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BASES DO ACONSELHAMENTO BÍBLICO

A suficiência das Escrituras para


diagnosticar e curar as almas

David A. Powlison1

Como as pessoas destrutivas tornam- centralidade das Escrituras para ajudar as


se construtivas? Como as descontroladas pessoas a crescerem à imagem de Cristo?
adquirem domínio-próprio? Como as Como os relacionamentos de ajuda podem
rígidas tornam-se flexíveis? Como as ser reconfigurados para servirem como
pessoas dispersivas aprendem a instrumentos da única sabedoria
estabelecer um foco? Como aquelas que duradoura e bondade verdadeira?
não têm esperança adquirem esperança? Recuperar a centralidade das
Como os iracundos aprendem a ser Escrituras para a cura de almas exige
pacificadores? E antes mesmo de duas coisas: convicção alicerçada em
podermos perguntar “Como?”, precisamos conteúdo. A convicção? As Escrituras
perguntar “Por que as pessoas atribuladas tratam de como compreender e ajudar as
estão atribuladas?”. O que há de errado pessoas. O escopo da suficiência das
conosco? Escrituras inclui os relacionamentos que
Na sociedade atual, o caminho bíblico nossa cultura chama de “aconselhamento”
para explicar e persuadir as pessoas tem ou “psicoterapia”. O conteúdo? Os
sido amplamente relegado. O que precisa problemas, as necessidades e as lutas das
ser feito para que se recupere a pessoas ao nosso redor – até em seus
mínimos detalhes – precisam ser
explicados de forma racional por meio das
1
categorias com as quais a Bíblia nos ensina
Traduzido e adaptado de The Sufficiency of
Scripture to Diagnose and Cure Souls. a compreender a vida humana.
Publicado em The Journal of Biblical Counseling, A convicção, por si só, levanta apenas
v.23, n. 2, Spring 2005, p. 2-13. uma bandeira e, finalmente, degenera em
David Powlison é editor de The Journal of Biblical um simples slogan. Porém, as convicções
Counseling, conselheiro e professor na Christian
Counseling and Educational Foundation, e
demonstradas em ações, as convicções
professor de Teologia Prática no Westminster que se revelam profundas, extensivas e
Theological Seminary em Glenside, Pensilvania. perspicazes edificam o homem ensinável
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e até mesmo persuadem o cético. A igreja abrangente da transformação pela qual
precisa ser persuadida de que a convicção passamos (2 Tm 3.15-17). Essa mesma
é verdadeira. Um ingrediente chave para passagem fala também das palavras do
a persuasão é exibir as riquezas das Espírito como tendo o propósito de nos
Escrituras para a cura da alma. ensinar. A absoluta simplicidade e a
Neste artigo, olhamos primeiro para a complexidade insondável das Escrituras
convicção de que as Escrituras tratam dos nos iluminam acerca de Deus, de nós
“problemas da vida”. Em seguida, mesmo, do bem e do mal, do verdadeiro e
exploramos um pouco de conteúdo: o do falso, da graça e do juízo, do mundo
termo “concupiscência da carne”. Trata- que nos cerca com suas inúmeras formas
se de uma frase vital para entendermos de sofrimento e engano, e das
como Deus explica o ser humano. Ela vai oportunidades para derramar luz sobre as
à raiz dos problemas da vida, mas tem trevas. Por meio desse ensinamento,
perdido sua força e chegado quase à atrelado a pessoas específicas, em
inutilidade. situações específicas, Deus expõe em
detalhes específicos o que há de errado
Convicção: o aconselhamento bíblico com a vida humana. Nenhuma análise mais
sistemático profunda, mais verdadeira ou superior
O que seria uma perspectiva acerca da condição humana pode ser
genuinamente bíblica dos problemas da concebida.
alma humana e dos procedimentos para As Escrituras reconstroem e
ministrar a graça? Essa perspectiva transformam o que elas definem como
precisa considerar vários aspectos. Em imperfeito. Deus fala à medida que age
primeiro lugar, precisamos nos perguntar para endireitar aquilo que está errado
se as Escrituras nos fornecem o material mediante o poder corretivo da graça.
necessário e nos chamam a construir algo Promover uma solução que não a divina é
que possa ser chamado distintamente de o mesmo que oferecer ópio às massas,
“aconselhamento bíblico sistemático”. Na dar um entorpecente em lugar de respostas
realidade, possuímos os recursos para uma reais para problemas reais. E Deus con-
teologia prática coerente e abrangente do tinua a personalizar o que é verdadeiro,
ministério pessoal. As Escrituras estão efetuando Sua obra de renovação da
carregadas de explicações, instruções e sabedoria em um processo contínuo. O
implicações. Temos muito a fazer para resultado efetivo? Começa-mos a viver
compreender e articular o “modelo” como o próprio Jesus Cristo.
bíblico. Mas não precisamos inventar nem As Escrituras realizam nossa
tomar emprestado de modelos que outros renovação à imagem dAquele que é a
criaram para explicar o ser humano. sabedoria encarnada, de forma que nos
Em vários lugares, o Espírito Santo tornamos habilitados para toda boa obra.
recai na suficiência do tesouro que Ele Os ensinamentos bíblicos falam acerca de
criou por meio de Seus profetas e uma gama de tópicos. Um assunto cru-
apóstolos. Por exemplo, em uma passagem cial é área da motivação humana – a
clássica, as Escrituras declaram ser o interpretação e a avaliação dos nossos
instrumento para nos tornar “sábios para desejos. A perspectiva bíblica do que está
a salvação”. Essa é uma descrição transtornado na motivação humana
7 Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4
desafia contundentemente todas as e sucesso ocupam a minha mente porque
simulações seculares no que diz respeito desejo ser importante”. Mesmo quando
a explicar com sabedoria por que fazemos uma pessoa não é capaz de se expressar
o que fazemos. bem, ou não percebe o problema, é
possível deduzir a resposta com um alto
Conteúdo: “concupiscência da car- grau de precisão se você observar e ouvir
ne”, um estudo de caso em teologia com cuidado e se você tiver um
prática conhecimento perceptivo de si mesmo.
A forma mais simples para descobrir Parte do processo de conhecer bem uma
o motivo de uma pessoa fazer, dizer, pensar pessoa diz respeito a aprender qual é sua
ou sentir de determinada maneira é motivação de viver – seus desejos
perguntar: O que você quer? ou Que habituais.
desejos fizeram com que ele agisse
assim? ou Que desejos ardentes a O significado dos nossos desejos
levaram a dizer aquelas palavras? Que Identificar aquilo que desejamos é a
anseios me animam quando sigo aquela parte fácil. A parte mais difícil é a seguinte:
linha de pensamentos e fantasias? O que como devo interpretar o que identifiquei?
eles temeram quando ficaram tão Determinar a identidade dos seus desejos
ansiosos? 2 Perguntas como essas são não é o mesmo que compreender o seu
senso comum. Abraham Maslow significado e saber como avaliá-los. O
descreveu com sensatez a questão: “O significado dos nossos desejos não tem
critério de origem da motivação e aquele nada a ver com senso comum. Pelo
que ainda é utilizado por todos os seres contrário, trata-se de um campo de batalha
humanos… é o subjetivo. Sou motivado para as várias teorias competitivas sobre
quando sinto desejo, quero, anseio, sonho a natureza humana, as interpretações
ou sinto falta de alguma coisa”.3 competitivas das dinâmicas fundamentais
Proponha a si mesmo e aos outros a da psicologia humana. Abraham Maslow,
pergunta “O que você quer?”. Em seguida, por exemplo, explica nossos desejos da
preste atenção às respostas. Se você ouvir seguinte forma: “São essas necessidades
as pessoas com cuidado, muitas vezes elas que são essencialmente déficits do
lhe dirão exatamente o que elas querem. organismo, buracos vazios, por assim dizer,
“Fiquei bravo porque ela me humilhou, e que precisam ser preenchidos para o bem
exijo respeito”. “Ela gaguejou ao falar da saúde e, ademais, precisam ser
porque deseja aceitação”. “Ele está preenchidos de fora para dentro por seres
ansioso porque o dinheiro está escasso e humanos que não o sujeito, que eu chamo
ele teme que a pobreza prove o seu de déficit ou necessidades por déficit.”4
fracasso”. “Essas fantasias de heroísmo Será que é verdade que temos essas
“necessidades” de respeito, aceitação,
dinheiro ou significado que precisam ser
satisfeitas por algo externo? Muitos outros
2
O temor é apenas um desejo virado do avesso: grandes psicólogos – B. F. Skinner, Alfred
“Não quero”.
3
Abraham Maslow, Toward a Psychology of Being,
2ª Edição. (Nova Iorque: Van Nostrand Reinhold,
4
1968), 22. (Tradução livre) Ibid., 22-23.
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Adler, Sigmund Freud, Victor Frankl, tornam razoáveis e ordenadas pela
Aaron Beck, Carl Jung e Virginia Satir, subordinação ao amor sincero para com
apenas para mencionar alguns – não Deus que se apossa de todo meu coração,
concordam com isso. Eles também minha alma e meu entendimento. Muitas
discordam ferozmente entre si! O Deus vezes, nossos desejos são paixões idólatras
que revela Sua forma de pensar na Bíblia por boas dádivas (suplantando ou
também não concorda com Maslow nem ignorando o Doador). Por vezes, são
com qualquer outro deles. Na realidade, desejos intensos pelo próprio Doador,
ninguém é capaz de compreender e pesar extremamente mais importantes do que
os desejos corretamente sem a revelação quaisquer boas dádivas que possamos
de Deus nas Escrituras. Nem o senso obter ou perder pela Sua mão. Essa é a
comum do inculto nem a mais erudita singularidade principal que Deus nos
teoria da personalidade é capaz de mostra acerca da psicologia humana.
entendê-los corretamente. Deus precisa Trata-se de um campo de batalha cósmico
nos mostrar como interpretar acertada- que nenhum dos psicólogos seculares foi
mente os nossos desejos, pois somos maus ou é capaz de enxergar, porque são
intérpretes compulsivos: não queremos a incapazes de ver em profundidade por que
verdadeira interpretação. É uma ameaça fazemos o que fazemos. Suas próprias
muito forte à busca da autonomia com motivações lhes dão razões para não
relação a Deus, que é a nossa paixão mais querer ver profunda e honestamente pois
profunda, mais obscura, mais persistente significaria ter de admitir o pecado.
e mais inadmissível. Examinar os desejos é uma das formas
mais produtivas de tratar biblicamente o
A interpretação e a intervenção de assunto da motivação humana. Os autores
Deus neotestamentários, quando resumem as
“O que você anseia, quer, procura, dinâmicas mais íntimas da alma humana,
aspira, espera alcançar, sente necessidade falam repetidas vezes sobre os desejos que
de ter ou deseja pessoalmente?” Deus tem controlam nossas vidas. Qual das duas
uma interpretação acerca disso que vai triunfará: a loucura natural da
direto ao âmago de quem você é e para concupiscência da carne ou a razão
que está vivendo. Ele enxerga nosso restaurada dos desejos do Espírito? Os
coração como um reino em combate apóstolos crêem veementemente que
regido por um tipo de desejo ou outro. Por apenas os recursos do evangelho da graça
