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HISTÓRIA E TEORIA DA

CONSERVAÇÃO E RESTAURO

IGREJA ROMÂNICA DE RUBIÃES

Jorge Lages - 552/08


ÍNDICE

INTRODUÇÃO 4

A IGREJA ROMÂNICA E O CAMINHO DE SANTIAGO 5

(INTERPRETAÇÃO DO EIXO VIÁRIO) 5

VIA ROMANA XIX 6

TEMPLO ROMÂNICO (TEMPLO DE MEDITAÇÃO PARA A IGREJA) 8

CRONOLOGIA DO EDIFÍCIO 9

SÉCULO XII 11

SÉCULO XVI 12

SÉCULO XVII 13

SÉCULO XIX 14

ACTUALIDADE 14

- Espaço Interior […] 16

- Espaço Exterior (Superfícies em Granito) 19

- Fachada 20

- Elementos Decorativos 23

MONUMENTOS NACIONAIS VERSUS CONCEITO GERAL 24

AUTENTIFICAÇÃO E INTEGRIDADE DOS MONUMENTOS 29

METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO DA DGEMN 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS 34

BIBLIOGRAFIA: 35

ANEXOS 36

Igreja Românica de Rubiães Pág 3


INTRODUÇÃO

Inserido na disciplina de História da Conservação e Restauro, foi-me solicitado


a idealização de um trabalho sobre um monumento à nossa escolha, dentro do
contexto da intervenção e salvaguarda do património.

Após várias pesquisas, a minha escolha recaiu sobre um Monumento


localizado no concelho de Paredes de Coura: A Igreja Românica de Rubiães.

É de longe, um dos ‘exlibris’ daquele concelho, que perpetua toda uma


história, e uma herança ancestral. É comum vermos o grande interesse que aquele
Monumento potencia nos turistas que ali se deslocam, para o admirar e para
conhecer a sua história.

Obviamente a recolha bibliográfica e a consulta de documentos antigos foi


enriquecedora, tanto no aspecto ideológico, como no da aprendizagem, pois é
através destes trabalhos que realmente se conhecem as verdadeiras identidades das
obras edificadas.

Assim, este trabalho assenta na análise, interpretações da Igreja Românica de


Rubiães, procurando, de certa forma, dar a conhecer todas as evoluções e
intervenções, pouco patente aos olhos de quem o vê, mas só através de um estudo
aprofundado estas se tornam evidentes.

A metodologia adoptada consistiu basicamente em pesquisa bibliográfica, em


livros antigos, em publicações mais recentes, e também por pesquisa interactiva a
partir da Web, embora neste último caso apenas tenham sido consultados sites de
instituições públicas que tenham intervindo no imóvel em questão.

Espero com este trabalho, não só vir a fomentar ainda mais os conhecimentos
adquiridos nas aulas da disciplina de História da Conservação e Restauro, mas
também ficar a conhecer um pouco mais sobre o nosso passado histórico, em
especial sobre a Igreja Românica de Rubiães, fazendo com que, o interesse seja
despertado e que partam à descoberta deste Monumento.

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A IGREJA ROMÂNICA E O CAMINHO DE SANTIAGO
(INTERPRETAÇÃO DO EIXO VIÁRIO)

A Igreja Românica de Rubiães fica localizada no Lugar da Costa - Freguesia de


Rubiães - Concelho de Paredes de Coura - Distrito de Viana do Castelo.

O acesso, actualmente faz-se pela estrada nacional 201 que liga Ponte de
Lima a Valença.

Figura 1 – Localizaçãoda Igreja Românica de Rubiães no


contexto das intervenções no românico da Ribeira Minho

Citando Dr. Narciso Alves da Cunha “É antiguissima. (...) A freguezia tem


grande area e é muito populosa. Ainda existem n’ella monumentos, que revelam, á
evidencia, a sua longevidade, como são os marcos milliarios, a ponte romana, a
egrejaparochial e até a toponymia.” 1

Para Carlos Alberto Ferreira de Almeida, “a freguesia de Rubiães é aquilo que


se pode considerar um esbanjamento arqueológico, tal é o número e a qualidade de
vestígios e achados desta natureza”2.

A In- Actas, conservaçãointervenção em sítios arqueológicos e monumentos nacionais, C.M. Paredes de Coura e Universidade
Portucalense, Porto 2001
2In - da Cunha, Narciso Alves, No Alto Minho Paredes de Coura, 1ª edição, 1909
3In - de Almeida, Carlos Alberto Ferreira, Igrejas e Capelas Românicas da Ribeira Minho

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VIA ROMANA XIX

Há cerca de dois mil anos atrás, no Noroeste da Hispânia (noroeste


peninsular), iniciou-se a construção da rede viária romana, por ordem do Imperador
romano Octávio Augusto.

As vias romanas
permitiram ao romanos ter um
controlo político, administrativo
e económico do território, assim
como a movimentação das suas
tropas. Permitiram ainda, a
comunicação entre os núcleos de
decisão, assim como o controlo
da exploração das riquezas
naturais, principalmente
minerais, que abundavam na
região.

A Via Romana XIX,


também conhecida por Quarta
Via Romana ou XIX do Itinerário
Figura 2 – Via Romana XIX
de Antonino, era a mais longa
das quatro vias construídas no
NW hispânico. Unia as capitais dos Conventos Jurídicos (capitais administrativas da
época) da Gallaecia: Bracara Augusta (Braga) Arturica Augusta (Astorga), passando
por Lucus Augusti (Lugo).

Em Paredes de Coura é possível observar importantes vestígios do que foi a


Via Romana XIX – marcos miliários, pontes e pequenos troços do percurso original.

Como é sabido, por Paredes de Coura passava a quarta via militar romana que
ligava o conventus bracara suguatanus a asturica. Devido à imperial importância
desta via, já que permitia o escoamento de produtos cerealíferos e mineralógicos
explorados nas províncias até à capital romana e, ao mesmo tempo ligava duas das
mais importantes capitais da província da Hispânia, quais nas povoações ao longo de
quase todo o percurso, foram instalados diversos serviços de apoio aos viajantes
como albergues, mutatios (locais para se proceder à troca de cavalos), tabernas,
oficinas de carpintaria e ferraria (com o intuito de prestar auxílio aos carros que
nesta via circulavam), vendas, etc.

