a maior contribuição para os estudos sobre a África e os afro-brasileiros é a
leitura das resignificações propostas pelo filme e o papel determinante das práticas religiosas,
principalmente iorubanas, no cotidiano, desenrolar e construção das lideranças de Palmares na
narrativa do filme. “Quilombo” não perdeu sua atualidade e merece uma discussão mais ampla e
profunda sobre os caminhos da luta contra a escravidão e as relações ancestrais dos negros
nascidos no Brasil com a África deixada a força por seus antepassados. Zumbi, Dandara e tantos
outros negros líderes de Palmares são filhos da América, mas pertencentes ao universo sagrado
dos Orixás.
Arilma Soares
As aulas de dança afro brasileira na Escola Municipal Nossa Senhora da Apresentação além da
técnica de corpo são utilizadas lendas dos orixás e outra historias que abordam a cultura africana
como recurso pedagógico. Pretende- se assim através da dança estreitar relações dos saberes
étnicos culturais comuns a africanos e brasileiros, sensibilizando o corpo para despertar seu
imaginário e torná-lo consciente na relação com o outro, reativando memorias corporais
pertinentes a sua ancestralidade. A lenda de iemanjá, uma releitura, que aborda a historia de
uma mulher que estava perdida com seus filho(a)s em uma floresta e ao tocar seu corpo
percebeu que saia muita água e ela podia alimentar seus filhos ao mesmo tempo em que este
excesso de agua tornou- se um rio revelando o caminho de volta pra casa. Uma metáfora da vida
de tantas mulheres, mães sozinhas que sustentam filhos e filhas, que experimentam juntos, uma
luta cotidiana pela sobrevivência. As lendas na escola trazem a reflexão sobre essa realidade de
forma lúdica provendo associações ao contexto familiar, construção da sua corporeidade e
possibilidades de afirmação/identificação enquanto sujeito afro descendente.
Partindo do princípio de que os países africanos ainda são orientados religiosamente em sua
maioria pelas crenças tradicionais, nosso simpósio acolhe trabalhos que tenham como objeto de
análise textos literários africanos em verso ou prosa que evidenciam o registro de mitos e/ou
ritos africanos que sobreviveram às imposições religiosas coloniais de diversas orientações
dogmáticas (protestantismo, catolicismo, anglicanismo, entre outros) impostas pelo colonizador
nos países africanos. A produção literária africana da fase pós-colonial, através das obras de
Paula Tavares, Paulina Chiziane, Luandino Vieira, Pepetela, Ungulani Ba Ba Khosa, Vera
Duarde, Odete Semedo, entre outros, sempre mostram as crenças tradicionais como um traço
identitário que marca a presença da tradição na modernidade no sentido reforçar a ideia de que
há entre os intelectuais africanos uma cumplicidade cultural revelada por meio do registro de
temas denunciadores de uma conduta local impermeável às investidas do colonizador. A
religiosidade é um solo impermeável, uma vez que trazem para o discurso literário um universo
cultural muito específico do povo africano.
A oralidade, traço preponderante na cultura africana, passa a figurar também na escrita literária
quando esta começa a fazer parte desse universo cultural, tornando-se um dos modos pelos
quais se recria e subverte a língua do colonizador e se reinventa os elementos da tradição. É
.nesse sincretismo da voz (tradicional africana) e da letra, um dos aspectos de originalidade da
literatura angolana (MATA, 2014), que se inscrevem também as dimensões identitárias da
angolanidade. O escritor Boaventura Cardoso usa essa forma fabular em A morte do velho
Kipacaça (1987) para reinventar a sabedoria popular e reinscrevê-la em outro tempo, contexto
histórico e ideológico. Tomando essa obra como objeto de estudo, pretendemos analisar como
os três contos - “O sol nasceu no poente”, “A árvore que tinha batucada” e “A morte do velho
Kipacaça”- aparentemente independentes, são marcados pelos ritmos e símbolos da
religiosidade e modos de vida africanos, pela interpretação de provérbios, pela poeticidade e
plasticidade na linguagem, buscada na oralidade das cercanias da Quibala (província do Kuanza
Sul). Além disso, objetivamos verificar se os elementos da essencialidade africana que
permeiam as narrativas - o batuque, a árvore, o velho, o fogo – se inscrevem como força e
resistência ao colonizador e/ou marca identitária.
O objetivo deste artigo é analisar a obra da escritora Dionne Brand, A Map to the Door of No
Return (2001), uma meditação auto-reflexiva sobre a memória, a identidade e a história da
diáspora Africana. A autora é natural de Trinidad e reside no Canadá desde o ano de 1970.