um lado, que concupiscências da carne e da verdade possuem profundidade e
seqüestram seu coração do controle de poder suficientes para nos transformar. As
Deus? Por outro lado, que paixões santas misericórdias de Deus operam para
expressam seu amor por Deus? Nossos perdoar e então para mudar o que é
desejos não representam uma simples profundamente mal, mas perfeitamente
escolha, mas uma escolha fundamental. curável pela mão e pela voz de Deus. O
Os desejos são, na maioria das vezes, poder da graça que opera dentro de nós
afeições incontidas, incontroláveis e muda, de forma qualitativa, exatamente os
desordenadas por x, y ou z: algo bom, de desejos que os psicólogos dizem ser natos,
que preciso loucamente. Por vezes, são imutáveis e moralmente neutros. A graça
afeições naturais por x, y ou z, que se de Cristo destrói e substitui (em uma
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batalha que dura pela vida inteira) os o significado de “concupiscência da
mesmos desejos que as teorias explicam, carne”. Sexo será o primeiro item em
de forma variada, como “necessidades”, todas as listas! Avareza, orgulho, glutonaria
“impulsos”, “instintos” ou “alvos”. Essa é ou culto ao dinheiro podem ser
a segunda singularidade que Deus nos acrescentadas às respostas de alguns dos
mostra acerca da psicologia humana. crentes mais informados. Mas as sutilezas
Podemos ser reconfigurados em nossa e os detalhes estão apagados, e um termo
essência pela presença misericordiosa do bíblico crucial para explicar a vida humana
Messias. Nenhum dos psicólogos desvanece. Em contraste, os escritores do
seculares diz ou é capaz de dizer isso. Eles Novo Testamento utilizaram esse termo
não têm capacidade para se dirigirem a como uma categoria extensiva para definir
nós com tanta profundidade nem querem o dilema humano! Seria de muita valia
chegar a tratar do âmago daquilo para que olharmos atentamente para os seus
nós (e eles) vivemos. Isso significaria ter múltiplos significados. Precisamos
de confessar a Cristo. conhecer melhor um termo que foi
A seguir, propomos quinze perguntas truncado e esvaído de seu significado.
para investigar o mundo dos nossos Precisamos também aprender a enxergar
desejos. a vida através dessas lentes e usar essa
1. Qual a forma mais comum usada categoria bíblica de forma adequada.
no Novo Testamento para falar acerca O Novo Testamento foca repetidas
do que está errado com as pessoas? vezes a “concupiscência da carne” como
Concupiscência da carne (paixão ou um resumo do que há de errado com o
prazeres) é um termo que resume o que coração humano, subjacente ao
está errado conosco aos olhos de Deus. comportamento inadequado. Por exemplo,
Em pecado, as pessoas dão as costas para
Deus e servem aos seus desejos. Pela
graça, as pessoas se voltam para Deus,
5
deixando suas paixões. De acordo com a Veja também Rm 13.14; Gl 5.16-17; Ef 2.2 e
4.22; Tg 1.14-15; 4.1-3; 1 Pe 1.14; 2 Pe 1.4. O
avaliação divina, todos vivíamos nas Antigo Testamento enfatiza tipicamente a idolatria
paixões da nossa carne, cedendo à vontade como forma de desvio do povo. Isso não significa
da carne e da mente (Ef 2.3). Aqueles que o Antigo Testamento seja externalista. A
que não estão em Cristo são idolatria visível atesta, na realidade, o fracasso em
amar ao Senhor Deus de todo o coração, alma e
completamente controlados pelos seus
entendimento; ela atesta uma rebeldia interna. Em
desejos. (“É claro que vivo por dinheiro, alguns trechos, o problema da idolatria torna-se
reputação, sucesso, aparência e amor. uma metáfora para o pecado internalizado mais
Que outro motivo eu teria para viver?”) E básico (p.ex. Ez 14) e a idolatria visível expressa
o conflito interior mais significativo para uma rebeldia do coração para com Deus. Há textos
nos quais o coração humano é descrito como
os cristãos ocorre entre aquilo que o desvairado (Ec 9.3), perverso (Gn 6.5), cheio de
Espírito deseja e o que nós desejamos. anseios profundos e mentiras (Nm 11-25),
O termo “concupiscência”, porém, incircunciso, duro, cego, e assim por diante. O Novo
tornou-se praticamente supérfluo para os Testamento também equipara de forma metafórica
os desejos pecaminosos à idolatria em várias
leitores atuais da Bíblia. Seu significado
situações (p.ex. Cl 3.5; Ef 5.5). A idolatria pode
foi reduzido ao de um desejo sexual. Faça resumir qualquer falso mestre que controla a vida
uma pesquisa na sua igreja, perguntando (1 Jo 5.21).
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1 João 2.16 contrasta o amor do Pai com cência, havendo concebido, dá à
“tudo o que há no mundo, a concupiscên- luz o pecado; e o pecado, sendo
cia da carne, a concupiscência dos olhos consumado, gera a morte. Não
e a soberba da vida”5. Isso não significa vos enganeis, meus amados
que o Novo Testamento seja internalista6. irmãos7.
Em cada uma dessas passagens, o Na linguagem atual, esses anseios
comportamento está intimamente ligado à pecaminosos encontram-se freqüente-
motivação e a motivação, ao comporta- mente mascarados como expectativas,
mento. Os conselheiros sábios seguem o alvos, necessidades sentidas, desejos,
modelo das Escrituras e se movem entre exigências, anseios profundos, impulsos e
a concupiscência da carne e as obras assim por diante. As pessoas falam sobre
tangíveis da carne, entre a fé e o fruto suas motivações de modo a anestesiarem
tangível do Espírito. a si mesmas e a outrem quanto ao
2. Por que as pessoas cometem significado verdadeiro daquilo que estão
determinados atos pecaminosos? descrevendo.
O termo concupiscência da carne 3. Mas o que há de errado em se
res-ponde ao POR QUÊ que opera no desejar coisas que parecem ser boas?
âmago de qualquer sistema que tenta O que faz com que os nossos desejos
explicar o comportamento humano. Os sejam errados? Essa pergunta torna-se
desejos dominadores específicos – cobiça, particularmente perturbadora para as
anseios ou prazeres – dão mau fruto. Os pessoas quando o objeto de seus desejos
desejos exagerados explicam e reúnem é algo bom. Observe alguns dos adjetivos
diversos comportamentos e processos que são anexados aos nossos anseios
mentais iníquos: palavras, ações, emoções, profundos: desejos malignos, paixões
pensamentos, planos, atitudes, memórias imundas8. O que palavras fortes como
recorrentes, fantasias. Tiago 1.13-16 essas descrevem? Por vezes, o próprio
estabelece essa conexão íntima e objeto de desejo é mal: assassinar, roubar,
penetrante entre a motivação e o fruto: controlar um tráfico de cocaína.
Ninguém, sendo tentado, diga: Sou Freqüentemente, porém, o objeto do nosso
tentado por Deus; porque Deus desejo é bom, e o mal está no senhorio
não pode ser tentado pelo mal e desse desejo. Nossa vontade substitui a
ele a ninguém tenta. Cada um, vontade de Deus enquanto determinante
porém, é tentado, quando atraído da nossa maneira de viver. João Calvino
e engodado pela sua própria disse o seguinte: “ensinamos serem maus
concupiscência; então a concupis- todos os desejos [naturais] dos homens e
[os] pronunciamos culposos de pecado,
não pelo fato de que são naturais, mas
6
Costumamos ouvir advertências contra a religião
externalista. Mas a religião internalista cria
problemas igualmente sérios. Freqüentemente, os 7
Veja também Gl 5.16-6.10; Tg 1.13-16; Tg 3.14-
cristãos buscam alguma experiência ou sentimento, 4.12.
um senso de quebrantamento total, uma 8
Cl 3.5; 2 Pe 2.10.
transformação interna profunda, e não percebem 9
João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião
que a mudança bíblica é prática e progressiva, Cristã, tradução de Waldyr Carvalho Luz (São
dentro e fora. Paulo: Casa Editora Presbiteriana), vol. III, p. 66.
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porque desregrados” 9 . Em outras de amá-la. O que ele deseja não pode ser
palavras, o mal em nossos desejos nem garantido nesse mundo. Ele percebe a
sempre se encontra no que queremos, mas, questão, identifica seu desejo desenfreado
sim, no fato de que desejamos demais de assegurar o futuro matrimonial, mas
aquilo. Os afetos naturais (por qualquer exclama: “O que há de errado em querer
coisa boa) tornam-se anseios exagerados que minha esposa me ame? O que há de
e controladores. Fomos criados para errado em querer que ela permaneça fiel
sermos controlados por paixões e desejos ao nosso casamento?” Aqui está o ponto
piedosos (veja a pergunta 15 a seguir). Os chave. Não há nada de errado com o
desejos naturais por coisas boas foram objeto do desejo, mas tudo está errado
criados para existirem em subordinação quando ele controla a vida. O processo
ao nosso desejo de agradar Aquele que de restauração daquele casamento deu
concede as dádivas. Entender que o mal um grande passo quando o marido levou
está no senhorio dos nossos desejos, e não a sério essa verdade.
nos desejos em si, é freqüentemente o Podemos dizer que as preferências, os
ponto fundamental para a autocompreen- desejos, os anseios, as esperanças e as
são e para enxergar o quanto necessitamos expectativas são sempre pecaminosos? É
das misericórdias de Cristo e de mudança. claro que não. O que os teólogos
Considere o seguinte exemplo. Uma costumam chamar de “desejos naturais”
mulher comete adultério e, em seguida, fazem parte da nossa humanidade, daquilo
arrepende-se. Ela e seu marido recons- quer permite aos seres humanos serem
troem o casamento com cuidado e diferentes das pedras e capazes de
paciência. Oito meses mais tarde, o marido diferenciar entre bênção e maldição,
descobre que anda atormentado por prazer e dor. É verdade que não queremos
suspeitas e uma irritabilidade sutil. A as dores da rejeição, da morte, da pobreza,
esposa percebe a situação e sente como das enfermidades, e queremos, sim, as
se estivesse sob vigilância a todo o alegrias da amizade, da vida, do dinheiro
momento. O marido se aborrece com sua e da saúde. Jesus não era um masoquista;
atitude de suspeita porque ele não possui Ele certamente clamou: “Passa de mim
razões objetivas para ela. “Já a perdoei; este cálice!”. O eixo da questão moral é
reconstruímos nosso casamento; nunca identificar se o desejo assume uma
nos comunicamos tão bem quanto agora; condição controladora. Se sim, produzirá
por que guardo essa desconfiança?” O pecados visíveis: raiva, murmuração,
que vem à tona é que ele está disposto a imoralidade, desespero, algo que Tiago
perdoar o passado, mas tenta controlar o denominou, de forma clara, “confusão e
futuro. Seus anseios podem ser toda espécie de coisas ruins” (Tg 3.16).
exprimidos dessa forma: “Quero garantir Jesus não era um idólatra; Ele entregou
que a traição nunca volte a acontecer”. Sua vida ao Pai e obedeceu. “Todavia, não
O objeto do desejo é bom; seu senhorio seja como eu quero, mas como Tu queres.”
envenena a capacidade de amar. A cobiça Jesus também não era nenhum estóico
pela certeza da fidelidade da esposa o nem budista que visava uma vida isenta
coloca em uma posição de avaliação e de desejos humanos. Seus desejos eram
julgamento contínuos para com ela, em vez fortes, mas controlados pelo amor ao Pai.

