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MAURICIO SANGALETTI
OS MUROS ABSURDOS
CURITIBA
2016
1
MAURICIO SANGALETTI
OS MUROS ABSURDOS
CURITIBA
2016
2
INTRODUÇÃO
Venho por meio deste trabalho, apresentar uma breve reflexão sobre “Os muros
absurdos” em Camus. Almejo desenvolvê-lo, de modo específico, através da análise dos
capítulos I e II da obra O mito de Sísifo.
Escolhi a presente problemática por dois motivos. O primeiro pela discussão que ela
desenvolve sobre o absurdo da existência. Sem dúvida, assim como aponta Albert Camus,
entendo que não existe nenhuma questão mais importante na filosofia que a indagação sobre
se a vida vale ou não a pena ser vivida. Todas as demais inquirições são secundárias. É
verdade que é indispensável analisar a O mito de Sísifo tendo em vista o cenário que o
filósofo desenvolve a obra, ou seja, a guerra, a destruição da Europa, a morte de grande parte
da população.
O segundo motivo está relacionado com o tema do suicídio. Já me havia despertado
grande interesse a problemática do suicídio em Schopenhauer, embora não tenha conseguido
ainda desenvolver um estudo aprofundado sobre a questão. No entanto, diante da
possibilidade do estudo sobre o suicídio em Camus, optei por um aprofundamento maior na
questão a partir das ponderações do filósofo francês e, talvez, posteriormente retomarei a
discussão na perspectiva de Schopenhauer. O suicídio é algo intrigante. Até mesmo, se nos
é licito afirmar, parece um tema proibido de ser tratado no cotidiano. Pensar porque um
indivíduo decide que não vale mais a pena viver, me parece ser a chave para compreender
se realmente há motivos para viver. Não é porque a maioria das pessoas prefiram viver que
a vida vale a pena ser vivida. Na verdade, pode se tratar de uma ilusão crer que a vida deve
ser conservada.
Tendo em vista as ponderações supracitadas, evidenciamos que o trabalho se
desenvolverá em dois capítulos. O primeiro capítulo possuirá duas seções, onde trataremos
sobre a definição de absurdo e de mito, além de explanarmos, brevemente, o mito de Sísifo.
1. DEFINIÇÃO DE ABSURDO
Encetamos definindo o que é mito. De acordo com Abbagnano, além da acepção geral
de narrativa, presente, por exemplo, na Poética de Aristóteles, é factível assinalar, do ponto
de vista histórico, três significados de mito: o mito como forma atenuada de intelectualidade,
1
Cf. ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia: 1a.ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003. art. Absurdo.
2
Ibidem.
3
Ibidem.
4
Ibidem.
4
o mito como forma autônoma de pensamento ou de vida, o mito como instrumento de estudo
social.5 Vejamos, brevemente, cada uma das noções supracitadas.
Na antiguidade clássica, referente a primeira concepção, o mito era entendido como
um produto inferior ou deformado da atividade intelectual. A “verdade” estava associada ao
intelecto, enquanto ao mito, no máximo, a “verossimilhança”. Essa é a perspectiva de Platão
e Aristóteles. Platão contrapõe o mito à verdade ou a narrativa verdadeira, mas lhe atribui a
verossimilhança.6
O mito, em consonância com a segunda noção, é uma forma autônoma de
pensamento e de vida. Nessa, a validade e a função do mito são originárias e primárias, não
secundárias e subordinadas ao conhecimento racional. O romantismo adotou esse ponto de
vista, ampliando-o em uma metafísica teológica. A obra “Filosofia da mitologia”, a título
de ilustração, de Schelling, encara o mito como religião natural do ser humano, uma das
fases da auto-revelação do absoluto.7
A terceira ideia de mito serve de justificação retrospectiva dos elementos
fundamentais que são responsáveis pela constituição da cultura de um grupo. O mito, assim,
é indispensável a qualquer cultura. Lévi-Strauss estudou os mitos nas sociedades primitivas
e mostrou que eles não são narrativas históricas, mas representações de fatos que recorrem
na vida dos homens, de modo uniforme, como: nascimento e morte, luta contra a fome e as
forças da natureza, etc.8
O mito de Sísifo, se nós é licito fazer tal inferência, está vinculado à terceira
compreensão de mito exposta, já que tem como abordagem a retratação de elementos
constituintes da vivência do homem que constantemente recorrem, se fazem presente,
retornam. Segundo Camus, os deuses condenaram Sísifo a empurrar uma rocha
incessantemente até o ápice de uma montanha, de onde caía devido ao seu peso. Os deuses
pensaram, “com certa razão”, que o trabalho inútil e sem esperança é o mais terrível dos
castigos possíveis ao homem.9 É a este trabalho inútil e sem esperança que o homem está
5
Cf. ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia: 1a.ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003. art. Mito.