Dionne Brand expressa a mudança de território como uma fissura entre o passado e o presente,
em uma tentativa de desenhar um mapa do território inexplorado dos seus ancestrais como uma
mulher negra no Canadá. A autobiografia ficcional objeto deste estudo também foca nas
questões de pertencimento embora a autora apresente uma visão inusitada sobre como as
feministas negras devem lidar com essa ideia. Ao buscar por seu passado, Dionne Brand narra
fragmentos de suas memórias pessoais, memórias de viagem e artigos de jornal. A análise da
obra teve como referencial teórico Fanon, Gilroy, Du Bois e Cesaire, entre outros.
A fim de evidenciar a literatura africana feita por mulheres, esse estudo tem irá refletir sobre as
marcas da pós-colonização representadas nas personagens Violante e Celina no conto “O Baile
de Celina” de Lília Momplé. Conto que rendeu à escritora o Prêmio Caine para escritores de
África em 2001. A história gira em torno do esforço das personagens femininas em conseguir
uma condição social mais elevada por meio da “instrução”. Mulheres ligadas pelas marcas da
subalternidade, desvalorização feminina, exclusão social, racismo e memória. Temáticas
presentes nas obras dessa escritora moçambicana que escreve uma literatura engajada em
pontuar as dificuldades sociais presentes numa Moçambique pós-guerra. Lilia Momplé discute
as dificuldades que a mulher sofreu no período histórico da guerra civil que durou 16 anos e
aconteceu após a Independência de Moçambique em 1975.
Palavras-chave: Pós-colonização; Valorização feminina; Racismo; Lília Momplé;
Moçambique.
Este estudo tem por objetivo observar as questões de identidade e pós-colonização por meio das
personagens idosas dos contos “Os olhos da Cobra Verde” de Lília Momplé e “A avó, a cidade
e o semáforo” de Mia Couto. Essas personagens estão ligadas pelas marcas da ancestralidade,
valorização feminina, exclusão social, memória e pela dicotomia entre o velho e o novo.
Temáticas presentes nas obras desses dois escritores moçambicanos que escrevem uma
literatura engajada em pontuar as dificuldades sociais de uma Moçambique pós-guerra. Através
da avó Facache, Lilia Momplé discute os danos que a mulher sofreu no período histórico da
guerra civil que durou 16 anos e aconteceu após a Independência de Moçambique em 1975. A
avó Ndzima de Mia Couto representa o choque entre as tradições e valores das aldeias e as
ilusões trazidas pela sociedade pós-colonial.
Rodrigo Luiz.C.B.FISCHER
Em Eu, Tituba, feiticeira... negra de Salem, de 1986, a escritora antilhana Maryse Condé
recupera a personagem Tituba e sua participação na trama criada por Arthur Miller em As
feiticeiras de Salem, de 1953. Marcada pela presença do insólito ficcional, o romance explora o
episódio de Salem sob o ponto de vista da escrava, desde antes chegar ao vilarejo até depois do
incidente. Este recurso permite que Condé subverta não somente a narrativa de Miller ou a
questões históricas, mas levante temas que dialogam com os Estudos Culturais, tais como
escravidão, colonialismo, gênero e identidade. Esta pesquisa visa, assim, analisar o papel da
escrava/feiticeira como estratégia narrativa que descontrói o estereótipo negativo associado à
figura lendária da bruxa. Pois o mito, na obra, é reabilitado em símbolo de resistência e
libertação, e a imagem da mulher passa a ocupar a posição de sujeito da história e de heroína
ficcional.
