30/12/2018 | CORREIO DO POVO RURAL | 1
CR
SAMUEL MACIEL / CP MEMÓRIA
correio do povo rural
Coordenação: Elder Ogliari | rural@correiodopovo.com.br
Reportagem: Nereida Vergara | Ano: 36 Número: 1.853
Assédio
às startups
Empresas, entidades e produtores rurais se aproximam de pequenos
empreendimentos voltados à criação de soluções competitivas,
menos desgastantes e mais eficientes para as atividades agropecuárias
NEREIDA VERGARA
U
ma tendência recente, ainda difícil de
ser mensurada, tem aproximado das
startups voltadas ao agronegócio as em-
presas, entidades e produtores rurais
que desejam competitividade e inovação em suas
atividades. Segundo especialistas, buscar novas
formas de trabalhar, junto a pequenos núcleos de-
dicados à pesquisa e desenvolvimento de solu-
ções, é aconselhável tanto do ponto de vista eco-
nômico quanto conjuntural. A Associação Gaúcha
de Startups (AGS), que congrega 500 empresas
do Estado e outros 500 entes ligados ao setor (co-
mo incubadoras, aceleradoras e coworkings), esti-
ma que existam no Estado entre 50 e 100 núcleos
de inovação com foco no agronegócio.
Presidente da AGS, o francês radicado em Por-
to Alegre François Holl afirma que é quase impos-
sível estabelecer um número de startups em ope-
ração. “Elas nascem e morrem com uma velocida-
de maior que em outros ramos”, explica. A asso-
ciação, conforme Holl, é incentivadora permanen-
te da proximidade das startups com grandes, mé-
dias e mesmo pequenas empresas. Um dos maio-
res inimigos da sobrevivência das empresas em-
brionárias, diz ele, é justamente a dificuldade de
captar e manter clientes. A entidade, além de ofe-
recer aceleração gratuita, faz a ponte entre as
startups e as empresas interessadas. “É o cami-
nho que o núcleo de inovação deve seguir para se
consolidar no mercado, seja na prestação de ser-
viço ou no desenvolvimento de soluções novas”,
sustenta. O dirigente ressalta, no entanto, que es-
ta interação ainda é incipiente no Rio Grande do
Sul e também no país.
De acordo com o consultor em agronegócio e
mentor de startups no ramo agro Luiz Ramos,
embora lenta e recente (há cinco anos no Brasil e
há quase 20 anos na Europa e Estados Unidos),
a interação dos núcleos de inovação com empre-
sas estabelecidas e produtores rurais é muito pro-
missora. “As startups de agro têm no Brasil um
potencial infinito de atuação, num mercado de
grande diversidade”, salienta. Algumas empre-
sas, cooperativas e sindicatos costumam buscar
parcerias com startups para internalizar informa-
ções em seus processos, acentua Ramos, enquan-
to outras pensam em aproveitar os avanços na
forma de terceirização. “Seja qual for o caminho,
as startups têm um vasto campo de crescimento
no agronegócio e não apenas associando-se às
grandes empresas, mas também atendendo qua-
tro milhões de pequenos agricultores para os
quais a inovação pode significar mais rentabilida-
de, com a agregação de soluções que tornem seu
trabalho menos penoso”, aponta. Ramos diz, ain-
da, que deve ser estimulado o aproveitamento
nas startups de talentos que sejam oriundos da
atividade agropecuária. “Jovens, filhos de agricul-
tores, conhecem como ninguém a forma de traba-
lhar no campo e podem contribuir muito com este
conhecimento na criação das soluções. Isso pode
diminuir o êxodo rural no futuro, por dar mais
qualidade de vida”, avalia.