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Quando os desejos naturais permanecem escolha (Sl 19.13). Outros refletem a
submissos a Deus, a fé produz um amor loucura cega, sombria, habitual,
visível. Por exemplo, se você deseja que compulsiva, endurecida, ignorante, confusa
seu filho cresça na vida cristã, mas ele se e instintiva do pecado.11 Uma das alegrias
desvia, isso pode partir seu coração, mas do ministério bíblico é ser capaz de ajudar
não fazer com que você peque contra uma pessoa a acender a luz de seu quarto
Deus ou contra seu filho. A raiva, a escuro. As pessoas normalmente não
ansiedade obsessiva, a desconfiança ou enxergam seus desejos como concupiscên-
manipulação dão evidência de que o desejo cias. Nossos corações acordam à medida
por algo bom tornou-se gigantesco. A que a luz do olhar analítico de Deus
sabedoria na criação dos filhos demonstra interrompe nossa ignorância e auto-
que o desejo, um amor apaixonado e que engano. Os corações são confortados e
parte o coração, está biblicamente curados pelo amor que derramou sangue
alinhado. expiatório para comprar essa dádiva
4. Por que é que as pessoas não inefável.
vêem isso como o problema? Ainda estou para encontrar um casal
Precisamos considerar um segundo preso à hostilidade (e ao medo,
adjetivo utilizado nas Escrituras para a autocomiseração, dor e justiça-própria que
expressão “concupiscência da carne”: a acompanham) que, de fato, compreenda
concupiscências enganosas 10. Nossos e leve em consideração suas motivações.
desejos nos enganam porque se Tiago 4.1-3 ensina que os desejos estão
apresentam como muito plausíveis. por detrás dos conflitos. Por que você está
Quando nossos desejos naturais tornam- lutando? Não é “porque meu cônjuge...”.
se distorcidos e monstruosos, eles nos A luta tem a ver com você. Casais que
cegam. Quem de nós não gostaria de percebem o que os governa – os anseios
desfrutar de boa saúde, conforto por afeição, atenção, poder, vingança,
financeiro, um cônjuge amoroso, filhos controle, conforto e uma vida tranqüila –
bonzinhos, sucesso no emprego, pais são capazes de chegar ao arrependimento
carinhosos, comidas saborosas, uma vida e à descoberta de que a graça de Deus é
sem congestionamentos no trânsito, real em suas vidas para, então,
controle sobre as circunstâncias? Ainda aprenderem a viver pacificamente.
assim, ansiar por essas coisas pode levar 5. A expressão “concupiscência da
a toda sorte de mal. As coisas que as carne” é útil na vida diária e no
pessoas desejam são boas como bênçãos aconselhamento?
recebidas de Deus, mas são terríveis Aplique o termo à experiência de
quando nos controlam. São ótimas nossos dias, redimindo a linguagem
dádivas, mas péssimos deuses. Elas evasiva que as pessoas usam para
seduzem, prometendo bênçãos, mas substituí-lo. As pessoas falam
resultam em pecado e morte. freqüentemente daquilo que querem,
Alguns pecados são calculados, esperam, desejam, exigem, necessitam,
cometidos com completa ciência de

