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A legislagdo penal brasileira sobre ifico de pessoas ¢ imigragio iTegalVirregular frente aos Protocolos Adicionais & Convengao de Palen, Ela Wiecko V, de Castitho A presente exposicdo objetiva apresentar os tipos penais existentes na Tegislagdo brasileira aplicdveis ao trafico de pessoas ¢ A imigracdo ilegal ¢ verificar se baream de forma suficiente as condutas deseritas nos Protovolos Adicfonais a Convengdo das Nagves Unies contra o Crime Organizado ‘Transnacional (Palermo, 2000): Protocolo relativo & Prevengdo, Represstio e Punigtio do Tritico de Pessoas, em special Mutheres ¢ Criangas, © Protocolo sobre © Trifico de Migtantes por Via Tertestre, Maritima ¢ Aérea, promulgados no Brasil, respectivamente, pelo Decreto n. 5.017 e 5.016, de 12.03.2004 # © Cédigo Penal brasileiro, de 1940, vem sofrendo sucessivas alteragdes, de tal sonla que afetaram sua orgonicidade. Vale notar, ainda, que o nimero de infragses penais definidas em leis especiais supera as do Cédigo Penal. No Césigo Penal hi trés situapses em que a saida de pessoas do tenitéxio ificadas, nacional, ou a entrada nele, estio ti Primeira situagao: Promover ou facilitar a entrada de pessoas no ttrtéro brasileiro ou a saida dele constitu, no art. 231, 0 crime de ttfico intemactonal de pessoas, se tiver como Finalidade 0 exereicio da prostituigdo, Este crime, até a Lei n. 11.106, de margo de 2005, contemplava apenas a mulher como sujeito Passivo. E uma infrag2o inserida no Titulo os Crimes contra os Costumes. Porta, embora esteja presente a tutela da liberdade Sexual ¢ do pudor individual prevalece a tutela do pudor piblco. A pena cominada é Frivativa de liberdade, de 3 (trés) a 8 (oito) anos. Se houver fim de lucro, aplica-se também multa. Segundo a doutrina “promover” abrange o dar causa, executar, tomar a iniciativa ¢ “facilitar” abrange auxiliar, ajudar, tomar mais fécil. Os meios utilizados podem ser: fornecimento de dinheiro, papéis, passaporte, compra de roupas ou utensilios de viagens ete (Mirabete, 1999, p. 465). Na segunda conduta, a iniciativa da entrada ou da saida ¢ de outrem ou do proprio sujeito passi vO. © exercfcio da prostituigio nflo configura crime, Crime é explorar a prostituigao alheia, Assim, se uma mulher brasileira quer exercer a prostituigio em Portugal ¢ conta com a ajuda de alguém para a compra da passagem, ela ndo pratica crime, mas quem Ihe ‘empresta o dinheiro, por exemplo, sabendo da finalidade, pratica 0 erime de trafico. 0 consentimento livre no exclui 0 crime, O consentimento forgado ou viciado, isto é, obtido com emprego de violencia, grave ameaga ou fraude, tem implicagdes para a pena que aumenta para 5 (cinco) a 12 (doze) anos, somando-se a pena correspondents a violencia. Se resultar da violencia, a titulo de culpa, lesdio corporal de natureza grave a pena seré de 8 (cito) a 12 (doze) anos, e, resultando, do fato a morte, de 12 (doze) a 20 (vinte) anos. Presume-se a vi éncia se 0 sujeito passive no é maior de 14 anos, € alienado ou débil mental, © agente conhecia esta circunstincia, ou nfo pode, por qualquer outra causa, oferecer resisténcia, Se 0 sujeito passivo é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se co agente é seu ascendente, descendente, marido, itmiio, tutor ou curador ou pessoa a que estgja confiado para fins de educaglo, de tratamento ou de guarda, a pena privativa de liberdade & de 4 (quatro) # 10 (dez) anos. ‘Segunda situagao: Hé outra hipétese no Céd, Penal de saida de pessoas do territério brasileiro configuradora de crime. Esta prevista no art. 207 como crime contra a Organizagio do Trabalho, denominado Aliciamento para o Fim de Emigragio, e consiste em “recrutar trabalhadores, mediante fraude”. E punido com a pena privativa de liberdade, de (um) 3 (tr€s) anos, passivel de ser substituida por pena restritiva de direitos. Antes de 1993, © tipo penal sé exigia a iniciativa do agente para atrair, seduzir ow angariar ‘rabalhadores (no minimo trés, imelevantes a qualificago ou habilidede téenica de cada ttm) ara fim de emigragdo, Hoje, a lei exige “que hajafiaude, ou seja, que 0 agente induza ou mantenha em erro os tabalhadores, com falsas informagdes, promessas etc. convencendo-os a levé-los para teritrio estrangeiro” (Mirabete, 2000, p. 1228). Terceira situagao: Fruto de alteragdo legislativa de 1984, o art. 245 do Cédligo Penal define como rime contra assisténeia familiar, punivel com pena privativa de liberdede de 1 (um) a # (quatro) anos, a entrega de fho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia © agente saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em Perigo, para obter luero, ou se o menor & enviado para o exterior, Fora do Cédigo Penal temos outras situagées: Em 1990, 0 Estatuto da Crianga ¢ do Adolescente definiu como crime, no art 239, “promover ou auxiliar a efetivago de ato destinado 20 envio de crianga ou ‘olescente para o exterior com inobservdncia das formalidades legais ou com o fito de objer luero, A pena cominada é privativa de liberdade de 4 (quatro) a 6 (seis) anos, & multe, Praticao crime qualquer pessoa que néo o pai_ou mée da erianga ou adolescent (ue, por seu lado, podem incidir nos crimes do caput ou do §1° do art. 245 do Cédigo Penal ou no art. 238 do Estatuto), Nao se exige que a vitima fique exposta a perigo material ou moral. Basta que 0 ato destinado a0 envio para 0 exterior no observe as formalidades legais, ou, ainda que estejam cumpridas, tenha 0 agente objetivo de Iucro. Hit hip6teses nfo acobertades pela norma, como, por exemplo, o envio da rianga ou adolescente para o exterior em obedigncia a todas as formalidades legais, ou ‘Ne no tenha como fito & obtenglo de Iucro. Igualmente a promogéo ou facilitagso da entrada da vitima no territério nacional,

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