6
Ibidem.
7
Ibidem.
8
Ibidem.
9
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 121.
5
O Mito de Sísifo foi publicado por Albert Camus. Nesse trabalho, o filósofo discorre,
dentre outros pontos, sobre: a gratuidade da existência, a opacidade das coisas, o nosso
desejo de clareza, o divórcio entre o homem e a sua vida. O mito de Sísifo teve publicação
praticamente simultânea a da obra O estrangeiro. Entre o ensaio e o romance é possível
perceber uma relação que é reforçado pelos próprios comentários de Camus.12
Evidenciamos ainda dois pontos. Primeiro, que o suicídio e o absurdo são temas que
constantemente são retomados nas obras do filósofo francês. Segundo, que as peças literárias
e os escritos de Camus tiveram um enorme impacto na geração do pós-guerra. O escritor,
além disso, foi associado à corrente existencialista e tido como um dos seus principais
10
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 122.
11
Ibidem, p. 121.
12
Ibidem, p. 5.
6
expoentes. As obras de maior destaque do filósofo são: O estrangeiro (1942), A peste (1942),
O mito de Sísifo (1947) e O homem revoltado (1951).
13
CF. REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 2003, p.593.
14
Cf. LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
art. Existencialismo.
15
CF. REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 2003. p.593.
16
Ibidem, p. 593.
7
17
CF. REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 2003. p. 594.
18
Cf. LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
art. Existencialismo.
8
é possível ir, mas o sujeito, por meio de sua liberdade, ainda pode escolher aceitar ou não a
morte.
O existencialismo de Camus, finalmente, é ético. Ele pressupõe a liberdade, embora
o filósofo não enfatize essa questão como Sartre. O existencialismo de Camus, ademais, é o
do absurdo, se tratando de uma ética do absurdo. Seu existencialismo não possui cárter
religioso, como o de Jaspers. Os sujeitos, segundo Camus, não vêem mais sentido na vida.
O mito e a arte aparecem como modo de colocar sentido na vida ou pelo menos de tentar
transformar o absurdo em obra de arte. Mesmo no estremo limite do absurdo, ele pode ser
transformado em obra de arte. Nessa mesma perspectiva, para Nietzsche, um dos filósofos
que mais influenciou o pensamento de Camus, os gregos não eram nem otimistas e nem
pessimistas, mas corajosos, pois percebiam os sofrimentos que a vida acarreta e justificavam
a sua existência por meio da arte.
Camus inicia o primeiro capítulo, da obra O mito de Sísifo, salientando que a questão
fundamental da filosofia não é julgar se o mundo possui três dimensões ou se o espírito
humano é dotado de nove ou doze categorias, mas sim se a vida vale ou não a pena ser vivida.
Essa deve ser a primeira indagação a ser posta. Constatamos, por conseguinte, pelo menos
na obra em questão, que a preocupação do filósofo não reside em assuntos filosóficos
abstratos, senão práticos.
A problemática em questão, para Camus, é mais premente em relação a todas as
demais que a filosofia pode levantar, em razão “das ações a que ela se compromete”19; dito
de outro modo, em consequência das implicações acarretadas pela resposta sobre a vida valer
ou não a pena ser vivida. Há aqueles que morrem por não considerar que existe uma razão
para viver, outros, em seu turno, se deixam matar por ideias e ilusões. No fim, tanto uns
como outros se condenam à morte, por vias diferentes.
Cabe levantar uma indagação: como podemos responder a essa questão preeminente
da filosofia? De acordo com Camus, existe somente dois métodos de pensamento, o de “La
19
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 19.
