OS PRINCIPAIS TRAÇOS DO CORONELISMO cuja aparente singeleza mal encobre
UMA GRANDE complexidade
Suas consequências se projetam sobre toda a vida política do país, o
CORONELISMO atua no reduzido cenário do governo local. Seu habitat são os municípios do interior, o que equivale dizer os municípios rurais, sua vitalidade é inversamente proporcional ao desenvolvimento das atividades urbanas, como sejam o comércio e a indústria. Consequentemente, o isolamento é fator importante na formação e manutenção do fenômeno. Significando o isolamento, ausência ou rarefação do poder publico, apresenta-se o CORONELISMO desde logo, como certa forma de incursão do poder privado no domínio político. Daí a tentação de o considerar puro legado ou sobrevivência do período colonial, quando eram freqüentes as manifestações de hipertrofia do poder privado, a disputar atribuições próprias do poder instituído. Seria, porem, errôneo identificar o patriarcalismo colonial com o CORONELISMO, que alcançou sua expressão mais aguda na PRIMEIRA REPÚBLICA. Também não teria propósito dar esse nome à poderosa influencia que, modernamente, os grandes grupos econômicos exercem sobre o estado. Não se pode, pois, reduzir o CORONELISMO a simples afirmação anormal do poder privado. É também isso, mas não é somente isso. Nem corresponde ele à fase áurea do privatismo: o sistema peculiar a esse estádio, já superado no Brasil, é o patriarcalismo, com as concentrações do poder econômico, social e político no grupo parental. O CORONELISMO pressupõe, ao contrário, a decadência do poder privado e funciona como processo de conservação do seu conteúdo residual. Conceituação do CORONELISMO: um sistema político dominado por uma relação de compromisso entre o poder privado decadente e o poder publica fortalecido. O simples fato do compromisso presume certo grau de fraqueza de ambos os lados b, também, portanto, do poder publico. Mas, na PRIMEIRA REPÚBLICA – quando o termo CORONELISMO se incorporou ao vocabulário corrente, para designar as particularidades da nossa política do interior – o, aparelhamento do estado já se achava suficientemente desenvolvido, salvo em casos esporádicos, para conter qualquer rebeldia do poder privado. É preciso, pois, descobrir a espécie de debilidade que forçou o poder publico a estabeler o compromisso CORONELISTA No período colonial o regime representativo estava limitado á composição das câmaras municipais NA republica velha O NOVO SISTEMA federalista A Superposição do regime representativo, em base ampla, a essa inadequada estrutura econômica e social, havendo incorporado à cidadania ativa um volumoso contingente de eleitores incapacitados para o consciente desempenho de sua missão política, vinculou os detentores do pode publico, em larga medida, aos condutores daquele rebanho eleitoral. Eis ai a debilidade particular do poder constituído, que levou a compor-se com o remanescente poder privado dos donos de terras no peculiar compromisso do CORONELISMO . Despejando seus votos nos candidatos governistas nas eleições estaduais e federais, os dirigentes políticos do interior fazem-se credores de especial recompensa, que consiste em ficarem com as mãos livres para consolidarem sua dominação no município. Essa função eleitoral do CORONELiSMO é tão importante QUE sem ela dificilmente se poderia compreender a utilidade que anima todo o sistema. O regime federalista também contribui para a produção do fenômeno: ao tornar inteiramente eletivo o governo dos Estados permitiu a montagem, nas antigas províncias, de sólidas máquinas eleitorais estáveis, que determinaram a instituição da POLITICA DOS GOVERNADORES, repousavam justamente no compromisso CORONELISTA. O FENOMENO do coronelismo é característico do regime republicano. Embora diversos elementos que ajudam a compreender o quadro CORONELISMO fossem observados Frequentemente durante o império A dependência do eleitorado rural, em princípio, tanto pode beneficiar o governo como a oposição, e em toda parte encontramos, efetivamente, os CORONÉIS oposicionistas. Entretanto o CORONELSIMO, como sistema político tem feição marcadamente governista. Para alcançar esse resultado, o governo estadual teve de garantir sua posição de parte forte naquele compromisso político. A precariedade das garantias da magistratura e do Ministério Público (ou sua ausência) e a livre disponibilidade do aparelho policial sempre desempenharam a esse respeito saliente papel, de manifesta influência no falseamento do voto. A utilização do dinheiro, dos serviços e dos cargos públicos, como processo usual da ação partidária. A submissão do município foi expediente muito útil para garantir a preponderância da situação estadual em seus entendimentos com os chefes locais. Sem receita suficiente, atadas as mãos por processos variados de tutela, cerceadora por vezes na composição do seu próprio governo, as comunas só podiam realizar qualquer coisa de proveitoso quando tivessem o amparo do alto. O CORONELISMO seja um sistema político essencialmente governista. Com a policia no rastro, mas garantidos pela justiça precária, sem dinheiro e sem poderes Para realizar os melhoramentos locais mais urgentes, destituídos de recursos para as despesas eleitorais e não dispondo de cargos públicos nem empreendimentos de empreitadas oficiais para premiar os correligionários, quase nunca tem tido os chefes municipais da oposição outra alternativa senão apoiar o governo. Nesse quadro de falta autonomia legal o município nunca chegou a ser sentida como problema crucial, porque sempre foi compensada com extensa autonomia extralegal concedida pelo governo do estado ao partido local de sua preferência. Essa contraprestação estadual no compromisso CPRONELISTA explica, grande parte, o apoio que os legisladores estaduais – homens em sua maioria do interior – sempre deram aos projetos de leis atrofiados dos municípios. Com tais medidas, só os adversários ficavam realmente prejudicados: de um lado a corrente local governista sempre obteria do Estado o que reputasse indispensável. Com o fortalecimento do poder publico o poder coronel também aumentou haja vista com o aumento do poder publico houve um aumento da contribuição da máquina publica na vida dos coronéis. uma vez que houve uma diminuição do poder local – donos de terras – mais destaque teve o oficialismo O CÓDIGO Eleitoral de 1932 MINOU O coronelismo -. O mais evidente sintoma dessa modificação é o declínio da influencia governista nas eleições, inclusive com a derrota de algumas situações estaduais. FATO INCONSEBÍVEL NA PRIMEIRA REPÚBLICA O aperfeiçoamento do processo eleitoral está contribuindo certamente para o solapamento do CORONELISMO-em 1932 com o código eleitoral. Em 1930 a economia brasileira já não se podia considerar rural, porque a produção industrial rivalizava com a produção agrícola e a crise do café havia reduzido o poder econômico dos fazendeiros, em confronto com o dos banqueiros, comerciantes e industriais. Havia crescido população e o eleitorado urbanos, e a expansão dos meios de comunicação e transporte aumentara os contatos da população rural, com inevitáveis reflexos sobre sua conduta política. Todos esses fatores vêm de longa data corroendo a estrutura econômica e social em que se arrima o CORONELISMO. O QUADRO POLITICO DA republica velha REFREOU, quando pôde o coronelismo O coronelismo se ajustou ao novo modelo de governo, uma vez que muda-se o quadro político, mas a estrutura agrária continua existindo com os curras eleitorais. Parece que a decomposição do coronelismo só será completa quando se tiver operado uma alteração fundamental na estrutura agrária do país.