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Volvidos cerca de 600 anos de ocupação romana na península, o troço que
ligava Ponte de Lima a Tui, contendo algumas variações, passou a ser uma das mais
utilizadas rotas de peregrinação ao templo de Santiago de Compostela, sendo que as
povoações confinantes com a via, conservaram as características comerciais que
vinham desde os tempos romanos.

Visto localizar-se nas imediações do caminho de peregrinação a Santiago, esta


é uma típica Igreja de peregrinação, cuja fundação, está ligada impreterivelmente,
como em muitos outros casos existentes na região, à difusão do estilo Românico a
partir da Galiza através dos inúmeros peregrinos que visitavam o templo de Santiago
e “transpunham” as formas existentes em templos semelhantes ao longo do
caminho.

A atestar este facto está ainda a data gravada no lintel no qual assenta o
tímpano, que segundo um artigo escrito na Revista Monumentos nº 15, tanto este
como a decoração do tímpano, “obedecem a padrões técnico - estilísticos que
caracterizam as obras de arte românica do norte de Portugal de influência Galega
(...) no modo de disposição dos numerais romanos, frequente na Galiza.”3

3In- Revista Monumentos n.º 15, Pág. 104

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TEMPLO ROMÂNICO (TEMPLO DE MEDITAÇÃO PARA A IGREJA)

O Norte de Portugal tem desde muito cedo, já na época castreja, uma


‘civilização de granito’ que se revigora nos tempos românicos e fins da Idade Média
com a edificação de novas igrejas e construção de pontes, calçadas, paços, etc.

Excepto o importante grupo românico da região de Coimbra e Tomar e a


igreja, de influência leonesa, de Castro de Avelãs (Bragança), todo o restante
românico português utiliza o granito, como material de construção, e esta pedra,
dura e difícil, obrigará a simplificar os temas, favorece a ‘inflamação das formas’ e
ajudará a compreender a habitual falta de
requinte na decoração ou, mesmo a sua
ausência.

O estilo românico terá entrado em


território português a partir do século XI, com o
movimento aculturado de europeização que a
partir de então recebemos, com os monges
cluniacenses, cistercienses, franceses e
afrancesados, acompanhando a introdução da
liturgia romana, da escrita carolíngia e da
reforma monástica. O estudo desta é importante
para a compreensão da arquitectura da época
porque grande parte dos edifícios românicos, que
nos restam, foram igrejas monasteriais.

Asturianos e outros hispânicos mas


sobretudo galegos, que vêem a estas novas zonas
a lucrar e povoar e ainda portugueses viajados
Figura 3 – Caminho Português de Santiago
terão contribuído para a introdução e Arquivo da RTAM
desenvolvimento da arte românica.

Românico e reconquista, isto é, para ser mais exacto, românico e


reorganização social e económica do Norte e Centro, que se vai fazendo desde
meados do reinado de D. Afonso Henrique até D. Dinis, são inseparáveis.

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Mas a introdução do estilo coincide com a reconquista do Sul e, sobretudo,
com a afirmação da independência de Portugal e este clima de guerra e instinto de
defesa marcaram, profundamente a arquitectura de então, na solidez e espessura
dos muros, na presença de merlões, caminhos de ronda, torres, aberturas estreitas,
etc. Nota-se ainda que o aspecto de fortaleza, na falta de castelos a igreja é a melhor
fortaleza.

“A tradição local diz ser obra dos “Mouros,” mas tudo leva a crer que seja
românica”,escreve Dr. Narciso Alves da Cunha no seu livro “No Alto Minho Paredes
de Coura- de 1909”.

“É frequente questionar-se acerca da compatibilidade da data que se conhece


e do estilo em que esta construção se enquadra; dúvidas não existem quanto a situa-
la na Arquitectura Românica, até porque representa no Alto Minho Românico, a fase
mais evoluída 4 , um Românico tardio como se pode detectar pela análise dos
elementos decorativos”.

Durante todo o período decorrente desde a sua construção até à actualidade


a igreja românica de Rubiães pertenceu, tanto administrativamente como em termos
eclesiásticos (diocese), a várias outras localidades, arcebispados ou dioceses.

CRONOLOGIA DO EDIFÍCIO

Esta pequena igreja, quase isolada e em ambiente rural, está classificada


desde 1913 como Monumento Nacional, e é actualmente a igreja paroquial e pensa-
se ter sido construída no séc. XII, ladeando o Caminho de Santiago, traçado sobre a
antiga via romana XIX, que ligava Bracara Augusta a Tude (Tui).

4In- Almeida, Dr. Aníbal, Jornal de Coura, Ano 1, n.º 2 de Julho de 1991, pág. 1 e 3

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Sofreu alterações nos séculos XVI e XVII, sendo dessa época a pintura do
mural que decorava interiormente as paredes da igreja. Também a construção da
‘estrada Real 30’ alterou o adro, pondo a descoberto nessa altura duas camadas de
sepulturas sobrepostas, e que se encontravam ordenadas no relvado lateral à igreja.

Figura 4 - Vista Geral (in www.monumentos.pt)

Pela sua planimetria, pode levar a pensar, à primeira vista, estarmos perante
uma igreja de nave única e transepto saliente.

Merece destaque especial o portal axial com a representação da


"Anunciação" nas colunas centrais. Estas ainda que não tenham espacialidade e as
formas do volume corpóreo, testemunham-nos o avanço e o gosto popular pela
escultura, embora o seu interesse seja, sobretudo, de ordem iconográfica.

Os capitéis têm rica decoração alternando motivos vegetais com zoomórficos.


A representação do Cristo em Mandorla é uma reprodução revivalista do antigo
tímpano que se partiu, mas os motivos serpenteados do lintel, muito finos e pouco
profundos, quase do tipo grafito, parecem ter pouco ter a ver com os originais.