9
Palice” e o de “Dom Quixote”. Contudo, é somente pelo equilíbrio de ambos que se ascende
ao mesmo tempo à emoção e à clareza.20
O suicídio, que sempre foi arrazoado como fenômeno social, é encarado pelo filósofo
francês como a relação entre o pensamento individual e o suicídio. Esse se prepara no
silêncio do coração. O homem o ignora, até que chega uma noite em que o indivíduo se dá
um tiro ou se lança pela janela. Esse verme, o suicídio, habita o coração do homem. São
evidências sensíveis, mas é preciso ir ao fundo até torná-las claras para o espírito.21
O absurdo surpreende o homem em sua rotina, na sua vivência, na medida em que se
pensa o que até então se ignorava, mas que já se achava no coração. Em outras palavras: o
sentimento do absurdo, o divórcio do homem com sua vida, é uma evidência sensível ao
coração, na qual a inteligência recorre como modo de esclarecer. Podemos perceber aqui,
talvez, uma influência de Feuerbach, no sentido de que o homem não é só razão, como em
Hegel, mas também coração. É necessário ver a totalidade do homem, não reduzi-lo.
O suicídio possui diversas causas, não somente uma. Nem sempre, e esse é um ponto
curioso, as mais aparentes causas foram as que definiram a atitude. A causa é sempre uma
ação do indivíduo que a executa, de modo que aos demais somente cabe levantar
especulações em torno dos motivos. Raramente, embora tal hipótese não possa ser
descartada, alguém realmente se suicida por reflexão. O motivo é antes algo incontrolável.
Vale lembrar que para os estoicos o suicídio é a maior prova da liberdade humana, se trata
da indiferença total diante das paixões.
Não é possível fixar de modo preciso o momento em que alguém apostou na morte
ao invés da vida. É mais fácil extrair de tal gesto as consequências que ele supõe. Trata-se,
em concordância com Camus, de confessar que a vida não vale a pena ser vivida. Ora, o que
fazemos em nossa vida é dar prosseguimento aos gestos impostos pela existência por
diversos motivos, entre os quais o costume; aliás, o primeiro deles. Por conseguinte, optar
pela morte por vontade própria supõe que se reconhece, mesmo que instintivamente, como
é ridículo esses costumes, a ausência de motivos para se viver, o caráter de insensatez da
20
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 20.
21
Ibidem, p. 19.
10
22
Cf. LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
art. Costumes.
23
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 21.
24
Cf. ALMEIDA, Rogério Miranda de. Nietzsche e Freud. São Paulo: Loyola, 2005. p. 212.
25
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 21.
26
Cf. ALMEIDA, Rogério Miranda de. Nietzsche e Freud. São Paulo: Loyola, 2005. p. 213
11
conseguinte, pode significar tão somente um último intento de uma vontade que jamais finda
de desejar.
Camus especifica, dando continuidade à explanação, que O mito de Sísifo pretende
tratar justamente da relação entre o absurdo e o suicídio à medida que este é uma solução
para aquele. Num primeiro momento parece que há apenas uma saída para o problema do
absurdo da existência: ou você se mata ou não se mata. Seria fácil demais se assim fosse. É
necessário pensar ainda naqueles que não deixam de inquirir e que não chegam a nenhuma
conclusão. Esses são a maioria.27 Aqueles que se suicidam normalmente possuem certeza
acerca do sentido da vida. Outros costumam responder que a vida não vale a pena ser vivida,
mas agem como se valesse.
Reconhecer que a vida não vale a pena ser vivida e se apegar a ela como se valesse,
evidencia que o apego que o homem tem por sua vida é maior do que todas as misérias que
se encontram no mundo. O corpo recua diante de seu aniquilamento, mesmo que todos os
dias esteja se definhando, caminhando para o ocaso da existência. A vida, em última
instância, é preferível à morte. Parafraseando Blaise Pascal, poderíamos asseverar que o
corpo tem suas razões que a razão desconhece. Foi justamente o ódio pela morte e a paixão
pela vida que renderam a Sísifo seu suplicio indizível, de acordo com Camus. Ora, o que dá
sentido à existência, mas também a trai, é a esperança de uma outra vida que se deve merecer
ou mesmo o não viver a vida por si mesma, mas por algo que a ultrapasse. A isto Camus
denomina “esquiva”.28 Essa postura da busca de um sentido além da existência, no nosso
entender, somente confirmam que esta vida por si mesma não vale a pena ser vivida. Por
isso a procura de esperança na existência de uma instância onde “corre leite e mel”, que
legitime a existência onde ela não se atesta efetivamente.
