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Barroco no Brasil

O Barroco no Brasil foi o estilo artístico dominante durante a maior parte do período
colonial, encontrando um terreno receptivo para um rico florescimento. Fez sua aparição
no país no início do século XVII, introduzido por missionários católicos,
especialmente jesuítas, que para lá se dirigiram a fim de catequizar e aculturar os povos
indígenas nativos e auxiliar os portugueses no processo colonizador. Ao longo do período
colonial vigorou uma íntima associação entre a Igreja e o Estado, mas como na colônia
não havia uma corte que servisse de mecenas, como as elites não se preocuparam em
construir palácios ou patrocinar as artes profanas senão no fim do período, e como a
religião exercia enorme influência no cotidiano de todos, deste conjunto de fatores deriva
que a vasta maioria do legado barroco brasileiro esteja na arte sacra: estatuária, pintura e
obra de talha para decoração de igrejas e conventos ou para culto privado.

Características e contexto
O Barroco nasceu na Itália, na passagem do século XVI para o século XVII, em meio a
uma das maiores crises espirituais que a Europa já enfrentara: a Reforma Protestante, que
cindiu a antiga unidade religiosa do continente e provocou um rearranjo político
internacional em que a Igreja Católica, outrora todo-poderosa, perdeu força e espaço.[1] Foi
um estilo de reação contra o classicismo do Renascimento, cujas bases giravam em torno
da simetria, da proporcionalidade, da economia, da racionalidade e do equilíbrio formal.
Assim, a estética barroca primou pela assimetria, pelo excesso, pelo expressivo e pelo
irregular, tanto que o próprio termo "barroco", que nomeou o estilo, designava
uma pérola de formato bizarro e irregular. Além de uma tendência estética, esses traços
constituíram uma verdadeira forma de vida e deram o tom a toda a cultura do período, uma
cultura que enfatizava o contraste, o conflito, o dinâmico, o dramático, o grandiloquente, a
dissolução dos limites, junto com um gosto acentuado pela opulência de formas e
materiais, tornando-se um veículo perfeito para a Igreja Católica da Contrarreforma e
as monarquias absolutistas em ascensão expressarem visivelmente seus ideais de glória e
pompa. As estruturas monumentais erguidas durante o Barroco, como os palácios e os
grandes teatros e igrejas, buscavam criar um impacto de natureza espetacular e
exuberante, propondo uma integração entre as várias linguagens artísticas e prendendo o
observador numa atmosfera catártica, apoteótica, envolvente e apaixonada. Essa estética
teve grande aceitação na Península Ibérica, especialmente em Portugal, cuja cultura, além
de essencialmente católica e monárquica, em que se uniam oficialmente Igreja e Estado e
se delimitavam fronteiras frouxas e indistintas entre o público e o privado, estava
impregnada de milenarismo e misticismo, favorecendo uma religiosidade onipresente e
supersticiosa, caracterizada pela intensidade emocional. E de Portugal o movimento
passou à sua colônia na América, onde o contexto cultural dos povos indígenas, marcado
pelo ritualismo e festividade, forneceu um pano de fundo receptivo