A cornija enxaquetada na parede testeira da capela-mor não é muito


frequente surgir nas igrejas românicas do Alto Minho. Conserva pintura a fresco de
temática e cronologia díspar parcialmente sobreposta. Algumas das sepulturas
adjacentes à fachada da Igreja, e postas a descoberto aquando das escavações de
1997, incorporam pedras do alicerce da igreja a definir a caixa, dois deles da época
romana, reaproveitados na construção do próprio imóvel.

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Junto da fachada Norte dispõem-se lápides sepulcrais do antigo cemitério e
um marco milenário.

A torre data do século XVII. No interior, pinturas murais do século XVI e XVII a
representar Santo Antão e Arcanjo S. Miguel triunfando sobre o demónio que
chegou até nós por se encontrar escondida por um retábulo.

Foi e é actualmente utilizada como Igreja Paroquial da freguesia.

Foi classificada como Monumento Nacional (Dec-Lei 01-02-1913 – Diário do


Governo de 29/03/1913 – Decreto nº 8228 de 4 de Julho de 1922.

SÉCULO XII

Nas “inquirições” de 1258, um


ano depois da provável data de
construção, é citada na lista das igrejas
pertencentes ao bispado de Tui. Nesta
altura era denominada de "Sanctus
Petrus de Rubiães".

Em 1320, num documento


mandado elaborar pelo Rei D. Dinis,
para pagamento de taxas, fazia parte do
arcediagado de Cerveira, com o nome
de "Sancti Petri de Ruvhãaes".

Templo românico do séc. XII.


Enquadrada por arvoredo, ergue-se
junto à estrada e sobranceira a esta,
sendo protegida por um adro lajeado e
murado.

Figura 5– Planta da possível da sua construção no


séc. XII

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Arquitectura religiosa, românica, integra-se na fase mais evoluída do
Românico, no Alto Minho.

O seu arquitecto é desconhecido.

Na Nave primitiva existem dois portais laterais, um de cada um dos lados,


igualmente primitivos, de dupla arquivolta sobre pé direito e tímpano lisos.

SÉCULO XVI

Nos princípios do século XVI, todas as


freguesias de Entre Minho e Lima foram
incorporadas na diocese de Braga, e neste caso
"Ruyvães" incorporava a comarca eclesiástica de
Valença.

O Templo, orientado de Nascente para


Poente, actualmente, apresenta uma planta
longitudinal de uma só nave em forma de cruz latina,
ainda que pouco pronunciada devido ao alargamento
da nave, provavelmente no século XVI, que obrigou a
capela-mor a deslocar-se para nascente.

A Abside ou Capela-mor, tem forma


ligeiramente rectangular.

Ainda no interior podemos observar dois


fragmentos de pinturas a fresco sobrepostas,
datados dos finais do séc. XVI o primeiro e séc. XVII o
sobreposto (idêntica em motivo a uma outra pintura
datada de 1642 encontrada em Campos). Num,
identifica-se Santo Antão e São Miguel, o outro é
composto por diversos elementos decorativos.

Figura 6 – Planta da ampliação no séc. XVI,


deslocamento da capela-mor para Nascente

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SÉCULO XVII

Adoçada à Capela-mor
foi edificada, também
posteriormente à sua
construção, no século XVII, uma
pequena sacristia com forma
quadrangular, bem como a
Torre Sineira, adoçada à
fachada no sentido Norte.

Figura 7 - Planta actual da Igreja Românica de


Rubiães com as ampliações sofridas

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SÉCULO XIX

No século XIX, foi necessário refazer o tímpano do portal principal – uma


fraca reconstituição de uma das poucas representações de Cristo em Majestade que
nos deixou o românico português.

No restauro do dintel, parece ter falhado também a transcrição da data que


inicialmente ali teria estado – e que se julga ter sido MCCXL (ou seja, 1202 no
calendário juliano), em vez do «MCCVC» que hoje ali podemos observar.

Apesar destes percalços, a igreja de São Pedro de Rubiães continua


merecedora de uma visita.

ACTUALIDADE

Na actualidade podemos verificar que a planta longitudinal é composta por


uma nave única rectangular e que se vai alargando na metade posterior e a capela-
mor é rectangular, com sacristia quadrangular adoçada a Norte. Volumes articulados
com coberturas em telhado de duas e três águas.

A fachada principal é orientada e termina em empena. Rasga-o portal, de arco


pleno, com quatro arquivoltas, três destas assentando sobre colunas de capitéis
vegetalistas e zoomórficos; a exterior é enxaquetada e assenta sobre a imposta.

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Figuras 8 e 9 - Detalhes da Fachada Principal

As colunas centrais têm grupo escultórico: no lado esquerdo, um anjo com a


parte inferior do corpo e as asas mutiladas, cabelos compridos, barba e cédula; no
lado direito, uma Virgem, com véu, touca na cabeça e mãos erguidas em palma.
Possui um lintel com data gravada e, no tímpano, um Cristo em Mandorla. Encima-o
fresta, de arco pleno sobre colunelos e com capitel decorado.

Figuras 10 e 11 - Pormenor das Colunas

A Norte adoça-se uma torre sineira, quadrangular, com cunhais apilastrados e


cobertura piramidal; uma pedra com mitra num cunhal e gárgulas de canhão no

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topo. Nas fachadas laterais, portais de dupla arquivolta sobre pé-direito e tímpano
liso. A fachada Norte, tem também um portal, de arco pleno, no corpo ressaltado.
Percorre o imóvel umcornija enxaquetada, ondulada ou com losangos sobre
cachorros lisos, zoomórficos ou geométricos.

Figura 12 - Portas laterais no alçado Norte Figura 13 - Cornija e Cachorros

- E SPAÇO I NTERIOR […]

No interior é visível o arco triunfal, localizado no início da capela-mor, em


forma da “asa de Cesto”5,, bem como as estreitas frestas com funções de iluminação,
que se abrem para o interior.