11
Gn 6.5; Sl 19.12; Ec 9.3; Jr 17.9; Ef 4.17-22; 1
10
Ef 4.22. Tm 1.13; 2 Pe 2.10-22.
13 Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4
anseiam. A psicologia popular costuma arrependimento desperta a consciência do
validar essas necessidades e anseios como relacionamento com o Deus da graça.
sendo elementos neutros. As pessoas 6. Cada pessoa possui um “pecado
pouco percebem que, na maioria das básico”?
vezes, elas estão, na verdade, descrevendo Com razão, a Bíblia costuma se referir
usurpadores pecaminosos do domínio de às concupiscências (plural) da carne. O
Deus sobre suas vidas: desejos coração humano é capaz de gerar uma
descontrolados, concupiscências da carne, cobiça sob medida para cada situação.
anseios. Elas são honestas com relação Mais uma vez, João Calvino descreve de
ao que querem, mas não interpretam sua forma magnífica como os desejos
experiência da forma correta. Por “fervilham” dentro de nós, como a mente
exemplo, ouça as crianças falando quando do homem é uma “fábrica de ídolos”.12
estão bravas, desapontadas, exigentes e Estamos infestados de cobiças. Ouça
contrariadas: “Mas eu quero.... Mas eu atentamente qualquer pessoa inclinada à
não quero...”. Em nossa família, murmuração e você observará a
começamos a ensinar nossos filhos sobre criatividade dos anseios. É possível que
o “eu quero” antes de completarem dois um desejo ardente em particular
anos de idade. Queríamos que manifeste-se com tanta freqüência que
entendessem que o pecado vai além do pareça ser um “pecado básico”: amor à
comportamento. Analise qualquer riqueza, temor ao homem e o desejo de
discussão ou explosão de raiva e você aprovação, amor à proeminência ou ao
descobrirá as expectativas que governam controle, desejo de prazer, entre outras
e os desejos que estão sendo frustrados coisas, podem ditar muito das nossas
(Tg 4.1-2). vidas! Mas todos nós possuímos todos os
A linguagem do dia-a-dia permite desejos ardentes característicos do ser
conhecer os detalhes da vida da pessoa, humano.
mas ela costuma vir acompanhada de uma Perceber a diversidade na cobiça
interpretação distorcida. O aconselhamen- humana confere ao aconselhamento uma
to sábio precisa reinterpretar a experiência grande flexibilidade e recursos de
com base nas categorias bíblicas, abordagem. Por exemplo, determinada
descrevendo as “necessidades sentidas”, expressão de cobiça é capaz de gerar
que estão por trás de muito do pecado e diversos pecados conforme 1 Timóteo 6.10
da miséria humana, de acordo com a afirma: “Pois o amor ao dinheiro é a raiz
realidade explícita de “cobiças, anseios e de todos os males”. Cada um dos Dez
prazeres”. A própria falta de familiaridade Mandamentos pode ser quebrado por
com os termos bíblicos pode ser uma alguém que ama e serve ao dinheiro. O
vantagem, desde que você os explique anseio profundo por dinheiro e bens
cuidadosamente e mostre sua relevância materiais é um tema ao redor do qual
e aplicabilidade. Os pecados comporta- encontramos pecados sintomáticos tão
mentais exigem uma solução horizontal
bem como um arrependimento vertical.
Mas os pecados da motivação dizem 12
João Calvino, As Institutas da Religião Cristã, v.
respeito essencialmente a Deus. O III, p. 65, 108.

Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4 14


diversos como ansiedade, roubo, cheio de suspeitas. Um bom pai tem seu
consumismo, assassinato, inveja, desejo subordinado à vontade de Deus e
discórdias matrimoniais, um senso de ama seu filho. Um pai dado à prática do
inferioridade ou de superioridade com pecado permite que o desejo domine e
relação aos outros, imoralidade sexual na produza o caos moral e emocional.
troca do sexo por vantagem material, e Semelhantemente, uma esposa que quer
assim por diante. ser amada revela a condição de seu desejo
Por outro lado, um único comporta- pelo quanto ama e respeita seu marido.
mento pecaminoso pode se gerado por Os frutos visíveis revelam quem está no
diferentes tipos de cobiça. Por exemplo, controle – Deus ou a cobiça.
a imoralidade sexual pode acontecer por É um erro grave engajar-se em uma
inúmeros motivos diferentes: prazer “caça aos ídolos” introspectiva, tentando
erótico, vantagem financeira, vingança desvendar e analisar cada recanto da alma
contra um cônjuge ou contra os pais, medo humana. A Bíblia nos chama a uma forma
de dizer não a uma autoridade, busca de mais direta de auto-exame: uma explosão
aprovação, prazer no controle da reação de raiva nos convida a uma reflexão
sexual de outra pessoa, busca por status acerca do anseio que dominou o coração
social ou promoção na carreira para que possamos nos arrepender
profissional, dó de alguém e desejo de inteligentemente. O alvo bíblico não é
assumir o papel de salvador, medo de dirigido para dentro de nós, mas para fora:
perder um namorado, escape da solidão, conduzir-nos em direção a Deus pela fé e
pressão do grupo, e assim por diante! Os arrependimento (Tg 4.6-10) e, em seguida,
conselheiros bíblicos sábios sondam em à pessoa com quem erramos ficando
busca de coisas específicas. Eles não irados, reconciliando-nos mediante
presumem que todas as pessoas possuem arrependimento, humildade e amor.
as mesmas características da carne nem 8. É correto falar acerca do
que determinada pessoa sempre faz a coração, já que a Bíblia ensina que
mesma coisa pelos mesmos motivos. A somente Deus conhece o coração? (1
carne é criativa em sua iniqüidade. Sm 16.7; Jr 17.9)
7. Como saber se um desejo é Ninguém além de Deus é capaz de
descontrolado ou natural? enxergar, explicar, controlar ou mudar
Você pode conhecer um desejo pelos o coração de outra pessoa e suas
seus frutos. A motivação humana não é escolhas. Não existe nenhuma razão fun-
um mistério teórico; não há necessidade damental pela qual uma pessoa serve a
de nos aprofundarmos de forma uma determinada cobiça ao invés de servir
demorada, introspectiva e arqueológica. a Deus; o pecado é algo irracional e louco.
Os desejos pecaminosos produzem maus E não existe técnica de aconselhamento
frutos que podem ser vistos, ouvidos e que possa mudar, de forma fundamental,
sentidos (Tg 1.15; 3.16). Por exemplo, um os corações. Mas a Bíblia nos ensina que
pai que deseja que seu filho venha a ser podemos descrever o que governa o
um jovem cristão revela a condição de seu coração e falar a verdade que Deus usa
desejo mostrando se ele é um bom pai ou para convencer e libertar. O ministério
um pai manipulador, temeroso, raivoso e bíblico eficaz investiga e trata o motivo