O papel da Igreja Católica


Na Europa, a Igreja Católica foi, ao lado das cortes, a maior mecenas de arte neste
período. Na imensa colônia do Brasil não havia corte, a administração local era confusa e
morosa, e assim um vasto espaço social permanecia vago para a ação da Igreja e seus
empreendedores missionários, destacando-se entre eles os jesuítas, que administravam
além dos ofícios divinos uma série de serviços civis como os registros de nascimento e
óbito, estavam na vanguarda da conquista do interior do território servindo como
pacificadores dos povos indígenas e fundadores de novas povoações, organizavam boa
parte do espaço urbano no litoral e dominavam o ensino e a assistência social mantendo
colégios e orfanatos, hospitais e asilos. Construindo grandes templos decorados com luxo,
encomendando peças musicais para o culto e dinamizando imensamente o ambiente
cultural como um todo, e é claro ditando as regras na temática e na maneira de
representação dos personagens do Cristianismo, a Igreja centralizou a arte colonial
brasileira, com rara expressão profana notável. No Brasil, então, quase toda arte barroca é
arte religiosa. A profusão de igrejas e a escassez de palácios o prova. Lembre-se ainda
que o templo católico não era apenas um lugar de culto, mas era o mais importante
espaço de confraternização do povo, um centro de transmissão de valores sociais básicos
e amiúde o único local relativamente seguro na muitas vezes turbulenta e violenta vida da
colônia. Gradativamente houve um deslocamento neste equilíbrio em direção a
uma laicização, mas não chegou a se completar no período de vigência do Barroco. As
instituições leigas começaram a ter um peso maior por volta do século XVIII, com a
multiplicação de demandas e instâncias administrativas na colônia que se desenvolvia,
mas não chegaram a constituir um grande mercado para os artistas, não houve tempo. A
administração civil só ganhou força com a chegada da corte portuguesa em 1808, que
transformou o perfil institucional do território

Pintura:
Como ocorreu em todas as artes, a Igreja Católica foi a maior patrona da pintura colonial.
Para a Igreja, a pintura tinha como função básica auxiliar na catequese e confirmar a fé
dos devotos. A necessidade de ser facilmente compreensível pelo povo inculto significou
que o desenho predominasse sobre a cor. O desenho, na conceituação da época,
pertencia à esfera da razão e definia a ideia a ser transmitida, e a cor fornecia a ênfase
emocional necessária à melhor eficiência funcional do desenho. Desta forma, toda a
pintura barroca é figurativa, retórica e moralizante. Cada cena trazia uma série de
elementos simbólicos que constituíam uma linguagem visual, sendo usados como palavras
na construção de uma frase. O significado de tais elementos era, na época, de domínio
público. As imagens dos santos mostravam seus atributos típicos, como os instrumentos
do seu suplício, ou objetos que estiveram ligados à sua carreira ou ilustrassem suas
virtudes. Por exemplo, São Francisco podia aparecer rodeado de objetos associados
à penitência e à transitoriedade da vida: o crânio, a ampulheta, o rosário, o livro, o açoite e
o cilício.