5In- www.monumentos.pt

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Figura 14 - Pormenor da fresta do alçado Nascente da capela mor (in - www.monumentos.pt)

O interior é como geralmente se apresenta nas pequenas igrejas românicas


deste tipo, são praticamente desprovidos de decoração.

Excepção é a decoração da fresta voltada para nascente na capela-mor, que


apresenta uma forma idêntica à localizada na parte superior da fachada, “que é
ladeada por dois colunelos com capitéis decorados encima por imposta enxaquetada
apoiando em arco pleno”6,, o que não é muito comum surgir nas igrejas românicas do
Alto Minho.

Figura 15 - Vista do interior da igreja, sentido Poente - Nascente. (in www.monumentos.pt)

Do interior é visível o sistema de cobertura em duas águas em toda a nave da


capela-mor, ainda que esta seja mais baixa, e de três águas na sacristia. Em ambos os
casos esta é executada sobre estrutura de madeira restaurada em 1987, a da capela-

6 In- www.monumentos.pt

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mor, e em 1980 a da nave, sendo que em 1997 foi colocada uma camada de sub-
telha para evitar infiltrações.7

Fig. 16 - Vista do interior da igreja, sentido Nascente - Poente (in - www.monumentos.pt)

Fig. 17 - Pintura a Fresco (in revista monumentos n.º 8pt)

No interior, existem dois fragmentos de pinturas a fresco sobrepostas.

Trata-se de uma decoração que provavelmente se terá estendido por todo o


interior da igreja e que chegou aos nossos dias em virtude de se encontrar
“escondida” por um retábulo.8

7 Todos estes restauros estiveram a cargo da DGMN

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A gama de cores é bastante reduzida pois apenas é utilizado o ocre, vermelho,
preto, e um azul não puro mas misturado com preto. As pinturas estão executadas
sobre uma camada de reboco bastante fina.

Estas pinturas foram em 1998, alvo de obras de restauro e conservação.

- E SPAÇO E XTERIOR (S UPERFÍCIES EM G RANITO )

Figura 18 – Vista alçado Nascente – Norte (in - www.monumentos.pt)

Poder-se-á verificar a existência de colunas - estátuas que se erguem no


portal principal, à semelhança do que acontece em São Salvador de Bravães, no
concelho de Ponte da Barca. Trata-se de uma representação da Natividade, com o
Arcanjo Gabriel de um dos lados, com as asas infelizmente partidas, e a Virgem
Maria do outro, erguendo as mãos em palma. São igualmente dignos de atenção os
cachorros primitivos, poupados a ampliações e reformas, de carácter popular e
humorístico.

Figura 19 - Porta lateral primitiva


localizada no alçado Sul da Nave

8In- revista monumentos n.º 8, pág. 131

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Pormenor interessante: o marco milenário utilizado como sarcófago na Idade Média,
que se encontra exposto no jardim circundante.

Figura 20 - Vista Geral alçado Sul

- F ACHADA

Como atestam as figuras, também a fachada foi, ao longo do tempo alvo de


alterações de alguma relevância. No início do Séc. XX, esta encontrava-se, pode-se
dizer, praticamente desfigurada do que foi no passado e do que é na actualidade.

Figura 21 – Portal

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Assim, pensamos nós, que estas alterações da fachada foram executadas
aquando da execução da torre sineira (século XVII), pois foram rasgados três vãos
para iluminação do interior, dois deles iguais ao que se observa na torre, e um outro
num plano superior em forma de rosácea. Foi também colocado reboco na fachada
da igreja.

Figura 22 - Capiteis do Lado Esquerdo Figura 23 - Capiteis do Lado Direito

Portanto da igreja primitiva apenas subsiste intacto o pórtico constituído por


quatro arquivoltas sendo que três delas assentam em três pares de capitéis todos
eles ornamentados e encimando igualmente por três pares de colunas.

De notar o reforço decorativo da arquivolta exterior, de motivo em forma de


xadrez, idêntico ao friso que circunda a parte antiga da Igreja.

Os capitéis são em ambos os lados do pórtico decorados, sendo que do lado


esquerdo o interior e o exterior são decorados com motivos vegetais e o do centro
representa dois animais, cujos vértices se juntam formando uma única cabeça; do
lado direito representa dois animais assemelhados a leões que lutam entre si e em
que um deles parece vencer o outro, dada a posição e a altura a que estão
representados.

Também as colunas centrais de cada um dos lados são motivo de interesse


pois representam figuras antropomórficas bem definidas. O fuste do lado esquerdo
representa “um anjo com a parte inferior do corpo e asas mutiladas, cabelos
compridos, barba e cédula”; o fuste do lado direito representa a virgem, com véu,
touca na cabeça e mãos erguidas em palma.

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Figuras 24 e 25 - Fustes do lado esquerdo e direito do portal

Também o tímpano e o lintel são fortemente decorados. Pese embora estas


duas peças não sejam as originais, é unânime afirmar que em ambos os casos se
trata de reproduções fiéis dos originais que possivelmente se partiram aquando das
profundas alterações executadas na fachada, ainda que subsistam dúvidas acerca da
decoração do lintel, visto que neste a decoração é pouco marcada e muito fina. No
tímpano aparece numa posição central, e bastante destacado da demais decoração a
figura de Cristo em Mandorla (Cristo Pantocrator) em posição de bênção e duas
rosetas de cada lado.

Figura 26 - Tímpano e Lintel

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- E LEMENTOS D ECORATIVOS

Na primeira intervenção no Séc. XVI, ao deslocar a capela-mor para nascente,


tiveram o cuidado de preservar a cachorrada existente. De entre todos os cachorros
primitivos podemos afirmar que estão quase todos ligados à temática do meio rural,
pois são muitos os cachorros que representam animais domésticos, nomeadamente
o boi, o carneiro, o bode, o porco, assim como alguns que representam elementos
vegetais como espigas de milho, de trigo ou centeio.

Figuras 27 e 28 – Detalhes Decorativos

Estas representações zoomórficas e vegetais estão claramente ligadas à


dependência e subsistência por parte da espécie humana.