Sempre se acreditou que negar um sentido para a vida equivale a atestar que ela não
vale a pena ser vivida. Segundo Camus, não existe uma medida obrigatória entre esses juízos.
As pessoas se suicidam somente porque a vida não vale a pena ser vivida, não por que ela
não possua um sentido. A vida é aquilo que se dá sentido, o absurdo é a morte. Mas será que
existe alguma lógica que conduz até a morte? A isto Camus intitula “raciocínio absurdo”. 29
27
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 22.
28
Ibidem, p. 23.
29
Ibidem, p. 24.
12
A lógica é uma fuga. A neurose faz bem; ela nos esconde dos verdadeiros problemas. Sua
superação, sem embargo, gera dor.
Tendo discorrido neste subtítulo sobre o absurdo da existência, o divórcio entre o
homem e a sua vida, das diversas causas que se encontram nessa problemática, que não é de
cunho social, senão que está associada ao indivíduo, no próximo subcapítulo, de modo
específico, versaremos acerca dos muros absurdos.
30
Cf. LOGOS - ENCICLOPÉDIA luso-brasileira de filosofia. São Paulo: Verbo, 1989. art. Camus.
31
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 26.
32
Ibidem, p. 27.
13
Diante da continuidade dos gestos, sem embargo, surge um dia a indagação “por
quê”. Com essa interrogação o mundo explicita a sua indiferença, alteridade e assombro. Se
trata de uma espécie de intuição sobressaltada.33 Tudo começa então a entrar numa lassidão que
inaugura um movimento da consciência. A consciência desperta e provoca sua continuação,
que é um retorno inconsciente para os grilhões ou um despertar definitivo para o absurdo.
Do despertar, com o tempo, aparece as consequências: suicídio ou restabelecimento.34
O tempo, em nossas ações cotidianas, nos leva. Porém, chega um momento em que
é nossa responsabilidade levá-lo. O anseio pelo amanhã, quando se deveria rejeitá-lo. O
homem mesmo querendo viver sabe que um dia vai morrer, que sua condição é mortal e não
eterna. Isso é o absurdo.
Em outro grau de absurdo se percebe que o mundo é “denso”. Há algo de desumano
no fundo de toda a beleza. As coisas, diante dessa constatação, vão perdendo o sentido
ilusório com as quais as revestimos, vão se tornando “inumanas”. O mundo, assim, nos
escapa, porque volta a ser aquilo que ele é. Não colocamos mais as figuras para previamente
entendê-lo. O que antes era disfarçado pelo hábito, isto é, um mundo familiar, volta a ser o
que é, um mundo desumano. A estranheza e a densidade do mundo é o absurdo.35 Diante
dessas condições o homem se sente estrangeiro, em exílio.
Os homens também são responsáveis por segregar desumanidade. Não somente o
mundo é desumano. Em momentos de lucidez tudo o que os rodeia se torna inútil. Percebem-
se os aspectos mecânicos presentes em seus atos. O mal estar diante da desumanidade do
homem, o perguntar-se o porquê de sua vida, é também o absurdo.36 Esse mal estar não está
relacionado somente aos outros homens, mas também com o próprio sujeito.
Referente à morte, todos vivem como se não “soubessem”. Isso decorre de não haver
experiência de morte, a não ser em relação à morte alheia. Diante da morte desponta a
inutilidade e isso também é o absurdo.37
33
Cf. LOGOS - ENCICLOPÉDIA luso-brasileira de filosofia. São Paulo: Verbo, 1989. art. Camus.
34
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 27.
35
Ibidem, p. 28.
36
Ibidem, p. 29.
37
Ibidem, p. 29.