Literatura
Devido a peculiaridades de sua formação como colônia, no Brasil a cultura literária custou
a se desenvolver. Portugal não fazia nenhuma questão de educar os territórios
colonizados — na verdade, por vários meios se esforçou para não educá-los, pois o
grande interesse era a exploração de seus recursos e temia-se que uma colônia instruída
pudesse rebelar-se contra o poder central e se tornar independente. Bibliotecas e escolas
públicas não havia, e o que se aprendia — quando se aprendia — era uma instrução
elementar sob a tutela da Igreja, especialmente dos jesuítas, fortemente direcionada para
a catequese, e ali se encerrava a educação, sem perspectivas nenhumas de
aprofundamento ou de aprimoramento do gosto literário a não ser que os pupilos
acabassem por ingressar nas fileiras da Igreja, que então lhes daria melhor preparo. Além
disso, grande parte da população era analfabeta e a transmissão de cultura era baseada
quase toda na oralidade, a imprensa era proibida, manuscritos eram raros pois o papel era
custoso, e só circulavam livros que haviam passado pela censura do governo,
principalmente vidas de santos, catecismos, uns poucos romances inocentes de
cavalaria, lunários e almanaques, compêndios de latim, lógica e legislação, de modo que
além de os leitores serem poucos, quase não havia o que ler. Assim, a escassa literatura
produzida durante o Barroco nasceu principalmente entre os padres, alguns deles de
elevada ilustração, ou no seio de alguma família nobre ou abastada, entre os oficiais do
governo, que podiam se dar ao luxo de estudar na metrópole, e era consumida neste
mesmo círculo reduzido. O que pôde florescer nesse contexto paupérrimo seguiu em
linhas gerais o Barroco literário europeu, caracterizando-se pela retórica exuberante, o
apelo emocional, o discurso polissêmico, a assimetria, o gosto pelas figuras de
linguagem e os contrastes, e pelo uso intensivo de conceitos e imagens relacionados às
outras artes e aos vários sentidos corporais, buscando um efeito sinestésico
Poesia
No campo da poesia, destaca-se o precursor Bento Teixeira com seu épico Prosopopeia,
inspirado na tradição clássico-maneirista de Camões, seguido de Manuel Botelho de
Oliveira, autor de Música do Parnaso, o primeiro livro impresso de autor nascido no Brasil,
uma coletânea de poemas em português e espanhol em rigorosa
orientação cultista e conceptista, afim da poesia de Góngora, e mais tarde o frei Manuel de
Santa Maria, também da escola camoniana. Mas o maior poeta do barroco brasileiro
é Gregório de Matos, de grande veia satírica, e igualmente penetrante na religião,
na filosofia e no amor, muitas vezes de crua carga erótica. Também fez uso de uma
linguagem culta e cheia de figuras de linguagem, sem deixar de exibir influências
classicistas e maneiristas. Foi apelidado de O Boca do Inferno por suas críticas mordazes
aos costumes da época. Na sua lírica religiosa os problemas do pecado e da culpa são
importantes, como é o conflito da paixão com a dimensão espiritual do amor
Padre Antônio Vieira
Responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do barroco, Padre Antônio Vieira é
conhecido por seus sermões polêmicos em que critica, entre outras coisas, o despotismo dos
colonos portugueses, a influencia negativa que o Protestantismo exerceria na colônia, os
pregadores que não cumpriam com seu ofício de catequizar e evangelizar (seus adversários
católicos) e a própria Inquisição. Além disso, defendia os índios e sua evangelização, condenando
os horrores vivenciados por eles nas mãos de colonos e os cristãos-novos (judeus convertidos ao
Catolicismo) que aqui se instalaram. Famoso por seus sermões, padre Antônio Vieira também se
dedicou a escrever cartas e profecias.

Mito do Sebastianismo
Com o desenvolvimento do mercado marítimo, Portugal vivenciou um período de ascensão e
grandeza. Porém, com o declínio do comércio no Oriente, Portugal viveu uma crise econômica e
dinástica. Como consequência, o então rei de Portugal D. Sebastião resolve colocar em prática seu
plano de organizar uma cruzada em Marrocos e levando à batalha de Alcacer-Quibir em 1578.

A derrota na batalha e seu dedesaparecimento (provável morte em batalha), gerou especulações


acerca de seus paradeiro. A partir de então, originou-se a crença de que o rei retornaria para
transformar Portugal novamente em uma grande potência econômica. Padre Antônio Vieira era um
dos que acreditavam no Sebastianismo e, mais adiante, Antônio Conselheiro anunciava o retorno
de D. Sebastião nos episódios da Guerra de Canudos.

Os sermões
Escreveu cerca de duzentos sermões em estilo conceptista, isto é, que privilegia a retórica e o
encadeamento lógico de ideias e conceitos. Estão formalmente divididos em três partes:

Intróito ou Exórdio: a apresentação, introdução do assunto.

Desenvolvimento ou argumento: defesa de uma ideia com base na argumentação.

Peroração: parte final, conclusão.

Seus sermões mais mais famosos são:

Sermão da Sexágésima (1655):

O sermão, dividido em dez partes, é conhecido por tratar da arte de pregar. Nele, Padre Antônio
Vieira condena aqueles que apenas pregam a palavra de Deus de maneira vazia. Para ele, a
palavra de Deus era como uma semente, que deveria ser semeada pelo pregador. Por fim, o padre
chega à conclusão de que, se a palavra de Deus não dá frutos no plano terrreno a culpa é única e
exclusivamente dos pregadores que não cumprem direito a sua função.
Gregório de Matos Guerra: o Boca do Inferno
Gregório de Matos firmou-se como o primeiro poeta brasileiro: cultivou a poesia lírica, satírica,
erótica e religiosa. O que se conhece de sua obra é fruto de inúmeras pesquisas, pois Gregório não
publicou seus poemas em vida. Por essa razão, há dúvidas quanto à autenticidade de muitos
textos que lhe são atribuídos.

