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O evangelho de Lucas e o acolhimento dos excluídos.

O evangelho de Lucas é um evangelho pela qual tenho certa admiração, apesar de assumir que se
trata do que leio com menor frequência. Gostaria de lembrar que a nossa ordem de textos sobre
os evangelhos, foi: O evangelho de Marcos, e os marcos do evangelho; O evangelho de Mateus
para que tudo se cumprisse; e Joãozinho, o evangelho da simplicidade.
Chegamos a Lucas, o médico. Aquele que apresenta melhor eloquência, elaboração na sua escrita
e que gosta dos detalhes, de realmente nos apresentar os fatos. Ele serve como uma apresentação
histórica de fatos, contextualização e riqueza de informações.
Por exemplo, Lucas é o único que fala à respeito do Sermão da Montanha, apresentado por ele
como “o sermão profético”. Lucas é o evangelho que apresenta maior “repetição” de fatos
relatados nos relatos de outros autores. Mas o que mais me prende a atenção é a sua capacidade
espetacular de acolher à realidade do Reino de Deus, os excluídos, os marginalizados, àqueles que
não tem por quem serem aceitos.
Vamos aos nossos tópicos.

A primeira coisa que chama a atenção é a sua atenção pelos pobres.


Explico. Se para Mateus, os ensinamentos de Cristo no sermão da montanha (capítulo 5,6 e 7 de
Mateus) tinham a ver com significados espirituais e razões existenciais, para Lucas a verdade era
mesmo literal. Por exemplo, as “bem-aventuranças” (Mateus 5.5-12 e Lucas 6.6-12).
Quem mais é feliz, senão aquele que não tem dinheiro e por isso suas relações não são baseadas
no interesse nem amedrontadas pela quantidade de bens?
Quem mais é feliz, senão aqueles que tem fome e podem crer que verdadeiramente, as boas
novas que lhes pregaram não foram para a salvação da alma, mas se preocuparam também em
nutrir seu corpo?
Quem mais é feliz, senão aqueles que choram e sabem da grande dádiva que é verdadeiramente
gozar de alegria e de uma boa risada?
Quem mais é feliz, senão aqueles que são perseguidos por uma mensagem que a todos confronta
como eram os profetas?
Lucas mostra que a pobreza pode ser bênção de Deus, nos deixando livres da falsa segurança que
a riqueza gera e o individualismo que abraçamos para conquistar os nossos bens. (Lucas 6.24-26).
Também pudera, ser médico (figura de grande estima – tanto em quantidade de estudo, quanto
valorização social) e ser chamado para abandonar tudo e seguir o Mestre, é experimentar a
salvação começando pela libertação da conta bancária.
O dinheiro não tem mais a influência absoluta sobre nós, não nos preocupamos mais com
honorários, mas pelo Espírito nos tornamos aqueles que creem na provisão Divina, sem plantar
nem colher (como as aves do céu e os lírios do campo (Lucas 12.22-34).
Lucas me chama a atenção, e se torna um evangelho completamente relevante para o nosso
tempo, nos mostrando que o poder econômico não é o fator que deve ter maior influência sobre
a nossa realidade, mas sim a sinalização do Reino de Deus. Que se dá pelo compartilhar, pelo
abençoar, pelo distribuir e permanecer crendo que Deus conhece as nossas necessidades antes
mesmo de pedirmos.
A segunda coisa que me chama atenção nesse evangelho é a capacidade de acolhimento
daqueles que não concordam, necessariamente, com o nosso padrão de vida.
Explico. Lucas é o único evangelista que trata a parábola do filho pródigo (Lucas 15.11-32), por
exemplo.
É preciso dizer, antes de demonstrar alguma ilustração sobre a parábola que o médico evangelista
era o único de tradição “não-judaica” entre os discípulos, que não tinha nenhuma influência da
religião, e negou todo o conforto que a vida de médico lhe propunha por Cristo, e o seguiu
crendo ser este o filho de Deus.
Ele não está preocupado se somos “baladeiros”, gays, drogados, pobres, ricos, moradores de rua,
mendigos, alcoólatras, adúlteros, pedófilos, assassinos ou qualquer outra coisa do tipo que possa
nos fazer sentir-nos excluídos de uma “nata” religiosa.
A mensagem de Lucas, principalmente, na parábola do filho pródigo é que sempre tem lugar para
um arrependido! Não importa os preconceitos do irmão mais velho, nem suas reivindicações.
Nós seremos recebidos por Deus com um abraço, um anel no dedo e um banquete para nos
deliciarmos, pois o Pai é bom e ainda sabe amar.
Deus não ficou preso ou encrustado nas paredes da religião, da teologia, da igreja e da tradição,
Ele ainda transborda o Seu amor para conosco, e ainda sabe como nos tratar em sua graça.
Como disse Tim Keller: “Deus é pródigo, pois não faz conta do Seu amor, gasta-o sem medidas”.

E por último, o evangelho de Lucas me chama a atenção, pois Jesus está em nós agora.
O relato de Lucas 24.13-35 tem me acompanhado já algum tempo.
Aprendi com Ed René Kivitz, em seu livro “Talmdim (Talmidim 349 ao 352), algo que não está
em nenhum comentário bíblico. Uma verdade do evangelho que o autor aprendeu em meio à
alguns pescadores. Ele estava “fazendo missões” e numa conversa escuta deles que: “Jesus ao
desaparecer do meio dos discípulos, passou a morar em seus corações”.
Isso nos livra de qualquer tentação de querer encontrar o Cristo em igrejas, em ministros, em
experiências espirituais. Se trata de encontrar o Mestre agora na vida, no cotidiano e entender que
Ele é quem tem lugar primordial e central na nossa história.

Cristo em “mim”, não ao redor e nem além. Cristo em “mim”, em serviço ao outro.
Cristo em “mim”, se revelando ao semelhante. Cristo em “mim”, ensinando perdão,
através do próximo.
Assim, o livro nos revela o poder e a libertação que o evangelho traz, do consumismo
desenfreado, do orgulho e avareza do dinheiro e a bênção que pode ser depender de Deus,
literalmente, em alguns momentos.
Ainda, a graça de Deus se revela nesses escritos afirmando que Cristo é a única razão de
esperança: para o pobre, o gay, a lésbica, o viciado e todos nós, que apesar de sermos salvos pela
graça, tendemos a achar que somos melhores que eles e que temos o direito de julgar-lhes. Que
Deus nos perdoe.
Enfatiza também o poder e a necessidade da centralidade de Cristo ao invés do vazio e da
ausência de algo que O comprove em nossos corações.
Eu, particularmente, fico com Cristo. E que Deus nos guie. Em nome de Jesus.

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