15 Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4


pelo qual as pessoas fazem as coisas, bem parreiras, romãs e água (Nm 20.5). Em
como o que elas fazem. Em Seu ministério, ambos os casos, o anseio refletiu sua
Cristo expôs e desafiou continuamente o rebeldia para com Deus e se expressou
verdadeiro motivo de viver das pessoas, na forma de pecados visíveis e audíveis.
oferecendo-Se como único soberano válido Quando vemos os substitutos de Deus
para o coração. clamarem por nossa afeição, então
Por exemplo, 1 Samuel 16.7 diz que o enxergamos quão boa e necessária a
homem julga o exterior ao passo que o graça de Jesus é em reprimir esses
Senhor julga o coração. Ainda assim, seqüestradores e reassumir o controle.
alguns versículos antes, lemos que Saul 9. A palavra concupiscências não
desobedeceu a Deus visivelmente por um se aplica propriamente apenas a
motivo: ele temeu a homens e ouviu seus apetites do corpo, ou seja, os prazeres
conselhos, ao invés de temer e ouvir a e confortos do sexo, comida, bebida,
Deus (1 Sm 15.24). Suas motivações são descanso, exercício físico e saúde?
descritíveis, mesmo que inexplicáveis. Não As pessoas seguem os desejos do
existe uma causa maior para um pecado corpo e dos pensamentos (Ef 2.3). Os
do que o próprio pecado. Jeremias 17.9 apetites do corpo – o instinto hedonista do
diz que o coração do homem é enganoso corpo de se sentir bem – certamente
e incompreensível a todos menos a Deus, exercem um domínio poderoso em direção
mas a mesma passagem descreve como ao pecado. Mas os desejos dos
o comportamento revela que as pessoas pensamentos – desejos de poder,
confiam em ídolos, em si mesmas e nos aprovação humana, sucesso, proeminên-
outros, ao invés de confiar em Deus (Jr cia, riqueza, justiça-própria, e assim por
17.1-8). As Escrituras são francas em nos diante – também podem dominar com igual
falar acerca das causas do comporta- poder. Os desejos dos pensamentos, via
mento: os conflitos interpessoais, por de regra, apresentam-se como as
exemplo, surgem das cobiças (Tg 4.1-2). concupiscências mais sutis e enganosas
Se a ira e o conflito vêm da cobiça, a porque seus resultados nem sempre são
próxima pergunta óbvia é: “O que você óbvios. Eles não residem no corpo, mas a
deseja, o que está governando agora sua Bíblia ainda os enxerga como
vida?”. “concupiscências”.
Sondar as motivações não requer 10. Os desejos podem ser
nenhuma técnica psicoterápica refinada. habituais?
Em geral, as pessoas são capazes de lhe Paulo descreve o trato passado, um
dizer o que querem. Os israelitas estilo de vida anterior caracterizado por
murmuraram – um crime capital – quando cobiças enganosas. Pedro orienta seus
tiveram que se sustentar com uma comida leitores para não se moldarem às “paixões
entediante. Por quê? Eles ansiavam por que tinham anteriormente”. 13 À
sabores: peixe, pepino, melão, alho e cebola semelhança de todos os demais aspectos
(Nm 11.5). Mais tarde, murmuraram do pecado — crenças, atitudes, palavras,
quando sentiram sede e não havia um
oásis por perto. Por quê? Eles ansiavam
por alimentos suculentos ou alimentos que 13
Efésios 4.22 (cf. 4.17-19, que reforça a idéia de
necessitavam de irrigação: grãos, figos, um estilo de vida característico); 1 Pedro 1.14.
Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4 16
ações, emoções, pensamentos e fantasias um desejo ardente de que algo não
— os desejos podem ser habituais. Você aconteça. Se eu quero dinheiro, tenho
encontrará pessoas que procuram medo da pobreza. Se anseio por aceitação,
repetidamente controlar as outras, a possibilidade de uma rejeição me
satisfazer os prazeres da preguiça, ser vis- atemoriza. Se temo a dor e o sofrimento,
tas como superiores ou agradar aos outros. desejo ardentemente o conforto ou o
O chamado de Jesus a morrer para si prazer. Se desejo ardentemente a
mesmo diariamente reconhece a inércia proeminência, temo me sentir inferior aos
do pecado. Deus está no processo de criar outros. Para algumas pessoas, o temor
novos desejos habituais como, por exemplo, pode ser algo mais forte e evidente do que
uma preocupação ativa pelo bem-estar dos o desejo correspondente. O aconselha-
outros. mento sábio trabalha com aquilo que está
Muitos sistemas de aconselhamento em evidência. Por exemplo, uma pessoa
estão obcecados com rastrear no passado que cresceu em uma época de dificuldade
distante as causas para os problemas financeira pode manifestar uma adoração
atuais. A cosmovisão bíblica é muito mais ao dinheiro por meio de um temor da
direta. O pecado nasce no interior da pobreza que se expressa em ansiedade,
pessoa. O fato de que um estilo de desejos acúmulo de dinheiro, cálculos repetidos de
habituais tenha sido estabelecido há muitos valores financeiros, e assim por diante.
anos – mesmo que tenha sido moldado em Um bem-sucedido empreendedor de trinta
um contexto particular, quem sabe e poucos anos manifesta sua adoração ao
influenciado por modelos ruins ou por dinheiro por meio de um consumismo
experiências nas quais foi vítima do desenfreado. No primeiro caso, tratamos
pecado de outros – apenas descreve o que o medo; no segundo, a cobiça. São
aconteceu e quando. O passado não expressões complementares do forte
explica o porquê. Por exemplo, as anseio por tesouros na terra.
rejeições do passado não geram o desejo 12. As pessoas sempre possuem
de ser aceito pelos outros mais do que as motivações conflitantes?
rejeições do presente o fazem. Alguém Certamente. O conflito entre as
que foi sempre aceito por pessoas paixões pecaminosas e os desejos do
importantes em sua vida pode ser Espírito Santo é um fato na vida cristã (Gl
igualmente controlado pela cobiça por 5.16-17). Todos nós costumamos reunir
aceitação. As situações jamais são a causa um misto de motivações, algumas boas e
da cobiça. As tentações e os sofrimentos outras ruins. Muitos pregadores e
de fato apertam o botão, mas não criam conselheiros reconhecem que o amor
os botões. Isso nos traz muita esperança genuíno a Cristo e ao próximo luta contra
por mudança no presente, pela graça de o amor perverso pelo sucesso pessoal e a
Deus. aprovação humana.
11. E o que dizer dos medos? Eles Em outras situações, dois desejos
parecem tão importantes na motiva- pecaminosos podem entrar em conflito.
ção humana quanto os anseios Por exemplo, um empresário pode querer
profundos. roubar algo de uma loja de conveniência,
Medo e desejo são dois lados de uma mas ele não o faz temendo por sua
mesma moeda. Um medo pecaminoso é reputação se for pego no ato do furto.
17 Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4
Nesse exemplo, o amor ao dinheiro e a específicos quando a pessoa identifica
aprovação social apresentam-se como esses três aspectos de cobiça que
opções para a carne; o coração inclina-se expressam o senhorio do “eu” naquele
para a última. É comum as pessoas determinado incidente.
priorizarem seus desejos e organizarem as A Bíblia discute o pecado em uma
prioridades de forma diferente em variedade enorme de formas. Por vezes,
situações diferentes. Por exemplo, o as Escrituras falam do pecado de modo
homem que jamais furtaria por causa das geral: por exemplo, Lucas 9.23-26 fala
conseqüências sociais pode muito bem acerca do “eu” e Provérbios, do “estulto”.
forjar sua declaração de renda, pois as Em outros momentos, as Escrituras
chances de ser pego são menores e aumentam a potência das lentes do
ninguém “importante” ficaria sabendo se microscópio e tratam de um tema
ele o fizesse. Nesse caso, a vontade específico de pecado: por exemplo,
própria e a adoração ao dinheiro assumem Filipenses 3 fala acerca da busca de
o volante e a aprovação social vai para o justiça-própria, 1 Timóteo 6.5-19 fala do
banco de trás. O “caminho mais largo” amor ao dinheiro e 2 Timóteo 3.4, do amor
possui milhares de variantes criativas! ao prazer. E ainda em outros lugares, a
13. De que forma a idéia de Bíblia fala de “desejos” que conduzem ao
“concupis-cências” está relacionada pecado sem especificar qual pecado. Isso
a outras maneiras de falar sobre o nos convida a fazermos a aplicação
pecado, tais como “natureza específica a nós mesmos. 14 Podemos
pecaminosa”, “eu”, “orgulho”, esquematizar da seguinte maneira: (1)
“autonomia”, “increduli-dade” e termos gerais; (2) um nível intermediário
“egocentrismo”? de temas e pecados habituais típicos da
Essas palavras são termos genéricos idolatria, e (3) um nível de detalhes
que resumem o problema do pecado. Uma específico (veja Figura 1).
das maravilhas de se identificar os desejos 14. No aconselhamento, devemos
controladores é que eles são muito apenas confrontar a pessoa que tem
específicos. O discernimento pode, fortes desejos pecaminosos?
portanto, capacitar-nos a um Os conselheiros sábios não “apenas
arrependimento e uma mudança mais confrontam”. Eles fazem inúmeras coisas
específicos. Por exemplo, uma pessoa que diferentes para que a confrontação seja
fica irada no meio de um engarrafamento oportuna e eficiente. Os conselheiros não
do trânsito pode dizer mais tarde: “Sei que enxergam o coração. Eles vêem apenas
a ira é pecado e ela vem de dentro de as evidências, de modo que existe um
mim”. De fato, isso é verdade. Mas isso certo grau apropriado de tentativa quando
nos ajuda a levar o autoconhecimento a se fala em motivações. Talvez seja mais
um passo mais adiante: “Eu fiquei irado e apropriado dizer que o aconselhamento
falei um nome feio porque desejava procura iluminar o coração. Queremos
ardentemente chegar ao meu compromis- ajudar as pessoas para que vejam a si
so no horário, temia ser criticado pela
pessoa que me esperava e temia perder
os lucros daquela venda”. O arrependi- 14
Veja Tg 1.15-17 e 4.1-2; Gl 5.16-21; Rm 13.12-
mento e a mudança podem se tornar mais 14.
Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4 18
mesmas como Deus as vê e, desta forma, das trevas versus o comportamento
tornar o amor de Deus algo extremamente adequado da luz).
desejável. Uma vez que nós conselheiros Os padrões, temas ou tendências do
possuímos o mesmo pacote de cobiças coração não costumam se render ao
típicas, necessitamos igualmente da graça arrependimento de uma vez por todas.
por causa de orgulho, temor a homens, Tente dar um tiro mortal no orgulho, temor
incredulidade e amor por conforto e ao homem, amor aos prazeres ou desejo
controle. de controlar o seu mundo, e você
Podemos e devemos atacar tais entenderá o que Jesus disse em Lucas
questões. Conforme vimos, 2 Timóteo 3.16 9:23! Mas um progresso genuíno acontece
começa com “ensinar”. O bom ensino (por onde o Espírito Santo está operando.
exemplo, mostrando como Gálatas 5 e Entender seus pecados no que diz respeito
Tiago 1 estabelecem uma ligação entre os à motivação dá sentido para “temas” que
pecados externos e os desejos internos) se repetem em sua história e mostram
ajuda as pessoas a examinarem e como o Pai está atuando em você durante
enxergarem a si mesmas. O bom ensino essa longa jornada.
convida ao autoconhecimento e à 15. É possível mudar o que quere-
autoconfrontação. A experiência no lidar mos?
com pessoas confere sabedoria para Sim, e amém! Isso é crucial para a
estabelecer associações comuns (por obra do Espírito Santo. Nunca deixaremos
exemplo, os diferentes motivos para a de desejar, amar, confiar em, acreditar em,
imoralidade mencionados na pergunta 6). temer, obedecer a, ansiar por, apreciar,
Perguntas profundas (“O que você quer/ buscar, esperar, e servir...algo. Somos
espera/teme quando explode com sua motivados por desejos. Deus não nos
esposa?”) ajudam a pessoa a revelar para anestesia; Ele reorienta nossos desejos.
si mesma e diante do conselheiro a cobiça O Espírito Santo trabalha para mudar a
que a controla. configuração e a condição dos nossos
À luz do autoconhecimento perante a desejos à medida que Ele nos conduz
face de Deus (Hb 4.12-13), o evangelho pessoalmente15. Os desejos do coração
oferece muitas promessas: misericórdia, não são imutáveis. Deus jamais promete
ajuda, o cuidado do Pastor na santificação lhe dar o que você deseja, satisfazer as
progressiva (Hb 4.14-16). “A revelação necessidades que você sente e seus
das Tuas palavras esclarece” (Sl. 119:130). anseios. Ele diz que você deve ser
Arrependimento, fé e obediência ganham governado por outros desejos, diferentes
vigor baseados em compreensão quando dos atuais. Isso é radical. Deus promete
enxergamos à luz das misericórdias de mudar o que você realmente quer! Deus
Deus tanto os desejos do coração como insiste em ocupar o primeiro lugar, e todos
os pecados manifestos. Trabalhe árdua e os outros amores devem estar
cuidadosamente nas questões de radicalmente subordinados ao amor a Ele.
motivação (Romanos 13.14: os desejos da
carne versus revestir-se de Jesus Cristo)
e nas questões comporta-mentais
(Romanos 13.12-13: as diferentes obras 15
Gl 5.16-25; Rm 6.16-18; 8.12-16; Sl 23.3.