14
Observamos que Albert Camus usa diversas expressões para apontar os estados que
se encontra o homem diante do absurdo, entre elas: “condição absurda”, “condição cruel e
limitada”, “condição sem futuro” e “vã condição”.38 O absurdo, todavia, não reside nem no
mundo e nem no homem. O absurdo é a confrontação entre ambos, sucede pela coexistência.
Em suma, a morte, o tempo, a desumanidade do homem e do mundo são “muros
absurdos”. Diante desses “muros absurdos” o homem se choca, encara a limitação e a
obscuridade de sua vida, em uma palavra, a sua finitude existencial, a contingência de sua
vida. São, valendo-nos de um conceito da filosofia de Jaspers, situações limites.
38
Cf. LOGOS - ENCICLOPÉDIA luso-brasileira de filosofia. São Paulo: Verbo, 1989. art. Camus.
39
Ibidem.
40
CAMUS, A. O mito de Sísifo: 6a.ed., Rio de Janeiro: BestBolso, 2016. p. 122.
41
Ibidem, p. 122-123.
15
absurdo da vida, tenta transformar pelo mito esse absurdo, é maior que a própria condição
na qual está imerso.
16
CONCLUSÃO
Neste trabalho pretendíamos tratar sobre os “muros absurdos”, em Camus. Para isso,
dividimos a pesquisa em dois capítulos. No primeiro capítulo abordamos a definição de
absurdo e de mito, além de termos versamos sobre o mito de Sísifo. No segundo capítulo
discorremos sobre as características gerais do existencialismo, sobre o absurdo da existência,
os “muros absurdos” e o absurdo e o mito.
A problemática por excelência da filosofia, para Camus, é se a vida vale ou não a
pena ser vivida. Há os que morrem por não considerar que a vida vale a pena ser vivida,
enquanto outros se deixam matar por ilusões. O suicídio sempre foi tratado como um
fenômeno social, como em Durkheim. O filósofo francês, contudo, considera o suicídio
como uma realidade estritamente relacionada com o sujeito, não com a sociedade. O suicídio
é uma evidência sensível ao coração, que deve se tornar clara através da razão.
O suicídio possui diversas causas, não apenas uma. Não podemos traçar de modo
preciso o momento em que um indivíduo decidiu apostar na morte ao invés da vida. Sem as
ilusões e o lazer, os costumes que dão sentido a nossa estéril existência, o homem se sente
estrangeiro diante do mundo. O mundo, em decorrência disso, se apresenta como algo
desumano, se mostra como de fato é. Num primeiro momento, parece que há apenas duas
opções em relação ao absurdo: o suicídio ou a continuação da vida. Contudo, é preciso
lembrar aqueles que nunca param de pensar sobre a questão. Assim, o absurdo não apresenta
uma solução tão simples. Por sua vez, reconhecer que a vida não vale a pena ser vivida, mas
viver como se valesse, evidencia que a vida do homem é mais importante que todos os
sofrimentos que o mesmo possa enfrentar. O corpo recua ante o seu aniquilamento, mesmo
que todos os dias o seu acaso se aproxima.
O sentimento do absurdo pode contagiar qualquer pessoa, a qualquer momento.
Diversas são as experiências que podem trazer à tona o sentimento do absurdo. “Os muros
absurdos”, isto é, a morte, o tempo, a desumanidade do homem e do mundo, são realidades
diante das quais o homem se choca, encara a limitação e a obscuridade de sua vida, como já
apontamos. O suicídio, todavia, mesmo diante da revolta do homem face o absurdo da
existência, não é encarado como solução, já que ele ocasiona o fim do homem, não do
absurdo. O absurdo deve ser, por conseguinte, transformado pelo homem, por meio do mito,
da arte.
17
Acreditamos ter chegado ao ponto que almejávamos com este trabalho. Entretanto,
devido a pertinência do tema, e pelo fato do interesse pela pesquisa, nos comprometemos a
um estudo mais elaborado sobre a temática em questão, bem como o aprofundamento em
outros filósofos.
18
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola Dicionário de filosofia. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ALMEIDA, Rogério Miranda de. Nietzsche e Freud. São Paulo: Loyola, 2005.
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. 2 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.