O poeta religioso
A preocupação religiosa do escritor revela-se no grande número de textos que tratam do tema da
salvação espiritual do homem. No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus, com um
forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Observe:

Soneto a Nosso Senhor

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,


Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido
Vos tem a perdoar mais empenhado.

Se basta a voz irar tanto pecado,


A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada


Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história.

Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada,


Recobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

O poeta satírico
Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica da Bahia,
especialmente de Salvador, graças à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica
ao então governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho. Além disso, suas críticas à Igreja
e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras
rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetos

O poeta lírico
Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado em face à vida, à
religião e ao amor. Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que é
constantemente comparada aos elementos da natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o amor
desperta os desejos corporais, o poeta é assaltado pela culpa e pela angústia do pecado.

À mesma d. Ângela

Anjo no nome, Angélica na cara!


Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:

Quem vira uma tal flor, que a não cortara,


De verde pé, da rama fluorescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?

Se pois como Anjo sois dos meus altares,


Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que por bela, e por galharda,


Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Padre Antônio Vieira
Responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do barroco, Padre Antônio Vieira é
conhecido por seus sermões polêmicos em que critica, entre outras coisas, o despotismo dos
colonos portugueses, a influencia negativa que o Protestantismo exerceria na colônia, os
pregadores que não cumpriam com seu ofício de catequizar e evangelizar (seus adversários
católicos) e a própria Inquisição. Além disso, defendia os índios e sua evangelização, condenando
os horrores vivenciados por eles nas mãos de colonos e os cristãos-novos (judeus convertidos ao
Catolicismo) que aqui se instalaram. Famoso por seus sermões, padre Antônio Vieira também se
dedicou a escrever cartas e profecias.

Mito do Sebastianismo
Com o desenvolvimento do mercado marítimo, Portugal vivenciou um período de ascensão e
grandeza. Porém, com o declínio do comércio no Oriente, Portugal viveu uma crise econômica e
dinástica. Como consequência, o então rei de Portugal D. Sebastião resolve colocar em prática seu
plano de organizar uma cruzada em Marrocos e levando à batalha de Alcacer-Quibir em 1578.

A derrota na batalha e seu dedesaparecimento (provável morte em batalha), gerou especulações


acerca de seus paradeiro. A partir de então, originou-se a crença de que o rei retornaria para
transformar Portugal novamente em uma grande potência econômica. Padre Antônio Vieira era um
dos que acreditavam no Sebastianismo e, mais adiante, Antônio Conselheiro anunciava o retorno
de D. Sebastião nos episódios da Guerra de Canudos.

Os sermões
Escreveu cerca de duzentos sermões em estilo conceptista, isto é, que privilegia a retórica e o
encadeamento lógico de ideias e conceitos. Estão formalmente divididos em três partes:

Intróito ou Exórdio: a apresentação, introdução do assunto.

Desenvolvimento ou argumento: defesa de uma ideia com base na argumentação.

Peroração: parte final, conclusão.

Seus sermões mais mais famosos são:

Sermão da Sexágésima (1655):

O sermão, dividido em dez partes, é conhecido por tratar da arte de pregar. Nele, Padre Antônio
Vieira condena aqueles que apenas pregam a palavra de Deus de maneira vazia. Para ele, a
palavra de Deus era como uma semente, que deveria ser semeada pelo pregador. Por fim, o padre
chega à conclusão de que, se a palavra de Deus não dá frutos no plano terrreno a culpa é única e
exclusivamente dos pregadores que não cumprem direito a sua função

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