Coordenadoras(es): Profa. Dra. Renata Pimentel (UFRPE) e Profa. Dra. Tâmara Abreu (UFRN)
O longo período de transição do século XIX para o XX pode ser considerado chave para
compreensão de muitos estereótipos e preconceitos que se mantiveram como discursos das
ciências sociais incipientes e comportamentos opressores, vigentes ainda hoje, sobretudo no que
tange às ditas minorias (negros, mulheres, pessoas com comportamentos sexuais e sociais fora
da “norma”). Nesse momento imperam discussões sobre raça, sexualidade, gênero, sempre se
estabelecendo padrões de normalidade e patologia. Obras como as de Aluízio Azevedo; Adolfo
Caminha; Machado de Assis, Cruz e Sousa; Euclides da Cunha; Lima Barreto; Monteiro Lobato
dialogam com teorias como as de Comte; Taine; Spencer e Darwin (também de críticos e
pensadores brasileiros: Raimundo Nina Rodrigues, Edgard Roquette-Pinto, Sílvio Romero,
Gilberto Freyre ou Josué de Castro). A partir desse universo de conexões podem se promover
discussões que atravessam transformações no pensamento sociocultural brasileiro (dos
conservadores aos questionadores), chegando-se a embates de opiniões e recepções (que
festejam ou repudiam) tais obras literárias, sobretudo no que tange à temática da negritude, da
escravidão, da condição feminina. Este Simpósio Temático tem como objetivo detectar o quanto
do pensamento que serviu de alicerce para a formação da Antropologia e da Cultura no Brasil,
ainda no século XIX, persiste até hoje, só que com nova roupagem, para criminalizar grupos e
movimentos sociais e, ainda, procura desconstruir – sob a égide de patrulhamentos de discursos
de grupos – a rotulação de condenação aos autores que cabem no espectro do estudo aqui
proposto.
Esta pesquisa pretende apresentar uma reflexão acerca da literatura e da configuração histórica com
relação ao gênero e os estudos acerca deste, tomando como ponto de partida o início do século XX,
destacando suas condições de produção e circulação, bem como as tendências e/ou novos rumos da
criação literária nacional. A partir da análise acerca da homoafetividade e dos 'vieses' que se abrem
nessa relação de gênero. Para tanto, propomos refletir a obra Bom Crioulo, como fonte de
interpretação da narrativa de Adolfo Caminha, em diálogo com os assuntos das relações
homossexuais em questão: a paixão, o orgulho, o preconceito, e a narrativa histórico-social, que
transmite um mundo que só é possível adentrar através da linguagem expressa nesse romance tão
polêmico, que busca a alteridade do discurso, que vai contra os padrões morais da época e que tais
configurações sociais ainda persistem até o século XXI, descortinando novas visões para o ser
humano como um ser social e que modifica o meio em que vive.
Palmares por Arthur Ramos, a construção da epopeia do Negro brasileiro nas décadas de 1930 e
40
Thyago Ruzemberg Gonzaga de Souza (UFRN)
Machado de Assis aborda em seu conto "Pai contra mãe" temáticas que faziam parte da
sociedade carioca, já no fim do Segundo Império, como a escravidão, a tirania, a crueldade e a
hipocrisia, problemáticas que perduram até os dias atuais, através de um discurso irônico e
crítico, com o objetivo de revelar as relações de poder estabelecidas, a partir das dissonâncias
socioeconômicas, suas causas e consequências. Destarte, faz-se relevante analisar a temática da
escravidão através da personagem Arminda, do conto "Pai contra mãe", a partir da ironia, pois
Machado traz à tona, não apenas, a escravidão relacionada à cor da personagem, mas também a
sua condição de mulher escrava, que luta pela sua vida e a do seu filho, diante de um sistema
escravista e capitalista: luta que é vivenciada mesmo após a abolição da escravatura, por
mulheres negras, estas não mais aprisionadas por grilhões, mas por uma sociedade machista e
preconceituosa, na qual a mulher não detém o mesmo poder de liberdade do homem. Assim,
buscamos refletir sobre a posição diferenciada do olhar proposto na de Machado diante da
sociedade e da condição do homem que nela vive, pois, diferentemente de tantos escritores de
sua época, ele analisa de forma irônica e crítica a escravidão, desnudando a realidade senhorial.
Como embasamento teórico utilizaremos Muecke (1995), Bernd (1987), BOSI (1994), entre
outros.
Este artigo tem o objetivo de propor uma análise aprofundada do pensamento exposto por
Euclides da Cunha no livro Os Sertões no que diz respeito a sua abordagem sobre questões
raciais e miscigenação como fator primordial para a construção do tipo sertanejo e que serviu
como um dos pontos de partida para a produção de estudos que forneceram a base do que vem a
ser pensamento social brasileiro na contemporaneidade. Os Sertões não é verdadeiramente uma
obra de antropologia, sociologia, geografia ou botânica e, ao mesmo tempo, preenche todas
essas classificações pela versatilidade e pelas influências que o autor recebe das teorias
evolucionistas vindas de fora no contexto de formação das ciências sociais no Brasil. Assim,
pode-se afirmar que o tema abordado por Euclides da Cunha norteia a maioria das discussões,
ainda na década de 1930, sobre a definição do homem brasileiro e da própria construção de uma
“identidade nacional”. Estas referências estão presentes, por exemplo, nas reflexões sobre o
homem situado na definição dada por Gilberto Freyre e na do homem cordial em Sérgio
Buarque de Holanda. Com isso, pretende-se fazer uma crítica a discussão teórica da ideia de um
“povo brasileiro”, pois essa produção se dá em uma perspectiva quase sempre restrita e
excludente.