No entanto existem três destes elementos que representam figuras humanas


ou partes de figuras humanas.

Num deles é possível observar com nitidez uma figura de um homem


segurando nos braços um elemento cilíndrico de grandes dimensões, o qual nas
extremidades parece mais saliente, e pensamos nós tratar-se de um barril, com os
órgãos genitais bem visíveis do plano inferior a que estamos colocados.

Noutro encontramos igualmente uma figura humana, mas desta vez, uma
mulher numa posição em que está a dar à luz.

No terceiro aparece-nos uma figura retratando um braço e uma mão


salientes, sendo que a mão segura um elemento cilíndrico que julgamos retratar um
pergaminho.

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Figuras 29,30 e 31 - Detalhes/Pormenores Decorativos

Estes três últimos, ao que parece estão em clara associação ao culto pagão
poderão querer representar o culto da fertilidade humana que já vem desde a
cultura castreja. Estas associações são muito frequentes ora no Alto Minho, ora no
resto do País em templos desta época

A cachorrada colocada na ampliação, bem como o friso são isentos de


decoração, sendo no caso lisos.

A cornija, ao longo de toda a extensão do edifício primitivo, é decorada com


formas enxaquetadas, onduladas ou com losangos.

Figura 32 – Pormenor da Cornija

MONUMENTOS NACIONAIS VERSUS CONCEITO GERAL

Na Europa nos finais do século XVIII com o desenvolvimento do estudo


historiográfico dos Monumentos tornou-se num suporte fundamental da
arquitectura no processo criativo. O conhecimento da herança do passado através de
campanhas arqueológicas e o nacionalismo fez investir na recuperação da sua

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história nacional, identificada por um estilo que coincidente com o nascimento de
Portugal e que também simbolizasse as tradições cristãs.

Paralelamente e esta apropriação da história pela politica para legitimação do


presente, os arquitectos no contexto especifico da sua disciplina, praticaram o
estudo dos monumentos, não só com o objectivo de perceberem o passado da nação
(da sua arquitectura) mas também de conhecerem as suas possibilidades formais e
construtivas.

Em França Viollet-le-Ducinterpretou a arquitectura gótica como o exemplo de


racionalidade construtiva, de adequação da linguagem formal à funcionalidade do
edifício e de coincidência entre o uso, imagem e estrutura. A relação entre o passado
que se conhece (pela actividade historiográfica) e um presente (através da
arquitectura) encontrou-o no restauro de monumentosum dos seus fundamentos.

Viollet-le-Duc entendia duplamente a sua actividade, por um lado como


restaurador (conhecia profundamente as qualidades formais e construtivas do estilo
gótico enquanto vasto repertório de experiências reutilizáveis), e por outro como
território de exploração de novas tecnologias. Para este arquitecto a acção criativa
desenvolve-se no interior de um código pré estabelecido, apreendido através do
estudo aprofundado da cultura arquitectónica do passado, pelo recurso a
instrumentos dedutivos de raiz positivista (influenciado pelo método comparado
desenvolvido pelas ciências naturais).

Um processo de reconhecimento reportado não só as técnicas construtivas


mas também ao espírito artístico e integrando a paleontologia, a filologia, a
etnologia e a arqueologia, que para ele se releva a garantia da objectividade da
operação de restauro.

Embora numa na maioria dos países europeus tenham adoptado o estilo


gótico, rapidamente se elegeram outros referentes estilísticos para encarnar a
génese espiritual dos países, processo testemunhado pela forte valorização que o
românico conheceu em Itália, sob impulso da actividade historiográfica e
arquitectónica de Camillo Boito.

Em Portugal também se assistiu à recuperação das formas românicas, como


fundamento para a criação de novas linguagens (alicerçadas na redução dos
elementos formais, na afirmação de volumes simples resultantes de fortes massas
murais e apoiadas em rígidos esquemas compositivos) que se opunham às
tradicionais reinterpretações da arquitectura gótica (ossatura estrutural eliminando
o muro de suporte, transparência, membranas, espacialidade fluida, verticalidade,
assimetria) e à hipertrofia estilística do manuelino.

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Na generalidade via-se o românico como estilo mais apropriado para os
edifícios religiosos, havendo, nos primeiros anos do século, inúmeros exemplos de
projectos neo-românicos, alguns dos quais concretizados, como por exemplo as
igrejas de S.ta Luzia, em Viana do Castelo, do arquitecto Ventura Terra, e de S.
Torcato, em Guimarães, por Marques da Silva.

A nível historiográfico, o reconhecimento do românico na sua especificidade e


alteridade relativamente ao estilo gótico deveu-se a Gerville quando em 1819
introduziu esse termo, posteriormente divulgado por Arcisse de Caumont. Este autor
reconheceu as principais características estilísticas e identificou três fases de
desenvolvimento: primordial (dos séculos V ao X), secundária (do século X ao inicio
do século XII) e terciária ou de transição (do final do século XI ao século XII).

Em Portugal, embora Cyrillo V. Machado tenha distinguido o estilo românico


do gótico em 1823, em época posterior, Alexandre Herculano continuou a não
considerar a distinção dos estilos medievais compreendendo a Idade Média como
um todo. A concepção do passado como linha temporal continua marcada por
edifícios exemplares, começou a receber interpretações mais dinâmicas a partir dos
conceitos de movimento colectivo e criação anónima, segundo a perspectiva teórica
evolucionista e determinista que pretendia identificar o processo histórico e as
criações artísticas duma sociedade.

Nas duas primeiras décadas do século XX, surgiram outros trabalhos de


referência. A obra de Manuel Monteiro sobre S. Pedro de Rates, em 1908, em cuja
introdução apresentava uma abordagem geral à arquitectura românica em Portugal,
com informação abundante e incidente sobre os edifícios do Norte. Tendo por base
uma observação estilística e comparativa, o autor redefiniu a arquitectura românica,
fazendo-a corresponder a um alargado corpo de pequenos edifícios.