19 Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4


Termos Gerais: orgulho, eu, egocentrismo, autoconfiança, autonomia,
autoridade, carne, velha natureza, estultícia, maldade

Exemplos de temas e
pecados habituais típicos
da idolatria: controle dinheiro e justiça-
bens própria
auto-exaltação religiões
temor a homens prazer físico falsas.
ou confiança no e conforto
homem

Desejos Específicos: miríade de desejos específicos, individualizados, que expressam os temas


e hábitos pecaminosos da carne.

Figura 1: Desejos da Carne

A melhor forma de compreender essa Quais os desejos da carne e dos


questão é pensar acerca da oração. Orar pensamentos (Ef. 2:3) que as pessoas
significa pedir. Você pede porque você naturalmente seguem? Considere nossas
quer alguma coisa. Você pede a Deus, paixões características: os desejos do
pois crê que Ele possui poder para con- corpo incluem a própria vida, ar, saúde,
ceder o que você quer. Por exemplo, água, alimento, vestimenta, abrigo, prazer
quando Salomão orou por um coração sexual, descanso e exercício. Os desejos
sábio e capaz, cheio de discernimento, da mente incluem felicidade, ser amado,
Deus concedeu o que ele pediu (1 Reis significado, dinheiro e posses, respeito,
3). Deus Se deleitou no fato de que status, realizações, auto-estima, sucesso,
Salomão não pediu longevidade, riquezas controle, poder, justiça-própria, prazer
nem sucesso. Estas são as necessidades estético, conhecimento, casamento e
sentidas por muitos dos que estão no poder família. Eles devem governar nossas
atualmente. Salomão não tratou a Deus vidas? Eles não governaram a vida de
como um gênio da lâmpada que existe para Cristo. Esses desejos ardentes podem, de
conceder a ele três desejos. O que fato, ser mudados? A Bíblia diz que sim, e
desejamos por natureza – ou seja, os fortes nos aponta as promessas de Deus: habitar
anseios da carne – expressa nossa em nós com poder, escrever a verdade
natureza pecaminosa. Salomão, porém, em nossos corações, derramar Seu amor
havia aprendido a identificar sua em nossos corações, capacitar-nos para
necessidade verdadeira. Ele havia dizer “Aba, Pai”.
aprendido a orar de acordo com a vontade Conforme vimos, muitas dessas coisas
de Deus, e Deus Se agradou em responder. não são ruins em si mesmas. O mal nem
O Senhor muda o que queremos, e sempre está no que desejamos, mas no
aprendemos a orar de acordo com o que fato de desejarmos demais. Nossos
agrada a Deus, a querer o que Ele quer. desejos por algo bom apoderam-se do
Deus contesta as coisas que todos, em trono e se tornam ídolos que substituem o
todo lugar, buscam com avidez (Mt 6.32). Rei. Deus Se recusa a servir aos nossos

Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4 20


anseios instintivos. Ele nos ordena que minha necessidade de ser amado”. O
sejamos governados por outros anseios. senso de significado na vida e de segurança
E o que Deus ordena, Ele nos capacita a do amor de Deus por você vêm de um
realizar: Ele opera em nós tanto o querer canal diferente do que o “anseio por
como o realizar aquilo que Lhe agrada (Fp significado e segurança”.
2.12-13). Os anseios mais profundos do coração
É possível mudar aquilo que você mais humano podem e precisam ser mudados
deseja? Sim. A resposta a esta pergunta o à medida que somos recriados de acordo
surpreende? Ela contraria os pontos de com aquilo que Deus planejou que
vista de maior influência na visão sejamos. Nossos anseios depravados são
contemporânea da motivação humana. A senhores ilegítimos, pois mesmo quando o
maioria dos livros de aconselhamento objeto de desejo é bom, o status do desejo
cristão segue os passos dos psicólogos usurpa o lugar de Deus. Eles devem ser
seculares e considera nossos desejos, as identificados para que possamos conhecer
“necessidades sentidas”, como fixos. a Deus de maneira mais rica como Salva-
Muitos psicólogos cristãos de renome dor, Deus amoroso, e Aquele que converte
fazem da imutabilidade daquilo que a alma humana. Deus quer que ansiemos
desejamos o fundamento de seus por Ele mais do que ansiamos por Suas
sistemas. Por exemplo, muitos ensinam dádivas. Para nos tornar verdadeiramente
que temos um “tanque de amor vazio” humanos, Deus precisa mudar aquilo que
dentro de nós. Nosso anseio por amor queremos; precisamos aprender a querer
precisa ser satisfeito ou estamos fadados as coisas que Cristo queria. Não é
a uma vida de tristeza e pecado. O desejo surpresa que os psicólogos não consigam
de nos sentirmos bem acerca de nós encontrar nenhuma prova em textos
mesmos (a “auto-estima”) ou o desejo de bíblicos para sua visão da motivação
realizar algo de significado recebem o humana. A Bíblia ensina uma visão
mesmo rótulo. Essa psicologia equivale à diferente.
teologia da prosperidade, que seleciona, A vida cristã é um grande paradoxo.
semelhantemente, certos desejos comuns Aqueles que morrem para o eu, encontram
e dá por certo que Deus possui a obrigação o verdadeiro eu. Aqueles que morrem para
de satisfazê-los. As versões psicológicas seus fortes anseios “recebem, no presente,
da teologia da prosperidade não percebem muitas vezes mais e, no mundo por vir, a
que a obra de Deus consiste em mudar os vida eterna” (Lc 18.30). Eles encontram
anseios das pessoas. Se as necessidades novas paixões pelas quais vale a pena
sentidas são imutáveis, é impossível viver e morrer. Se eu anseio fortemente
aprendermos a orar como Salomão. Isso por felicidade, receberei tristeza. Se anseio
reforça a tendência de orarmos por nossos por amor, receberei rejeição. Se anseio por
desejos ardentes. Reforça um senso de significado, receberei futilidade. Se anseio
vitimização naqueles que são maltratados por controle, receberei caos. Se anseio por
e também a tendência de pressionarmos reputação, receberei humilhação. Mas se
a Deus rumo à satisfação de nossas anseio por Deus e Sua sabedoria e
cobiças. Em nenhum lugar da Bíblia misericórdia, receberei a Deus e Sua
alguém orou: “Senhor, satisfaça minha sabedoria e misericórdia. Ao longo do
necessidade de me sentir importante e caminho, mais cedo ou mais tarde, também
21 Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4
receberei felicidade, amor, significado, Um sábio pastor puritano, Stephen
ordem e glória. Charnock, escreveu sobre “o poder
Todo cristão vigoroso é testemunha de expulsivo de um novo afeto”. Novos
que as paixões instintivas e os desejos da desejos dominadores expulsam do trono
carne podem ser substituídos por novas os desejos que estavam no poder. Quais
prioridades do Espírito. Essa reorientação são as novas motivações que controlam
não acontece em um piscar de olhos nem os corações renovados? Que objetos de
é completa, mas é genuína e progressiva. desejo transformados caracterizam os
Dois dos maiores livros de teologia cristã desejos que governam o novo coração,
prática — as Confissões de Agostinho agora sensível a Deus? Como Deus muda
e Treatise Concerning Religious Affec- os desejos? A Bíblia trata dessa questão
tions (Tratado sobre os Afetos Religiosos) em toda a sua extensão. 16 Os desejos
de Jonathan Edwards — meditam idólatras seqüestram o coração humano.
exatamente nessa transformação. A Tanto a vida cristã quanto o ministério
oração de Francisco de Assis diz: “Ó cristão dizem respeito a uma
Senhor, permita que não busque ser transformação do que as pessoas querem.
consolado, mas consolar; ser entendido, Essa transformação é central à obra do
mas entender; ser amado, mas amar”. O Espírito Santo de trabalhar Sua Palavra
forte desejo de aprender a amar e em nossas vidas. A concupiscência da
compreender os outros substitui o de carne conduz a algo muito ruim: as obras
receber amor e compreensão. mortas. A concupiscência da carne possui
Aqueles que têm sede e fome desse uma solução específica: o evangelho de
tipo de justiça serão satisfeitos — Jesus Jesus Cristo, que a substitui. “Ele morreu
nos deu Sua palavra. Não temos por todos, para que os que vivem não
promessa, entretanto, de que Deus vivam mais para si, mas para aquele que
satisfará nossos fortes desejos instintivos. por eles morreu e ressuscitou.” (2 Co 5.15)
A Bíblia nos ensina a orar pedindo aquilo Os desejos do Senhor nos conduzem a algo
de que temos necessidade real. Podemos muito bom: as boas obras. Um ingrediente
fazer os pedidos da oração do Pai Nosso chave na reivindicação da cura da alma é
e realmente desejar o que pedimos? Sim. fazer dessa transformação algo central.
Podemos ansiar pela glória de Deus, que
Sua vontade seja obedecida, pela provisão Conclusão
material diária para todo o povo de Deus, Falamos apenas de um dos muitos
por pecados perdoados e auxílio na luta termos que a Bíblia usa para explicar as
contra o mal? Sim. obras do coração humano de forma
detalhada. Trata-se de um tema cujas
16
riquezas são inesgotáveis. O coração
As passagens a seguir dão início a esta pergunta.
Em cada passagem pergunte: “O que a pessoa quer,
humano é um verbo ativo. Não “temos
anela por, busca, se deleita de fato?” Sl 42.1-2; Sl necessidades”; nós “criamos desejos”, da
63.1-8; Sl 73.25-28; Sl 80; Sl 90.8-17; Pv 2.1-6; Pv mesma forma que amamos, tememos,
3.13-18; Pv 8.11; Is 26.8-9; Mt 5.6; Mt 6.9-13; esperamos, confiamos, e assim por diante.
Mt 6.19-33; Mt 13.45-46; Lc 11.9-13; Rm 5.1-11;
Examinamos aqui os verbos do desejo.
Rm 8.18-25; Rm 9.1-3; 2 Co 5.8-9; Fp 1.18-25;
Fp 3.8-11; Fp 3.20-21; 2 Tm 2.22; 2 Tm 3.12; 1 Poderíamos ter examinado uma série de
Pe 1.13; 1 Pe 2.2; Ap 22.20. verbos complementares que captam a
Coletâneas de Aconselhamento Bíblico vol. 4 22
idéia do ativismo fundamental do coração profundo quanto a complexidade humana.
humano. Mas faríamos isso confiantes de As Escrituras que testemunham de Cristo
que o evangelho de Jesus Cristo é tão vasto no poder de Seu Espírito são suficientes
quanto a diversidade humana e tão para curar as almas.

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