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%*0(07";1*/50 condenáveis” –, Mukwege aproveitou a
&N&TUSBTCVSHP ocasião para “elevar a visibilidade do dra-
EJPHPQJOUP!JPOMJOFQU ma das mulheres na República Demo-
crática do Congo e a coragem com que
Denis Mukwege chorou e comoveu toda se manifestam”. Lembrou que a gravi-
a audiência ao receber o Prémio Sakha- dade da situação é tal que o país é con-
rov no Parlamento Europeu, ontem, em siderado o mais perigoso do mundo para
Estrasburgo, com um poderoso discur- as mulheres. Denunciou o governo pela
so através do qual exprimiu o sofrimen- má gestão e pela falta de empenho, fri-
to e o horror em que vive grande parte sando que não há desculpa para a extre-
da população congolesa, especialmente ma pobreza a que a população é sujeita
as mulheres, num país em que as viola- numa das regiões mais ricas do planeta.
ções em massa são usadas como arma Contou que a escravatura é uma reali-
de guerra e de intimidação. dade ainda hoje no Congo, que perante
O ginecologista, que dedicou os últi- a fraqueza, a inacção ou a indiferença
mos 15 anos da sua vida ao tratamento das autoridades, a única forma de esca-
e reconstrução dos corpos de mais de 40 par a essa condição é o exílio. Para sina-
mil mulheres num hospital que fundou lizar a urgência destes problemas, con-
em 1999, disse que o sentimento com tou que na semana passada foram mas-
que recebia o prémio era uma mistura sacradas 50 pessoas numa aldeia em
de “humildade e esperança”, mas fez Kivu do Norte. Disse que havia mulhe-
questão de sublinhar que este não teria res e crianças entre as vítimas, que algu- marido e aos filhos da vítima. Eviden- tão de humanidade, que “os homens que
“qualquer significado para as mulheres mas das mulheres estavam grávidas, que ciou o modo como as famílias são des- cometem estes actos mancham a condi-
vitimizadas se a União Europeia não se estas foram esventradas. truídas. Exposta, a criança vê a mãe ser ção de todos os homens e que é preciso
associar à luta para a recuperação dos O choque das palavras só enfatizou os violada e vê o pai numa situação de impo- traçar uma linha e tornar claro que,
seus direitos”. Acompanhado da mulher contornos de uma realidade em que, tência total. Outra das consequências enquanto homens, não aceitamos este
e com uma exultante comitiva de com- como testemunhou, “o corpo das mulhe- destes actos de barbárie são os milhares modo de tratar as mulheres”.
patriotas seus numa das tribunas supe- res é transformado num campo de bata- de filhos das violações, “inocentes que,
riores do hemiciclo, Mukwege agrade- lha”, sendo usados objectos e até quími- culpabilizados pela desgraça, são rejei- 80'('2$3217$'2(8523$($26(8$
ceu a distinção aos eurodeputados, par- cos nestes actos de violência. Mukwege tados”, tornando-se “bombas-relógio” Na segunda conferência, Mukwege falou
ticularmente por esta voltar os olhos do falou na tristeza que era acompanhar que virão a detonar anos mais tarde, “se na necessidade de encarar como uma
mundo para África num momento em diariamente pelos jornais esta realida- não lhes for construída uma identidade nova patologia a crueldade humana que
que a Europa vê os “pontos de crise mul- de que mostra uma sociedade desfigu- livre da discriminação”. Mukwege falou elege as mulheres como alvo, um tipo de
tiplicarem-se à sua volta”. O médico de rada por um conflito que se prolongou na enorme transformação política que violência que pretende “profanar o pon-
59 anos, nomeado em 2009 Pessoa Afri- por 12 anos e não deixa de produzir novos tem de ocorrer num país em que “somos
cana do Ano, recordou que “recusar a ecos. governados por homens que cometeram
violência num mundo em que esta se A cerimónia da atribuição do prémio atrocidades contra as mulheres [duran-
banalizou representa em si uma forma do PE para distinguir os que têm liber- te a guerra] e que por isso protegem
de dissidência”. dade de pensamento foi antecedida por quem continua a fazê-lo”.
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Em contraste com o discurso de Schultz uma conferência de imprensa e seguida O ginecologista insistiu com especial FNQSFTBTEFUFMFNÕWFJT
– que presidiu a uma homilia de frases de outra, tendo o médico participado em ênfase na necessidade de esta situação RVFDPNQSBNNJOÌSJPT
feitas e elogios genéricos, falando de uma ambas. Na primeira explicou que as vio- não ser reduzida a um problema das
emoção que não se via e declarando que lações são cometidas por vários homens, mulheres, exortando todos os homens a
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as “violações são sempre inumanas e em público, muitas vezes em frente ao entenderem que se trata de uma ques- HVFSSBDPOHPMFTFT
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