Sendo a Sociobiologia o estudo do social a partir de conceitos biológicos, como
genética, evolução e parentesco, os estudiosos dessa área focalizam suas pesquisas em comportamentos que, popularmente, confundem-se entre biologia e cultura e provocam questionamentos do senso comum acerca da origem de tais comportamentos. Os sociobiologistas defendem que pequenos efeitos genéticos possuem força naquilo que diz respeito a conduta. Essa corrente científica defende que comportamentos vistos nos animais também podem ser identificados nos humanos, isso ocorre pois para os teóricos dessa corrente acreditam os sentimentos e condutas como agressividade e o altruísmo podem ser encontrados tanto nos animais quanto nos seres humanos. É a partir dos conceitos de “agressividade” e “altruísmo” que Michael Ruse no quarto capítulo de seu livro “Sociobiologia: Senso ou Contra-Senso” esclarece e defende a existência de uma “Sociobiologia Humana”. Com o auxílio de outros teóricos como Robert Trivers e Edward O. Wilson e suas teses o autor aborda mecanismos utilizados pela sociobiologia para explicar a presença da mesma nas relações humanas. Os conceitos “agressão” e o “altruísmo” anteriormente citados aparecem no texto de maneira a exemplificar a relação entre o reino animal e as sociedades em diferentes graus de evolução. A “agressão” é um conceito que em sua definição possui forte relação com o Darwinismo Social e pode ser traduzida a partir da máxima a força é o direito. No entanto, é também a agressividade o conceito que informa sobre o processo e o presente evolutivo a medida que mostra que para manter-se vivo e adaptar-se o homem inibiu seus instintos e foi capaz de desenvolver inteligência emocional para proteger a si e a família. Ainda assim, para o autor, é possível notar características mais agressivas nos homens quanto ao que diz respeito a invasão de sua terra e a consequente diminuição de seus recursos, o que equipara o ser humano novamente ao reino animal. É importante aqui compreender o fator chave capaz de inibir a fúria do homem e de torná-lo inteligente, para Alexander tal fator seria a multiplicação e a manutenção dos genes, ou seja, a necessidade de reprodução e a necessidade de manter-se vivo para expandir seu parentesco. O parentesco é algo que aparece de maneira forte no texto a medida que todos os mecanismos propostos pelo autor para ratificar a presença de uma sociobiologia humana vão de encontro aos diferentes níveis de parentesco. Seja no sexo, com a escolha de parceiros ideais para o êxito reprodutivo, pois apesar do pensamento na escolha de parceiros estar vinculada aos atributos físicos e de personalidade do outro, os sociobiologistas julgam a escolha como ligada a um inatismo. Para Alexander (1974;1977b apud RUSE, 1983, p.73)
“o fato de se apaixonarem humanos parece coincidir exatamente com o que
era esperado, e estarem certas as teses da Sociobiologia. Duas pessoas, muitas vezes estranhas, se conhecem e, de repente, sem nenhuma razão, sentem-se fortemente atraídas sexualmente uma pela outra”.
O “altruísmo” encontra-se presente em todos os mecanismos expostos por Ruse,
como na paternidade na qual o mesmo aparece como uma forma do pai de ensinar os valores morais da família e, dessa maneira, satisfazer os interesses biológicos. Todavia o autor seleciona três principais mecanismos responsáveis pelo altruísmo, sendo eles a seleção de parentes, a manipulação parental e o altruísmo recíproco. A seleção de parentes, fato que pode ser observado em sociedades ditas evoluídas - porém sobressalente nas sociedades que os estudiosos consideram com um grau de evolução diferente, é fator importante para a compreensão do modelo social que construímos e vivemos. Diversos sociobiologistas concluem que a maior parte dos conflitos podem ser observados entre grupos nos quais não há nenhuma relação genética, isso se da pois inconscientemente escolhemos preservar os parentes próximos. O altruísmo entra na seleção de parentes a medida que o grupo familiar opta por poupar uns aos outros. Ruse elege dois fenômenos que poderiam ser considerados como uma quebra da formulação de seleção, porém os aponta como fatores que atestam a existência de uma seleção genética na escolha parental, sendo eles a homossexualidade e a menopausa. São dois fenômenos que, segundo o autor, existem pois é necessário um membro familiar que devote cuidado aos outros membros. A manipulação parental, já vista na paternidade, é a forma que os pais possuem de incutirem nos filhos um altruísmo que beneficiará de maneira mais intensa os próprios pais. É também a forma de passar para os filhos, principalmente os mais novos e mais fracos, o empenho pelos outros como princípio de ação. O exemplo dado por Ruse é o dos filhos mais novos que abrem mão de uma herança ou parte da terra e o deixam para o irmão mais velho, como forma de manter unida a riqueza da família, outro exemplo, esse visto em sociedade com grau de evolução considerado diferenciado, é o caso dos aborígenes australianos que em época de fome se alimentam do irmão mais novo. A manipulação parental pode não ser considerada como um altruísmo de fato, dado que pouca é a liberdade de escolha nesses casos, conquanto os autores consideram que biologicamente o irmão mais novo tende de bom grado a aceitar as escolhas que lhe são dadas. O altruísmo recíproco é consagrado como um comportamento que possui componentes genéticos consideráveis, visto sua aplicação diária nos seres humanos. Trivers, sociobiologista citado por Ruse ao longo do texto, consegue retirar conclusões sobre a psicologia humana a partir de considerações do altruísmo recíproco que giram em torno da tolerância seja com amigos ou inimigos, início e consolidação das relações e a partir de uma perspectiva positiva do altruísmo. A importância do altruísmo recíproco encontra-se nessas conclusões psicológicas. É possível concluir afirmando que os sociobiologistas possuem uma visão limitada na qual as relações são meras interações promovidas por uma tendência genética e não influenciadas pelo meio social em que vivem os seres humanos. Muitas teses sociobiológicas reafirmam determinismos presentes em antropólogos físicos do passado, que utilizaram de suas teorias para legitimar os processos coloniais permeados de preconceito.