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Paulo
O governador Geraldo Alckmin governa São Paulo como se aqui fosse um imenso
cafezal adquirido por herança. Sua lógica não é muito diferente daquela própria aos
antigos barões do café que tomavam decisões sobre a província de São Paulo em
salões fechados, viam manifestações e greves como crime produzido por
"arruaceiros" a quem a única resposta era o porrete da polícia e estavam mais
preocupados sobre o que saia nos jornais do que como a população, de fato, recebia
suas "medidas administrativas".
O governador pode vestir trajes de barão do café porque é beneficiário da
"manemolência midiática" vinda de certos setores da imprensa. Isso significa que
seu governo poderá ser julgado em processos no exterior por casos de corrupção no
metrô, sua incompetência poderá produzir crises hídricas e racionamentos de água,
seu governo poderá criar uma situação educacional classificada por seu próprio
secretário da Educação como vergonhosa, mas nada disso se transformará em
investigação implacável, como vimos várias vezes quando se trata dos desmandos
do governo federal. Como um grande barão, ele irá pairar acima de suas próprias
catástrofes.
Neste exato momento, seu governo aprova decretos que lhe permitirão fechar
escolas, deslocando alunos para salas superlotadas e eliminando "salas ociosas",
resultantes da fuga de professores e alunos do sistema estadual com sua qualidade
falimentar. Há anos os profissionais de ensino público procuram denunciar os
resultados de uma política que afugenta bons professores devido aos baixos
salários, que não garante condições mínimas de ensino em escolas sucateadas,
sem bibliotecas e infraestrutura. Ao invés de melhorar o sistema, ouvindo seus
professores e alunos, ele resolveu diminui-lo para que ele caiba em um orçamento
em queda. Em outros lugares do mundo, os governos lutam para abrir escolas. Aqui,
o governo briga para fechá-las.
Como nosso barão do café assustou-se com o fato de os alunos não agirem
passivamente como gado, sua Secretaria da Educação declarou preparar-se, vejam
só vocês, para uma "guerra". Esta guerra envolveria, entre outras coisas, o esforço
estatal em reverter o quadro negativo de notícias. Assim, enquanto decide o futuro
de centenas de milhares de alunos soberanamente por decreto saído da cabeça de
seus tecnocratas, sem sequer enviar seu projeto à Assembleia Estadual, o governo
diz que são os alunos que "não querem dialogar". Enquanto manda sua polícia
prender alunos, espancar professores e receber adolescentes com spray de
pimenta, ele afirma que os manifestantes são violentos. Neste exato momento em
que você lê este jornal, há alunos sendo tratados pela polícia como criminosos por
se recusarem a aceitar a "reformulação" de suas escolas. Mas temo que nada disso
irá realmente sensibilizar muita gente. Para um certo setor da população paulistana,
como bem disse Jean Wyllys, fechar a Paulista é mais preocupante do que fechar
escolas.
Como não poderia deixar de faltar, sobrou também para as universidades paulistas:
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1/8/2016 Guerra contra a educação - 04/12/2015 - Vladimir Safatle - Colunistas - Folha de S.Paulo
"Não há nada mais corporativo do que a USP, Unicamp e Unesp", disse nosso
governador nesta semana, talvez com medo dos professores universitários
começarem campanhas para se solidarizar com os estudantes. Ou seja, se a
situação das universidades de São Paulo é deplorável, não é porque elas triplicaram
de tamanho com a mesma dotação orçamentária, nem porque seu partido impôs um
reitor à USP que foi capaz de produzir déficits bilionários. A culpa, é claro, só poderia
ser do "corporativismo" que não enxerga o maravilhoso trabalho de melhoria da
educação pública feito por seus tecnocratas no Tucanistão. O filósofo dinamarquês
Søren Kierkegaard costumava dizer que o pior defeito do ser humano é a
transferência de responsabilidade. Meditemos.
Se me permitirem, gostaria apenas de lembrar ao governador que há sim algo mais
corporativo do que nossas universidades. Basta que ele olhe para dentro de seu
palácio de governo. Afinal, não seria seu partido algo mais parecido a uma
corporação que acredita ter o direito censitário e eterno de nos governar sem nunca
ter que ouvir, abrir a circulação efetiva de informações, responder por suas decisões
equivocadas e rever processos a partir da pressão da população? Bem, mas para
quem vê o Estado de São Paulo como um cafezal, as práticas de governo são
outras.
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