ACELERADORAS. O empresário Sandro Corte-
zia, fundador da Ventiur Aceleradora, tem em
seu portfólio 42 startups de todo o Brasil, sendo
apenas três na área de agronegócio. Para ele, o
fenômeno de aproximação das grandes, médias
e até pequenas empresas dos núcleos de inova-
ção se dá por uma mudança de interpretação do
que é inovar e de uma necessidade de fazer isso
de forma mais rápida e competitiva. “As empre-
sas se deram conta de que, fazendo inovação
dentro de casa, o investimento é maior. Mas
nem sempre é possível contratar os maiores ta-
lentos para a tarefa. Para acompanhar a veloci-
dade da inovação, passaram a procurar as star-
tups”, analisa. Cortezia lembra que essa aproxi-
mação, se feita sem o devido acompanhamento e
maturidade por parte da startup, pode resultar
em frustração para duas partes e até no fim pre-
coce da empresa embrionária que eventualmen-
te não consiga entregar aquilo a que se propôs.
André Ghignatti, CEO da Wow Aceleradora,
que já investiu em 65 startups, quatro delas vol-
tadas para o agro, garante que as parcerias são
importantes desde que a startup não se afaste
de seu foco apenas para atender aos interesses
de uma grande corporação. “É comum a startup
se encantar com a possibilidade de ter uma gran-
de marca como cliente, pois gera credibilidade,
mas isto não pode desviá-la de seu plano de cres-
cimento”, alerta.
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De olho nas novidades
A
rmazenamento de informações
Gigantes das áreas na nuvem, drones, Internet das
de máquinas, Coisas e compartilhamento são
conceitos que vêm se tornando
defensivos e comuns às atividades do agronegócio e
fertilizantes que são um passo à frente no avanço
que se atingiu com o desenvolvimento de
apostam cada vez máquinas e implementos. Gigantes fabri-
cantes de máquinas agrícolas, defensi-
mais em vos e fertilizantes apostam cada vez
tecnologias nos mais em tecnologias que agreguem inova-
ção à sua clientela e têm buscado produ-
seus produtos e tos desenvolvidos por startups. A Bayer
CropScience, braço agro da multinacio-
também na oferta nal no Brasil, mantém um grupo multide-
de inovações aos partamental que se reúne mensalmente
para analisar as empresas que surgem
seus clientes no mercado e que podem ter soluções
aproveitáveis dentro do conglomerado
ou na sua interface de relacionamento
com os clientes.
O executivo Renato Luzzardi, gerente
de Alianças da Bayer para a América La-
tina, destaca que há no mercado um
grande número de startups em diferen-
Ambiente digital
desenvolvido pela
Essent Agro simula
Imposto de Renda
mensal e aponta
melhor modelo para a
Declaração de
Ajuste Anual
CRIADA HÁ QUATRO MESES E JÁ NA REDE DE MULTINACIONAL
Afiliada de um grupo de serviços con-
tábeis estabelecido em Tucunduva há 35
anos, a Essent Agro está no mercado há
apenas quatro meses e já foi incluída na
Rede AgroService da Bayer CropScien-
ce, braço do agronegócio no Bayer no
Brasil. Para ficar próxima dos clientes, a
multinacional oferece a eles um sistema
de troca de pontos – acumulados com a
aquisição de seus produtos – por servi-
ços tecnológicos das empresas cadastra-
das na sua rede.
Segundo Giandrei Basso, CEO da Es-
sent Agro, o sucesso da empresa deve-se
ao desenvolvimento de um produto que
não apenas facilita a vida contábil do
agricultor, mas também lhe oferece uma
simulação no final do ano de uma decla-
ração de imposto de renda mais enxuta
e compensadora. “A plataforma utiliza
um robô para coletar todos os compro-
vantes de gastos do agricultor, seja de
fertilizantes, sementes, combustíveis, o
que for. Esses dados ficam no sistema
compilados no CPF do produtor, facilitan-
do o controle de gastos e a reunião de
tes estágios e que é preciso saber selecio-
nar a melhor aplicação das tecnologias
oferecidas. A empresa, segundo Luzzar-
di, tem parceria no Brasil com cerca de
dez startups que considera maduras e
que fazem parte da plataforma Rede
AgroService, na qual os compradores de
produtos Bayer podem trocar pontuações
por serviços agronômicos e de gestão.