Joaquim de Vasconcelos, após um longo processo de trabalho de campo,


apresentou, na sua publicação de 1919, um vasto levantamento gráfico e
iconográfico de monumentos e de motivos decorativos, conjugado com amplas
referências antropológicas. Outros estudos de âmbito local ou monográficos vão
conquistando terreno de inventariação das existências e insistindo na importância
metodológica da observação de campo. Foram, neste enquadramento,
incontornáveis, alguns trabalhos de Aguiar Barreiros, Aarão de Lacerda, Virgílio
Correia, Pedro Vitorino ou Arnaldo de Matos, além de uma forte e regular
contribuição da imprensa periódica.

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Ainda no contexto da investigação e divulgação destacaram-se a figura e a
acção de Marques de Abreu, como editor e fotógrafo, responsável pela publicação de
grande parte dos estudos referidos e como director da revista Arte e Ilustração
Moderna, em torno das quais se moveram variadas personalidades, que
complementavam interesses e formações académicas, em prol da defesa e protecção
dos monumentos nacionais. Nas referidas publicações era dada particular atenção
aos esforços de restauro arquitectónico através da divulgação de algumas das acções
encetadas pela 3ª Repartição da Direcção Geral das Belas Artes e pela DGEMN.

Relativamente à organização dos artigos e dos livros atrás referidos era de


particular interesse a análise do suporte gráfico e iconográfico que complementava o
texto. Os desenhos apresentados procuravam responder a várias solicitações; ora
assumiam carácter meramente ilustrativo, ora constituíam levantamentos rigorosos
(pelo que eram acompanhados, regularmente, por escala gráfica e cotagem) ora
tentavam reconstituir a forma original dos edifícios através de perspectivas, plantas,
cortes e alçados. No geral, o seu rigor era relativo, pois tinham tendência para
associar um registo objectivo com procedimentos subjectivos de invenção e
reconstituição. Logo no momento de execução do levantamento métrico e gráfico,
eram identificados acrescentos, elementos entaipados ou fases de construção, o que
denunciava a necessidade critica de sintetizar os desenhos determinados pontos de
visto e conceitos. A estrutura dos textos, retomando um modelo desenvolvido na
imprensa desde o século XIX articulava a contextualização histórica e a descrição
formal com sentido críticorelativosàs transformações efectuadas, principalmente às
dos séculos XVIII e XIX, com o incontornável ao restauro que justificava a frequente
inclusão nos artigos de pequenos programas de intervenção.

Na segunda década do século, a historiografia da arte era já capaz de


identificar as principais fases de desenvolvimento da arquitectura românica e
tomava consciência das influências internacionais e dos processos de aculturação.
Interpretava também a transição para o gótico como uma gradual assimilação das
formas e da espacialidade deste estilo, apresentando-se em sínteses diferenciadas,
de acordo com a menor ou maior resistência e permeabilidade a esta nova estética.
A identidade e a ideia de um destino histórico feito, que se atribuía ao românico
fundiu-se, de certa forma, com o estilo gótico. Assim, à afirmação de Raul Lino “mais
que no gótico, encontra o feitio português na arte românica – com a sua
materialidade robusta”.

Reinaldo dos Santos acrescentou: “no fundo o espírito que paira nas nossas
igrejas góticas é ainda românico”. Demonstram-no as igrejas de Cetre, Santa Maria
do Neiva e Matriz de Barcelos, que embora classificadas como góticas, absorviam a
valorização e as qualidades atribuídas, pela historiografia da arte, aos templos

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construídos em séculos anteriores. A interpretação mítica da arquitectura, na linha
ideológica finissecular da busca do estilo nacional da típica “casa portuguesa” que
encontrou o seu apogeu durante o Estado Novo, foi bem sintetizada por António
Quadros quando referiu: “Nós acolhemos com entusiasmo um estilo de arquitectura,
usando-o nas nossas casas, nos nossos castelos, nos nossos palácios, nas nossas
igrejas e catedrais, porque esse estilo se conjugava com a nossa maneira de sentir e
de conceber (…) a pequena igreja românica do Norte, naquela que entre nós adquire
um cunho de maior originalidade, mostra-se na verdade imbuída de naturalismo e
espiritualismo, (…) moradas de um Deus não altaneiro, não distante, não inatingível,
mas pelo contrário, presente em todos os actos da vida quotidiana, desabrochando
com raízes do Húmus.”

No século XIX e inícios do século XX o conceito de monumento encontrava-se


bem expresso por Luis Chaves, que entendia que, quando o edifício revelava aquilo
que se pode chamar a raça portuguesa (pela sua origem, fundação e ancestralidade,
mais que por ser belo), devia ser considerado monumento nacional. Esta formulação
aludiadesde logo para a eleição dos edifícios medievais, situação que, a par com o
alargamento do conhecimento historiográfico, foi responsável pela vontade de
abranger grande parte delas no processo de classificação. Precisamente este
espíritode colecção (de identidade por pertença a um grupo) determinava que o
facto de ser românico era um argumento suficiente para a classificação. Mais que
uma leitura do significado artístico ou histórico, a qualidade monumental de um
objecto arquitectónico derivava da possibilidade de o inserir taxinomicamente num
grupo estilístico positivamente conotado, como era o gótico ou o românico.

Desta forma, o processo de classificação de imóveis denuncia a tendência


para a criação de “colecções temáticas” que vinculava o valor relativo dos edifícios
com o facto de ser representante destes períodos artísticos, embora a sua qualidade
individual pudesse não justificar a protecção proposta. Este entendimento do edifício
como elo de uma cadeia era o garante e suporte para o desenvolvimento de
restauros por analogia, ou seja, por cópia de elementos formais considerados
integrantes de um mesmo sistema gramatical, que levasse à reposiçãodo seu ‘estado
original’ e, logo, ao resgate da sua condição monumental e documental. E, por isso, o
monumento nacional não tinha de ser necessariamente monumento artístico.