Palavras-chave: Euclides da Cunha; Os Sertões; Darwinismo social; Evolucionismo;
Pensamento social brasileiro.
A personagem Tia Nastácia, das histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo, tem suscitado inúmeras
especulações sobre uma possível visão preconceituosa de Monteiro Lobato em relação aos
negros. Entretanto, os mesmos livros que parecem tão discriminatórios trazem argumentos
suficientes para que se desconstrua essa visão deletéria da obra de Monteiro Lobato. As ações e
falas da Tia Nastácia, quando lidas de maneira contextualizada, constituem-se índice de
subversão e de desejo de igualdade sócio-racial por parte do autor. O objetivo deste trabalho é
especular que o Sítio pode ser visto como espaço de subversão à ordem social brasileira. Mais
especificamente, queremos mostrar que Lobato apresenta como figuras de autoridade e de
gerência Dona Benta e Tia Nastácia, assumindo esta, ao contrário do que costumeiramente se
indica, não uma condição subalterna àquela: Tia Nastácia apresenta-se como responsável pela
administração do Sítio e educação das crianças de maneira cooperativa à Dona Benta. Isso nos
permitiria afirmar que ela se configura como personagem indispensável na instauração dessa
“ordem matriarcal”. Para tanto, analisaremos três obras do Sítio: Caçadas do Pedrinho, O poço
do Visconde e Reforma de Natureza, tendo como base de apoio as ideias de J.J. Banhofen e
Émile Durkheim sobre matriarcado, além de estudos de Marisa Lajolo sobre a obra de Monteiro
Lobato.
Galiana Brasil
Seguindo a trilha dos estudos sobre colonização e identidades, atentos aos desvios desse
caminho labiríntico, buscamos, neste artigo, refletir sobre representações da mulher negra e
mestiça que se desdobram e proliferam na tradição poética brasileira (a partir de expoentes
como Gregório de Mattos e Manuel Bandeira); sem ignorar seu rebatimento em traços culturais
da contemporaneidade (o carnaval e os meios de comunicação de massa). Apoiamo-nos em
noções teóricas como: o conceito de hibridação (Canclini: 2001), identidade (Hall: 2005) e
canibalismo amoroso (Sant‟anna: 1984), na tentativa de revelar dinâmicas das relações de
poder; mecanismos de inferiorização social, racial e sexista que funcionam ainda como artifícios
de cristalização ou questionamento de estereótipos e preconceitos.
Se, na primeira metade do século XX, Monteiro Lobato foi censurado, por ser ateu e por
discordar da política brasileira relativa ao petróleo, nos últimos quinze anos, é visto como
racista e preconceituoso. Observa-se, então, que, infelizmente, não se lê a sua literatura dedicada
às crianças com os olhos de uma criança, mas de adultos que se obstinam em encontrar (para
eliminar) o que não for politicamente correto e que não conseguem enxergar a contribuição à
fantasia infantil que o imaginário das histórias do Sítio oferece – contribuição que é a função
precípua do texto literário. Livros como Caçadas do Pedrinho (acusado de conteúdo
preconceituoso, levou o Supremo Tribunal Federal a discutir seu uso pela rede pública de
ensino) oferta material suficiente para contrariar tal acusação. Nele, como em vários outros de
seus livros infanto-juvenis, Lobato faz o que raros autores fizeram em sua época: põe o
negro como sujeito do seu discurso (aquele que fala), e não apenas como objeto estético (de
quem se fala).Em Histórias de Tia Nastácia, Lobato coloca a cozinheira do sítio como
detentora da voz da sabedoria que contará, aos outros personagens, histórias da oralidade
propagadas e preservadas na memória de seu povo. Ao contrário, portanto, do que vários
autores insistem em afirmar, a representação da personagem Tia Nastácia constitui-se como
uma valorização do saber popular de uma cultura ancestral, e não como ridicularização e
racismo. Lobato deixa claro o poder discursivo que oferece à Nastácia já ao denominar como
serões os momentos em que ela conta suas histórias, tal como faz com Dona Benta quando esta
narra aos netos histórias do seu conhecimento obtido em suas leituras. É possível, pois,
especular que Tia Nastácia nos é apresentada como principal voz subversiva (verdadeira
griot) contra o prec