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Sec are) meen ea ey Peet ear tetr eae ese eae eee 29 ee a ea Peer ene es Sets Iho artistico. N3o so o espe if ie aera Cee een mre progrestiva afinja)) | no a explicitane eon mC a Recs nt meee Pre ere eee eae moe) a a ee rer er ae Pe gear ener | designaré uma relagio com o sujeito (e, mais geralmente, a ins- tancia) da enunciagéo: mais uma ver, ‘trata-se to somente de ‘empréstimos de termos, que nao pretendem fundar-se em ‘rigo- rosas homologias ("). jomo se_vé, as trés classes propostas, que designam campos de _estudo ¢ dete _disposicao dos capftulos que se_se- guem(), recobrem menos que recortam de forma complexa trés_categorias mais atrés definidas, que designavam_nfveis de definigéo da narrativa: o tempo ¢ o modo funcionam ambos a0 nivel das relagées entre histéria e narrativa, enquanto que a voz designa ao mesmo tempo as relagdes entre narracao ¢ nar- rativa ¢ entre narracdo ¢ hist6ria. Evitar-se-4, porém, hipostasiar tais termos, e converter em substincia o que nio é mais, em cada momento, que uma ordem de relagGes. (®) Outra justfieagdo, puramente proustolégies, do emprego de tal termo, a existencia do precioso livro de Marcel Muller intitulado As Vozes Nerrativas em «A le Recherche du temps perdu» (Dror, 1965). ©). 0s. tés,primeitos (Ordem, Durorio, Frequéncia) tratam do tempo, 0 quarto do! modo, 0 quinto ¢ titimo da’ vor. 30 ; ORDEM bERe Trem da narrativa? ae | 4A narrativa é uma sequéncia duas vezes temporal...: hé 0°) (0 ‘empo da’ coisa-contada e o tempo da narrativa (tempo do signi- | ficado ¢ tempo do significante). Nao so é esta dualidade aquilo | je torna possiveis todas as distorges temporais de que ¢ banal | c conta nas narrativas (trés anos da vida do her6i resumidos \ “em duas frases de um romance, ou em alguns planos de uma ‘Montagem «frequentativa de cinema, etc.); mais fundamental- “mente, convida-nos a constatar que uma das funcdes da narrativa “€ cambiar um tempo num outro tempo (").» 0) Christian Metz, Essais sur la signification au cinéma, Paris, 1968, p. 27, ‘A dualidade temporal aqui tio vivamente acentuada, ¢ que ‘0s tedricos alemies designam pela oposig&o entre erzdhite Zeit (tempo da hist6ria) e Eredhlzeit (tempo da narrativa)(), € um trago caracteristico nfo somente da narrativa cinematogréfica, como também da nacrativa-oral, a todos os niveis de elaboragao estética, incluindo esse nivel plenaménte «literarioy que é 0 da recitagio épica ou da narragdo dramética (narrativa de Théra- méne... [em Racine: Phédre}). ® talvez menos pertinente noutra forma de expressio narrativa, tais como a «fotonovelay ou a banda desenhada (ou pictérica, como a predela de Urbino, ou bordada, como a «tapecaria» da rainha Matilde), que, ao mesmo tempo que constituem sequéncias de imagens, logo, exigindo uma leitura sucessiva e diacronica, igualmente se prestam, ¢, mesmo, convidam a uma espécie de olhar global ¢ sincrénico ‘ou, pelo menos, um olhar cujo percurso no é j& comandado pela sucessio das imagens. \A_narrativa literdria escrita tem. quanto a este ponto, um estatuto ainda mais dificil de precisar. ‘Como a narrativa oral ou filmica, nfo pode ser «consumiday, Jogo actualizada, senéo num tempo que evidentemente ¢ o da Teitura, e, ainda que a sucessividade dos seus elementos possa ser contradita por uma leitura caprichosa, repetitiva ou selectiva, mio se pode sequer chegar a uma analexia perfeita: pode-se passar um filme ao contrario, imagem a imagem; n§o se pode, sem que deixe de ser um texto, ler um texto ao contrério, letra a letra, nem mesmo palavra a palavra; nem sempre, até, frase a frase, O livro € um pouco mais suportado do que hoje em dia muitas vezes se diz pela famosa linearidade do significante Jinguistico, mais fécil de negar em teoria que de evacuar na realidade, Contudo, no se poe a questéo de identificar o esta- tuto da narrativa escrita (iterdria ou nfo) a0 da narrativa oral: ‘a sua temporalidade 6, de alguma maneira, condicional ¢ ins- trumental; produzida, como todas as coisas, no tempo, existe no espago © como espago, € o tempo necessério para a «consu- mir» é aquele que € preciso para a percorrer ou alravessar, como C5) Ver Gunther Miiller, «Erzahleit und erzihltex, Festschrift fur Kluckhorn, 1948, retamado ém Morphologische Poetik, Tubings, 1968 32 ‘uma estrada ou um campo, O texto narrativo, como qualquer texto, nfo tem_outra_temporalidadesendo--aquela..que toma metonimicamente de empréstimo a sua propria. leitura. estado de coisas, vé-lo-emos mais adiante, nem sempre ‘serd sem consequéncias na parte que nos toca, ¢ haverd que, ‘por vezes, corrigir, ou tentar corrigir, os efeitos do deslocamento ‘metonimico; mas témos primeito que o assumir, ja que faz parte +do jogo narrativo, e tomar, pois, a letra a quase-ficgfio do Eredhl- ‘zeit, esse falso tempo que vale por um verdadeiro e que trata- ‘emos, com o que isso comporta, ao mesmo tempo, de reserva ede aquiescéncia, como um pseudo-tempo. Tomadas estas precaugdes, estudaremos as relagdes entre ‘tempo da historia e (pseudo) tempo da narrativa segundo aque- Jas que me parecem ser as suas determinagdes essenciais: as Telagdes entre a ordem temporal de sucessAo_sosacontecimentos ‘tia diegese ¢ a ordem_pseudo-temporal da, sua disposigio na nar- Nstiluirao.o_objectodeste.primeiro capitulo; as 8 entre. a.duraedo.varidvel-desses. acontecimentos, ou s¢e- prise 5 diegéticos, ¢ a pseudo-duracio (na realidade, extensio de texto) da sua relagao na narrativa: relagGes, pois, de velocidade, ‘ue constituiréo 0 objecto do segundo; relagdes, enfim, de fre- -quéncia, quer dizer, para nos atermos aqui a uma f6rmula ainda ‘aproximativa, relacdes entre as capacidades de repeti¢ao da his- ‘oria e as da narrativa: relagSes a que seré consagrado o terceiro “capitulo. , Estudar a ordem temporal de uma narrativa ¢ confrontar a Grdem de disposi¢io dos acontecimentos ou segmentos tempo- Tais no discurso narrativo com a ordem de sucessio desses mesmos @contecimentos ou segmentos temporais na historia, na medida €m que é indicada explicitamente pela propria narrativa ou pode ‘er inferida deste ou aquele indicio indirecto. E evidente que 4 reconstituigo nem sempre € possivel, e que se torna ociosa certas obras-limite, como os romances de Robbe-Grillet, Onde a referéncia temporal se encontra pervertida de propésito. 33 eK

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