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AUTENTIFICAÇÃO E INTEGRIDADE DOS MONUMENTOS

A situação do património monumental, nomeadamente da arquitectura


religiosa medieval, antes das intervenções de restauro, revelava-se bastante
complexa, no que se refere à tutela, propriedade, estado de conservação e
utilização. Os templos rurais e parte das igrejas urbanas no geral ligados a estruturas
monacais ou conventuais perdidas em grande parte após a extinção das ordens em
1834, vinham assumindo na generalidade funções paroquiais e constituíam com o
seu adro, o centro aglutinador (física e socialmente) dos aglomerados. E da
identidade das comunidades, ultrapassava largamente a dimensão física e os valores
histórico e artístico que determinavam a sua classificação legal. A conservação
material e simbólica destes edifícios naturalmente assegurada pela população,
implicava a realização regular de obras de manutenção ou de modificação ancoradas
no sempre presente valor estético de novidade.

Dessa forma, as igrejas e os edifícios religiosos em geral assumiam-se como


objectos artísticos densos e complexos, resultantes de constantes processos de
transformação e de redefinição das suas qualidades espaciais e funcionais, para os
quais o termo restauro nem sempre se revelava adequado. Frequentemente, as
modificações tomavam a forma de acrescentos (volume e espaciais) e de
sobreposições (de elementos plásticos) numa reinterpretação e recriação crítica do
organismo arquitectónico que ultrapassava objectivos de pura conservação do
estado de eficiência dos edifícios.

Por vezes, estas transformações eram realizadas mantendo os princípios


formais do organismo arquitectónico (em atitude revivalista), outras vezes eram
impostas, com maior ou menor violência, estéticas diferentes, que podiam levar a
significativas alterações estruturais e espaciais. Relativamente a estas intervenções,
em grande parte datadas do séculos XVIII e XIX, Reinaldo do Santos referia que
‘infelizmente a maior parte das nossas catedrais e igrejas dos séculos XII e XIII
perderam a pureza primitiva com as sucessivas adjunções, ampliações ou
restaurações que lhes transfundiram o sangue de épocas pletóricas, com os reinados
de D. Manuel e de D. João V. A condenação das produções artísticas barrocas era
comum no século XIX, resultado de uma leitura historiográfica bipolarizada nas
valências progresso e decadência, que elegia os estilos medievais e o renascimento
condenando a cultura artística barroca e neoclássica’.

Dentro desta matriz interpretativa, a intervenção de restauro servia não só


para actuar no quadro da consolidação estrutural e recuperação material, mas, com
critérios moralizadores, servia para repor o decoro estético, de acordo com a ideia,

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algo metafórica, de que à “mente sã” de uma religião se torna indispensável o
“corpo são”.

METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO DA DGEMN

As intervenções da DGEMN em monumentos medievais, executadas nas


décadas de 30 e 40, foram mal interpretadas pela historiografia com uma aplicação
generalizada e homologada de critérios de restauro, orientados por motivos políticos
e outros aspectos exteriores ao artístico. No entanto, aos restauros reconhece-se
uma unidade metodológica, como as semelhanças das características arquitectónicas
e das patologias construtivas a intervir. A centralização das decisões e o peso do
controlo pelo Estado e a inexistência de normativas ou de recomendações, não
revissem os procedimentos adoptados. Assim a recuperação de alguns dos nossos
monumentos resultam de um equívoco estilístico, falseando a verdade histórica do
monumento.
Apesar disto, o critério mais importante era o de reintegração estilística,
concretizado mesmo em edifícios não românicos como modelo de inspiração
fundamentados no 3 princípios: necessidade de suprimir acrescentos anacrónicos;
reconstrução de partes alteradas; conservação e restauro dessas modificações se
tivessem valor artístico ou histórico.
É frequentemente referida a não ordem histórica conceptual e pratica do
restauro em Portugal em relação com outros países , os trabalhos de restauro
dirigidos pela DGEMN baseados na restauração estilística de Violett-le Duc.
Já no século XX as acções da DGEMN já se verificaram de forma mais
acentuada que cada restauro implicava uma revisão e análise mais conceptual de
vários aspectos na elaboração do projecto de restauro. Gradualmente foi-se
impondo foi-se passando para uma análise histórica e arqueológica como fonte para
legitimar o restauro. Também se foi aceitando a irreversibilidade histórica e da
incapacidade de se reconstituir os elementos perdidos.
A conservação das alterações da época moderna fundamentava-se nos
seguintes critérios:
A integridade construtiva, a integridade formal, a exemplaridade artística, a
qualidade didáctica e a ocultação de elementos primitivos.

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No finais dos anos 90, itinerário românico da Ribeira Minho foi o exemplo de
uma intervenção integrada que englobou um total de 11 edifícios classificados.
O objectivo principal foi a de procederem à manutenção e conservação dos
imóveis integrados neste itinerário, para serem incluídos num percurso para
promover a sua divulgação, através da Região de Turismo, tendo sido o projecto para
a Igreja de S. Pedro de Rubiães um dos realizados.

Segundo a lei de ‘Bases da Política e do Regime de Protecção e Valorização do


Património Cultural’, e o novo decreto-lei de ‘Protecção e Valorização do Património
Cultural imóvel’ estes referem “…integram o património cultural todos os bens que,
sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse
cultural relevante, devem ser objecto de especial protecção e valorização (Lei nº
107/2001 de 8/11, e acrescenta mais adiante que ‘O conhecimento,
estudo,protecção, valorização e divulgação do património cultural constituem um
dever do Estado… e das Autarquias Locais.’

Existem inúmeros imóveis classificados inventariados e outros tantos ainda


por classificar e inventariar, sendo por isso um enorme encargo para as entidades
envolvidas na defesa e valorização do património construído. Esta tarefa de agregar
cada vez mais diferentes instituições e tem de ser acompanhadas por acções de
divulgação que permitam cada vez mais pessoas entenderem e assim contribuírem
para a valorização do nosso património edificado.

A forma de preservar esta imensa massa de valor patrimonial tem de ser


encarada de uma forma inovadora, até porque além de muito disperso, trata-se de
pequenos imóveis (capelas, igrejas, pontes etc), que apesar de por si só constituírem
um valor intrínseco, estão muitas vezes desprovidos de funções, o que ainda mais
contribui para a sua degradação.