“Com as startups em estágios mais ini-
ciais, selecionadas pelo nosso Centro de
Expertise em Agricultura Tropical
(Ceat), fazemos uma análise do potencial
de cada empresa e estudamos a melhor
forma de interação, que poderá ser men-
toria, monitoramento ou mesmo investi-
mento em determinado produto”, explica.
Há 40 anos no mercado de venda de
fertilizantes, defensivos, nutrição vegetal
e sementes, recebimento, armazenagem,
compra, venda e troca de grãos, a Agro-
fel, com sede em Porto Alegre e 36 filiais
em cinco regiões do Estado, começou a
se interessar pelo universo das startups
há dois anos, quando viu a necessidade
documentos para a declaração anual ao
fisco”, explica.
Basso ressalta que a tecnologia desen-
volvida pela startup, usando recursos de
INOVAÇÕES MAPEADAS
n Desde agosto de 2018, um comitê da
Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA) decidiu mapear, em dez
estados brasileiros, os ecossistemas de
startups que busquem inovações para o
agronegócio. O comitê é formado pela
confederação, pelo Instituto CNA e pelo
Serviço Nacional de Aprendizagem
(Senar).
A intenção, conforme a entidade, é unir
as tecnologias que surgem o tempo todo
no berço das startups com o interesse
observado entre as empresas de investir
no que modernize o setor agropecuário.
Segundo a CNA, a ideia é definir
inicialmente os níveis de maturidade das
agritechs brasileiras para posterior
interação com o setor empresarial
agropecuário interessado.
de estar mais presente no universo digi-
tal. “Desta necessidade surgiu o aplicati-
vo Agrofel Digital, importante ferramenta
hoje já utilizada por cerca de 2.500 clien-
tes e que tem a finalidade de oferecer ao
agricultor tudo o que ele precisa na pal-
ma da mão”, explica Roni Ferrarin, dire-
tor comercial e de insumos da empresa,
que desenvolveu o projeto em conjunto
com uma startup.
O app da Agrofel firma uma parceria
com o produtor, pois agrega valor à sua
atividade rural, oferecendo a ele soluções
práticas e simplificadas como a conferên-
cia do saldo de grãos e insumos, acompa-
nhamento do preço do dólar, cotação de
commodities em Chicago e balcão e as
principais notícias do setor. Além disso,
facilita o contato com a unidade que o
atende e permite em um único clique fa-
lar com o gerente. “É preciso apostar em
novas soluções, e por conta disso, estar
sempre em busca de elementos que cola-
borem. Gostamos muito de experimen-
tar”, completa Ferrarin.
VERÔNICA LONGHI / DIVULGAÇÃO / CP
inteligência artificial, consegue planejar
todos os custos da propriedade e simu-
lar mensalmente o imposto de renda do
produtor. “Para se manter competitivo, o
produtor precisa de planejamento, preci-
sa ser um empresário do campo. O servi-
ço proporciona essa competência”, pon-
tua Basso, que mantém hoje uma equipe
de 52 analistas para atender seus clien-
tes. “Como se trata de tecnologia que uti-
liza um robô e a nuvem para armazena-
mento de dados, se dobrássemos a clien-
tela só mais quatro pessoas seriam ne-
cessárias para dar conta”, diz.
A Essent Agro se propõe a atender
desde o cliente individual até condomí-
nios de agronegócio e empresas de agri-
cultura e pecuária com formação fami-
liar. Os preços, adianta Basso, variam
de acordo com o número de CPFs de ca-
da propriedade. “Mas não é nada mais
do que se costuma cobrar por qualquer
serviço contábil, com a vantagem que o
produtor não precisa correr atrás de
qualquer documentação na hora de acer-
tar as contas com o Leão”, completa.