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Figura 33 – Vista Geral

Este projecto teve apoio de diversas entidades, com o principal objectivo de


procederem à manutenção e conservação dos imóveis integrados neste itinerário
doa Ribeira do Minho, para serem incluídos num percurso que promoveria
posteriormente a sua divulgação.

O projecto de conservação da Igreja de Rubiães esteve a cargo da Arquitecta


Lídia Costa e dos Engenheiros Angelina Xavier e Alfredo Carvalho da Direcção
Regional.

A 1ª intervenção da DGEMN, data de 1937, e desde essa data tem sofrido


diversas obras de conservação.

A metodologia do projecto consistiu na elaboração prévia de um diagnóstico


do estado de conservação do edificado e como princípio conceptual, conservar o
existente, com a necessária investigação da qualidade das sucessivas intervenções ao
longo dos séculos e acrescentar, quando necessário, mais uma intervenção, desta vez
contemporânea.

O edifício sofria de inúmeras patologias sendo na maioria provocadas pela


infiltração de águas. Infiltraçãoessa, que provinha das coberturas, assim como pelos
vãos da torre sineira e portas laterais, pelas paredes descascadas de reboco da torre
sineira, assim como por ascensão capilar.

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Começaram por rever toda a cobertura, que possuía uma estrutura
tradicional de madeira, tendo mantido o mesmo processo construtivo, substituindo
os madeiramentos apodrecidos.

Colocaram uma sub-telha do tipo ‘Onduline’ e telha cerâmica nova do tipo


nacional antiga, fixa em grampos em latão e pontualmente com argamassa pobre de
cal e areia.

O reboco que indevidamente tinha sido retirado da torre sineira foi reposto,
não só por questões tipológicas, como para resolver o problema de infiltração de
água pelos paramentos. O reboco utilizado foi uma argamassa de cal e areia, para
receber posteriormente uma caiação.

Na torre sineira foi substituído um caixilho, por vidro temperado e corrigiram


o sistema de escoamento de drenagem de águas pluviais, repondo o funcionamento
pelas gárgulas e isolando o vão de passagem para a escadaria da torre com um
alçapão.

Ao estarem resolvidos os problemas de entrada de água superiores, tiveram


que resolver o problema de entrada de água por ascensão capilar nas paredes
exteriores.

Outras questões se colocam aos imóveis classificados e sem classificar,


porque, actualmente, encontram-se quase sempre fechados, cada vez menos
realizam-se actos religiosos e pelo perigo de roubos.

Isto provoca a falta de arejamento que é indispensável a uma vida saudável


para o imóvel e que antigamente existia pelo facto de as portas estarem sempre
abertas tenha acabado. Com as necessidades de conforto dos utentes levou a que se
fechassem as frestas com vidroe as aberturas que reforçavam esta ventilação
permanente. Isto originou que as igrejas tenham ambientes interiores
extremamente húmidos, sendo daí as graves patologias de que padecem.

Tendo sido ponderadas as consequências, optaram por instalar um dreno


perimetral exterior à Igreja, não tendo sido colocado na fachada principal da Igreja,
já que foram encontradas inúmeras sepulturas que a remoção de uma camada
superficial de terra revelou. No adro o dreno também teve desvios sempre que
encontrava uma sepultura. Apesar destas medidas verificou-se ser necessário
proceder à remoção parcial de algumas estruturas sepulcrais, tendo uma equipa da

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Universidade do Minho procedidoà escavação destas estruturas, tendo procedido da
seguinte forma:

Limpeza de valas; delimitação das sepulturas, posicionamento e desenho


destas, escavação das que foram afectadas e registo fotográfico sistemático.

Seguidamente procederam à valorização do interior da Igreja, com o restauro


de pintura mural existente no seu interior, foi feita a conservação geral de todos os
elementos, assim como substituição de madeiras interiores, e procederam à sua
limpeza tanto interiormente como exteriormente, que apresentavam grande
quantidade de líquenes e musgos. Foram retiradas as argamassas ricas de cimento
nos paramentos e substituídas por argamassa tradicional de cal, saibro e areia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de termos consciência das dificuldades e complexidade que um


trabalho deste tipo representa, encara-mo-lo sempre com rigor científico, de forma a
tentar fazer um trabalho o mais exacto possível.

Pelo que nos apercebemos, desde que a Igreja Românica de Rubiães foi
classificado como Monumento Nacional, a Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais tem feito um trabalho quer de manutenção, quer de
recuperação assinalável. Pena é que estas classificações e estes programas não sejam
expansivos a todos os monumentos existentes no Concelho, ou até mesmo a
Portugal, pois assim pensamos que todo o património aqui existente teria igual
tratamento e contribuindo substancialmente para uma melhor caracterização do
passado, e para o desenvolvimento económico e social das populações mais
distantes dos grandes aglomerados urbanos.

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BIBLIOGRAFIA:

- Almeida, Carlos Alberto Ferreira de, Primeiras Impressões sobre a Arquitectura


Românica Portuguesa, in Revista da Faculdade de Letras, vol. 2, Porto, 1971;

- Cunha, Narciso C. Alves da, No Alto Minho. Paredes de Coura, Braga 1979;

- Almeida, Carlos Alberto Ferreira de, Alto Minho, Lisboa, 1987;

- Alves, Lourenço, Arquitectura Religiosa do Alto Minho, Viana do Castelo, 1987;

- Almeida, Carlos Alberto Ferreira de, O Românico in História da Arte;

- Silva, Paula Araújo de Metodologias de Intervenção, uma experiência: A Igreja de S.


Pedro de Rubiães em Paredes de Coura;

- Tomé, Miguel, Património e Restauro em Portugal (1920-1995), FAUP, Porto, 2002;

- www.monumentos.pt;

-www.igespar.pt

- www.cm-paredes coura.pt.

Fotografias do Autor tiradas no local.

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ANEXOS

Plantas (In – www.monumentos.pt)

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